Cooperativismo
MARCELO G. RIBEIRO/JC
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014 Caderno Especial do Jornal do Comércio
Exportação recorde
2
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
CENÁRIO
Cooperação é uma das palavras de ordem do mundo atual. E, neste contexto, a economia social ganha força. Afinal, tem por base a colaboração e depende da consciência associativa de seus empresários. O trabalho das cooperativas faz repensar a maneira de entender o mundo dos negócios. Prova disso é que, em 2012, a Organização das Nações Unidas (ONU), ao declará-lo Ano Internacional das Cooperativas, foi categórica ao afirmar que “as cooperativas constroem um mundo melhor”. Para o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado do Rio Grande do Sul (Sistema Ocergs-Sescoop/RS), Vergilio Perius, o caminho das cooperativas, que geram renda para a comunidade, fazem inclusão social e prestam assistência para seus cooperados, é a economia social. “É uma tentativa de afastar os efeitos nefastos da economia de mercado
e o individualismo do capital. Nossa distribuição de riqueza é feita pelo trabalho; consequentemente não há o monopólio de decisão ‘daquele que tem mais dinheiro’. Por outro lado, respeitamos o empreendedorismo e a liberdade de negociação”, afirma. E essa parece ser uma tendência mundial. A França é considerada a precursora da economia social no final do século XX. Países como Alemanha, Itália, Espanha, Inglaterra, Japão e Estados Unidos também têm destaque neste tipo de organização. “De acordo com dados do Exploring the Co-Operative Economy, em 2013, 32% das cooperativas no mundo dedicavam-se a atividades agrícolas, seguidos pelas 18% de cooperativas de seguros. Considerando apenas o faturamento, as cooperativas dos Estados Unidos estão em primeiro lugar, alcançando US$ 700 bilhões, seguidos de França, com US$ 358 bilhões, e Japão, com US$ 284 bilhões. O Brasil aparece no 15º lugar, com US$ 30 bilhões”, comenta
ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Cooperar por um mundo melhor
o economista Tiago Wickstrom Alves, coordenador do Mestrado em Economia da Unisinos. O Rio Grande do Sul tem tradição quando o tema é cooperativismo. “São mais de 500 instituições que representam em torno de 12% do PIB. Além disso, o Estado tem na produção do campo seu motor de crescimento, e as cooperativas agrícolas e de crédito têm sido extremamente relevantes para o desenvolvimento da agropecuária”, afirma. O bom momento que vivem as cooperativas é resultado do
investimento na qualificação da gestão. De acordo com Alves, as instituições estão retomando a força e a confiança das pessoas. “O cooperativismo no Rio Grande do Sul, após o gigantismo de algumas cooperativas agrícolas, nos anos de 1970 e 1980, tiveram sua capacidade de gestão questionada. Contudo, passado este período, a expansão do sistema cooperativo em outros segmentos, como de crédito e saúde, e a criação de novas cooperativas agrícolas fizeram com que essas dúvidas se dissipassem”, diz.
Para Alves, bom momento é resultado da qualificação da gestão
MARCELO BELEDELI/ESPECIAL/JC
Sustentabilidade para os negócios
Cooperativas impulsionam o setor agrícola
Enquanto as empresas buscam maneiras de tornar seus negócios mais sustentáveis, as cooperativas carregam o “pensar coletivamente” em sua essência. Todos os associados são responsáveis pelo sucesso da organização, e o que for gerado a partir do trabalho é distribuído de acordo com o envolvimento de cada um. “A filosofia do ‘compartilhar’ é o que nos motiva. É o caminho para um mundo mais sustentável, coletivo e cooperativo”, afirma Vergilio Perius, presidente do Sistema Ocergs-Sescoop/RS. Para o economista Tiago Wickstrom Alves, as vantagens das cooperativas podem ir além daquilo que já se sabe: que todos os participantes tornam-se donos do negócio. “Há outros pontos extremamente relevantes nas empresas cooperativas. Existe a possibilidade de pequenos empreendedores serem capazes de constituir uma organização que produza em larga escala e, com isso, obterem ganhos que beneficiam não só os que dela participam, mas também os consumidores. Além disso, como a coope-
rativa não visa ao lucro, tende a permitir melhores salários, condições de trabalho e capacitação para seus colaboradores. Uma cooperativa permite, ainda, uma difusão do conhecimento dos processos produtivos entre seus participantes de forma mais intensa que outras formas de organização”, diz. A vocação do Rio Grande do Sul para o setor agropecuário faz necessária a evolução da gestão do agronegócio e, neste sentido, as cooperativas têm grande valia. Segundo Perius, a agricultura é responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho e, destes, 12% passam pelas cooperativas agrícolas. “E tudo que é gerado fica na região, enriquecendo e contribuindo com o Estado”, comenta. Além disso, ele também destaca que é a maneira de contornar o êxodo rural, promovendo o desenvolvimento econômico e o bem-estar social das comunidades. “As cooperativas devem promover as práticas sustentáveis. Afinal, é a conservação dos recursos naturais que garantirá o trabalho das gerações futuras e tudo isso é a economia social”, acredita.
