O São Paulo - 3387

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Ano 67 | Edição 3387 | 16 a 22 de março de 2022

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

EDUCAÇÃO INTEGRAL A importância das virtudes na formação humana Proporcionar que a pessoa seja mais consciente a respeito de si mesma e do mundo à sua volta, a fim de que tenha melhor controle de seus sentimentos, pensamentos e ações, é uma das metas da Educação, tema da Campanha da Fraternidade 2022.

Editorial Por que fazer penitência Página 4

Encontro com o Pastor Nossa Igreja Católica é romana e isso significa que ela está com o Papa

Criação a partir de imagem de Monique Cherubini/Escola Pedrita

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Nesse caminho de formação integral, o agir educativo deve levar ao desenvolvimento pessoal, cognitivo, emocional e profissional, por meio de vivências que trabalhem as virtudes e o domínio das emoções na escola, na família e em outros momentos de

interação social, como mostra a reportagem do O SÃO PAULO a partir da visita a uma escola de educação infantil e diálogos com pais e professores que lidam com crianças e adolescentes cotidianamente. Páginas 10 e 11


2 | Encontro com o Pastor | 16 a 22 de março de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

N

o dia 13 de março passado, lembramos o 9º aniversário da eleição do Papa Francisco como sucessor do apóstolo Pedro na sede de Roma e como pastor universal da Igreja de Cristo. No dia 19 de março, lembramos o aniversário do início solene de seu pontificado, que ele dedicou ao patrocínio de São José, “guardião e provedor da família de Deus”. Que Deus conserve o Papa Francisco com saúde e lhe conceda todos os dons necessários para o desempenho de sua imensa missão na Igreja e no mundo. Lembramo-nos bem do destaque dado por ele mesmo, logo após sua eleição, ao fato de ser o “bispo de Roma”. Parecia uma novidade e, para alguns, até um pouco estranho e uma diminuição da importância do papa. Mas não há que estranhar e não se trata de um detalhe secundário. De fato, somente o bispo eleito para a sede de Roma é também Papa e Sumo Pontífice de toda a Igreja Católica. Qualquer bispo de outra sede episcopal, que se apresentasse por sua própria conta como “Papa”, seria ilegítimo. Também seria ilegítimo se fosse apresentado ou escolhido por algum poder ou grupo não legitimado para fazer essa escolha.

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Igreja Católica Apostólica Romana Não desejo entrar aqui em discussão com quem ainda insiste em afirmar que a renúncia de Bento XVI não foi legítima ou com quem prefere acreditar em teorias da conspiração, sem o menor fundamento, para deslegitimar a eleição do Papa Francisco. Por qual motivo deve o bispo de Roma ser o Papa, e não o de alguma outra sede episcopal antiga e também importante? A resposta está na tradição ininterrupta da Igreja, desde os tempos apostólicos: o apóstolo Pedro, que recebeu de Jesus o poder das chaves e a missão universal de apascentar as ovelhas e os cordeiros do rebanho de Jesus (cf. Jo 21,15-17), foi o primeiro bispo de Roma, onde ele também deu o testemunho derradeiro de sua fé e da missão de “confirmar os irmãos na fé em Cristo” (cf. Lc 22,31-32), mediante o martírio. Desde então, os sucessores de São Pedro na sede de Roma receberam esse reconhecimento de continuadores da missão especial e única confiada por Jesus ao apóstolo Pedro. Por isso, são sucessores do apóstolo Pedro na sua sede episcopal e na sua missão perante toda a Igreja. Ao longo da história da Igreja, houve períodos breves em que o Papa passou algum tempo fora da sede de Roma, como aconteceu ao longo do século XIV. Vários papas viveram em Avinhão, no sul da França, por circunstâncias históricas específicas. Mas essa ausência da sede de Roma

sempre foi entendida como uma situação anômala, criando até mesmo a situação de dois “papas” na Igreja: um legítimo e outro, ilegítimo. Tão logo as circunstâncias adversas permitiram, o Papa legítimo voltou a Roma. O fato de nossa Igreja, além de católica e apostólica, também ser “romana” diz respeito a essa relação que ela tem com o Bispo de Roma, chamado também Papa, Sucessor do Apóstolo Pedro e Sumo Pontífice de toda a Igreja. O Sucessor do apóstolo Pedro tem a missão de anunciar e defender a integridade da fé e de manter a Igreja unida na fé apostólica e eclesial. Ele também confirma na fé os irmãos, ou seja, mostra com segurança a reta interpretação do patrimônio da fé da Igreja, animando-a a viver e transmitir esse rico patrimônio da fé e da vida da Igreja. Entendemos assim o motivo por que o Papa fala e escreve muito e seus documentos e pronunciamentos sobre questões de fé e moral têm valor de magistério, ou seja, de ensinamento que deve ser aceito e seguido pelos irmãos na fé. Mas ainda há outro aspecto na missão do Bispo de Roma, o Papa. Ele é o primeiro missionário da Igreja e, portanto, anima a Igreja no cumprimento da missão que os apóstolos receberam de Jesus, que passou aos sucessores dos apóstolos e à Igreja inteira. O Evangelho precisa ser anunciado, vivido e transmitido em todos os tempos e em todo o mundo, “até os

