Ano 13 - Nº 103 - Março 2014
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RI O T I
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A perversa aliança de militares e civis
O golpe de março-abril de 1964 não foi apenas uma ação militar. Por detrás, havia um poderoso esquema civil de apoio político e financeiro, que tornou possível o êxito do movimento. O dinheiro para as atividades conspirativas vinha de grandes empresas nacionais e estrangeiras, de banqueiros, de lideranças industriais, rurais e profissionais. Havia uma entidade criada especialmente para a arrecadação de fundos, o IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática, que, nas eleições de 1962, as últimas antes do golpe, investiu mais de cem milhões de dólares para eleger fortes bancadas nas duas casas do Congresso, comprometidas com a pregação golpista. Existiam ainda outros organismos de âmbito nacional e estadual empenhados na desestabilização do governo e na preparação da intervenção militar. (CONTINUA NA PÁGINA 2)
Nesta : o Ediçã
Ivan Cavalcanti Proença José Maria Rabelo Leonardo Boff Mauro Santayana Wadih Damous Bertha Maakaroun Ricardo Rabelo Sérgio Ricardo Luís Pimentel
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Editorial A perversa aliança de militares e civis A participação de civis no golpe teve como figura emblemática o governador de Minas, Magalhães Pinto, autoproclamado “comandante civil da Revolução” (sic). Juntava sua condição de proprietário de um dos maiores bancos com a de chefe de Estado, no apoio à conspiração golpista. Outro ilustre personagem civil foi o governador de São Paulo, Ademar de Barros, uma das grandes fortunas do País, constituída em grande parte de negócios irregulares, como a proteção aos jogos ilegais e a cobrança sistemática de propina sobre qualquer transação que envolvesse o Estado e suas empresas. Ficou famoso com a legenda que criou para si próprio: “Rouba, mas faz”. Carlos Lacerda, um dos mais extremados opositores, colocou-se como governador do antigo Estado da Guanabara, hoje Estado do Rio, na linha de frente da articulação contra Goulart. E assim, diversos governadores seguiram o exemplo, aderindo ao golpe. A FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Faresp – Federação das Associações Rurais do Estado de São Paulo, compareciam na primeira lista de colaboradores para o financiamento do golpe. Empresários individualmente, como Henning Albert Boilesen, de nacionalidade dinamarquesa, diretor-presidente da Ultragás, alcançaram notoriedade pela sua intensa atuação junto ao movimento policial-militar. Boilesen integrou pessoalmente o esquema de repressão em São Paulo, sendo por isso morto pela guerrilha. Um grande número de empresários paulistas e de outros Estados agiu da mesma forma. Em Minas, chegou a existir um organismo para dar sustentação aos conspiradores, denominado Novos Inconfidentes, que
reunia a fina flor do empresariado local. A grande imprensa nacional, a exemplo de O Globo e de toda a rede comandada por Roberto Marinho, o maior empresário das comunicações do Brasil; de O Estado de S. Paulo, da Folha de S. Paulo, dos Diários e Emissoras Associadas, destacaram-se na campanha contra Goulart e a favor da pregação golpista. Representantes dos meios intelectuais e artísticos prestigiaram com seus nomes a mobilização contra o governo. Setores influentes da Igreja Católica assumiram uma posição de destaque nas manifestações de rua e nas celebrações religiosas. Nesse quadro, veio dos EUA o celebrado pregador padre Patrick Peyton, com sua arquiconservadora Cruzada do Rosário em Família, de nítido conteúdo anticomunista. Os partidos de direita, à frente deles a antiga UDN – União Democrática Nacional, marcharam lado a lado com os conspiradores. A UDN foi o agrupamento civil que forneceu os principais quadros para os governos militares. O governo norte-americano colaborou desde o início com a ação militar. Nas vésperas e nos primeiros dias do golpe, enviou para as costas brasileiras uma frota de barcos e aviões de guerra, na Operação Brother Sam, para agir em caso de necessidade. Assistiu-se assim a uma estreita aliança entre o poder econômico e político de um lado, e os militares de outro, unidos na tarefa de por fim à democracia brasileira.
Onde encontrar: Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas do Rio, São Paulo e BH, Ordem dos Advogados do Brasil, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, Escola de Comunicação, Instituto de Economia, Instituto de Filosofia, Escola de Serviço Social, Escola de Música, Instituto de Psicologia, Fórum de Ciência e Cultura, Faculdade de Direito (UFRJ), UERJ, Café Lamas, Fundição Progresso, Cine SESC Botafogo, Cordão da Bola Preta, Botequim Vaca Atolada, Livraria Leonardo da Vinci, Bar do Gomez, Bar do Serginho, Bar do Mineiro, Bar Santa Saideira, Banca do Largo dos Guimarães (em Santa Teresa), Padaria Ipanema, Casarão Ameno Resedá, Studio RJ, Faculdade Hélio Alonso, Arquivo Nacional, Galeria Catete 228, Livraria Ouvidor (BH), Livraria Quixote (BH), Livraria Mineiriana (BH), Livraria Cultural Ouro Preto (Ouro Preto).