•Editor-Chefe: Pedro Maciel•Editora de Cadernos Especiais: Ana Fritsch (anafritsch@jornaldocomercio.com.br)•Subeditoras: Cíntia Jardim (cintiajardim@jornaldocomercio. com.br) e Sandra Chelmicki (sandra@jornaldocomercio.com.br)•Reportagem: Flavia Mu•Projeto gráfico e editoração: Ingrid Müller•Editor de Fotografia: João Mattos•Revisão: André Fuzer, Daniela Florão, Luana Lima e Thiago Nestor
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
3
EXPORTAÇÕES
Cerutti acredita que o bom desempenho é resultado do trabalho bem feito das cooperativas e do momento que vive o agronegócio
O ano de 2013 ficará marcado na história das cooperativas do agronegócio. Com recorde nas exportações, as brasileiras destacam-se pelos produtos de qualidade e pela quantidade, tornando-se fortes concorrentes no mercado agropecuário mundial. As exportações das cooperativas do País tiveram aumento de 2,7% sobre o ano de 2012, alcançando um total de US$ 5,3 bilhões. Entre os principais produtos exportados pelas instituições, destaque para o açúcar refinado (com vendas de US$ 912,8 milhões, representando 17,1% do total exportado pelas cooperativas); soja em grão (US$ 734,5 milhões, 13,7%); carne de frango (US$ 633,1 milhões, 11,9%); farelo de soja (US$ 619,4 milhões, 11,6%); etanol (US$ 551,2 milhões, 10,3%) e café em grão (US$ 530,3 milhões, 9,9%). E o ritmo segue acelerado: no primeiro quadrimestre do ano (janeiro a abril), as cooperativas brasileiras exportaram US$ 1,957 bilhão, com aumento de 0,1% em relação ao mesmo período
Investir para prosperar A Cooperativa Tritícola Sarandi Ltda. (Cotrisal) comemora os recordes históricos e a expansão nos negócios com crescimento sustentável. Os cerca de nove mil associados entregaram mais de 10 milhões de sacas de soja, milho e trigo à cooperativa. O principal mercado da Cotrisal é na área de grãos, mas também atua em pecuária, insumos agrícolas, supermercados, moinho de trigo, posto de recebimento de leite, unidade de beneficiamento de sementes, fábrica de rações, materiais de construção, peças, ferragens e implementos agrícolas. A agricultura de precisão, importante investimento feito pela Cotrisal, contribui para o bom resultado da instituição. No ano passado, foram investidos mais R$ 14 milhões em silos e prédios; R$ 6 milhões na frota e R$ 1 milhão em máquinas e equipamentos, que resultaram em um crescimento de 21%, gerando receita líquida de R$ 828 milhões, sendo R$ 76 milhões das exportações. Os produtores da Cooperativa dos Citricultores Ecológicos do Vale do Caí (Ecocitrus) encontraram uma maneira de levar seus produtos diferenciados ainda mais longe. A sustentabilidade agrega valor em todos os setores da co-
operativa. “Produzimos os insumos para as propriedades sem custo ao agricultor, ajudamos com toda a assistência técnica na produção e industrializamos os sucos e os óleos essenciais, o que valoriza nosso produto. Processando e comercializando diretamente, conseguimos adquirir conhecimento de mercado”, conta Ernesto Kasper, gerente de Relações Institucionais da Ecocitrus. O óleo essencial das bergamotas ainda verdes provenientes do raleio é utilizada em perfumes. A França está entre os maiores compradores mundiais do produto da Ecocitrus. “O mercado francês tem empresas que produzem e distribuem para a Europa e isto nos favorece, pois buscamos relacionamentos comerciais duradouros. Assim como queremos garantia nas vendas, os franceses querem garantia de qualidade e fornecimento”, complementa o gerente. E, diferente das commodities, os óleos essenciais já demonstram valor agregado ao produto. Em 2013, a Ecocitrus comercializou em torno de R$ 3 milhões (R$ 783 mil de exportações e R$ 2,4 milhões para o mercado interno). “Em 2014, até maio, temos vendido em torno de R$ 3 milhões, sendo R$ 1 milhão de exportação”, revela.
de 2013 (US$ 1,955 bilhão). Para Leonel Cerutti, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), o bom desempenho é resultado do trabalho bem feito das cooperativas, mas também do momento que vive o agronegócio. “As commodities estiveram com cotação elevada no mercado internacional, o que valoriza os produtos que saem do Brasil, e colhemos uma boa safra”, comenta. O sistema cooperativista, de acordo com o especialista, é a maior sociedade de pessoas em suas localidades. E a grande vantagem disso é que “o produtor não fica isolado em sua propriedade. Os produtos chegam em um eixo nacional e isso aumenta consideravelmente o poder de negociação”, afirma. De acordo com Cerutti, os padrões e as normas internacionais para comercialização são exigentes e burocráticos e, neste sentido, abrem caminhos para os produtores. “As cooperativas agrícolas são importantes também por fazer o armazenamento
dos insumos, o que requer uma excelente estrutura para manter a qualidade. Numa safra considerada boa, temos 65 sacos por hectare. Em 2013, tivemos 80 sacos por hectares, o que exige uma logística bem afinada para armazenagem e distribuição. Temos bons produtos e consumidores extremamente exigentes. A qualidade não pode ficar pelo caminho”, observa. Cerutti explica que os brasileiros exportam commodities, que são compradas por outros países que, por sua vez, transformam esses insumos em produtos elaborados, com mais valor. Por enquanto, antes mesmo do investimento pesado nas agroindústrias, é preciso qualificar o produto. Os gaúchos já perceberam que podem investir em desenvolvimento para trazer melhores resultados. “O cultivo da soja é característico do Estado. Por isso, foram feitas parcerias para aquisição de máquinas agrícolas de precisão com melhores preços, e isso aumentou consideravelmente a produção”, conta Cerutti. ECOCITRUS/DIVULGAÇÃO/JC
MARIANA FONTOURA/JC
Produtores gaúchos cada vez mais longe
Ecocitrus exporta óleo essencial das bergamotas que é utilizado em perfumes franceses
4
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
QUALIFICAÇÃO
