Jornalismo do Século XXI

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JORNALISMO DO SÉCULO

XXI As novas tecnologias nas redações Giulia Luiza Oliveira Laseri Rafael Bugni Costa Renan Reis Brenna


Jornalismo do século XXI As novas tecnologias nas redações


TÍTULO Jornalismo do século XXI: as novas tecnologias nas redações REVISÃO Giulia Luiza Oliveira Laseri DIAGRAMAÇÃO Ygor Vaccarelli ARTE DE CAPA Ygor Vaccarelli REVISÃO TÉCNICA Edson Capoano Giulia Luiza Oliveira Laseri Renan Reis Brenna Ygor Vaccarelli FICHA CATALOGRÁFICA PARCIAL LASERI, Giulia Luiza Oliveira COSTA, Rafael Costa Bugni BRENNA, Renan Reis Jornalismo do século XXI: as novas tecnologias nas redações / Giulia Luiza Oliveira Laseri; Rafael Bugni Costa; Renan Reis Brenna. – São Paulo, 2017. 83 pgs. Orientador: Edson Capoano. Trabalho de conclusão de curso (graduação) –Escola Superior de Propaganda e Marketing, ESPM, Bacharel em Comunicação Social: Jornalismo, 2017. 1. Jornalismo século XXI. 2. Jornalista. 3. Tecnologia. 4. Práticas jornalísticas. 5. Tendências. I. Capoano, Edson, orient. II. Jornalismo do século XXI: as novas tecnologias nas redações. Todos os direitos dessa edição reservados à Giulia Luiza Oliveira Laseri Rafael Bugni Costa Renan Reis Brenna


Para todos os jornalistas e profissionais atuantes da área. Vocês nos inspiram. “Uma máquina consegue fazer o trabalho de cinquenta homens ordinários. Nenhuma máquina consegue fazer o trabalho de um homem extraordinário”. Elbert Hubbard


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

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BANCO DE DADOS

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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REALIDADE VIRTUAL

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REALIDADE AUMENTADA

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CONCLUSÃO

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BASTIDORES

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INTRODUÇÃO Créditos: Renan Reis Brenna


Jornalismo do século XXI

Demissões Os últimos anos foram críticos para o jornalismo brasileiro. Segundo a agência independente Volt Data Lab, 1859 jornalistas foram demitidos desde 2012 (este número é referente a até abril de 2017). 51% desses profissionais trabalhavam em jornais, 24% em rádio e TV, 15% em revistas e 10% em meios online. A Infoglobo, subsidiária do Grupo Globo, a Rede Bandeirantes, a Editora Abril e o Terra foram os veículos que mais demitiram jornalistas. Dois dos maiores jornais do pais, o Globo e o Extra, unificaram as redações e 30 funcionários foram demitidos em um único dia. Não são apenas os grandes meios de comunicação que foram afetados. Apenas em 2016 o jornal mineiro Hoje em Dia demitiu 40 jornalistas (equivalente à aproximadamente metade da redação). Além dos passaralhos (jargão para demissões em massa nos meios de comunicação), inúmeros veículos de comunicação pararam de circular. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Imprensa, cerca de 15 veículos, entre eles emissoras de rádio e TV, sites de notícias, jornais impressos e blogs, deixaram de existir. O Jornal do Commércio, com 189 anos de circulação, o Brasil Econômico, a Rádio Globo de Belo Horizonte, o Jornal da Paraíba e o portal IG em Brasília são alguns dos exemplos. Outras estratégias foram feitas na tentativa de salvar as redações. A Editora Abril anunciou, ainda em 2016, o encerramento das atividades impressas de inúmeras revistas, como a Capricho, a Info e a Playboy. O Grupo GRPCom anunciou, em abril de 2017, que um dos jornais mais tradicionais da região Sul do Brasil, a Gazeta do Povo, iria encerrar sua circulação impressa. Com um investimento de R$ 23 milhões em digital nos últimos três anos, a publicação circulará somente aos sábados, com análises dos principais acontecimentos da semana.

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INTRODUÇÃO

Parte da redação da Folha de S. Paulo, atualmente desocupada por conta das demissões no veículo. Créditos: Renan Reis Brenna

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urante todo o curso, em diversas disciplinas, discutimos muito sobre o momento de transição pelo qual o jornalismo está passando. A tensão se dá não só por conta da introdução de novas tecnologias nas redações, mas também pelo momento político e econômico crítico que o país está passando, causador da redução de gastos nas empresas jornalísticas. Nos últimos tempos, temos observado as redações diminuindo de tamanho e as tão temidas demissões em massa se tornando rotineiras, principalmente para quem pratica o jornalismo diário. Na faculdade, debatemos muito sobre todas as mu-

danças e tentamos entender como isso afetou diretamente o dia a dia do jornalista. Em meio a tantas notícias ruins, é compreensível que os jovens estudantes de jornalismo se perguntem se fizeram a escolha certa. “Será que essa é uma profissão fadada ao desaparecimento, como tantas outras?” Desde as mais antiquadas até outras que aconteceram recentemente, é sabido que as evoluções (principalmente as tecnológicas) colocam em cheque diversas profissões e, caso estas não se adaptem e modernizem, serão substituídas. É o caso, por exemplo, do acendedor de


Introdução lâmpadas, que passava, poste a poste, acendendo as lâmpadas que eram mantidas por querosene. No entanto, não precisamos ir tão longe. As telefonistas, que existiam até a década de 90 e eram essenciais para conectar as chamadas de longa distância, foram substituídas pela telefonia digital.

lismo foi pego de surpresa e arrastado pelas mudanças. Como um tornado devassador, igual ao que atingiu a casa de Dorothy no filme O Mágico de Oz, as transformações trouxeram à tona os questionamentos sobre a forma como estava sendo feito o jornalismo, não só no Brasil, mas mundialmente.

Esse movimento não poderia ser diferente na área jornalística. A revolução tecnológica ameaça principalmente o emprego dos profissionais que não dominam as tecnologias, ou que são relutantes às mudanças. Assim, este livro se propôs a apresentar e debater sobre a relação entre as tecnologias e os jornalistas. Para isso, entrevistamos profissionais de várias áreas do jornalismo – do mais tradicional ao vanguardista – e discutimos amplamente com eles sobre as mudanças pelas quais o jornalismo está passando. Procuramos entender se este é realmente um momento crítico ou se o mercado está exigindo que este trabalho seja modernizado e que acompanhe as evoluções existentes.

É certo que as inovações tecnológicas são um dos fatores responsáveis pelas mudanças nos modos de produção e distribuição de produtos, ideias e informações, mas é leviano colocar todo o peso apenas nessa evolução. Uma das maiores mudanças foi causada pela introdução das máquinas automáticas no período da Revolução Industrial. A primeira grande quebra de paradigma no jornalismo e maior evolução até então foi a invenção das prensas móveis por Johannes Gutenberg, que aumentou a velocidade da produção e permitiu uma maior popularização do jornalismo em todas as camadas sociais. Essas mudanças influencia-

No início da produção deste livro, pensamos que iríamos desenvolver um conteúdo que abordaria somente como as tecnologias estavam afetando o trabalho dos jornalistas. Entretanto, essa discussão foi muito mais além. Em nossa percepção, o jornalismo está sentindo que o mundo está mudando e não sabe como agir ou pensar. Assim como Alice, quando entra na toca do coelho, o jornalismo se viu caindo em uma direção desconhecida, enquanto observava as tecnologias e informações passando bem perto, mas, que de alguma forma, não sabia como capturar tudo aquilo. Entretanto, diferentemente de Alice, que tinha a intenção de seguir aquela direção, sentimos que o jorna-

Mudança É interessante pensar em todas as profissões que um dia eram essenciais e atualmente não são mais. O portal de entretenimento Bored Panda produziu uma lista de profissões que não existem mais. Entre eles estão os armadores de pinos, despertadores humanos, cortadores de gelo, radares humanos, caçadores de ratos, telefonistas e acendedores de lâmpadas, como citamos no texto. Por outro lado, conseguimos imaginar que as profissões atuais podem deixar de existir algum dia? A consultoria Ernst & Young previu, em 2016, o possível desaparecimento de 10 profissões até 2025 por conta da introdução de novas tecnologias. O estudo Global Generations apresenta uma lista com as 10 profissões mais ameaçadas. São elas: operadores de telemarketing, digitadores, preparadores de imposto de renda, corretores de imóveis, caixas bancários, trabalhadores rurais, árbitros, agentes de crédito, subscritores de seguros e reparadores de relógio.

ram os indivíduos a pensar e consumir informações de uma forma mais acelerada.

Prensa móvel de Gutenberg fotografada no Deutsches Museum Munich, na Alemanha. Créditos: CC BY-SA 3.0,

Assim como aconteceu com a invenção das prensas móveis de Guntenberg, com o advento da internet, os processos de produzir, consumir e distribuir as informações foram completamente alterados. É perceptível que o consumo de informação, por exemplo, não é mais linear. Hoje há uma complexidade muito maior envolvendo essa questão. Os aparelhos eletrônicos, como smartphones e tablets, por exemplo, trazidos pela revolução tecnológica, são um dos principais responsáveis por diminuir a noção de tempo e espaço das trocas de informações atualmente. Eles fazem

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Introdução

A teoria Diversos pesquisadores apresentam a discussão sobre o impacto das tecnologias no “fazer jornalístico”. Talvez uma das teorias modernas mais importante foi introduzida pelo filósofo Pierre Lèvy, considerado o maior pesquisador de mídia cibernética. Em 1990 ele apresentou uma pesquisa que propôs estudar a internet como um fenômeno cultural na obra “Cibercultura”. Esse termo é considerado pelo autor como o “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Lèvy também cita a criação de um ambiente cada vez mais concentrado na troca de informações. Este se dá pela interconexão, pela inteligência coletiva e pela criação de sociedades virtuais. O autor também reflete sobre a relação do homem (e das sociedades como um grande universo de pesquisa) com a informação e o conhecimento, uma vez que está inserido em um ciberespaço e uma cibercultura. Quer entender um pouco mais sobre as teorias da comunicação e sobre a teoria de Lèvy? Veja o vídeo produzido por alunos de Comunicação Social da UFRN:

com que as mensagens sejam entregues de maneira ainda mais versátil (por diversos formatos, como imagens, vídeo ou texto) e rápida. O jornalista teve de se adaptar. Antes, o repórter era responsável apenas por entrevistar as fontes e produzir o texto. Ele era acompanhado por um fotógrafo para registrar o momento e, depois de tudo pronto, um revisor iria editar o que fosse preciso e o diagramador era encarregado de colocar tudo no formato adequado para a página do jornal ou da revista. Isso não existe mais, ou, se existem, são pouquíssimos. O jornalista do século XXI precisa ser multifuncional. Ele precisa gravar a entrevista, mesmo que não seja uma reportagem de rádio, para produzir um podcast. Além disso, com seu smartphone já pode gravar drops de vídeo para o site e tirar fotos para compor sua matéria. Ele também precisa ter noções de html para subir seu material para edição. Tudo isso, é claro, com o tempo muito curto. Com isso, nos questionamos e refletimos, junto com os nossos entrevistados, se isso faz parte do papel do jornalista. As tecnologias são vistas, ao mesmo tempo, como vilãs e também como auxiliadoras do processo de produção das notícias. Enquanto existem jornalistas que acreditam que o novo formato ao qual os profissionais estão sendo obrigados a aderir é um retrocesso e responsável por textos mais superficiais e sem investigação, outros veem que as tecnologias chegam para propiciar a criação de novos formatos jornalísticos e que esse processo de aprendizagem e mudança é o preço que se paga para se continuar relevante. Para entender melhor esse momento de transformações e mudanças

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conversamos com jornalistas de diversos setores e que possuem diferentes opiniões sobre o momento pelo qual o jornalismo atual está passando, de forma a garantir uma pluralidade de opiniões e respeitando um dos preceitos básicos do jornalismo: entender todos os lados e trazer a maior diversidade de fontes possível. Dessa maneira, dividimos o nosso livro em cinco capítulos, cada um abordando as tecnologias que estão transformando o dia a dia do jornalista, ou que ainda o vão fazer. São eles: banco de dados e a técnica de reportagem assistida por computador (RAC), inteligência artificial e o jornalismo automatizado, realidade virtual e as câmeras 360º, realidade aumentada e, por último, um capítulo que retoma as conclusões percebidas ao longo do desenvolvimento deste livro. Entrevistamos jornalistas conceituados, tais como Fernando Rodrigues (ICIJ e Poder 360), Tadeu Jungle (Academia de Filmes), Alexandre Salvador (Veja), Telma Marotto (Bloomberg), Marco Tulio Pires (Google News Lab) e Rafael Sbarai (Globoesporte.com), reunindo opiniões e percepções sobre as redações dos maiores veículos de comunicação do país, como Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Bloomberg, entre outras. Este livro reúne, sobretudo, tudo de mais interessante que encontramos nesses últimos meses de trabalho em um livro reportagem reflexivo e de linguagem informal.


Podcasts

Como jornalistas, é importante que estejamos sempre antenados sobre as notícias das mais diferentes editorias e também sobre as novas formas de fazer jornalismo. Falamos bastante nessas novas formas de fazer jornalismo, mas, na prática, como isso é feito? Os podcasts, que são streams de áudio, são uma das maneiras. O International Center for Journalists reuniu em 2015 uma lista de podcasts estrangeiros que são essenciais para os jornalistas. São eles: Serial, Journalism.co.uk, Sree Show, It’s All Journalism, Journalism/Works, Columbia Journalism School, Longform, Global Journalist, Mediatwits do PBS Mediashift e o How to Cover Money. Alguns exemplos nacionais são: Pauta Livre News, NBW, Xadrez Verbal, Hyppers. Créditos: Divulgação/C0



BANCO DE DADOS Créditos: Flickr/Aotaro


Jornalismo do século XXI

O Big Data Para nós, jornalistas, entender o que é big data é uma tarefa muito importante atualmente. Antes de contarmos como está sendo usado no jornalismo, podemos conhecer um pouco melhor como chegamos até aqui com esse vídeo:

BANCO DE DADOS

Fluxo de dados O termo bit foi usado pela primeira vez em 1948 por Claude E. Shannon e atualmente é essencial para o entendimento sobre transmissão de conteúdo via dados. Kilobyte (kB), megabyte (MB), gigabyte (GB) são algumas das nomenclaturas usadas para dar dimensão do tamanho dos arquivos, podendo significar a capacidade dos nossos dispositivos. Ficou curioso sobre esse fluxo intenso de dados? Confira mais informações neste vídeo:

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Exposição sobre a importância dos códigos no Museu do Amanhã, localizado no Rio de Janeiro. Créditos: Giulia Laseri

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iariamente geramos uma explosão de dados atualizando nossos status nas redes sociais, fazendo check-in em restaurantes, realizando transferências bancárias e ativando o GPS no celular, por exemplo, e não percebemos. Vivemos em uma sociedade que produz e consome informação em quantidade e velocidade nunca presenciados na história. A IBM estima que são gerados 2,5 quintilhões de bytes diariamente. Em 2010 foram desenvolvidos dados digitais o suficiente para preencher uma pilha de DVDs com uma distância de uma viagem de ida e volta até Lua, segundo Ben Golub, presidente e CEO da

Gluster. De acordo com o estudo criado pela EMC em parceria com a IDC, divulgado em 2014, serão criados e copiados cerca de 44 zettabytes (44 trilhões de gigabytes) até 2020. A estimativa é que a quantidade de dados criados duplique a cada ano. E que podemos fazer com eles? Tudo! Os dados se tornaram indispensáveis para o entendimento da internet, de seus usuários e, consequentemente, da relação homem-máquina. A partir deles é possível customizar a trajetória e vivência na web. Os algoritmos são usados para facilitar as buscas, analisando os históricos e preferências dos usuários, e também


Banco de dados podem se tornar uma excelente ferramenta para tomadas de decisões estratégicas nos negócios. O estrategista digital Gustavo Miller escreveu em sua página pessoal do LinkedIn uma teoria que questionava a criação da série Stranger Things, da Netflix, a partir de análises estatísticas. Segundo ele, a empresa já havia utilizado de análise de dados para trazer de volta seriados antigos, como Arrested Development e Full House. Os dados são elementos tão importantes para a Netflix, que a empresa criou, em 2006, o Netflix Prize. O desafio tinha como objetivo premiar o melhor software de predição de séries e filmes. A utilização de dados para a criação de conteúdo não é algo recente. No jornalismo, as primeiras menções à essa prática foram feitas nos anos 1970, com Jornalismo de Precisão e Reportagem Assistida por Computador (RAC, em português, ou Computed-Assisted Reporting, CAR, em inglês). Marcelo Soares, jornalista de dados desde 1998 e professor de pós-graduação em jornalismo digital, afirma que a utilização do termo RAC não faz mais sentido atualmente. “Considerando que hoje temos a possibilidade de solicitar comida e taxi, por exemplo, pelos celulares, somos auxiliados por computadores quase que constantemente”. De acordo com o jornalista, a utilização do termo está mais ligada à uma questão de nomenclatura. Se não fosse pelas facilidades dos computadores e do advento da internet, talvez este livro não existiria. Graças a elas facilidades pudemos entrar em contato com todos os entrevistados por meio de redes sociais, como LinkedIn, e por e-mail, além de utilizar principalmente a ferramenta de busca do Google para

seminação das técnicas de uso de computador nas reportagens e, por conta disso, foi possível processar dados em maior quantidade. Portanto, essa modalidade de apuração passou a ser incorporada no dia a dia de trabalho dos jornalistas”, comenta Fernando.

