Ano 15 - Nº 124 - Abril 2016
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st i v e r t En
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“Vi o impeachment com tristeza e vergonha”
f f o B ardo
Leon
Genézio Darci Boff, mais conhecido com o pseudônimo de Leonardo Boff, é teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos. Nascido em Concórdia, Santa Catarina, em 14 de dezembro de 1938, é um dos principais pensadores de esquerda no país e defensor de uma nova ordem ecológica mundial. Ex-membro da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) e atualmente professor emérito de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Boff fala com exclusividade ao Bafafá. Segundo ele, o impeachment de Dilma é um jogo de cartas marcadas. “Pareciam moleques brincando numa praça”. Para ele, se Temer chegar à presidência será a perpetuação da crise. “Temer é um fraco, um vaidoso que cometeu crime de sedição, pelo qual deveria ser julgado”, fuzila. Leia mais na página 9
Editorial
No governo ou na rua, a luta continua
Naquela fantasmagórica sessão, que jamais se apagará da história da Câmara, foi dado o primeiro passo no Congresso para a consumação do golpe contra o voto de 54 milhões de brasileiros. Dilma está sendo julgada sem nenhuma acusação consistente, sob o comando de um personagem delinquencial, processado por vários crimes, aqui dentro e no exterior.
NESTA : O Leonardo Boff EDIÇÃ Marcelo Freixo
Mas vai ser muito difícil esse esbulho à vontade popular. De norte a sul, os brasileiros prosseguirão no combate contra o atraso e a volta ao passado e na defesa do mandato de Dilma. Milhões de vozes, num coro ensurdecedor, estarão bradando e repetindo sem cansar: “No governo ou na rua, a luta continua”.
Leia mais na página 2
Emir Sader José Maria Rabelo Ângela Carrato Agamenon de Oliveira Ricardo Rabelo Emanuel Cancela Wadih Damous Leonel Brizola Neto
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Editorial No governo ou na rua, a luta continua Está cada vez mais claro que o impeachment é um golpe tramado pelas oligarquias e seus representantes. A sessão sombria da Câmara, sob o comando de um meganegocista processado por corrupção aqui dentro e no exterior, mostrou com todas as evidências o caráter golpista da medida que estava sendo votada. De Maluf a Bolsonaro, de Tiririca à maluca de Montes Claros, ou de outros figurantes tão ou mais extravagantes ainda, o que os dominava os deputados não era o compromisso de fazer um julgamento sério, mas a decisão de tirar a presidente a qualquer custo, anulando o voto de 54 milhões de brasileiros. Não há nenhuma acusação consistente contra Dilma que possa configurar a mínima base legal para seu afastamento. As chamadas pedaladas não passam de procedimentos fiscais para atender a situações transitórias e excepcionais da administração. Não significam nenhum ônus ou prejuízo para o Tesouro, e menos ainda qualquer ato de corrupção ou improbidade. São expedientes meramente contábeis a que todos os governos têm recorrido, com maior ou menor intensidade. Neste momento, a quase totalidade dos Estados as pratica regularmente. Por isso, não se pode dizer que exista crime de responsabilidade atribuível ao governo Dilma. Tudo não passa de mero casuísmo para justificar o injustificável, esse golpe de Estado disfarçado de impeachment. As outras acusações contra o governo são igualmente destituídas de todo fundamento. A corrupção, por exemplo, é mal que aflige o Brasil desde que se tornou uma nação, mas nunca foi tão combatida como agora, sob as administrações de Dilma. Os órgãos investigadores, como a Polícia Federal ou a Procuradoria-Geral da República, jamais sofreram pressão de qualquer tipo para interromper seus trabalhos, ao contrário do que acontecia no governo FHC. Lembre-se do procurador da República de então, Geraldo Brindeiro, que, de tanto acobertar as denúncias, foi apelidado de Engavetador-Geral da
República. Ao findar sua gestão, havia mais de 80 processos por malversação de dinheiro público retidos em seu gabinete. O desemprego, hoje em torno de 10%, chegou a 18% no último governo de FHC, e a taxa de juros Selic do Banco Central era de 45% contra os 14% de atualmente. A inflação, em outras épocas, como no governo Sarney, alcançou 80%, ou seja, quase 10 vezes maior do que a que temos hoje. E curioso: mostrando a hipocrisia da campanha contra Dilma, o ministro da Fazenda era Maílson da Nobrega, veemente crítico das atuais políticas financeiras. Em vários países europeus e em outras partes do mundo, esses dados são ainda mais graves do que os nossos, conforme números amplamente conhecidos. Na verdade, o real motivo para o golpe é o ódio das elites contra o povo brasileiro e qualquer governo que adote programas para melhorar suas condições de vida. Elas se uniram em torno do impeachment (ou golpe), numa frente conservadora incluindo as entidades patronais, a exemplo da mais poderosa delas, a FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo; praticamente toda a grande mídia, com a Rede Globo à frente; os deputados e senadores com seus mandatos comprados a peso de ouro e algumas organizações fascistóides que perambulam por aí, financiadas pelo dinheiro clandestino das grandes empresas, muitas delas à margem da Lei. Esta é a radiografia de um processo que pode (ou não) levar a uma aberração legal e política: a destituição de uma presidente contra qual não existe qualquer acusação séria. Só o povo, mobilizado de norte a sul, poderá impedir essa conspiração golpista e suas consequências nefastas para o povo brasileiro. É preciso dizer e repetir milhões de vezes, sem cansar: “No governo ou na rua, a luta continua”.
