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Fins e meios - segredo que pode levar ao sucesso ou fracasso
Há princípios simples que regulam a vida humana. Um deles diz respeito às finalidades das coisas. No campo da filosofia estudamos isto no capítulo chamado teleologia. Um fogão foi feito para aquecer, uma geladeira para gelar etc. Como você pode ver, o princípio é simples. Há ainda o princípio dos meios que indica como um fim é alcançado. Um fogão aquece utilizando geralmente gás liquefeito de petróleo. Uma geladeira, eletricidade. O próprio fogão ou geladeira são também meios.
Outro detalhe fundamental é o relacionamento entre meios e fins. Para chegarmos aos fins precisamos dos meios. Para um fogão cumprir o seu papel - aquecer - é necessário um agente que funcione como meio - gás. O que é mais importante? O gás, que é o meio, ou o fogão? Todos os itens são importantes, mas o mais importante é o fim que queremos conseguir - aquecer uma comida, por exemplo. Assim, fogão e gás são meios para que o aquecimento de concretize, que é a finalidade que desejamos.
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Podemos confundir fins e meios e vice-versa a ponto de um ser trocado pelo outro. Um fogão pode ser autolimpante, ter acendedor automático, ter cronômetro etc. Assim, por exemplo, quando vamos a uma loja comprar um fogão, poderemos nos confundir em diversos detalhes a ponto de esquecermos do fundamental - fim para o qual precisamos de um fogão: aquecer, fazer comida etc.
Esses princípios simples também se aplicam às organizações e entidades, que existem em função de fins a elas propostos. Seminários existem para formar líderes; Juntas Missionárias para promover a obra missionária; Orfanatos, para promover a dignidade humana; Colégios Batistas para promover a obra educacional expandindo os ideais evangélicos, evangelizar e promover a ação social (no correto sentido da palavra) etc. Assim, uma instituição ou entidade existe como meio para realizar um ou mais fins. Isso é tão importante que os cientistas da administração contemporânea têm escrito pilhas de livros sobre temas como RAZÃO DE SER, MISSÃO, VISÃO e hoje já se fala em Propósito Transformador Massivo (PTM) que aprofunda muito mais a busca pelos fins desejados para uma organização ou empreendimento.
Com o passar do tempo a distinção entre meios e fins pode não ficar bem clara. Os meios podem se tornar em fins e os fins podem ser esquecidos, por exemplo, no funcionamento de uma organização.
A própria estrutura denominacional, que chamamos de Convenção Batista e suas instituições/entidades/organizações, deve existir em função das Igrejas locais promovendo a cooperatividade e mutualidade entre elas, que aliás está expressa na declaração de missão da Convenção Batista Brasileira, como seu fim a ser alcançado.
As Igrejas locais não existem por causa da Convenção, mas a Convenção existe por causa das Igrejas. Atender as necessidades das Igrejas locais deve ser a preocupação-fim de uma Convenção, seus organismos, de associações regionais etc., enquanto estrutura funcional.
Vamos a uma abordagem prática. É comum quando uma Junta ou Conselho de Área se reúne enfatizar a avaliação do relatório administrativo/ contábil/financeiro da entidade ou instituição “subordinada”, mas nem sempre enfocando o relatório de suas atividades-fim e conectando esses outros aspectos com suas atividades-fim.
Assim, não é raro que Juntas e Conselhos de Áreas sejam surpreendidos por situações de crise e fora de controle de instituições/entidades, tendo deixado de considerar sinalizadores preventivos que foram apresentados nos relatórios, que estão conectados direta e imediatamente com aspectos contábeis e financeiros, mas nem sempre com as finalidades da existência de uma instituição, às vezes considerada de natureza mais abstrata do que relatórios financeiro/contábeis com seus detalhes quantitativos mais visíveis de imediato. Daí criam-se comissões, Grupos de Trabalho, mas muitas vezes, poderá ser tarde demais. Parece ficar claro aqui que os fins provavelmente foram trocados pelos meios.
Nesse sentido, pode ocorrer que as atividades, preocupações e gestão da instituição/entidade acabem por convergir para ela mesma e se busca a sua sobrevivência, esquecendo-se do fim para o qual existe.
Claro que o aspecto financeiro-contábil precisa ser considerado. A gestão estratégica é como um avião em que cada asa representa um aspecto do seu funcionamento. Uma asa é a da sustentabilidade financeira (asa quantitativa), a outra diz respeito à finalidade, razão de ser institucional (asa qualitativa). Para um voo adequado, as duas precisam estar em equilíbrio. O que estamos aqui destacando é sobre essa outra asa, pois se a ênfase seja apenas no aspecto quantitativo, o qualitativo é prejudicado e o voo perde o rumo.
Pode também ocorrer que membros de Juntas ou Conselhos, em geral pastores, tragam o modelo de gestão e funcionamento eclesiástico para dentro dessas organizações, mas temos de nos valer dos princípios de gestão próprios da natureza e finalidade da organização a que devemos gerir ou supervisionar. Então, Igreja e estruturas convencionais sendo modelos diferentes exigirão adoção de modelos adequados de gestão e, em cada caso, diferenciando fins e meios. O mesmo poderá ocorrer quando o comando de uma instituição ou organização de- nominacional, especialmente se for exercido por alguém com o dom pastoral. Pastorear uma Igreja é uma coisa, dirigir uma instituição denominacional poderá ser outra. São fins e meios geralmente diferentes.
Outro aspecto é a preservação da memória histórica da instituição que foi confiada a um dirigente ou executivo, pois muitas vezes poderemos ser tentados a “zerar o velocímetro” histórico da instituição a partir do dia de posse, fazendo com que a história da instituição, bem como seus princípios vitais e fundamentais, seja considerada apenas a partir daquele momento, sendo mobilizados a recriar ou reinventar a instituição que está sendo dirigida. Tudo isso se aplica também a qualquer atividade, inclusive a eclesiástica, ao pastoreio, não apenas ao ambiente denominacional.
Precisamos dinamizar nossa ação como denominação e redescobrir com clareza nossa razão de ser e redimensionar todas as nossas atividades e projetos de modo que venhamos a ter esse foco como nosso alvo a perseguir.
Todo povo Batista precisa estar em contínua oração para que executivos, diretorias, conselhos e juntas possam ter sempre lúcida nossa missão como convenção e instituições, para que sempre possamos ter sabedoria nas decisões diárias, para que possamos, por Deus, sermos capacitados para os desafios que nos cabem. Também para que membros de Juntas e Conselhos possam atuar de modo cada vez mais sábio, especialmente considerando os sinalizadores que colocam em risco a existência de nossas instituições no cumprimento dos fins para os quais elas existem. É nossa oração. Amém! Detalhes como estes promoverão mais e mais nossa unidade como denominação.
Contatos: rega@batistas.org
Instagram: @lourencosteliorega n