extremos da terra” (cf. Mc 16,15-16). Essa missão do Papa está implicada no fato de, em Roma, também o apóstolo Paulo ter dado o seu testemunho por Cristo mediante o martírio. Paulo, o grande missionário, mais que os outros apóstolos, abriu as fronteiras dos povos e culturas ao Evangelho e à participação na vida da Igreja. O túmulo de Paulo, em Roma, lembra que o Bispo de Roma também assume a missão de Paulo na animação missionária da Igreja. Entendemos bem, portanto, os constantes apelos do Papa para que sejamos uma Igreja “em saída missionária”, em estado permanente de missão. É preciso dizer, ainda, que o Papa não é o único a desempenhar essa missão: todos os bispos que estão em comunhão com ele também têm parte nessa mesma missão e responsabilidade na Igreja. Cada um deles, em sua diocese, desempenha essa missão com responsabilidade pessoal, mas em comunhão com os demais bispos e com o Papa. Em tempos de “Igreja sinodal”, é oportuno recordar que a “comunhão” na Igreja se expressa também nessas formas bem perceptíveis de vivência da comunhão sinodal. Não bastaria viver uma doutrina, de forma abstrata e subjetiva, sem estar em comunhão com o Papa e com os bispos que estão em comunhão com ele. Nossa Igreja católica é “romana” e isso significa que ela está com o Papa, que hoje tem o nome de Francisco.

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| 16 a 22 de março de 2022 | Geral/Atos da Cúria | 3

Monsenhor Gian Paolo Montini dará aula inaugural na Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo PROMOTOR DE JUSTIÇA DO SUPREMO TRIBUNAL DA ASSINATURA APOSTÓLICA FARÁ CONFERÊNCIA SOBRE PRINCÍPIO DE PROPORCIONALIDADE NA APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO DO EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO SACERDOTAL REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

A Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, instituição eclesiástica de ensino superior da Arquidiocese de São Paulo, realizará, em 25 de março, a aula inaugural do 1º semestre de 2022, com a temática “O princípio de proporcionali-

dade na aplicação da suspensão do exercício do ministério sacerdotal, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica”. A aula on-line será aberta pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo e Grão-Chanceler da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, seguida da conferência do Monsenhor Gian Paolo Montini, sacerdote italiano, doutor em Direito Canônico pela Faculdade de Direito Canônico da Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), diretor da revista “Periodica De Re Canonica”, da mesma universidade, promotor de justiça do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, promotor de justiça no Tribunal de Cassação do Estado da Cidade do Vaticano e professor visitante da Faculdade de Direito da PUG.

TRIBUNAIS DA IGREJA

Na Igreja Católica, existem os tribunais eclesiásticos, que podem ser diocesa-

nos, interdiocesanos ou regionais. Neles, trabalham juízes, promotores, advogados, notários, procuradores e outros oficiais. Nas dioceses em que não há tribunais próprios, existem as câmaras eclesiásticas. Há tribunais eclesiásticos de 1ª instância e os de apelação (2ª instância). Existem, ainda, os tribunais da Sé Apostólica, que atuam em nome do Papa, “juiz supremo para todo o mundo católico” (cf. cânon, 1442). O Tribunal da Rota Romana julga, em 2ª instância, as causas que tenham sido julgadas pelos tribunais ordinários de 1ª instância e que sejam levadas à Santa Sé, mediante apelação legítima. Também julga qualquer causa em 3ª ou maiores instâncias, julgadas pela própria Rota ou por quaisquer outros tribunais, além de causas de qualquer instância reservada ao Papa, segundo previsto no Código de Direito Canônico. O Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica tem a competência de vigiar para que a justiça eclesiástica seja reta-

mente ministrada. É o único tribunal da Igreja no mundo capacitado para julgar e dirimir causas oriundas de atos administrativos que lesem os direitos de alguém, por exemplo, recursos recusados pela Rota Romana, conflitos de competência entre juízes sujeitos a distintos tribunais de apelação, recursos contra decisões dos organismos da Cúria Romana, entre outros. Delitos contra a fé e os delitos mais graves cometidos contra os costumes (por exemplo, abuso de menores) ou na celebração dos sacramentos (como a violação do sigilo da Confissão), ocorridos em qualquer lugar do mundo, devem ser julgados pela Congregação para a Doutrina da Fé.

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES

A aula será das 11h30 às 13h (horário de Brasília) e aberta ao público em geral. As inscrições gratuitas podem ser feitas até o dia 23, às 17h (não havendo possibilidade de fazer inscrição após este dia e horário), pelo site: https://facdcsp.com.br.

Dom Odilo a seminaristas: vocês serão os padres desta Igreja sinodal Bruno Melo

REDAÇÃO Na sexta-feira, 11, o Cardeal Odilo Pedro Scherer se reuniu com seminaristas e formadores da Arquidiocese de São Paulo para o encontro anual (foto) que marca o início do ano formativo do Seminário Arquidiocesano. O evento aconteceu no Seminário Missionário Internacional Redemptoris Mater São Paulo Apóstolo, no Jaraguá, e contou com a presença dos estudantes dos seminários Propedêutico Nossa Senhora da Assunção, de Filosofia Santo Cura d’Ars e de Teologia Bom Pastor. O Arcebispo refletiu sobre as diferentes etapas da formação sacerdotal na

Igreja, destacando que as recentes diretrizes da Santa Sé enfatizam não apenas o âmbito acadêmico, mas, sim, um processo integral, constituído das dimensões humana, espiritual, pastoral, intelectual e missionária. Dom Odilo também motivou os seminaristas a participarem no caminho sinodal vivido pela Igreja no âmbito universal e arquidiocesano. “Coragem! Vocês serão os padres desta Igreja sinodal, que se renova na missão”, exortou o Cardeal, frisando a importância de os futuros padres, desde cedo, se interessarem pelas questões próprias da Igreja em São Paulo, onde realizarão sua vocação.

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO:

Em 12/03/2022, foi nomeado e provisionado como Pároco da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro do Jardim Princesa, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Dorival Ferreira Leite, CRL, pelo período de 06 (seis) anos.

