Nº 117

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Ano 14 - Nº 117 - Agosto 2015

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Rio de Janeiro www.bafafa.com.br

“Sem utopia a gente não vive” Baiano de Jequié, filho de pai sírio e mãe sertaneja, Jorge Dias Salomão é um artista multicultural que possui grande prestígio no meio artístico do Rio de Janeiro. Poeta, compositor, diretor de teatro e escritor, publicou seis livros e dirigiu dezenas de peças e saraus. O sucesso veio cedo, aos 17 anos, quando dirigiu a primeira, “Macaco da Vizinha”, que ganhou muitos prêmios e lhe deu grande prestígio. Irmão do também poeta Waly Salomão, radicou-se no Rio em 1969 logo depois da decretação do AI5. Nessa época, foi iluminador de shows de artistas como Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Tolhido pela repressão, foi morar em Nova Iorque entre 1977 e 1984. “Cansei de ficar na delegacia preso sem motivo algum”, revela. É autor de canções gravadas por vários artistas, como Marina Lima, Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Barão Vermelho, Zizi Possi e Zé Ricardo, entre outros. Há quatro anos, realiza um conceituado Sarau Cultural no SESI Rio, sob a direção de Emmanuel Santos, onde recebe nomes importantes da vida cultural carioca.

Entrevista

Jorge Salomão

Em entrevista ao Bafafá, Jorge Salomão faz uma radiografia de sua existência, contando episódios interessantíssimos que viveu. Rindo, lembra que ao chegar a Salvador, vindo do interior, fazia as refeições na pensão de Dona Lúcia Rocha, mãe do Glauber Rocha. “A primeira vez que toquei a campainha, foi o próprio Glauber que abriu a porta”. Nosso entrevistado fala ainda de poesia, conjuntura política e utopias. Elogia a presidente Dilma e garante que Lula ainda tem fôlego para manter seu prestígio político. “Ele tem bala na agulha e grandes chances de voltar em 2018”. E assegura: “Sem utopia a gente não vive”.

NESTA : O EDIÇÃ

Continua nas páginas 08 e 09

Leonardo Boff Emir Sader José Maria Rabelo Emanuel Cancella Ricardo Rabelo Marcelo Chalréo Mauro Santayana Franklin Martins


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Editorial

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A resposta aos golpistas

Apesar da bateção de panelas e dos xingamentos no Congresso e na mídia, os golpistas não conseguirão atingir seu objetivo de destruir a democracia e afastar Dilma da presidência da República, para qual foi eleita legitimamente pela maioria do povo brasileiro. Até hoje, esses conspiradores ensandecidos não aceitam a derrota nas urnas e querem de uma maneira ou de outra conquistar o poder, ainda que seja à custa de uma convulsão nacional. O que os move, aos Aécios, Eduardo Cunhas et caterva, são apenas seus interesses políticos e pessoais, mesmo que representem o colapso do País e o fim da vida democrática. Felizmente, as instituições brasileiras avançaram muito, consolidando-se a cada dia, sendo capazes de enfrentar as investidas de seus piores inimigos. As reações às manobras golpistas partem dos mais diferentes setores da sociedade. Vimos nas últimas semanas manifestações vigorosas na defesa da institucionalidade. Os governadores de 27 estados, inclusive os de oposição, compareceram ao Palácio do Planalto, num encontro com a presidente, que não deixou dúvidas quanto a seu comprometimento com a ordem republicana. A mesma atitude tiveram as duas maiores entidades representativas do empresariado, a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, e a FIRJAN – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, em manifesto de repercussão nacional. Não importa que batam panelas e gritem slogans estertóricos pelas ruas. A democracia brasileira é mais forte e saberá derrotar as ameaças golpistas. A Folha de São Paulo já havia se pronunciado de forma categórica contra qualquer aventura golpista, ressaltando que a perda do prestígio da presidente Dilma “não basta para legitimar um movimento para sua remoção do poder”. Outros órgãos de imprensa vão no mesmo

sentido, como as organizações Globo, sempre tão anti-Dilma e anti-PT. O jornal O Globo publicou na última sexta-feira um editorial defendendo a normalidade constitucional. Termina a matéria com esta frase mais que afirmativa: “Tudo isso deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto.” Levantamento feito antes pela Folha e publicado em sua edição de 02/08/15, revela que a maioria dos líderes partidários da Câmara é contra o impeachment. “Ao todo, afirma o jornal, 12 líderes de bancadas que somam 298 deputados (58% do total) dizem ser contra a abertura do processo de impedimento da petista.” No senado, igualmente, não há clima para uma medida extrema contra Dilma, como indicam todas as evidências. Os senadores, aliás, mostram-se contrários aos rumos aventureiros seguidos pela Câmara sob a responsabilidade de seu presidente Eduardo Cunha. A OAB, a ABI, as principais entidades sindicais, como a CUT e o MST, já se manifestaram contra a ameaça de golpe, na mesma linha de grandes nomes da intelectualidade, juristas, personalidades das ciências, da Igreja, das atividades artísticas. E para mostrar como os golpistas estão isolados, bastam estas palavras do vice na chapa de Aécio, senador Aluysio Nunes: “No momento não vejo base para o impeachment. Não se pode brincar com isso.” É evidente que existem forças antidemocráticas que conspiram, e continuarão a conspirar, nas sombras ou abertamente. Elas não aceitam o clima de liberdade que temos hoje e aspiram a uma volta ao passado. O povo brasileiro, entretanto, saberá enfrentar e derrotar essas ameaças, que visam levar o Brasil ao caos e à desagregação. Não importa que os golpistas batam panelas e gritem slogans estertóricos pelas ruas. Talvez isso lhes faça esquecer a derrota nas urnas e ter um momento de lucidez a favor do Brasil.

Onde encontrar: Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas do Rio, São Paulo e BH, Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, Escola de Comunicação, Instituto de Economia, Instituto de Filosofia, Escola de Serviço Social, Escola de Música, Instituto de Psicologia, Fórum de Ciência e Cultura, Faculdade de Direito (UFRJ), UERJ, Departamento de Comunicação da PUC, Café Lamas, Fundição Progresso, Cordão da Bola Preta, Botequim Vaca Atolada, Livraria Leonardo da Vinci, Bar do Gomez, Bar do Serginho, Bar do Mineiro, Casarão Ameno Resedá, Faculdade Hélio Alonso, Arquivo Nacional, Livraria Ouvidor (BH), Livraria Quixote (BH), Livraria Mineiriana (BH), Livraria Cultural Ouro Preto (Ouro Preto), Sindicato dos Engenheiros, Faculdade de Engenharia da UFRJ e Bar Bip Bip, Café do Museu da República, CUT, Sindicato dos Bancários, Diretórios Acadêmicos das Faculdades de Arquitetura e Geografia da UFF.

