Ano 14 - Nº 115 - Maio 2015
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“O segredo do Bip Bip é amizade e boa música” Alfredo Jacinto Belo, o Alfredinho do Bar Bip Bip, sintetiza a alma carioca. Nascido no subúrbio de Santa Cruz, quando jovem estudou direito, abandonou e depois foi trabalhar com importação chegando a ter 22 funcionários até os anos 80. Ao contrário do que muitos pensam não foi fundador do Bip Bip, ele comprou o bar em 1984. Mas foi com ele que o local virou referência em samba e choro na Zona Sul do Rio de Janeiro e local preferido por gente de esquerda, jovens, intelectuais, músicos. Em entrevista ao Bafafá, Alfredinho demonstra que seu “mal humor” é muito mais ficção do que realidade pela simpatia e cordialidade. Com tiradas ácidas, marca de sua personalidade, fala sobre vários temas: primórdios do Bip Bip, política, música e os projetos sociais que coordena. Entre eles, a doação de 42 cestas básicas por mês para famílias pobres. “A minha utopia é que todo empresário impedisse que tivesse tantos pobres como hoje. A vida é curta, para que segurar tanto dinheiro?” Sobre o bar que dirige há 30 anos, não titubeia: “O segredo do Bip Bip é amizade e boa música”.
Nesta : Pag. 7 o ã Ediç Leonardo Boff Emir Sader José Maria Rabelo Ricardo Rabelo Felipe Santa Cruz Mauro Santayana Angela Carato Sérgio Ricardo Luis Pimentel
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Editorial Um personagem menor Procedente dos mais baixos porões da política fluminense, o deputado Eduardo Cunha, na falta de alguém melhor, foi transformado pela oposição e a Rede Globo em rutilante estrela nos céus de Brasília. A Globo, por exemplo, sempre lhe deu um tratamento mais do que benevolente, quase cúmplice. Ele assumiu gostosamente o papel de grande líder, que pelos seus próprios méritos jamais conseguiria, considerando até mesmo a possibilidade de chegar a presidente da República. Se Collor o foi, por que também não poderia ser? – pensou alto, com o ego superdimensionado pelos afagos oposicionistas. Mas quem é este estranho personagem, transplantado de uma hora para outra à ribalta da cena política nacional? Sua biografia é oblíqua e tortuosa, porém marcada por uma constante: a de um carreirista vagando bem próximo da delinquência. Só no Supremo Tribunal Federal correm 22 processos contra ele, entre os quais três inquéritos sobre possíveis crimes cometidos durante sua gestão à frente da Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro – CEHAB – nos anos de 1999 e 2000. Esses inquéritos referem-se à ordem tributária (evasão fiscal), à falsificação de documentos oficiais, durante julgamento pelo Tribunal de Contas do Rio, e a fraudes cometidas em contratos da CEHAB. Neste último caso, um de seus comparsas, Élio Fischberg, já foi condenado a três anos de prisão, pena convertida em multa de 300 mil reais. A investigação contra Cunha prossegue no Tribunal de Contas. Mas a biografia não para por aí. Em 2003, tornou-se alvo da acusação de achacar empresário do ramo de combustíveis.
Algum tempo depois, a deputada Cidinha Campos (PDT) denunciou na Assembleia Legislativa do Rio uma suspeitíssima transação entre ele e o megatraficante colombiano Juan Carlos Abadía, envolvendo a venda de uma casa em Angra dos Reis pelo valor de US$ 800 mil. Abadía era considerado o “Rei da Coca”, sendo um dos criminosos mais procurados do mundo, que pouco depois seria preso em São Paulo pela Polícia Federal e extraditado para os EUA. O deputado negou o negócio, mas Cidinha manteve a acusação, estranhando suas relações com tal tipo de bandido. E, mais recentemente, o nome do parlamentar apareceu no inquérito da operação Lava Jato, o que aliás, pelos seus antecedentes, não constituiu nenhuma surpresa. O doleiro Alberto Youssef o acusou de receber propina em um contrato de aluguel de navio-plataforma entre as empresas sul-coreanas Samsung e Mitsui e a Petrobras. A denúncia deu margem ao mandado de busca e apreensão nos arquivos da presidência da Câmara, ordenado pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot e autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teóri Zavaschi, em busca de documentos comprovadores da ação criminosa. A investigação continua em curso. Sua atuação no Congresso é caracterizada pela defesa dos grupos conservadores, como no episódio do projeto de terceirização, posto por ele a ser votado a toque de caixa. Esta suja biografia é bem mais longa e infelizmente não cabe no espaço de um simples artigo de jornal. Na verdade, nem mesmo se pode denominá-la de biografia. Mais apropriado seria chamá-la de prontuário, por tudo o que encerra de atos contra a sociedade.
Onde encontrar: Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas do Rio, São Paulo e BH, Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato dos Petroleiros, Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, Escola de Comunicação, Instituto de Economia, Instituto de Filosofia, Escola de Serviço Social, Escola de Música, Instituto de Psicologia, Fórum de Ciência e Cultura, Faculdade de Direito (UFRJ), UERJ, Departamento de Comunicação da PUC, Café Lamas, Fundição Progresso, Cordão da Bola Preta, Botequim Vaca Atolada, Livraria Leonardo da Vinci, Bar do Gomez, Bar do Serginho, Bar do Mineiro, Bar Santa Saideira, Banca do Largo dos Guimarães (em Santa Teresa), Padaria Ipanema, Casarão Ameno Resedá, Faculdade Hélio Alonso, Arquivo Nacional, Galeria Catete 228, Livraria Ouvidor (BH), Livraria Quixote (BH), Livraria Mineiriana (BH), Livraria Cultural Ouro Preto (Ouro Preto), Sindicato dos Engenheiros, Faculdade de Engenharia da UFRJ e Bar Bip Bip..
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As mentiras contra Dilma e seu governo José Maria Rabêlo* Possivelmente, nunca se tenha visto em nossa história recente uma campanha de mentiras tão grande como a que presenciamos contra a presidente Dilma e seu governo. A oposição, que até hoje não aceitou a derrota, mente 24 horas por dia, na tentativa de desgastá-los perante a opinião pública. Não apresentam nada de concreto, nenhuma crítica séria; só o palavreado vazio que em nada ajuda o debate político. Eu venho analisando algumas dessas falácias, como a mais usada por eles, a de que o Brasil está parado. É verdade que há uma diminuição da atividade econômica com relação aos governos de Lula e do anterior de Dilma, decorrente em sua maior parte da crise mundial que afeta praticamente todos os países. Mas daí a afirmar que o Brasil parou vai uma imensa distância. Os números são mais do que significativos. A Petrobras, apesar da violenta campanha que tem sofrido, amplia sua atividade tanto em terra quanto no mar. No pré-sal, sua produção alcançou 800 mil barris/dia, superando os maiores produtores do mundo nesse tipo de exploração. A estatal acaba de conquistar o principal prêmio da indústria mundial de óleo e gás, o OTC Award 2015, relativo a administração e tecnologia na indústria petrolífera. Segundo o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a próxima safra agrícola será 5% maior que a atual, ultrapassando os 200 milhões de toneladas. A Fiat inaugurou em Goiana, Pernambuco, uma de suas mais modernas fábricas de veículos.
O saldo das exportações brasileiras no mês de abril chegou a US$ 4,90 bilhões, quando as previsões eram de US$ 3 bilhões. Mas prossigamos. O faturamento dos supermercados cresceu 1,8% em 2014, devendo atingir 2% em 2015. A indústria farmacêutica teve uma elevação de 7,8% em seu faturamento no ano passado, enquanto as farmácias e drogarias acusaram um acréscimo de 12,8%, de acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). No setor de serviços, a indústria de cartões de crédito cresceu 14,8% em 2014, bem
acima do registrado em 2013; para este ano, a previsão é de um aumento de 12,5%. Mesmo no mercado imobiliário em retração no momento, há empresas que estão obtendo resultados muito favoráveis. É o caso da MRV Engenharia, a maior construtora e incorporadora do País, que experimentou um aumento de 14,4% no primeiro trimestre deste ano. Em acordo com a China e o Peru, será construída uma megaferrovia ligando o Atlântico ao Pacífico, que partirá do Porto de Açu no Estado do Rio,
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cruzando as principais regiões agrícolas brasileiras (MG, GO, MT, RO, AC) e abrindo um novo roteiro para a exportação de grãos e minérios destinados ao Oriente. O primeiro ministro Li Keqiang e um grupo de mais de 150 empresários chineses estão sendo aguardados em Brasília no dia 19, para concluir as negociações sobre sua participação na obra, que envolverá a soma de US$ 50 bilhões e que deverá ficar pronta em cinco anos. Tratarão ainda de outros negócios de importância para os dois países. Os trabalhos de transposição do Rio São Francisco desenvolvem-se intensamente e chegarão a 75% de seu total no fim do ano, devendo os outros 25% serem executados até 2016. E para terminar: conforme o presidente da FIEMG, Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Olavo Machado Júnior, que vem de chefiar uma missão de empresários aos EUA, existe no empresariado daquele país otimismo quanto à retomada de um maior crescimento de nossa economia. “Otimismo maior que o dos próprios brasileiros”, diz o líder industrial. Poderia enumerar outros dados para mostrar como mentem esses oposicionistas sem rumo, perdidos no tempo. Certamente, não é ainda o que desejamos, mas o País se move, muito mais do que se poderia esperar numa conjuntura de forte crise mundial. O resto é choradeira de maus perdedores, que ainda não se refizeram do desastre sofrido nas urnas. Em próximas edições, voltarei ao tema, abordando outros setores da realidade brasileira.
