Jornal Fatos&Points - Edição Janeiro - 2014

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JANEIRO

ANO I - Nº 3 Edição mensal Distribuição gratuita

? O M O C , S A M IKE!

FATOS&POINTS

Jornal Fatos&Points fatosepoints.wordpress.com fatosepoints@gmail.com

ATOS Moradores e ciclistas comentam sobre o projeto “Salvador vai de bike”. pág. 3

NTREVISTA Entrevistamos o repórter José Raimundo. Confira! pág. 4 e 5

OINTS Um dos points mais pitorescos de nossa região, e a degradação dos espaços públicos. pág. 7

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FATOS&POINTS

B E D Á V

SAIBA MAIS O Cemitério do Ingleses pág. 2


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SAIBA MAIS...

Entre os túmulos do Cemitério “Life is eternal” (a vida é eterna), esta é a frase registrada em uma das lápides do Cemitério dos Ingleses British Cemetery - situado na Ladeira da Barra, próximo à Igreja Santo Antônio da Barra. Como outras lápides, verdadeiros marcos históricos, passa despercebida pelos soteropolitanos e turistas, todas escondidas por trás do muro branco e alto. É ali onde os mortos descansam as suas memórias eternas diante da vista privilegiada da Baía de Todos os Santos. Diferentemente daqueles que passam longe das portas de um cemitério e enxergam o local como um lugar macabro e fantasmagórico, os sensíveis ingleses o encaram como um espaço de reflexões, de resgate da paz e da serenidade interior, pousados nas lembranças dos entes enterrados. Hoje, é um consagrado museu a céu aberto, um espaço cultural que faculta vasto conhecimento e encanta com a sua beleza silenciosa.

Visite

No século XIX, o fluxo dos ingleses para a Bahia se deu durante a regência do Príncipe-regente de Portugal, Dom João de Bragança, com a abertura dos portos brasileiros para as nações amigas. Os navios ingleses deram cobertura ao Príncipe-regente e sua corte, durante a travessia Portugal-Brasil, quando da transferência do reino português para o Brasil; e dois anos após, a Inglaterra e Portugal assinaram o tratado que dava à Grã-Bretanha o domínio mercantil sobre o Brasil. Dessa maneira, muitos britânicos se instalaram no Brasil, especialmente na Bahia. Protestantes que eram, não queriam, e também não podiam, ser enterrados nas igrejas como era costume dos católicos; assim, fundaram o British Cemetery, em 1811. Em 2009 o cemitério foi reformado e reinaugurado, com a presença do embaixador Britânico no Brasil, Peter Collecott. Atualmente, o Cemitério dos Ingleses também passa por pequenos reparos.

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dos Ingleses

“Because I live ye shall live also” (Porque eu vivo e vós vivereis), uma das frases escrita em um dos túmulos.

Saiba mais um pouco... A pesquisadora inglesa Sabrina Gledhill, radicada na Bahia desde 1986, é quem cuida do cemitério. Ela trabalhou na Capela, em um projeto com os meninos da ONG Ibeje; após isso, participou da elaboração de um projeto de revitalização que recebeu o apoio do FazCultura e da Fundação Clemente Mariani.

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É só tocar o sino que fica no portão! O Cemitério dos Ingleses está aberto à visitação todos os dias, das 8h às 18h. É bom, todavia, entrar em contato pelo telefone (71) 3337 3297 antes da visita, pois o Cemitério pode estar passando por reparações.

COLUNA CULTURA Lelo Filho Fundado em 1º de outubro de 2013 Edição Janeiro 2014 - Ano I - nº 3

Jornal Fatos&Points fatosepoints.wordpress.com DIRETORES/EDITORES João Adonias Aguiar Neto – DRT: 4559/BA Jaqueline Vaz Gasparini – DRT: 4560/BA

COLUNA EDUCAÇÃO Ivana Libertadoira DIAGRAMAÇÃO Ceres Luisa Martins IMPRESSÃO Gráfica Santa Helena TIRAGEM 1.000 exemplares

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FATOS COMO?

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Vá de bike, mas

Os usuários sabem como pedalar com segurança? O que acham do projeto Salvador Vai de Bike?

