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Editorial
por Artur Bacelar, jornalista, director de informação Natal na guerra, história a recordar sempre Ao fim de 18 anos de actividade do MaiaHoje, e em quase outras tantas edições de Natal, nunca uma capa foi tão expressiva como a que hoje vos apresentamos. A chamada “Trégua de Natal de 1914”, que a foto da capa representa, ocorreu apenas cinco meses após o início da guerra na Europa, sendo, provavelmente, um dos últimos exemplos da “ultrapassada” noção de cavalheirismo
entre inimigos na guerra. Tal nunca se repetiu, dado que as tentativas seguintes de cessar-fogo devido a épocas festivas, foram reprimidas pelos oficiais sob ameaça de ação disciplinar, mas serviram como uma prova animadora, ainda que breve, de que, sob o brutal choque de armas, a humanidade essencial dos soldados resistiu. Hoje, a comemorarmos os 100 anos do fim da guerra, presenteamos os nossos leitores com uma edição especial em que nos centramos nesta temática que nos lembra o bom (fim da
guerra) e o mau (o que nos leva à guerra). Vivemos ainda numa época em que os extremismos falam alto, bem alto, alto demais para que tenhamos receio que a história se repita. A democracia felizmente impera e hoje podemos escolher entre o bom e o mau… não nos podemos esquecer do que a história nos ensinou e que Natal não é só a data do nascimento de Jesus, mas também da solidariedade, fraternidade e amor. Nunca esquecendo, Feliz Natal 2018!
FICHA TÉCNICA Revista Especial Natal 2018 parte integrante da edição 456 de 7 Dezembro 2018 Edição Dep. Edições Especiais MH Rua Pedro Julião, 114 - R/c Maia - Tel 22 406 21 26 geral@maiahoje.pt www.maiahoje.pt /maiahoje oficial
Coordenação Manuela Sá Bacelar Director Artur Bacelar Textos e Fotos Ana Sofia Maia Marques
Manuel Jorge Costa Paulo PInheiro Victor Dias Comercial Augusto Machado Carlos Garcia Ferreira da Silva
Design & Paginação José Machado Impressão Publireferência - Maia Tiragem 10.000 exemplares
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MENSAGEM DE NATAL AOS MAIATOS Há cem anos atrás, a Humanidade vivia o primeiro Natal de Paz, após quatro duros anos debaixo de uma guerra mundial dilaceradora – a Grande Guerra. Estou certo que as famílias, principalmente na Europa, que viveram essa noite especial no ano de 1918, souberam dar o devido valor a um bem essencial que é condição “sine qua non” para que possamos sentir intimamente o verdadeiro espírito da felicidade. Ser feliz é o desígnio maior para o qual nasce cada ser humano. Um desígnio que só se realiza se houver Paz na intimidade do seu ser, no seio da sua família e no Mundo. Cabe aos líderes das nações pugnar pela Paz universal, mas cabe igualmente a cada um de nós, no quotidiano das nossas vidas, sermos construtores e guardiões da Paz. E nesta quadra especial, que convoca as nossas seculares tradições, tornam-se ainda mais presentes os valores essenciais da família, da vida,, da amizade e da solidariedade fraterna, mas acima de tudo isso, da Paz. Partilho com cada leitor do Maia Hoje e com toda a sua família, os votos de um Santo Natal e um Ano Novo de 2019 pleno de boa saúde, harmonia e felicidade. António Silva Tiago PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DA MAIA
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Até na Guerra há Natal por José Augusto Maia Marques, historiador No meio do panorama horrendo da «Guerra das trincheiras» do final de 1914, primeiro ano da «Grande Guerra», ocorreu um fenómeno que prova que o Homem pode sempre superar os seus medos, os seus instintos, os seus preconceitos, mesmo a própria realidade, por mais cruel que ela seja. Ficou conhecido como «Christmas Truce» em inglês ou «Weihnachtsfrieden» em alemão. Foi a Trégua de Natal. A vida na frente de combate era um verdadeiro inferno. Do fulgor inicial da guerra em movimento, caíra-se na guerra de trincheiras. No fim do ano a moral das tropas estava já muito em baixo. A guerra arrastava-se havia quase um semestre. Todo este quotidiano de horrores foi minando a inicial vontade de lutar. Uma semana antes do Natal em Armentières, na França, soldados alemães atiraram um pacote para as trincheiras britânicas. Continha um bolo de choco-
late e um bilhete onde os alemães pediam um cessar-fogo nessa noite, entre as 19h30 e as 20h30 pois era o aniversário do capitão e eles queriam surpreendê-lo com uma serenata. Os britânicos concordaram e, na hora da
FOTOS: direitos reservados
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festa inimiga, sentaram-se no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para o ar. No meio da barbárie, estes pequenos gestos de cordialipub
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dade tinham grande significado. Mais ainda, na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, os soldados britânicos ficaram estupefactos quando viram, iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitando as trincheiras inimigas. Mas, como conta Bruno Leuzinger, a surpresa aumentou quando um tenente alemão propôs que cada lado enterrasse os seus mortos. Um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Combinaram reunir-se no dia seguinte, 25 de dezembro. Então ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram as suas trincheiras e enterraram os mortos no meio da terra de ninguém. Stanley Weintraub, historiador norteamericano, estima que mais de cem mil soldados de ambos os lados, estiveram envolvidos em algum momento na trégua de natal de 1914. Embora não houvesse nenhuma trégua «oficial», soldados de ambos os lados estiveram envolvidos em cessar-fogos na frente ocidental. E exemplos de ações locais foram muitos. O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral coletivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimónia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”. Depois, um soldado alemão, ex-se-
minarista, repetiu tudo no seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o painosso. Esta situação já era inusitada, mas o que se viu depois foram cenas quase surreais, atendendo ao contexto. Conta Graham Williams, da 1ª Brigada de Fuzileiros de Londres: «Começamos a cantar “O Come, All Ye Faithful” e imediatamente os alemães se uniram cantando o mesmo hino mas com o texto em latim - “Adeste Fideles”». Em Wez Macquart um britânico cortava o cabelo de qualquer um – aliado ou inimigo – em troca de alguns cigarros. Em Pervize, homens que na véspera se tentavam matar, trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada, sabonete. Mas o melhor estava para vir. Nos dias 25 e 26, foram organizados animados jogos de futebol. Centenas jogaram à bola nos campos de batalha. Em muitos casos o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém se deu ao trabalho de prestar atenção ao resultado. Mas houve também jogos mais “a sério”. Num deles, que se tornou lendário, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2. Esta série de acontecimento teve foros de escândalo, quando noticiado pelos grandes órgãos de comunicação.
Os comandantes britânicos, postos em causa proibiram esta «trégua informal». O mesmo aconteceu com os comandantes inimigos. Quem também não gostou nada desta “gracinha” foi um jovem cabo bávaro, do 167º de Infantaria, chamado Adolf Hitler. Este, que haveria de ficar célebre uma quinzena de anos mais tarde, e não pelas melhores razões, disse então: «Estas coisas não deviam acontecer durante o tempo de guerra. Porventura os alemães perderam já todo o sentido de honra?» Não, Adolf, o que aconteceu é que o espírito de Natal foi muito superior ao espírito da guerra. Se é que este existe.