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A luta tem de continuar José Maria Rabêlo* O que vem por aí, na esteira da vitória direitista na Câmara, sobretudo se o Senado chegar a confirmá-la, é uma sucessão de medidas contrárias à maioria do povo brasileiro. Pelo anunciado programa de Temer “Uma ponte para o futuro”, por várias declarações suas e pelos nomes cogitados para o ministério, não há dúvidas quanto ao caráter conservador, privatista e antissocial de um eventual governo nascido daí. Compreenderá, certamente, uma pauta em favor dos grandes interesses e em detrimento dos que mais necessitam da ação do Estado, na qual se incluem o fim da obrigatoriedade dos gastos fixos com saúde e educação, a desvinculação dos benefícios da Previdência dos reajustes do salário mínimo, a reforma dos direitos trabalhistas, através da eliminação dos dissídios coletivos, que serão substituídos pela negociação direta entre patrões e empregados; a reforma da Previdência, elevando o tempo de serviço para homens e mulheres e o corte de outras vantagens; a redução das verbas dos programas sociais, a exemplo do Minha Casa, Minha Vida, do Mais Médicos, do Universidade para Todos e até mesmo do Bolsa-Família, etc., etc. Como sustenta um dos papas do neoliberalismo Milton Friedman, tão cortejado pelo patronato e pelas oligarquias financeiras, “há que cortar na carne; não existe outro caminho”. É claro que a carne nós sabemos de quem será: não a da elite de milionários e bilionários que representam menos de um por cento da população, mas dos trabalhadores, dos pensionistas e aposentados, dos servidores públicos, dos pobres e negros,
daqueles que só dispõem de uma riqueza, que é sua força de trabalho. Tem sido assim ao longo da História, como no regime militar, no Brasil, em que constituiu a base do chamado “milagre econômico”, ou no governo de Pinochet, no Chile, ambos identificados pelas mesmas políticas econômicas, que expropriaram durante anos os rendimentos da classe trabalhadora, reduzida a níveis extremos de miséria, enquanto os ricos se tornavam cada vez mais ricos. Armínio Fraga, Marcos Lisboa, Murilo Portugal e outros liberalões menos ilustres, apontados como possíveis ministros e colaboradores de Temer, tocam pela mesma partitura e têm o apoio dos principais representantes do setor capitalista, sobretudo de um capitalismo atrasado e incompetente como o brasileiro. Outras duas proposições figuram no arsenal do projetado novo (velho) governo. A primeira prevê uma abertura ainda maior do pré-sal às multinacionais do petróleo, como reconheceu à Folha de S. Paulo, de 16.02.2016, o diretor-presidente internacional da Shell, Ben Beurden, já citado por mim em artigo recente, ao afirmar que o assunto está na ordem do dia de seus planos para o Brasil. Aliás, uma proposta com esse objetivo, apresentada pelo senador tucano José Serra, cujo nome aparece como um dos possíveis ministros de Temer, foi aprovada no Congresso e precisa ser vetada por Dilma. A segunda é a reforma do Supremo Tribunal Federal com o aumento do número de seus membros, a fim de contrabalançar o que chamam de influência de ministros progressistas na atual constituição da casa, principalmente os
nomeados pelas administrações petistas. Assim, o tribunal ganharia uma meia dúzia de novos Gilmar Mendes ou assemelhados... A “Cláusula da Bengala”, que elevou a idade para a aposentadoria dos integrantes da alta corte, é um indício do que pode ser feito naquele sentido. Estas e outras ações, que estão na mira das forças favoráveis à queda de Dilma e do projeto político que representa, assegurariam a prevalência das posições conservadoras no País por 10, 20 ou 30 anos, num processo de difícil retificação, que anularia as mais importantes conquistas sociais obtidas nos últimos governos. No plano internacional, assistiríamos à substituição da atual política externa independente pelo alinhamento automático às grandes potências, os EUA à frente, com o abandono dos BRICS, do Mercosul e de outros organismos imprescindíveis às nossas estratégias mundiais e regionais. Não é isso que o senador Aluísio Nunes foi encarregado de esclarecer aos patrões do Norte? Não foi isso que Obama veio agradecer a Macri na Argentina? É preciso dizer não a esses programas regressivos, perversos, que visam assaltar de novo o poder e entregar o Brasil aos piores interesses antipopulares e antinacionais. A luta deve continuar, qualquer que seja o resultado do impeachment, mesmo à custa de todos os sacrifícios.
DILMA Qualquer que seja o resultado do impeachment, Dilma sai engrandecida de sua batalha contra o sindicato do crime que se instalou no cenário da política brasileira. Ela tem um lugar assegurado na História, pela sua coragem e dignidade. *Jornalista
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A senha da mala dos golpistas era citar a família? Emanuel Cancela* Chamou atenção dos brasileiros, no processo de impeachment da presidente Dilma, o fato de os deputados, que votaram pela sua admissibilidade, fazerem referência à família, pai, mãe, filho e esposa. Pouquíssimos falaram na motivação de seu voto, mas todos falaram da família. Todos sabemos que a maioria dos votantes tem, como motivação, além de seus argumentos mais pífios, a retaliação contra o PT, Dilma e Lula. Até o New York Times reconhece a inocência de Dilma, então é impossível que um parlamentar brasileiro não saiba disso. Por isso é estranho que os parlamentares possam ter envolvido a família num voto que ele(a) sabe que pode ter todos os embasamentos, menos a verdade, e, por mais cretina que seja essa pessoa, não iria envolver sua família
numa coisa espúria dessa. Até porque a maioria acredita em Deus e muitos são religiosos! Por isso, movido pela minha intuição conspiratória, acredito que a senha para receber a mala, que dizem que rolou, era citar a família. Dentro da minha tese, o que reforça minha desconfiança, foi um parlamentar, que não me lembro o nome, após votar, retornou bem depois ao microfone para homenagear a família. Como foi o único a voltar ao microfone fica fácil a lembrança. Outra coisa, a deputada Raquel Muniz (PSB), proferiu seu voto pelo impedimento e elogiou seu marido, o prefeito de Montes Claros (MG), Ruy Adriano Borges Muniz (PSB), e no dia seguinte, seu marido foi preso pela PF. Creio que uma deputada que estaria votando para combater a corrupção e por um novo país não iria citar um marido envolvido em falcatruas, a menos que isso fosse fundamental, por exemplo, como uma
Aos poucos as forças conservadoras avançam e uma nova batalha no senado se avizinha. É fundamental, também nesta nova escalada, que novas mobilizações de massa respaldem todos os passos do movimento antigolpe. O eixo central dessa nova fase é tornar público e notório o caráter ilegal e ilegítimo de um governo Temer. Temos que ter em mente, que ao contrário do que muitos pensam este Congresso não é a cara do Brasil, dada a sua baixíssima representatividade. Ele é fruto de uma situação muito particular de nossa história recente onde predominou o fisiologismo e um arranjo institucional montado pelas
elites para manter seus privilégios e estruturas de poder. Um sistema politico completamente voltado para campanhas eleitorais milionárias beneficiando exclusivamente os endinheirados e os políticos corruptos tipo Eduardo Cunha. Enfim, um sistema profundamente degenerado. Somente assim, foi possível que esse mesmo sistema se voltasse e atentasse contra a democracia numa espécie de desdemocratização, o que significa que o golpe vem em doses homeopáticas e não se enquadra na forma tradicional de um assalto ao poder. Nem por isto ele é menos danoso e autoritário. O avanço das forças reacionárias somente pode ser detido se os setores de esquerda conse-
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senha de acesso à mala. Segundo o renomado economista José Carlos de Assis aconteceu uma reunião, convocada pela Fiesp, no sentido de comprar o voto dos parlamentares a favor da saída da Dilma, no seguinte montante: FIESP, 300 milhões; FIRJAN, 100 milhões e Federação das Indústrias do Paraná e Rio Grande do Sul de 50 milhões cada. Fica aí minha contribuição aos órgãos investigatórios, Justiça, MPF e PF, até para deixar claro que não houve pagamento de propina, e que o voto dos parlamentares não teve outra motivação senão o bem do país! *Coordenador do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros). Fonte: Agência Petroleira de Notícia.
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Cenários possíveis da crise Agamenon Oliveira*
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guirem se aglutinar em torno de um programa político, essencialmente democrático e generoso que abrigue em seu interior os setores populares. Esta nova coalizão das forças de esquerda deve visar uma mudança substancial na correlação de forças políticas, empreender um conjunto de reformas, entre elas uma reforma política que quebre de uma vez por todas o atual sistema politico, plataforma na qual estão ancoradas as forças conservadoras e seu projeto antidemocrático, antipopular e de retirada de direitos dos trabalhadores. Agamenon Oliveira - Diretor do Senge/RJ
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A votação do impeachment foi uma vitória de pirro. Se o Brasil estava numa encruzilhada, ficou mais ainda. O Temer no comando vai levar o país à beira de uma guerra civil. Não posso nem dizer que confio no STF para reverter, pois este tribunal já deu provas de respaldo ao golpismo. De uma coisa tenho certeza: é preciso continuar nas ruas para derrubar esses golpistas! A primeira atitude é viabilizar um candidato unitário das forças progressistas do Rio de Janeiro para disputar a prefeitura. É preciso tomar a cidade do Paes e do PMDB!
