Da Espanha para a represa Por Gabriela Carolina Alves Navega
Luis e Cíntia conversam com Gabriela e Hayla, alunas dos projeto
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Espanha, no Continente Europeu, recebe mais de 300 mil turistas brasileiros todos os anos, segundo dados do IET (Instituto de Estudos Turísticos da Espanha). Há nove anos, a trimariense Cíntia Aparecida da Silva Morais era mais uma turista rumo ao “Velho Continente”. E foi assim que ela conheceu o marido espanhol, Luis Diaz Sanchez. Depois de se casarem e terem um filho Lucas (3) - o casal decidiu visitar Três Marias, cidade natal de Cíntia. Quando chegaram, o pai de Cíntia havia comprado a barraca “Cachoeira do Guará”, na Praia Mar de Minas, importante ponto turístico da cidade, às margens da represa de Três Marias. Na época, os dois decidiram ficar no Brasil para ajudar na administração do novo empreendimento. “Quando cheguei, meu pai tinha comprado essa barraca e não estava conseguindo levar, foi então que começamos a ajudálo e foi isso que nos entusiasmou a ficar,” declara Cíntia. Dona de um salão de beleza, ela diz que vive também da barraca. “Eu tenho um salão de beleza lá no centro, na minha casa mesmo. Lá eu tenho meus clientes e tudo, mas eu vivo é daqui e quando o nível da represa está baixo piora um pouco as coisas,” lamenta. As épocas mais lucrativas, para quem trabalha no ramo e lida muito com o turismo, são as férias, carnaval e feriados prolongados, quando a cidade es-
pera o maior número de turistas. Quem visita a cidade, não deixa de conhecer a praia. A família trabalha muito, mas gosta do que faz. E está satisfeita com os resultados. “Eu gosto, gosto mesmo daqui. Se não gostar, aí vou embora. Venho aqui de manhã, trabalho, vejo muita gente,” comenta o espanhol Luis.
A principal vantagem de trabalhar na barraca é fazer o próprio horário de trabalho, além de trabalhar em família. Mas, segundo o casal, um ponto negativo, que merece ser observado, é a incerteza. Nunca se sabe se vai vender muito ou pouco, por isso é muito importante ter controle. Na hora de comprar mercadorias e administrar todo o dinheiro que entra ou sai. Outra coisa é que eles só têm hora pra começar a funcionar. Começam ás 8h, mas nunca tem horário para fechar, tudo isso depende do cliente e do movimento. “Já aconteceu de estarmos indo embora e chegar uma turma e dizer: Abram aí pra nós. E ficaram até as três da madrugada,” afirma Luis. Nas barracas, às margens da Represa de Três Marias, o peixe é o prato mais pedido. Os principais são o Tucunaré e a Tilápia. Os preços variam bastante, mas são acessíveis aos consumidores e a procura é grande. Outro assunto discutido pelos barraqueiros é a criação de uma associação. A maioria defende que os produtos comercializados, poderiam ser obtidos a preços mais acessíveis. E o trabalho melhor dividido facilitaria para todos. Trabalho em família é uma característica de quase todos os barraqueiros da Praia Mar de Minas, mas Cíntia não quer que o filho siga este ofício. “Quero que ele estude e tenha uma profissão diferente, mas eu quero trabalhar aqui enquanto puder, “diz. A Represa de Três Marias é uma importante atividade econômica para o turismo na cidade. Mas é igualmente importante observar que, pessoas como a família de Cíntia, tem amor por esta maravilha, que vai além da atividade econômica, é quase uma obra de arte, merece respeito e valor.