Ninguém nasce cooperativista. É a partir desse princípio que a educação cooperativa – a regra de ouro do sistema – torna-se uma necessidade. E tal cultura é adquirida com qualificação, por meio da divulgação de ideias, princípios, experiências e práticas combinadas com a formação técnica dos cooperados. A educação cooperativa está entre os princípios definidos pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI): educação, formação e informação. E para que o princípio seja efetivo, a legislação determina que as cooperativas constituam um Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, com o recolhimento de, no mínimo, 5% das sobras líquidas do exercício. Para Ediane Muller Viana, autora do livro “Cooperativa de Trabalho Educacional”, cooperados conscientes do seu papel fortalecem a sociedade, atuam de forma eficaz diante do mercado, e a cooperativa avança. “É mais fácil competir do que cooperar. Mas, a partir do momento em que as cooperativas perdem sua essência e seu diferencial, perdem também o principal fator que as torna competitivas diante das demais empresas e aí começam a decretar seu fim”, relata. A Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo (Escoop), mantida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado do Rio Gran-
OCERGS/DIVULGAÇÃO/JC
O desafio da educação cooperativista
Escoop oferece cursos de graduação e pós-graduação
de do Sul (Sescoop/RS), é a primeira instituição de ensino do País voltada exclusivamente para o ensino do cooperativismo. A faculdade surgiu para atender às demandas de qualificação das cooperativas gaúchas. Antes, entre os anos de 2007 e 2010, o Sescoop desenvolveu experiência semelhante em parceria com a Univates, de Lajeado, no curso superior de formação específica em Gestão de Cooperativas, que formou
sua primeira turma em maio de 2010. A Escoop, credenciada pelo Ministério da Educação em julho de 2011, promove cursos de graduação e pós-graduação que trabalham a gestão de cooperativas. Também mantém projetos de pesquisa ligados ao tema e cursos de extensão para atualizar os profissionais da área. “Estamos buscando qualificar ainda mais o cooperativismo gaúcho. E estamos evoluindo conside-
ravelmente em gestão de cooperativas. Além da Escoop, mantemos parcerias com universidades. O Sescoop investe R$ 15 milhões por ano para melhorar a gestão política, executiva, estratégica e administrativa das cooperativas. Acreditamos que a formação pode melhorar a gestão”, comenta Vergilio Perius, presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs).
Para a implantação dos treinamentos no Estado, a cooperativa contou com a ajuda do Sebrae-RS. “O Sebrae possui toda a metodologia de que precisamos. Além disso, contamos com o Sicredi como nosso parceiro nesse investimento”, afirma Pinto. De acordo com Silvana Berguemmaier, gerente da Regional Norte do Sebrae-RS, a qualificação envolve toda a organização da propriedade. “Começamos com um processo de sensibilização para que o produtor perceba a importância do processo. Depois, trabalhamos com planejamento e aprofundamos conhecimentos em gestão. É importante que o produtor perceba-se como um ‘empresário do campo’. Isso motiva as novas gerações a permanecerem no meio rural”, garante. Em um primeiro momento, é realizado um treinamento, no qual os participantes têm acesso às práticas que podem contribuir para o dia a dia, como descarte, organização, limpeza e higiene e disciplina para manter tudo em ordem. Além da teoria, os produtores recebem a visita do consultor nas propriedades para verificar as dificuldades e auxiliar na elaboração do plano de trabalho. Depois, durante a chamada “Quali-
dade Total Rural”, os consultores trazem temas relacionados à gestão da empresa rural. “O empresário passa a entender o seu papel e os motivos para usar uma metodologia que lhe permita repensar custos e problemas para que sejam resolvidos, gerando uma receita melhor para a empresa”, diz Pinto. Em auditorias, a Aurora Alimentos faz o acompanhamento e a avaliação das propriedades que passaram pelo programa de qualificação. “Além da organização da propriedade, o empresário rural acaba entendendo melhor seu próprio negócio, valorizando-o e repensando o que pode fazer para torná-lo uma empresa rentável”, comenta. De 2011 a 2013, foram mais de 1 mil produtores capacitados. A expectativa é de que, até o final deste ano, mais 240 produtores passem pelos treinamentos. “Observamos que os empresários ficam mais motivados, as propriedades mais organizadas e há resultados econômicos para as empresas rurais. Outro dado interessante é que, desses que fazem as duas etapas, 99% permanecem no meio rural, pois descobrem que sua empresa pode ser rentável e que têm uma melhor qualidade de vida no campo”, comemora.
Pioneirismo no campo iniciá-lo mais perto de casa, em Chapecó (SC), onde tínhamos maior controle e parceiros já definidos”, afirma Joel José Pinto, responsável pela assessoria nas cooperativas filiadas à Aurora Alimentos. Atualmente, são 12 cooperativas filiadas à Aurora, em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, o que representa 62 mil produtores rurais.
AURORA ALIMENTOS/DIVULGAÇÃO/JC
Em busca de mais qualidade, a Aurora Alimentos desenvolve, desde 1997, programas voltados às áreas administrativas e indústrias. Nesse ano, foi lançado o Programa de Desenvolvimento de Empreendedores Rurais Cooperativistas em Santa Catarina. Em 2011, o programa foi implementado no Rio Grande do Sul. “Por ser um trabalho pioneiro, decidimos
Aurora possui 12 cooperativas filiadas que somam quase 62 mil produtores
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
5
ENTREVISTA
Em ritmo de evolução
ANTONIO PAZ/JC
O cooperativismo mostra a força do coletivo. O ano de 2013 ficará marcado pelo recorde das exportações das cooperativas brasileiras, que alcançaram US$ 5,344 bilhões. E há boas perspectivas para o futuro, a partir dos investimentos na gestão dos negócios. O presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs), Vergilio Perius, analisa o mercado e adianta o que vem pela frente.