*Jornalista
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PSDB, Globo e Lava Jato: o trio que quer destruir a Petrobras Emanuel Cancella O governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, com apoio da Globo, tentou privatizar a Petrobrás. Na ocasião, a Globo, em campanha na mídia, comparou a Petrobrás a um paquiderme e chamou os petroleiros de marajás. O governo tucano também tentou, sem sucesso, mudar o nome da empresa para Petrobrax, para minimizar a ligação da empresa com a nação, através do “Brás”. FHC conseguiu quebrar o monopólio do petróleo. E queria mais! Não conseguindo privatizar a Petrobrás, dividiu a empresa em Unidades de Negócios, para vendê-la fatiada, mas só conseguiu vender 30% da REFAP (Refinaria do Rio Grande do Sul). Além de sucatear a empresa não realizando concursos públicos, Fernando Henrique também destruiu a indústria naval, pois com o argumento do menor preço mandou fabricar, no estrangeiro, navios, plataformas, sondas etc. Com isso, FHC fechou os estaleiros, os maiores da América latina, desempregando milhares de trabalhadores brasileiros. Como miséria pouca é bobagem, criando o REPETRO, lei que eximiu de impostos as exportações de máquinas e equipamentos, FHC também acabou com a indústria brasileira nesse setor, pois antes dele, por esforço da Petrobrás e do BNDES, 80% desses materiais eram fabricados no Brasil. Foi no governo de Fernando Collor que começou e depois FHC deu continuidade, a privatização do setor petroquímico e de fertilizantes.
Quando assumiu o governo, Lula tornou a REFAP novamente 100% Petrobrás. Lula afastou também o perigo de privatização, desfazendo a venda das Unidades de Negócios; retomou os concursos públicos, acabando com o sucateamento e recompondo o seu corpo técnico. Esses petroleiros, em 2006, desenvolveram tecnologia inédita no mundo propiciando a descoberta do pré-sal. O governo petista retomou o setor petroquímico, o mais lucrativo da indústria do petróleo, através do Comperj, e o de fertilizantes, através da Fafen e outros. Lula retomou a indústria naval: navios, plataformas e sondas voltam a ser fabricadas no Brasil. Com a lei de Partilha, 12.351/10, Lula retoma parte importante do controle do petróleo e garante o conteúdo local. A indústria brasileira, através desse dispositivo, vai produzir parte considerável dos materiais e equipamentos para esse setor, gerando impostos para os governos e emprego e renda de qualidade para os brasileiros. A lei garante também a Petrobrás como única operadora do pré-sal. A partilha obriga o mínimo 30% de participação para a Petrobrás, nos campos do pré-sal; e a União continua a ser dona do petróleo e o pagamento tem que ser feito em óleo. Na lei 9478/97 de FHC, que quebrou o monopólio e introduziu as concessões, a União recebia participação nos leilões em dinheiro e o arrematador virava dono do petróleo. A lei da Partilha, infelizmente, só vale para o pré-sal! A operação Lava Jato da Policia Federal tem o mérito
de, pela primeira vez na história deste país, prender corruptos e corruptores e confiscar seus bens. A base dessa investigação é a delação premiada, lei sancionada no governo Dilma. A operação, entretanto, peca pela seletividade dos investigados, pois só direciona as investigações nos membros do PT, partido da presidenta Dilma. Pergunta que não quer calar: se prendeu o tesoureiro do PT por que não os do PSDB, PMDB, PP já que todos esses também foram citados na delação premiada e só o tesoureiro do PT está preso? O que coloca o chefe da operação, juiz Sérgio Moro em suspeição entre outras alegações, é de que sua mulher Rosangela Wolff de Quadros Moro é advogada do PSDB no Paraná. Será esse o preço para não prender o tesoureiro tucano? E não é só isso. Dois delegados que compõem a operação Lava Jato fizeram campanha, através de um blog, para o candidato Aécio Neves (PSDB) e chegaram a postar em página que Lula e Dilma seriam “antas”. E tem mais, a delação premiada só vale no final do processo, com o trânsito em julgado, mas estão usando-a, o tempo todo, como verdade absoluta, para atingir pessoas ligadas ao partido do governo, com a finalidade de fragilizar a Petrobrás. Como cereja desse bolo de relações promíscuas, a Globo ainda elegeu Moro a personalidade do ano..
SENGE-RJ participa de entrega de casas
Emanuel Cancella é presidente do Sindipetro-Rj e da FNP.
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70 residências foram construídas em sistema de mutirão na Colônia Juliano Moreira Representantes do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) participaram, na última sexta-feira (01/05), da entrega dos certificados de conclusão da obra do empreendimento imobiliário Cooperativa Esperança, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Coordenado pelo Movimento União Nacional por Moradia Popular (UNMP), este foi o primeiro Projeto de Mutirão no âmbito do Programa Minha Casa, Minha Vida - Entidades no Rio de Janeiro. Setenta famílias foram beneficiadas e vão se tornar proprietárias de suas casas através de um contrato coletivo. “O Senge-RJ sempre apoia movimentos populares. Com a UNMP, em especial, temos ajudado viabilizando a participação em eventos e abrindo as portas do sindicato para reuniões. Para nós é importante ver o resultado desse movimento, ver que ele alcançou seu objetivo. Mostra que o sindicato fez certo quando resolveu colaborar. Esse é o Brasil que deu certo!”, declarou o engenheiro Luiz Antônio Cosenza, um dos representantes do Senge-RJ. O coordenador do UNMP Cláudio da Silva Pereira explicou que as casas foram construídas em sistema de mutirão e autogestão. O empreendimento teve 95% de subsídio do Programa Minha Casa, Minha Vida - Entidades, que suporta iniciativas de habitação popular autogestionadas a preços acessíveis e que estejam associadas com organizações não governamentais. Cada residência custou R$ 42 mil, e os moradores terão até 10 anos para pagar. “É uma alegria muito grande ver essas casas prontas, ver que tudo deu certo. É gratificante ver que uma pessoa que antes morava em uma área de risco ou em um lugar impróprio realizou seu sonho da residência própria”, disse Pereira. Para o coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) Marcelo Braga Edmundo, a finalização das obras do empreendimento imobiliário Cooperativa Esperança mostra a força da organização popular. Ele ressaltou que é preciso dar visibilidade a essa conquista. “Acompanhei toda a caminhada dessas 70 famílias. Foram 15 anos de resistência, e, finalmente, essas casas estão de pé. Isso mostra que o povo, com luta e perseverança, pode construir a sua história de forma concreta. Todo mundo tem que conhecer essa experiência, pois evidencia que realmente tem como se organizar e moldar o nosso destino”, enfatizou Braga, explicando que projeto semelhante está sendo realizado no bairro da Gamboa, no Centro.