Negócio em família. Sr. Manoel, pai de Cíntia conta com a ajuda da filha e do genro espanhol
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Projeto social proporciona inserção no mercado de trabalho Por Fernanda Cristina e Silva
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jovem Jheny Eleuza dos An jos Gonçalves, 19 anos, par ticipou do projeto social Guia Opará, realizado pelo Instituto Opará – Meio ambiente, cultura e cidadania em parceria com o Instituto Votorantim e Votorantim Metais-Unidade Zinco Três Marias. O objetivo do projeto, lançado em 2011, é oferecer capacitação e oportunidade, aos jovens nas áreas de turismo, lazer e meio ambiente. Boa parte destes guias é aproveitada pelas empresas de Três Marias. Jheny foi estagiária na Pousada Ribeirão do Boi e hoje está contratada como recepcionista. A ex-aluna do projeto participou do curso “Guia Turístico” no período de maio a dezembro do ano passado. Época em que surgiu a oportunidade de estágio na pousada. Hoje, Jheny faz parte do quadro de funcionários deste grande empreendimento turístico da região. O curso, realizado pelo Instituto Opará, aborda os principais pontos e oportunidades turísticas da cidade. Os jovens do projeto têm a oportunidade de profissionalização como guias náuticos, com especialização em técnicas de pescaria e navegação, para apresentar as riquezas naturais, aos turistas que visitarem Três Marias e o município vizinho de São Gonçalo do Abaeté. “Nosso objetivo, é oferecer serviços de qualidade com identidade ambiental e sustentabilidade sendo, os jovens um espelho para os visitantes. Eles serão guardiões zeladores do meio ambiente e dos diversos pontos turísticos encontrados nesta região”, explica Sílvia Freedman, presidente do Instituto Opará. Jheny conta que aproveitou bem o curso e a oportunidade de trabalho. “Estou gostando muito de trabalhar aqui na pousada. É bastante movimentada,” elogia. Ela reconhece o potencial turístico de Três Marias. “Os turistas procuram conhecer a cidade, visitar pontos turísticos, são pessoas de fora e até do exterior, eles gostam muito e sempre voltam se tornando clientes fiéis”, conta. Para Jheny ,a represa é muito importante. A jovem explica que antigamente o principal de tudo foi a represa, “onde começaram a construir a barragem para gerar energia para nosso município e mais, gerando também empregos”, completa. O curso “Guia Turístico” do projeto Opará contribuiu de várias maneiras. ‘’Antes eu não via Três Marias como uma cidade turística, agora sei que é uma cidade pequena, mas tem suas belezas, tem potencial turístico e se tiver investimentos, o turismo aqui vai longe”, afirma. Jheny também sugeriu idéias para o desenvolvimento do tu-
A jovem Jheny Eleuza dos Anjos Gonçalves na recepção da Pousada Ribeirão do Boi, às margens da represa
rismo no município, como passeios nas nossas cachoeiras, visitas guiadas ao Museu de Manuelzão, localizado no
Distrito de Andrequicé e à Igreja Satélite, primeira igreja católica do município. “Atuar no ramo do Turismo,por
muito tempo não sei,mas vamos ver mais pra frente,pretendo fazer o curso de Enfermagem”, revela.
Projeto Guia Opará recebe apoio da Votorantim Metais e Instituto Votorantim
Jovens do projeto durante capacitação no curso de garçom
Desde 2011, o projeto Guia Opará já atendeu 60 jovens. Foram inseridas outras atividades complementares que pudessem de fato, facilitar a inserção dos mesmos no mercado de trabalho. Além das aulas teóricas com uma turismóloga nos dois anos de sua execução, em 2012, os jovens tiveram cursos de garçons e barman, camareira, recepcionista, primeiros
socorros, excelência no atendimento ao público, dentre outros. De acordo com levantamento do Instituto Opará, cerca de 20 jovens já foram inseridos no mercado de trabalho em diversos segmentos. Devido ao bom desempenho do projeto nos dois anos, o Guia Opará conseguiu pela terceira vez sua aprovação junto ao Instituto Votorantim e
Votorantim Metais unidade de Três Marias, empresas que patrocinam o programa social. O projeto já está sendo executado este ano, funcionando até o momento internamente com a organização pedagógica e administrativa. Este ano o projeto irá atender 60 jovens como condutores turísticos, garçons, camareiras, recepcionistas e atendentes. Indiretamente, outras 250 pessoas serão beneficiadas, sendo 100 pessoas ligadas a projetos e turismo, que participarão de cursos e seminários sobre o desenvolvimento do turismo na cidade e outras 150 pessoas ligadas as empresas de Três Marias. As atividades começam em março. Já estão abertas as inscrições para a nova turma. Jovens entre 18 e 29 anos poderão fazer sua inscrição indo ao Instituto Opará que agora está funcionando à Rua Pernambuco 212 centro em frente a Casa Paroquial. Mais informações nos telefones 38 3754-3742 ou 3754-7269
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Sandra Leal uma “Maria guerreira”
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ossa cidade começou às margens da Represa do Rio São Francisco. Diz a lenda que três irmãs órfãs e guerreiras, Maria Francisca, Maria das Dores e Maria Geralda foram nadar no “Velho Chico”, quando foram surpreendidas por uma enchente. “As águas vinham revoltas, arrastando animais, árvores, plantações, carregando e destruindo tudo a sua passagem. As Três Marias, ao sentirem a chegada das águas, tentaram sair do rio, mas Maria Geralda rodou nas águas, Maria Francisca tentou salvála e rodou também. Quando Maria das Dores viu as suas irmãs debatendo-se nas águas, numa luta mortal, tentou levá-las para as
