Jornaldodia14102013

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* FUNDADO EM 04 DE FEVEREIRO DE 1987

MACAPÁ-AP, SEGUNDA-FEIRA, 14 DE OUTUBRO DE 2013 - ANO XXVI

•DOMINGO E SEGUNDA R$ 2,50 •TERÇA A SÁBADO R$ 1,50

OPINIÃO

NA HISTÓRIA

Veja como surgiram os primeiros Círios Baseado em registros históricos, reportagem mostra como a tradição surgiu no Amapá. B1

Limpeza após a procissão

Estratégia foi montada pelo município

B3

Sem fogos...Sem vida...Sem pessoas Como comemorar o Círio após o trágico naufrágio? EDITORIAL A3

Uma multidão de 150 mil devotos

ELEN COSTA

Fé e devoção de uma multidão de aproximadamente 150 mil pessoas celebrou ontem o 79º Círio de Nazaré, em Macapá. Confira todos os detalhes da maior festa cristã do Brasil nesta edição especial.

DESDE a missa até a chegada da procissão no centro de Macapá, uma multidão acompanhou Nossa Senhora

OS PAGADORES DE PROMESSAS

nCADERNO B

NO MEIO DE TODOS

Romeiros pagam promessas Autoridades no Amapá durante todo o percurso do Círio acompanham de perto a quitação de sua “dívida” com a santa, de maneira diversificada. Em Macapá o cenário não é diferente. Caminhar os quatro quilômetros de

percurso, sob o calor de aproximadamente 35º é pouco para quem quer demonstrar sua devoção a Nossa Senhora de Nazaré. nB2 e B3 ELEN COSTA

a devoção do povo O Círio de Nazaré faz parte das maiores expressões de fé, crença e cultura do povo da Amazônia. Além da população em geral, auto-

ridades também acompanham a procissão em um momento de fé, demonstrando força e confiança no sentimento cristão. nB3

ROMEIRO recebe ajuda dos amigos durante a peregrinação. Outros agradecem a graça alcançada

ELEN COSTA

DIVULGAÇÃO

A figura do pagador de promessas já é tradicional na procissão do Círio de Nazaré. Anualmente milhares de romeiros marcam presença com

NA FOTO acima, governador Camilo, deputada Janete e senador Capiberibe. Abaixo, prefeito Clécio durante a santa missa

NA INTERNET: www.jdia.com.br - REDAÇÃO: 3217.1117 - COMERCIAL: jdcomercial@jdia.com.br 3217.1100 - DISTRIBUIÇÃO: 3217.1111 - ATENDIMENTO: 3217.1110


A2

Opinião

Macapá-AP, segunda-feira, 14 de outubro de 2013 Editor: Pablo Oliveira - pc.oliveira@jdia.com.br

Felicidade e fé

S

eja qual for o momento que estejamos vivendo, não percamos a fé, este sentimento maior que nos impulsiona a crer no invisível, mas que nos toca profundamente em tudo a que somos sensíveis. Fé é o mote das vidas de todos os pretendentes a uma vida melhor. Não está ela ligada a nenhuma religião específica, e não existe fé melhor ou mais poderosa. Fé é fé. Crer em Deus em todas as circunstâncias, sem a pieguice infantil criada pela cegueira do fanatismo em suas variadas representações. É necessário crer em algo superior para que seja possível vivenciar os fatos do mundo sem cair nas armadilhas em que o egoísmo, este porta-voz da maldade humana, nos atropela, impedindo a marcha de sucesso pro-

gressivo. Algo superior no que cremos não é representado por este ou aquele semelhante. A superioridade não obedece a qualquer ditame terreno: é uma questão de elevação espiritual. A superioridade divina é representada por Jesus, que se fez Cristo de Deus, nos legando todos os ensinamentos que nos são necessários para as jornadas das vidas que devemos viver, sem os atropelos aos quais nos expomos por orgulho. Ao sofrermos algum tipo de dor, com certeza, veremos que, em grande número de casos, esta é pura consequência de ações por nós praticadas no exercício do livre arbítrio. Claro que existem aquelas, quase exceção, que estão ligadas ao passado remoto, pertencentes às lem-

branças não físicas, do mundo psíquico, espiritual. Se pensarmos de modo mais amplo e equilibrado, veremos que a dor é fundamental para a sobrevida. É ela que nos informa a existência de uma cárie, da unha inflamada, o estômago sofrendo por excesso e todo o tipo de desordem. A dor de consciência nos anuncia a falha cometida e a necessidade da corrigenda para alívio do sofrimento e continuação da jornada em paz. Certamente, algumas emoções que chegam a nos desorientar fortemente encontram residência em nosso ego, e todo ser humano é naturalmente egocêntrico. Não há nada de errado em sê-lo, pois aí está a base da individualidade, o fator que garante a vida e o progres-

so. É necessário que seja assim, pois, ao contrário, não seríamos um ser, uma consciência, uma estrutura físico-espiritual, capaz de agir com desenvoltura e senso crítico. O perigo está quando há deformação do ego de onde brota o egoísmo. É este sentimento que muitas vezes nutrimos sem pensar, no qual se encontram as raízes de nossas dores. Por mais que venhamos a sofrer, jamais chegaremos próximos das dores sentidas por Maria, a Santíssima que se cobriu com todo o seu amor de mãe para entregar-nos seu Filho, para este nos ensinar a paz, o amor, a felicidade e a fé, que nos leva a seguir Jesus como caminho, verdade e vida. (Por Iriê Salomão de Campos)

A fé da Virgem Maria

O papa Francisco vai reformar a Igreja?