Diretor e Editor: Ricardo Rabelo - Mtb 21.204 (21) 3547-3699 bafafa@bafafa.com.br

Direção de arte: PC Bastos bastos.pc@gmail.com

Diretora de marketing: Rogeria Paiva (21) 3546-3164 mercomidia@gmail.com

Circulação: Distribuição gratuita e direcionada (universidades, bares, centros culturais, cinemas, sindicatos)

Praça: Rio de Janeiro São Paulo Belo Horizonte Publicidade: (21) 3547-3699 | 3546-3164 mercomidia@gmail.com Tiragem: 10.000 exemplares

Agradecimentos: Aos colaboradores desta edição. Realização: Mercomidia Comunicação

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Os avanços de Cuba II José Maria Rabêlo* O que mais me impressionou em minha recente viagem a Cuba foi o estado de espírito geral da população. Não observei lá o stress que aflige grande parte dos brasileiros, sobretudo quanto aos problemas de segurança. Como disse no artigo anterior, não existe em suas cidades esse temor de ser assaltado em qualquer esquina, fazendo de nossas vidas um permanente tormento, de modo particular nos grandes centros. Havana é a capital mais segura da América Latina, e os índices cubanos de criminalidade estão entre os menores do mundo. Os dados positivos sobre Cuba são inúmeros, além dos que já citei no último Bafafá: de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, constitui o único país latino-americano incluído entre os dez de mais altos níveis de desenvolvimento humano, considerando-se a expectativa de vida e os programas de educação e saúde. Como mostrei no artigo, a vida média em Cuba chega a 78,45 anos, contra 74,90 no Brasil, diferença que ainda é maior com relação a quase todos os demais países do continente e aproximando-se dos da zona sul da Europa. A medicina cubana tem hoje projeção internacional, com seus médicos presentes em mais de 50 países, inclusive o Brasil. Além da contribuição decisiva para debelar a epidemia do ebola na África, seus profissionais prestaram uma ajuda importante no tratamento das vítimas da explosão da usina atômica soviética de Chernobyl, em 1986. Mais de 25 mil afetados pela tragédia, a maioria crianças, foram tratados em Cuba.

Como também vimos anteriormente, todos os cubanos têm direito a assistência médica completa e gratuita, pois a medicina é vista como um bem social e não uma mercadoria. A educação, por sua parte, figura igualmente nos primeiros lugares das preocupações governamentais. Não existe em Cuba um só analfabeto, tendo cada cubano no mínimo nove anos de presença na escola. No Rio, só para compararmos, dos alunos que frequentam o ensino fundamental, e nem todos o fazem, 30% não chegam ao final do curso. Por isso, os altos índices de criminalidade entre nossos jovens, principalmente pobres e negros, que são jogados na rua e entregues a sua própria sor te, sem disporem de conhecimento profissional para levar uma vida normal. Tudo isso faz com que o reatamento das relações com os EUA, em fase de concretização, provoque um duplo sentimento por parte das pessoas: de um lado, há a expectativa de que o país seja beneficiado com o fim do embargo norte-americano; de outro, o temor de que possíveis mudanças advindas daí possam comprometer as conquistas sociais alcançadas pela sociedade cubana a partir da revolução. Esta inquietação a gente constata em qualquer um com quem se converse sobre o assunto. Existe otimismo, mas também muitos receios. As relações com os EUA foram sempre tumultuosas e tornaram-se críticas com o rompimento diplomático em 1961, o que levou Cuba a oficializar sua integração ao bloco soviético. A situação agravou-se ainda mais em fins de 1962, com a chamada “crise dos foguetes”, quando o mundo

esteve na iminência de um conflito nuclear entre os EUA e a antiga URSS. Até hoje os americanos ocupam a Baía de Guantánamo, em território cubano, transformada numa sinistra prisão contra inimigos considerados terroristas, aos quais não assiste qualquer direito de defesa e inviolabilidade. As torturas ali são as mais cruéis, a exemplo dos afogamentos e da sujeição a temperaturas extremas, como tem denunciado a imprensa mundial. São hoje quase 700 presos em Guantánamo, sem julgamento, muitos deles há vários anos. Cuba reclama o fechamento da prisão e o retorno a seu domínio da área ocupada. Existe igualmente a questão das indenizações que os cubanos reivindicam pelos prejuízos decorrentes do embargo, avaliados em cifras mirabolantes, em torno de muitos bilhões de dólares. Todos esses problemas – e a profunda desconfiança de ambas as partes – torna difícil a normalização das relações entre os dois países, exigindo um grande esforço de seus governantes para que os impasses sejam superados. AS NOVAS MANIFESTAÇÕES Mais uma vez eles estão por aí, convidando para novas manifestações de rua. Para esses golpistas enraivecidos, a democracia e a Constituição não existem. Derrotados nas urnas, querem na marra chegar ao poder. Mais uma vez também vão fracassar, levando a reboque seus grandes líderes, os Aécios e os Eduardo Cunhas da vida, o primeiro, com sua frustração por haver perdido as eleições, e o segundo, com a propina de cinco milhões de dólares que recebeu de uma empreiteira. Na linguagem policial: um, da leve; outro, da pesada. Quer dizer: um, usa a demagogia; o outro, o pé-de-cabra. *Jornalista


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Moro em pele de cordeiro Emanuel Cancella* A prisão do presidente licenciado da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, foi a gota d´água. Se alguém ainda tinha dúvidas de que Sérgio Moro, Globo, PSDB e companhia estão a serviço dos interesses norte-americanos e contra os interesses do Brasil, é hora de tirar a venda dos olhos. O almirante é um nacionalista e um cientista de renome internacional, principal responsável pelo programa nuclear brasileiro, autor do projeto de concepção de ultracentrífugas para enriquecimento de urânio e da instalação de propulsão nuclear para submarinos. Já recebeu diversos prêmios, entre os quais a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, por serviços prestados à ciência e à tecnologia, oferecido em 1994 pelo então presidente da República Itamar Franco. O cientista e militar Othon Pinheiro da Silva está sendo perseguido e vilipendiado por entender que “tecnologia própria é independência” – lema atribuído a ele. É pelos mesmos motivos que esses inimigos do Brasil querem destruir a Petrobrás, usando como artifício as suspeitas de corrupção e fazendo tanto estardalhado na mídia com isso que, ainda que os fatos não sejam comprovados, ainda que os delatores estejam mentindo, se algum dia a verdade vier à tona, o estrago já terá se completado por inteiro. As chances de independência tecnológica, econômica, financeira já terão caído por terra. É nas riquezas minerais e no petróleo do Brasil que os abutres estão de olho. É

a eles que prestam continência Moro, PSDB, Globo e companhia. Mas até quando vamos aceitar de cabeça baixa essa campanha sórdida, travestida de moralidade, mas, de fato, uma moralidade falsa e oportunista? Quem vai se levantar para defender a soberania nacional, os interesses do povo brasileiro, o uso estratégico dos recursos minerais do país, o dinheiro da saúde e da educação que o PLS 131 de José Serra quer roubar? Os brasileiros precisam levantar a cabeça e acordar.

Sem a Petrobrás, o que será do Brasil?

A Petrobrás é a única empresa brasileira que nasceu nas ruas, no maior movimento cívico já visto no país: “O Petróleo é Nosso!”. Mais de 60 anos depois, a história se repete. Contrariando os mesmos interesses de hoje, inclusive das multinacionais de petróleo, naquela época a luta em favor da Petrobrás uniu brasileiros de todas as classes: militares, civis, conservadores e comunistas, movimentos sociais e estudantis. Muita gente foi perseguida, presa e morreu pela Petrobrás. Nenhuma dessas pessoas trabalhava na Petrobrás. O Brasil detém o segundo maior volume de obras do planeta, só perdendo para a China. Isso está aguçando a cobiça das empreiteiras lá de fora. Além disso, sabe quem financia, com os impostos que paga, 80% das obras do PAC? A Petrobrás. A nossa estatal abastece, há 62 anos, com combustíveis e derivados de petróleo, todo o território nacional. São 85 mil empregos próprios e 400 mil contratados,

dentro do Sistema Petrobrás. Mas é difícil calcular quantos milhares ou milhões de empregos indiretos que a Petrobrás estimula, ao viabilizar as obras do PAC. No entanto a empresa é o centro dos ataques do judiciário, da grande mídia e parte do legislativo. A descoberta do pré-sal, pela Petrobrás, depois de ter desenvolvido tecnologia inédita no mundo, deveria assegurar ao Brasil e aos brasileiros reservas superiores a 60 bilhões de barris de petróleo, o suficiente para abastecer o país nos próximos 50 anos. Mas o que poderia representar a redenção do nosso povo agora está seriamente ameaçado pelo PLS 131 de José Serra e outros de igual teor, que aguardam votação no Senado e na Câmara. Sem dúvida está em curso um complô contra a independência econômica e social do Brasil, mas sutil e imperceptível para grande parte da população. Quem são os inimigos da Petrobrás? Sem dúvida aqueles que desviaram recursos da empresa de forma indevida. Mas também o juiz Sérgio Moro e outros que estão de utilizando desses fatos para prejudicar a nossa empresa de petróleo e o Brasil. Quando a Petrobrás era um sonho, o povo foi para as ruas garantindo a sua criação. Agora, que é uma realidade, vamos ceder aos entreguistas? Emanuel Cancella é coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).