margens do Rio. Tudo em vão: as águas carregaram as Três Marias para o fundo do Rio. Após o acidente trágico, o nome de Três Marias tornou-se mais popular ainda, ficando aquela região assim conhecida.” Foi neste cenário, proporcionado pela inundação da Barragem de Três Marias, que encontramos nossos personagens. Uma delas é Sandra Leal dos Santos (47). Sandra moradora de Três Marias, com muito orgulho afirma que a Represa teve muita importancia em sua vida. Entre as maiores foi poder ter pago a escola de todos os seus filhos. Sandra é uma ‘Maria’, pois com a mesma bravura enfrenta nas margens da represa, a luta pela sobrevivência. Sandra, uma das primeiras barraqueiras, trabalha no local desde 1988. Começou como
vendedora ambulante. Sendo oito anos trabalhando em barracas como conhecemos hoje. Esta “Maria Guerreira”, com simplicidade nos conta que, quando começou a trabalhar na Praia Mar de Minas há 25 anos, conseguia tirar da represa todos os peixes necessários para sua comercialização e sustento da família. Hoje a realidade é outra, ela tem que comprar com fornecedores, pois a demanda cresceu muito junto com o desenvolvimento da cidade. Mas o que não muda é a preferência dos turistas e trimarienses, pois as
Foi com muito “trabalho e garra que chegamos ao nível que está hoje
”
iguarias que conquistam
Banana Boat, atração que conquista empresários e turistas Os visitantes da Represa de Três Marias encontram boas opções para aproveitar bem o grande lago. Entres os atrativos, oferecidos aos turistas, o Banana “Boat”, um barco inflável, rebocado por outro barco ou lancha, tem conquistado a preferência dos visitantes na Praia Mar de Minas. Uma atividade para toda família. Barraqueiro há 15 anos, Sr. Nativo Barbosa de Lima (59) conhecido como “Nêgo”, é casado com Maria das Dores Lima e pai de cinco filhos. Além da venda de comidas e bebidas na barraca “Das Dores”, homenagem à esposa, Nêgo complementa sua renda com o Banana Boat e passeios de barco pela Represa. Nêgo afirma que a modalidade pode ser pra-
ticada por toda a família, a partir dos três anos de idade, claro acompanhados pelos pais. “Podem ir tanto na banana como no barco, pois tem segurança, o barco é registrado pela marinha com habilitação em ordem, o barco tem seguro , tudo em cima das normas de segurança”, explica Nêgo. O passeio de Banana Boat é diversão garantida para os visitantes e uma importante fonte de renda para o barraqueiro. “Os turistas que experimentam a sensação de liberdade e ainda conhecem a beleza de
nossa Represa, a bordo do barco ou na banana, sempre voltam”, declara. Nêgo criou seus filhos com a renda proporcionada pela Represa do Rio São Francisco, pesca, compra e vende peixe na barraca onde ele e a esposa atualmente trabalham. Em época de temporada, a receita chega a aumentar cerca de 50%. Eles chegam a contratar de dois a cinco funcionarias diaristas, pagam em torno de R$25,00/dia e R$ 35,00 em temporadas ou em épocas de maior movimento.
Sandra Leal é famosa por ser uma ótima cozinheira na cidade
o paladar dos consumidores há anos são o Tucunaré e a Tilápia, peixes encontrados na represa. Sandra agradece aos turistas. Pois em época de temporada seu faturamento chega a aumentar 100%. E cobra mais eventos no Terminal Turístico Praia Mar de Minas, “para que a população local possa participar mais desse espaço gostoso e familiar”, acrescenta.
O olhar dos turistas
Por: Izabel Cristina
Ao lado da funcionária Lucimara
Grupos de turistas gostaram do que viram
Durante nossa visita à Praia Mar de Minas, encontramos uma simpática família de Belo Horizonte, aproveitando as férias de janeiro com visitas em vários pontos da cidade pela primeira vez. Conversamos com Rosângela Natalia Santana de Castro. Ela nos conta que veio para Três Marias por indicação de amigos, eles não conheciam Três Marias ainda e vieram para ver o potencial turístico da cidade a e, com sorte, pescar na represa. Rosângela teceu elogios ao município. Gostou da estrutura da cidade e dos serviços de entrega a domicílio que alguns comerciantes locais oferecem. A família conseguiu muita informação com os trimarienses. Tiveram dificuldades em encontrar uma casa de temporada, que atendesse as necessidades. Antes
de chegarem, escolheram uma casa pela internet , o que não deu certo, pois com eles tinham idosos e um cadeirante. Mas, com ajuda dos trimarienses, encontraram um lugar adequado para as férias, com segurança e acessibilidade. A família ficou feliz em saber do Receptivo Turístico que está em construção na entrada da cidade. Rosângela nos conta que, quando chegou à Represa, teve a impressão de estar às margens de uma praia litorânea, com os mesmos recursos. Ficaram encantados com a área de camping pela acessibilidade. Gostou muito do acolhimento dos barraqueiros, que os receberam com carinho e fornecendo informações. A família deixa Três Marias com planos de voltar. Pois a cidade virou, para eles, um ótimo ponto de encontro.