M

uito se tem falado e escrito sobre a reforma da Igreja Católica promovida pelo papa Francisco. Fala-se até mesmo que ele estaria escrevendo uma “nova Constituição” da Igreja. Como entender a reforma da Igreja promovida pelo papa? Reforma e renovação fazem parte da dinâmica da vida da Igreja. Embora dotada de uma missão sobrenatural e de dons divinos, ela é uma realidade humana e, como todas as organizações humanas, também precisa renovar-se para acompanhar melhor as circunstâncias históricas e sociais em que está inserida. A Igreja crê ser orientada não apenas por projetos humanos, mas pelo Espírito de Deus, que “renova a face da Terra” e também da Igreja. Nesse sentido, o Concílio Vaticano II já afirmava, há 50 anos, que ela é uma realidade “semper reformanda”: precisa reformar-se constantemente. Essa renovação, porém, precisa ser entendida como tensão a uma fidelidade constante e sempre maior à própria razão de ser e de existir. Ela se reforma para ser mais ela mesma (cf. Unitatis Redintegratio, 6). O conceito de reforma pode causar desconfiança, e até resistência, quando não for bem entendido. Há o temor de que a busca de reforma signifique trama contra o passado ou até mesmo infidelidade ou traição a ele. Pode haver também a identificação pura e simples de reforma com movimentos de ruptura com a Igreja nesse sentido, lembra-se logo a Reforma protestante, de Lutero e Calvino, no século 16. De qual reforma se

CONSELHO EDITORIAL Presidente:

Aldenor Benjamim dos Santos

CONSELHEIROS Haroldo Pinto Pereira Danieli Amanajás Scapin Carlos Augusto Tork de Oliveira José Arcângelo Pinto Pereira Janderson Carlos Nogueira Cantanhede Heloisa Figueiredo Pereira

está tratando nas atuais circunstâncias da vida da Igreja? Ao longo da sua história, muitas foram as reformas na Igreja; e quando elas foram levadas a sério, a Igreja saiu rejuvenescida e revitalizada. Grandes momentos de renovação foram, por exemplo, a reforma gregoriana, promovida por Gregório VII, no século 11, a reforma tridentina, após o Concílio de Trento, no século 16, e a reforma desencadeada pelo Concílio Vaticano II. É justamente ao espírito desse concílio que o papa Francisco se está referindo, no seu intuito de renovação da Igreja. Ele tem sinalizado que o Vaticano II mostra o rumo que deve ser seguido pela Igreja, como já haviam feito seus predecessores. Meio século após a celebração do concílio, ainda há muito que se fazer para pôr em prática as grandes intuições e propostas daquela assembleia, de importância extraordinária para a vida e a missão da Igreja. O papa Francisco está, evidentemente, promovendo uma reforma na Cúria Romana. Trata-se do organismo de assessoria do papa e de colaboração com ele no exercício de sua própria missão diante de toda a Igreja Católica. Nesse sentido, não deveria haver motivo de susto ou estranheza: a Cúria precisa ser adequada de tempos em tempos, para continuar a prestar bem o seu serviço ao papa e à Igreja. Porém a “Constituição” que está sendo reformada não é a da Igreja, mas apenas da Cúria Romana, com o conjunto das normas que a regem. O papa não vai mudar

Editado por Omega Publicidade Ltda. Rua Mato Grosso, 296 A - Bairro Pacoval CEP. 68.908-350 - Macapá-AP CNPJ 03.926.197/0001-82 Fundado em 4 de fevereiro de 1987 por Otaciano Bento Pereira(*1917 +2006) e Irene Pereira(*1923 +2011) 1º Presidente: Júlio Maria Pinto Pereira 1987 a 1991 - (*1954 +1994) 2º Presidente: José Arcangelo Pinto Pereira 1991 a 2003

fiel a si mesma. Na Conferência de Aparecida, aberta em 2007 por Bento XVI, já se apontava para a necessidade da conversão pastoral e missionária. O papa Francisco tem falado com insistência dessa “reforma” interior, ao se dirigir aos diversos setores da vida da Igreja. Exortou os jovens, reunidos em Copacabana, a manterem firme a esperança, a serem fiéis a Jesus Cristo e a não terem medo de ir contra a corrente. Em Assisi, há poucos dias, falando da vida humilde e simples de São Francisco, alertou para o “mundanismo” e as vaidades, que podem tomar conta da vida dos cristãos, também dos eclesiásticos... Da mesma forma, o papa indica com insistência aos gestores de organizações administrativas da Igreja o caminho da retidão, da honestidade e da justiça no cuidado dos bens necessários à realização da missão da Igreja. Aos que desempenham cargos de responsabilidade Francisco lembra que a autoridade deve ser exercida como um serviço ao próximo. E recorda a todos o valor profundo de cada pessoa e o respeito por toda vida humana, ainda mais quando exposta a fragilidades e riscos. Chamando a Igreja à vida coerente com o exemplo e os ensinamentos de Jesus Cristo, ele aponta para as reformas mais lentas e difíceis - e essas não são feitas por decreto nem dependem apenas do papa Francisco... Dom Odilo P. Scherer * Cardeal-arcebisto de São Paulo (Publicado no Estadão)

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3º Presidente: Maria Inerine Pinto Pereira 2003 a 2005 Vacância do Cargo 2005 a 2012 4º Presidente: Haroldo Pinto Pereira 2013 Presidente Executivo: Haroldo Pinto Pereira haroldopereira@jdia.com.br Vice-Presidente e Diretora Comercial Juliane Pereira juliane.pereira@jdia.com.br Gerente Comercial: Edson Coelho edson.coelho@jdia.com.br Consultoria Jurídica : Juliane Pereira (OAB/AP 1320) Jakeline Morato Pereira de Souza (OAB/AP 1381) Editor-Chefe: Janderson Cantanhede cantanhede@jdia.com.br

ÍNDICE Opinião .....................A2, A3 Geral ..........................A4 Geral ..........................B1,B2,B3 Polícia ........................B4

os Dez Mandamentos nem reescrever o Evangelho. No entanto, mudar a Cúria Romana, porquanto necessário, ainda não significa necessariamente reformar Igreja. Isso requer bem mais do que adequar algum organismo ou estrutura de serviço. Aqui é preciso retomar a compreensão da própria Igreja, que é a comunidade de todos aqueles que tomam parte nela, em todo o mundo. Ainda em sua recente visita a Assisi, no dia 4 de outubro, o papa destacava que a Igreja não é formada apenas por bispos, padres e freiras, mas por todos os batizados. Justamente nessa ocasião, na terra de São Francisco, o Francisco de Roma apontava uma das questões centrais para a reforma da Igreja: a fidelidade a Jesus Cristo, ao seu Evangelho e à missão recebida dele. Para tanto ela precisa estar sempre atenta para não perder a sua própria identidade e a sua inequívoca referência a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. Logo no dia seguinte à sua eleição, ele dizia aos cardeais, com os quais celebrou a missa na Capela Sistina: se a Igreja perdesse essa referência a Jesus Cristo, ela se tornaria tão somente uma ONG piedosa e não seria mais a Igreja de Jesus Cristo... A Igreja precisa de uma reforma interior, nas convicções e posturas, isso se identifica com o conceito teológico de conversão. Se a Igreja precisa mudar constantemente, para ser mais igual a si mesma, ela também precisa de constante conversão, para ser

Contatos: Fale com a redação (96) 3217-1117 (96) 3217-1108 Fale com o departamento comercial (96) 3217-1100 / 3217-1111 Geral (96) 3217-1110 Conceitos emitidos em colunas e artigos são de responsabilidade de seus autores e nem sempre refletem a opinião deste jornal. Os originais não são devolvidos, ainda que não publicados. Proibida a reprodução de matérias, fotos ou outras artes, total ou parcialmente, sem autorização prévia por escrito da empresa editora.