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Tentativa de mudança na Lei de Partilha pode prejudicar Petrobrás e favorecer multinacionais Documentos divulgados pelo Wikileaks provam envolvimento do senador José Serra (PSDB) com empresas multinacionais do petróleo O senador José Serra (PSDB-SP) é autor de um Projeto de Lei (PL 131/2015) que pode mudar a Lei de Partilha do Pré-Sal brasileiro, promulgada em 2010. Segundo o diretor do SENGE-RJ Victor Marchesini, que é engenheiro na Petrobrás, o PL 131 é a evidência de uma campanha contra a empresa. “Está claro que a intenção de determinados segmentos políticos é o favorecimento de grupos econômicos estrangeiros”, afirma Victor. O PL 131 prevê que se retire da Lei de Partilha a obrigatoriedade de que a Petrobrás seja a única operadora do pré-sal, sob o argumento de que a empresa não tem recursos em caixa para desenvolver a produção. Se a alteração for aprovada, a lei permitirá a abertura da exploração pelas grandes empresas de petróleo internacionais, especialmente as norte-americanas. Para Victor Marchesini, o argumento é inconsistente. Os resultados alcançados pela estatal no primeiro semestre de 2015 demonstra a força da empresa. Em plena crise, foi obtido lucro de R$ 5,3 bilhões e a produção de barris aumentou 12,7%. A Petrobrás é, hoje, a maior produtora de petróleo no mundo entre as empresas de capital aberto e é a que mais cresce em quantidade de reservas. São 2,5 milhões de barris produzidos por dia, em média. Desses, mais de 800 mil são produzidos exclusivamente no pré-sal. NEGOCIATAS INTERNACIONAIS De acordo com um telegrama da embaixada dos Estados Unidos divulgado pelo Wikileaks, o senador José Serra teria se comprometido com a petrolífera Chevron, na época em que era pré-candidato à Presidência, a mudar a Lei da Partilha, caso vencesse a eleição.

“Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta”, disse Serra a Patrícia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama. O documento mostra ainda que o governo norte-americano criticou o “caráter nacionalista” da Lei do Pré-Sal. O “modelo antigo” a que Serra se refere é a Lei 9.478/1997, que ficou conhecida como a “Lei de Concessão”. Ela pôs fim ao monopólio estatal da exploração e produção de campos de petróleo. A partir deste ano, a empresa vencedora da licitação é dona do petróleo a ser explorado, comprando, portanto o direito de explorar o óleo no bloco leiloado. A arrecadação do Estado se limita basicamente aos impostos e taxas. Com a descoberta do Pré-Sal, o governo mudou a regra para estas reservas. Neste caso, a licitação deve ser feita por meio de partilha. Sendo assim, o vencedor deve, obrigatoriamente, partilhar o petróleo encontrado com a União. A Petrobrás, então, será operadora exclusiva dos campos e terá, no mínimo, 30% de participação nos consórcios de outras empresas. A Petrobrás extraiu petróleo da camada pré-sal pela primeira vez em setembro de 2008, no campo de Lula, na bacia de Santos, que na época era chamado de campo de Tupi. A camada foi descoberta em 2006 pela equipe do geólogo Guilherme Estrella. De 2010 a 2014, a média anual de produção diária do pré-sal cresceu quase 12 vezes, foi de 42 mil em 2010 para 492 mil em 2014. Comparando com o próprio histórico da Petrobrás, foram necessários 31 anos para que a empresa alcançasse a marca de 500 mil barris diários, o que só aconteceu em 1984.


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depositado na Suíça. Bem feito para essa revista fascista!

Ricardo Rabelo Impressionante

É impressionante como a mídia brasileira conseguiu demonizar a presidente Dilma Rousseff. Derrotada nas urnas, a grande imprensa não se deu por vencida e protagoniza um dos maiores escândalos da vida republicana. Diariamente, a nossa mandatária é tema de manchetes desabonadoras, inclusive com o uso de fotos depreciativas, com o claro objetivo de desmoralizá-la. A tentativa agora é levar o mandato de Dilma para o tapetão, contando com isso com o respaldo do presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Aécio golpista

A tentativa de derrubar a nossa presidente tem nome e sobrenome. Chama-se Aécio Neves, um político amargurado com a derrota nas urnas. A verdade é que Aécio, não se sabe por quê, tinha certeza da vitória, o que não aconteceu. Desde o primeiro minuto da reeleição de Dilma, o ex-governador de Minas trabalha para minar o governo.

Uma pergunta que não quer calar: alguém sinceramente acha que Aécio ia fazer um governo melhor? A política econômica dele não ia deixar pedra sobre pedra, inclusive com a venda do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Petrobras e BNDES e o que mais restar. O arrocho salarial então ia ser violento.

Ajuste

O certo é que Dilma tinha que fazer ajuste econômico em função da crise internacional. O que desgastou ela foi ter prometido na campanha de não mexer nos direitos dos trabalhadores e ter autorizado aumentos exagerados na luz e gasolina. Acho que Dilma tinha que ter taxado as grandes fortunas e não diminuir benefícios sociais. Afinal, os ricos sempre foram anti-Dilma e sempre serão. O que importa é manter a base popular, coisa que Dilma, por ingenuidade, está perdendo. Ainda assim, acredito piamente na recuperação de sua popularidade. Ela não pode, de jeito nenhum, ser pautada pela mídia e pela opinião pública, esta última altamente instável nas avaliações.

Reflexão

Desde que a Operação

Lava-Jato começou, em março de 2014, nenhuma autoridade da Petrobrás designada diretamente por Lula e Dilma está indiciada ou suspeita da corrupção. Até agora, as irregularidades envolvem funcionários de carreira da empresa. Entre as 60 pessoas envolvidas no escândalo, apenas duas têm vínculo com o PT: o ex-tesoureiro João Vaccari e o ex-ministro José Dirceu. Ainda assim, este último, não ocupa nenhum cargo de direção no partido. Os demais são empresários, lobistas, consultores, doleiros, além de políticos do PMDB, PP, PSB, PSDB. É nítido que a mídia trata o tema como se o PT fosse o pivô da crise. Nos próximos dias, o procurador da República Rodrigo Janot vai indiciar os suspeitos, aí sim teremos uma dimensão do problema. Não se trata de acobertar, mas de ser correto na divulgação dos fatos.

Modus Operandi

O editorial da última edição do Bafafá falava sobre a campanha que a direita promove para desestabilizar os governos progressistas da América Latina. Patético é que até o “modus operandi” é o mesmo: ricos batendo panelas e mídias massacrando os

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Fala sério Facebook!

governantes eleitos. Os panelaços hoje acontecem no Brasil, Argentina, Equador e Venezuela. Coincidência? Não, trata-se de uma ação orquestrada. Uma pergunta que não quer calar: quem está financiando essas convocações nas redes sociais? Até agora há elementos que comprovam que até dinheiro do exterior irriga as manifestações anti-Dilma.