Marcelo Soares Marcelo Soares é um jornalista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1995-2004). No meio do curso trabalhou na Folha de S. Paulo e ganhou mais perspectiva jornalística. Foi diretor executivo na ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) entre 2004 e 2006 e colaborou para o LA Times entre 2005 e 2010. De 2003 até 2015 foi analista de dados para a Folha de São Paulo e atualmente é professor nesta área em diferentes universidades. Créditos: Renan Reis Brenna

pesquisarmos os jornalistas. Em algumas das entrevistas conversamos por meio do computador, como é o caso do bate-papo que tivemos com o jornalista Fernando Rodrigues, diretor de redação do Poder 360 e membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ). Por Skype, Fernando afirmou que a utilização de dados para a composição de matérias é uma realidade desde os primórdios do jornalismo. Entretanto, o jornalismo de dados (JD) como conhecemos atualmente foi adotado nas redações do mundo todo em meados dos anos 2000 e, com a informatização em massa dos jornais, foi possível tornar o processo de coleta, análise e utilização dos dados muito mais fácil. “Houve a dis-

Fernando Rodrigues Fernando Rodrigues é um jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (1982-1985) e mestre em Jornalismo Internacional pela Universidade de Londres (1986-1987). Foi membro da Fundação Nieman de Jornalismo (2007-2008), da Universidade de Harvard, onde participou de seminários e atividades sobre política norte-americana e novo jornalismo. Começou sua carreira como assistente de produção para a BBC World Service em 1986, onde ficou durante um ano. Foi correspondente internacional para a Folha de São Paulo em Nova York, Tokyo e Washington D.C. (1988-1992). Fernando também foi membro da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) entre 2007 e 2013. Ligado à política, foi comentador nas rádios Metrópole FM (2011-2012) e Jovem-Pan FM (2007-2017) e colunista no portal UOL (2000-2016). Desde 2016 é o diretor de redação para a Poder 360. Créditos: Fernando Rodrigues - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0.

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Banco de dados

Jornalismo de dados nas redações atuais

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Rodrigo Burgarelli Rodrigo Burgarelli é um jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (2005-2009). Na UFMG também cursou Engenharia Eletrônica (2003-2004). Foi pesquisador-visitante na Universidade de Columbia no Centro BRICLab de Governança de Economia Global em 2014. Concluiu seu mestrado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, onde foi pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas (2013-2015). Foi repórter e desenvolvedor na UFMG, e desde 2010, é repórter do Estadão. Entre 2010 e 2013 esteve na editoria de Metrópoles e desde então é analista de dados do Estadão Dados. Foi vencedor da principal categoria do Prêmio Exxonmobil (Esso) de Jornalismo em 2015 pela série de reportagens “A Farra do Fies”, cuja apuração envolveu bancos de dados e programação.

pesar de o jornalismo de dados já ter sido adotado mundialmente, a introdução em massa na rotina das redações brasileiras ainda está em processo. Por conta da vasta quantidade de informações que são disponibilizadas em dados, muitos meios de comunicação perceberam a necessidade de criar núcleos de jornalismo de dados em suas redações. O pioneiro no Brasil foi o Estado de São Paulo, que criou um blog especial em 2012. Não escravos da pauta do dia, a equipe do Estadão Dados, formada pelos jornalistas Daniel Bramatti e Rodrigo Burgarelli, passa seus dias entrevistando números, buscando extrair informações de grandes bases. Eles têm a liberdade de se pautar e propor a produção de matérias e infográficos com dados estatísticos de diferentes assuntos, como política, economia e segurança.

Daniel Bramatti Daniel Bramatti é um jornalista formado pela PUC do Rio Grande do Sul (1986-1991). Foi editor e repórter da Folha de S. Paulo entre 1994 e 2006, na Terra Magazine em 2007 e 2008 e repórter do Estadão desde 2008. Desde agosto de 2016 é o coordenador do Estadão Dados. Também é membro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI). Créditos: Renan Reis Brenna

Créditos: Renan Reis Brenna

Às vezes temos uma hipótese e verificamos, nos dados, se irá se confirmar ou não

Daniel Bramatti 16

Núcleo de jornalismo de dados do jornal Estado de S.Paulo. Créditos: Renan Reis Brenna


Banco de dados Mesmo à parte da redação, concentrados em uma sala com vidros transparentes, os jornalistas acreditam que o único fator que difere os repórteres de dados é a formação. Eles devem ter a habilidade de dominar ferramentas que a maioria dos outros profissionais não possuem. Rodrigo ressalta que há uma diferença na maneira de pensar, principalmente no método científico. “Nós temos uma reflexão um pouco mais parecida com as das ciências sociais, mais ligada com levantamento de hipóteses do que com o declaratório”. Daniel complementa, dizendo: “Às vezes temos uma hipótese e verificamos, nos dados, se irá se confirmar ou não”. Marcelo Soares também afirma que não há grandes diferenças entre a produção do JD e o jornalismo tradicional. Além disso, ele acredita que o papel do jornalista não sofreu grandes mudanças. Segundo ele, o

profissional continuará de fazer o levantamento, apuração e checagem das informações, além de editar e pensar na melhor forma de apresentar o conteúdo. A diferença é a maneira como trabalho terá de ser realizado. “Para ‘entrevistar os dados’ é preciso outras ferramentas, como softwares de leitura de banco de dados, o que não acontece com entrevistas feitas com as pessoas”, diz. É válido questionar se essa prática se tornará tão comum ao ponto fazer com que os outros instrumentos se tornem obsoletos. O jornalista acredita que, da mesma forma que telefone não deixou de ser usado nas redações após a chegada da internet, o mesmo não acontecerá com os bancos de dados. Segundo Marcelo, eles “se tornam mais uma ferramenta no jornalismo, mais um tipo de fonte para entrevistar”, de forma que agreguem valor à outras ferramentas. Para Marcelo, o jornalismo

continuará utilizando instrumentos ditos tradicionais para complementar e realizar sua função. Essa cena se tornou ainda mais concreta quando, antes de iniciarmos a entrevista, Rodrigo nos pediu alguns minutos, pois precisava efetuar uma ligação. Não pudemos deixar de perceber que ele estava entrando em contato com a assessora de um servidor público pelo telefone.

Nós temos uma reflexão um pouco mais parecida com as das ciências sociais

Rodrigo Burgarelli

Rodrigo Burgarelli tentando entrar em contato com o servidor público para a produção de sua matéria. Créditos: Renan Reis Brenna

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Créditos: Renan Reis Brenna

Créditos: Renan Reis Brenna


Créditos: Renan Reis Brenna

Créditos: Renan Reis Brenna


Banco de dados

O jornalista de dados e suas habilidades

Créditos: Renan Reis Brenna

Precisamos estudar o tempo inteiro, nos qualificando Rodrigo Burgarelli

Créditos: Rafael Bugni Costa

A Fábio

Vasconcellos Fábio Vasconcellos é jornalista com mestrado na Universidade do Rio de Janeiro (2005-2007) e doutorado em Ciência, Comportamento Eleitoral, Comunicação Política (2008-2013). Atualmente é jornalista de dados para O Globo desde 2000, professor da ESPM-RJ desde 2013 e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro desde 2015. É pesquisador no centro de tecnologia e sociedade para a FGV desde 2017. Créditos: Renan Reis Brenna

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função ética e social do jornalista pode não ter mudado, mas, ainda assim, foi preciso que desenvolvesse novas habilidades. Hoje não basta mais o jornalista ter acesso à informação, segundo Rodrigo Burgarelli. “Hoje há muitos meios para se informar. É por isso que dá mais trabalho e é mais difícil (SIC), pois precisamos estudar o tempo inteiro, nos qualificando, mas, mesmo assim, é um trabalho que não será substituído por ninguém” comenta, ressaltando a necessidade de o jornalista ser um profissional multifuncional atualmente. Em tempos que todos têm a possibilidade de ser web-autores e, consequentemente, obter as mesmas informações que o jornalista, é ainda mais importante que o repórter, ao escrever uma matéria com dados, tenha um pensamento estatístico e, sobretudo, crítico. É preciso manter

em mente as seguintes questões: “o que esse número representa?” e “que comparações serão feitas?”. “É preciso saber se o fenômeno está sendo analisado de maneira correta e relevante, ou se não está sendo vista uma mera variação aleatória”, comenta Daniel. Essas foram as perguntas que Fábio Vasconcellos, um dos responsáveis pelo núcleo de jornalismo de dados do jornal carioca O Globo, questionou quando estava de plantão em um final de semana, em maio de 2016. Fábio nos contou que após ler a notícia sobre um estupro coletivo ocorrido na zona oeste do Rio de Janeiro, ficou curioso para saber mais sobre essa taxa no Rio de Janeiro. Ele gerou uma tabela com os dados e publicou uma matéria com números de estupros por bairros da cidade no blog Na Base dos Dados. Segundo Fábio, a intenção era fortalecer a discussão


Banco de dados que estava sendo feita, trazendo novas perspectivas nunca pensadas antes. “Os dados trazem elementos mais pragmáticos e científicos para o debate”, diz. Para o jornalista, um dos fatores mais interessantes do JD é a possibilidade de criar conteúdos exclusivos. Isso, porque dificilmente os profissionais teram a mesma interpretação dos números e dados das bases. “As bases dão um grau de independência maior. Você é quem decide qual recorte dará”, comenta o jornalista. Fernando Rodrigues também concorda que a importância do JD se dá por uma interpretação que vai além dos números. Segundo ele, é necessário que o repórter tenha uma visão crítica e que saiba entender os dados, dando sentido a eles e utilizando estes para desenvolver uma reportagem mais completa. Não se pode falar em jornalismo de dados sem citar o famoso caso dos Panama Papers. Esse conjunto de mais de 11 milhões de documentos confidenciais forneceu informações detalhadas de mais de 200 mil empresas de paraísos fiscais offshore, incluindo a identidade dos administradores e acionistas envolvidos. A investigação do Panama Papers foi conduzida pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo) e foi de extrema relevância mundial pois, além de conter informações sobre uma infinidade de envolvidos com esses esquemas, apontou chefes de estado de cinco países, inclusive do Brasil, e 29 multimilionários que estão na lista das 500 pessoas mais ricas do mundo segundo a revista Forbes. Fernando destaca a importância da colaboração entre jornalistas para e ressalta a importância do trabalho de

apuração e redação de uma reportagem utilizando dados, considerando o exemplo dos Panama Papers: “Por trás de um número há sempre uma história. As investigações feitas pelo ICIJ são gigantescas e utilizam bancos de dados enormes. Mesmo assim, nós nunca publicamos nada sem antes entender o que há por trás daqueles números e tabelas, o que normalmente leva de 9 a 12 meses de trabalho”. O estudo e a aprendizagem para manusear os dados é uma questão em comum para os entrevistados. Todos mencionaram as habilidades frágeis de muitos jornalistas de lidar e compreender números. Por falta de preparo e rejeição desde a infância à algarismos, muitos jornalistas levam a diante seus desconfortos com números, o que para eles, é algo negativo. A crítica se dá também às universidades, que, segundo os entrevistados, não dão tanto foco para as disciplinas que envolvem números no curso de jornalismo. Entretanto, essa é uma das habilidades que já está sendo exigida do jornalista. “Esse novo ambiente online de busca e compartilhamento de informação, a web, irá exigir cada vez mais prepa-

ro de todos, e não só de um núcleo específico. Vai se exigir mais das gerações que irão entrar nas redações um preparo básico”, comenta Fábio, que também é professor na ESPM-RJ e na Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). Para condicionar o pensamento crítico que os jornalistas consideram essencial, Marcelo afirma que é preciso estudo. Ele conta que a agilidade que tem atualmente é a ponta de 20 anos de treino, mas o que o ajudou nesses últimos anos foi prestar atenção na forma como os dados são feitos, verificar de onde eles vêm, porque são de um jeito, quem os definiu e com que finalidade. Ele concorda que o tempo que os jornalistas têm para produzir as matérias muitas vezes pode jogar contra a possibilidade de checar as informações com profundidade, mas o repórter deve sempre buscar os dados brutos, indo além dos releases e relatórios divulgados pelas organizações. “Eu faço questão de olhar os dados não só no conjunto. Eu acho importante mergulhar no documento, procurar o que está faltando e verificar onde podem estar as armadilhas que possam levar à conclusão errada”, comenta.

Redação do O Globo vista a partir da editoria de Arte. Créditos: Rafael Bugni Costa

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Banco de dados

Novas formas de Qualidade das matérias com dados narrativa Além de ser atento em relação a checagem e análise criteriosa, o jornalista também tem deve se preocupar com a apresentação do conteúdo. Marcelo Soares acredita que a introdução da banda larga fez com fosse possível tornar a apresentação do conteúdo jornalístico mais interessante e mais personalizada. Isso, pois, até então, todo o trabalho estava restrito a uma apresentação estática (textos e infográficos estáticos). Com a massificação da banda larga, foi possível trabalhar os conteúdos de maneira mais interessante. Assim, junto com a utilização de dados, é possível produzir conteúdo das mais diferentes formas. “O trabalho com dados te permite criar produtos diferentes que não têm cara de jornalismo tradicional. Você produz outra coisa, mas, que, ao mesmo tempo, cumpre a mesma função de organizar informação de interesse público para o leitor”, diz o jornalista. Confira um dos trabalhos produzidos por Marcelo:

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credibilidade no JD, que poderia fazer com que os leitores vissem o valor agregado às matérias, é questionável. O uso de dados garante maior credibilidade a uma reportagem, uma vez que oferece mais informações para o leitor. Os dados, em si, não conferem mais credibilidade a uma reportagem, mas são complementares, pois ajudam a colorir um fato. De acordo com Fernando Rodrigues, o jornalismo de dados não é a panaceia ou o principal valor do bom jornalismo. “O jornalismo de dados é apenas uma das ferramentas que deve ser utilizada para produzir bom jornalismo”, explicou o editor diretor de redação do Poder 360. Daniel Bramatti também concorda que “o jornalismo de dados é uma linha de trabalho fundamental para entender a realidade. Com ele, há muito mais condições de apresentar uma informação como correta, pois há clareza de metodologia”.

Outro fator do JD reside na dúvida se esta ferramenta ajuda o jornalista a produzir uma reportagem mais isenta ou não. Fernando Rodrigues explica que não é possível atingir a completa imparcialidade, pois, como o jornalista precisa interpretar os dados para fazer uso dos mesmos, logo sempre existirá alguma interpretação na apuração. Entretanto, ele acredita que “quanto mais recursos forem utilizados para a produção de uma reportagem, mais embasada ela será e, com isso, conseguirá maior credibilidade”. Tanto Marcelo quanto Fábio acreditam que os dados, além de tornarem a apuração mais rica e profunda, também se tornam ferramentas de defesa e contestação do jornalista. “Os dados permitem questionar a fonte com base na informação que ela mesma produz. Eles dão um poder e uma responsabilidade na mão do jornalista que eu acho fascinante”, afirma o jornalista.

Os dados permitem questionar a fonte com base na informação que ela mesma produz

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Marcelo Soares também comentou sobre as novas possibilidades que os dados trouxeram para o jornalismo. Créditos: Renan Reis Brenna


Banco de dados

Desafios

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uando nós pedimos recomendação de veículos que fossem referência em jornalismo de dados, percebemos que a maioria dos entrevistados citaram The New York Times, Washington Post, The Economist, Vox e podcasts jornalísticos americanos. Assim, surgiu a indagação sobre a diferença entre os conteúdos produzidos no Brasil e no mundo. Rodrigo Burgarelli acredita que o jornalismo estrangeiro, principalmente o americano, tem reflexões mais maduras e que a imprensa brasileira necessita de um amadurecimento. Segundo a equipe do Estadão Dados, essa imaturidade existe, pois há a priorização da sobrevivência à curto prazo sobre a qualidade das matérias jornalísticas. A grande questão enfrentada pelos veículos de comunicação é como fazer com que os leitores continuem pagando pelo conteúdo, uma vez que não veem valor agregado no produto. Uma das possíveis respostas seria o investimento em inovação e novas maneiras de fazer o jornalismo. A solução seria simples se não houvesse uma crise financeira atingindo o mercado jornalístico. Ainda assim, há grupos jornalísticos que estão vendo este momento como uma oportunidade. Em um prédio recém reformado com seis andares, iluminados por um teto transparente, está a redação do o Globo. O jornal foi um dos veículos de comunicação brasileiros que passou por mudanças por conta da reflexão sobre

Créditos: Renan Reis Brenna

o verdadeiro teto de vidro do jornalismo atualmente, que é a integração do jornalismo tradicional e o digital. A Infoglobo, subsidiária do Grupo Globo, inaugurou, em fevereiro de 2017 (um mês antes de nossa visita),

sua nova sede, na região central do Rio de Janeiro, com o objetivo de promover a transformação digital por meio da integração das redações dos seus principais jornais: Globo, Extra e Expresso.