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As aventuras de André Loureiro - VI
Aventura em “La Lys” (França) Conto de Zé Machado, pseudónimo de Artur Bacelar, jornalista
André Oliveira Loureiro, português, é o herói das nossas aventuras. Jornalista de investigação do “The Yomiuri Shimbum”, jornal de Tóquio, Japão, fundado em 1874, tido como o que tem a maior tiragem do mundo (actualmente cerca de 15 milhões de exemplares, diários, em duas edições, matinal e vespertina), é agora um adulto de quase 40 anos, bem-parecido, atraente, sempre impecavelmente vestido. Senhor de uma cultura geral fora do comum, doutorado em Ciências Políticas e professor assistente da Universidade de Harvard, Estados Unidos, antes de enveredar pelo Jornalismo, fez o Curso de Fuzileiro Especial (FZS) na Marinha Portuguesa. André Loureiro, liderou uma, muito secreta, equipa de intervenção, ao serviço da ONU (Organização das Nações Unidas), tendo estado em vários continentes em impressionantes missões que nunca chegaram ao conhecimento público, o que já lhe valeu dezenas de condecorações de vários governos estrangeiros. Com o posto de Capitão de Mar e Guerra, com o qual se retirou do activo, o comandante Loureiro, como era conhecido pela elite política e militar mundial, respeitado por todas as facções, é ainda hoje um dos melhores especialistas em luta corpo-a-corpo, um
exímio “sniper” e exímio diplomata negociador. Já como jornalista, em aventuras passadas, salvou aquela que é hoje a sua noiva, a princesa Isabel Helena Grimaldi, do Mónaco. Sem preocupações financeiras, dado que graças à sua participação financeira no jornal é multimilionário, o seu refúgio é a Quinta da Família em Mondim de Basto, onde passa férias, e usufruindo da calma do local, retempera baterias. A sua habitação permanente é uma desconhecida e pequena Quinta situada no centro da calma e hospitaleira cidade da Maia.
Mondim, manhã de 24 de Dezembro de 2018, o sol afasta lenta e cuidadosamente a neblina matinal. Junto à entrada principal da Casa da propriedade dos Loureiros, já os mais novos dão largas à sua energia num tradicional jogo da Macaca que, por subliminar influência da natureza, os faz esquecer os jogos electrónicos. Ao longe, cavalgando os raios de sol, o som de um helicóptero agita os miúdos «É o Tio André», gritam correndo para o heliporto das traseiras. De dentro do aparelho sai André e Isabel que enchem as crianças de abraços, beijos e sorrisos largos. «Menino André, seja bem-vindo! Fez boa viagem?», disse o mordomo que os recebeu enquanto orientava a descarga das malas do aparelho. De mão dada e olhos fechados, André e Isabel, num eterno par de segundos, respiraram o ar impregnado pela terra ainda húmida, trocaram um olhar e um beijo de quem se rendeu à energia aconchegante de estar em casa. Como sempre entraram logo pela granítica cozinha, onde, desde madrugada a sua mãe já preparava os sabores e comandava “as tropas da cozinha” neste dia especial. De costas para a porta, com as mãos mergulhadas numa massa misturada numa tina de madeira, pressentindo a entrada do casal a mãe disse no seu tom calmo, tremulo e desafiador «André, nem te atrevas a tocar nos
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doces». «Sim mãe…», respondeu André já com um belo pedaço de Pão de Ló na boca. Um beijo na face, faz soltar o sorriso da mãe «vão andando lá para dentro… o pai está na biblioteca». «Até já», disseram. Percorrendo os corredores em pedra da casa secular, surpreendentemente quentes pela grande e deslumbrante lareira da cozinha, chegaram à majestosa biblioteca onde estava o pai Loureiro na sua secretária, entretido com um monte de papeis amarelecidos pelo tempo. «Bom dia meu pai». «Olha os meus queridos filhos. Então para quando o casamento? Não achas que já se está a fazer tarde? E a menina Isabel não lhe puxa as orelhas? Olhem que na Vossa idade já era quase avô», disse a sorrir quem só foi pai de André aos 44 anos. Por instinto, de forma a mudar a conversa, André começa a remexer nos papéis da mesa. «Que estás a fazer pai?», perguntou. «Cuidado André, não estragues, é a correspondência do teu avô para a tua avó, no tempo da Grande Guerra. Sabes que faz agora 100 anos que foi assinado o armistício?», disse enquanto preparava um Porto para todos «beba minha filha, este é o segredo da minha juventude aos 85 anos», disse a sorrir. «Uma destas cartas retrata o Natal do meu pai em 1917, na região de Flandres, junto à fronteira Franco-Belga. Querem ouvir a história?», perguntou. «Sim, por favor», disse Isabel, também ela apaixonada pela história europeia, ciência que lhe ocupa os tempos entre o trabalho como professora universitária e os afazeres da Casa Real Monegasca.
Sentados nos confortáveis cadeirões que circundam uma maciça mesa que alberga no seu centro um agradável braseiro, apreciando o envelhecido, mas encorpado Porto, os olhares dos amantes, fitam agora o rosto do pai Loureiro. «Como sabem a Batalha de “La Lys” fez parte da chamada “Ofensiva de Primavera”, sendo importante para nós portugueses, a chamada “Operação Georgette”, que teve lugar entre 7 e 29 de Abril de 1918, comandada pelo temível General Alemão, Erich Ludendorff, que pretendia abrir uma brecha na frente de 55 quilómetros, centrando-se onde estava precisamente a “2ª Divisão do CEP Corpo Expedicionário Português” de 20.000 homens, uma boa parte dos cerca de 200.000 mobilizados para esta guerra.