Por Viviane Romero Casas: cooperação mútua e dedicação No modelo de autogestão os recursos disponíveis para a construção das moradias são repassados diretamente para entidades formadas pelos próprios moradores e movimentos sociais, que têm a possibilidade de administrar toda a obra desde a elaboração do projeto. No empreendimento imobiliário Cooperativa Esperança boa parte da obra foi executada pelos futuros moradores, em sistema de mutirão, o que barateou as construções. Cerca de 80% da força de trabalho dos mutirões foi composta de mulheres. A agente comunitária Neide Belém Matos, de 54 anos, é uma integrante do grupo. Ela conta que participou de todos os processos de construção e teve que aprender a lidar com material de obra. “No começo não sabia a diferença de uma maqueta e de uma furadeira. Mas com o tempo comecei a aprender a fazer cada coisinha, umas bem, outras nem tanto. Assim o sonho foi sendo realizado. Passamos de uma proposta para uma realidade. Isso aqui não é uma casa, é um troféu. Agora é só entrar e ser feliz”, comemorou a agente comunitária, que vai morar com o filho de 14 anos. A auxiliar de serviços gerais Marlene dos Santos Lopes também colocou a mão na massa. Ela exercia a função de tesoureira da Cooperativa Esperança e nos finais de semana trabalhava na obra. “Tinha que examinar todas as cotações, liberar o dinheiro, fazer as contas. Foi muito cansativo, mas valeu a pena. Hoje, vendo a minha casa, tenho a certeza que tudo aconteceu da maneira certa. Minha família vai ser muito feliz aqui”, desabafou. Para o futuro a Cooperativa Esperança pretende construir um centro comunitário. O local servirá de ponto de encontro para reuniões e entretenimento. O Programa O Programa Habitacional Popular – Entidades – Minha Casa, Minha Vida objetiva tornar acessível à moradia para a população cuja renda familiar mensal bruta não ultrapasse a R$ 1.600,00 (mil e seiscentos reais), organizadas em cooperativas habitacionais ou mistas, associações e demais entidades privadas sem fins lucrativos visando a produção e aquisição de novas habitações. O Programa atende pessoas físicas por meio de concessão de crédito com desconto variável de acordo com a sua capacidade de pagamento, sujeitos ao pagamento de prestações mensais, pelo prazo de 10 anos, correspondentes a 10% da renda familiar mensal bruta do beneficiário, ou R$ 50,00, o que for maior.
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Ricardo Rabelo Alberto Youssef
Concordo inteiramente com o ex-presidente Lula que criticou duramente a delação “premiada” do doleiro Alberto Youssef. Como pode um cidadão acusar sem provas não só Lula como a própria presidente Dilma? Para Lula é uma pena que parte da imprensa brasileira venha tratando bandidos como heróis. O doleiro é um criminoso reincidente com oito condenações. Um show de denúncias sem sustentação alguma. Suficientes para ganhar ampla cobertura nas mídias de direita, principalmente a TV Globo e a revista Veja. Volto a afirmar: nenhuma denúncia conseguiu até agora respingar em Lula e Dilma. Se chegar, serei o primeiro exigir apuração completa. É visível, no entanto, que o objetivo é minar a credibilidade deles. A história dirá!
Eduardo Cunha
O país virou refém do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Usando todo tipo de expediente, este senhor faz o
que quer, principalmente para prejudicar a presidente Dilma. Sua atitude virou quase que uma obsessão. A última deste personagem execrável é tentar mudar a lei e impedir a recondução ao cargo do Procurador Geral da República Rodrigo Janot. Isso em causa própria já que o procurador investiga sua suposta chantagem contra uma empresa no caso da Petrobras.
Trajetória
O deputado Eduardo Cunha começou na política como tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor de Melo na eleição de 1989. Sua atuação é marcada por uma série de escândalos e polêmicas. Entre elas, quando presidente da Telerj, por suspeita de tratamento privilegiado a fornecedores e falhas na licitação para a edição de catálogos telefônicos. Ao dirigir a Cehab em 2000, foi afastado por denúncias de irregularidades em contratos sem licitação e favorecimento de empresas fantasmas. Mesmo assim, conseguiu eleger-se deputado e hoje ocupa o terceiro posto mais importante da República. Quem empregaria alguém com esta folha corrida? Infelizmente foi eleito com uma votação absurda, oriunda das camadas populares menos
informadas. Coisas da política!
Revolta
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fruto da utilização da tropa em ocupação de favelas. Qualquer nova turma de PMs formada vai para este fim. Acho que a distribuição da tropa deveria ser equitativa. O que não pode é a polícia sumir das ruas. Aí fica fácil demais para o bandido.
Enquanto isso...
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recebermos milhares de pessoas do mundo inteiro. Vai ser um festival de crimes. Alô Pezão, Alô Dilma. Vocês precisam ter mais carinho com a segurança do Rio de Janeiro.
Brizola Herói da Pátria Enquanto a violência na cidade do Rio de Janeiro assusta a população, a política de segurança é um fiasco. Em alguns bairros da Zona Sul, idosos, mulheres e crianças têm de submeter-se a um “toque de recolher” depois da oito horas da noite. Caso contrário, são as primeiras vítimas de assaltantes inescrupulosos. O mais revoltante é que a polícia sumiu das ruas. O patrulhamento precário é feito apenas em viaturas por soldados obesos que não conseguem correr 10 metros. O antigo e infalível policiamento a pé, em dupla, acabou. Uma pergunta que não quer calar? Aonde quer chegar quem faz o planejamento do policiamento? Eu mesmo respondo: ao caos total. Brevemente será difícil sair de casa a qualquer hora do dia!
Escassez de efetivo
Interessante é que basta ter um protesto político para aparecerem PMs de todos os lados. Recentemente vi uma cena patética: um protesto no Largo do Machado tinha mais policiais que manifestantes. Um verdadeiro mini-batalhão estava a postos para reprimir. É visível que o problema da segurança no Rio de Janeiro é o foco dos atuais gestores. A lógica é intolerância com eventos políticos e omissão com os bandidos. A situação é tão absurda que estes dias o secretário de segurança José Mariano Beltrame chegou a dizer que a PM não pode ser babá de pivetes. Segundo ele, a lei não permite prender pessoas por portar facas. Meu Deus! Quantos mortos serão necessários para que a segurança seja levada a sério?
Assustador
Uma coisa é clara. A falta de policiais nas ruas é
O mais assustador é que falta pouco mais de um ano para sediarmos os Jogos Olímpicos. Do jeito que está será um vexame
A Comissão de Educação Cultura e Esporte do Senado aprovou a inclusão do nome do ex-governador do Rio, Leonel Brizola, no livro Heróis da Pátria. A homenagem só é conferida aos brasileiros que prestaram excepcional serviço à nação. O projeto ainda precisa ser aprovado no Plenário do Senado para virar lei. Ele merece!