Cunha
O Cunha e seus asseclas humilharam a democracia. O país viu uma grande conspiração comandada por um gângster e deputados fisiológicos! Temos um parlamento de envergonhar qualquer inocente! O Brasil viu Cunha e sua matilha tomando de assalto a Câmara. Esse personagem é tão golpista
que estabeleceu a votação do impeachment começando pelos deputados do sul do país. Os do nordeste votaram por último. O certo em qualquer parlamento seria por ordem alfabética. Até cego sabe que isso foi armação para induzir os indecisos!
Desabafo
Dilma não roubou, não atentou contra a segurança nacional, não traiu a pátria. Mas, seu mandato sofreu o impeachment de uma corja de 360 picaretas que assaltou a Câmara dos Deputados. Triste cenário político nacional. Se acham que tirar Dilma resolve, vão ver que, além dela, será o caos, a ingovernabilidade total. Quem viver verá!
STF
O mais estarrecedor foi a omissão do Supremo Tribunal Federal. Como este órgão pôde autorizar Eduardo Cunha comandar a sessão de impeachment
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Traição
Ricardo Rabelo Vitória de Pirro
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da presidenta Dilma? O que vimos na Câmara foi um show de petulância, desmando e práticas bandidescas.
Boicote ao Temer
Infelizmente tenho poucas expectativas de que o impeachment seja barrado no Senado. Para ser aprovado, precisa de apenas maioria simples. Pelo nível dos senadores acho improvável uma virada. Nem mesmo no STF, que poderia até anular o impeachment, tenho esperanças. Esse tribunal foi omisso e deixou um bandido comandar a destituição de uma presidente honesta. Desfazer a “lambança” seria quase igual a um milagre. Mas, uma coisa é certa: as forças progressistas têm como missão trabalhar para que Michel Temer no Planalto não consiga governar. Sou da opinião que a vida dele tem de ser infernizada com protestos diários, greves gerais e esculachos. Mostrar para ele o quanto vale dar um “golpe branco” e o quanto vale ser traíra. Defendo que, já numa eventual posse, a massa vá para as ruas protestar. Ele não pode ter um segundo de sossego.
A traição de Cabral e Paes mostra que tanto amor a Dilma e Lula era apenas para inglês ver. Dois atores medíocres que teriam feito governos piores sem os investimentos federais. Não tem uma obra no estado e na cidade sem recurso federal. Só nas olimpíadas foram R$ 35 bilhões. Fico me perguntando como alguém pôde ser tão canalha e apunhalar escancaradamente? Até o Leonardo Picciani foi mais honesto com Dilma e Lula e honrou o voto contra o impeachment.
Obras
Curioso é que todas as
grandes obras no Rio de Janeiro têm financiamento federal: Metrô, VLTs, BRTs, Anel Rodoviário, Estádios Olímpicos, Porto Maravilha. Esses “parceiros” literalmente cuspiram no prato que comeram. Que fique a lição que aliar com canalha sempre terá um triste fim!
Lula
Dizer que Lula foi derrotado é uma piada. Ao contrário, o ex-presidente sai desta batalha mais forte do que nunca e favori-
to para disputa em 2018. Basta ver as multidões que foram às ruas reverenciar seus discursos
Orgulho
Apesar de distante há muitos anos do meu partido, o PDT, ele mostrou coerência ao fechar contra o impeachment. Mais louvável ainda é expulsar os seis deputados traíras que votaram neste engodo. Achavam que nada ia acontecer! Orgulho!
Mídia
A mídia foi o artífice do golpe parlamentar. Que fique a lição: qualquer governo progressista que ganhar as eleições tem que ter como plataforma a regulação da mídia. Não se trata de censurar. Trata-se de impedir que um mesmo grupo de comunicação seja detentor de TVs e rádios simultaneamente. Por se tratar de concessão, o Estado tem obrigação de democratizar as ondas do ar.
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Um golpe parlamentar Leonardo Boff* Observando o comportamento dos parlamentares nos três dias em que discutiram a admissibilidade do impedimento da presidenta Dilma Rousseff parecia-nos ver criançolas se divertindo num jardim da infância. Gritarias por todo canto. Coros recitando seus mantras contra ou a favor do impedimento. Alguns vinham fantasiados com os símbolos de suas causas. Pessoas vestidas com a bandeira nacional como se estivessem num dia de carnaval. Placas com seus slogans repetitivos. Enfim, um espetáculo indigno de pessoas decentes de quem se esperaria um mínimo de seriedade. Chegou-se a fazer até um bolão de apostas como se fora um jogo do bicho ou de futebol. Mas o que mais causou estranheza foi a figura do presidente da Câmara que presidiu a sessão, o deputado Eduardo Cunha. Ele vem acusado de muitos crimes e é réu pelo Supremo Tribunal Federal: um gangster julgando uma mulher decente contra a qual ninguém ousou lhe atribuir qualquer crime. Precisamos questionar a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal por ter permitido esse ato que nos envergonhou nacional e internacionalmente a ponto de o New York Times de 15 de abril escrever: “Ela não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões”. Que interesse secreto alimenta a Suprema Corte face a tão escandalosa omissão? Recusamos a ideia de que esteja participando de alguma conspiração. Ocorreu na declaração de voto algo absolutamente desviante. Tratava-se de julgar se a presidenta havia cometido um crime de irresponsabilidade fiscal junto a outros manejos administrativos das finanças, base jurídica para um processo político de impedimento que implica destituir a presidenta de seu cargo, conseguido pelo voto popular majoritário. Grande parte dos deputados sequer se referiu a essa base jurídica, as famosas pedaladas fiscais etc. Ao invés de se ater juridicamente ao eventual crime, deram asas à politização da insatisfação generalizada que corre pela sociedade em razão da crise econômica, do desemprego e da corrupção na Petrobrás. Essa insatisfação pode representar um erro político da presidenta, mas não configura um crime.