Espaço de confraternização da Infoglobo. Créditos: Rafael Bugni Costa

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Banco de dados Por conta dessa nova estratégia apostada pelo grupo, o núcleo de jornalismo de dados do O Globo não é concentrado em um espaço específico, como acontece no Estado de S. Paulo. Os jornalistas que contribuem para o conteúdo do blog Na Base dos Dados, criado em 2014, ficam sentados próximo aos profissionais da área artística, responsável pela produção visual do veículo. No momento da entrevista haviam três pessoas que compunham o núcleo: Um jornalista que havia sido contratado recentemente, um trainee e Fábio. Segundo o jornalista, a equipe também não é escrava da pauta do dia e, em alguns casos, apoia o restante da redação. Enquanto fotografávamos a redação, notamos que Fábio estava conversando com outro jornalista, que havia lhe pedido ajuda com uma pauta sobre a ocupação das escolas no Rio de Janeiro. A equipe do Estadão Dados brincou, dizendo que poderíamos interpretar como um help desk de dados na redação.

claro para a maior parte dos colegas. Essa visão também é compartilhada por Fábio: “O restante da redação não entende muito bem o que a gente faz e, então, temos uma dificuldade muito grande para migrar esses conteúdos para a ‘velha imprensa’, dada a complexidade de compreender o que é o jornalismo de dados e como funciona”, comenta o jornalista.

Além disso, há também o contraponto que considera a visão de negócios. Apesar de O Globo ter recebido investimento por conta da mudança estratégica da Infoglobo, Fábio reconhece que, dada a crise econômica brasileira, muitos veículos jornalísticos não tomam o investimento em jornalismo de dados como prioridade, por ser um conteúdo mais difícil e demorado para ser trabalhado. “O jornalismo de dados lida com o dilema de não ser um agregador de audiência de massa. Ele dá uma audiência qualificada. O grande desafio é fazer [O JD] sair da abstração e se tornar algo mais palpável para os Ainda assim, o trabalho dos jornalis- leitores. Fazer com que as pessoas tas no Estadão Dados não é muito se aproximasse do conteúdo”.

Fábio Vasconcellos (à esquerda) auxiliando seu colega de trabalho sobre uma pauta. Créditos: Rafael Bugni Costa

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Redações da Infoglobo vistas a partir do espaço de confraternização. Créditos: Rafael Bugni Costa

O grande desafio é fazer sair da abstração

Fábio Vasconcellos

Redação do Estado de S. Paulo vista pelo Estadão Dados. Créditos: Renan Reis Brenna


Banco de dados A questão de audiência versus qualidade é tratada com uma certa cautela por Marcelo Soares. Por haver inúmeras condições para o consumo das informações, é arriscado afirmar que conteúdo em dados seja mais aceito pelos leitores, segundo ele. “Os gatilhos de interesse das pessoas são semelhantes, mas a régua pela qual pode medir a qualidade não é a mesma”. Ainda assim, Fábio acredita que o jornalismo de dados tem a possibilidade de expandir. Para o jornalista, há a tendência de que a sociedade, que até então estava habituada a ler conteúdos apresentados da forma tradicional, vá consumir cada vez mais informações apresentadas de forma visual. Assim, as matérias com dados que são entregues aos leitores em forma de infográficos, por exemplo, são consumidas de forma incipiente.

O espaço expõe diversos painéis in- terminado, mostrará o momento de terativos, que exploram a reflexão transição que estávamos passando. sobre o futuro da sociedade. Em uma das atrações, é possível assistir à um vídeo sobre os impactos da evolução na sociedade em seis painéis altos dispostos em círculos. “Consumimos mais”, “mais conectados”, “mais eficientes”, “mais poderosos” e “mais urbanos” são algumas das frases que os visitantes podem ler, deitados no pufe no centro dos painéis. A reflexão feita durante e após a visita no Museu do Amanhã, ligada à per- Créditos: Giulia Laseri cepção de tempo, nos fez perceber que as mudanças estão acontecendo cada vez com mais velocidade. E, assim como a perspectiva do museu, as novas tecnologias para o jornalismo também evidenciam o futuro da profissão. Porém, tal futuro já está sendo construído. Jornalistas precisam se adequar as mudanças e as redações criarem estrutura para o exercício do jornalismo do século XXI. Este livro é, em si, um museu do Créditos: Giulia Laseri amanhã, que, em um período inde-

O Mapa das Coaligações, um dos projetos que Fábio considera ter sido um dos trabalhos mais bem desenvolvidos em parceria com a editoria de Arte. Créditos: Rafael Bugni Costa

Aproveitando a visita ao Rio de Janeiro, fomos ao Museu do Amanhã, que foi inaugurado em 2015, perto da zona portuária, no Centro da cidade.

Painéis na exposição do Museu do Amanhã, localizado no Rio de Janeiro. Créditos: Giulia Laseri

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CrĂŠditos: Giulia Laseri




INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Créditos: Flickr/Bob Mical


Jornalismo do século XXI

Filmes Sempre que pensamos em inteligência artificial, automaticamente pensamos em filmes de ficção científica. Sempre retratando essa tecnologia como um futuro distópico, as obras representam um olhar além do presente. Um dos primeiros filmes a abordar inteligência artificial foi Metrópolis, lançado em 1927. Desde então, inúmeros cineastas vêm trazendo a temática para as telas. O 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), dirigido por Stanley Kubrick e ganhador do Oscar de efeitos visuais de 1969, foi um dos filmes que chocou a sociedade da época com a sua reflexão filosófica sobre ficção científica. Westworld – Onde Ninguém Alma, de 1973, inspirou a série com o mesmo nome, que traz a narrativa de um parque de diversões cujas atrações são robôs humanoides. Este também foi o tema do filme BladeRunner, o Caçador de Androides (1982), de Ridley Scott, que questiona a consciência da inteligência artificial. Responsável por um dos mais famosos bordões no cinema, Exterminador do Futuro (1984) é outro exemplo de filme de ficção científica sobre IA. Poderíamos listar outros inúmeros filmes: RoboCop, o Policial do Futuro (1987), Matrix (1999), O Homem Bicentenário (1999), Eu, Robô (2004), Ex-Machina (2015), entre outros.

Reprodução em números binários de uma foto tirada de Alan Turing em 1951. Créditos: Flickr/Parameter_bond

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Estudante tem sua pressão medida pelo IBM MERA, robô Pepper (SoftBank). Créditos: Jack Plunkett/Feature Photo Service for IBM.

I

magine que você é um repórter e está na redação quando recebe o conjunto de documentos dos Panama Papers. Em 2,6 terabytes (equivalente ao armazenamento de aproximadamente 162 iPhones com capacidade de 16 GB) há 11,5 milhões de documentos confidenciais que denunciam 214 mil entidades envolvidas na quarta maior sociedade de advogados offshore no mundo. Pense no tempo que você levaria para ler todos os 4.804.618 e-mails, 320.166 ficheiros de texto e 3.047.306 em bases de dados, sem contar com os arquivos em PDF, as imagens e outros ficheiros. Essa tarefa seria praticamente impossível sem o auxílio de computadores. É justamente com o propósito de resolver estes e outros

problemas que o ramo de pesquisa da ciência da computação, a inteligência artificial (IA, ou AI, artificial intelligence em inglês), também estuda e constrói mecanismos que simulem a capacidade de lógica humana. Quando pensamos em inteligência artificial logo idealizamos um robô falante que, em uma multidão, se confundiria com um ser humano. Na prática, não é nada daquilo que se espera dos filmes. Não é uma assistente virtual extremamente avançada, como é retratado no filme Ela (2014) e muito menos o primeiro menino robô programado para amar, como na ficção científica A.I – Inteligência Artificial (2001). A inteligência artificial do mundo real


Inteligência artificial já existe e é uma ferramenta útil que também facilita o trabalho de profissionais de diferentes áreas. Estamos, sim, avançados quanto à inteligência artificial, mas ainda precisamos aprimorar o nível de maturação dos softwares. Se hoje podemos prever desastres naturais e utilizar de robôs como assistentes em microcirurgias, por exemplo, devemos gratificar os primeiros estudos sobre IA desenvolvidos na Segunda Guerra Mundial. Os primeiros a estudar este campo foram Warrem Mccoulloch e Walter Pitts em 1943. Entretanto, foi Alan Turing quem articulou a visão completa de inteligência artificial, com o artigo Computing Machinery and Intelligence, e atualmente é considerado o pai da computação e da inteligência artificial. No artigo, o matemático apresenta o Teste de Turing, que verifica a capacidade de máquinas em mostrar compor-

tamentos que seriam equivalentes aos dos seres humanos. Nele, Turing questiona: “Há como imaginar um computador digital que faria bem o ‘jogo da imitação’? ” e apresenta a seguinte teoria: se o computador é capaz de enganar um terço dos interlocutores, logo, estaria pensando por si próprio. Assim nascia o primeiro conceito de IA. Desde então, inúmeros cientistas e pesquisadores continuaram desenvolvendo o conceito e atualmente a inteligência artificial tem inúmeras aplicações. A inteligência artificial ganhou grandes proporções desde os primeiros estudos de Turing. Segundo relatório divulgado pelo IDC (International Data Corporation, em inglês), os investimentos neste setor atingirão a marca dos U$ 46 bilhões até 2020. Somente em 2017 o mercado renderá U$12,5 bilhões, 60% a mais do que no ano interior. A Microsoft Ventures é uma das empresas que

veem essa tecnologia como uma oportunidade. No final de 2016 o vice-presidente da organização, Nagraj Kashyap, anunciou que a empresa iria lançar um fundo de investimento com foco em IA. Durante 2016 a Microsoft Ventures investiu em pelo menos 19 companhias, como a Tact, uma plataforma que utiliza inteligência artificial para vendas. Não precisamos pensar em apenas aplicações sofisticadas para exemplificar a inteligência artificial atualmente. Muitas vezes usamos recursos que utilizam de IA para funcionar e não percebemos, como é o caso do Google Now, a assistente virtual inteligente desenvolvida pela Google, que, assim como a Siri (disponível apenas para iOS, watchOS e tvOS) e a Cortana (disponível apenas para Windows Mobile e Android), auxilia o usuário a organizar sua rotina e aumentar a produtividade por meio de comandos de voz.

Cortana, a assistente virtual dos smartphones da Windows ou que utilizam o sistema Android. Créditos: Flickr/BhupinderNayyar

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Inteligência artificial

IA no dia a dia A inteligência artificial está mais presente em nossas vidas do que imaginamos. Seja para uso pessoal ou nos negócios, essa tecnologia chega à nossa rotina para, sobretudo, otimizar o nosso tempo. É por essa razão que recentemente a assistente virtual Alexa, vendida pela Amazon, vem ganhando cada vez mais presença nas casas norte-americanas. Imagine perguntar as horas ou a temperatura para o aparelho e este responder com precisão. Ou até melhor: se sincronizado com outros aparelhos da casa, pode ser capaz de ligar a televisão quando solicitado. Este é o futuro das coisas. O blog com o mesmo nome (O Futuro das Coisas) organizou uma lista com 42 ferramentas de IA que podem ser usadas no dia a dia. Algumas delas são: Gluru (organizador de documentos online, calendários e e-mails), WarRoom (software que analisa comportamento online), Narrative Science (cria narrativas e personaliza o tom dos textos), Protégé (editor gratuito para programação), Atomwise (analisa e prevê análises médicas) e Skycatch (software para sistemas aéreos totalmente autônomos). Para ver essase outras ferramentas, veja em:

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Inteligência artificial aplicada ao jornalismo

A

s assistentes virtuais não são as únicas aplicações da inteligência artificial que beneficiam a sociedade atualmente. Cada vez mais vemos essa tecnologia sendo usada por empresas jornalísticas com o objetivo de otimizarem o trabalho de seus profissionais, tomando para si as tarefas mais “automáticas”. Por ser um fenômeno ainda muito recente, o jornalismo automatizado ainda carece de pesquisas e definições assertivas. Andreas Graefe, membro do centro de pesquisa Tow Center, da Universidade de Columbia, foi um dos primeiros a se dedicar ao desenvolvimento de um artigo, o Guia para o Jornalismo Automatizado que trata do tema de uma forma ampla e precisa. Ele define o jornalismo automatizado como o “processo de utilização de um software e algoritmo para gerar automaticamente novas histórias sem a intervenção humana”.

muito preconceito com a técnica nas redações, o autor é otimista.

O jornalismo automatizado, segundo Graefe, está intrinsicamente ligado à utilização de algoritmos para a geração de textos, sejam eles jornalísticos ou não – dando, neste ponto, o mesmo sentido de jornalismo de dados. Isso ocorre, pois, o jornalismo automatizado só pode ser feito a partir do upload de dados. Uma vez desenvolvidos e colocados em suas respectivas posições, os algoritmos podem ser transformados em milhares de histórias diferentes. Portanto, essa ferramenta não consegue ser utilizada se não houver dados o suficiente (pensamos na lógica de: se não há uma tabela indicando quais são as informações, não há como o software desenvolver essas informações para a produção do texto). Entretanto, é necessária a intervenção humana para que o jornalismo automatizado exista. Ou seja, é preciso que algum indivíduo faça A computação acompanhou a ativ- o upload das informações para que, idade jornalística desde seu desen- então, o software possa ler aquilo e volvimento. A partir da criação da transformar em um texto. máquina de escrever, muitos jornalistas puderam agilizar o processo de produção das matérias e reportagens. Com o avanço das tecnologias e o surgimento de novas técnicas, o jornalismo passou por diversas mudanças, permitindo que chegássemos até os dias atuais. Dificilmente imaginamos uma redação jornalística sem pensar em computadores ou pesquisa em buscadores como o Google. E é justamente nessa lógica que Graefe defende o jornalismo automatizado. Apesar de ainda haver Créditos: Alex Knight/Unsplash


Inteligência artificial

Jornalismo automatizado norte-americano

F

oi em 2014, com o LA Times, que a discussão sobre o uso de inteligência artificial no jornalismo se tornou ainda maior. Segundo a BBC News, o veículo foi o primeiro a utilizar robôs para publicar uma notícia. O jornalista e programador Ken Schwencke desenvolveu, ao longo de dois anos, um algoritmo que gerava automaticamente um artigo toda vez que um terremoto acontecia. Quakebot, como foi chamado, conseguiu fazer com que o primeiro artigo com auxílio de inteligência artificial fosse publicado em menos de três minutos. Um projeto semelhante foi desenvolvido recentemente pelo Washington Post, um dos principais veículos de comunicação dos Estados Unidos. O veículo desenvolveu um software próprio, batizado de Heliograf, para cobrir os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que aconteceu em 2016. A tecnologia permitia acompanhar todos os jogos e, de forma automática, divulgar notícias em formato de textos complexos sobre eles. Outro exemplo de jornalismo automatizado se dá com a Automated Insights, que foi uma das primeiras empresas que desenvolveu um serviço de inteligência artificial para jornalismo nos Estados Unidos. A AI, como é conhecida internacionalmente, criou um software que presta serviço de jornalismo automatizado, o Wordsmith. A empresa, que está no mercado desde 2007, foi fundada por Robbie Allen, um engenheiro de softwares norte-americano, e oferece serviços de inteligência artificial e conteúdo a partir de big datas.

Formado em Ciência da Computação pela Universidade South Carolina-Columbia e mestre pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT (Massachussets Institute of Technology, em inglês), Robbie idealizou a AI enquanto ainda trabalhava na Cisco. Ele percebeu a necessidade no mercado de simplificar o processo de produção de conteúdos que precisavam de muitos dados quantitativos para serem escritos.

Ken Schwencke, programador do Quakebot, sistema utilizado pelo jornal LA Times. Créditos: Divulgação/LinkedIn

O Wordsmith consegue desenvolver cerca de 1000 palavras em torno de 1 minuto, sendo assim capaz de escrever centenas de matérias por dia. Mas como funciona? A partir de algoritmos e dados. Primeiramente o usuário deve imputar os dados estruturados em um template de Excel em formato .CSV. Quanto mais dados, mais rica será a matéria. O Wordsmith fornece uma flexibilidade Robbie Allen, CEO da Automated Insights. Créditos: Divulgação/Automated Insights

O Washington Post criou uma conta na rede social Twitter para a divulgação das informações geradas pelo programa. Créditos: Giulia Laseri

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Inteligência artificial enorme para alterar o texto, e como um software inteligente, ele analisa os padrões de alteração e irá se aperfeiçoando com o tempo para a forma de escrita desejada. Ou seja, a inteligência é capaz de identificar os erros que comete e corrigi-los para que não os cometa novamente no futuro. Teoricamente assim, o programa acaba criando um editor jornalístico perfeito e realiza um texto que se torna cada vez mais perfeito com o passar do tempo. Dessa forma o jornalista pode controlar o tamanho, o tom e a variedade do texto com a personalidade do escritor. O serviço prestado pela Automated Insights inovou o mercado jornalístico. Notícias que requerem em seu corpo muitos dados e informações numéricas, que não precisam necessariamente conter muito aprofundamento e apuração, são feitas automaticamente a partir de alguns dados apenas. É uma inovação tecnológica que pode vir a crescer até atingir um nível de complexidade que a possibilitará produzir qualquer tipo de matéria e notícia de forma rápida e simples. O serviço é utilizado por inúmeros veículos jornalísticos, como a Associated Press, Yahoo, MSN, USA Todaye Bloomberg.