Em pleno clima de verão, os moradores da região podem agora compartilhar bicicletas nas estações públicas do Porto da Barra, da Avenida Centenário e do Largo da Vitória para aproveitar os dias de lazer pedalando pela cidade. Essa iniciativa faz parte do programa “Salvador Vai de Bike”, criado pela Prefeitura de Salvador com o objetivo, também, de facilitar a mobilidade urbana e a sustentabilidade. Mas será que os usuários das novas bikes sabem como pedalar com segurança nas ruas de Salvador e como funciona o projeto? Conforme os últimos dados da Transalvador, relativos aos meses de janeiro a agosto de 2013, ocorreram 23 acidentes envolvendo ciclistas, dentre eles 15 colisões com condutores de automóveis. No ano de 2012, foram 163 acidentes. Colaboraram para esta estatística a ausência de noções sobre direção defensiva por parte dos motoristas e a carência de informação dos ciclistas, acerca das normas de trânsito. “A falta de conscientização dos motoristas é um grave problema que enfrentamos quando saímos à noite. Somente com ações educacionais e o rigor das multas teremos uma mudança eficaz”, relata Edson Santana Vigo, coordenador do grupo de ciclistas Farol Light Bikers. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, CTB, a bicicleta tem a preferência sobre os veículos automotores; o motorista deve ceder a passagem ao ciclista nas conversões, e é infração gravíssima ameaçar com o carro o ciclista. Segurança em pedalar

ruas deriva, também, dar atenção aos equipamentos imprescindíveis em uma bike como: o pisca, os farois dianteiro e traseiro, o capacete e o uniforme. Para o técnico em consertos de bicicletas, Fábio Santos Assis, quando o ciclista está uniformizado os motoristas respeitam mais. “Se não estiver com o capacete, os condutores de veículos e ônibus não respeitam. Vejo isso como uma ‘etiqueta de trânsito’”, pontua Assis. O técnico também alerta para a manutenção da bicicleta, obrigatória a cada quatro meses. “Se for de trilha, por ser um esporte de alto impacto, a manutenção deve ser feita logo após a prática do esporte. Na revisão é importante atentar para os itens: freios, marcha (se tiver), folgas na bicicleta (guidom, garfo), calibragem dos pneus e a regulagem do coxim (assento)”, explica Assis. Para o coordenador Edson Vigo, o uso do material de segurança é obrigatório. “Sem capacete, luvas e pisca alerta na frente e atrás da bicicleta, o ciclista não pode fazer parte dos nossos trajetos. Exigimos isso pensando na proteção do ciclista e para que o grupo Farol Light Bikers não se envolva em acidentes”. SALVADOR VAI DE BIKE Na opinião de Edson Vigo o projeto Salvador Vai de Bike “é muito bom, pois terá mais gente circulando de bicicleta pela cidade, além de ser uma forma de propagar a prática mesmo que informal, do ciclismo”. Para o coordenador, a iniciativa do poder público é importante, porque agrega aqueles que não possuem bicicleta em casa e querem praticar o esporte.

Estação de bicicletas “Salvador Vai de Bike” da Avenida Centenário.

Desde 2005 o grupo Farol Light Bikers dissemina, em suas pedaladas, o esporte como propulsor de descobertas e interação social. “A prática do ciclismo é ótima para a saúde e para a interação com a natureza, fazendo com que todo o processo seja prazeroso”, salienta Vigo. Já para o professor Filipe Britto, a intenção da Prefeitura não vai diminuir o fluxo de automóveis nas ruas e os problemas de trânsito. "É como maquiagem em mulher feia. Adianta? Vai criar uma geração mais saudável? É preciso rever a cidade como um todo. Torná-la mais inteligente, inclusiva e integrada. As soluções são tratadas como um quebra-cabeças, em que as peças não se encaixam, apesar da figura ao fundo. Mas politicamente é lindo e, ainda, é melhor do que nada",

questiona Britto. O universitário Diego Duran acredita que a disponibilização de bikes pode ser uma forma de desafogar o trânsito caótico, mas o que impede de torná-lo eficaz é a falta de ciclovias e ciclofaixas. “Achei maravilhoso, é um meio de estimular a população à pratica de esportes. Ocorre que, em vez de estímulos à prática, os adeptos da bike encontram empecilhos: como a falta de ciclovias ou ciclofaixas e a falta de consciência no trânsito. Na minha opinião o déficit de ciclovias na capital baiana é reflexo, inclusive, de uma legislação limitada a respeito do transporte cicloviário. Por fim, o projeto é bom, mas são necessários ainda algumas melhorias”, finaliza Duran. COMO SE CADASTRAR