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A rouca voz dos carrascos José Maria Rabêlo*
Durante os anos da Ditadura e depois dela, os militares ainda insistem em negar a prática de tortura nas prisões do regime. Usam todos os meios para isso, até a edição de livros e vídeos, sustentando sua suposta inocência. Chocam-se no entanto com a realidade dos fatos, traduzida pelo testemunho de milhares de homens e mulheres que passaram por suas mãos. Mas até agora as revelações ficavam por conta das vítimas, amigos e familiares. A verdade vai se impondo a cada dia e jogando por terra implacavelmente o castelo de cartas da impostura castrense. Um general reformado, na época capitão, rompeu o silêncio que guardava há mais de 40 anos e afirmou ter visto o corpo do ex-deputado Rubens Paiva,
já sem vida, ser transportado em um fusca, da sede do DOI- Codi, na Tijuca, até o Alto da Boa Vista. Segundo o general Armando Avólio Filho, este seu nome, em dramático depoimento à Comissão da Verdade, os militares simularam um ataque de guerrilheiros, que teriam libertado o preso e fugido com ele. Antes, incendiaram o carro para não deixar pistas. Por isso não caberia ao Exército qualquer responsabilidade pelo que aconteceu. O general, entretanto, diante das evidências do caso, assumiu categoricamente: Rubens Paiva foi assassinado
sob tortura nas dependências do DOI-Codi, onde estava detido depois de ser levado de sua residência no Leblon, um dia antes. Diversas outras provas confirmam a versão. O tenente médico Amílcar Lobo, que atendia os torturados nas prisões do Exército, para que as torturas prosseguissem, reconheceu em depoimento que Rubens Paiva já estava praticamente morto quando o socorreu nas celas da repartição militar. Outro oficial, o coronel Júlio Molinas Dias, que serviu durante anos no Rio, possuía em seu poder documentos pessoais de Rubens Paiva, ao ter seu apartamento assaltado em Porto Alegre por traficantes de armas. Mais um elemento de prova desmistifica a versão dos chefes do Exército: o carro do deputado foi encontrado em poder de seus captores. Um famoso torturador, o delegado João Lucena Leal, reconheceu que a força era utilizada para arrancar confissões dos presos políticos, como no caso de Rubens Paiva. E acrescentou, com requintes de realismo: “As violências praticadas contra os prisioneiros precisavam ser rápidas, por isso a tortura era necessária... Eu tinha fama de pegar e matar”. Essa e diferentes farsas montadas pelas autoridades no curso deste meio século correspondiam a uma política de eximir-se de culpa pelo extermínio físico da oposição. No caso do ex-deputado, nem procede a alegação de que estavam enfrentando “o terrorismo armado”. Paiva era um cidadão que levava a vida legal, com endereços certos de residência e trabalho. Por tais evidências, espera-se que o Supremo Tribunal Federal reveja sua jurisprudência de que a tortura é um crime prescritível, inocentando aqueles que martirizaram um grande números de cidadãos indefesos. Na verdade, pelos documentos firmados pelo próprio governo brasileiro perante organismos internacionais, como
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a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, os crimes de tortura e morte sob tortura são incompatíveis com a ideia de prescrição, obrigando ao julgamento dos casos levados aos tribunais. Também a OAB e vários juristas, além de inúmeras entidades ligadas aos Direitos Humanos, sustentam a mesma tese. Diante das revelações maciças da prática de sevícias durante a Ditadura, o Brasil não pode continuar ignorando essa parte ignominiosa de sua história. Nem o STF manter-se como guardião dos carrascos, civis e fardados, que torturaram e assassinaram milhares de brasileiros nas masmorras do regime de 64. CHILE É impressionante o descaso da mídia brasileira com relação à esmagadora vitória da socialista Michelle Bachelet nas eleições presidenciais chilenas. Ela foi eleita com mais de 25% sobre a segunda colocada, Evelyn Matthei, de uma coligação de direita, a maior diferença desde que o país retornou à democracia. Terá, com folga, a maioria na Câmara de Deputados e no Senado. Mas isso não conta para nossos jornalões e noticiários da televisão. O que conta para eles é a crise da Venezuela... CRIMEIA E NOVA IORQUE Por essa os chamados interesses ocidentais não esperavam. A população da Crimeia detonou o denominado status de território autônomo, preferindo, com 97% dos votos no referendo de 16 de março último, voltar a integrar o território da República da Rússia. Em Nova Iorque, as forças conservadoras sofreram grave derrota, com a eleição de Bill de Blasio, um líder de posições de esquerda nas últimas eleições para prefeito. Assim, a direita norte-americana vai dia a dia perdendo terreno, dentro e fora dos EUA. *Jornalista
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As viúvas da ditadura Wadih Damous*
Os 25 anos em que o Brasil viveu sob as botas de uma ditadura militar não deixaram saudades. Foram tempos de obscurantismo, de falta de liberdades, de censura à imprensa e às artes e de perseguições, tor turas e assassinatos de adversários políticos do regime. Espetáculos ar tísticos como o Balé Bolshoi foram proibidos. Músicos como Chico Buarque tiveram que se exilar. Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos e, depois, também tiveram que deixar o país. Clássicos do teatro grego, escritos há mais de 2.500 anos, como Antígona, de Sófocles, foram censurados. O autoritarismo e a falta de espirito público chegaram a tal ponto de se impedir a imprensa de noticiar que no Rio de Janeiro havia um surto de meningite. Com isso, a população não pode tomar medidas de prevenção, o que teve como resultado mortes de crianças que poderiam ter sido evitadas. Instituiu-se a cultura da delação, pela qual
a simples denúncia de um desafeto, às vezes anônimo, fazia com que pessoas perdessem seu emprego e fossem perseguidas. Com a ditadura foram interrompidas mudanças que tornariam o Brasil mais justo, mais humano e mais democrático. Ela representou um atraso incomensurável para o país. Apesar disso, há viúvas daqueles tempos sombrios. Enquanto essas preferências se limitarem ao terreno da opinião, são legítimas. Afinal, divergências são próprias da democracia. Infelizmente, porém, nem sempre é assim. Neste ano em que se completam 50 anos do golpe de estado de 1964, começam a surgir os que pregam novamente a derrubada de governos legitimamente eleitos e a instauração de uma nova ditadura militar. Nesse caso, saímos do terreno de divergências normais numa democracia e entramos em outro terreno, inaceitável. É o que acontece com a tentativa de reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ocorrida em 1964 e financiada
por recursos do governo americano. Aliás, o mesmo governo americano que, no dia 1º de abril, deslocou para o litoral brasileiro uma frota de sua Marinha de Guerra para intervir a favor dos golpistas, caso isso se fizesse necessário. Algumas dessas viúvas dos tempos de trevas marcaram manifestações que têm como bandeira o chamado às Forças Armadas para que intervenham, depondo a presidente legitimamente eleita. Como em 1964, os golpistas usam a bandeira do combate à corrupção, como se na ditadura esta não atingisse níveis muito maiores do que na democracia. Só que com uma diferença: a censura à imprensa impedia que fosse noticiada. É legítimo numa democracia que todas as correntes de opinião queiram chegar ao poder. Isso vale, inclusive, para as correntes de direita. Mas elas devem disputar as eleições e convencer a maioria do povo de que suas propostas são as melhores para a sociedade. Caso contrário, estarão apenas tentando usar as liberdades oferecidas por um regime democrático para tentar destruí-lo. Isso é inaceitável. *Presidente da Comissão da Verdade do Rio e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB.