Estamos vivendo um grande momento da agricultura no País, diz Perius
Jornal do Comércio - Qual é a contribuição das cooperativas gaúchas para o recorde de exportações alcançado em 2013? Vergilio Perius – A vocação agrícola do Estado está ligada diretamente às commodities, que tiveram desempenho considerável no mercado internacional. Estamos vivendo um grande momento da agricultura no País. Investimos no trabalho de gestão e na agricultura de precisão, o que aumenta e qualifica o que é produzido. Quando a agricultura cresce, o PIB aumenta. E, atualmente, 30% do PIB é responsabilidade do agronegócio,
sendo que, destes, 12% vem das cooperativas. JC – O Brasil exporta commodities. Existem perspectivas para desenvolvimento de produtos com valor agregado? Perius – Acredito que o futuro seja investir na agroindústria, especialmente para os pequenos produtores. Hoje, as commodities são exportadas, transformadas e, logo, importamos um produto mais elaborado. A agroindústria é o caminho para o futuro. Quando se industrializa o produto, o ICMS fica no Estado. A partir disso, tornamo-nos parceiros do governo. JC – O que pode impulsionar o investimento na agroindústria? Perius – Temos boas perspectivas para a produção de sucos, que passam a integrar a merenda escolar de 47 milhões de crianças. O Fundo Estadual do Leite (Fundoleite) incrementa uma política pública favorável ao fomento da cadeia leiteira, possibilitando que 120 mil produtores permaneçam no campo. A Europa quase não produz mais leite, por exemplo. E serão necessários 17 milhões de li-
tros para abastecer o mercado. JC – Cooperativas agrícolas, de crédito e da saúde têm constante crescimento. Quais os outros destaques? Perius – No setor da infraestrutura, podemos destacar o trabalho das cooperativas das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que levam energia aos produtores rurais. As cooperativas de transporte consolidam-se em redes para tornarem-se mais fortes. JC – Há segmentos cooperativos ainda em evolução? Perius – As cooperativas de consumo no Brasil precisam rejuvenescer. Na China, há supermercado cooperativo que vende os produtos dos colonos e tem mais de 100 milhões de associados. Produção, mineração, turismo e lazer ainda têm dificuldade de desenvolver-se. Ainda há falta de compreensão, inclusive pelo Ministério de Trabalho, das cooperativas de trabalho. Países em crise solucionaram boa parte dos problemas com cooperativas de trabalho, oportunizando que as pessoas façam trabalhos profissionais sem ser profissionais.
6
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
Cooperativismo
Caderno Especial do Jornal do Comércio
SICREDI
Setor tem crescimento acelerado quais as carteiras atingiram R$ 81 bilhões e R$ 75 bilhões, respectivamente. Para Ademar Schardong, presidente do Sicredi, as cooperativas de crédito têm crescimento expressivo desde os anos 1990. “Hoje, podemos considerar que a regulamentação e a segurança jurídica das cooperativas de crédito no
TÂNIA MEINERZ/DIVULGAÇÃO/JC
Enquanto o Sistema Financeiro Nacional cresceu apenas 10% em 2013, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo, segundo dados do Banco Central, cresceu 21%. Isso representa R$ 166 bilhões, ou, aproximadamente, 20% de crescimento no volume de depósitos e 23% nas operações de crédito, nas
Schardong adianta que em 2014 a expansão vai continuar
Brasil estão entre as melhores, quando comparadas com países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha e França.” De acordo com o executivo, as cooperativas do Sicredi atingiram números importantes. Entre 2012 e 2013, o Sicredi teve crescimento de 24% na evolução dos ativos totais, 22% em depósitos, 26% em carteira de crédito e 18% em receitas de crédito. Enquanto isso, os quatro principais bancos brasileiros tiveram números inferiores: 9% na evolução dos ativos totais, 6% em depósitos, 14% em carteira de crédito e 3% em receitas de crédito. E 2014 já demonstra que repetirá o crescimento do ano anterior. “Estamos com nossas metas muito bem encaminhadas. Cresceremos, no mínimo, o dobro do sistema financeiro”, adianta. O Sicredi está, ainda, entre as cinco melhores instituições em projeções econômicas do Brasil, de acordo com o Top 5 do Banco Central. Em 2013, a instituição financeira cooperativa foi a segunda colocada na projeção de inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna. A listagem é realizada pela avaliação das projeções de, aproximadamente, 100 departamentos econômicos de instituições financeiras e empresas de consultoria. O objetivo é identificar e premiar os participantes do
Sistema Expectativas de Mercado com as projeções mensais mais consistentes ao longo do ano anterior. Para Schardong, há um conjunto de fatores que pode justificar tal evolução. “Acredito que o fato de o Sicredi ser um sistema de cooperativas de crédito e não um banco é bem importante. Somos uma cooperativa e temos um banco. É uma sociedade de pessoas em que distribuímos nossos resultados de acordo com as operações de cada um. E o mais importante: esse resultado permanece na região e ajuda a desenvolvê-la”, afirma. As decisões sobre o futuro da cooperativa e de seus investimentos são feitas em assembleia. Em 2014, a Central Sicredi RS/SC teve 250 mil participantes nas 600 assembleias realizadas. “Este é o momento de agradecer ao associado pela confiança depositada na sua cooperativa, prestar contas das atividades e deliberar os assuntos de 2014. Esta postura reafirma e fortalece a relação da cooperativa com os associados e as comunidades. A opinião de cada associado é muito importante”, explica Gerson Seefeld, diretor executivo da Central Sicredi RS/SC. O processo se iniciou em fevereiro e foi finalizado em abril nas 45 cooperativas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
ENTREVISTA
As instituições financeiras cooperativas mostram vantagens e solidez para garantir a segurança de seus associados. O diretor-presidente da Unicred Central RS, Paulo Abreu Barcellos, à frente da entidade no período 20142017, fala ao Jornal do Comércio sobre o atual momento do Brasil e a importância do crédito para a saúde. Jornal do Comércio – Qual é o papel das cooperativas de crédito na economia? Paulo Abreu Barcellos – Nos últimos anos, quando vivemos os efeitos da crise mundial e acompanhamos a insegurança das pessoas com a oscilação do mercado financeiro, o cooperativismo de crédito incluiu milhares de pessoas em seu sistema, o que aju-
dou a fortalecer a economia nacional. Esse é um sistema que privilegia o valor pessoal em relação ao lucro. A boa aceitação mostra-se em números, como a evolução no número de postos de atendimento, associados, estrutura patrimonial, depósitos e empréstimos. JC – Quais os diferenciais de uma cooperativa de crédito na prática? Barcellos – As cooperativas de crédito são instituições financeiras que priorizam as pessoas. Não temos fins lucrativos – tanto que, após cada exercício, os resultados retornam para o associado proporcionalmente às suas operações. Por essa razão, temos taxas de empréstimo inferiores e aplicações financeiras mais rentáveis quando comparadas com as praticadas pelo mercado. Além disso, nossas tarifas
JONATHAN HECKLER/JC
Crédito cooperativo é alternativa para encarar a crise Barcellos diz que inclusão possibilitada pela modalidade ajuda a fortalecer a economia
estão abaixo do que as trabalhadas por qualquer banco. JC – Qual é a contribuição da Unicred Central RS para o desenvolvimento das especialidades da saúde no Estado? Barcellos – A Unicred Central RS atende os profissionais e empresas da área da saúde, proporcionando investimentos e melhores condições financeiras para os profissionais do ramo. E isso volta para a população. Nós oferecemos os insumos para os associados, e eles tornam-se o “meio” entre a nossa
instituição e a comunidade. JC – O que mostram os números da Unicred Central RS RS? Barcellos – A Unicred Central RS cresceu 195% em depósitos a prazo nos últimos cinco anos. Os resultados em produtos e serviços, que incluem cartão, cobrança, seguros, previdência privada fechada, entre outros, evoluíram 72% nos últimos 12 meses, confirmando a fidelização dos mais de 34 mil cooperados atendidos pelas 12 cooperativas distribuídas no Estado nas 53 unidades de negócios da Unicred Central RS.