1º Passo: O cadastro é feito no site www.bikesalvador.com. Será necessário efetuar o pagamento da anuidade, no valor de R$10, através de cartão de crédito, sem a cobrança de tarifas diárias ou mensais. O serviço tem validade de 12 meses. 2º Passo: Para destravar a bicicleta, é preciso ligar para o número 4062 7024, ou utilizar o aplicativo do Bike Salvador para smartphones, informando o número de identificação da estação e da bicicleta que deseja retirar. Em breve, será disponibilizada a destrava através do Salvador Card.


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Conversa com o Uma personalidade do cenário jornalístico nacional. Um repórter conhecido pelas matérias investigativas e pela rara sensibilidade ao lidar com as fontes. Predicados de José Raimundo Oliveira, ou simplesmente Zé Raimundo, nascido em Riachão do Jacuípe, na Bahia. Consagrado por suas matérias na TV voltadas para as questões sociais e denúncias, o repórter é amante dos assuntos ambientais que tratam da preservação da natureza. Matérias como a de Monte Santo, a máfia das cooperativas de saúde, o flagelo da seca e os mistérios do Velho Chico, fizeram do “noticiar” de José Raimundo uma marca do jornalismo regional. Sonhos, formas de noticiar, como proteger as fontes e como tratar de assuntos problemáticos com humanismo, foram temas abordados neste bate-papo descontraído com o Jornal Fatos&Points e os seus leitores(as). : Como surgiu o seu interesse pelo jornalismo? Quais foram as suas primeiras experiências? JOSÉ RAIMUNDO: Acho que surgiu na adolescência. Costumo brincar dizendo que surgiu na barriga da minha mãe, embora eu não tenha nenhuma herança genética, mas a comunicação sempre foi a minha grande paixão, a minha grande cachaça, como falam em uma linguagem popular. Em Riachão do Jacuípe, onde nasci, eu era adolescente, estudava o ginásio, em uma escola pública (quando a escola pública era uma escola de qualidade), e já naquela época, fazia um jornalzinho mimeografado. Depois, esse

Raimundo jornal evoluiu para o impresso “A Cidade”. Como gostava muito de falar ao microfone, nós organizávamos os campeonatos de futebol, e eu fazia uma resenha esportiva e narrava os jogos através de um serviço de auto falante. Era engraçado, porque naquela época existia uma Rural Willys que tinha duas bocas de auto-falante por onde eu narrava os jogos. O jogo que todo mundo estava assistindo, eu estava narrando. Era interessante! No intervalo do jogo os jogadores todos corriam para a Rural e me concediam uma entrevista. Foi assim o meu começo. Depois fui para o rádio, acabei indo para a TV e estou aí aprendendo até hoje. : Como aflorou o seu lado repórter? JR: Na verdade, comecei na TV Itapoan, quando na época era dos “Diários e Emissoras Associados”, da Fundação Assis Chateaubriand. Peguei, exatamente, o finzinho da existência da Rede Tupi, que aqui era representada pela TV Itapoan. Comecei na época do caos, tudo mais ou menos sucateado, até ser adquirida por Pedro Irújo. Aprendi muito com essa situação. Tem pessoas que falam “as dificuldades nos ensinam”, e é verdade; aprendi muito com essas dificuldades, com a deficiência de equipamentos, com o sucateamento da Rede Tupi, com a falta de estrutura para trabalhar, e acabei migrando do rádio para a TV sem querer. Em um dia, a situação estava tão difícil (na TV Itapoan, quando era Rede Tupi), que o diretor de jornalismo da TV, na época o Milton Colen, entrou na redação da Rádio Sociedade, onde eu trabalhava, e pediu socorro