Distribuição Bafafá
O jornal Bafafá ganhou três novos pontos de distribuição: Sindicato dos Engenheiros, Faculdade de Engenharia da UFRJ e Bar Bip Bip. Se tiver sugestões de locais interessantes para distribuirmos o jornal escreva para bafafa@gmail.com
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Que nos dirão os nossos filhos e netos? Leonardo Boff* Todos os países, especialmente os que passam por crises financeiras, como é o caso do Brasil de 2015, são tomados por uma obsessão persistente: temos que crescer; temos que garantir o crescimento do PIB que resulta da soma de todas as riquezas produzidas pelo país. Crescimento econômico é fundamentalmente a produção de bens materiais. Ele cobra uma alta taxa de iniquidade social (desemprego e compressão dos salários) e uma perversa devastação ambiental (exaustão dos ecossistemas). Na verdade, deveríamos antes buscar um desenvolvimento integral que comporta elementos materiais imprescindíveis, mas principalmente, dimensões subjetivas e humanísticas como a expansão da liberdade, da criatividade e das formas de moldar a própria vida. Infelizmente somos todos reféns do crescimento. Há bastante tempo que o equilíbrio entre crescimento e preservação da natureza foi quebrado em favor do crescimento. O consumo já supera em 40% a capacidade de reposição dos bens e serviços do planeta. Ele está perdendo sua sustentabilidade. Sabemos hoje que a Terra é um sistema vivo autoregulador no qual todos os fatores se entrelaçam (teoria de Gaia) para manter sua integridade. Mas ela está falhando em sua autoregulação. Dai as mudanças climáticas, os eventos extremos (vendavais, tornados, desregulação dos climas) e o aquecimento global que nos pode surpreender com graves catástrofes. A Terra está tentando buscar um equilíbrio novo subindo sua temperatura entre 1,4 e 5,8 graus Celsius. Acima de 2 graus Celcius começaria então a era das grandes devastações (o antropoceno) com a subida do nível dos oceanos afetando mais da metade da humanidade que vive em suas costas. Milhares de organismos vivos não teriam tempo suficiente para se adaptar ou mitigar os efeitos danosos e desapareceriam. Grande parte da própria humanidade, em até 80% segundo alguns, poderia não mais poder subsistir sobre um planeta profundamente alterado em sua base físico-química. Afirma ambientalista Washington Novaes:“agora não se trata mais de cuidar do meio ambiente mas de não ultrapassar os limites que poderão pôr em risco a vida”. Cientistas há que sustentam: já nos acercamos do ponto de não retorno. É possível
diminuir a velocidade do aquecimento mas não de sustá-lo. Essa questão é preocupante. Em seu discursos oficiais, os chefes de estado, os empresários e, o que é pior, os principais economistas, quase nunca abordam os limites do planeta e os constrangimentos que isso pode trazer para a nossa civilização. Não queremos que nossos filhos e netos, olhando para trás, nos amaldiçoem e toda a nossa geração que sabíamos das ameaças e nada ou pouco fizemos para escapar da tragédia. O erro de todos foi seguir ao pé da letra o conselho estranho de Lord Keynes para sair da grande depressão dos anos trinta: ”Durante pelo menos cem anos devemos simular diante de nós mesmos e diante de cada um que o belo é sujo e o sujo é belo porque o sujo é útil e o belo não o é. A avareza, a usura, a desconfiança devem ser nossos “deuses” porque são eles que nos poderão guiar para fora do túnel da necessidade econômica rumo à claridade do dia… Depois virá o retorno a alguns dos princípios mais seguros e certos da religião e da virtude tradicional: que a avareza é um vício, que a exação da usura é um crime e que o amor ao dinheiro é detestável” (Economic Possibilities of our Grand-Children). Assim pensam os responsáveis da crise de 2008, verdadeiros criminosos que deveriam estar na cadeia. É urgente redefinir novos fins e os meios adequados a eles que não podem mais ser simplesmente produzir, devastando a natureza e consumir ilimitadamente. Ninguém detém a fórmula de saída desta crise civilizacional. Mas suspeitamos que ela deve se orientar pela sabedoria da própria natureza: respeitar seus ritmos, sua capacidade de suporte, dar centralidade não ao crescimento mas à sustentação de toda vida. Se nossos modos de produção respeitassem os ciclos naturais seguramente teríamos o suficiente para todos e preservaríamos a natureza da qual somos parte. Cobrimos as chagas da Terra com esparadrapos. Remendos não são remédios. Praticamente nos restringimos a esses remendos na ilusão de que estamos dando uma resposta ás urgências das questões que nos afetam de vida ou de morte. *Teólogo e escritor, publicado no site https://leonardoboff.wordpress.com
O que o golpe e a ditadura representaram para o Brasil Emir Sader* O Brasil vinha de três décadas de construção de um projeto nacional de desenvolvimento com distribuição de renda e de menos de duas décadas de democratização política, quando o golpe militar de 1964 rompeu com essas duas vertentes e instalou uma ditadura militar e um modelo econômico de superexploração do trabalho, de concentração de renda, de consumo de luxo e de exportação. Foi um movimento promovido pelo grande empresariado, pelo governo dos Estados Unidos, pela mídia nacional e internacional, com o apoio da Igreja católica. Em nome de uma suposta salvação da democracia que estaria em perigo – as marchas se chamavam Marcha com Deus, pela Familia e pela Liberdade -, instauraram a mais brutal ditadura que o Brasil já viveu. Foi uma virada radical na história brasileira. Interrompeu-se bruscamente a construção democrática e a de um projeto nacional e popular iniciado como Getúlio em 1930. Ao lado da repressão a tudo que lhes parecia democrático – partidos populares, sindicatos, mídia, universidades, Congresso, Judiciário, entre outros -, decretou-se de imediato o arrocho salarial. Porque não foi apenas uma ditadura política contra a democracia, foi também uma ditadura do grande capital contra a classe trabalhadora. Todos os sindicatos tiveram intervenção militar, aboliram-se as campanhas salariais, decretando-se assim uma lua-de-mel para as grandes empresas nacionais e estrangeiras, que tiveram o maior processo de acumulação concentrada de capital da história do Brasil em poucos anos. O arrocho salarial foi o santo do chamado “milagre econômico”. Saiu-se de um modelo industrializador com distribuição de renda, para um modelo baseado na superexploração do trabalho, no consumo de luxo e na exportação, com atração do capital internacional. A partir daquele momento, a desigualdade social, que historicamente caracterizava o Brasil, se acentuou como nunca. O arrocho recaiu também sobre os funcionários, públicos, deteriorando a quali-
dade dos serviços públicos. Vem daquele momento a passagem maciça da classe média da escola pública para a escola privada, assim como a extensão dos planos privados de saúde, em detrimento dos programas de saúde publica. O golpe e a ditadura representaram assim uma guinada radical da história brasileira na direção da ditadura e de um modelo econômico concentrador de renda. A repressão não se fez só contra a democracia, mas também contra a classe trabalhadora, permitindo o enriquecimento radical do grande empresariado nacional e estrangeiro. Foram destruídas as organizações populares, a imprensa democrática, os espaços educacionais autônomos, foi difundida uma ideologia de “segurança nacional”, de caráter totalitário, as informações foram censuradas e a sociedade não sabia o que estava acontecendo no pais. A repressão dizimou toda uma geração de jovens militantes, presos, torturados, executados. O Brasil nunca mais foi o mesmo desde então. A imagem do pais cordial, simpático, revelou que por trás disso havia uma hidra preparada para aprisionar o pais num regime de terror. Brasileiros foram capazes de cometer as mais atrozes formas de tortura contra outros brasileiros, em nome de uma ideologia de militarização do Estado e de extermínio de tudo o que pudesse ser obstáculo para seus objetivos. O Brasil saiu da ditadura machucado, ferido, ofendido, humilhado, impotente até para punir os assassinos da democracia e da dignidade nacional, pela anistia imposta pelos próprios torturadores. A democratização do pais foi um processo parcial, truncado, unilateral. O poder econômico, midiático, protagonista da ditadura, sobreviveu na democracia. Consolidar a democracia no Brasil hoje significa quebrar a hegemonia do grande capital especulativo sobre a nossa economia, dos monopólios privados sobre a formação da opinião pública, do financiamento privado sobre o processo eleitoral, do agronegócio sobre a agricultura brasileira. E construir definitivamente uma consciência democrática irreversível no pais, que impeça que aquela hidra assuste de novo ao Brasil. *Sociólogo, publicado no site Carta Maior (www.cartamaior.com.br)
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Alfredinho
Entrevista
Por Ricardo Rabelo
“O segredo do Bip Bip é amizade e boa música” Alfredo Jacinto Belo, o Alfredinho do Bar Bip Bip, sintetiza a alma carioca. Nascido no subúrbio de Santa Cruz, quando jovem estudou direito, abandonou e depois foi trabalhar com importação chegando a ter 22 funcionários até os anos 80. Ao contrário do que muitos pensam não foi fundador do Bip Bip, ele comprou o bar em 1984. Mas foi com ele que o local virou referência em samba e choro na Zona Sul do Rio de Janeiro e local preferido por gente de esquerda, jovens, intelectuais, músicos. Em entrevista ao Bafafá, Alfredinho demonstra que seu “mal humor” é muito mais ficção do que realidade pela simpatia e cordialidade. Com tiradas ácidas, marca de sua personalidade, fala sobre vários temas: primórdios do Bip Bip, política, música e os projetos sociais que coordena. Entre eles, a doação de 42 cestas básicas por mês para famílias pobres. “A minha utopia é que todo empresário impedisse que tivesse tantos pobres como hoje. A vida é curta, para que segurar tanto dinheiro?” Sobre o bar que dirige há 30 anos, não titubeia: “O segredo do Bip Bip é amizade e boa música”.
Confere que estudou direito?
Sim, até o terceiro ano. Desisti porque tinha muito burro na minha sala querendo chegar a delegado.
Como foi a decisão de realizar rodas de samba no bar?
A Cristina Buarque morava aqui do lado e frequentava o bar, chegando inclusive a me ajudar financeiramente. Ela e o Elton Medeiros, timidamente, aos domingos, começaram a fazer música. Ai o pessoal foi chegando, chegando. Por aqui passaram os maiores músicos de samba do país. Nunca paguei cachê. Seu pagasse acabava o Bip Bip. Primeiro que não posso cobrar de ninguém porque o espaço é aberto. Na Zona Sul o Bip Bip foi pioneiro em tocar samba. Não tem nenhuma casa como a nossa no Rio de Janeiro. O Bip acolhe sempre jovens em rodas de samba e choro. Essa garotada do Bip é de grande dignidade. Você não vê moleque no meio dela. Moleque aqui não se cria, vai procurar outro lugar.