A tecnologia chega com a possibilidade de ganhar eficiência

Telma Marotto 34

Inteligência artificial aplicada ao jornalismo brasileiro

C

uriosos sobre o funcionamento sobre o uso de serviços de IA nas redações brasileiras, entramos em contato com a editora da Bloomberg Brasil, Telma Marotto, para verificarmos se a sede no Brasil também utiliza de serviços como o da Automated Insights. Ao chegarmos lá, percebemos que não se tratava somente de uma agência de notícias sobre o mercado financeiro. Localizada no mesmo prédio da Goldman Sachs (grupo financeiro de investimento) e da CreditSuisse (banco suíço de investimento), a Bloomberg, desde sua recepção, se demonstra ser, sobretudo, uma empresa de tecnologia. E talvez por este motivo, apesar da crise econômica brasileira, esteja criando abertura para novidades e inovações. A editora nos contou que utilizam muito da inteligência artificial para a produção de notícias. Assim como o Washington Post, a Bloomberg também desenvolveu um “robô” próprio, o qual um ser humano programa para seguir determinadas “regras”, como por exemplo a venda ou compra do dólar quando atinge uma cotação. Isso ocorre, pois muitos comunicados que são enviados aos clientes seguem a mesma formatação. Telma afirma que há uma preocupação constante quanto às novas tecnologias e acredita que a as inovações podem ter um efeito muito positivo nas redações. “A tecnologia chega com a possibilidade de ganhar eficiência. É preciso pensar no que as máquinas podem fazer por nós. Com isso você libera o ser humano para fazer coisas que a máquina não pode fazer”, diz.

Criada em 1982 pelo ex-prefeito da cidade de Nova Iorque, a Bloomberg é atualmente uma empresa internacional, com mais de 192 escritórios pelo mundo. Enquanto aguardávamos a editora, notamos uma quantidade significativa de executivos estrangeiros que conversavam com funcionários da empresa. Telma nos explicou que, justamente por ter clientes das mais diversas nacionalidades, a utilização do Google Translator é extremamente importante e necessária. “A linguagem era uma barreira muito importante que a

Telma

Marotto Telma já trabalhou como repórter em rádio, na Rede Bandeirantes de Bauru (1995), na Rádio Comunicação FM (19951996) e na Rádio Andina (1996-1997). Foi repórter da Gazeta (1995-2000), do Notícias Populares (1998-2000) e freelancer para a Agência Dinheiro Vivo (2000). Entrou na Bloomberg em 2000 como líder de equipe e está lá até hoje com a função de coordenadora da edição local de linguagem da América Latina. Créditos: Divulgação/LinkedIn


Inteligência artificial empresa precisava passar e, com o Google Translator, essa barreira foi praticamente eliminada. Com esse recurso tivemos um salto qualitativo enorme”, conta. A ferramenta gratuita, que traduz palavras e textos de mais de 100 línguas diferentes, passou por melhorias utilizando inteligência artificial, permitindo que o recurso se tornasse ainda mais preciso.

Escritório da Bloomberg em Londres, Inglaterra. Créditos: Flickr/James Mitchell

A Bloomberg vende o serviço Bloomberg Professional ® (O Terminal) para profissionais financeiros. Créditos: Flickr/TravisWise

Essa não é a única forma que a Google auxilia veículos e empresas ligadas à comunicação. Em junho de 2015 a empresa lançou uma plataforma com o objetivo de “apoiar a criação e distribuição de conteúdos que nos mantém informados sobre o que está acontecendo no mundo, provendo ferramentas, data e programas desenvolvidos para ajudar”. Na sede da Google Brasil, localizada há algumas quadras da redação da Bloomberg, conversamos com Marco Túlio Pires, líder do Google News Lab Brasil. Logo na recepção percebemos o motivo de a Google ser a grande referência quando se trata de inteligência artificial. O cadastro na empresa é feito por meio de um grande totem que possui uma tela touchscreen, na qual o visitante preenche as suas informações e é gerado um crachá temporário. Como havia sido a primeira vez que estávamos entrando no escritório, preenchemos nossas informações e

logo fomos recepcionados por Marco. Infelizmente não pudemos tirar fotos do escritório por conta de uma política de privacidade da empresa. Marco, que é formado em jornalismo, diz que o laboratório tem explorado como as tecnologias (IA inclusive) podem ajudar na identificação de determinados vieses invisíveis. O jornalista nos contou que as ferramentas do News Lab estão divididas em quatro grandes áreas: verificação e credibilidade, dados, narrativas imersivas e narrativas inclusivas. Com pesquisas, treinamentos, parcerias e coalisões, o laboratório tem percebido que a área de machine learning vem ajudando principalmente a área de narrativas inclusivas, que conta com a disseminação sobre a diversidade de vozes e representações dentro e fora das redações. Quando questionamos o jornalista sobre uma tendência na área jor-

nalística, Marco não hesitou e logo mencionou a inteligência artificial. Segundo ele, assim como a internet causou disrupção em diversos setores, há indícios fortes de que a IA poderá fazer o mesmo. “Hoje temos redes de computadores e processamento cada vez mais poderosos, que fazem algoritmos de pesquisa cada vez mais sofisticados para resolver problemas cada vez mais complexos. Eu tenho a sensação de que a IA che-

Marco Túlio Pires é o responsável pela equipe do Google News Lab Brasil. Créditos: Renan Reis Brenna

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Inteligência artificial gará ao jornalismo de forma intensa em breve”, diz. Quanto as aplicações fora do News Lab, Marco diz: “Hoje é difícil encontrar uma tecnologia no Google que não haja inteligência artificial” e cita os algoritmos de pesquisa como exemplo.

Marco

Túlio Pires Marco Túlio Pires é formado em jornalismo pela Universidade de Minas Gerais (2005-2009) e fez cursos de jornalismo de dados na Universidade do Michigan (2012-2013) e na Universidade de Georgetown (2013). Trabalhou para o Governo de São Paulo no departamento de Desenvolvimento Social em Transparência e Tecnologia, onde foi consultor de inovação (2013-2014). Também foi coordenador da Escola de Dados (2014-2015) e jornalista de dados para J++ São Paulo (2015-2016). Em 2017 se tornou o coordenador do Google News Lab onde colabora com grandes empresas de notícias para que elas possam “contar as melhores histórias de nosso tempo”. Créditos: Renan Reis Brenna

Outras aplicações

Créditos: Divulgação

Além das aplicações mencionadas na reportagem, projetos que não são originalmente jornalísticos também estão ganhando importância no Brasil, como é o caso da Operação Serenata de Amor, que usa inteligência artificial para verificar contas públicas e combater a corrupção. A ideia nasceu com Irio Muss-

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Habilidades

M

arco Tulio Pires também acredita que a introdução de novas tecnologias nas redações também faz com que haja uma reorganização no tipo de habilidades que são exigidas dos profissionais. Assim, é possível questionar “o que é essencial para o exercício da profissão?”.

é a junção das palavras chatter (a pessoa que conversa, em inglês) e bot (abreviação de robot, em inglês), é um programa que permite a interação entre robôs e humanos por meio de conversas. Esse programa foi adaptado pelo o portal de notícias, considerado o maior portal de notícias do Brasil. Para ter acesso ao bot, o usuário precisa ter o aplicativo do Messenger em seu celular (ou no computador) e buscar o perfil do portal na lista de contatos. A partir disso, o robô inicia uma série de perguntas, nas quais o internauta responde suas preferências de horários e assuntos que gostaria de receber informações (acompanhe pelas imagens). A primeira utilização foi feita com o UOL Esportes e atualmente está disponível para o UOL Notícias também. Em entrevista, Rodrigo Flores, diretor do conteúdo do UOL, disse que o projeto foi feito em parceria com o Facebook e foi o primeiro do tipo a ser desenvolvido no país. O projeto só foi ao ar em 2016, com o lançamento oficial da plataforma Messenger Platform Beta.

O jornalista deve pensar na inteligência artificial não só como uma ferramenta que auxilia na produção das matérias, mas também como forma de distribuição do conteúdo. É o caso da UOL, que criou o seu primeiro chatbot de notícias para o Facebook Messenger em 2015. O termo, que Telma Marotto reconhece que as mudanças tecnológicas estão evoluindo de maneira mais rápida do que há um kopf, data scientist formado em Ciências tempo. Ao mesmo tempo, não acredda Computação e Matemática Computa- ita que a introdução dessa tecnologia cional pela UFRS e atualmente conta com tenha alterado a função dos jornalisum time formado por 8 pessoas. A Oper- tas na Bloomberg. Para ela, essa muação Serenata de Amor criou um sistema dança foi algo positivo e que mostra, que é capaz de analisar cada pedido de reembolso de deputados e, após a análise, com ainda mais intensidade, o motivo identificar a probabilidade de ilegalidade de existirem os jornalistas nas rede cada nota. Rosie, como o robô está dações. Isso, pois, a IA permite “libersendo chamado, analisa os dados dis- ar os jornalistas para fazerem o que poníveis no site da Câmara dos Deputasó eles podem fazer, que é ir atrás da dos e depois os classifica como suspeitos ou não. Projetos como a operação Sere- notícia e fazer as melhores entrevisnata de Amor se tornam subsídios para o tas, por exemplo”. Desse modo o jorjornalismo. Isso, pois contribuem com o nalista aproveita melhor o seu temcódigo de ética jornalístico, o qual consid- po para realizar funções jornalísticas era como um dos deveres do profissional mais aprofundadas, pesquisar, eso combate e denúncia à todas as formas crever reportagens mais complexas de corrupção. e aprofundadas, ter insights sobre


InteligĂŞncia artificial

CrĂŠditos: Giulia Laseri

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Inteligência artificial notícias e outros acontecimentos. Telma chama a atenção para o newsjudgment, senso o qual as máquinas dificilmente desenvolverão. “A máquina nunca será capaz de perceber as nuances de ligar os pontos sobre algum determinado assunto”. Para isso, os jornalistas devem ser ainda mais criteriosos com o live editing, prestando atenção, sobretudo, no conteúdo. Assim como Andreas Graefe coloca no Guia de Jornalismo Automatizado, os algoritmos são passíveis de erros, caso sejam programados erroneamente. Portanto, cabe ao jornalista analisar se a matéria que o programa está entregando faz sentido. “Cada vez é mais exigido que o jornalista vá atrás das notícias e de furos. O profissional precisa parar de fazer o trabalho dele de maneira robótica”, diz Telma. A editora explica com o seguinte exemplo: imagine que você está conferindo a matéria que o programa produziu e o número apresentado é muito maior do que o do mês anterior. Dessa maneira, o repórter deve ter o faro crítico e identificar ali uma break news. Além disso, o jornalista também pode desenvolver habilidades relacionadas à programação.

A máquina nunca será capaz de perceber as nuances de ligar os pontos sobre algum determinado assunto

Telma Marotto

Logo da Bloomberg na recepção da empresa. Créditos: Renan Reis Brenna

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Inteligência artificial uma percepção muito otimista do jornalismo automatizado. Para ele, haverá um momento no qual haverá uma relação muito estreita entre as máquinas e os seres humanos. O jornalismo automatizado poderá substituir os jornalistas que cobrem histórias rotineiras, mas também permitirá que novos empregos surjam – gerando os algoritmos e analisando de uma forma muito mais completa o conteúdo.

Desafios

Entrada do evento fotografada por uma colaboradora da revista Forbes. Créditos: Forbes/Rachel Arthur

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nteligência artificial foi o principal tema da edição 2017 do maior festival de inovação e tecnologia do mundo, a South by Southwest, que acontece em Austin, Texas. Marcelo Moraes, enviado especial ao evento pelo Estado de S. Paulo, escreveu, em março, sobre a palestra ministrada pelo chefe da Microsoft Research, Eric Horvitz. Segundo o jornalista, Horvitz definiu o estágio de desenvolvimento da IA como uma criança. Os benefícios e problemas das tecnologias são definidos a partir da maneira como elas são usadas. No mesmo dia desta palestra, o jornal norte-americano New York Times comentou sobre a aplicação dessa tecnologia no jornalismo. Chamadas de “Future of Automated News: 2016 Election and Beyond” e “Predicting the Future of News: A CTO Perspec-

tive”, as palestras que discutiam sobre o jornalismo automatizado tratavam de um futuro próximo, o qual tem consequências para a área. Wilson Andrews, editor gráfico do NYT, disse que ainda estamos em um momento de transição, no qual os jornalistas continuarão dando inputs e sendo mediadores. Segundo Andreas Graefe, a inteligência artificial tem um potencial incalculável: pode criar conteúdos de formas muito mais rápidas, em uma escala gigantesca e com menos erros do que os humanos (considerando que se é colocada a informação correta, ele transmitirá exatamente aquilo). Os algoritmos ainda podem contar histórias em diferentes idiomas, aperfeiçoando o editorial para cada tipo de leitor. O autor tem

Orientações de fontes, linguagem e padrões de texto com incontáveis possibilidades.

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Por outro lado, os algoritmos são apenas inseridos – não têm a capacidade de analisar ou questionar. O conteúdo produzido pelo jornalismo automatizado é aprofundado em uma visão quantitativa, e não qualitativa. Dessa maneira, não podem orientar e criar visões críticas. É neste momento que o jornalista é necessário. Entretanto, é preciso que o jornalista entenda quais foram os “padrões”1 adotados no programa, para que se certifique que as informações geradas pela inteligência artificial com certeza façam sentido, assim como Telma chamou atenção. Para isso, é preciso que tenha um conhecimento básico de programação. Segundo Marco Tulio Pires, é exigido cada vez mais dos jornalistas que se tornem multidisciplinares. Ele acredita que o profissional precisa estar familiarizado com tecnologias desde o dia em que decide fazer jornalismo, pois “vira manejo primário da profissão”. O líder do Google News Lab complementa o pensamento dizendo: “O jornalista precisa ser um mestre de diferentes plataformas. É essencial e uma questão de sobrevivência”. Esta se torna mais uma das dificuldades da implementação da IA de forma massificada nas redações. Isso, pois, assim como acontece com o jornalismo de dados, os currículos do curso de jornalismo muitas

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Inteligência artificial

Créditos: Unsplash/Sai-KiranAnagani

também demonstrou sua opinião sobre esse assunto em uma conferência em Munique, Alemanha, em janeiro de 2017. Segundo ele, as tecnologias vêm para complementar o trabalho dos humanos. “O desejo fundamental de cada pessoa é poder usar seu tempo de maneira mais efetiva e não dizer ‘vamos substituí-lo’”, afirmou o executivo. “Este ano e o próximo vão ser essenciais para democratizar a AI. Para mim a coisa mais excitante não é somente a promessa de inteligência artificial exibida em nossos produtos, mas a capacidade de pegar esse potencial e colocá-lo na mão de O CEO da Microsoft, Satya Nadella, todo desenvolvedor e organização”, vezes não incluem disciplinas que contemplem o ensino do manuseio, entendimento e pensamento crítico da tecnologia aplicada ao jornalismo. Isso impacta diretamente na discussão sobre as substituições de empregos, nas quais máquinas tomam o lugar dos humanos. Marco Tulio Pires acredita que o jornalismo não deixará de existir. “O espírito e o princípio jornalístico não deixarão de ser relevante, em qualquer que seja o momento. Continuaremos sendo os cronistas da história e continuaremos contando em tempo real”.

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complementou. E, por último, outro grande desafio das tecnologias, principalmente da inteligência artificial, é entender de que forma irão impactar a sociedade. Um grupo de pesquisadores da Stanford University, na Califórnia, já está pensando nisso. A universidade elaborou o projeto One Hundred Year Study on Artificial Intelligence (AI100, como é conhecido), o qual pretende divulgar estudos a cada 5 anos durante os próximos 100 anos sobre inteligência artificial, de forma que contribua para o debate social e oriente o desenvolvimento ético de softwares,


Inteligência artificial sensores e máquinas inteligentes. O primeiro estudo, chamado “Artificial intelligence and life in 2030”, contempla oito grandes áreas da atividade humana, como transporte, aparelhos domésticos, saúde, educação, entretenimento, comunidades com poucos recursos, segurança pública e empregos. O projeto não contempla a comunicação, mas com certeza devemos leva-la em consideração, principalmente quando pensamos em consumo de informações. Marco comenta sobre a relação entre as tecnologias e o jornalismo: “Elas surgem de forma agnóstica para atender demandas da sociedade. É uma questão de sobrevivência adotar as tecnologias. Mudam o hábito de consumo, a percepção de determinados fatores e o padrão de comportamento de toda uma geração”, afirma Marco. Graefe concorda com essa visão e fala sobre os benefícios para os leitores. O autor menciona um novo tipo de consumo de informações, que, no início, haverá estranhamento, mas que acostumará os leitores a terem informações precisas e rápidas. Para Graefe esta não é a primeira vez que as tecnologias alteram esse tipo de consumo.

O espírito e o princípio jornalístico não deixarão de ser relevantes, em qualquer que seja o momento

Marco Túlio Pires

Créditos: Tokumeigakarinoaoshima - Own work, CC0

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REALIDADE VIRTUAL Créditos: Flickr/Maurizio Pesce


Jornalismo do século XXI

Você sabia?