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Funcionários de pousadas às margens da represa também tiram sua renda Por André Vitor Alves Trede
As pousadas às margens do Lago de Três Marias recebem muitos turistas durante todo ano. Além de lucrativo para os proprietários, muitos trabalhadores retiram 100% de sua renda do nosso Lago. Visitei a pousada Ribeirão do Boi e conversei com alguns funcionários para saber um pouco mais do dia a dia dessas pessoas, que tiram seu sustento através do trabalho às margens da Represa, usufruindo dos benefícios que ela nos oferece. Também conversei com um turista que se diz muito satisfeito por estar neste ambiente natural e belíssimo. Durante a minha visita à Pousada, conversei muito com Herbert Luiz da Costa, conhecido como “Bill”. Ele e é motorista e se diz contente com o trabalho. Para “Bill” é um lugar tranqüilo. Às margens da Represa, o motorista, que conhece bem o local, nos mostrou filhotes de Tucunaré e outras espécies de peixes e a beleza natural daquele lugar nos indicou que vai muito além de um simples trabalho, é o gostar. Outro que retira seu sustento por meio da oportunidade de trabalho na Pousada Ribeirão do Boi é o senhor De Jonas, que há três anos exerce a função de encarregado de serviços gerais. Ele também demonstra satisfação, principalmente pela chance de conhecer pessoas diferentes. De Jonas conta que o turista é sempre simpático e que é um lugar lindo e calmo para se trabalhar. Ele veio pra ficar apenas três dias e já está a três anos na Pousada. Como suas próprias palavras já dizem: “É o lugar pra descansar a mente. Tá nervoso vem pescar”. Não só os mais velhos ganham a vida como empregados das pousadas. O jovem Armando Mendes da Silva é um exemplo de oportunidade para os mais jovens. Armando tem 18 anos e trabalha a seis meses na pousada. “É uma experiência muito boa, num lugar empolgante ao lado de ótimas pessoas, os hóspedes são maravilhosos. Trabalhar neste cenário não tem preço”, elogia. Armando tenta tratar o turista como ele merece. “Com muito amor e carinho para
Equipe de funcionários da pousada garante bom atendimento e respeito aos turistas
que ele adote esse lugar e saia com a melhor impressão”, completa. Outro funcionário, Paulo Alexandre de Souza Benevides diz que, desde criança, foi criado nas margens do Rio São Francisco, local onde pescou e trabalhou em pousadas. Paulo também procura atender os hóspedes com muita atenção. Levá-los nos locais preparados para a pesca, com uma boa ceva, assim Paulo Alexandre se sente feliz e é isso que quer fazer o resto da vida. O turista Renato Velesiano de Melo, de Belo Horizonte, esteve pela primeira vez com a família na
Ribeirão do Boi. “Estou adorando o local, gosto de pescaria, a esposa e as crianças gostam de piscina, a comida é maravilhosa e ainda fomos muito bem recepcionados. Estamos no lugar certo, a Pousada é nota 10”, avalia Renato, que garantiu voltar outras vezes. Todos os funcionários entrevistados demonstraram satisfação em trabalhar numa pousada situada às margens da Represa de Três Marias. Eles convidam todas as pessoas a visitar o Lago, nossa maior beleza natural. Infelizmente é mais valorizado pelos turistas do que pelos próprios moradores.