O Bip Bip é apontado como a “Embaixada do Samba” no Rio?
Realizamos vários lançamentos de livros e CDs, shows e debates aos sábados sobre temas de interesse. O segredo do Bip Bip é amizade e boa
música. Tem muita gente que gosta até do meu esporro (riso). Vem para cá para tomar esporro. Mas, eu não sou mal humorado, eu fingo. É que se tu abre a retaguarda, é uma chatice. Tem hora que tu tem que se fechar, não é possível.
ajudado, pois tem sobrado dinheiro para completar. Casa cesta que eu dou custa R$ 140. Nós doamos também remédios. Para ajudar é simples. Na entrada do Bip Bip tem um latão para depositar o dinheiro. Pode ser qualquer valor.
A direita quer um 3º turno que não vai ter. Ela está querendo sacanear a Dilma para o sapo barbudo não vir em 2018. Foi horrível ver o Aécio durante a campanha xingando a Dilma. O que é isso? Uma falta de respeito. Em momento algum ele respeitou a presidente. Hoje o maior partido de direita no Brasil é a mídia. Acho que o Brasil vai melhorar muito com o Pré-Sal.
Chamo até gente de direita, mas ela não vem.
Como são os debates que proComo está vendo a conjuntura move no Bip Bip? política? Aos sábados promovemos debates.
E a conjuntura internacional?
Novos movimentos estão acontecendo na Grécia e na Espanha. Na França que é uma tristeza, né?
Como são seus projetos sociais?
Distribuo 42 cestas básicas por mês para famílias carentes. Para não ter atropelos marco hora, assim faço a distribuição tranquilo. Para comprar as cestas eu corro o chapéu, vendo livros, mas só isso não dá. Papai do céu tem me
O que acha do Papa?
Ela está relegada a um segundo planEsse Papa é um Papão! Eu me arrependo de não ter ido vê-lo quando esteve aqui. Esse homem vai mudar a história. Se não o matarem. O que ele está fazendo no Vaticano! Outro que eu admirava era Dom Helder Câmara. Pessoa digna.
Você tem religião?
Sou católico praticante e socialista. O irmão da minha mãe foi cônego e minha tia freira no Uruguai
Como resume o Rio de Janeiro?
Será que nós que viemos do subúrbio amamos mais o Rio de Janeiros que nossos governantes? Vou dar um exemplo aqui perto do Bip Bip. O res-
taurante Alcazar foi à falência. Não podia o poder público deixar de cobrar ICMS e outras taxas para evitar o fechamento? Estaríamos salvando uma relíquia do Rio de Janeiro. A verdade é que hoje para andar no Rio você está arriscado a cair. As ruas todas esburacadas. Me lembra o Fausto Wolff que falava: “Alfredo, o Rio está fedendo a merda”.
E a violência?
As favelas continuam sendo sacrificadas. Nós no asfalto não sofremos nada, só um roubinho aqui e ali.
Qual é seu conceito de vida?
Ser honesto em tudo na vida.
Você tem alguma utopia?
A minha utopia é que todo empresário impedisse que tivesse tantos pobres como hoje. A vida é curta, para que segurar tanto dinheiro? Tem que pensar no ser humano como um todo. Temos que torcer que o nosso país vá para frente. Eu sempre digo: amar o próximo é tão fácil. Se nos amássemos não teria racismo, preconceito. Cada um faz o que quer com sua vida, não é verdade? O papa falou uma vez: você já viu enterro com caminhão de dinheiro?
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Terceirização: a exceção virou regra Felipe Santa Cruz* Em poucas semanas, a Câmara dos Deputados votou, em regime de urgência, o controverso Projeto de Lei (PL) 4330/2004, que define as regras da terceirização no país e amplia a possibilidade deste tipo de contratação para estendê-la às atividades-fim. A questão, polêmica, altera profundamente a estrutura da relação patrão-empregado construída ao longo de quase um século, se tomarmos por base as primeiras leis trabalhistas de 1920, consolidadas nas décadas seguintes por Getúlio Vargas quando da criação da CLT e modernizadas pela atual Constituição. O texto da PL encontra-se agora na fase de revisão do Senado Federal, que – pelo constatado no noticiário político – deve imprimir também vertiginosa carreira em sua apreciação. De lá, será encaminhado para validação (sanção), ou não (veto), da Presidência da República - muito embora a condição de (hipotético) veto seja provisória e possa ser derrubada no próprio Congresso Nacional. Apesar dos acalorados debates no meio jurídico e das manifestações trabalhistas nas ruas, o fato irrefutável deste processo é que a PL 4330 – até então, estagnada por 11 anos no Congresso – caminha firme no caminho da regulamentação. E virá com boa dose de inconsistência jurídica. A mais notável é sua inconstitucionalidade, por não se alinhar ao artigo 7º da Constituição (Direitos e Garantias Fundamentais do Trabalhador). Sendo cláusula pétrea (indisponível, portanto) da garantia dos direitos sociais, o artigo contém itens só alteráveis, ou relativizados, mediante nova Constituinte. Um projeto de lei não tem força para tanto.
Em nota pública, o Conselho Federal da OAB (por intermédio de sua Comissão Especial de Direito Sindical) elencou ainda uma série de graves afrontas à valorização do trabalho humano e à relação do emprego bilateral, institutos consolidados nos artigos 6º, 7º, 8º e 170º de nossa Carta Magna. Neste cenário, litigioso já em seu nascedouro, desenha-se também um aumento na sobrecarga da Justiça do Trabalho, na qual as queixas trabalhistas irão se avolumar, ameaçando a já morosa capacidade de resolução de processos do Judiciário, talvez ao ponto da paralisia. Fruto da economia globalizada, a terceirização cresceu nos anos 1980 graças às facilidades que proporciona na contratação de mão de obra em atividades-meio, substancialmente nas áreas de apoio (transporte, alimentação, segurança, manutenção, TI etc). Ou seja, aquelas não ligadas ao core business da empresa. Um hospital não funciona apenas com médicos, enfermeiros e técnicos, precisando recorrer diariamente aos serviços periféricos, tais como limpeza, coleta seletiva de resíduos, brigada de incêndio, vigilância, entre outros. Para muitos, a terceirização é um modo produtivo que veio para ficar, a despeito dos altos níveis de precarização que traz à dinâmica trabalhista (salários menores, aumento da carga de trabalho e nos índices de acidentes). Não é de hoje, portanto, o anseio das correntes jurídico-trabalhistas pela elaboração de lei nacional que não só regulasse às funções do setor - em substituição ao Enunciado 331, do Tribunal Superior do Trabalho (no momento,
o único marco legal a fundamentar a prática) – como também trouxesse mais garantias ao prestador de serviços. E uma Lei regulamentando a terceirização deveria partir, em tese, da premissa desta natureza, sempre atuando como suporte secundário, sem intervir na atividade-fim. Acontece que o texto do PL 4330 inverte e desequilibra esta dinâmica, transformando em regra o que deveria ser exceção. Ao permitir um aprofundamento da mão de obra terceirizada em todos os níveis de atividade de uma empresa, a norma alastra os riscos da precarização, colocando em cheque a relação entre o patrão e empregado assegurada pela CLT. Afinal, terceirizar é vender o trabalho de outrem por meio de um intermediário que se apropria do pagamento dos salários sem a necessidade de garantir a amplitude do leque dos direitos trabalhistas. Casos extremos acontecem no Brasil e em diversas partes do mundo, sendo a China um expoente negativo. Também será um grande desafio implantar a terceirização em atividades-fim nas quais é alto o grau de pessoalidade entre o profissional e o público alvo. Elos de confiança como os encontrados, por exemplo, entre médico e paciente ou professor e aluno, são construídos através do tempo e do convívio. Como se dará a evolução interpessoal, prioritária, seja no tratamento de doentes, seja na alfabetização de estudantes, diante da impossibilidade da estabilizar estes postos? Pelo mesmo princípio, como manter a expertise de técnicos de uma empresa? É necessário refletir sobre o impacto desta lei, que se fará sentir na vida de grande parte dos 90 milhões de brasileiros em postos de trabalho. A velocidade e a condução da aprovação do PL validam a força de resolução do atual quadro congressista. Mas não atendem ao clamor social. *Presidente da OAB/RJ
A disputa do Pré-Sal Mauro Santayana* Os jornais voltam a anunciar que se discute, dentro e fora do governo, o fim da atuação da Petrobras como operadora exclusiva do pré-sal, com fatia mínima de 30%. Alegam, entre outras coisas, seus adversários que seria inviável para a Petrobras continuar a explorar o petróleo do pré-sal com a baixa cotação atual do barril no mercado global, quando a produção oriunda dessa área cresceu 70% em março e se aproxima de 500 mil barris por dia. Ora, se a Petrobras, que acaba de ganhar (pela terceira vez) o maior prêmio da indústria internacional de exploração de petróleo em águas marinhas, o OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, nos EUA, justamente pelo desenvolvimento de tecnologia própria para a extração do óleo do pré-sal em condições extremas de profundidade e pressão, estaria tendo prejuízo na exploração desse óleo, porque as empresas estrangeiras, a quem se quer entregar o negócio, conseguiriam ter lucro como operadoras, se não dispõem da mesma tecnologia? Se a Petrobras explora petróleo até nos Estados Unidos, em campos como Cascade, Chinook e Hadrian South, onde acaba de descobrir reservas de 700 milhões de barris, em águas territoriais norte-americanas do Golfo do México, porque tem competência para fazer isso, qual é a lógica de abandonar a operação do pré-sal em seu próprio país, onde pode gerar mais empregos e renda com a contratação de serviços e produtos locais, e o petróleo é de melhor qualidade? A falta de sustentação dessa tese não consegue ocultar seus principais objetivos.
