Ano 15 - Nº 130 - Outubro 2016
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Um jornal 100% opinião
Editorial: Pela união das forças populares contra os avanços da direita A direita conquistou inegáveis vitórias nas eleições municipais, a começar pela reconquista da prefeitura de São Paulo. As forças populares, a despeito de alguns êxitos isolados, perderam posições importantes na disputa eleitoral. Graças ao golpe do impeachment, o País está sujeito aos mais retrógrados interesses políticos e sociais, com o governo Temer e agora a PEC 241. É preciso que as forças populares se unam, na defesa do Brasil e de seu povo. Editorial na página 2.
NESTA : O EDIÇÃ
O Bafafá alcança com este número um feito verdadeiramente histórico: seu 15º aniversário de fundação. Quando lançamos o projeto de um jornal independente, livre dos compromissos que controlam e aviltam a grande mídia, não foram poucos os que duvidaram do êxito desse desafio. E com razão, tantas são as dificuldades que se antepõem à existência de uma publicação identificada apenas com o interesse público, tendo a coragem de dizer o que pensa. Um jornal 100% opinião, como está em nossa epígrafe desde o primeiro número. Mas queríamos ir além, acolhendo nas páginas do Bafafá a herança dos mais relevantes projetos políticos, sociais e culturais de nossa história contemporânea, como o nacionalismo de Getúlio Vargas, as Reformas de Base de João Goulart, as propostas educacionais de Leonel Brizola, os avanços republicanos da Constituição de 88, e, mais recentemente, as propostas populares dos governos de Lula e Dilma. Com a ajuda de uma brilhante equipe de colaboradores e o estímulo de nossos milhares de leitores, podemos dizer, com o maior orgulho, que atingimos grande parte de nossos objetivos. Somos hoje um órgão de imprensa que promove livremente o de bate dos grandes temas da vida brasileir a, sem nenhuma limitação que não seja o estrito respeito à procedência dos fatos. Nestes 15 anos que estamos comemorando, editamos 130 números, com mais de um milhão e meio de exemplares impressos, distribuídos principalmente aos formadores de opinião, capazes de multiplicar as mensagens contidas em nossas páginas. Mas apoiamos também uma série de iniciativas culturais, entre elas, a revitalização do carnaval de rua carioca, contribuindo para o sucesso de nossa grande festa popular. Nosso esforço acaba de ser reconhecido com duas distinções: a Assembleia Legislativa fluminense nos concedeu a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Estado do Rio de Janeiro, e a Câmara de Vereadores do Rio uma Moção de Congratulações. São títulos que demostram o acerto do caminho que trilhamos, na busca de uma sociedade mais justa e democrática. Agradecemos a todos os que colaboraram conosco nesta jornada. Ricardo Rabelo, editor
Luiz Inácio Lula da Silva Leonardo Boff José Maria Rabelo Ângela Carrato Mauro Santayana
Emanuel Cancella
Ricardo Rabelo Agamenon de Oliveira Marcelo Chalréo Rogério Cezar Leite Entrevista: Afonsinho
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Editorial
Pela união das forças populares contra os avanços da direita A direita teve vitórias importantes nas eleições municipais, entre elas a reconquista da prefeitura de São Paulo pelo PSDB. As forças populares sofreram inúmeras derrotas, sobretudo o PT, até então o maior partido da esquerda, que só elegeu um prefeito de capital, o da longínqua Rio Branco, no Acre. É impossível negar esse fato, embora seja possível explicá-lo. Houve toda uma campanha midiática com uma intensidade sem precedentes, comandada pela Organizações Globo, para desacreditar as legendas esquerdistas e suas principais lideranças. Era o desfecho de tantas outras campanhas – Petrolão, Lava Jato, impeachment de Dilma. A Justiça, pelo menos parte dela, colaborou ativamente com essa ação coordenada contra o PT, transformado em quase o único alvo das operações contra a corrupção. O resultado de alguns partidos, como o PCdoB, o PSOL e parte do PDT, que melhoraram expressivamente seu desempenho, não compensam os reveses sofridos pelo petismo. O afastamento de Dilma, e sua substituição por um governo francamente conservador constituíram outra derrota para o movimento popular. O Brasil está entregue hoje a um conjunto de interesses, políticos e econômicos, que representam seríssima ameaça aos progressos sociais alcançados nas últimas décadas,
a começar pelos da constituição republicana de 1988. Se há dúvidas quanto a isso, basta citar a PEC 241, esse monstrengo legal que o governo Temer quer aprovar a toque de caixa e sem nenhuma consulta à sociedade organizada, cassando o direito dos mais pobres em favor dos mais ricos. É meridianamente claro que estamos em face de uma ofensiva geral dos grupos dominantes, com suas bases de sustentação na presidência da República, no Congresso, os partidos conservadores, na grande mídia e nas Fiesps e sub-Fiesps pelo Brasil afora. Diante dessa ameaça aos direitos sociais do povo brasileiro e à própria democracia, temos de unir todas as nossas forças, num movimento organizado, amplo e suprapartidário, para resistir e impedir que esses inimigos do Brasil continuem avançando. Nossa união deve fazer-se desde agora, no combate às medidas regressivas do governo Temer, tendo em vista a eleição de 2018. Temos de superar nossas divergências, nossos interesses particulares, e marchar decididamente na defesa de nossa pátria, ameaçada pela ascensão de seus piores inimigos. Este é o único caminho, o da união de nossas forças, para conter a marcha da direita, com todo o seu corolário de desgraças para o povo brasileiro, especialmente para os trabalhadores, os mais pobres e indefesos.
Onde encontrar: Associação Brasileira de Imprensa, Sindicato dos Jornalistas do Rio, São Paulo e BH, Ordem dos Advogados do Brasil, Sindicato dos Petroleiros, Escola de Comunicação, Instituto de Economia, Instituto de Filosofia, Escola de Serviço Social, Escola de Música, Instituto de Psicologia, Fórum de Ciência e Cultura, Faculdade de Direito, faculdades de Geografia, Geologia, Engenharia, Matemática, Química, Física, Meteorologia, Letras, Medicina, Enfermagem, Educação física, alojamento estudantil do Fundão, Coppe (UFRJ), UERJ, UFF (Campus Gragoatá e Praia Vermelha), Café Lamas, Fundição Progresso, Cordão da Bola Preta, Botequim Vaca Atolada, Bar do Gomez, Bar do Serginho, Bar do Mineiro, Casarão Ameno Resedá, Faculdade Hélio Alonso, Arquivo Nacional, Livraria Ouvidor (BH), Livraria Quixote (BH), Livraria Scriptum (BH), Livraria Cultural Ouro Preto (Ouro Preto), Sindicato dos Engenheiros e Bar Bip Bip, Café do Museu da República.
