Educação Cultura Ciência e Tecnologia Meio Ambiente Saúde Economia Ano VIII - Nº 257
16 a 23 de julho/2018 Serra/ES
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Com rodovias precárias, soja e milho ganham maior vazão sobre trilhos Pág. 12 HAROLDO CORDEIRO FILHO
Jovens doutores encaram a fila do desemprego no Brasil Pág. 7
Para economista, Brasil voltará ao Mapa da Fome da ONU Pág. 11 A história do primeiro barão negro do Brasil Império Pág. 10 JORGE PACHECO
Tudo sobre os bastidores da política Pág. 5 FOTO: SHUTTERSTOCK
E agora?
As conquistas do movimento LGBT no Brasil e no mundo Pág. 11
Baixa qualidade
do ensino afeta produtividade Pág. 4
2fatosMEIO AMBIENTE & notícias
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O custo do desmatamento Estudo calcula que enfraquecimento de leis ambientais no Brasil pode gerar perdas de US$ 5 trilhões em compensações de CO até 2050 2
Em busca de apoio parlamentar da bancada ruralista, que possui 209 deputados e 26 senadores, o governo do presidente Michel Temer vem flexibilizando leis ambientais para favorecer a produção agropecuária e mineral. As consequências dessas iniciativas, porém, tendem a ser nefastas. Caso chegue ao extremo, o enfraquecimento das políticas de proteção ao meio ambiente pode gerar um custo global de US$ 5 trilhões (o equivalente a mais de R$ 19 trilhões) em compensações de emissões de CO2 até 2050. O alerta é do estudo “The threat of political bargaining to climate mitigation in Brazil” (“As ameaças da barganha política para a mitigação climática no Brasil”, em tradução livre), divulgado na Science Climate Change, uma das principais publicações sobre mudanças climáticas do mundo. “Esse é o quadro caso as ações brasileiras de controle ambiental sejam extintas. Eliminar o Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, como sinalizou o presidenciável Jair Bolsonaro, levaria a essa situação”, diz Raoni Rajão, coordenador do laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos dez pesquisadores
brasileiros que assinaram a pesquisa. Caso as projeções mais pessimistas se confirmem, a área desflorestada no Brasil, em 2050, totalizaria 1,6 milhão de km², uma perda de aproximadamente um terço da cobertura florestal do País. Na prática, uma quantidade enorme de CO2 estocada nas florestas iria para a atmosfera, o que prejudicaria o cumprimento do Acordo de Paris, assinado pelo Brasil e outros 195 países, em 2015. No tratado, as nações se comprometeram em reduzir as emissões de CO2 e limitar o aquecimento global em 2°C. Com o desmatamento projetado no pior cenário, os países teriam de diminuir a atividade industrial e investir em tecnologias caras para compensar as emissões, o que geraria a perda trilionária. A pesquisa verificou que, no período de 2005 a 2012, o desmatamento da Amazônia caiu consideravelmente, de 19 mil para 4,6 mil km² ao ano. A partir de 2012, no entanto, os números voltaram a subir. “Quando o Brasil assinou o Acordo de Paris e se comprometeu a chegar em 2030 com desmatamento zero, ninguém imaginava que os índices voltariam a subir e quase dobrar. Algo novo aconteceu nos últimos anos e projetamos isso no
Floresta nativa da Mata Atlântica
estudo”, diz Roberto Schaeffer, líder da pesquisa e professor do
programa de pós-graduação e pesquisa de engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Esse período de aumento do desmatamento, que vai de 2012 a 2017, baseou o cenário chamado de “intermediário” pelos pesquisadores. Se ele se mantiver, o desmatamento anual crescerá para 2 17 mil km na Amazônia e 15 mil 2 km no Cerrado até 2030, o que trará um prejuízo de US$ 2 trilhões. Já o cenário otimista foi chamado de “forte” pelos especialistas e é baseado em políticas ambientais rígidas, adotadas no Brasil entre 2005 e 2011. Nele, o desmatamento da Amazônia e do Cerrado cairia para menos de 4 mil km2 ao ano. Esse seria o quadro e com menor custo para as nações. Realizá-lo, no entanto, depende de um governo com boa vontade. “Não podemos criar novas leis que facilitem o desmatamento. Precisamos endurecê-las e garantir que elas sejam cumpridas com o aumento da fiscalização”, diz Schaeffer.
Jornalista Responsável: LUZIMARA FERNANDES redacao@jornalfatosenoticias.com.br Produtor-Executivo: HAROLDO CORDEIRO FILHO jornalfatosenoticias.es@jornalfatosenoticias.com.br Representante Comercial: MÁRCIO DE ALMEIDA comercial@jornalfatosenoticias.com.br fatos & notícias Diagramação: LUZIMARA FERNANDES (27) 3070-2951 / 3080-0159 / 99620-6954 jornalfatosenoticias.es@gmail.com Facebook Jornal Fatos e Notícias Serra - ES CNPJ: 18.129.008/0001-18 Filiado ao Sindijores
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"Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor"
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Por que os flamingos são rosa?
CULTURA 3 fatos & notícias
Programação especial para a criançada nas férias de julho FOTO: DIEGO ALVES
FOTO: PAULO NAYLAN CHAVES FREITAS
Dieta determina a cor dos flamingos
Planetário de Vitória, campus da Universidade Federal do Espírito Santo
dieta. Estes estão presentes em algas e crustáceos que os flamingos costumam comer em zonas úmidas e áreas aquáticas. Carotenoides são pigmentos orgânicos encontrados em plantas, vegetais e organismos fotossintéticos que os animais adquirem através de sua dieta. Aqueles que consomem flamingos tendem a serem de tons vermelhos e laranjas. Os carotenoides, sendo lipossolúveis, dissolvem-se no fígado desses animais entre as gorduras e são armazenados como depósitos nas penas, dandolhes uma cor resultante do acúmulo dessas
substâncias. Portanto, à medida que os flamingos crescem, a cor de suas penas torna-se mais intensa devido ao acúmulo dessas substâncias. As cores variam dependendo do tipo de carotenoides que comem. Isto é o que determina que existam diferentes populações destes animais em todo o mundo com cores diferentes. A cantaxantina é o tipo de substância que dá aos flamingos aquela cor rosada tão característica em suas espécies. Se esses animais parassem de comer essa substância, voltariam para a cor branca.
Site de Curiosidades
um acervo lúdico pedagógico que promete levar os visitantes a uma viagem pelos conceitos científicos relacionados à Física, Astronomia, Ciências e Educação Ambiental. Haverá oficinas, rodadas de jogos e brincadeiras. Instigando a curiosidade e desmistificando a ciência física a partir de eventos e fatores do cotidiano, a Escola da Ciência-Física, localizada no Parque
Moscoso, traz uma série de atividades e oficinas durante as férias. A programação é diária, de segunda a sexta-feira. Com visitas monitoradas por um incrível acervo sobre os ecossistemas capixabas e sobre a cultura de Vitória e do Espírito Santo, a Escola da Ciência, Biologia e História, localizada no Sambão do Povo, também tem programação diária de segunda a sexta.