Se quer aproveitar uma “crise” da qual a empresa sairá em poucos meses (as ações com direito a voto já se valorizaram 60% desde janeiro; o balanço foi apresentado com enormes provisões para perdas por desvios de R$ 6 bilhões, que delatores “premiados”, cuja palavra foi considerada sagrada em outros casos, já negaram que tenham ocorrido; a produção e as vendas estão em franco crescimento) para fazer com que o país recue no regime de partilha de produção, de conteúdo nacional mínimo, e na presença de uma empresa nacional na operação de todos os poços, para promover a entrega da maior reserva de petróleo descoberta neste século para empresas ocidentais, como a Exxon, por exemplo, que acaba de perder, justamente para a Petrobras, o título de maior produtora de petróleo do mundo de capital aberto. Como ocorreu na década de 1990, se cria um clima de terror para promover a entrega de uma das últimas empresas sob controle nacional ao estrangeiro. Enquanto isso não for possível, procura-se diminuir sua dimensão e importância, impedindo sua operação na exploração de reservas que são suas, por direito, situadas em uma área que ela descobriu, sozinha, graças ao desenvolvimento de tecnologia própria e inédita e à capacidade de realização da nossa gente. *Jornalista, publicado no site http://www.maurosantayana.com
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As elites brasileiras e o ódio à democracia Ângela Carrato Nunca antes na história do Brasil a indicação do nome de um jurista para integrar o Supremo Tribunal Federal (STF), a suprema corte brasileira, movimentou tanto o meio político e despertou tamanho ódio nas elites. As quase 12 horas de sabatina que o jurista Luiz Edson Fachin foi submetido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na terça-feira (12/05), não foram nada se comparadas à campanha de mentiras e difamações que enfrentou na mídia (revista Veja à frente) e pelas redes sociais nas últimas semanas. Campanha à qual pode se somar a própria aprovação, pelo Congresso Nacional, da chamada PEC da “bengala”, que elevou de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsória dos ministros do STF, dos tribunais superiores e do Tribunal de Contas da União. Aparentemente, o rigor desta sabatina e a aprovação da PEC da “bengala” não teriam nada demais se não fosse o quê encobrem: manter a democracia brasileira dentro dos estreitos limites que as elites nacionais consideram aceitáveis. Estes limites ficam visíveis quando se observa o teor das críticas e difamações de que Fachin tem sido alvo. Aos olhos das elites brasileiras, ainda é inconcebível que um juiz possa considerar os despossuídos (Sem-Terra) como cidadãos e, como tal, detentores de direitos, especialmente em se tratando de um juiz do STF. Aos olhos destas mesmas elites, quaisquer referências não criminalizantes à luta dos trabalhadores são sinais “evidentes” de comunismo. Ou, pior, ainda, de bolivarianismo. Foi exatamente de “comunista” e “bolivarianista” que Fachin foi “xingado” pelos integrantes do movimento criado, nas redes sociais, para combater o indicado pela presidente Dilma Rousseff para o STF. Não satisfeito, este movimento chegou ao ridículo de dizer que o conceituado jurista e professor titular da Universidade Federal do Paraná é “defensor da poligamia”. Seria cômico se tais ataques não retrocedessem o debate nacional há, pelo menos, cinco décadas, quando “fervorosas” senhoras ganharam as ruas e avenidas das principais capitais nas marchas “da Família, com Deus pela Liberdade”, de triste memória. Marchas que visavam derrubar um governo democraticamente eleito e tinham o apoio dos Estados Unidos e da CIA como se soube depois. Em 1964, segundo estas elites, quem queria introduzir o comunismo no Brasil era o rico proprietário rural João Goulart, que chegou à presidência da
República após a renúncia de Jânio Quadros. Agora, quem é acusada de querer comunizar o país é a presidente Dilma Rousseff, seguindo os passos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ideário do PT, partido ao qual pertencem. Lula, Dilma e o PT nunca foram comunistas! O que pretendem - e as atrasadas elites brasileiras não percebem - é dinamizar o capitalismo local, numa linha ainda bastante tímida em relação ao que foi feito no pós-segunda guerra mundial na Europa e nos Estados Unidos e que atende pelo nome de welfare state. Foram estas políticas que desenvolveram sólidos mercados internos naqueles países e levaram suas economias a crescimentos
sustentáveis. Política que prevaleceu até o final da década de 1970, antes das vitórias dos conservadores Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Na última década, o Brasil superou uma série de mazelas . Saiu do mapa da fome, criou um mercado interno de massa, distribuiu renda através dos programas sociais como o Bolsa Família e do reajuste do salário mínimo acima da inflação, além de ter melhorado significativamente os índices da educação nacional. Medidas que as elites entendem como sendo apenas “dificuldades” para encontrar mão de obra barata, a mão de obra semiescrava à qual estavam acostumadas. Como assinalava Raimundo Faoro, as elites brasileiras sempre sonharam com um país para apenas 30 milhões de pessoas. Daí se sentirem tão incomodadas com aeroportos cheios e os filhos da empregada na mesma faculdade que os seus. Como o voto popular vem se mostrando desfavorável aos candidatos conservadores - que o diga as quatro seguidas derrotas experimentadas pelo PSDB para a presidência da República - a solução tem sido apelar para a porção conservadora do Poder Legislativo e do STF. Câmara dos Deputados e Senado nas mãos de
Eduardo Cunha e Renan Calheiros são, sem dúvida, sinais de dores de cabeça para a presidente Dilma Rousseff, mas representam, sobretudo, um retrato das elites brasileiras. O que dizer de elites que bradam contra a corrupção, mas não movem uma palha para que seja viabilizada a tão necessária e urgente reforma política? Não por acaso, estas elites estão presentes em peso no escândalo das contas secretas na agência suíça do banco HSBC (Suiçalão) e na operação Zelotes, aquela em que a maioria esmagadora das empresas nacionais e multinacionais no país (Bradesco, Grupo Gerdau, RBS, Santander, Ford e Mitsubishi, entre outros) pagaram propina a membros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão ligado ao ministério da Fazenda, para terem suas multas revertidas ou anuladas. O prejuízo aos cofres públicos na operação Zelotes está sendo calculado inicialmente em R$ 19 bilhões, um valor oito vezes maior do que todos os recursos desviados da Petrobras, na Operação Lava Jato. Detalhe: enquanto a operação Lava Jato domina, há meses, o noticiário da chamada grande mídia nacional, esta mesma mídia faz de tudo para esconder as operações Zelotes e Suiçalão. Vale questionar, igualmente, o que se pode dizer de elites que acham muito justa a condenação de políticos na ação midiático-penal 470, o conhecido Mensalão Petista, mas não dão a mínima para o fato dos escândalos envolvendo corrupção tucana não terem sido, sequer, julgados. Que o diga o Mensalão Tucano Mineiro! Provavelmente não ocorreu a nenhum dos batedores de panelas, exigir do ministro Gilmar Mendes, do STF, um dos beneficiados pela PEC da “bengala”, que devolva o processo sobre financiamento público de campanha, ao qual pediu vistas há nove meses, paralisando uma votação que já dava ampla vitória aos defensores da medida. Por estas e outras, as elites vão continuar tentando de tudo para que o STF permaneça tendo muito mais a cara de Gilmar Mendes, o ministro que alertou para o risco do “bolivarianismo” adentrar o Brasil, do que a de um Fachin. Se vão conseguir ou não, a resposta virá na próxima terça-feira (19/05) quando o plenário do Senado votará esta indicação. Desde já uma coisa é certa: qualquer que seja o resultado, não minimizará o flagrante ódio das elites brasileiras à democracia. *Jornalista e professora da UFMG