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A pec 241 e seus desatinos José Maria Rabêlo* Em sete anos, a Segunda Guerra Mundial destruiu quase toda a Europa e causou a morte de mais de 60 milhões de pessoas. Decorreram apenas 12 anos, entre o lançamento do primeiro satélite pelos russos, em 1958, e a chegada dos americanos à lua em 1969. Em pouco mais do que isso, a China superou séculos de atraso, tornando-se a segunda maior economia do mundo. Há 20 anos, a internet engatinhava e hoje domina a vida de todos nós. Agora, os exterminadores do futuro, que tomaram o poder por um golpe de estado, querem impor ao Brasil um programa fiscal de duração maior que o daqueles eventos que mudaram a história da humanidade. Vejam estes dados, como exemplos do que tentam nos impingir, se a PEC 241 for aprovada e posta em execução: as verbas para os serviços públicos de saúde perderão mais de R$ 860 bilhões, segundo estudo do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do próprio Ministério do Planejamento. A educação, de acordo com as previsões da CONAF, Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara de Deputados, deixará de re-
ceber R$ 20 bilhões por ano, somando 480 bilhões no período da vigência da PEC. E mais: pelas prospecções da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento, Pró-Plan, da Universidade Federal de Minas Gerais, levará à paralisação de vários de seus setores. A situação será a mesma para as demais universidades públicas, “um desastre”, nas palavras do professor Jaime Arturo Ramirez, reitor da UFMG. Mais cruel ainda será o que vai suceder com o salário mínimo, se os índices de reajustes previstos na PEC forem aplicados, com base apenas na correção pela inflação: seria de R$ 400,00, contra os R$ 880,00 de hoje, menos da metade, portanto. Uma extorsão de consequências sociais inimagináveis. E que poder é este tão imperial, que se assume como o ordenador supremo da vida e das finanças de todos os brasileiros? Um governo golpista e usurpador, com mais de 70% de desaprovação popular, composto em grande parte por vários membros sob acusações de malversação do dinheiro público, a começar pelo presidente da República. E um Congresso integrado majoritariamente por traficantes e negocistas, de que o
deputado Eduardo Cunha, meliante assumido, era dos mais ilustres representantes. E tudo isso de afogadilho, sem nenhum debate com a sociedade civil. Nada menos que uma reforma da Constituição enfiada goela abaixo do povo brasileiro. O Brasil não pode ficar refém dos desígnios de um governo como o que está aí, gerado nos porões da mais baixa politicalha. É preciso impedir que essa gente nos leve de novo a um tempo em que os atuais direitos sociais, mesmo precários, não existiam e só os interesses das elites tinham vez. É contra esse mergulho no passado que temos de lutar com todas as forças. PETROBRAS Como previmos, o atual governo já começou a obra de demolição da Petrobras. Vendeu a preço de banana (U$ 2,5 bilhões), para a multinacional norueguesa Statoil, sua participação na exploração do campo de Carcará, um dos mais promissores do pré-sal. A Shell já anunciou que está a postos, à espera do próximo arremate. Para o governo Temer e seus patrocinadores, a venda do Brasil é apenas uma questão de oportunidade.
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Petrobrás: estão entregando a empresa do sonho bem sucedido dos brasileiros Emanuel Cancella* Petrobrás é a única empresa que nasceu das ruas, nos braços dos brasileiros, na maior campanha de rua que o país conheceu que foi “O Petróleo é Nosso!”. Civis, militares, comunistas e conservadores participaram da campanha, resultando na criação da Petrobrás em 1953. Nos 63 anos de existência, a Companhia abasteceu todo o país de derivados de petróleo. Querosene de aviação, gás, diesel, e outros derivados, para todo o o território nacional onde se fizeram necessários. Quando foi criada a Petrobrás, o petróleo no país era apenas um sonho. No debate de sua criação, um geólogo estadunidense, Mister Link, chegou a afirmar que no Brasil não havia petróleo (2). Muitos brasileiros foram perseguidos, presos e mortos na campanha do petróleo. Um dos lideres da campanha do petróleo, hoje, um dos maiores escritores de historia infantil do mundo, Monteiro Lobato, chegou a ser preso. Getulio Vargas, o presidente que sancionou a lei 2004, que deu origem à Petrobrás, foi levado ao suicídio em decorrência do petróleo. A Petrobrás fez mais pelo país! Em 2006, desenvolveu tecnologia inédita no mundo, que permitiu a descoberta do pré-sal, uma das maiores reservas do mundo que garante nosso abastecimento, no míni-
mo, nos próximos 50 anos. Nenhuma outra empresa oferece isso ao país. Uma médica, a saudosa Maria Augusta Tibiriça Miranda, que foi uma das principais coordenadoras da campanha do petróleo, escreveu um livro, “O Petróleo é Nosso!”, onde afirma que a luta do petróleo não termina nunca. E Hoje, quando o petróleo no Brasil é uma realidade, a Petrobrás é tomada de assalto. O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, colocado por um governo golpista, comanda a derrocada da companhia. Parente foi ministro no governo de FHC, que tentou sem sucesso privatizar a Petrobrás. Parente ficou conhecido como ministro do apagão, agora será o presidente do entregão do nosso petróleo! Na época, FHC comparava a Petrobrás a um paquiderme e chamava os petroleiros de “Marajás”. A resposta da Petrobrás veio com a descoberta do pré-sal, que já produz mais de um milhão de barris, metade da nossa produção. O ator Paulo Betti, voluntário da defesa do nosso petróleo, em 2009, no filme O Petróleo Tem Que Ser Nosso - A Última Fronteira, indignado, declarou em um dos trechos da película: “(...) encontrei um tesouro imenso em meu quintal, mas eu sou muito incompetente, vou dar para o meu vizinho (...)”. Betti parecia antever o futuro (1).
Na contramão da história, onde governos lutam através da maioria de guerras contemporâneas pelo petróleo, Pedro Parente faz liquidação com nosso ouro negro, quando entrega o pré-sal, BR, malha de dutos, fabricas de fertilizantes. E continua a entrega insana quando retira a Petrobrás de setores estratégicos para o país e para a Petrobrás, como o setor Petroquímico, de bicombustíveis, de gás e fertilizantes. Na verdade, o governo golpista de Michel Shell Temer, o Congresso Nacional, Parente e a operação Lava Jato formam a equipe de entreguistas de nosso petróleo. A Lava Jato há cerca de dois anos vaza para a mídia, principalmente a Globo, de forma seletiva, notícias negativas contra a Petrobrás, o que acarretou na deterioração da imagem da companhia. O juiz Sérgio Moro diz que quer acabar com a corrupção na Petrobrás, no que tem aval da sociedade, mas não investiga o governo de FHC na Petrobrás varias vezes citado em delação. Se, na era FHC, para viabilizar a entrega eles vinha com a calúnia de que os petroleiros eram marajás, hoje tentam passar a idéia de que todo petroleiro é corrupto. Só o povo na rua, retomando a campanha “O Petróleo é Nosso!”, pode salvar a Petrobrás! *Petroleiro, formado em Direito, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) e uma das lideranças da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
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Crivella está em apuros Agamenon de Oliveira Depois de anos e anos construindo falsamente uma imagem de político honesto, sereno e tolerante, eis que a verdade é finalmente desvelada. Ao invés de tudo isto, aparece um Crivella em verdadeira grandeza: um político preconceituoso, intolerante, raivoso e pasmem corrupto. Bastaram simplesmente vir à luz o conteúdo de um livro por ele escrito, relatando suas experiências na África, para que os aspectos cuidadosamente escondidos da personalidade de Crivella aparecessem. Seu ódio aos católicos, aos homossexuais e a outros segmentos da sociedade em que vivemos revelam uma outra
pessoa jamais imaginada pela maioria da população. Por último, no Globo de hoje, 23 de Outubro de 2016, aparece a notícia revelando que o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque, em delação premiada e, agora por fim revelada, que Crivella recebeu dinheiro desviado da Petrobrás para a confecção de 100 mil banners para sua campanha ao senado em 2010. Isto significa um montante de 12 milhões de reais. Assim o “ficha-limpa”, pra inglês ver, cai na vala comum dos políticos que ele diz combater junto com Eduardo Paes, Pezão, Sérgio Cabral e a família Picciani. Por último o projeto de poder da Igreja Universal que está por trás da candidatura de Crivella, tem
que ser considerado como sendo um dos fatores mais importantes para rejeitarmos tal tipo de política. Este projeto, nunca explicitado, vem ancorado em um poderoso sistema de comunicação para desinformar, mistificar a opinião pública e maquiar políticos do quilate de Crivella. Independentemente de ele vir a ser eleito ou não, a imagem do político de fala mansa e tolerante está definitivamente desfeita. Quanto às acusações de corrupção na Petrobrás esperemos as cenas dos próximos capítulos para a verdade finalmente vir à tona.
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Ricardo Rabelo Prisão de Cunha
A tardia prisão de Cunha mostrou que até na hora de ser preso esse senhor tem regalias. No seu embarque no jatinho da Polícia Federal em Brasília ele parecia até uma autoridade em viagem oficial. Não estava algemado e só faltou estenderem o tapete vermelho. Esta postura difere do tratamento dado a várias personalidades investigadas pela lava jato. É nítido que a PF tem dois pesos e duas medidas. A prisão do Cunha teria que ter sido efetuada há mais de um ano e ele jamais poderia ter conduzido o impeachment de uma presidente.