FOTO: GUIOMEDICE PAIXÃO
A natureza é cheia de animais incríveis e belos. Um exemplo disso são os flamingos, um tipo de ave que pode ser muito exótica porque tem uma cor rosa incomum entre outras espécies de animais do mundo. Você sabe por que essas aves adquirem essa cor apesar de nascerem como pintos cinzentos? As penas dos flamingos recémnascidos são cinzas, mas quando começam a crescer, tornam-se brancas e às vezes começam a aparecer tons de rosa, laranja e vermelho. Isto é devido à comida que eles se a l i m e n t a m . Especificamente para o teor de carotenoides da sua
Entre segunda (16) e terçafeira que vem (24), acontecem as férias escolares de julho na rede municipal de ensino de Vitória. Com o tempo livre, os cerca de 50 mil estudantes poderão aproveitar as atrações e as estruturas dos quatro Centros Municipais de Ciência e Educação, que vão oferecer uma programação especial de férias, com atividades voltadas para públicos de todas as idades. No Planetário de Vitória, no campus da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em Goiabeiras, a equipe preparou uma série de atividades em diversos horários. São sessões de observação do espaço, brincadeiras e oficinas variadas para crianças, exibição de filmes e muitas outras atrações. Na Praça da Ciência, o público vai poder conferir
14 de agosto
Dia do Combate à poluição
Praça da Ciência
4 EDUCAÇÃO fatos & notícias
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Estudo diz que baixa qualidade do ensino afeta produtividade nacional Pesquisa concluiu que maior acesso ao ensino não se reete nos indicadores de qualidade da educação nem na melhoria da produtividade empresarial A discussão é antiga: a escola deve preparar alunos para o mercado de trabalho ou para questões mais amplas da existência humana? Não existe uma resposta definitiva para tal dilema entre os especialistas, e as instituições de ensino têm buscado diferentes caminhos, de acordo com seu público e sua proposta pedagógica. No mundo todo, países que saíram do subdesenvolvimento para sociedades altamente produtivas declaram que o investimento em educação foi fundamental para chegar ao topo do ranking do mundo competitivo entre os “emergentes” — casos de Coreia do Sul, Indonésia, África do Sul e outros. Por aqui, a educação tem sido responsabilizada negativamente por quase tudo na carreira das crianças e jovens – do fracasso escolar ao fracasso no trabalho, passando pela insatisfação na vida pessoal. E agora jogam mais lenha nessa fogueira sem vaidades: a escola e a faculdade não têm ajudado na produtividade das empresas brasileiras. É o que indica o estudo “Renda e produtividade nas últimas décadas”, da Série Panorama Brasil, produzido pela consultoria Oliver Wy m a n c o m o I n s p e r
Instituto de Ensino e Pesquisa. Foram analisados diversos fatores como Produto Interno Bruto (PIB), evolução da renda e sua distribuição, capital físico, infraestrutura, capital humano, qualidade no ensino, produtividade, ambiente de negócios, alocação de recursos, gestão empresarial, abertura comercial e perfil demográfico. Analisando a evolução dos principais indicadores relacionados à renda e à produtividade nas últimas décadas, resumiram-se os fatores que trouxeram o Brasil à situação atual. E concluiu-se que, apesar dos avanços sociais — como a retirada de 17 milhões de pessoas da miséria e mais gente com acesso ao ensino em geral —, todas essas conquistas louváveis não se refletiram nos indicadores de qualidade da educação nem na melhoria da produtividade empresarial. No primeiro caso, na Av a l i a ç ã o E s c o l a r (Programa Internacional de Av a l i a ç ã o – P i s a ) d a Organização para a C o o p e r a ç ã o e Desenvolvimento Humano (OCDE), fomos os últimos colocados de uma amostra de 43 países, segundo o estudo. Em 2015, tivemos uma melhora relativa, mas, ainda assim, ficamos em 60º
lugar entre 67 países. No segundo ponto, a produtividade no Brasil não cresce por motivos conhecidos, como a qualidade da educação, mas também devido à infraestrutura, ao ambiente de negócios e à abertura comercial. Pior, os i n d i c a d o r e s d e produtividade caíram. Entre meados das décadas de 1990 e 2 0 1 0 a n o s s a produtividade decresceu de forma acentuada em comparação com a americana, caindo de 69%
em 1996 para 48% em 2014. Ou seja, tivemos avanços nas políticas educacionais, como o índice de alfabetização ter crescido 6% (de 86% da população, no ano 2000, para 92% em 2015) e a média de anos de escolaridade (para quem tem 25 anos ou mais) ter quase dobrado (98%, entre 1990 e 1996), passando de quatro anos de estudos, em média, para oito anos. Entretanto, isso não se refletiu em ganhos qualitativos nos meios de produção. Do ponto de vista da literatura acadêmica, o capital humano pode ser interpretado como a qualificação dos trabalhadores. E tem como seus principais determinantes o grau de escolaridade e a qualidade da educação. A teoria diz que pessoas com maior nível educacional tendem a ser mais produtivas e mais capazes de utilizar o capital físico disponível. Mas é preciso estar atento aos pré-
requisitos em jogo, que repetimos aqui: grau de escolaridade e qualidade da educação. O Brasil, de acordo com o estudo, marcou um gol no aumento da escolaridade, mas foi goleado na qualidade do ensino. O nosso capital físico disponível – infraestrutura e equipamentos das empresas, entre outros — também não colabora pela ineficiência e defasagem tecnológica, o que derruba os ganhos do capital humano. Sônia Colombo, diretora da Humus Consultoria e autora de vários livros de gestão educacional, ao analisar o resultado do estudo da Wyman/Insper, diz que “existe atualmente uma grande preocupação pelo tempo da criança e do jovem na escola como se fosse resolver os problemas educacionais”. Para ela, o “aumento do tempo na escola não significa necessariamente qualidade no aprendizado”. É necessário investir na
qualidade da aprendizagem e não apenas no ensino, insiste, lembrando que “essa é uma discussão antiga entre os educadores”. Colombo opina ainda que as escolas de educação básica são pressionadas pelos pais e pelo mercado para aprovar alunos nos vestibulares e ranquearem bem nos exames como Enem, o que “interfere no projeto pedagógico”. Escolas que não pontuam bem no Enem se defendem justificando que não são conteudistas, privilegiando a formação integral do aluno. E as instituições de ensino superior se dividem entre a vocação muito acadêmica e a necessidade do mercado empresarial (formação de mão de obra). “Acredito que ambos os modelos, mais voltado ao mercado ou mais focado na formação cultural, atendem a diferentes necessidades dos alunos e vão sempre existir. Essa pluralidade é importante para a nossa sociedade”.
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BLOG DO PACHECO
Enquanto isso, na República das bananas...
A Justiça Burlesca A tentativa frustrada de libertar o expresidente Lula expõe o comportamento errático do Judiciário brasileiro Amigos, o comportamento de altos e baixos nas decisões do Judiciário está deixando o cidadão brasileiro fulo da vida o que, até, nos lembra o “kiko” do seriado Chaves quando se irrita: “páaaare está me deixando louuuco! E, como agora pode, já surgiram diversas charges. Uma delas tem, numa das mãos, a estátua da Justiça segurando a balança, símbolo do equilíbrio, na outra, um ioiô. Um dos muitos memes que circularam pela internet depois da sequência de acontecimentos provocada pela tentativa frustrada de petistas de libertar o expresidente Lula, o desenho reflete a perigosa imagem que a Justiça, infelizmente, está consolidando.