Como num ritornello, a grande maioria se concentrou na corrupção e nos efeitos negativos da crise. Apostrofaram hipocritamente o governo de corrupto quando sabemos que um grande número de deputados está indiciado em crimes de corrupção. Boa parte deles se elegeu com dinheiro da corrupção política, sustentada pelas empresas. Generalizando, com honrosas exceções, os deputados não representam os interesses coletivos, mas aqueles das empresas que lhes financiaram as campanhas. Importa notar um fato preocupante: emergiu novamente como um espantalho a velha campanha que reforçou o golpe militar de 1964: as marchas da religião, da família, de Deus e contra a corrupção. Dezenas de parlamentares da bancada evangélica claramente fizeram discursos de tom religioso e invocando o nome de Deus. E todos, sem exceção, votaram pelo impedimento. Poucas vezes se ofendeu tanto o segundo mandamento da lei de Deus que proíbe usar o santo nome de Deus em vão. Grande parte dos parlamentares de forma pueril dedicavam seu voto à família, à esposa, à avó, aos filhos e aos netos, citando seus nomes, numa espetacularização da política de reles banalidade. Ao contrario, aqueles contra o impedimento argumentavam e mostravam um comportamento decente. Fez-se um julgamento apenas político sem embasamento jurídico convincente, o que fere o preceito constitucional. O que ocorreu foi um golpe parlamentar inaceitável. Os votos contra o impedimento não foram suficientes. Todos saímos diminuídos como nação e envergonhados dos representantes do povo que, na verdade, não o representam nem pretendem mudar as regras do jogo político. Agora nos resta esperar a racionalidade do Senado que irá analisar a validade ou não dos argumentos jurídicos, base para um julgamento político acerca de um eventual crime de responsabilidade, negado por notáveis juristas do país. Talvez não tenhamos ainda amadurecido como povo para poder realizar uma democracia digna deste nome: a tradução para o campo da política da soberania popular. *Leonardo Boff é articulista do JB online e escritor
Vísceras do Brasil Marcelo Freixo* Pela nação evangélica. Pelos fundamentos do cristianismo. Pelos maçons do Brasil. Pelos militares de 64. Pelos princípios que ensinei à minha filha. Pelo meu neto Gabriel. Pela minha esposa Mariana. Em homenagem ao meu pai Roberto Jefferson. Por Carlos Alberto Brilhante Ustra, o terror de Dilma. Para nenhum governo se levantar contra o povo de Israel. A sessão que autorizou na Câmara o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pareceu a encenação de uma farsa burlesco-religiosa que escancarou as vísceras do Parlamento e expôs a mediocridade humana dos nossos deputados. Eduardo Cunha, estrela do gangsterismo político, no papel principal de profeta da moralidade. Obreiros da chantagem estrebuchando bênçãos e misericórdias ao microfone. Vendilhões do templo condenando cinicamente a
corrupção. E os Judas Iscariotes da democracia distribuindo seus beijos àqueles que aplaudem o engodo. Muitas barbaridades foram cometidas em nome da moral religiosa. A consagração, como ocorreu na Câmara, da trindade Deus, pátria e família justificou tragédias, como a que estreou em 1º de abril de 1964 e durou penosos 25 anos. Ontem e hoje, não foram poucas as referências aos militares e os delírios sobre a ameaça comunista. Se um Congresso corrupto e comandado por um gangster pode se aproveitar da fragilidade de um governo para derrubar, através da chantagem, uma presidente democraticamente eleita e que não cometeu crime de responsabilidade, o mesmo pode acontecer em qualquer casa legislativa do país. É o parlamentarismo de extorsão. O mais desesperador é assistir ao êxtase coletivo de milhões de pessoas diante da vitória de Cunha e de gente que exalta torturadores da ditadura militar em pleno
Congresso Nacional. O que há para comemorar? O futuro governo de Temer e Cunha? Exatamente o PMDB, que faliu o Rio de Janeiro e não paga aposentados, é o símbolo do atraso. O analfabetismo político é socialmente produzido e alimentado pela própria elite política em seu benefício. A despolitização é uma estratégia de poder. Ela é a essência da crise. O impeachment foi apenas o aperitivo de um banquete desolador que está sendo preparado nos porões do Legislativo. Muito mais do que a absolvição dos pecados do capo-mor, que dificilmente será cassado, temos pela frente uma agenda política tenebrosa, que inclui o projeto escola sem partido, a flexibilização das leis trabalhistas e o ataque aos direitos das minorias. Cunha bem sabia do que estava falando quando, ao anunciar seu voto favorável ao processo de impeachment, pediu que “Deus tenha misericórdia desta nação”. *Deputado Estadual, PSOL-RJ, publicado na Folha de S. Paulo.
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A quem interessa o impedimento da atual presidente? Marcelo Chalréo* O impedimento, ou impeachment, não deve ser visto em um regime presidencialista apenas como um instrumento jurídico pelo qual se cassa ou retira o mandato de um presidente da República eleito pelo voto popular, mas também como um dispositivo constitucional capaz de ser utilizado em uma refrega política. O seu uso, ou tentativa, para essa finalidade foi tentado nos anos 1950 do século passado em face do então presidente Getúlio Vargas, que conseguiu evitar a destituição através desse mecanismo mas não a crise política que acabou o levando ao suicídio. Cerca de 40 anos depois, foi manejado para se apear da chefia do Executivo o presidente Collor de Melo, então acusado de corrupção muito embora, anos depois, ele tenha sido absolvido pelo Supremo Tribunal Federal do crime de responsabilidade que lhe fora imputado naquele procedimento. E o foi por considerar o STF que faltavam provas para tanto. Em ambos os casos, o tentado e o
conseguido, as análises foram mais políticas do que jurídicas (jamais se conseguiu provar, mesmo após a morte de Getúlio Vargas, haver envolvimento do presidente em atos de corrupção. Tentativas de impedimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parecem ter tido como móvel muito mais a querela política do que atos de corrupção (ou crimes de responsabilidade) praticados pelo sociólogo. Indo mais distante, o presidente Bill Clinton salvou-se de ser decretado impedido pelo Senado do seu país, pois antes a Câmara havia autorizado o processo. Isso por conta essencialmente de atos relacionados à sua vida privada, ou, se preferirem, a atos privados praticados por um presidente da República tido e havidos por alguns como não admissíveis ante o cargo - e as responsabilidades que dele decorrem - que ocupava. Lugo, no Paraguai, e Zelaya, em Honduras, viveram percalços e foram destituídos, por circunstâncias até hoje nebulosas do ponto de vista da suas responsabilidades criminais perante seus respecti-
vos países, mas, como dito, foram cassados. Esse pequeno histórico parece adequado nessa quadra em que vive o Brasil, pontuando aspecto que penso interessante, como, por exemplo, a inexistência do “popular recall “ em nossa Constituição, isto é, a impossibilidade de por uma expressiva e consistente maioria popular se extirpar um mandato popular em curso. Se há os que dizem que se deve respeito aos 54 milhões de votos obtidos pela atual presidente na última eleição, há os que dizem que os 51 milhões contrários aos quais agora se somam outros tantos milhões que à época votaram em branco e se abstiveram também merecem respeito, expressando a Câmara esse sentimento agora majoritário. Enfim, há muito o que se discutir e ponderar a respeito, mas me parece que o instrumento do impeachment há bom tempo deixou de ser apenas uma ferramenta jurídica ou essencialmente do Direito, mas também uma lança da luta política. Marcelo Chalréo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ
Quando dois brasis se enfrentam Ângela Carrato* Perplexo, o mundo não consegue entender como setores oposicionistas tentam depor Dilma Rousseff, uma presidente democraticamente reeleita, que não cometeu nenhum crime e sobre a qual não pesa qualquer acusação de corrupção ou algo que o valha. A perplexidade fica ainda maior quando se sabe que são exatamente os que querem depô-la os alvos de denúncias, comprovadas, de corrupção. O Brasil se tornou uma terra sem lei? O presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por exemplo, é réu, por unanimidade, em julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e continua à frente da Casa. Por deter mandato parlamentar, a sua destituição do cargo depende de aprovação do próprio STF, que tem lavado as mãos. Não há sequer, data para que o assunto seja votado pela Corte. Enquanto isso, Cunha, age como imperador, manobrando de todas as formas para que o processo de cassação contra ele, instaurado pelo Conselho de Ética da Câmara, não ande. Para pressionar Dilma Rousseff, cujo mandato anterior e o atual tem se caracterizado pelo combate à corrupção, Cunha aceitou um bizarro pedido de impeachment contra ela. O pedido tramitou em prazo recorde, está marcado por irregularidades de todo tipo e, mesmo assim, foi aprovado numa absurda sessão dominical que em nada ficou a dever a um programa de auditório de quinta categoria. Nenhum dos 367 votos dados pela abertura do impeachment se pautou por fatos objetivos, mas por declarações dos “nobres” deputados em homenagem às suas famílias, filhos, amigos, à igreja a qual frequentam e houve até quem, como o fascista Jair Bolsonaro, dedicasse seu voto a um dos piores torturadores brasileiros de todos os tempos. Non sense, show de horrores, teatro do absurdo foram algumas das classificações que a votação recebeu por parte da imprensa internacional, uma vez que a autointitulada grande mídia brasileira, por apoiar e ser parte do processo golpista, minimizou o espetáculo. Entre os absurdos cometidos por Cunha está, por exemplo, o fato de o STF ter determinado que ele aceitasse