Fala tudo Cunha
Estou torcendo para Eduardo Cunha fazer a delação de todos os cúmplices. É nítido que esse senhor comandou uma rede de corrupção que envolvia a cúpula do PMDB, deputados, senadores e empresários. Acho que ele vai falar para
tentar proteger a família já que a mulher e os três filhos devem ser indiciados na Lava Jato. O ideal é seja o quanto antes para a posse do Temer ser anulada e novas eleições presidenciais convocadas. Seria mais um terremoto político no Brasil. Estou torcendo, pois sempre depois da tempestade vem a bonança!
Jogo de cena
ex-presidente é favorito em todos os levantamentos. O mais recente, é o da Confederação Nacional de Transportes CNT/MDA. De acordo com a pesquisa, Lula tem a preferência de 22% dos eleitores, seis pontos à frente do segundo colocado Aécio Neves.
Temer isolado Para muitos, o juiz Sérgio Moro, ao prender Cunha, está preparando o terreno para encarcerar o ex-presidente Lula. Moro tem sido ostensivamente questionado por só prender políticos do PT e poupar a cúpula do PMDB, PSDB e DEM. A prisão de Cunha seria um balão de ensaio para justificar a prisão de Lula. Mas, ao contrário de Cunha cuja acusação tem dezenas de provas, Moro não tem nada que comprove qualquer ato de corrupção de Lula. Só insinuações.
Enquanto isso... Enquanto isso, Lula surfa na preferência para as eleições de 2018. Mesmo massacrado pela mídia, o
Bastaram as primeiras viagens internacionais de Temer para ver o quanto o Brasil está isolado internacionalmente. Na reunião de cúpula do G20, o impostor sobrou até na foto oficial. Agora no encontro dos BRICS, sequer foi convidado para conversas bilaterais. Confesso que dá vergonha ver um mandatário descartado por todos. A verdade é que ninguém sequer chega perto dele, é quase como se Temer fosse um doente contagioso. Lamentável para um país que tinha chegado ao paraíso em termos de relações internacionais. Temer
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destruiu em seis meses um trabalho de 10 anos no Itamaraty. Pena!
Filme de terror
O filme de terror apenas começou com a deposição de Dilma. A entrega da exploração do petróleo para as multinacionais era o grande objetivo deste golpe. Mas, como está fácil demais, diante da inércia do país, outras medidas vem por aí: PEC 241, escola sem partido, fim do 13º, teto maior para a aposentadoria, fim da presunção de inocência e sabe-se lá o que mais. Enquanto isso, a mídia golpista que estava em estado pré-falimentar recebe injeção de recursos nunca visto antes. O bolo da cereja vai ser a prisão sem motivo do Lula e sua inabilitação para disputar eleições.
Resultados pífios Esse governo impostor do Temer é tão canalha, que apesar de apresentar resultados pífios em seis meses, ainda é capaz de publicar anúncio de página inteira em todos os jornais do país criticando a gestão de Dilma Rousseff. Só esqueceu de dizer que TODOS os indicadores econômicos são piores que de sua antecessora!
Eleição carioca Analisando os resultados da eleição para verea-
dor no Rio de Janeiro restam alguns consolos. Não foram reeleitos nem eleitos os seguintes nomes: Leila do Flamengo, Solange Amaral, Átila Nunes, Elton Babú, S. Ferraz, Marcelo Piui, Babá, Liliam Sá, Agnaldo Timóteo, Roberto Dinamite, Bruno Ramos, Alex Costa. Os dois últimos xerifes do Eduardo Paes, respectivamente subprefeito da Zona Sul e Secretário de Ordem Pública.
São Paulo para trás
São Paulo escolheu o atraso ao invés de se conectar com o século XXI. Serão quatro anos angustiantes para a maior cidade do país! Pena!
Lavou a alma A derrota do PMDB no Rio lavou a alma. Como dizia Brizola: a política ama a traição, mas abomina os traidores!
Frase
“Direitos iguais para todos; privilégios só para as crianças”. Leonel Brizola
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As convicções e o fascismo Mauro Santayana* Muitíssimas pessoas, no Brasil de hoje, têm convicção de que o PT quebrou o país. Assim como têm convicção de que o Governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso foi um tremendo sucesso do ponto de vista econômico, certo? Errado. Os números oficiais do Banco Mundial provam que o PIB e a Renda per Capita em dólares recuaram no Governo do Sr. Fernando Henrique Cardoso, com relação ao de Itamar Franco (de 534 para 504 bilhões e de 3.426 para 2.810 dólares), e aumentaram mais de 300% no governo do PT, de 504 bilhões para 2.4 trilhões de dólares, e de 2.810 para 11.208 dólares, entre 2002 e 2014; com o salário mínimo subindo também mais de 300% em moeda norte-americana nesse período, de 88 para 308 dólares no ano passado, com um dólar nominal mais ou menos equivalente, que chegou a 4,00 reais tanto em 2002 como em 2015. A queda atual da economia é um ponto fora de curva que irá se recuperar, mais cedo do que tarde, se não forem adotadas medidas recessivas, que mandem, mais uma vez, a vaca para o brejo. A maioria das pessoas - incluídos ministros do atual governo, que exageram os problemas, para vender a sua “competência” e seus projetos, muitos deles ligados, direta e indiretamente à iniciativa privada - têm convicção que o Brasil está endividado até o pescoço, certo? Errado. Nona economia do mundo em 2016 - éramos a décima-quarta em 2002 - o Brasil ocupa, apenas, o quadragésimo lugar entre os países mais endividados do planeta. Temos uma Dívida Pública Bruta com relação ao PIB (66%) mais baixa que a que tinhamos em 2002 (80%); e menor que a dos EUA (104%), Zona do Euro (Europa) (90%), Japão (220%), Alemanha (71.20%), Inglaterra (89.20%), França (96,10%), Itália (132.70%), Canadá (91.50%). Além de possuirmos mais reservas internacionais (370 bilhões de dólares) que qualquer uma dessas nações e de não estar devendo - somos credores do FMI - um centavo para o Fundo Monetário Internacional. E, mesmo assim, ninguém fica fazendo, nesses países que citamos, o mesmo carnaval verdadeiro massacre - que se faz aqui, com relação à questão da dívida pública. Uma grande pilantragem midiática que ajuda a justificar, entre outras coisas, o absurdo teto de despesas públicas proposto pelo atual governo - que não existe em nenhum país desenvolvido e irá engessar e tolher o desenvolvimento nacional nos próximos 20 anos - os juros pornográficos que a nação paga, a cada 12 meses, aos bancos, e a privatização e entrega de empresas estatais brasileiras a países estrangeiros. Muitas pessoas também aparentam ter desenvolvido a convicção, no Brasil de hoje, de que o PT é um partido que é contra as Forças Armadas, bolivariano e comunista, certo? Errado. O PT sempre trabalhou com o tripé capital estatal, capital privado nacional e capital estrangeiro, e apoiou - a ponto de estar sendo execrado por isso - as maiores empresas privadas do país, e não apenas as de controle brasileiro - expandindo para elas o crédito subsidiado do BNDES, aumentando a oferta de crédito na economia, melhorando a situação do varejo e da indústria, fomentando a indústria automobilística, triplicando a produção e as vendas de caminhões, automóveis e equipamentos agrícolas, com linhas especiais de financiamento, e fortalecendo o agronegócio injetando bilhões de reais no Plano Safra, duplicando, praticamente, a colheita de grãos depois que chegou ao poder, sem atrapalhar o mercado financeiro, que teve forte expansão após 2002. E, na área bélica, prestigiou o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, lançando e bancando, por meio da adoção da Estratégia Nacional de Defesa, o maior programa de rearmamento das Forças Armadas na história brasileira. Nem nos governos militares ousou-se investir, ao mesmo tempo, em tantos projetos estratégicos como se fez nos últimos anos, como é o caso do programa de construção de 36 caças-bombardeios com a Suécia. Ou o do submarino atômico - além de outros quatro, convencionais - como se está fazendo em Itaguaí, no Rio de Janeiro, com parceria francesa. Ou o da construção de mais de mil blindados multipropósito Guarani, em um único contrato, com a IVECO, com design e projeto de engenheiros do Exército Brasileiro. Ou o do maior avião já construído no Brasil, o KC-390 da EMBRAER, produzido para substituir os Hércules C-130 norte-americanos, capaz de realizar missões também múltiplas, como o transporte de paraquedistas e blindados e o reabastecimento de outras aeronaves em voo. Para não falar da família de radares SABER, dos novos mísseis da AVIBRAS, do programa Astros 2020, da nova família de rifles de assalto IA-2 da IMBEL, capaz de disparar 600 tiros por minuto, e de outros projetos como o do míssil ar-ar A-Darter desenvolvido por uma subsidiária da Odebrecht, com a Denel, sul-africana. Da mesma forma, muitíssimas pessoas têm convicção, nos dias de hoje, que o PT é o partido mais corrupto do Brasil, certo? Errado. Em ranking publicado pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral em 2012 - que, estranhamente, parou de publicar rankings anuais por partido depois disso - o PT aparece apenas em nono lugar, em uma lista encabeçada pelo DEM.