Estes dias denunciei ao Facebook uma comunidade intitulada “Morte ao Lula”, por entender que faz apologia explícita à violência. O FB me respondeu dizendo, pasmem, que “ela não viola os padrões da comunidade”. Por favor Facebook, só podem estar de brincadeira! Quero ver se eu criar uma comunidade sob o título “Morte ao Mark Zuckerberg”, dono do FB, se eles a publicariam!...

Dúvida

Convite

Eu não entendo, como um cara, com a história política do José Dirceu, teria sucumbido ao capital e à corrupção, jogando seus ideais na lata de lixo. É tão absurdo que ainda prefiro acreditar que tudo não passa de armação para atingir Lula. Em todo caso, se estiver envolvido mesmo, que seja condenado!

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Frase

Romário

Romário vai pedir 75 milhões de reais à Veja por veicular a informação errada de que teria dinheiro

Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos. Salvador Allende, presidente chileno, deposto por um golpe militar.


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A nova marcha dos insensatos Mauro Santayana* Esperam-se, para o próximo dia 16 de agosto - mês do suicídio de Vargas e de tantas desgraças que já se abateram sobre o Brasil - novas manifestações pelo impeachment da Presidente da República, por parte de pessoas que acusam o governo de ser corrupto e comunista e de estar quebrando o país. Se esses brasileiros, antes de ficar repetindo sempre os mesmos comentários dos portais e redes sociais, procurassem fontes internacionais em que o mercado financeiro normalmente confia para tomar suas decisões, como o FMI - Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial - veriam que a história é bem diferente, e que se o PIB e a renda per capita caíram, e a dívida pública líquida praticamente dobrou, foi no governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo o Banco Mundial, o PIB do Brasil, que era de 534 bilhões de dólares, em 1994, caiu para 504 bilhões de dólares, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o governo, oito anos depois. Para subir, extraordinariamente, destes 504 bilhões de dólares, em 2002, para 2 trilhões, 346 bilhões de dólares, em 2014, último dado oficial levantado pelo Banco Mundial, crescendo mais de 400% em dólares, em apenas 11 anos, depois que o PT chegou ao poder. E isso, apesar de o senhor Fernando Henrique Cardoso ter vendido mais de 100 bilhões de dólares em empresas brasileiras, muitas delas estratégicas, como a Telebras, a Vale do Rio Doce e parte da Petrobras, com financiamento do BNDES e uso de “moedas podres”, com o pretexto de sanear as finanças e aumentar o crescimento do país. Com a renda per capita ocorreu a mesma coisa. No lugar de crescer em oito anos, a renda per capita da população brasileira, também segundo o Banco Mundial caiu de 3.426 dólares, em 1994, no início do governo, para 2.810 dólares, no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002. E aumentou, também, em mais de 400%, de 2.810 dólares, para 11.208 dólares, também segundo o World Bank, depois que o PT chegou ao poder. O salário mínimo, que em 1994, no final do governo Itamar Franco, valia 108 dólares, caiu 23%, para 81 dólares, no final do governo FHC e aumentou em três vezes, para mais de 250 dólares, agora. As reservas monetárias internacionais - o dinheiro que o país possui em moeda forte - que eram de 31,746 bilhões de dólares, no final do governo Itamar Franco, cresceram em apenas algumas centenas de milhões de dólares por ano, para 37.832 bilhões de dólares nos oito anos do governo FHC. Nessa época, elas eram de fato, negativas, já que o Brasil, para chegar a esse montante, teve que fazer uma dívida de 40 bilhões de dólares com o FMI. Depois, elas se multiplicaram para 358,816 bilhões de dólares em 2013, e para 370,803 bilhões de dólares, em dados de ontem (Bacen), transformando o Brasil de devedor em credor do FMI, depois do pagamento total da dívida com essa instituição em 2005, e de emprestarmos dinheiro para o Fundo Monetário Internacional, quando do pacote de ajuda à Grécia em 2008. E, também, no terceiro maior credor individual externo dos EUA, segundo consta, para quem quiser conferir, do próprio site oficial do tesouro norte-americano -(usa treasury).

O IED - Investimento Estrangeiro Direto, que foi de 16,590 bilhões de dólares, em 2002, no último ano do Governo Fernando Henrique Cardoso, também subiu mais de quase 400%, para 80,842 bilhões de dólares, em 2013, depois que o PT chegou ao poder, ainda segundo dados do Banco Mundial: passando de aproximadamente 175 bilhões de dólares nos anos FHC (mais ou menos 100 bilhões em venda de empresas nacionais) para 440 bilhões de dólares entre 2002 e 2014. A dívida pública líquida (o que o país deve, fora o que tem guardado no banco), que, apesar das privatizações, dobrou no Governo Fernando Henrique, para quase 60%, caiu para 35%, agora, 11 anos depois do PT chegar ao poder. Quanto à questão fiscal, não custa nada lembrar que a média de déficit público, sem desvalorização cambial, dos anos FHC, foi de 5,53%, e com desvalorização cambial, de 6,59%, bem maior que os 3,13% da média dos anos que se seguiram à sua saída do poder; e que o superavit primário entre 1995 e 2002 foi de 1,5%, muito menor que os 2,98% da média de 2003 e 2013 - segundo Ipeadata e o Banco Central. E, ao contrário do que muita gente pensa, o Brasil ocupa, hoje, apenas o quinquagésimo lugar do mundo, em dívida pública, em situação muito melhor do que os EUA, o Japão, a Zona do Euro, ou países como a Alemanha, a França, a Grã Bretanha - cujos jornais adoram ficar nos ditando regras e “conselhos” - ou o Canadá (economichelp). Também ao contrário do que muita gente pensa, a carga tributária no Brasil caiu ligeiramente, segundo Banco Mundial, de 2002, no final do governo FHC, para o último dado disponível, de dez anos depois, e não está entre as primeiras do mundo, assim como a dívida externa, que caiu mais de 10 pontos percentuais nos últimos dez anos, e é a segunda mais baixa, depois da China, entre os países do G20 (quandl). Não dá, para, em perfeito juízo, acreditar que os advogados, economistas, empresários, jornalistas, empreendedores, funcionários públicos, majoritariamente formados na universidade, que bateram panelas contra Dilma em suas varandas, no início do ano, acreditem mais nos boatos das redes sociais - reforçados por um verdadeiro estelionato midiático - do que no FMI e no Banco Mundial, organizações que podem ser taxadas de tudo, menos de terem sido “aparelhadas” pelo governo brasileiro e seus seguidores. Considerando-se estas informações, que estão, há muito tempo, publicamente disponíveis na internet, o grande mistério da economia brasileira, nos últimos 12 anos, é saber em que dados tantos jornalistas, economistas, e “analistas”, ouvidos a todo momento, por jornais, emissoras de rádio e televisão, se basearam, antes e agora, para tirar, como se extrai um coelho da cartola - ou da “cachola” - o absurdo paradigma, que vêm defendendo há anos, de que o Governo Fernando Henrique foi um tremendo sucesso econômico, e de que deixou “de presente” para a administração seguinte, um país econômica e financeiramente bem sucedido. Nefasto paradigma, este, que abriu caminho, pela repetição, para outra teoria tão frágil quanto mentirosa, na qual acreditam piamente muitos dos cidadãos que vão sair às ruas no próximo dia dezesseis: a de que o PT estaria, agora, jogando pela janela, essa - supostamente maravilhosa - “herança” de Fernando Henrique Cardoso. O pior cego é o que não quer ver, o pior surdo, o que não quer ouvir *Jornalista, publicado no blog do autor: www.maurosantayana.com