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Repórter José

Zé Raimundo como ele mesmo, em seu habitat

ao diretor de redação da rádio. Isso porque o único repórter que ele tinha adoecera e não fora trabalhar naquele dia, e ele não tinha matéria para por no ar. E aí o Fernando Rocha - que já faleceu, e era uma belíssima pessoa. Espero e desejo que ele esteja bem acolhido – disse: “Não tenho repórter aqui. Tenho este rapaz que está trabalhando conosco. É a única opção que tenho.” Eu também era funcionário da Caixa do BANEB (Banco do Estado da Bahia). E Milton Colen olhou para mim e disse: “E aí?” Eu disse: “Nunca vi uma câmera de televisão na minha frente, mas se você quiser arriscar, não tem problema nenhum. E assim, subi para a redação da TV Itapoan, da Rede Tupi, peguei uma pauta e fui fazer a matéria sobre o fechamento de um açougue, ali no Largo 2 de Julho. Foi a minha primeira matéria na televisão. No dia seguinte, o repórter não apareceu, mais uma semana ele também não veio, e eu continuei ‘tampando o buraco’. Aquilo exerceu um fascínio muito grande na minha cabeça, porque era um veículo até então muito desconhecido para mim. A minha paixão era o rádio, era o microfone do rádio. A TV era uma coisa inimaginável,

nunca tinha pensado nisso antes. : Houve alguma matéria que desejava não ter realizado? E uma inesquecível? JR: Pode até parecer demagogia, mas não é. Falo com pureza d’alma. Não desejaria ter feito muita matéria sobre a Seca. Fiz muitas e ficava muito triste toda vez que voltava para fazer o mesmo assunto, já noticiado no ano anterior, dois anos atrás, três anos atrás. É um drama secular. Se for comparar uma matéria de quando comecei a trabalhar com a história da seca no Nordeste, há 30 anos atrás, hoje você não vai ver muita diferença. Os problemas são os mesmos, as ações são as mesmas, ou seja, nenhuma coisa mudou. O sofrimento é o mesmo. Gostaria de voltar e fazer aquilo que você viu há dez anos, e que hoje está completamente modificado porque o governo resolveu o problema. O governo sabe quais são as soluções, mas não resolve por questão que só Deus sabe. Infelizmente, sou obrigado a fazer, até por força mesmo da profissão, e a fazer várias vezes. E tem assuntos que são prazerosos, gosto de sempre voltar a fazer porque me sinto bem. Gosto muito do


mato. Costumo dizer que sou meio bicho do mato (risos). Gosto de explorar pautas que sejam relacionadas ao meio ambiente, não porque mostram a beleza, mas pelo quanto é importante preservar a natureza, os recursos naturais, a água, o ar. Infelizmente tenho feito pouco, ultimamente, porque a demanda está para a área das denúncias. Já as matérias que gostei muito de ter feito, eu diria das três viagens para o Rio São Francisco, da nascente e da foz. Gostaria muito de fazer uma quarta vez, aquele Rio me atrai muito. Ele tem uma história espetacular, como as comunidades ribeirinhas que sempre ensinam a gente. Fiz também sobre o Rio Amazonas. Ele é grandioso, não dá para comparar. São matérias que eu retornaria, não criaria nenhum tipo de empecilho para voltar a fazer. : O que o senhor acha dos programas policialescos que atualmente são exibidos na Bahia e no Brasil? JR: Não gostaria de fazer esse tipo de jornalismo. Costumo dizer o seguinte: se um dia só me restar essa alternativa, vou pedir o meu boné e vou embora. Isso não educa, não informa, e sim, explora. É a briga pela audiência que, infelizmente, em nosso caso, é uma nivelada por baixo. É lamentável. Imagina você estar almoçando e vendo aquelas imagem que são repetidas, exaustivamente, de pessoas presas. O repórter chega e massacra aquele preso. Quem somos nós para julgar? Tem tanta coisa para se mostrar, mais educativa, que contribui melhor. Mas tem muita gente que gosta de ver essas barbaridades, tanto que esses programas dão audiência. No dia em que a comunidade tiver mais acesso à informação, à educação, tenho certeza que a audiência vai cair. Porque isso é um reflexo do nível cultural, do nível de educação da população. : Já trabalhou em um