FOTOS POLÍTICOS: REPRODUÇÃO INTERNET
O episódio do ioiô refere-se ao “lula-preso-lula-solto”, d e f l a g r a d o p e l o des embargador Rogério Favreto no dia 8. Pode ter sido o evento mais ridículo protagonizado pela Justiça, mas está longe de ser o único. Em agosto do ano passado, num período de menos de 24 horas, o empresário Jacob Barata, do ramo de transporte rodoviário no Rio de Janeiro, foi solto, depois foi preso e depois foi solto novamente. Há divergências dentro de um único tribunal – como o Supremo Tribunal Federal (STF), cujas turmas tomam decisões diametralmente opostas – e divergências igualmente viscerais entre tribunais diferentes. A Justiça está de férias, mas voltam a circular novas notícias sobre o Aécio Neves (PSDB) que, também vira réu
jorgepachecoindio@hotmail.com
No dia em que seria o seu 100º aniversário (18 de julho), nós nos lembramos do ex-presidente da África do Sul como um defensor dos direitos humanos, da dignidade e da liberdade. Imagine o impacto que poderíamos ter se todos seguissem seu exemplo e tentassem fazer diferença nas vidas de outras pessoas e na vida do País. Na hora do voto pensem nele! no STF, e está feito mais um imbróglio que respingou contagiando o Alckmin. É que o Aécio, com seu infortúnio, espalha o mau agouro entre investigados: porque já não é preciso um “ato de ofício” para acabar no tribunal. O senador Aécio Neves, até há pouco o nome mais vistoso e eleitoralmente poderoso do tucanato, virou réu no STF pelos crimes de corrupção passiva e obstrução da Justiça. A decisão, antes do recesso jurídico, foi da Primeira Turma da Corte com acachapante 5 votos a 0. E foi a primeira vez, desde o início da Lava Jato, em 2014, que um tucano entrou para o rol de políticos processados no STF, categoria em que já se encontram há bom tempo senadores do PT e do MDB. A queda de Aécio Neves é um estrondo! Das urnas presidenciais de 2014, ele saiu com 51 milhões de votos,
tornou-se o líder da oposição ao governo petista e, com o impeachment de Dilma, virou o principal fiador do governo de Michel Temer. Presidente do PSDB por quatro anos, governador de Minas Gerais por dois mandatos e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aécio Neves, além da carreira política, exibia um notável pedigree como neto de Tancredo Neves. Às vésperas das eleições presidenciais mais imprevisíveis dos últimos trinta anos, a desgraça do tucano passa a ser também a desgraça de seu partido, já suficientemente desgraçado por conta própria. Gente, não é que a prisão de amigos do presidente Michel Temer levou a investigação dos portos para a porta do Palácio do Planalto? De nada adiantou a tentativa do governo de intimidar o ministro do Supremo
fatos & notícias
que se colocaram à disposição dos partidos, mas ainda não viraram précandidatos, e aqueles que já desistiram da disputa e o que estão na fila.
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Jorge Rodrigues Pacheco é Advogado, Jornalista e Radialista
POLÍTICA 5
Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, relator do inquérito que apura se empresas pagaram propina em troca de um decreto sobre portos, assinado pelo presidente. Por decisão de Barroso, a Polícia Federal prendeu o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima Filho, ambos velhos amigos de Temer e suspeitos de atuar como laranjas do presidente. A PF também prendeu Wagner Rossi, que presidiu a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) com aval de Temer, e o empresário Antônio Celso Grecco, dono d a R o d r i m a r, e m p r e s a suspeita de distribuir propina a assessores presidenciais em retribuição à edição do decreto. É gente, o cerco judicial está se fechando, e a leva de prisões é um indicativo de que o presidente Temer pode enfrentar uma nova denúncia antes de alguma tentativa de disputar a reeleição. A eleição é em outubro, e o registro oficial dos candidatos é só em agosto. Mas a movimentação de políticos e partidos já é forte em torno de nomes para disputar a sucessão do presidente. Pelo menos 17 políticos formam uma lista de pré-candidatos declarados ao cargo. Há também políticos
Aldo Rebelo (Solidariedade)
Aldo Rebelo foi deputado federal por seis mandatos consecutivos (1991 a 2015) e presidiu a Câmara entre 2005 e 2007. De 2004 a 2005, foi ministro das Relações Institucionais no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na gestão Dilma Rousseff, comandou os ministérios do Esporte, da Ciência e Tecnologia e da Defesa.
2006, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Disputou a Presidência duas vezes (1998 e 2002, derrotado em ambas). Foi governador do Ceará, prefeito de Fortaleza e deputado estadual e federal pelo Ceará. Já se filiou a sete partidos (PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e PDT).
Cristovam Buarque (PPS)
Álvaro Dias (Podemos)
Álvaro Dias (Podemos-PR) cumpre o quarto mandato de senador (três consecutivos desde 1999 e um de 1983 a 1987). Entre 1987 e 1991, foi governador do Paraná. Começou a carreira política no PMDB. Depois passou por PST e PP, até se filiar ao PSDB, em 1994. Em 2001, foi expulso por agir contra orientações do partido, mas retornou em 2003 e voltou a sair em janeiro de 2016, para entrar no PV. No ano seguinte foi para o Podemos, antigo PTN, partido pelo qual anunciou a pré-candidatura à Presidência da República em novembro, durante evento no Rio de Janeiro.
Ciro Gomes (PDT) Atual vice-presidente do P D T, C i r o G o m e s f o i ministro da Fazenda entre setembro de 1994 e janeiro de 1995, período do final do governo de Itamar Franco e início do governo Fernando Henrique Cardoso. Foi também ministro da Integração Nacional, entre janeiro de 2003 e março de
Cristovam Buarque é exgovernador do Distrito Federal (1995 a 1999) e exministro da Educação (20032004), no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Exerce o segundo mandato de senador. É formado em engenharia mecânica, tem mestrado em ciências econômicas e doutorado em economia e desenvolvimento. Também já foi reitor da Universidade de Brasília (UnB), entre 1985 e 1989. Antes de entrar no PPS, foi filiado ao PT e ao PDT.
Nota do Blog Por enquanto ficamos com esses quatro que considero os principais pré-candidatos à sucessão de Michel Temer. Mas, agora é, todos nós brasileiros sofridos e decepcionados com a atual política, colocarmos novos nomes nas urnas. Nomes de pessoas comprometidas com a honestidade, com a ética e sem resquícios de corrupção, seja ativa ou passiva. Enfim, temos que mudar e execrar essa cambada que aí está. NÃO VA M O S R E E L E G E R NENHUM DELES!
Jorge Pacheco
6 TECNOLOGIA 16 a 23 de julho de 2018 fatos & notícias
Companhia canadense Astrônomos descobrem testa o veículo voador 12 novas luas na órbita de Júpiter BlackFly
FOTO: ©TERRAFUGIA
A companhia canadense Opener testou o seu protótipo de "carro voador" – o multicóptero BlackFly. A máquina tem quatro metros de comprimento e 1,5 metro de altura. Pode transportar um passageiro com peso máximo de 114 quilogramas e dois metros de altura. O BlackFly é muito parecido com um carro, mas não seria muito correto o chamar de carro, já que não t e m r o d a s . O s desenvolvedores de tais multicópteros posicionam
os seus produtos como veículos de "transporte pessoal", que visa concorrer com os meios de transporte tradicionais, nota a revista Forbes. O BlackFly tem um motor elétrico e, conforme os criadores do protótipo, é capaz de cobrir 40 quilômetros sem carregamento e desenvolver a velocidade de até 62 km/h. A direção de voo é efetuada por meio de um joystick e equipamento eletrônico a bordo. A decolagem e a aterrissagem do
multicóptero são automatizadas e podem se efetuar tanto no terreno, como na água. Os designers asseguram que durante os trabalhos no protótipo foram efetuados cerca de 1,4 mil testes de voo, somando ao todo 19,3 mil quilômetros. A companhia já recebeu a licença para exploração do aparelho nos EUA: as autoridades classificaram o BlackFly como "veículo voador superleve".