Nós, os noventa e nove por cento Bertha Maakaroun* “Dirijo-me a todos os brasileiros, não apenas aos que conseguiram adquirir instrução nas escolas, mas também aos milhões de irmãos nossos que dão ao Brasil mais do que recebem, que pagam em sofrimento, em miséria, em privações, o direito de ser brasileiro e de trabalhar sol a sol para a grandeza deste país.” Com essas palavras, o então presidente João Goulart abriu seu histórico discurso do Comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964. Ali, anunciou as metas reformadoras de seu governo, que não aconteceram. Reuniram-se 120 mil, algo inédito num país que contava com 80 milhões de habitantes. Deposto 18 dias depois, Jango intuía o perigo que corria o seu governo, que já passara por parlamentarismo imposto após a renúncia de Jânio Quadros. Naquele mesmo discurso, afirmou: “Chegou-se a proclamar, até, que esta concentração (de trabalhadores) seria uma ato atentatório ao regime
democrático, como se no Brasil a Reação ainda fosse dona da democracia, e a proprietária das praças e das ruas. Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas”.
No próximo dia 31 serão 50 anos do golpe de 64, que arrastou 21 anos de nossa história a uma triste obscuridade. Foi justificado pela necessidade de se combater a “corrupção” e a “ameaça comunista da
república sindicalista”, pela “família”, por “Deus” e a “propriedade”. Cinquenta anos se passaram, e os civis e militares que deram o golpe enterraram a democracia que diziam defender. Tortura, censura, extinção dos direitos e liberdades individuais foi o que se seguiu. Hoje o mundo é outro, o Muro de Berlim já caiu e o neoliberalismo, que construiu outros, também já se foi. Os novos muros, como o de Israel, o da fronteira dos EUA com o México e o maior e mais desconhecido deles, o de Marrocos-Saara Ocidental – são 2.700 quilômetros que separam o povo saaráui das riquezas que o Rei Mohammed VI de Marrocos tomou para si – ainda estão lá. A guerra fria acabou, o mundo girou e o Brasil também, mas certos fantasmas insistem em não sair de cena. Como em 1964, miram nos políticos e falam em salvar a democracia, mas ontem e hoje o verdadeiro alvo somos nós. *Jornalista, redatora política do jornal Estado de Minas,.
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O Globo e o Golpe
Ricardo Rabelo Golpe de 64
Às vésperas do Golpe Militar de 64 completar 50 anos cabe aqui uma reflexão importante. Atentar contra a Constituição e o Estado Democrático de Direito, deveria ser passível de processo judicial. O país não pode aceitar que remanescentes da Ditadura continuem a defender o totalitarismo. Acho que os responsáveis pelas tais “marchas da família” que pregam o retrocesso devem ser identificados e processados. A pena deve ser exemplar. No mínimo, os autores teriam que ser obrigados a assistir palestras sobre direitos humanos e cidadania. Só assim estaremos “educando” os saudosos de 64.
Impunidade
Ao contrário de nossos vizinhos Argentina, Uruguai e Chile, os torturadores brasileiros continuam impunes. Esta distorção precisa ser corrigida pelo STF que deve reconhecer que tortura é um crime imprescritível, não passível de anistia. Muitos torturadores levam suas vidas normalmente sem nunca terem sido punidos. O Brasil, como signatário
de diversas convenções internacionais, precisa processar esses criminosos. Todos sabem que a tal “anistia” foi na verdade uma forma de proteger os protagonistas desta vergonha nacional. O Brasil só entrará no concerto de países civilizados quando reconhecer o delito e processar seus autores.
Rubens Paiva
É com louvor que saúdo o Ministério Público que está prestes a denunciar os agentes da repressão envolvidos na morte do ex-deputado Rubens Paiva. Num trabalho árduo e consistente, os promotores conseguiram elucidar o crime e chegar aos autores e a rede de comando. Paiva foi duramente torturado em instalações do exército e posteriormente morto, tendo o corpo jogado ao mar. O ex-deputado não integrava a luta armada e foi eliminado porque mantinha contato com exilados no Chile, cujos nomes o aparato repressivo queria descobrir. Paiva foi preso na frente da família em 20 de janeiro de 1971 e até hoje seu corpo não foi encontrado.
Exílio
Minha família amargou 16 anos de exílio e só retornou ao Brasil com a anistia em 1979. Meu pai, o jornalista José Maria Rabelo, seria “outro” Rubens Paiva se tivesse ficado no
país. Graças à sua perspicácia conseguiu burlar a Ditadura e se proteger no Chile. Não foi fácil para ele a minha mãe ficar tanto tempo fora do país, mas bravamente superaram a distância e conseguiram manter o elo com a pátria, principalmente entre os filhos. Mesmo tendo pisado pela primeira vez o solo brasileiro aos 16 anos, cheguei aqui conhecendo bastante a cultura brasileira e dominando fluentemente a nossa língua. Hoje, depois de tanto tempo, nem parece que fomos exilados. A identificação com o Brasil foi “ampla, geral e irrestrita”.
Distorção
Volto a repetir nesta coluna. É premente que a Câmara dos Deputados proíba que agentes da ditadura emprestem seus nomes a escolas, ruas, avenidas, rodovias, viadutos e prédios públicos em todo o país. Levantamento realizado pelo site Pragmatismo
É interessante e curiosa a postura do jornal O Globo que está publicando uma série de reportagens sobre o Golpe de 64. É na verdade uma “meia culpa” por ter apoiado a Ditadura. A publicação reconhece que a lembrança é um “incômodo”, mas garante teve a mesma postura que a grande imprensa já que Jango “ameaçava atropelar Congresso e Justiça para fazer reformas de base na lei ou na marra”. O Globo hoje alega que a “verdade é dura” e que “à luz da História, esse apoio foi um erro”.
Pergunta ao Obama
Uma pergunta ao Obama: como ele pode considerar a separação da Crimeia da Ucrânia uma violação à Constituição se foi aprovada em plebiscito com 97%? Neste caso, de quem seria o golpe?
Sucessão presidencial
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sai atirando para todos os lados contra o governo Dilma. Recentemente chegou a dizer que o país “não aguenta” mais quatro anos de mandato da presidente. Está nítido que a candidatura de Eduardo está sendo inflada pela grande imprensa, desesperada com a vitória cada vez mais provável de Dilma no 1º turno. A postura de Campos cheira a traição já que até recentemente integrava a base política do governo.
Nota do Bloco Bafafá
Com relação à matéria publicada na Folha de São Paulo de sábado 08/03, o bloco carnavalesco Bafafá garante não “acertou” nenhuma contratação de limpeza privada para seu desfile com a Prefeitura do Rio de Janeiro. O mesmo foi apenas comunicado de que a cervejaria Ambev iria reforçar o efetivo das cooperativas de reciclagem de lixo que atuam nos blocos por ela patrocinados. Salientamos que este tipo de serviço já acontece no bloco Bafafá há 4 anos. Informamos ainda de que não atuamos em nenhum momento com serviços de limpeza sob responsabilidade da Comlurb. E reiteramos o nosso apoio total aos garis do Rio de Janeiro e a consistente vitória salarial conquistada.
