enfoco.belojardim Ano X Número 100 - julho de 2020 - Belo Jardim-PE e Região
BJ abre setores como comércio e igrejas, mas números de casos da covid-19 aumentam 199% em pouco mais de 30 dias. E seguem em crescimento E mais: Município conta com apenas 20 leitos para recuperação de pacientes e os 150 leitos do Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru, são divididos para 53 cidades do Agreste, incluindo BJ
Fora isso, quem apresenta sintomas e procura atendimento, esbarra na burocracia e nos horários limitados. E quando comparamos a realidade de Belo Jardim com a de outros municípios, com populações semelhantes, a realidade se torna ainda mais assustadora. BJ possui números, em geral mais altos de casos con rmados. A2
Em virtude da quarentena, mercado de festas foi abalado severamente durante a pandemia
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Belo Jardim avançou para a 4ª Etapa do Plano de Convivência das Atividades Econômicas com a covid-19, entretanto, setores como o de eventos ainda sofrem com a paralização dos serviços. Conceituado cerimonialista belo-jardinense, Everton Estrela, conversou com o Jornal Enfoco sobre as di culdades enfrentadas pelo setor. Festas foram adiadas e outras até canceladas, gerando prejuízo ainda maior para o empresário. A4
Conheça Luhan Lucena, músico que mora em Belo Jardim e vai estudar nos EUA
Vavá Vieira, maestro e músico da Filarmônica São Sebastião B2 de Belo Jardim por duas décadas, nos deixou aos 84 anos B3
Violinista Luhan Lucena do “Projeto Social Orquestra Criança Cidadã” do Recife, já tocou para o Papa e outros líderes mundiais. No Brasil, se apresentou com artistas como Dominguinhos e Elba Ramalho. Já foi para a Argentina, Portugal e Roma. Sua idade? 16 anos. Hoje, reside em Belo Jardim e ganhou uma bolsa de estudos para se graduar em música nos EUA. Em entrevista, fala da sua trajetória e da vaquinha para ajudar nas despesas e seguir seu sonho. B1
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Cidade
(f) enfoco.belojardim / jornalenfocobj@gmail.com
A2: Belo Jardim - Ano 10 nº 100, julho de 2020
Da redação, Karina Veríssimo
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iante do cenário de emergência em saúde pública, a pandemia gerada pelo novo coronavírus, que inicialmente tinha sua maior concentração de casos na capital, começa a estabilizar no Recife e acentuar os episódios no interior do Estado. O Agreste pernambucano tem noti cado casos e mais casos diariamente, ainda mantendo uma nítida concentração no entorno de Caruaru, com 4.140 casos con rmados e 224 mortes, na data de 27 de julho, fechamento desta edição. B e l o Ja rd i m , p or exemplo, registrou o cialmente mais de mil casos de contaminados. Do prazo de 20 de junho a 27 de julho, houve um aumento de 199% do número de casos con rmados, que passou de 362 para 1084 contaminados. Já o de óbitos, esse dado cresceu 177%, saindo de 9 mortes para 25. Neste dia, o boletim da Secretaria Estadual de Saúde, con rmou 80 casos da versão mais grave da doença, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). É importante frisar que a cidade deixa a desejar no quesito políticas públicas efetivas de controle e combate à covid-19, mesmo tendo recebido milhões de reais do Governo Federal para investimento nesta luta. Inclusive, um funcionário da equipe do Jornal Enfoco sentiu na pele a falta de assistência e o descaso que a população do município tem passado com a Secretaria de Saúde do município. Em seu relato, Adenilson Barros (22), estudante de jornalismo, classi cou a gestão como ine ciente e burocrática, o que ainda evidencia a subnoti cação dos casos na cidade. Ele havia apresentado os sintomas comuns da covid-19 e cou em alerta por conta da pandemia. Só procurou “atendimento na Policlínica cinco dias depois, na sexta-feira (17)”. Nesse dia, ele a rma EXPEDIENTE: Diretoria Executiva: Silvana Galvão - Diretora Executiva Departamento Comercial: Alcineide Santos
Arquivo/ Ascom
