Caderno Expointer 01.09.2015

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Porto Alegre, terça-feira, 1 de setembro de 2015

MÁQUINAS AGRÍCOLAS

Fabricantes observam nos últimos meses ANTONIO PAZ/JC

P

ara as empresas fabricantes de máquinas agrícolas, além de apresentar novidades, a Expointer é o momento de avaliar a situação do setor. A Massey Ferguson espera retração de 25% na comercialização de tratores, em 2015. De janeiro a julho, foram 4,3 mil unidades, com objetivo de chegar a 8 mil até dezembro. No caso das colheitadeiras, a queda deve ser maior: 30%. A estimativa é vender 1,1 mil produtos dessa categoria, sendo que o primeiro semestre contribuiu com 576 unidades. A estratégia é manter a agressividade comercial, lançando produtos, além do foco em exportações devido à situação cambial. O gerente de vendas da empresa, Leonel Oliveira, considera os números do ano insuficientes para avaliar o desempenho do setor. “Na agricultura, não podemos analisar apenas um ano. Trata-se de uma atividade de médio e longo prazo”, ponderou. Segundo Oliveira, embora as vendas estejam abaixo do observado nos últimos anos, as condições de financiamento seguem boas, com juros de 5,5% (Programa Mais Alimentos) e 7,5% (PSI e Finame). “A liberação do crédito está mais morosa, mas os recursos estão disponíveis”, avalia. A recuperação começou a ser sentida nos dois últimos meses devido ao início do Plano Safra 2015/2016 e a acomodação dos preços das principais commodities. Segundo o diretor de marketing da New Holland na América Latina, Carlos Darce, no Rio Grande do Sul, nesse período, as vendas estão mais altas do que nos mesmos meses do ano passado. “A Expointer, por exemplo, nos primeiros dias, está nos mesmos níveis de 2014. E a proximidade da safra de verão tem marcado a reação das vendas de tratores e colheitadeiras”, explica.

ANTONIO PAZ/JC


Porto Alegre | Jornal do Comércio Terça-feira, 1 de setembro de 2015

2 PECUÁRIA

Produtores e indústria querem elevar abates ANTONIO PAZ/JC

Patrícia Comunello patriciacomunello@jornaldocomercio.com.br

Um dos desafios da cadeia da pecuária de corte no Estado é elevar o número de abates, que se estabilizou em cerca de 2 milhões de cabeças ao ano. Com mercado crescente interna e externamente e preço em alta (o Rio Grande do Sul tem a maior cotação do País), produtores, indústrias e até o governo estadual mostram que querem ampliar a oferta e de forma mais rápida. O presidente da Marfrig, que passou ontem pelo parque Assis Brasil, Martín Secco, opinou que é possível passar a 3 milhões de animais em poucos anos. “Depende muito da coragem e crença do setor”, provocou o executivo, que apontou dois caminhos para executar o plano: elevar a taxa de natalidade, que é hoje menor que 50%, e melhorar a alimentação para reduzir a idade de abate. A maior parte dos animais ainda é abatida acima de 30 meses. O secretário da Agricultura, Ernani Polo, defendeu que a forma de operar a mudança é repassar informação e apoiar os produtores. Segundo Polo, a intenção é trabalhar na elevação da natalidade a 60%. A Marfrig quer ampliar a adesão de produtores ao sistema de confinamento para terminação, o popular boitel, com garantia de aquisição e de preço. Para ter mais oferta ao abate, a companhia vai reforçar parcerias como a que já tem com a Fazenda Jaguaretê, que desenvolve genética e cruzamentos entre Simental e raças britânicas, como Angus e Hereford, e tem uma área de terminação intensiva. O proprietário, o empresário paulista Luiz Antonio Queiroz, elevará a capacidade estática de 2 mil a 4 mil animais até o fim do ano, mas a meta é chegar a 10 mil na propriedade em Eldorado do Sul/RS. Queiroz quer atrair mais produtores, que podem seguir um programa junto com a Marfrig, com apoio em assistência e até financiamento. O foco é produção de carne com maior padrão. “Para entrar em segmentos de alto valor”, sinalizou Queiroz. A aposta no filão das carnes com

Uso do cruzamento é essencial para ampliar a oferta de animais ANTONIO PAZ/JC

EXPONOTAS Sebrae estimula pequenos negócios em todo o Estado Durante a Expointer, o Sebrae divulga o movimento Compre do Pequeno Negócio, campanha que recorre ao dia da micro e pequena empresa (comemorado em 5 de outubro) para destacar o impacto dos empreendimentos de menor porte para o País. O segmento responde por 27% do PIB e por 52% dos empregos formais. O diretor-superintendente do Sebrae-RS, Derly Cunha Fialho (foto), destacou que, no dia 5 de outubro, haverá uma grande movimentação no Brasil, com a presença de unidades móveis do Sebrae para esclarecer dúvidas de empreendedores e promover qualificação. “Pedimos para que a sociedade prestigie o pequeno negócio, porque é uma relação em que um depende do outro.”