Na lista de 50 políticos investigados na Lava Jato que estão com processos no STF, cuja maioria pertence ao PP, só 6 nomes são do PT, e do total de 252 candidatos impugnados por serem ficha-suja nas eleições de 2014, por exemplo, apenas 20 são do Partido dos Trabalhadores. Dados que não mudam em nada o fato de que o discurso anticorrupção, no Brasil de hoje, só existe na proporção que ocorre, porque pertence e serve, como bandeira, desde o início - na tradição golpista da UDN - à direita e à extrema direita em nosso país. A esquerda, que costuma cair com facilidade nessa esparrela moral dos imorais, principalmente quando pretende utilizá-la, como seus adversários o fazem, como arma política, precisa tratar de outros temas, sem deixar - prudentemente - de colocar suas barbas de molho. Como, por exemplo, o futuro do projeto nacional-desenvolvimentista brasileiro, com foco, principalmente, nas áreas social, científica, da educação, da indústria bélica, naval e de petróleo e de infraestrutura. Ou a defesa da Democracia, do Estado de Direito e da Soberania Nacional, em tempos de risco - quase certeza, a depender do avanço da imbecilidade vigente - de inserção subalterna do país em um processo de globalização que não deixará outras opções, a não ser o fortalecimento ou a capitulação. Tudo isso, no contexto do urgente estabelecimento de uma aliança que permita manter a estabilidade da República e evitar a vitória da Antipolítica com a ascensão do fascismo - em aliança com partidos conservadores tradicionais - à presidência da República em 2018. É nesse país ridículo, mal informado, rasteiramente manipulado, por segmentos da mídia mendazes e deturpadores, que alguns procuradores do Ministério Público Federal vieram a público, há alguns dias, para dizer que tem “convicção” de que o ex-presidente Lula é o Chefe Supremo, o “Capo di tutti capi” da corrupção nacional, neste Brasil “casto” e “ilibado”, nunca dantes atingido - como diziam no Caso do “Mensalão”, estão lembrados? - por semelhante tsunami antiético. Que ele, que nunca teve contas no exterior, como, digamos, Eduardo Cunha ou Maluf, teria recebido “virtualmente”, para o padrão de consumo de nossa impoluta elite, acostumada a apartamentos em Paris, Miami e Higienópolis, um modesto apartamento de 215 metros quadrados, de cooperativa - no qual nunca dormiu e do qual não sem tem notícia de escritura em seu nome. Além de um sitiozinho mambembe, até mesmo para o gosto de nossa pseudo classe média paneleira, que também não está em seu nome. E de uma ajuda para a guarda de seus documentos presidenciais - de inestimável valor histórico, por abarcarem oito anos de história nacional - tudo isso apresentado como a parte do leão, do “Pai”, do “Comandante”, de um suposto esquema de propina que o mesmo MPF afirma - ainda sem provas cabais - ter movimentado a extraordinária soma de 42 bilhões de reais em desvios da Petrobras (antes eram 6 bilhões, segundo “impecável” “auditoria” da “competentíssima”, jamais multada, “honestíssima”, “imparcialíssima”, consultoria norte-americana Price Watherhouse). Cinismo por cinismo, poderíamos dizer que, na hipótese, difícil de provar, que tivesse recebido os alegados 3.7 milhões em propina pelos quais foi acusado, em um negócio de mais de 40 bilhões, Lula seria o mais “ingênuo” senão um dos mais “modestos”, políticos brasileiros, considerando-se a quantidade de empregos, negócios, projetos, obras, programas, que ajudou a proporcionar à economia nacional nos anos em que esteve à frente da Presidência da República. E o PT, que teria pedido apenas miseráveis 5 milhões de reais para pagar contas atrasadas devidas a publicitários, em um contrato de aproximadamente 1 bilhão de dólares para a construção de duas plataformas de petróleo pela empresa do Senhor Eike Batista - um sujeito que resolveu depor “espontaneamente”, depois de ter recebido bilhões do BNDES, durante anos, em apoio às suas empresas falidas - teria sido, diante das franciscanas proporções da solicitação, de uma tacanhice digna de fazer corar outras legendas e personagens do espectro político nacional. Ora, nos poupem. Ninguém está aqui para santificar o Partido dos Trabalhadores ou o Sr Luís Inácio Lula da Silva, que, se tiver cometido algum crime, deve purgá-lo - respeitada sua condição de réu primário - na mesma proporção de seus erros. O que nos indigna e nos tira do sério, trabalhando na área em que trabalhamos, é a desfaçatez, a caradurice, a hipocrisia institucionalizada, com que estão tratando a verdade, a maior vítima desse atual “surto” de “convicções” brasileiro. Não nos venham com estórias da Carochinha e mirabolantes apresentações que vão ridicularizar, pelo exagero, ausência de lógica, de proporcionalidade, razoabilidade e verossimilhança - como já mostram as matérias e editoriais dos jornais estrangeiros - o Ministério Público e o Judiciário brasileiros junto à opinião pública internacional. Correndo o risco, seus “convictos” acusadores, de verem o tiro sair pela culatra, transformando Lula em uma espécie de símbolo, ou de herói, se for impedido de concorrer à presidência da República. Ou em um mártir - caso alguma coisa ocorra a ele, eventualmente, na prisão - para boa parte do planeta. *Jornalista e escritor, publicado no site www.maurosantayana.com
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A sombra do estado de exceção se ergue sobre nós Luiz Inácio Lula da Silva* Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi permanentemente vasculhada - pelos órgãos de segurança, pelos adversários políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela infame Lei de Segurança Nacional da ditadura. Mas jamais encontraram um ato desonesto de minha parte. Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Governei o Brasil com seriedade e dedicação, porque sabia que um trabalhador não podia falhar na Presidência. As falsas acusações que me lançaram não visavam exatamente a minha pessoa, mas o projeto político que sempre representei: de um Brasil mais justo, com oportunidades para todos. Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar. Desde que essa caçada começou, na campanha presidencial de 2014, percorro os caminhos da Justiça sem abrir mão de minha agenda. Continuo viajando pelo país, ao encontro dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos partidos, para debater e defender o projeto de transformação do Brasil. Não parei para me lamentar e nem desisti da luta por igualdade e justiça social. Nestes encontros renovo minha fé no povo brasileiro e no futuro do país. Constato que está viva na memória de nossa gente cada conquista alcançada nos governos do PT: o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha Casa, Minha Vida, o novo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o Programa de Aquisição de Alimentos, a valorização dos salários - em conjunto, proporcionaram a maior ascensão social de todos os tempos. Nossa gente não esquecerá dos milhões de jovens pobres e negros que tiveram acesso ao ensino superior. Vai resistir aos retrocessos porque o Brasil quer mais, e não menos direitos. Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política. Basta observar a reta final das eleições municipais para constatar a caçada ao PT: a aceitação de uma denúncia contra mim, cinco dias depois de apresentada, e a prisão de dois ex-ministros de meu governo foram episódios espetaculosos que certamente interferiram no resultado do pleito.