Quilombos existem e resistem Marcelo Chalréo* Século XXI, Brasil, milhares de pessoas ainda vivem coletivamente, mantêm firmes tradições comunitárias com suas criações, roças, cultos, festejos e modos de vida. Os quilombos são presença marcante no universo territorial brasileiro, se fazem presentes de norte a sul, de leste a oeste. Acossados por toda sorte de dificuldades, seja no tocante a disputa ( ou ganância ) por suas terras, pelo turismo predatório, pela especulação imobiliária, pelos “ modernismos “, resistem ! Ritmos e danças dos quais muitos só ouviram falar como folclore se mostram vivos e presentes, como a Sussa, o Marabaixo, o Jongo, o Condombe e outras. Práticas medicinais centenárias são de uso comum em certas regiões, não sendo incomum encontrarmos os que praticamente nunca foram a um médico ou a um dentista. O sincretismo religioso entre o católico e as religiões de matriz africana é de uma horizontalidade que marca e distingue. Tradições da tecelagem indígena, negra e europeia se fundem em peças únicas e de beleza ímpar

em determinados recantos. Em alguns ainda há mostras significativas de cerâmica e artefatos de barro. A culinária segue a diversificação nacional, mas com traços singulares das culturas indígenas e afro é capítulo à parte. Por vezes se come somente o que se tira da terra ou do mar, verdadeiras iguarias preparadas por mãos para além de habilidosas, mãos de afeto. Lendas e histórias mais que antigas são ainda ouvidas e faladas nas noites escuras em que por vezes a iluminação vem só de candeeiros, lampiões ou da lua. Instrumentos musicais são produzidos com modo centenário, com uso de madeiras, couros, fibras; a sonoridade é de uma riqueza surpreendente. Para se chegar a alguns desses lugares é preciso certa disposição e até alguma fibra, pois às vezes o lombo de um animal, uma canoa, um possante 4 x 4 ou algumas horas de caminhada agreste são imprescindíveis – ou pouco de cada um desses meios. Palavras, expressões e até certos diálogos são por vezes incompreensíveis para a falta de hábito com um linguajar próprio e quase desconhecido. E muito, muito

mais haveria e há para discorrer, mas o espaço é diminuto. Contudo, todos esses saberes, costumes, sociabilidades, modos de crer e viver estão sob perigo e ameaça. A falta de reconhecimento e respeito às diversidades culturais e sociais, o opressor preconceito – de raça e classe – que perpassa toda essa nossa sociedade moldada à luz do de um eurocêntrico pensamento branco e macho, o avanço predatório de um modo de produção que não respeita o meio e o homem, um Estado ausente e cúmplice do extermínio do que é “ diferente “, vem gradativamente minando essa resistência e pondo fim paulatino a uma cultura, ou culturas, que para além de terem constitucionalmente direito à mantença, têm também direito à continuidade e ao futuro que lhes pertence coletivamente como comunidade/s. Não se quer paternalismo, assistencialismo ou filantropias, mas o efetivo cuidado respeitoso e zeloso, sem interferências de mando e comando – isso é de pertencimento da comuna – por parte do Estado. A Constituição precisa e deve ser cumprida de acordo com os ditames do constituinte originário, sem arrego ou concessões, nossos irmãos quilombolas têm esse direito e há um dever social e político inexorável do Estado para com essa nossa gente. Presidente da Comissão de Direitos Humanos – OAB RJ


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Recado ao PT: transformar o desalento em teimosia Leonardo Boff* Tempos atrás escrevi um artigo com o título semelhante. Relendo-o, vejo sua atualidade face à crise de rumo pela qual passa o PT. Refaço-o com adendos. Não basta a indignação e o desalento face aos crimes cometidos no assim chamado Lava Jato na Petrobrás. Importa tomar a sério a amarga decepção provocada na população, particularmente nos mais simples e nos militantes que agora suspiram cabisbaixos: “nós que te amávamos tanto, PT”. O que tem que ser suscitada nesse momento é a esperança, pois esta é notoriamente a última que morre. Mas não qualquer esperança, aquela dos bobos alegres que perderam as razões de estarem alegres. Mas a esperança crítica, aquela que renasce das duras lições aprendidas do fracasso, esperança capaz de inventar novas motivações para viver e lutar e que se consubstancia em novas atitudes face à realidade política e com uma agenda enriquecida que completa a anterior. A corrupção havida é consequência de um estilo de fazer política, desgarrada das bases populares. O PT foi antes de tudo um movimento nascido no meio dos oprimidos e de seus aliados: por um outro Brasil, de inclusão, de justiça social, de democracia participativa, de desenvolvimento social com distribuição de renda. Como movimento, possuía as características de todo carisma: galvanizar as pessoas e fazê-las ter um sonho bom. Ao crescer, tornou-se inevitavelmente uma organização partidária. Como organização, virou poder. Onde há poder desponta o demônio que habita todo poder e que, se não for continuamente vigiado, pode pôr tudo a perder. Com isso não queremos satanizar o poder mas darmo-nos conta de sua lógica. Ele é, em princípio bom; é a mediação necessária para a transformação e para a realização da justiça. Portanto, ele é da ordem dos meios. Mas quando vira fim em si mesmo, se perverte e corrompe, porque sua lógica interna é essa: não se garante o poder senão buscando mais poder. E se o poder significa dinheiro, ganha formas de irracionalidade: os milhões e milhões roubados se sucedem sem qualquer sentido de limite. Há um outro problema ligado à organização: se os dirigentes perdem contacto orgânico com a base, se alienam, se independizam e facilmente se tornam vítimas da lógica perversa do poder como fim em si mesmo. Surgem as alianças espúrias e os métodos escusos. A cupidez do poder produz a corrupção. Foi o que aconteceu lamentavelmente com alguns altos setores do PT. Se estivessem ligados às bases, vendo os rostos sofridos do povo, suas duras lutas para sobreviver, sua vontade de lutar, de resistir e de se libertar, seu sentido ético e espiritual da vida, se sentiriam fortificados em suas opções e não sucumbiriam às tentações do poder corruptor. Mas se descolaram das bases. Agora para o PT não resta senão a resiliência, dar a volta por cima e fazer dos erros

uma escola de humilde aprendizado. Para os militantes e demais brasileiros que abraçaram a causa do PT, embora não sendo filiados ao partido como eu e outros, o desafio consiste em transformar a decepção em teimosia. A teimosia reside nisso: apesar das traições, as bandeiras suscitadas pelo PT já há 25 anos, devem ser teimosamente sustentadas, defendidas e proclamadas. Não por serem do PT mas porque valem por si mesmas, pelo caráter humanitário, ético, libertador e universalista que representam. A bandeira é um sonho-esperança de um outro Brasil não mais rompido de cima abaixo pela opulência escandalosa de uns poucos e pela miséria gritante das grandes maiorias, um Brasil com um projeto de nação aberto à fase planetária de humanidade, cujos governos pudessem, com a participação popular, realizar a utopia mínima que é: todos poderem comer três vezes ao dia, irem ao médico quando precisassem, enviarem suas crianças à escola, terem emprego e com o salário garantirem uma vida minimamente digna e, quando aposentados, poderem enfrentar com desafogo os achaques da idade e poderem despedir-se, agradecidos, deste mundo. Os portadores deste sonho-esperança são as grandes maiorias, sobreviventes de uma terrível tribulação histórica de submetimento, exploração e exclusão. Sempre os donos do poder organizaram o Estado e as políticas em função de seus interesses, deixando o povo à margem. Tiveram e ainda têm vergonha dele, tratado como zé-povinho, carvão para o processo produtivo. Mas ele, apesar deste espezinhamento, nunca perdeu sua auto-estima, sua capacidade de resistência, de sonho e de alimentar uma visão encantada do mundo. Conseguiu organizar-se em inumeráveis movimentos, na Igreja da libertação e foi fundamental na criação do PT como partido nacional. Essa utopia alimentou o PT histórico e ético. Esta bandeira deve ser retomada, pois é ela que pode refundá-lo, confiando mais na dedicação do que na ambição, mais na militância que na maquiagem dos marqueteiros. Foi esta bandeira que entusiasmou as massas, que teve uma função civilizatória ao fazer que o pobre descobrisse as causas de sua pobreza, se politizasse e se sentisse participante de um projeto de reinvenção do Brasil no qual fosse menos difícil de ser gente. Porque é místico e religioso (o PT soube valorizar o capital de mobilização que possui esta dimensão?) o povo brasileiro tem um pacto com a esperança, com os grandes sonhos e com a certeza de que se sente sempre acompanhado pelos bons espíritos e pelos santos fortes a ponto de suspeitar que Deus seja brasileiro. É bebendo desta fonte popular que o PT pode se renovar e cumprir sua missão histórica de refundação de um outro Brasil. Se não assumir esta tarefa, vãs serão suas estratégias de subsistência e de esperança de futura vitória. *Teólogo e escritor, publicado em seu blog: www.leonardoboff.wordpress.com

