DIA DAS MÃES CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM| ESPECIAL DIA DAS MÃES | MAIO DE 2011
Beatriz Caliman
A gravidez tardia e seus riscos Páginas 2 e 3
MÃES DE CORAÇÃO Mulheres abandonam a carreira para se dedicar em tempo integral à criação dos filhos. Página 4
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Caderno Especial | Dia das Mães
Gravidez cada vez mais tardia Por diferentes motivos, muitas mulheres estão optando por adiar a gravidez. Envolvida com a carreira e vida pessoal, o sonho da maternidade é lavado adiante, podendo ser realizado em outra etapa da sua vida, onde se encontra o equilíbrio profissional, relacionamento estável, segurança financeira e, especialmente, a certeza sobre o desejo de ser mãe. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cerca de 20% das mulheres aguardam até os 35 anos para engravidar. Embora a idade média das mulheres ao se tornarem mães seja de 21,6, conforme dados do instituto, a maioria delas está abaixo dos 19 anos quando dá a luz ao seu primeiro filho. Na contramão da gravidez precoce estão as mães mais velhas e maduras, que retardaram a maternidade. De acordo com uma pesquisa do IBGE, que comparou o perfil das mães entre 1991 e 2000, o número de mulheres que dão a luz pela primeira vez com idades entre 40 e 49 anos apareceu com significativa relevância. Em 1991, as mães que tiveram o primeiro filho na meia idade eram 7.142 (0,67%) e, em 2000, somavam 9.063 (0,79%). As mães de primeira viagem, como é comum denominá-las, entre 40 e 49
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“As de mais de 40 anos tendem a ser bem resolvidas profissional e financeiramente, mais decididas e conscientes do ato de engravidar, cuidar e educar seus filhos, porém muito mais ansiosas e preocupadas com fatos relacionados a dificuldade para engravidar e problemas relacionados à gestação em si. As que engravidam cedo tendem a ser mais superficiais em suas definições de ser mãe e educar, menos zelosas na gravidez e menos afeitas a seguir a orientação médica. Menos ansiosas quanto a gestação, sempre acham que tudo dará certo de qualquer jeito. Menos propensas a aceitar o parto normal que as mais velhas, porém com maior probabilidade de alcançá-lo se quiserem”, define o ginecologista Alexandre Pupo Nogueira, lembrando que existem exceções em todas as idades.
anos, fazem parte de um segmento populacional com alta escolaridade: 59,1% tem oito anos ou mais de estudo e pertencem a famílias com alto poder aquisitivo (25,7% com rendimento mensal familiar de mais de 10 salários mínimos). Além disso, 58,8% são economicamente ativas e 79,3% estavam em algum tipo de relacionamento com o pai da criança. O ginecologista do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, referência em atendimento médico no Brasil, Alexandre Pupo Nogueira, explica que a idade em que a mulher se torna mãe está diretamente ligada a sua condição sócio-econômica. “Em um hospital público, que atende grupos menos favorecidos, encontramos poucas mulheres engravidando em idade avançada acima de 35 anos. Normalmente estas mulheres acabam tendo filho em idades menores por consequência de falta de informação, entre outros motivos. Nos grupos sócio-econômicos mais favorecidos, ocorre o oposto, visto que se privilegia a carreira profissional. A gravidez é deixada para um momento onde a mulher se sente mais estabilizada. Estou simplificando um pouco, mas geral é isso que vemos acontecer”, comenta.
As mães quarentonas
Idade avançada pode dificultar fertilidade A mulher que decide engravidar pela primeira vez tardiamente enfrentará boas probabilidades de se ver frente à dificuldade de engravidar. Ela nunca provou ser capaz de engravidar e esteve por muito tempo sujeita a riscos diversos que levam ao surgimento de doenças que podem afetar a fertilidade, como endometriose, miomas e adenomiose – doenças que tendem a ser mais comuns após os 30 anos de idade. Quanto mais tempo demora-se para engravidar, maior a probabilidade de ter uma delas. “Existem também as infecções genitais que podem levar a oclusão das trompas. Mulheres que casam mais tarde ou deixam para ter filhos mais tarde acabam tendo maior tempo de exposição a fatores de risco para estas infecções”, informa o ginecologista.
Para ele, a idade da mãe pode interferir na criação e na educação dos filhos, considerando que os cuidados extremos – demais ou de menos – podem ser perigosos para as crianças, embora o essencial para a criação do filho esteja na formação da mãe. “O que vale é a educação que esta mulher teve e carrega com ela, bem como o apoio familiar. Penso apenas que mulheres muito jovens tendem a ser mais imaturas e isso reflete na responsabilidade. As jovens sentem menos responsabilidade pela criança que as mais velhas. E as mais velhas tendem a dar mais valor a estar junto de seu filho e acompanhá-lo ao longo de seu desenvolvimento”, garante.