Jamais pratiquei, autorizei ou me beneficiei de atos ilícitos na Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. Desde a campanha eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido, mas uma “organização criminosa”, e eu o chefe dessa organização. Essa ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e televisão. Precisa ser provada à força, já que “não há fatos, mas convicções”. Não descarto que meus acusadores acreditem nessa tese maliciosa, talvez julgando os demais por seu próprio código moral. Mas salta aos olhos até mesmo a desproporção entre os bilionários desvios investigados e o que apontam como suposto butim do “chefe”, evidenciando a falácia do enredo. Percebo, também, uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao funcionamento do governo e das
instituições. Cheguei a essa conclusão nos depoimentos que prestei a delegados e promotores que não sabiam como funciona um governo de coalizão, como tramita uma medida provisória, como se procede numa licitação, como se dá a análise e aprovação, colegiada e técnica, de financiamentos em um banco público, como o BNDES. De resto, nesses depoimentos, nada se perguntou de objetivo sobre as hipóteses da acusação. Tenho mesmo a impressão de que não passaram de ritos burocráticos vazios, para cumprir etapas e atender às formalidades do processo. Definitivamente, não serviram ao exercício concreto do direito de defesa. Passados dois anos de operações, sempre vazadas com estardalhaço, não conseguiram encontrar nada capaz de vincular meu nome aos desvios investigados. Nenhum centavo não declarado em minhas contas, nenhuma empresa de fachada, nenhuma conta secreta. Há 20 anos moro no mesmo apartamento em São Bernardo. Entre as dezenas de réus delatores, nenhum disse que tratou de algo ilegal ou desonesto comigo, a despeito da insistência dos agentes públicos para que o façam, até mesmo como condição para obter benefícios. A leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias surpreendem e causam indignação, bem
como a sofreguidão com que são processadas em juízo. Não mais se importam com fatos, provas, normas do processo. Denunciam e processam por mera convicção - é grave que as instâncias superiores e os órgãos de controle funcional não tomem providências contra os abusos. Acusam-me, por exemplo, de ter ganho ilicitamente um apartamento que nunca me pertenceu - e não pertenceu pela simples razão de que não quis comprá-lo quando me foi oferecida a oportunidade, nem mesmo depois das reformas que, obviamente, seriam acrescentadas ao preço. Como é impossível demonstrar que a propriedade seria minha, pois nunca foi, acusam-me então de ocultá-la, num enredo surreal. Acusam-me de corrupção por ter proferido palestras para empresas investigadas na Operação Lava Jato. Como posso ser acusado de corrupção, se não sou mais agente público desde 2011, quando comecei a dar palestras? E que relação pode haver entre os desvios da Petrobras e as apresentações, todas documentadas, que fiz para 42 empresas e organizações de diversos setores, não apenas as cinco investigadas, cobrando preço fixo e recolhendo impostos? Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública. Tento compreender esta caçada como parte da disputa política, muito embora seja um método repugnante de luta. Não é o Lula que pretendem condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de brasileiros. Na tentativa de destruir uma corrente de pensamento, estão destruindo os fundamentos da democracia no Brasil. É necessário frisar que nós, do PT, sempre apoiamos a investigação, o julgamento e a punição de quem desvia dinheiro do povo. Não é uma afirmação retórica: nós combatemos a corrupção na prática. Ninguém atuou tanto para criar mecanismos de transparência e controle de verbas públicas, para fortalecer a Polícia Federal, a Receita e o Ministério Público, para aprovar no Congresso leis mais eficazes contra a corrupção e o crime organizado. Isso é reconhecido até mesmo pelos procuradores que nos acusam. Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história. O que me preocupa, e a todos os democratas, são as contínuas violações ao Estado de Direito. É a sombra do estado de exceção que vem se erguendo sobre o país. *Ex-Presidente da República, publicado na Folha de São Paulo.
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Política como cuidado para com o povo Leonardo Boff* Já passaram as eleições municipais dentro de um contexto político dramático, com um governo federal com baixa credibilidade e com legitimidade discutível.O ideário dos grupos progressistas não conseguiu conquistar os eleitores. Houve considerável número de votos brancos, nulos e abstenções, que no total superarou os votos do candidato vitorioso no primeiro turno da cidade de São Paulo. Isso vem mostrar o desinteresse generalizado pela política que se tornou para muitos lugar do sujo, da desmoralização e da corrupção. Com efeito grande parte dos políticos visam a chegar ao poder por interesses e uma vez no poder, a promover a reeleição. Muitos deles não vivem para a política mas da política. Deforma-se assim a natureza da política como busca comum do bem comum. Pior, o político interesseiro se coloca acima do bem e do mal. Só faz o bem quando possível e o mal sempre que necessário. Mas importa denunciar: trata-se do exercício perverso do poder político. Max Weber em seu famoso texto de 1919 aos estudantes da Universidade de Munique, desanimados pelas condições humilhantes impostas pelas potências que venceram a Alemanha na primeira grande guerra, A Política como Vocação, já havia advertido:”Quem faz política busca o poder. Poder ou como meio a serviço de outros fins ou poder por causa dele mesmo, para desfrutar do prestígio que ele confere”. Esse último modo de poder político foi exercido historicamente por grande parte de nossas elites , herdeiras da Casa Grande, a fim de se beneficiar dele, esquecendo o sujeito e o destinatário de todo o poder que é o povo. Precisamos resgatar o poder como expressão político-jurídico da soberania popular e como meio a serviço de objetivos sociais coletivos. Só este é moral e ético. É fundamental, pois, contar com políticos que não façam do poder um fim em si e para seu proveito, ligados a processos de corrupção, tão largamente publicitados,
mas o poder como uma mediação necessária para realizar o bem comum, a partir de baixo, dos excluídos e marginalizados. O páleo-cristianismo chamava a isso de liturgia que significava: serviço ao povo, aquele que agrada a Deus. É neste contexto que queremos recuperar a figura ímpar de político dos tempos modernos, Mahatma Gandhi. Para ele, a política “é um gesto amoroso para com o povo” que se traduz pelo “cuidado com o bem-estar de todos a partir dos pobres”. Ele mesmo confessa: ”Entrei na política por amor à vida dos fracos; morei com os pobres, recebi párias como hóspedes, lutei para que tivessem direitos políticos iguais aos nossos, desafiei reis, esqueci-me das vezes que estive preso”. O mesmo se poderia dizer de outra figura exemplar: Nelson Mandela que, depois de dezenas de anos de prisão, superou o apartheid da África do Sul, eleito presidente daquele país. Nestes tempos de desesperança política, por causa do muito ódio que grassa na sociedade e também por aquilo que não poucos denunciam como um golpe parlamentar-judiciário contra uma presidenta consagrada por uma eleição majoritária, precisamos reforçar os governantes que se propõem cuidar do povo e fazer com que o cuidado se constitua na marca da condução da vida social no município, no estado e na federação. Na verdade, o Brasil precisa urgentemente de quem cuide dos pobres e marginalizados. Lula e Dilma intencionalmente se propuseram cuidar e não administrar o povo, mediante políticas sociais de resgate de sua vida e dignidade. Atualmente predomina uma política que cuida menos do povo e mais dos ajustes severos na economia, da estabilização monetária, da inflação, da dívida pública federal e estadual, da privatização de bens públicos e de nosso alinhamento no projeto-mundo. Tudo é feito sem