Acompanha o

caderno de ClasssiDia 8pág. Geral ...........................C1 Esporte ......................C2 Cultura .......................C3 Social ..........................C4

Aos domingos Veículos ....................D1,D2,D3 Informe .....................D4

Edição número

8328

A

experiência de fé da Virgem Maria nos foi transmitida pela Palavra de Deus e pela Tradição da Igreja. O Papa Emérito Bento XVI, na Carta Apostólica Porta Fidei, nos apresenta o exemplo de fé de Nossa Senhora de forma extraordinária. Mas, os santos também nos transmitiram a sua experiência com a fé da Mãe de Deus e da Igreja. Santo Afonso Maria de Ligório expressa a fé de Maria com profundidade, em seu livro “As glórias de Maria”, de forma belíssima. São Luís Maria Grignion de Montfort, no “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, nos mostra como participar da fé de Nossa Senhora. Receba o conteúdo deste blog gratuitamente em seu e-mail. Bento XVI diz que pela fé, a Virgem Maria acolheu o anúncio do Anjo e acreditou que seria Mãe de Jesus Cristo, Filho de Deus (cf. Lc 1, 38). Na visita a sua prima Isabel, Maria elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava a quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e temor, deu à luz o seu Filho unigênito, mantendo-se virgem (cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu esposo, Nossa Senhora levou Jesus para o Egito a fim de salvá-lo da perseguição do rei Herodes (cf. Mt 2, 13-15). “Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. At 1, 14; 2, 1-4)” (PF 13). Santo Afonso Maria disse que “a fé de Maria excede a de todos os homens e a de todos os Anjos. Em Belém, viu seu Filho no estábulo, e acreditou n’Ele como criador do mundo”. Nossa Senhora viu Jesus fugir de Herodes e nunca duvidou que Ele é o Rei dos reis. Maria viu o Filho de Deus nascer e acreditou que é o Eterno. Ela viu Cristo pobre, sem ter onde re-

clinar sua cabeça (cf. Mt 8, 20b), e acreditou n’Ele como Senhor do Universo. A Virgem viu o Menino Deus reclinado nas palhas e adorou-O como Onipotente. A Mãe de Deus viu o Menino Jesus, recém-nascido, sem pronunciar palavra alguma, e acreditou que Ele era a Sabedoria Eterna. Ela ouviu o Menino Jesus chorar e reconheceu-O como a Alegria do Paraíso. Nossa Senhora viu Jesus Cristo morrendo, exposto a todos os insultos, pregado na cruz e, embora a fé de todos vacilasse, ela perseverou na fé inabalável de que Ele é Deus. São Luís Maria diz que, por permissão de Deus, a Virgem Maria “não perdeu a sua fé ao entrar na glória: guardou-a a fim de conservá-la na Igreja militante para os seus mais fiéis servos e servas” (TVD 214). Pela consagração a Nossa Senhora, temos uma fé corajosa, sem indecisões, que nos fará começar e terminar grandes coisas pela causa de Deus e pela salvação das almas. Pela devoção a Santíssima Virgem, teremos uma fé reluzente, que iluminará toda a nossa vida. Esta fé será nosso tesouro escondido da divina Sabedoria, que iluminará os que estão nas trevas e sombras da morte. Esta fé abrasará os que são tíbios e precisam do ouro ardente da caridade, para dar vida aos que estão mortos pelo pecado, para tocar e prostrar, com as palavras doces e poderosas do Altíssimo, os corações mais endurecidos, para resistir ao demônio e a todos os inimigos da salvação. O Papa Bento XVI confiou o Ano da Fé a Virgem Maria: “À Mãe de Deus, proclamada ‘feliz porque acreditou’ (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça” (PF 15). Confiemos a ela não somente este ano, mas consagremos a ela toda a nossa vida, para participarmos da sua fé inabalável. A exemplo do saudoso Beato, Papa João Paulo II, consagremos a Virgem Maria toda a nossa vida, todo nosso apostolado, toda a nossa história, para que por ela cheguemos a Jesus Cristo e ao Reino dos Céus.


Opinião

Macapá-AP, segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Círio reúne mais de dois milhões de fiéis na capital paraense Mais de 2 milhões de pessoas saíram às ruas da capital do Pará para homenagear, exaltar e agradecer a Virgem

Editor: Túlio Pantoja - tuliopantoja@jdia.com.br

Dia-Dia

Sem fogos...Sem vida... Sem pessoas

FOTOS: PORTAL ORM

Portal ORM

F

é, emoção, superação, solidariedade, fraternidade e reencontros. O domingo da Grande Procissão do Círio de Nazaré marca o ponto máximo do significado de todas estas palavras, que ao longo dos dias que antecedem a romaria afloram no coração de cada paraense de cada turista que visita Belém do Pará. É gente da capital, do interior. É a juventude que mora fora do Estado e volta cheia de saudade das comidas típicas e do calor da época nazarena, um calor que só Belém em outubro proporciona. É gente que de longe vêm por amor à Maria. Ontem (13) não foi diferente, desde as primeiras horas da manhã mentes e corações estavam conectados com a Virgem de Nazaré. Mais de 2 milhões de pessoas saíram às ruas da capital do Pará para homenagear, exaltar e agradecer a Virgem pelas bençãos recebidas durante o ano. Pouco antes das 6h da manhã, milhares de pessoas se reuniram em frente à Igreja da Sé, na Cidade Velha, para participar da Missa do Círio celebrada pelo arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira, em conjunto com os arcebispos Dom Teodoro Tavares e Dom Vicente Zico. A procissão estava programada para iniciar às 6h30, mas começou antes. A Berlinda ganhou as ruas e foi atrelada à corda sob aplausos no Boulevard Castilhos França. Ao longo da avenida Presidente Vargas a Imagem recebeu homenagens musicais como a da cantora Liah Soares que cantou 'Eu Sou de Lá' na tradicional celebração promovida pelo Banco do Brasil. O padre Antonio Maria emocionou os fiéis com a interpretação de 'Jesus Cristo', um dos maiores clássicos de Roberto Carlos. Cada milímetro da corda de 400 metros, vinda de Santa Catarina, foi preenchido pelas mãos dos romeiros que deram o ritmo da procissão. Apesar da campanha incentivando o não corte da corda com a garantia de que Dom Alberto Taveira estaria à espera dos promesseiros em frente ao colégio Santa Catarina de Sena para abençoá-los, um dos grandes símbolos da festa mariana foi cortado por volta das 11h, às proximidades da Travessa Dr. Moraes.