TIM agora tem ligações ilimitadas em plano de baixo custo Fora isso, consumidores têm mensagens e ligações ilimitadas em aplica vos como WhatsApp e Facebook Messenger – sem consumo da franquia de dados A TIM renovou mais uma vez o portfólio de pré-pago e anunciou na terça-feira (17) o pacote de ofertas semanais com chamadas ilimitadas off-net (para qualquer operadora) nos planos PréSmart de franquia de dados 1 GB por R$ 9,99 (por sete dias) e de 1,5 GB por R$ 14,99 (também por uma semana). Segundo a operadora, a inclusão do recurso é automática também para quem já é cliente. Antes, as chamadas ilimitadas só estavam disponíveis nos pacotes pré-pagos mais caros. Além do novo recurso, os
após o término do pacote de dados. De acordo com o head de marketing consumer, Renato Ciuchini, pesquisas recentes feitas pela TIM mostraram que havia a demanda ainda por ligações tradicionais, FOTO: POIKE/THINKSTOCK embora as chamadas OTT ilimitadas já estivessem disponíveis. Os usuários podem ainda ganhar bônus de dados que podem chegar a até 1 GB adicional por semana se renovar a recarga a cada sete dias – a cada renovação da em zero-rating. recarga, o cliente ganha 250 A companhia afirma que MB adicionais na franquia. mantém o benefício mesmo consumidores já tinham mensagens e ligações ilimitadas utilizando os aplicativos over-the-top WhatsApp e Facebook Messenger sem consumo da franquia de dados – ou seja,
Júpiter é o planeta com o maior número de luas do Sistema Solar, e a lista de objetos circulando a órbita do gigante gasoso acaba de ficar ainda maior. Astrônomos anunciaram nesta terça-feira (17) a descoberta de 12 novos satélites ao redor de Júpiter. Duas destas novas luas já haviam sido anunciadas em junho do ano passado, mas só agora tiveram sua existência comprovada. Outras nove estão localizadas numa órbita bem distante de Júpiter e em movimento retrógrado – isto é, giram na direção oposta à do planeta. No meio dessas nove luas há uma que os cientistas estão chamando de "excêntrica". O astro recebeu o nome de Valetudo, em referência à bisneta do deus romano Júpiter, e é o único satélite deste grupo que gira na mesma direção de Júpiter. Ou seja, ele está na contramão das outras nove luas da mesma região. A descoberta foi feita pelo Instituto de Ciência de Carnegie, em Washington, nos Estados Unidos. Os cientistas observaram as 12 novas luas pela primeira vez no ano passado, mas o processo de validação da descoberta, que inclui o uso de múltiplos instrumentos e telescópios diferentes ao redor do mundo, só foi concluído neste ano. A equipe liderada pelo
FOTO: NASA/JPL
astrônomo Scott Sheppard encontrou as 12 novas luas usando o telescópio Víctor M. Blanco, que fica no O b s e r v a t ó r i o Interamericano de Cerro To l o l o , n o C h i l e . O s cientistas estavam, na verdade, procurando por objetos pequenos e mais distantes, fora do Sistema Solar, quando se depararam com os satélites na órbita de Júpiter. Agora, portanto, Júpiter possui 79 satélites conhecidos: as quatro gigantes luas galileanas, descobertas por Galileu Galilei, que são Europa, G a n í m e d e s ( o u Ganimedes), Io e Calisto; as duas prógradas internas, que giram na mesma direção de Júpiter; as nove retrógradas externas, que giram na direção oposta; e a pequena Valetudo, na contramão das retrógradas. Todos os novos astros são extremamente pequenos se comparados com as gigantes luas galileanas, com cerca
de apenas 3 quilômetros de d i â m e t r o . A Va l e t u d o , segundo os cientistas, é a menor de todas. E já existem teorias que explicam a enorme quantidade de luas tão pequenas na órbita de Júpiter. Sheppard, o líder do estudo, afirma que a existência de satélites circulando o planeta em direções opostas pode ter causado colisões ao longo dos anos. Algumas dessas pequenas luas têm características muito parecidas, o que indica que, um dia, podem ter sido uma só lua maior. Diversas colisões ao longo de milhares ou milhões de anos podem ter dividido grandes luas em pequenas rochas que agora circundam o planeta. A descoberta ainda precisa ser avaliada e confirmada pela União Astronômica Internacional, grupo responsável por oficializar e batizar novos astros no Sistema Solar e além.
16 a 23 de julho de 2018
CIÊNCIA 7 fatos & notícias
FOTO: CECILIA TOMBESI/BBC NEWS
Crise e cortes na ciência levam jovens doutores a encararem o desemprego
O estatístico Paulo Tadeu Oliveira, de 55 anos, defendeu seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP) em agosto de 2008. Dez anos depois, ainda não conseguiu ingressar no mercado de trabalho. O pesquisador, que é deficiente visual, emendou três pós-doutorados em busca de especialização e experiência, mas não passou nas diversas seleções para o quadro de universidades públicas. Atualmente, está no quarto estágio pós-doutoral, desta vez sem apoio financeiro. Em busca de trabalho na iniciativa privada, ele consultou 18 headhunters (caçadores de talentos) para tentar enquadrar seu currículo ao mercado, mas encontrou respostas similares: o estatístico não possui experiência corporativa e, ao mesmo tempo, é considerado qualificado demais para as posições disponíveis. Em maio, ele relatou sua história à Comissão de Direitos Humanos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e espera resposta. Assim como Oliveira, diversos jovens doutores, ou seja, titulados recentemente, estão patinando profissionalmente. A concorrência continua crescendo: no ano passado, foram formados 21.609 novos doutores – ao todo, são 302.298, incluindo estrangeiros residentes no País. Em 2006, o País atingiu a meta de formar 10 mil doutores e 40 mil mestres por ano, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgados à época. Em 2014, o Plano Nacional de Educação estabeleceu uma nova meta: a formação de 25 mil
doutores por ano até 2020. O problema é que o principal destino de doutores, a área da educação – 74,5% dos empregados estão nas universidades ou institutos de pesquisa – sentiu os efeitos da crise econômica no País. O orçamento do Ministério da Educação (MEC) sofreu cortes de R$ 7,7 bilhões em 2015 e de R$ 10,7 bilhões em 2016, segundo dados da própria pasta. No Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), 44%, ou R$ 2,5 bilhões, foram congelados em 2017, de acordo com números do governo. A Capes, vinculada ao MEC, perdeu R$ 1 bilhão por ano desde 2015; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao MCTIC, também perdeu cerca de R$ 1 bilhão no caixa de 2015 para 2016, o que afeta programas de pós-doutorado, por exemplo. Nas instituições particulares, o quadro também é pessimista, com a demissão de milhares de professores – a Estácio de Sá, por exemplo, demitiu 1,2 mil docentes em dezembro de 2017 – e o trancamento de matrículas de alunos, que registrou um aumento de 22,4% entre 2011 e 2015, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Entre 1996 e 2014, o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) triplicou no País, informa o relatório Mestres e Doutores 2015, o mais recente da série. Elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o estudo revela que o
