Edição 112 - Outubro/Novembro 2019

Page 1

n0

112 twitter.com/intdiagnostica

www.facebook.com/JornalID

www.interacaodiagnostica.com.br

OUTUBRO / NOVEMBRO DE 2019 - ANO 18 - Nº 112

Mobilização pelo conteúdo, o grande desafio

Dr. Emerson Gasparetto

Dr. Pedro Pires

E

nquanto os eventos se sucedem em todo o País, com uma diversidade e frequência que superam todas expectativas, a produção de conteúdo esbarra em fatores que vão da falta de incentivo, a desmotivação e a complexidade das matérias em função do

OUTUBRO ROSA

N

Dr. Romeu Cortes Domingues

rápido desenvolvimento tecnológico. A constatação pode ser feita no dia a dia, como argumentam chefes de residências, monitores, Fellows na rotina diária de motivar seus residentes e aperfeiçoandos. O ID Interação Diagnóstica mostra nesta edição que está circulando em outubro,

Prof. Carlos A. Buchpiguel

um pouco dessa rica produção científica e atividades realizadas nos principais centros especializados do País. Do Zika Vírus, com Pedro Pires, ao Câncer de Mama, com Anthony Stavros, da Medicina Personalizada, com Gustavo Meirelles à Genômica, com Romeu Cortes e Emerson Gasparetto,

Dr. Anthony Tomas Stavros

entrando pela Elastografia, pela Medicina Nuclear, mostrando toda a gama de setores do diagnóstico por imagem, seus avanços e sua importância na rotina médica. Mostra, também, o empenho das empresas nacionais e estrangeiras no esforço de produzir tecnologia que atenda a tantas expectativas.

Algoritmos vão prever e agilizar o diagnóstico do câncer de mama

a semana que antecedeu a circulação do ID Interação Diagnóstica, um esforço do Instituto Protea (entidade sem fins lucrativos, que atua com mulheres de baixa renda, diagnosticadas com câncer de mama) traz um pouco de otimismo nessa luta contra a doença. Especialistas da Harvard e do Massachussets Institute of Technology, Regina Barzilay e Constance Lehman, head do Massachussets Geral Hospital, e acompanhados de grande comitiva, encabeçada pela sra. Cristina Assumpção, diretora executiva do Protea, visitaram diversas instituições do País, buscando subsídios e levando informações. No Hospital do Amor – Unidade Barretos -- foram recepcionadas pelas dras. Silvia Maria Prioli de Souza Sabino, coordenadora de prevenção e pela dra. Selma Di Pace Bauab, e médicos da equipe. Focado em tratar a paciente de baixa renda diagnosticada com câncer de mama, o Instituto desenvolve ações com o Hospital Santa Marcelina em São Paulo, e tem se mobilizado para discutir soluções e caminhos para estas pacientes.

A dra. Constance Lehman e a dra. Regina Barzilay apresentaram algoritmo de mamografia que poderá mudar os rumos da prevenção do câncer de mama, nos diversos segmentos da população, por entidade racial. Apoiado em Inteligência Artificial, essa ferramenta estabelece “o cálculo de risco de ter câncer de mama baseado em mamografia com muita precisão e eficiência, com resultados superiores aos modelos de cálculos usados atualmente. “Conseguem antecipar e prever a ocorrência da doença, com segurança, muito antes dela se manifestar. Com isso poderá solucionar o problema de muitas pacientes que chegam para o tratamento em estágio muito avançado”. Veja também, nesta edição, entrevista com o dr. Anthony T. Stavros, onde abordou o problema e apresentou ações que melhoram o trabalho do médico na luta contra a doença. No Application, artigo da dra. Ana Lucia Kefalás mostra o papel do Rastreamento, os riscos do sobrediagnóstico e como detectá-lo. Confira. Nota da redação: “o tema será alvo de matéria exclusiva em nossa próxima edição”.

INOVAÇÃO

E

Engenharia e Medicina juntas para salvar vidas

m visita ao Brasil, Dr. Roderic Pettigrew está à frente da inovadora criação do EN MED, curso de 4 anos na Texas A&M (EUA) Em passagem pelo Brasil, como professor convidado do Departamento de Radiologia da FMUSP, o médico-cientista e líder reconhecido internacionalmente em imagens biomédicas e bioengenharia, Roderic Pettigrew, PhD, falou com exclusividade ao ID - Interação Diagnóstica sobre o futuro da Radiologia e a inovadora criação do EN MED, um programa educacional com duração de quatro anos na Texas A&M em parceria com o Houston Medical Hospital que une Engenharia e Medicina para desenvolver soluções a diversos problemas da área da saúde. Segundo ele, a experiência inovadora formará um novo tipo

de médico, que ele chama de physicianeer. Um dos objetivos do programa é também fornecer ao mercado soluções criadas pelos alunos. Diretor executivo da Engineering Health e decano executivo da EN MED, Dr. Pettigrew ainda citou alguns dos avanços da Radiologia e projetou os próximos anos para a medicina: “gosto de pensar que em alguns anos teremos pessoas dizendo ‘você imagina que, no início do século 21, médicos abririam as pessoas?’”. A entrevista completa estará na próxima edição. Fique ligado! O Dr. Pettigrew concedeu entrevista no Instituto do Coração, em São Paulo, ao lado dos drs. Cesar Nomura, diretor do Serviço de Radiologia e dr. Carlos Eduardo Rochitte, além de ministrar aula no Instituto de Radiologia HCFMUSP.

Veja também ✔ Efeitos adversos do rastreamento do câncer de mama: sobrediagnóstico e como detectá-lo ✔ Cistos de fenda braquial; definição/aspectos de imagem/pontos-chave ✔ Sindromes cromossômicas e gênicas e o coração fetal ✔ Urolitiase: uma visão diferente de um tema que parece esgotado


2

OUT / NOV 2019 nยบ 112


EDITORIAL Por Luiz Carlos de Almeida (SP)

Outubro Rosa

Câncer de mama, os números e a nossa realidade

A

o longo dos tempos, uma das instituições governamentais mais confiáveis neste País, ao lado do Instituto Oswaldo Cruz, ambos no Rio de Janeiro, e do Instituto Butantã, em São Paulo, para citar apenas algumas unanimidades, é o Instituto Nacional do Câncer. Entra governo, sai governo, ela está ali, incólume. É a visão de quem está só observando. Grandes nomes passaram por esta instituição e alicerçaram as bases do atendimento, da pesquisa e do ensino na prevenção do câncer, com o foco nos mais necessitados, na população que depende exclusivamente do Sistema Único de Saúde. E, nesses dias de “Outubro Rosa”, ao lembrá-la, prestamos nossa modesta homenagem, pois, o nosso tema não poderia ser diferente: o câncer de mama está na pauta das discussões, com toda sua gravidade e com todas as nossas ineficiências. Estimam-se, segundo o INCA, 59.700 casos novos de câncer de mama, para cada ano do biênio 2018-2019, com um risco estimado de 56,33 novos casos a cada 100 mil mulheres. E, sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer é o primeiro mais frequente nas mulheres das Regiões Sul (73,07/100 mil), Sudeste (69,50/100 mil), Centro-Oeste (51,96/100 mil) e Nordeste (40,36/100 mil). Na Região Norte, é o segundo tumor mais incidente (19,21/100 mil). Analisados por especialistas estes números não são diferentes de muitos outros países e não são também preocupação exclusiva do Brasil. A tendência da incidência tem aumentado na maioria das Regiões do mundo. Entretanto,

nos países altamente desenvolvidos, a incidência atingiu uma estabilidade seguida de queda na última década. Ainda nesses países, as taxas de mortalidade apresentaram uma tendência de declínio desde o final da década de 1980 e início de 1990, refletindo uma combinação de melhoria na detecção precoce, por meio de rastreamento populacional, e intervenções terapêuticas mais eficazes. Dentro das suas limitações e focado apenas no médico, o ID tem procurado apoiar essa luta, trazendo conteúdos atualizados, informações de primeira mão, mobilizando a comunidade médica para que produza conteúdo. Nesta edição, trazemos dois importantes conteúdos: entrevista com o dr. Anthony Thomas Stavros, dos Estados Unidos, que nos fala sobre os desafios da prevenção, do rastreamento e do diagnóstico, e um trabalho da dra Ana Lucia Kefalas Oliveira, da Universidade do Triangulo Mineiro, e agora guindada a condição de coordenadora da Comissão de Mamografia do CBR, sucedendo à Dra. Linei Urban, do Paraná. E aqui entremos no jogo, se assim podemos falar, para registrar iniciativas que engrandecem o nosso País. Para os radiologistas, o trabalho da Comissão de Qualificação em Mamografia, uma iniciativa pioneira do Colégio Brasileiro de Radiologia que, há mais de 25 anos, implantou um programa de qualidade para “sensibilizar” os serviços de mamografia a zelarem pela qualidade dos exames realizados. E, faço um resgate histórico especial para lembrar os pioneiros, no caso, dr. Domingos Correia da Rocha, prof. Hilton Augusto Koch e dr. Luiz Karpovas, que não mediram esforços para que o programa se operacionalizasse. E, outro registro especial, às dras. Norma Maranhão, Selma

di Pace Bauab, Radiá dos Santos, os drs. José Michel Kalaf e Dakir Lourenço Duarte e o físico João Emilio Peixoto, pela perseverança. E, uma palavra especial, à dra. Elvira Ferreira Marques, do Hospital ACCamargo, que, desde o início, deu sua contribuição. É testemunho de quem esteve lá. Hoje, todos integrados com as entidades de Mastologia e Ginecologia e Obstetrícia. Falar na prevenção e no controle do câncer de mama já não é novidade. Todas as instituições de referência se equiparam, as empresas passaram a produzir equipamentos de ponta, os mamógrafos analógicos abriram espaço para os digitais, as tomossínteses e as ressonâncias fecharam os espaços e, com segurança, a mulher ou homem que tiver acesso aos métodos de imagem, por certo, terá um bom atendimento. Está chegando a Inteligência Artificial e a IBM está trabalhando com afinco na área. Estudos por ela realizados mostram resultados animadores para prever mulheres com possibilidades de desenvolver o câncer de mama. O “Outubro Rosa”, instituído nos Estados Unidos, ganhou o mundo e hoje tem o papel de colocar o tema na pauta das discussões, fazer pensar no assunto e procurar melhor solução para o problema. Enfrentar a diversidade social e econômica. A situação é grave. É, mas, já foi pior. Em todo o nosso País, médicos e entidades prestam inestimáveis serviços na luta contra o câncer de mama e o momento é de reflexão sobre o assunto, oferecer o que há de melhor e se preocupar sempre com a atualização. Pesquisa e atualização apontam os caminhos. A inovação tecnológica é fundamental, mas, cabe ao médico a palavra final.

Por Ibrahim Masciarelli Pinto (SP)

PONTO DE VISTA

Imagem cardíaca por métodos axiais: uma história breve, um longo futuro Disponível na prática clínica há pouco mais de 30 anos, a imagem cardíaca por métodos axiais passou por grande evolução. Exames de ressonância magnética que antes eram feitos em até duas horas e davam informações basicamente anatômicas, hoje são feitos em poucos minutos, possibilitam a avaliação anatômica e funcional do coração e dos grandes vasos e permitem caracterização tecidual, apontando, inclusive, a presença de fibrose intersticial e processos inflamatórios.

A

tomografia, neste mesmo período, passou a ocupar lugar de primeira linha na identificação de portadores de doença coronária e é exame indicado como primeira opção de estudo, para casos de risco intermediário, intermediário-baixo, nas últimas diretrizes da Sociedade Européia de Cardiologia. Em ambas as modalidades os meios de contraste utilizados são cada vez mais seguros, usados em volumes progressivamente menores e na tomografia as doses de radiação ionizante empregadas são da ordem de até 10 vezes menores quando comparadas aos

exames feitos há 10 anos atrás. Por mais expressivas que tais avanços tenham sido, porém, esperam-se novas e impactantes novidades nos próximos anos. A incorporação da inteligência artificial fará com que os exames sejam executados de modo mais rápido, preciso e personalizado. Novos meios de contraste, dentre outros avanços, levarão ao desenvolvimento de imagem molecular. Novamente a inteligência artificial e técnicas de aprendizado das máquinas, farão com que alterações sutis, que possam estar relacionada a presença de desfechos desfavoráveis, permitam que o clínico

intervenha de modo decisivo na evolução de casos individuais. Certamente descobriremos novos fatores de risco para muitas doenças. Substratos arritomogënicos poderão ser identificados e até guiar a realização de procedimentos intervencionistas. Os padrões de normalidade deverão ser revistos e atualizados e, no meio disto tudo, o profissional de imagem deverá se reinventar. Da mesma forma que novos diagnósticos e novos procedimentos estarão presentes na medicina, o profissional de imagem deve mudar seu comportamento, conhecendo cada vez mais das doenças que

estuda, realizando cada vez mais a ligação entre diagnóstico e intervenção e estar á frente das pesquisas e das iniciativas que buscam desenvolver estas novas opções diagnósticas. O futuro está, como poucas vezes antes na história da humanidade, disponível para ser escrito e influenciado por nós. Cabe-nos saber fazer que a saúde das pessoas possa se beneficiar de todos os avanços disponíveis, e de revermos nossa postura profissional, para que nós não nos tornemos obsoletos como técnicas que por mais que tenham sido valiosas no passado, caíram no total esquecimento. OUT / NOV 2019 nº 112

3


O BIMESTRE Por Luiz Carlos de Almeida (SP)

S

ão Paulo – Hospital das Clínicas da FMUSP inaugura espaço dedicado a inovação – O Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) inaugurou em 12 de setembro, o Distrito InovaHC, que funcionará no maior sistema acadêmico e de pesquisa em saúde da América Latina. Com 900 metros quadrados, o espaço dedicado exclusivamente às atividades de inovação com foco na área da saúde, que tem capacidade para abrigar até 20 startups e cerca de 150 pessoas. A iniciativa conta com a participação de grandes empresas, que terão parte de suas áreas de inovação no hub. As empresas poderão desenvolver as próprias estratégias de inovação e, com isso, farão do complexo um ambiente de troca constante de conhecimento. Além das empresas parceiras, o Distrito InovaHC espera reunir corporações, investidores, universidade e startups, com o intuito de criar, testar e escalar soluções

para a vasta gama de problemas existentes no sistema de saúde brasileiro.A cerimônia de abertura foi realizada no Auditório do Instituto de Radiologia (InRad) e contou com a presença de autoridades do governo,

representantes do Complexo FMUSPHC, colaboradores e convidados. Em sua fala, Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Inovação do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade

de São Paulo (HCFMUSP), lembrou “dos desafios de inovar na saúde pública e que desde 2014, a instituição tem o projeto Inova HC, cuja proposta foi de incentivar ideias de residentes e pesquisadores do hospital”, complementando que “o estímulo à inovação pode ajudar a baratear procedimentos, e tudo que for desenvolvido pode ajudar toda a população”. Na sequência, teve início uma programação que incluiu a apresentação do Distrito, de painéis e visitas à unidade ao longo de todo o dia. A sede do Distrito Inova HC está localizada na Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 555, 4º e 5º andares, no mesmo prédio do Centro de Atenção ao Colaborador (CeAC). Representando o governador João Doria, o secretário da Saúde, José Henrique G. Ferreira e a profa. Linamara R. Battistella, cortaram a fita de inauguração. Presentes também, o prof. Giovanni G. Cerri, o engº Antonio José Pereira, o engº Marco Bego, o dr. Fabio Jatene, dr. Decio Mion, entre muitos outros.

S

ão Paulo – Curso da RSNA em São Paulo – Para discutir “Tendências e perspectivas em radiologia oncológica, dentro de uma abordagem multidisciplinar, a Radiologica Society of North America realizou em São Paulo, com o apoio da Sociedade Paulista de Radiologia no último final de semana de setembro, mais um “RSNA Spotlight Course”. Com um expressivo público, das mais diversas regiões do País, o evento foi aberto pelo prof Paulo Hoff, da FMUSP, e, sob a coordenação dos drs. Roberto Blasbalg e Martin Torriani, reuniu convidados enviados pela instituição e os brasileiros Dany Jasinowodolinsky, Eduardo Mortari Ribeiro, Marcelo Queiroz, Douglas Jorge Racy, Antonio C. Westphalen e Leonadro Vedolin, cujos currículos dispensam referências.

S

ão Paulo – Einstein comemora resultados de mais um CIDI – Com uma abordagem multidisciplinar, tendo como foco central a Imagem em Oncologia, o Hospital Israelita Albert Einstein, através do seu Departamento de Imagem realizou o VI Congresso Internacional de Diagnóstico por Imagem, simultaneamente com o X Simpósio de Ressonância Magnética. A coordenação esteve a cargo do dr. Ronaldo H. Baroni que, na sessão de abertura (foto) enfatizou a importância desse encontro que, “tradicionalmente promove intensas discussões sobre temas de muita relevância. E, neste ano, ao escolher a Oncologia, abriu espaço para uma discussão multiespecialidades, com reflexos diretos na rotina de atendimento”. A equipe da imagem, sob a chefia do dr. Marcelo Buarque de Gusmão Funari, reuniu nomes de grande expressão como Miguel Jose Francisco Neto, Adriano Tachibana, Marcos Roberto de Queiroz, Luiz Guilherme Harthman, Yoshino Sameshima, Walther Ishikawa e Antonio Rahal Jr., entre outros, e os oncologistas, Antonio Buzaid, Fernando Maluf, Oren Smaletz e Rene Gansl, que proporcionaram momentos de muita informação atualizada. O convidado internacional, dr. Leonardo Marcal, brasileiro que trabalha no MD Andersen, e que é um dos nossos entrevistados nesta edição, trouxe importante contribuição para o evento, com aulas sobre padronização de laudos e pesquisa em imagem.

4

OUT / NOV 2019 nº 112

S

ão Paulo – AC Camargo dobra sua estrutura e fortalece ensino e a pesquisa – Referência internacional em oncologia, fundado há 64 anos o A.C.Camargo Cancer Center é um dos maiores e mais importantes centros especializados e integrados de diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer no País. São 5 mil profissionais e corpo clinico de mil médicos, multiprofissionais e cientistas atuando de forma integrada. Em seu Centro Internacional de Pesquisas (Cipe), um dos maiores e mais qualificados da América Latina, médicos e cientistas atuam em conjunto no desenvolvimento de pesquisas que serão aplicadas no futuro da oncologia, resultando nas melhores alternativas terapêuticas e, consequentemente, no aumento dos índices de cura e de sobrevida do paciente. No Ensino, é a principal Instituição formadora de especialistas, residentes, mestres e doutores em oncologia do país, aptos a compartilhar o conhecimento e atuar no combate ao câncer em benefício de toda a sociedade. Para marcar o início das atividades de sua nova unidade, no bairro da Aclimação, o AC Camargo reuniu a comunidade científica e convidados. Em um prédio de 20 andares, equipado com o que há de mais moderno em tecnologia – três andares dedicados ao diagnóstico por imagem, dirigido pelo dr. Rubens Chojniak -- com o suporte de uma equipe de referência em oncologia e planos mais ambiciosos de expansão da cidade de São Paulo, a instituição fundada por Antonio Candido de Carvalho vai dobrar sua capacidade de atendimento ambulatorial, além de melhorar o acesso e conforto dos pacientes.


