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A bondade de Deus
A bondade é um dos atributos de Deus. Ela é representada em consequência da essência e da natureza perfeita do caráter divino. Essa essência de Deus é autossuficiente, ou seja, é completa, absoluta, sem defeitos, e sem qualquer necessidade de acréscimos. O ser humano, pecador e iníquo, participa passivamente da bondade divina pelo canal relacional instituído pelo próprio Deus ao criar os seres e todas as coisas, revelar-se e estabelecer um relacionamento de amor que foi capaz de atingir a cruz. O teólogo e apologista cristão Josh McDowell fez a seguinte afirmação sobre o relacionamento de Deus com Sua criação em um documentário autobiográfico: “O cristianismo não é uma religião, é um relacionamento! Você diz: - qual é a diferença? Religião se trata de homens e mulheres tentando abrir caminho até Deus por meio de boas ações e rituais religiosos. O cristianismo é Deus vindo até nós por intermédio do Filho Jesus Cristo, nos oferecendo um relacionamento [de amor]”.
Todas as decisões de Deus são manifestações da sua bondade desde o início da criação, como está escrito: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1.31). A bondade de Deus é perceptível na criação (Gn 1.2). Quanto mais próximo da criação estiver o homem, sendo participante criado deste meio, mais explícito será na percepção humana a benignidade do Criador de todas as coisas, representada em perfeição e cuidado amoroso. Portanto, o ser humano tem vantajosos motivos para dizer: “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem” (Sl 139.14).
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O cientista francês Louis Pasteur observa a perfeição da criação divina ao afirmar: “Quanto mais eu estudo a natureza, mais eu fico maravilhado com as obras do Criador. A ciência me aproxima de Deus”.
Stephen Charnock, em seu livro intitulado A Bondade de Deus, afirma que a bondade é um atributo admirável de Deus que tanto carece a criatura humana sedenta por regeneração, mesmo quando é favorecida pelos efeitos redentores da maravilhosa graça de Deus, pois sempre será carente da bondade do Pai para seguir neste mundo. Logo, o ser humano só consegue ser estilo ad hominem, desafiando seus oponentes com a Palavra de Deus.
Quando pensamos no cuidado pastoral, na evangelização, no crescimento da Igreja, em seu amadurecimento, em sua ação discipuladora, em nossos cultos, o que dirige nossa reflexão? Será que é a Palavra de Deus ou os novos métodos de crescimento de Igreja, ou os sofismas da moda? A crítica aqui não é contra métodos ou ferramentas de auxílio, mas contra o que escolhemos como fundamento da Igreja. Quando confiamos mais em formas (no texto de I Coríntios são os recursos retóricos dos falsos mestres) do que no poder da Palavra de Deus (o Cristo crucificado de Paulo), arriscamos fragmentar a igreja e adoecê-la.

A Confissão de Fé Batista de 1689, um dos documentos Batistas mais antigos, diz o seguinte sobre a Palavra de Deus, “A Sagrada Escritura é a única, suficiente, correta e infalível regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos, embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação”. Precisamos resgatar essa fé na Palavra de Deus. Precisamos de igrejas que tenham a Escritura como seu guia para não cair no engodo da retórica pagã. n bom quando observada uma referência de bondade. Essa bondade referencial foi comunicada ao homem como um dos frutos do espírito (Gl 5.22). As ações humanas devem atestar a bondade do Criador, fazendo a boa obra para a glória de Deus e cumprindo os propósitos evangelísticos preceituados na Bíblia (Mt 28.19-20; Mc 16.15-16).
A bondade de Deus recai sobre toda a criação abundantemente, e não se esgota no ser humano. Sobre esse assunto, a Palavra de Deus diz: “Os olhos de todos estão voltados para ti com esperança; tu lhes provês o alimento conforme necessitam. Quando abres tua mão, satisfazes o anseio de todos os seres vivos” (Sl 145.15-16). Todas as necessidades dos seres criados, tanto animais quanto o ser humano (a primazia da criação), são supridas por Deus em amor, pois Ele “dá alimento a toda a carne, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 136.25). Essa realidade faz surgir, verdadeiramente, um grande contentamento em saber que “a terra está cheia da bondade do Senhor” (Sl 33.5).
Mas o ápice da bondade de Deus é perceptível quando envia seu único Filho para realizar a obra salvífica na cruz. João, movido por plena inspiração divi- na, escreveu: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Foi observável, ainda, o quanto Deus é bom quando Paulo escreve que “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4.4-5).
John Stott, ao comentar sobre a bondade de Deus no livro A Cruz de Cristo, citando Calvino, evidencia a realidade do “teatro da cruz”: “Pois na cruz de Cristo, como num esplendido teatro, a incomparável bondade de Deus é apresentada diante do mundo todo. A glória de Deus brilha deveras em todas as criaturas de cima e de baixo, mas jamais tão viva quanto na cruz”.
O ser humano deve sempre ser grato por ter sido criado sob o poder e a bondade de Deus. A gratidão a Deus é justa, sincera e honesta. Que possamos agradecer cotidianamente a bondade de Deus sobre nossa vida. Que possamos render “graças ao Senhor por sua bondade e por suas maravilhas para com os filhos dos homens!” (Sl 107.8). “Pois a bondade de Deus dura para sempre” (Sl 52.1). n