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Pousada Ribeirão do Boi em sintonia com a natureza Por Welison Lourenço
Localizada a 9,5km da Rodovia BR 040, próximo ao Bairro Professor Jhonsen em Três Marias-MG,a Pousada Ribeirão do Boi tem uma extensão de 40 mil metros quadrados, às margens da Represa de Três Marias. Em funcionamento desde 2004, a Pousada oferece conforto, lazer e descanso aos turistas e visitantes. Conversei com o proprietário Wanderlúcio José Amaral, para saber um pouco mais sobre a história da Pousada, que se tornou um grande ponto turístico da cidade e um exemplo de atividade econômica, gerada através do turismo. Welison Lourenço: Wanderlúcio, como tudo começou? Wanderlúcio Amaral: Quem realmente fez a pousada foi o Élcio, depois ele fez uma negociação com a AABB (Associação Atlética do Banco do Brasil ) de Três Marias, e hoje a AABB é a dona do imóvel da pousada, que arrendou o imóvel pra mim. Bom não foi da minha época, mais pelo que eu conversei com o antigo proprietário, foi um trabalho bem audacioso, bem criterioso e inteligente, ele teve muita dificuldade, porque para fazer uma beleza dessas num local desses tem que fazer praticamente uma operação formiguinha, porque caminhão não vem aqui, então ele teve que fazer tudo no carrinho de mão mesmo, essa parte do tijolinho. As partes rústicas são todas de madeira de lei. Houve alguns problemas com órgãos ambientais, mas ele conseguiu a licença, e esta aí essa beleza que todos podem ver. W.L: Como foi a escolha desse nome? W.A: Foi por causa de um rio que se chama Ribeirão do Boi, aqui é um braço desse Rio, que nasce lá no Morro da Garça e deságua aqui, por isso foi escolhido esse nome. W.L: Há quanto tempo você esta na pousada? W.A: Desde maio de 2010 trabalhei de gerente, quando foi fazer a nova parceria, o pessoal da
Sim, quando as pessoas veem as fotos do site onde aparece a agua a 30 centímetros para chegar ao piso do chalé, é maravilhoso, todo mundo quer vir aqui quando a agua esta nessa posição, só que a pousada está localizada num local abençoado por Deus, quando a agua fica baixa revela uma paisagem de pedras naturais, que tem seu diferencial, no réveillon colocamos tochas no local, pra se ter uma ideia veio aqui no réveillon também um helicóptero, que pousou bem naquele local e fez passeios com os hospédes, se a represa tivesse cheia não teria menor possibilidade dele pousar próximo da pousada, ia ter que descer lá em cima e ia acabar ficando ruim pras pessoas irem até lá, ficou muito bacana descendo na frente dos chalés. AABB me perguntou se eu tinha interesse em tocar o empreendimento, porque eles não tinham interesse. Eu disse que se a gente entrasse num acordo eu teria interesse sim, porque é uma coisa que eu acredito, é uma coisa que eu sei que dá resultado e graças a Deus está indo bem. W.L: Quantos funcionários a pousada tem hoje? W.A: Temos 18 funcionários, entre garçons, cozinheira, recepcionista e serviços gerais. W.L: Como funciona o movimento aqui durante o ano? W.A: Eu tenho feito um trabalho com o Groupon, que é um site com sistema de vendas coletivas. Eles fizeram a divulgação para mim e acabou vendendo muito, por meio do Groupon e fora dele também. Muita gente ainda não acredita no Groupon, acabam ligando e comprando fora desse grupo. Mas é um trabalho muito bom, dá realmente resultado, fim de semana eu não tenho problemas, Carnaval já estava esgotado, Semana Santa já está praticamente esgotado, o único problema que eu tenho ainda é o meio da semana, mas continuo com um trabalho pra lotar a semana toda. W.L: Quando o turista liga para a pousada, o que eles mais procuram? W.A: Procuram de tudo, nessa época de Piracema, por exemplo, perguntam se podem pescar, se podem levar o peixe. A pousada não restringe, o que nos fazemos é explicar que existem Leis Ambientais, para procurarem no órgão ambiental, nos sites sobre a quantidade e tamanho de peixe que podem ser pescados. Se
tem carteirinha de pescador, indicamos vários telefones de “piloteiros”, e eles mesmo entram em contato. Tem turista que procura pesca e descanso, esporte aquático e outros que vem para mergulhar. W.L: Quais as opções de lazer que a Pousada oferece? W.A: A Pousada está muito ligada à Represa. Se chove, dificulta muito porque as pessoas vem aqui procurando pescar e nadar. O lazer depende tanto da Pousada quanto da pessoa, tem gente que traz lanchas, jetski, as vezes o próprio turista faz o lazer dele. Eu tenho um grande interesse em fazer parceria com alguém que possa tirar o hóspede da Pousada e levá-lo em cachoeiras para aumentar o lazer do hóspede, mas infelizmente não estou conseguindo esse profissional em Três Marias. As pessoas procuram muito isso, mesmo porque no site temos várias fotos de cachoeiras, só aqui no canal do Ribeirão do Boi tem seis cachoeiras, mais ainda não tenho a pessoa adequada para isso, tem que ser alguém que entenda de escalada, que tenha os equipamentos adequados e até seguro, para o hóspede ficar bem tranquilo com o passeio. W.L: Qual é a lotação máxima da Pousada? W.A: Temos 19 acomodações, a lotação máxima é de 85 pessoas, mas é difícil ter a lotação máxima, porque temos acomodações para seis, cinco pessoas. W.L: Tem um público especifico? W.A: Não, vem família, vem amigos para pescar, vem pessoas