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FÉ, EMOÇÃO, SUPERAÇÃO, solidariedade, fraternidade e reencontros. O domingo da Grande Procissão do Círio de Nazaré marca o ponto máximo do significado de todas estas palavras

É

Círio de Nazaré, Celebração da vida! Festa da Mãe querida. A padroeira da Amazônia. São 79 anos de história, amor e fé. É o carinho que temos com a mãe de Jesus e nossa Mãe. A festa celebrativa deste Domingo (13 de outubro) foi marcada por súplicas, devoções, orações; todavia, pairava esse clima de lamento, de dor, de saudade diante do triste acontecimento do naufrágio de uma embarcação no retorno ao Porto de Santana da Romaria Fluvial nesse sábado (12 de outubro). Foi feliz a colocação de sua Excelência o Bispo diocesano de Macapá, Dom Pedro José Conti, que durante a sua homilia (sermão) começou dizendo que assim que soube do acontecido no Rio Amazonas rezou em intenção de todos e de suas famílias. E pediu a coordenação do Círio de Nazaré 2013 que comunicasse às pessoas que desde o sábado até o domingo evitassem soltar fogos. “E verdade que os fogos são sinais de alegria, de chegada, de novidade, de entusiasmo. A falta desses fogos nos trazem saudade, porém, muito mais saudade estamos e vamos sentir daqueles que naufragaram no retorno da Romaria Fluvial nesse sábado”. É um Círio de Nazaré (79°) que ficará na história em todos os sentidos de nossa Diocese e do nosso Estado. A Palavra que emerge com toda a sua força nesse contexto é “SAUDADE”. Uma saudade que não é nostalgia, mas é presença daqueles que num instante estavam conosco, com suas famílias e amigos. E agora não mais estão. Saudade, Saudade e Saudades! Um dos títulos fortes atribuídos a Maria é de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e, em um dos cânticos da novena assim os devotos cantam com confiança “[...] na vida socorro que falta jamais. Ave, ave, ave, Maria”. Ela, a Mãe amorosa, jamais nos abandona. Jamais nos deixa solitários. E onde Ela estava na hora do naufrágio? A nossa fé, no Senhor ressuscitado, Jesus Cristo, nos diz que Nossa Senhora de Nazaré estava lá como sempre esteve com seus filhos na hora da dor e do desespero a exemplo das Bodas de Caná, aos pés da cruz do Senhor Crucificado e em Pentecostes, no início da Igreja. Nossa Senhora é Mãe, nos coloca no colo, Senhora da Piedade! Que a saudade dos que foram não se perca no tempo, na história e em nossas memórias. Que em cada celebração da missa, nas palavras do sacerdote que diz : “Fazei isto em minha memória” possamos unir o sacrifício pascal de Cristo, que doou sua vida pela humanidade e a memória daqueles que morreram na naufrágio. Sem fogos...sem vida...sem pessoas. Somente saudades! Dr. Aldenor Santos Presidente do Conselho Editorial do JD

OS ROMEIROS PASSARAM então a disputar pedaços da corda como troféus. Homens e mulheres travaram duelos por fragmentos da corda de sisal oleado

MAIS DE 2 MILHÕES de pessoas saíram às ruas da capital do Pará para homenagear, exaltar e agradecer a Virgem pelas bençãos recebidas neste ano 2013

Os romeiros passaram então a disputar pedaços da corda como troféus. Homens e mulheres travaram duelos por fragmentos da corda de sisal oleado. Outro padre muito querido dos fiéis, Fábio de Melo, se emocionou ao cantar para os paraenses na Varanda de Nazaré. A canção 'Círio Outra Vez' é uma das preferidas dos devotos de Nossa Senhora. 'Essa canção é linda, me arrepio toda vez que ouço, com ele cantando tão pertinho de mim então é muita alegria', disse Graça Santos, que ficou em frente à varanda para apreciar os cantos. A Varanda foi criada pela cantora Fafá de Belém para receber convidados famosos. Artistas, jornalistas e outras personalidades passaram pelo casarão na esquina da Travessa Rui Barbosa e ficaram impressionados com a energia do Círio. A jornalista Marília Gabriela era uma das mais empolgadas. Em Belém para acompanhar

as romarias deste fim de semana, a jornalista postou várias fotos da cidade e romarias em seu perfil no Instagram. 'O povo paraense vem para a procissão com uma alegria e uma fé incomparáveis. Nunca vi um povo tão bonito', disse. 'Ontem estive na Trasladação e me emocionei muito. Fiz dezenas de fotos e publiquei em meu Instagram para que as pessoas pudessem ver, mas só quem está aqui sabe realmente o que significa tudo isso', contou. A atriz global Nívea Maria também estava na Varanda e se surpreendeu com a manifestação de fé. 'A fé dos paraenses é diferente, cheia de energia, solidariedade e amor que mexe com qualquerum. Belém está de parabéns. O Círio representa uma manifestação muito importante para o ser humano', afirmou. A atriz afirmou que pretende voltar mais vezes ao Círio. Quem também estava entre os convidados de Fafá foi o

ator Eriberto Leão, que chegou com a família ao local. Autoridades como o governador Simão Jatene e o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, estiveram na procissão e mandaram mensagens ao povo. Jatene destacou que o Círio representa o reencontro, seja ele com os amigos, família e fé. 'É sobretudo um momento de sentimento profundo de esperança, fé e agradecimento ao que você alcançou no ano anterior. Todo ano se repete, mas nunca é o mesmo', afirmou. Já o prefeito Zenaldo Coutinho, reconhecido devoto da Virgem de Nazaré, estava no meio do povo acompanhando a procissão. 'O Círio é algo que se renova todos os anos, agradeço a Deus pelo dom da vida. Espero que Nossa Senhora nos ajude a ter uma cidade cada vez melhor, um Estado cada vez melhor para termos melhor qualidade de vida', finalizou.