PRORROGAÇÃO DA NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE PÁROCO:

Em 10/03/2022, foi prorrogada a nomeação e provisão como Pároco da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no bairro do Jardim Sydney, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Francisco Antônio Rangel de Barros, pelo período de 01 (um) ano.

NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL:

Em 02/02/2022, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial, “ad nutum episcopi”, da Paróquia Divino Salvador, no bairro Vila Olímpia, na Região Episcopal Sé, o Reverendíssimo Padre Edson Donizete Toneti.

NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL:

Em 12/03/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Imaculado Cora-

ção de Maria, no bairro do Jardim Princesa, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Juscelino Ricardo de Santana, CRL, pelo período de 01 (um) ano. Em 12/03/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro do Jardim Princesa, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Mário Scopel, CRL, pelo período de 01 (um) ano.

POSSE CANÔNICA:

Em 06/03/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima, no bairro Jardim Tremembé, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Cândido da Costa. Em 06/03/2022, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, no bairro do Jaçanã, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Sulliver Rodrigues do Prado. Em 06/03/2022, foi dada a posse canônica como Administrador Paroquial da Paróquia Divino Salvador, no bairro Vila Olímpia, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Edson Donizete Toneti. Em 06/03/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Consolação,

no bairro da Consolação, na Região Episcopal Sé, ao Reverendíssimo Padre Alessandro Enrico de Bórbon. Em 05/03/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Santa Inês, no bairro Lauzane Paulista, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre José Esteves Filho. Em 04/03/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Menino Jesus, no bairro de Vila Mazzei, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Roberto Fernando Lacerda. Em 27/02/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro da Vila Clementino, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Frei Raimundo Justiniano de Oliveira Castro, OFM. Em 27/02/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São Francisco de Assis, no bairro da Vila Clementino, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Frei Rodrigo da Silva Santos, OFM. Em 27/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São José, no bairro Jardim Monte Alegre, na Região Episcopal Lapa, ao Reverendíssimo Padre Messias de Moraes Ferreira. Em 26/02/2022, foi dada a posse canônica como

Pároco da Paróquia Santa Terezinha, no bairro Jardim Regina, na Região Episcopal Lapa, ao Reverendíssimo Padre Admário Gama Cambrainha. Em 12/02/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Jardim Maristela, na Região Episcopal Ipiranga, ao Reverendíssimo Padre Edson Chagas Pacondes.


4 | Ponto de Vista | 16 a 22 de março de 2022 |

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Editorial

O sentido humano e cristão da penitência corporal

H

á muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso. Só pensam nas coisas terrenas! (cf. Fl 3,18-19). Nesta sequência de reflexões sobre as três obras quaresmais, gostaríamos de tratar do tema da penitência corporal, que os nossos antepassados cristãos apelidaram de jejum. Falar de penitência no século XXI é como tentar vender guarda-chuvas no deserto: o ambiente cultural em que vivemos nos bombardeia constantemente com a ideia de que felicidade se resume em sentir prazer, o que nos remete ao inevitável desprezo do sentido do sacrifício, tão necessário quando o que se pretende é alcançar grandes ideais. Além disso, a identificação do sentido de vida com a satisfação do próprio eu está na raiz de muitos

dos males que afligem a humanidade. Tomemos como exemplo o que acontece com uma criança que tem todos os seus desejos satisfeitos, sem quaisquer formas de limites: seus pais e educadores se dobram a todos os seus caprichos, ficam paralisados e aflitos cada vez que o pequeno ameaça se desatar num choro manhoso? O resultado (como qualquer pai ou mãe pode testemunhar) é uma criança mimada e irritadiça, que cresce com uma imensa capacidade de ser infeliz – pois se considera uma vítima do universo, sempre que lhe acontece qualquer mínima contrariedade que nem sequer seria percebida por alguém educado para ter mais fibra moral. Desde a Antiguidade, os filósofos gregos já haviam percebido essa realidade fundamental do ser humano. Por isso é que, contra o “naturalismo” de Cálicles, que dizia que felicidade é dar livre vazão a seus desejos, Sócrates res-

pondia com a parábola dos homens que buscam encher seus vasos com vinho, leite e mel: o homem temperado possui recipientes fortes e íntegros e consegue saciá-los a seu devido tempo, mas o homem licencioso possui seus vasos furados, e ainda tenta enchê-los com peneiras – de modo que nunca termina de completá-los, e fica tremendamente triste quando desiste de sua empreitada (Górgias, 492-493). Nós, cristãos, também percebemos essas verdades básicas sobre a natureza humana – e por isso mesmo é que desde sempre recomendamos a prática da penitência ou ascese (que significa “exercício”, “musculação da alma”). Não queremos que o nosso deus seja o estômago, não queremos pensar só nas coisas terrenas, e por isso abraçamos com amor algumas renúncias corporais, para que nossa alma domine livremente o nosso corpo. E a penitência tem ainda um senti-

do de expiação, de reparação pelos nossos pecados! É claro que o perdão dos pecados não vem da mortificação em si – para isso, Deus instituiu um caminho específico: a confissão sacramental, a um sacerdote ordenado (cf. Jo 20,23). Mas o fato é que nossos pecados, mesmo depois de perdoados, ainda deixam certas desordens em nossos afetos: as quais terão de ser purificadas antes de podermos contemplar o Deus de toda pureza. Cada um de nós pode se colocar diante da pergunta: onde prefiro me purificar de minhas faltas, nesta vida ou na outra? Carregando com paciência a pequena cruz de cada dia, ou contemplando agoniado, no Purgatório, o imenso amor de Deus por mim e a extrema maldade das minhas faltas? Vamos nos esforçar, neste tempo forte de conversão, para colocar diante dos olhos nossa mortalidade, e colocar nossa esperança nos prazeres duradouros e celestes.