também o pedido de impeachment contra o vice-presidente da República, Michel Temer, e que os dois processos tramitassem juntos. Graças às suas manobras, o processo de Temer não tem, sequer, relatório votado, ao passo que o contra Dilma já está no Senado, onde se dará a batalha final no âmbito legislativo. Novamente o STF nada fez e deixou que Cunha agisse como o dono da lei. Por essas e outras, com razão este processo de impeachment merece o nome de golpe. Não um golpe clássico, daqueles com intervenção dos militares e presença de tanques de guerra nas ruas, mas o chamado golpe frio, em que o Poder Judiciário e a mídia, atuando como partido político de oposição se unem para derrubar o ocupante do Executivo. A América Latina, no século XXI, registra dois antecedentes de golpes deste tipo, em Honduras e no Paraguai. No caso destes países, é fácil perceber as razões dos golpistas. As oligarquias dominantes não queriam e não querem abrir mão de seus privilégios e poderes e se sentiam confrontadas por governos de cunho popular. Mas e no Brasil? Guardadas as proporções, situação semelhante também se repete. Quando o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, afirma que “a burguesia paulista atrasa o desenvolvimento da América Latina”, ele sabe o que está dizendo. Não por acaso a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) é uma das principais patrocinadores dos movimentos em prol do impeachment, certa que tirando Dilma do poder, nada a impedirá de impor à sociedade suas pautas neoliberais: terceirização em todos os setores, redução do salário mínimo, esvaziamento e fim dos principais programas sociais e privatizações, incluindo aí a Petrobras e a Caixa Econômica Federal. Se apresentadas com sua verdadeira face à sociedade, estas mudanças seriam, como já foram, rechaçadas. Basta lembrar que o Partido dos Trabalhadores venceu as quatro últimas eleições presidenciais no Brasil. Mas o que é servido à sociedade - e aí reside a importância da mídia neste
processo golpista - é a velha e batida denúncia, sem provas, de corrupção contra apenas o PT. Aos empresários pretensamente modernos de São Paulo se somam entreguistas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra e o ressentido-mor, senador e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves. Foi o infantil inconformismo de Aécio com a derrota nas eleições presidenciais de 2014 que possibilitou o início de todo este processo. Ao contrário do que imaginavam os golpistas, aos poucos a população brasileira começa a perceber o que está em jogo. Recentes pesquisas de opinião mostram que se o governo de Dilma Rousseff não é bem avaliado, ninguém, aceita um eventual governo Temer e, menos ainda, Cunha na vice-presidência da República. Em outras palavras, se Dilma não conseguiu, até agora, iniciar efetivamente seu segundo mandato, os senhores do golpe também se encontram em apuros. O processo de impeachment é longo e o país terá pela frente, se o STF continuar lavando as mãos, seis meses de paralisia absoluta, mergulhando política e economicamente no que os analistas já chamam de “abismo”. Abismo que obviamente não interessa aos trabalhadores e nem aos setores democráticos da classe média e da própria elite. Dito de outra forma, desde já pesa sobre o STF a pecha de, por letargia, conivência com os golpistas ou insensibilidade social, ter deixado o país chegar ao caos. Saídas existem? Claro que sim, a começar pela revogação da palhaçada em que se constituiu a votação do impeachment na Câmara, a destituição de Cunha da presidência daquela Casa e a continuidade de todos os processos contra os corruptos já delatados na Operação Lava Jato. É preciso deixar o governo trabalhar para que os espíritos sejam desarmados e quem deva pague pelo que deve. Doa a quem doer. Fora isso, dois Brasis vão se enfrentar. Não nas urnas, mas nas ruas. *Jornalista e professora da UFMG.
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Ensaio sobre a lucidez Wadih Damous* O que aconteceria se num dia qualquer grande parte da população decidisse votar em branco para questionar o sistema político? É a forma que José Saramago encontrou para construir a trama do livro que usei de título para questionar a democracia contemporânea. A crítica do escritor português à democracia vem bem a calhar ao atual período político brasileiro, quando um grupo de golpistas irresponsáveis, sem expressão política, estimulado pela grande mídia e pela patética ação de um dirigente empresarial, ilegalmente tentam apagar da memória os 54,5 milhões de votos, obtidos pela presidente Dilma Rousseff. A democracia contemporânea é frágil porque se-
questrada, condicionada e amputada pelo capital, mas ainda assim é um valor civilizatório pelo qual pagamos com a vida de brasileiros do porte de Vladimir Herzog, Rubens Paiva e Iara Iavelberg, para ficar apenas em alguns. Além de valor, a democracia brasileira é uma conquista e, como tal, exige defesa intransigente. É por este motivo, por ver a tentativa de sequestro da democracia por políticos do porte de Temer, Cunha e Skaf é que a sociedade brasileira se levantou. Artistas, intelectuais, movimentos sociais e partidos políticos que são até mesmo críticos do próprio governo Dilma, têm organizado atos espontâneos por todo o país em defesa da
democracia e contra o golpe. A desonra que Temer e Cunha praticam dia a dia contra a memória de Ulysses Guimarães faz lembrar os tétricos personagens do livro de Saramago que, por não aceitar a vontade das urnas, lançaram mãos das mais vis iniciativas para amedrontar a população e fazer com que votassem da forma como queriam que votassem. Perdemos a primeira batalha, mas é lembrando Chico Buarque, esse grande brasileiro, que encerro com um recado para Temer, Cunha e Skaf. Apesar de vocês, amanhã há de ser outro dia. *Deputado Federal PT-RJ, ex-presidente da OAB
Dois Brasis Emir Sader* Pudemos ver dois pedaços do mesmo país, mas que pareciam pertencer a dois países distintos. As mais maravilhosas manifestações populares, de norte a sul, com música, alegria, juventude, mulheres, negros, as mais distintas camadas do nosso povo, cantando, gritando, todos, na sua imensa diversidade, contra o golpe, pela democracia. Se pretendiam convocar a votação para um domingo, acreditando que se promoveriam manifestações favoráveis ao golpe, deu tudo ao contrário. Não só em todo o Brasil, mas especialmente em Brasília, o Congresso foi cercado por 200 mil pessoas, contra o golpe. Nunca tivemos tantas manifestações, em tantos lugares do país, tantas declarações de entidades as mais diversas da sociedade civil, todas expressando a condenação do golpe e o apoio à continuidade do processo democrático. Houve algumas manifestações, em particular, notáveis, marcos na história de lutas do povo brasileiro, como entre tantas outras, a da Avenida Paulista com o Lula, a dos Arcos da Lapa também com ele, a marcha de Brasília do dia 18 de março, a manifestação do funk em Copacabana e a marcha de Brasília. As lutas do povo brasileiro nunca mais serão as mesmas. A CUT, o MST, o MTST e tantas outras entidades demonstraram uma extraordinária capacidade de mobilização e de organização. Ao mesmo tempo, o espírito unitário das manifestações, em torno da defesa da democracia, demonstrou uma grande maturidade política do movimento popular brasileiro. Frente a esse quadro, tivemos um outro, protagonizado pela Câmara, dirigida pelo político mais corrupto do Brasil, atuando com seus métodos gângsteres, de manipulação, chantagem, pressão, corrupção, como se uma instituição como o Congresso, lhe pertencesse. E, ao seu redor, uma maioria execrável de parlamentares, promovendo um golpe branco no país, usurpando o direito do povo de eleger seus governantes, acreditando que podem eleger um presidente da república com 1% de apoio, como se o poder fosse um botim que pudesse ser assaltado por capatazes. Discursos que envergonham o país de ter parlamentares assim, mas quando nos lembramos que eles compõem a bancada da bala, a do fundamentalismo evangélico, a do agronegócio, e tantas outras, e nos recordamos os retrocessos que promoveram sob a direção de Eduardo Cunha, nos damos conta de quem compõe o Congresso brasileiro atual.