Papa Francisco envia mensagem aos romeiros do Círio de Nazaré 2013

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ealizado em Belém (PA) há mais de dois séculos e no Amapá há 79 anos, o Círio de Nazaré é uma das maiores e mais belas procissões católicas do Brasil e do mundo. Reúne, anualmente, cerca de dois milhões de romeiros na capital paraense e em Macapá este ano a previsão foi de 150 mil pessoas, todos numa caminhada de fé pelas ruas dos Estados, num espetáculo grandioso em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, a mãe de Jesus. Dom Giovanni D'Aniello, núncio apostólico no Brasil, enviou a mensagem do Santo Padre, referente ao Círio de Nazaré 2013. "Sua Santidade o Papa Francisco saúda com particular afeto os romeiros que, neste ano de 2013, comemoraram a festa do círio de Nazaré, em Belém do Pará, e os encoraja a serem sempre testemunhas dos genuínos valores evangélicos na sociedade paraense, como discípulos-missionários de Jesus, pois, a exemplo de quanto

afirmou na sua recente visita apostólica ao Brasil, por ocasião da XXVII Jornada Mundial da Juventude, "não podemos ficar encerrados na paróquia, nas comunidades, na nossa instituição paroquial ou na instituição diocesana, quando há tanta gente esperando o evangelho! Mas sair... enviado. Não se trata simplesmente de abrir porta para que venham, para acolher mas de sair portafora, para procurar e encontrar (Papa Francisco, homilia, 27.07.2013) Com estes votos, e sob o olhar misericordioso da Santíssima Virgem, o Santo Padre concede a todos os que tomam parte das celebrações do círio de Nazaré, como penhor de constante assistência divina, a imploração da benção apostólica. Cardeal Tarcísio Bertone, secretário de Estado. Aproveito o ensejo para confirmar-me com sentimentos de estima e consideração." Dom Giovanni D'Aniello, Núncio Apostólico


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Informe Publicitรกrio

Macapรก-AP, segunda-feira, 14 de outubro de 2013


MACAPÁ-AP, SEGUNDA-FEIRA, 14 de outubro de 2013

Geral

CAMINHANDO COM O POVO

SEMUR REALIZA AÇÃO DE LIMPEZA DURANTE O CÍRIO DE NAZARÉ B2 & B3 Editor: Túlio Pantoja - tuliopantoja@jdia.com.br

A GRANDE PROMESSA

Romeiros realizam pagamento de promessas durante percurso doCírio B2 & B3

Autoridades amapaenses participam da procissão

B2 & B3

Círio de Nazaré no Amapá: 79 anos de história baseada na fé e devoção CELIANE FREITAS

A história do Círio no Estado se confunde com a história do Amapá. Veja como aconteceram as primeiras procissões e seus significados

CELIANE FREITAS

Karina Rodrigues Da reportagem

O

primeiro Círio macapaense aconteceu no ano 1934, os dados colhidos pela Diocese de Macapá e pela população apontam três versões diferentes para o evento que se tornou tradição no Estado. Uns atribuem a iniciativa do evento ao prefeito da cidade naquela época, Sr. Eliezer Levy, outros atribuem o feito a Sra. Raimunda Mendes Coutinho, também conhecida como Professora Guita. Primeira versão A primeira festa em homenagem a nossa senhora de Nazaré aconteceu no ano de 1934, quando Macapá ainda pertencia ao Pará, e foi idealizada pelo prefeito Elyezer Levy, com o apoio de José Santana, Martinho Borges da Fonseca, Cesário Cavalcante, Manoel Eudoxio Pereira, Sophia Mendes Coutinho, Ernestina Santana, Rita Cavalcante e Tereza Serra que organizaram uma pequena procissão que aconteceu no dia 06 de novembro de 1934. A transladação noturna da imagem da virgem saiu da igreja São José e aconteceu na véspera do Círio. A frente da peregrinação foram 20 cavaleiros, em seguida vinham os anjos conduzindo as bandeiras do Brasil e da igreja e em seguida o “escaler” da Marujada, que simboliza um dos milagres da santa e por último vinha a Berlinda conduzindo a imagem. Segunda versão Outros dizem que o círio aconteceu no dia 5 de outubro do mesmo ano e foi organizado por um grupo de senhoras, dentre elas, a Professora Guita. Nesta época não se tinha

JOVEM CARREGA a imagem da santa para a berlinda. Juventude foi tema deste ano

nenhuma imagem de nossa senhora de Nazaré na cidade, por isso a procissão foi conduzida pela imagem da santa N. S da conceição que ganhou apenas um manto e foi utilizada para dar início ao tradicional evento, a utilização de outra santa no lugar da virgem de Nazaré partiu de um acordo com o vigário-geral, Padre Felipe Blanck. No ano seguinte a santa chegou a Macapá e o círio passou a ser conduzido por N. S de Nazaré. A transladação saiu da casa da professora Guita para a igreja de São José e o círio partiu da igreja até a casa do Tabelião da cidade Cesário Cavalcante, localizada no antigo Novohotel, e na manhã seguinte acontecia o recírio que partia da casa de Cesário para a residência Guita, onde era guardada a Santa. “Na frente vinha um grupo de 60 homens, cavalheiros, vestidos iguais com os chapelões enfeitados. Depois vinha um cavalo todo arrumado com uma bandeira brasileira. Uma barquinha com dez marujos pequeninos. Atrás, o carro dos anjos e, por fim, a berlinda”, relata Guita. O círio que antes era realizado em novembro passou a ter a mesma data de Belém após um acordo feito entre o então prefeito Major Eliezer Levy, um dos organizadores e a Igreja. “De lá para cá essa devoção aumenta a cada ano” (Arquivo Diocese de Macapá, Mimio s/d, contidas no

AV: Feliciano Coelho, 659 - Trem Tel: (96) 3242-9264 - CEP 68901-025 Site: www.notecomp.com.br Em frete ao Colégio Alexandre Vaz Tavares

