Revista Cegueira

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Cegu e i r a nº 1, ano 1 - dezembro de 2014 www.cegueira.com.br

Arthur Moreira Lima

Um Piano Viajante

O artista que conheceu os palcos mais famosos do mundo, mas escolheu as praças Fotografia O momento em que a realidade tem de ser congelada Pág. 3

Teatro O Oriente invade a universidade em semana acadêmica Pág. 7

Literatura Adélia Prado, a poesia do cotidiano Pág. 6

Cinema A história de quem se dedica ao sonho de viver do que ama Pág. 4


Editorial É com muita alegria que publicamos a nossa primeira edição! Em 1969, surgiu em São Paulo a revista VISÂO e em sua primeira matéria de capa uma crítica ferrenha a momento “cego” da nossa cultura, que na época sofria com a censura da Ditadura Militar. A revista CEGUE I R A surge como uma esperança de se ver discutida a nossa tão rica cultura nos seus diversos ramos, hoje abandonada por interesses comerciais que se colocam acima de qualquer coisa. Te convidamos para a leitura!

Equipe Camilla Silva Jederson Rosa Lívia Gallo Rafaella Vieira Sarah Rodrigues

Na revista

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Pág. 3

Pág. 6

Fotografia

Literatura

O Instante Decisivo O click que eterniza um momento deve ser espontâneo ou pode ser posado?

Pág. 4 Cinema

A Projeção do Sonho O artista deve trilhar o caminho da realização. Diego Alexandre conta a história em busca de se profissionalizar

Pág. 5 Música

Música “on the road” Arthur Moreira Lima, artista consagrado internacionalmente, trocou os palcos pela rua

De Cada Dia A escritora de mineira Adélia Prado conta o cotidiano, a feminilidade e a reliogisidade em seus livros

Pág. 7 Teatro

O Japão Que Habita A turma de teatro da UFSJ realizou semana acadêmica promovendo a cultura oriental

Contato Endereço Av. Tom Jobim, 4/4, Centro, Brasil contato@cegueira.com.br www.cegueira.com.br


Fotografia

O instante decisivo Rafaella Vieira rvieira@cegueira.com.br

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beleza da fotografia se encontra nos simpes detalhes, do melhor enquadramento e da técnica

bem feita. Assim, Henri Cartier Bresson inaugura a técnica do instante decisivo, onde em uma fração de segundo pode-se registrar de forma singular o que está ao seu redor, e que aos olhos comuns se passa desperceido.

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Mas a beleza da fotografia não se perde se ela for feita fora dos instantes decisivos. A fotografia posada mostra sua emoção e sua essência. A singularidade da fotografia e a técnica do fotógrafo mostra a beleza de qualquer instante.

Araci: quando abraço de mãe não cura Marlon de Paula

Parada Gay São João del-Rei 2014 Marlon de Paula


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Cinema

A projeção do sonho

O jovem que investe toda sua vontade para viver da 7ª arte ram menos de um mês, mas foi marcada pela convivência assídua entre a equipe. “Ficamos quase ligação recebida em confinados na fazenda que estáSetembro deste ano vamos hospedados, porque não pode ter sido a mais tinha nada por perto”, relembra. importante na vida do jovem la- Deste convívio, surgiu a amizade faietense, Diego Alexandre (24). com o ator Ney Latorraca que se Era Luis Carlos Lacerda, o Bigode, interessou pelo documentário convidando-o para ser o 2º as- gravado por Diego, “Só para lousistente de direção do seu novo cos”, que narra um pouco da vida longa, “Introdução à música do do cantor Wilson da Silva, conhesangue”, que seria gravado em cido como Ventania. “Um dia eu Cataguases. Fã do cineasta des- estava jantando e o Ney chegou de que assistira “Leia Diniz” anos perto de mim e pediu pra assistir atrás, os dois se conheceram em meu curta. Então ele veio super uma oficina ministrada pelo ci- interessado com a Bete Mendes e neasta no Mostra de cinema de assistiram. Acabou que a equipe Tiradentes em 2012 e se torna- toda assistiu. Todo mundo gosram amigos desde então. “Eu pro- tou- pelo menos falaram que gospus fazer um blog sobre a filmo- taram”, brinca. “Só para loucos” foi gravado grafia dele, e é um trabalho que eu faço até hoje. Então a gente durante três dias, em São Tomé sempre manteve contato, sempre das Letras. Diego Alexandre entrou em contato com o produtor conversando sobre filme”. As gravações do filme dura- do cantor quando descobriu que Jederson Rosa jrosa@cegueira.com.br