BRUNA ANTUNES/JC

Fiscais agropecuários protestam Os fiscais estaduais agropecuários cruzaram os braços ontem em protesto contra o parcelamento de salários. Cumprindo o anunciado, um dos turnos de ingresso de animais em Esteio foi suspenso. Das 12h às 18h, caminhões com animais tiveram de esperar o fim do dia para entrar. Segundo a Afagro, oito caminhões com cerca de 50 equinos para provas tiveram de esperar na sombra, com liberação após as 18h. A atuação dos fiscais nos julgamentos também é suspensa. A operação restrita vai até quinta-feira. No Interior do Estado, a categoria mantém 30% do efetivo nas Inspetorias de Defesa Agropecuária. Nos frigoríficos, os fiscais param na quarta e na quinta-feira, impedindo os abates. AFAGRO/DIVULGAÇÃO/JC

Queiroz, da Fazenda Jaguaretê, tem meta ousada e mira em parcerias

diferenciais de origem embala o acordo que está pronto para ir ao mercado entre a companhia e a Alianza Del Pastizal, movimento que incentiva a produção em campo nativo. Marfrig e Alianza criaram um selo para valorizar a matéria-prima com o apelo da sustentabilidade, ao aplicar a exploração da atividade pecuária com a conservação do Bioma Pampa. O sistema tem protocolo que hoje é reconhecido por lei estadual. O coordenador da Alianza, Marcelo Fett Pinto, lembra que são 110 propriedades que concentram 100 mil hectares. “Temos fila de produtores querendo entrar”, comemora Pinto. O gerente de sustentabilidade da Marfrig, Mathias Almeida, adianta

que o produto estará nas gôndolas até o fim do ano, que só falta a liberação do uso do selo pelo Ministério da Agricultura. A carne da Alianza del Pastizal atenderá o mercado interno e exportação à Europa. Hoje, são 300 a 400 animais abatidos por mês. Enquanto lançavam a marca na sede da Farsul, em Esteio, o holandês Tjitte van der Werf, que opera com mercado externo, abordou Almeida e avisou: “Quero a carne del Pastizal”. Segundo Werf, um cliente varejista holandês busca esse tipo de produto “com história” para abastecer redes europeias. O holandês disse que há resistência fora para carne que tem origem na Amazônia. O produto com selo da Alianza deve estrear em lojas em Porto Alegre. A Marfrig não revela a rede.

Arroz na Bolsa

Febre de vendas

A Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM) passará a realizar leilões privados de arroz em casca por meio de pregão eletrônico. Denominado Arroz na Bolsa, o programa foi apresentado no parque Assis Brasil. O propósito dos envolvidos com o programa é facilitar a comercialização do grão e ampliar a abrangência da oferta. Os produtos terão uma qualidade pré-determinada pela Emater e, caso necessário, financiamento aos compradores pré-aprovado pelo Banrisul.

Com juros de custeio mais salgados (até quatro pontos maiores que os da safra 2014/2015), a grande pergunta é quem vai encarar a conta mais alta em época de preços de commodities em baixa. No primeiro fim de semana, o Sicredi registra menos pedidos entrando, mas o tíquete é 10% maior que o da largada da Expointer de 2014. A partir de amanhã, o parque lota com a invasão das caravanas de produtores, aí o Pronaf poderá fazer a festa. Ou não.

Editor-chefe: Pedro Maciel Secretário de Redação: Guilherme Kolling Editor de Economia: Luiz Guimarães Subeditores: Cristine Pires, Luciana Radicione, Luciane Medeiros e Marcelo Beledeli Reportagem: Luiz Eduardo Kochhann, Marina Schmidt e Patrícia Comunello Projeto gráfico: Luis Felipe Corullón Diagramação: Luis Felipe Corullón Revisão: André Fuzer, Rafaela Milara e Thiago Nestor E-mail: economia@jornaldocomercio.com.br