período também registrou um boom na formação de mestres (379%) e doutores (486%) no País. Um novo estudo em andamento no CGEE revela também a taxa de empregabilidade de doutores recém-titulados: entre 2009 e 2014, o índice se estabilizou em cerca de 73%, mas em 2016 caiu para 69,3%. "Historicamente, a taxa de emprego é mais estável, fruto de uma política constante, passando por governos variados. Apesar de ter cada vez mais doutores, podemos afirmar que até 2015 eles foram absorvidos pelo mercado, público e privado", diz a coordenadora da pesquisa, Sofia Daher, de 55 anos. "A queda não é drástica, mas sinaliza uma tendência nova. Houve uma redução considerável de concursos para professores universitários", disse ela à BBC News Brasil. O pesquisador Ronaldo Ruy, de 36 anos, é um retrato desse novo cenário: está desempregado desde a defesa de seu doutorado na Universidade Federal do Ceará (UFC), em 2016. "Estou buscando
POSTO MIRANTE AV. NORTE SUL
pós-doutorado para não tirar definitivamente os dois pés da ciência", diz ele, que fez cursos no Smithsonian Research Tropical Institute e no Florida Museum of Natural History, nos EUA. Atualmente dependendo da ajuda financeira da família, Ruy buscará trabalho fora de sua área de atuação. "O amor pela ciência não paga as contas. No meu caso particular, a situação chegou ao ponto de a minha família ter dado prazo para que eu saia de casa e, inevitavelmente, terei que seguir outro caminho profissional", conta. De acordo com uma investigação com dois mil estudantes de 26 países, publicada na revista Nature Biotechnology em março, os pós-graduandos têm seis vezes mais chance de sofrer ansiedade e depressão do que a população geral. Procurado pela BBC News Brasil, o Ministério da Educação diz não ser "verdade que falte recurso para as universidades". "A expansão das universidades federais trouxe impactos significativos para o orçamento do MEC, que precisam ser compreendidos em sua plenitude", escreve a pasta, em nota. Essa expansão, acrescenta, "foi realizada sem planejamento". "O ano de 2014 foi influenciado pelas eleições e por um momento econômico em que a gestão anterior não mensurou os efeitos dos gastos exagerados e sem controle. Diversos programas aumentaram recursos fora da realidade, fazendo com que a própria gestão anterior iniciasse as reduções, a partir de 2015", conclui. De 2003 a 2010, houve um salto de 45 para 59 universidades federais, o que representa uma ampliação de 31%; e de 148 para
274 campis/unidades, crescimento de 85%. A expansão também proporcionou uma interiorização – o número de municípios atendidos por universidades federais foi de 114 para 272, um crescimento de 138%, segundo dados do próprio MEC. Por sua vez, o MCTIC afirma que está atuando junto à equipe econômica para maior disponibilização de recursos. "Em anos anteriores, os esforços do MCTIC para recomposição orçamentária têm dado resultados, com a liberação de recursos contingenciados ao longo do ano. No cenário de restrições orçamentárias, o MCTIC mantém ainda permanente diálogo com os gestores de suas entidades vinculadas para que os recursos sejam otimizados, minimizando o impacto em suas atividades". Diante da falta de oportunidade no mercado, tanto na iniciativa privada quanto nas instituições públicas, muitos jovens doutores apostaram na possibilidade de um pós-doutorado, conforme diversos relatos à BBC Brasil. A bolsa mensal do CNPq é de R$ 4,5 mil. Diferentemente do mestrado ou doutorado, o pós-doutorado não é um título: é uma especialização ou um estágio para aprimorar o nível de excelência de determinada área acadêmica. É visto como um aperfeiçoamento do currículo para processos seletivos para docente nas universidades públicas. Para a maioria dos candidatos, porém, as expectativas acabaram frustradas. "A proposta, apesar de meritória, não pode ser atendida nesta demanda, considerando-se a disponibilidade de recursos", dizia a resposta-padrão enviada a dezenas de doutores recémtitulados que tinham pedido bolsas na modalidade Pós-Doutorado Júnior (PDJ), do CNPq.
8SAÚDE
fatos & notícias
16 a 23 de julho de 2018
Nova técnica pode acelerar tratamento contra o câncer Os pesquisadores têm buscado uma maneira alternativa de inserir o DNA nas células FOTO: REPRODUÇÃO/THINKSTOCK
Tecnologias como CRISPR, que alteram o DNA de um paciente para tratar doenças, estão transformando profundamente a medicina, mas um obstáculo pouco conhecido pode retardar essa revolução. Para inserir o DNA novo que poderia salvar vidas dentro das células do corpo, os médicos geralmente contam com vírus fabricados sob medida por alguns poucos laboratórios especializados, que se atrasam com frequência por causa da demanda crescente. Os pesquisadores têm buscado uma maneira alternativa de inserir o DNA nas células. Um novo artigo publicado na revista científica Nature apresenta um método alternativo para as células T, as células de combate à infecção que são fundamentais nos tratamentos inovadores
contra o câncer conhecidos c o m o C A R - T. S e i s s o acontecer, essa técnica poderia tornar o desenvolvimento de tratamentos mais rápido e barato e, potencialmente, mais eficaz. “Esta não é a parte mais empolgante do processo, mas é realmente importante acertar nela”, disse Fred Ramsdell, vice-presidente de pesquisa do Parker Institute for Cancer Immunotherapy, em São Francisco. “A tecnologia CRISPR é incrível, e a capacidade de editar genes vai mudar a humanidade, mas ainda assim é necessário inserir tudo isso nas células”. Usar um vírus para tratar pacientes pode parecer estranho, mas os vírus são de fato mestres em superar as defesas naturais de nossas células. Os vírus produzidos sob medida em laboratórios
especializados são conhecidos como vetores virais: n o r m a l m e n t e desativados, eles são usados para inserir código genético. No artigo publicado na Nature, pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, colocaram as células T com o novo DNA desejado e a ferramenta de edição genética CRISPR-Cas9 juntos em uma pequena placa. A membrana celular é quebrada com uma carga elétrica, o que permite que o CRISPR seja direcionado ao genoma da célula T e insira o novo código genético. Em um experimento, os cientistas alteraram geneticamente as células T de três crianças com uma mutação ligada a uma
doença autoimune rara. In vitro, conseguiram reparar a mutação das células T que causa a doença. Em outro experimento, eles conseguiram criar novos receptores de células T que poderiam se concentrar em células cancerosas e matálas. “É uma espécie de sistema fácil de usar”, disse Theo
Roth, doutorando em imunologia do Laboratório M a r s o n d a U C S F, q u e elaborou o conceito e é o principal autor do artigo. “Fazer isso sem um vírus será mais rápido e mais confiável, mas também precisamos mostrar que é clinicamente relevante”. O método está em estágio inicial, mas seu impacto
pode ser importante para os inovadores tratamentos CAR-T, que obtiveram grandes resultados para alguns pacientes com câncer mortal no sangue, mas tiveram efeitos colaterais tóxicos em outros casos. “Se a técnica for confirmada e ampliada em estudos futuros, será um enorme avanço: mais rapidez, mais flexibilidade, maior capacidade de editar sequências de DNA e, possivelmente, fazer tudo isso com mais segurança”, disse Eric Topol, geneticista do Scripps Research Institute em La Jolla, na Califórnia, sem afiliação com o estudo. Tentativas anteriores de usar CRISPR sem um vetor viral para alterar um genoma só conseguiram codificar pedaços muito curtos de DNA, insuficientes para codificar uma proteína.