Instituto de Pastoral Regional). Terceira versão Segundo informações a primeira procissão aconteceu no dia 6 de novembro de 1934, foi idealizada por José Maria de Santana, nesse ano a imagem foi emprestada por D. Sofia Mendes Coutinho e a berlinda foi confeccionada em Bragança, Pará. A procissão saiu da rua amazonas, passou em frente à prefeitura na Mendonça Furtado, seguiu pela Cândido Mendes, dobrou na Getúlio Vargas e, desceu pela General Gurjão, voltou novamente pela Mendonça Furtado e até a Matriz. Entretanto, de todas as versões a que mais é valorizada pelos fiéis e pela diocese de Macapá é a segunda, que contou com a participação da professora Guita. Essa grande festa de devoção acontece apenas em Macapá, Vigia, Belém e Marabá. Sendo que esta articulação começou nas festas antigas de Portugal, vigia e principalmente em Belém, que é a maior referência de devoção nesta região. A devoção a virgem de Nazaré veio de Portugal, o primeiro círio aconteceu na cidade de vigia e depois passou para Belém. Esse evento foi um marco histórico, e é conhecido no Brasil inteiro e reuni milhares de fiéis anualmente. O círio deve ser realizado

A IMAGEM da Virgem de Nazaré segue para sua 79ª caminhada, sempre cercada de fiéis

no segundo domingo de outubro, em Macapá a primeira procissão aconteceu em novembro, mas logo depois se rendeu a tradição paraense e começou a ser celebrado no segundo domingo de outubro. O Acordo que definiu a mesma data para realização do evento tanto em Belém quanto em Macapá, foi aceita para que os macapaenses que não tinham a oportunidade de ir até o Pará pudessem festejar junto a Nossa Senhora de Nazaré. Depois disso o evento só mudou de data uma vez, em 1984 por causa do cinquentenário, apesar de ter sido esclarecido a população que isso só aconteceria neste ano, muitos reclamou dessa mudança. Este foi o círio que reuniu um público recorde de 50 mil pessoas. Este ano o círio de Nazaré completa 79 de tradição no estado e promete atrair mais de 160 mil pessoas. Promessas e milagres É muito comum durante a procissão ver fiéis com os pés descalços, carregando cruzes, miniatura de casas e canoas, além dos tradicionais anjinhos. Isso geralmente porque a população paga promessas através desses objetos é uma forma dos fiéis agradecerem pelas graças alcançadas durante o ano. As autoridades da igreja alerta apenas que a população não deve cumprir promessa extravagante que prejudi-

quem sua saúde, como era o caso das pessoas que iam de joelhos ou carregavam cruzes pesadas durante o percurso. Solidariedade durante a procissão Existem aqueles que prestam solidariedade durante o círio, esses distribuem água mineral e frutas em pontos estratégicos para hidratar a população, tendo em vista que a temperatura é alta e o sol abrasador. Sacrifício Independente do calor e do sacrifício, os peregrinos seguem o percurso inteiro para honrar suas promessas alcançadas. Decoração do percurso do círio O trajeto por onde passa a imagem da virgem de Nazaré é enfeitado todos os anos com faixas, flores, papel picado, folhas de mato, bandeirinhas e uma infinidade de peças são colocadas em frente às residências dos fiéis. Hoje em dia muitos empresários colocam faixas de agradecimento pelas graças alcançadas em frente aos estabelecimentos comerciais por onde a santa é conduzida. Significado do tradicional almoço do círio Outro grande momento de emoção, nesta festa é quando termina a procissão do Círio, as famílias

amapaenses, voltam às suas casas, para confraternizar em torno de mesas fartas, onde são servidas as mais deliciosas iguarias típicas da terra, o tradicional pato no tucupi ou a maniçoba são servidos no tradicional almoço de círio todos os anos. Nova Corda A corda do Círio deste ano foi doada por empresários amapaense, ela será diferente da corda dos anos passados, pois medirá 300 metros de comprimento e 45 milímetros de diâmetro, é feita de sisal, o mesmo modelo da corda utilizada no Círio de Belém do Pará. Este ano os fiéis poderão levar um pedaço da corda para a casa de recordação, a mesma que vai ser conduzida pelos devotos. A corda é usada pelos fiéis que conquistaram uma promessa pedida. Percurso atual Este ano haverá uma pequena mudança no percurso, somente na chegada da Rua São José. Ao invés de seguir pela Mário Cruz como era antigamente, a procissão vem da Presidente Vargas e entra na Rua São José. Curiosidade: o termo “Círio” tem origem na palavra latina “cereus” (de cera), que significa vela grande de cera. Por ser a principal oferta dos fiéis nas procissões em Portugal, com o tempo passou a ser sinônimo da procissão. CELIANE FREITAS

A CORDA, simbolo de um dos maiores sacrifícios durante a procissão


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Geral

Macapá-AP, domingo, 13 de outubro de 2013 Editor: Túlio Pantoja - tuliopantoja@jdia.com.br

Romeiros pagam promessas e agradece Por cerca de quatro quilômetros de percurso, devotos simbolizaram a fé de diversas maneiras e para demonstrar o agradecimento Jéssica Alves e Caroline Mesquita Da reportagem

A

figura do pagador de promessas já é tradicional na procissão do Círio de Nazaré. Seja em que cidade for realizada o evento, anualmente milhares de romeiros marcam pre-

sença com a quitação de sua “dívida” com a santa, de maneira diversificada. Em Macapá o cenário não é diferente. Caminhar os quatro quilômetros de percurso, sob o calor de aproximadamente 35º é pouco para quem quer demonstrar sua devoção a Nossa Senhora de Nazaré. Simbolizando a cura de doenças graves, muitos acompanham a procissão envergando as tradicionais mortalhas, como crianças que se vestem de anjos ou adultos que seguem a romaria de pés descalços. Há também os que conduzem, na cabeça, pedras, miniaturas de casa, santos, até potes com água, para dar de beber aos romeiros, como pagamento de uma promessa pela graça alcançada.