para tratar de negócios, as vezes as pessoas querem sair dos grandes centros pra tratar de negócios com tranquilidade, passam o fim de semana, tem lugar que não tem sinal de celular, para quem esta querendo sossego é um fator que ajuda muito. W.L: Seu púbico é externo? W.A: O público aqui é 100% externo, vem pouca gente de Três Marias. Acham que aqui é muito caro que não é para as pessoas daqui, mas não tem nada disso, nossos preços são de mercado, talvez tenha até preços melhores do que outros hotéis aqui em Três Marias. Está aberta ao público, quem quiser passar o dia aqui sem se hospedar pode. No entanto, estou passando a ter outro problema, final de semana e feriado, tenho que limitar a entrada pelo tamanho do público que está procurando. W.L: Nós temos, ao longo da Represa, algumas outras pousadas. A Represa oferece essa diversidade, você acha que outras pousadas deste porte podem surgir e se tornar modelo, por exemplo, como acontece no Lago de Furnas? W.A: Eu acredito que, se hoje, tivesse mais umas cinco pousadas ao lado da Ribeirão do Boi, seria até melhor para mim porque, por exemplo, hoje temos três piers, um para embarcação, um para lazer e outro para pesca. A pessoa que tem uma lancha, quer sair de um ponto e ir para outro, hoje ela só tem mais três opções de parada: Clube Náutico, Praia Mar de Minas e Hotel e Restaurante Grande Lago. A pessoa quer dar uma voltinha por onde tenha
outras pessoas, se tivesse outras pousadas teriam bem mais opções. Quando o turista liga e já estamos lotados, ficam pedindo que indique outro hotel, que semelhante. Aí falo que igual ao meu não vai ter não, mais a gente indica hotéis do centro, indica o Canto do Rio, indica o Grande lago e vários outros. Não temos restrições de indicar outros com medo de perder hóspedes, porque ele vai ficar em outro, mas se ele não conhece vai querer conhecer aqui. W.L: Mas você tem conhecimento de alguma pousada surgindo? W.A: No caminho aqui da Pousada, pela estrada de terra tem uma porteira, eu já ouvi falar que é uma pousada, mas não tenho certeza. W.L: Você tem interesse em ampliar a Pousada? W.A: A ampliação da pousada depende da AABB, e eu não sei se eles tem esse interesse, por parte minha eu tenho muito interesse que eles ampliem. W.L: O que representa a Represa pra você? W.A: Para mim representa tudo, eu acho que se você chegar no centro de Três Marias e fizer esta mesma pergunta, a maioria da pessoas vão responder que não representa nada, mais se as pessoas passassem a olhar isso com outros olhos por exemplo, se você perguntar se elas sabem que no canal do Ribeirão do Boi tem seis cachoeiras, todos vão responder que não, e todas tem acesso por água e por terra, as pessoas não tem conhecimento da beleza que existe na Represa de Três Marias.
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Projeto Versol: Iatismo e náutica capacitam jovens para o mercado de trabalho Por Júnior Ribeiro da Rocha
O Projeto Versol (Vela Remo Responsabilidade Socioambiental e Lazer) teve início em 2010, fruto de uma parceria entre Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais), Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael) e Prefeitura Municipal de Três Marias. Os objetivos são proporcionar a iniciação esportiva, profissionalizante e educação complementar. Atualmente, o projeto Versol beneficia 230 jovens, entre nove e 24 anos, no município de Três Marias-MG, com práticas de esportes náuticos, como vela (classes Dingue e Optimist) remo, natação e ainda aulas de educação ambiental com práticas de ecoturismo. Estas atividades acontecem na Praia Mar de Minas de segunda a sexta-feira, de 08h as 10h30 e de 14h as 16h30. O projeto conta com uma equipe de profissionais em cada área. Fernanda Maciel (professora de natação e coordenadora do projeto), Geilene (monitora de natação), Núbia (professora de vela), Marmi (monitor de vela), Anderson (professor de mecânica náutica e remo), Lívio (monitor de remo), Jocean e Denilson (apoio de rampa) e nosso entrevistado Heuler Leone Rocha (professor de Educação Ambiental). Todos recebem remuneração, o que nos leva a constatar que o Lago de Três Marias garante uma fonte de renda para esses profissionais. Da equipe de professores e monitores, três foram alunos do projeto, Heuler, Lívio e Denilson. Eles se destacaram e foram contratados para trabalhar, existe uma dificuldade em encontrar profissionais dessas áreas em Três Marias e região. Além dos alunos que ingressaram na equipe de coordenação, outros dois, Misael e Gabriel, foram inseridos no mercado de trabalho por meio do Projeto Versol. A Cemig financia as atividades do Versol, com infra-estrutura adequada e qualificação pessoal. A Companhia também participa da gestão compartilhada do Projeto. Cabe à Prefeitura Municipal de Três Marias disponibilizar o local e a manutenção da sede do Projeto com estrutura para armazenamento de barcos e espaços de lazer. A prefeitura também fornece o transporte aos alunos. O Instituto Rumo Náutico (Projeto Grael) executa e planeja as atividades, define o material de suporte (incluindo equipamentos, material e infraestrutura necessária) e realiza a contratação e ges-