escutar o povo e até contra direitos sociais, conquistados a duras penas. O mercado comanda a política e impõe fortes constrangimentos ao Estado em crise. Com isso desaparece a dimensão ética do cuidado para com o povo e para com os mais vulneráveis. Cuidado mesmo, meticuloso e até materno há, sim, para com as elites dominantes, para com os bancos e para o sistema financeiro nacional e internacional que têm lucros exorbitantes. Em lugar de cuidado, há na política administração das demandas populares, atendidas de forma paliativa, mais para abafar a inquietação e impedir a revolta justa do que para atacar as causas de seu sofrimento. O cuidado para com o povo exige conhecer suas entranhas por experiência, sentir seus apelos, compadecer-se de sua miséria, encher-se de iracúndia sagrada e escutar, escutar e mais uma vez escutar. Deveria haver um Ministério da Escuta, como, aliás, existe em Cuba. Neste Ministério deveriam estar os discípulos de Paulo Freire e não os seguidores de Pavlov e de Skinner, os mestres de uma visão mecanicista da vida humana. Escutar a saga do povo, seus padecimentos e suas esperanças, as soluções que encontrou, o Brasil que sonha. Ele quer bem pouca coisa: trabalhar e com o trabalho dignamente pago, comer, morar, educar os filhos, ter segurança, saúde, transporte, cultura e lazer para torcer pelos seus times de estimação e fazer suas festas e cantorias. O que ele mais quer é dignidade e ser reconhecido como gente e ser respeitado. O povo merece esse cuidado, essa relação amorosa que espanca a insegurança, confere confiança e realiza o sentido mais alto da política. * Leonardo Boff é teólogo e filósofo, articulista do JB on line
O poder precisa estar efetivamente nas mãos do povo Marcelo Chalréo* Para muitos talvez tenha sido surpreendente o volume de votos nulos, brancos e as abstenções nas eleições municipais desse ano; para outros, nem tanto. Em certas cidades, sobremodo de porte grande ou médio, o somatório dessas opções do eleitor girou na casa dos 40%. O que terá acontecido, o que está acontecendo? Perguntas desse tipo frequentaram o noticiário mais recente quanto a esse quadro. Desinteresse? Repulsa à democracia? Repulsa ao processo eleitoral? Esgotamento desse modelo? Parece que todos os analistas convergem para uma leitura de que algo ocorre, que o eleitor esse ser chamada a cada dois anos para “participar” dos destinos cívicos da Nação - vem mostrando certo cansaço com esse processo, ou mesmo certa repulsa, não lhe satisfaz o que ocorre a cada dois anos Brasil afora. Os parlamentos brasileiros, dos municipais, passando pelos estados, ao federal, dão mostras crescentes de organismos absolutamente distantes das mais sensíveis necessidades do nosso povo. Se a hipertrofia dos Executivos, ainda que parcialmente minorada pela Constituição de 88, ainda é algo que torna quase adornante os parlamentos em muitas matérias, não menos certo me parece que a necessidade de outro ou outros modelos que oxigenem a participação popular torna-se algo mais do necessário, mas imperioso. Há um evidente
déficit de democracia no Brasil. Não falo apenas da democracia representativa e do modelo liberal-social vigente, falo do esgotamento de canais de participação e decisão que não podem mais ficar circunscritos a essa periodicidade que ao fim e ao cabo parece se esgotar em si própria e não produz um quê de elevação da consciência civilizatória e cidadã (isso nos marcos do minimamente republicano). O modelo, penso, não está distorcido pela quantidade de partidos políticos - o que, certa forma, decorre mesmo dessa parca representativa - e não será resolvido por medidas burocráticas de restrição ou cerceio, mas por conta de um crescente e evidente distanciamento de um processo que não dá conta das multifacetadas formas e desejos de participação na vida cotidiana. É preciso radicalizar a democracia brasileira, as pessoas, os cidadãos têm que ser chamados com mais frequência à participação nos rumos dos seus destinos; a democracia precisa ser popularizada, precisa alcançar todos os Poderes da República, no que inclui o hermético Judiciário; a participação popular deve ser algo do dia a dia; mecanismos e instrumentos precisam ser criados e instituídos com essa finalidade; o poder precisa estar efetivamente nas mãos do povo, não basta ser exercido em seu nome. *Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ
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Afonsinho
Entrevista
por Ricardo Rabelo
“Não adianta ter paz com desigualdade e injustiça” Afonso Celso Garcia Reis, mais conhecido como Afonsinho, nasceu em São Paulo em 1947 e foi criado no município de Marília no interior do estado. Ex-jogador de futebol ficou nacionalmente conhecido ao jogar como meia armador no time do Botafogo entre 1965 e 1970 ao lado de craques como Jairzinho e Gerson. Atleta militante e estudante de medicina, participou das manifestações contra a ditadura e foi o primeiro jogador do Brasil a conquistar o passe livre. Atuou também pelo Olaria, Vasco da Gama, Santos, Flamengo, América-MG, Madureira e Fluminense onde encerrou a carreira. Paralelamente ao futebol formou-se em medicina pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, hoje UNIRIO, função que exerce até hoje como médico de família na Ilha de Paquetá onde reside. Em entrevista ao Bafafá, Afonsinho admite que chegou a ser sondado para participar da luta armada contra o regime. “Gostava de participar dos debates sobre a situação política no país e fui realmente sondado, mas não tinha condições de ir, pois ainda estava jogando”, segreda. O ex-jogador fala sobre vários temas: infância, início no futebol, Copa do Mundo no Brasil e política. “Não há argumento que sustente a destituição de Dilma. Foi um golpe midiático-parlamentar”, assegura. Sobre utopias, não titubeia: “Todo mundo fala em paz, mas a paz é filha da justiça. Não adianta ter paz com desigualdade e injustiça”.
Como foram a sua infância e ju- num lugar errado e acabei pegando também, como estava em crise com o Boventude? um ônibus para ir até o fluminense. No tafogo sem jogar em sequencia penso que A minha infância foi em Marília de uma família de ferroviários. Meu avô era imigrante português e maquinista de trem. Meu pai era telegrafista e meu padrinho do administrativo da estrada de ferro. Minha mãe era professora primária e acabou influenciando papai que se interessou também pelo magistério onde acabou ficando mais de 30 anos. Quando ele se formou professor fomos morar em Jaú quando eu tinha de 09 para 10 anos. Lá ele fez curso para diretor de grupo escolar. Desde Marília eu jogava bola na rua e no quintal da fazenda de café Coqueiro no acesso ao aeroporto. Em Jaú fazia timezinhos de garotos com destaque para o Infantil Náutico do time de mesmo nome. Daí para o XV de Jaú foi um pulo, time que já tinha certa tradição. Eu pegava bolas atrás do gol e acabei no time amador. De 1963 a 1965, com 15 anos, já disputava a segunda divisão profissional e viajava de Kombi para os jogos (riso).
“O primeiro convite para jogar no Rio foi do fluminense” Como foi a ida para o Botafogo?
O primeiro convite para jogar no Rio foi do fluminense. Como era no meio do ano meu pai sugeriu que esperasse o ano letivo terminar para aceitar. Nesse intervalo teve uma mudança no fluminense e o seu diretor de base, seu Walter Vasconcellos, acabou contratado pelo Botafogo. Ao completar o ano fui para o Rio de Janeiro com a carta de admissão dos dois times (riso). Cheguei na rodoviária, não conhecida nada. Fui parar
caminho passei pelo Botafogo e acabei descendo (riso). Fiz o teste e mandaram voltar para ficar. Cheguei ao Rio depois do carnaval de 65 e paralelamente fui estudar o terceiro científico. Fiquei um semestre jogando nos juniores e acabei sendo aproveitado no time principal. Foram cinco anos de Botafogo e um período rico.
não havia condições de ser convocado em 70. A partir daí resolvi parar e prosseguir os estudos de medicina.
Tinham vários jogadores da seleção: Manga, Jairzinho, Rildo, Leônidas, Gerson. Quando eu virei titular fazia o meio de campo com o Gerson.
tava de participar dos debates sobre a situação política no país. Fui realmente sondado, mas não tinha condições de ir, pois ainda estava jogando.
Confere que foi dispensado do Botafogo por não querer cortar o cabelo e a barba?