São duas porções do mesmo país, que não se reconhecem. O povo não reconhece nesses congressistas seus representantes. E os deputados não conhecem o povo brasileiro. Sendo o último Congresso eleito com financiamento empresarial, os cidadãos brasileiros têm a oportunidade de renova-lo radicalmente, ainda mais com a consciência dos danos que um Congresso conservador e inexpressivo do povo brasileiro pode causar ao país. Para isso as entidades civis, os sindicatos, os movimentos sociais todos, tem que tomar consciência que para democratizar a vida política brasileira, é fundamental que a educação pública brasileira tenha sua bancada, da mesma forma que a saúde pública. Assim como os trabalhadores de todas as categorias – metalúrgicos, bancários, químicos, etc., etc., ao lado de uma forte bancada dos trabalhadores rurais, das mulheres, dos negros, dos jovens das periferias, entre tantos outros setores que se manifestaram nestas semanas nas ruas do Brasil. É um desastre para a democracia brasileira ter um Congresso assim, pelos interesses minoritários dominantes e retrógrados que eles representam. E por terem sido eleitos com apoio financeiro de um parlamentar que envergonha a qualquer Congresso, e que eles elegeram para presidir a Câmara de Deputados. Entender essas duas caras do mesmo país é fundamental para entender os obstáculos que a construção de um país democrático requer. A crise atual só se aprofunda com essa decisão. Não há possibilidade que um governo dirigido por alguém que tem 1% de apoio e 81% de rejeição, com um duro ajuste fiscal, eleito por um golpe, possa resolver a crise brasileira. Ele faz parte da crise. Crise que está ainda mais longe de ser resolvida, porque aprofunda sua dimensão institucional, sem que avance em nada na retomada do crescimento econômico com distribuição de renda que o país requer e que Lula propõe. Um bando de políticos corruptos vai ter que se enfrentar com esse extraordinário movimento popular que o cercou no Congresso e em centenas de cidades brasileiras. Esse Congresso não pode mais viver solto no ar, tomando decisões contra o povo, contra o país, tentando se apropriar do governo como se fosse um botim de uma gangue, dirigido por um parlamentar execrável. Veremos nos próximos meses que país triunfa sobre o outro, ou que porção do Brasil representa realmente o país. *Professor e escritor, publicado no site 247
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Leonardo Boff
Entrevista
por Ricardo Rabelo
“Vi o impeachment com tristeza e vergonha” Genézio Darci Boff, mais conhecido com o pseudônimo de Leonardo Boff, é teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação no Brasil e conhecido internacionalmente por sua defesa dos direitos dos pobres e excluídos. Nascido em Concórdia, Santa Catarina, em 14 de dezembro de 1938, é um dos principais pensadores de esquerda no país e defensor de uma nova ordem ecológica mundial. Ex-membro da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) e atualmente professor emérito de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Boff fala com exclusividade ao Bafafá. Segundo ele, o impeachment de Dilma é um jogo de cartas marcadas. “Pareciam moleques brincando numa praça”. Para ele, se Temer chegar à presidência será a perpetuação da crise. “Temer é um fraco, um vaidoso que cometeu crime de sedição, pelo qual deveria ser julgado”, fuzila.
C o m o v i u a v i t ó r i a d o A opção foi pelo “fim justifica os Qual é o caminho para as forças remos”. Esse que está aí não pode impeachment na Câmara meios”? progressistas? mais continuar, mesmo sendo do dos Deputados? Nem podemos falar de opção. Não resta outro caminho senão PT. Este deve se renovar a partir de Vi o impeachment com tristeza e vergonha pelo baixo comportamento dos deputados. Ninguém julgou os dois pontos que constituíam a acusação. Somente se ativeram ao discurso moralista da corrupção, sabendo que grande parte deles são corruptos. As cartas já estavam marcadas e o resultado só poderia ser a aceitação da admissibilidade do impedimento. “Pareciam moleques brincando numa praça”
O que achou do nível dos parlamentares que votaram a favor? Pareciam moleques brincando numa praça, sem qualquer sentido da gravidade do que estavam votando: a eventual destituição da mais alta autoridade do país.
resistir e reivindicar permanentemente a democracia. E lutar para que, caso Dilma passe pelo Senado, volte a governar com uma clara inflexão para a esquerda. A Presidência deve ser de coalizão menos com os partidos, mais com os movimentos Um eventual governo Temer sociais. Dai pode surgir uma qualidade nova da democracia, a demovai conseguir governar? Temer é um fraco, um vaidoso cracia participativa que completa a que cometeu crime de sedição, pelo representativa. qual deveria ser julgado. Não tem credibilidade e grande rejeição popular. Qual é o recado para os moviSe for presidente será a perpetuação mentos sociais? da crise. Mas para ele o que importa Os movimentos sociais devem é que um dia na história ocupou a ocupar as ruas e praças, organizar presidência sem se perguntar pela discussões permanentes com convidados de fora e de dentro e pressioqualidade de seu exercício. nando os parlamentares para que deixem de ser moucos e corruptos. “Não resta outro caminho Devem aproveitar a crise para aprosenão resistir” fundar a questão “que Brasil queEra um vale tudo. Muitos traíram e o pior deles foi o Kassab que era ministro e pouco antes estivera com a Presidenta. Ele mostra a falta de caráter do partido oportunista que fundou e do parlamento em geral.
onde nasceu, das bases populares. Queremos um Brasil-sociedade e não um Brasil-negociatas. “Tenho sérias suspeitas da isenção do STF”
Acredita em alguma reação do STF? Tenho sérias suspeitas da isenção do STF. Ele se mostrou omisso ao não julgar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha já réu de vários crimes e por ter submetido o Brasil nacional e internacionalmente à vergonha de um gangster organizar o julgamento de uma pessoa honrada. Talvez o próprio STF tema a delação premiada de Cunha, pois não é excluída a possibilidade de envolver algum magistrado desta mais alta corte do país uma vez que a corrupção campeia em todas as instâncias.
