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Fique esperto para não cair em golpes pelo celular e pelo computador. PÁGINA

Cuide bem do seu dinheiro

FERNANDO CABRAL

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Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

Conto do vigário refere-se a um golpe em que uma pessoa usa da esperteza para tomar dinheiro do próximo. De onde veio o termo, ninguém sabe ao certo. Há muitas estórias e poucas certezas. Para o escritor Fernando Pessoa, teria sido de uma personagem chamada Manuel Peres Vigário que ganhava dinheiro se aproveitando da ganância alheia. Segundo outros, seria por causa da estória falsa de um vigário rico que morreu sem deixar herdeiros. Os golpistas convenciam alguém de que ele teria direito à herança milionária. A pessoa ingênua, mas gananciosa, mesmo sabendo que não tinha parentesco com o vigário, de bom grado aceitava a herança. Havia, contudo, um porém: para recebê-la, a pessoa precisava adiantar algum dinheiro para cobrir as despesas com impostos atrasados, cartório e outras taxas e emolumentos. As despesas eram elevadas, mas eram pequenas comparadas com o valor da herança. Por isto o falso herdeiro se apressava em colocar o dinheiro das despesas nas mãos dos vigaristas. Mas, tão logo eles embolsavam o dinheiro, sumiam. Assim surgiu o conto do vigário e o termo vigarista. Conto do vigário é uma estória (conto) para convencer os ingênuos gananciosos de que eles podem ganhar dinheiro fácil. Vigarista é quem aplica o golpe. Sua vítima é o pato, trouxa ou otário. Atualmente as vigarices mais comuns são praticadas pelo telefone e pelas redes sociais. São infinitas. O golpe do sobrinho cujo carro quebrou; o golpe do filho sequestrado; o golpe do amigo que pede dinheiro emprestado pelo WhatsApp; o golpe do banco ou do INSS que liga para pedir CPF e senha; o golpe do emprego fácil com pagamentos altos... Mas, no momento, os golpes que mais custam dinheiro aos ingênuos são os das criptomoedas e as correntes ou pirâmides. Por paradoxal que seja, algumas vítimas também podem ganhar dinheiro. Isto faz parte do golpe. Para que ele seja bem sucedido, o vigarista precisa de propaganda. A melhor propaganda vem dos amigos, parentes e colegas de trabalho. Então os vigaristas fazem com que algumas de suas vítimas ganhem algum dinheiro. Pelo menos no começo. Os ganhos iniciais entusiasmam a vítima e ela quer o mesmo benefício para seus amigos e parentes. Pronto: a esparrela está armada. Criptomoeda é um tipo de dinheiro que só existe nos computadores. Não existe em metal, não existe em papel. Não pode ser vista nem tocada. É totalmente virtual. Está em todos os lugares e em lugar nenhum. A mais antiga e mais famosa das criptomoedas é o bitcoin, a preferida dos vigaristas.Eis como funciona. Pelas redes sociais ou mesmo ao vivo o vigarista lhe oferece um negócio da China. Digamos, você coloca R$ 100,00 nas mãos dele e ele lhe devolve R$ 120,00 em dois dias. Como o dinheiro é pouco, você acha que vale a pena o risco e entrega os R$ 100,00. Dois dias depois o vigarista deposita os R$ 120,00 na sua conta. Com este sucesso inicial, você se anima. Coloca cada vez mais dinheiro e chama os amigos para colocarem dinheiro

Tradicionalmente os vigaristas se aproveitam de dois tipos de pessoas: as ingênuas e honestas e as ingênuas e gananciosas. Em ambos os casos, a ingenuidade é essencial, mas ser honesto ou ser ganancioso muda a forma como o vigarista opera. No primeiro caso, ele se aproveita da bondade da pessoa; no segundo, ele se aproveita da vontade que a pessoa tem de ganhar dinheiro fácil. Antigamente o apelo à honestidade era mais comum; hoje em dia é o apelo à ganância que funciona mais.