REALIDADE VIRTUAL

Você sabia que levaria mais de 5 milhões de anos para assistir a quantidade de vídeos atravessados na rede em um único mês em 2020? Os números apresentados pela Cisco são impressionantes! Até 2020 o tráfego por smartphones irá exceder o tráfego de computadores. Além disso, o tráfego global de internet será 95 vezes a mais do que o registrado em 2005. A Cisco também aposta que os vídeos em 4k serão o padrão de qualidade para os consumidores. Cheque esses e outros dados incríveis disponibilizados pela empresa

Ivan Sutherland fazendo a primeira demonstração do Sketchpad. Créditos: Divulgação

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omos seres visuais. Desde pequenos somos ensinados por meio de figuras. Quando crescemos, assistimos à filmes e à vídeos e muitas vezes não percebemos seus impactos. A verdade é que vivenciamos um momento em que estamos cada vez mais consumindo vídeos. A procura por informações em formas visuais vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. Em 2014,64% de todo o tráfego de internet se deu pelo consumo de conteúdos em vídeo, de acordo com o relatório divulgado pela líder mundial em tecnologia da informação, a Cisco. Os vídeos online serão responsáveis por 80%

do tráfego mundial da internet em 2020. Isso, pois cerca de 3,9 bilhões de pessoas terão acesso à internet e haverá três vezes mais dispositivos capazes de acessar a web. E esse consumo se tornou cada vez mais pessoal. Susan Agliata, chefe do setor de conteúdo para marcas do Youtube afirmou, em abril de 2016, na MIPTV (um dos maiores eventos de desenvolvimento e distribuição de conteúdo no mundo), que 50% dos vídeos vistos da internet são vistos por meio de smartphones. Somente no Brasil 58 milhões de vídeos online são vistos mensalmente, segundo relatório divulgado pela comScore.


CrĂŠditos: Unsplash/Samuel Zeller


Realidade virtual Ainda de acordo com a pesquisa, 80% dos internautas preferem ver vídeos a ler conteúdos em textos. Isso, pois a compreensão da mensagem é excepcionalmente melhor. Um minuto de vídeo equivalem a 1.8 milhões de palavras, segundo a Forrester Research.

Propaganda do SegaVR em uma revista publicada (1993). Créditos: Divulgação

Uma das primeiras menções à realidade virtual foi feita pelo cientista informático Ivan Sutherland, também conhecido como o pai da computação gráfica. Ele desenvolveu o programa Sketchpad em 1963, que permitia a manipulação em tempo real de figuras tridimensionais nos computadores, facilitando a interNão é à toa que a realidade virtual ação máquina-usuário. tenha se tornado uma das principais tecnologias de 2016. De acordo com O cientista permitiu que, anos depois, as conclusões do relatório Visual inúmeras empresas apostassem Networking Index (VNI) da Cisco so- na tecnologia, como foi o caso da bre o tráfego global de dados móveis Sega, desenvolvedora de softwares 2016-2021, as aplicações de reali- para vídeo games, que anunciou, dade virtual crescerão de 18 milhões em 1991, o lançamento do Sega VR, (2016) para 100 milhões em 2021 e um dos primeiros headsets de realintegrarão dispositivos, como óculos idade virtual moderno. Por conta de e capacetes. Além disso, o tráfego de dificuldades técnicas, o Sega VR se RV global crescerá 11 vezes. manteve um protótipo e nunca fora

Em 1968 Ivan criou o primeiro head-mounted display, que se conectava ao computador. Créditos: Divulgação

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Realidade virtual lançado para o público. Anos depois, a concorrente da Sega,

aparelho que permitiuo desenvolvi- A realidade virtual e o investimento mento de câmeras recentes, como a nessa inovação foram percebidos Gear 360. Os gadgets atuais regis- como importantes para o Facebook,

Câmera 360º criada por Sebastião Carvalho Leme. Créditos: Sebastião Carvalho Leme Studio - User:Jurema Oliveira autorizada, CC BY-SA 3.0.

a maior rede social do mundo, que anunciou, em março de 2014, a compra da empresa responsável pela fabricação do Oculus Rift por U$ 2 bilhões. Em setembro de 2015 a empresa anunciou o lançamento da Nintendo Virtual Boy, que utilizava LEDs vermelhas e espelhos oscilantes para dar a sensação de um estetoscópio 3D. Créditos: Evan-Amos - Own work, Public Domain. visualização de vídeos em 360º, recurso disponível no Youtube desde a Nintendo, lançou o Virtual Boy, con- tram vídeos de todas as direções e março do mesmo ano. E, em março sole similar ao HMD (head-mount- sentidos e, dependendo da qualidade de 2017, a rede social lançou a transed display), display ótico usado na de alguns, podem capturar imagens missão ao vivo em 360º. cabeça. O Virtual Boy foi muito crit- com qualidade semelhante ao olho icado na época por ser um produto humano. caro, não permitir muita mobilidade e também pela má qualidade dos jo- Uma das primeiras utilizações da gos. Entretanto, desde então os apa- câmera 360º em massa foi feita pela relhos que prometem a experiência Google, que criou o Google Street em realidade virtual forama primora- View, recurso que disponibiliza visdos, e estão sendo utilizados nas tas panorâmicas e permite que os mais diversas áreas e, sobretudo, se usuários naveguem pelas ruas por tornaram mais acessíveis. meio de seus computadores. Lançado em 2007 nos Estados Unidos, o Atualmente as experiências de re- Google Street View nasceu em 2001 alidade virtual estão extremamente como um projeto patrocinado pela ligadas à utilização de câmeras que empresa na Universidade de Stancapturam imagens em 360º. O fo- ford, nos Estados Unidos. O recurso tógrafo brasileiro Sebastião Car- só chegou ao Brasil em 2010 e atualCarro da Google com a câmera 360º na Polônia, em valho Leme, natural de Marília, foi o mente o país conta com uma cober- 2012. Créditos: By Staszek99 - Own work, CC BY-SA responsável pela criação do primeiro tura parcial das ruas. 3.0.

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Realidade virtual

Realidade virtual no jornalismo norte-americano

Gear 360

Gear 360, a câmera 360º, e o óculos de realidade virtual,Gear RV, lançado em 2015 pela Samsung em parceria com a Oculus VR. Créditos: By Maurizio Pesce from Milan, Italia - Samsung Gear 360 and Gear VR headset, CC BY 2.0. Leia mais sobre o funcionamento de uma câmera 360º:

Google Cadboards, visualizadores de papelão desenvolvidos para experiências em RV utilizando smartphones.Créditos: By Evan-Amos - Own work, Public Domain.

Nós podemos colocar os nossos leitores no centro das histórias mais importantes do nosso tempo Jake Silverstein

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CNN foi um dos primeiros veículos jornalísticos a utilizar do recurso 360º para transmissão de notícias. Em 2010 fizeram a cobertura do terremoto catastrófico que havia atingido o Haiti, com a publicação de cinco vídeos que foram gravados em um carro em movimento. Alguns anos depois, o New York Times foi o pioneirona criação de um aplicativo próprio para experiências em RV. Em 2015 lançou o NYT VR, em parceria com a Google, com o objetivo de imergir os assinantes nas narrativas.

O lançamento também contou com a distribuição de mais de um milhão de Google Cardboards para os assinantes do veículo. Em release divulgado pelo próprio New York Times, o editor-chefe Jake Silverstein diz que “por meio dessas experiências imersivas em vídeo nós podemos colocar os nossos leitores no centro das histórias mais importantes do nosso tempo”. Além do aplicativo, o NYT também lançou, no final de 2016, a plataforma The Daily 360, que conta com uma série de vídeos diários gravados com câmeras 360º.


Realidade virtual Em março de 2017 a CNN seguiu os passos do New York Times e criou uma plataforma imersiva de vídeos em 360º e realidade virtual. Chamada de CNNVR, a unidade jornalística está disponível para smartphones por meio do aplicativo da CNN, computadores e headsets de realidade virtual, tais como o Samsung GearVR, Oculus Rift e Google Daydream, e conta com vídeos das mais diversas temáticas. Segundo o veículo, em 2016 desenvolveram mais de 50 histórias utilizando câmeras 360º, gerando mais de 30 milhões de visualizações somente no Facebook. Além desses, outros veículos, como USA Today, Washington Post e The Economist, também desenvolveram aplicativos para experiências em realidade virtual.

Realidade virtual no jornalismo brasileiro

Tadeu Jungle, diretor do primeiro documentário em 360º do Brasil. Créditos: Renan Reis Brenna

N Tadeu

Jungle Tadeu Jungle é um cineasta, fotógrafo, poeta, roteirista e diretor de cinema e TV. Se formou em Comunicação Social na Escola de Comunicação e Artes na USP em 1980. Já realizou inúmeros projetos de mídia, como documentários e filmes. É diretor de criação em TV, cinema e realidade virtual de sua própria produtora, a Jungle Filmes, desde 1994. Também é sócio e diretor criativo na Academia de Filmes desde 1995. Créditos: Renan Reis Brenna

o Brasil o primeiro documentário em realidade virtual foi produzido com uma temática semelhante ao projeto pioneiro da CNN. Rio de Lama é um curta-metragem que trata sobre o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (Bento Rodrigues – MG), desastre natural considerado o acontecimento com o maior impacto ambiental na história brasileira. Dirigido por Tadeu Jungle, cineasta e sócio fundador da Academia de Filmes, o documentário foi produzido com a intenção de transportar o espectador para um lugar que dificilmente poderia visitar. “A ideia foi fazer o espectador ter a sensação de pisar na lama”, diz Tadeu. Tivemos a oportunidade de assistir ao documentário em um smartphone compatível ao Samsung Gear VR, óculos de realidade virtual, e po-

demos afirmar que a experiência é impressionante. O nível de imersão foi elevado pelo cenário catastrófico contraposto com os relatos dos moradores. Tadeu citou Chris Milk ao afirmar que o projeto também pretendia a imersão no mundo da empatia, no qual “você se coloca no lugar do outro e convida o espectador para ficar junto com você na cena”.

Rafael Bugni Costa utilizando Samsung GearVR em seu smartphone. Créditos: Marina Hofmeister

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Realidade virtual

Cinema é um mecanismo de empatia e isso permite sentir compaixão por pessoas que são muito diferentes de nós em mundos que estão muito distantes do nosso. Realidade virtual leva essa ideia a um nível inteiramente novo

Chris Milk

Rio de Lama foi lançado em abril de 2016 e está disponível no Youtube e também nos aplicativos que podem ser baixados na Apple Store ou Google Play. Além do Rio de Lama, Tadeu nos contou que lançará outro documentário intitulado Fogo na Floresta, que mostra as dificuldades enfrentadas no dia a dia da aldeia Waurá. Além de produzir Rio de Lama e Fogo na Floresta, Tadeu também está por trás de projetos jornalísticos envolvendo realidade virtual. O Estado de S. Paulo foi o primeiro a lançar um aplicativo para a experiência. Em parceria com a Academia de Filmes e a Beenoculus, o Estadão RV foi disponibilizado para download em dezembro de 2016. A primeira iniciativa do veículo contou com uma série de vídeos em Bonito (MS), também produzidos pela blogueira Karina Oliani. Em abril de 2017 o Estadão também disponibilizou um vídeo que permite que espectador esteja em uma moto a 280 km/h junto como piloto de motovelocidade, Eric Granado, no Autódromo de Interlagos. Em março de 2017 foi a vez da Folha de S. Paulo lançar um aplicativo, também em parceria com a Beenoculus, startup curitibana criada em 2015 e responsável pelo desenvolvi-

Créditos: Divulgação

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Créditos: Divulgação

Créditos: By Arturo Pardavila III from Hoboken, NJ, USA - Lucas Giolito tries out virtual reality, CC BY 2.0.

mento dos primeiros óculos de RV no Brasil. No Folha 360º é possível que o espectador explore a Antártica e a Baía de Guanabara (RJ), visite uma casa modernista no bairro do Pacaembu (SP), além de poder acompanhar a série São Paulo de Ponta a Ponta, narrada pelo youtuber “tiozão da hornet”, Kleber Atalla. O veículo já havia apostado na cobertura jornalística com equipamentos de realidade virtual em abril de 2016, com a gravação dos protestos a favor e contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. No mês seguinte também produziram uma série de reportagens sobre habitantes de edifícios invadidos no centro de São Paulo utilizando a tecnologia. Joana Cunha foi uma das jornalistas envolvidas no projeto As Leis


Realidade virtual da Invasão. Repórter da editoria Mercado (responsável pela produção de conteúdo de finanças, investimentos e economia), Joana nos contou que, assim como o Rio de Lama, o uso da câmera 360º no especial se deu pela intenção de incluir o espectador dentro do local, retratando como é viver em uma invasão. Para isso, a equipe de filmagem do Estúdio X+X sugeriu que as câmeras fossem colocadas nas mãos dos entrevistados (ocupantes das invasões). Dessa forma, eles próprios poderiam decidiam o que gostariam de mostrar. Apesar de não possuir um aplicativo específico para experiências em RV, a Globo também uma das empresas que está apostando na utilização do recurso de câmeras 360º e na transmissão ao vivo em algumas matérias do portal de notícias G1. Alguns dos exemplos mais recentes são a gravação da queima de fogos em Copacabana (Rio e Janeiro) no ano novo,

Joana

Cunha Joana Cunha é formada em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas decidiu seguir carreira no jornalismo. Na Folha de S. Paulo foi repórter da coluna Mercado Aberto, correspondente internacional em Nova York e atualmente é repórter do caderno Mercado. Créditos: Renan Reis Brenna

a cobertura do evento musical Lol- testo de coletivos feministas no Dia lapalooza, em março no Autódromo da Mulher, na Avenida Paulista (São de Interlagos (São Paulo), a trans- Paulo). missão ao vivo em 360º do carnaval no Sambódromo da Marquês de Sapucaí (Rio de Janeiro) e também para a reportagem que cobria o pro-

O papel do jornalista e novas habilidades

E

m diversos momentos das entrevistas que realizamos para essa reportagem nos questionamos sobre o papel do jornalista quanto às câmeras 360º e a produção do conteúdo para a experiência em realidade virtual. Isso, pois levamos em consideração o debate sobre a figura do jornalista como um profissional multitarefas, o qual deve, além de escrever as matérias e reportagens, pensar (e muitas vezes produzir por si próprio) sobre os elementos complementares, como vídeos e fotos.

para ser superqualificado (Batman). Para Joana Cunha, a figura do jornalista multitarefas não é o ideal. “A especialização traz qualidade para o resultado da matéria”, afirma. Ela nos contou que a produção da reportagem contou com profissionais de áreas distintas. Joana ficou responsável pela produção dos textos, a equipe de filmagem pela gravação dos vídeos e também teve a presença de editores, tanto para a reportagem escrita quanto para os vídeos. Segundo Joana, a introdução das câmeras 360º e as experiências em realidade virtual são mais relacionadas à uma questão de mindsetting do que desenvolvimento de habilidades. Ela acredita que não teve de desenvolver novas habilidades, mas chamou atenção para o faro jornalístico. Apesar de a função ético-social do jornalista não mudar, para ela ainda será preciso que o repórter organize e hierarquize as informações. “O nosso trabalho se pauta e se orienta por poucos métodos. Se você não tiver alerta, pode deixar passar informações”, alerta a jornalista.

Em tempos que smartphones permitem a gravação de fotos, vídeos e áudios em alta qualidade, é cada vez mais exigido pelos veículos de comunicação a figura de um jornalista super-herói, assim como foi percebido por Alexandre Lenzi, doutor do programa de pós-graduação em jornalismo na UFSC. O pesquisador utiliza da metáfora dos personagens da DC Comics para sustentar sua argumentação sobre a dificuldade em garantir que o profissional seja um especialista em todas as áreas. Segundo ele, temos, de um lado, um alienígena em forma humana que tem superpode- Quanto ao papel do jornalista, Joana res (Super-Homem) e, do outro, um também acredita que a função de ser humano treinado desde cedo buscar as informações, processa-las

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Realidade virtual

Créditos: Renan Reis Brenna

e entrega-las ao leitor não muda com a introdução das câmeras 360º nas redações. Segundo ela, as câmeras 360º e as experiências em realidade virtual afetam o trabalho do jornalista principalmente no momento em que o profissional precisa pensar na apresentação do conteúdo. Beneficiado por poder utilizar de mais uma ferramenta, ele passa a ter de pensar na melhor entrega. Isso impacta principalmente no momento em que o jornalista pensa sobre pautas e as apresenta nas reuniões de pauta. Assim, o que muda são os suportes que poderão ser utilizados a partir do momento que são introduzidos nas redações.

Redação da Folha de S. Paulo. Créditos: Renan Reis Brenna

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Foi inspirado neste pensamento de um profissional multimídia que a Folha de S. Paulo realizou, em 2010, processo de integração das redações impresso e digital. Em 2014 o editor-executivo do veículo, Sérgio Dávila, participou da 5º Conferência Ibero-americana de Revistas e comentou sobre as mudanças na redação, destacando a importância do jornalista moderno. Segundo ele, os profissionais que vão para as ruas teriam de ser capazes de trazer informações com rapidez e em diferentes formatos.


