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Em meio à estiagem e racionamento, moradores de diversos bairros relatam dificuldades no abastecimento
from 20230214
Há cerca de uma semana, o dia a dia de Anderson Gonçalves, 39 anos, tem sido esperar até a madrugada para tomar banho, lavar a louça e juntar água para higiene ao longo do dia. Mas a frustração se instala quando a espera não é recompensada: das torneiras não sai uma gota. Assim tem sido não apenas para Anderson, mas também para dezenas de moradores do bairro Ivo Ferronato - especialmente da rua Angelino Paleti Previtale. A água, que durante o rodízio de abastecimento deveria ser fornecida ao bairro das 15h às 3h, não chega às torneiras.
Para consumo, Gonçalves recorre à água mineral comprada em galões. Para higiene pessoal, lançam mão, inclusive, à água da piscina e a amigos que estão sendo abastecidos. Já a limpeza da casa permanece acumulada desde então. Ele diz que a situação não é inédita, já que se repete a cada racionamento.
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“Aqui na nossa rua, e em algumas outras partes do bairro, a água começa a chegar meia-noite. Aonde eu moro ficamos esperando além disso”, relata.
Gonçalves espera até as 3h para tomar banho antes de sair para trabalhar, às 5h30, no frigorífico Pampeano, em Hulha Negra. “Minha esposa é enfermeira, cuidadora de pessoas em casa, e meu filho está por começar as aulas. Imagina como vai ser, sem banho decente pra gente poder descansar”, destaca. Como nos últimos dias não houve abastecimento, passou a tomar banho no trabalho.
Após diversas solicitações de moradores, o caminhão-pipa foi até o bairro, na tarde de domingo. Contudo, como a quantidade de moradores afetados era grande, a carga de água não foi suficiente para todos e Gonçalves e os vizinhos acabaram ficando sem o abastecimento.
Ainda na manhã de segunda, após passar mais uma madrugada aguardando a chegada de água na rede, sem sucesso, Gonçalves voltou a solicitar abastecimento por caminhão-pipa ao Departamento.
“Queria só que eles aumentassem a pressão, porque com os condomínios ali na Malafaia, a água demora a vir e a pressão é insuficiente”, diz.
No extremo oposto da cidade, no bairro Floresta, a situação é a mesma: moradores aguardam, em vão, a chegada da água nas torneiras. É o que relata Gláucia Domingues Goulart, 33 anos. Ela conta que a situação se repete a cada verão; contudo, agravou-se neste ano. As dificuldades iniciaram antes mesmo do racionamento
Daeb reconhece problema
Através de nota para à imprensa, o Departamento reconheceu as dificuldades de abastecimento, principalmente nos bairros Ivo Ferronato, Damé, Stand, Tiarajú, Aeroporto, mas afirma estar trabalhando para encontrar soluções.
Conforme explica o texto da autarquia, o verão trouxe uma série de fatores que contribuem para a piora da capacidade de abastecimento. Além da falta de chuvas, as temperaturas chegando próximo dos 40° elevam o consumo de água a uma escala muito maior, o que também gera um problema para quem está na ponta da rede. Quando o abastecimento é religado dentro da escala do rodízio, são centenas de quilômetros de tubulações para encher e ganhar pressão, assim como diversos reservatórios do Daeb espalhados pela cidade e, quando isso ocorre, o consumo de água pela população no caminho vai tirando a força para aqueles que estão mais adiante no sistema. Este é um dos efeitos que causam tanto tran- e, inclusive, teriam sido relatadas à autarquia, em reunião, realizada há cerca de 20 dias, entre moradores e representantes do Daeb. “Eles ficaram de resolver nosso problema, só que agora faz 10 dias que não temos água. Às vezes vem o suficiente para juntar um balde, porque não tem pressão para subir. Este está sendo um dos piores anos”, desabafa.
A moradora conta que uma das alternativas mencionadas pelo departamento, durante o encontro, foi a possibilidade de colocarem ca- storno nestas regiões. No caso do Ivo Ferronato, a autarquia pontuou o acréscimo relevante do consumo hídrico no bairro, motivado pelo crescimento do número de construções na região. “ O Daeb vem, durante os últimos anos, executando obras como a substituição de redes pontuais por outras maiores, com mais vazão, para atender a demanda local”. Também informou que está sendo estudada a interligação de redes no Ivo Ferronato, a fim de oferecer um ganho de volume e vazão aos pontos hoje com déficit. Mudanças nas programações de horários de ativação de poços artesianos também estão sendo executadas para estes complementarem o fornecimento nas suas áreas onde for necessário. nos mais grossos, para proporcionar maior pressão. Mas segundo Gláucia, nada foi feito até o momento. Inclusive, até mesmo medidas paliativas, executadas pelo Departamento, não têm dado conta da demanda. A quantidade de água distribuída pelo caminhão-pipa, segundo a moradora, é insuficiente para atender toda a população afeta-
O Daeb também informou que está atendendo os pontos mais críticos com caminhões-pipa diariamente; entretanto, não informou quais medidas definitivas serão tomadas para sanar os problemas nos outros bairros afetados, além do Ivo Ferronato.
Situação crítica
Em medição realizada na segunda-feira, dia 13, a barragem Santa Rasa registrou -5,70m abaixo da normalidade; já o Piraí está 3,55m abaixo do normal, enquanto a barragem Emergencial está apenas 80 cm abaixo da sua da. Como o caminhão abastece a caixa d’água do bairro, para distribuir aos moradores, a falta de pressão impossibilita que a água alcance as casas localizadas em pontos mais altos. “Um caminhão não resolve em nada. Se eles colocarem quatro, cinco caminhões, aí sim irá até nós. Sabemos disso porque foi assim no verão passado”, conta. capacidade máxima.
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Chegando na metade de fevereiro, o município registrou apenas 7,5 milímetros de precipitações, até o momento - muito abaixo da média histórica, que é 160mm.