Nº 113

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Ano 14 - Nº 113 - Abril 2015

Distribuição Gratuita

Rio de Janeiro www.bafafa.com.br

Cinco motivos para (des)comemorar os 50 anos da Globo 1 - A Globo monopoliza as comunicações no Brasil: diversidade, a gente não vê por aqui. Formado por revistas, jornais, rádios e TVs, o Sistema Globo possui 122 emissoras, sendo 117 afiliadas. A TV Globo desrespeita a Constituição, que no seu art.220 proíbe o monopólio e o oligopólio. Em nenhum outro país do mundo existe uma concentração da propriedade na mídia como no Brasil. A Globopar, que não inclui os jornais e rádios do grupo, já é hoje a 5ª maior empresa brasileira em lucro líquido, e sua receita representa mais de 60% do capital do setor no país. Este monopólio se transformou num 4º poder “disfarçado”. Indica Ministros (os casos de Antônio Carlos Magalhães e Hélio Costa à frente do Ministério das Comunicações são conhecidos), tenta eleger e derrubar Presidentes, e tem amigos poderosos entre os políticos (o atual Presidente da Câmara de Deputados, Eduardo Cunha, é um deles). A concentração da posse dos meios de comunicação impede a circulação de opiniões plurais e de conteúdos que deem conta da diversidade da cultura brasileira. Predomina na Rede Globo, o pensamento único e a defesa dos interesses econômicos e políticos da própria emissora e do grupo social a que ela pertence. 2 - A Globo desrespeita a constituição com a cessão de canais de rádio e TV afiliadas a políticos: Zorra Total no Congresso violando o artigo 54 da nossa Constituição Federal, vários políticos, senadores e deputados, são concessionários de Rádio e TV, sendo muitos dessas emissoras afiliadas do sistema Globo. Os casos clássicos já se tornaram folclore: a família Sarney, no Maranhão; a família Magalhães (ACM), na Bahia; Collor, em Alagoas; Jader Barbalho, no Pará; e por aí vai. Essa promiscuidade entre a TV Globo e certos políticos conservadores, leva a emissora a defendê-los, e a acobertar seus erros e crimes, como faz agora com o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, envolvido em vários processos e na própria Operação Lava-Jato. Informe publicitário da Federação Nacional dos Petroleiros

Nesta : o Ediçã

Continua na página 07

Leonardo Boff José Maria Rabelo Ricardo Rabelo Wadih Damous Emir Sader Mauro Santayana Eduardo Galeano


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Editorial A conspiração dos desesperados

Cada vez vai ficando mais claro que a ideia de impeachment contra

Serra, Aloísio Nunes, o governador goiano Marconi Perillo, o governador

a presidente Dilma é uma manobra desesperada dos derrotados nas últimas

paranaense Beto Richa, que têm voto e força política, manifestaram-se

eleições. Aécio e seus seguidores se recusam a aceitar o resultado das urnas,

contra a medida golpista. Eles sabem que sua efetivação representará uma

como se fosse possível, através dos mais diferentes casuísmos, superar a

ameaça potencial para seus atuais ou futuros mandatos, ficando reféns de

derrota que tiveram. E a de Aécio pessoalmente foi fragorosa: entre outras,

eventual jogo político do Congresso. Alckmin, por exemplo, não tem nenhum

perdeu em Minas, seu estado natal, e no Rio, seu estado adotivo e de coração.

motivo para querer alterar as regras do processo eleitoral, avaliando que

Ao mesmo tempo, consolida-se

suas possibilidades são grandes em 2018,

a posição política do governador paulista

ainda mais com um possível desgaste

Geraldo Alckmin como a principal lideran-

petista até lá.

ça tucana, não só porque se reelegeu,

como salvou Aécio de um irreparável

opinião quase unânime entre os juristas

desastre eleitoral, dando-lhe mais de sete

quanto à aplicabilidade do impeachment.

milhões de votos no Estado de São Paulo.

Para eles, não há base legal para essa me-

As chances do fogoso ex-go-

dida extrema. Até o presidente da Câmara,

vernador mineiro, se é que existem, tem

Eduardo Cunha, visto como adversário de

de ser aproveitadas imediatamente, sem

Dilma, anunciou sua oposição à propos-

perda de tempo. Em 2018, nas próximas

ta. Da mesma forma, esse parece ser o

Além de tudo isso, há uma

eleições, Alckmin será por certo o candidato do PSDB, graças a seu grande

pensamento da maioria dos membros do STJ, Superior Tribunal de Justiça.

cacife eleitoral.

A Igreja Católica, as principais entidades de classe, os diferentes movimentos

Aécio e sua gente vão ficando cada vez mais isolados, a começar em seu próprio partido. O golpe do impeachment perde força, deixando-os a vociferar sozinhos.

sociais engajam-se nessa posição anti-golpe. Os congressistas não deixa-

rão de considerar tão expressiva conjunção de forças, o que torna praticamente inviável a maioria de dois terços necessária à cassação do mandato presidencial.

Assim se pode entender o furor oposicionista de Aécio: é preciso afastar Dilma

Por isso mesmo, Aécio, que lidera a articulação conspiratória

agora e a qualquer preço.

contra Dilma, vai perdendo força, com problemas em seu próprio partido.

A tarefa, entretanto, não é simples, a começar em seu próprio

Não levará tempo para que esteja falando absolutamente sozinho, dominado

partido. Os principais líderes tucanos, como o já citado Alckmin, FHC, José

pelos seus delírios golpistas e as dores incuráveis da derrota.

Onde encontrar: Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas do Rio, São Paulo e BH, Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, Escola de Comunicação, Instituto de Economia, Instituto de Filosofia, Escola de Serviço Social, Escola de Música, Instituto de Psicologia, Fórum de Ciência e Cultura, Faculdade de Direito (UFRJ), UERJ, Departamento de Comunicação da PUC, Café Lamas, Fundição Progresso, Cordão da Bola Preta, Botequim Vaca Atolada, Livraria Leonardo da Vinci, Bar do Gomez, Bar do Serginho, Bar do Mineiro, Bar Santa Saideira, Banca do Largo dos Guimarães (em Santa Teresa), Padaria Ipanema, Casarão Ameno Resedá, Faculdade Hélio Alonso, Arquivo Nacional, Galeria Catete 228, Livraria Ouvidor (BH), Livraria Quixote (BH), Livraria Mineiriana (BH), Livraria Cultural Ouro Preto (Ouro Preto).