tão de pessoal. De acordo com Heuler Leone Rocha, professor de Educação Ambiental do Projeto Versol, o objetivo é capacitar os alunos, principalmente os matriculados em escolas públicas do município de Três Marias e região. Em 2010, ano em que o projeto começou a funcionar, aconteceram duas atividades de destaque. O 29 º Campeonato Centro-Oeste da Classe Laser, organizado em parceria com a Cemig, Prefeitura de Três Marias, Projeto Grael e Associação Brasileira de Classe Laser (ABCL). O campeonato envolveu velejadores das categorias Standard, Radial e 4.7 e foi válido para o ranking nacional. A segunda atividade foi a 1ª Copa Versol, disputada pelas classes Dingue e Optimist, barcos para iniciantes no iatismo. Os participantes foram os alunos do projeto. Foi a primeira vez que a Represa de Três Marias contou com campeonatos oficiais de iatismo. As competições e o funcionamento da escola de barco à vela têm contribuído para que o reservatório de Três Marias ganhe maior visibilidade e reconhecimento na prática de esportes náuticos. Tanto que, em janeiro de 2012, a cidade sediou o 38° Campeonato Brasileiro da Classe Laser, com a presença de grandes velejadores brasileiros. Os alunos e instrutores do Versol e moradores de Três Marias, Heuler Leone Rocha, Anderson Lopes e Lucas Rocha, tiveram a oportunidade de participar da competição, ao lado
dos principais nomes da vela nacional. Mais que uma oportunidade de aprender, o Projeto Versol possibilita a inserção no mercado de trabalho e garante o sustento dos profissionais envolvidos na equipe de professores, treinadores e monitores. É a Represa
de Três Marias que beneficia e gera renda, como acontece com vários moradores da cidade, que executam outros tipos de atividades. O Versol também insere jovens no mercado de trabalho, formando-os em outras áreas.
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Da sala de aula para as barracas Por Hayla Camila Lopes
Maria Geralda Jales de Almeida é professora, junto com o marido Janísio “baiano”, administra a Barraca Velho Chico, também localizada na Praia Mar de Minas, às margens da Represa de Três Marias. Para ela, a praia é um local para se acalmar , depois das aulas de matemática que leciona na Escola Municipal Geralda Márcia Pereira Gonçalves. A professora conta que tudo começou há quase um ano, quando uma amiga precisava de alguém para investir na barraca. Ficou combinado que Maria Geralda entraria com o capital e sua amiga com o trabalho. Em pouco tempo, uma semana depois, o lucro com a nova parceria era menor do que o esperado e a amiga de Maria Geralda decidiu se retirar do negócio. A professora gostou do novo trabalho. Ela conta que vinha de uma experiência com mais de vinte anos em um bar que o marido possuía na cidade. Então, o novo sócio da barraca foi ninguém menos do que o marido Janísio. Hoje, o casal é o atual proprietário da barraca Velho Chico. A preocupação de Maria Geralda é a mesma que a maioria dos proprietários de barracas na praia. Ela pede que os trimarienses valorizem mais o local. “Precisamos cuidar e preservar a nossa Praia Mar de Minas”, alerta a professora, que também faz um apelo às autoridades. É preciso ter mais cuidado com os donos de barracas na praia, muitos as tem como única renda, por isso tem que trazer mais eventos para cá, isso ajuda a aumentar o turismo”,
“Como um quadro lindo”, asssim Maria Geralda define o cenário do Terminal Turístico Praia Mar de Minas
declara. “Eu costumo falar que isso aqui pra nós de Três Marias é assim: Você vê um quadro lindo, e você compra aquele quadro, leva e coloca na parede. Aí, vai passando os anos você não percebe aquele quadro mais, não enxerga mais ele. Até que alguém chega e fala assim ‘Nossa mais que
Professora Maria Geralda cobra mais atenção para os barraqueiros da praia
quadro lindo’. Aí você olha pro quadro de novo e fala ‘Realmente, ele é lindo mesmo’. Você consegue ver a beleza através dos olhos de outras pessoas . Isso aqui pra mim é isso” Diz orgulhosa Dona Maria Geralda. Durante a entrevista vi que a barraca de Maria Geralda não era apenas uma renda extra, ela também ama o
que faz. Percebi isso, porque ela via a praia de um jeito diferente, porque ela também olhava as barraquinhas da praia de um jeito diferente, ela diz que as barraquinhas tem um charme especial. E logo Depois da entrevista, olhei para aquele quadro lindo e voltei a ver a beleza da Praia Mar de Minas.