Opinião

As místicas do século XX

Arte: Sergio Ricciuto Conte

JOSÉ EDUARDO CÂMARA Há pouco mais de 20 anos, São João Paulo II, analisando os desafios deste nosso milênio, clamava-nos a ir para águas mais profundas, apontando-nos inclusive a grande tradição mística da Igreja e o grande patrimônio que é a “teologia vivida dos santos”. Assim escrevia: “Não será porventura um ‘sinal dos tempos’ que se verifique hoje, não obstante os vastos processos de secularização, uma generalizada exigência de espiritualidade, que em grande parte se exprime precisamente numa renovada carência de oração?” (Novo Millennio Ineunte, NMI, 33). Não podia ser mais atual. Talvez a maior necessidade de nosso tempo – ouso dizer que é uma verdadeira urgência – seja a tarefa de se pôr na escola dos místicos, muito particularmente das místicas do século XX. Mas os místicos são difíceis, me dizem. Na verdade, eles são poéticos, inclusive por necessidade. Como traduzir com palavras o inefável? Aqui só a Arte vem em nosso socorro, e entre elas a mais nobre: a poesia. Daí que o místico, não só faz poesia, mas acaba por se tornar poesia perfeita em ação, como Simone Weil escrevia acerca de São Francisco de Assis. Isso, porém, não deve nos dar medo, ao contrário, porque as coisas verdadeiramente importantes na vida exigem ir além da superfície. E este tempo exige de nós, para po-

dermos sobreviver, ir para águas mais profundas. As recentes manchetes dos jornais nos mostraram o quanto ainda experimentamos as profundas chagas do século passado, como ainda estamos marcados com pólvora e sangue pelas ideologias do século XX. Sentimos fortemente como seus fantasmas não nos deixaram, mas ao contrário, parecem, hoje, mais do que nunca, que voltam para nos aterrorizar. Daí a relevância de haurir desta grande riqueza a nós deixada como herança por estas mulheres que sofreram estas mesmas chagas, que sorveram deste cálice amargo, mas que intuíram o único antídoto possível: o Amor.

Portanto, entrar na sua escola nos permitirá resistir ao mal do momento presente, tão cruel e desumanizante. Ao tocarmos com a mão a experiência de Deus destas mulheres, captamos a atualidade das palavras de São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rm 12,21). O século XX teve uma verdadeira enxurrada de grandes místicas, que nos legaram um patrimônio literário enorme. Mulheres brilhantes que nos deixaram as mais destacadas luzes para a Teologia, para a Filosofia, mas sobretudo para cada um de nós. Elas nos falam de Deus não

como especulação filosófica, mas como Amor-Trindade, amam a Jesus não como personalidade histórica, mas como Mestre, Irmão, Amigo, Esposo. E, Nele, veem os homens e mulheres não como meras engrenagens, mas como filhos profundamente amados. Deve-se destacar também que esta literatura mística feminina não vem exclusivamente do ambiente monástico, mas também de mulheres leigas, sejam casadas, como Concepción Cabrera de Armida, mãe de nove filhos; sejam consagradas no mundo, como Itala Mela, oblata beneditina, escondida no deserto de Deus. Como é incrível e vivaz a ação do Espírito Santo! De Gemma Galgani, com seu chamado à confiança e intimidade, a Maria Teresa Carloni, a quem o amor leva a romper todas as barreiras, inclusive aquela da Cortina de Ferro. De Maria Bordoni, com seu carisma mariano e sacerdotal, a Chiara Lubich, com seu amor esponsal a Jesus Abandonado. Multicoloridas, multifacetadas, entre luzes e sombras, nos mostram ao vivo e em cores o amor misericordioso. Manifestam que viver em Deus é estar num caleidoscópio, porque talvez seja essa a grande ajuda que nos darão: nos livrarão da massificação despersonalizante. José Eduardo Câmara é advogado, tradutor e escritor. É autor do livro “Os anjos na vida dos santos”.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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| 16 a 22 de março de 2022 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 5

BELÉM

Espiritualidade

Centro Vocacional Arquidiocesano promove formação para os agentes da Pastoral Giane Falavigna

PADRE JOSÉ CARLOS ANJOS

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No sábado, 12, o Centro Vocacional Arquidiocesano (CVA) promoveu, no Centro Pastoral São José, no Belém, uma manhã de formação para os agentes da Pastoral Vocacional, com a assessoria de Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga e referencial para a Pastoral Vocacional e os Seminários. Aos 60 participantes do encontro, provenientes nas seis regiões episcopais, Dom Ângelo explicou que o objetivo é criar uma cultura vocacional na Arquidiocese. Ele também lembrou o III Ano Vocacional no Brasil, que acontecerá em 2023, com o tema “Vocação: Graça e Missão”, e lema “Corações ardentes,

DOM CARLOS LEMA GARCIA

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO SÉ E VIGÁRIO EPISCOPAL PARA A EDUCAÇÃO E A UNIVERSIDADE

pés a caminho”, aprovado durante a 58ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O Bispo Auxiliar fez um histórico da caminhada vocacional na Arquidiocese, lembrando os últimos anos e congressos vocacionais,

e exortou os agentes a se inserirem na caminhada vocacional da Igreja e a se programarem para o III Ano Vocacional no Brasil. Também ressaltou que eles devem se dedicar a despertar, discernir, cultivar, animar, promover e acompanhar as vocações e os ministérios da Igreja.