Estudo aponta que obesidade não diminui expectativa de vida obesos e outros com disfunções associadas (cardiovasculares ou relacionados à glicose). Aqueles com a chamada obesidade metabólica saudável não tiveram uma taxa de mortalidade maior do que a média da população. Hoje, qualquer um que estiver com o IMC acima de 30 kg/m² é instruído a perder peso, como se o fato por si só já fosse um risco para a saúde. Mas a pesquisa apresenta outra maneira de enxergar a situação, ao constatar que um a cada 20 voluntários não aprese ntava
FOT O: K ALI9
A ligação entre a obesidade e a expectativa de vida pode não ser tão óbvia assim. Pesquisadores da Universidade de York, no Reino Unido, descobriram que pacientes obesos, mas com nenhum outro fator de risco metabólico, não apresentam aumento na taxa de mortalidade em relação às pessoas magras. Isso contraria a maior parte da literatura sobre o assunto, que inclui a obesidade como um risco por si só. O estudo acompanhou 54.089 homens e mulheres, alguns apenas
/iST OCK
Uma pesquisa conduzida no Reino Unido garante que existe, sim, a obesidade "saudável"
m nenhum problema metabólico. “Estamos mostrando que os indivíduos com obesidade
metabolicamente saudável não estão em uma taxa de mortalidade elevada. Descobrimos que uma pessoa com
peso normal e sem outros fatores de risco metabólicos tem a mesma probabilidade de morrer do que a pessoa com obesidade e sem outros fatores de risco”, diz Jennifer Kuk, coordenadora do projeto, ao Science Daily. “Isso significa que centenas de milhares de pessoas na América do Norte com obesidade metabolicamente saudável serão orientadas a perder peso, mesmo que o benefício para isso seja questionável”. Calma, não tranque a matrícula na academia agora. O estudo não contesta, de nenhuma forma, os benefícios em praticar atividades físicas e nem de ter uma alimentação saudável. O que eles dizem é que, se você cuida da sua saúde, não precisa se preocupar com as gordurinhas aparecendo.
16 a 23 de julho de 2018
SAÚDE 9 fatos & notícias
Pesquisa diz que alimentar bebês com sólidos precocemente traz benefícios Contrariando indicações da OMS, bebês alimentados com sólidos a partir dos três meses desenvolveram menos alergia e melhor sono A regra é clara: o ideal é alimentar bebês exclusivamente com leite materno até os seis meses de idade e só depois introduzir alguns alimentos pastosos, certo? Bem, há quem discorde. Um estudo financiado pela Food Standards Agency (agência de segurança alimentar britânica), recém-publicado no periódico JAMA Pediatrics, mostrou que ingerir alimentos sólidos depois dos três meses de idade, como um complemento ao leite materno, é benéfico para a saúde. Para chegar à essa conclusão, os cientistas observaram mais de 1300 crianças saudáveis durante três anos. Um grupo foi a m a m e n t a d o exclusivamente até os seis meses, enquanto o outro recebeu o leite materno enquanto se alimentava de sólidos pastosos a partir dos três meses. O resultado da introdução precoce de certos alimentos foi a
FOTO: IMAGE SOURCE/iSTOCK
redução das chances da criança desenvolver alergia – e a dieta incluía alimentos frequentemente
alergênicos, como amendoim, ovos e trigo. Além do benefício imunológico, o grupo que
consumia sólidos também t e v e u m s o n o m e l h o r, dormindo cerca de dezesseis minutos a mais
por noite (quase duas horas a mais por semana) e acordando duas vezes menos durante a noite.
O resultado do estudo gerou controvérsia, principalmente porque a Assembleia Mundial da Saúde, promovida em maio pela Organização Mundial da Saúde (OMS) se baseou em quatro décadas de pesquisas e concluiu que o leite materno deve ser o único alimento de uma criança até seis meses de idade. O próprio porta-voz da Food Standarts Agency declarou: “Estamos encorajando todas as mulheres a seguir os conselhos atuais para exclusivamente amamentar pelos primeiros seis meses. Se houver alguma dúvida sobre o que é melhor para o seu bebê, por favor, procure orientação do seu médico ou profissional de saúde”. A nova pesquisa serviu para acender um novo debate na comunidade científica. Até lá, o ideal é seguir as recomendações de amamentação e, acima de tudo, ter a saúde e a nutrição do bebê como prioridade.
Tratamento promete reverter o envelhecimento FOTO: MOTORTION/iSTOCK
Desde sempre o humano sonha em, de alguma forma, evitar o envelhecimento. É só observar o número de lendas antigas que falam sobre o assunto, como a greco-romana fonte da juventude que foi apropriada pelo Renascimento europeu no século 16. Agora, podemos estar mais perto de ver essa
lenda se tornar realidade: um estudo clínico publicado pela American Association for the Advancement of Science obteve resultados positivos com drogas antienvelhecimento experimentais, que de quebra reforçam o sistema imunológico. O teste envolveu pessoas acima de 65 anos, que
receberam dois remédios inibidores de mTOR (um grupo de proteínas responsáveis por multiplicar e envelhecer as nossas células). Essa inibição causou um retardo no processo de envelhecimento dos voluntários. Testes com camundongos mostraram que as mesmas drogas também foram
responsáveis por revitalizar o sistema imunológico e os órgãos que se deterioram na velhice, aumentando a expectativa de vida das cobaias. Ainda não se sabe como a droga pode ter atuado na revitalização dos órgãos dos humanos. Mas o sistema imunológico deles foi rejuvenescido: os voluntários tiveram quase 50% menos infecções durante o ano seguinte ao teste. As drogas também foram eficientes em aumentar as respostas dos voluntários à vacina contra a gripe, revelando 20% a mais de anticorpos contra gripe
no sangue um mês após a vacinação. O próximo passo da pesquisa é descobrir se os medicamentos funcionam bem em todos os grupos de idosos. Por exemplo,
pessoas com mais de 85 anos, com asma, diabetes ou insuficiência cardíaca. Se tudo der certo, poderemos ter um futuro com uma melhor qualidade de vida à medida que envelhecemos.
