Nº 128

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Ano 15 - Nº 128 - Agosto 2016

Distribuição Gratuita

Rio de Janeiro www.bafafa.com.br

Nota de falecimento + 2016

«1985 Recife

Os 54 milhões de eleitores de Dilma, consternados, comunicam o falecimento do Estado Democrático de Direito. E avisam: o troco será dado nas urnas em 2018. Leia editorial página 2

NESTA : O EDIÇÃ

Leonardo Boff Emir Sader José Maria Rabelo Ângela Carrato Eleonora de Lucena Ricardo Rabelo Osvaldo Maneschy Marcelo Chalréo Reimont Leonel Brizola Neto Agamenon Oliveira


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Editorial

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Consumado o golpe! Cabe ao povo defender seus direitos

Não houve grandes comemorações; seus adeptos não saíram às ruas; o presidente usurpador disse apenas as palavras de praxe ao assumir o cargo. A vergonha estava presente nos rostos e nos corações dos golpistas, que sabem da ilegitimidade do poder que estão assumindo. Golpe é golpe em qualquer língua, em qualquer parte do mundo: a ocupação de um cargo eletivo sem o voto de seus cidadãos. Aqui, a situação se agrava mais ainda: uma presidenta eleita por 54 milhões de votos substituída por um vice sem um voto sequer, pois entrou de contrabando na disputa. O processo de afastamento de Dilma é uma farsa, como disse o jornal francês Le Monde, uma pantomima, com as cartas já marcadas desde o primeiro instante. Os interesses conservadores, oligárquicos, que sempre dominaram a vida brasileira, não aceitaram o governo de Dilma, como não haviam aceitado os de Lula, Getúlio Vargas e João Goulart. Não tiveram como livrar-se de Lula, a exemplo do que promoveram contra Getúlio e Goulart. Mas agora iam desforrar-se dela como sua sucessora. Aproveitando-se da recessão econômica que atingiu todo o mundo e não apenas o Brasil, desfecharam contra Dilma uma implacável campanha como nenhum outro presidente sofreu em nossa história política recente. Um Congresso de negocistas articulou-se contra ela, praticamente impedindo-a de governar. A grande mídia, venal e antinacional, envenenou a opinião pública, com sua oposição sistemática e desestabilizadora. O descontentamento especialmente das classes médias deu origem às manifestações de rua que iriam reforçar a oposição.

Agora consumaram o golpe, que abrirá o caminho para as reformas neoliberais que serão adotadas contra a grande maioria da população: a redução dos programas sociais adotados nos governos Lula e Dilma, que retiraram da miséria e da fome milhões de brasileiros; a drástica redução dos recursos destinados à saúde e à educação; a modificação dos critérios de reajuste do salário mínimo, voltando aos números insignificantes dos governos tucanos; a submissão de nossa política externa aos interesses das grandes potências capitalistas, como aliás já estão anunciando; a entrega de nossas riquezas, a começar pelo petróleo, particularmente o pré-sal. O golpe contra Dilma tem objetivos bem claros: a redução dos direitos dos trabalhadores e a entrega das riquezas nacionais. Sabem, entretanto, que não será fácil praticar esses crimes contra o Brasil. Sabem que o povo brasileiro, por todos os meios, irá impedir a concretização desses projetos antinacionais, a favor dos ricos e poderosos. As primeiras manifestações contra o golpe mostram que o caminho não será tranquilo para seus autores. Talvez seja por isso que comemoraram tão discretamente a vitória fraudulenta. A decisão que mantém os direitos políticos de Dilma requer uma reflexão maior, que não estamos em condição de fazer neste momento, pois nossa matéria é redigida há poucas horas de sua adoção. O que se viu até agora são especulações, que só o tempo dirá se procedem ou não.

Onde encontrar: Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas do Rio, São Paulo e BH, Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, Escola de Comunicação, Instituto de Economia, Instituto de Filosofia, Escola de Serviço Social, Escola de Música, Instituto de Psicologia, Fórum de Ciência e Cultura, Faculdade de Direito, faculdades de Geografia, Geologia, Engenharia, Matemática, Química, Física, Meteorologia, Letras, Medicina, Enfermagem, Educação física, alojamento estudantil do Fundão, Coppe (UFRJ), UERJ, Café Lamas, Fundição Progresso, Cordão da Bola Preta, Botequim Vaca Atolada, Bar do Gomez, Bar do Serginho, Bar do Mineiro, Casarão Ameno Resedá, Faculdade Hélio Alonso, Arquivo Nacional, Livraria Ouvidor (BH), Livraria Quixote (BH), Livraria Scriptum (BH), Livraria Cultural Ouro Preto (Ouro Preto), Sindicato dos Engenheiros e Bar Bip Bip, Café do Museu da República, Diretórios Acadêmicos das Faculdades de Arquitetura e Geografia da UFF.

Diretor e Editor: Ricardo Rabelo - Mtb 21.204 (21) 3547-3699 bafafa@bafafa.com.br

Direção de arte: PC Bastos bastos.pc@gmail.com

Diretora de marketing: Rogeria Paiva mercomidia@gmail.com

Circulação: Distribuição gratuita e direcionada (universidades, bares, centros culturais, cinemas, sindicatos)

Praça: Rio de Janeiro São Paulo Belo Horizonte Publicidade: (21) 3547-3699 mercomidia@gmail.com Tiragem: 10.000 exemplares

Agradecimentos: Aos colaboradores desta edição. Realização: Mercomidia Comunicação Bafafá 100% Opinião é uma publicação mensal. Matérias, colunas e artigos

assinados são de responsabilidade de seus autores. www.bafafa.com.br Em função da votação do impeachment a edição de agosto circulou no dia 31/08.


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Um golpe de classe José Maria Rabêlo*

A história da humanidade, agora mais do que nunca, é a história da luta de classes, conforme definiram Marx e Engels no Manifesto Comunista. No episódio do impeachment de Dilma essa constatação salta à vista, de maneira clara e transparente. De um lado estavam os grandes interesses econômicos, com a FIESP à frente, e as classes médias altas refugiadas nos bairros chiques e nos condomínios de luxo, exultantes com o fim do processo. De outro lado, nas regiões pobres das grandes cidades imperaram o silêncio e a ausência de qualquer sinal de comemoração. Os personagens estavam definidos: os que têm tudo e se julgam donos da sociedade, e os que têm apenas a força do seu trabalho, quase sempre duro e mal remunerado. A disputa, na realidade, não estava entre corruptos e honestos, como nos

procuram fazer crer, desviando a atenção do ponto essencial do problema: a exploração capitalista do trabalho humano. Um dado impressionante define essa tragédia social, de âmbito planetário: somente um por cento dos homens detêm 99% da riqueza mundial. A questão da moralidade é usada apenas para obscurecer a essência dos fatos: as imensas diferenças sociais, que estão na base de nossos problemas coletivos, como a insegurança, a falta de políticas de saúde, de educação, de habitação, etc. Com a cobertura incondicional da grande mídia alugada a seus interesses e de seus representantes nos diversos níveis do poder, tentam (e muitas vezes o conseguem) desviar as atenções da maioria da população dos seus problemas básicos de sobrevivência. E surgem nessas circunstâncias, mo-

vendo suas varetas mágicas, os salvadores da pátria, o último deles esse juiz Moro, que ninguém sabe ao certo a que vem. O episódio de impedimento de Dilma é o mais recente, mas possivelmente não o último, desse espetáculo trágico contra o povo brasileiro. DUAS MATÉRIAS A SEREM LIDAS Quero chamar a atenção dos leitores para duas matérias publicadas, uma na Folha de S. Paulo (22/08/16), de Eleonora de Lucena sob o título Truculência, e outra, no Estado de S. Paulo (16/08/16), de Humberto Werneck denominada Pique de Garoto. A primeira trata com extraordinária clareza e coragem o processo de impeachment contra Dilma, e a segunda, num incontível desafio a minha modéstia, ressaltando as peripécias de minha história nestes meus longos anos de vida.