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Quanto mais se avança na idade para a gestação, maiores são os riscos para a mãe e para o bebê, pois nessa idade a mulher está suscetível a presença de síndromes genéticas ligadas a erros no número de cromossomos, informa o ginecologista Alexandre Pupo Nogueira. “É importante esclarecer que a gravidez traz uma sobrecarga sobre o corpo da mãe. O feto adquire todos os seus nutrientes e substâncias necessárias a sua formação do corpo e sangue da mãe. A gravidez causa aumento na quantidade de água e sangue total do corpo materno, obrigando o coração a bombear com mais força que o habitual e trabalhar com certa sobrecarga. No evoluir da gestação, o aumento do útero causa aumento nas pressões intraabdominais e torácicas dificultando a respiração. O peso aumenta, forçando articulações e coluna. Em idade avançada, o corpo da mulher já não apresenta tanta força para resistir a estas demandas excessivas e pode reclamar. Aos 40 anos, algumas mulheres já apresentam rarefação óssea – a osteopenia, eventualmente diabetes, pressão alta e outras doenças comuns para esta
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Primeira gravidez e tardia impõe riscos Fotos Divulgação
faixa etária, que podem agravar com uma gestação. Além disto, há um aumento na incidência de doenças cromossômicas pelo fato de que os óvulos nesta fase já não conseguem dividir seus cromossomos tão bem como antes, resultando em maiores riscos que podem ocasionar em Síndrome de Down e outras síndromes”, explica. O médico esclarece também que o risco é maior para as mulheres que estão em sua primeira gravidez, ao contrário da mulher que já teve filhos e agora engravida novamente por volta ou após os 40 anos, pois já mostrou ser capaz de levar suportar uma gestação. “O corpo desta mulher já passou pelo menos uma vez pelas alterações da gravidez e, portanto, conhece o que vai ocorrer. Uma mulher que nunca engravidou antes não foi testada no quesito gravidez.
Alexandre Pupo Sendo assim, não sabemos se ela é fértil e tem condições de engravidar. E mais, uma mulher que nunca antes engravidou, e agora quer ou realmente engravida após os 40 anos, tem uma maior possibilidade de já ter alguma doença que seja danosa a gestação ou que leve a um aumento de risco para esta gestação, como miomas, adenomiose, osteopenia, hipertensão, diabetes, hipotireoidismo ou doenças infecciosas genitais. Porém, se estes fa-
tores não existirem e ela biologicamente comportarse aos 40 anos como uma mulher de 30, nenhum problema é esperado”, afirma. Os riscos de uma gestação após os 35 e 40 anos são relacionados a doenças crônicas que podem aparecer como hipertensão, diabetes, hipotireoidismo, problemas na capacidade de nutrir o feto, levando a osteopenia mais acentuada e doenças específicas da gestação que nesta idade se
tornam mais comuns, como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia - pressão alta específica da gestação e que ocorre geralmente após o sétimo mês de gravidez. Há ainda riscos relacionados ao parto, visto que os ossos que formam a bacia tendem a se consolidar diminuindo a capacidade da bacia se adequar ao parto vaginal. “O grande benefício é o fato da gestante ser mais madura e, portanto, está pronta a seguir as orientações médi-
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cas. Por estar mais estabilizada na vida, tende a ter melhores condições de manter alimentação e hábitos saudáveis durante a gestação”, aponta o ginecologista. Do ponto de vista exclusivamente biológico, o corpo da mulher está mais preparado e enfrenta menores dificuldades quando a gravidez ocorre entre 21 a 29 anos. A fertilidade das mulheres passa a cair após os 29 anos e ainda mais após os 39 anos. Conforme o especialista, após chegar aos 40 anos, a taxa de gravidez natural na população geral cai consideravelmente, sendo muito rara gestação natural após 45 anos, embora essa possibilidade não seja descartada. “Aos 50 anos, uma boa parte das mulheres brasileiras estão na menopausa e não conseguem mais produzir óvulos. As que ainda menstruam terão óvulos de baixa qualidade que dificilmente serão fecundados. E ainda que o sejam, passa a existir um risco real de alteração cromossômica como a Síndrome de Down e outras”, afirma.
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O amor do filho ao invés do trabalho Beatriz Caliman
BEATRIZ CALIMAN
Acompanhar o desenvolvimento dos filhos é uma tarefa árdua para as mulheres no mundo atual. Dos primeiros passos às primeiras palavras, não há nada mais emocionante para uma mãe do que poder acompanhar de perto cada fase de desenvolvimento do filho. Mas nem sempre isso é possível. Afinal, para muitas mulheres, não é fácil desligar-se do trabalho e da carreira. Diante dos contratempos, a cachoeirense Marcela Bruneli, 28 anos, largou a profissão de comerciária para se dedicar totalmente a seu filho, nascido há um ano e cinco meses. "Ser mãe é a melhor coisa do mundo. Uma experiência única", contou, emocionada, a mãe de Hugo Bruneli. Com a chegada da criança, ela explicou que suas responsabilidades aumentaram. Mas isso não é motivo de desânimo e sim de orgulho para ela. "Minha vida é totalmente dedica-
da ao Hugo", disse Marcela. A situação de Marcela é comum. Uma recente pesquisa, da Fundação Perseu Abramo e do Sesc, mostrou que, entre as entrevistadas, 30% largaram os empregos porque ficaram grávidas ou para se dedicar às crianças. Contribui para isso, em parte, outra ideia ainda forte nos dias atuais, a de que os homens devem sustentar a casa. Com isso concordam 51% das mulheres e 62% dos homens. SALÁRIO MENOR Segundo estudo da Universidade de São Paulo (USP), divulgado no ano passado, trabalhadoras com filhos pequenos têm, em média, no Brasil, salário 27% menor que o de suas colegas sem filhos. O estudo mostra que, apesar de todos os avanços dos últimos anos, as mulheres continuam sendo o maior objeto de preconceito nas empresas brasileiras, seguidas pelos idosos e por menores de 25 anos.
Como antigamente: mães em tempo integral - cada vez mais mulheres no país deixam seus empregos para se dedicar exclusivamente aos filhos