veiculo comunitário? Qual é para o senhor a importância da aproximação entre uma publicação e a sua comunidade? JR: É um trabalho da maior importância. Eu nunca trabalhei em nenhum veiculo, com exceção do auto-falante, que não deixa de ser um veiculo de alcance comunitário. Fico torcendo para que esse trabalho que vocês fazem com o jornal Fatos&Points cresça, e que muitas outras publicações cresçam também. Porque comunidade precisa disso, e a mídia, obrigatoriamente, vai precisar se fragmentar. A grande mídia sempre vai existir, evidentemente, mas esses veículos que são mais localizados, como os regionais e os comunitários, precisam ser fortalecidos, pois eles são o porta-voz da comunidade. Então Fatos&Points nada mais é que o interlocutor da comunidade e essa missão é muito importante, muito nobre e, na minha opinião, tem tudo para crescer e dar certo. : O caso Monte Santo foi emblemático em sua carreira, como foi esse processo? E depois da matéria ter ido ao ar, como foi a repercussão? Foi ameaçado? JR: Não fui ameaçado de morte, mas recebi provocações, ameaças verbais, coisas que sempre acontecem. Recentemente, fiz uma matéria sobre as cooperativas médicas para o Fantástico. Foi uma matéria que teve uma grande repercussão e a gente sempre está recebendo uma ameaça, alguém que manda um recadinho, exemplo: “cuidado com a sua família, sei onde você mora”, sempre ocorrem. Se um repórter for intimidado com isso terá que deixar de trabalhar e eu não vou deixar de trabalhar, porque amo a minha profissão, gosto muito do que faço. Não faço com irresponsabilidade, nem para atingir ninguém, faço para tentar melhorar. A história das cooperativas ocorre há quanto tempo na saúde? E

somos nós quem pagamos. Quando o dinheiro federal deixa de chegar ao destino, no caso da saúde, é a mesma coisa que matar. O que descobri é que cooperativas estavam fazendo leilão com o dinheiro que o governo federal manda para as prefeituras, e pagando propina, colocando no bolso uma parte. Isso significa que o dinheiro não chegou para socorrer o doente. No caso de Monte Santo, foi a tentativa de corrigir uma injustiça. Imagina uma mãe, pobre, que de repente vê seus filhos, todos, retirados de casa e entregues a famílias de São Paulo. Tinha famílias que não estavam no cadastro nacional de adoção. A própria lei, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, diz que primeira opção são os que estão na lista, e, estando na lista, a primeira opção de adoção é no município. Se você mora em Indaituba, você tem que encontrar uma criança em Indaituba. Se não encontra, procura no mesmo Estado; a última opção seria os da lista em outros Estados. Essas famílias saíram de SP, chegaram em Monte Santo e de repente levaram essas crianças embora, sem obedecer a nenhum critério de adoção. Quer dizer, o Ministério Público, que deveria se pronunciar, não se pronunciou, não atuou nesse caso. A família das crianças não foi ouvida, simplesmente foram lá retiraram as crianças de casa, da barra da saia da mãe. O que a gente fez foi denunciar essa história e isso rendeu algumas matérias e discussões. O juiz que autorizou foi transferido e o juiz que o substituiu corrigiu essa injustiça. Enfim, o que fizemos foi tentar corrigir um erro, nós mostramos o equivoco cometido por um agente público que mandou retirar à força as crianças de uma mãe, sem nenhum amparo legal. O próprio Conselho Nacional de Justiça reconheceu que foi um absurdo, grave, e tentou corrigir. Eu tive o prazer de mostrar isso para o Brasil e de provocar, e de conseguir que as

“Despertar a atenção para aquilo que está acontecendo, esse é o desafio. Na verdade é isso que procuro fazer. É dar

dignidade a qualquer assunto que euvoltassem vá explorar.” crianças para casa. : Como o senhor vê o ano de 2014 para a Bahia e para Salvador? 2014 vai ser um ano importante e vai entrar para as páginas da história da Bahia, do Brasil. Nós temos a Copa do Mundo. É a segunda Copa do Mundo no Brasil, Salvador vai ser sede de um evento importante. É um ano político, em que nós vamos escolher governador, presidente, os nossos representantes da Câmara, do Senado, da Assembléia Legislativa. É um ano de muito trabalho. Hoje, a cidade está sendo administrada pelo prefeito ACM Neto, e espero que consiga dar os saltos que precisa dar, consiga sair do atraso a que foi submetida durante oito anos. Nós passamos oito anos e eu cansei de ouvir de outras cidades do Brasil, de outros Estados: o que está acontecendo com a sua cidade? A sua cidade está horrível, suja, feia, esburacada, insegura, e assim continua. Por mais que o ACM Neto tenha trabalhado, ainda carece de muitas coisas e tenho certeza que ele vai conseguir. Se for um político que quer mostrar serviço, é o ACM Neto. Ele tem outras pretensões políticas e a hora de mostrar serviço é agora; e quem vai ganhar com isso são os soteropolitanos; espero e desejo que ele faça o que pretende. E no plano Estadual, é uma incógnita. Temos aí o candidato do governo, temos a oposição tentando se preparar para o embate e a gente espera que seja um ano promissor também nessa área.