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
Cooperativismo
7
SETORES
AGRONEGÓCIO O Plano Safra da Agricultura Familiar 2014/2015 — Alimentos Para o Brasil – anunciado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) — chega ao maior volume de crédito da história, acompanhado por novas medidas para o fortalecimento do Brasil Rural. O crédito para agricultura familiar, liberado por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), está 10 vezes maior do que há 12 anos: de R$ 2,3 bilhões, em 2002/2003, para R$ 24,1 bilhões na atual safra. Entre outras ações, destaque para o novo seguro agrícola, a criação de nova linha de crédito que contempla as diversidades regionais e a garantia de apoio a sistemas agroecológicos. Para Dirceu Bayer, presidente da Cooperativa Languiru, o agronegócio no Brasil registra seu melhor momento e contribui de forma decisiva no crescimento do País. “Os princípios cooperativistas são a base para esta alavancagem. Enquanto o PIB geral do Brasil aumentou 0,2% no primeiro trimestre deste ano, o mesmo índice no agronegócio foi de 3,6%. Este resultado promissor nos estimula a acreditar e investir na produção e industrialização
de leite e carnes, proteínas essenciais na alimentação do povo brasileiro”, afirma. Os incentivos para fortalecer o agronegócio tornam-se uma necessidade. As perspectivas das cooperativas do ramo para 2014 são bastante otimistas. A Languiru investiu R$ 182 milhões nas plantas industriais e comerciais ao longo dos últimos seis anos. “Nosso crescimento médio foi superior a 20% ao ano, tendo alcançado o percentual de 32% em 2013”, registra Bayer. Desde 2013, a Languiru investe em novos mercados internacionais, principalmente no Timor Leste. “O país importa frango inteiro e salsicha de frango. Somente no último ano, foram comercializadas cerca de 300 toneladas de salsicha”, revela. Em 2013, a Cooperativa Piá, de Nova Petrópolis, anunciou investimentos de R$ 46 milhões na ampliação e modernização da indústria de laticínios, que ficarão prontas no segundo semestre de 2014. Com elas, a Piá vai adquirir uma capacidade nominal de produção de 80 mil toneladas ao ano em iogurtes e bebidas lácteas, o que representa 175% a mais do que atualmente.
KÁTIA MARCON/EMATER-RS/DIVULGAÇÃO/JC
O motor da economia brasileira
A Cooperativa Piá possui 1,3 mil colaboradores e 20 mil associados, sendo 2,5 mil produtores de leite e mais de 1 mil produtores de frutas, que fornecem matéria-prima quase diariamente. Com equipamentos modernos, processa 600 mil litros de leite por dia e produz quatro mil toneladas de polpas de frutas. Além disso, são duas fábricas de rações e uma rede de supermercados e agropecuárias, com 18 lojas. Quatro milhões de consumidores em quatro estados brasileiros, que compram os mais de 265 produtos da
empresa de Nova Petrópolis, em 15 mil pontos de vendas. Com base nos lançamentos de produtos, mudanças de embalagens e no investimento constante na marca, a Piá espera ter uma receita bruta, este ano, de R$ 648,1 milhões, o que representaria um crescimento de 7,9% em relação a 2013. “Nosso objetivo é crescermos juntos: associado, funcionário e cooperativa. Só assim, vamos fazer valer o conceito do cooperativismo, que hoje é uma grande alternativa econômica e social”, afirma Gilberto Kny, presidente da Piá.