Casos da covid-19 aumentam 199% em BJ em 37 dias, contabilizando mais de mil casos. Cidade ainda divide 150 leitos com 53 cidades do Agreste, em hospitais de Caruaru
Os 150 leitos dos Hospitais Mestre Vitalino e de Campanha em Caruaru precisam atender 53 cidades do Agreste, incluindo BJ
que não conseguiu fazer o teste de covid-19, pois foi informado que o atendimento só funcionava até 12h. “Pensei em fazer no nal de semana, mas a informação era que, o teste rápido (realização) só funciona de segunda a sexta. O que é muito questionável para uma cidade que triplicou seus números de casos. Deixa clara a falta de assistência e pro ssionais médicos para atender a população de forma mais abrangente, mas limitam horários e dias para atendimento”, criticou Adenilson. A saga do estudante não parou por aí. Na semana seguinte, ele foi novamente ao local no horário informado e, desta vez, pediram a requisição médica, a qual ele não tinha. “Ao me deparar com mais burocracia e precisando saber como eu estava de saúde o quanto antes, resolvi fazer o teste particular. Fiz e no mesmo dia saiu o resultado. Felizmente, negativo, para minha sorte, pois, como tantas outras pessoas que testassem positivo eu iria 'depender' do município. Pelo seu histórico de ine ciência, assusta tanto quanto o vírus”, nalizou. 150 leitos do HMV e Hospital de Campanha de Caruaru atendem 53 municípios É fato que, quem precisa de atendimento de saúde na cidade, na maioria das vezes, recorre à cidade de Caruaru. De acordo com nota da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), o “Hospital de Campanha, instalado no pátio do Hospital Mestre Vitalino (HMV), em CaruaDepartamento de Jornalismo Érika Travassos - Jornalista/editora Karina Veríssimo - Jornalista/ Repórter Adenilson Barros - Redator estagiário Diagramação e redes sociais: @etcomunicacao
ru, abriu 30 novos leitos de enfermaria. Com esta ação de abertura, o Hospital passa a contar com 60 leitos de enfermaria e 20 de Unidade de Terapia Intensiva – leitos com suporte ventilatório. Ao todo, a estrutura do Hospital Mestre Vitalino passa a contar com 150 leitos, sendo 60 de UTI”. Ainda de acordo com a noti cação do governo do Estado, “as IV e V Regiões de Saúde de Pernambuco, área de atendimento do Hospital de Campanha, ainda vivem um momento delicado da pandemia, com um quantitativo relevante de novos diagnósticos da covid-19”. Uma informação relevante e demasiadamente preocupante é que 53 municípios, das quarta e quinta regiões da saúde, ou seja, uma população de 1.859.175 de habitantes, dependem desses leitos. Uma alta demanda para o Hospital Mestre Vitalino e Hospital de Campanha, que são referências no tratamento. No boletim da Prefeitura de Belo Jardim do dia 25 de julho, quando chegou a 1061 casos, publicado nas redes sociais, o órgão disse que o município “possui leitos de retaguarda para tratar pacientes em recuperação do novo coronavírus”, mas não especi ca a quantidade. Uriel Campelo, antes de passar o cargo de Secretário de Saúde para seu lho, Uriel Campelo Filho, disse em uma de suas lives que “serão 20 leitos de retaguarda para pacientes que saírem graves de Belo Jardim e, ao receberem alta do hospital de referência Mestre Vitalino, em Caruaru, retornarem para a cidade”. FALE CONOSCO: 81 99539.7171 jornalenfocobj@gmail.com Facebook/Instagram: enfoco.belojardim
Comparando BJ com outros municípios de população semelhante, a realidade de Belo Jardim é assustadora. Goiana, por exemplo, tem uma população de 80 mil habitantes e registrou 767 casos con rmados e 63 óbitos. Já Gravatá, tem 84 mil habitantes com 371 casos con rmados e 42 óbitos. Arcoverde conta com 75 mil pessoas e 506 casos con rmados e 26 óbitos. Carpina, por sua vez, tem uma população de 75 mil, sendo 300 casos con rmados e 42 óbitos. Já Belo Jardim comparada às cidades circunvizinhas ainda ca na frente e torna uma situação, no mínimo, alarmante. Tacaimbó tem uma população de 12.800 e registra 191 casos con rmados e 2 óbitos. Sanharó a população é de 26 mil e noti cou 295 casos con rmados e 7 óbitos. Já São Bento do Una, a população é de 59.500 mil e con rmou 490 casos e 30 óbitos. Com uma população aproximada a de Belo Jardim (67.300 mil), Pesqueira registrou 683 casos con rmados e 20 óbitos. Os dados são do dia 27.07, data de fechamento da edição. 4ª Etapa do Plano de Convivência das Atividades Econômicas com a Covid19 A autorização da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco para que 53 cidades gerenciadas pela GERES IV e GERES V, incluindo Belo Jardim, retomassem as atividades econômicas dividiu opiniões, tendo em vista que o número de casos da covid-19 no inte-