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Educação Educacão Educação Transformadora por Ivana Libertadoira

Licurgo era considerado muito sábio, alguns sugerem que era uma lenda, na verdade, há várias versões, preferimos esta que passamos a narrar: dizem que ele foi convidado para palestrar sobre os benefícios da educação e que solicitou um ano para prepará-la. Todos ficaram admirados com a exigência, pois era um orador brilhante. Entretanto, acataram-na, dada a competência a ele atribuída. Passados doze meses, ele se apresenta com dois cães e duas lebres, distribuídos em quatro gaiolas. Ao iniciar sua fala, solicita que as pessoas observem e, nesse momento, pede que soltem primeiro uma lebre e assim é feito. Em seguida, pede que soltem o cão. O cão vai em direção a lebre e... a estraçalha. Indignação por parte de todos os participantes. O sangue é limpo e então, ele determina ao servo que solte mais uma lebre. Todos ficam atentos, silêncio total na plateia, todos ficam apreensivos, alguns fecham os olhos, outros reclamam estarrecidos: - Licurgo enlouqueceu! Logo depois, ele faz sinal ao servo e pede que solte o outro animal, outro cão... Os comentários são indescritíveis, mas o cão é solto e corre em direção à lebre e ao aproximar-se dela, o cão dá um leve tombo na lebre e eles começam a brincar de forma pacífica. Todos surpresos. E Licurgo, então, proferiu o seguinte discurso: eis porque solicitei o tempo e está aqui o exemplo do que a educação é capaz de fazer. Compartilhamos desta mesma compreensão sobre educação. Poderíamos evocar centenas de filósofos, educadores, etc., para bem definir educação. Mas, às vezes, uma

simples parábola pode ser mais elucidativa e marcante, talvez por isso Cristo as tenha usado amplamente. Carecemos de mais do que conceitos, estamos necessitados de exemplos. A criança aprende pelos nossos exemplos e não por nossas falas. De outro modo: somos pais, mães, avós, tios, irmãos, enfim, educadores por excelência. Precisamos estar cônscios de que um exemplo educa mais que mil palavras (não podemos dizer aos nossos filhos que não gritem, gritando... ou que não mintam, multiplicando exemplos de mentira...) a criança imita aos que ama e admira. Esta é a primeira noção de educação que a criança tem, por isso, precisamos educar aquele que educa. Convém esclarecer que entendemos educação, neste contexto, como formação humana, uma espécie de devir humanizatório... Pensar uma educação transformadora precisa de um início e este será, sem dúvida, a família; a escola floresce o

que está semeado, certamente contribuirá para a formação, mas não será condição única, necessária e suficiente. É imprescindível, assumirmos nossa condição de responsáveis e ajudarmos no processo de construção desta nova sociedade que tanto desejamos, como dizia Gandhi: “sejamos as mudanças que queremos ver”. O compromisso com a existência é muito mais que parecer, ter ou ser simplesmente, carecemos ser-constructo. Ser não é mais o bastante, é preciso constituir-se em processo, pois somos nossa condição transitória, somos seres em construção. Neste processo educativo-ético-civilizatório, é mais importante a dúvida do que a certeza. A certeza enrijece, enraíza, envaidece, torna inerte. A dúvida, apesar de todos os inconvenientes, é questionadora, investigativa, em uma palavra, construtiva. Nossa Educação deve encaminhar para esse processo formativo, contínuo deste ser humano em construção

ACERVO IVANA LIBERTADOIRA

Doutora em Educação pela UFBA

que deve desenvolver, auxiliado pelo processo educativo, sua capacidade crítico-reflexiva-investigativa. Só mesmo uma sociedade construída nestes moldes poderá questionar a corrupção, a violência, a maldade, a miséria, a desigualdade, a injustiça. Educar é, também, preparar para lidar com as adversidades, a tolerância, o respeito ao diferente e o encontro com nosso ser mais íntimo, uma vez que o outro é uma extensão de nós mesmos, por mais que nos pareça impossível, assim como poderíamos imaginar impossível colocar predador e presa em convivência harmônica.