As tropas portuguesas, em apenas quatro horas de batalha, na madrugada e manhã de 9 de Abril de 1918, teriam, segundo alguns registos, tido milhares de baixas, entre 1341 mortos, 4626 feridos, 1932 desaparecidos e 7440 prisioneiros. Este esforço português permitiu, no entanto, que os aliados se reagrupassem e viessem render as nossas tropas tapando a brecha entretanto aberta na frente de batalha. Este foi considerado o maior desastre militar português desde a batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Para esta catástrofe, muito historiada, há várias condicionantes, sendo que temos que a enquadrar no tempo pós-revolução de Dezembro de 1917, que colocou Sidónio Pais na Presidência da República. Sidónio Pais era menos belicista e chamou a Lisboa muitos oficiais com experiência de guerra, seja por razões de perseguição ou mesmo de favor político, o que é certo é que a moral era baixa, registando-se insubordinações, deserções e suicídios, tendo mesmo o alto comando alertado o governo português para o estado calamitoso das tropas. Os milhares de prisioneiros portugueses resultantes desta batalha, estavam principalmente nos campos de concentração de Rastatt e Breesen, onde, acompanhando os seus soldados, também esteve o meu pai. Resta lembrar as 1831 sepulturas de soldados do Corpo Expedicionário Português que estão em Richebourg, o único cemitério de França exclusivamente português», historiou o pai Loureiro. Degustando o velho Porto, intercalado com duas fumaças do velho cachimbo, hábito de marinheiro nas noites frias, o
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pai Loureiro, com um dos velhos escritos na mão, continuou a sua história «esta carta é para a minha mãe, datada de 24 de Dezembro de 1917, nas trincheiras da Flandres, antes do desastre de La Lys: “Meu amor, espero que esta minha prosa te encontre bem e aos teus. Sonho com o dia em que te reencontrarei. Hoje, véspera de Natal, especialmente sonhando com uma nossa família, alegre, divertida e um belo jantar junto da nossa frondosa árvore de Natal. Sonho com o nosso fervor de Fé na Missa do Galo, com todos os nossos familiares e a nossa comunidade. Sonho apenas, porque hoje não estarei com o Senhor, estarei com o demo. Hoje ordenaram-nos o mais terrível bombardeamento de sempre que irá separar famílias do outro lado, nesta mortificante vida de uma noite de Natal. Hoje, serei o ceifeiro que fará troar os nossos canhões, não para anunciar a paz ou o nascimento do Senhor, mas para tocar a finados. Hoje estou duplamente triste. Não serei eu. Cumpro ordens e obrigarei a cumpri-las. Não sei o dia de amanhã, mas mesmo assim peço a Deus que me liberte deste pesadelo, vivo ou morto. Morrerei feliz contigo no coração ou viverei na esperança do nosso reencontro. Que Deus me conceda o segundo desejo, antes do primeiro. Amo-te”, leu o pai Loureiro. Seguiu-se uma curta pausa. O pai de André, pega numa segunda folha, aspira de novo o cachimbo e relata «Esta é datada de 25 de Dezembro, o dia seguinte: “Meu amor, Não tenho palavras para te descrever a inacreditável e horrenda noite de ontem. O entimento agridoce da vitória,
cruza com o cheiro a morte e pólvora. Nada mais há a fazer. Resta-nos a esperança que este tenha, pelo menos, tocado o coração dos nossos líderes de forma a que a Paz desça sobre os seus pensamentos. Mas, nem tudo foi mau. As tropas animaram e os homens, de alguma forma, celebraram o Natal. A Companhia que comando, como sabes, tem sessenta homens, sessenta bons e corajosos homens que tenho o orgulho de liderar.Embora a minha patente me conceda algum conforto, abdico porque acho que é sentindo e respirando o mesmo ar que se comanda. Todos eles são diferentes. Do mais bruto ao mais sentimental. Do mais inadaptado ao mais chico-esperto, há de tudo. Estas trincheiras, onde mesmo a zurrapa a que chamam vinho gela com facilidade, são cobertas de um misto de gelo, água e lama que penetra nas nossas botas. As meias são como panos sujos de limpar o chão. A higiene não existe. À volta e por cima, a verdejante paisagem deu lugar a um emaranhado de arame que se confunde com a terra, num castanho sujo pela neve que não pára de cair. É assim a paisagem, entrecortada por um disparo ali e outro acolá. Para qualquer lado que se olhe há homens que, rendidos ao esgotamento, dormem encostados nessa massa gelada, mas também os que se recusam a render-se ao passar do tempo. O Sebastião, por exemplo, é um homem raiano que, habituado a traficar na fronteira, tudo descobre, tudo desenrasca e nada o incomoda. Ontem, durante o
bombardeamento, inacreditavelmente apareceu com um bacalhau, uma dúzia de ovos, batatas e umas frondosas pencas. Diz que foi o Pai Natal que lhe colocou no sapatinho, mas creio que foi numa das suas escapadelas em que namorisca as raparigas da aldeia mais próxima, que arranjou o farnel. Entre o carregar de um obus e o disparo, um panelão cozia o bacalhau, as batatas, os ovos e as pencas. Dizia-me ele “Meu comandante, até parece que é Natal e o foguetório é à maneira» e eu respondi «só falta a broa e o azeite». Levantou a cabeça, arregalou os olhos, fugiu e num par de minutos lá vinha a garrafinha de azeite e um pedaço de pão alentejano… nem queria acreditar «o rapaz é mágico», dizia o Fonseca, depois de puxar o cordel de disparo. E o “binho carago” perguntou o Moisés. Com cara de traquina, o Sebastião, de um dos bolsos tira duas garrafas de vodka “cedidas” pelos amigos Russos, dizia ele, mas que suspeito terão sido desviadas aquando do descarregamento de mantimentos que ele voluntariamente se ofereceu para ajudar “Portugueses chon amigus. Queres ayjuda para tirar do cominhone?”. É único e sempre nos vamos rindo com as suas peripécias. O comando não quer saber de nada a não ser do resultado do bombardeamento. Mandou distribuir ração reforçada, um panelão de nabos cozidos, sem qualquer preparo, e uns pipos de pretenso vinho que sabia a vinagre, mas que sabiam sempre a qualquer coisa para enganar a fome. Agora, já de manhã, com a neve a cair, preservamos o nosso metro quadrado de espaço próprio e vamos trocando histórias da nossa terra para alimentar o espírito. O capelão por cá passou e lembrou o nascimento de Jesus que, mesmo os mais crentes, ouviam e não acreditavam. Algumas bocas surgiam do nada. Ataques repentinos de tosse e outros respeitosos “piropos” fizeram com que o desígnio do Cura, fosse, com a brevidade possível, pregar noutra freguesia. Podemos perder a Guerra, mas creio que ganhei aqui uma família de 60 irmãos, todos diferentes, mas todos iguais. Como vês, nem tudo é mau. Vou-te voltar a escrever para o Ano Novo. Que Deus nos ilumine, nos dê a paz para voltarmos às nossas famílias. Que tudo seja um pesadelo passageiro. Beijos daquele que mais te ama», leu o pai Loureiro, dando repouso aos cansados óculos.
