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CLIMA DE VIOLÊNCIA E BAIXARIA ABAFAM PROPOSTAS DOS CANDIDATOS

ELEIÇÕES

REPRODUÇÃO TV GAZETA

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Tropas federais e baixarias marcam 2º turno em Alagoas

Dantas e Cunha no debate mediado pelo jornalista Amorim Neto (C)

Clima de violência e troca de acusações abafam propostas dos candidatos ao governo

ODILON RIOS

Especial para o EXTRA

As eleições de 2022 são mais tensas e disputadas dos últimos anos em Alagoas. Por influência do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, autorizou o envio de tropas federais para 27 cidades. Ele foi informado do “cenário acirrado da disputa ao segundo turno no Estado, com a ampliação da violência, atrelado ao contexto de fragilidade institucional”.

Por causa do afastamento de Paulo Dantas (MDB) do governo, o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) e Arthur Lira pressionaram os juízes do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a pedirem tropas federais para todas as cidades. Por dois motivos: o comitê do senador tinha sido destruído por supostos apoiadores de Paulo Dantas e Alagoas estava sem governador, apesar de o vice José Wanderley Neto (MDB), aliado de Dantas e do senador Renan Calheiros (MDB), ter substituído o titular do cargo.

O debate entre os dois candidatos no 2º turno mostrou que a baixaria poderia incentivar atos de violência.

O último confronto na TV Gazeta na quinta, 27, atestou que, na briga pelo poder, valeu absolutamente tudo.

Rodrigo Cunha começou a falar sobre a concessão da água e do esgoto, decisão do então governador, hoje senador eleito Renan Filho (MDB). Cunha disse que o grupo de Paulo Dantas “vendeu a água do povo” e perguntou o que ele faria para reduzir a tarifa para o consumidor.

Dantas associou Cunha ao Governo Teotonio Vilela Filho, dizendo que naquela época não havia saneamento básico e Maceió tinha baixo atendimento na rede de esgotamento e água na torneira. O governador prometeu universalizar água e esgoto e incluiu nas promessas o Canal do Sertão, cujas obras começaram em 1992 e ainda não terminaram. O canal deve chegar a Arapiraca, ao menos é a programação do projeto. “Vamos fortalecer a agricultura familiar, a pecuária”, resumiu o governador.

Cunha rebateu: Dantas não tinha projeto para baixar o valor da água e da taxa de esgoto. Prometeu revisar os contratos, baixar os valores cobrados. E tratou como prioridade na gestão.

Dantas chamou Cunha de mentiroso, dizendo que o contrato não pode ser quebrado através de promessas realizadas na campanha. Falou em “estagiário do orçamento secreto” porque ele “recebeu R$ 54 milhões do Arthur Lira”, citando gasto de R$ 500 mil em combustível no gabinete do senador em Brasília.

Cunha rebate, diz que foi Dantas o citado em escândalo de corrupção na Assembleia, chama de ladrão, se associa ao desempenho da gestão do prefeito JHC (PL), promete levar iniciativas adotadas no município para todo o estado como a CNH Social, o Saúde da Gente, o Saúde da Mulher.

O governador diz que o senador é quem é o ladrão, reclama da agressividade da campanha, diz ser inocente nas investigações da Assembleia, fala da decisão do Supremo Tribunal Federal, que devolveu seu mandato. “O STF lhe desmascarou”. Acusa Cunha de ter comprado um apartamento de R$ 5 milhões com dinheiro do orçamento secreto.

E o senador volta a rebater, novamente chama Dantas de ladrão, repete as informações levantadas por investigação da Polícia Federal na Assembleia, afirma que após as eleições o governador será preso e terá de devolver o dinheiro desviado da Assembleia.

O nível do debate, que já era ruim, consegue ser ainda pior. Nem as intervenções do jornalista Amorim Neto, responsável por mediar o debate, melhoram as condições da discussão. Dantas e Cunha encaram um vale tudo, talvez por saberem quanto vale cada um.

O governador cita João Caldas, a família Pereira, “o maior bandido do Brasil” Arthur Lira, todos encalacrados com escândalos de corrupção. Insiste não ter enriquecido com o crime, diz ser um dos maiores produtores de leite de Alagoas, seus bens estão declarados no imposto de renda, nenhum programa do governo parou de funcionar apesar das ações de Rodrigo Cunha na justiça eleitoral, cita Lula, Renan Filho, diz ter lado, exige de Rodrigo Cunha sua posição na campanha presidencial, acusa o senador de traição na política.

Rodrigo Cunha lembra a traição de Paulo Dantas com a esposa Marina Dantas (Paulo foi pego em um hotel por agentes da Polícia Federal no quarto com uma mulher) e cita o pai, Luiz, que acusou o filho de corrupção. “Quem não respeita pai e mãe não tem respeito”. Fala dos óculos e dos dentes de Paulo Dantas, ele “vive de mamata”, é servido em bandeja por empregados.