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POINTS

Comportamento: a degradação dos espaços públicos

A falta de conscientização por parte da população em desprezar dejetos nas praias.

[...]há uma predisposição social e psicológica de não se respeitar as normas de convivência social, o que passa de geração para geração.

Gustavo Almeida aponta para a educação doméstica que precisa ser complementada pela educação escolar, pois ambas são importantes e cada uma tem características próprias. “O ambiente doméstico não tem a dimensão espacial e quantitativa dos demais espaços societários, carecendo, assim, das experiências propiciadas pelos demais tipos de relação favorecidos por outros espaços”, salienta o sociólogo. Para a analise comportamental do psicólogo, essa

(psicólogo Felipe Passos)

conduta termina por ser uma via de mão dupla: o Estado não cuida verdadeiramente do cidadão e este não cuida dos bens que o Estado lhe fornece. “Essa carência soma-se à omissão do governo, em todas as esferas, no prover as necessidades básicas para o desenvolvimento pleno de uma pessoa e não cumprir o seu dever fundamental de qualidade dos serviços de educação, saúde e assistência social”, finaliza Felipe Passos.

Pontos de Ônibus

Passarela da Avenida Centenário Um dos “points pitorescos” da nossa região são as barraquinhas com os seus quitutes e produtos nos dois pontos de ônibus, que fazem a ligação entre a passarela da Avenida Centenário. Podemos encontrar quase tudo: desde o tradicional espetinho, passando pelo consagrado na novela global, hot-dog e também apreciar aquela latinha de cerveja ou de refri gelada. Isso sem falar dos vendedores ambulantes que vendem calcinhas, produtos “made in China” ou tradicional “queimado”, passatempo preferido dos usuários de ônibus.

FATOS&POINTS

ção”, pontua o radialista. “As pessoas encaram os espaços públicos como ‘sem dono’, esquecendo-se que o público é aquilo que é comum a todos. Som alto (independente do ritmo), xingamentos, depredação de bens e locais, o descarte de qualquer coisa no chão, gritos e crianças soltas fazendo peripécias com a negligência dos pais, são algumas das coisas que mais me incomodam”, descreve a professora. O psicólogo Felipe Passos explica que há uma predisposição social e psicológica de não se respeitar as normas de convivência social, o que passa de geração para geração. Esse comportamento equivocado do cidadão é fruto de uma sociedade individualista, onde cada um se preocupa com o ‘seu’. “As pessoas perderam, gradativamente, a noção e a prática da coletividade; elas não percebem que os bens públicos também são seus, e é como se fosse uma extensão de sua própria casa. Dessa forma, há uma perda do sentimento de cuidado, zelo e responsabilidade com o patrimônio coletivo”.

SITE ÚLTIMO SEGUNDO IG

“A conservação ou degradação dos espaços públicos depende do nível de educação de todos aqueles que os frequentam”. Com esta frase, o sociólogo e professor da UFBA, Gustavo Roque de Almeida, resume as atitudes destrutivas das pessoas, as quais depredam os ambientes coletivos. Esta realidade atinge a população e as comunidades, o que torna a convivência social cada vez mais individualista. Nada está imune à ação dos vândalos: praias impróprias para banho, monumentos históricos pichados, ruas inundadas na época das chuvas – resultado dos lixos espalhados que entopem os bueiros. Até o novo estádio, a Arena Fonte Nova, não escapou de ser alvo das ações devastadoras em sua estreia antes da Copa: cadeiras quebradas e banheiros depredados, entre outras práticas nefastas. O radialista Lula Tavares e a professora Ionildes Oliveira se sentem incomodados com o comportamento alheio. “O que mais me incomoda é a falta de cuidado com o que é nosso por parte da popula-

MIGUEL CORDEIRO

Um sociólogo e um psicólogo explicam para o Fatos&Points o comportamento destrutivo das pessoas em ambientes coletivos

O passatempo na espera do ônibus.