ESPECIAL NATAL 2018 // 09 Num ar de reflexão lembrou «mal sabiam eles que os “Boches” os iriam brindar na noite de Ano Novo com a mesma “prenda” e que alguns não sobreviveriam para ver o raiar do ano», reflectiu. Isabel, comovida, lembrou o belo da escrita, do amor e da paixão «maravilhoso! Uma coisa é conhecermos a história geral, outra são estes episódios avulsos que nos fazem sentir e a entender melhor», disse. André ficou em silêncio acariciando distraidamente o cálice de Porto, mas no seu pensamento estavam as costelas de FZS (Fuzileiro Especial) e de Jornalista. Se por um lado gostaria de lá estar para ajudar aqueles bravos, por outro, estaria lá certamente a fazer a reportagem do sucedido. O pai Loureiro levanta-se, abre uma gaveta e de lá tira uma elegante caixa «André, neste Natal, 100 anos depois e de forma a não esqueceres que a Guerra nunca é uma solução, gostaria de te oferecer e transmitir a condecoração do teu avô a “Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, grau Grande-Oficial” que é a mais importante Ordem Militar Honorífica portuguesa. Sei que já tens umas quantas comendas, mas esta é especial, espero que a aprecies» disse, transmitindo a caixa aberta. André agradeceu a honra e demoradamente apreciou a oferta que guardou. A porta abre-se quase em silêncio e de lá sai o Mordomo que anuncia «A senhora Dona Emília, solicitou que anunciasse ao senhor e aos meninos, que o Almoço está pronto a ser servido no salão da Adega». «Meu caro agradeço e por favor mande informar a senhora que lá estaremos dentro de 10 minutos», respondeu o pai Loureiro, que acrescentou «Vocês não sabem, mas aqui o nosso Manuel é um mordomo da velha escola portuguesa e antes de tudo, um amigo, que nestas noites solitárias, faz o especial favor de me aturar e fazer companhia nos nossos intermináveis jogos de xadrez, na leitura, mas também a “não deixar estragar” o stock do Conhaque Martell que aqui temos escondido». «Claro que é um prazer a sua companhia e um grato favor o de me considerar seu amigo», disse retribuindo Manuel, esboçando uma quase impercetível e lenta vénia, mesmo antes de se retirar. «É incrível o nível profissional e a educação deste homem de origem Nobre, mas que dedica a sua vida a servir-nos. Já faz parte da família, mas nem falar-lhe
sequer em sentar-se à mesa connosco. Para ele é quase um insulto. A sua reforma está para breve, mas já me confidenciou que gostaria de terminar os seus dias, não na Quinta da sua família, mas nesta casa. Creio que nos adoptou», disse o pai Loureiro para quem este, além de ser seu fiel amigo, é o companheiro do dia a dia. Já durante a tarde, chega o resto da família, a mesa de Natal, servida, como sempre, especialmente na cozinha, onde a grande mesa aguarda esta ocasião anual, está a ser composta. A grande árvore natalícia comanda sobranceiramente os afazeres, fitando a noite que lá fora espreita. Enquanto as crianças, alegremente ensurdecem o ambiente, André ia jurar que viu uma estrela cadente através da janela, fez-se silêncio na sua mente e lembrou as palavras do seu avô e a história do Natal que Sebastião “arranjou”. Naquele longo minuto sonhou que a guerra e a fome tinham sido erradicadas do planeta. Que os sorrisos povoavam as mesas por esse mundo fora e que todas as crianças são amadas da mesma forma. Interrompido nestes pensamentos pelo vibrar do seu telefone, recebeu um SMS do director do “Yomiuri Shimbum” que dizia: «André, preciso de ti já amanhã». Respondeu com uma curta questão «Amanhã também não é Natal no Japão?». O telefone volta a vibrar «Sim, mas o mundo não para, nem as notícias. Quero-te à tarde em Washington para a conferência do “Trump” que parece irá provocar Putin e logo de seguida no discurso do “Maduro” à imprensa… se ainda puderes dá um saltinho ao “Bolso-
naro”. Envio-te já os pormenores, mas aviso-te já que só tu os podes fazer falar. O Trump, o Putin, o Maduro e o Bolsonaro, mandaram expulsar os nossos jornalistas. Até já!». Isabel que assistiu ao cerrar da cara de André com as notícias, beijou-o na face e segredou-lhe ao ouvido num tom doce «vais ser pai! A nova geração Grimaldi-Loureiro está já a caminho». A face de André voltou a alterar-se para radiante e um beijo apaixonado surgiu. «Feliz Natal meu amor», sussurrou Isabel. A nossa história, termina hoje por aqui. Até para o ano se Deus quiser… e o Homem também.
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A tua felicidade é a minha por Ana Sofia, jornalista
Naquela manhã, a porta da célebre pastelaria no centro da Maia abria e fechava freneticamente com o reboliço matinal dos pequenos almoços. Entre croissants e outras iguarias que o orçamento familiar não permite, lá se iam afogando as mágoas no pouco que a vida oferece. Crianças a correr e a “desenhar” com os pequenos dedinhos no vidro que a noite gélida humedecera, fitavam os deliciosos bolos e, num impasse majestoso, colavam-se na montra a pedir «Quero aquele, mamã!». Era véspera de Natal. Como habitualmente, Maria, a nossa protagonista, cumpriu o ritual diário do cafezinho que compunha os afazeres matinais e lhe dava uma energia estranhamente agradável. Essa era uma paragem obrigatória no seu trajeto para a faculdade. A jovem de 21 anos estava no último ano de Enfermagem e contava receber a distinção de mérito no final do curso. Já sem aulas, pois o novo semestre começaria apenas no ano seguinte, aproveitava agora para abrir a carta de Pedro e
colocar no papel as imensas saudades que sentia, enquanto bebia o seu café exigentemente curto. Alto, moreno e de atraentes olhos verde azeitona, o jovem três anos mais velho tinha encantado a futura enfermeira uns tempos antes de partir para a guerra. Desde então, que não o via. Havia-se passado quase um ano. Foi encanto à primeira vista. O restaurante que irmã de Maria escolhera para comemorar o seu aniversário teria sido o sítio mais improvável para juntar o casal. Foi aí, nessa noite de inverno, que os seus olhares se cruzaram longamente. Foram apresentados, falaram e encontraram-se umas quantas outras vezes em dias provocados para o efeito, não fosse o irmão de Pedro namorado da de Maria há cerca de poucos meses. Havia uma cumplicidade humilde entre os dois, mas o amor estava condenado. O pai das jovens e belas meninas era severo. O senhor Monteiro, como era tratado, tinha pelos seus “rebentos” uma pro-