também. A roda da fortuna gira. Todos querem ganhar uma fatia do lucro espetacular que o vigarista oferece. Para dar maior credibilidade ao golpe, o vigarista oferece até contrato escrito. Se quiser, ele assina, carimba e reconhece firma. Tudo vai muito bem. Você e seus amigos colocam cada vez mais dinheiro nas mãos do vigarista. Se alguém lhe alertar que é golpe, você se irrita, mostra os comprovantes de depósito e chama o precavido de invejoso. De repente o vigarista pára de depositar; o telefone não atende mais; ele some das redes sociais. O golpe está consumado com você e sua turma. Nestas alturas o vigarista já está aplicando o golpe usando outro telefone, outro grupo de rede social, outro nome. Você e seus amigos foram vítimas da própria ingenuidade e da ganância. Não seja ganancioso Daí vem a primeira regra para cuidar do seu dinheiro: se o negócio parece bom demais para ser verdade, pode acreditar: é golpe. Em nenhum lugar do mundo exige investimento sem risco com ganho muito superior à taxa básica de juros. No caso do Brasil, esta taxa hoje está em 13,75% ao ano. Estamos falando ao ano. Ou seja, se você investir R$ 100,00 receberá R$ 113,75 depois de 12 meses. Na verdade, R$ 111,34 porque pagará R$ 2,41

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de imposto de renda. Qualquer oferta melhor do que esta é suspeita. Quanto melhor, mais suspeita. Portanto, não seja dominado pela ganância. Os golpistas se alimentam dela. No mundo do dinheiro, se for bom demais para ser verdade, é porque realmente não é verdade. Não seja ingênuo Para ser otário não basta ser ganancioso; é preciso também ser ingênuo. Veja, por exemplo, o caso das ofertas de bitcoin e outras semelhantes. Se o vigarista promete que se você colocar R$ 100,00 nas mãos dele ele lhe devolverá R$ 120,00 em dois dias, é claro que é golpe. Veja, R$ 100,00 que viram R$ 120,00 em dois dias viram 18 quatrilhões em um ano! Para você ter uma ideia, toda a riqueza produzida no Brasil em um ano soma 9 trilhões de reais. É claro que não existe nada no mundo que seja capaz de fazer seu dinheiro render 10% ao dia. Veja, os maiores especialistas em dinheiro são os bancos. Pois bem, eles emprestam R$ 100,00 ao Governo Federal para no final de um ano receberem R$ 113,75 de volta. Se existisse lugar melhor para investir, eles saberiam. Outro exemplo. No empréstimo consignado a Caixa Econômica Federal lhe empresta R$ 100,00 para receber R$ 129,68 no final de um ano. Já é um lucro enorme para ela. Você acha que existe algum conhecido seu das redes sociais que saiba ganhar mais dinheiro do que os bancos? Se ele soubesse, porque deixaria de guardar para si mesmo, em vez de querer fazer você ficar rico? A lição aqui é: não seja ganancioso e não seja ingênuo. Conforme se pode ver na bíblia e em documentos mais antigos, os banqueiros estão nesta profissão há quase 10 mil anos. Não pense que tem um sujeito esperto escondido atrás das redes sociais que sabe ganhar mais dinheiro do que eles. Legal, mas péssimo Há perigo em coisas legais também. Por exemplo, os títulos de capitalização. Eles são vendidos por bancos e por vendedores ambulantes. Eles são um cruzamento de caderneta de poupança com loteria. Mas, é uma poupança piorada, porque se você precisar do dinheiro antes do prazo, os bancos vão lhe cobrar um ágio pesado. Como loteria, é péssimo, porque seus prêmios são pequenos. Em resumo, para se proteger contra os vigaristas não especule com moedas virtuais, não acredite em correntes e pirâmides e fuja dos títulos de capitalização. Principalmente, não acredite em ninguém que lhe garanta que se você investir R$ 100,00 poderá receber R$ 120,00 em dois dias, ou mesmo numa semana ou mesmo num mês. É golpe. Afinal, Papel Noel é simpático, mas não existe. O primeiro degrau que pode ser chamado de investimento sério é a caderneta de poupança. Mas não se iluda: é só para dinheiro bem pequenininho. Se seu pé-demeia crescer pouco que seja, você deve procurar coisa melhor.

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