Cultura

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por Lelo Filho

Ator, autor e diretor Um dos criadores da Cia. Baiana de Patifaria

Há quase três Carnavais, a Cia. Baiana de Patifaria e outros colegas de palco, subiam, para o espanto de muitos, com personagens de espetáculos como A Bofetada, Siricotico, A Noviça Mais Rebelde, Os Cafajestes e 7 Conto sobre um trio elétrico no circuito Barra/Ondina, em um percurso que durou cerca de 4 horas. O convite havia sido feito por Daniela Mercury que, naquele ano e sob o título ‘Carnaval é Arte!’, queria homenagear artistas de vários segmentos. Após algumas reuniões de elenco em separado para bolar os roteiros de cada esquete, e depois com os elencos de todos os espetáculos e a anfitriã na varanda de sua casa, saímos de lá com aquele frio na barriga e a responsabilidade de fazer bonito em uma festa onde se celebra o corpo, e não necessariamente a mente. E um misto de alegria e excitação tirou o sono de muitos de nós por algumas noites. A arte é tão múltipla e era isso que Daniela queria mostrar em seu ‘triatro’. A artista Daniela sempre vislumbra ir além e a cada carnaval agrega, inova, soma, se reinventa. Naquela noite, daquele Carnaval, homenageou o teatro baiano e nas noites que se seguiram emocionou a muitos com artistas plásticos pintando telas e até mesmo seu próprio figurino ou com a bailarina

FÁBIO PEIXOTO

A cultura do Carnaval

ARTE

Deborah Colker coreografando o povo na rua e nos camarotes do circuito. Coisa linda de ver! Inesquecível! O Carnaval, surgido entre os gregos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo, há muito já perdeu essa sua ‘função’ e nunca esteve tão próximo de sua possível origem etimológica, do latim, "carnis valles" ou prazeres da carne. Hoje, escrevendo essa coluna e tendo como tema mais um Carnaval que se aproxima, revivi um pouco da emoção daquelas noites em que participei e nas que assisti como espectador, quando o Carnaval em Salvador deixou de ser meramente ‘uma mãozinha pro lado, mãozinha pro alto, vai até o chão, requebra e rala a xana no asfalto’ e mostrou que é possível ser, também, ARTE! Gostos à parte, já que o Carnaval é uma festa que cabe tudo, só espero que outros artistas possam redescobrir a ARTE, mais uma função que o Carnaval pode ter. E que os refrões possam nos fazer tirar o pé do chão e ir atrás do trio elétrico, mas sem agredir tanto os nossos ouvidos. Eu sou do tempo em que as rimas eram a cara da alegria do Carnaval. E ninguém ficava parado, quando Gal cantava, por exemplo, Estamos aí (de Edil Pacheco e Paulinho Diniz). Ouçam, é lindo!

Estamos aí

Cada qual na pior Procurando alegria na praça

Estamos aí

Enfrentando essa vida

Em toda cidade pagando em suor

Levando no peito e na raça

A felicidade

Vou sair de palhaço

Vou sair de palhaço

Você de careta

Você de careta

A verdade deixei na gaveta

A verdade deixei na gaveta

Vou sair de palhaço

Vou sair de palhaço

Você de careta

Você de careta

A verdade deixei na gaveta

A verdade deixei na gaveta

letras.mus.br/gal-costa/265349/

MARCOS MOTTA

“Siricoticos de Elizabeta” Ai que ódiummm de estar em pleno verão com 16 praias impróprias pro banho a cada semana! Ai que ódiummm de ainda não terem resolvido a situação das barracas de praia! Ai que ódiummm da requalificação de apenas uma das praias custar quase 58 milhões de brocados**! A orla da Barra de Siricotico vai valer ouro!!!!! **brocados: moeda vigente na província de Siricotico.

Na sétima montagem do repertório da Cia Baiana de Patifaria, ‘Sircotico, uma comédia do balacobaco’, com texto assinado por Vinnicius Morais e por mim, e dirigida de Fernanda Paquelet, contamos a história dos bastidores do teatro, numa província chamada Siricotico, através de uma trupe em pleno século XIX. E lá falamos das obras do bondinho que já dura 15 anos e ainda não andou, do mensalão na Côrte, etc. Foi lá que nasceu Elisabeta Taylor (não queiram saber seu verdadeiro nome, pois ela o odeia!), adolescente mimada, super nervosinha e um de meus personagens no espetáculo, cujo bordão é ‘Ai que

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ódiummmmm!!’. E a partir dessa edição do Fatos&Points, Elisabeta dará o ar da graça por aqui, ou melhor, dará seus chiliques, trelêlês, siricoticos com o que não anda bem à nossa volta!

ERRATA - As fotos utilizadas na edição de dezembro nesta coluna são de Marcos Motta e Fábio Peixoto.

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