Diretor e Editor: Ricardo Rabelo - Mtb 21.204 (21) 3547-3699 bafafa@bafafa.com.br

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Agradecimentos: Aos colaboradores desta edição. Realização: Mercomidia Comunicação Tiragem: 10.000 exemplares

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Terceirização: mais de meio século de atraso José Maria Rabêlo*

mundo onde foram testadas e fracassaram, partem

do PT entrou com um mandado de segurança no

os mesmos interesses para a desconstrução das

STJ, Supremo Tribunal de Justiça, requerendo a

Deputados que o Brasil já teve aprovou a pior lei

conquistas trabalhistas, que sempre rejeitaram.

nulidade de sua aprovação. A OAB declarou que

trabalhista em quase um século de nossa história.

Pelo projeto de lei aprovado pela Câmara, de-

irá à Justiça pedindo a decretação de sua incons-

Desde a Revolução de 1930 houve um progressivo

saparecem de fato as relações de empregado e

titucionalidade. Associações, centrais sindicais

avanço das conquistas sociais, que iria culminar

empregador. Os trabalhadores serão obrigados a

e sindicatos, como a Associação Brasileira e a

com a aprovação da Consolidação das Leis do

constituir sua firma ou a aceitar a contratação de

Latinoamericana de Advogados Trabalhistas, a

Trabalho, em 1943, no primeiro governo de Getúlio

uma firma intermediária, que vai tratar com o ver-

CUT, a CGTB, o MST e centenas de outras orga-

Vargas.

dadeiro empregador. No primeiro caso, trata-se de

nizações populares adotaram a mesma posição,

Antes, prevalecia a lei do mais forte, a dos

uma relação entre duas empresas, sem o reconhe-

anunciando novas manifestações, inclusive uma

empregadores donos dos meios de produção.

cimento dos direitos trabalhistas. No segundo, os

greve geral, contra a aprovação do projeto pelo

Era o vale tudo nas relações de trabalho, quando

trabalhadores se relacionam com o intermediário

Senado, que é indispensável para transformar-se

não existiam limites para a exploração dos tra-

e não com o patrão que utilizará seus serviços,

em lei. A presidente Dilma já fez ver que vetará a

balhadores, inclusive

numa situação que

nova legislação, se conservar o caráter regressivo

crianças e mulheres

lhes é extremamente

do texto adotado pela Câmara.

grávidas até os últi-

desfavorável.

mos dias da gravidez.

Fernando Henri-

as suas forças para barrar essa violenta ofensiva

O patronato bra-

que quando se elegeu

do capital e evitar a vitória de uma proposta tão

sileiro, um dos mais

pela primeira vez, em

retrógrada e antissocial.

atrasados do mun-

1995, chegou a Brasí-

do, nunca aceitou as

lia prometendo aca-

medidas de caráter

bar com a Era Vargas,

social adotadas por

numa profissão de fé

Vargas, embora fizes-

que seu partido ado-

do mais de R$ 70 mil por mês com um blog de

se vistas grossas à natureza ditatorial de seu pri-

taria para sempre, como legítimo representante

propaganda do partido e contra os adversários

meiro governo (o Estado Novo). A inconformidade

do conservadorismo brasileiro. Com efeito, quase

políticos. Em um ano representa mais de R$ 800

patronal contra o ex-presidente ajudou de modo

20 anos depois, o PSDB reafirma essa postura,

mil; nos quatro anos do atual mandato de Alckmin

decisivo a conspiração que o levaria ao suicídio

traduzida pelo apoio de quase toda sua bancada

serão mais de três milhões de reais. Os tucanos,

em 1954.

à aprovação da nova legislação.

tão ardorosos na denúncia da corrupção alheia,

calam-se quando a corrupção é deles próprios.

Aconteceu o que se temia: a pior Câmara de

Agora, sob a influência das teorias neoliberais,

que já estão sendo enterradas em outras partes do

Entretanto, a repulsa ao projeto aprovado na

Câmara estende-se por todo o País. A bancada

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PADARIA IPANEMA Rua Visconde de , 325 - Rio

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A classe trabalhadora deve mobilizar todas

BLOGUEIRO BEM PAGO O governo do PSDB paulista está gastan-

*Jornalista


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Redução da maioridade penal criminaliza a pobreza Wadih Damous* O Congresso Nacional, por iniciativa dos próprios parlamentares ou de pessoas de outra procedência, vem sendo o desaguadouro de projetos de lei e de propostas de emendas constitucionais da pior qualidade. Do ponto de vista jurídico, político e moral. São alguns exemplos desse festival de insanidades: a PEC da Bengala, que permite a aposentadoria aos 75 anos dos ministros do STF; as propostas dos procuradores da República que atuam na Operação Lava Jato, que, entre outras barbaridades, admitem a prova ilícita como válida no processo penal; e o projeto do juiz Sérgio Moro, a celebridade do momento, que prevê a imediata prisão de acusados condenados em primeira instância. Passou a fazer parte desse malsinado rol a PEC nº 171/93, que altera a Constituição e permite reduzir a maioridade penal para 16 anos. Ela já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça. O presidente da Câmara também já prometeu celeridade na sua tramitação. Todas essas proposições têm em comum o traço oportunista e de serem produzidas em cenário de irracionalidade. Se aprovadas, formarão um legado legislativo que esse Congresso deixará para infelicitar as gerações vindouras de brasileiros e para macular a ordem jurídica constitucional com o que pode haver de pior em termos de normatividade. A redução da maioridade penal para 16 anos, preconizada pela PEC, ilustra de forma candente esse trágico panorama legislativo. Apresentada como solução para resolver o problema da violência urbana, ela expressa, na verdade, um sentimento generalizado e raivoso de vingança. A redução da idade penal não vai resolver nem vai amenizar o problema da criminalidade e da segurança pública no país. Nos últimos dez anos diversos diplomas legais de recrudescimento da legislação penal já foram editados e

a criminalidade não diminuiu, só aumentou. Trata-se, na verdade, de mais um expediente de criminalização da pobreza, de mais uma ilusão que vem se passando para a população brasileira. Os adolescentes, é necessário se diga, já são responsabilizados por prática de atos in-

fracionais a partir dos 12 anos de idade. Não precisamos de lei, ela já existe. É o Estatuto da Criança e do Adolescente. Só falta ser cumprida. Parece bem mais fácil aprovar a redução da maioridade penal para jogar atrás das grades esses adolescentes, que às vezes chocam pela brutalidade e aparente gratuidade de seus crimes. Pelo menos por um tempo, não iremos vê-los pelas ruas e até poderemos fingir que não mais existem. Basta construir mais celas e deixá-los fora de nossas vistas. Escolas do crime Fixar a maioridade penal em 18 anos é uma tendência mundial. Mas, como adultos e corresponsáveis, por nossas atitudes e pela sociedade que temos, precisamos pensar no futuro e ponderar com sensatez. Todos sabemos das