OUT / NOV 2019 nยบ 112

5


RESULTADO Por Valéria de Souza (SP)

Auditagem da AIEA coloca Medicina Nuclear do InRad como a melhor

D

Com a pontuação de 94% na auditoria realizada pelo programa QUANUM, o Centro de Medicina Nuclear do InRad, foi considerado o melhor serviço já auditado pela AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica.

os 74 serviços de medicina nuclear já auditados até hoje pela AIEA, o Centro de Medicina Nuclear do InRad HCFMUSP, foi considerado o melhor serviço da especialidade ao conquistar a pontuação de 94%, na auditoria realizada pelo programa QUANUM - Quality Management Audits in Nuclear Medicine Practices da Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA. A Medicina Nuclear do InRad, que é chefiada pelo prof. Carlos Alberto Buchpiguel, já havia passado por uma primeira avaliação de 05 a 09 de março de 2012, Fachada CMN InRad HC quando projeto ainda chamava-se “Strengthining Quality Assurance in Nuclear Medicine” (Fortalecimento da Garantia da Qualidade em Medicina Nuclear). Nesta oportunidade os auditores deixaram um relatório com várias recomendações na área de procedimentos de diagnóstico, gestão da qualidade, proteção radiológica, mas as mais críticas estavam relacionadas às instalações físicas da radiofarmácia hospitalar. Para atender as recomendações foi necessária a aquisição de um fluxo laminar blindado e uma pequena

6

OUT / NOV 2019 nº 112

adequação civil das instalações, o que representou um custo relativamente alto e o principal motivo por ter sido executado somente em 2018, quando o InRad conseguiu realizar este investimento. Assim, logo após esta adequação civil e compra do equipamento foi solicitada uma nova avaliação para AIEA, realizada de 12 a 16 agosto. De 2012 a 2019 o programa de avaliação mudou para QUANUM e evoluiu nas suas exigências, e esta auditoria foi baseada no “Quality Management Audits in Nuclear Medicine Practices ” 2 a edição 2015 e no “Checklist - QUANUM 3.0”. São cerca de 270 itens que foram avaliados e a instituição conseguiu conformidade em 94% deles. As não-conformidades foram na área de proteção radiológica, radiofarmácia hospitalar, procedimento de diagnóstico e tecnologia da informação.

Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA A AIEA foi estabelecida como uma organização autônoma, pertencente as Nações Unidas em 29 de julho de 1957, como

uma organização internacional “devotada exclusivamente ao uso pacífico da energia atômica”. Em 1957, foi completado o seu estatuto. O seu objetivo é a promoção do uso pacífico da energia nuclear e o desencorajamento dos usos para fins militares de armas nucleares. Na medicina, seu objetivo, é ajudar e apoiar os Estados Membros a estabelecer os cuidados da saúde com alta qualidade em todo o mundo. Através da coordenação de projetos de pesquisa, orientação especializada, equipamentos, desenvolvimento de diretrizes harmonizadas internacionalmente, treinamento e intercâmbio de conhecimento. Com este apoio o uso de técnicas nucleares em medicina tornou-se uma das aplicações mais pacíficas da energia atômica, principalmente no diagnóstico e tratamento do câncer, garantindo a qualidade do uso de radiação de forma segura e precisa.

QUANUM – Quality Management Audits in Nuclear Medicine Practices O QUANUM são auditorias de qualidade que revisa de forma abrangente as práticas de medicina nuclear, com o objetivo de melhorar a qualidade das práticas e de gestão. O programa de auditoria envolve: revisão das políticas, dos procedimentos e os indicadores dos seguintes processos: gestão superior, recursos humanos, gestão da qualidade, proteção radiológica,

Prof. Carlos Alberto Buchpiguel.

proteção radiológica dos pacientes e dos funcionários, procedimentos clínicos de terapêuticos, radiofarmácia hospitalar e a produção de radiofármacos. A auditoria é realizada por uma equipe multiprofissional, aqui especificamente foram dois médicos nucleares, dois físicos médicos e um radiofarmacêutico. Após a auditoria há a emissão de relatório que avalia a qualidade atual e faz sugestões para melhorias. É importante frisar que a auditoria não emite um certificado, mas avalia e faz recomendações, e que podem contribuir globalmente para melhoria contínua de todo o processo. (Fonte: InRad HCFMUSP)


MATÉRIA DE CAPA Por Angela Miguel (SP)

Câncer de mama: custos e preconceitos dificultam a prevenção Referência mundial nos estudos de mama, Dr. Anthony Thomas Stavros falou com exclusividade ao ID – Interação Diagnóstica a respeito de suas impressões sobre o futuro da radiologia, tecnologias como tomossíntese e ultrassom automatizado e deu um panorama sobre o câncer de mama no país norte-americano.

D

as doenças com maior mortalidade entre as o rastreamento é desnecessário, o que é uma inverdade. gerados durante o exame, acelerando o processo e servindo mulheres, o câncer de mama é a grande paiMuitas famílias estão comprando a ideia do movimento de suporte ao médico. O computador pode trabalhar 24 xão de Anthony Thomas Stavros, professor antirrastreio e isso é perigoso. É uma batalha constante, horas por dia, não fica cansado, o médico, sim. Contudo, da Universidade do Texas e membro de entimas é papel também do radiologista conversar diretamente ainda é cedo para dizer o que poderá acontecer com a IA. dades como o American College of Radiology com as mulheres, orientá-las. O governo deveria se preoTalvez tenhamos avanços significativos em cinco anos, talcupar com esse movimento, mas eles não veem o problema vez em dez. Mas sei que hoje ainda está engatinhando, não e a Radiological Society of North America. Foi esse grande a longo prazo. Todos devemos é um fenômeno que acontece interesse que o levou a escrever a obra Breast Ultrasound nos preocupar com a redução dos do dia para a noite e os radio(lançado em 2006 no Brasil com o título de Ultra-sonografia logistas precisam se adaptar a casos de câncer diagnosticados da Mama), à criação do software Ikonopedia e ao cargo de esta realidade. Não são todos em estágio avançado. Chief Medical Officer (CMO) da companhia Seno Medical, onde trabalha no desenvolvimento de um sistema que que a recebem de braços aberID: Nesse sentido, como o tos, mas acredito que a IA e o utiliza tecnologia opto-acústica acoplada ao ultrassom para senhor vê a evolução da precisão do diagnóstico mamário? aprendizado de máquinas fará gerar imagens funcionais e morfológicas da mama. E qual sua opinião sobre a dos radiologistas melhores – e O assunto, no Brasil, convive com as diversidades tomossíntese? precisamos ser melhores. regionais, com a falta de investimentos e de uma política Dr. Stavros: Em relação à ID: Como o senhor vê a eficiente de prevenção. Ao mesmo tempo sobrevive um trabalho de nível muito elevado, com o Programa de Qualidade mamografia, estudos recentes chegada da ultrassonografia em Mamografia, do Colégio Brasileiro de Radiologia, com mostram que o rastreio salva automatizada? Acha que ela entidades como o Instituto Nacional do Câncer, Hospital vidas, sem sombra de dúvida, substituirá a manual? de Amor de Barretos, Instituto do Câncer do Estado de e ela continua sendo um exame Dr. Stavros: Acredito que o São Paulo, e muitas outras entidades espalhadas pelo País. fundamental. Por outro lado, a ultrassom automatizado possui Esta edição está circulando no “Outubro Rosa” e, com tomossíntese tem conquistado uma janela de oportunidade Dr. Anthony Tomas Stavros esta entrevista o ID leva sua mensagem, integrado nessa progressos e feito a diferença a para substituir o manual. Mas, mobilização tão necessária, trazendo parâmetros para que o cada ano. Se vai substituir o exame de mamografia digital de ao mesmo tempo, exige mais tempo de leitura e atenção do médico brasileiro reforce, ainda mais, a sua atuação. rotina? Talvez em cinco anos. Achar mais cânceres? Alguns radiologista, e muitos deles não estão confiantes ainda, não Ao ID – Interação Diagnóstica, o dr. Stavros fez um a mais, mas o importante é que reduz os falsos positivos e as ganhou tanta aceitação quanto acho que deveria. O problema é que essa janela está se fechando, pois, uma grande panorama sobre o câncer de mama nos Estados Unidos, biópsias negativas, essa é uma grande vantagem. Porém, é vantagem do rastreamento com ultrassom é a ausência do opinou a respeito do futuro da radiologia e de tecnologias importante lembrar que a tomossíntese exige mais atenção uso de radiação ionizante ou da necessidade de contraste do diagnóstico por imagem como a tomossíntese, além de do radiologista, uma vez que ele possui mais imagens para endovenoso e no futuro deverá ser possível fazer rastreio adiantar o status dos projetos em que está envolvido. De olhar antes de realizar o laudo. Se um radiologista consegue efetivo com outros métodos de imaquebra, avisou que uma nova versão de gem sem radiação e sem contraste, seu livro-referência deverá ser lançada como por exemplo com a ressonância em 2020. A entrevista contou com o magnética sem contraste. Enquanto apoio da Dra. Andrea Freitas Stavros. necessitarmos de contraste para RM, ID: O câncer de mama ainda é um ela será reservada aos casos mais dos mais letais em todo o mundo, o complexos ou para pacientes de alto tipo que mais acomete as mulheres no risco, mas se a tecnologia avançar e se Brasil. Como está o combate à doença mostrar mais ágil e economicamente nos Estados Unidos? Qual o panorama viável, a janela se fechará. Não acho atual no país norte-americano? que estamos lá ainda, mas há muitos Dr. Anthony Thomas Stavros: O profissionais desconfortáveis com os câncer de mama nos Estados Unidos falsos positivos do ultrassom. ainda cresce, e ninguém sabe exatamente o porquê. Acredito que seja ID: Há atualizações para o BI-RADS, sistema de padronização uma combinação de fatores. Lá, temos para análise das características das diferentes organizações que abordam Imagem com a tecnologia Optico-Acustico: Carcinoma ductal invasivo grau 3 triplo negativo com 8 mm – sem lesões mamárias? o câncer de mama e cada uma delas achados na zona periférica de tecido ao redor do nódulo e grande área de desoxigenação colorida em vermelho na Dr. Stavros: Ainda não há planos possui diretrizes próprias. Além disso zona interna e na zona limite entre o nódulo e o tecido adjacente. para uma nova versão do BI-RADS. há a USPS Task Force, um grupo montado pelo governo, que, acredito, foi criado para poupar Sobre a última versão, acredito que não realizamos tanto verificar uma sequência de 4 imagens em uma mamografia dinheiro. Isso me parece um absurdo porque o governo pode progresso quanto esperávamos, uma vez que buscamos básica, a tomossíntese exige 60 imagens. Talvez a Inteligência Artificial seja um ótimo parceiro nessa exigência. se recusar hoje a pagar pelo exame preventivo, mas pagará harmonizar a linguagem com o léxico da mamografia, mas ID: Mas sabemos que a IA ainda é um tema que amedepois, quando a mulher vier a necessitar de tratamento o problema é que ele está limitado a esse léxico e tanto dronta muitos médicos, certo? para um câncer avançado, por conta da doença que não foi ultrassom quanto RM carregam mais informações que a Dr. Stavros: Sim, há muitos médicos que se sentem diagnosticada com antecedência. Há ainda um movimento mamografia. Esperamos corrigir isso na próxima vez. Aliás, esse é um outro projeto pessoal, pois há um léxico para ameaçados pela evolução tecnológica, o que acho uma antirrastreio forte nos Estados Unidos, que inclusive tem descrever os realces não massa na RM e não há descritores opinião ligada à falta de conhecimento. No caso da própria algumas poucas pessoas movidas por crenças religiosas, correspondentes para estes achados no ultrassom, então tomossíntese, por exemplo, a IA poderia auxiliar o médico que acreditam que se Deus “deu” à mulher o câncer, não desejo criá-los. a identificar lesões nas imagens ou agregar todos os dados devemos interferir. Dizem que diagnosticamos cânceres insignificativos, que há um exagero no diagnóstico. E por fim, há muitos médicos de família atuando nos Estados Unidos que consideram que “o rastreio não salva vidas, o que é um absurdo. As mulheres, por sua vez, recebem todo tipo de informações, de todos os lados, que devem fazer o Dr. Anthony Thomas Stavros trabalha ainda com duas soluções relacionadas ao câncer. Uma delas é o rastreio a partir dos 40 anos hoje, mas amanhã devem fazer software Ikonopedia, sistema que estabelece padrões de nomenclatura para descrever lesões encontradas somente após os 50... Elas ficam confusas e não sabem em nos exames de imagem, reduzindo divergências nos laudos, além de possibilitar realização automática de quem acreditar! auditoria dos resultados e comparação com as referências do BI-RADS. Segundo o médico, várias instiID: Qual é, portanto, o papel do radiologista nesse tuições já estão usando o software, inclusive a Universidade de Mount Sinai (Nova Iorque), mas ainda há algumas cenário preocupante? dificuldades para a integração com todos os sistemas PACS e RIS. Já na startup Seno Medical, o radiologista trabalha Dr. Stavros: Os radiologistas devem conversar com com a tecnologia opto-acústica, que é a fusão de laser com ultrassom. Com as ondas do laser, é possível identificar suas pacientes! Veja, há muitos médicos de família, resiquantidades relativas de hemoglobina oxigenada e desoxigenada nos vasos, nódulos e tecidos adjacentes, além de dentes, ginecologistas que foram ensinados a acreditar que identificar a presença de neoangiogênese tumoral. O produto está em processo de aprovação no FDA.

O

Soluções à vista

OUT / NOV 2019 nº 112

7


REPORTAGEM Por Angela Miguel (SP)

Padronização de laudos é benéfica para exames clínicos e de pesquisa em Imagem

D

Para o Dr. Leonardo P. Marcal, do MD Anderson Cancer Center, a padronização de exames e laudos é essencial para a mineração de dados radiológicos, tendo em vista a aplicação de terapias a pacientes oncológicos.

ainda que seja possível encontrar muitas iante da adoção crescente diologia de abdome e oncologia, dr. Marcal similaridades entre eles. Assim, o Colégio de avanços tecnológicos na tem percebido a importância da compilação Americano de Radiologia iniciou a criação geração de relatórios rade dados confiáveis para a aplicação da de sistemas de padronização de laudos para medicina personalizada. “Tanto para clínica diológicos e a partir de um criar uma base primária de informações e quanto para a pesquisa, a mineração de daintercâmbio cada vez maior dados, caso do RECIST (Response Evaluaentre centros médicos por dos é fundamental, e o grande problema é todo o mundo, a preocupação com a mineque não falamos a mesma língua em questão tion Criteria in Solid Tumors - Critérios de de informação radiológica, fazendo com que avaliação de resposta em tumores sólidos) ração de dados radiológicos e padronização e do sistema RADS (Reporting de laudos tem ganhado espaço and Data System). entre os radiologistas. Esse foi o “O laudo é o produto final da tema do simpósio internacional reradiologia, é um aspecto essenalizado pelo Dr. Leonardo Marcal, professor associado de Radiologia cial da comunicação, e se o laudo e Diretor de Ultrassonografia Genão segue um padrão, é imposral na Universidade do Texas MD sível reconciliar as informações e Anderson Cancer Center, durante promover discussão de casos ou o VI Congresso internacional de aprofundar estudos, atuações beDiagnóstico por Imagem do Hosnéficas não só para a comunidade radiológica, mas sobretudo para pital Israelita Albert Einstein. o paciente. Os RADS são usados Formado em Medicina pela aqui no Einstein, por exemplo, o Universidade Federal do Espírito que facilita essa busca. Imagine Santo, Marcal iniciou sua residênquantas informações se perdem cia clínica em Radiologia Diagnósnesses prontuários eletrônicos!”, tica no hospital William Beaumont, reforça. Michigan (EUA), e seguiu para Dr. Ronaldo Baroni e dr. Leonardo Marcal, da Universidade do Texas Outra aplicação dessa paum fellowship na Universidade esses dados sejam perdidos e que muitos do Texas, onde ingressou no Departamento dronização também está relacionada à chapacientes não recebam terapias adequadas de Radiologia como professor assistente em mada medicina personalizada, especialmenàs suas necessidades”, explica o radiologista. 2006 e lá permanece desde então. Como te no caso da oncologia. Como é complexo Segundo ele, na área da oncologia, cada um dos principais centros de referência descobrir por que razões um tratamento funpaís possui critérios específicos de avaliação em Oncologia no mundo, o MD Anderson ciona para um paciente e não para outro, ainpara apresentação de laudos. Os laudos são Cancer Center escolheu o brasileiro como da que possuam a mesma lesão oncológica, diferentes, por exemplo, nos Estados Unidos, um dos integrantes do Liver Tumor Board a padronização dos laudos possibilita uma nos países da Europa, na China e no Brasil, Multidisciplinary Conference. abordagem pessoal, principalmente quando pois cada um escolhe um sistema específico, Devido aos seus estudos na área de raaliada aos avanços tecnológicos. “Imagine

você reconciliar todo o avanço tecnológico padronizado e, a partir dele, conseguir uma aplicação efetiva na prática clínica. Sabemos que isse ainda é uma transição complexa, mas é possível criar um banco de dados que agilizem as escolhas terapêuticas para cada paciente, que é sempre o centro de nosso dia a dia”, emenda Dr. Marcal.

Parceria frutífera O trabalho em conjunto do HIAE com o MD Anderson Cancer Center existe há anos, mas tem sido reforçado por meio do Departamento de Imagem. Visitas mútuas dos profissionais e troca de experiências e dados fazem com que a imagem oncológica seja um tema cada vez mais importante para os serviços de saúde brasileiros e também para os profissionais da área da radiologia. “Essa parceria é uma consolidação da atuação do radiologista ligado ao centro de oncologia. Esse profissional não é mais um mero laudador de exames, e essa padronização de que Marcal fala também diz respeito a essa mudança de atuação. Hoje o radiologista participa de todas as etapas de atendimento e dos boards multidisciplinares: ele prepara o caso, o apresenta, opina sobre ele, discute a conduta com outros médicos, enfim, assume um papel muito mais abrangente que extrapola o laudo radiológico e exige mais de seu conhecimento”, complementa o Coordenador Médico do Departamento de Imagem do HIAE e coordenador geral do Congresso, Dr. Ronaldo Hueb Baroni.