teção inesperadamente excessiva. Com Maria a situação empolava-se por ser mais nova e ainda estar a terminar o curso: «Enquanto estudares não podes namorar!», dizia o chefe de família num tom austero. Faltava ainda um ano para a estudante de enfermagem concluir o curso e ser oficialmente diplomada. Essa seria, aparentemente, a distância temporal que separaria os jovens apaixonados, mas havia mais. Pedro era militar do Exército Português e esperava, a qualquer instante, ser chamado para uma missão fora do país. A convocatória chegou em momento inoportuno e Pedro tivera que partir para a guerra e “deixar por terra” uma aventura apaixonante com Maria. O tempo foi passando. A distância parecia ser cada vez maior e os dias mais longos. Desde então, permaneciam unidos apenas pela correspondência que demorava alguns dias a chegar ao destino. Maria guardava as inúmeras cartas que trocara com o seu amado num baú flor de cerejeira esculpido, que a mãe trouxera de uma loja de antiguidades na Baixa do Porto. Pensava nas mil e uma maneiras de reencontrar aqueles olhos verde azeitona que a prenderam no primeiro olhar. Era quase enfermeira e, por isso, poderia ajudar os militares na missão em que Pedro estava. Mas, Monteiro não permitia tal afronta. Teria deixado bem claro que os queria separados um do outro, pelo menos até que Maria terminasse o curso de enfermagem e o conseguisse com distinção. Partir para uma terra onde imperava o terrorismo seria mais um impedimento «A minha decisão está tomada, Maria! Não voltes a falar no assunto!». Não havia muito mais a fazer. Restava-lhe apenas esperar por boas notícias do seu querido. Ali sentada, naquela manhã de véspera de Natal, abriu calmamente a carta de Pedro, enquanto saboreava aquele pequeno shot de cafeína. Ansiava por saber pub
ESPECIAL NATAL 2018 // 11 se o veria no Natal. «Minha querida e amada Maria, Com este frio gélido e os flocos de neve flutuantes, percebe-se logo que o Natal está aí. Não sei se é a influência da época natalícia, mas hoje estou mais sonhador. Penso em tudo o que representas para mim, e esse sonho torna-se ainda mais colorido. Sonho ardentemente com a minha chegada e com a consumação deste amor. Por aqui, as coisas não estão fáceis, mas confesso que as saudades me vão matando muito mais do que qualquer bala. A morte é lenta e dolorosa. Infelizmente, as notícias também não são boas. O Exército Português, não vai mandar as tropas para casa e, neste Natal (o nosso primeiro Natal), não estarei aí para te entregar o presente que venho a escolher há meses. Se bem te conheço, a notícia deixou os lindos traços do teu rosto, apagados. Daria tudo para poder estar aí, mas infelizmente, parece estarmos condenados a um amor separado por guerras. Darei notícias assim que puder. Feliz Natal! Beijos do teu Pedro». Já não seria Natal. Depois de ter lido a carta, Maria vestiu o seu casaco de fazenda azul marinho, aconchegou o pescoço com um lenço de cachemira no mesmo tom, pagou e saiu. Cabisbaixa, atravessou a rua e, ao passar pela tabacaria da esquina, saudou o senhor José com um delicado aceno. Ao entrar em casa, foi calorosamente abraçada pela avó que, apesar da velhice e do esquecimento provocado pela doença, lembrava-se bem daquele rosto familiar. O tempo roubara-lhe a jovialidade de outrora, mas não as lembranças mais doces da mais jovem membro da Família Monteiro: «Como estás, minha querida?», perguntou a avó num tom afetuoso, regressando com passo apressado para perto dos doces que ajudava a filha a preparar para a consoada natalícia. Maria encolheu os ombros para não ter que enfrentar a difícil questão, enquanto vestia o lindo avental vermelho bordado a linha dourada, uma das relíquias que saíra das mãos da avó quando a visão ainda permitia que o fizesse. pub
A campainha entoou na grande moradia familiar. Maria foi abrir. Era o pai e, em vez da caixa do Bolo Rei que deveria ter trazido, carregava umas malas de viagem. «Temos visitas, papá?», perguntou com curiosidade. Antes que dali saíssem mais questões inesperadas, Monteiro anuiu: «Sim, convidei uma pessoa da família para vir passar o Natal connosco». O pai tinha alguns primos que Maria conhecia apenas de vista… talvez fosse um daqueles familiares que tivera visitado quando era pequena. Mas, nem sinal de familiar. «Vá, Maria, ajuda-me com as malas. Há mais no carro», disse, interrompendo o raciocínio da jovem, enquanto cumprimentava a família que estava reunida na cozinha, em torno das deliciosas rabanadas que a mãe acabava de fritar. Maria dirigiu-se ao BMW para carregar as
malas que faltavam. De dentro do moderno coupé branco, saiu um jovem alto e moreno. Ao voltar-se, Maria reconheceu aqueles olhos verde azeitona. Não tinha dúvidas, era o seu amado. Com a voz trémula, abalada pela emoção, Pedro deixou escapar: «Como esperei por este momento!». Os dois abraçaram-se calorosamente depois de um longo beijo. «Reparei que já se apresentaram…», disse o pai Monteiro com ar maroto. Pedro e Maria sorriram. Afinal, era Natal e até os corações endurecidos podiam tornar-se mais doces. Duas inesperadas prendas, as melhores que Maria tinha recebido, o seu amor, e o reconhecimento e confiança de seu pai. Monteiro tinha percebido que, acima de tudo, a felicidade da sua filha era uma prioridade, que estaria sempre ao seu lado, nos maus e bons momentos, e que isso também lhe abria as portas para a sua própria felicidade. Existem momentos difíceis, mas nenhum deles é impossível ser concretizado quando se trata do maior desejo. Feliz Natal!
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ESPECIAL NATAL 2018
As mais belas canções de Natal para um Serão em família e em português
A TODOS UM BOM NATAL Refrão: A todos um bom Natal (bis) Que seja um bom Natal Para todos nós. No Natal pela manhã Ouvem-se os sinos tocar Há uma grande alegria No ar Refrão Nesta manhã de Natal Há em todos os países Muitos milhões de meninos Felizes Refrão Vão aos saltos pela casa Descalços ou em chinelas Procurar as suas prendas Tão belas Refrão Depois há danças de roda As crianças dão as mãos No Natal todos se sentem Irmãos Refrão Se isto fosse verdade Para todos os meninos Era bom ouvir os sinos Cantar Refrão OS SINOS DE BELÉM Bate o sino, pequenino sino de Belém Já nasceu, o Deus menino para o nosso bem!
Refrão: É Natal, é Natal sininhos de luz! Replicai, badalai que nasceu Jesus! Paz na Terra pede o sino alegre a cantar! Abençoe! Deus Menino sempre o nosso lar! EU HEI-DE DAR AO MENINO Eu hei-de dar ao Menino Uma fitinha pró chapéu E ele também me há-de dar Um lugarzinho no céu. Olhei para o céu Estava estrelado Vi o Deus Menino Em palhas deitado. Em palhas deitado, Em palhas estendido, Filho duma rosa, Dum cravo nascido! Arre, burriquito, Vamos a Belém, A ver o Menino Que a senhora tem; Que a senhora tem, Que a senhora adora Arre burriquito, Vamo-nos embora. Estas palavras disse a Virgem Ai quando nasceu o Menino Ai vinde cá meu anjo loiro Meu sacramento divino. PINHEIRINHO Pinheirinho, pinheirinho De ramos verdinhos P'ra enfeitar, p'ra enfeitar Bolas, bonequinhos. (bis)
Uma bola aqui Outra acolá Luzinhas que tremem Que lindo que está. Olha o Pai Natal De barbas branquinhas Traz o saco cheio De lindas prendinhas. É Natal! É Natal! Salvação e Luz! Alegria, cristãos, Já nasceu Jesus. (bis) ou... É Natal, é Natal Tudo bate o pé Vamos pôr o sapatinho Lá na chaminé. JINGLE BELLS (BATE O SINO PEQUENINO) Hoje a noite é bela Juntos eu e ela Vamos a capela Felizes a rezar. Ao soar o sino Sino pequenino Vem o Deus-Menino Nos abençoar. Bate o sino pequenino Sino de Belém Já nasceu o Deus menino Para o nosso bem! É Natal, é Natal Sininhos de luz! Replicai, badalai Que nasceu Jesus!