Realidade virtual

Realidade virtual e as novas formas narrativas

Em parceria com a Beenoculus, a Sociedade Esportiva Palmeiras vende a experiência em realidade virtual para seus torcedores. Créditos: Divulgação

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ssim como acontece com a introdução dos bancos de dados nas reportagens, os vídeos gravados com câmeras 360º estão mudando completamente a maneira como os fatos e acontecimentos são relatados. Tadeu Jungle acredita que nunca, desde o início do cinema, tivemos uma mudança tão drástica na narrativa quanto agora, com a propagação das experiências em realidade virtual. “Como a câmera 360º mostra tudo, o espectador escolhe para onde ele quer olhar. Em termos de linguagem, estamos engatinhando na forma de contar histórias”, diz o cineasta.

ela, essa nova tecnologia pode se tornar uma ferramenta complementar à reportagem tradicional. “A câmera de 360º agrega uma experiência melhor para o leitor. Com ela é possível levar o leitor a um lugar onde ele não poderia entrar se não fosse pela experiência de realidade virtual”, diz a repórter. Com essa tecnologia é possível estar em Marte e controlar a direção da câmera. Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, postou em fevereiro de 2016 um vídeo feito em parceria com a NASA que permitia tal experiência. Na publicação ele escreve: “Este é só o começo do que nós podemos fazer com realidade virtual e vídeos em 360º”.

apenas ao jornalismo. Pode ser usada na educação, na comunicação organizacional e para conhecimentos gerais. Tadeu acredita que a indústria do entretenimento, mais especificamente os games e os esportes, farão com que a aderência da realidade virtual seja ainda mais rápida e eficiente. É o caso do clube de futebol Pameiras (Sociedade Esportiva Palmeiras), que lançou no final de 2016 um aplicativo que permite a experiência em RV, também desenvolvido pela Beenoculus.

Joana acredita que sua reportagem poderia ter sido produzia somente no Assim, é importante lembrar que a formato escrito. Entretanto, segundo realidade virtual não está limitada

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Realidade virtual

A qualidade dos conteúdos com câmeras 360º e realidade virtual

Rawlinson Terrabuio

Rawlinson Terrabuio tem experiência há mais de 20 anos na área de administração e gestão de negócios. Foi o sócio fundador e diretor de operações da T&T Company do Brasil (1990-1999), sócio fundador de diretor comercial da TWT Embedded Solutions (20002002), sócio fundador e CEO da E-DUC Soluções Tecnológicas (2009-2015). Atualmente é sócio fundador e chefe de marketing da empresa Beenoculus, que tem como missão democratizar a realidade virtual no Brasil. Créditos: Renan Reis Brenna

Escritório da Beenoculus. Créditos: Renan Reis Brenna

Renan Reis Brenna utilizando o óculos de RV, desenvolvida pela Beenoculus. Créditos: Giulia Laseri

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Recepção do escritório da Beenoculus, no bairro Vila Olímpia (SP). Créditos: Renan Reis Brenna

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lém de permitir que o usuário seja inserido no cenário, a utilização das câmeras 360º também traz um benefício muito relevante para o trabalho do jornalista. Por conta da dificuldade extrema em editar os ângulos, a tecnologia facilita a transparência do conteúdo. Isso impacta diretamente na qualidade do conteúdo que é entregue ao usuário. Além de concordar que essas tecnologias contribuem para um dos valores éticos jornalísticos, Joana Cunha acredita que a qualidade dos equipamentos ajuda muito na qualidade do material. Com indicação do diretor de arte do grupo Estado, Fabio Sales, conversamos com o co-fundador e diretor de marketing da Beenoculus, Rawlinson Terrabuio, para entender

como estava o cenário da realidade virtual no país. Segundo o executivo, espectador percebe um conteúdo mais verdadeiro. “Em vídeos 360º a complexidade aumenta. Não é possível esquecer e sumir as coisas. As câmeras deixam muitas marcas. Entregam mais verdade, pois mostram todos os lados” diz Rawlinson. Quando fomos ao escritório, localizado no CUBO, hub de startups patrocinado pelo Itaú e pela Redpoint, tivemos a oportunidade de atravessarmos as torres gêmeas do World Trade Center em realidade virtual. Com computação gráfica visualizada com qualidade de 1k em cada olho, pudemos estar em contato com um dos dispositivos mais avançados do mundo. A Beenoculus desenvolveu o equipamento em parceria com uma


Realidade virtual startup chinesa, a qual Rawlison nos disse que é a terceira melhor do país, e é concorrente direto dos óculos desenvolvidos pela Oculus (RIFT) e HTC (VIVE). Nossa percepção foi unânime: “o mundo real é chato sem o óculos”. Com isso, pudemos perceber que a qualidade da imagem impacta de uma maneira extraordinária o conceito apresentado pelo conteúdo. Se todos os usuários pudessem estar em contato com o headset avançado da Beenoculus, talvez a qualidade do conteúdo pudesse ser percebida de uma maneira muito melhor pelo espectador.

Desafios

Para Tadeu Jungle a qualidade do conteúdo em realidade virtual, seja ele jornalístico ou não, depende não só da qualidade do equipamento, mas também da relevância do assunto. O cineasta explicou que não são todas as reportagens que “pedem” vídeos. Ele reconhece que há certos assuntos que são melhores em outros forma- Espaço onde realizamos a entrevista, na Folha de S. Paulo que estava desocupado por conta das demissões tos. “O jornalismo tem de usar toda a em massa. Créditos: Renan Reis Brenna tecnologia possível para sobreviver, ndependentemente de terem se sentados na TV Folha e em algumas mas cada caso é um caso”. Assim, os tornado mais acessíveis desde reportagens. Esse efeito se dá princijornalistas terão sempre de refletir suas invenções, os equipamentos palmente pelas empresas jornalístise o conteúdo que está em pauta é que envolvem realidade virtual cas procurarem se modernizar, plausível para narração em realidade (câmeras 360º e headsets) ainda de- porém, não vendo oportunidades virtual ou não. mandam um investimento significa- financeiras para isso. Tadeu Jungle tivo das empresas jornalísticas. Seja afirma que atualmente é difícil ter pela compra dos gadgets ou a partir um engajamento forte da liderança de parcerias, esta é uma questão ex- em “abraçar a causa” da tecnologia. tremamente delicada para os veícu- Isso, pois “o poder não tem interesse los, principalmente se considerar- imediato em fazer acontecer. O digimos o momento econômico atual tal ainda não paga as contas”. brasileiro. Rawlison Terrabuio reconhece que A Folha de S. Paulo é um exemplo do esta é uma tendência, principalmente efeito dominó que o jornalismo está se considerarmos os novos consumipresenciando. Mesmo com inúmeras dores de conteúdo. Os jovens, princicadeiras vazias por conta da série palmente os milennials e a “geração de demissões que retirou cerca de Z”, por serem nativos digitais, criam Com o processador embarcado no controle do 10% da redação, o veículo continua uma linguagem comunicacional que headset, o óculos não precisa ser plugado em um investindo, em proporções menores, pressupõe e prioriza em vídeo. computador ou smartphone para funcionar. Créditos: Renan Reis Brenna nos conteúdos audiovisuais, apre-

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Realidade virtual

Rawlinson Terrabuio testando o óculos de realidade virtual. Créditos: Renan Reis Brenna

Milennials x Geração Z Estamos em constante mudança. Cada geração possui características que definem os padrões de comportamento e consumo não só de produtos, mas também de informações. As tecnologias e suas disponibilidades na sociedade são um dos fatores que determinam esses comportamentos. Entenda melhor sobre os milennials e a geração Z e suas relações com as tecnologias:

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Ao mesmo tempo, é imprescindível considerar que há ainda uma geração que acredita fielmente no modelo tradicional de distribuição de conteúdo, que, segundo Rawlinson, “está fadado a morrer”. Tadeu também acredita que as empresas jornalísticas ainda estão “presas” a esse modelo e precisam aprender todas as formas de comunicação audiovisual se pretendem sobreviver. “O jornalis- Créditos: Renan Reis Brenna mo as vezes elege o inimigo errado. Para o jornalismo dito tradicional dar 2015, 48% da população brasileira certo é preciso se ligar à tecnologia, usa internet. tem de ser maleável”, afirma o cinApesar de o Brasil possuir mais de easta. 160 milhões de smartphones, a veÉ preciso pensar também em como o locidade da internet móvel no país conteúdo será consumido. Rawlinson é alvo de críticas. Ocupando o 57º Terrabuio reflete sobre a dificuldade lugar em um ranking global com 95 que a ausência de dispositivos de alta países, a média da internet móvel tecnologia pode causar no impacto brasileira nas redes 3G/4G é de 7,4 do consumo. Ele menciona que em megabits por segundo (Mbps), endiversos países o nível de maturação quanto a Coréia do Sul, que ocupa o de smartphones de qualidade é mui- primeiro lugar, tem uma velocidade to maior do que no Brasil. “O grande média de 41,3 Mbps.Ao mesmo temdesafio no Brasil quanto à tecnologia po, em 2014 a Anatel publicou uma é escalar isso para todos”, afirma o resolução (nº 574), a qual permite executivo. Além disso, é necessário que transmissão média contrataconsiderar a questão sobre internet da para download fosse de 80%. Ou seja, caso o usuário pague por no Brasil. um pacote de 10 Mbps, a empresa Segundo dados da pesquisa ICTFact telefônica precisaria garantir apenas Figures 2016, da União Internacional 8 Mbps. de Telecomunicações, a International Telecommunication Union (ITU), Esses dados mostram que, apesar 95% da população mundial vive em de o Brasil ter um número significaáreas com pelo menos a cobertura tivo de usuários, há uma dificuldade 2G (o estudo também contempla as quanto à velocidade. Imagine a secoberturas 3G e superiores ou iguais guinte situação: um leitor se interesà LTE), e 53% são usuários ativos sou pela oportunidade de consumir da internet. O Brasil foi o quinto país conteúdo por meio de realidade vircom a maior quantidade de usuários tual e decidiu instalar o aplicativo do da internet em 2016, atrás da China, Estado de S. Paulo ou da Folha de Estados Unidos, Índia e Japão, segun- S. Paulo. Ele deve acessar a loja do um estudo feito pelo Banco Mundi- virtual de seu sistema operacional al. Ao mesmo tempo, o país também (Apple Store para os usuários do iOS é o sétimo entre os países com maior ou Google Play para os usuários do número de desconectados. Segundo Android), buscar pelo nome do aplia Pesquisa Brasileira de Mídias de cativo e iniciar o download. Instalado


Realidade virtual no celular, e escolhido o vídeo que gostaria de assistir, deve fazer o download do vídeo para, assim, poder ter a experiência. Todo esse processo se torna praticamente inviável sem uma rede de internet wireless (Wi-Fi).

em outras áreas, é uma tendência que não deve ser ignorada. Segundo eles, não há retrocesso na introdução das câmeras 360º nas redações e que este é um caminho muito forte para o jornalismo. “Não é um gadget qualquer e não é passageiro. Veio e Ainda assim, Tadeu e Rawlinson ficará inexoravelmente”, afirma o acreditam que com o desenvolvi- cineasta. mento das redes e dos equipamentos, a utilização das câmeras 360º e as experiências em realidade virtual não só no jornalismo, mas também

Divulgação/Flickr/Freestocks

O grande desafio no Brasil quanto à tecnologia é escalar isso para todos

Rawlinson Terrabuio

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REALIDADE AUMENTADA

Créditos: OyundariZorigtbaatar - Own work, CC BY-SA 4.0


Jornalismo do século XXI

Pokémon GO

REALIDADE AUMENTADA

O jogo para smartphones Pokémon Go espalhou as criaturas, primeiro, por cidades da Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. Causaram um verdadeiro frenesi nas populações locais, que, de celulares em punho, imediatamente se puseram a caçá-los por todos os lados. Aos poucos, a investida foi se estendendo a outros países. Até que, no começo de agosto de 2016, as criaturinhas aportaram no Brasil, para delírio de muita gente por aqui também.

Passo a Passo Segundo o site TecMundo, o passo a passo para o funcionamento da realidade aumentada é bem simples. Confira: Três componentes básicos são necessários para a existência da realidade aumentada: 1. Objeto real com algum tipo de marca de referência, que possibilite a interpretação e criação do objeto virtual; 2. Câmera ou dispositivo capaz de transmitir a imagem do objeto real; 3. Software capaz de interpretar o sinal transmitido pela câmera ou dispositivo. O processo de formação do objeto virtual é o seguinte: 1. Coloca-se o objeto real em frente à câmera, para que ela capte a imagem e transmita ao equipamento que fará a interpretação. 2. A câmera “enxerga” o objeto e manda as imagens, em tempo real, para o software que gerará o objeto virtual. 3. O software já estará programado para retornar determinado objeto virtual, dependendo do objeto real que for mostrado à câmera. 4. O dispositivo de saída (que pode ser uma televisão ou monitor de computador) exibe o objeto virtual em sobreposição ao real, como se ambos fossem uma coisa só.

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Jogo Pokémon Go, da Niantic em funcionamento. Créditos: Unsplash/David Grandmougin

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postamos que você sabe o que é realidade aumentada. Temos certeza de que você já usou ou já esteve junto de alguém que estava usando um aplicativo que usa essa tecnologia. Em 2016, houve o fenômeno do Pokémon GO, um aplicativo para smartphones que utiliza a câmera do celular, em conjunto com o GPS e tecnologias como giroscópio e acelerômetro para colocar os monstrinhos mais famosos do mundo na palma da mão dos jogadores. O sucesso do jogo foi tão grande que a Niantic, desenvolvedora do game, anunciou que bateu a marca dos 30 milhões de jogadores simultâneos no mundo.

conceito de realidade aumentada (abreviada como RA ou AR, augmented reality, em inglês) nasceu com Ivan Sutherland e suas pesquisas que resultaram no HMD (head-mounted display). Em meados de 1970 um artista norte-americano desenvolveu um sistema que era capaz de captar movimentos, criando uma espécie de realidade virtual com a imagem. “Videoplace”, como foi chamado, foi desenvolvido por Myron Krueger, em 1975, e é considerado o primeiro passo da realidade aumentada. Assim como a RV, a RA sofreu diversas mudanças a partir de pesquisas e experimentos para chegar aos dias atuais.

Por definição, realidade aumentada Assim como a realidade virtual, o é uma tecnologia que permite a inte-


Realidade aumentada gração do mundo virtual com o real. Basicamente, um programa de computador lê um código 2D e executa uma ação, seja rodar um vídeo, exibir uma foto ou até abrir um website. Esta última parece simples, não é? Aposto que você pensou no QR Code, que vem sido utilizado neste livro como complemento de leitura. Esta é uma aplicação muito simplificada da realidade aumentada. O filme Minority Report - A Nova Lei (2002), dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Tom Cruise, já previa a utilização dessa e outras tecnologias para serviços públicos em 2002. Com a popularização dos smartphones e melhoria das capacidades de processamento de dados, placas gráficas e memórias de computadores e celulares, dia após dia a realidade aumentada está sendo estudada e aplicada por empresas de diversos segmentos.

A RA já é pauta faz muito tempo e está se tornando cada vez mais uma tendência tecnológica. O IDC (International Data Corporation), um dos maiores centros de estudo e análise de mercado especializado em tecnologia da informação e telecomunicações, apontou um crescimento possível de 130% nos investimentos em tecnologias de realidade aumentada e virtual, passando de US$ 6,1 bilhões em 2016 para uma expectativa de US$ 13,9 bilhões em 2017.De acordo com a Global Journey 2020, da Comunidade Científica da Atos, a realidade aumentada permitirá que novas ideias beneficiem muitos setores, como o de saúde, varejo e automobilístico, por exemplo.

Outras experiências Além de realidade virtual e realidade aumentada, há pesquisadores que mencionam outros três tipos de experiências: Realidade misturada (mixed reality), que, segundo Kirner, é a sobreposição de objetos virtuais gerados por computador com o ambiente físico, mostrada ao usuário, em tempo real,com o apoio de algum dispositivo tecnológico. Virtualidade aumentada (augmented virtuality), que é a inserção de representações de elementos reais no mundo virtual, usando a interface que permite ao usuário interagir com o ambiente virtual. Hiper-realidade (hyperreality), que é a capacidade tecnológica de combinar realidade virtual, realidade física, inteligência artificial e inteligência humana, integrando-as de forma natural para acesso do usuário.

Cena do filme Minority Report - A Nova Lei (2002). O detetive John Anderton (Tom Cruise) mexe na interface de vídeo utilizando as mãos como controle. Créditos: Reprodução/Copyright Dreamworks LLC and Twentieth Century Fox Film Corporation

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Realidade aumentada

Exemplos de aplicações em realidade aumentada

Uso de realidade aumentada no One World Observatory, em Nova Iorque. Créditos: Marco Verch - Augmented Reality Tour on observatory of World Trade Center, CC BY 2.0

Jogos com RA Além de Pokémon Go, muitos outros jogos que usam realidade aumentada estão fazendo sucesso. A Niantic, responsável pelo desenvolvimento do Pokémon Go também lançou o Ingress, que insere o jogador em uma luta por territórios com trabalho em equipe. O usuário deve escolher se juntar aos Iluminados ou à Resistência e devem encontrar objetos espalhados pela cidade. Com uma temática de terror, Zombies, Run! coloca o usuário em um mundo apocalíptico zumbi, que deve fugir dos mortos-vivos que se aproximam. Geocatching é jogo para smartphones que ultrapassa a barreira da RA. Em um formato de caça ao tesouro, o aplicativo permite que os jogadores busquem “geocaches”, cofres com objetos deixados por outros usuários. Confira outros jogos: ParallelKingdom, SpecTrek, ClandestineAnomaly e Table Zombies.