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rior de Pernambuco vem crescendo. No dia 12 de julho, o Enfo co promoveu uma enquete pelo storie do Instagram, perguntando se Belo Jardim deveria ou não abrir o comércio, as celebrações religiosas presenciais, parques e praças. O resultado foi: 61% disseram que não. 39% votaram no sim. Neste dia, BJ marcava 692 casos con rmados e 13 óbitos. Apenas 24h depois, seriam 783 casos e 17 mortes. De acordo com a médica Isabelle Tenório Cavalcante, “talvez, uma abertura gradual do comércio fosse mais interessante para este cenário”. Ela informou ainda que “se não houver conscientização e colaboração da população é inevitável o aumento de número dos casos após a volta das atividades habituais; e isso preocupa quando a contaminação atinge a população de risco”. Vendo de perto a realidade de vários municípios, Isabelle avaliou este cenário e, questionada, a rmou ainda que, em comparativo com outras cidades, “Belo Jardim não tem suporte necessário para atender casos de alta complexidade em grande demanda. Devido aos poucos leitos com respirador disponível e a inexistência de UTI”. Como mensagem aos belo-jardinenses a médica nalizou dizendo que é preciso “conscientização e empatia. Conscientizar-se para se prevenir corretamente (uso de máscaras, higienização de mãos, sair somente para atividades essenciais, distanciamento social) e empatia pela dor alheia, não precisando perder um ente querido para poder “enxergar” esta realidade”. A Prefeitura de Belo Jardim, através de sua Secretaria de Saúde, foi procurada pela nossa equipe para responder sobre o teor da reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.
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Economia
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A4: Belo Jardim - Ano 10 nº 100, julho de 2020
Casamento na pandemia: empresas de Belo Jardim ficam no prejuízo e noivos continuam sem data para festejar Fotos: Divulgação Da redação, Karina Veríssimo
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om o avanço das Etapas do Plano de Convivência das Atividades Econômicas com a covid-19, em B elo Jardim, algumas empresas e comércios começam, timidamente e legalmente, a retomarem seus projetos, receberem os clientes e prospectarem negócios, restaurando a esperança em dias melhores para a economia. Entretanto, um dos setores bastante afetados e que ainda não foi contemplado com a reabertura é o setor de eventos, especi camente falando dos casamentos. Sem sombra de dúvidas, a proibição de aglomeração de pessoas na tentativa de conter a contaminação pelo novo coronavírus, afetou em cheio as empresas. Até o mês de maio, que é conhecido como o “mês das noivas”, teve que dar uma pausa na agenda. Tudo cou suspenso. A ordem foi remarcar as festas para o m do ano ou para 2021. O certo, porém, é que o faturamento foi atingido diretamente e pegou os empresários desprevenidos. Assim também aconteceu com vários casais, que tiveram que ver o sonho da celebração do matrimônio ser adiado. O empresário e cerimonialista, Everton Estrela, conversou com o Jornal Enfoco e falou que “no primeiro momento foi um susto, ao mesmo tempo, um desespero”, mas teve que manter a calma para conduzir o que estava por vir. Em 13 anos organizando festas de casamento, a pandemia foi um dos maiores desa os enfrentados por ele. “Nunca imaginei passar por algo nem se quer parecido. Mas, só no primeiro semestre, entre 15 de março e 30 de junho, foram 28 eventos remarcados. Entre eles, casamentos, festa infantil e festa de