BRASILÂNDIA Bispo dá posse a padres na Paróquia Imaculado Coração de Maria JÉSSICA CONCEIÇÃO

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

A Paróquia Imaculado Coração de Maria, Setor São José Operário, celebrou no sábado, 12, na Comunidade Nossa Senhora das Dores, a missa de posse do Pároco, Padre Dorival Leite (CRL), e do Vigário Paroquial, Padre Mario Scopel (CRL), com missa presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia iniciou sua reflexão recordando a retomada das atividades do sínodo arquidiocesano: “Deus habita nesta grande cidade e nós somos suas testemunhas,

São José: servir e amar por meio do trabalho

carregamos Cristo em nós”. Mencionou ainda a Quarta-feira de Cinzas, quando se iniciou a Quaresma, exortando os fiéis a assumirem uma meta, cumprindo-a e se preparando para a Páscoa do Senhor. “Quarenta dias para se preparar para celebrar a Ressurreição: precisamos ressuscitar com Cristo, pois a vida é mais forte que a morte, a alegria vence a tristeza, a paz vence a guerra e o ódio. Precisamos nos posicionar para conseguir cumprir essa meta, como a igreja nos propõe neste tempo tão bonito. É tempo de combate! Temos em mãos o Evangelho para fazer reflexões e é tempo de transfiguração. A caridade e a oração

são caminhos para se aproximar de Deus, por meio do jejum e da solidariedade para sentir a presença de Deus. Assim cada um se transfigura, partilhando o que tem de melhor com o próximo”, afirmou. Disse, ainda, sobre as realidades humana e divina, lembrando que Jesus muda de figura, se transfigura para nós. Ao subir para Jerusalém, Ele anuncia aos discípulos a sua Paixão e seu sofrimento na cruz. “O Nazareno nos convida a sair do comodismo e a ir para a luta anunciar. A Quaresma é um tempo favorável para sermos gerados para uma vida nova em Cristo e com os irmãos.”

Giuseppe D’Aleo

Mila Cristian

[SANTANA] No domingo, 13, na Paróquia São Benedito, Setor Jaçanã, aconteceu a apresentação do Padre Iber Sompi Malu, da Congregação dos Josefinos de Murialdo, como Vigário Paroquial, em missa presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, tendo entre os concelebrantes o Padre Idair Bonadiman, Pároco. (por Giuseppe D’Aleo)

[BRASILÂNDIA] No domingo, 13, houve o primeiro encontro das mulheres da Paróquia Santíssima Trindade, Setor Perus, realizado na Escola Jairo de Almeida. Com o tema “Mulheres fortes em tempos difíceis”, participaram do evento mais de 120 mulheres, com animação do coral da Aliança de Misericórdia. Foi um dia de espiritualidade e adoração ao Santíssimo Sacramento, iniciado com o Terço, seguido de oração de cura e libertação. Houve também a presença de convidados que testemunharam a vivência e perseverança na fé em Deus e em Nossa Senhora. As participantes também meditaram sobre passagens bíblicas que retratam mulheres virtuosas, a exemplo de Rute, Ester e Noemi. O evento foi encerrado com a Santa Missa, presidida pelo Padre José Miguel. (por Noeme Batista)

A

Igreja celebra com grande solenidade a festa de São José: o Evangelho da missa nos fala da sua vocação: “Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados’. Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa” (Mt 1,20-24). São José se sentia continuamente um homem privilegiado. Nunca se acostumou com todas as graças que Deus reservou para ele, desde o início da sua vocação de esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Não cabia em seu coração a alegria de contemplar a santidade radiante de Maria e o Verbo de Deus feito homem, Jesus. Todas as noites, elevava seu coração em ação de graças a Deus por haver vivido mais um dia na intimidade do lar de Nazaré, com Maria Santíssima e com Jesus. Já de madrugada, deveria acordar com as primeiras luzes da aurora, feliz por começar um novo dia de trabalho e de convivência amorosa com Maria e Jesus. Sempre consideraria uma honra, uma alegria, um privilégio, poder servir, oferecer seus trabalhos, seus esforços para levar adiante sua Sagrada Família. Nós também devemos pensar da mesma forma: temos Jesus no sacrário, temos amor a Nossa Senhora, temos as pessoas ao nosso lado, a quem servimos, com quem convivemos, por quem trabalhamos. Como São José não achava nunca nada excessivo, nada pesado, nada exagerado – pelo contrário, tudo era para ele uma alegria –, assim também nós devemos aprender a servir a Deus e aos demais generosamente, sem reservas nem mediocridade. Assim, podemos concluir que, para José, não havia monotonia: todos os dias, sentia um gosto enorme em começar o trabalho, pois sabia que eram momentos em que mais conversava com Jesus, que é o mesmo que conversar com Deus, fazer oração. Ele descobriu logo que o trabalho feito com Deus não cansa: dá gosto! Na oficina de Nazaré, viveu os longos anos da sua vida de trabalho. Foram os dias mais abençoados porque ele pôde estar mais perto de Cristo. Os anos mais felizes. Ainda que sempre tenha vivido pobre, considerava-se o homem mais feliz: ninguém teve Deus tão perto como ele. Dentro da sua própria casa! Queremos amar a Deus com um coração puro e generoso como o de São José, que é mestre no amor a Jesus e a Maria Santíssima. Nós também nunca deveríamos perder a consciência desse privilégio da vocação divina. Esta sorte imensa de poder transformar todas as nossas tarefas em amor, de santificar o trabalho que temos entre as nossas mãos, de amar e servir as pessoas que Deus nos confiou.