Aplicativo de Blocos do Bafafá
Político revela que 3.135 escolas levam o nome de ex-presidentes militares da Ditadura (1964-1985). Isto sim seria corrigir uma distorção histórica que assombra o Brasil.
Patética é a postura do candidato à presidência Eduardo Campos. Oriundo da “esquerda” esse personagem vestiu a camisa da direita e
O aplicativo de blocos do Bafafá foi tema de reportagem da agência Associated Press distribuída para mais de 100 canais no mundo. Em tempo: o aplicativo teve 23 mil downloads! Ano que vem tem mais e melhor!
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O Brasil na encruzilhada Leonardo Boff* Observador atento aos processos de transformação da economia mundial em contraponto com a brasileira, Celso Furtado, um dos nossos melhores nomes em economia política, escreveu em seu livro Brasil: a construção interrompida: “Em meio milênio de história, partindo de uma constelação de feitorias, de populações indígenas desgarradas, de escravos transplantados de outro continente, de aventureiros europeus e asiáticos em busca de um destino melhor, chegamos a um povo de extraordinária polivalência cultural, um país sem paralelo pela vastidão territorial e homogeneidade linguística e religiosa. Mas nos falta a experiência de provas cruciais, como as que conheceram outros povos cuja sobrevivência chegou a estar ameaçada. E nos falta também um verdadeiro conhecimento de nossas possibilidades e principalmente de nossas debilidades. Mas não ignoramos que o tempo histórico se acelera e que a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação” (Paz e Terra, Rio 1993, 35). A atual sociedade brasileira, há que se reconhecer, conheceu avanços significativos sob os governos do Partido dos Trabalhadores. A inclusão social realizada e as políticas sociais benéficas para aqueles milhões que sempre estiveram à margem, possui uma magnitude histórica cujo significado ainda não acabamos de avaliar, especialmente se nos confrontarmos com as fases históricas anteriores, hegemonizadas pelas elites tradicionais que sempre detiveram o poder de Estado em seu benefício. Mas estes avanços não são ainda proporcionais à grandeza de nosso país e de seu povo. As manifestações de junho de 2013 mostraram que boa parte da população, particularmente dos jovens, está insa-
tisfeita. Estes manifestantes querem mais. Querem um outro tipo de democracia, a participativa, querem uma república não de negociatas mas de caráter popular, exigem com razão transportes que não lhes roube tanto o tempo de vida, serviços básicos de saneamento, educação que os habilite a entender melhor o mundo e melhorar o tipo de trabalho que escolherem, reclamam saúde com um mínimo de decência e qualidade. Cresce em todos a convicção de que um povo doente e ignorante jamais dará um salto de qualidade rumo a uma sociedade menos desigual e, por isso, como dizia Paulo Freire, “menos malvada”. O PT deverá estar à altura desses novos desafios, renovar sua agenda a preço de não continuar mais no poder. Estamos nos aproximando daquilo que Celso Furtado chamava de “provas cruciais”. Talvez como nunca antes em nossa história, atingimos este estágio crítico das “provas”. As próximas eleições possuirão, a meu ver, uma qualidade singular. Dada a aceleração da história, impulsionada pela crise sistêmica mundial, seremos forçados a tomar uma decisão: ou aproveitamos as oportunidades que os países centrais em profunda crise nos propiciam, reafirmando nossa autonomia e garantindo nosso futuro autônomo mas relacionado com a totalidade do mundo ou as desperdiçamos e viveremos atrelados ao destino sempre decidido por eles que nos querem condenar a sermos apenas os fornecedores dos produtos in natura e assim voltam a nos recolonizar. Não podemos aceitar esta estranha divisão internacional do trabalho. Temos que retomar o sonho de alguns de nossos melhores analistas do quilate de Darcy Ribeiro e de Luiz Gonzaga de Souza Lima entre outros que propuseram uma reinvenção ou refundacão do Brasil sobre bases nossas, gestadas
pelo nosso ensaio civilizatório tão enaltecido por Celso Furtado. Esse é o desafio lançado de forma urgente a todas as instâncias sociais: ajudam elas na invenção do Brasil como nação soberana, repensada nos quadros da nova consciência plenetária e do destino comum da Terra e da Humanidade? Poderão elas ser co-parteiras de uma cidadania nova – a co-cidadania e a cidadania terrenal – que articula o cidadão com o Estado, o cidadão com o outro cidadão, o nacional com o mundial, a cidadania brasileira com a cidadania planetária, ajudando assim a moldar o devenir humano? Ou elas se farão cúmplices daquelas forças que não estão interessadas na construção do projeto-Brasil porque se propõem inserir o Brasil no projeto-mundo globalizado de forma subalterna e dependente, com as vantagens concedidas às classes opulentas, beneficiadas com este tipo de aliança? As próximas eleições vão trazer à luz estes dois projetos. Devemos decidir de que lado estaremos. A situação é urgente pois, como advertia pesaroso Celso Furtado: “tudo aponta para a inviabilização do país como projeto nacional” (op.cit. 35). Mas não queremos aceitar como fatal esta severa advertência. Não devemos reconhecer as derrotas sem antes dar as batalhas como nos ensinava Dom Quixote em sua gaia sabedoria. Ainda há tempo para mudanças que podem reorientar o país para o seu rumo certo, especialmente agora que, com a crise ecológica, se transformou num peso decisivo da balança e do equilíbrio buscado pelo planeta Terra. Importa crer em nossas virtualidades, diria mais, em nossa missão planetária. *Teólogo e escritor, publicado no www.leonardoboff.wordpress.com
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A volta de Bachelet Mauro Santayana*
A chilena Michelle Bachelet tomou posse, pela segunda vez, como Presidente da República do Chile. A volta de Bachelet, da coalizão de centro-esquerda Nova Maioria, ao Palácio de La Moneda, e a saída do conservador Sebastián Piñera, representam nova derrota para a política norte-americana na região, além de um duro golpe para a Aliança do Pacífico, factoide criado pelos espanhóis e norte-americanos para funcionar como espécie de contraponto ideológico e midiático ao projeto, empreendido pelo Brasil e por outras nações, de união e integração continental. Preocupados em marcar presença, os EUA enviaram o vice-presidente Joe Biden a Santiago. O Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, fez questão, também, de comparecer pessoalmente, depois de passar pelo Equador, onde, fiel à sua aliança com Madrid, foi convidar Rafael Correa para participar da cúpula “ibero-americana” - outro factoide espanhol, cada vez mais desprestigiado - que será realizada no México, em Veracruz, no segundo semestre.