PESQUISA

Estudo latino americano propõe método de vigilância para testar vacina contra o Zika Vírus

E

Os ensaios de eficácia da vacina devem ter fortes metodologias de vigilância de doenças/infecções, que permitam demonstrar a eficácia ou futilidade da intervenção.

ssa conclusão é mais uma etapa no trabalho que vem sendo desenvolvido por pesquisadores de diversos países, atentos à gravidade do problema. Em artigo original “Vigilância da gravidez e doença do zika: uma proposta de metodologia de vigilância para um ensaio de eficácia da vacina contra o zika”, publicado na Revista Latinoamericana de Infectologia Pediátrica, pesquisadores do Brasil, México e Colômbia propuseram um método de vigilância para a detecção e acompanhamento da infecção pelo ZIKV em mulheres grávidas e seus bebês até 1 ano de idade, para uso no contexto de um estudo de eficácia da vacina em fase III. Segundo Pedro Pires, do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, um dos representantes brasileiros no estudo, “a vigilância de casos suspeitos ou confirmados de doenças específicas permite a captura e classificação de tais casos para a avaliação da eficácia em ensaios clínicos de vacinas. No caso da vigilância da Doença pelo Vírus Zika, existem grandes limitações, principalmente devido à epidemiologia da doença pouco caracterizada e ao ônus da doença”. O método escolhido para este trabalho conjunto foi a revisão sistemática das atuais diretrizes nacionais validadas para a vigilância do zika em mulheres grávidas e recém-nascidos em três países da América Latina (Brasil, México e Colômbia) e nos EUA, incluindo a comparação desses documentos com os de outras organizações internacionais e regionais como a Organização Mundial da Saúde – OMS e CDC-Centers for Disease Control and Prevention. “Um documento de Metodologia da Vigilância por consenso foi redigido e compartilhado com especialistas clínicos sobre o tema nos países selecionados; os antecedentes desses especialistas incluíam neuropediatria, doenças infecciosas pediá-

8

OUT / NOV 2019 nº 112

ZIKV em seus territórios, avaliação da infraestrutura de tricas, obstetrícia/ginecologia e perinatologia”, explica Pires. saúde de potenciais locais clínicos, padrões nacionais de Como resultado o grupo produziu uma proposta de um atendimento, viabilidade para amostras biológicas espemétodo de vigilância regional para a doença do vírus Zika em mulheres grávidas e recém-nascidos, que poderia ser cíficas, o seu processamento (incluindo exportar para um integrado à avaliação de casos para um ensaio de fase III laboratório central, se/conforme necessário), e disponibilide eficácia da vacina na América Latina, dade de exames radiológicos e quaisquer em conformidade com a saúde pública outros procedimentos. Depois de todos nacional e regional. O documento propõe esses aspectos operacionais são avaliados, parâmetros para a identificação de provável é desejável ter um protocolo padrão que infecção por zika em mulheres grávidas, pode ser adotado com o mesmo rigor em determinando uma provável infecção por todos os locais de estudo de um ensaio zika no feto e define os primeiros achados clínico multinacional, pois deve facilitar o da síndrome congênita do zika (CZS); para agrupamento de resultados de diferentes o acompanhamento de bebês durante o países na análise geral da eficácia”, escreveu primeiro ano de vida. o grupo de pesquisadores. De acordo com o grupo, no caso de um A equipe desse estudo, financiado pela ensaio clínico de fase III de eficácia da vaSanofi Pasteur, foi formada por: Diana Cocina contra o zika, é importante ter uma deronel, Enrique Rivas, Joyce Ojeda, México; Ana Paula Perroud, São Paulo, Brasil; Betfinição clara de caso clínico suspeito para a identificação dos casos sob vigilância, Dr. Pedro Pires, de Recife. zana Zambrano, Uruguay; Margarita Cortés, exames laboratoriais que permitam sua Luis Gabriel Bernal, Colômbia; Germán Áñe confirmação, bem como métodos de vigilância específicos e Fernando Noriega,USA; Stephen Kennedy, da University para subgrupos de casos. “Todas essas ações aumentarão a of Oxford, UK; Álvaro Izquierdo-Bello, da Universidad Naprobabilidade de avaliar a eficácia de uma vacina candidata cional de Colômbia; Marco Aurelio Sáfadi, do Departamento ao zika na prevenção de infecções e doenças”, concluiu o de Pediatria, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa grupo de pesquisadores. de São Paulo, Brasil; José Luis Arredondo-García, do InsPortanto, esta estratégia de vigilância deve ajudar a detituto Nacional de Pediatría, México; Ricardo Figueroa, do Instituto Nacional de Perinatología, México; Pedro Pires, do terminar não apenas a ocorrência de sintomas assintomáticos Departamento de Tocoginecologia, Faculdade de Ciências ou subclínicos de infecções, casos clínicos e sua gravidade, Médicas, Universidade de Pernambuco, Brasil; e Miguel mas também sequelas ou achados/manifestações tardios Antonio Parra-Saavedra, da Colômbia. que são conhecidos por ocorrer no CZS. “A viabilidade deve Leia o artigo completo no link: https://www.medigraentão incluir a avaliação contínua do vírus epidemiologia, avaliação do apoio das autoridades de saúde para estudar phic.com/cgi-bin/new/resumenI.cgi?IDARTICULO=88281


PONTO DE VISTA Por Engº Antonio Jose Pereira (SP)

Inovação em Gestão

E

Ao assumir a gestão do Hospital das Clínicas da FMUSP - com sua história de pioneirismo dentro da Medicina brasileira - coloquei como uma das prioridades para que pudéssemos manter e, sempre que possível, superar seus reconhecidos padrões de excelência, fortalecer a cultura de inovação no complexo.

m um cenário de crise como o que estamos enfrentando já há alguns anos, estava certo de que apostar na criatividade e no talento de nossos colaboradores seria imprescindível para que pudéssemos seguir avançando e atendendo a população da forma que ela merece. Com o apoio da Faculdade de Medicina da USP, da Fundação Faculdade de Medicina e da Fundação Zerbini, investimos na criação de um ambiente cada vez mais propício para que nossos profissionais e nossos estudantes pudessem desenvolver todo o seu potencial criativo. Resultado da soma desses esforços e união, o HCFMUSP foi

novas tecnologias, como inteligência artificial, internet das coisas e impressão 3D. Todas essas realizações só são possíveis graças ao incansável apoio e entusiasmo da Faculdade de Medicina da USP e seus professores titulares, do HCFMUSP e sua Diretoria Clínica, e da Fundação Faculdade de Medicina e da Fundação Zerbini. Entusiasmo e apoio que podem ser traduzidos pelo trabalho sempre visionário do professor Giovanni Guido Cerri, presidente do Conselho de Inovação do HCFMUSP.

Portanto, podemos dizer que o começou como uma aposta vem se tornando rapidamente realidade. A Inovação passou a ser parte constituinte da nossa gestão, da nossa forma de pensar e agir. Minha expectativa é que sigamos encorajando a cultura da inovação em nosso complexo, para construirmos um HCFMUSP mais inteligente, eficiente, integrado e, fundamentalmente, mais humano. Faço que questão de ressaltar o reconhecimento que todos temos por aqueles

que, ao longo de mais de 75 anos, fizeram do Hospital das Clínicas o berço de tantas novas ideias, novos procedimentos, de uma sempre renovada Medicina. E reitero o convite a todos que trabalham com saúde que invistam em seus talentos, em suas ideias audaciosas, em suas inovações. É sempre estimulante pensar quais serão as novas ideias, o que as novas gerações nos trarão de surpreendente. O caminho está aberto. Há uma longa e estimulante estrada a seguir.

Engº Antonio Jose Pereira, superintendente do Hospital das Clinicas – FMUSP.

reconhecido oficialmente pelo Governo do Estado de São Paulo como Instituição Científica e Tecnológica em 2015, com a criação do Núcleo de Inovação Tecnológica. Assim, mesmo diante de tantos desafios temos avançado em diferentes áreas, de forma global. Mas somos ambiciosos quando o objetivo é atender melhor a população. Por isso buscamos inovar cada vez mais. Buscar sempre um modelo mais sustentável para todo o complexo, ainda mais num período de enormes restrições orçamentárias. Nossos programas de aperfeiçoamento profissional visam sempre formar pessoas que busquem o novo, que sejam ousadas em ter e implantar novas ideias. Nesse sentido, gostaria de destacar, por exemplo, nossa Plataforma de Inteligência Corporativa, um de nossos pilares para uma gestão mais eficiente e eficaz. Esta plataforma nos permite oferecer um hospital mais moderno, superando e melhorando os antigos sistemas de gestão. Quem ganha com isso são nossos pacientes, seus familiares e nossos colaboradores. E, agora, tivemos muito orgulho em inaugurar em setembro, o Distrito Inova HC. O local criará o ambiente perfeito para que nossos jovens empreendedores possam desenvolver seu talento e estabelecer contato com o mundo corporativo. Será um enorme hub para acelerar startups de saúde, reunindo modernas salas compartilhadas, privativas, salas de reunião e auditório. E, ainda, um laboratório de Telemedicina e um laboratório-Hospital 4.0, para recriar situações reais do ambiente hospitalar, além de servir como teste de OUT / NOV 2019 nº 112

9


ENTREVISTA Por Angela Miguel (SP)

Genômica e Radiologia como parceiros para a medicina personalizada

E

Dasa apresenta seu Centro de Diagnósticos em Genômica e aposta na união com a área de Radiologia para fornecer diagnósticos e tratamentos mais precoces e precisos.

m busca de diagnósticos ainda contornos e alterações”, conta Domingues. mas uniremos o que temos de mais assertivo mais precisos, ágeis e persoEm parcerias com startups internaem diagnóstico com os dados genéticos para nalizados, a Dasa apresentou cionais da área da saúde, a Dasa também prover tratamentos ainda mais personalizaseu Centro de Diagnósticos em desenvolveu algoritmo para identificação dos aos pacientes. Acredito que a RadioloGenômica da América Latina, de embolia pulmonar por meio do CT de gia precisa avançar em algoritmos e dados maior parque tecnológico especializado tórax e outro algoritmo voltado para o cânanalíticos para fornecer diagnósticos mais cer de mama. em sequenciamento genético “Mandamos 900 mamografias da região, formado pelo GeneOne, laboratório de genômica para os EUA e houve concordância da Dasa. Com investimentos de próximo de 90% entre o diagnóstico médico e o produzido pela mais de R$ 60 milhões, o centro máquina. Em um caso, nós identiestá preparado para processar ficamos o câncer e a máquina não, exames genéticos e genômicos mas porque havia um linfonodo personalizados em áreas como com microcalcificação e ela não Oncogenética, Cardiogenética, tinha sido treinada para identifiDoenças Raras, Neurogenética car linfonodo. Já em outro caso, e Reprodução Humana, entre ela foi capaz de mostrar o tumor outras. em uma paciente jovem que os Constituido por uma equipe radiologistas não haviam visto. multidisciplinar com 34 mestres e doutores, o Centro conta É excitante pensar que estamos Dr. Emerson Gasparetto Dr. Romeu Cortes Domingues com sequenciadores NGS como desenvolvendo máquinas que vão o NovaSeq 6000, para sequenciamento auxiliar a qualidade do diagnóstiprecoces, especialmente quando falamos de co e a produtividade do radiologista, além de completo do genoma humano, além de másituações complexas”, projeta. quinas como NextSeq/NextSeq550, MiSeq democratizar o acesso à saúde de qualidade”, Foco em inovação (Illumina) e S5 System (ThermoFisher), a diz o presidente do Conselho da Dasa. plataforma para SNP-array iScan (Illumina) Nesse sentido, a dedicação à inovação Educação médica e PCR digital (BioRad). De acordo com o é fundamental, assim como à criação de vice-presidente da área médica, Emerson Com tantos avanços em pesquisa, a novas tecnologias. Para isso, a Dasa tem Gasparetto, a conclusão do sequenciamento companhia tem também destinado recursos fortalecido parcerias com instituições e do DNA foi essencial para esse momento: para a educação médica, especialmente para startups nacionais e internacionais, tanto “isso possibilitou individualizar cuidados afastar possíveis receios de substituição no campo de P&D quanto na valorização por meio da medicina de precisão. O Cenda função do profissional com a adoção de educacional. Em 2018, a empresa fechou tro de Diagnóstico em Genômica da Dasa tecnologias como machine learning. parceria com a Harvard Medical School para reforça nossa atuação em medicina perso“Temos mais de 2 mil médicos trabao desenvolvimento de soluções com foco em nalizada, com testes genômicos e exames lhando conosco, então temos grande preoInteligência Artificial. genéticos preditivos”. cupação com treinamento. Temos também “Trabalhamos em algumas frentes Em linha com o lançamento do Centro, uma grande produção científica, levamos 72 com o Center for Clinical Data Science a área de Radiologia da Dasa segue como trabalhos para o RSNA, incentivamos fello(CCDS). Em um deles, radiologistas referência da vanguarda educacional e wships fora do Brasil, especializações por têm ensinado o computador a detectar experimental. De acordo com o presidente todo o Brasil, sem cobrança que esses proressonâncias de crânio normais. Testamos do conselho da Dasa, Romeu Domingues, fissionais retornem à Dasa, mas devolvam em Boston e agora estamos revalidando a Dasa está se preparando para o próximo a sociedade em geral todo o conhecimento no Brasil. Também trabalhamos com uma capítulo na área, a Radiogenomics. “Pode adquirido. Queremos ajudar não só a forferramenta para próstata, em que o sisteparecer que a Radiologia sairá perdendo, mação, mas o país como um todo”, emenda. ma será capaz de identificar o órgão, seus

TESE

Tese na FMUSP com Ultrassom na disfunção erétil

C

om o trabalho intitulado, “Avaliação do efeito do estímulo manual e audiovisual no estudo de ultrassonografia Doppler do pênis com fármaco-indução em pacientes com disfunção erétil, o dr. Felipe Carneiro foi aprovado no concurso para obtenção do título de doutor, no Deparamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. Na definição dos objetivos da pesquisa, destaca o autor que “ disfunção erétil (DE) vasculogênica pode ser avaliada pela ultrassonografia Doppler do pênis (UDP) com injeção intracavernosa (IIC). O relaxamento máximo da musculatura lisa dos corpos cavernosos é essencial para se obter um diagnóstico fidedigno. Contudo, inibições psicológicas, que cursam com liberação adrenérgica, que podem dificultar esse processo. ‘O objetivo deste estudo – enfatizou – foi avaliar o uso do estímulo sexual manual e audiovisual (EMAV) como ferramenta durante o UDP para reduzir o número de resultados falso positivos. Foram avaliados 40 homens, com média de idade 61,8 ± 10,2 anos) com DE foram envolvidos. O Índice Internacional de Função Erétil-5 (IIEF-5) foi aplicado antes do início da avaliação pelo UDP. Cada paciente realizou duas sessões de UDP com IIC de forma randômica com intervalo de 7 dias. O autor conclui que o EMAV adicionado ao UDP com IIC melhora os parâmetros do exame, inclusive mudando o diagnóstico, reduzindo o número de exames falso positivos. A banca examinadora, que foi presidida pela Dr. Maria Cristina Chamas, esteve constituída pelos seguintes membros Dra. Maria Cristina Chammas, orientadora e presidende da Banca, dr. Marcelo Bordalo Rodrigues, prof. William Carlos Nahas e dr. Eduardo de Paula Miranda, ladeando o dr. Felipe Carneiro.

10

OUT / NOV 2019 nº 112

Expansão internacional

A

Dasa iniciou seu processo de expansão internacional com a integração da Diagnóstico Maipú, referência no setor de diagnóstico por imagem na Argentina. Desde 2015, a empresa tem investido R$1,7 bilhão em inovação, tecnologia e expansão de unidades, movimento que levou à integração ao laboratório argentino, reconhecido naquele país pela qualidade e credibilidade junto à comunicação médica local. “Esse passo internacional tem como missão levar tecnologia, inovação e a nossa obsessão de cultura focada no paciente para cada vez mais pessoas. O mercado argentino tem muitas similaridades com o brasileiro e, por isso, decidimos que esse casamento seria estratégico e possibilita troca de conhecimento e inovação em saúde”, afirma o presidente da Dasa, Pedro de Godoy Bueno. A integração fortalece a Dasa como quinta maior empresa de medicina diagnóstica do mundo, reunindo mais de 40 laboratórios referência e mais de 20 mil colaboradores. “Além de ampliar o nosso alcance e nossa operação – a Dasa processa, hoje, mais de 250 milhões de exames por ano – o movimento aproxima a companhia de novos pacientes e médicos de excelência, contribuindo para uma base de dados cada vez mais robusta para o desenvolvimento de soluções de saúde”, diz Domingues.


OUTUBRO / NOVEMBRO DE 2019 - ANO 18 - Nº 112

Efeitos adversos do rastreamento do câncer de mama: sobrediagnóstico, como detectá-lo

O

rastreamento mamografico do câncer de mama tem proporcionado novos aprendizados e os achados têm demonstrado que deve se valorizar os fatores individuais, a biologia e a heterogenidade do câncer de mama. Com as novas tecnologias, a mamografia digital e a tomossíntese, observou-se um avanço na detecção precoce do câncer de mama e a redução nas taxas de reconvocações. Os benefícios do rastreamento mamográfico são bem conhecidos, dentre eles: A detecção precoce do câncer de mama, a redução do risco de mortalidade pela doença e os tratamentos menos agressivos com cirurgias mais conservadoras. De acordo com os vários estudos o rastreamento mamográfico proporciona uma considerável redução da mortalidade, variando entre 35% a 52%, nas mulheres de 50 anos a 69 anos ,com intervalo a cada dois anos (Fig.1), além da redução no índice de quimioterapia (quadro 1). Bem como, a redução da mortalidade nas pacientes entre 40 e 49 anos ,em torno de 22 a 35%. O estudo que mostrou maior redução no risco relativo de morte por câncer de mama associado ao rastreamento mamográfico foi o Swedish Two-County Trial; no seguimento de 29 anos, a redução na mortalidade no grupo submetido ao rastreamento mamográfico era de 31%. Quanto aos efeitos adversos do rastreamento mamográfico devemos considerar o sobrediagnóstico, os resultados falso positivos e a exposição à radiação ionizante. O sobrediagnostico é considerado o principal efeito adverso do rastreamento mamográfico do câncer de mama. A definição de sobrediagnóstico é a detecção, no rastreamento, de um câncer que não se tornaria clinicamente evidente durante a vida da mulher. Esse é considerado o principal efeito adverso do rastreamento mamográfico do câncer de mama, pois resulta em tratamentos sem quaisquer benefícios (overtreatment). Ele pode ocorrer quando o câncer diagnosticado não é progressivo ou apresenta evolução lenta e a paciente morre de outras causas. Alguns investigadores também aceitam a hipótese de que alguns cânceres poderiam, inclusive, regredir sem nenhum tratamento.

Fig 1: Resultados finais do SEER, índice de mortalidade por 100 mil mulheres na faixa etária de 65 a 69 anos de 1975 a 2015 (linha pontilhada azul) e a linha pontilhada vermelha escura corresponde representação linear extrapolada da mortalidade até 2018. Retirado do artigo Breast cancer Deaths averted over 3 decades; Cancer 2019.

QUADRO 1 O EFEITO DO RASTREAMENTO NO TRATAMENTO DAS PACIENTES COM CA DE MAMA: Redução do numero de cirurgias conservadoras: • 70% nas pacientes rastreadas x 38% nas pacientes não participantes do rastreamento . Menor índice de quimioterapia: • 49,6% nas pacientes rastreadas x 68,1% nas pacientes não participantes do rastreamento.

Como detectá-lo Temos duas situações: 1) Mortes por outras causas, antes de qualquer impacto pelo câncer de mama. 2) Detecção de carcinomas invasivos biologicamente indolentes ou carcinomas “in situ. A quantificação de sua magnitude é considerada um grande desafio e motivo de fortes divergências. A American Cancer Society, na revisão de suas orientações para o rastreamento do câncer de mama publicada no final de 2015, considerou baixa, a qualidade das evidências científicas sobre a magnitude do overdiagnosis (sobrediagnóstico). Hendrick em recente publicação evidenciou que o índice de sobrediagnostico é praticamente negligenciável nas mulheres rastreadas entre os 40 e 49 anos, na pré menopausa e maiores nas pacientes na pós menopausa simplesmente por causa da probabilidade delas morrerem por outras causa que não pelo câncer de mama. Atualmente são diversas as discussões e os estudos que têm comprovado as estatísticas do sobrediagnóstico e revelam que os resultados são bastante variáveis e muitos são questionáveis (fig.2). São várias as publicações com diferentes estimativas do valor de sobrediagnóstico variando entre 0 e 54%. Pode-se enumerar alguns fatores que influenciam nestas estimativas do sobrediagnostico, dentre eles: o risco de câncer de mama e o “Lead Time” (tempo compreendido entre a identificação do câncer de mama e sua manifestação clínica). No estudo de Zackrisson et al. a taxa de sobrediagnóstico, 15 anos após o término do estudo de rastreamento, foi de 7% para o câncer invasivo 10% para o câncer in situ e invasivo.

Fig. 2: O aumento da incidência do câncer de mama no EUA foi em grande parte consequência do rastreamento sendo que um pouco deste aumento inclui casos de sobrediagnósticos. Os trabalhos mostram que quantificá-lo é uma tarefa difícil. Observa se que houve redução de mortes por CA de mama após alguns anos do inicio do rastreamento. Breast ,2013;

Em um dos estudos os autores fizeram uma revisão sistemática do sobrediagnóstico envolvendo 7 países europeus e este estudo demonstrou que os valores, após os ajustes, passaram a ser de 1% a 10% quando se comparou a taxa de incidência de câncer de mama em mulheres rastreadas e não rastreados, em um certo período de tempo. Sendo assim a fórmula que parece melhor retratar a estimativa do sobrediagnóstico, de uma maneira clara e mais próxima de valores reais e ajustados, se baseia no cálculo do sobrediagnóstico quando se compara os grupos que participaram do rastreamento versus o grupo sem rastreamento: o cálculo se baseia no excesso da incidência durante o rastreamento menos o déficit da incidência apos a interrupção do rastreamento isto dividido pela incidência

de câncer de mama sem o rastreamento, conforme a figura 3. De acordo com a literatura a maior taxa de sobrediagnóstico ocorre nos carcinomas in situ, os quais correspondem a 25% e 30% dos cânceres de mama, isto porque nem todos os cânceres in situ são de importância biológica, exceto os de alto grau que são de prognósticos pior e evoluem certamente para invasivo e aqueles com receptores negativos. A taxa de mortalidade pelo Ca in situ gira em torno de 3% e será que podemos afirmar que isso decorre da eficiência do diagnostico(?) do rastreamento(? ) ou se eles não forem tratados poderiam regredir ou ficariam estacionados(?). CONTINUA


Efeitos adversos do rastreamento do câncer de mama: sobrediagnóstico, como detectá-lo CONCLUSÃO X as mulheres de como os resultados podem afetá-las quando participam do rastreamento . Investimentos futuros em pesquisas sobre rastreamento e tratamento de câncer de mama também serão necessários para ajudar a definir e reduzir o sobretratamento do câncer de mama em estágio inicial. Devemos lembrar que os dados da literatura mostram que casos de Ca invasivos não tratados que não progridem ou regridem são raros. Os dados científicos disponíveis não permitem determinar com exatidão qual proporção dos cânceres atualmente identificados no rastreamento mamográfico correspondem a overdiagnosis (sobrediagnóstico) e as estimativas variam amplamente dependendo da fonte dos dados e do método de cálculo utilizado. Os benefícios do rastreamento são infinitamente maiores que os efeitos adversos e a maioria do DCIS detectados, não são sobrediagnósticos.