O Brasil entre a desesperança e a inclusão social Emir Sader* Lula foi situado no centro da vida política brasileira. Todos os holofotes se concentram sobre ele: ou será abatido no voo pela direita, tirando-o, no tapetão, da vida política, ou exercerá seu papel de eixo da recomposição da esquerda brasileira e conseguirá dar continuidade ao processo iniciado em 2002, com todas as adequações necessárias. Em um marco de crise de credibilidade das instituições, das forças políticas e sociais, das lideranças, a exceção fica com Lula. Não fosse assim, ele não seria alvo dos ataques concentrados da direita. Se acreditasse nas suas pesquisas, bastaria a direita esperar até 2018 e derrota-lo com qualquer um dos seus candidatos. O destino da direita depende de conseguir inviabilizar juridicamente a candidatura do Lula e ter assim o caminho aberto para reconquistar a presidência da república. Caso contrario, teria que se consolar com um novo mandato do Lula, limitando-o pela revogação da reeleição. Do lado do campo popular, Lula também é a referência, é o grande patrimônio, com ele pode contar. O maior líder popular da história do Brasil, Lula mantém vínculos profundos com a massa da população, seus governos ficaram marcados na consciência e na memoria das pessoas, Lula

representa a auto estima dos brasileiros. Por tudo isso, apesar da brutal campanha contra sua imagem, ela permanece arraigada no seio do povo. Mas ele não se limita a estar na memória do povo, ele representa também sua esperança. Ninguém tem o carisma e a mística que a liderança de Lula possui. Desde a crise de 2005, quando a imagem do PT passou a ser afetada negativamente, a imagem do Lula foi se descolando do partido, conforme o governo foi ganhando prestigio, com o sucesso das politicas sociais. Mesmo quando a imagem do governo de Dilma e a do PT sofrem com a mais dura das campanhas da oposição, a imagem de Lula resiste e as próprias pesquisas que dão resultados muito ruins para o PT e Dilma, tem que revelar que Lula teria pelo menos 33% de apoio. Mas o Lula de agora precisa propor ao país novas utopias, novos objetivos, continuidade e aprofundamento do que foi feito a partir do seu governo, precisa diálogo com novos setores sociais, especialmente os jovens, tanto os da periferia quanto os da classe média, precisa surgir como quem reivindica não só a visibilização desses setores, como os espaços das mulheres, rejeitadas nas suas reivindicações. Em suma, Lula tem que representar, ao mesmo tempo, a retomada do que foram seus governos,

da forma de fazer política que unifique as forças que apoiem os programas propostos nos seus governos, como também renovador. Nas reivindicações, na linguagem, na interpelação e integração de setores até aqui marginalizados. É Lula que pode ser o eixo da recomposição das forças de esquerda, das forças democráticas e populares, recomposição que tem que ser feita com novas plataformas, novos programas, que deem vida a um amplo movimento social, político, econômico, cultural, que consolide os avanços, altere profundamente as relações de poder que resistem a esses avanços e aponte para o Brasil a que Lula abriu o caminho com seus governos e sua liderança. Qualquer especulação política sobre o futuro do Brasil que não leve em consideração a variável Lula, está equivocada, está fora da realidade, não considera o fator determinante do futuro político do país. Candidatos tucanos já conhecidos, nomes sem nenhuma viabilidade popular do PMDB ou outros nomes que aventuras políticas apontam, se chocam com essa realidade incontornável. Uma vez mais, quem não decifra o enigma Lula é devorado por ele, como tem acontecido reiteradamente. *Sociólogo, publicado no site Carta Maior (www.cartamaior.com.br)


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Jorge Salomão

Entrevista

Por Ricardo Rabelo

“Sem utopia a gente não vive” Baiano de Jequié, filho de pai sírio e mãe sertaneja, Jorge Dias Salomão é um artista multicultural que possui grande prestígio no meio artístico do Rio de Janeiro. Poeta, compositor, diretor de teatro e escritor, publicou seis livros e dirigiu dezenas de peças e saraus. O sucesso veio cedo, aos 17 anos, quando dirigiu a primeira, “Macaco da Vizinha”, que ganhou muitos prêmios e lhe deu grande prestígio. Irmão do também poeta Waly Salomão, radicou-se no Rio em 1969 logo depois da decretação do AI5. Nessa época, foi iluminador de shows de artistas como Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Tolhido pela repressão, foi morar em Nova Iorque entre 1977 e 1984. “Cansei de ficar na delegacia preso sem motivo algum”, revela. É autor de canções gravadas por vários artistas, como Marina Lima, Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Barão Vermelho, Zizi Possi e Zé Ricardo, entre outros. Há quatro anos, realiza um conceituado Sarau Cultural no SESI Rio, sob a direção de Emmanuel Santos, onde recebe nomes importantes da vida cultural carioca. Em entrevista ao Bafafá, Jorge Salomão faz uma radiografia de sua existência, contando episódios interessantíssimos que viveu. Rindo, lembra que ao chegar a Salvador, vindo do interior, fazia as refeições na pensão de Dona Lúcia Rocha, mãe do Glauber Rocha. “A primeira vez que toquei a campainha, foi o próprio Glauber que abriu a porta”. Nosso entrevistado fala ainda de poesia, conjuntura política e utopias. Elogia a presidente Dilma e garante que Lula ainda tem fôlego para manter seu prestígio político. “Ele tem bala na agulha e grandes chances de voltar em 2018”. E assegura: “Sem utopia a gente não vive”.

Como foram sua infância e todos os romances nordestinos, porta (riso). Com isso nos tornamos de onde teria direito a almoço. Eu principalmente de Jorge Amado. O grandes amigos, inclusive da Lúcia saía do colégio e andava mais de juventude? Nasci em Jequiá, Bahia. Era bem menor que hoje com 200 mil habitantes, quando na minha época não passavam de 30 mil. Meu pai era sírio e veio para o Brasil bem novo, era mascate e conseguiu juntar dinheiro para abrir uma loja. Mamãe era sertaneja, filha de português, mas muito culta e libertária. Eles tiveram 10 filhos. Nossa juventude foi muito rica, nossa casa era grande. Tivemos uma educação tribal, ou seja, com muita gente junta. Meu pai era muito generoso e sempre tinha gente de fora comendo em casa. Líamos muito também. Aos 10 anos de idade, eu já tinha lido

Waly era dois anos mais velho que eu. Ele sempre foi muito generoso comigo ao longo da vida. Sempre me via como uma pessoa solidária com as ideias dele (riso). Estudamos num colégio de padres e éramos considerados os “vermelhos” porque não cantávamos direito o hino nacional. O Waly foi estudar em Salvador e um ano depois, aos 12 anos, foi a minha vez. Levava um dia para chegar a Salvador. Arrumamos uma pensão, mas, não tinha almoço, fazíamos nossas refeições na casa da Lucia Rocha, mãe do Glauber Rocha. A primeira vez que toquei a campainha, foi o próprio Glauber que abriu a

até a sua morte há alguns anos e da Aneci Rocha, irmã do Glauber. Eu era magro feito uma vara de tirar caju. Quando fui estudar o ginásio conheci a Dedé, que depois virou mulher do Caetano. Isso para você ver as coincidências da vida! Cheguei a estudar faculdade de Ciências Sociais e de Filosofia, mas não ia nunca à aula, preferia ficar nos corredores fazendo política. Não cheguei a completar.