Convidado por Bachelet, para compor seu governo, o novo ministro chileno das Relações Exteriores, Heraldo Muñoz, já deixou claro que haverá clara guinada na área, que deverá privilegiar a política regional e a recuperação do diálogo com os países mais próximos. O deputado e ex-embaixador Luís Maira, um dos principais conselheiros de Bachelet em política externa, foi ainda mais direto. Acusou o governo Piñera de ter feito um estrago no âmbito das relações entre o Chile e seus vizinhos da América do Sul, com a intensificação dos conflitos territoriais com o Peru e a Bolívia; o distanciamento do Equador; e um quadro de relações virtualmente congeladas com o Brasil e a Argentina. No caso particular de Brasília, a reaproximação não se fará, no entanto, apenas devido à afinidade pessoal e política entre Bachelet e Dilma. Pragmática, e, sobretudo, inteligente, e sem a cegueira do preconceito ideológico, a nova presidente chilena sabe muito bem quais são as diferenças entre o Brasil e a Aliança do Pacífico, as forças e as condições que estão em jogo.
Ela tem conhecimento de que o México, nos últimos anos, deixou de contar entre os dez principais importadores de produtos chilenos. Assim como sabe que a corrente de comércio entre o Brasil e o Chile é quase o dobro da que existe entre chilenos e mexicanos. E não precisa ser empresária para entender que a confiança de chilenos e mexicanos na economia brasileira é tão grande, que o Brasil é o principal destino de investimentos chilenos no exterior – vide a compra da CTIS pela Sonda – e o mesmo com relação aos mexicanos, no âmbito latino-americano. Ou que o Brasil cresceu mais que o dobro do México nos últimos doze meses, ou ter em mente que – com todos nossos eventuais problemas – ainda somos a sétima economia do mundo – maior que toda a Aliança do Pacífico reunida - e o segundo maior mercado consumidor das Américas, depois dos EUA. É improvável que o Chile abandone a Aliança do Pacífico devido à volta de Michelle Bachelet ao Palácio de La Moneda. Mas Santiago se reaproximará decididamente da UNASUL e do Mercosul – organização da qual o Chile toma parte como membro associado – e vai abandonar a tática – tão a gosto de Piñera – de pintar de dourado o andor de papelão da Aliança do Pacífico. *Jornalista, publicado no www.maurosantayana.com
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Mr. Cat: estilo, design e bom gosto agora no Catete Nova loja conquista clientes fiéis
Em 1981, nascia a Mr. Cat, uma marca carioca, estilo balneário chic, hoje presente em todo o Brasil com 130 lojas. Ela vende não apenas sapatos e acessórios, mas um estilo de vida autêntico e atual aliando design, tecnologia e bom gosto. A permanente expansão da rede chegou desde novembro de 2013 ao Catete, no Rio de Janeiro valorizando o comércio da área. A nova loja está localizada no coração do histórico bairro e nela o público encontra mais de 30 modelos masculinos e 50 femininos, entre mocassins, sandálias, sapatilhas e o tradicional “sapatênis”, uma marca registrada da rede.
Além disso, é possível adquirir dezenas de acessórios como bolsas, carteiras, cintos, camisas polos, meias e até produtos de conservação para os sapatos. O gerente, Rafael Barros, garante que a loja superou todas as expectativas. “Por ser mais sofisticada que a concorrência, conquistamos clientes pela qualidade dos produtos e do atendimento diferenciado”, assinala. Ele explica que a loja trabalha com duas coleções: primavera-verão e outono-inverno. No entanto, há sempre campanhas para datas festivas como Dia dos Pais, Dia das Mães e Dia dos Namorados e obviamente o Natal. Os pagamentos podem ser parcelados em até 4 X no cartão de crédito mediante a compra mínima de R$ 60. As estrelas escolhidas para representar o inverno da Mr. Cat é a dupla Bruna Marquezine e Gabriel Braga Nunes, protagonistas absolutos de Em Família, atual novela de Manoel Carlos para a Rede Globo. Rua do Catete, 228, loja F – Catete – Rio de Janeiro Fone: 2557-7071 Funcionamento: de segunda a sexta de 09 às 20h e aos sábados de 09h às 18h.
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Ivan Calvacanti Proença
Entrevista
Por Ricardo Rabelo
Fotos: Eduardo Sá
“Eu tinha as armas, não podia omitir-me diante daquela barbaridade”
Como foram sua infância e juventude? Muito futebol (jogando em clubes, inclusive), muito namoro e muita leitura.
O que o levou ao Exército? Entrar no Colégio Militar aos 10 anos de idade. Depois, vocação.
Seu interesse acadêmico ficou de lado? Só apareceu quando já estava no 2º grau. E permaneceu concomitante à carreira militar.
O brigadeiro Ruy Moreira Lima disse que, na 2ª Guerra, o Exército brasileiro era
Ivan Cavalcanti Proença cursou o Colégio Militar e a Academia de Agulhas Negras exercendo a carreira até a patente de capitão. No dia do Golpe que derrubou o presidente João Goulart, teve atitude de grande coragem ao impedir que estudantes do CACO (Faculdade de Direito) fossem massacrados durante ato público. Os jovens estavam cercados no interior do prédio, prestes a sufocar, devido a bombas de gás lacrimogêneo. Proença, então capitão do Regimento Presidencial no comando dos tanques que vigiavam a Casa da Moeda, com seus subordinados, apontou as armas para os golpistas e mandou abrir todas as janelas da faculdade, permanecendo no local até que o último estudante conseguisse escapar. Seu gesto encerrou a sua carreira militar já que foi cassado e preso na Fortaleza de Santa Cruz e posteriormente no Forte Imbuí. Ao ser solto, dedicouse à vida acadêmica tornando-se professor, mestre e doutor em Literatura Brasileira. É autor de vários livros, entre eles “O Golpe Militar e Civil de 64”. Em entrevista ao Bafafá, Ivan Proença detalha os acontecimentos de 64 e garante que não foi herói. “Apenas cumpri minha obrigação associada à minha consciência. Eu tinha as armas, não podia omitir-me diante daquela barbaridade”, garante. Questionado se tem utopia, não titubeia: “Um Brasil sem miséria e fome, obsessivamente buscando-se a fraternidade entre os povos”.
pró-nazi. Concorda?
havia sim condições de impedir o Havia, de fato, por parte do Governo Golpe. e de segmentos da intelectualidade e das Forças Armadas certa simpatia Afinal, os EUA foram os articupelo movimento nazi-fascista sob ladores da derrubada de Jango? o aspecto das ideias nacionalistas. Sim. Três fatores: ações imperialistas Ilusão. Era nacionalismo fascista dos EEUU, o poder econômico civil e sem o necessário internacionalismo a cúpula militar. socialista.