Bibliografia Fig 3: O cálculo do sobrediagnostico parece ser mais real quando se compara os grupos que participaram do rastreamento versus o grupo sem rastreamento: aqui o valor sugere ser o mais próximo do real, conforme os cálculos sugeridos abaixo: O cálculo se baseia no excesso da incidência durante o rastreamento menos o déficit da incidência após a interrupção do rastreamento isto dividido pela incidência de câncer de mama sem o rastreament o

Em recente publicação, no Lancet em 2018, demonstraram que associação entre Ca ductal in situ e a subsequente evolução para o Ca invasivo sugere que a detecção e o tratamento destes tumores são de grande valor para prevenir um futuro carcinoma invasivo. Neste estudo demonstram que a cada três Ca in situ detectados precocemente e tratados resultam em um caso a menos que se de tornaria invasivo num período de até três anos. E com isto, hoje, o que se tem pesquisado e avaliado são os comportamentos dos tumores e quanto, ao caso do Ca in situ, na publicação no Clinical Cancer Reserch de 2018 demonstraram que a presença de fibrose periductal, expressão do Her2 e alta expressão do Cox 2 influencia nesta evolução para o Ca invasivo. A RMM também tem se mostrado útil e, vários estudos estão disponíveis, realçando o seu uso para ajudar a avaliar os casos de Ca in situ que evoluiriam para o ca invasivo

2

OUT / NOV 2019 nº 112

mediante a presença ou não do realce pós contraste. A grande consequência do overdiagnosis (sobrediagnóstico) é o sobretratamento. Dessa forma identificar mulheres com câncer de mama que não necessitam de tratamentos agressivos é de extremo valor. Isso envolve identificar e tratar os cânceres de mama em função do seu comportamento biológico e entender que alguns cânceres são indolentes e podem até regredir e outros, mais agressivos, assim estes são os desafios atuais.

Conclusão Portanto, os esforços devem ser direcionados para controlar e minimizar os efeitos adversos associados ao rastreamento do câncer de mama. Para tal, deve-se garantir que quaisquer alterações na implementação do rastreamento do câncer de mama otimizem o equilíbrio entre os benefícios e os danos, incluindo a avaliação de como as mudanças afetariam o risco do sobrediagnóstico . Além disso informar

- Zackrisson S et al. Rate of overdiagnosis of breast cancer 15 years after Malmo mamaographic screening trial: follow up study ;BMJ 2006 ;332(7543) : 689-692. - DUFFY SW, et al. Screen detection of ductal carcinoma in situ and subsequent incidence of invasive interval breast cancers: a retrospective population-based study. Lancet Oncol. 2016 Jan;17(1):109-14. - EUROSCREEN Working Group. PULITI D, et al. Overdiagnosis in mammographic screening for breast cancer in Europe: a literature review. J Med Screen. 2012;19 Suppl 1:42-56. - Puliti D et al . An estimate of overdiagnosis 15 years after start of mammographic screening in Florence . Eur J Cancer 2009;45(18) 3166-3171. - KEATING NL, PACE LE. Breast Cancer Screening in 2018: Time for Shared Decision Making. JAMA. 2018 May 1;319(17):1814-1815. - CHALA LF. Rastreamento do Câncer de Mama na População Geral e de Alto Risco. In: CBR. Mama. 2ed. São Paulo, 2016.

Autora Ana Lucia Kefalás Oliveira Médica Radiologista – Departamento de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Coordenadora da Comissão de Mamografia do CBR


As síndromes cromossômicas e gênicas e o coração fetal

E

m razão do grande número de síndromes cromossômicas e gênicas, serão abordados neste artigo as síndromes mais comumente relacionadas às cardiopatias congênitas e que foram aparecendo durante os meus 30 anos de cardiologia fetal e pediátrica.

Síndromes Cromossômicas As anomalias cromossômicas ocorrem em aproximadamente 10% das crianças com cardiopatia congênita nascidas vivas, sendo a trissomia do cromossomo 21 a mais frequente, ocorrendo em 70% dos casos. Embora na trissomia do cromossomo 21 a cardiopatia mais frequente seja o defeito de septo átrioventricular, nas anomalias cromossômicas de modo geral a lesão cardíaca mais frequentemente encontrada é a comunicação interventricular. As anomalias cromossômicas são classificadas em estruturais e/ou numéricas, podendo comprometer tanto os cromossomos sexuais como os autossômicos. Sabendo que as células somáticas humanas normais possuem 46 cromossomos (que é um número diplóide), e que a quantidade de cromossomos é equivalente a um múltiplo exato do número haplóide (23 cromossomos em cada um dos gametas), ocorrerá anomalia numérica quando este número exceder a diploidia. É a chamada poliploidia, caracterizada pelas triploidias ou tetraploidias, que geralmente são letais. Quando o número de cromossomos não for um número múltiplo exato haplóide, ocorrerá uma aneuploidia como as trissomias e as monossomias. As anomalias cromossômicas estruturais são caracterizadas pela ocorrência de quebras cromossômicas, nas quais há o surgimento de duas extremidades instáveis com tendência adesiva. Na tentativa de autocorreção, os mecanismos de reparo podem não ser capaz de identificar corretamente as extremidades correspondentes. Dentre as principais anomalias estruturais observamos: • Translocações - troca de material genético entre dois cromossomos não-homólogos • Inversões - quebra em duas posições e, posteriormente, recomposição sendo o fragmento resultante ligado em ordem invertida • Deleções - quebra cromossômica e perda visível de determinada porção de um cromossomo Segundo Moreira em sua tese de mestrado (2002), em 100 gestantes cujos fetos eram portadores de anomalia cromossômica numérica ou estrutural confirmada, a síndrome mais frequente foi a trissomia do 18, seguida da trissomia 21, trissomia 13 e síndrome de Turner (monossomia do X). Em vida fetal, a comunicação interventricular associou-se com maior frequência à trissomia do cromossomo 18, o defeito do septo atrioventricular à trissomia do 21, a dupla via de saída do ventrículo direito à trissomia do 13 e a síndrome de hipoplasia do coração esquerdo à síndrome de Turner (tabela 1). A tabela 1 demonstra os achados de cardiopatias congênitas e anomalias extracardíacas mais frequentes em relação às anomalias cromossômicas.

Trissomia do cromossomo 21 A trissomia do cromossomo 21 é a anomalia cromossômica que mais afeta crianças nascidas vivas sendo decorrente em 94% dos casos de não-disjunção, em 4% de translocação e no restante de mosaicismo. O fenótipo bem definido corresponde a malformações cardíacas e extracardíacas, sendo as malformações cardíacas encontradas em torno de 40-50% dos casos.

As cardiopatias mais comumente relacionadas são o defeito embriológico do coxim endocárdico que resulta na cardiopatia chamada defeito do septo atrioventricular (figura 1), seguido de comunicação interventricular, tetralogia de Fallot. São mais raros os casos de lesões obstrutivas do lado esquerdo como coarctação de aorta e estenose valvar aórtica. A possibilidade de trissomia 21 existe com a idade materna avançada mas a suspeita diagnóstica ocorre na maioria das vezes pela presença de marcadores de aneuploidias no primeiro trimestre (translucência nucal acima do percentil 95, osso nasal ausente, ducto venoso com onda A reversa e regurgitação da valva tricúspide, assim como pode ser suspeitado pela presença de marcadores ultrassonográficas em exames sucessivos. A análise citogenética revela cariótipo 47, XX ou XY, +21. As formas em mosaico da trissomia do 21 teriam o mesmo risco de desenvolver cardiopatias quando se compara às formas completas da síndrome.

Trissomia do cromossomo 18 Fig. 1A

Fig. 1B

É a segunda anomalia cromossômica autossômica frequente em humanos. Sendo decorrente de não disjunção em 80% dos casos, de mosaico em 10% dos casos e de translocação nos 10% restantes. Nicolaides et al. (1992) realizaram estudo citogenético de 2086 fetos após exame ultrassonográfica no qual apresentavam anomalias e/ou retardo de crescimento fetal, tendo encontrado a trissomia do cromossomo 18 como anomalia cromossômica mais frequente, seguida pela trissomia do cromossomo 21, triploidias, síndrome de Turner, rearranjos não-balanceados e trissomia do cromossomo 13. Van Praagh (1989) em estudo baseado na análise de 41 casos de necropsia de trissomia 18, encontram como malformações cardíacas a comunicação interventricular em todos os casos (figura 2), doença polivalvar em 93% dos casos, estenose subpulmonar infundibular em 98% dos casos, tetralogia de Fallot em 15% dos casos, dupla via de saída de ventrículo direito em 10% dos casos (sendo todos com atresia mitral), além de comentarem a impressionante ausência de

Fig. 1C

Figura 1 Trissomia do cromossomo 21, síndrome de Down. A) Defeito do septo atrioventricular forma total em ecocardiograma fetal. Posição das quatro câmaras demonstrando a valva única retificada, a comunicação interatrial tipo ostium primum (CIA) e a comunicação interventricular via de entrada ampla (CIV). B) Mesmo aspecto em reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive” após aquisição de volume com “STIC”. C) Reconstrução tridimensional da valva atrioventricular única em plano transverso, aberta sobre os dois ventrículos. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito; VE= ventrículo esquerdo.

Fig. 2A

Tabela 1 – Anomalias extracardíacas e cardíacas mais frequentes em relação às anomalias cromossômicas – tese de mestrado HCFMUSP

Síndromes cromossômicas

Número de casos

Cardiopatias

Anomalias extracardíacas

Trissomia 18 34

CIV (67,6%) DVSVD (8,8%) DSAV (8,8%) outros (14,8%)

Sobreposição de dedos, pé torto, fenda labiopalatina, retrognatia, polidrâmnio, flexão fixa de membros, sindactilia

Trissomia 21 29

DSAV (58,6%) CIV (20,7%) T4F (6,9%) outros (13,8%)

TN aumentada, bolha gástrica pequena, atresia duodenal, intestino hiperecogênico, polidrâmnio, Osso nasal hipoplásico

Trissomia 13 11

DVSVD (36,4%) CIV (27,2%) outros (36,4%)

Fenda labial, holoprosencefalia, polidactilia, sobreposição de dedos, rins hiperecogênicos, hidronefrose

Síndrome de Turner 11

SHCE (63,6%) CoAo (27,3%) outros (9,1%)

Higroma cístico, TN aumentada, hidropisia, intestino hiperecogênico

FONTE: Moreira G, tese de mestrado realizada a partir do banco de dados do Setor de Ecocardiografia e Cardiologia Fetal da Clínica Obstétrica do Hospital das Clínicas da FMUSP - Dra Lilian M Lopes, médica responsável CIV - comunicação interventricular, DVSVD - dupla via saída de ventrículo direito, DSAV pela Cardiologia Fetal - defeito de septo átrioventricular, T4F - tetralogia de Fallot, SHCE - síndrome hipoplasia coração esquerdo, CoAo - coarctação de aorta; TN – translucência nucal

Fig. 2B

Figura 2 Trissomia do cromossomo 18, síndrome de Edwards. A) Comunicação ampla em região de via de entrada do septo interventricular, delimitada ao bidimensional pelo brilho de borda, também conhecido como artefato em T, mais visível neste caso na borda próxima ao ápex cardíaco. B) Reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive” após aquisição de volume com “STIC”. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito; VE= ventrículo esquerdo; CIV= comunicação interventricular.

CONTINUA OUT / NOV 2019 nº 112

3


As síndromes cromossômicas e gênicas e o coração fetal CONTINUAÇÃO transposição dos grandes vasos e qualquer inversão tanto cardíaca como visceral. O diagnóstico prenatal pode ser sugerido por sinais ultrassonográficos de restrição do crescimento, diminuição da atividade fetal, anomalias viscerais, cardíacas e de membros. A confirmação é feita através de análise citogenética com cariótipo 47, XX ou XY, +18. O risco de recorrência é estimado em menos de 1%.

Trissomia do cromossomo 13 Segundo alguns autores, a trissomia do cromossomo 13 é a terceira anomalia cromossômica mais freqüente em fetos humanos. Decorrente em 80% dos casos de não-disjunção e em 20% dos casos de translocação ou mosaicismo.

incidência de 1:5.000 mulheres nascidas vivas. A maioria dos conceptos evolui para aborto espontâneo. É decorrente de não-disjunção em 80% dos casos e o restante por mosaicismo. Aproximadamente 20 a 45% dos casos apresentam malformação cardíaca, mais comumente a coarctação de aorta seguida por valva aórtica bicúspide, estenose valvar aórtica e síndrome da hipoplasia do coração esquerdo, ou seja, malformações que fazem parte do espectro de lesões obstrutivas do lado esquerdo do coração (figura 4). O diagnóstico prenatal pode ser suspeitado na presença de translucência nucal aumentada, higroma cístico nucal volumoso, derrame pleural, ascite, anomalias renais e cardíacas. Sendo confirmado pela análise citogenética com cariótipo 45, X0. Tem uma expectativa de vida normal que pode ser alterada por doenças cardiovasculares e renais. Nos mosaicos de cromossomo X pode ocorrer mais de uma linhagem celular, uma das quais 45, X, e uma variedade de mosaicos, como: X/XX; X/XXX; X/XX/XXX; X/XY. Estas pacientes podem ter os mesmos estigmas que a síndrome de Turner (45,X), embora, em geral a expressão do fenótipo seja modificada pela presença de outras linhagens celulares além da 45, X.

literatura de diagnóstico de síndrome de Marfan em feto de 34 semanas, baseado nos achados ecocardiográficos. As alterações cardíacas eram graves e típicas da síndrome, consistindo em prolapso das valvas mitral e tricúspide com insuficiência mitral grave e tricúspide moderada, dilatação do seio de valsalva, insuficiência discreta pulmonar e aórtica. O pai da criança apresentava a síndrome com expressividade discreta e o neonato foi a óbito com dois meses de vida por insuficiência cardíaca congestiva (figura 5).

Fig. 5A

Figura 5 Síndrome de Marfan fetal e neonatal. A) Imagem em maior aumento de prolapso da valva mitral, que ultrapassa significativamente o plano do anel valvar, representado pela linha branca pontilhada. B. Recém-nascido com a síndrome de Marfan confirmada, dedos longos e detalhe da aracnodactilia. AE= átrio esquerdo; VE= ventrículo esquerdo. Fonte: Lopes et al. Prenat diagn, 1995.

Fig. 3A

Fig. 4A

Fig. 5B

Síndrome de Holt-Oram Fig. 3B

Afeta membros superiores e sistema cardiovascular, sendo a cardiopatia mais frequente a comunicação interatrial seguida da comunicação interventricular (figura 6). Pelo menos 50% dos portadores apresenta cardiopatia. A herança é autossômica dominante com expressividade variável; a inteligência é normal.

Fig. 4B

Fig. 3C

Figura 3 Trissomia do cromossomo 13, síndrome de Patau. A) dupla via de saída de ventrículo direito em posição de quatro câmaras desbalanceada pela dilatação de câmaras direitas e hipoplasia de câmaras esquerdas. B) Mesmo aspecto ao bidimensional à esquerda e Doppler colorido à direita. C) Ambas as artérias emergem do ventrículo direito (VD), com a aorta (AO) à direita da artéria pulmonar (AP). AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito; VE= ventrículo esquerdo

Dentre as malformações cardíacas destacam-se a dupla via de saída do ventrículo direito (figura 3), associada ou não à atresia mitral, a comunicação interventricular, as displasias valvares, truncus arteriosus, a comunicação interatrial e a coarctação de aorta. É conhecida a ocorrência de defeitos conotruncais incluindo a tetralogia de Fallot, truncus arteriosus e a dupla via de saída de ventrículo direito. A análise citogenética revela cariótipo 47, XX ou XY, +13, sendo o risco de recorrência presumido em torno de 1% ou menos.

Monossomia do cromossomo X – Síndrome de Turner Monossomia X ou síndrome de Turner apresenta uma

4

OUT / NOV 2019 nº 112

Figura 4 Monossomia do cromossomo X, síndrome de Turner. A) Hipoplasia do ventrículo esquerdo que se apresenta globular e ecogênico. Observa-se também grandes derrame pleural. B) Mesmo aspecto em reconstrução tridimensional em modo alta definição “HDlive” após aquisição de volume com “STIC”, demonstrando grave hipoplasia do ventrículo esquerdo. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito; VE= ventrículo esquerdo; P= pulmão.

Síndromes Gênicas As principais síndromes gênicas encontradas em nossa série foram: • Síndrome de Marfan • Síndrome de Holt-Oram • Síndrome de DiGeorge

Síndrome de Marfan A síndrome de Marfan é a doença genética mais conhecida e melhor estudada, com comprometimento importante do sistema cardiovascular, ocular e esquelético. A herança é monogênica autossômica dominante, com ampla variação na expressividade. Poderá ocorrer em famílias sem história prévia, por mutação gênica no gene que regula a proteína fibrilina do tecido conjuntivo. A manifestação cardíaca principal é o prolapso da valva mitral e a dilatação de aorta ascendente. Relatamos em 1995 o primeiro caso da

Fig. 6

Figura 6 Síndrome de Holt-Oram. A) Posição de quatro câmaras com amplo forame oval (seta) e agenesia da válvula do forame oval, caracterizando então uma comunicação ostium secundum desde vida fetal. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito; VE= ventrículo esquerdo; CIA= comunicação interatrial.

Síndrome de DiGeorge/CATCH 22 A síndrome de DiGeorge, síndrome da deleção do cromossomo 22, síndrome velocardiofacial, CATCH 22, e algumas formas isoladas de anomalias conotruncais estão freqüentemente associadas com a deleção do braço longo

CONTINUA


As síndromes cromossômicas e gênicas e o coração fetal CONCLUSÃO X Dentre as malformações cardíacas destacam-se a Tetralogia de Fallot, Interrupção do arco aórtico, truncus arteriosus e anomalias do arco aórtico (figura 7). Outras síndromes gênicas relacionadas com cardiopatia congênita são freqüentemente citadas em literatura, como por exemplo:

Fig. 7A

Síndrome de Noonan: estenose pulmonar, displasia da valva pulmonar, comunicação interatrial (autossômica dominante, cromossomo 12q)

Síndrome William: estenose supravalvar aórtica e estenose periférica dos ramos das artérias pulmonares (deleção de gene contíguo, cromossomo 7)

Síndrome de Alagille: estenose periférica dos ramos das artérias pulmonares e tetralogia de Fallot (autossômica dominante, gene Jagged 1)

Síndrome de Ellis-van Creveld: comunicação interatrial e átrio único (cromossomo 4)

Fig. 7B

Figura 7 Síndrome de DiGeorge. A) Truncus arteriosus comunis ou tronco arterial comum com artéria pulmonar emergindo do truncus (T). B) Comprovação do truncus e artéria pulmonar dele emergindo por tecnologia tridimensional de reconstrução chamada VCI/Heart Inversion (Advanced volume contrast imaging), que cria imagens semelhantes à angiotomografia pós-natal das cardiopatias congênitas. T= truncus arteriosus; AO= aorta ascendente, AP= artéria pulmonar. AD= átrio direito; AE= átrio esquerdo; VD= ventrículo direito.

do cromossomo 22 (região crítica 22q11.2). CATCH 22 é um anacronismo para: • Cardiac defect • Abnormal fancies • Thymic aplasia ou hypoplasia / T-cell deficiency • Cleft palate • Hypoparathyroidism / Hypocalcemia As anormalidades fenotípicos incluem implantação baixa dos pavilhões auriculares, hipoplasia de

maxilar, filtrum curto, hipertelorismo e fissura palpebral anti-mongolóide. Em cerca de 90% dos pacientes com síndrome de DiGeorge observa-se a deleção ou a translocação do cromossomo 22 envolvendo o segmento 22q11.2, que podem também estar presentes na sequência velocardiofacial. Um pequeno número de pacientes com fenótipo compatível com DiGeorge não apresenta deleção do 22 e sim o envolvimento de outros possíveis locos genéticos.