Um dos mais conceituados cerimonialistas de Belo Jardim, Everton Estrela faz panorama sobre a realização dos casamentos durante pandemia
15 anos”, relatou Everton. Com uma queda expressiva em receita por conta dos casamentos que não aconteceram, ele confessou ainda que quatro eventos agendados foram cancelados, atingindo negativamente a empresa. Contudo, se a proibição e imposição existem, como lidar com a ansiedade própria dos noivos, vendo o sonho se tornar cada vez mais distante? A
resposta é: muita paciência, calma e tranquilidade na tentativa de entender os problemas e encontrar a solução. “Eu aconselho manter a calma para que sejam tomadas as mais precisas e inteligentes decisões”, garante o cerimonialista. De acordo com ele, na maioria das vezes, os pagamentos já estão quase nalizados, o que justi ca a ansiedade e isso tira um
Estrela relata queda expressiva no setor de eventos
pouco o sono dos casais. “Então de certa forma, ainda existe a segurança dos contratos, pois os fornecedores estão sendo muito solícitos e fazendo de tudo para relocar as datas que sejam mais seguras e convenientes para o cliente”, pontuou. Sobre as di culdades que ele vem enfrentando durante a pandemia para o segmento, Everton Estrela foi categórico ao criticar as autoridades competentes e até relatou que a competitividade comum do mercado sofreu alterações. “Além de ser um setor, infelizmente, esquecido pelas autoridades, é uma classe, de certa forma, desunida. Porém, diante de toda essa situação, algumas pessoas mudaram de opinião e estão se unido para se manter no mercado”, disse ele. Todavia, o posicionamento pessoal diante da crise de sua empresa é que o “maior desa o é de conseguir reajustar todas as datas com tantos fornecedores diferentes, que também estão reajustando outras datas de outros clientes. Isso tudo além de tentar sempre manter o
cliente informado, mesmo sem obter grandes e concretas informações”. De acordo com especialistas do setor, como Luis Machado, CEO do iCasei, “o cenário indica que existe uma previsão de retomada, ainda que tímida, na realização dos eventos em todo país a partir de setembro, ainda que com restrições”. Com tal projeção e ainda diante de tantas di culdades e incertezas, Everton Estrela renova a esperança e busca oferecer o melhor aos seus clientes, inclusive, mantendo a segurança que, no nal, tudo vai dar certo. “Acredito que seja um momento de se reinventar e tentar tirar desse momento difícil o lado positivo”, nalizou.
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o maior desa o é de conseguir reajustar todas as datas com tantos fornecedores diferentes’’ Everton Entrela, cerimonialista
Geral
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A5: Belo Jardim - Ano 10 nº 100, julho de 2020
No aniversário de 30 anos do Eca, Unicef defende que Brasil invista para consolidar conquistas, enfrentar o racismo e garantir direitos Especial, Portal Unicef Brazil
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o dia 13 de julho, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 30 anos. Para destacar a data, o Fundo das Nações Unidas para a Criança (Unicef), destacou que “em meio à pandemia da Covid-19”, a instituição “reforça a importância de o Brasil salvaguardar os avanços alcançados pelo País graças ao ECA e investir fortemente para evitar retrocessos, reduzir desigualdades e garantir que cada criança e cada adolescente no Brasil – em especial meninas e meninos negros e indígenas e em situação de vulnerabilidade, como migrantes – tenham todos os seus direitos efetivados”. Segue o demais texto, na íntegra. Marco fundamental da história brasileira, o Estatuto re ete, na legislação nacional, a Convenção sobre os Direitos da Criança, rati cada por 196 países. “O ECA mudou a vida de meninas e meninos, sobretudo daqueles mais vulneráveis, que deixaram de ser considerados 'menores em situação irregular', e começaram a ser reconhecidos como sujeitos de direito.