Durante a procissão, a equipe de reportagem do Jornal do Dia registrou vários casos de devotos que saíram de suas residências na manhã de domingo (13) para agradecer a graça alcançada e pagar a promessa feita à Virgem de Nazaré no momento de aflição. Como é o caso da vendedora Fabiele Cavalcante, que no ano de 2006 fez uma promessa em nome do sobrinho, então com apenas oito anos de idade, que estava sofrendo de um grave problema de saúde. Ela seguiu todo o percurso, que tem cerca de quatro quilômetros, descalça. “Ele sofria reumatismo no sangue e vivíamos com medo o tempo todo, pois a bactéria podia alcançar o coração e então ele morreria. EnCELIANE FREITAS

SEGURANÇA Ivan Kelven conta que fez questão de carregar uma cruz de madeira durante toda a procissão

FÁTIMA CASTRO levou uma miniatura de casa para acompanhar a procissão, agradecendo graça

tão em 2006 fiz a promessa que por todos os anos, até o último dia da minha vida realizaria a promessa de acompanhar a procissão descalça. Graças a Deus ele não precisa tomar os medicamentos. Nossa Senhora e Deus o curaram, e dou graças a isso. É bom saber que você não vai ver mais seu parente em um leito de hospital, agonizando pela vida. Então para mim é uma honra poder cumprir essa promessa”,

explica. Já a autônoma Fátima Castro levou uma miniatura de casa para acompanhar a procissão, agradecendo uma graça alcançada no ano passado. “Há um ano fiz uma promessa para Nossa Senhora de Nazaré para resolver um problema grave em minha vida, mas que não posso revelar, pois prometi ser segredo. Para mim é uma satisfação muito grande porque alcancei a graça e posso quitar minha dí-

vida com Nossa Senhora”, diz. Embora atualmente seja raro, ainda há quem carregam pesadas cruzes de madeira, uma alusão ao sacrifício feito por Jesus Cristo. O segurança Ivan Kelven conta que fez questão deescolher este sacrifício, após presenciar a cura de seu filho. “Meu filho nasceu de sete meses e sofreu diversas complicações de saúde”. Na hora do desespero, me apeguei com Deus e Nossa SeFOTOS CELIANE FREITAS

Semur realiza ação de limpeza durante o Círio Jéssica Alves Da reportagem

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ara garantir a limpeza da cidade durante as ações do Círio de Nazaré 2013, a Secretaria Municipal de Manutenção Urbanística realizou uma ação especial no domingo da procissão (13). Para a atividade, um efetivo de 120 trabalhadores realizaram os serviços de limpeza, varredura e capina. Durante o trajeto, 7 postos de entrega voluntária de lixo reciclável foram espalhados, para garantir que produtos de plástico tenham destinação corre-

ta. Também foram colocadas cerca de 40 papeleiras nas praças Nossa Senhora de Fátima e Veiga Cabral, 20 em cada uma, 7 bags (lixeiras que medem cerca de 1,5 metro de altura), em pontos estratégicos em todo percurso da festa, além de lixeiras feitas com garrafas pet, medindo aproximadamente 1 metro de largura por 2 metros de comprimento. Segundo o secretário José Mont´Alverne, esta é uma nova forma de realização de serviços adotada pela secretaria. “Em cada

esquina está um gari e uma lixeira e no final da procissão, vem um caminhão coletor e duas caçambas para recolher o lixo que estará espalhado. E nos trechos que ficaram mais sujos, realizamos a limpeza com o carro pipa”, explica. Ele complementa que a lavagem é feita com um produto especial. A Associação dos Catadores de Macapá também atuou na ação, pois todo o material arrecadado durante o evento, garrafas e copos de água mineral, será para a própria entidade.

CELIANE FREITAS

PARA A LIMPEZA, um efetivo de 120 trabalhadores realizaram os serviços de limpeza, varredura e capina


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Macapá-AP, domingo, 13 de outubro de 2013

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Editor: Túlio Pantoja - tuliopantoja@jdia.com.br

em na procissão por graças alcançadas ELEN COSTA

nhora, fazendo essa promessa que se ele melhora-se, carregaria uma cruz de madeira durante a procissão. Achei mais do que justo pagar essa promessa por ele, hoje ele está com saúde. Graças a Deus hoje estou quitando a minha dívida com o nosso senhor Jesus Cristo. É primeira vez que participo e para mim é gratificante sabendo que graças a Deus hoje ele está saudável”, diz emocionado. As crianças vestidas de

anjos são personagens comuns no círio, o significado dessa roupa demonstra a graça da vida que foi mantida. A mãe Patrícia Almeida, 25 anos, vestiu seu filho de apenas 3 meses de anjinho para acompanhar o Círio de Nazaré. “Meu filho Rayro Vinícius nasceu com o cordão umbilical muito roxo. O médico disse que não sabia se ele sobreviveria. Para o meu filho não falecer fiz uma promessa para a Virgem Maria, e

ela deu saúde a ele. É a primeira promessa que fiz e foi alcançada”, diz Patrícia sobre a promessa que fez por seu filho. Muitos romeiros pagam suas promessas descalços, segurando na corda da berlinda. A acadêmica Maria Clara, 20 anos, acompanhou o círio sem sapatos e segurando na corda para agradecer a aprovação no vestibular do ano passado. “No círio do ano passado fiz uma promessa que se eu fosse aprovada no vestibular, viria nesse ano descalça e na corda. Como minha graça foi alcançada e hoje sou acadêmica de uma instituição pública, vim pagar minha promessa com Nossa Senhora de Nazaré, que com certeza me deu muita concentração e forças para que eu fizesse uma boa prova no processo seletivo que fui aprovada”, declarou Maria Clara. A senhora Maria Lúcia, 84 anos, acompanhou o círio inteiro em uma cadeira de rodas com sua família. Foi empurrada pelo seu filho durante toda a procissão. “Esse é um momento de fé e devoção. Estou pedindo a nossa senhora para me dar forças para voltar a andar porque minhas pernas estão muito fraquinhas e não consigo ficar em pé por muito tempo. Quero no próximo ano acompanhar andando o Círio e, se nossa Senhora e Deus permitir, virei com retidão cumprir minha promessa”, desejou dona Maria.