6 | Regiões Episcopais | 16 a 22 de março de 2022 | [SÉ] No domingo, 13, na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Jardins, 23 crianças receberam a primeira Eucaristia, tendo sido preparadas durante um ano pe(por Rogério Nakamoto) las catequistas. [SÉ] No domingo, 13, a missa das 9h na Paróquia Santo Antônio, no Pari, no Setor Bom Retiro, presidida pelo Pároco, Frei Wilson Batista Simão, OFM, marcou o início da pré-assembleia do sínodo arquidiocesano. Na ocasião, houve a apresentação dos membros do Conselho Pastoral Paro(por Alexandre Aliandro) quial (CPP). [BRASILÂNDIA] O clero atuante na Região Episcopal Brasilândia se reuniu na sexta-feira, 11, com Dom Carlos Silva, OFMCap. Nesse encontro, foi eleito o novo Coordenador dos Presbíteros, que passou a ser o Padre Reinaldo Torres, Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, Setor Dom Paulo Evaristo. Também foram definidos os coordenadores dos setores: Padre José Bragheto, Setor Freguesia do Ó; Padre Nathanael Pires, Setor Dom Paulo Evaristo; Padre João Henrique Novo do Prado, Setor Jaraguá; Padre Dorival Leite, Setor São José Operário; Padre Luciano Andreolli, Setor Perus; e Padre Roberto Moura, Setor Pereira Barreto. (por Taíse Cortês)

[BRASILÂNDIA] No dia 6, um grupo de 25 catequizandos da Catequese de Adultos on-line da Paróquia Nossa Senhora da Paz, Setor Jaraguá, recebeu o Símbolo dos Apóstolos (Oração do Creio) e a Oração do Pai-Nosso durante a celebração da missa. Desde julho de 2021, o grupo se encontra semanalmente por meio de um aplicativo para aprofundar sua caminhada de seguimento a Jesus, em preparação para o recebimento dos sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Eucaristia e Crisma. (por Rosana – Paróquia Nossa Senhora da Paz)

[BRASILÂNDIA] A Pastoral da Mulher da Paróquia Cristo Rei, Setor Perus, fundada em agosto de 2019, retomou no domingo, 13, suas atividades com o tema “Mulheres na pandemia”. A atividade tem o apoio do Pároco, Padre Orisvaldo Carvalho, e de Glória Guizani, Marilia Piloto e Josemary Meneses. (por Pascom paroquial)

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LAPA Monsenhor Cícero Alves de França preside missa em ação de graças Natália Fernanda Ferreira Fenandes

BENIGNO NAVEIRA

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No dia 6, na Paróquia São Patrício, Setor Rio Pequeno, a comunidade de fiéis participou da missa em ação de graças pela nomeação do Monsenhor Cícero Alves de França como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. A celebração eucarística foi presidida pelo próprio Monsenhor, que teve como concelebrantes o Padre Ernandes Alves da Silva Júnior, Pároco, e demais padres convidados, assistidos pelo Diácono Permanente Paulo José Oliveira. Ao fim da missa, Monsenhor Cícero falou de sua caminhada sacerdotal como resposta “ao chamado de Deus”. Natural de Cajazeiras (PB), nasceu em 13 de

março de 1975 e sua vocação começou aos 16 anos na Paróquia São Patrício, onde trabalhou como secretário paroquial, época em que o Pároco era o Padre José Carlos Spinola. Depois, tornou-se catequista, ministro da Palavra e, espelhando-se no trabalho de evangelização dos sacerdotes, começou a refletir sobre o chamado que Deus lhe fazia. Ao conhecer Dom Fernando José Penteado, na época Bispo Auxiliar da Arqui-

diocese de São Paulo e atual Bispo Emérito de Jacarezinho (PR), e vivenciar sua atenção, carinho e trabalho de evangelização com os fiéis, sentiu-se inspirado a trilhar o caminho rumo ao sacerdócio. Ingressou no seminário em 1996 e foi ordenado sacerdote em 7 de março de 2004. Monsenhor Cícero agradeceu o convite e a acolhida ao Padre Ernandes, aos demais padres, diáconos, seminaristas e a toda a comunidade.

BRASILÂNDIA Dom Carlos Silva visita instituição no Centro para o atendimento à população em situação de rua VANESKA MOURA E TAÍSE CORTÊS

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No dia 9, Dom Carlos Silva, OFMCap., visitou o “Centro de Convivência São Vicente de Paulo”, mantido pela Associação União Beneficente das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem, localizado na região central de São Paulo. O local funciona há 20 anos e tem como missão promover o atendimento e a acolhida aos irmãos em situação de rua, a fim Pascom paroquial

[IPIRANGA] No domingo, 13, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa no Santuário Santa Edwiges, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 15 adultos. (por Bruno Lima)

de estimular e contribuir para o seu processo de sociabilidade e reintegração social. O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia visitou as instalações da casa, conversou com as religiosas e com os assistidos. Presidiu missa e, durante a homilia, destacou que a casa acolhe a todos com amor e citou uma frase de São Francisco de Assis “Cessem, portanto, as palavras e falem as obras”. O atendimento aos assistidos começa de manhã e se estende até o fim da tarde, incluindo a distribuição de 300 refeições por dia (café da manhã, almoço e sopa). Também são oferecidos espaço de estar e

convívio, guarda de pertences, lavagem e secagem de roupas, corte de cabelo e barba, aulas de artesanato, informática e música, informações sobre emprego, campanhas de saúde, grupo de reflexão, palestras, grupo de Alcoólicos Anônimos, banho, kits de higiene (sabão, sabonete, creme dental, aparelho de barbear, papel higiênico, escovas de dentes), roupas e cobertores. As obras sociais atendidas pela Associação União Beneficente das Irmãs de São Vicente de Paulo de Gysegem estão precisando de doações. Mais informações em: www.irmasvicentinas.com.br/home.