NOITE FELIZ Noite feliz! Noite feliz! O Senhor, Deus de amor, pobrezinho nasceu em Belém. Eis na lapa Jesus, nosso bem. Dorme em paz, ó Jesus. Dorme em paz, ó Jesus. Noite de paz! Noite de amor! Tudo dorme em redor, entre os astros que espargem a luz, indicando o Menino Jesus. Brilha a estrela da paz. Brilha a estrela da paz. NATAL DOS SIMPLES (Cantar as Janeiras) Vamos cantar as janeiras Vamos cantar as janeiras Por esses quintais adentro vamos Às raparigas solteiras Vamos cantar orvalhadas Vamos cantar orvalhadas Por esses quintais adentro vamos Às raparigas casadas Vira o vento e muda a sorte Vira o vento e muda a sorte Por aqueles olivais perdidos Foi-se embora o vento norte Muita neve cai na serra Muita neve cai na serra Só se lembra dos caminhos velhos Quem tem saudades da terra Quem tem a candeia acesa Quem tem a candeia acesa Rabanadas pão e vinho novo Matava a fome à pobreza Já nos cansa esta lonjura Já nos cansa esta lonjura Só se lembra dos caminhos velhos Quem anda à noite à ventura
Paz na Terra pede O sino alegre a cantar! Abençoe, Deus Menino Sempre o nosso lar! pub
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ESPECIAL NATAL 2018
Pausa para café... o Natal segue dentro de momentos :-)
NATAL NO TRIBUNAL Perto do dia de Natal um juiz estava a interrogar um réu: – Do que é que o senhor é acusado? – De fazer as compras de Natal antes do tempo. – Mas isso não é crime nenhum!! Com que antecedência estava fazendo as compras? – Antes da loja abrir. NATALIDADE A mãe pergunta à filha de sete anos: – O que gostarias de receber no Natal? – Um preservativo. – Preservativo? – É que eu já tenho cinco bonecas e não quero ter mais nenhuma! PERSPECTIVA DE CÃO O que é que um cão disse ao outro quando voltava de uma árvore de natal toda iluminada? - Finalmente colocaram luz na casa de banho! NATAL GRAXISTA A carta ao Pai Natal que se segue foi escrita pela Susaninha, uma menina muuuuuito bem comportada: “Querido Pai Natal, deixei leite e biscoitos para ti debaixo da árvore e cenouras para as renas nas traseiras. Beijinhos da Susana”. Resposta do Pai Natal: “Querida Susana, o Leite dá-me diarreia e as cenouras dão gases às renas que os largarão na minha cara. Queres ser graxista? Então deixa-me um copo de Chivas Reagal e queijinho da Serra para petiscar. O Pai Natal.” HISTÓRIA DOS ANJOS NA ÁRVORE Sabem porque é que as árvores de Natal têm um anjinho em cima? Na véspera de um Natal, o Pai Natal estava muito aflito porque ainda não tinha embrulhado as prendas todas, tinha uma rena coxa e outra constipada. Desesperado foi beber um copo e, ao chegar
à adega, não havia nada. Voltou a casa para petiscar alguma coisa e os ratos tinham comido tudo. Para alegrar-lhe a vida, a mulher avisou-o que a sogra ia passar o Natal com eles. No meio do desespero, tocam-lhe à porta. Com a pressa de abrir a porta, tropeça e bate com o nariz no chão, começando logo a sangrar. Abre a porta e aparece-lhe um anjinho dizendo com uma voz angelical: - Olá Pai Natal! Boas Festas! Venho visitar-te nesta quadra tão feliz, cheia de paz e amor. Trago-te aqui esta Árvore de Natal. Onde é que queres que a meta? RAINHAS MAGAS O que se teria passado, se, em vez de três Reis Magos, tivessem sido três Rainhas Magas? – Teriam perguntado antes como chegar ao local e teriam chegado a horas: – Teriam ajudado no parto e deixado o estábulo a brilhar; – Teriam preparado uma panela de comida; – Teriam trazido ofertas mais práticas. Mas quais teriam sido os seus comentários ao partirem? – Viste as sandálias que a Maria usava com aquela túnica? – O menino não se parece nada com o José! – Virgem! Pois tá bem! Já a conheço desde o liceu… – Como é que é possível que tenha todos esses animais imundos a viver dentro de casa? – Disseram-me que o José está desempregado! – Querem apostar em como não devolvem a panela? IDADE NATALÍCIA DO HOMEM O homem tem quatro idades: (1) quando acredita no Pai Natal, (2) quando não acredita no Pai Natal, (3) quando é o Pai Natal (4) quando se parece com o Pai Natal. ALENTEJANOS... Telefona um alentejano para a esquadra da policia e diz: Estouuuuuuu… é da polícia? - É sim, em que posso ajudá-lo? E o alentejano: - Queria fazer quexa do mê vizinho Maneli. Ele esconde droga dentro dos troncos da
madeira para a larera. No dia seguinte os agentes da polícia estavam em casa do Manel. Procuraram o sítio onde ele guardava a lenha e, usando machados, abriram ao meio todos os toros que lá havia, mas não encontraram droga nenhuma. Praguejaram e foram-se embora. Logo de seguida toca o telefone em casa do Manel: - Oh Maneli, já aí foram os tipos da polícia? E o Manel: - Já. E o outro alentejano: - E racharam-te a lenha toda? Responde o Manel: - Sim… E finaliza o alentejano todo contente: - Então Feliz Natal, amigo! Este foi o mê presente desti ano. MODERNICES O filho pede o carro emprestado ao pai, que lhe faz algumas exigências: - Filho, vamos fazer o seguinte: melhoras as notas na escola, estudas a Bíblia, e cortas esse cabelo. E aí voltamos a conversar. Um mês depois, o rapaz volta a perguntar ao pai se pode usar o carro. - Filho, estou realmente orgulhoso: melhoraste as notas, e estudaste a Bíblia. Mas não cortaste o cabelo! Como fica o nosso acordo? - Pai, ao ler a Bíblia, fiquei intrigado: Sansão tinha cabelos longos, Noé também...até Jesus; e todos eram boas pessoas! E o pai: - É verdade... e todos eles andavam a pé. NATAL DO ADVOGADO Caro Menino Jesus, fui informado pela Bíblia que você tem o dom de estar em todo o lado ao mesmo tempo. Ora, eu estive a pensar e isso significa que também está sempre na minha casa, no meu escritório, no meu barco e em todos os meus automóveis. Portanto, segundo o Código Civil, você deveme 2000 anos de renda. Tem até dia 31 de Dezembro para saldar a dívida. E olhe que eu sou muito rigoroso com os prazos de pagamento. Sem outro assunto, A FECHAR... UMA SÊCA Por que o peru fica revoltado no Natal? – Porque ele faz a festa e a missa é do galo. PUB
ESPECIAL NATAL 2018 // 15
Neste Natal ofereça um presente ao ambiente um conselho Maiahoje A tradição, dizem os publicitários, já não é o que era. Contudo, manteve alguns hábitos e adquiriu outros. Mas o importante é o encontro e a reunião da família, a partilha de mensagens e lembranças entre amigos e uma maior predisposição à solidariedade fraterna. Hoje, a expressão das múltiplas vivências que caraterizam a quadra natalícia, concretiza-se em diversificados consumos que ascendem a níveis que ultrapassam a normalidade, impulsionados pela euforia própria deste tempo. Tradicionalmente, à meia-noite, as crianças, mas também os adultos, empolgados pela curiosidade de descobrir o que vai revelar-se no interior dos embrulhos, não resistem e rasgam papel, cartão, plásticos e embalagens de materiais diversos, até chegarem ao âmago da questão, o presente. No fim desta empolgante aventura da descoberta, sobra quase sempre, um emaranhado de resíduos. Não se esqueça de dar um presente ao ambiente Na manhã de Natal, reúna as crianças e transforme a separação numa atividade divertida, quem sabe até, num jogo de família. Todo o papel e cartão que sobrou das prendas, ponha no contentor azul. As embalagens de plástico mande-as direitinhas para o amarelo. As garrafas e frascos de vidro, já sabe, contentor verde do vidrão. Se os contentores que a Maiambiente tem em sua casa ficarem com a tampa aberta por estarem muito cheios e a recolha seletiva ainda demorar dois ou mais dias, lembre-se dos ecopontos que estão localizados mais perto da sua casa, e torne a atividade ainda mais interessante e divertida, levando os resíduos até lá, fazendo da seleção multimaterial um momento lúdico e educativo para os mais novos. Verá que independentemente das prendas e dos excessos gastronómicos próprios da época, o que vai permanecer nas memórias e na história de vida da sua família será a partilha dessas experiências amigas do ambiente. Seja consequente, ofereça no presente, um futuro ao ambiente…
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ESPECIAL NATAL 2018
Farrapo Velho de Bacalhau INGREDIENTES Azeite Alho Azeitonas Couve Refogada Batata assada Ovos cozidos Sobras de Bacalhau
Lasque todo o bacalhau que sobrou da noite anterior. Numa frigideira grande leve ao lume o azeite com os alhos picados e deixe alourar. Junte o bacalhau, a batata, a couve e de-
pois deixe refogar em lume brando. Junte os ovos cozidos cortados em pedaços e mexa até ficar tudo bem envolvido. Tempere a gosto, sirva quente e, decore com algumas azeitonas.