Porto Alegre | Jornal do Comércio Terça-feira, 1 de setembro de 2015

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SAFRA DE VERÃO

Mais área, menos colheita de grãos

A área de plantio das principais culturas de verão deve crescer 0,74% para o ciclo 2015/2016, mas a produção deve cair 7% no Estado, segundo a primeira sondagem da safra divulgada ontem pela Emater-RS na Expointer. A apuração é baseada na intenção de plantio nos maiores municípios produtores. Serão 7,352 milhões de hectares em soja, arroz, milho e feijão, com previsão de colheita de 27.955.987 toneladas. O presidente de Emater-RS, Clair Tomé Kuhn, lembrou que a colheita projetada, mesmo menor, será 10,46% maior que a média dos últimos cinco anos. Mas a série inclui a quebra da estiagem de 2011/2012, uma das maiores da história da agricultura gaúcha. A quebra foi de 34%. Os técnicos reforçaram a preocupação com medidas para recuperar a condição do solo (com maior rotação de culturas) e sinalizaram que a soja roubará ainda mais espaço do milho e de outras culturas e atividades, como arroz e

ANTONIO PAZ/JC

Na lavoura Intenção de plantio em 2015/2016 Grão

Soja

Arroz

Milho

Feijão

Total

Área 2014/2015 (ha)

5.263.900

1,127.916

863.608

43.064

7.298.488

Área 2015/2016 (ha)

5.429.186

1.102.763

779.579

40.619

7.352.147

3,14

-2,23

-9,73

-5,68

0,74

Produção 2014/2015 (t)

15.700.264

8.679.490

5.633.650

60.786

30.074.190

Produção 2015/2016 (t)

15.201.721

8.292.778

4.404.621

56.867

24.464.535

-3,18

-4,45

-21,82

-6,45

-7,05

Variação (%)

Variação (%)

Média ainda está boa, diz Kuhn

FONTE: EMATER-RS

pecuária de corte, no Estado. A Metade Sul do Estado é o alvo da produção da commodity mais valorizada e com divisas crescentes para a economia gaúcha. O grão aumentará em 3,14% a área, com-

parando com o ciclo de 2014/2015. Dos 165 mil hectares dessa expansão, 80 mil são considerados áreas novas para agricultura. Os municípios de Cachoeira do Sul (celeiro tradicional de arroz) e Caçapava do-

Sul (zona de pecuária) despontam no avanço. A região Sudoeste teve o maior salto, 8,6%, com mais 30 mil hectares. O secretário de Desenvolvimento Rural, Tarcisio Minetto, observou que as regiões recentes em

plantio apresentam produtividade mais baixa. O milho tem a maior perda em área, de -9,73%, e em produção, -21,82%. A rotação entre milho e soja atinge 25%, quando deveria ser pelo menos de um terço, segundo Kuhn. O que cresce é a destinação de milho para silagem no suporte da alimentação de gado, como o ramo leiteiro. O secretário da Agricultura, Ernani Polo, promete lançar, em outubro, um programa estadual de gestão de solo e água, que deve reunir assessoramento técnico e de repasse de tecnologias de universidades e fundações e escritórios da Emater-RS para melhorar o uso das áreas. A soja mantém a tendência dos últimos anos e deverá ocupar uma área 3,14% maior do que em 2014/2015. Em termos absolutos, o aumento representa 165 mil hectares a mais em relação ao ano passado. Destes, cerca de 80 mil deverão ser em áreas novas, especialmente na Metade Sul.


Porto Alegre | Jornal do Comércio Terça-feira, 1 de setembro de 2015

4 LEITE

Setor lácteo busca estímulo para crescer ANTONIO PAZ/JC

Marina Schmidt marina@jornaldocomercio.com.br

O primeiro debate da série Retrato do Agronegócio, promovido pela Casa JC na Expointer, reuniu representantes da indústria e produtores de leite, na manhã de ontem, com o objetivo de avaliar os desafios enfrentados pela cadeia produtiva. O encontro culminou com o consenso de que é fundamental acelerar medidas de incentivo para elevar a competitividade no setor. Estiveram presentes no debate o gerente do Departamento de Política Leiteira da Cooperativa Santa Clara, João Seibel; o secretário executivo do Sindilat/RS, Darlan Palharini; e, representando os produtores, o superintendente técnico da Associação dos Criadores de Gado Holandês (Gadolando), José Luiz Rigon. A produção de leite no Rio Grande do Sul praticamente dobrou entre 2004 e 2014, passando de quase 2,4 bilhões de litros para aproximadamente 4,6 bilhões. Do total produzido atualmente, 40% supre a demanda gaúcha, exigindo que o restante seja comercializado para outros estados brasileiros ou no mercado internacional. Defendendo uma proposta apre-

Rigon, Palharini e Seibel abriram a série de debates Retrato do Agronegócio na Casa JC na Expointer

sentada na última quinta-feira na Câmara dos Deputados, o Sindilat/ RS destacou que a criação de uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para o leite em pó importado pode, ao menos, amenizar o impacto da concorrência com mercados que conseguem pro-

duzir com menor custo. A intenção é aplicar uma taxação de 10% sobre o leite em pó importado sempre que o preço praticado ficar 30% abaixo do valor de referência do Conseleite. “Não conseguimos produzir no custo competitivo do mercado internacional”, admitiu Palharini, compa-