Prognóstico As lesões cardíacas associadas às anomalias cromossômicas apresentam prognóstico reservado na maioria dos casos, com mortalidade de 75% na série de pacientes da Clínica Ecokid, demonstrando a gravidade desta associação. Nos casos das síndromes gênicas, o prognóstico poderá ser um pouco melhor dependendo da expressividade do gene.

Bibliografia

Autores

1.

Allan LD, Sharland GK, Milburn A et al. Prospective diagnosis of 1006 consecutive cases of congenital heart disease in the fetus. J Am Coll Cardiol 23:1452, 1994.

2.

Allan, L.D.; Sharland, G.K.; Chita, S.K., et al. Chromosomal anomalies in fetal congenital heart disease. Ultrasound Obstet Gynecol 1:8, 1991.

3.

Brizot ML, Schultz R, Patroni IT, Lopes LM, et al. Trisomy 10: ultrasound features and natural history after first trimester diagnosis. Prenat diagn 21:672, 2001.

4.

Lacro R. Genetics of congenital cardiovascular malformations. In: Allan L, Hornberger L, Sharland G, eds. Textbook of fetal cardiology. London: Greenwich Medical Media, p 499, 2000.

5.

Lopes LM, Cha SC, Moraes EA, et al, Echocardiographic diagnosis of fetal Marfan syndrome at 34 weeks’ gestation. Prenat diagn 15(2):183, 1995.

6.

Lopes LM. As síndromes genéticas e o coração fetal. In: Lopes & Zugaib. Atlas comentado de cardiologia fetal. Ed 1. São Paulo: RR Donnelley America Latina; p 386, 2003

7.

Moreira GNO. Tese de mestrado. Associação de cardiopatias e anomalias cromossômicas em fetos. São Paulo em Cardiologia Fetal na Clínica Obstétrica) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, p 64, 2002.

8.

Mustacchi Z. A genética das cardiopatias congênitas. In: Mustacchi Z, Peres G. Genética baseada em evidências Síndromes e Heranças. São Paulo: CID editora, p 645, 2000.

9.

Nicolaides KH, Snijders RJM, Gosden CM, et al. Ultrasonographically detectable markers of fetal chromosomal abnormalities. The lancet, 340:704, 1992.

9.

Nora, JJ. Multifactorial inheritance hypothesis for the etiology of congenital heart diseases: the genetic-environmental interation. Circulation 18:604, 1968.

10. Van Praagh S, Truman T, Firpo A, et al. Cardiac malformations in trisomy-18: a study of 41 postmortem cases. JACC 17:1586, 1989.

Lilian M. Lopes Diretora médica da Clínica Ecokid de São Paulo Responsável pelo curso de pós-graduação em cardiologia e ecocardiografia fetal do Instituto Lilian Lopes de Assistência, Unidade Filantrópica da Clínica Ecokid de São Paulo. Leandro Honoré Lopes Coordenador do Setor de Medicina Fetal do Laboratório CURA Jardins Professor Coordenador do curso de pós-graduação em cardiologia e ecocardiografia fetal do Instituto Lilian Lopes de Assistência, Unidade Filantrópica da Clínica Ecokid de São Paulo.

Normas para publicação no Caderno Application do Jornal Interação Diagnóstica O Jornal Interação Diagnóstica é uma publicação bimestral destinada a médicos e demais profissionais que atuam na área do diagnóstico por imagem e especialistas correlacionados nas áreas de ortopedia, urologia, mastologia, ginecologia e obstetrícia, angiologia e cirurgia vascular, dentre outras. O propósito do Jornal é selecionar e disseminar conteúdos de qualidade científica na área de diagnóstico por imagem.

Instruções para os autores Tipos de artigos Serão selecionados para publicação somente artigos de revisão e atualização, ensaios pictóricos, artigos de opinião, relatos de experiência, novidades técnicas e cartas ao editor. O editorial é de responsabilidade do editor do Jornal, podendo ser escrito por terceiros a convite do editor. Artigos originais, relatos de casos, notas prévias de trabalhos e resumos de teses deverão ser encaminhados para as revistas nacionais de Radiologia. O editor e o conselho editorial do Jornal Interação Diagnóstica terão o direito de não publicar os artigos que não estejam de acordo com o propósito da seção.

Formatação Os artigos devem ser redigidos em língua portuguesa, ortografia oficial e digitados preferencialmente no processador de texto Microsoft Word e a fonte (letra) Times New Roman, espaço duplo, tamanho 12 e o texto não ultrapassar 5.000 caracteres, que equivalem a 3,5 laudas de 1.400 caracteres. As ilustrações (fotografias, imagens de exames, figuras, desenhos e gráficos) devem ser de boa qualidade fotográfica, com resolução de 300 DPI e enviadas no formato JPG ou PDF e numeradas na ordem de aparecimento no texto. Cada ilustração deve vir acompanhada de sua respectiva legenda. Imagens de exames não devem permitir a identificação do paciente. Serão aceitas no máximo 12 (doze) ilustrações por artigo, incluindo tabelas e desenhos. Se o trabalho exceder a esse número, favor consultar.

Forma de envio Os artigos deverão ser enviados preferencialmente por via eletrônica, através do e-mail: id@interacaodiagnostica.com.br, constando os nomes dos autores, e o e-mail do autor do autor principal, registro profissional (CRM), título do artigo, data de atualização do artigo e referências bibliográficas. Somente devem ser citadas as referências bibliográficas essenciais. Por necessidade de edição, as referências podem ser retiradas do texto na paginação, constando que poderão ser solicitadas ao jornal, se necessário. Outra opção é encaminhar em CD ou disquete pelo correio: ID Editorial Ltda AC/Luiz Carlos Almeida Artigo Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 2050, cj.108-A São Paulo – SP CEP: 01318-002 Duvidas podem ser sanadas por tel. (11) 3285-1444 ou diretamente com o editor: (11) 999 010195.

Informações adicionais Os conceitos e opiniões emitidos nos artigos são de responsabilidade exclusivas dos autores, não significando necessariamente a opinião do Jornal Interação Diagnóstica. OUT / NOV 2019 nº 112

5


Cistos da fenda branquial: definição / aspectos de imagem / pontos-chave Introdução:

Primeira Fenda Cisto anterior e adjacente ao músculo esternocleidomastoídeo. A região cervical é um local de grande incidência de malformações congênitas, Segunda Fenda Cisto próximo a veia jugular interna. de diferentes naturezas, a maioria das quais diagnosticadas incidentalmente em exames de imagem, sejam rotineiros, sejam no intercurso de outras investigações. Terceira Fenda Cisto entre as artérias carótidas internas e externas. O diagnóstico em virtude de exames dirigidos, face a sintomas clínicos, como Quarta Fenda Cisto próximo a parede da faringe. agudização por infecções / inflamações, tumores, também pode ocorrer. Dentro do leque destas malformações, destacam-se, no aspecto lateral da região cervical, aquelas provenientes de resquícios embriológicos das fendas branquiais, como cistos e fístulas, principalmente. Tais anomalias podem ser oriundas da primeira, segunda, terceira ou quarta fendas, sendo as mais frequentes aquelas originadas da segunda fenda (figuras 1 e 2). O segundo arco branquial apresenta orifício externo anterior ao músculo esternocleidomastoídeo e orifício interno na loja amigdaliana; o trajeto passa sobre o nervo hipoglosso, entre as artérias carótidas internas e externas. O diagnóstico assertivo e definitivo é multifatorial, associando-se quadro clínico e exame físico, com papel definidor dos métodos de imagem. A maioria dos (as) pacientes já nascem com os cistos, normalmente solitários, todavia o diagnóstico somente é realizado por volta da 2ª / 3ª décadas de Figura 1: Anatomia das lesões císticas branquiais. vida, frequentemente após algum evento infeccioso / inflamatório acometendo Benson et al. Congenital Anomalies of the as vias aéreas superiores, levando ao aumento do volumétrico do cisto, situação Branchial Apparatus: Embryolgy and Pathologic mormente reacional, com edema das partes moles adjacentes, podendo, inclusive Anatomy. Radiographics 1992; 12: 943-960 e não raro, evoluírem para abscessos. Quando infectado, o cisto perde suas características típicas à palpação, como elasticidade e amolecimento, normalmente indolores, tornando-se endurecido e dolorido, em diferentes intensidades. Frequentemente é nesta fase que os pacientes procuram atendimento médico, normalmente no âmbito de pronto-atendimento. A ultrassonografia é, geralmente, o primeiro exame de imagem solicitado. A expertise do ultrassonografista pode ser decisiva na caracterização da lesão como sendo de natureza cística branquial, com sinais de complicação, podendo em grande parte das vezes orientar a conduta final. Quanto aos achados ultrassonográficos, o cisto branquial se apresenta como formação nodular bem definida, com conteúdo anecogênico, de paredes finas, produtora de reforço acústico posterior. Quando complicada por hemorragia ou infecção, o conteúdo cístico pode ser hipoecogênico, por vezes repleto de debris, ou mesmo septos. A presença de septos espessos infere componente hemorrágico organizado / em vias de organização. Quando o aumento de volume for ao menos moderado, frequente há observação de deslocamento de tecidos adjacentes (como evidente nas figuras 3, 4 e 5) . Uma vez identificadas pelo examinador tais características, um laudo preciso e definidor pode e deve ser oferecido ao solicitante. Por vezes, todavia, seja por características inerentes à imagem, ou mesmo por inexperiência do examinador, um exame complementar poderá ser necessário. Tal impressão por parte do examinador deve ser reportada no seu relatório e, sempre que possível, repassado verbalmente ao solicitante. Tal postura, por parte do radiologista emergencista, aproxima as equipes assistenciais clínico-cirúrgicas e o departamento de imagem, favorecendo a tomada de decisão Figura 2: Esquema ilustrativo das fendas branquiais. terapêutica, prevenindo complicações. Tal postura, cada vez mais estimulada em grandes centros, auxilia também na elaboração de protocolos. Figura 3: imagem ultrassonográfica típica de cisto branquial não Lesões em localizações mais infrequentes, sobretudo profundas, ou quando complicado. (fonte:Anil T. Ahuja et al. AJNR Am J Neuroradiol há desejo / necessidade de avaliação pré-operatória, podem requerer complemen21:315–319, 2000.) tação por tomografia ou mesmo ressonância. Do ponto de vista tomográfico, os cistos branquiais apresentam-se, frequentemente, como formações ovaladas bem definidas, hipodensas, por vezes com densificação da gordura adjacente, especialmente na vigência de infecção / abscesso. A presença de realce periférico pode estar presente, também, nesta última situação (figuras 6 e 7). À ressonância, notamos imagem com hipersinal em T2, iso/hipossinal em T1, por vezes também apresentando realce pelo gadolínio, à semelhança do que ocorre na tomografia.(figuras 8 e 9). O trajeto por onde o cisto da segunda fenda branquial segue acompanha a bainha carotídea, cruzando o nervo hipoglosso e chegando à tonsila faríngea ipsilateral. Os cistos serão classificados conforme sua localização. A abertura externa se dá ao longo da borda anterior do músculo esternocleidomastóideo, já no terço inferior do pescoço. Do ponto de vista terapêutico, é indicada a exérese cirúrgica como tratamento definitivo. Em casos de infecção aguda / subaguda, todavia, inicialmente deverá ser realizada a abordagem clínica conservadora, com antibioticoterapia e medicação sintomática. A radiologia intervencionista tem seu papel no contexto dos cistos branquiais complicados, podendo ser realizadas punções percutâneas diagnósticas Figura 4 e 5: Cisto de segunda fenda branquial com centro liquefeito espesso e levemente heterogêneo e/ou esvaziadoras, de modo a otimizar a analgesia e antibioticoterapia. Relatos (arquivo pessoal Dr. Rahal / HIAE). de esclerose cística com álcool absoluto já foram pormenorizados em literatura específica, com bons resultados em pacientes com poucas condições cirúrgicas.

CONTINUA

6

OUT / NOV 2019 nº 112


As síndromes cromossômicas e gênicas e o coração fetal CONCLUSÃO X inferior da glândula parótida com a região submandibular e com cadeia linfonodal do nível II, aparentemente mantendo plano clival com as referidas estruturas adjacentes. A referida formação não apresentava fluxo apreciável quando avaliada ao mapeamento com Doppler colorido. No relatório ultrassonográfico, salientou-se que seu aspecto não era específico, podendo, todavia, representar cisto branquial complicado. A critério clínico, sugeriu-se complementação com estudo seccional dirigido (RM cervical)” (figuras 4 e 5). A paciente então foi avaliada pela equipe cirúrgica especializada em cabeça e pescoço, que por sua vez, solicitou tomografia computadorizada de pescoço com contraste. Esta descreveu a formação em questão como “Lesão cística com paredes espessadas, em situação póstero-inferior ao ângulo direito da mandíbula, que deveria corresponder, mais provavelmente, a cisto do segundo arco branquial infectado. Admitido como diagnóstico diferencial, embora menos provável, linfonodomegalia necrótica. Alterações inflamatórias em partes moles adjacentes e possível trombose segmentar da veia jugular interna direita” (figuras 6, 7 e 8). O cirurgião optou por conduta expectante com base no tratamento medicamentoso com antibioticoterapia e antiinflamatório associado a controle imaginológico Figuras 6 e 7: Cortes axial e coronall de TCMD do pescoço evidenciando imagem nodular com conteúdo hipoatenuante, de aspecto cístico e paredes discretamente espessadas e com intenso realce pelo meio de contraste, localizada imediatamente abaixo do ângulo direito da mandíbula, anterior e profunda ao músculo esternocleidomastoideo e imediatamente posterior à glândula submandibular (arquivo pessoal Dr. Rahal / HIAE).

Discussão: Embora tenha localização variável no trajeto da segunda fenda branquial, esses cistos tipicamente apresentam-se como um abaulamento arredondado logo abaixo do ângulo da mandíbula, anterior ao esternocleidomastóideo. Esta delimitação já é possível de ser percebida durante o exame físico. Os exames de imagem têm a importância de confirmar o diagnóstico, visto que tal afecção faz diagnóstico com outros tipos de nodulações e cistos cervicais. A ultrassonografia consegue caracterizar adequadamente a sua topografia, bem como características e sinalizadores de possível componente inflamatório / infeccioso. A tomografia computadorizada multidectector (TCMD) de pescoço é útil nos casos de exceção em que há a possibilidade de abordagem cirúrgica para melhor estudo anatômico ou diante da persistência de dúvida diagnóstica. No estudo seccional, pode-se observar a extensão da parede do cisto entre as artérias carótidas interna e externa, logo acima da bifurcação carotídea, referida como sinal do entalhe ou da cauda ou do bico, o qual é altamente sugestivo do diagnóstico, todavia não patognomônica.

Considerações finais:

Figura 8: Corte sagital de TCMD do pescoço evidenciando imagem nodular com conteúdo hipoatenuante, de aspecto cístico e paredes discretamente espessadas e com intenso realce pelo meio de contraste, localizada imediatamente abaixo do ângulo direito da mandíbula (arquivo pessoal Dr. Rahal / HIAE).

O diagnóstico preciso e assertivo da lesão cística congênita do pescoço é claro e evidente quando o conhecimento embriológico e história clínica correlacionam-se com achados de imagem, como localização, arquitetura interna e aprimoramento pós-contraste. Entretanto, quando se trata de uma lesão cística complicada / infectada, o radiologista pode enfrentar um desafio diagnóstico, visto que a gama de diferenciais aumenta sobremaneira. O conhecimento por parte do radiologista com expertise em emergência dos achados característicos dos cistos cervicais, tanto em seu aspecto não complicado quanto complicado por inflamação / infecção é fundamental para um diagnóstico preciso e um relatório claro, auxiliando de fato o médico solicitante na tomada de decisão. O conhecimento dos aspectos de imagem permite, na maioria das vezes, o diagnóstico definitivo. Em casos menos claros, ou evidentes, ou quando o examinador ainda não possui a familiaridade necessária para um diagnóstico final, a tomografia multislice e a ressonância magnética auxiliariam a definir o diagnóstico e, por conseguinte, nortear a melhor conduta. Os métodos de imagem devem ser, entretanto, usados com parcimônia. Sempre que possível o diagnóstico deve ser realizado já na ultrassonografia, quando possível, evitando exposição desnecessária à radiação, contrastes endovenosos, e custos desnecessários, pautas tão relevantes no âmbito da radiologia moderna.

Referências 1-

Figuras 9 e 10: Corte axial e reconstrução coronal de RM (T2 com supressão de gordura e T1 pós-GD com supressão de gordura. Lesão com hiperssinal T2 e realce periférico ao gadolínio (arquivo pessoal Dr. Rahal / HIAE).

Ilustração com relato de caso: Paciente do sexo feminino, 13 anos, procurou pronto-atendimento com queixa de abaulamento cervical à direita há 9 dias e piora no dia da consulta, caracterizada por discreto aumento das dimensões da lesão e da dor. Negava febre pregressa ou na ocasião da consulta. Ao exame físico apresentava massa palpável com tamanho estimado em 10,0 x 7,0 cm junto ao ângulo da mandíbula direita, de aspecto endurecido e sem sinais flogísticos. Os exames laboratoriais evidenciaram discreta leucocitose sem desvio à esquerda. À ultrassonografia cervical observou-se “Formação ovalada sólida, bem definida, medindo cerca de 4,5 x 2,5 x 2,0 cm, apresentando centro liquefeito espesso e levemente heterogêneo (volume estimado em 9,2 ml), verificada na topografia da transição do pólo

Marinho AS, Sousa C, Coelho A, Rodrigues C, Recamán M, Carvalho F. Quisto branquial: a propósito de um caso clínico. Nascer e Crescer [Internet]. 2015 Dez ; 24( Suppl 2 ): 25-25. 2- Lehn CN, Chedid HM, Correa LAC, Magalhães MR, Curioni OA, Tumores congênitos do pescoço. Rev. Assoc. Med. Bras. [Internet]. 2007 Aug [cited 2019 Aug 07] ; 53( 4 ): 288-290. 3- Chagas JFS, Rapoport A, Pascoal MBN, Aquino JLB, Brandi Filho LA, Magalhães MR, Curioni OA, Artioli TO, Amaral CF. Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Revista brasileira de cirurgia de cabeça e pescoço.2011 Jun ; 40 (2): 102-108. 4- Sennes LU, Imamura R, Angélico Júnior FV, Simoceli L, Frizzarini R, Tsuji DH. Infecções dos espaços cervicais: estudo prospectivo de 57 casos. Rev. Bras. Otorrinolaringol. [Internet]. 2002 May [cited 2019 Aug 07] ; 68( 3 ): 388-393. 5- Anil T. Ahuja et al. AJNR Am J Neuroradiol 21:315–319, 2000. 6- Benson et al. Congenital Anomalies of the Branchial Apparatus: Embryolgy and Pathologic Anatomy. Radiographics 1992; 12: 943-960 7- Dr. Sarab M. Zeki, Dr. Khairallah M. Gabash, Dr. Lamia H. Al-Nakib. Efficacy of Ultrasonography in the Diagnosis of Cystic Neck Masses Confirmed By Histopathological.Journal of Al Rafidain University College. Issue No. 38/2016 8- Koeller K.K., Alamo L., Adair G.F., et al. Congenital cystic masses of the neck: radiologic-pathologic correlation. RadioGraphics, 1999. 19:121-146. 9- Woo E.K., Connor S.E.. Computed tomography and magnetic resonance imaging appearances of cystic lesions in the suprahyoid neck: a pictorial review. Dentomaxillofac Radiol, 2007. 36:1-9. 10- Meier J.D., Grimmer J.F.. Evaluation and Management of Neck Masses in Children. Am Fam Physician,2014 Mar. 1;89(5):353-358.