Farrapo Velho de Perú INGREDIENTES Cebola Tomate Salsa Manteiga Ovos Queijo Sobras de Perú
Retire toda a carne que sobrou do Peru. Num tacho grande, leve ao lume manteiga, cebola picada e alho picado. Quando a cebola estiver transparente, acrescente o tomate picado e depois misture o Peru e a salsa picada. Deixe refogar alguns minutos. Num tabuleiro acrescente uma porção de arroz, deite o refogado de Peru em cima. Misture tudo, acrescente o queijo por cima e leve ao forno para gratinar. Se quiser pode decorar com pedaços de bacon ou de chouriço e os frutos secos que sobraram da ceia. Sirva com uma salada.
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Galinha Pintada com molho de Açafrão
Estas aves elegantemente matizadas, originárias do Oeste de África, durante a cozedura devem regar-se continuamente com manteiga condimentada, ou então cobrir com toucinho. Se não se pensa em rechear a ave, convém por uns raminhos de manjerona entre a gordura e a pele. O seu sabor é como o do frango, mas um pouco mais silvestre, e as receitas para faisão, perdiz ou frango para assar farão justiça à Pintada. Estas galinhas, são criadas pelo homem há séculos, são consideradas como aves de caça pelo seu sabor a caça vermelha que se assemelha à carne de faisão. Das aves de capoeira é a que menor teor de gordura e colesterol contém. Sendo que o seu teor de gordura é de 1 a 2,7% do total. O valor de colesterol é muito baixo. É muito elevada a percentagem de proteínas, minerais, ferro e vitaminas. ingredientes: - 1 frango(s) - 40 g manteiga - 1 dl caldo de cubo de galinha - Colher de café com açafrão das Índias - 1 dl natas - cebolinho - 2 dente(s) de alho - q.b. sal - q.b. pimenta em pó preparação: 1. Derreta a manteiga numa caçarola com fundo pesado e aloure os pedaços de frango. Quando estiverem bem louros, tempere com sal e pimenta. Entretanto, corte os dois dentes de alho em pedaços finos, adicione-os à pintada e deixe alourar durante mais um minuto. 2. Seguidamente, junte o caldo de aves e o açafrão e deixe cozer a pintada durante 15 minutos em lume brando. 3. Posteriormente, adicione as natas e deixe cozer mais 20 minutos. Rectifique os temperos, se necessário. 4. Finalmente, junte o cebolinho cortado e sirva com arroz branco. Fontes: jvitorino.wordpress.com e petiscos.com
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ESPECIAL NATAL 2018
Mil Folhas de Café INGREDIENTES Massa 1 pacote (300 g) de massa folhada laminada pronta Manteiga para untar
MASSA: Descongele a massa conforme as instruções da embalagem e corte 3 retângulos de 12 x 25 cm. Unte uma assadeira com manteiga e disponha a massa deixando um espaço entre cada uma de suas partes. Leve ao forno pré aquecido a 200°C e deixe assar por cerca de 10 minutos. Em seguida diminua a temperatura para 180°C e coloque uma assadeira ou grade em cima das massas para que elas terminem de assar de forma uniforme, até dourar. RECHEIO: Numa tigela, misture as gemas, metade do açúcar refinado, o amido, o café e o chocolate em pó. Reserve. Numa panela, acrescente o leite e o restante do açúcar refinado e cozinhe em fogo médio até levantar fervura. Desligue o fogo e vá incorporando o leite aos
poucos na mistura de gemas, mexendo bem para não empolar. Volte a mistura para a panela e, sem parar de mexer, cozinhe até engrossar. Desligue o fogo e acrescente a manteiga. Coloque o creme num recipiente raso e cubra com filme plástico em contato com o creme para que não se forme uma película. Leve para gelar e reserve. MONTAGEM: Com um fouet de arame, bata o creme até ficar aveludado e coloque-o em um saco de confeitar. Coloque uma placa de massa e distribua sobre ela metade do recheio. Cubra com uma segunda placa de massa e repita o processo com o recheio. Finalize com o terceiro retângulo de massa. Coloque raspas de chocolate meio amargo sobre toda a superfície e finalize polvilhando açúcar de confeiteiro. Sirva em seguida.
Recheio 4 gemas peneiradas 1 chávena (chá) de açúcar refinado 2 colheres (sopa) de amido de milho 1 colher (sopa) de café solúvel 2 colheres (sopa) de chocolate em pó 2 ½ chávenas (chá) de leite 1 colher (sopa) de manteiga Montagem Raspas de chocolate meio amargo Açúcar para polvilhar
Pessoas: 6 Tempo: 90 Minutos Dificuldade: Média
Biscoitos de Natal
Peneire a farinha numa tigela. Noutro recipiente, coloque o açúcar, o açúcar de baunilha e os ovos. Misture os ingredientes com uma batedeira até obter uma mistura homogénea.
Corte a manteiga em cubos e incorporea à farinha, amassando com as mãos. Adicione os ovos com açúcar à farinha, misturando com as mãos até obter uma bola de massa. Deixe descansar durante 1 hora no frigorífico. Abra a massa com um rolo, até que fique com cerca de 5 mm de espessura. Use cortadores de bolachas com formas natalícias ao seu gosto (estrela, pinheiro, etc…). Coloque-os numa assadeira com papel vegetal, pincele com gema de ovo e leve ao forno a 180ºC durante 10 a 12 minutos, até que ficarem dourados.