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Foto:Acervo Pessoal

No ar Diego com Ney Latorraca durante “Introdução à Música do Sangue”

ninguém nunca havia feito nenhum documentário sobre ele. “Ele disse que ia conversar com o Ventania e iria me dar o retorno. Então eu pensei: ‘esse cara nem vai ligar de novo!’. Só que uns dois dias depois ele me ligou falando que tinha muito interesse e perguntando quando podíamos ir”. Diego então apresentou a ideia para uma produtora para que eles pudessem ajudar com os equipamentos necessários. Eles marcaram a viagem e partiram para as gravações em abril de 2013.

“Se um dia eu concluir que não vai dar pra eu trabalhar com cinema, não vai ter sentido eu fazer mais nada” “Só para loucos” ainda não conseguiu emplacar em nenhum festival de cinema, mas Diego continua se dedicando à sétima arte. Recentemente ele criou o “Cinema de 5º”, um projeto que visa o cinema brasileiro toda quinta para dentro da faculdade onde estuda, na UFSJ. A ideia é futuramente poder trazer algum diretor para comentar. “Eu quero trazer o Bigode ano que vem pra exibir o ‘Leila Diniz’, completa”. Diego Alexandre descobriu na imersão na tela, sentado numa poltrona, seu maior prazer. A combinação entre imagens, sons e sentimentos, fez com que ele tivesse apenas uma certeza na vida: “se um dia eu concluir que não vai dar pra eu trabalhar com cinema, não vai ter sentido eu fazer mais nada”.


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Música

Música “on the road”

Arthur Moreira Lima e seu piano percorrem Estrada Real dois caminhões, uma van e um carro de passeio. “É um país em construção. A gente tem que dar a nosVocês costumam sem- sa contribuição. Já toquei para as pre ficar na janela?”, elites brasileiras, toquei muito até. perguntei. “Não, hoje Agora tenho que tocar para todo a gente vai ficar para ouvir a músi- mundo. É a valorização do que é ca”, respondeu um dos dois vigias nosso”, declarou, ao final do condo Museu Regional de São João certo, a grande estrela da noite. del-Rei, para onde o caminhão-pal- Arthur Moreira Lima é um co do projeto “Um Piano pela Es- dos mais importantes pianistas trada” estava estacionado. O som brasileiros, com carreira internaque eles ouviam vinha do piano de cional, mas decidiu se empenhar Arthur Moreira Lima que se apre- no projeto que, desde 2003, já vissentou na noite de 25 de outu- itou diversos municípios de todos bro, no Largo do Tamandaré. os estados brasileiros e do Distrito A caravana do pianista che- Federal. “É dar a essas pessoas a gou à cidade - a décima terceira do oportunidade de ver um concerto circuito ‘Um Piano pela Estrada Re- que elas, normalmente, não podeal’ - com uma equipe de 13 pessoas, riam assistir”, acrescentou. Camilla Silva csilva@cegueira.com.br

O Largo estava lotado. As trezentas cadeiras não foram suficientes para abrigar o público, que ficou em pé ou sentou pelas calçadas. Teve quem, certo da lotação do evento, trouxe de casa banquinhos e cadeiras de praia. O repertório teve Beethoven, Chopin, Villa-Lobos, Pixinguinha, entre outros. Mas nem tudo é vantagem na iniciativa. De uma casa na esquina, um aniversário de criança produzia um som alheio à apresentação. — Evento na rua tem dessas coisas. Carro de som tocando funk é o nosso pesadelo”, afirmou sorrindo o integrante da equipe do pianista Fabrício Kind. Foto:Camilla Silva

Trabalho Arthur não nega: a estrada cansa, mas acredita que deve continuar pelo bem da cultura do Brasil