“Havia sim condições de impedir o Golpe” O golpe de 64 não disparou um tiro? Golpe fácil, título de capítulo do meu livro sobre o tema. Minha reação foi isolada. Poucas as reações. E o pior:
as homenagens como herói não cabiam. Eu tinha as armas, não podia omitir-me diante daquela barbaridade.
Com isso foi cassado?
Fui preso no mesmo dia 1º de abril, dia do Golpe, logo que regressei ao Ministério após a intervenção. DeVocê ficou conhecido por salvaguar- pois cassado e eu e minha mulher dar a vida de dezenas de estudantes Isis perseguidos 20 anos. Impedidos cercados no CACO em 1964. Como de lecionar, prestar concursos, etc.
foi o episódio?
Narrado no capítulo específico (VII, pág. 123) de meu livro O Golpe militar e civil de 64, nova edição agora em 2013. Nada de heróico, apenas cumpri minha obrigação associada à minha consciência. Os rótulos e
Já foi anistiado? A Anistia de 79, parcial e restrita, visava a livrar torturadores e assassinos de punições futuras. A de 85 atenuou um tanto a anterior. E agora, há pouco, fui anistiado e homenageado
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“A Anistia de 79, parcial e restrita, visava a livrar torturadores e assassinos de punições futuras” em Ato e sessão do Governo federal na Assembleia Legislativa.
O que o levou à vida acadêmica? Também vocação. E o gosto pelo estudo e pela escrita.
Falta cultura em nosso país? A nossa identidade cultural é a popular. O que falta é livrar-nos do colonialismo cultural vigente, o que ocorrerá com as transformações sociopolíticas que um dia ocorrerão no Brasil.
O que está achando dos governos petistas?
vai muito mal hoje. Já o PT não é um partido de esquerda, portanto, na medida do possível, ideologia limitada que o rege. Apresenta virtudes sob certos aspectos.
partido político?
No sentido de esvaziamento da ideia de partido — colocando todos os políticos “no mesmo saco”, no sentido de manter uma sociedade capitalista burguesa e, portanto, as Como está vendo os acusados do brutais diferenças sociais de classes mensalão presos? — sim. A grande imprensa é cúmplice Quase todos os partidos agem da e atuante. mesma forma para chegar aos Governos. O Poder econômico comanda Por que o governo Dilma não eleições, de um simples vereador do incentiva os jornais alternatiinterior até Presidente da República. vos e regionais? Apenas, do PT não se esperava a prá- No momento em que um governo tica de que se valeram para conduzir adotar tal prática, cria-se uma deo processo. E os reacionários, a elite pendência, uma subordinação. Mas econômica, os golpistas, a grande nada justifica a discriminação, nem imprensa exultaram e exultam com as benesses à grande imprensa. os erros do PT. Mas têm imenso telhado de vidro. Como vê os 12 anos do Jornal
“A grande imprensa é cúmplice e atuante”
Bafafá?
Um extraordinário ato de resistência. Eu e Isis, minha mulher, saímos Estou no PDT desde a fundação e sempre por aí à procura do Bafafá ocupei cargos relevantes nos dois Acredita que haveria um pla- (a sorte é que moramos perto do Lagovernos de Brizola. Meu partido no da mídia para agir como mas, onde por vezes o encontramos).
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Mas não podia nem devia ser tão sofrida a existência regular do jornal, por sua qualidade e importância. No feio contexto que envolve os meios de Comunicação no Brasil, não vejo chance de o Bafafá ter a repercussão e a amplitude que merece. Nossa luta é assim mesmo. Mas, não é inglória.
Quais são seus projetos? Continuar dando aulas, mantendo contatos com o Grupo Tortura Nunca Mais (as dignas Diretoras, então bem jovens, estavam no CACO naquele 1º de abril de 64); com a ABI, a Comissão da Verdade; o respeito ao MST, a perseverante cultura popular brasileira. Enfim, participando.
Tem alguma utopia? Utopia no sentido de materialização algum dia, sim: um Brasil sem miséria e fome, obsessivamente buscando-se a fraternidade entre os povos. Ausente a ânsia de posse.
adras piscinas e qu stas, campos, pi s na r o. lo va técnica e apoi ostrando seu a, superação, ileiros vêm m lin ip as sc br di s a, co rr pi lím s coisas: ga Os atletas para DEF parte soma de muita límpica da AN alto nível é a se es E . do a equipe para un ra m pa do do e en il rt as do Br ória, reve l de levar rte dessa hist tem potencia lho de fazer pa , ajudar quem gu RJ or TE m te LO a RJ ra A LOTE téricos. Pa de bilhetes lo gulho mesmo. com a venda o tid ob o cr lu privilégio. É or um só do seu é o nã dio ais alto do pó asil ao lugar m o nome do Br
RIA COM A PARCE DEF, LOTERJ E AN HAM ALGUNS GAN PRÊMIOS.
HAM OUTROS, GAN OURO.