INGREDIENTES Farinha - 500gr Açúcar - 180gr Ovos - 2 Gemas - 2 Manteiga - 250gr Açúcar de Baunilha - 1 Colher de Sopa
Porções: 10 Tempo: 90 Minutos Dificuldade: Fácil
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Momentos Irrepetíveis por Sebastião Lapa, pseudónimo de Vitor Dias
Artur, Artur!... Sim vovó, já vou. Artur estava no computador a conversar via Skype com um amigo que era filho do embaixador de Portugal na ONU, em Nova Iorque. Olavo, desculpa, mas agora vou ter de desligar, preciso de ir lá cima cuidar da minha vovó, logo que possa volto a chamar. Olavo irritado, não se conteve e protestou com Artur. Diz à velhota que aguente, ela tem que perceber que eu estou do outro lado do Mundo e daqui a pouco vou ter de desligar. Sim Olavo, mas a minha vovó Josefina é uma pessoa doente e não pode esperar, por isso vou desligar. Então vovó o que precisa? Preciso que me dês a tua mão filho. Fica aqui um bocadinho ao pé de mim. A vovó não está a sentir-se bem, quer
que eu ligue aos meus pais para virem para casa ou para chamarem o médico? Não, não filho, não incomodes os teus pais que estão a trabalhar. Agora já me sinto melhor. Sabes meu querido, quando estás ao pé de mim deixo de sentir frio… Escuta Artur, parece que está um telefone a chamar, é melhor ires atender. Não se preocupe vovó, é um amigo meu a chamar pelo Skype no computador. Então vai lá meu filho. Deixe estar vovó, ele vai perceber que agora não posso e desliga. Vovó, acho que vou fazer um chá e umas torradinhas com manteiga para lancharmos, talvez assim a vovó fique mais quentinha e as suas mãozitas também aqueçam, pois estão tão frias. E tu também já deves ter fome. Vai lá, mas não te demores. Ora aqui está o nosso chá de cidreira, umas torradinhas quentinhas com man-
teiga e um docinho de figo para o nosso lanche. Meu filho, ajuda-me aqui a encostar-me à cabeceira da cama. Sinto-me tão fraca que nem consigo erguer-me. Claro vovó, ora vamos lá. Vovó e neto, lancharam tranquilamente enquanto mantinham uma conversa serena e pausada. Artur, desculpa meu filho, ajuda-me agora a deitar, é que fiquei muito cansada e apetece-me dormir um pouco. Depois de ajudar a vovó, manteve-se ali ao lado dela com a mão estendida a segurar-lhe a mão. Meu querido, se quiseres podes ir falar com o teu amigo no computador. Não vovó, prefiro ficar aqui a fazer-lhe companhia. Faz-me lembrar quando eu era pequenino e nos deitávamos à tarde para dormirmos a cesta juntos – lembrase vovó? Claro meu filho, como também me lembro dos momentos em que tu ainda bebé adormecias ao meu colo. Recordas-te quando eu caí no jardim e fiz um galo na testa e me levaste ao colo até à cozinha para me pores um papel mata-borrão com água bem fria? E resultou. E naquelas tardes em que me começaste a ensinar a ler e a escrever, até que um dia a mãe chegou a casa e eu corri para o colo dela a dizer-lhe que já sabia escrever o meu nome? É verdade querido, tu aprendias tudo tão rápido e tão bem. Ainda me lembro do teu pai ter chegado a casa e tu teres umas quantas folhas escritas com notícias da família e dos vizinhos para lhe mostrares o jornal da casa. Eras tão pequenininho e já dizias que querias ser jornalista como o teu pai. Queria e quero vovó. Eu quero ser jornalista. E vais ser, vais ser um grande jornalista, PUB
ESPECIAL NATAL 2018 // 21 honesto e muito humano, tanto como és um netinho de ouro. Não diga isso vovó, até fico sem jeito, isso são os seus olhos de avozinha. Artur, o computador está outra vez a chamar. Não importa vovó, é o Olavo no Skype, não interessa ele é um chato. Olha filho, puxa aquele cobertor e cobre-me melhor, estou a sentir frio. Vovó e neto continuaram a sua vagarosa conversa até que Josefina adormeceu. Artur certificou-se que a vovó estava bem e foi chamar Olavo pelo Skype. Então pá, a velhota já te deixa vir ao Skype? Olha Olavo, se queres continuar a ser meu amigo, por favor não falas assim da minha vovó Josefina, ok?... É pá, levas mesmo a mal. Eu também falo assim da minha velhota. Fazes mal. Mas eu não sou como tu e, portanto, não te admito. Arturinho, já não está cá quem falou, não toco mais no assunto da velhota. Olavo, olha hoje estou sem paciência para te aturar, amanhã falamos, é melhor assim. Entretanto os pais chegaram a casa e
Artur, como habitualmente tratou de narrar o seu dia. E a vovó como esteve? Esteve benzinho, mas achei-a muito cansada e com frio. Sabes filho, aos 98 anos de idade já não temos a mesma energia que tínhamos aos 12 como tu. Marisa foi ver a vovó ao quarto e de lá chamou - Duarte. O casal deteve-se algum tempo no quarto da vovó de Marisa, até que resolveu vir ao encontro do filho. Artur meu querido, vais ter de ser forte. O médico da vovó já nos tinha avisado que ela tinha o coração muito fraquinho e que provavelmente não aguentaria até ao Natal. Artur, já com os olhos rasos de água balbuciou: não sei porquê, mas senti que ela estava a despedir-se de mim… Marisa e Duarte abraçaram o filho e consolaram-no com o seu carinho, para o ajudar a encarar a realidade. No dia seguinte logo pela manhã cedinho, Artur ligou ao tio Anselmo, para que ele lhe indicasse uma leitura apropriada para ler na Missa do funeral da vovó Josefina.
Marisa ligou a Anselmo, que era Padre, para se aconselhar se não seria melhor manter Artur afastado das cerimónias fúnebres. Anselmo foi absolutamente claro: deixa o Artur crescer… Na noite de Natal o tio Anselmo veio cear com Marisa, Duarte e Artur e durante a refeição falaram da vovó Josefina sem nenhum constrangimento. A saudade era grande, mas Artur falava dela com ternura e carinho, lembrando os seus gostos, as histórias em comum e até os momentos derradeiros que providencialmente presenciou ao seu lado. Artur ausentou-se da mesa por uns instantes para ir buscar umas lembranças que tinha preparado para oferecer aos pais e ao tio. Nesse momento, Anselmo expressou a sua satisfação pela forma natural e bem resolvida como Artur integrou a perda. À meia-noite abriram-se as prendas e Artur desembrulhou uma flor que foi colocar junto de uma fotografia de família onde estava também a vovó Josefina. Depois saíram de casa para ir à Missa do Galo que Anselmo ia celebrar na Matriz da paróquia de Cedofeita. PUB
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ESPECIAL NATAL 2018
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Emoções de Natal
por Paulo Pinheiro, psicólogo, especialista em Coaching e Hipnose Clínica
Esta é uma época, onde se estreitam as relações interpessoais, onde os laços afetivos ficam mais fortalecidos, onde as emoções ficam mais “condimentadas” e os valores morais mais evidentes. É uma época, de sensações, de sentimentos, de interações, assinalada pelo aumento de uma atmosfera de emocionalidade positiva, em famílias unidas, estruturadas e coesas. Esta atmosfera positiva adquire ainda mais “brilho” nas famílias onde existem crianças, e onde estas, com a ajuda dos seus pais podem dar aso a todo o seu imaginário.
Ao contrário, esta época para as famílias menos estruturadas e coesas, que porventura possam ter tido momentos menos felizes ao longo do ano (como por exemplo, a perda de um familiar próximo, dificuldades financeiras, doenças debilitantes), que interferem no bem-estar, podem fazer com que nesta época a emocionalidade negativa, (tristeza, isolamento, carência afetiva, saudade, etc.), esteja mais presente. Nesse contexto familiar, a capacidade de resiliência assume um papel crucial, no grupo (família), no sentido de poderem desenvolver
mecanismos de adaptação a novas realidades. O Natal é uma época que deve ser aproveitada para momentos de auto-reflexão, sentimentos como o perdão e o auto-perdão podem ajudar a minimizar as dores emocionais e contribuir para a harmonia interior e consequentemente familiar. Torna-se assim, uma época importante para revalidar os valores que muitas vezes são esquecidos ao longo do ano. A união, a partilha, a amizade, a prosperidade, assim como emoções e sentimentos (como o amor, o apoio, a inter-ajuda, a compreensão, a empatia, etc.), permitem colocar em movimento uma energia positiva, deixando de lado todos aquelas emoções/sentimentos negativos que por vezes se tornam tão destrutivos. Assim sendo, a quadra Natalícia poderá ser uma boa altura para aproveitar no sentido de refletir e serem mais sensíveis a estes valores para que possam prevalecer cada vez mais, a harmonia no seio familiar, não só nesta época, mas ao longo do ano. Mas se ao longo do ano seja por que motivo for, não tiver sido possível, pelo menos nesta data que se avizinha de partilha familiar que seja aproveitada para ser a alavanca para estreitar os laços familiares de quem os tem promovido tão pouco. E quem os promove que aproveite para irradiar ainda mais essa harmonia. Festas Felizes!
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