condições sub-humanas impostas aos presos. Temos hoje a quarta população carcerária do mundo, quase meio milhão de pessoas, atrás apenas dos Estados Unidos (2,2 milhões), da China (1,6 milhão) e da Rússia (740 mil). O nosso regime penitenciário não dará conta de receber mais gente. A prisão, em geral, não regenera. As nossas, muito menos. Elas são quase escolas do crime. A maioria dos apenados tende a sair mais afeita a delinquir. Cerca de 70% deles volta a cometer crimes depois de sair do sistema prisional. Por outro lado, muitos presos prefeririam deixar a vida de crimes, desde que tivessem oportunidades na vida. Assim, ao lado da aplicação de penas alternativas para quem cometeu crimes não violentos, é preciso resgatar para a sociedade milhões que hoje padecem nas prisões, e tornam-se cada vez menos aptos para o convívio social. Defendo, inclusive, a concessão de uma anistia aos presos mais jovens, que não praticaram crimes violentos, dando-lhes condições de recomeçar a vida. Ao invés de cadeia, é preciso que haja um amplo investimento social. É preciso que se retome o projeto de escolas em tempo integral, principalmente para a juventude das periferias brasileiras, dos bairros pobres, das favelas e dos morros. Investimento no programa Primeiro Emprego, lazer, educação, cultura, trabalho, saúde, saneamento básico, entre outras medidas que exigem investimentos financeiros de larga monta pelos governos. São investimentos que valem a pena, se queremos construir uma sociedade mais justa com os seus jovens. A PEC significa dizer às nossas crianças, sobretudo às pobres e negras, que a única perspectiva de vida que temos a lhes oferecer é a prisão. Pensem nisso, senhores parlamentares. *Presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB. *Artigo publicado no site UOL notícias


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Ricardo Rabelo Vergonha

A aprovação na Câmara dos Deputados do projeto de lei das terceirizações é um grande retrocesso na legislação trabalhista do país. A medida, se confirmada em votação no Senado, vai colocar os assalariados em situação de total fragilidade, já que o vínculo não será mais com a empresa em que trabalha, mas sim com a contratante terceirizada. Dezenas de empresas de fachada serão criadas para burlar as obrigações trabalhistas conquistadas com a CLT. É preciso que a população vá para as ruas pressionar o Congresso e exigir a derrubada do projeto.

Terceirização

Olha a contradição: Eduardo Cunha defende a terceirização, mas a mulher dele está na justiça contra a TV Globo, querendo ser reconhecida funcionária da emissora. Faz sentido?

nha maciça desfavorável promovida pela TV Globo e a Globo News. Nos recentes protestos da burguesia na Avenida Paulista, estas duas emissoras cobriram sistematicamente como se fosse uma final de Copa do Mundo. Foi um deboche de cobertura, com parcialidade total dos fatos e até mentiras, como a estimativa de público de 1 milhão de pessoas no protesto do dia 15/03. Uma pergunta que não quer calar: até onde acham que podem chegar? Assistiremos até quando a este show de desonestidade jornalística?

Protestos

Uma coisa é certa: os paulistanos que foram à Avenida Paulista debocharam da democracia, debocharam do Brasil! Um festival de autoritarismo e falta de educação! A maioria deveria voltar às salas de aula para aprender o significado da palavra democracia.

Protestos II

Mídia golpista

A melhor tradução da farsa midiática para tentar derrubar Dilma é a campa-

Repito nesta coluna: defender golpes de estado ou regimes totalitários deveria ser passível de processo criminal. O que não podemos é ver meia dúzia de derrotados

pregar a Ditadura e isso ficar assim mesmo. Defendo que quem prega autoritarismo deveria ser obrigado a assistir a aulas de “Democracia e Direitos Humanos” nas escolas e universidades. Muitos sequer sabem o que estão pensando e dizendo.

Enquanto isso...

tro do STF Gilmar Mendes pediu vistas ao projeto que proíbe financiamento empresarial de campanhas eleitorais. Sete ministros já votaram, sendo seis a favor da proibição do financiamento empresarial. Essa maioria é irreversível. O que pretende afinal esse senhor? É visível que ele é a favor que empresas continuem financiando o Congresso. No entanto, precisa ouvir seus pares que majoritariamente são contra.

Bem-vindo Wadih

Enquanto isso a presidenta Dilma governa. Foi notável seu desempenho na Cúpula das Américas no Panamá. Ela foi tratada com deferência pelos chefes de estado amigos. Na cúpula da BRICS, da qual o Brasil faz parte, o papel de Dilma tem sido decisivo. Nunca o Brasil foi tão respeitado no mundo. Que fique a lição para os pessimistas de plantão!

TV Bandeirantes

A TV bandeirantes se posicionou abertamente pela redução da maioridade penal. Chegou a dizer que “finalmente” a medida vai ser avaliada pelo Congresso. Mas que jornalismo é esse? A emissora precisa respeitar o público e manter imparcialidade na divulgação dos fatos.

Devolve Gilmar

Fez um ano que o minis-

Melhor notícia do ano: o advogado Wadih Damous, ex-presidente da OAB, vai assumir o mandato na Câmara dos Deputados. Votei nele e votaria de novo! Parabéns Wadih!

Sucessão presidencial

Em meio à crise política, pesquisa Datafolha divulgada em abril revela que se eleição para presidente fosse hoje Aécio teria 33% contra 29% de Lula. Para quem acha que o PT e o Lula estão acabados deve ter sido uma tremenda ducha fria.

Sucessão municipal

Defendo que o campo progressista saia com um candidato único à sucessão

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do prefeito Eduardo Paes. O ideal é que seja lançado alguém neutro que consiga aglutinar a esquerda. Um dos nomes que eu gostaria de ver disputando seria o do coordenador da Anistia Internacional no Brasil, o sociólogo Atila Roque. Ao sondá-lo sobre seu nome,

Atila me mandou esta mensagem: “Obrigado Ricardo, mas tenho pouquíssima ou nenhuma vocação para político profissional. E nenhum trânsito ou vinculação partidária. Além do mais, isso colocaria em questão todo o esforço de independência que venho construindo para a Anistia Internacional. Acho que tornar a Anistia cada vez mais forte e inclusiva seja a minha maior e melhor contribuição no momento. Mas muito obrigado pela confiança, conta muito o seu reconhecimento, acredite”.

Desmatamento na Amazônia

Esta notícia quase passou despercebida: o desmatamento na Amazônia caiu 80% em oito anos. Infelizmente esta manchete apareceu escondida quase no rodapé de O Globo online da sexta 17/03.