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Como comer uma manga sem se lambuzar Sérgio Ricardo* Dom Elder Câmara, de doce memória, dizia que para saborear uma manga espada, o sujeito tem que estar disposto a se lambuzar. Em parte concordo com ele. Esse negócio de manga picadinha que vem à mesa para ser comida com garfo e faca é uma eloqüente frescura. É como se contentar com um beijinho na face daquela pessoa que merece ser devorada num requintado e saboroso ato sexual. A manga espada é um desafio ao orgasmo palatal, para um ardoroso ou ardorosa amante dessa fruta abundante em nosso país, das melhores delícias que ele ainda nos permite consumir. Manga não é a prostituída banana, que basta desarmar três ou quatro abas de sua indumentária para encher a nossa boca na primeira dentada com uma massa semi-doce, que em fração de tempo é devorada. Mais sacia nossa fome do que nos dá prazer. Não. A manga espada é como um caso de amor e merece habilidade na abordagem, pois seu néctar é reservado a certos requintes e dedicação na conquista gradativa de sua entrega. Não nasceu para ser esmagada por molares e sim acariciada pelos delicados incisivos centrais, laterais e no máximo os caninos, para um competente desempenho. Escolha na fruteira uma manga madura pela qual
se sinta atraído . Tome-a, examinando se sua casca não apresenta nenhum ferimento, que venha afasta-lo do prazer, observando-lhe as curvas e excitando-se com o que lhe aguarda. Dê-lhe uma bom banho. Esfregue-a, até que desapareçam certas impurezas herdadas da terra, e com carinho, tire o pequeno último vínculo com seu passado no galho que a gerou. Não vá abocanha-la ferozmente em irresponsáveis dentadas como se a quisesse devorar, com casca e tudo, tal como fazia nosso celebre clérigo, sem nenhuma prática nesse tipo de conquista, pois se o fizesse seria excomungado no primeiro flagrante. Porque você vai acabar se lambuzando todo, desrespeitando os requintes de uma boa paquera, subjugando a doce criatura, podendo até chegar a escorregar-lhe das mãos. Não. Com habilidade, aproxime-a da boca, e com os incisivos, sem violência, morda e arranque a protuberância que a ligava ao galho abandonado, com delicadeza tal, como se a desvirginasse, deixando a mostra um pequeno círculo de uns três centímetros de diâmetro, dependendo do tamanho de sua boca, para que o ato a seguir, seja seguramente protegido por seus lábios, evitando escapar-lhe a baba lateral, a desperdiçar o seu intumescimento. A seguir cubra-a de suaves apertões por todo o corpo e num beijo apaixonado passe a sugar o mel que lhe será ofertado
num interminável e saboroso chupão, a guisa de acaricias preparatórias. À medida em que a vai apalpando e enlaçando em todas as direções, cada vez mais ardentemente, seu corpo se desprenderá de sua roupagem, soltando-se internamente de seus suculentos fiapos, até que seu corpo nu se lançará com toda volúpia para fora da casca, e neste momento, com habilidade. puxe-a sem parar a dentada, de forma tal que a permita se despir, ajudando-a a se livrar da casca. Enquanto você repousa sua indumentária no prato com uma das mãos, com a ponta dos dedos da outra, comece a degustar toda sua carne em insaciável e paciente gulodice, até que ela, branca, exaurida pela perda de todo seu néctar dourado, vencida por tanto afeto gustativo, os cabelos se soltem inteiramente libertos, e se renda. Sem mais desejo, leve-a a adormecer seu corpo exausto no outro canto do prato, inteiramente realizada e vazia de si mesmo. Em gratidão, lhe deixará como paga de seu carinho, no outro canto do prato, no interior da casca que, ao dividi-la como se fossem dois pastéis, os restos generosos do sumo de sua delícia o convidarão a recorda-la. Mastigando-os até com a ajuda dos maxilares, você mascará a sua saudade por aquela aventura amorosa com uma deliciosa senhora manga espada. Depois de passar uma aguinha nas mãos e na boca, em respeito à dádiva da natureza, toda vez que passar por uma frondosa mangueira, bata uma continência. *Cantor e compositor
Caraca Badico
Luis Pimentel* Todo mundo dizia que o Badico batia um bolão. Médio-volante avançado do Berimbau Esporte Clube, time de cidade do interior baiano (ele me proíbe terminante de dizer qual), foi visto um dia por olheiro da capital. Poderia ter ido parar no Bahia ou no Vitória, mas o sujeito tinha contatos no Sul Maravilha e Badico foi levado para o Flamengo. Quase menino ainda, foi encaminhado aos testes no juvenil, naquele timaço dos anos 70 de onde surgiram Cantarelli, Leandro, Mozer,
Rondinelli, Júnior, Geraldo e, entre outros, Zico! Já pensaram? A temporada na Gávea foi curta, mas suficiente para Badico participar de meia dúzia de coletivos e até de um jogo amistoso entre equipes da mesma faixa etária, contra Madureira, Bonsucesso, Portuguesa... Segundo ele, “um desses aí”. Esqueceu qual foi o adversário, mas se lembra até hoje, invariavelmente com lágrimas nos olhos (invariavelmente depois da sexta ou sétima cerveja), de um lance durante a partida que marcou para sempre a sua vida. Narrada por ele mesmo (invariavelmente depois da décima cerveja), a jogada ganha um colorido todo especial: – Recebi a bola na intermediária, lançada pelo Capacete ou pelo Adílio Neguinho Esperto, não lembro bem, e parti para a frente. Driblei o dez deles
e fui. Driblei o cinco e avancei. Perto da meia-lua, vi o Zicão se deslocando pela esquerda, fazendo aquele movimento meio torto que ele fazia, parecendo que ia cair para derrubar o adversário, e lancei de primeira, como ele gostava de receber. A chanca beijou mal a gorducinha e ela saiu raivosa, enganadeira, ensandecida, indo parar do outro lado do campo, lá no pau da bandeira. No estádio, a galera gritou “Uuuuuuhhhhhh”! Na mesa, nós gritamos também. E o Badico prosseguiu: – Foi quando ouvi o Galo cantar, com aquele sotaque inconfundível de Quintino: “Caraca, Badico! Tá malu-
co?” Parece que até hoje eu escuto. Invariavelmente. Pouco depois o meu conterrâneo foi dispensado do Flamengo (não por aquele lance, mas pelo conjunto da obra). Fez algumas tentativas sem sucesso por outros clubes do Rio, antes de retornar e encerrar a carreira no meio-campo do Berimbau, onde mudou o próprio nome para “Caraca Badico”. Aos curiosos, na porta da mercearia, ele explica sem firulas: – Nada a ver com numerologia. A razão é idolatria mesmo. *Jornalista e escritor
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Acerto de contas A Justiça de São Paulo, em decisão histórica, aceitou a acusação contra um integrante da Ditadura por crime de tortura e morte. O Tribunal de Justiça reviu a decisão anterior de 1ª instância, que considerara prescrito o crime de ocultação de cadáver atribuída ao general reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, notório torturador. Ao aceitar-se a decisão, de que ainda cabe recurso junto ao Supremo Tribunal Federal, abrem-se as portas para o julgamento de todos os envolvidos em crimes contra os Direitos Humanos durante o regime militar, que se sentiam protegidos por uma falsa interpretação da Lei de Anistia. A justiça tarda, mas não falha, será? Vamos esperar, torcendo, que isso aconteça. José Maria Rabelo, jornalista
Pergunta Ninguém vira ministro por obra e graça do divino espírito santo. A pessoa está lá por competência, popularidade, por indicação de um partido da base aliada ou por ser da chamada quota pessoal do Presidente da República. Se é assim, alguém sabe me responder o que faz no ministério o Roberto Mangabeira Unger? Fernando Morais, jornalista e escritor
Bolsa de Estudo no Japão O governo do Japão está oferecendo bolsas a estudantes brasileiros de até 34 anos para pesquisas acadêmicas em universidades do país. São voltadas para várias áreas do conhecimento e pode-se estender a estadia em caso de realização de mestrado ou doutorado. Não é preciso saber falar japonês, mas exige fluência em inglês. Entre os benefícios estão bolsa no valor de 143.000 ienes mensais (cerca de R$ 3,5 mil), passagem de ida e volta e isenção de taxas escolares. Além disso, conforme a universidade escolhida, o estudante também ganha um curso de japonês nos seis primeiros meses da bolsa. Quem for escolhido para o programa de dois anos embarcará em abril de 2016 e ficará até março de 2018. Já para o programa de um ano e meio, o embarque será em outubro de 2016. Com o ingresso no mestrado e doutorado, o período da bolsa é prorrogado. No início da bolsa, o bolsista realiza pesquisa acadêmica - o programa de mestrado ou doutorado requer aprovação no processo seletivo da universidade japonesa.