As perspectivas do ramo para 2014 são bastante otimistas
PRODUÇÃO
MARCO QUINTANA/JC
A arte de cooperar transformada em produto
O artesanato é capaz de revelar a memória e a identidade de um povo
As técnicas artesanais milenares que passam por gerações transformam-se em trabalho para integrantes de cooperativas gaúchas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), quase 9 milhões de brasileiros vivem do artesanato, fabricando peças artísticas e exclusivas e gerando volume anual de recursos de cerca de R$ 50 bilhões. O artesanato é capaz de revelar a memória e a identidade de um povo. Por isso, levar um souvenir de viagem é ter em mãos um pedaço da história local. Em Nova Petrópolis, na Serra gaúcha, os artesãos da Cooperativa de Artesanato e Manufatura (Cooperarte) já descobriram a força de trabalhar junto para enfrentar um mercado que não é fácil. “O brasileiro ainda não valoriza a produção feita à mão. As peças artesanais concorrem com produtos made in China, que têm valores muito abaixo do que podemos competir. Nossos produtos, desenvolvidos um por um, não podem
ser comparados com a produção chinesa, que faz tudo quase que em escala industrial”, comenta Cristina Danois, vice-presidente da Cooperarte. O ambiente inspira a cooperação. O município de Nova Petrópolis tem forte relação com o sistema — não à toa foi sancionada em 2010 como a Capital Nacional do Cooperativismo. Por isso, é possível encontrar cooperativas dos mais diversos segmentos. Os 20 artesãos que integram a Cooperarte desenvolvem diferentes técnicas e expõem seus produtos no espaço disponibilizado pela Prefeitura da cidade no Parque Aldeia do Imigrante, que é um ponto turístico da região. “Mas precisamos buscar maior visibilidade para vender mais. É preciso que um número maior de artesãos percebam que a união pode beneficiar a todos e, assim, fazer do artesanato sua principal fonte de renda”, reconhece. Para Cristina, o mercado dos produtos artesanais ainda está em desenvolvimento no Brasil.
8
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
Cooperativismo
Caderno Especial do Jornal do Comércio
SETORES
SAÚDE
Qualificação do atendimento e dos serviços área de abrangência. O número de beneficiários dos planos de saúde cresceu 3,34% em maio de 2014, em comparação ao mesmo período no ano passado”, comenta. A Unimed Nordeste-RS possui, ainda, uma grande rede de serviços próprios, representada pelo Hospital Unimed Caxias do Sul, que inclui laboratórios, farmácias, emergência, medicina preventiva, saúde ocupacional, gestão de sustentabilidade e assistência domiciliar. “Estamos em fase de expansão. O projeto prevê que sejam somados 33 mil m2 aos atuais 12,3 mil m2 de área construída a partir da criação de uma unidade materno-infantil, entre outros serviços”, revela. De acordo com Márcio Pizzato, presidente da Unimed Porto Alegre, o mercado de saúde suplementar, em dezembro de 2011, possuía 46,4 milhões de beneficiários, número que teve crescimento expressivo de 2011 a 2013, 50,3 milhões de pessoas. “Nestes três últimos anos, a Unimed Porto Alegre
Castellano acredita que as cooperativas ajudam a desonerar o sistema público
MÁRCIA VIAL/DIVULGAÇÃO/JC
Uma pesquisa recente do Datafolha aponta que o plano de saúde é a terceira maior prioridade do brasileiro, atrás apenas da casa própria e da educação. A qualidade frente aos serviços oferecidos pelo sistema público e a diversificação dos planos de cooperativas como a Unimed contribuem para elevar os serviços e promover mais saúde para o dia a dia. “As cooperativas do ramo desempenham um importante papel no atendimento de significativa parcela da população que não acessa os serviços públicos. Em função disto, há uma desoneração e a possibilidade desses serviços públicos atenderem à população carente de recursos”, reflete Carlos Castellano Silveira, presidente da Unimed Nordeste-RS. A região Nordeste do Rio Grande do Sul vive um momento de crescimento do interesse do público pelos serviços da Unimed. “São 1,1 mil médicos cooperados, mais de 370 mil beneficiários entre os 17 municípios da
tem crescido uma média de 9,49% ao ano. Encerramos 2013 com uma participação de mercado de 46,3% na Capital e 34,7% nos demais municípios da área de atuação. Também no ano passado, conquistamos 41 mil novas vidas em planos assistenciais”, revela. Atualmente, a Unimed Porto Alegre possui mais de 690 mil clientes e cerca de 420 pontos de atendimento entre serviços credenciados e próprios, “o que se constitui na maior estrutura em
prestação de serviços à saúde dentro de nossa área de atuação”. Para Pizzato, a preocupação com as pessoas é o que guia o trabalho da instituição. “O novo slogan do sistema ‘Cuidar de você. Esse é o plano’ traduz o que buscamos prioritariamente, que é cuidar das pessoas. Ele reforça que as pessoas atendidas por nós conquistam mais bem-estar, têm à disposição médicos qualificados, infraestrutura moderna, prontos-atendimentos eficientes”, define.
cuidados com a saúde. Em Caçapava do Sul, cidade que possui mais de nove mil aposentados, a Associação de Aposentados e Pensionistas oferece estrutura completa para atender às necessidades dos idosos. “Identificamos a oportunidade de criar uma cooperativa de consumo para a compra de medicamentos, que é uma necessidade dos associados. É algo que beneficia diretamente as pessoas com idade avançada que vivem de aposentadoria e gastam muito com remédios”, comenta Perci Cardoso Costa, presidente da Cooperativa de Consumo dos Aposentados e Pensionistas de Caçapava do Sul (Farcoop). A cooperativa nasceu em 2003 e conta com 3,5 mil associados, que podem comprar medicamentos para uso próprio e da família com preços mais acessíveis. A farmácia tem uma estrutura que comporta os estoques e conta com equipe de profissionais, incluindo farmacêutico, em constante desenvolvimento para atender melhor os cooperados. “É diferente da farmácia popular. É uma farmácia ‘normal’ que é movimentada pelas operações dos associados. Eles pagam pelo remédio, mas o valor é bem inferior ao
encontrado no mercado. Conseguimos oferecer os medicamentos pelo preço de custo somado às taxas de manutenção da farmácia. Temos um sistema com todos os sócios cadastrados, e ali é registrada a movimentação de cada um”, explica. De acordo com Costa, a partir do próximo ano, já será possível distribuir a lucratividade entre os associados proporcionalmente à sua operação na farmácia. O quadro de cooperados da Farcoop tem crescido consideravelmente. São entre 20 e 30 novos associados por mês. “Fazer parte da Associação de Aposentados e Pensionistas de Caçapava do Sul não é um requisito. A cota mínima de capital para fazer parte da Farcoop é de R$ 2,00. Esse é um grande serviço social que nos enche de orgulho”, diz o presidente. Entre os desafios da Farcoop está a aproximação do quadro social com a cooperativa. “O pessoal utiliza o serviço, mas queremos uma interatividade que vá além da compra. Os sócios ainda não interagem com a cooperativa, participando das decisões e pensando no negócio. Nossa ideia é criar uma programação que oportunize a mais efetiva presença do sócio na Farcoop”, revela.