Galeano

A América Latina perdeu este mês Eduardo Galeano, uma das figuras pensantes mais lúcidas do campo progressista. Fica aqui a minha homenagem, e a do Bafafá, a ele. Que suas ideias iluminem muita gente.


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O suicídio do copiloto: expressão do niilismo da cultura pós-moderna? Leonardo Boff* O suicídio premeditado do co-piloto Andreas Lubitz da Germanwings levando consigo 149 pessoas, suscita várias interpretações. Havia seguramente um componente psicológico de depressão, associado ao medo de perder o posto de trabalho. Mas para chegar a esta solução desesperada de, ao voluntariamente pôr fim a sua vida, levando consigo outros 149, implica em algo muito profundo e misterioso que precisamos de alguma forma tentar decifrar. Atualmente este medo de perder o emprego e viver sob uma grave frustração por não poder nunca mais realizar o seu sonho, leva a não poucas pessoas à angústia, da angústia, à perda do sentido de vida, e esta perda, à vontade de morrer. A crise da geo-sociedade está fazendo surgir uma espécie de “mal-estar na globalização” replicando o “Mal-estar na cultura de Freud”. Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores, angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjetividade e destruindo as relações familiares. Estima-se que no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas sofram este tipo de depressão, ligada às sobrecargas do trabalho. A pesquisadora Margarida Barreto, médica especialista em saúde do trabalho, observou que no ano de 2010 numa pesquisa ouvindo 400 pessoas, cerca de um quarto delas teve ideias suicidas por causa da excessiva cobrança no trabalho. Continua ela: “é preciso ver a tentativa de tirar a própria vida como uma grande denúncia às condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo nas últimas décadas”. Especialmente são afetados os bancários do setor financeiro, altamente especulativo e orientado para a maximização dos lucros. Uma pesquisa de 2009 feita pelo professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, apurou que entre 1996 a 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, excesso de tarefas e pavor do desemprego. A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas se suicidam diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro de 2011 denunciou que entre os motivos das greves de outubro na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava: “metrô, trabalho, cama”, atualizando-a agora como “metrô, trabalho, túmulo”. Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração do

processo produtivo no estilo ultra-acelerado norte-americano, introduzido na França. Estimo que, no fundo de tudo, estamos face à aterradoras dimensões niilistas de nossa cultura pós-moderna. O termo, niilismo, surgiu em 1793 durante a Revolução Francesa por Anacharsis Cloots, um alemão-francês e foi divulgado pelos anarquistas russos a partir de 1830 que diziam: “tudo está errado, por isso tudo tem que ser destruído e temos que recomeçar do zero”. Depois Nietzsche retoma o tema do niilismo, aplicando-o ao cristianismo que, segundo ele, se opõe ao mundo da vida. No após guerra, em seu seminário sobre Nietzsche, Heidegger vai mais longe ao afirmar, creio que de forma exagerada, que todo o Ocidente é niilista porque esqueceu o Ser em favor do ente. O ente, sempre finito, não pode preencher a busca de sentido do ser humano. Alexandre Marques Cabral dedicou dois volumes ao tema: ”Niilismo e Hirofania: Nietzsche e Heidegger” (2015) e Clodovis Boff três volumes sobre a questão do Sentido e do Niilismo. Em setores da pós-modernidade, o niilismo se transformou na doença difusa de nosso tempo, quer dizer, tudo é relativo e, no fundo, não vale a pena; a vida é absurda, as grandes narrativas de sentido perderam seu valor, as relações sociais se liquidificaram e vigora um assustador vazio existencial. Neste contexto, se retomam tradições niilistas da filosofia ocidental como o mito, citado por Aristóteles no seu Eudemo, do fauno Sileno que diz: ”não nascer é melhor que nascer e uma vez nascido, é melhor morrer o mais cedo possível”. Na própria Bíblia ressoam expressões niilitas que nascem da percepção das tragédias da vida. Assim diz o Eclesiastes: ”mais feliz é quem nem chegou a existir e não viu a iniquidade que se comete sob o sol” (4,3-4). O nosso Antero de Quental (+1860) num poema afirma: ”Que sempre o mal pior é ter nascido”. Suspeito que esse mal-estar generalizado na nossa cultura, contaminou a alma do copiloto Lubitz. Também pessoas que entram nas escolas e matam dezenas de estudantes em vários países e até entre nós, em 2011 no Rio na escola Tasso da Silveira quando um jovem matou mais de uma dezena de alunos, revelam o mesmo espírito niilista. Medo difuso, decepções e frustrações destruíram em Lubitz o horizonte de sentido da vida. Quis encontrar na morte o sentido que lhe foi negado na vida. Escolheu tragicamente o caminho do suicídio. O suicídio pertence à tragédia humana que sempre nos acompanha. Por isso, cabe respeitar o caráter misterioso do suicídio. Talvez seja a busca desesperada de uma saída num mundo sem saída pessoal. Diante do mistério calamos, pasmados e reverentes, por mais desastrosas que possam ser as consequências. *Teólogo, publicado no site www.leonardoboff.com


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Informe Publicitário

Cinco motivos para (des)comemorar os 50 anos da Globo (continuação da matéria de capa) 3 - A Globo viola os direitos humanos: luz, câmera, violação!

Todo esse patrimônio, em grande parte adquirido pelo mecanismo das concessões públicas dadas pelo Estado brasileiro, atua como organizador e difusor de ideais conservadores que criminalizam movimentos sociais e a juventude, estereotipam e discriminam mulheres, negros, indígenas e LGBTs, banalizam a violência, erotizam e mercantilizam precocemente crianças e adolescentes, reduzindo-os a consumidores, dentre outras inúmeras violações de direitos. 4 - A Globo é dona de uma linha editorial tendenciosa e de uma cobertura jornalística que privilegia os “amigos” da emissora.

Vale a pena ver de novo a cobertura que se esforçou para ignorar as Diretas Já, a ajuda à tentativa de fraude das eleições do Rio de Janeiro de 1982 para impedir a eleição de Leonel Brizola, a manipulação do debate das eleições presidenciais de 1989 para favorecer Fernando Collor. Mais recentemente a Rede Globo passou a ser questionada nas manifestações de rua que ocorreram em 2013 e nas que vêm ocorrendo ao longo deste ano.