Autoridades demonstram devoção Caroline Mesquita Da reportagem

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Círio de Nossa Senhora de Nazaré faz parte das maiores expressões de fé, crença e cultura do povo da Amazônia, não é a toa que ela é a padroeira da região. Amapaenses e paraenses,principalmente, têm em Virgem Maria um dos maiores símbolos defé e esperança. Para o prefeito de Macapá, Clécio Luís, o círio demonstrou toda força e confiançano sentimento cristão, mas também foi um momento de tristeza devido ao naufrágio que aconteceu após o encerramento do Círio Fluvial, no último sábado (12). “Os sentimentos de alegria e tristeza se misturarão nesse círio. A fé, acrença, a esperança, perseverança e dor de quem perdeu seu irmão no desastre será única, Nossa Senhora de Nazaré vai confortar o coração dos que ficaram. Sempre participo do Círio e vejo a renovação de espírito que a celebração traz ao povo”, diz o prefeito Clécio. O senador Randolfe Rodrigues também partici-

pou do círio amapaense e ressaltou que foi um momento de oração para as pessoas que partiram no naufrágio, e também um alerta paraos perigos da navegação fluvial da Amazônia. “O Círio é a mais representativa celebração de fé do povo da Amazônia. É uma festa grande tanto para o povo de Belém do Pará quanto os amapaenses. Este ano particularmente não vai ter a festa em respeito aos que não sobreviveram na tragédia. Tivemos um círio com luto devido aos tristes acontecimentos,e também reflexão sobre os perigos da navegação fluvial da Amazônia. Nós como autoridades devemos tomar providências em relação aos perigos dessa navegação”, disse Randolfe. “Na verdade o círio é o maior significado de amor que a população amazônica dar ao brasil” é o comentário de Ivana Cei, procuradora do Ministério Público Estadual. Segundo Ivana, a fé, esperança e renovação são emocionantes na passagem do círio. “Minha família é extremamente ca-

tólica. Todos os anos acompanhamosa santa no círio. Acredito que a maior representatividade de fé no Brasil é o Círio de Nazaré. Na verdade só tenho a agradacerà Virgem, porque ela tem nos abençoado durante toda nossa trajetória. São muitas bondades que ela fez por nós. Por exemplo, a minha mãe esteve muito doente após a morte do meu irmão, e hoje ela está recuperada. Isso é força que a Virgem proporcionou à ela”, declarou Ivana Cei. O presidente da Assembleia Legislativa do Amapá, Junior Favacho, também comentou que o círio foi um momento de reflexão, em que o povo de Macapá e Pará se reúnem para referendar Nossa Senhora de Nazaré. “Costumo dizer que nossa rainha da Amazônia traz bençãos, felicidades e acima de tudo reflexão. Renova nossa fé. Vemos o povo feliz, mas, infelizmente, esse ano ocorreu um naufrágio que vitimou muitas pessoas. Quero me solidarizar e desejar meus sentimentos. Bom Círio a todos as famílias do Amapá!”, desejou.

FOTOS CELIANE FREITAS

Vendas e doações ajudam romeiros

DA REDAÇÃO

Caroline Mesquita Da reportagem

O

s artigos religiosos alusivos à Virgem vendem intensamente no dia do Círio, como camisetas, fitinhas e imagens da santa. Porém, não são apenas as lembranças religiosas que ganham espaço para as vendas. O comércio de acessórios para a procissão também lucra bastante, principalmente artigos para se proteger do sol. Bonés, óculos e sombrinhas vendem facilmente neste dia. O vendedor Antonival Gregório, 50, cearense e morador de Macapá há 20 anos, conta que faz cinco anos que ele vende sombrinhas e bonés no círio. “Sou vendedor e também devoto de Nossa Senhora. Aproveito para vender, pois é assim que ganho o pão de cada dia, e depois acompanho a procissão quando acabamos produtos. As sombrinhas custam R$10, boné de adulto R$20 e infantil R$10. Espero vender bem esse ano”, comentou Antonival. Para o vendedor de fitinhas de lembrança, Francisco Nunes, esse emprego extra é uma ajuda. “Trabalho de carteira assinada e na época do círio vendo fitinhas para garantir um dinheiro extra. Estou com 437 fitas e espero vender um pouco mais de 300 unidades. Cada fitinha custa um real, mas eu ganho apenas 50% porque trabalho para outra pessoa que fornece as fitas. Não dá para ven-

“Costumo dizer que nossa rainha da Amazônia traz bençãos, felicidades e acima de tudo reflexão

“Na verdade o círio é o maior significado de amor que a população amazônica dar ao brasil”

O senador Randolfe também participou do círio amapaense e ressaltou que foi um momento de oração para as pessoas que partiram no naufrágio

“Sempre participo do Círio e vejo a renovação de espírito que a celebração traz ao povo”, diz o prefeito Clécio.

Fitinhas de lembrança: emprego extra é uma ajuda.

der tudo porque a concorrência é grande”, afirma Francisco Nunes sobre a venda de fitas. Muitas doações são oferecidas durante o percurso de Nossa Senhora de Nazaré. Água, lanche, refrigerante, picolés e tip-top são dados por famílias, grupos de amigos e empresas. A senhora Maria da Conceição, vendedora, reúne-se com três amigas e oferecem lanches para os fiéis do Círio. “Viemos para o círio 5h da manhã e inicialmente oferecemos lanches para os que passaram a noite trabalhando. Depois servimos para os fiéis que chegavam para assistir a missa de Nossa Senhora. Faço isso com minhas amigas todos os anos, é uma forma de agradecer pelos milagres que recebemos todos os dias da Virgem”, diz Maria Conceição. “Muita gente não compra um terço. Fiz uma promessa de doar para as crianças ter-

ços e hoje estou distribuindo 2 mil unidades no Círio”, diz a contadora Vilma Servat sobre sua promessa. Todo ano Vilma acrescenta uma centena a mais de tercinhos para distribuir. “Meus dois filhos vem me ajudar a distribuir os terços. Nós glorificamos o nome de Jesus, e somos devotos à mãe dele, a Virgem Maria. Achamos importante essetrabalho social, pois é uma demonstração de carinho e amor que queremos passar. Desejo que cada pessoa que recebeu o terço tenha muitas bênçãos em sua vida, e Nossa Senhora vai sempre ajudar”, comentouServat. O senhor José Carlos, proprietário do Mercado Só Bovino, distribuiu 10 mil unidades de refrigerantes e 7 mil unidades de Tip top. “Meu irmão e eu fazemos essa ação para agradecer a Deus e a Virgem por tudo que a gente ganha durante o ano. E no próximo ano esperamos aumentar a quantidade para poder ajudar as pessoas a se refrescarem mais, porque a cidade é muito quente”, concluiu José.

Rosa de Saron participa este ano do Círio Musical O Círio Musical começa hoje (14), um dia após a procissão do Círio de Nazaré. Cinco bandas e um corol vão animar a programação. As apresentações acontecem a partir de 19h30, ao lado do Bacabeiras.


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Geral

Macapรก-AP, sรกbado, 12 de outubro de 2013 Editor: Pablo Oliveira - pc.oliveira@jdia.com.br


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