5 km para almoçar no restaurante universitário (riso). Fiz um curso com o Luis Carlos Maciel e ele me convidou para ser assistente de direção da primeira montagem de Morte e Vida Severina para o teatro (1964). Ele gostava muito das minhas improvisações. Sabe quem escreveu o programa da peça? O Glauber Rocha, que tinha um texto muito bonito. Depois fiz dois espetáculos que fizeram sucesso em Salvador. Um deles, a partir de E o teatro, como surgiu na um texto de Joaquim Manuel de Macedo, uma historinha de amor sua vida? O Waly sugeriu de me matricu- chamada Macaco da Vizinha. Botei lar num curso de teatro da faculda- cenas de cinema mudo, músicas


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dos Beatles. Ganhei todos os prêmios: melhor direção, melhor espetáculo e fui até capa de jornal, com apenas 17 anos. Depois dirigi no Teatro Castro Alves, a peça A Boa Alma de Setsuan, de Bertolt Brecht. Era uma produção com mais de 30 atores. Posteriormente fiz vários espetáculos de música contra a censura. O Waly, por sua vez, largou o curso de direito e veio tentar a vida no Rio. Eu sentia saudades dele, meu parceiro, e acabei vindo também logo depois da decretação do AI 5.

E como foi a chegada ao Rio? Me hospedei um tempo na casa da minha irmã que morava na Tijuca e depois numa pensão na Rua Viveiros de Castro, em Copacabana. Tivemos um período muito duro, em todos os sentidos. A Ditadura militar reprimia qualquer coisa, era parado o tempo todo na rua. Qualquer policial se achava no direito de te pedir documento ou revistar. Cansei de ficar na delegacia preso sem motivo algum até que chegava um delegado e falava para me liberar (riso). Nisso, conhecemos o Hélio Oiticica que foi muito generoso conosco. O Waly foi dirigir o show Gal Fatal que fez grande sucesso e eu o antológico show “Luiz Gonzaga volta para curtir”. Depois fui fazer a iluminação dos shows do Caetano e do Gil.

“O Rio ainda é a capital cultural do Brasil, aqui eu perdi muitos vícios provincianos”

Vencer no Rio de Janeiro é mais difícil?

Eu acho que vencer é uma tarefa que todo mundo deve exercer. Nós atravessamos várias dificuldades, mas vencemos. O Rio ainda é a capital cultural do Brasil, aqui eu perdi muitos vícios provincianos (riso).

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E sua experiência em São Pau- Você é um cara de esquerda? É outra região. Ele tem bala na Sou de esquerda, anti-homofóbico, agulha e grandes chances de lo com foi? Tive uma experiência muito desastrosa em São Paulo. Participava de um grupo de teatro independente e fui preso acusado de vender LSD. Fomos espancados brutalmente e eu perdi a voz seis meses.

E como foi morar em Nova Iorque?

Foi um período muito bonito também. Foi uma espécie de gozo interno, me oxigenou os pensamentos, principalmente de achar que era o melhor. Morei lá de 77 a 84 vivendo de bicos, pintando paredes, carregando caixas de tomate para restaurantes.

Como está vendo o teatro no Brasil?

Não gosto de falar mal de nada que se faz no Brasil. Atualmente estou trabalhando com o jovem diretor de teatro Emanuel Santos, uma pessoa de muito talento que dirige o espetáculo A Febre do Samba. Recentemente vi o espetáculo Luiz Gonzaga, a Lenda, de João Falcão. Gostei muito. O teatro no Brasil é provinciano e ao mesmo tempo não é.

O que acha da obra de Ferreira Gullar?

Gosto muito da obra dele, mas não gosto do Ferreira articulista que ganha um tom muito de direita que não bate com a poética dele (riso).

Em entrevista ao Bafafá, Gullar disse que os que fizeram a luta armada eram meia dúzia de cretinos. O que acha disso?

Eu não acho. Os militares foram muito cruéis com a vida brasileira, acabaram com a universidade, destruíram a cultura. Acho que quem pegou em armas foi herói! Foi uma reação à repressão que estraçalhou tudo.

integrado à vida, antirracista, tenho voltar em 2018 (riso). horror a disparidades sociais. Tenho sempre desejo de mudanças. O que acha de veículos como

o Bafafá?

Como está vendo a conjuntura Queria falar que adoro esse nome Bafafá 100% Opinião, acho nacional? Temos um Congresso altamente reacionário, horroroso. Gosto muito da presidente Dilma, acho um absurdo as elites machistas pedirem o impeachment dela. Quem sonega imposto no Brasil? Esta mesma elite que tenta demonizá-la. Mas, ela tem luz e um discurso coerente.

“Aécio é um homem que não sabe perder”

Aécio Neves é golpista?

Posso falar tudo que eu penso? Acho ele golpista sim. É um homem que não sabe perder, mimado. Ele é contra o Brasil andar.

Esse juiz Moro é imparcial?

lindo, super brasileiro que remete a alguma coisa acontecendo. O jornal já tem um fervor bonito no nome.

O que acha do Rio de Janeiro?

Eu amo o Rio de Janeiro. Gosto do espírito carioca, do jeito carioca.

Quais são seus projetos?

Recentemente terminei o livro que escrevi sobre o Waly e estou com um curta-metragem em planejamento. Tenho sempre muitos projetos (riso). A vida sem projetos não tem graça. No dia 19 de agosto retomo o Sarau Cultural do SESI, um projeto literário de muito sucesso que faço há quatro anos onde sempre recebo convidados para uma conversa com o público, em formato de cabaré com mesas e cadeiras.

Acho esse juiz parcial, tanto que ele não prendeu ninguém do PSDB. O judiciário deixa a desejar. Tem alguma utopia? Sem utopia a gente não vive. Acha que Lula recupera o Como não ter utopia? A gente existe, a cabeça existe, como não criar prestígio perdido? Acho que sim, o Lula fez uma esse motor de criatividade para mocoisa consistente com o povo bra- vimentar não só a nossa vida, como sileiro. Você viaja pelo nordeste e a vida do mundo? Quero muito ver fica admirado com as mudanças. um mundo melhor.


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rio de janeiro,

EM PARCERIA COM ESTADO E MUNICÍPIOS

Na saúde, 1,5 milhão de pessoas recebem medicamentos gratuitos para asma, hipertensão e diabetes. Com o Mais Médicos, 152 profissionais beneficiam 500 mil cariocas.

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Na educação, o Pronatec beneficia 180 mil jovens e trabalhadores com qualificação profissional. E 56 mil bolsas foram concedidas pelo ProUni.

O Minha Casa, Minha Vida realizou o sonho da casa própria de mais de 39 mil famílias da capital. Já são 89 mil moradias entregues no estado.