Autores Camila Leite da Silveira, Marina Justi Rosa Matos, Guilherme Cecconelli Del Guerra, Antonio Rahal Junior, Miguel José Francisco Neto, Rodrigo Gobbo Garcia e Marcos Roberto Gomes de Queiroz Médicos radiologistas – Serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Hospital Israelita Albert Einstein OUT / NOV 2019 nº 112

7


A

Urolitíase: uma visão diferente de um tema que parece esgotado

s áreas do conhecimento médico estão em do diagnóstico do cálculo já poderia informar ao urologista constante evolução, tanto nos métodos diagque o cálculo é de ácido úrico, economizando tempo de innósticos como nas opções de tratamento. vestigação laboratorial. Lembrando que pacientes com gota Dessa maneira, se nós radiologistas não nos não necessariamente tem somente cálculos de ácido úrico. atualizarmos e entendermos essas mudanças, Dessa maneira, a dupla-energia é excelente para mostrar podemos nos limitar a descrever alguns padrões de imagem quais não se beneficiaram da alcalinização da urina. sem entender a utilidade ou implicações dos mesmos. Um Em relação aos padrões de descrição dos cálculos na TC bom exemplo deste tipo de situação tem sido a descrição de podemos citar algumas queixas frequentes de urologistas cálculos urinários. Trata-se de uma patologia extremamente que lidam com o tratamento de cálculos na rotina. Uma comum no nosso dia-a-dia, mas que de alguma maneira ideia errônea de alguns radiologistas é achar que cálculos acabou sendo “subestimada” pelos radiologistas, levando a calicinais não serão tratados e por isso fazer descrições do um padrão de descrições genéricos e que muitas vezes não tipo: “cálculos calicinais esparsos bilaterais, medindo até antecipam o raciocínio do médico solicitante. 0,9 cm”. Segundo o Guideline Europeu de Urolitíase de Neste sentido, vamos abordar adiante alguns aspectos 2018 (4), existem vários critérios que podem indicar o tratamento de cálculos calicinais, mesmo naqueles calicinais clínicos sobre a litíase urinária, que não são de tão amplo menores que 1,5 cm, incluindo conhecimento da nossa especialidade, mas que podem nos crescimento do cálculo, infecções, surgimento de sintomas auxiliar a fazer relatórios mais não atribuíveis a outras causas coerentes com a expectativa do (dor e hematúria) e até profissão solicitante. ou viagens frequentes (pilotos Em relação a composição, de avião, por exemplo, tendem a podemos separar os cálculos ser tratados mesmo com cálculos renais em dois grandes grupos: pequenos). Dessa maneira, apecálculos a base de cálcio e cálculos não calcificados. Dentro dos sar de que de fato a maioria dos cálculos calcificados, há o grupo pacientes com cálculos calicinais dos cálculos de Oxalato de cálcio menores que 1,5 cm são apenas e aqueles a base de Fosfato de observados, nosso laudo deve Cálcio. Estes representam cerca sempre contemplar a possibilidade de que o urologista vá inde 70% e compreendem situações diversas, desde pacientes tervir. No exemplo citado acima, formadores de cálculo esporáuma sugestão de descrição seria: dicos a pacientes com situações “cálculos calicinais bilaterais, clínicas que os tornam de alto assim caracterizados: dois no risco para formação constante de grupamento calicinal inferior cálculos. Há todo um fluxograma direito medindo 0,9 cm (650 UH de raciocínio clínico baseada na e distancia cálculo-pele de 8,5 investigação laboratorial básica cm) e 0,7 cm (700 UH e distancia e estudo metabólico pormenori- Fig. 1: Tomografia computadorizada de abdome sem concálculo-pele de 8,3 cm); um no zado para separar estes tipos de traste, corte axial. A distância cálculo-pele (DCP) é obtida a grupamento calicinal médio do pacientes. No grupo dos cálculos partir da média das distâncias do centro do cálculo urinário rim direito, medindo 0,3 cm; cinco cálculos menores que 0,2 cm não calcificados, podemos desta- à pele, a 0, 45 e 90 graus. Nos casos de cálculos com atenuação < 1000 UH, anatomia favorável, porém com DCP > 10 car três subgrupos: estruvita ou cm, a LECO tem maior risco de falha, devendo-se priorizar no rim esquerdo, distribuídos no coraliforme (15%), ácido úrico outras técnicas terapêuticas. grupamento calicinal superior e (10%) e cistina (3%). Os cálcumédio”. Nesta descrição temos los de estruvita são importantes pois estão relacionados alguns elementos que os urologistas valorizam: a infecção por bactérias produtoras de urease e tem uma 1. Dar uma noção da quantidade de cálculos, mesmo que morfologia que se amolda ao sistema coletor. No laudo préaproximada; -tratamento é importante mencionar se o cálculo se estende 2. Nos maiores cálculos, descrever atenuação e distância por todo o sistema coletor renal (cálices superior, médio cálculo-pele; e inferior e pelve renal), caracterizando um cálculo cora3. Dar noção da distribuição dos cálculos nos grupamenliforme completo, ou se é um cálculo coraliforme parcial, tos calicinais. Lembre-se que cálculos nos grupamentos inferiores tem uma abordagem de tratamento um devendo ser mencionados quais grupamentos calicinais pouco diferente de cálculos nos grupamentos superior ele acomete. Os cálculos de ácido úrico, que representam e médio. 10 %, são relevantes porque clinicamente pode ser tentado um tratamento via oral com alcalinização da urina que O racional em medir a atenuação e a distância cálculo-pele está no fato de serem preditores de sucesso da LECO. apresenta taxas de dissolução dos cálculos relativamente Os principais fatores preditivos de insucesso na LECO são: altas. Classicamente se conhece o fato dos cálculos de ácido atenuação maior que 1000UH, distancia cálculo-pele >10 úrico terem uma atenuação ao feixe de raio-x relativamente cm e “anatomia desfavorável”, que corresponde a cálice menor, o que os torna “radiotransparentes” ao Raio-x convencional e em geral apresentando atenuação em torno de longo (>10mm), infundíbulo estreito (< 5mm) e ângulo 400 UH na TC. No entanto, somente a medida da atenuação infundíbulo-pélvico estreito. Estas medidas anatômicas simples do cálculo na TC não é capaz de separar com boa foram classicamente descritas em trabalhos que usavam a acurácia os cálculos de ácido úrico dos demais. Neste senurografia excretora como ferramenta de estudo da anatomia tido, o uso das técnicas de aquisição de dupla-energia na calicinal. Hoje em dia, quando o urologista quer estudar TC tem sido uma excelente alternativa, pois no momento essa anatomia, ele pede uma Urotomografia. Mas raramente estes detalhes anatômicos são observados por nós radiologistas. Vale lembrar que cálculos ureterais também podem ser tratados por LECO, portanto, as informações como atenuação e distância cálculo-pele também deveriam ser mencionadas. Um outro comentário frequente em reuniões uro-radiológicas é o fato de que alguns radiologistas e principalmente os urologistas (quando vão medir sozinhos o tamanho dos cálculos) tendem a superestimar a medida tomográfica, especialmente nos cálculos ureterais pequenos. Isso ocorre principalmente pelo fato de muitos medirem na janela abdominal e sem magnificação. Uma boa prática é sempre usar uma janela mais “fechada” (mais próximo de uma janela óssea) e em cálculos pequenos, dar um pouco de “zoom” na imaFig. 2: Tomografia computadorizada de abdome sem contraste, corte axial, janelas de partes moles (esquerda) e óssea (direita). A medida do cálculo deve ser obtida na jane- gem. Isso faz com que a medida de cálculos la óssea para não ser superestimada. Neste caso, observa-se que a medida na janela de diminua de 1 a 2 mm, o que pode determinar partes moles excede em quase 0,2 cm àquela mais fidedigna. inclusive mudança de condutas em alguns

8

OUT / NOV 2019 nº 112

Fig. 3: Tomografia computadorizada de abdome sem contraste, corte coronal. O Ângulo Infundíbulo-Pélvico (AIP) é obtido a partir da reconstrução no modo MPR. No plano axial, posiciona-se o centro de rotação no cálculo e é feito o alinhamento com o eixo horizontal do ureter proximal. Desta forma, obtém-se o plano coronal verdadeiro da pelve renal, possibilitando a medida do AIP.

casos. Há vários trabalhos na literatura demonstrando que a medida nessa janela mais “fechada” é mais acurada do que na janela abdominal e, portanto, deve ser a utilizada* (1,2) Com o aumento do uso da ureterorrenoscopia retrógrada está crescendo o interesse acadêmico em procurar fatores preditivos de sucesso desta técnica utilizando exames de TC sem contraste. Neste sentido, gostaria de destacar a publicação recente na revista internacional Urology feita pelos grupos de endourologia e radiologia do HCFMUSP* (3), na qual foram estudados prospectivamente 92 pacientes submetidos a ureterorrenoscopia retrógrada para tratar cálculos calicinais medindo até 2,0 cm (total de 115 unidades renais operadas). Neste trabalho foram avaliados vários aspectos da tomografia e observou-se que o fator que teve a melhor predição de sucesso na TC pré-operatória foi a medida do ângulo infundíbulo pélvico (IPA>41º), melhor que a própria medida do tamanho dos cálculos. Este ângulo é uma medida classicamente descrita em estudos de urografia excretora, e quando muito agudo é relacionado pela literatura ao insucesso no tratamento de cálculos calicinais inferiores com LECO. No entanto, não se havia estudado ainda a sua relação com a ureterorrenoscopia retrógrada. O interessante neste trabalho foi mostrar que o resgaste de uma medida “antiga” e relativamente esquecida pelos radiologistas com sua adaptação para a TC sem contraste (facilmente medida com técnica reconstrução multiplanar – MPR) se mostrou como o melhor fator preditivo do ponto de vista estatístico. Ou seja, há muita informação anatômica escondida nos nossos exames, que podemos estudar e transformar em medidas práticas.

Bibliografia 1.

Computerized tomography magnified bone windows are superior to standard soft tissue windows for accurate measurement of stone size: an in vitro and clinical study. Eisner BH, Kambadakone A, Monga M, Anderson JK, Thoreson AA, Lee H, Dretler SP, Sahani DV. J Urol. 2009 Apr;181(4):1710-5. doi: 10.1016/j.juro.2008.11.116. Epub 2009 Feb 23.

2.

Computed tomography window affects kidney stones measurements. Danilovic A, Rocha BA, Marchini GS, Traxer O, Batagello C, Vicentini FC, Torricelli FCM, Srougi M, Nahas WC, Mazzucchi E. Int Braz J Urol. 2019 Jun 20;45. doi: 10.1590/S1677-5538.IBJU.2018.0819.

3.

Size is Not Everything That Matters: Preoperative CT Predictors of Stone Free After RIRS.Danilovic A, Rocha BA, Torricelli FCM, Marchini GS, Batagello C, Vicentini FC, Traxer O, Viana PCC, Srougi M, Nahas WC, Mazzucchi E. Urology. 2019 Jul 13. pii: S0090-4295(19)30625-9. doi:10.1016/j.urology.2019.07.006.

4.

Türk C, Skolarikos A, Neisius A, Petřík A, Seitz C, Thomas K, et al. EAU Guidelines on Urolithiasis. Arnhem, The Netherlands: EAU Guidelines Office; 2018

Autores Cristyano Leite e Ligia Couceiro Orientadores: Bruno Aragão e Regis França Médicos do Departamento de Radiologia do Hospital Sírio-Libanês (SP)


OUTUBRO / NOVEMBRO DE 2019 - ANO 18 - Nº 112

Por César Giannotti

PONTO DE VISTA

Tecnologia lado a lado, buscando novas maneiras de gestão, cuidado e interação com o ecossistema da saúde Nos últimos anos, muitas experiências cotidianas se tornaram digitais: bancos, comércio, agências de turismo, faculdades, entre outros. Embora lentamente, o setor de saúde está se movendo na mesma direção. A adoção de novas tecnologias necessita esforço e ainda há algumas barreiras para o seu desenvolvimento, tais como cultural, financeira e de regulamentação.

N

Outra vantagem em relação às tecnologias de imagem são sitivos, como menor exposição do paciente sobre a radiação, os dispositivos em miniatura, como balões, cateteres e stents maior rapidez no atendimento, aumento do volume e, como que podem ser navegados pelo corpo para serem usados onde consequência, aumento de receita. forem necessários. Para o paciente, é muito significativo, pois Outro fator importante que impacta positivamente são não há grandes incisões e cicatrizes, além de, na maioria das as ferramentas do conceito de peer-based, as quais podem ser vezes, ser aplicada apenas anestesia local. O resultado é a ráaplicadas as melhores práticas por meio de fóruns internos pida recuperação e melhor experiência do tratamento. Com a com a utilização da ferramenta PerformanceBridge. Outro prática dos procedimentos guiados por imagem, os pacientes, exemplo nessa prática são as recomendações de retorno de geralmente, saem do hospital no mesmo dia. paciente que, até então, ficam escritas nos laudos de maneira Uma grande inovação nesta área é a utilização de realidanão estruturadas. O baixo índice desse retorno causa sérios de aumentada durante um procedimenproblemas, uma vez que as patologias to. A equipe que trata o paciente precisa podem agravar em função do diagnóstico tardio. Agora, é possível transformar acompanhar muitas fontes diferentes de as recomendações em um novo ageninformações e tomar decisões rápidas damento com a aplicação da linguagem com base nesses dados. Pensando nisso, natural de processamento, garantindo a Philips lançou, em 2017, a plataforma o retorno do paciente de maneira prede terapia guiada por imagem, o Philips ventiva e atingindo melhores índices Azurion. Com o lançamento, demos um de tratamento. passo à frente, em termos de integração, O avanço vem de maneira tão com todas essas informações combinadas e controladas intuitivamente em grande na área de Diagnóstico que uma grande tela de LED suspensa acima até mesmo as tecnologias tradicionais da mesa do paciente. em Ressonância e Tomografia estão Com a realidade aumentada, posofrendo disrupção. Outro benefício é demos levá-lo ao próximo nível, mera nova tecnologia do magneto celado gulhando totalmente cada membro da nas ressonâncias (Philips MR Ambition), que tende a ser a maior revolução equipe que realiza o procedimento em César Giannotti, Líder de Negócios de Solutecnológica nos últimos 10 anos, a qual um ambiente adaptado à sua função ções na Philips do Brasil. utiliza-se apenas sete litros de gás hélio, específica. A parceria com o HoloLens comparado com os 1500 litros das tecnologias tradicionais. 2, da Microsoft, nos permite diferentes conceitos no cuidado. A questão do gás é debatida, inclusive por ambientalistas, Imagina quando você está dirigindo um carro, quer manter as escassez e melhor utilização do mesmo. Ou seja, além das duas mãos no volante e, ao mesmo tempo, os olhos na estrada, vantagens financeiras e de manutenção dos equipamentos, sem se distrair olhando as telas e pressionando os botões. Da há também um impacto sócio-ambiental. mesma forma, quando estou realizando algum procedimento, Quando falamos de medicina de precisão, há um avanço quero manter minhas mãos nos instrumentos e meus olhos grande, principalmente, em doenças de alta complexidade, no paciente. O conceito que desenvolvemos com a Microsoft como Oncologia e Cardiologia. Tomamos o primeiro caso, nos permite-me ver o mundo real sobreposto com dados em quais os grandes desafios da Oncologia estão em consolidar tempo real e imagens médicas 3D, necessárias para orientar dados estruturados. Além disso, gerenciar a discordância a nossa terapia de precisão, e também permite controlar o entre áreas como radiologia, patologia, molecular e genômica. procedimento com reconhecimento de voz, monitorização Apresentar terapias e opções de testes clínicos com base ocular e gestos avançados. em características clínicas e moleculares, avaliando a resposAtrelado a isso, inicia-se uma discussão diferente no ta ao tratamento, rastreando a conformidade com base em modelo de reembolso também. resultados analíticos são desafios eminentes nos provedores A Saúde é conservadora porque estamos, literalmente, líderes em cuidados especializados. lidando com a vida das pessoas. Soluções exigem evidências Em cardiologia, a cirurgia tem uma história que remete e aprovações regulatórias. Ainda há muitos desafios a superar aos procedimentos realizados há milhares de anos. Durante antes de vermos nossa visão de longo prazo concretizada. quase todo esse tempo, a cirurgia foi “aberta”: o médico prePrecisamos fazer a transição do reembolso de taxa por sercisava “abrir” o paciente para avaliar e tocar a parte do corpo viço para modelos baseados em valor, para que possamos que precisava “consertar”. Hoje, as tecnologias de imagem, incentivar o atendimento com base em resultados clínicos e como raio X e ultrassonografia, possibilitam visualizar, avaeconômicos. Isso exigirá uma transformação organizacional liar e diagnosticar o que está acontecendo dentro do corpo. para trabalhar de forma multidisciplinar e colaborativa que empodera os seres humanos com a tecnologia. Temos avançado em tecnologias seguras que, em última análise, ajudarão os pacientes, mas também precisamos nos concentrar na melhoria de qualificação e no apoio às pessoas que usam a tecnologia, para que possam confiar nela e se sentirem Formado em administração pela FGV- Fundação Getulio Vargas, acaba de assumir a fortalecidas por ela. função de general manager para Health Systems da Philips do Brasil. Na Philips, trabalhamos com tecnologias que abordam Com mais de 15 anos de experiência, tendo atuado na Johnson & Johnson e no Grupo explicitamente os objetivos quádruplos: melhores resultados Fleury, entre 2005 e 2009, realizou cursos na mesma instituição, com foco em Educação para os pacientes e menor custo, mas também experiências Executiva para Gerenciamento Financeiro e especialização em Gerenciamento Estratégico. de pacientes e profissionais altamente qualificados. Não Já em 2013 o executivo finalizou seu MBA (Master of Business Administration) pelo The apenas estamos criando as ferramentas certas para apoiar o OneMBA Program. gerenciamento de saúde para diagnosticar e tratar os doentes, Com grande expertise em marketing, desenvolvimento e inteligência de negócios e mas também estamos duplicando as soluções para ajudar as planejamentos estratégicos, tem atuado na área de marketing da Philips e agora acaba pessoas a autogerenciar sua saúde com suporte contínuo de de ser conduzido a este novo posto. profissionais e tecnologias.

o hospital do futuro, os cuidados serão fornecidos em ambientes que unem tecnologia a ambientes físicos, oferecendo acesso 24 horas por dia. Melhora de resultados, experiências personalizadas ao paciente e à equipe e otimização das operações são algumas das vantagens deste mix. A logística, hoje em dia, é um fator crucial, no qual as pessoas buscam atendimentos próximos de suas residências, em um ambiente mais confortável para consultar um médico, evitando deslocamentos. Ao mesmo tempo, os consumidores buscam ferramentas de saúde personalizadas e acessível em seus telefones. Aos poucos, a assistência médica será introduzida nas comunidades, em diferentes formas, engajando familiares, amigos e vizinhos. Assim como o Internet Banking, no mercado financeiro, demorou para ser aderido, ainda estamos em um momento de inflexão em que os modelos digitais estão chegando perto de uma escala primária. Em alguns mercados, como nos Estados Unidos, já é possível encontrar hospitais sem camas, monitorados pela tecnologia da Philips (eICU), a qual permite que pacientes, de suas casas, sejam monitorados por seus médicos. Isto já acontece em 38 hospitais de diferentes estados do país. No Japão, através da Tele-Health, usando a telemetria tecnologia que permite a medição e comunicação de informações de interesse do operador ou desenvolvedor de sistemas – para adquirir dados dos monitores, bombas, ventiladores e de avançados sistemas de áudio visual, é possível priorizar, antecipadamente, cuidados e intervenções, melhorando os resultados de pacientes de alto risco. Esta tecnologia oferece maior suporte aos profissionais de saúde, permitindo um acompanhamento mais próximo e em alta escala. Outro exemplo do âmbito clínico é a septicemia, ou infecção generalizada, condição comum e mortal que, segundo estimativas, mata 1.400 pessoas em todo o mundo, todos os dias. Este processo infeccioso também custa caro, chegando a US$ 16,7 bilhões nos EUA, com um custo médio, por paciente, de cerca de US$ 22.000. Os monitores de pacientes, ao lado do leito, simplificam a implementação de protocolos de atendimento à septicemia baseados em evidências – cruzando algoritmos e aplicando inteligência artificial, é possível antecipar o tratamento (protocol watch), melhorando a efetividade e até salvando vidas. Outra grande quebra de paradigma são os novos painéis em tempo real, buscando otimização operacional, avaliando performance, volumes e trends dos pacientes e dos staffs. Em Diagnóstico por Imagem, estudos mostram que 12% do custo total são em torno do capital (equipamentos, tecnologia etc.) e 88% são custos operacionais. Ou seja, o foco está mudando, de otimização de capital para despesas operacionais. Por exemplo, uma simples padronização de protocolos de aquisição de imagem pode ter resultados po-

André Toledo é o novo manager da Philips Brasil

OUT / NOV 2019 nº 112

11


PONTO DE VISTA Por Fernando Poralla (SP)

Meios de Contraste acompanhando a evolução dos métodos de imagem Observamos a olhos vistos nos últimos anos a evolução dos equipamentos para exames de Tomografia Computadorizada (TC) e de Ultrassonografia (US).