CONSUMO
Mais qualidade com menor preço a perspectiva é de que, em 2055, a participação de idosos na população total do País seja maior do que a de crianças e jovens com até 29 anos. Por isso, a etapa do envelhecimento requer mais
FARCOOP /DIVULGAÇÃO/JC
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2030, o grupo de pessoas com mais de 60 anos será maior do que o número de crianças com até 14 anos. E
Farmácia oferece medicamentos a preços acessíveis para os cooperados
Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio
Sexta-feira, 4 de julho de 2014
9
10
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
SETORES
INFRAESTRUTURA
Iluminando um caminho de desenvolvimento no campo
A cooperativa tem realizado investimentos na ordem de R$ 5 milhões no sistema de distribuição
COOPERLUZ/DIVULGAÇÃO/JC
A Cooperativa Distribuidora de Energia Fronteira Noroeste (Cooperluz), com sede na cidade de Santa Rosa, faz a aquisição de energia elétrica e a distribui aos seus mais de 15 mil associados em 15 municípios atendidos. “A energia elétrica não é conforto, é uma necessidade para o desenvolvimento das propriedades agrícolas”. É nisso que acredita Querino Volkmer, presidente da Cooperluz, entidade que, nos anos de 1970, dava início ao trabalho que mudaria consideravelmente a situação dos produtores da região. “Sem luz, a chance de desenvolvimento tornava-se desigual. Acompanhamos, desde então, uma evolução enorme nas condições de vida no meio rural”, comenta. Nos últimos três anos, a cooperativa tem realizado importantes investimentos, na ordem de R$ 5 milhões no sistema de distribuição. A produção de leite, que caracteriza boa parte da região e mantém inúmeras famílias no campo, requer infraestrutura, especialmente para o acondicionamento do insumo. “Assim, torna-se essencial a instalação de novos transformadores, mais próximos das propriedades, para promover o uso dos equipamentos e tecnologias disponíveis e, consequentemente, contribuir para a qualidade do leite”. Dos anos 1970 para cá, a Cooperluz está buscando melhorar o serviço que oferece. “Entre nossas prioridades es-
tão o reforço nas redes para que todos migrem de rede monofásica para trifásica, a troca de todos os cabos de distribuição, a instalação de reguladores de tensão, para que a rede fique mais equilibrada, e a implantação dos religadores de energia, que é uma tecnologia via satélite que permite acessar os equipamentos à distância e descobrir as causas da falta de luz ou mesmo fazer a
ligação novamente de imediato”, conta. A Cooperluz é exclusivamente distribuidora de energia. Porém, começa a vislumbrar a geração de energia, através das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), como uma forma de projetar o futuro e garantir o abastecimento, tendo em vista um possível aumento de carga. “Em 2003 e 2004, inauguramos e iniciamos a operação de outras duas
usinas de geração de energia elétrica — PCH Santo Antonio e a CGH Caraguatá/ Comandai — com capacidade instalada de 5,453 MW. Já estamos na fase final de uma terceira hidrelétrica, a PCH Bela União”, conta. A construção da usina deve consumir investimentos de R$ 14 milhões e trazer resultados positivos, como o fornecimento para, aproximadamente, 3,5 mil famílias da região.
O Brasil conta com cerca de mil cooperativas do ramo do transporte que, a exemplo das empresas do segmento que fazem alianças, parcerias, fusões e negócios, precisam compreender que a união de forças é essencial para a sobrevivência em meio à competitividade. “A cooperação surge a partir de uma necessidade. É um processo que não é imediato, mas pode mudar situações”, comenta. As palestras da Rede Transporte pelo Brasil mostraram as conquistas de um trabalho. “Estamos superando uma barreira cultural e transformando a maneira de perceber o mercado. Não somos concorrentes, somos complementares”, diz. De acordo com Paré, a frota das cooperativas tem o dobro da idade das frotas das empresas de logística. Por isso, a renovação torna-se uma necessidade, tanto pela segurança dos motoristas quanto pela questão do meio ambiente. Os gaúchos levantaram a
necessidade da renovação da frota. E, através do projeto Transporte Sustentável, essa demanda foi incorporada pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). “As linhas de crédito disponíveis não incluíam as cooperativas de transporte. Por isso, a inclusão das cooperativas no Bndes Procaminhoneiro era tão aguardada”, afirma. As possibilidades de mais recursos e de um plano de negócios estruturado — o que inclui insumos com melhores preços e ampliação de mercado — faz da profissionalização da cooperativa uma prioridade. “Neste sentido, temos um conselho consultivo e diversas câmaras temáticas gerando orientações essenciais para o dia a dia da cooperativa. E, consequentemente, isso traz benefícios e desenvolvimento para o cooperado. Em breve, distribuiremos os manuais que resultaram desse trabalho, com temas como contabilidade, gestão, entre outros”, adianta.
TRANSPORTE
Um novo rumo para o setor cooperativas do transporte têm grande potencial de consumo. No entanto, sem organização, tornam-se pulverizadas. Nossa intenção é, num primeiro momento, centralizar as compras, reduzindo custos e colocando os cooperados no mesmo patamar dos operadores logísticos”, revela Abel Moreira Paré, presidente da Rede Transporte.