Movimento nas barraquinhas da praia aumenta durante eventos, inclusive á noite
Pescadores que falam a língua dos peixes Por Isa Maria Lima Campos
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ahmud Lauar (79), filho de Libanês, na tural de Setubinha, cidade do interior de Minas Gerais, localizada a 580 km da capital Belo Horizonte. Senhor Mahmud mudou para Três Marias em 1972. Começou a pescar com seus irmãos e nunca mais parou. Todas as manhãs, que é o melhor horário para pescaria e ao entardecer, se não estiver ventando, ele vai para a represa pescar. “Se estiver ventando não vou pescar, porque a represa fica perigosa”, afirma Mahmud. Na época da Piracema (período de reprodução dos peixes, que ocorre entre os meses de outubro a março, é proibida a pesca) Senhor Mahmud respeita as regras e, neste período, não pesca na represa. Segundo o descendente de libanês, a melhor época para a pesca, é quando a represa está cheia, no período após a Piracema. Os mais pescados na represa, de acordo com Mahmud, são o Piau, Curimba, Matrinxã e Traíra. Sobre a influência da lua na pesca ele diz: “Na lua nova geralmente começa a ventar e o vento atrapalha, é melhor pescar na lua cheia e lua crescente”. Para este antigo pescador, a represa hoje está muito explorada, não se pesca a mesma quantidade de peixe que pescava antigamente. Ele lamenta que a maioria das pessoas não dá valor a represa. “Quando você olha aquele mar de água, você descansa. Para mim o melhor lugar de Três Marias é a represa, o lugar mais bonito que existe. Nós pescadores amadores respeitamos a represa, respeitamos a Piracema, quando é a época não vamos pescar”, conta Mahmud Lauar, um dos pescadores mais antigos e tradicionais da cidade. Na casa dele, estão várias fotos de pescarias históricas que realizou no Lago de Três Marias. Exibindo belos e grandes peixes, uma das fotografias chama a atenção, pois vem ao lado de um verso inspirador: “Quando o azul do céu reflete No espelho das águas do lago Teu barco eleva as ondas Num quadro raro, comovente e puro” Outro pescador tradicional na represa é o paraibano Manuel Messias da Silva, 44, mais conhecido como “Manu”. Ainda criança, se mudou da Paraíba para o município vizinho de Morada Nova de Minas, que também teve parte alagada pelas águas da Represa de Três Marias. Aos 12 anos chegou a Três Marias com sua família. Filho de um pescador, Manu sempre gostou de pescar desde pequeno e trabalha como pescador profissional há 30 anos. Para este paraibano de poucas palavras, a melhor época para a pesca é o verão. Gosta de pescar perto das veredas e
na água. E ainda comercializam gelo, coco, porda praia. Os mais pescados, seções de peixes e bebidas. Wemerson congundo Manu, são o Tucunaré, ta que os pescados mais pedidos pea Traíra, Piau, Corvina, los clientes são o Tucunaré, Filé de Curimba, Piranha Vermelha Tilápia, Curimatã e Dourado. e Piranha Branca. Vive da Ele pesca diariamente com rede de pesca e da barraca que possui malha, arma a rede em um dia e no na Praia Mar de Minas a oito outro faz a despesca (a colheita ou reanos, local onde vende seus tirada dos peixes das malhas ao alcanpescados para os turistas e çarem o peso de mercado ou de conpara a população local. Ele sumo). A quantidade de peixes pesafirma que o peixe mais cados diariamente varia de acordo pedido é o Tucunaré. com a época, a altura e a temperatuNos feriados e princira da água. A lua também é um fator palmente na época do importante para os pescadores. “Nós Carnaval o movimento que pescamos com rede, preferimos de turistas aumenta, o a lua minguante e crescente”, afirque possibilita lucros ma. Além de vender os peixes na maiores nas vendas barraca, Wemerson é procurado por de peixes e outros clientes de toda a região. “Já foi meprodutos da barraca. “A lhor, hoje para sobreviver da pesca represa representa pra ficou muito difícil”, lamenta. A repremim muitas coisas boas, sa para ele representa muita coisa. possuem muitos peixes, “Tudo o que temos hoje é através desmuitas riquezas, a represa é o sa maravilha que é o reservatório”, diz melhor que tem aqui”, elogia Wemerson, que pretende ensinar aos Manu. seus filhos a preservação e os cuidados Wemerson (34), também com a represa. Fala também sobre é pescador na represa de conscientizar as pessoas sobre a preserTrês Marias desde os 14 anos. vação, porque as pessoas só visam os luSeus pais são pescadores, nasSr. Mahmud exibe uma cros, vender e em captar dinheiro e se esceu e foi criado na pesca. Além enorme “Curimba” quecem de cuidar da preservação do lago. da atividade pesqueira, traba“Para explorar, a gente tem que cuidar lha a dois anos em sua barraca na praia, ao lado da esposa. O casal vende produtos também, alerta. infláveis como bóias e brinquedos para a diversão
Aos 12 anos de idade, “Manu” chegou em Três Marias. Desde então pesca na represa
Wemerson e a esposa vendem peixes e produtos infláveis como bolas e bóias