“Fui o primeiro jogador a obter o passe na justiça”
Você foi o primeiro jogador a conquistar o passe livre? Sim, fui o primeiro a obter o passe na justiça.
Confere que quase aderiu à luta Como foi jogar ao lado do Jairzi- armada para depor a Ditadura? nho? Além de jogador eu era estudante e gos-
Era uma rebeldia da juventude na época. Me encostar por isso foi um pretexto. A verdade é que com as mudanças no clube o Zagalo montou o time com um volante, um jogador de marcação, um meia armador e um ponta esquerda voltando. Eu não tinha mais vez no time. Acabou que o relacionamento foi se deteriorando e culminou com minha ida à justiça pelo passe livre. Eu não podia sair do time e não podia jogar em outro. Passou a ser um martírio ir ao clube. Acabei emprestado ao Olaria onde fui muito bem, quase um renascimento. O time fez uma excursão pelo mundo e acabou convidado para fazer jogos treinos com a seleção que ia para o Mundial de 70.
Por que não jogou a Copa de 70?
Todo jogador aspira a seleção, eu
Como está vendo a política no país? Ficou muito claro que houve um golpe. Não há argumento que sustente a destituição de Dilma. Foi um golpe midiático-parlamentar. Lamentável, nesta altura, nos depararmos com uma situação dolorosa dessas. O que fica mais claro é a fragilidade política da sociedade brasileira. Sem querer esconder as falhas do governo penso que foi uma solução radical. O conjunto de fatores de sua destituição inclui o machismo. É preciso se organizar de maneira a reencontrar o caminho democrático.
Como viu a Copa do Mundo no Brasil?
O Brasil caiu de produção e tomou aqueles 7 X 1 da Alemanha. Isso é fruto da má condução do futebol no país. E também da baixa qualidade de nossos craques, basta ver o desempenho dos atletas brasileiros na Liga Europeia. Hoje exportamos goleiros e zagueiros ao invés de atacantes. Na Copa do Mundo no Brasil, sobrecarregaram o Neymar com a função de capitão e só agora o tiraram do cargo. Foi um desacerto que acabou sendo fatal. Outra coisa também é que o Brasil deu mais valor à preparação física do que técnica e isso não é característica de nosso futebol. Inverteu-se a prioridade.
Você é médico aposentado, mas atua ainda como médico de família?
É uma identificação muito grande para mim. Nunca atuei numa empresa privada, sempre trabalhei com o serviço público.
Como é morar em Paquetá?
A minha mulher sempre frequentou Paquetá e quando me aposentei resolvemos morar lá.
Tem alguma utopia?
Sempre acredito no homem. Ele tem que ser capaz de coisas sublimes e criativas. Por isso existem os Picasso, Niemeyer, Pelé. A minha utopia é distribuir o produto do trabalho de maneira mais justa. Todo mundo fala em paz, mas a paz é filha da justiça. Não adianta ter paz com desigualdade e injustiça.
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Desvendando Moro Rogério Cezar de Cerqueira Leite* O húngaro George Pólya, um matemático sensato, o que é uma raridade, nos sugere ataques alternativos quando um problema parece ser insolúvel. Um deles consiste em buscar exemplos semelhantes paralelos de problemas já resolvidos e usar suas soluções como primeira aproximação. Pois bem, a história tem muitos exemplos de justiceiros messiânicos como o juiz Sergio Moro e seus sequazes da Promotoria Pública. Dentre os exemplos se destaca o dominicano Girolamo Savonarola, representante tardio do puritanismo medieval. É notável o fato de que Savonarola e Leonardo da Vinci tenham nascido no mesmo ano. Morria a Idade Média estrebuchando e nascia fulgurante o Renascimento. Educado por seu avô, empedernido moralista, o jovem Savonarola agiganta-se contra a corrupção da aristocracia e da igreja. Para ele ter existido era absolutamente
necessário o campo fértil da corrupção que permeou o início do Renascimento. Imaginem só como Moro seria terrivelmente infeliz se não existisse corrupção para ser combatida. Todavia existe uma diferença essencial, apesar das muitas conformidades, entre o fanático dominicano e o juiz do Paraná - não há indícios de parcialidade nos registros históricos da exuberante vida de Savonarola, como aliás aponta o jovem Maquiavel, o mais fecundo pensador do Renascimento italiano. É preciso, portanto, adicionar um outro componente à constituição da personalidade de Moro - o sentimento aristocrático, isto é, a sensação, inconsciente por vezes, de que se é superior ao resto da humanidade e de que lhe é destinado um lugar de dominância sobre os demais, o que poderíamos chamar de “síndrome do escolhido”. Essa convicção tem como consequência inexorável o postulado de que o plebeu que chega a status sociais elevados é um usurpador. Lula é um usurpador e, por-
tanto, precisa ser caçado. O PT no poder está usurpando o legítimo poder da aristocracia, ou melhor, do PSDB. A corrupção é quase que apenas um pretexto. Moro não percebe, em seu esquema fanático, que a sua justiça não é muito mais que intolerância moralista. E que por isso mesmo não tem como sobreviver, pois seus apoiadores do DEM e do PSDB não o tolerarão após a neutralização da ameaça que representa o PT. Savonarola, após ter abalado o poder dos Médici em Florença, é atraído ardilosamente a Roma pelo papa Alexandre 6º, o Borgia, corrupto e libertino, que se beneficiara com o enfraquecimento da ameaçadora Florença. Em Roma, Savonarola foi queimado. Cuidado Moro, o destino dos moralistas fanáticos é a fogueira. Só vai vosmecê sobreviver enquanto Lula e o PT estiverem vivos e atuantes. Ou seja, enquanto você e seus promotores forem úteis para a elite política brasileira, seja ela legitimamente aristocrática ou não. *Físico e professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
Sobre Lula, Jk e Getúlio Ângela Carrato* Como diz a legítima presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, prender o Lula é um corolário do golpe jurídico-midiático em que o país está mergulhado. O golpe só se completará com a criminalização e o impedimento de Lula disputar as eleições de 2018. A prisão do melhor presidente de toda a nossa história é indispensável aos golpistas, porque livre e em eleições limpas, ele vencerá. A mais recente pesquisa do Instituto Vox Populi, por exemplo, aponta Lula liderando em todos os cenários, com 34% das intenções de voto. Esse é também o motivo da verdadeira caçada a ele que a elite nacional, com o apoio da velha mídia golpista (Globo à frente), empreende há anos. Dificilmente qualquer político brasileiro sobreviveria ao bombardeio de mentiras que mídia e justiça têm feito contra Lula. Sem falar que a velha mídia comercial nunca lhe deu trégua, nem quando era presidente e contava com altíssimas percentagens de aprovação popular. Mesmo as derrotas que antecederam sua chegada à presidência se devem muito às Organizações Globo que distorceram e manipularam a edição de debates como o último entre ele e Collor. Políticos, intelectuais e jornalistas de todo o mundo, que conhecem e respeitam o trabalho de Lula, têm dificuldades para entender o absurdo que estão fazendo com ele em seu próprio país. Não falta quem o compare a Mandela, perseguido e preso por 20 anos por lutar contra o apartheid na África do Sul. Vale lembrar que o apartheid acontecia em plena “democracia”. Democracia tão democrática quanto a brasileira destes sombrios tempos de Temer.