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*Jornalista


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Carta de despedida: nós voltaremos Dilma Rousseff* Ao cumprimentar o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, cumprimento todos os senadoras e senadores, deputadas e deputados, presidentes de partido, as lideranças dos movimentos sociais. Mulheres e homens de meu país. Hoje, o Senado Federal tomou uma decisão que entra para a história das grandes injustiças. Os senadores que votaram pelo impeachment escolheram rasgar a Constituição Federal. Decidiram pela interrupção do mandato de uma presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Condenaram uma inocente e consumaram um golpe parlamentar. Com a aprovação do meu afastamento definitivo, políticos que buscam desesperadamente escapar do braço da Justiça tomarão o poder unidos aos derrotados nas últimas quatro eleições. Não ascendem ao governo pelo voto direto, como eu e Lula fizemos em 2002, 2006, 2010 e 2014. Apropriam-se do poder por meio de um golpe de Estado. É o segundo golpe de Estado que enfrento na vida. O primeiro, o golpe militar, apoiado na truculência das armas, da repressão e da tortura, me atingiu quando era uma jovem militante. O segundo, o golpe parlamentar desfechado hoje por meio de uma farsa jurídica, me derruba do cargo para o qual fui eleita pelo povo. É uma inequívoca eleição indireta, em que 61 senadores substituem a vontade expressa por 54,5 milhões de votos. É uma fraude, contra a qual ainda vamos recorrer em todas as instâncias possíveis. Causa espanto que a maior ação contra a corrupção da nossa história, propiciada por ações desenvolvidas e leis criadas a partir de 2003 e aprofundadas em meu governo, leve justamente ao poder um grupo de corruptos investigados. O projeto nacional progressista, inclusivo e democrático que represento está sendo interrompido por uma poderosa força conservadora e reacionária, com o apoio de uma imprensa facciosa e venal. Vão capturar as instituições do Estado para colocá-las a serviço do mais radical liberalismo econômico e do retrocesso social. Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment. Mas o golpe não foi cometido apenas contra mim e contra o meu partido. Isto foi apenas o começo. O golpe vai atingir indistintamente qualquer organização política progressista e democrática. O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura; direito aos jovens de protagonizarem sua história; direitos dos negros, dos indígenas, da população LGBT, das mulheres; direito de se manifestar sem ser reprimido. O golpe é contra o povo e contra a nação. O golpe é misógino. O golpe é homofóbico. O golpe é racista. É a imposição da cultura da intolerância, do preconceito, da violência. Peço às brasileiras e aos brasileiros que me ouçam. Falo aos mais de 54 milhões que votaram em mim em 2014. Falo aos 110 milhões que avalizaram a eleição direta como forma de escolha dos presidentes. Falo principalmente aos brasileiros que, durante meu governo, superaram

a miséria, realizaram o sonho da casa própria, começaram a receber atendimento médico, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da Nação, passando a ter direitos que sempre lhes foram negados. A descrença e a mágoa que nos atingem em momentos como esse são péssimas conselheiras. Não desistam da luta. Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer. Quando o presidente Lula foi eleito pela primeira vez, em 2003, chegamos ao governo cantando juntos que ninguém devia ter medo de ser feliz. Por mais de 13 anos, realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história de nosso país. Esta história não acaba assim. Estou certa que a interrupção deste processo pelo golpe de estado não é definitiva. Nós voltaremos. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo a um Brasil em que o povo é soberano. Espero que saibamos nos unir em defesa de causas comuns a todos os progressistas, independentemente de filiação partidária ou posição política. Proponho que lutemos, todos juntos, contra o retrocesso, contra a agenda conservadora, contra a extinção de direitos, pela soberania nacional e pelo restabelecimento pleno da democracia. Saio da Presidência como entrei: sem ter incorrido em qualquer ato ilícito; sem ter traído qualquer de meus compromissos; com dignidade e carregando no peito o mesmo amor e admiração pelas brasileiras e brasileiros e a mesma vontade de continuar lutando pelo Brasil. Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades. Me emocionei com o sofrimento humano, me comovi na luta contra a miséria e a fome, combati a desigualdade. Travei bons combates. Perdi alguns, venci muitos e, neste momento, me inspiro em Darcy Ribeiro para dizer: não gostaria de estar no lugar dos que se julgam vencedores. A história será implacável com eles. Às mulheres brasileiras, que me cobriram de flores e de carinho, peço que acreditem que vocês podem. As futuras gerações de brasileiras saberão que, na primeira vez que uma mulher assumiu a Presidência do Brasil, a machismo e a misoginia mostraram suas feias faces. Abrimos um caminho de mão única em direção à igualdade de gênero. Nada nos fará recuar. Neste momento, não direi adeus a vocês. Tenho certeza de que posso dizer “até daqui a pouco”. Encerro compartilhando com vocês um belíssimo alento do poeta russo Maiakovski: “Não estamos alegres, é certo, Mas também por que razão haveríamos de ficar tristes? O mar da história é agitado As ameaças e as guerras, haveremos de atravessá-las, Rompê-las ao meio, Cortando-as como uma quilha corta.” Um carinhoso abraço a todo povo brasileiro, que compartilha comigo a crença na democracia e o sonho da justiça.” *Presidente deposta por um golpe parlamentar


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Ricardo Rabelo Quadrilha de ladrões

O que mais me surpreende é gente informada apoiar a deposição da presidente Dilma mesmo sabendo que não estava tipificado o crime de responsabilidade. A democracia está sendo jogada às traças e ainda assim tem pessoas que aceitam e ainda acham que Dilma é coisa do passado. Uma quadrilha de ladrões do PMDB está depondo uma presidente eleita legitimamente. Para piorar, vamos amargar muitos atentados aos direitos sociais e trabalhistas daqui para a frente. Temer terá dois anos para destruir o que o país construiu ao longo de mais de 50 anos. Pena!

Mea culpa

ção. Temer jamais poderia ter sido vice de Dilma. Ainda mais duas vezes. O PT tem que esquecer alianças com partidos de direita ou centro-direita. Seu desafio será voltar às origens, de partido coerente e propositivo. No Rio de Janeiro, é fundamental o PT promover uma grande plenária para discutir os rumos do partido. Democracia interna é fundamental.

Autocrítica

Acho também que o PT deveria fazer uma autocrítica pública e reconhecer que alguns nomes foram seduzidos pelo poder. O partido tem de deixar claro que não são algumas maçãs que vão contaminar o cesto todo. Quem estiver envolvido em falcatruas que responda na justiça. Ainda é melhor pedir perdão à sociedade e reconhecer os erros do que fingir que nada aconteceu. O PT precisa aprender dos erros para superar esse momento insólito da política nacional. Ainda acho que o partido sai mais forte desse episódio.

ficar na história do Brasil

como a presidenta destituída por derrotados nas urnas. Do início ao fim sua destituição foi articulada pelo PSDB e seus pavões FHC, José Serra e Aécio Neves. Prevaleceu a tese do “fim justifica os meios”. Fizeram de tudo para expurgar Dilma, inclusive se aliar ao gângster Eduardo Cunha para isso. A tradição democrática preza o acatamento do resultado das urnas. O PSDB está envolvido até o último fio de cabelo neste golpe indecente.

Eleitor

O eleitor reclama do político, mas nunca checa em quem está votando. Essa história de que político “é tudo igual” eu digo do eleitor. A culpa por termos essa representação é toda dele que a cada eleição vota pior. Com todo respeito: eleitor é muito sem noção! E alguns ainda pedem a volta da Ditadura. Francamente!