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O show da família Caymmi Sérgio Ricardo* A imensa casa de shows lotada, aguardava os filhos de Dorival. A emoção, já embutida na proposta de uma homenagem ao pai, estabelecia uma corrente afetiva entre os presentes, alguns dos quais, artistas famosos vindos para matar as saudades da arrebatadora obra de Caymmi, esquecida pelos meios de comunicação, já que nunca capitulou na “jabazeira” do sucesso comprado. Sem nenhuma pompa ou artificialismos baratos iniciava-se o show com a presença de um pequeno grupo de músicos de primeira, a se desempenhar com perfeita integração em modesto comando e arranjos de Dori, propositadamente discretos e ricos, para que nada se sobrepusesse à obra pura de seu pai, criando um tapete para o desfile das canções a invadir a sensibilidade da plateia sedenta das melodias imortais e inéditas, garimpadas por Dori nos arquivos dispersos e espalhados pelas gavetas daquele que, de tão abundante criatividade, ia deixando pelo cami-
nho, como a semear sem programar colheitas. Nas vozes de Dori e Danilo, geneticamente timbradas pela voz do pai, ficamos a ouvir pela primeira vez várias canções, como se Caymmi estivesse presente a canta-las. O calor dos aplausos consecutivos pareciam chorar como muitos olhos durante a cantoria, descobrindo um novo Caymmi, tão necessário aos dias de hoje, a nos banhar com outras ondas de um mesmo mar, carregado dos mistérios e sentimentos do mesmo povo simples a pescar os mistérios da visão de um grande criador. Ovacionada, entra Nana, descontraída ao mesmo tempo que embriagada de comoção, a desfazer seu nó na garganta com a ajuda daquela voz visceral, a implodir corações de pedra, expulsando de nossos olhos cascatas límpidas dos mais belos sentimentos represados pela conjunção das circunstâncias de um momento desse sentir universal travado pelos obstáculos
da ignorância, campeando pela realidade de nossos dias, a traduzir a abrangência da beleza que explode na obra de seu pai. O espetáculo não traduziu tão somente a gratidão e o orgulho de três filhos talentosos promovendo uma homenagem carinhosa à genialidade de seu pai. Mas deixou claro que enquanto o novo não superar o velho, não há nada mais velho que o novo nem nada mais novo que o velho. Caymmi ouvido hoje, é bonito. É bonito!!! Dizia uma jovem na saída. Nem precisava de tanta obra prima. Bastava o João Valentão. De volta, no táxi, eu e meus filhos nos entre olhamos durante toda a viagem, enquanto o rádio tocava um bate estaca insuportável. Marina não resiste e pergunta: —Ô cumpade. Você não tem um cedezinho do Caymmi aí, não?… *Cantor e compositor
Pixinguinha, pioneiro e agregador dia 17 de fevereiro que nem este, no que pode ser considerado também um desencarne verdadeiramente original e pioneiro.
Luis Pimentel*
Um dia, para traduzir uma emoção, uma situação ou um alumbramento, Gilberto Gil cantou assim: “Parecia um prelúdio bachiano, um frevo pernambucano, um choro de Pixinguinha...”. Alfredo da Rocha Vianna Jr. (1897–1973), o Pixinguinha, é em tudo e por tudo um pioneiro. Por isso que o dia do seu nascimento, 23 de abril, foi transformado em Dia Nacional do Choro. Morreu dentro de uma igreja (após participar de um batizado), num
Um dos pioneiros da música brasileira, entre os primeiros a popularizar o sopro e o choro, é chamado por alguns de “pai da música brasileira”. Flautista
virtuoso, agregador de talentos, maestro soberano antes de Tom ganhar o título, arranjador que já era moderno no início do século passado e compositor genial, Pixinguinha é o nome por trás e à frente de nossas emoções mais genuínas, mais brejeiras, mais carinhosas. S o u b e m i s t u r a r, com humildade e elegância, a modernidade de Ernesto Nazareh, Chiquinha Gonzaga e Antônio Callado com os ritmos africanos, estilos europeus e a música negra americana – num lamento batuta, que atravessa gerações. Os maiores sucessos da chamada
época de ouro da música popular brasileira tem arranjos, ou acompanhamentos, ou até mesmo inspiração de Pixinguinha Pioneiro em tudo, foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Puxou o cordão da profissionalização do músico brasileiro, reuniu o que havia de melhor no regional Oito Batutas e foi pioneiro em sair pelo mundo, mostrando o que a Praça Onze, o Catumbi e a Rádio Nacional tinham. Todo músico brasileiro sabe. Todo amante da música sabe. Pixinguinha – antes de Noel, de Cartola, de Tom e de Chico – mostrou ao mundo que no samba, no maxixe, no lundu, no jongo ou no choro também somos muito bons de bola. *Jornalista e escritor
A Agenda mais democrática do Rio de Janeiro: www.bafafa.com.br
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Violência policial Sobre a morte de Claudia da Silva Ferreira, durante operação policial no Morro da Congonha, em Madureira, a Anistia Internacional Brasil afirma que enquanto a polícia continuar entrando nas favelas e nos territórios das periferias como se estivessem em uma operação de guerra contra todos, para matar ou morrer, o saldo será sempre de mortes. “Enquanto não houver uma política de tolerância zero em relação à violência policial, continuaremos a assistir espetáculos de horror que nos humilham como sociedade. Já passou da hora da sociedade e do estado dizerem que não aceitam mais a barbárie em seu nome. O estado é responsável. O governador e o secretário de segurança são responsáveis. O comandante da polícia é responsável. Esta tragédia nunca aconteceria na zona sul do Rio de Janeiro”, afirma Atila Roque, diretor executivo da AI Brasil. A organização defende que a polícia não deve socorrer feridos nas ruas e sim aguardar atendimento especializado. No estado de São Paulo, onde esta recomendação foi adotada, as mortes causadas por policiais militares caíram 39%. Fonte: Anistia Internacional Brasil
Greenpeace Brasil O ataque às florestas segue agora no campo da regulamentação do novo Código Florestal. Depois de desfigurar a legislação florestal em 2012, fragilizando o texto e diminuindo a proteção ambiental no Brasil, a bancada ruralista do Congresso segue determinada em seu propósito de afrouxar ainda mais as regras que eles mesmos ajudaram a criar. A bola da vez é o Sistema de Cadastro Ambiental Rural - SICAR, laureado pelo governo e representantes do agronegócio como mecanismo importante na conservação das florestas existentes e na obrigação de reflorestar o que foi desmatado ilegalmente e uma das pré-condições para eliminar o passivo ambiental. O novo Código prevê normas mais brandas de recomposição de áreas desmatadas para pequenos proprietários. Esse é o pulo do gato - dos gatunos, melhor dizendo - do novo ataque às florestas: com o apoio do Ministério da Agricultura, a bancada da moto-serra quer trocar o conceito de “cadastro por imóvel rural” (que compreende toda a área da propriedade) por “cadastro para cada matrícula do imóvel”. Traduzindo para o bom e velho português das ruas: um número enorme de fazendas possuem várias “matrículas” uma para cada lote de terra que foi incorporada à propriedade ao longo do tempo ou ainda, propriedades grandes que são espertamente divididas em áreas menores com diferentes registros, colocados no nome de esposas, filhos ou qualquer que seja o laranja da vez. Ou seja, os ruralistas estão querendo se beneficiar das exceções reservadas aos pequenos proprietários. Se permitir o cadastro por matrícula, como querem os ruralistas, o governo se alinhará, mais uma vez, com os grandes proprietários. Na prática, o Governo estaria abrindo mão de grande quantida-