10 COMPORTAMENTO fatos & notícias
16 a 23 de julho de 2018
O 1º barão negro do Brasil Império Um próspero fazendeiro e banqueiro do Brasil nos tempos do Império, dono de imensas fazendas de café, centenas de escravos, empresas, palácios, estradas de ferro, usina hidrelétrica e, para completar a cereja do bolo, de um título de barão concedido pela própria Princesa Isabel. A biografia do empresário mineiro Francisco Paulo de Almeida, o Barão de Guaraciaba, não seria muito diferente de outros nobres da época não fosse um detalhe importante: ele era negro em um País de escravos. No ano em que a Lei Áurea completa 130 anos, vale a pena conhecer a trajetória do primeiro e mais bem-sucedido barão negro do Império, um personagem praticamente desconhecido na História do Brasil. Empreendedor de mão cheia e com grande visão de negócios em um País ainda essencialmente agrário, ele tem uma trajetória que lembra a de outro barão empreendedor do Império, este bem mais famoso: o Barão de Mauá. Com um patrimônio acumulado de 700 mil contos de réis, que garantia ao dono status de bilionário no período em que viveu, Almeida nasceu em Lagoa Dourada, na época um arraial próximo a São João del Rei, no interior de Minas Gerais, em 1826. A origem da sua família é pouco conhecida. Filho de um modesto comerciante local chamado Antônio José de Almeida, na certidão de batismo consta como nome da mãe apenas "Palolina", que teria sido uma escrava. "Infelizmente não sabemos o destino de Palolina e a quem ela pertencia, mas, sim, ela era escrava", afirma o historiador Carlos Alberto Dias Ferreira, autor do livro Barão de Guaraciaba – Um Negro no Brasil Império. O nome, porém, provoca discussões entre os descendentes do barão, já que, por um erro de grafia no
registro, "Palolina", na verdade, seria Galdina Alberta do Espírito Santo, esposa de Antônio e considerada pelo próprio barão sua legítima mãe. "Certamente seu pai ou mãe tinham ascendência negra, mas não existe nenhum registro provando que ele era filho de escravo ou escrava", afirma a trineta do barão e guardiã da história da família, a secretária administrativa Mônica de Souza Destro, que mora em Juiz de Fora (MG). Ainda na adolescência, Almeida começou a vida como ourives fabricando botões e abotoaduras em sua terra natal, na região aurífera de Minas. Nos intervalos, tocava violino
assumiu todos os negócios e sua fortuna disparou: comprou sete fazendas de café espalhadas pelo Vale do Paraíba fluminense e interior de Minas. Apenas na fazenda Veneza, em Valença, possuía mais de 400 mil pés de café e cerca de 200 escravos. Levando-se em consideração que ele tinha outras áreas produtoras de café, o barão pode ter tido até mil escravos, segundo Ferreira. "Não se trata de uma contradição ele ter sido negro e dono de escravos, pois tinha consciência do período em que vivia e precisava de mão de obra para tocar suas fazendas. E a mão de obra disponível era
ser publicada. Nessas idas e vindas, ganhou dinheiro comprando e vendendo gado, conheceu muitos fazendeiros e negociantes nos caminhos das tropas e começou a comprar terras na região de Valença, no interior fluminense, para plantar café. Após casar-se com dona Brasília Eugênia de Almeida, com quem teve 16 filhos, tornou-se sócio do seu sogro, que também era fazendeiro e negociante no Rio de Janeiro. Em sociedade com outros empreendedores com quem mantinha contato, Guaraciaba tornou-se banqueiro e fundou dois bancos: o Mercantil de
a escrava", explica Ferreira. "Ainda que nos cause repúdio hoje em dia, o contexto de escravidão era uma coisa normal e a mão de obra que existia naquele tempo", completa Mônica, que prepara uma biografia do seu ancestral, ainda sem data para
Minas Gerais e o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. A diversificação empresarial não parou por aí. Em um período em que as ferrovias começavam a rasgar o território nacional, participou da construção da Estrada de Ferro Santa Isabel do Rio
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em enterros, onde recebia algumas moedas como pagamento e os tocos das velas que sobravam do funeral, que utilizava para estudar à noite. Por volta dos 15 anos, tornouse tropeiro entre Minas e a Corte, no Rio de Janeiro. Após a morte do sogro,
Preto (depois incorporada pela Rede Mineira de Viação), cujos trilhos passavam por suas propriedades, em Valença. A ferrovia, que ligava Valença a Barra do Piraí e se tornou importante para escoar o café do Vale do Paraíba, foi inaugurada por D. Pedro 2º em 1883. Teriam começado aí as boas relações entre Guaraciaba e a família real, que culminariam na concessão do título de barão pela princesa Isabel, regente na ausência do pai, em 1887. O título foi concedido por "merecimento e dignidade", em especial pela dedicação de Guaraciaba à Santa Casa de Valença, onde foi provedor. Mas entrar para a nobreza tinha um custo fixo e tabelado pela Corte: 750 mil réis. Sempre atento às oportunidades de negócios que chegavam com o progresso, Almeida foi sócio-fundador da primeira usina hidrelétrica do País, inaugurada em 1889, em Juiz de Fora (MG). A Companhia Mineira de Eletricidade, que construiu a usina, também foi responsável pela iluminação pública elétrica em Juiz de Fora. O barão, claro, foi um dos participantes e financiadores da modernidade que aumentou o conforto da população. Dono de um estilo de vida condizente com a nobreza imperial, o Barão de Guaraciaba possuía uma confortável residência na Tijuca, no Rio de Janeiro, e outra em Petrópolis, destino de veraneio preferido dos ricos e da nobreza. Na cidade serrana construiu u m a m a n s ã o q u e posteriormente foi chamada de Palácio Amarelo e que hoje abriga a Câmara Municipal. Ta m b é m f a z i a d i v e r s a s viagens para a Europa, principalmente para Paris, onde enviou seus filhos para estudar. "Guaraciaba distinguiu-se por ter sido financeiramente o
mais bem-sucedido negro do Brasil pré-republicano. Ele se tornou o primeiro barão negro do Império, notabilizando-se pela beneficência em favor das Santas Casas", afirma a historiadora e escritora Mary Del Priore. Segundo ela, Almeida fazia parte de um pequeno grupo de mestiços de origem africana que conseguiram ascender financeira e socialmente. O preconceito da cor, porém, permanecia arraigado na sociedade brasileira, independentemente da posição financeira, diz Priore. A l g u n s d e s s e s empreendedores, a exemplo do Barão de Guaraciaba, conquistaram ou compraram seus títulos de nobreza junto ao Império, sendo por isso chamados na época de "barões de chocolate", em alusão ao tom da pele. "O sangue negro corria nas melhores famílias. Não faltavam casamentos de 'barões de chocolate' com brancas", completa a historiadora. Após a proclamação da República, Guaraciaba começou a se desfazer dos seus bens, mas viveu uma vida bastante confortável até morrer, na casa de uma das filhas, no Rio de Janeiro, em 1901, aos 75 anos. Seus herdeiros, inclusive alguns exescravos agraciados pelo dono e que permaneceram com o patrão após a alforria, receberam dinheiro e propriedades, e se espalharam pelos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. "Ele foi um grande empreendedor que acabou banqueiro, homem de negócios, fazendeiro e senhor de escravidão. É preciso empenho e coragem dos historiadores para estudar esses símbolos bem-sucedidos de mestiçagem", diz Mary Del Priore, que resgata um pouco da história do Barão de Guaraciaba em seu livro Histórias da Gente Brasileira.