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Franklin Martins ao Bafafá

lança livro e fala

O livro “Quem foi que inventou o Brasil?”, do jornalista Franklin Mar tins, reúne mais de mil e cem canções que contam a história da República de 1902 a 2002. Os três volumes da obra trazem informações sobre cada uma das músicas garimpadas e situam historicamente os fatos, personagens e costumes políticos a que elas se referem. Em entrevista exclusiva ao Bafafá, Franklin fala sobre a obra: Você é um jornalista e escritor de temas políticos. O que o levou a escrever sobre música? No final dos anos 1990, lancei um site sobre política, no qual, além de minhas colunas e comentários, havia seções com documentos importantes da nossa história e trechos de discursos importantes e canções sobre política. Aos poucos, me dei conta da enorme e permanente produção musical no Brasil sobre o tema, desde os tempos do Império até hoje, um fenômeno desconhecido para a maioria das pessoas, inclusive para mim. Quanto mais pesquisava a relação entre música e política no nosso país, mais impressionado ficava. Assim, o que era uma curiosidade virou um hobby, depois uma paixão, em seguida uma cachaça. Acabou desaguando no livro, mais precisamente nos três volumes do livro, que reúne mais de 1.100 canções compostas no calor dos acontecimentos desde a Proclamação da República até 2002. Como surgiu a ideia do livro? Surgiu naturalmente, a partir do momento em que tive a certeza de que minha pesquisa não só era importante e consistente como também poderia contribuir para contar a história da República de uma maneira viva e atraente. Não sou musicólogo ou especialista em música, tampouco historiador, mas um repórter político, alguém com uma longa trajetória política, que gosta de música. O livro, a meu ver, é uma grande reportagem sobre a história da República, ancorada em canções que espelham a percepção, correta ou incorreta, que compositores e cantores tiveram dos fatos políticos no momento em que eles ocorreram. Espero que as pessoas gostem. Eu tive enorme prazer em fazer esse trabalho. Ao todo, foram 14 ou 15 anos de pesquisas, estudos, entrevistas, conversas, leituras, escutas. Comecei em 1997 e o livro está saindo agora. Só não trabalhei nele nos quatro anos em que estive no governo, como ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, no segundo mandato do presidente Lula. Alguma comparação com os tempos atuais? Minha pesquisa se encerrou em 2002, com a eleição de Lula. Portanto, não posso afirmar categoricamente nada sobre o período posterior. Mas acho que, grosso modo, nossa música popular nos últimos anos manteve as principais características dos anos 1990, que marcaram a entrada em cena da música e da poesia das quebradas, carregadas de fortíssima bronca social e

revolta política. Através do rap, do funk, do samba-reggae, o povo da periferia ganhou voz e visibilidade, batendo de frente com o sistema como um todo. Denunciou a falta de oportunidades, a opressão social e o racismo, as arbitrariedades da polícia e do judiciário, bem como o silêncio de boa parte da mídia diante dessas injustiças.

A verdade O dólar não alcança seu valor mais alto em 12 anos, conforme noticia toda a imprensa. No dia 1º de março de 2003, portanto, 12 anos atrás, o dólar valia R$ 3,57. Procure o site do Banco Central e faça a atualização desse valor pelo IGPM da Fundação Getulio Vargas. O dólar, para estar com o mesmo valor de 12 anos atrás, deveria ser vendido a R$ 7,33. Qualquer menino da escola pública sabe que qualquer coisa que custava sete e é vendida hoje por três, seja dólar ou bala de goma, está custando praticamente a metade. O dólar não está, portanto, alto como dizem os jornalistas, por ingenuidade, por desinformação ou até mesmo por má-fé. A imprensa erra bastante, mas o que faz pouco é apontar os erros e corrigi-los. Rodolpho Gamberini, apresentador do Jornal da Gazeta

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Meu filho Pedro, preso no Estádio Nacional, foi submetido a duas sessões de fuzilamento simulado, além de outras várias torturas, que lhe deixaram marcas para sempre. O Estádio Nacional estava sob a direção do general Contreras. O Brasil deve inspirar-se no exemplo chileno e condenar todos aqueles, civis e militares, que tiveram as mãos sujas com a repressão durante a ditadura. José Maria Rabelo, jornalista

Edital de Intercâmbio O Ministério da Cultura abriu o Edital de Intercâmbio, voltado para a difusão e o intercâmbio nas diversas áreas e linguagens artístico-culturais, a disseminação dos saberes populares e tradicionais, bem como a capacitação técnica, promovendo a multiplicação cultural para o Brasil. Podem solicitar o apoio do MinC artistas, técnicos, gestores culturais, empreendedores criativos, mestres dos saberes e fazeres populares ou tradicionais e estudiosos da cultura, individuais ou em grupo, para participação em eventos, festivais, cursos, produções, pesquisas, residências, feiras de negócios e outras atividades culturais, no Brasil ou no exterior. Leia o edital na íntegra: http://bit. ly/IntercambioMinC

Festival de Havana

Crise? É estarrecedor ler uma notícia dessas: Lucro do Banco Itaú sobe em relação ao do ano passado. Sobe. Não estávamos em crise? Mas crise para quem? Vivemos um momento em que todo o país vivencia uma situação econômica delicada. E essa notícia apenas confirma o porquê dela - porque continuamos privilegiando a desigualdade social e o enriquecimento ilegítimo dos “de cima”. E dinheiro pra saúde? E dinheiro para educação? E dinheiro para a previdência dos trabalhadores? Para isso não tem. Pra banco, tem de sobra. Até quando? Chico Alencar, deputado federal PSOL

Os chilenos Os chilenos comemoram com razão a morte do general Manoel Contreras, facínora número um da ditadura pinochetista. Comandante da sinistra DINA, órgão da repressão durante o regime militar, esteve diretamente envolvido no assassinato de mais de 300 pessoas. Por isso tinha uma condenação de 500 anos de prisão e outros processos ainda estavam em andamento.

Até o dia 28 de agosto, a ANCINE recebe DVDs de obras audiovisuais brasileiras para participação no 37º Festival Internacional do Novo Cinema Latino Americano, em Havana, Cuba, que acontece entre os dias 3 e 13 de dezembro. Interessados em enviar seus filmes para Havana devem ler atentamente o regulamento no site do festival, preencher e enviar o formulário pela internet e, em seguida, encaminhar o DVD da obra inscrita para o escritório da ANCINE. A Assessoria Internacional da ANCINE receberá os materiais e os remeterá para a organização, facilitando o contato dos realizadores brasileiros com os organizadores do evento. A Agência não fará qualquer tipo de seleção dos filmes, ficando esse trabalho restrito aos curadores do Festival. Inscrições nas competições de roteiros e de cartazes devem continuar sendo feitas diretamente junto ao evento, sem a participação da ANCINE no processo. Mais informações: assessoria.internacional@ancine.gov.br

Bafafá em São Paulo Leio o bafafá desde que ele nasceu e acho que já está passando da hora de lançar a edição paulista. Fernando Morais, jornalista e escritor


www.bafafa.com.br

Rio de Janeiro - Agosto / 2015

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OTIMIZAR INVESTIMENTOS. FOCAR EM RESULTADOS. SEGUIR EM FRENTE. —

Continuamos avançando em direção ao futuro. Divulgamos o Plano de Negócios e Gestão 2015-2019. Diante do cenário atual da indústria mundial de óleo e gás revisamos nossas metas para gerar valor aos acionistas. Vamos investir US$ 130,3 bilhões até 2019 e chegar à produção de 2,8 milhões de barris de petróleo por dia no Brasil em 2020. Estabelecemos prioridades, otimizamos investimentos e estamos focados nos resultados. Seguir em frente é o que a gente faz. Todos os dias.


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