D

a mesma forma, novos meios de contraste foram desenvolvidos nas últimas décadas para realçar os exames de TC e US. As velhas gerações de meios de contraste iodados iônicos foram sendo substituídas gradativamente em muitas geografias pelos mais modernos meios de contraste iodados não iônicos. E a primeira geração de meios de contraste para US foi substituída pela atual 2ª geração para o método da US contrastada (CEUS, sigla em inglês para Contrast Enhanced Ultrasound). Mais recentemente, o mercado brasileiro também recebeu esses novos meios de contraste para CEUS e TC. No momento onde observamos uma maior consciência em relação à proteção do paciente no que concerne à maior redução possível da dose de radiação, tanto a técnica diagnóstica com CEUS como a utilização de meios de contraste iodados de mais alta concentração, que possam permitir estratégias de redução da dose de radiação em exames de TC e outras técnicas que utilizam radiação ionizante, é um caminho ético que demonstra a evolução dos profissionais de saúde na aplicabilidade de técnicas mais conscienciosas. Nessa linha de raciocínio, uma das mais novas opções do mercado mundial e que já está disponível no Brasil, é o meio de contraste Iomeron® (iomeprol), da empresa Bracco, que é o único que chega

12

OUT / NOV 2019 nº 112

à concentração de 400mg de iodo por mL (a mais alta concentração de iodo aprovada e disponível no mercado). Os benefícios da mais alta concentração se traduzem em permitir não apenas a redução da dose de radiação (sem perder a qualidade de imagem), mas também permite a aplicação de um menor volume final do meio de contraste, assim como uma menor velocidade do fluxo de injeção, isso tudo mantendo um menor risco de nefropatia induzida por contraste (NIC) ou insuficiência renal pós-contraste. O Dr. Dany Jasinowodolinski, do HCor, ressalta que “a redução de radiação já é uma realidade no Brasil, o LatinSafe está bastante atuante e a conscientização já é um grande avanço, podendo-se observar que diversos serviços estão implementando protocolos com redução de dose de radiação”; ele complementa que “são muitas as oportunidades para beneficiarmos os pacientes quando se pensa na utilização dos meios de contraste iodados de maior concentração, mas um destaque é sem dúvida para os exames de pacientes pediátricos, onde o volume de meio de contraste é limitante para uma boa contrastação arterial como nas angiotomografias, especialmente as coronarianas”. Erik Lima, Gerente Operacional da Radiologia no ICESP-Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, complementa que “a utilização de MC de alta concentração também pode ser uma iniciativa efetiva na redução de dose, gerando aumento do tempo de vida útil do tubo de raios-X dos tomógrafos, e, trazendo maior segurança como um benefício para todos os pacientes, principalmente para crianças e pacientes oncológicos”. Devemos ressaltar que para crianças e idosos e pacientes oncológicos, a possibilidade da redução da velocidade de fluxo de injeção de um meio de contraste está diretamente ligada a um maior conforto ao paciente, e, nesses casos

em específico, essa redução é muito importante para evitar o extravasamento de MC. Além da mais alta concentração do mercado (400), o meio de contraste iodado não iônico Iomeron® também existe na concentração de 300mg de iodo por mL, onde se apresenta como o meio de contraste de mais baixa osmolalidade e mais baixa viscosidade entre os demais meios de contraste de baixa osmolalidade nessa concentração. A Bracco é a única das grandes empresas do ramo de contrastes a disponibilizar no Brasil o meio de contraste para CEUS à base de microbolhas: o SonoVue® (nome comercial em todas as geografias, para o gás Hexafluoreto de Enxofre (SF6), exceção para os EUA onde o mesmo produto foi registrado com o nome de Lumason® – visto se tratar de um meio de contraste que permanece no lúmen vascular, diferentemente dos tradicionais para TC e de ressonância magnética (RM) que banham o espaço intersticial. A CEUS é uma técnica importante de “zero radiation” não apenas para os exames de ecocardiografia, mas também no mapeamento de macro e microvasculatura, e, que chega num momento oportuno, quando alguns meios de contraste à base de gadolínio (Gd) de estrutura linear foram proibidos no mercado da União Europeia devido ao seu maior risco de deposição em tecidos corpóreos. “A técnica da CEUS é uma alternativa, que possibilita livrar o paciente não apenas da RM contrastada com Gd, mas também da TC contrastada, permitindo o diagnóstico através da caracterização mais precisa das

lesões, poupando os pacientes da radiação ionizante desnecessária, principalmente quando se trata de uma lesão hepática focal de padrão típico de realce benigno (por exemplo: hemangiomas e hiperplasia nodular focal)”, como comenta a Dra. Cristina Chammas, Diretora clínica do Alta Excelência Diagnóstica, diretora do serviço de Ultrassom do INRAD-HCFMUSP e presidente eleita Federação Mundial de Ultrassom-WFUMB; da mesma forma “a CEUS é útil no pós-transplante de fígado, aonde com facilidade se pode observar a patência da artéria hepática, evitando de encaminhar o paciente para uma angiografia diagnóstica, ficando essa reservada para confirmar uma alteração diagnosticada e já tratá-la no mesmo procedimento”. Levando em consideração todas essas características, tanto para a US contrastada (CEUS) como para a TC e a Hemodinâmica, percebemos como a evolução dos meios de contraste tem acompanhado a evolução tecnológica e a qualidade final dos exames em diagnóstico por imagem. Vemos com orgulho o comprometimento de empresas sérias trabalhando em prol de poder contribuir com produtos para a prática de uma medicina diagnóstica efetiva, mais racional e ética.

Fernando Poralla Doutor em Medicina pela Universidade de Saarland, Alemanha Diretor de Serviços Médicos e Assuntos Regulatórios para a Bracco América Latina Membro do Grupo de Estudos de Meios de Contraste da SPR


REGISTRO

Hologic adquire 46% da SuperSonic Imagine

C

omunicado oficial distribuído em final de agosto, dá conta que a Hologic Inc acaba de adquirir 46% das ações da empresa francesa Supersonic Imagine, fabricante de equipamentos de ultrassom de alta performance. A negociação ainda não repercutiu no Brasil, por questões burocráticas, mas, a negociação fortalecerá o portfólio de produtos para saúde da mama da Hologic com a melhor tecnologia do setor, cada vez mais usada para diagnosticar câncer em mulheres com mamas densas A Hologic, Inc. (Nasdaq: HOLX), líder global em saúde da mulher, ao anunciar a negociação, dá um importante passo no fortalecimento de sua estratégia e, como destacou Peter Valenti, presidente da Divisão de Soluções em Saúde Esquelética e Mama da Hologic, no ato: “assim como nossas aquisições anteriores da Faxitron e da Focal, a aquisição da SuperSonic Imagine fortalecerá nossa estratégia de fornecer triagem abrangente, soluções intervencionistas e cirúrgicas em todo o continuum de cuidados com a saúde das mamas”. E, prosseguindo, enfatizou “o ultrassom está se tornando cada vez mais importante no diagnóstico do câncer de mama, e acreditamos que o SuperSonic Imagine oferece tecnologia superior que se traduz em melhores resultados clínicos para pacientes com câncer de mama, bem como para pacientes com doença hepática e da próstata”. “O SuperSonic Imagine fornece a melhor tecnologia de ultrassom da categoria, estrategicamente importante para o crescimento a longo prazo de nossos negócios de saúde da mama”, disse Steve MacMillan, Presidente e CEO da Hologic. “A transação é consistente com nossas metas de implantação de capital e será acrescida à nossa taxa de crescimento de receita”.(Agências Internacionais)

Cinco anos melhorando a Saúde por meio da Educação

S

Plataforma de ensino online da GE Healthcare já conta com milhares de alunos

ão imensas as diferenças de como hospitais e clínicas diagnósticas do Brasil têm acesso a novas tecnologias. Ao mesmo tempo em que conta com instituições de alto padrão, tão avançadas quanto as de países desenvolvidos, a saúde da maioria da população ainda está por conta de pequenos e médios provedores, distantes dos grandes centros e muito carentes de educação técnica de qualidade. Encarando o desafio de democratizar o massivo conhecimento que possui, há cinco anos a GE Healthcare reestruturou sua área de educação com o objetivo de se tornar a melhor parceira na oferta de cursos de especialização em saúde. Neste período, a companhia teve 2.700 alunos presenciais, com mais de 3 mil horas de aulas dadas. Neste sentido, lançou também a sua plataforma online de educação para conseguir chegar a qualquer lugar do país. Em apenas dois anos de existência do formato digital, já foram contabilizadas mais de 19 mil reproduções de vídeos, como tutoriais práticos, 450 aulas e 1.950 alunos.

Grupo Fleury, os cursos disponibilizados pela equipe de educação da GE têm sido uma importante ferramenta de aprendizado e desenvolvimento profissional. “Com alguns cliques temos a nossa disposição aulas com uma linguagem de fácil compreensão que vão de temas mais simples aos mais complexos. Isso torna o portal de educação da GE uma fonte constante de ensino, informação e consulta”.

Acesso também democrático

A jornada de educação é dividida em pilares que gradualmente desenvolvem o usuário de forma mais aprofundada em suas especialidades como ressonância magnética, tomografia computadorizada, densitometria óssea, radiologia, intervenção, dentre outras. Os pilares “Start me up” e o “Keep me an expert” são a base dessa capacitação continuada e cobrem desde treinamentos básicos sobre o equipamento e suas funcionalidades até recursos mais avançados como suporte remoto, por exemplo. “Agora é possível oferecer treinamentos técnicos e clínicos, que unem teoria e prática aos mais diversos perfis de clientes: da préFormação de grandes usuários Engº Marcos Corona, da GE Healthcare -aplicação até aqueles que gostariam de se diferenciar no mercado”, comenta Corona. “Se “Ter apenas o equipamento não é o basnão tivermos clientes usando os nossos produtos em sua capacidade tante”, explica Marcos Corona, diretor de Imaging da GE Healthcamáxima, é impossível diferenciá-los tecnologicamente. E quem re para a América Latina. “Temos o compromisso de formar grandes garante isso é o time de Educação da GE Healthcare”. usuários, que conheçam e utilizem por completo as soluções que “Sou grata pelo trabalho da GE com a plataforma de educação, estão à sua disposição. Isto se reflete diretamente na qualidade do com conteúdo interessante e de muita importância para o meu dia serviço que oferecem a seus pacientes e na assertividade de seus a dia. Foi útil em diversas vezes, não só para aprendizado, mas resultados diagnósticos”. também para tirar dúvidas durante a execução dos exames”, comHoje, a GE Healthcare é a única empresa do setor na América partilha Kerla Viana, tecnóloga em radiologia na DASA. Latina a ter um time com mais de 50 profissionais dedicados a A plataforma de educação da GE se mostra democrática tampensar em soluções de educação para atender seus clientes de forma bém no modo como compartilha o seu conteúdo. Ela oferece seus online, além de treinamentos presenciais específicos. Comprando cursos em diferentes formatos, respeitando a predileção de seus seus equipamentos, os clientes recebem acesso gratuito por 12 usuários que podem acessar as informações em vídeos, PDFs, meses para a “Education Plataform” da GE. Para Arlindo Capucho, técnico em ressonância magnética do webinars, guias rápidos e manuais para impressão.

OUT / NOV 2019 nº 112

13


REGISTRO

Alfamed investe no lançamento da maior linha de ultrassom já produzida no Brasil Com 10 anos de existência, a Alfamed, empresa conhecida pela sua contribuição significativa nos mercados de monitoração de pacientes e ECG, amplia seu portfolio com planos de se tornar a maior fábrica de ultrassom do Brasil, com aparelhos dotados de tecnologias avançadas em radiologia geral, ginecologia/obstetrícia e cardiologia.

C

om a expansão do mercado softwares e equipará-los as grandes marcas de ultrassonografia no Brasil, internacionais foi nosso primeiro grande a Alfamed Sistemas Médidesafio. Foi um trabalho de oito anos até este cos, empresa do grupo Primomento”, ressalta o executivo. me Holding e dirigida pelo Nessa linha os próximos passos da empresa é de aproximação com empresário Otávio Viegas, os clientes para instruí-los iniciou um amplo processo sobre as diversas maneiras de fabricação de aparelhos de se obter excelentes reportáteis e trolley em sua sultados com o uso dos seus indústria, localizada em equipamentos, pois muitos Lagoa Santa-MG, que hoje profissionais ainda não sase destaca com a maior linha bem como usufruir da alta de fabricação de aparelhos performance e dos benede monitoração de pacientes localizada na América fícios de alguns softwares Latina e a única fábrica de e recursos disponíveis em ultrassom 100% nacional grande parte dos aparelhos. situada no Brasil. “Desse modo queremos que Segundo Gabriel eles nos auxiliem na previGabriel Cunha, da Alfamed são de necessidades, para Cunha, gerente comercial que trabalhemos com tecnologia de ponta da empresa, a nova linha de aparelhos, batizada de Magnus (aparelhos estacionários) e a inovação neste segmento”, explica e Invictus (aparelhos portáteis) atendem Gabriel Cunha. ao mercado de ultrassonografia em suas De acordo com Cunha, o Software Auto EF, é um dos destaques diversas modalidades e apresentam em sua presentes nos equipamentos da configuração básica softwares avançados Alfamed. Com ele é possível obter de aprimoramento de imagem. “Dominar a de forma automática a fração tecnologia de ultrassonografia no Brasil foi de ejeção do ventrículo uma enorme conquista para nosso grupo e esquerdo (VE) em principalmente para os brasileiros, visto que exames de cardioesses aparelhos evoluem de maneira muito logia, que é o perdinâmica em termos de software, aplicação centual de sangue clínica e na sua forma de utilização. Alcançar que o ventrículo um alto padrão de performance de nossos

14

OUT / NOV 2019 nº 112

ejeta para a aorta durante a sístole. “Uma das principais funções do ecocardiograma é avaliar a função sistólica do VE, e esse dado fornece tanto informação prognóstica quanto terapêutica, afirma o gerente. Cunha ressalta ainda que essa não é a única novidade. A empresa também apresenta em seus aparelhos softwares de análises avançadas como o Eco strain, Eco de Stress, contraste, dentre outros recursos indispensáveis para uma excelente prática em realização de exames de ultrassonografia. Até o fim do ano a nova linha de aparelhos da Alfamed já será composta por 10 modelos de equipamentos.

Alfamed no CBR 2019 Durante o CBR 2019, a empresa vai apresentar em primeira mão muitas novidades aos congressistas, como os dois novos modelos de portáteis, o Invictus E5 - aparelho portátil (tipo laptop), que além de entregar ao cliente uma experiência full touchscreen, pretende atender a uma tendência de design para os próximos anos com um conceito de usabilidade totalmente reformulado. Outro destaque é o modelo Invictus L5, aparelho indicado para point of care, com tela retrátil, cujo objetivo é entregar ao mercado um aparelho híbrido de “alta produtividade”.

ABIMED tem novo presidente executivo

A

ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde) acaba de contratar o executivo Fernando Silveira Filho para assumir a presidência-executiva da entidade. Na nova composição da equipe, Carlos Goulart passará a atuar como Relações Institucionais e Governamentais, com a incumbência de reforçar o relacionamento institucional da associação. Fernando Silveira Filho é Bacharel em Administração, com pós-graduação em Marketing, MBA em Gestão Empresarial e Mestrado em Gestão Organizacional. Carlos Goulart, que ocupou a presidência-executiva da ABIMED desde 2010, é engenheiro eletrônico e foi Country Manager da Siemens Healthcare para o Brasil. A ABIMED representa 215 empresas de tecnologia avançada na área de equipamentos, produtos e suprimentos médico-hospitalares. As empresas associadas da entidade respondem por 65% do faturamento do segmento médico-hospitalar no país. O setor de produtos para saúde tem participação de 0,6% no PIB brasileiro, conta com mais de 13 mil empresas e gera em torno de 140 mil empregos.


INOVAÇÃO Por Roberto Godoy

Para continuidade na inovação da saúde, a colaboração entre os players é essencial O segmento da saúde é, sem dúvida, um dos mais inovadores e interessantes por estar em constante evolução e ligado diretamente à vida das pessoas, que estão cada vez mais preocupadas em monitorar sua saúde. A área também acaba atraindo o interesse de grandes empresas que não são necessariamente deste segmento. Veja a Apple, gigante da tecnologia que possibilitou ao usuário fazer praticamente um eletrocardiograma pelo Apple Watch e que caminha a passos largos para que o iPhone se torne o mais novo prontuário eletrônico do paciente.

O

isso precisamos de uma regulamentação utro exemplo é a Amazon, que urgente, para garantir a qualidade necesem 2018 adquiriu a PillPasária no atendimento e aos procedimentos ck, uma farmácia online que realizados que vão envolver os diversos entrega os medicamentos aos players da cadeia. pacientes no dia e horário que A medicina de precisão é outra área em ele precisa tomá-los. Ainda temos o Google, que está se organizando para prever as constante evolução e que traz resultados doenças que teremos no futuro. Assim, vefantásticos, por tratar o paciente de forma mos claramente que a saúde está em pleno exclusiva, levando em conta todo seu histórico, analisando cada momento de inovação e caso individualmente, ruptura, promovida pela relacionando dados genétransformação digital. ticos, hábitos de vida etc. Para ter ideia do tamanho Ou seja, saindo da terapia desse mercado, só no tradicional e indo para a Brasil, temos mais de 400 personalizada, contribuinhealthtechs, ou seja, stardo significativamente para tups totalmente voltadas a melhora na qualidade de em revolucionar o setor vida dos pacientes. através da tecnologia. Para complementar a Todo esse movimento está ligado ao aumento inovação, também é preciso pensar em modelos do acesso à saúde e ao de ampliação do acesso à objetivo de melhorar sua Roberto Godoy, da Guerbet saúde. As farmácias, por eficácia para a população. exemplo, podem ser um bom caminho, Mas esses são grandes desafios para os gestores das corporações públicas e privadas, já já que hoje é o primeiro e maior ponto que gerar acesso em um país do tamanho do de contato com a população devido a sua Brasil não é nada fácil e depende de toda a capilaridade. Para se ter ideia, o mercado cadeia de saúde, seja relacionado aos órgãos farmacêutico do Brasil é o sexto maior do reguladores ou à inclusão de tecnologia. mundo, de acordo com o IQVIA, e movimentou R$ 57 bilhões em 2017, segundo Não podemos falar de inovação em dados do QuintilesIMS Institute. saúde sem falar em telemedicina, que está Potencial existe, mas diferente da resendo discutida entre o Conselho Federal alidade de países da Europa e EUA, aqui de Medicina, gestores médicos e entidades as farmácias ainda são vistas apenas como de saúde. As questões mais importantes um ponto de venda, apesar de ter total caenvolvem qualidade, relação médico e pacidade e estrutura para ser um ponto de paciente, formas de pagamento e princípio oferta à saúde. Esse varejo evoluiu e não ético. Mas o fato é que esse é um caminho mais oferece apenas medicamentos, mais sem volta e que já ocorre na prática. Por

também uma experiência de consumo com a oferta de produtos de bem-estar, higiene e beleza. Então por que não dar continuidade a essa evolução e oferecer soluções completas em saúde também? Hoje elas podem realizar testagem de glicose, e se ampliarmos para testes de HIV e hepatite por exemplo? Isso está totalmente ligado à medicina preventiva, que incentiva o diagnóstico precoce de uma doença reduzir possíveis complicações médicas e reduzir os custos com tratamentos, tornando a cadeia menos onerosa e mais eficiente. Ter uma gestão eficiente e melhorar o planejamento do sistema junto aos elos que o compõe é fundamental, são eles: • Indústrias e associações, que investem alto em pesquisas para desenvolver novos produtos e serviços para a melhora da qualidade de vida dos pacientes; •

Hospitais, clínicas, laboratórios, postos de saúde e unidades básicas de saúde, que são os provedores diretos do serviço e que fazem chegar aos pacientes as tecnologias da indústria;

Agências reguladoras como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que têm como maior desafio suportar a implementação de produtos e serviços inovadores no Brasil, se antecipando à normatização com previsibilidade e segurança jurídica, além de se embasar as tendências tecnológicas e internacionais, pois de outra forma não é possível implementar novos produtos e serviços;

• Órgãos de avaliação de tecnologias

em saúde, como a CONITEC, SUS e ANS, que têm como maiores desafios a avaliação sob a perspectiva de custo, efetividade e impacto orçamentário sobre as novas tecnologias, suportando a ampliação do acesso aos produtos e serviços em duas vertentes: SUS (incorporações) e ANS (Saúde Suplementar). A visão da relação custo efetividade se faz cada vez mais necessária para decisões estratégicas no sistema de saúde, uma vez que os recursos são finitos. Esses são apenas alguns recortes para exemplificar o quanto a saúde vem evoluindo e para comprovar que, de uma forma ou de outra, o paciente sempre está no centro dessa cadeia de evolução, e o quanto é necessária a mudança de mindset do mercado geral. Isso porque estamos vivendo um momento de colaboração que nenhum player consegue fazer nada sozinho, onde é impossível gerar acesso sem ter envolvimento da indústria que desenvolve e distribui os produtos e serviços; da sociedade médica que implementa os protocolos clínicos; dos órgãos reguladores e da incorporação através das agências que regulamentam a saúde. Ninguém sairá ganhando se estiver sozinho, ou acha que as grandes corporações da saúde estão se aproximando e se unindo a players menores e startups porque está na moda? De forma alguma, o futuro está justamente nessa união, esse é o caminho para a revolução da saúde ter continuidade. Roberto Godoy é diretor geral da Guerbet Brasil e diretor de marketing da Guerbet LATAM, líder global em meios de contraste para exames de imagem.