Mas Lula não é só o melhor presidente que o Brasil já teve. É um ícone na luta contra a fome e a desigualdade no Brasil e no mundo. Daí, o ódio dos defensores de privilégios a ele. Ódio que nutriram também contra Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Quando Juscelino morreu, em 1976, viu-se que ele deixou uma pequena fazenda em Luziânia e um apartamento no Rio de Janeiro. Na época, poucos se lembraram da perseguição de que foi vítima nos anos que se seguiram ao golpe civil-militar de 1964, quando a ditadura alardeou que ele fora cassado porque era corrupto e enriquecera com as obras de construção de Brasília. JK foi cassado e perseguido, porque, como Lula, seria eleito nas eleições presidenciais de 1966, sepultando assim a república dos golpistas. Depois da criminalização de JK, as eleições foram desmarcadas e o Brasil só pode votar novamente para presidente em 1989. Antes de cometer suicídio, Getúlio Vargas foi submetido a uma campanha difamatória sem paralelos até então. O PSDB da época, que atendia pelo nome de UDN, não parava de denunciar o “mar de lama” no qual estaria envolvido o presidente e seus familiares. E a mídia, como hoje, não abria o mínimo espaço para o contraditório. O atentado a que o jornalista Carlos Lacerda, a principal voz contra Getúlio, foi vítima e que resultou na morte de um oficial que fazia sua segurança, deu origem a inquéritos policiais militares conduzidos pela Aeronáutica que ficaram conhecidos como República
do Galeão. Inquéritos que, pela parcialidade e falta de transparência, muito se assemelham às investigações hoje conduzidas pela Operação Lava Jato. Décadas se passaram e Getúlio, ao contrário do que pretendia o ex-príncipe dos sociólogos, não foi esquecido. JK é sinônimo de político competente, empreendedor, democrático e alegre. Quanto a Lula, toda a perseguição que vem sendo vítima não foi suficiente para derrotá-lo. Lula é povo e o povo sabe disso. Se no passado, o povo brasileiro não conseguiu defender seus dois presidentes queridos, o juiz Moro tem tudo para se dar mal com Lula. Após centenas de delações -algumas obtidas em condições quase desumanas- Moro não conseguiu nada contra Lula. Acusam-no de ser dono de um tríplex que um dia ele pensou em comprar, mas não comprou. Acusam-no de ser dono de um sítio que não é dele. Acusações, aliás, muito parecidas com as dirigidas a JK. Para os golpistas daquela época, JK era o dono de um prédio na avenida Viera Souto, em Copacabana. Só que o prédio pertencia a um amigo seu, Sebastião Paes de Almeida. A prova do crime: o prédio, em frente ao mar, ter o nome de Ciamar que, para os golpistas, seria o nome da filha de JK disfarçado. Não basta ver golpista. Tem também que ser ridículo! Por tudo isso, para nós, povo brasileiro, só resta uma alternativa: defender Lula. E, ao defender Lula, poderemos estar abreviando em muito a duração do atual golpe. *Jornalista e professora da UFMG.
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Luta contra a PEC 241 No dia 10 de outubro, foi votada em 1º turno na Câmara dos Deputados a PEC 241. A matéria volta para o plenário nos próximos dias. Precisamos de uma grande mobilização para que os 366 deputados (as), que votaram a favor, revejam os seus votos. É fundamental utilizarmos as Redes para mobilizar as pessoas a enviarem mensagens aos parlamentares pedindo o voto NÂO à PEC 24. Por isso, você pode enviar mensagens inbox pelo facebook, comentar nas páginas, enfim, dar o seu recado! Chico Alencar, deputado federal (PSOL-RJ)
Espetaculizarição Lá em Curitiba, se deu notícias sobre organização criminosa, colocando o presidente Lula como líder da organização criminosa, dando a impressão, sim, de que se estaria investigando essa organização criminosa, mas o objeto da denúncia não foi nada disso. Essa espetacularização do episódio não é compatível nem como objeto da denúncia nem com a seriedade que se exige na operação desses fatos. Teori Zavascki, ministro do STF e relator Lava Jato
A prisão de Cunha Se Cunha resolver falar e tiver condições de apresentar provas – e é claro se os procuradores da Lava Jato aceitarem sua delação – o governo Temer poderá ter seus dias contados. Neste caso, ironia da história, Temer seria derrubado pelas mesmas mãos que o colocaram no poder. Mas há um outro aspecto também. A prisão de Eduardo Cunha – necessária e tardia – pode ser convenientemente utilizada para dourar a pílula de uma arbitrariedade contra Lula. Afinal, passaria à sociedade a mensagem de que a Lava Jato não é seletiva, ocultando que dos tucanos citados permaneceram ilesos, bem como a cúpula do PMDB. Os dados foram lançados. A prisão de Cunha foi uma jogada ousada de Moro. Resta saber como sua República de Curitiba conduzirá os próximos lances. Guilherme Boulos, líder do MTST
Brasil da vergonha Vivemos no Brasil sob a égide do aprisionamento
Rio de Janeiro - Outubro / 2016
em massa e do extermínio. Prende-se mal e nada se faz em relação a epidemia de homicídios que leva 60 mil vidas todos os anos, a maioria homens jovens e, entre esses, negros. E a taxa de resolução dos homicídios fica entre 5 e 8%. Prendemos mal e não nos importamos com o assassinato cotidiano de jovens e negros. Esse é o Brasil da demagogia eleitoreira oportunista que se alimenta do medo, da irresponsabilidade cúmplice das autoridades, da voracidade do negócio prisional que alimenta a corrupção e o crime organizado, e da indiferença chocante de parte significativa das chamadas elites em relação a essa tragédia cotidiana. Um Brasil do qual sinto vergonha e profunda indignação. Átila Roque, Diretor executivo da Anistia Internacional Brasil
Homem bomba Dumont no Rio de Janeiro e deu sapatadas nele, mas não é o correto. O correto seria o MOrooooooooooooo pegar logo o processo dele e fazer valer as leis que se aplicam a quem comete crimes. Se Cunha tiver cometido algum crime, seja punido pela lei. Mas MOrooooooooooooo aparentemente não vai julgar Cunha esse ano. Ele será o homem bomba para derrubar Temer ano que vem... Aguardem. Tico Santa Cruz, cantor
Mais pelo Haiti A passagem do furacão Matthew pela América Central, especificamente pelo Haiti, provocou uma catástrofe humanitária. Mais de mil pessoas já foram dadas como mortas, outras estão hospitalizadas e centenas de milhares estão sem ter onde morar. O braço da ONU sobre a saúde emitiu um alerta para o risco de epidemias se alastrarem, devido às más condições de saneamento básico e às inundações. Esse problema não pode ser invisibilizado. A comunidade internacional precisa ajudar. Temos que chamar atenção para o que acontece no Haiti. Não são suficientes os anúncios feitos até agora por organismos internacionais e pelos governos das Américas a respeito da situação.
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O chanceler José Serra, apesar de enrolado com as investigações da Operação Lava-Jato, que sugerem que ele teria sido um dos maiores recebedores de propina nas últimas eleições, precisa se engajar em algum tipo de solução negociada com outros países. No Haiti estão militares brasileiros, que lideram os capacetes azuis, como são chamados os soldados da missão de paz da ONU. Por desempenhar um papel relevante junto à garantia da missão internacional, o Brasil tem inclusive mais condições de colaborar com a recuperação das condições humanitárias. À sociedade civil também cabe um papel importante. Além de pressionar politicamente os governantes, podemos colaborar com alguma das diversas organizações que realizam trabalhos de amparo. São os casos, por exemplo, dos Médicos Sem Fronteiras e da Cruz Vermelha. Toda ajuda nesse momento é bem vinda. Precisamos fazer mais pelo Haiti! Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ).
Desafio Meritíssimo juiz Sérgio Moro: prender Cunha é como mijar em caixão de defunto. Quero ver se o senhor tem peito para prender o José Serra (R$ 23 milhões) e o Michel Temer (R$ 11,3 milhões). Fernando Morais, jornalista
Bafafá com Freixo Não queremos fundamentalistas comandando a cidade do Rio de Janeiro. A eleição do candidato da igreja Universal seria um retrocesso político e cultural. Por esta razão, nós do Bafafá, fechamos com Freixo. A redação
Hora da Virada É a #HoraDaVirada50 com Marcelo Freixo! Vamos conversar com todo mundo, amigos, colegas de trabalho e estudo, familiares, vizinhos e até com quem você ainda não conhece! É hora de conquistar novos votos e mostrar que a mudança é possível! Chico Alencar
Marina - E a Marina, hein? - Sifu!... Carlos Garcez, jornalista
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Rio de Janeiro - Outubro / 2016
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