11 fatos & notícias
16 a 23 de julho de 2018
V
ivendo à margem da sociedade, a comunidade que antes era conhecida como GLS e que agora é LGBT, vem se organizando desde final dos anos 1960. Em 28 de junho de 1969, gays que estavam no bar Stonewall na cidade de Nova York se rebelaram contra policiais que os perseguiam, se tornando assim, referências para o movimento mundial. Na segunda Guerra Mundial, os nazistas eliminaram mais de 300 mil homens homossexuais. Aqui no Brasil, onde prevalece a hipocrisia e a discriminação social até os dias de hoje, o movimento iniciou-se em 1979, com o
jornal Lampião, e se
propagou Brasil a fora. Em 1980 é realizado na cidade de São Paulo o primeiro encontro brasileiro de homossexuais que, ao longo dos anos, se difunde pela América Latina. Começam, a partir daí, reuniões e discussões para denunciar perseguições e discriminações contra os gays. Com muitas dificuldades e falta de recursos, o movimento homossexual passa a ter direitos reconhecidos no Brasil e no mundo. A discriminação contra lésbicas, gays, bissexuais e transexuais precisa ser combatida. Trata-se de princípios fundamentais
sobre todos os seres
Coluna Olhar de uma Lente
humanos como a igualdade de valores e da dignidade. Em alguns países, a identidade de gêneros e a orientação sexual são punidas com pena de morte por contrariar as tradições culturais e religiosas. No Brasil os índices são alarmantes, os assassinatos homofóbicos são mais c o m u n s d o q u e imaginamos. Segundo relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia (GBA), a cada 27 horas um homossexual é assassinado, ou seja, mais de 326 foram mortos em 2014. Segundo pesquisas antropológicas, mais de 20 milhões de brasileiros são gays e mais de um milhão,
LGBTs, direito à vida
são travestis e transgêneros.
Neste ano, 86 travestis, mulheres transexuais e outras pessoas trans já foram assassinadas. No Nordeste, foram 33; seguido pelo Sudeste, 25; Norte, 10; Sul, 09 e Centro-Oeste, 09. Para o presidente do Conselho dos Direitos Humanos de Vitória um ponto relevante é a falta de orçamento para as políticas públicas voltadas para os direitos humanos como um todo, não só às questões LGBT. “A secretaria tem o menor orçamento e a maior parte dele é destinada a custeio e o que sobra para fazer política pública efetiva,
HAROLDO CORDEIRO FILHO
que possa fazer a transformação em todos esses segmentos h i s t o r i c a m e n t e discriminados, é muito pouco, é muito pequena. O que falta, na verdade, é uma escolha para desenvolver esse tipo de política, que reduza a desigualdade, e o município de Vitória não tem isso como prioridade. A secretaria de Direitos Humanos está sucateada, infelizmente”, sentenciou We l i n g t o n B a r r o s Nascimento. Na esfera estadual, segundo nota da assessoria de comunicação, foram
criadas uma Coordenação L G B T, c u j o p r i n c i p a l objetivo é efetivar o tripé: cidadania, fortalecimento e visibilidade LGBT no Espírito Santo; articulação para criação do Conselho Estadual LGBT; criação da Coordenação de Políticas Públicas para Diversidade Sexual e de Gênero; foi encomendada uma pesquisa ao Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) sobre a população Transexual e Travesti da Grande Vitória, visando conhecer melhor essa parcela da população. Haroldo Cordeiro Filho Jornalista DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer
A extrema pobreza voltou aos níveis de 12 anos atrás FOTO: JOSÉ CÍCERO DA SILVA/AGÊNCIA PÚBLICA
Para economista, os números de pobreza sugerem que o Brasil voltará ao Mapa da Fome da ONU
Ao deixar, em 2014, a relação de países que têm mais de 5% da população ingerindo menos calorias do que o recomendável, o Brasil atingiu um feito
inédito: saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas, após três anos do feito, um relatório de 20 entidades da sociedade civil,
publicado em julho do ano passado, alertava sobre os riscos de o País retornar ao mapa indesejado. O economista Francisco Menezes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e da ActionAid Brasil, fez parte da equipe que elaborou o relatório. O também especialista em segurança alimentar conta que no final deste mês um novo documento atualizado da sociedade civil será lançado e alerta: “A nossa nova
advertência já leva a quase uma certeza”. Essa quase certeza, ele diz, é de que o Brasil voltará ao Mapa da Fome. “Toda a experiência sempre mostrou que os números da extrema pobreza com os números da fome são muito próximos”. Em relação à pobreza e extrema pobreza, por e x e m p l o , levantamento da ActionAid Brasil indica que nos últimos três anos —
2015-2017 — o País voltou ao patamar de 12 anos atrás no número de pessoas em situação de extrema pobreza. Ou seja, mais de 10 milhões de brasileiros estão nessa condição. “Isso nos leva a crer que aquela
correlação pobreza versus fome sugere fortemente que a gente já está, neste momento, numa situação ruim, que deve aparecer com os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do final de 2018”.
ECONOMIA 12 fatos & notícias
16 a 23 de julho de 2018
Ferrovia desafoga as safras do Norte Com rodovias precárias e longa distância entre fazendas e porto, soja e milho ganham maior vazão sobre trilhos FOTO: FELLIPE ABREU
Em um dos mais novos e relevantes corredores logísticos do agronegócio brasileiro, ligando a produção de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão ao Porto de Itaqui, na capital maranhense, a safra de grãos é escoada cada vez mais por ferrovia, principalmente nas distâncias acima de 1.000 quilômetros. Entretanto, na região de Balsas (MA), principal polo agrícola maranhense, a cerca de 800 quilômetros do porto, a dependência ainda é do modal rodoviário. No corredor que leva à capital maranhense, as estradas ganham primazia por causa do valor do frete. E também porque os caminhões podem retornar carregados de insumos, o que não ocorre com os trens, que costumam voltar sem carga agrícola. Nesse modal, as críticas em relação à precariedade da
infraestrutura das estradas estaduais e federais superam, de longe, os avanços em novos terminais. Mesmo as estradas mais movimentadas são do tipo pista simples, estreitas, mal sinalizadas, quase sempre
sem acostamento nem sinal de GPS, com muitos trechos em mal estado de conservação. Nos últimos anos, a ferrovia vem ganhando importância na região. Iniciada em 2015, a
operação de transporte de carga agrícola por trem, na Ferrovia Norte-Sul, a partir dos terminais da concessionária VLI no Tocantins cresceu 40% desde então, com ganhos de gestão reconhecidos por
produtores e profissionais de logística, desde o recebimento das cargas até o desembarque no porto. Com boa capacidade instalada, tende a ganhar peso nas próximas safras. No terminal de integração da VLI em Palmeirante, que fica no norte do Estado, às margens do Rio Tocantins, a VLI recebe a soja dos caminhões e carrega comboios de até 160 vagões, ou 15.000 toneladas de grãos, sete dias por semana. Segundo a empresa, é a maior operação do gênero na América Latina, parte do investimento de R$ 9 bilhões que a companhia fez na concessão do corredor logístico Centro-Norte, ligando a Ferrovia Norte-Sul ao Porto de Itaqui. Por utilizar o sistema de manobra dos vagões conhecido por pera, a VLI reduziu o tempo de carregamento da composição ferroviária de
três dias para até quatro horas. “Estamos satisfeitos com esse investimento porque, ao contrário do que costuma ocorrer na infraestrutura logística, nesse caso estamos conseguindo acompanhar a evolução da demanda, na verdade, fomentando o desenvolvimento do agronegócio”, diz Igor Figueiredo, gerente-geral de agronegócio da VLI. “Compramos mais 240 vagões de novas locomotivas no ano passado, pois vamos continuar crescendo”. O transporte de grãos pela ferrovia passou de 4 milhões, em 2015, para 5,8 milhões de toneladas, em 2017. Em 2016, por causa da quebra da safra, o volume foi menor, de 3,2 milhões de toneladas. Segundo a VLI, a opção ferroviária, a partir do terminal de Palmeirante, representa um frete 50% menor que o rodoviário.