Foto: Unicef/ Elias Costa
Com a legislação, passaram a ter acesso, por lei, a ter direito à proteção integral, por meio de um Sistema de Garantia de Direitos que inspirou muitos países”, explica Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil. Nesses 30 anos de Estatuto da Criança e do Adolescente, o Brasil vivenciou avanços importantes, que merecem ser comemorados. Entre eles, destacam-se: - A redução histórica da mor t a lid ade infant i l, fazendo com que 827 mil vidas fossem salvas de 1996 a 2017. - Os avanços no acesso à educação. Em 1990, quase 20% das crianças de 7 a 14 anos (idade obrigatória na época) estavam fora da escola. Em 2009, a escolaridade obrigatória foi ampliada para 4 a 17 anos. E, em 2018, apenas 4,2% de 4 a 17 anos estavam fora da escola (1,7 milhão). - E a redução do trabalho infantil. Entre 1992 e 2016, o Brasil evitou que 6 milhões de meninas e meninos de 5 a 17 anos estivessem em situação de trabalho infantil. Os avanços, no entanto, não foram su cientes para reduzir desigualdades. Hoje, 30 anos depois, milhões de meni-
30 anos do ECA, Unicef defende que Brasil invista para consolidar conquistas, enfrentar o racismo e garantir direitos
nas e meninos não têm acesso a todos os seus direitos no Brasil. A pobreza afeta de forma mais expressiva as crianças, que estão concentradas nos 30% mais pobres da população. A exclusão afeta, em especial, crianças e adolescentes negros e indígenas. Na educação, há milhares de estudantes que passam pela escola sem aprender. Em 2018, 2,6 milhões de estudantes de escolas estaduais e municipais foram reprovados no País. As populações preta, parda e indígena tiveram entre 9% e 13% de estudantes reprovados, enquanto entre brancos esse percentual foi de 6,5%. Ao fracasso escolar, somam-se os dados de tra-
balho infantil. Segundo a Pnad Contínua 2016, último dado disponível, ainda há mais de 2,4 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil no País. Desses, 64,1% são negros. E há o desa o da violência. Esse indicador vem piorando no País nas últimas três décadas. Entre 1990 e 2017, os homicídios de adolescentes mais que dobraram no Brasil. Em 2018, houve uma pequena redução, mas os dados continuam altos: foram 9.781 meninas e meninos mortos, mais de um homicídio por hora no País. Desses, 81% eram negros. Ne n h u m d e s s e s dados é coincidência. Eles são o re exo de um racis-
mo estrutural que ainda é presente no País, fazendo com que meninas e meninos negros e indígenas não se vejam representados nos conteúdos que aprendem na escola, sejam vítimas de preconceitos em diferentes espaços, sejam a maioria da população em situação de pobreza no País e sejam as principais vítimas de homicídios e outras violências, com mortes que muitas vezes nem chegam a ser investigadas.
Pandemia da covid-19 pode ampliar ainda mais as desigualdades Todos os desa os já existentes no Brasil podem se agravar com a pandemia do novo coronavírus. “Embora não sejam os mais afetados diretamente pela Covid-19, crianças e adolescentes são as vítimas ocultadas da pandemia, sendo as mais afetadas pelos impactos da crise no médio e longo prazo”, a rma Florence. O aumento da pobreza no País impacta em especial crianças e adolescentes que já vivem em famílias vulneráveis. Tendo em vista as limitações de acesso à internet de forma gratuita e a computadores, as opções de atividades para a continuidade
das aprendizagens em casa não estão se dando de forma igual para todos os estudantes. Há 4,8 milhões de crianças e adolescentes brasileiros vivendo em domicílios sem acesso à internet. Com isso, quem já estava em atraso escolar corre o risco de deixar a escola. A pandemia pode, também, impactar a saúde de bebês e crianças, interrompendo a vacinação rotineira de crianças menores de 5 anos e gestantes em situação de vulnerabilidade. E há o risco de aumento da violência. O Disque-180, central nacional de atendimento à mulher, viu crescer em 34%
as denúncias de violência doméstica em março e abril de 2020 quando comparado com o mesmo período do ano passado. A violência contra mulheres e meninas impacta toda a família e o desenvolvimento e a segurança de crianças e adolescentes. Por isso, durante o período de isolamento social, crianças e adolescentes correm o risco de estar mais expostos a situações de violência física, sexual e psicológica. Par a e v it ar e s s e s retrocessos, é fundamental rea rmar os compromissos do Brasil com o Estatuto da Criança e do Adolescente e
com a infância e a adolescência. É hora de consolidar os avanços que o País teve até aqui e não deixar que se percam. O Brasil tem uma legislação consistente, que precisa ser valorizada e implementada para todos, com ênfase no enfrentamento do racismo em suas diferentes esferas. Diante deste momento de pandemia, é urgente priorizar a infância e a adolescência nos planos de resposta à Covid-19. Isso inclui investir para garantir condições seguras para a reabertura das escolas, baseadas na análise – em cada Estado e munícipio – do status epide-
miológico e da disponibilidade de serviços básicos, como água e saneamento, para não colocar crianças, famílias e pro ssionais em risco; garantir políticas de proteção social voltadas a crianças e famílias vulneráveis, com a continuidade de serviços essenciais; focalizar as políticas de transferência de renda nas crianças, chegando assim às famílias mais pobres do País; e priorizar o melhor interesse da criança no orçamento público, tanto no curto quanto no médio e longo prazos.