Perdedores Que o impeachment da presidenta Dilma sirva de lição para o partido dos trabalhadores rever as suas alianças políticas. Grande parte da crise foi criada pelo próprio partido ao ter confiado no PMDB como base de sustenta-

Eleitor II

Dilma Rousseff vai

É preciso um esforço de memória para o eleitor lembrar em quem votou para deputado ou vereador na última eleição. Infelizmente, o legislativo acabou ficando sob a direção de políticos fisiológicos e carreiristas. Os esperta-

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lhões manipulam a opinião pública e acabam eleitos, muitos até com processos criminais nas costas. Digo mais uma vez que a culpa é do eleitor. Custa perder 10 minutos na internet para pesquisar a vida dos candidatos em quem vai votar? Acredito piamente que o problema do Brasil não são os políticos, mas os eleitores. Não utilizam o voto como instrumento de transformação. E elegem o que há de pior.

Eleitor III

Novamente sugiro que a sociedade civil elabore listas de candidaturas ficha-limpas para as eleições. Quem não tiver um selo “Ficha Limpa” não merece o voto. Utopia? Talvez, mas totalmente plausível.

Sem noção

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que ele vendeu o voto a favor do impeachment em troca de cargos no governo Temer.

Lava Jato

De uma vez por todas: a esquerda não é contra a Lava Jato ou qualquer outra investigação para punir os corruptos. É contra a seletividade das investigações que só atingem o PT. É nítido que, enquanto protege-se a cúpula do PMDB, PP, DEM e PSDB, promove-se uma perseguição implacável ao maior partido progressista do país. Até o Lula, o brasileiro que mais contribuiu para o desenvolvimento da nação, vem sendo objeto de uma sórdida campanha de desmoralização. A história ainda julgará esses hipócritas golpistas. As urnas serão implacáveis em 2018. Quem viver verá!

Lula

Essa história de votar em jogador de futebol só podia dar nisso: Romário a favor do impeachment. Ainda bem que não votei nesse senhor cujo caráter tenho minhas dúvidas. Cá entre nós, era previsível o posicionamento pela inconsistência ideológica! Quem votou, inclusive na esquerda, deve estar se revirando! O pior é que dizem

Ou inventam um casuísmo muito forte ou Lula volta com tudo em 2018. Basta ver os índices dele nas pesquisas para a sucessão. Mesmo sob fogo cerrado da mídia golpista e direitista, Lula lidera em todas. Essa história de tentar desmoralizar ele pode ser um tiro no pé. Vai ser um tremendo dedo no olho até as eleições. Mas, quem não deve, não Temer.


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Entrevista

Vereador Reimont

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por Ricardo Rabelo

“O governo Paes é um blefe” política da cidade e do país. Segundo ele, o governo Paes é um blefe. “Um governo que promove a exclusão, que agride camelôs, professores e foliões, que beneficia empresas de ônibus, não nos representa”, assegura. Para ele, o PT continua sendo um dos mais importantes instrumentos de luta do povo brasileiro. “Segundo o TSE, foi o partido que mais cresceu nos últimos anos, ampliando a sua base de filiados em quase todos os estados, mesmo em plena crise”. ções do esquema de corrupção na Petrobras, muitos avanços, seja na produção legislativa, Por isso, sempre fui contrário à nefasta tem um forte viés político, demonstrando como a Lei do Artista de Rua, seja na fiscali- aliança do PT com o PMDB. Um governo que um comportamento faccioso, direcionado a zação do executivo, com o Orçamento para a promove a exclusão, que agride camelôs, procriminalizar o PT, haja ou não provas. Todo o Criança e o Adolescente, seja no relacionamen- fessores e foliões, que beneficia empresas de “marketing” do processo tem esse objetivo. to com os movimentos sociais. Nosso mandato ônibus, não nos representa. Hoje, derrotar o Denúncias e provas contra políticos do PSDB está e estará sempre aberto à construção de PMDB do Rio é a melhor resposta que podemos e alguns intocáveis, como Eduardo Cunha e um mundo mais justo e solidário, e sempre dar ao golpe jurídico-parlamentar-midiático, já esposa, nem são consideradas. com a participação popular. Vamos em frente, que os golpistas cariocas têm papel central na Alguns delatores confessaram, com todas firmes e determinados. trama. as letras, que o esquema de corrupção na empresa existia desde 1997, muito antes de Como está vendo a administração Qual seria o seu projeto mais imporLula assumir o governo. E o que aconteceu? Eduardo Paes? tante na Câmara? Nada. É um blefe, a começar pelo Orçamento. Meu mandato tem foco nas questões de Acho que a sociedade começa a perceber A Câmara tem dado ao prefeito, a cada ano, Educação, Cultura, População em Situação de isso e a repensar o que tem sido todo esse uma escandalosa margem de remanejamento Rua, Comércio Ambulante, Moradia Adequada processo. Mas, volto a dizer, o PT cometeu de até 30%!; na Educação, o déficit anual gira e Mobilidade Urbana. Trabalho legislando, atuinúmeros erros e eles não podem ser deixa- em torno de 1,5 bilhão de reais, resultando no ando em Comissões, buscando soluções junto dos de lado. É preciso que o partido reate os desmonte da área. ao Executivo e apoiando essas áreas em suas E tem muito mais – o déficit de moradia lutas. Em dois mandatos, criei, junto com os compromissos que firmou no passado. Nós, militantes e lideranças do PT, ansiamos por está em torno de 400 mil unidades; a política interessados, 31 leis e tenho outros 59 projetos de transportes públicos é ditada pelas em- ainda tramitando na Câmara; é muito difícil isso. presas, acima dos interesses da população; apontar qual o mais importante. Mas, talvez, Qual é o balanço de sua gestão de os jogos olímpicos serviram de álibi para a o mais representativo, porque aglutina toda a prefeitura implantar um devastador programa gestão da cidade, seja a Lei 5.846/2015, que vereador? Eu me sinto uma pessoa muito privile- de exclusão social na região de Jacarepaguá institui o orçamento participativo na cidade, giada. Só o fato de trabalhar para construir a e Recreio, onde ocorreram as maiores e mais permitindo que a sociedade civil possa discutir cidade onde vivo como um espaço para todas desnecessárias remoções. Enfim, é uma ad- as propostas orçamentárias da prefeitura. Infeas pessoas já é uma realização. Conseguimos ministração desastrosa para o povo. lizmente, o atual prefeito burla também esta lei.

Reimont Luiz Otoni Santa Bárbara, conhecido apenas como Reimont, é um dos vereadores mais combativos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ex-padre, disputou a sua primeira eleição em 2005, trabalhando com uma pauta progressista, com foco nas questões de educação, cultura, população em situação de rua, comércio ambulante, moradia adequada e mobilidade urbana. Em entrevista ao Bafafá, Reimont faz uma análise de situação

Qual é sua história política no Rio de Janeiro?

Sou mineiro e comecei a minha atividade política no Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte. Vim para o Rio em 1989 e fui pároco da Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, onde moro. À frente da paróquia, iniciei a minha militância no Morro do Turano, participando da fundação de diversos projetos sociais e comunitários, dentre os quais, o Instituto de Prevenção à AIDS (IPRA) e o Grupo de Estudo e Formação de Educadores Populares (GEFEP). A vivência cotidiana dos problemas da população mais pobre consolidou a minha vocação política e a minha opção pelo PT, partido que entra para a História como o alicerce do maior programa mundial de inclusão; um programa reconhecido pela ONU e que tirou o Brasil do mapa da fome.

O PT não saiu meio queimado com a crise da Petrobras?

Certamente, o PT cometeu inúmeros erros de avaliação e gestão, e alguns petistas são suspeitos de práticas que, se devida e isentamente comprovadas, podem configurar crime de corrupção. Mas é cada vez mais evidente que a Lava Jato, responsável pelas investiga-

Leonel Brizola

por Ricardo Rabelo

“Sou contra esse golpe travestido de impeachment” O vereador Leonel Brizola teve a oportunidade do convívio, desde jovem, trabalhando com o seu avô Leonel Brizola no Rio de Janeiro. O vereador costuma dizer que tem a mesma garra do professor Darcy Ribeiro, o povo precisa saber ler, escrever e contar. Seu mandato está voltado para

a defesa da escola pública, da saúde e do transporte. Por causa disso enfrenta muitos inimigos poderosos como a Rede Globo e o PMDB. Em entrevista ao Bafafá, Leonel faz uma análise da conjuntura municipal e nacional. “Sou contra esse golpe travestido de impeachment”, assegura.