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A volta do gato angorá Leonel Brizola* Um conluio de hipócritas, uma reunião de traidores, um espetáculo trágico. No domingo a Câmara dos Deputados nos fez sentir vergonha. Numa sucessão de estupidez, 367 falsos moralistas, aprovaram o encaminhamento do processo de impeachment da presidenta Dilma para o Senado. O que vimos foi a política feita como vingança, como ressentimento. Essa legislatura federal entrou para a história como a mais venal de toda a República. Nesse momento em que os valores democráticos foram rasgados temos a obrigação de denunciar o golpe descarado e deslavado em nossa Constituição. Mais uma vez a direita inconformada com sucessivas derrotas eleitorais usa do expediente golpista para destituir uma presidenta eleita e sem nenhuma acusação de corrupção e sem nenhum crime de responsabilidade praticado. O figurino lacerdista é o mesmo: imprensa em campanha sistemática contra o governo insuflando o ódio da população capitaneadas pela Rede Globo e pela Revista Veja; partidos reacionários interpretando ao sabor dos seus interesses as leis do país; a Fiesp dando apoio logístico e o capital
internacional de olho em nossas riquezas naturais. A farsa da votação salta aos olhos pela completa falta de legitimidade. Um impeachment conduzido por um réu em esquemas de corrupção – Eduardo Cunha – e urdido por um traidor – Michel Temer. O PMDB que tanto mal fez ao nosso Estado e ao nosso município está na iminência de ter o país em suas mãos. Para completar a desgraça em que estamos caindo, o ideólogo do golpista Michel Temer é um velho conhecido nosso, Moreira Franco, que meu avô, Leonel Brizola, genialmente cunhou de gato angorá. O documento que balizará as ações de Michel Temer como presidente é A Ponte para o Futuro escrito justamento por Moreira Franco. Esse programa prevê para a recuperação da economia: o fim dos direitos trabalhistas; a entrega do que resta de patrimônio nacional; a União não aplicar os percentuais mínimos do orçamento em educação e saúde acarretando a privatização desses direitos fundamentais do povo; a venda do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e do BNDES e a criminalização dos movimentos sociais. O Rio de Janeiro é o laboratório do PMDB. Se quisermos saber como será a condução nacional do PMDB na Presidência é só olharmos o que estão fazendo aqui. O PMDB quebrou o Estado do Rio de Janeiro. Não tem verba para a saúde, para a educação e para pagamen-
to dos servidores estaduais. Mas isenção fiscais de totalizam mais de 60 bilhões para as grandes empresas não falta, nem falta dinheiro para pagamento de empréstimos que o governo do Estado contraiu. Uma vergonha, um escárnio com nossa população. Moreira Franco foi um dos piores governadores que o Rio de Janeiro já teve. Foi o responsável pela destruição dos CIEP’s que impediu que milhares de crianças tivessem um futuro digno. Agora se arvora em eminência parda de um governo que se efetivar terá sempre a marca da ilegitimidade e a marca do golpe. É preciso dizer um não rotundo ao PMDB. A legalidade constitucional não pode balançar conforme os ventos dos interesses de reacionários. Que triste papel do PSDB: coadjuvante de uma das maiores farsas de nossa história. Que falta faz políticos com a coragem de Leonel de Moura Brizola que arriscou sua vida para defender a legalidade em 1961. Que desmascarou os golpistas e impediu que a direita se apropriasse do poder. É com o espírito de Leonel Brizola que devemos, mais do que nunca, resistir e lutar contra as políticas conservadores que se abaterão sobre o Brasil. Agora não existe meio termo: ou estamos com a democracia ou seremos julgados pela história como covardes. *Vereador, PSOL-RJ
Coletivo À Esquerda da Praça São Salvador O Coletivo À Esquerda da Praça São Salvador nasceu das aspirações de moradores e frequentadores da Praça que, preocupados com o avanço do ódio, intolerância e as ameaças de golpe à democracia, decidiram se unir na ocupação de um espaço público, com a realização de atividades políticas e culturais. A Praça São Salvador, localizada no bairro de Laranjeiras, simboliza a transformação de um território urbano outrora degradado, por meio da ocupação cultural e artística. O ambiente é caracterizado pela intensa circulação de pessoas durante todos os períodos do dia e é marcado por grande vitalidade política. Entretanto, por ser um local público e sujeito a todo tipo de atividade, a Praça já foi palco de manifestações de ódio e intolerância. Nesse sentido, observando a escalada de um golpe e o aumento das violências, esse grupo de mulheres e homens das mais variadas correntes ideológicas de esquerda, plurais em sua gênese e suprapartidários em sua concepção organizativa, decidiu formar esse Coletivo e fomentar debates e atividades na Praça São Salvador. De base independente, sem vinculação à governos ou qualquer entidade, o Coletivo À Esquerda da Praça São Salvador baseia sua atuação na autonomia e horizontalidade colaborativa, sendo um coletivo aberto e pautado pela diversidade. Focando na ocupação política e cultural da Praça São Salvador, o movimento já realizou debates sobre Democracia e o Golpe, sobre a relação existente entre o processo de intervenção e misoginia, ocupamos também a praça para marcar os dias de combate à violência con-
tra a mulher e, por fim, realizamos no último dia 14, um rico debate sobre Tolerância e Democracia, que contou com a participação do filósofo e teólogo Leonardo Boff e do ator e escritor Gregório Duvivier (foto). A atividade mobilizou a praça e os arredores, arrebatando um público de mais de mil pessoas que, de forma atenta, assistiu e participou da atividade.