Cultura
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B1: Belo Jardim - Ano 10 nº 100, julho de 2020
Luhan Lucena, prodígio da música: Aos acordes do violino, de Belo Jardim aos EUA Da redação, Adenilson Barros
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uhan Lucena, é o que pode de nir como menino prodígio da música. Nascido em Recife, começou a estudar violino aos 4 anos de idade no “Projeto Social Orquestra Criança Cidadã”, na Comunidade do Coque em sua terra natal. Hoje, aos 16 anos, está morando em Belo Jardim por seu pai ser pastor e ter sido convidado a liderar uma igreja evangélica no município. A família conheceu a cidade e gostou, fazendo morada xa nela. Contudo Luhan, está por tempo determinado, já que ganhou uma bolsa de estudo para uma universidade nos Estados Unidos, a Nicholls State University em Louisiana e pretende ir para lá, em setembro. Dono de um talento singular, ele já se apresentou com vários artistas como Alcymar Monteiro, Dominguinhos, Yamandu Costa, Maestro Spock, Silvero Pessoa e Elba Ramalho. Também para alguns presidentes do Brasil como o Lula, Dilma e o atual, Jair
Bolsonaro, e internacional, tocou para o Primeiro Ministro de Portugal e viajou três vezes para Roma, em umas delas, tocou para o Papa Francisco na Capela Sistina através da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Em algumas famílias falar que quer viver de música, pode ser motivo para olharem com uma mistura de medo, pena ou até desprezo, mas não é uma unanimidade, prova disso são os pais do jovem violinista, que o apoiam a perseguir seus sonhos e estudar música a fundo, ainda que em outro país. O incentivo vem de forma natural, pois desde que Luhan tinha entre 4 e 8 anos, a mãe Lucia Maria Lucena e o pai Gleikson de Souza, sacri cavam seu tempo e afazeres, e se reversavam para estar com ele no projeto de música. Aliás, hoje eles devem estar cheios de orgulho, com a possibilidade do lho se graduar fora do país. “Viemos de uma comunidade carente, na favela do coque, em que a violência e o trá co predo-
Arquivo/Paulo Cavalcante
Luhan já tocou para o Papa e eventos da Unicef, em viagens internacionais. No Brasil, com grandes nomes, como Dominguinhos e Elba Ramalho. Também para os ex-presidentes Lula, Dilma e o atual, Jair Bolsonaro
minava em todo canto. E surgir essa oportunidade no meio disso tudo, é algo surreal para nossa realidade”, diz Luhan. Mas o músico pernambucano precisa de ajuda. Para auxiliar com as taxas e muitas outras despesas, ele criou uma 'vaquinha' virtual.
Para ajudar o Luhan a ultrapassar as fronteiras do Brasil e ser espelho na vida de outros jovens, pode depositar qualquer quantia na conta: Caixa Econômica (poupança) Agência: 2348. Operação: 013. Conta: 00030468-9. CPF: 033.324.614-43. G l e i k s on Fe r re i r a d e
S ou z a . O u , a c e s s ar a v a qu i n ha v i r tu a l e m : vaka.me/1151332. Mais detalhes no instagram @_luhanlucena_ “A arte tem a capacidade de mudar a vida de uma pessoa por completo”, Luhan Lucena o violinista prodígio, de Pernambuco para o mundo!