A disparidade no enquadramento e no espaço dedicado à cobertura dos dois momentos políticos – as chamadas jornadas de junho e as manifestações de 2015 – são elementos importantes para se pensar a posição política do grupo econômico que detém a emissora. A TV Globo não disfarça o espaço e o apoio dado às manifestações contra o atual Governo Federal, usando sua cobertura jornalística inclusive para convocar tais manifestações, enquanto outras manifestações de movimentos sociais que lutam por mais democracia e mais direitos, têm pouco espaço em seus telejornais. 5 - A Globo corrompe e sonega A emissora dos Marinhos é acusada também de corrupção. O serviço de inteligência da Po-

lícia Federal detectou indícios de sonegação e auditou as contas da Globo. Em 2006, a empresa deixou de recolher impostos que, à época, com multa e correção, chegavam a R$ 615 milhões. Hoje, a dívida passa de R$ 1 bilhão. Além disso, vale lembrar outros episódios de corrupção como sua origem duvidosa no escândalo Time-Life (empréstimos irregulares de capital estrangeiros, proibido pela Constituição na época), o escândalo da NEC Brasil, quando a TV Globo comprou a maioria das ações dessa grande empresa de telecomunicações, depois de um descarado favorecimento do então Ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (ACM), que ganhou em troca o direito de retransmitir a programação da Globo em sua TV local na Bahia e a fraude cometida por Eduardo Cunha, quando Presidente da TELERJ, numa operação de R$ 92 milhões, sem licitação, beneficiando a mesma NEC Brasil (TV Globo). Por práticas como essa, o sistema Globo garante à família Marinho o patamar de mais rica do país com uma fortuna avaliada em US$ 28,9 bilhões.

Por outros 50 anos mais diversos, plurais, com respeito à liberdade de expressão e ao direito à comunicação. Por mais democracia na TV Globo.


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Quem tem medo do Lula? Emir Sader* A direita – midiática, empresarial, partidária, religiosa – entra em pânico quando imagina que o Lula possa ser o candidato mais forte para voltar a ser presidente em 2018. Depois de ter deixado escapar a possibilidade de vencer em 2014, com uma campanha que trata de colocar o máximo de obstáculos para o governo de Dilma – em que o apelo a golpe e impeachment faz parte do desgaste –, as baterias se voltam sobre o Lula. De que adiantaria ajudar a condenar a Dilma a um governo sofrível, se a imagem do Lula só aumenta com isso? Como, para além das denuncias falsas difundidas até agora, tratar de desgastar a imagem de Lula? Como, se a imagem dele está identificada com todas as melhorias na vida da massa da população? Como se a projeção positiva da imagem do Brasil no mundo está associada à imagem de Lula? Como se a elevação da autoestima dos brasileiros tem a ver diretamente com a imagem de Lula? Mas, quem tem tanto medo do Lula? Por que o ódio ao Lula? Por que esse medo? Por que esse ódio? Quem tem medo do Lula e quem tem esperanças nele? Só analisando o que ele representou e representa hoje no Brasil para entendermos porque tantos adoram o Lula e alguns lhe têm tanto ódio. Lula deu por terminados os governos das elites que, pelo poder das armas, da mídia, do dinheiro, governavam o país só em função dos seus interesses, para uma minoria. Derrotou o candidato da continuidade do FHC e começou uma serie de governos que melhoraram, pela primeira vez, de forma substancial, a situação da massa do povo brasileiro. Quem se sentiu afetado e passou a odiar o Lula? As elites políticas que se revezavam no

governo do Brasil há séculos. Os que sentiram duramente a comparação entre a formas deles de governar e a de Lula. Sentiram que o Brasil e o mundo se deram conta de que a forma de Lula de governar é a forma de terminar com a fome, com a miséria, com a desigualdade, com a pobreza, com exclusão social. Eles sofrem ao se dar conta que governar para todos, privilegiando os que sempre haviam sido postergados, é a forma democrática de governar. Que Lula ganhou apoio e legitimidade, no Brasil, na América Latina e no mundo justamente por essa forma de governar. Lula demonstrou, como ele disse, que é possível governar sem almoçar e jantar todas as semanas com os donos da mídia. Ele terminou seu segundo mandato com mais de 80% de referências negativas na mídia e com mais de 90% de apoio. Isso dói muito nos que acham que controlam a opinião publica e o pais por serem proprietários dos meios de comunicação. Lula demonstrou que é possível – e até indispensável – fazer crescer o país e distribuir renda ao mesmo tempo. Que uma coisa tem a ver intrinsecamente com a outra. Que, como ele costuma dizer, “O povo não é problema, é solução”. Dinheiro nas mãos dos pobres não vai pra especulação financeira, vai pro consumo, para elevar seu nível de vida, gerando empregos, salários, tributação. Lula mostrou, na pratica, que o Brasil pode melhorar, pode diminuir suas desigualdades, pode dar certo, pode se projetar positivamente no mundo, se avançar na superação das desigualdades – a herança mais dura que as elites deixaram para seu governo. Para isso precisa valorizar seu potencial, seu povo, elevar sua autoestima, deixar de falar mal do país e de elogiar

tudo o que está lá fora, especialmente no centro do capitalismo. Lula fez o Brasil ter uma política internacional de soberania e de solidariedade, que defende nossos interesses e privilegia a relação solidaria com os outros países da America Latina, da África e da Ásia. Lula foi quem resgatou a dignidade do povo brasileiro, de suas camadas mais pobres, em particular do nordeste brasileiro. Reconheceu seus direitos, desenvolveu políticas que favoreceram suas condições de vida e uma recuperação espetacular da economia, das condições sociais e do sistema educacional do nordeste. Lula é odiado porque deveria dar errado e deixar em paz as elites para seguirem governando o Brasil por muito tempo. Um ódio de classe porque ele é nordestino, de origem pobre, operário metalúrgico, de esquerda, líder máximo do PT, que deu mais certo do que qualquer outro como presidente do Brasil. Odeiam nele o pobre, o nordestino, o trabalhador, o esquerdista. Odeiam nele a empatia que ele tem com o povo, sua facilidade de comunicação com o povo, a popularidade insuperável que o Lula tem no Brasil. O prestígio que nenhum outro político brasileiro teve no mundo. A melhor resposta ao ódio ao Lula é sua consagração e consolidação como o maior líder popular da historia do Brasil. A força moral das suas palavras – que sempre tentam censurar. Sua trajetória de vida, que por si só é um exemplo concreto de como se pode superar as mais difíceis condições e se tornar um líder nacional e mundial, se se adere a valores sociais, políticos e morais democráticos. Quem odeia o Lula, odeia o povo brasileiro, odeia o Brasil, odeia a democracia. O Lula é a maior garantia da democracia no Brasil, porque sua vida é um exemplo de prática democrática. O amor do povo ao Lula é a melhor resposta ao ódio que as elites têm por ele. *Sociólogo e escritor, publicado no site Carta Maior (www.cartamaior.com.br)