REDE TRANSPORTE/DIVULGAÇÃO/JC
As cooperativas do transporte começam a vislumbrar o potencial de um novo destino: a gaúcha Rede Transporte, primeira cooperativa central do segmento cargas do País, inspira a criação de uma central nacional. O lançamento da Cooperativa de Transporte de Cargas e Passageiros acontece em 26 de setembro de 2014, no Rio de Janeiro. “As
Rede Transporte inspira a criação de uma central nacional
Caderno Especial do Jornal do Comércio
Cooperativismo
Porto Alegre, sexta-feira, 4 de julho de 2014
11
EDUCAÇÃO
Uma escola centenária prestes a fechar suas portas. A realidade do Colégio Concórdia, de Porto Alegre, no final dos anos 1990, começava a mudar a partir da criação da Cooperativa Educacional de Ensino Básico Coopeeb Ltda., idealizada por Valdir Feller e apoiada por todos os professores que encontravam ali uma oportunidade de desenvolver o empreendedorismo na profissão e dar continuidade ao trabalho na escola. “O cooperativismo é ‘filho da crise’. As pessoas unem-se, em geral, quando há problemas para resolver. Por isso, é importante aprender a ser cooperativista. Isso significa ser mais compreensivo, ter mais empatia, saber trabalhar em equipe. É adotar um novo estilo de vida”, comenta Feller, presidente da Coopeeb. A gestão da Coopeeb teve início em 2000, quando assumiu a escola. “Na época, era um grande desafio levantar um colégio que carrega quase 100 anos de história. E conseguimos. Reformamos e melhoramos os ambientes e mudamos também o perfil dos alunos”, comenta. Atualmente, a Coopeeb tem 133 associados — entre professores e funcionários — e desenvolve um trabalho alicerçado pelos valores cooperativistas com os mais de 500 alunos do Colégio Concórdia, da Educação Infantil ao Ensino Médio. A cooperação faz parte do
COLÉGIO CONCÓRDIA/DIVULGAÇÃO/JC
Um jeito de ensinar o cooperativismo
Os preparativos da festa junina tornam-se um laboratório para as rotinas
dia a dia, “não como disciplina, mas como temática transversal”, explica Feller. Os preparativos da festa junina tornam-se um laboratório para que os alunos experimentem e vivenciem as rotinas de uma cooperativa na prática. As turmas têm a oportunidade de criar suas próprias cooperativas em sala de aula. “Eles escolhem o nome, o produto que será comercializado na festa — pinhão, cachorro-quente, docinhos, quentão
—, e, a partir disso, desenvolvem toda a estratégia do negócio, que envolve a determinação dos valores e a divulgação”, revela. Além do cooperativismo, a festa junina do Colégio Concórdia proporciona que os jovens entrem em contato com temas relacionados à gestão de uma empresa e também com a tecnologia, especialmente nos pagamentos. “Todos os convidados recebem um cartão e compram créditos da festa. Ao longo
do evento, podem ir gastando nas barraquinhas. Ao final do evento, nosso sistema já calcula quanto cada cooperativa vendeu e repassa os valores”, explica. E, assim como em sistemas cooperativos, os integrantes do grupo determinam o que será feito com o lucro. “Eles podem dividir entre eles, de acordo com o que cada um trabalhou, podem combinar uma viagem ou guardar para investimentos futuros, como a formatura”, diz.
TRABALHO
Com atuação diversificada, setor tem atividade reconhecida que o segmento precisava, “oficializando as relações entre cooperativas de trabalho e tomadores de serviços e combatendo o preconceito de que cooperativismo de trabalho é sinônimo de precarização e de mão
FETRABALHO RS/DIVULGAÇÃO/JC
Depois de quase 10 anos de tramitação no Congresso Nacional, as cooperativas de trabalho finalmente têm sua atividade reconhecida e organizada. A sanção da Lei n.º 12.690/2012 traz o marco regulatório
Seminário reúne cooperados de diversas áreas ligadas ao segmento
de obra barata”, explica Margaret Garcia da Cunha, presidente da Federação das Cooperativas de Trabalho do Rio Grande do Sul (Fetrabalho). As cooperativas de trabalho têm atuação nas mais diversas áreas, congregando profissionais de limpeza, zeladoria, conservação, portaria, serviços gerais, assim como profissionais altamente especializados, reunidos em categorias para prestação de serviços. “Essas iniciativas nascem do desejo do homem em mudar a lógica do trabalho. Pessoas unem-se para formar seus empreendimentos coletivos com a clareza de que são donos e trabalhadores.” O potencial das cooperativas de trabalho pode ser comprovado através de exemplos ao redor do mundo. Em tempos de crise econômica mundial, o desemprego está entre as consequências. “Com a dissolução e falência de grandes e médias empresas, o cooperativismo surge como alternativa. Na Grécia, já começa um movimento forte pela formação de cooperativas para o enfrenta-
mento da crise econômica que assola o país, recebendo apoio de diversas instituições para formalização das entidades; as cooperativas do País Basco ajudaram muito a Espanha a recuperar-se; em Cuba, o governo está apoiando a formação de cooperativas; na Índia, quase metade da produção açucareira é feita por cooperativas”, exemplifica. De acordo com a nova lei, cooperativa de trabalho pode ser de produção e de serviço, o que torna mais próxima a relação com cooperativas educacionais, de produção, de mineração e até de saúde. “Estamos realizando seminários em conjunto, e temos um novo olhar sobre a relação de trabalho. Nossa legislação mostra o que o mundo já descobriu: o poder do cooperativismo. No nosso País, ainda temos restrição a esta forma organizada de trabalho e aos empreendimentos coletivos que vemos surgir. São projetos que dão ao homem a autonomia de ser dono do seu próprio negócio de forma coletiva e coordenada e a seguir como trabalhador”, reconhece.
12 Sexta-feira, 4 de julho de 2014
Caderno Especial do Jornal do ComĂŠrcio