Jovem já tocou até para o Papa e hoje reside em BJ, até ir aos EUA Arquivo/dmartins
zada pela Unicef. Fui também para Portugal, participei de concertos na Argentina (Buenos Aires) e toquei para alguns presidentes Brasileiros. Também, faço parte de uma orquestra nomeaJornal Enfoco: Quais luga- da Sinfonieta, uma extenres você já passou com a são da UFPE na qual realizamos apresentações no música? Luhan Lucena: Na minha Teatro Santa Isabel em carreira musical, tive a Recife, mensalmente. Pelo projeto social oportunidade de viajar para vários locais pela chamado "música para Orquestra Criança Cida- todos" levamos a música dã, como Itália (Roma) por nos hospitais, asilos, orfatrês vezes: uma para reali- natos, presídios e outros zar uma apresentação ao que faziam pedidos. Papa Francisco na Capela Sistina do Vaticano; outra JE: O que é a bolsa de estupara uma gravação de um do e como ganhou? CD e DVD com a com a Luhan: Eu ganhei a bolsa violinista Yoko Kubo, e por para a Nicholls State Unim, para participar do versity em Louisiana. AtraPrograma Italiano " Prodi- vés de um professor da unigi - La musica è vita " reali- versidade de lá, que veio Luhan conversou com o Enfoco sobre quais lugares já se apresentou, o que é a bolsa de estudos e o que precisa para viajar em busca do seu sonho. Con ra:
para Pernambuco e me viu tocando e acabou gostando do meu talento e ofereceu a oportunidade. Ela é de 5 anos para me graduar em Bacharelado em Violino, cobrindo alimentação e estadia. “Eu ainda não tenho os recursos su cientes para viajar. Por isso a necessidade do apoio das pessoas”. JE: Quais são suas necessidades para ir estudar fora? Luhan: Apesar da Universidade cobrir estadia, alimentação e outras taxas durante 5 anos, eu ainda não tenho os recursos su cientes para ir. Minhas despesas são muitas e entre elas estão: a taxa SEVIS (Student and Exchange
Orquestra Sinfonieta, uma extensão da UFPE na qual realiza apresentações mensais no Teatro Santa Isabel em Recife
Vi s i t o r In f o r m at i o n System), renovação do meu passaporte, o visto, as passagens de avião para os Estados Unidos, Instrumento e entre outras. Por isso a necessidade do apoio das pessoas. “Meu objetivo principal é me formar, poder honrar o nome do nosso país e do nosso Estado”. JE: Qual o seu objetivo e
perspectiva com essa viagem? Luhan: Meu objetivo principal é me formar na universidade, poder honrar o nome do nosso País e do nosso Estado. Dá orgulho para minha família, motivar outros jovens que nem eu a fazer o mesmo, sei que é uma oportunidade que muita gente queria e tenho no meu coração, poder ajudar outros a irem futuramente.
Cultura
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B3: Belo Jardim - Ano 10 nº 100, julho de 2020
Ao som silencioso do luto, o músico e maestro Vavá Vieira, aos 84 anos, nos dá adeus Arquivo/O Meu Belo Jardim Da redação, Adenilson Barros
J
oão Vieira de Souza, 84 anos, mais conhecido por Vavá Vieira, nascido em Agrestina-PE, licenciado em Geogra a pela UFPE, músico desde 1944 da Banda Euterpina da sua cidade natal, e a partir de 1989 regeu voluntariamente a Filarmônica São Sebastião de Belo Jardim. Foi esta mesma escola de música, que no último dia 25 de junho anunciou sua morte em Recife, nas redes sociais. A paixão de Vavá pela música e pela transformação social era inegável. Por 20 anos, ensinou gratuitamente na escola de música de Belo Jardim, mesmo morando em Jaboatão dos Guararapes. Fazia o trajeto para a “Terra de Músicos” quinzenalmente com veículo próprio, a m de repassar aos alunos, um pouco da sua genialidade.
Recebeu duas vezes homenagens do Sesc Ler Belo Jardim em mostras musicais intituladas “Mostra de Música Vavá Vieira”, e também foi referenciado no V Encontro de Músicos de Belo Jardim. A Secretaria de Cultura de BJ, emitiu uma nota em que lamenta a morte dessa grande gura e diz que “foi com profundo pesar, que Belo Jardim recebeu a triste notícia do falecimento do Maestro Vavá Vieira”. Cita sua dedicação de vida “a música e a formação de centenas de músicos, além de exaltar a nossa Terra dos Músicos”. Conclui que deixará saudades, mas acima de tudo “o seu exemplo, sua abnegação e um legado que cará para história de Belo Jardim”. Comoção nas redes sociais No Instagram da Filarmônica São Sebastião, admiradores como o artista plástico Adones Valença comentaram “o maestro deixou um valioso legado
Desde 1989, Vavá esteve à frente da regência da Filarmônica São Sebastião de Belo Jardim
para a cidade, que foi a formação de diversos jovens na área da música”. O internauta e professor Vicente Leão diz ser “uma perda irreparável para todos nós que tivemos o privilégio de conviver e aprender com este grande homem”. O sepultamento ocorreu no cemitério do bairro Bom Conselho-BJ, sob aplausos de
gratidão, das pessoas que acompanharam o funeral. Pela inestimável perda, o Jornal Enfoco lamenta e se solidariza com a família, amigos e toda a classe artística que o músico representou e colaborou por tantos anos, e assim, perpetuou seu legado. Agora, faça a regencial do coral celestial, querido e eterno Vavá!
Por 20 anos, ele comandou a Filarmônica São Sebastião de Belo Jardim, voluntariamente