O senhor não está mais no partido oprimida do Rio de Janeiro, que está sofrendo Brizola dirigiu no Rio Grande do Sul em 1961, interessa pela superexploração do trabalhaque seu avô Leonel Brizola fundou? com essas Olimpíadas que canaliza todo o a Campanha da Legalidade, que garantiu a dor, sem mencionar a entrega criminosa do É, de fato, eu não estou. Meu partido é o PSOL. Depois da morte de Leonel Brizola, o PDT não é mais o mesmo, com o tempo eu fui percebendo que os meus caminhos na política, o que eu pensava sobre o povo, o país e a cidade do Rio de Janeiro não coincidiam com o que a atual direção do partido estava imprimindo ao PDT. Antes de ser parente, eu continuo sendo brizolista. Compartilho de todo o pensamento e da luta do meu avô, acho que o Rio de Janeiro necessita cada vez mais das ideias de meu avô, basta observar o desastre que o PMDB provocou nesta cidade.

E a sua atuação como vereador? Eu tenho procurado lutar a favor da população

dinheiro para a especulação imobiliária e para agradar os turistas, deixando de lado o bem-estar do povo carioca. A exemplo da péssima situação em que se encontra a saúde, a educação e o transporte público. Para o governo PMDB o povo do Rio não conta para nada o que conta é o lucro dos ricos.

Qual é a sua posição diante do impeachment da Dilma?

Apesar dos desatinos cometidos pelos governos do PT, eu sou radicalmente contra esse golpe travestido de impeachment. Acredito que esteja coerente com a orientação legalista que sempre caracterizou a atuação de meu avô, como todos sabem, Leonel

posse do presidente João Goulart. Hoje as circunstâncias são diferentes, mas o golpismo tão arraigado na política oligárquica brasileira continua. Não é por acaso que um dos maiores adversários de Brizola e do povo do Rio de Janeiro, Moreira Franco, conhecido como Gato Angorá, está na cúpula dessa curriola de Michel Temer. O senhor Gato Angorá foi um dos coveiros dos CIEPs, um programa de educação para o povo de alto nível didático e cultural que foi criminosamente abandonado e destruído pelo PMDB. Este partido não quer que os filhos do povo estudem. Este partido só se preocupa com seus filhinhos matriculados em escolas particulares. Este partido só se

patrimônio nacional para os grandes grupos internacionais imperialistas.

E o futuro vereador?

Leonel Brizola dizia que o Rio de Janeiro era um tambor que sofria e repercutia a política nacional. Hoje essa situação se agravou com a privatização internacional das empresas públicas. Eu, na minha função de vereador, pude verificar que existe uma estreita relação entre as partes e o todo, a situação nacional interfere no nível de vida do estado e mesmo nos rumos da cidade. É com essas diretrizes que pretendo reeleger-me, se o povo atentar e aprovar o meu trabalho.


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Nunca é tarde e a luta sempre continua Osvaldo Maneschy* A direita brasileira, leia-se também a elite, é absolutamente inconfiável. A esquerda brasileira, por sua vez, precisa se entender fora da cadeia. Aqui no Rio o PT, por exemplo, nunca apoiou Brizola - pelo contrário, o combateu. O partilhamento da esquerda na atual eleição municipal espelha esta situação absurda. Os cretinos que dissolveram partidos políticos em 66 e depois de 74 descobriram que tinham que dividir a oposição, facilitaram e facilitam até hoje a infindável criação de partidos. Hoje são 28 partidos hoje legalizados e há mais uns 20 querendo se formar. Isto poluiu o horário eleitoral gratuito, que na maciota a direita judicializada - a mesma que sempre defendeu as urnas eletrônicas inauditáveis que usamos no

Brasil - foi diminuindo, diminuindo o espaço do horário eleitoral gratuito no rádio e na tevê - a ponto de hoje praticamente já terem extinto esta janela democrática para a população ver, analisar e decidir em quem votar. Isto para fortalecer as candidaturas de direitistas endinheirados ou figuras públicas conhecidas como jogadores de futebol, cantores de funk e outras personalidades vazias que ‘enriquecem’ a política brasileira onde a direita, graças aos meios de comunicação que controlam, povoou de corruptos, midiotas e analfabetos políticos - para se fortalecerem. Não podemos esquecer que a ditadura abastardou o Congresso Nacional a partir da cassação de Márcio Moreira Alves. É um trabalho que vem sendo desenvolvido há anos e, agora, deu os seus frutos podres. Os partidos de esquerda tem

obrigação de saber onde pisam e que esta é a regra do jogo, Não deveriam jogar esse jogo sem se entenderem antes e conversarem muito. Para ficarem livres das pequenas vaidades e, efetivamente participarem desse jogo - que é mais do que sujo. Mas precisa ser jogado por todos nós que amamos o Brasil e nos indignamos com golpistas. O PT, lá atrás, achou que estava no Poder. E se lambuzou, de certa forma. Brizola jamais teve esta ilusão e lutou o tempo todo contra esta turma. Neste processo, dificílimo que estamos vivendo, fico feliz por boa parte do PT - muitos formadores de opinião oriundos de São Paulo - finalmente terem compreendido o papel histórico de Getúlio Vargas, Jango e Brizola. Pena que esteja sendo da maneira que está sendo - mas nunca é tarde e a luta sempre continua. *Jornalista

Truculência Eleonora de Lucena* O Brasil entrou no centro da disputa geopolítica mundial. Tem riquezas naturais, mercado interno, posição estratégica. Construiu economia diversificada e complexa, terreno para grandes empresas nacionais e ambiente potencial para desenvolvimento de tecnologias de ponta. Os Estados Unidos, acostumados a nadar de braçada no continente, começaram a ver o avanço chinês no que consideram seu quintal. Investimentos, comércio, parcerias com os orientais cresceram de forma exponencial. Não parece ser coincidência a intenção norte-americana de voltar a ter bases militares na América do Sul (na sempre sensível tríplice fronteira e na Patagônia, que vigia o estreito de Magalhães, curva entre dois mundos). Nem parece ser ao acaso a escolha dos alvos do momento: a Petrobras, as grandes empresas e até o programa nuclear. Nos últimos anos, o país mostrou zelar por sua autonomia e buscou alianças fora da influência dos EUA. Com China, Rússia, Índia e África do Sul, o Brasil ergueu os Brics e um banco de desenvolvimento inovador. Aqui, reforçou o Mercosul -alvo imediato de ataque feroz do interino, afoito em mostrar serviço para o Norte e ressuscitar relações subalternas. Esse contexto maior escapa da verborragia conservadora, ansiosa em reduzir a crise atual a um

confronto raso entre supostos corruptos e hipotéticos éticos. Bastaram poucas semanas para deixar evidente a trama hipócrita e podre do bando que tenta abocanhar o poder. O que está em jogo é muito mais do que uma simples troca de governo. É a própria ideia de país. Falar de luta de classes e de projeto nacional deixou alguns leitores ouriçados. Mas, apesar da operação de marketing em curso, os objetivos do atropelo à Constituição são claros: concentrar riqueza, liberar mercados, desnacionalizar a economia, desmantelar o Estado. O discurso dos sem-voto que se aboletaram no Planalto tenta editar um macarthismo tosco, elegendo um inimigo interno. Agridem os de vermelho (sempre eles!), citados como os culpados de todo o mal, numa manobra conhecida dos movimentos fascistas desde o início do século 20. Quem se atreve a discordar do rolo compressor elitista é logo tachado de “maluco” pelos replicantes da direita raivosa. Dizem que os que apontam as contradições atuais são saudosos do século 19. Viúvos do século 19 são os que querem agora surrupiar direitos e restabelecer condições de

exploração do trabalho daqueles tempos. Com a retórica de uma suposta modernidade, atacam conquistas sociais e pregam o desmonte da corajosa Constituição de 1988. Alegam que a matemática não permite que o Estado cumpra suas funções perante os cidadãos. Para eles, a matemática deve servir apenas aos mais ricos e a seus juros maravilhosos. Num giro chinfrim, mandam às favas o tal controle do deficit público: gastam tudo para atender corporações, amigos e ganhar votos. Com uma cortina de fumaça, arriscam confundir esquerda com autoritarismo. Projetam, assim, no adversário, os seus desejos ocultos. Afinal, o programa dos não eleitos só poderá ser implantado integralmente num regime de força, que censure e elimine a voz dos mais fracos. As exibições de truculência absurda nos estádios da Olimpíada, proibindo manifestações de “Fora, Temer!” e rasgando os direitos constitucionais de livre manifestação e opinião, parecem ser uma terrível amostra de tempos sombrios pela frente. O Senado vai enfrentar o julgamento da história. *Jornalista da Folha de São Paulo.