[LAPA] Na Paróquia Nossa Senhora do Líbano, Setor Pirituba, no dia 3, aconteceu a reunião do Conselho Paroquial de Pastoral (CPP), com a presença de Dom José Benedito Cardoso. Dirigida pelo Padre José Antônio Filho, SJC, Pároco, com a participação dos coordenadores de pastorais, a reunião contou com uma retrospectiva das atividades realizadas pela Paróquia desde o início da pandemia, além da apresentação das propostas para 2022. Padre José agradeceu a Dom José e salientou que a presença do Bispo é um grande incentivo para a comunidade. (por Benigno Naveira)

[LAPA] Na quinta-feira, 10, na Paróquia Nossa Senhora da Lapa, aconteceu a reunião dos secretários paroquiais com Rodrigo Almeida, representante da Orgsystem, empresa de software que desenvolve soluções integradas de gestão para instituições. A reunião foi conduzida pelo Assistente Eclesiástico dos Secretários Paroquiais da Região Lapa, Padre Antônio Francisco Ribeiro, com a presença de Dom José Benedito Cardoso. Padre Antônio ressaltou o trabalho dos secretários em relação ao sínodo arquidiocesano tanto nas paróquias quanto na Região. (por Benigno Naveira)

(Colaborou: Severino Dantas)

Paulo Fernandes

Roberto Marcelino

[BRASILÂNDIA] Na Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, Setor Pereira Barreto, no domingo, 13, Dom Carlos Silva, OFMCap., presidiu a missa durante a qual 14 adultos receberam o sacramento da Crisma. O Padre Francisco Antônio Rangel de Barros, Pároco, foi o concelebrante. (por Eva Nascimento)

[SÉ] No sábado, 12, na Paróquia Santuário São Francisco de Assis, do Largo São Francisco, ocorreu o encontro dos padres, religiosos e leigos do Setor Catedral, presidido pelo Frei Mario Luiz Tagliari, OFM, Pároco, e Coordenador do Setor. Com a presença de Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, tratou-se de diversos assuntos, entre eles as demandas da população em situação de rua, CF 2022 e a pré-assembleia do sínodo arquidiocesano. (por Paulo Fernandes)


| 16 a 22 de março de 2022 | Regiões Episcopais/Viver Bem| 7

SÉ Reuniões do clero e do CRP ressaltam a necessidade de motivação da juventude Centro de Pastoral da Região Sé

CENTRO DE PASTORAL DA REGIÃO SÉ O início do mês de março foi marcado por duas reuniões importantes no âmbito da Região Episcopal Sé. Com pautas comuns a ambas, a primeira delas ocorreu na Paróquia São Paulo da Cruz - Calvário, no dia 8, e reuniu o clero atuante na Região. No dia seguinte, 9, a reunião, foi com os membros do Conselho Regional de Pastoral (CRP), na Cúria Regional (foto). As duas reuniões foram presididas por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, e contaram com o apoio do Cônego José Arnaldo Juliano dos Santos, Coordenador Regional de Pastoral, que expôs alguns detalhes a

respeito de um dos temas tratados na ocasião: a retomada dos trabalhos do sínodo arquidiocesano, que requer o envolvimento e a contribuição de todos para a realização da próxima etapa prevista no cronograma de atividades, a pré-assembleia. Em seguida, com a assessoria do Padre Vandro Pisaneschi, Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrate, em Pinheiros, o segundo tema abordado nas duas reuniões foi a necessidade de se estimular o retorno dos jovens às atividades presenciais da Igreja, de maneira a contar novamente com a sua participação efetiva. Para tanto, ele se baseou na exortação apostólica pós-sinodal Christus vivit, do Papa Francisco, que retra-

ta o jovem no âmbito da Igreja e como engajá-lo nas paróquias. O documento aponta a necessidade de não rotulá-lo; de aceitar suas mais variadas realidades; de haver maior abertura dos demais grupos e pastorais presentes nas paróquias, a fim de acolhê-lo e proporcionar-lhe maior espaço de participação; e a necessidade do uso de uma linguagem que seja ideal ao público juvenil. Após a explanação, em ambas as reuniões se formaram grupos de trabalho para acolher sugestões e apresentar propostas de como fomentar a volta e o engajamento da juventude na Igreja. Na reunião do CRP, algumas delas foram destacadas por Dom Carlos Lema Garcia: identificar lideranças entre os jovens a fim de se criar grupos de jovens e, assim, preparar novas lideranças para um futuro próximo; motivá-los a participar das atividades propostas para a Campanha da Fraternidade deste ano, como catequese e trabalhos em que se possa aproveitar seu conhecimento do mundo digital e colocá-lo a serviço da evangelização, entre outras. Ao término da reunião do clero, houve a comemoração dos 70 anos de sacerdócio do Padre Vitor Bertoli, Pároco da Paróquia Bom Jesus dos Passos, Setor Pinheiros. Ambas as reuniões foram concluídas com a bênção de Dom Carlos Lema Garcia.

Pascom pqroquial

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[SÉ] O início da pré-assembleia do sínodo arquidiocesano na Paróquia Santa Rosa de Lima, Setor Perdizes, aconteceu no domingo, 13, na missa das 10h30, presidida pelo Pároco, Cônego Severino Martins. (por Pascom paroquial)

[IPIRANGA] A equipe catequética da Região Ipiranga esteve reunida de forma on-line pela primeira vez neste ano. Foram discutidos temas pertinentes à formação contínua e o ministério da Catequese. Participaram do encontro os membros das coordenações da Catequese paroquiais, o Padre José Lino Mota, Assessor da Pastoral Catequética, e o Frei José Maria Mohomed Junior, Coordenador de Pastoral da Região. (por Karen Eufrosino) [IPIRANGA] O grupo de Perseverança – composto por adolescentes e pré-adolescentes que já receberam a 1a Comunhão, mas ainda não tem idade para o sacramento da Crisma – da Paróquia Nossa Senhora da Saúde, Setor Pastoral Vila Mariana, realizará uma campanha de arrecadação de alimentos para ajudar o grupo “Tive Fome”, que todas as semanas prepara lanches para os irmãos que estão em situação de rua. A atividade será no dia 26 de março, das 9h às 12h, no estacionamento da igreja matriz. Os alimentos pedidos são maionese, atum em lata, achocolatado pronto (embalagem de 200ml) e itens de higiene pessoal. (por Karen Eufrosino)