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Os empresários e a democracia Mauro Santayana* Não existe liberdade econômica sem liberdade política, e o melhor regime para se empreender é a democracia. Isso demonstram os números da economia brasileira, na maior parte dos anos deste início de século, e fatos como o divulgado no início desta semana de que o Brasil acaba de conquistar, segundo o GEM - Global Entrepreneurship Monitor, o título de nação mais empreendedora do mundo. Ora, tanto a economia quanto a política, pressupõem o respeito a regras previamente estabelecidas, e a necessidade de que as disputas transcorram com um mínimo de estabilidade. O caos não interessa a quem emprega, a quem produz, a quem empreende, assim como não interessam o terrorismo, nem o boato, nem a distorção de fatos e de dados, nem interessa o pessimismo, que, como qualquer pessoa de bom senso pode perceber, são ótimos para os que desejam hipócrita e interessadamente a crise, e nefastos para quem precisa trabalhar e depende diretamente do clima e do humor do ambiente de negócios. Até agora, as principais entidades ligadas ao empresariado, como a CNI - Confederação Nacional da Indústria, a CNA - Confederação Nacional da Agricultura, e a CNC - Confederação Nacional do Comércio - a exemplo de outras organizações da sociedade civil, como a OAB - têm mantido prudente distância dos protestos que defendem o impeachment da Presidente da República e a delirante tese de uma “intervenção militar”. É preciso, portanto, prestar atenção, quando - em momento em que alguns de nossos maiores empresários estão sendo tratados como bandidos em meio a um inquérito que ainda está em curso, e suas empresas estão ameaçadas de quebra e de arrastar com elas dezenas, centenas de médias, pequenas e micro empresas, jogando milhares de brasileiros no olho a rua - formadores de opinião que circulam no meio empresarial começam a defender a quebra da normalidade política, e a lançar assustadores alertas ao público, na esteira de movimentos que não têm a menor possibilidade de sucesso, do ponto de vista da Legislação. Este é o escopo de artigo publicado na coluna de opinião de conhecido jornal paulista na semana passada, que compara o momento atual com a campanha das Diretas e a do impeachment de Collor. O autor, que trabalha com a organização de feiras e encontros empresariais, reconhece que não há “arcabouço técnico-jurídico” para um pedido de impeachment da Presidente da República. Mas diz que essa é uma discussão “para o Direito”. Que o dia 15 de março abriu novo marco na vida institucional. Saúda o surgimento de um tipo de cidadão com “apurada conscientização política”. Afirma que a vida política e institucional passou a ser banhada por “gigantesco lamaçal”. E conclui que a sociedade clama por uma “cirurgia rápida”, “antes que seja tarde”. Ora, é extremamente temerário relegar a lei, e o direito, a uma simples “discussão” para especialistas. Principalmente, quando se vive um momento em que milhares de cidadãos, justamente porque seu nível de informação e de “apurada conscientização política” é discutível, insistem cada vez mais em exigir medidas

que são tão improváveis, como impossíveis e absurdas, no marco da plena vigência do Estado de Direito. Como é temerário dizer que a política econômica do país se exauriu, quando continuamos com uma das mais baixas taxas de desemprego da história, com as reservas monetárias em um dos mais altos níveis - acima de 360 bilhões de dólares - a dívida interna líquida é a metade do que era há 12 anos, o PIB cresceu mais de quatro vezes, em dólar, desde 2002, e as principais agências de qualificação internacionais mantêm a nota do Brasil em Grau de Investimento, diante da solidez dos fundamentos nacionais na macro-economia.

Assim como é temerário, ou no mínimo extremamente seletivo, dizer que o país passou a ser tomado por um gigantesco lamaçal, como se nunca antes se houvesse praticado corrupção nesta República. Por acaso o Banestado, o Mensalão do PSDB, o Trensalão Paulista, a privatização do BANESPA e da Vale do Rio Doce, o caso das Termelétricas Merchant - muitos deles jamais investigados, ou, hoje, prescritos - estão, por obra e graça de alguns, ou de secretas indulgências papais, imaculadamente limpos e não fazem, moralmente, ou melhor, imoralmente, parte desse mesmo pântano e dessa mesma lama? Por acaso não é preciso investigar, com o mesmo rigor, casos como os do CARF, da Máfia das Próteses, do HSBC - que, como podemos ver, nos lembra a proclamação de que aquele que nunca pecou, deveria atirar a primeira pedra - ou vamos punir apenas o que ocorreu no âmbito da Petrobras? É cedo para fechar ciclos, até porque, se assim fosse, a atual Presidente da República não teria sido eleita, pela maioria dos brasileiros, ainda há menos de seis meses. Se pode argumentar que recentes pesquisas têm atribuído a Dilma Roussef popularidade extremamente baixa, da mesma forma que se pode contra-argumentar que, à mesma época de seu segundo mandato, a popularidade de Fernando Henrique Cardoso também estava em situação parecida, e que nem por isso ele foi extirpado, do poder, a qualquer preço. Assim como também é certo que petistas e outros opositores, naquele momento, pediram a saída do então Presidente da República, o que não foi alcançado, para o bem da democracia. Afinal, por mais que se esteja contra um governo, uma nação tem que ter regras e ritos - calendário eleitoral, sistema político estável e definido, leis que devem ser obedecidas. Nem um erro pode justificar o outro nem um país pode trocar de presidente, como um garçom - ou um “palestrante” acostumado com