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Dilma é condenada por um bando de corruptos da mente e das finanças Leonardo Boff* Usando o estilo medieval do tempo de São Francisco dos Fioretti reconto o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff: Em de que se narra que uma governanta digna e inocente foi condenada por um bando de corruptos da mente e das finanças. Era uma vez uma nação grande por sua extensão e por seu povo alegre embora injustiçado. Em sua maioria sofria na miséria, nas grandes periferias das cidades e no interior profundo. Por séculos era governado por uma pequena elite do dinheiro que nunca se interessou pelo destino do povo pobre. No dizer de um historiador mulato, ele foi socialmente “capado e recapado, sangrado e ressangrado”. Mas lentamente esses pobres foram se organizando em movimentos de todo tipo, acumulando poder social e alimentando um sonho de outro Brasil. Conseguiram transformar o poder social num poder político. Ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores. Um de seus membros, sobrevivente da grande tribulação e torneiro mecânico, chegou a ser presidente. Apesar das pressões e concessões que sofreu dos endinheirados nacionais e transnacionais, conseguiu abrir uma significativa brecha no sistema de dominação permitindo-lhe fazer políticas socias humanizadoras. Uma Argentina inteira saíu da miséria e da fome. Milhares conseguiram sua casinha, com luz e energia. Negros e pobres tiveram acesso, antes impossível, ao ensino técnico e superior. Mais que tudo, porém, sentiram resgatada sua dignidade sempre negada. Viram-se parte da sociedade. Até podiam, em prestações, comprar um carrinho e tomar até o avião para visitar parentes distantes. Isso irritou a classe media, pois via seus espaços ocupados. Daí nasceu a discriminação e o ódio contra eles. Ocorreu que, naqueles tempos, ao todo 13 anos de governo Lula-Dilma o Brasil ganhou respeitabilidade mundial. Mas a crise da economia e das financias, por ser sistêmica, nos atingiu, provocando dificuldades econômicas e desemprego que obrigou o governo a tomar medidas severas. A corrupção endêmica no país densificou-se na Petrobrás, envolvendo altos estratos do PT mas também dos principais partidos. Um juiz parcial, com traços de justiceiro, focou, praticamente, apenas o PT. Especialmente a mídia empressarial conservadora conseguiu criar o esteriótipo do PT como sinônimo de corrupção. O que não é verdade, pois confunde a pequena parcela com o todo correto. Mas a corrupção condenável serviu de pretexto às elites endinheiras

e seus aliados históricos, para tramar um golpe parlamentar, pois mediante as eleições jamais trinfariam. Temendo que esse curso voltado aos mais pobres se consolidasse, decidiram liquidá-lo. O método usado antes, com Vargas e Jango, foi agora retomado com o mesmo pretexto “de combater a corrupção”, na verdade, para ocultar a própria corrupção. Os golpistas usaram o Parlamento no qual 60% estão sob acusações criminais e desrespeitaram os 54 milhões de votos que elegeram Dilma Rousseff. Importa deixar claro que atrás desse golpe parlamentar se aninham os interesses mesquinhos e anti-sociais dos donos do poder, mancomunados com a imprensa que distorce os fatos e sempre se fez sócia de todos os golpes, juntamente com os partidos conservadores, com parte do Ministério Público e da Polícia Militar (que substitui os tanques) e uma parcela da Corte Suprema que, indignamente, não guarda imparcialidade. O golpe não é só contra a governanta, mas contra a democracia com viés participativo e social. Intenta-se voltar ao neoliberalismo mais descarado, atribuindo quase tudo ao mercado que é sempre competitivo e nada cooperativo (por isso conflitivo e anti-social). Para isso decidiu-se demolir as políticas sociais, privatizar a saúde e educação e o petróleo e atacar as conquistas sociais dos trabalhadores. Contra a Presidenta não se identificou nenhum crime. De erros administrativos toleráveis, também feitos pelos governos anteriores, derivou-se a irresponsabilidade governamental contra a qual aplicou-se um impeachment. Por um pequeno acidente de bicicleta, se condena a Presidenta à morte, castigo totalmente desproporcional. Dos 81 senadores que vão julgá-la mais de 40 são réus ou investigados por outros crimes. Obrigam-na a sentar-se no banco dos réus, onde seus algozes deveriam estar. Entre eles se encontram 5 ex-ministros. A corrupção não é só monetária. A pior é a corrupção das mentes e dos corações, cheios de ódio. Os senadores pro impeachment têm a mente corrompida, pois sabem que estão justificiando uma inocente. Mas a cegueira e os interesses corporativos prevalecem sobre os interesses de todo um povo. Aqui vale a dura sentença do Apóstolo Paulo:”eles aprisionam a verdade na injustiça. É o que atrái a ira de Deus”(Romanos 1,18). Os golpistas levarão na testa, pela vida afora, o sinal de Caim que assassinou seu irmão Abel. Eles assassinaram a democracia. Sua memória será maldita pelo crime que cometeram. E a ira divina pesará sobre eles. Leonardo Boff é ex-professor de Ética da UERJ e escritor. Publicado no site www.leonardoboff.wordpress.com

A violência e o seu mapa Marcelo Chalréo* Por mais um ano, temos a edição do Mapa da Violência Brasileira, trabalho da lavra de Julio Jacobo Waiselfisz, que a partir de dados oficiais coletados em sites governamentais e estudos acadêmicos, traça um quadro particular das mortes por amas de fogo no país. Ou seja, uma atualização da macabra matemática que percorre 34 anos (de 1980 a 2014), que reafirmando a dura e cruel realidade de um dos campeões mundiais por homicídio para cada 100.000 habitantes, segundo a Organização das Nações Unida (ONU). Pelo levantamento, estamos próximos de 30 mortes violentas para chegar a esse quantitativo o que nos coloca entre os 10 países mais violentos do mundo. Não bastasse a morte violenta - especialmente a por arma de fogo - que ceifa a vida (preferencialmente) de jovens no início do seu ciclo produtivo (entre 15 e 29 anos), estamos a exterminar uma legião de rapazes e moças que não terão um amanhã. O registro se torna ainda mais pérfido quando percebemos que as mortes por armas de fogo vêm decaindo entre a população branca brasileira nos últimos anos. Mas aumentando entre a população negra. Nos quase 1 milhão de mortos por armas de fogo no período de 1980 e 2014 é notório o crescimento de vítimas negras, dando azo a afirmativa de que há em curso um verdadeiro genocídio desta população. Se compararmos os anos de 2003 e 2014, perceberemos, pelo estudo, um decréscimo da mortandade por armas de fogo de 26,1% entre a população branca. Por outro lado, houve, no mesmo período, um avanço de 46,9%, entre a população negra. Ou seja, para o mesmo grupo de 100.000 habitantes, temos hoje 10,6 mortes de brancos contra 24.6 de negros – margem mais que dobra. É simplesmente estarrecedor esse número. Em alguns estados, como Alagoas, o índice