As inscrições estão abertas até 29 de maio. Inscrições e requisitos podem ser obtidos pelo site http://www. rio.br.emb-japan.go.jp/itpr_pt/bolsas.html O exame de proficiência de japonês e inglês será realizado no dia 9 de junho e, quem for aprovado, fará uma entrevista no dia 2 de julho. Fonte: Consulado do Japão
Filmes de Berlim na Caixa Cultural Amantes do cinema alemão têm um programa imperdível nos próximos dias no Rio. Até 24 de maio, a Caixa Cultural, no Centro, recebe a mostra “Achtung! Filmes de Berlim”, realizada pelo Instituto Goethe. Na programação, estão 15 filmes contemporâneos produzidos nos últimos cinco anos em Berlim e que tem a cidade como personagem. E o melhor: de graça! Não há outra cidade na Europa que tenha se transformado de maneira tão dinâmica nos últimos 20 anos quanto Berlim. A repentina queda do Muro, em novembro de 1989, desencadeou um veloz processo de urbanização. Isso se refletiu também no cinema. A cada ano são produzidos mais de 300 filmes na região de Berlim-Brandemburgo, local que oferece, de maneira singular, uma coexistência de produções de alto orçamento com uma cena artística de baixo orçamento, que serve de incubadora para inovações de forma e de conteúdo. Programação completa: http://www.goethe.de/ins/ br/rio/pro/folder_achtung.pdf
Turismo em Cuba A Sagarana Turismo faz excursão para Cuba de 16 a 25 de junho. Será possível conhecer as maravilhas da ilha mais charmosa do Caribe em um momento histórico de reaproximação com os EUA. O roteiro inclui lugares históricos e a hospedagem no Hotel Nacional, lugar emblemático de Havana, no resort Melia Varadero e hotel Tryp Albrook na Cidade do Panamá. Saídas do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Mais informações: 21 2295-6859 31 3589-9235
Bourbon Festival Paraty 2015 O Bourbon Festival Paraty 2015, de 29 a 31 de maio, terá 21 atrações musicais em 30 horas de blues, jazz, R&B, soul, música brasileira e world music, com shows diurnos e noturnos gratuitos em dois palcos ao ar livre, nas praças da Matriz e da Igreja Santa Rita. Uma das mais esperadas atrações do evento é o show Sharon
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Jones & The Dap-Kings, d a n o r te - a m e r i c a n a Sharon Jones, que se apresenta com a sua superbanda, The Dap-Kings, a mesma que impulsionou a carreira de Amy Winehouse. Tem ainda o guitarrista americano Mike Stern, que já tocou com Miles Davis e Jaco Pastorius. O Bourbon Festival Paraty também traz ainda shows de grandes nomes da cena musical brasileira, como o percussionista Naná Vasconcelos, que se apresenta acompanhado pelo contrabaixista Lui Coimbra, o baixista Arthur Maia; o saxofonista Leo Gandelman, que traz como convidado Serginho Trombone; o guitarrista Torcuato Mariano, produtor do reality show The Voice Brasil; e a cantora Tulipa Ruiz, que encerra o festival, no calor do lançamento de seu novo disco, “Dancê”. Completam o line up brasileiro a banda Cluster Sisters, liderada pelo trio vocal Gabriela Catai, Giovanna Correia e Maitê Motta, o acordeão de Mestrinho – que também faz um workshop gratuito – com participação do violinista Nicolas Krassik, o bluesman Nuno Mindelis e a big band brasileira Mantiqueira. Entre os buskers estão os blueseiros Vasco Faé, Bárbara Silva e Jefferson Gonçalves & Kléber Dias. As ruas do centro recebem também shows da Orleans Street Jazz Band, que mesclam jazz tradicional com uma pitada de modernidade e muito bom-humor; além das apresentações after hours dos DJs Crizz e Bebeto, este último nascido em Paraty. Fonte: Bourbon Festival Paraty 2015
59º BFI- Festival de Cinema de Londres Estão abertas as inscrições para o BFI - Festival de Cinema de Londres, organizado pelo British Film Institute, no Reino Unido. A 59ª edição do evento acontece este ano entre os dias 7 e 18 de outubro, na capital inglesa, e aceita obras de curta ou longa-metragem finalizadas nos últimos 18 meses. O prazo de inscrição vai até o dia 12 de junho para curtas com menos de 40 minutos de duração, e até o dia 19 de junho para os longas-metragens. Informações: http://www.jotformpro.com/LFF/ LFFIntSub
Frase Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las. Voltaire
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Festival Gastronômico de Búzios Sol, praia, badalação e boa comida. Búzios – um dos balneários mais charmosos do país – tem talento gastronômico. A questão era como tornar acessível o melhor da culinária do Interior do Estado do Rio. E, isso foi possível com o Festival Gastronômico de Búzios que acontece durante dois finais de semana consecutivos, e em 2015 será realizado nos dias 3, 4, 10 e 11 de julho. O festival tem como tema “sabores buzianos”. O formato é único no Brasil e bem simples: os restaurantes colocam literalmente na rua, mesas em frente aos seus estabelecimentos: nos Ossos, na Orla Bardot, na Rua das Pedras, na Rua Manoel Turíbio de Farias, no centro, no espaço Domme e no Porto da Barra, em Manguinhos. Além do capricho na escolha do cardápio e na preparação dos pratos, a decoração das mesas é um capítulo a parte que encanta os convidados. Entretanto, cada Chef, figura que geralmente está nos bastidores da cozinha, no festival fica na mesa servindo aos clientes e explicando os ingredientes para a preparação do prato escolhido a ser degustado. O festival promove a chance das pessoas provarem sabores diferentes que nunca experimentaram. É uma variedade enorme de pratos, sabores, texturas, tudo de forma democrática, pois como é servido na rua, não existe pagamento para entrada. Festival Gastronômico de Búzios Dias 3, 4, 10 e 11 de julho De 20 às 24 horas Armação dos Búzios - RJ Fonte: Festival Gastronômico de Búzios Senhor Ca: a boa pedida do Flamengo
Rio de Janeiro - Maio / 2015
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Senhor Ca: a boa pedida do Flamengo O Senhor Ca. é uma cafeteria, padaria e bistrô no Flamengo. É um lugar onde se encontra bom atendimento, preço honesto e produtos de qualidade. Além de receitas artesanais de pães e bolos, a casa tem um cardápio “dos deuses”. Entre os itens, doces, sopas, crepes, waffles, croissants, sanduíches, tortas, saladas, pastinhas, combinados de café da manhã e refeições executivas. Os sanduíches podem ser feitos com o pão francês da casa, croissant ou ciabatta. Entre as opções o de presunto parma, brie, rúcula e chutney de amora. Ou ainda o lombo canadense com gruyère. Tem também a série clássica de burgers. O destaque é o de carneiro, queijo brie e pesto de hortelã no pão de batata. Entre os bruschettas, destaque para o acompanhado de shitake ao alho e tomate cereja. Ou ainda o de berinjela com mussarela de búfula e raspa de limão siciliano no azeite. Os crepes também fazem muito sucesso. Mas se quiser uma opção mais light, vá de caldo verde, legumes com frango, aipim com carne seca ou ervilha com linguiça. Excelente pedida é tomar o café da manhã completo aos sábados. Senhor Ca. tem outro loja no bairro, onde tudo começou. A experiência nas duas casas prova que basta capricho e qualidade para conquistar o cliente. Isso o Senhor Ca. já fez com sua cozinha. Palavra do Bafafá! Senhor Ca. Travessa dos Tamoios, 40 – Flamengo – Rio de Janeiro Funcionamento: segundas a sábados de 08h às 23h (cozinha aberta até 22h30). Informações: 2225-1684 Rua Marquês de Abrantes, 219 – Flamengo Funcionamento: segunda a sábado de 08h às 22h Informações: 2553-0716
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