NEGÓCIOS Sacas de soja e de café viram moeda de troca por máquinas agrícolas Luiz Eduardo Kochhann

MATEUS BRUXEL/ARQUIVO/JC

luiz@jornaldocomercio.com.br

Com uma retração de 25% no primeiro semestre, o setor de máquinas agrícolas está buscando alternativas para retomar o crescimento. A New Holland, por exemplo, está operando com um sistema de trocas. O agricultor pode ofertar sacas de soja na aquisição de qualquer produto da marca, desde pequenos tratores até colheitadeiras mais potentes. Em outras regiões do Brasil, além da oleaginosa, é possível utilizar sacas de café no negócio. Por meio desse modelo de comercialização, conhecido como barter, a empresa projeta vender ao menos R$ 20 milhões até o fim do ano. O comprador recebe a máquina assim que o contrato é fechado. A cotação leva em cota o preço futuro da commodity em maio de 2016, quando deverá ser realizada a entrega do grão. A troca serve, entre outras situações, para pagamento da entrada e quitação de parcelas de possíveis dívidas com a empresa. O barter está disponível para todo o portfólio – máquinas, implementos e agricultura de precisão – e tanto para grandes como para pequenos agricultores. O objetivo, segundo o diretor de marketing da New Holland na América Latina, Carlos Darce, é tornar a marca mais acessível devido à atual morosidade na liberação de crédito por parte dos bancos. “É um sistema mais intuitivo, com o qual o produto está acostumado”, destaca.

No Sul, oleaginosa entra no sistema barter

rando que o leite importado tem um custo de R$ 6,10 por quilo, enquanto o mesmo produto no mercado interno custa R$ 11,00. Outro desafio é garantir que o Rio Grande do Sul consiga chegar a outros estados brasileiros, destacou Palharini, criticando o projeto de lei

do Executivo gaúcho que propõe redução dos créditos presumidos do ICMS em 30%. “Já estamos trabalhando no limite”, sustentou. Para os produtores, a realidade não é diferente. Rigon apresentou um contexto em que os custos já elevados da produção leiteira têm sido impactados ainda mais pela alta do dólar, que incide sobre insumos. “É um setor desgastante, que sofre com muitos custos”, argumentou, lembrando que, ainda assim, o pecuarista que investe na produção leiteira tem buscado aprimoramento técnico e mecanização dos processos. “Mesmo com toda a dificuldade, eu acredito muito no leite”, declarou. Frente a todas as dificuldades, Seibel destacou o papel da indústria como indutora da qualificação do setor. O gerente de Política Leiteira da Cooperativa Santa Clara exemplificou a condição destacando a adoção da ordenha robotizada na propriedade do associado Pedro Nólio, que, em agosto, passou a usar um robô no processo. A perspectiva de ampliação do mercado é factível, concluíram os participantes do debate, porém é fundamental aprimorar normas legais. “No futuro, os que estão investindo hoje vão colher os frutos”, sustentou Seibel.

ENERGIA Workshop sobre biogás incentiva produção de energia renovável O aumento de renda do agricultor através da produção de milho foi tema, na tarde de ontem, de workshop aplicado pelo gerente executivo da Eco Energia Brasil (EEB), Mário Coelho, no estande da Alemanha no Pavilhão Internacional da Expointer. A geração de energia a partir da utilização da matéria-prima agrícola e de resíduos animais foi discutida como possibilidade de aprimorar o fornecimento para propriedades rurais. “Na área rural, muitas vezes não se tem energia elétrica e o agricultor acaba perdendo a produção porque não há fornecimento de qualidade, mas não teremos a capacidade de baixar o custo da geração de biogás se não houver investimento”, acredita Coelho. A partir das instalações da usina de biogás que a empresa realiza, os produtores podem utilizar a silagem de milho e esterco que, com a fermentação anaeróbica, se transformam em energia elétrica, térmica e adubo orgânico. Desta maneira, o investimento retorna ao produtor, que, além de substituir a utilização do gás natural, diminui o uso do gás de cozinha. Segundo a EEB, a geração de biogás de um hectare de milho pode evitar emissões de 13 toneladas de CO2/ano e produzir 20 mil kWh de eletricidade para abastecer nove residências durante um ano. A iniciativa utiliza tecnologia alemã e, conforme divulgado por Coelho, atraiu recentemente investimentos canadenses para a produção de energia no Brasil.


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