NOTÍCIAS

4º IDKD no Brasil será sobre Doenças Musculosqueléticas

D

e 31 de outubro a 3 de novembro será realizado em São Paulo, o 4º IDKD América do Sul 2019 - Doenças Musculosqueléticas. O Curso Internacional de Diagnóstico de Davos (IDKD) tem um formato interativo e dividido em subespecialidades da radiologia, com oficinas e palestras ministradas por renomados especialistas. O público formado por radiologistas e clínicos e demais interessados no uso de imagens para fornecer o melhor tratamento ao paciente, além das palestras, participam de workshops conduzidos por experts na área. O treinamento em radiologia será em grupos de aproximadamente 50 a 60 participantes e será realizado nas dependências do Centro de Treinamento do InRad. O IDKD é um dos principais cursos de pós-graduação em radiologia diagnóstica e apoia a aprendizagem ao longo da vida, a fim de aumentar a eficácia da interpretação de imagens e melhorar os tratamentos subsequentes. Seu corpo docente é composto por especialistas em imagens médicas, incluindo radiologia intervencionista, medicina nuclear, radiologia pediátrica e imagem mamária (mamografia).

Entre os vários professores estrangeiros convidados que já confirmaram participação no evento destacamos o especialista Bruno Vande Berg, BE, chefe da Unidade de Imagem Médica da Universidade Católica de Louvain – UCLouvain, Instituto de Pesquisa Experimental e Clínica (IREC)Louvain-la-Neuve, Bélgica, que vai falar sobre Tumores de ossos e tecidos moles e Doença Óssea Metábolica. Na direção do curso no Brasil estão os professores Juerg Hodler, Zurich (CH); Rahel A. Kubik-Huch, Baden (CH) e Gustav K. von Schulthess, Zurich (CH), conta com um comitê local formado por Giovanni Cerri, Chairman, São Paulo (BR); Carlos Alberto Buchpiguel, São Paulo (BR); Cesar Nomura, São Paulo (BR) e Romeu Côrtes Domingues, Rio de Janeiro (BR); e o dr. Marcelo Queiroz, na organização do evento. Nesta edição os participantes contarão com 14 oficinas de radiologia e 6 conferências que cobrem a atual abordagem de imagens médicas para o diagnóstico das Doenças Musculosqueléticas. Mais informações e inscrições podem ser obtidas no site http:// www.idkd.org/cms/idkd-south-america. Ainda, em 2019, outros cursos IDKD serão realizados na Suíça, Grécia e Ásia.

JPR’2020 começa receber inscrições em outubro

A

Sociedade Paulista de Radiologia, presidida pelo dr. Mauro Brandão, marcará mais uma comemoração no seu calendário em 2020: de 30 de abril a 3 de maio realizará sua 50ª Jornada Paulista de Radiologia e, a partir da segunda quinzena de outubro, já será possível se inscrever. E, mais uma vez, o evento será realizado em parceria com a Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA) – as demais edições assinada pelas duas sociedades foram realizadas em 2014, 2016 e 2018. O local será o Transamerica Expo Center, em São Paulo, e terá como tema Radiologia para o Futuro. Um dos maiores congresso da área do Diagnóstico por Imagem do mundo, a Jornada recebe, tradicionalmente, participantes de todos os Estados do Brasil e de países de todos os continentes. O alto nível do programa científico, reunindo conferencistas nacionais e internacionais de renome que discutem as mais recentes descobertas científicas é a principal marca do evento, que promove incessante integração com os principais centros especializados do mundo. Além disso, a importante exposição técnica para o mercado médico, com a participação de diversas empresas da área. Inscreva-se: jpr2020.org.br.

Inscrições para trabalhos científicos abertas em novembro As inscrições para Painéis e Temas Livres também serão abertas em breve: estarão disponíveis no site do evento a partir da segunda quinzena de novembro, e o prazo final deve se estender até janeiro de 2020. Trata-se de uma oportunidade única de expor ou apresentar seu conteúdo para participantes e líderes da Radiologia de diversos países do mundo, intensificando a troca de conhecimento e as relações sociais entre profissionais de serviços diversos. Acompanhe todas as informações e novidades da JPR 2020 no site do evento e também no da SPR – www.spr.org.br! OUT / NOV 2019 nº 112

15


PESQUISA

Pesquisa pioneira aponta novos caminhos para a elastografia da próstata Estudos multidisciplinares, envolvendo especialistas do Hospital Sirio Libanês e Instituto de Radiologia HCFMUSP, acabam de ser publicados e mostram que os novos avanços da ultrassonografia ampliam as expectativas do método, graças a um novo software e a disponibilidade de um transdutor endocavitário.

H

Vale lembrar que a embolização das á anos, a elastografia ou elasda Canon é a disponibilidade no transdutor tometria é uma das tecnologias artérias próstaticas é uma terapêutica conendocavitário da chamada elastografia por shear wave, com mensuração em metros sagrada para minimizar os efeitos da himais estudadas dentro da ultrassonografia e mais recentemente perplasia prostática, bastante estudada por por segundo e em kilopascals de áreas específicas (ROI) e áreas mais amplas, como na ressonância magnética. diversos grupos e o pioneirismo é inclusive poderá ser visto no artigo. Há ainda outras Quando falamos de elastografia, deste citado (2). ferramentas extremamente valiosas nos pensamos na doença hepática crônica, na Coube ao Dr. André Mota Assis, sob a graduação da fibrose, na esteatose e na esteatohepatite não alcoólica. Tanto a fibrose e a esteatose podem ser mensuradas através da ultrassonografia graças à evolução tecnológica das últimas décadas. Ainda, há capítulos para a elastografia de mama, tireoide, aplicações no sistema musculo esquelético entre outros. Não cabe aqui, no momento, discutir a melhor forma de mensuração, o melhor software, nem mesmo o melhor equiOs novos avanços tecnológicos reforçam e consolidam no papel da Elastografia na rotina médica pamento para a avaliação da equipamentos da série I800, da Canon. elastografia hepática em constante evolução tutela do Prof. Francisco Cesar Carnevale o O trabalho intitulado: “Effects of Prosou as outras aplicações. desenvolvimento deste projeto original. A tatic Artery Embolization on the Dynamic Estamos para divulgar um método de tecnologia presente nos transdutores endocavitários da série I800 da Canon trouxe a Component of Benign Prostate Hyperplasia avaliação original. Uma pesquisa desenvolvida por este grupo que se dedica há muitos possiblidade de avaliação, aliada a expertise as Assessed by Ultrasound Elastography: A anos ao estudo da próstata. dos avaliadores do Centro de Diagnósticos Pilot Series. (1) publicado em 16 de abril Graças à integração entre Instituições do HSL, que desenvolveram em conjunto de 2019 apresenta alguns horizontes bastante peculiares para esta nova aplicação e a tecnologia desenvolvida pela Canon com os primeiros, a metodologia original de da elastografia, no monitoramento da hiMedical Sistems houve a possibilidade de avaliação. perplasia benigna da próstata, antes e após desenvolvermos este projeto de pesquisa. Nesta série inicial de 8 pacientes, embolização. A característica principal do software observou-se que as medidas do elastograma

16

OUT / NOV 2019 nº 112

(dureza da próstata) reduz significativamente após a embolização das artérias prostáticas nestes pacientes portadores de hiperplasia benigna da próstata. Os pacientes foram avaliados poucos dias antes da embolização e 30 dias após. O que podemos perguntar é se a elastografia poderá ser, no futuro, um marcador de sucesso para estes procedimentos, mas há a necessidade de outros estudos complementares, e avaliar a reprodutibilidade inter-observador e uma série maior de análise. Em breve, teremos resultados mais sólidos, com uma série maior de pacientes já avaliados e a divulgação de outros achados bastante interessantes que necessitam de melhor estudo. Graças à interação interdisciplinar, interinstitucional e apoio houve a possibilidade do desenvolvimento desta pesquisa original que coloca todos diante das fronteiras do conhecimento e quem sabe, orientará novos caminhos no diagnóstico por imagem. Dra. Luciana Cerri Dr. Antonio Sergio Marcelino Médicos Radiologistas do Serviço de Radiologia Hospital Sirio Libanês


OUT / NOV 2019 nยบ 112

17


ACONTECE Por Angela Miguel (SP)

Salvando vidas em tempo real A partir de parcerias com startups de saúde, Fleury utiliza Inteligência Artificial para agilizar a identificação de doenças em achados de imagem

E

m busca de aplicações práticas na rotina clínica de tecnologias como a Inteligência Artificial, o Fleury começa a coletar os primeiros resultados de parcerias realizadas com startups da área da saúde nos últimos anos. Um exemplo de sucesso está na implantação de uma solução desenvolvida pela Aidoc, startup israelense que utiliza IA para identificação automática de achados em imagem urgentes, como hemorragias cerebrais, fraturas, embolias pulmonares, rupturas da aorta, gás no abdômen, entre outros. Fruto do programa TechEmerge Health Brazil 2018, a parceria com a Aidoc teve como objetivo identificar trombos nas artérias pulmonares, cuja detecção deve ser rápida e o tratamento, imediato. Após a seleção da startup, Fleury e Aidoc realizaram o desenho e a submissão de um projeto piloto, com avaliação de protocolos e implantação de infraestrutura tecnológica. Após aprovação do comitê de ética e treinamento com a equipe de radiologia, a plataforma foi validada entre abril e agosto de 2019. De acordo com o radiologista e gestor médico de Inovação do Grupo Fleury, Dr. Gustavo Meirelles, o piloto destinou-se a duas aplicações: em tempo real e em retros-

pectiva, isto é, a ferramenta foi utilizada em Em cinco meses, a plataforma avaliou casos urgentes e em exames de rotina, em mais de 4 mil exames e alertou para 86 toda a rede Fleury. notificações de embolia pulmonar aguda “No segundo dia de ou incidental. Segundo o gestor médico de uso da plataforma, recebemos um aviso de possível Inovação do Fleury, embolia pulmonar em a análise incidental é um dos nossos hospitais. tão importante quanto Assim que o exame do a realizada em tempo paciente é realizado, ele real, uma vez que o é enviado para nossa rede relatório de um exame e a Aidoc analisa o resulde rotina pode demorar tado antes do médico. Se até dois dias para ficar encontra algo, avisa nos pronto, um tempo preocupante para quem computadores de todos está em vias de desenos médicos. Nesse caso, volver uma embolia um laudo que levaria ao pulmonar. Das 86 notimenos 1 hora para ficar ficações, 19 delas foram pronto, no melhor dos Dr. Gustavo Meirelles destaca o papel em casos incidentais, cenários, demorou apenas permitindo que os pa15 minutos entre notifica- da nova plataforma nas embolias pulmonares, trabalho realizado pelo ção, laudo, ligação para o Grupo Fleury com a Aidoc. cientes fossem levados ao tratamento logo médico assistente e aviso após o exame de rotina. ao paciente para encaminhamento à internação. Isso significa que geramos valor e “Aqui no Fleury temos a visão de que abreviamos o tempo de relatório, possibia IA deve ser pensada com o viés humalitando um tratamento imediato e, assim, nista, não é a tecnologia pela tecnologia reduzindo a mortalidade dos pacientes por simplesmente. Tudo que incorporamos em meio da IA. É a inovação salvando vidas”, nossa rede, IA inclusive, não faz sentido conta Meirelles. sozinho, é preciso ser aliada ao conheci-

mento médico para salvar vidas e aumentar a acurácia de nossos laudos. No caso da Aidoc, tivemos um engajamento de 100% dos nossos radiologistas, provando que essa nossa busca é sempre um trabalho multidisciplinar que tem como foco principal o paciente. Ele está no centro de tudo”, emenda Meirelles.

Validações a caminho Além da parceria com a Aidoc, o Fleury trabalha na validação de outras soluções simultaneamente. Com a startup brasileira Data Life, espera-se a detecção automática de pneumonia. Até o momento, cerca de 2 mil exames foram verificados pela ferramenta e a acurácia da máquina chega a 90%; quando aliada ao médico, o acerto é de quase 100%. Outra parceria interessante, realizada com a startup israelense Zebra, busca análise automática de achados de imagem para tomografias de crânio e, assim, detecção de hemorragias cerebrais. Ao mesmo tempo, com a startup finlandesa Combnostics, o Fleury trabalha na detecção e quantificação de doenças degenerativas como o Alzheimer. Por fim, a geração de relatórios automáticos de raio-X de tórax tem sido testada com uma startup da Estônia chamada Oxipit.

SBUS investe nas provas de proficiência e qualificação Principal evento focado, exclusivamente, na área de ultrassonografia, a 23 ª edição do Congresso da SBUS abre suas portas neste 23 de outubro, com uma programação científica focada na realidade nacional, mas, com a participação de convidados internacionais relevantes, e os olhos voltados para a qualificação dos profissionais e a valorização da especialidade.

A

o ID Interação Diagnóstica o dr. Rui Gilberto recer intensa programação de cursos hands on e de atualização Ferreira, antecipou alguns destaques desse na especialidade e “estamos animados e motivados com a evento que, ano a ano se fortalece, organizado grande participação e reconhecimento de nosso evento dentro pela Sociedade Brasileira de Ultrassonografia, e fora do país. Portanto, não mediremos esforços para manter simultaneamente com o 15º nossa qualidade e visibilidade, agregando Congresso Internacional de Ultrassonograsempre o melhor que podemos oferecer e fia da FISUSAL, no Centro de Convenções escutando as orientações e sugestões dos Frei Caneca, São Paulo. congressistas”, destaca Rui Ferreira. O evento preparado para este ano de Proficiência e Normatização 2019, além do temário e dos convidados da Ultrassonografia internacionais, entre os quais, um registro Esclarece, ainda que a SBUS tem especial, para o prof. Kipros NIcolaides, da trabalhado em conjunto com a Associação Inglaterra, da área de Medicina Fetal, está Médica Brasileira e com o Colégio Brasidirecionado para a valorização da qualidade leiro de Radiologia, buscando normatizar e da especialidade. Minuciosamente prepao ensino médico em ultrassonografia no rado pela equipe organizadora, sem abrir Brasil, ou seja, organizar e sistematizar o mão dos momentos de confraternização, ensino da ultrassonografia; institucionalinetworking e troca de experiências com Dr. Rui Ferreira, presidente da SBUS. zar a residência médica; criar critérios para os professores do Brasil e estrangeiros, o a habilitação, que hoje, geralmente é feita junto ao CBR, evento sediará provas de habilitação para os especialistas que tem uma especialidade médica e uma área de atuação da área, ligados à SBUS. em ultrassonografia. “E, nós da SBUS, estamos juntos com o Com essa preocupação, o formato do SBUS´2019 vai ofe-

CBR pleiteando também o reconhecimento das nossas provas de habilitação, no sentido de sistematizar a qualificação dos médicos no Brasil”, justifica o presidente. “Portanto, além do congresso de atualizações nos temas de ultrassonografia nas várias áreas da medicina, todos os dias teremos cursos, exceto no sábado, e também muitos encontros para discussões de temas sobre defesa profissional. Além disso, estamos animados e motivados com a grande participação e reconhecimento de nosso congresso dentro e fora do país. Portanto, não mediremos esforços para manter nossa qualidade e visibilidade, agregando sempre o melhor que podemos oferecer e escutando as orientações e sugestões dos congressistas”, conclui o presidente.

Exposição comercial dedicada Em paralelo será realizada a concorrida exposição de equipamentos dotados de tecnologias de última geração, serviços e produtos afins, com o objetivo de mostrar aos profissionais a ampla gama de ferramentas disponíveis no mercado para a especialidade. Quem ainda não se inscreveu, poderá fazê-lo no site: https://sbus.org.br/congresso/2019/

EXPEDIENTE Interação Diagnóstica é uma pu­bli­ca­ção de circulação nacional des­ti­na­da a médicos e demais profissio­nais que atu­am na área do diag­nóstico por imagem, espe­cia­ listas corre­lacionados, nas áreas de or­to­pe­dia, uro­logia, mastologia, gineco-obstetrícia. Fundado em Abril de 2001 Conselho Editorial Sidney de Souza Almeida (In Memorian), Alice Brandão, André Scatigno Neto, Augusto Antunes, Bruno Aragão Rocha, Carlos A. Buchpiguel, Carlos Eduardo Rochite, Dolores Bustelo, Hilton Augusto Koch, Lara Alexandre Brandão, Marcio Taveira Garcia, Maria Cristina Chammas, Nelson Fortes Ferreira, Nelson M. G. Caserta, Regis França Bezerra, Rubens Schwartz, Omar Gemha Taha, Selma de Pace Bauab e Wilson Mathias Jr. Consultores informais para assuntos médicos. Sem responsabilidade editorial, trabalhista ou comercial.

Jornalista responsável Luiz Carlos de Almeida - Mtb 9313 Redação Alice Klein (RS), Daniela Nahas (MG), Cecilia Dionizio (SP), Lizandra M. Almeida (SP), Claudia Casanova (SP), Valeria Souza (SP), Lucila Villaça (SP), Angela Miguel (SP) Tradução: Fernando Effori de Mello Arte: Marca D’Água Fotos: André Santos, Cleber de Paula, Fernanda Fernandes e Evelyn Pereira

Imagens da capa: Getty Images Administração/Comercial: Sabrina Silveira Impressão: Duo Graf Periodicidade: Bimestral Tiragem: 12 mil exemplares impressos e 35 mil via e-mail Edição: ID Editorial Ltda. Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 2050 - cj.108A São Paulo - 01318-002 - tel.: (11) 3285-1444 Registrado no INPI - Instituto Nacional da Pro­prie­dade Industrial.

O Jornal ID - Interação Diagnóstica - não se responsabiliza pelo conteúdo das men­sagens publicitárias e os ar­tigos assinados são de inteira respon­sa­bi­lidade de seus respectivos autores. E-mail: id@interacaodiagnostica.com.br

18

OUT / NOV 2019 nº 112


OUT / NOV 2019 nยบ 112

19


20

OUT / NOV 2019 nยบ 112


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.