palcos e encontros “empresariais” - troca de camisa. Se tivesse conseguido forçar um impeachment de Fernando Henrique - que passou a lei de reeleição no Congresso com manobras de “toma-lá-dá-cá” questionáveis, e praticou, no mínimo, um estelionato eleitoral cambial, deixando para desvalorizar o dólar logo após sua posse no segundo mandato como Presidente da Republica - o PT teria cometido, então, uma agressão à democracia, como estão fazendo, agora, aqueles que pretendem que Dilma saia do Palácio do Planalto “por qualquer meio”, e o “mais depressa possível”, como defendem, muitos, repetidamente, nos principais “portais” da internet. Finalmente, o apelo a uma solução “rápida e cirúrgica”, feita pelo autor, é a afirmação mais grave e perigosa. Ao empresariado brasileiro - aquele que produz e não o que vive de firulas - não interessa a quebra da ordem política ou institucional. Qualquer fator que possa favorecer a crise - e a atual tem sido em boa parte propositadamente forjada e constantemente realimentada junto à opinião pública pela turma do “quanto pior melhor” - pode atrapalhar, como já está atrapalhando, os seus negócios. Nesse caso, o melhor caminho não é o de se fazer “cirurgias” e “intervenções” de que não se pode adivinhar, com certeza, o que virá depois, mas, sim, voltar ao normal, antes que seja tarde. Afinal, o empresário que torce pela quebra da normalidade, está torcendo, em primeiro lugar, contra si mesmo. Ele deve, neste momento, se fazer as seguintes perguntas: Alguma coisa o está impedindo, a priori, de fazer negócios? De trabalhar ? De continuar operando com a sua empresa? A vida, à sua volta, está “normal” ou “anormal” ? Os problemas que está vivendo são de ordem estrutural, ou conjuntural, como sempre ocorreu nas “crises” que enfrentou antes? É melhor seguir adiante, ou apostar no imprevisível, no aleatório, no imponderável? Infelizmente, quando se quebra o ritmo natural das coisas, os tiros costumam sair pela culatra. Nos anos 1920 e 1930, na Alemanha, as ruas também se encheram de gente que não estava propensa a esperar as próximas eleições, pedindo que se mudasse tudo, que se enquadrasse o Parlamento, que se estabelecesse a “ordem” e o crescimento, que se punissem os corruptos, que se acabasse com certa parte do espectro político, que se reformasse o país para que do passado não sobrasse “pedra sobre pedra”. Quando as eleições vieram, elas votaram em Adolf Hitler, que pressionou de todas as formas até ser nomeado Chanceler do Reich, por Hindemburg. A “cirurgia” que se seguiu, que era para ser “rápida”, e “segura”, deixou, nos 5 anos que se seguiram, uma nação devastada e mais de 60 milhões de mortos em todo o mundo. Depois da ascensão do ridículo führer anti-semita e anticomunista ao poder, muitos empresários que o haviam apoiado e financiado, perderam, na Segunda Guerra, seus filhos e netos. Outros tiveram seus negócios ocupados por gente que tinham empurrado para a rua para derrubar o governo anterior. E muitos caíram em desgraça com os novos senhores da Alemanha, tomando, cabisbaixos, o rumo de Dachau, Bergen-Belsen, e de outros campos de concentração ou de extermínio. *Jornalista


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O império do consumo Eduardo Galeano*

A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar. O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo. Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos? A explosão do consumo no mundo atual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar. A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho. O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insônia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial. “Gente infeliz os que vivem a comparar-se”, lamenta

uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. “Quando não tens nada, pensas que não vales nada”, diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: “Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações”. Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald’s, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas. As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mais Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprado a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis do último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juros que este ou aquele banco oferece. Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados. As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário. A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias. Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas. Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura

desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. O shopping center, ou shopping mall, vitrine de todas as vitrines, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça. Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shoppings centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo. Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efêmera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta. *Jornalista e escritor uruguaio, falecido em abril de 2015. Fonte: Envolverde


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Qual a defesa da Petrobras? A maior empresa brasileira passa por um momento de crise. A conjuntura atual é de acirramento das disputas políticas e ideológicas do período pós-eleitoral, onde cada força política quer obter para si dividendos deste momento difícil. É fundamental, portanto, que tenhamos clareza de qual caminho seguir na defesa da Petrobras e no complexo cenário que se apresenta. A empresa foi vítima de um esquema complexo, constituído por um arranjo institucional construído desde a saída do país da ditadura civil-militar, quando o sistema politico-eleitoral, inclusive seu aparato legal, foi, aos poucos, privilegiando campanhas milionárias, exatamente como uma forma de excluir do processo os que não tinham dinheiro. Somente quem tinha na retaguarda de sua campanha fontes milionárias de financiamento passaram a ter viabilidade política. Tendo a Petrobras altíssima capacidade de investimento, movimentando uma quantidade enorme de contratos com dezenas de empresas que passaram a gravitar em sua volta, com uma circulação de bilhões de reais, os esquemas de financiamento de campanha foram aos poucos se instalando no interior de sua estrutura gerencial, patrocinados pelas forças políticas organizadas, no governo ou fora dele, mas com capacidade de indicação de pessoas que servissem de âncora para os esquemas corruptos. A defesa da Petrobras passa, portanto, pela desconstrução do atual arranjo político que somente elege quem tem dinheiro e exclui do parlamento (Câmara e Senado) os segmentos populares e suas representações politicas. Não é por acaso que temos o parlamento que temos e que os presidentes tanto da Câmara quanto do Senado são figuras emblemáticas e representativas dos esquemas descritos acima. Dentro deste sistema devidamente estabelecido, a direita, velha, nova ou reciclada, reina absoluta. Este quadro complexo que enfrentamos tem ainda outras complicações. A penalização das empreiteiras envolvidas coloca em risco a engenharia nacional com a possibilidade de perda do conhecimento acumulado por elas ao longo de décadas e a subsequente entrada de empresas estrangeiras para substituí-las. Isto para não falar no próprio futuro da empresa, sujeita a enormes restrições e que tem trazido significativo desemprego como subproduto. A defesa da Petrobras não pode ser reduzida a esquemas simplistas muito ao gosto das formas maniqueístas de fazer política como estamos assistindo na conjuntura atual. Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro

Impeachment... Para Gilmar Mendes No tiroteio generalizado em que se transformou a agenda política, é difícil identificar consensos. Assim funciona o jogo democrático formal. Até o momento em que uma maioria se estabeleça, seja nas urnas,

seja em tribunais. O Brasil assiste a um espetáculo digno das repúblicas

bananeiras de outrora. Há mais de um ano, por 6 a 1, o Supremo Tribunal Federal decidiu proibir o financiamento privado de campanhas. Rendeu-se ao óbvio: grandes empresas despejam milhões e milhões em siglas investindo no futuro --delas, é claro. Uma engrenagem sem fim, pouco importa o governo. Os números de doações eleitorais são eloquentes quanto à “democratização” deste financiamento. Tem para todo mundo, do PT ao PSDB, do PMDB ao PP, e assim por diante. Do Metrô de SP à Petrobras, de Furnas à Telemar, de Marcos Valério a Eduardo Azeredo. Sob a pressão legítima contra a corrupção institucionalizada, o STF resolveu tomar alguma providência. Ninguém garante, longe disso, que a limitação da promiscuidade entre empresas e candidatos possa ser estancada com uma canetada. Mas inibe, e a redução de danos é o máximo que um sistema como o nosso poderia almejar no momento. Mas, pelo jeito, nem disso estamos perto. O ministro Gilmar Mendes atenta abertamente contra a Constituição e o regimento do STF e decide, ditatorialmente, que pouco interessa a voz da maioria. Pede vistas de uma votação já decidida, faz campanha pública contra os pares e impede a aplicação de uma sentença praticamente julgada. A democracia formal reza que a cada um, cabe um voto. Na “gilmarocracia”, a cada um, ele, cabem todos os votos. O espantoso é observar o silêncio obsequioso do próprio Supremo, do Congresso, das instituições da sociedade civil em geral. Rápido no gatilho quando se trata de conceder habeas corpus para banqueiros graúdos, Gilmar se permite o desfrute de determinar o que pode ou não ser votado no tribunal: “Não podemos falar em financiamento público ou privado sem saber qual é o modelo eleitoral [...] Isso não é competência do Supremo, é do Congresso.” E ainda humilha os colegas: “O tribunal não servirá de nada se não tiver um juiz que tenha coragem de dar um habeas corpus, de pedir vista.” A história está cheia de exemplos de megalomaníacos. Idi Amin Dada, o ditador de Uganda, adorava se fantasiar de escocês enquanto massacrava opositores. Nero tocou fogo em Roma. Dispensável citar aquele austríaco tristemente famoso e os nossos generais-presidentes. Enquanto personagem histórico, Gilmar Mendes, claro, não está à altura de nenhum deles. Como disse Joaquim Barbosa antes de aderir ao panfletarismo eletrônico, o ministro Gilmar pensava que o país funcionava sob o jugo dos jagunços dele. Barbosa se foi. Gilmar e sua tropa ficaram. Enquanto isso, a oposição fala em derrubar Dilma porque ela resolveu se endividar para pagar em dia o Bolsa Família, programas de habitação e o seguro desemprego. Ricardo Melo, jornalista