chega a ser 10 vezes maior. No Espírito Santo, por exemplo, chega a quase 5 vezes. No Rio, o número é duas vezes e meia a mais nessa referência. Note-se que há queda do índice de mortes por armas de fogo em praticamente todos os estados que estão no topo do PIB (por estado) do Brasil, enquanto é brutalmente crescente o aumento nos estados em situação inversa na Federação. Certamente, produto não só de certa desconcentração do crescimento brasileiro por estados, mas, também, por conta de um modelo predador de desenvolvimento que não se faz acompanhar de políticas públicas e de direitos essenciais à cidadania. Sem esquecer, por fim, que a melhor estrutura dos estados que encabeçam o PIB nacional tem permitido mais investimentos em segurança pública, com orçamentos cada vez mais impactados por gastos dessa natureza, contrariamente ao que se vê em estados com menores condições de investir na mesma direção. Contudo, o fato inexorável é que a mortandade por essa matriz tem apresentado índices bárbaros de crescimento, que, aponte-se, sofreu algum recuo quando vigoraram as campanhas de desarmamento, voltando à rotina de acréscimo quando findada essa política (cerca de 8 ou 9 anos atrás). Hoje, segundo dados do Mapa, existem cerca de 15 milhões de armas de fogo em mãos privadas no Brasil, mais da metade sem qualquer registro e controle. Ainda segundo o Mapa, pouco mais de 20% dessas armas estão em mãos criminosas. Em outras palavras: somando-se a esse quantitativo particular ao que existe em mãos das forças de segurança, há muitos e muitos exércitos a matar. E matar nossa gente, e, como já indicado, a maioria negra, jovem e pobre. MARCELO CHALRÉO, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ


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Os golpistas querem ir além da exterminação do PT, pois eles querem calar a esquerda! Emanuel Cancella*

O PCB, o PSTU e setores do PSOL acreditaram que os golpistas só queriam acabar com o PT e ainda dizem que não houve golpe no país! Achavam que o que existe é uma disputa de poder pelas elites, entre Dilma e Temer. Aliás, isso causou um racha no PSTU, que perdeu mais de 700 militantes. Para que não reste dúvida de que não era só com o PT, esses partidos estarão fora do debate eleitoral nas principais capitais, na eleição municipal, como é o caso do Rio e São Paulo. Lamentavelmente, esses companheiros reproduzem o mesmo discurso da mídia golpista, principalmente a Globo, a revista Veja e dos partidos de direita, PSDB, DEM, PP, PPS, PMDB entre outros, de jogar a culpa de tudo no PT. Houve um significativo avanço nas esquerdas, que agora compõem a mesma frente que propõe o ‘Fora Temer’, pois Frente

Brasil Popular, Povo Sem Medo e Terceira Via estão no mesmo palanque. Os golpistas, nestas eleições municipais, vão estar mais unidos do que nunca e, nos partidos de esquerda, prevalece a máxima de só se juntar na cadeia. Quem sabe, pela própria sobrevivência e no interesse do povo, a esquerda, conscientizando-se de que o golpe atinge toda a esquerda, possa agora unir-se, enfim. Quem sabe fazer chapa de esquerda em alguns municípios e, em outros, o compromisso de se apoiarem no segundo turno. O povo agradeceria! O que os golpistas não perdoam é a distribuição de renda, o Mais Médicos, o Bolsa Família e o Bolsa Esporte, que resultou em várias medalhas olímpicas. E também o programa Minha Casa Minha Vida, o Fies, a política de Cotas. E por Lula e Dilma conseguiram avançar, como terem construído universidades, triplicado o número de escolas técnicas! A

esquerda considera isso migalhas, mas a direita não entende assim e por isso deu o golpe. Fica claro que tiraram Dilma e querem impedir a volta de Lula e destruir o PT não pelos erros, mas por esses acertos! E tem mais: a política internacional do PT abriu novos mercados internacionais, deixamos de ser ‘quintal dos Estados Unidos’ e somos parte do BRINCS. Pagamos a dívida com O FMI e hoje somos cotistas do Fundo e somos parte do banco do BRINCS. Esse progresso brasileiro tornou-se inaceitável para os EUA e a comunidade européia, e, com certeza, uma das motivações externas para o golpe! Que o povo tenha sido enganado pela mídia, a gente até entende, mas talvez se a esquerda não tivesse demorado tanto para enxergar a verdade, os trabalhadores e o país não teriam sido golpeados tão covardemente! Emanuel Cancella é coordenador do Sindipetro-RJ e da Frente Naional dos Petroleiros (FNP)

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Pas de Deux Agamenon Oliveira*

Na esteira do tsunami das forças conservadoras em todo pais representado principalmente pelo processo de impeachment de Dilma Roussef e aproveitando-se de uma situação de descalabro e calamidade administrativa e financeira do estado, volta à pauta dos neoliberais a privatização da CEDAE. Diga-se de passagem, que a quebra das finanças do estado se deve principalmente ás generosas desonerações fiscais e renúncias financeiras por parte do estado do Rio a grupos econômicos poderosos e que pouco fizeram pelo estado. Acrescente-se que esta empresa é lucrativa e já foi alvo durante a era FHC de uma tentativa de privatização feita por Marcelo Alencar e barrada por um amplo movimento político de resistência dos trabalhadores

da empresa junto com outros movimentos antineoliberais. Desta feita quem comanda a privatização é a Dupla Moreira Franco e Maria Silvia Bastos. Moreira pilotando a Secretaria do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) e ela presidindo o BNDES. Segundo ele, o modelo de privatização já está pronto faltando somente a modelagem financeira. Está formado o par perfeito e a música já está sendo tocada pela grande imprensa. E o governo ilegítimo de Temer selará o destino da CEDAE a menos que um novo movimento de resistência surja. Novamente está nas mãos dos trabalhadores que se opõem ao modelo neoliberal impedirem em segunda edição o sonho dos privatistas de plantão. O que está sendo desenhado para a CEDAE é o fatiamento de suas atividades.

A CEDAE ficaria com a captação e tratamento de esgotos e as concessionárias privadas seriam responsáveis pela distribuição de água e pelos serviços de esgotos, além, evidentemente do aumento das tarifas. Retirados os passivos trabalhistas pouco sobrará para o falido estado do Rio, em torno de 1,5 a 2 bilhões de reais que está abaixo do que foi repassado pelo governo federal para a realização das Olimpíadas. Isto também pouco representa para tirar o estado do buraco onde se encontra. É simplesmente 1 mês do déficit estadual. Fica claro, portanto o que está por trás de mais este processo de lesa-população. Mais uma vez conhecidos privatistas reaparecem. Agamenon Oliveira - Diretor do Senge/RJ


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O PMDB, do Doutor Ulysses ao golpista Temer Emir Sader* O PMDB tornou-se o partido que adere a todos os governos. Não consegue viver fora do poder, porque vive da repartição das prebendas – de cargos e de recursos – de quem detém poder. Esteve com FHC, com o PT e agora com o golpe. Mas nem sempre foi assim. O PMDB foi o partido central da luta institucional contra a ditadura e pelo retorno da democracia. Congregou setores muito diferenciados, mas unidos por essa luta. Teve a direção do maior líder da luta democrática, Ulysses Guimaraes. Que teria sido o candidato favorito para ser eleito presidente do Brasil, caso a campanha das diretas tivesse tido sucesso. A própria transição à democracia teria sido diferente, porque o PMDB tinha um programa de reformas econômicas e sociais, que acompanhavam indissoluvelmente a reinstalação da democracia no pais. A derrota das diretas e a morte de Tancredo Neves permitiram que a transição fosse vitima da mesma elite da época da ditadura, com o ex-presidente do partido da ditadura e dirigente da campanha contra as diretas, Jose Sarney sendo, paradoxalmente, o primeiro presidente civil da democracia, eleito pelo Colégio Eleitoral para ser vice-presidente. A transição ficou assim restrita a um novo pacto de elite na história brasileira, com o novo regime instalado não com a cara da resistencia democrática e da campanha das diretas, mas com a cara do Colégio Eleitoral e do compromisso do