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Na Europa, o Museu de Mataró, em Barcelona (Espanha) também aderiu ao recurso da realidade aumentada para atrair e gerar conhecimento para turistas domundo todo. Créditos: Kippelboy - Own work, CC BY-SA 3.0

M

sível somente com a câmera em posição de “selfie” (virada para o usuário). Aliás, a maior parte das experiências em RA se dão com a utilização da câmera traseira. Tivemos a oportunidade de testarmos uma aplicação da realidade aumentada durante as férias. Visitamos o One World Observatory, em Nova Iorque, observatório localizado no complexo original do World Trade Center, que foi destruído durante os ataques de 11 de setembro de 2001. O local permite que os visitantes aluguem um iPad por 15 dólares e tenham uma experiência com realidade aumentada. Pelo aplicativo é possível A realidade aumentada não é pos- visualizar como era o complexo anuitas vezes usamos realidade aumentada e não percebemos. O Snapchat, rede social voltada para compartilhamento de imagens e vídeos por meio de smartphones, lançou, no fim de abril, o World Lenses, recurso que permite adicionar elementos de RA. Ao ligar a câmera no aplicativo, o usuário pode selecionar elementose colocá-los sobre os conteúdos, que podem ser alterados nas telas dos smartphones. Pouco tempo depois, o Facebook também lançou um recurso semelhante, o Camera Effects, na aba “stories”.


Realidade aumentada tes dos ataques. O usuário aponta a câmera do aparelho e prédios aparecem na tela, como se estivessem na vida real. Além disso, o aplicativo também exibe informações sobre os marcos da cidade ao se apontar o aparelho para diferentes pontos da cidade. Se a experiência de estar no complexo em si já é de tirar o fôlego, a realidade aumentada faz com que seja ainda mais incrível. Além disso, há uma tendência exponencial no uso de RA em museus. Um dos exemplos mais recentes é o projeto Chicago 00, uma parceria entre o Museu de História de Chicago (Illinois, Estados Unidos) e o cineasta Geoffrey Alan Rhodes. O aplicativo, resultado da parceria, permite que o usuário faça um tour pelo ambiente com a experiência em RA. O Museu de História Natural Smithsonian, em Washington D.C. (Estados Unidos) também foi um dos institutos que criou um aplicativo próprio para esses tipos de experiências. “Skin and bones”, como é chamado, é um recurso que permite a visualização em 3D a partir de ossos. Assim como no One World Observatory, o usuário aponta a câmera para a exibição (ossos de peixes já extintos, por exemplo), e, na tela, é possível visualizar como seria o peixe na realidade.

Ex-presidente dos EUA, Barack Obama, em contato com RA em uma apresentação da YSEALI, no Vietnã, em 2016. Créditos: Divulgação/Official White House/ Pete Souza

Realidade aumentada no mercado jornalístico norte-americano camente relevante, o jornal britânico The Guardian fez uma breve análise, dizendo: “a coisa toda era um tipo de truque de RP (relações públicas), e ninguém precisava daquilo”.

Capa da revista Esquire, que permitia o leitor ter a experiência em RA. Créditos: Reprodução

O

uso de realidade aumentada não se dá somente para o entretenimento ou para educação. Apesar de não remanescentemente, a tecnologia também já está sendo utilizada no jornalismo. A revista masculina norte-americana Esquire foi uma das primeiras a implantar RA no jornalismo. Em 2009, a revista inseriu um QR code logo na capa, que direcionava o espectador para um vídeo com o ator Robert Downey Jr. O leitor teria de fazer o download de um programa em seu computador para que pudesse, então, fazer a leitura do código a partir da webcam. Por não conter nenhum conteúdo jornalisti-

Alguns anos depois, em 2014, o Wall Street Journal também decidiu se arriscar e introduzir em uma edição do jornal uma resenha sobre uma impressora 3D em uma experiência com realidade aumentada. No início de 2017 o jornal The New York Times, em parceria com a IBM, lançou um aplicativo de RA com base no filme Estrelas Além do Tempo, que conta a história de matemáticas que contribuíram significantemente durante os primeiros anos de criação da NASA. Chamado “Outthink Hidden”, o aplicativo tem como principal objetivo promover doutores, engenheiros, cientistas e outras figuras “encondidas” (o nome do aplicativo brinca com o título do filme em inglês, que se chama Hidden Figures, ou, em uma tradução literal, “figuras escondidas”). Apesar de ainda muito recente e principiante, a realidade aumentada já é vista por muitos centros de pesquisa em jornalismo como uma tendência.

Créditos: Flickr/Wikitude

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Realidade aumentada

Exemplos de aplicações em realidade aumentada

Alexandre Salvador

Alexandre Salvador é um jornalista formado pela Faculdade Casper Libero (2005-2008). Trabalha na Editora Abril desde 2006, quando começou como estagiário. Foi freelance da Guia Quatro Rodas em 2009 e, no mesmo ano, se tornou repórter para a editora, até 2013. Desde 2013 é o editor da revista Veja, responsável principalmente pela versão digital da publicação. Créditos: Renan Reis Brenna

Redação da Veja no fim do experiente. Créditos: Renan Reis Brenna

O que acontece aqui na Abril é que a própria dinâmica das redações e das matérias impede a gente de fazer coisas mais elaboradas que, por sua vez, gerariam maior interesse

Alexandre Salvador

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A

sempre oferecer serviços exclusivos que façam com que a assinatura da versão digital das revistas realmente valha a pena. O grande diferencial que pautou o lançamento da revista Veja digital foi a velocidade. “Hoje, quem assina a versão digital das nossas revistas, têm acesso antecipado a todo o conteúdo. A Veja, por exemplo, é disponibilizada digitalmente para os nossos assinantes por volta da 1h da manhã de sábado, enquanto Toda essa onda de inovação tem um o assinante da versão impressa vai motivo. Alexandre Salvador nos con- receber na sua casa por volta das 11h tou que o Grupo Abril possui uma da manhã”, ilustrou. grande parcela de assinantes que migraram do papel para o digital ou que Mas apenas oferecer comodidade e assinam os dois. Por isso, precisam conteúdo antecipado não era o surevista Veja foi a primeira grande publicação brasileira a ter uma versão digital. Alexandre Salvador, editor da Veja, conta que eles foram a primeira revista a abrir uma redação especializada em conteúdo digital. “Eles pegavam o conteúdo que era produzido para a revista impressa toda semana e readaptavam para o online”, contou Salvador.


Realidade aumentada ficiente. Em meados de 2016 a Veja começou a receber uma demanda muito grande de criação de novos conteúdos digitais e mais sinergia entre o papel e o online. Era preciso oferecer produtos diferenciados e aplicar tecnologias inovadoras para que o assinante continuasse satisfeito em pagar pelo conteúdo oferecido.

uma disponível no mercado. Foi o que fizemos”, contou Schultz. A parceria fechada com a Blippar foi uma aposta. “Negociamos com eles e chegamos a um resultado interessante. Pagamos para eles na medida que criamos páginas com conteúdo em realidade aumentada. Quanto mais páginas cadastradas, maior o valor investido”, completou.

Para saber mais sobre a utilização dessas novas tecnologias nas revistas, e principalmente, entender a utilização da realidade aumentada nos produtos da casa, conversamos com Ricardo Schultz, IT Manager do Grupo Abril. Ele nos contou que a Veja foi a primeira revista da editora a utilizar essa inovação, mas que em junho de 2016, a Abril decidiu utilizar esse mesmo formato para todos os produtos.

Foi assim que surgiu o Mobile View, nome dado ao conteúdo em realidade aumentada do Grupo Abril. Com a explicação de Schultz o produto parece simples, mas essa é a única palavra que nunca acompanha o desenvolvimento de uma nova tecnologia. “O aplicativo reconhece uma página impressa da revista e dispara uma ação de realidade aumentada a partir disso”, explicou o profissional. Mas, como eu disse, nada é simples. São necessários meses de planejamento, criação de conteúdo e integração do impresso com o digital, tempo que acaba muitas vezes inviabilizando a produção de novos conteúdos.

Mesmo tomando a decisão de inovar e começar a produzir conteúdo em realidade aumentada, o Grupo Abril foi muito cauteloso no início. Ricardo nos contou que eles decidiram utilizar uma tecnologia já existente no mercado, chamada Blippar. “Quando você quer aplicar uma nova tecnologia nos seus produtos você tem duas opções: ou você desenvolve por conta própria ou então decide por utilizar

Alexandre Salvador falou sobre a importância da tecnologia no jornalismo. Créditos: Renan Reis Brenna

Sobre a criação do Mobile View, Alexandre Salvador nos contou que toda inovação aplicada nos produtos da Editora Abril parte do ideal de não privar nenhum tipo de consumidor. De acordo com o jornalista, o Mobile View surgiu também baseado nesse pensamento. Principalmente no momento atual do jornalismo, no qual uma quantidade cada vez menor de profissionais é desafiada a produzir reportagens em intervalos de tempo muito curtos, é muito difícil desenvolver e aplicar novas tecnologias. “O que acontece aqui na Abril é que a própria dinâmica das redações e das matérias impede a gente de fazer coisas mais elaboradas que, por sua vez, gerariam maior interesse”, explicou Schultz. Ele ain-

Ricardo Schultz

Ricardo Schultz é um administrador formado pela Universidade Anhembi Morumbi (2005-2008). Fez MBA em administração e manejamento de tecnologia da computação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) (2012-2014). Foi analista de rede na Abril entre 2000 e 2002. Trabalhou na Siemens, onde foi realizou várias funções na áreade TI(2002-2007), e na Hewlett Packard Enterprise, como engenheiro de redes e especialista em infraestrutura (2007-2009). Em 2009, voltou para a Abril como arquiteto e consultor em telecomunicações até 2012. Tornou-se gerente de TI em processos em 2012. Atualmente é gerente de TI e chefe em mídias digitais. Créditos: Renan Reis Brenna

Blippar A Blippar é uma empresa Londrina especializada em realidade aumentada e inteligência artificial criada em 2011 pelo indiano Ambarich Mitra. A empresa que começou como uma pequena startup de tecnologia conta com mais de 11 escritórios espalhados pelo mundo e emprega mais de 250 pessoas.

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Realidade aumentada da nos contou que é impossível fazer algo tão complexo seguindo a lógica de produção de revistas como a Veja, que define a pauta na segunda, entrega o texto na quarta para ser editado e sexta-feira está diagramado na revista.

Créditos: Renan Reis Brenna

Alexandre Maron

Alexandre Maron é um Jornalista formado pela UFRJ (2014) que antes fez tecnologia da computação na PUC-RJ (1990). Já fez curso de mídia na Universidade de Westminster na Inglaterra (2008-2009), curso de estratégias em publicação de revistas na universidade de Yale nos Estados Unidos (2013) e storytelling na Universidade da Califórnia(2014). Começou sua carreira como editor sênior na revista NET TV da Editora Globo (2000-2002). E depois disso nunca mais saiu da editora, se tornou editor chefe da Revista Monet (2002-2007) e mais tarde assumindo o cargo de diretor (2007). Seguiu para ser diretor da ÉPOCA-SP (2007-2008). Em 2009 conquistou o cargo de Diretor de Projetos Online da Editora Globo, até 2011 quando assumiu a função de Diretor de Entretenimento Digital e Inovação, que hoje compartilha com seu cargo de chefe de funções digitais da Infoglobo. Créditos: Rafael Bugni Costa

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Quando perguntado sobre o retorno dos usuários quanto à utilização do Mobile View, Schultz não precisou pensar duas vezes para afirmar que foi um sucesso. “As primeiras edições bombaram. Tivemos um retorno muito alto graças aos early adopters e depois tivemos um período de acomodação, como qualquer tecnologia”, contou. Ele ainda nos disse que a revista Capricho é o maior case de sucesso da Blippar no mundo. “A Blippar trabalha com empresas como Pepsi, Unilever, Nestlé, Heinz e Coca-Cola mas o case de maior sucesso da plataforma foi com a Capricho. É o público que mais usa smartphone e que curte muito as novidades de aplicativos”, explicou Schultz.

Créditos: Rafael Bugni Costa

co tradicional, mas que também se tornem atrativas para os novos consumidores. “As empresas que não se reinventarem ou modernizarem rápido vão acabar. Elas precisam compreender e se adaptar a um mercado no qual os hábitos são os mesmos, mas a forma de agir é outra”, explicou Maron. “As pessoas continuam lendo notícia, mas agora fazem isso pelo smartphone. Ainda compram e consomem livros, mas fazem isso A realidade aumentada abre muitas pelo Kindle”, exemplificou. portas e proporciona uma infinidade de inovações, tanto para o jornalis- Assim como a televisão não matou mo quanto para publicidade. O Grupo o rádio e nem esse acabou com o Abril fez uma parceria com o Itaú e impresso, a internet e o mundo digenviou um óculos de realidade virtual ital não serão capazes, por si só, de para 10 mil assinantes em setembro acabarem com nenhuma forma ande 2016. A iniciativa incluía, além do terior de notícias. O que acontece é envio desses produtos, matérias es- que novas tecnologias chegam e se peciais com conteúdo em realidade tornam mais relevantes para os noaumentada, vídeos 360º e um filme vos consumidores. Ricardo Schultz especial para a ação. “A tecnologia acredita que as empresas, principalestá lá para ser usada. Só precisa de mente no setor de mídia, precisam tempo e estudo para aplicar”, con- estar presentes onde o público está. cluiu Schultz. “Se o consumidor quiser te ler na edição impressa, você tem que estar Toda a iniciativa digital do Grupo Abril lá, quer te ler no site, tenha um site, está de acordo com a fala de Alex- seu público gosta de apps, esteja lá. andre Maron, Chief Digital Officer da Amanhã vai surgir uma nova rede Infoglobo. Segundo ele, as empresas social e você também vai ter que esprecisam se modernizar para que tar lá ou você vai começar a decair”, continuem relevantes para o públi- contou.


Realidade aumentada

Cena do episódio Mistery vs. History, da série How I Met Your Mother (2005), que faz uma crítica ao quanto as pessoas dependem das redes sociais e das informações disponíveis na internet para se conhecer uma pessoa, isso é mostrado ao deixá-las tão visíveis quando o rosto de cada um. Crédito: Reprodução

Uso e técnicas de realidade aumentada

O

Grupo Abril está investindo muito em novos produtos e tecnologias. Em outubro de 2016 lançou o Go Read, a maior plataforma de revistas digitais do Brasil, que reúne mais de 140 títulos da Abril e também de outras editoras. Lançou também o Go Box – concorrente das já conhecidas NerdLoot e Omelete Box – produto no qual você assina um tema e recebe mensalmente produtos relacionados a ele em sua casa.

o uso de novas tecnologias permite aos jornalistas a criação de reportagens com maior qualidade? Alexandre Salvador, mesmo em dúvida, acredita que não. “O relato em texto é possível, no entanto, para atingir outros públicos o jornalista precisará produzir conteúdo também em outras plataformas”, apontou. Mas, essa foi uma pergunta que o deixou em dúvida.

O uso das tecnologias no jornalismo permite contar histórias com uma Tecnologia entra e sai. Novos produ- roupagem diferente, mas sem deixar tos são criados e outros são descon- de contá-las. Alexandre nos citou um tinuados dia após dia. Mas será que exemplo no qual trabalhou: o des-

dobramento da tragédia de Mariana depois de um ano do rompimento da barragem da empresa Samarco. Segundo Alexandre, além do texto

Redação da Veja. Créditos: Renan Reis Brenna

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Realidade aumentada escritor de livros, é conseguir fazer com que o leitor se sinta no local do acontecimento. “Principalmente quando você vai até um lugar distante ou de difícil acesso, seu maior objetivo é transportar a pessoa para aquele lugar. Você pode fazer isso com texto, a literatura está aí para provar isso, mas um vídeo te oferece a mesma coisa, no entanto de uma forma mais fácil e rápida e, talvez por isso, é a linguagem que os jovens consumidores de conteúdo preferem. Para esses caras é melhor, mas para outros mais tradicionalistas, não. Ainda é o papel”, explicou Salvador.

Créditos: Renan Reis Brenna

da reportagem, foi criado um hotsite contendo conteúdo em diversos formatos, principalmente galeria de fotos e vídeos 360º.