E o governador piora as coisas: ladrão, estagiário do crime, mentiroso.

Uma única vez falou-se do afundamento dos bairros provocado por extração de sal-gema pela Braskem. Foi Rodrigo Cunha quem lembrou. Paulo Dantas desviou o assunto e terminou ali o drama dos moradores de três bairros da capital.

A lama cobriu os narizes.

GABRIEL

MOUSINHO n gabrielmousinho@bol.com.br

Hora de decisão

Será nesse domingo, dia 30, que Alagoas vai saber quem será o governador a partir de 1º de janeiro. Numa campanha tumultuada e recheada de agressões de parte a parte, o eleitor já deve ter escolhido em quem vai votar.

Até a véspera das eleições muita coisa ainda pode acontecer, e, pelo comportamento dos dois candidatos, nada será surpresa para o eleitorado que acompanhou o embate entre Rodrigo Cunha e Paulo Dantas durante toda a campanha política.

Na cola

A Operação Edema, que tantos transtornos tem causado nos últimos dias, tem apavorado certos personagens na Assembleia Legislativa. Alguns que supostamente participaram diretamente ou tiveram conhecimento das estranhas operações, já estão sendo intimados para prestar esclarecimentos na Polícia Federal.

Insônia

Na Assembleia Legislativa o clima é de apreensão, principalmente pela “visita” da Polícia Federal em mais de uma oportunidade, o que tem causado desconforto em alguns personagens. O inquérito, que rola desde 2019, pode ter seu desfecho a qualquer momento, aliado a pedido de prisão para pessoas supostamente envolvidas na contratação de servidores fantasmas.

Pra baixo

O comportamento do deputado Davi Maia, conhecido como grande opositor ao grupo do senador Renan Calheiros durante os últimos quatro anos, foi muito questionado dias atrás quando optou por se aliar ao grupo adversário. Uma meia volta na sua história política, analisam observadores.

Outro rumo

A decisão do Superior Tribunal de Justiça sobre o afastamento do governador Paulo Dantas só foi possível porque o cargo assim o exigia. Se houver deputados envolvidos na nomeação de mais fantasmas na Assembleia, a demanda deverá ser enviada para o Tribunal de Justiça de Alagoas.

CONJUR

Crueldade

Com salários astronômicos, conforme deixou bem claro a ministra Laurita Vaz no seu voto no pleno do Superior Tribunal de Justiça, os “beneficiados” recebiam migalhas dos seus apadrinhados.

Imprevisível

A eleição deste domingo é considerada como imprevisível, se considerar que em 1988 o senador Renan Calheiros já se considerava eleito prefeito de Maceió e, em 1990, governador de Alagoas. Perdeu nas duas vezes.

Desistindo

Como não deve ter circulado mais dinheiro na compra de votos, fato recorrente no primeiro turno, pode ser que a falta de grana desestimule parte do eleitorado alagoano.

Poço de mágoas

O senador Fernando Collor dá sinais de não querer mais conversa com o prefeito JHC. E tem suas razões para isso. Collor não teve reciprocidade na sua candidatura ao Governo de Alagoas.

Baixaria

Desde o início do Guia Eleitoral, salvo algumas exceções, não se viu outra coisa a não ser agressões entre os candidatos, transformando o objetivo de levar propostas ao eleitorado em um embate pessoal, onde até as famílias não foram poupadas.

Baixo nível

Nunca uma campanha em Alagoas baixou tanto de nível como essa para o governo. Foi ladrão pra cá, ladrão pra lá, além de adjetivos como mentiroso, cara de pau e outras generosidades entre os candidatos. Na eleição para presidente a coisa não é muito diferente e Bolsonaro e Lula disputam o voto dos indecisos com todas as armas que possuem.

Requentadas

Como o vale tudo já começou há muito tempo nesta campanha, notícias requentadas estão circulando nas redes sociais, como se isso modificasse o voto do eleitor.

ARQUIVO

De olho

Mesmo na temperatura alta nos bastidores durante a campanha, a vaga de Cícero Amélio, no Tribunal de Contas do Estado, já está sendo tratada com prioridade por alguns personagens. Pelo andar da carruagem, teremos novo conselheiro até o final do ano para gozar das delícias do cargo. Em alta

Se prevalecer o bom senso, o ex-secretário do Gabinete Civil Fábio Farias deverá ser indicado para o cargo de Conselheiro do TC. Discreto, competente e com trânsito livre em todas as correntes políticas, bem que Fábio poderia assumir tão importante função no Tribunal de Contas.

Reta final

Até esse domingo novas denúncias podem inundar as redes sociais pelos candidatos Paulo Dantas e Rodrigo Cunha, que disputam palmo a palmo o governo de Alagoas. Como nos últimos dias denúncias se tornaram uma constante, inclusive no Guia Eleitoral, se espera que novos fatos mais comprometedores possam acontecer.

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