Acreditamos enquanto coletivo que, a ocupação de praças, ruas e avenidas, seja uma estratégia fundamental na mobilização da sociedade contra a escalada conservadora. A promoção de debates e atividades culturais em locais públicos constitui uma importante ferramenta no processo de conscientização e de fomento à informação da sociedade. Se por um lado identificamos
a massificação de informações manipuladas e tendenciosas vinculadas através dos grandes meios de comunicação, por outro observamos as praças, ruas e avenidas enquanto locais ricos à intervenção política e necessários na disseminação de informação pertinente. Na luta contra a tentativa dos grandes meios de comunicação de tentar promover a hegemonia das narrativas, contamos com o corpo a corpo nas praças, o apoio da internet e os jornais de pequena e média circulação que, se alinhados de forma tática dentre de um conceito amplo e estratégico, podem constituir uma importante trincheira na luta contra a produção da consciência golpista. Cidadãos de todas as praças, UNI-VOS! Coletivo À Esquerda da Praça São Salvador
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Impeachment é golpe! Impeachment é golpe sim. A Constituição Brasileira é clara: o presidente só pode ser impedido se praticar crime de responsabilidade. Nem as piruetas jurídicas do Bicudo, do Reale e daquela moça da performance quimbandista no Largo de São Francisco conseguiram tipificar como crime de responsabilidade as chamadas “pedaladas” de Dilma Rousseff. Se não é crime, é golpe. Um golpe armado por uma aliança diabólica entre os derrotados de 2014, setores do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal e pela ampla maioria da grande imprensa brasileira. É uma pena que gente como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, tenha decidido apoiar o golpe e entrar para a História pela porta dos fundos. Ele vai carregar o selo de golpista até o fim de seus dias, indelével como uma tatuagem. Mas ainda falta uma peça para o golpe dar certo: inabilitar Lula a disputar as próximas eleições – sejam elas daqui a 90 dias, sejam em 2018. Porque até as carpas nishikigoi dos espelhos d água do Palácio do Planalto sabem que, se não conseguirem degolá-lo, Lula ganha as eleições. E isso é a última coisa que os golpistas querem: ver Lula de novo na presidência. Fernando Morais, jornalista e escritor
OAB pede cassação de Bolsonaro A imunidade parlamentar, garantia constitucional ao pleno exercício da representação política por membro do Congresso Nacional e fundamental à independência do parlamento, não pode servir de escudo à disseminação do ódio e do preconceito. É inadmissível que um membro do Congresso Nacional abuse da sua prerrogativa de função, em total afronta ao artigo 55, II e § 1º da CRFB, para homenagear a memória de um notório torturador, declarado e condenado como tal pela Justiça brasileira. A tortura é crime hediondo, inafiançável, considerado mundialmente como crime de lesa-humanidade. É uma degeneração política possuir um parlamentar que usa do voto popular para homenagear torturador. Só há uma saída para o parlamento brasileiro: a cassação de Bolsonaro solicitada pela OAB. Felipe Santa Cruz, presidente da OAB-RJ
Prenderam o marido A votação do processo de impeachment na Câmara teve momentos burlescos, caricatos, que, apesar do baixíssimo nível da casa, nunca haviam sido vistos antes. Numa sucessão de mensagens bestialógicas, “de beijinhos para minha querida que está me acompanhando pela televisão”, “de carinhos para minha velha mãe em casa, rezando
por mim”, “de beijos para meu filho que ainda não nasceu”, etc., etc., etc. Mas, nesta onda de estultices, destacou-se a deputada Raquel Muniz, com seu inflamadíssimo discurso contra Dilma. Enrolada em uma bandeira do Brasil e outra de Montes Claros, onde seu marido Rui Muniz é prefeito, terminou o discurso com todos os decibéis: Abaixo à corrupção. O Brasil tem jeito. Vejam o exemplo de meu adorado esposo! Voto pelo sim, sim, sim! No dia seguinte, pela manhã, seu marido foi preso pela Polícia Federal por estar envolvido em muitas maracutaias à frente de seu cargo. Rui Muniz tem uma história complicada, que não o indica como exemplo para ninguém. Pedro Nunes, jornalista
Esperança Nunca, antes, na história, o Senado Federal teve tanta chance de buscar o resgate da imagem e a credibilidade do Congresso Nacional, colocada na lixeira fétida da história, no último dia 17, pela Câmara dos Deputados Federais. O elogio de um torturador e o desfile das ironias familiares e o discurso anticorrupção, feito por criminosos, cujo chefe presidia o espetáculo, está distante de qualquer ficção da destruição da coisa pública. Senador, como a palavra indica, seria aquele ou aquela, cujo pensamento global ajuda a perceber melhor o local, na legislação que pressupões as diferenças e cuida, portanto do acesso público na realidade desigual. É neste contexto que se julgará, se o impedimento proposto contra a Presidenta Dilma é, ou não, cabível. Aí veremos nosso grau de maturidade no processo democrático brasileiro. Adair Rocha, professor e representante do MEC no Rio de Janeiro
Memória e Verdade A democracia de uma nação se constrói, sobretudo, a partir de um profundo reconhecimento de sua história, que contém erros e acertos. Assim aconteceu com o povo alemão, que transformou o peso e a vergonha do período nazista em força para alcançar um outro nível civilizatório. Enquanto isso, no Brasil, ainda há esgotos da ditadura a céu aberto. Esgotos perigosos, que além de evocar o que há de mais repulsivo daquele período, como se normal fosse, faz apologia explícita à violência. A láurea conferida ao torturador Carlos Brilhante Ustra deveria ser motivo de vergonha e preocupação para a nação brasileira. Sob o comando de Ustra, atrocidades foram cometidas dentro do DOI-CODI em São Paulo (órgão de repressão política) durante o período da ditadura, inclusive contra mulheres como, por exemplo, a presidenta Dilma Rousseff. É preciso descortinar cada vez mais essa história, que os livros ainda escondem e que os jovens ainda pouco co-
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nhecem. A verdade precisa ser dita e repetida quantas vezes forem necessárias, para que aqueles tempos nunca mais se repitam e para que os restos da ditadura que ainda persistem no Brasil sejam, definitivamente, varridos para fora de nossa democracia. Wadih Damous, deputado federal PT-RJ
Ponderação O PT pegou a presidência depois dos militares, Sarney, Collor, Itamar e FHC. Sanou a dívida do FMI, investiu em vários programas sociais, construiu muitas universidades, enfrentou a crise econômica mundial até onde pode, pra resumir. Os governos anteriores não fizeram nada disso, as escolas e hospitais eram até piores do que são hoje e venderam as estatais a preços de banana. Se o PT roubou à beça e ainda sobrou dinheiro pra investir nisso tudo, onde foi parar o dinheiro dos governos anteriores? Quem são os verdadeiros ladrões? Por quê será que os feitos deles ficam sempre por baixo dos panos? A quem interessa dar ao PT essa pecha de ladrões? Como vão ficar os menos favorecidos que tiveram melhorias até agora, num possível governo desses bandidos até 2018? E as riquezas que sobraram do Brasil? Cristina Buarque, cantora
Sanders e o futuro dos EUA Há em curso nos EUA uma verdadeira revolução política, que nossa imprensa, em sua tradicional má vontade contra a esquerda, faz questão de ocultar. A candidatura muito bem aceita de um nome declaradamente socialista é fato sem precedentes na história do País, sede do capitalismo mundial. Ninguém poderia imaginar que chegasse até esse ponto, disputando palmo a palmo com Hillary Clinton a indicação pelo Partido Democrata. É difícil admitir, no atual nível de relações de força, a possibilidade de que Sanders alcance o final da disputa. De qualquer maneira, ele já deixou sua notável contribuição para o debate da ideia do socialismo em uma das nações mais conservadoras do mundo. José Maria Rabêlo, jornalista
Frase Depois da votação do impeachment, percebi que a última vez que vi tanto bandido na TV foi quando assisti o filme Carandiru. Anônimo na Internet
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COM A BANDEIRA TARIFÁRIA VERDE, TODOS SAEM GANHANDO. Sem a cobrança da taxa extra, a tarifa na conta de energia elétrica ficou menor. Para o empreendedor, isso possibilita mais competitividade dos negócios nos mercados interno e externo. E também contribui para a retomada do crescimento econômico e gera mais oportunidades de emprego O Brasil não vai parar
Saiba mais: brasil.gov.br/brasil-de-resultados/infraestrutura
Butecão
promoção frango assado a R$ 20 O restaurante de grelhados Butecão da Rua Bento Lisboa, além do cardápio tradicional, serve espetinhos de filé, coração, frango e queijo coalho. O Butecão serve refeições variadas, carnes e frangos, tiragostos, peixes e frutos do mar, pizzas, massas, saladas, pratos executivos, sanduíches. E também feijoada diariamente.
Butecão
Apresente este cupom e na compra de um galeto ganhe uma linguiça de pernil de cortesia.
O local está com uma promoção imperdível: frango assado a R$ 20 (somente delivery). Aproveite o Dia das Mães e curta o local, agora também com chope! Butecão Rua Bento Lisboa, 95 – Catete Informações: 2225-5741 Funcionamento: de 12h às 23h Faz delivery na região.