O relato em texto é possível, no entanto, para atingir outros públicos o jornalista precisará produzir conteúdo em outras plataformas

Alexandre Salvador 68

“Entrevistamos uma pessoa que perdeu tudo. Levamos ela para as ruínas da casa em que morava e, na medida em que caminhávamos, ela ia contando como era o dia a dia e lembrando das pessoas que moravam por ali enquanto passávamos em frente aos escombros. Ela ia falando ‘Ali morava o fulano, dono da venda, aqui morava a fulana, que perdeu o marido na tragédia’ e você ia acompanhando com o olhar o relato dessa pessoa. Na minha opinião, é muito mais rico você ver com seus próprios olhos essa informação do que um relato em texto. Agora, se é uma reportagem de melhor qualidade, eu não sei te dizer. Para mim, as duas formas são válidas”, contou Salvador. Uma das prerrogativas básicas do trabalho do repórter, assim como do

Na minha opinião, é muito mais rico você ver com seus próprios olhos essa informação do que um relato em texto

Alexandre Salvador


Realidade aumentada

Desafios

P

ara entendermos um pouco mais sobre a parte técnica do negócio, fomos até o bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, falar com o Rawlinson Terrabuio, co-fundador e diretor de marketing da Beenoculus, uma das maiores empresas de realidade virtual e aumentada do Brasil.

que as empresas vão enfrentar barreiras com câmeras de determinados smartphones de qualidade inferior e afirmou que a utilidade maior, por enquanto, é no marketing. A realidade aumentada ainda está se desenvolvendo. Algumas novidades foram apresentadas na conferência anual South by Southwest, que acontece em Austin, no Texas. Alexandre Maron, responsável pela inovação digital da Infoglobo, esteve lá e nos contou que já existem protótipos que são capazes de substituir televisões e computadores. Segundo ele, a tecnologia da realidade aumentada pode exibir, na parede da sua casa, um filme ou um vídeo. Nos contou ainda que ela já é capaz de mostrar as notícias mais recentes de um site ou te atualizar sobre o clima, sem precisar acessar um computador ou celular.

Em entrevista, Rawlinson afirmou que, por ser mais útil no dia a dia das pessoas, a realidade aumentada vai ter um mercado maior que da realidade virtual. “A realidade aumentada tem como maior objetivo trazer informações complementares que vão ajudar o usuário naquele momento. Ela tem a capacidade, inclusive de substituir os smartphones”, disse. “Eu estou no ponto de ônibus e no meu campo visual vai ter um contador que estará me mostrando em tempo real quanto falta para o meu ônibus chegar ou então, estou Mais envolvido com os aprimoracom fome e o software vai gerar um mentos da tecnologia, Rawlinson nos mapa interativo dos restaurantes mais próximos de mim”, exemplificou. As aplicações da realidade aumentada no jornalismo, como vemos hoje, ainda está muito longe da sua capacidade máxima. Segundo Rawlinson, o que a Abril e outras empresas de mídia estão fazendo são tentativas frustradas. “Quando você fala em usar smartphones para aplicar realidade aumentada na mídia impressa é complicado. As pessoas não entendem a conexão e você vai ter que ensinar o público a usar o aplicativo”, disse. Ele ainda completou dizendo

Rawlinson Terrabuio da Beenoculus. Créditos: Renan Reis Brenna

contou que o mais interessante da realidade aumentada se trata da realidade mediada. Segundo ele, esse é um conceito que mistura a realidade aumentada com a vida real. “Vocês estão sentados na minha frente e, em cima da mesa, está um caderninho. A partir da câmera de um smartphone acoplado no óculos eu consigo, além de ver vocês – o real –, um software exibe algumas anotações nesse caderninho, que só eu estou conseguindo ver”, ilustrou. A reportagem também tentou entrar em contato com a Editora Globo e verificar de que forma a tecnologia estava sendo usada nas publicações, mas não obteve retorno.

Cena do episódio Nosedive da série Black Mirror (2011). A sociedade e sua posição nela é ditada pela nota que cada um recebe pelas pessoas a sua volta. A nota e as informações de cada um são vistas ao simples olhar. Créditos: Reprodução/Netflix

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CONCLUSÃO Créditos: Unsplash/Matthew Guay


Jornalismo do século XXI

CONCLUSÃO

Rafael Sbarai

Rafael Sbarai é formado em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2004-2008). Mestre em Comunicação em Jornalismo Digital pela Faculdade Cásper Líbero (2008-2010), Rafael foi repórter pelo iG (2005-2008) e pela Veja da editora Abril (2008-2010). Atuou como professor por um breve período em 2015 pela Universidade Santo Amaro e também como professor de Mídias Digitais e Jornalismo pelo Mackenzie (2015). Foi CreativeProduct Sr. no GloboEsporte. com entre 2014 e 2016, e atualmente é ProductExecutive Supervisor. Também atualmente é dono do site De Repente, e professor da FAAP, desde 2012.

Redação do globoesporte.com Créditos: Renan Reis Brenna

Créditos: Renan Reis Brenna

E Créditos: Hector Martinez-unsplash

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stamos no olho do furacão. Novas tecnologias surgem e, a cada inovação, uma nova preocupação. Assim como os operários de fábrica questionavam se algum dia as máquinas iriam substitui-los no período das Revoluções Industriais, os jornalistas atualmente refletem sobre o seu papel, em meio às mudanças tecnológicas. Em tempos em que todos têm acesso à internet e podem produzir informações, a figura do jornalista é cada vez mais questionada. Não é novidade que o jornalismo (não só brasileiro, mas mundialmente)

passa por uma crise. Cada vez mais vemos a distância entre o jornalismo moderno e o jornalismo tradicional aumentar. Essa incerteza sobre a área e sobre a profissão se dá fundamentalmente por conta das mudanças tecnológicas, que, mais uma vez, foram responsáveis por alterar hábitos de consumo de informação e também a maneira como o conteúdo é produzido. Durante meses, nos dedicamos a entender de que maneira essa mudança tecnológica estão afetando o trabalho dos jornalistas. Após conversar com grandes veículos de comunicação e profissionais


Conclusão da área, pudemos perceber que o projetos que Rafael acredita ter tido jornalismo do século XXI pode gerar impacto direto foi o das Olimpíadas, o qual utilizaram filtros do TweetDeck discussões muito complexas. para encontrar, apurar e publicar Para Rafael Sbarai, Product Exec- informações. Apesar de haver uma utive Supervisor do Globoesporte. equipe com 20 pessoas responsáveis com, responsável por desenvolver por realizar atividades, como monie executar projetos comerciais e de toramentos de plataforma de redes inovação, é de extrema importância sociais e acompanhamento de jogos que haja uma sintonia entre o jornal- em tempo real, o trabalho ainda era ismo e as inovações. “Tenho a opinião abundante. Assim, com o TweetDeck, de que toda empresa de mídia tem o tempo de trabalho da equipe foi também que ser uma empresa de otimizado, uma vez que não havia tecnologia, até porque [as empresas muito tempo para apurar os aconde mídia] usam e abusam de alguns tecimentos pelo excesso de inforrecursos tecnológicos para mel- mações. horarem a informação e entregarem a melhor informação para o leitor”, Além disso, o Globoesporte.com vem diz Rafael, que também é jornalista. apostando em jornalismo de dados, como por exemplo a plataforma criSegundo o jornalista, o portal leva ada para a demonstração de renda e muito em consideração as novas tec- público, organizados por clubes de nologias e, por conta das mudanças, futebol. Outro projeto desenvolvido tem um forte interesse em utiliza-las por eles foi feito em parceria com o no dia a dia da redação. Ele nos con- Facebook e consistia em um mapa tou que participou de projetos que as de curtidas, no qual eram organizarelacionam com a otimização do tra- das todas as curtidas de times no balho dos jornalistas para produção Brasil e, usando a geolocalização dos e distribuição de conteúdo. Um dos dados,determinavam onde haviam o

Créditos: Chris Leggat-unsplash

maior número de torcedores de um determinado time. Apesar de perceber uma reação positiva dos leitores quanto ao jornalismo de dados, Rafael pede atenção para as outras tecnologias. Segundo ele, a maneira como o conteúdo será consumido ainda é um problema. “Temos que amadurecer o mercado e as tecnologias. Todo o processo depende de infraestrutura, o que é relativamente precária no país”. O jornalista reconhece que já amadurecemos muito quanto às redes moveis, mas ainda é uma questão prejudicante. Assim, é importante lembrar que, além de serem instituições jornalísticas, as empresas de mídia também são entidades capitalistas, que também visam ao lucro. Portanto, é compreensível que tenham cautela quanto ao investimento em novas tecnologias. Isso, pois, se precipitarem ao adquirir equipamentos que não trarão benefícios nem para a produção, nem para a distribuição de conteúdo, podem desperdiçar capital – o que em um momento de crise econômica, é inaceitável. Segundo Rafael, essa cautela é inevitável. O jornalista nos contou que tem olhado algumas tecnologias com muito cuidado, sempre refletindo sobre o retorno que trará, tanto para a empresa quanto para o leitor. “Acho que o impacto que a tecnologia tem sob o jornalismo é importante. Afinal, toda vez que há uma nova tecnologia, o jornalismo tenta se apropriar. Entretanto, precisamos entender o custo que demandarão e o valor que essas novas tecnologias trarão para o consumidor final”. Diferentemente do que pode se pensar, a introdução de equipamentos, como câmeras 360º, por exemplo, não é fácil. Segundo Rafael, o processo é integralmente pensado. É consider-

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Conclusão

Daniel Tozzi

Daniel Tozzi é formado em Jornalismo pela PUC-SP (1997-2001), onde também fez pós-graduação em Jornalismo Internacional. Sua área principal de atuação é a comunicação digital. Foi editor na Abril Digital entre 2008 e 2009. Depois, começou a trabalhar na iG - Internet Group do Brasil S/A, como Editor Executivo. Desde 2012 é editor no UOL, o maior portal de notícias do Brasil. É responsável pelo UOL TAB. Créditos: Renan Reis Brenna

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ado se o leitor terá um equipamento com tecnologia equivalente à aquela que o conteúdo será apresentado, em quanto tempo e para quem será produzido, entre inúmeras questões. “Em tempos de crise do jornalismo, é muito difícil começar a pensar em estruturas que demandem um custo muito alto e tenham pouco retorno”, complementa o jornalista. Daniel Tozzi, editor do UOL Tab, faz uma analogia das tecnologias atuais com àquelas trazidas na virada do século. Assim como os primeiros mobiles causaram a primeira explosão tecnológica, os bancos de dados, a inteligência artificial, a realidade virtual e a realidade aumentada estão causando grandes mudanças, tanto no consumo de informações quanto na produção delas. Assim como Rafael, Daniel chama atenção para a cautela com a introdução dos equipamentos nas redações. “Você não precisa efetivamente operar o

equipamento, mas é preciso entender a filosofia da tecnologia, como e por que será usada. O grande desafio é colocar essas tecnologias de maneira com que contribuam enquanto informação. Como fazer isso em uma escala industrial?”. O jornalista não acredita que as tecnologias serão a salvação para o modelo de negócios do jornalismo. Segundo ele, é preciso investir em capacitação de equipe e criação de núcleos de tecnologia, mas, sobretudo, investimento em inovação. Para Daniel, essas tecnologias que mencionamos no livro são equipamentos que podem auxiliar o trabalho do jornalista e podem agregar um valor ao leitor. Entretanto, novos equipamentos virão. Assim, é mais interessante investir em inovações.

Créditos: Renan Reis Brenna


Conclusão

Habilidades

D

e fato, essas tecnologias exigiram novas habilidades jornalísticas. Após as conversas com os veículos de comunicação e profissionais, pudemos perceber que é evidenteuma adaptação dos jornalistas. É exigido, sobretudo, que estejam ligados às inovações tecnológicas, procurando entender e conhecer os equipamentos que podem otimizar ou complementar o trabalho. Assim, as novas habilidades exigidas por bancos de dados, inteligência artificial, realidade virtual e realidade aumentada, respectivamente, que percebemos foram:

Banco de dados e jornalismo de dados

Realidade virtual

- Pensamento crítico e estatístico

- Maior noção de apresentação de

- Percepção global sobre um prob-

conteúdo

lema

- Manuseio de câmera 360º

- Predisposição para números e ta-

- Maior noção de edição de vídeos

belas com dados

- Pensamento sobre pautas que

- Perceber novas formas de apre-

possam ser aplicadas à realidade

sentação

virtual - Pensamento artístico e narrativo

Inteligência artificial

Realidade aumentada

- Noções de programação

- Maior noção de apresentação de

- Pensamento crítico sobre filtros

conteúdo

aplicados

- Pensamento sobre pautas que

-

Maior

aprofundamento

matérias não “automatizadas”

das

possam ser aplicadas à realidade virtual - Maior conhecimento geral - Noções de programação

Créditos: Simson Petrol-unsplash

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Conclusão

O jornalista multitarefa

No momento brasileiro atual, dificilmente um veículo de comunicação conseguirá manter grandes equipes, com profissionais responsáveis por uma atividade em específico. Por outro lado, essa discussão também esbarra no argumento sobre qualidade do material produzido. Isso, pois, quando é atribuído ao repórter que pense sobre outras coisas além da produção da matéria, é também adquirida mais uma preocupação. Assim, cabe às empresas jornalísticas pesarem as seguintes questões: por conta da crise econômica, farei com que os meus jornalistas façam trabalhos além de suas funções, comprometendo a qualidade das reportagens (e, consequentemente, podendo afetar o consumo delas) ou diminuo minhas margens de lucro para continuar investindo em inovação e nos profissionais? O dilema é, com certeza, desafiador.

E agora?

Redação Jornal Hoje. Créditos: Renan Reis Brenna

H

oje não basta mais o jornalista saber apenas como apurar, escrevere editar bem. O faro jornalístico precisa estar ainda mais aguçado. Podemos fazer uma analogia à realidade virtual e dizer que o jornalista do século XXI precisa ser um profissional 360º. Este precisa ver, entender e buscar todos os lados. Lados que não envolvem somente pontos de vistas, mas também diferentes formas de entrega. Quando o repórter identifica uma boa matéria, por exemplo, é exigido dele que também reflita sobre a melhor forma de apresentar o conteúdo

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para o leitor. É em realidade virtual? É em forma de infográfico? Isso deve ser visto, junto ao editor, como uma forma de modernizar a distribuição. De fato, há uma discussão que circunda este aspecto. Há quem questione se é uma das funções do repórter pensar na apresentação do conteúdo. Muitos jornalistas e meios de comunicação acreditam que não cabe a ele essa atividade. Ao mesmo tempo, é preciso pensar se é viável economicamente manter a figura de pelo menos quatro profissionais (pauteiro, repórter, fotógrafo, editor)?

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ão podemos negar que estamos vivendo um momento de apreensão. Nós, jornalistas, nos questionamos o tempo todo se a nossa profissão se manterá, e o que devemos fazer para não ficarmos para trás. Precisamos nos modernizar e abraçar a ideia de introduzir novas tecnologias nas redações. O jornalismo está em constante transição e a única maneira de não sermos levados para o fundo do mar é nadar contra a corrente.


CrĂŠditos: Unsplash/Florian Klauer


Jornalismo do sĂŠculo XXI

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AGRADECIMENTOS

Este livro não seria possível sem a ajuda dos nossos professores, que nos ajudaram a encontrar as fontes presentes nas reportagens e nos guiaram durante todo o processo de produção desse projeto. Ao Leão Serva, Paulo Ranieri, Maria Elisabete Antonioli, Ricardo Fotios, Egle Spinelli, Jorge Tarquini, André Deak e à Veronica Goyzueta, nossos sinceros agradecimentos. Ao nosso orientador, Edson Capoano, por ter sido nosso companheiro, conselheiro e figura inspiradora durante o curso todo. Obrigado por ter nos instruído e ter acreditado em nós. Ao Ygor Vaccarelli, por ter diagramado este livro de uma forma tão maravilhosa. Você tem um talento incrível. Obrigado por ter passado inúmeras noites sem dormir por nós. Daniel Bramatti, Rodrigo Burgarelli, Marcelo Soares, Fernando Rodrigues, Fábio Vasconcellos, Alexandre Maron, Telma Marotto, Daniel Tozzi, Tadeu Jungle, Ricardo Schultz, Rafael Sbarai, Alexandre Salvador, Joana Cunha, Marco Tulio Pires e Rawlinson Terrabuio, não temos palavras para agradecer tudo o que fizeram por nós. Vocês abriram suas portas, reservaram algumas horas de suas agendas cheias para conversar conosco e contribuíram de uma forma indescritível para a nossa reflexão sobre esse cenário incerto e, ao mesmo tempo, cativante, que o jornalismo passa. Todos os jornalistas e profissionais que nos ajudaram: Felipe Cabral (Serenata de Amor), Jéssica Temporal (Serenata de Amor), Suzana Singer (Folha de S. Paulo), Marta Gleich (Zero Hora), Cristiano Duarte (Zero Hora), Lucia Castro (O Tempo), José Roberto de Toledo, Gustavo Brigatto (Valor Econômico), Livia Machado (G1), João Paulo Charleaux (Nexo), Fábio Sales (Estado de S. Paulo), Cândido Henrique (O Tempo), Dárcio Oliveira (Época), Silvia Balieiro (Ed. Globo), Maurício Savarese (Associated Press), Bruno Belardo (BuzzFeed), Letícia Quatel (Yahoo!), Reinaldo Chaves e Guilherme Tagiaroli (Gizmodo), obrigado! Nossos familiares, por terem nos escutado dizer incessantemente que não conseguiríamos fazer este livro e que nunca nos formaríamos. Obrigado principalmente por terem nos apoiado e incentivado, mesmo nos momentos mais difíceis. Sabemos que nos tornamos insuportáveis neste último ano. Um agradecimento mais do que especial para Daisa, Helcio, Maisa, Luiz Antônio, Rosana e Ridnei: não poderíamos ter pais melhores do que vocês. Obrigada a todos que nos apoiaram a escolher e continuar cursando jornalismo. Nunca poderíamos nos esquecer de todos que, mesmo neste cenário caótico, ainda depositam suas esperanças na profissão.

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