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Literatura

De cada dia

Adélia: Poesia que faz bom tempo Sarah Rodrigues srodrigues@cegueira.com.br

Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus”, são as palavras de Carlos Drummond de Andrade que definem a poetisa mineira Adélia Prado. Nascida em Divinópolis, onde reside até hoje, ela é mãe de cinco filhos, dona de casa, e lecionou filosofia por vários anos antes que sua carreira como escritora lhe tomasse todo tempo. A capacidade de transpor o cotidiano de mãe, mulher, religiosa e dona de casa para a linguagem poética, concedeu à obra de Adélia enorme importância literária dentro e fora do Brasil. Suas obras já foram traduzidas para diversas línguas, adaptadas para o teatro,

e merecedoras de premiações importantes. “O coração disparado”, seu segundo livro, recebeu o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, e atualmente, a escritora foi agraciada com o Griffin Poetry Prize, premiação de poesia mais importante do Canadá e uma das mais importantes do mundo. O talento da poetisa é incontestável e intimamente ligado ao seu ser. “É uma pessoa de uma simplicidade, muito autêntica, muito sincera, de uma amizade profunda... O espirito da Adélia é franciscano... Sabe, é aquele encantamento com a vida, com a natureza, com tudo...”, declara Maria Cecília Guimarães, grande amiga da poetisa. A cidade, o cotidiano, a igreja, as tardes de domingo… Tudo transcende nos versos desta mulher de verdade, que ao escrever faz brilhar o sol. Foto: Eduardo Simões

Talento Religião e cotidiano são elementos centrais na obra poetiza

Sobre medos e outras coisas A frase “A existência é um fardo” não me sai da cabeça, e abomina-me pensar que eu a pensei. Hoje eu descia pelas ruas do centro sentindo na pele um calor abafado, no ar um cheio de mato urbano. As pessoas transitavam em direções variadas, focadas em diferentes objetivos, sem se lembrarem que estão todas no mesmo barco, este barco chamado Terra, no qual a carranca é uma grande interrogação. Ocorreu-me de repente uma ideia: estamos no útero de Deus, e somos paridos na morte. Nascemos quando morremos. Entendo as pessoas com insônia: é o que acontece quando você se deita na cama, e sente a escuridão do quarto crescer à sua volta. Uma solidão incompreendida invade-lhe a alma e sente-se que a solidão e o escuro se fundem num monstro, que irá lhe engolir se dormir. São nessas noites que fecho os olhos e penso repetidamente: “Quero sonhar, quero sonhar, quero sonhar”. Nunca sonho. São nessas noites que penso no meu medo da chuva e também na minha necessidade dela. Acho monstruoso que as pessoas se escondam da chuva, ela que vem com as melhores intenções: lavar, refrescar, renovar, fertilizar. Mas nada disso importa. Aprendi a descascar laranjas.


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Teatro

O Japão que habita

Turma de teatro realiza semana dedicada à cultura oriental Livia Gallo lgallo@cegueira.com.br

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oi uma oportunidade de conhecer pesquisas sobre o tema abordado, oportunidade de diálogo com pesquisadores e diálogos com outras artes: dança, cinema, teatro”, contou a professora Juliana Monteiro, que coordenou a I Semana Acadêmica do Curso de Teatro da UFSJ. O evento, que encerrou suas atividades no dia 14 de outubro, aconteceu no campus CTan da Universidade Federal de São João del-Rei e promoveu palestras, conferências, sessões de comunicação e intervenções artís-

ticas sobre o tema “O Japão que nos habita – presenças, pontes e traços”. Participaram do encontro professores da UFSJ, UFOP, UNICAMP e UFMG. Para Monteiro, as sessões de comunicações trouxeram uma experiência nova para os participantes. “Foi possível ver o aluno e o professor em outra situação, para além do ambiente da sala de aula”, ressaltou. A intervenção artística final “Entre Lugares” foi exibida no pátio do Reuni III para alunos de diversos cursos da universidade. A apresentação trouxe um tema local/global: a morte de um rio próximo e a necessidade de se

preservar a água. O aluno do curso de teatro Rick Ribeiro participou da performance e lembrou de um questionamento durante a apresentação. Segundo ele, foi muito interessante quando um moça que estava assistindo disse: “Nossa isso é um desperdício de água”. No final, a gente explicou: - “A água é daquele rio que está morrendo. É essa a mensagem que a gente quer passar”. Nos dias anteriores, outras intervenções tiveram espaço na programação: a abertura com exercícios do Núcleo “A Poética do Invisível” (NAPI), a presença de artistas locais como Dorothy Lenner e a exibição de tela virtual de Foto:Divulgação

Oficinas A UFSJ promoveu palestras, conferências, sessões de comunicação e intervenções artísticas



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