de de florestas, demonstrando, em pleno ano eleitoral, que considera meio ambiente mera moeda de troca. Fonte: Greenpeace Brasil
Painel 50 anos do Golpe A Associação Brasileira de Imprensa realiza, no dia 31 de março, painel sobre o cinquentenário do golpe militar de 1964, com a professora Anita Leocádia Prestes, a filha do imortal Cavaleiro da Esperança e da lendária Olga Benário Prestes, o advogado Modesto da Silveira, membro do Conselho de Ética da Presidência da República e o jornalista Arthur Poerner. Em pauta, o “Caráter do Regime e a Anistia”. ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71 - 10º andar – Centro – Informações: 2262-5734 Fonte: ABI
Relações de trabalho no golpe militar No dia 2 de abril, às 18h, o plenário Evandro Lins e Silva (OAB-RJ) será palco do debate sobre as relações de trabalho na Ditadura militar. Organizado pela Comissão da Justiça do Trabalho da Seccional, o evento terá como palestrantes o conselheiro federal da OAB/RJ e presidente da Comissão Estadual da Verdade, Wadih Damous, o desembargador do TRT-1 Gustavo Tadeu Alkmin e o sindicalista Geraldo Cândido. Fonte: Tribuna do Advogado
Exposição Resistir é Possível Está em cartaz até 7 de abril a exposição “Resistir é preciso” que resgata o período da ditadura no Brasil. Organizada pelo Instituto Vladimir Herzog, apresenta as lutas pela reconstrução da democracia por meio das artes plásticas, obras de fotojornalismo, videodepoimentos e documentação do período. A mostra expõe um expressivo conjunto de obras de arte e documentos históricos que apresentam a militância dos artistas denunciando abusos e crimes da ditadura. Entre os destaques da exposição consta a coleção de Alípio Freire, jornalista e ex-preso político, que reuniu obras de artistas plásticos como Sérgio Freire, Flávio Império, Sérgio Ferro e Takaoka, produzidas no período de cárcere, no presídio Tiradentes, em São Paulo, e as ilustrações de Rubem Grilo, ilustrador de publicações como Movimento, Opinião e Pasquim da década de 1970. CCBB - Rua Primeiro de Março, s/nº Centro - Rio de Janeiro (21) 3808-2020
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Peça “Nem mesmo todo o oceano” Resgatando os 50 anos da ditadura no Brasil, a peça “Nem mesmo todo o oceano” traz para o Galpão Gamboa a difícil e trágica história de um jovem médico durante um dos períodos mais conturbados de nosso país. Com adaptação e direção de Inez Viana para o livro homônimo de Alcione Araújo, “Nem mesmo todo o oceano” é um thriller contemporâneo dentro de um romance histórico, que combina ficção e fatos reais. O espetáculo, interpretado pela Cia OmondÉ, estará em cartaz nos dias 29 e 30 de março. Galpão Gamboa - Teatro Rua da Gamboa, 279 - Centro – Ingressos: R$ 20 (estudantes e idosos pagam meia) - Informações: 2516-5929
Cinema Negro Entre os dias 26 e 30 de março acontece o 7º Encontro de Cinema Negro – Brasil, África e Caribe – Zózimo Bulbul. Unindo tradição e contemporaneidade, a edição do encontro tem o intuito de promover a aproximação de várias gerações de diretores cinematográficos. O projeto, que valoriza a cultura africana como parte integrante e fundamental na identidade do povo brasileiro tem a curadoria de Joel Zito Araújo. Integrarão a programação filmes e convidados do Mali, Haiti, Senegal, Burkina Faso e Cuba. O evento prestará homenagem ao Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, instituído pela Organização das Nações Unidas. Centro Cultural da Justiça Federal Av. Rio Branco, 241 – Cinelândia – Entrada Franca Informações: www.afrocariocadecinema.org.br
DocLisboa 2014 Estão abertas até 15 de junho as inscrições para a 12ª edição do DocLisboa, festival internacional de cinema dedicado a pensar sobre os novos caminhos do cinema documental e suas práticas políticas e artísticas. O evento acontece entre os dias 16 e 26 de outubro em Lisboa e as inscrições são gratuitas. Podem ser inscritos longas e curtas-metragens brasileiros para as seções competitivas internacionais desde que finalizados após a data de 1º de janeiro de 2013. Para isso, os interessados devem enviar a ficha de inscrição preenchida e fazer o upload do filme pelo site do festival: www.doclisboa.org
“Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”. Millôr Fernandes
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Nova Capela: ponto de encontro na Lapa Tombado pela prefeitura como Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, o Nova Capela é um restaurante que tem história. Fundado em 1903, é desde então um ponto de encontro de boêmios, artistas, escritores e intelectuais da cidade. Sua culinária portuguesa é um chamariz. Canja, bolinhos de bacalhau e cabrito guarnecido de arroz e brócolis são destaques da casa. Interessante é que o cardápio inclui também javali e leitão, mas trabalha também com carnes variadas, como o conceituado filé à francesa. A carta de vinhos inclui marcas portuguesas, chilenas e francesas. Mas, gostoso mesmo, é o chope bem tirado e na pressão. O Nova Capela é roteiro obrigatório na Cidade Maravilhosa. Pena que os preços assustem um pouco. Nada que impeça de frequentar o salão em art decô, outra pérola da casa. O melhor é que a casa fecha tarde, tornando-se uma das poucas opções na Lapa durante a madrugada. Av. Mem de Sá, 96 – Lapa - Rio de Janeiro Informações: 2252-6228 - Funcionamento: 11h/4h (sexta e sábado até 5h). - Aceita cartões de débito e crédito
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Restaurante Baalbek: delícias árabes Ir a Copacabana e não passar pelo Baalbek é como ir a Roma e não ver o Papa. Conhecido como o árabe da Galeria Menescal, a loja existe há 50 anos e, apesar de apertada, é disputadíssima a qualquer hora do dia. A razão é o cardápio de pratos libaneses com destaque para as esfihas (carne e ricota), kibes (ricota, espinafre e carne), kafta de forno com batata e arroz de lentilhas. O nome do lugar é uma cidade no Líbano, país com forte influência no Brasil. Impossível também não falar dos diferentes doces para degustar. Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 664 Loja 17 Galeria Menescal Copacabana Funcionamento: De segunda a sexta, das 9h às 20h; sábado, das 9h às 17h Informações: 21 - 2255-4574
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