novo com o velho, sob a égide de um dirigente da ditadura – Sarney. Não como acaso, ACM foi o todo poderoso ministro das comunicações, enquanto Ulysses ficava escanteado. Ainda assim, Ulysses comandou o momento mais alto da transição democrática, a Assembleia Constituinte, da qual ele foi o presidente e que ele denominou de Constituinte Cidadã, justamente porque afirmava o que a ditadura havia liquidado e o que o neoliberalismo voltaria a atacar. Apenas aprovada, Sarney já a atacou, afirmando que ela tornava o Estado ingovernável – diagnóstico já neoliberal -, porque garantia direitos que o Estado não estaria em condições de promover. O fracasso do governo Sarney esgotou o impulso democrático, levou a candidatura de Ulysses à presidência, em 1989 a não ter nenhuma transcendência, porque o PMDB, embora não dirigisse o governo Sarney, pagou o preço de tê-lo eleito e apoiado. Com a morte de Ulysses Guimaraes, o PMDB se descaracterizou completamente. Ficou reduzido a um partido fisiológico, sem capacidade de nem sequer lancar candidato à presidencia, mas controlando o Congresso e assim negociando seu apoio aos governos, seja o de FHC, como os de Lula e de Dilma. A chegada de Michel Temer à presidencia é a resultante desse processo fisiológico e que teve num nome anônimo o perfeito para presidir um partido anônimo e adesista a todos os governos. O PT não o escolheu como vice, apenas aceitou

a indicação do PMDB pelo seu presidente, em aliança que se tornou indispensável, depois que Lula quase foi derrubado por impeachment, em 2005, sem maioria parlamentar. Vice decorativo, conforma confissão dele mesmo, Temer ficou disponível para aventuras politicas, como o golpe, e ameaçado de condenação nos inúmeros casos de corrupção em que ele mesmo está diretamente envolvido, além de acobertar todos os outros casos do seu partido, sob a sua presidência. Salvo pelo seu mentor Eduardo Cunha, Temer pôde ser o instrumento do golpe da direita para tirar o PT do governo e impor o programa derrotado, ao qual o próprio Temer se opôs, quando foi eleito vice presidente em 2010 e reeleito em 2014. Traidor, corrupto, oportunista, medíocre, incompetente, covarde – vai acumulando os piores epítetos que um político pode ter e, por isso mesmo, se prestou para ser instrumento do golpe e ser condenado por todo o País, que entoa o “Fora Temer”. Até que o PMDB se propõe a expulsar um dos últimos parlamentares dignos do partido, Roberto Requião porque, como ele diz, ele não é ladrão. Ao que chegou o partido do doutor Ulysses, honesto e combativo dirigente democrático brasileiro, a quem Temer não teria podido sequer se aproximar, pelo horror que provocaria naquele que protagonizou as glórias do PMDB, hoje partido reduzido ao golpismo, à corrupção e ao neoliberalismo, contra o povo, a democracia e o Brasil. *Sociólogo e professor, publicado no site www.brasil247.com

A mídia, o Mercosul e o BRICS (ou Rics?) Ângela Carrato* Sob o título “Um mundo e muitas vozes. Comunicação e informação na nossa época”, foi publicado no Brasil, em 1983, o Relatório da Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação, elaborado pela Unesco. Tanto o diagnóstico constatando os fluxos desiguais da comunicação no mundo, quando as recomendações envolvendo a necessidade urgente de se criar uma Nova Ordem Internacional (e dentro dos próprios países) para a mídia passaram quase despercebidas pelos brasileiros, inclusive pelos setores progressistas e pela esquerda. Na época, os brasileiros estavam mais interessados nos sinais de abertura política que apareciam no horizonte nacional, após a realização das primeiras eleições diretas para governadores em duas décadas. De lá para cá, o Brasil, mesmo que por caminhos tortuosos, estava conseguindo retomar a democracia. Não a democracia de fachada, que apenas diz que todos são iguais perante a lei, mas a democracia efetiva, aquela que procura corrigir e compensar dívidas sociais históricas. Assim, depois das eleições equivocadas de Fernando Collor de Mello, do desconhecido e minúsculo PRN, para a presidência da República, e das duas eleições (a segunda comprada) do tucano Fernando Henrique Cardoso, o Brasil parecia finalmente encontrar o caminho certo. Pela primeira vez, um operário ocupava o mais alto cargo da República. A presença de Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto despertou muita esperança, mas também ódios e rancores. Lula e o PT acreditavam que com trabalho e determinação conseguiriam superar preconceitos e mostrar, na prática, que a inclusão social é a única fórmula sustentável para o desenvolvimento. Essa visão de mundo, um tanto inspirada no Welfare

State europeu, deu lugar a mais de 20 programas sociais, envolvendo renda, desenvolvimento e cidadania, dos quais o Bolsa Família é uma espécie de carro-chefe. Deu lugar também, no plano internacional, ao aprofundamento das relações comerciais com os vizinhos, através do Mercosul, e da integração política da América do Sul, por intermédio da Unasul. Em menos de uma década, o Brasil e a região, de quintal dos Estados Unidos e de republiquetas de bananas, passavam a assumir um inédito protagonismo no mundo, com destacados intelectuais estadunidenses e europeus reconhecendo que a esperança para um planeta menos destrutivo e desigual estava aqui. Por razões óbvias, o Brasil de Lula, e depois de Dilma Rousseff, foi se aproximando, nos fóruns internacionais, da China, Rússia e Índia. Em comum, esses países - que englobam mais de 40% da população mundial - perceberam que não conseguiriam avançar sem uma reforma nas bases da própria governança mundial. Foi assim que surgiu, em 2006, o BRICS, acrônimo criado por um jornalista estadunidense para se referir às iniciais dos membros fundadores do novo bloco. O s foi acrescido em 2011 e refere-se ao ingresso da África do Sul. De lá para cá foram seis cúpulas, sendo que a IV aconteceu no Brasil, em Fortaleza, em 2014, quando ficou decidida a criação do banco do BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), cujo objetivo é substituir o FMI e suas draconianas políticas neoliberais no que se refere ao apoio aos países emergentes. A cooperação entre os membros do BRICS envolve 30 áreas, desde saúde, previdência, ciência e tecnologia, até turismo, educação e cultura. No Brasil, no entanto, a maioria esmagadora das pessoas desconhece a importância do Mercosul e do BRICS, como igualmente desconhece ou tem visão equivocada sobre os programas sociais. Sem que a maioria se dê conta, o Mercosul pode

estar próximo ao fim e o BRICS se tornar RICS. Há mais de 10 anos que a mídia nativa e mesmo as grandes agências de notícias internacionais não fazem outra coisa senão difundir uma visão de mundo pró-Ocidental (leia-se Estados Unidos e Europa). Como se sabe, 1% da população global concentra o equivalente à renda dos 99% restantes. No Brasil, 0,9% da população detém 60% da renda nacional. Pior ainda: aqui, na prática, a radiodifusão está concentrada nas mãos de uma única família, a Marinho, uma das maiores sonegadoras de impostos e inimiga número um de qualquer avanço social. Se os brasileiros e brasileiras tivessem prestado atenção às recomendações do relatório da Unesco sobre Comunicação e Mídia, entenderiam que seria impossível avançar socialmente com um inimigo interno tão poderoso. No século XXI, as conquistas não se dão mais com canhões e desembarque de tropas. Elas são sorrateiras e permanentes e envolvem corações e mentes, com a construção de visões que interessam às elites do dinheiro. Os brasileiros não sabem nada sobre a importância do Mercosul para suas vidas, mas continuam odiando os argentinos e convictos que Hugo Chávez foi um ditador. Os brasileiros não sabem nada sobre como o BRICS pode mudar suas vidas, mas continuam sonhando com férias em Miami e, na ausência delas, procuram Pokemóns pelas ruas e parques de nossas metrópoles desiguais e violentas. Diuturnamente os brasileiros são bombardeados por denúncias de corrupção envolvendo o PT, mas não sabem nada sobre a corrupção permanente e histórica das elites brasileiras, a exemplo de Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer, José Serra, Romero Jucá e afins. Quantos retrocessos serão necessários para que a lição seja aprendida? *Jornalista e professora da UFMG.