Terceirização e barbárie O Projeto de Lei 4330, que institui a terceirização das relações de trabalho jogará por terra conquistas do mundo do trabalho desde a década de 30. Esse monstrengo acaba com a distinção entre atividade meio e atividade fim e viola uma série de princípios constitucionais. Como se sabe, o trabalhador terceirizado tem menos direitos do que

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aquele contratado diretamente pelo tomador de serviços. Significa devolver a classe trabalhadora à barbárie de antes da CLT. Parece que esse Congresso pretende deixar para as gerações vindouras um legado normativo maldito: redução da maioridade penal; privatização do pré sal; lei Moro; lei dos procuradores da república; PEC da Bengala; constitucionalização das doações empresariais às campanhas eleitorais, entre outros desatinos. Wadih Damous, ex-presidente da OAB

Pátria carcerária? A aprovação, na CCJ, da redução da maioridade penal dá bem uma mostra do que é a maioria do Congresso: reacionária, direitista, homofóbica e discriminatória. Pouco importa se estatisticamente os crimes praticados por crianças e adolescentes têm um baixíssimo percentual. É a irracionalidade que predomina, para atingir e criminalizar os nossos jovens pobres e negros. Está se criando uma legislação da vingança e é esse o legado que, parece, o Congresso Nacional quer deixar para a nossa juventude. A Presidenta Dilma defende que sejamos uma Pátria Educadora. Só que o Congresso, ao que tudo indica, prefere uma Pátria Carcerária. Wadih Damous

Gradeamento da Praça São Salvador A vereadora Leila do Flamengo perdeu o juízo ao propor ao prefeito Eduardo Paes o gradeamento da Praça São Salvador. O que a vereadora quer é isolar a praça para impedir a realização de eventos no local. Ela alega que tem recebido emails defendendo a iniciativa. A vereadora precisa entender que a medida é altamente antidemocrática, pois a praça antes de tudo pertence à cidade e não aos moradores em volta. Quando a praça estava abandonada, cheio de mendigos e assaltantes, Leila nada fazia em favor do local. Se mantiver essa posição, ela irá perder muitos votos. Quem viver, verá! Júlio Peralva, morador do Flamengo

Bafafá On Line A página do Bafafá no Facebook está com quase 12 mil seguidores. Nela você encontra uma agenda cultural da melhor qualidade, com eventos pouco divulgados na grande mídia. Confira agora e curta também: www.facebook.com/ bafafa.online

Doações O Jornal Bafafá agradece os leitores que contribuíram financeiramente para a circulação do jornal. Estamos abertos a novos apoios. Se você puder doar qualquer valor será muito bem-vindo. Não podemos permitir que a mídia conservadora continue falando sozinha numa cidade como o Rio de Janeiro.


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Curto Café: desafio ao capitalismo O Curto Café tem uma proposta que desafia o sistema capitalista. Localizado na sobreloja do Terminal Menezes Cortes, ele sugere apenas o preço mínimo de 50 centavos pelo café expresso. O interessante é que sequer tem caixa. O cliente escolhe o valor que vai pagar e deposita o dinheiro numa vasilha, pegando inclusive o troco. Para “sensibilizar” os frequentadores, os custos de operação do quiosque são expostos num quadro negro com as metas para cobrir as despesas. A ideia, ao invés de dar prejuízo, acabou dando certo. Está sempre cheio e a esmagadora maioria de clientes contribui com valores que podem chegar a R$ 10. É o caso do engenheiro Carlos Alexandre. “Venho pelo menos três vezes por semana e pago até R$ 5 pelo café. O clima é descontraído e o serviço rápido”, conta. O café servido no local vem de oito cidades do Espírito Santo. Quando o cliente chega, basta pedir o café ou capuccino e tomá-lo. Depois, paga-se o valor “desejado”. Curto Café Terminal Menezes Cortes – Sobreloja Rua São José, 35 – Centro Rio de Janeiro Informações: 98255-7424 / 98323-0183

Rio de Janeiro - Abril / 2015

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Bartman disputa Comida di Boteco O Bartman é um bar temático, localizado no Catete, em homenagem ao super herói Batman. A decoração é voltada para o personagem que encanta gerações e a casa tem trilha sonora dos anos 70 e 80. Destaque para bonecos da família de heróis, luminárias psicodélicas e cartazes na parede de clássicos de ficção científica. O bar está concorrendo ao Comida di Boteco, edição 2015, com o tira-gosto intitulado “Quarteto Fantástico” feito de contra-filé especial gratinado com gorgonzola, recheado com abacaxi e uma camada de queijo parmesão. O Bartman, que passou por uma reforma geral na cozinha, serve também deliciosos pratos no almoço preparados pelo cozinheiro de um renomado restaurante carioca. No cardápio, salmão com molho de maracujá, filé mignon ao molho de gorgonzola, feijoada, entre outros. Outro forte da casa são os petiscos: carne seca desfiada com aipim frito, batata frita com bacon e provolone, gurjão de frango e pastéis diversos. Boa pedida são as diferentes cervejas: Serramalte, Boêmia, Original, Heineken e Teresópolis. O bar é uma graça de lugar! Palavra do Bafafá! Bartman Rua Buarque de Macedo, 83 A – Catete – Rio de Janeiro Fone: 2558-6913 Funcionamento: de terça a sábado de meio dia às 23h, domingo de meio dia às 20h. Aceita cartões de débito e crédito

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