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Nota da Frente Brasil Popular

Cuba Rechaça golpe no Brasil O que aconteceu no Brasil é outra expressão da ofensiva do imperialismo e da oligarquia contra os governos revolucionários e progressistas na América Latina e no Caribe, o que ameaça a paz e a estabilidade das nações, contrária ao espírito e à letra da Proclamação da América Latina e o Caribe como Zona de Paz, assinado na segunda Cúpula da CELAC, em janeiro de 2014, em Havana pelos Chefes de Estado e de Governo da região. Cuba reafirma a sua solidariedade com a presidente Dilma e o camarada Lula, o Partido dos Trabalhadores, e manifesta a sua confiança de que o povo brasileiro vai defender os ganhos sociais alcançados, se oporá com determinação às políticas neoliberais que pretendem impor e desapropriação seus recursos naturais. Governo de Cuba

Brasil, mostra a sua cara! O PSOL sempre fez oposição programática ao governo Dilma, mas jamais confundiu oposição com conspiração e muito menos com deposição! Questionamos os graves desvios éticos praticados, inclusive pela cúpula do PT. Cobramos apuração rigorosa e não seletiva. Mas repudiamos os moralistas de ocasião e sua postura hipócrita, de “ética” meramente cosmética. A conquista das Diretas para presidente foi uma batalha bonita, e massiva, nas ruas, contra a Ditadura, nos anos 80. Aprendemos a valorizar o voto popular, por mais manipulado que ele ainda seja pelo poder do dinheiro, da demagogia, das máquinas (daí a urgência de uma Reforma Política). Por isso, a destituição de uma presidente eleita, mesmo tão impopular (em função do desemprego, da crise econômica e da perda de sua base política - como, aliás, muitos governadores e prefeitos), não é caminho democrático. Ainda mais decidida por um colegiado tão restrito, e composto por muitos acusados e réus por atentados ao interesse público. As tais ‘pedaladas’ são mero pretexto (“praticadas desde D. João VI e por muitos presidentes recentes”, lembrou o insuspeito - nesse caso - Delfim Netto). O PSOL defende que o poder de decisão sobre quem governa o país seja devolvido ao único soberano em uma República digna desse nome: o povo, a cidadã, o cidadão. De novo, Diretas Já! O PSOL, com sua militância em todo o país e através de seus dirigentes e parlamentares, declara-se em oposição ao governo ilegítimo de Michel Temer, que é uma coalizão

Fotos: Vera Siqueira

Primeiramente, como dizem as ruas, fora Temer! A maioria dos senadores brasileiros dobrou-se à fraude e à mentira, aprovando um golpe parlamentar contra a Constituição, a soberania popular e a classe trabalhadora. As forças reacionárias, ao interromper vosso legítimo mandato, impuseram um governo usurpador, que não esconde seu perfil misógino e racista. Atropelaram o resultado eleitoral, condenaram uma mulher inocente e sacramentaram o mais grave retrocesso político desde o golpe militar de 1964. Esta ruptura da ordem democrática materializa os propósitos antipatrióticos e antipopulares das elites econômicas, empenhadas em privatizar o pré-sal, as companhias estatais e os bancos públicos, além de vender nossas terras para estrangeiros, comprometendo a produção nacional de alimentos e o controle sobre as águas. Os golpistas querem, entre outras medidas, reduzir investimentos em saúde, educação e moradia, eliminar direitos trabalhistas, acabar com a vinculação da aposentadoria básica ao salário mínimo, enterrar a reforma agrária e esvaziar programas sociais. A agenda dos usurpadores rasga as garantias da Constituição de 1988 e afronta as conquistas obtidas durantes os governos do presidente Lula e o da companheira, com o claro intuito de favorecer os interesses das oligarquias financeiras, industriais, agrárias e midiáticas, aumentando seus lucros em detrimento dos trabalhadores e das camadas médias. Durante os últimos meses, ao lado da companheira, resistimos contra o golpe institucional por todo o país. Milhões de brasileiros e brasileiras participaram de manifestações e protestos, em esforço unitário para defender a democracia, os direitos populares, a soberania nacional e o resultado das urnas. A voz da companheira, em discurso de 29 de agosto frente a seus julgadores, nos representa. Ali se fez ouvir, com dignidade e audácia, a verdade sobre o golpe em curso, sua natureza de classe e sua ameaça ao futuro da nação, pois os usurpadores não escondem sua submissão aos centros imperialistas e buscam destruir a política externa independente construída a partir de 2003. A resistência apenas começa. Nas ruas e nas instituições. Nos locais de estudo, trabalho e moradia. Mais cedo do que pensam os usurpadores, o povo brasileiro será capaz de rechaçar seus planos e retomar o caminho das grandes mudanças. Nossa luta contra o governo golpista e seu programa para retirada de conquistas será implacável. Buscaremos a unidade e a mobilização das mais amplas forças populares, combatendo sem cessar, até derrotarmos a coalizão antidemocrática que rompeu com o Estado de Direito. Estamos certos de que a companheira continuará a inspirar e protagonizar a resistência contra o golpismo. Do mesmo lado da trincheira e da história, lutaremos até a vitória de um Brasil democrático, justo e soberano.

Brasília, 31 de agosto de 2016 Frente Brasil Popular

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de investigados, neooligarcas, privatistas e fisiológicos (Devedores de Cunha, que sabe tudo sobre eles - daí os cuidados em preservá-lo...). Ainda faremos dessa vergonha uma Nação! Só a luta muda a vida! Chico Alencar, deputado federal (PSOL-RJ)

Frase Não assistimos a um impeachment e sim um processo de reintegração de posse. José Simão, jornalista

Absurdo Semanas depois de chamar a atenção do mundo no Festival de Cinema de Cannes, o filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, recebeu do governo interino do Brasil a classificação indicativa de 18 anos, que torna mais restrito o acesso nos cinemas. É impossível separar essa decisão - descabida, já que o filme não tem cenas fortes ou mais fortes que outros classificados em faixa de idade menor - do protesto que os atores Sonia Braga, Maeve Jinkings, Irandhir Santos e Humberto Carrão fizeram no tapete vermelho contra o golpe. Mais uma vez, o que assistimos é o governo de Michel Temer e do PMDB adotar medidas de nítida perseguição política, macartista. Aqueles que não coadunam com a linha definida para esse projeto sem voto são retaliados com dificuldades burocráticas, acesso dificultado aos seus direitos e, como aconteceu em outros casos, até com demissões em série. Com medo do crescimento na população de um sentimento de rejeição a esse grupo no poder (o que inevitavelmente já está acontecendo), Temer e seus aliados acreditam que podem se equilibrar nos cargos promovendo censura ideológica. Que fiquem sabendo que não adiantará! No máximo, essa nova medida intimidatória se transformará em propaganda involuntária para o filme. O que Temer acha que será um silenciador das críticas a ele será um retransmissor da bela trilha sonora e das imagens belíssimas de Aquarius, um dos filmes brasileiros mais celebrados nos últimos tempos. Contra o oportunismo de homens amedrontados no poder por investigações, emergiremos com arte.n Jean Willys, deputado federal (PSOL-RJ).

Se não fossem os Silva Ah, se não fossem os Silva! Rafaela Silva,Thiago Braz Da Silva, Rafael Silva e Luiz Inácio Lula da Silva, cujo papel em trazer a Olimpíada para o Brasil foi silenciado de modo obsceno pela mídia e pelos golpistas. Nilmário Miranda, deputado federal (PT-MG).


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