Comportamento Ponha menos medicação e mais suporte na formação das crianças SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Como fonoaudióloga e educadora, vejo com crescente preocupação os rumos da formação das crianças em nossa sociedade pós-moderna. Os tempos mudam, as realidades familiares mudam, os espaços oferecidos aos pequenos para seu desenvolvimento mudam, mas as crianças continuam tendo as mesmas necessidades de cuidado, presença, espaço, brincadeiras, enfim, não se inventa outra natureza para a pessoa. Se observarmos atentamente, cresce de modo assustador a quantidade de patologias encontradas na infância e adolescência – o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), depressão infantil, ansiedade, anorexia, Transtorno de Espectro Autista (TEA), ou seja, podemos dizer que, hoje em dia, temos uma infância doente, um número considerável de crianças e adolescentes medicados para que possam se adaptar ao convívio cotidiano, seja em casa, seja na escola. Hoje, há uma idealização da criança, da infância e se atribui a ela uma capacidade de escolher, de elaborar sentimentos, de se expressar como se já fosse um miniadulto. E, quando a criança não

corresponde ao comportamento esperado, acaba sendo diagnosticada com algum dos transtornos descritos no DSM (sigla em inglês que significa “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais”). Vejam, não estou aqui criticando os transtornos ou negando que existem. O que acho importantíssimo rever é a quantidade de diagnósticos feitos e, mais do que isso, que nos façamos um corajoso questionamento: o que está acontecendo para que tantas crianças apresentem transtornos de comportamento? O que falta a esses pequenos para que tenham uma infância e um desenvolvimento saudáveis? Será que esses diagnósticos estão a serviço dos nossos filhos ou do nosso conforto? Afinal, se eles têm uma doença, não há responsabilidade nossa nisso. Quero trazer, portanto, à reflexão alguns dados importantes. Os quadros patológicos citados acima (TDAH e TOD) têm como sinais e sintomas comportamentos como: desatenção, impulsividade, hiperatividade, agressividade, irritabilidade, o desafiar regras e instruções, discussões frequentes com adultos, desobediência, agitação. Olhando para essa sintomatologia, quem de nós, pais, não identifica comportamentos corriqueiros de alguns de nossos filhos? Crianças são agitadas, impulsivas,

irritadiças, às vezes desobedientes. Com isso não quero considerar natural tais comportamentos, mas chamar a atenção para o que significa educar, o que significa formar os pequenos e transformá-los em adultos. Acredito que o que estamos vivendo hoje é uma combinação de desinformação a respeito da infância e do que significa formar uma pessoa. 1. Não podemos problematizar crianças por serem agitadas ou ativas. Antes disso, precisamos entender: existem pessoas naturalmente mais ativas ou mais desafiadoras (graças ao temperamento que têm), existem estímulos que oferecemos que podem aumentar essa agitação e, então, é preciso revê-los. Se há excesso em algum comportamento, precisamos pensar em como manejar a criança para que aprenda, ao longo da infância, a se conter. 2. Para diagnosticar quadros patológicos, são necessários muitos sinais presentes há pelo menos seis meses; além disso, profissionais bem formados e informados devem se dedicar a isso. Cuidado com diagnósticos rápidos. 3. Não se delega aos outros a responsabilidade pela formação dos filhos. Muitos pais, em nome de muito trabalho, pouco espaço, cansaço, acabam deixando seus filhos muito tempo sob cuidados dos outros (babás, escola, avós etc.)

4. E mais importante: estamos vivendo uma época em que os pais pouco investem (de si) na formação dos filhos. Contemplam as crianças e descrevem seus comportamentos como se fossem imutáveis (“Não adianta, ele é agitado, não consegue parar.” “Não dorme de jeito nenhum...”). Não se lembram de que crianças precisam aprender. Aprender a viver – comer, dormir, andar, falar, comportar-se, tudo a criança aprende, mas, para isso, precisamos ensinar. Não aprenderão sozinhas. Pais imaturos, que buscam conforto, não atuarão bem na formação dos filhos. Quando os pais estão no lugar de autoridade na vida dos filhos, são de grande ajuda para que aprendam comportamentos adequados, para que cresçam em autoconhecimento e autodomínio. Sim, lembrem-se: vocês são autoridade no assunto ensinar a viver e, se não são, deveriam ser; portanto, corram atrás dessa autoridade já. Garanto que, se nós, adultos, estivermos de fato comprometidos com a formação das crianças, ela acontecerá de modo mais eficiente e já não teremos tantos quadros patológicos e medicações na infância. Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro


8 | Regiões Episcopais/Fé e Vida | 16 a 22 de março de 2022 |

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IPIRANGA

Fé e Cidadania A guerra econômica e nosso compromisso solidário FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO A invasão da Ucrânia e as reações internacionais à Rússia evidenciaram um aspecto comum a todas as guerras, porém ainda mais contundente no mundo atual: toda guerra é também econômica. Além das mortes e das vidas devastadas pelo luto e pelas perdas materiais, a guerra traz grandes prejuízos econômicos para os territórios onde se dão os conflitos. Mas a ação bélica da Rússia contra a Ucrânia – em especial – se tornou também uma grande batalha econômica do Ocidente contra a Rússia. Os analistas sempre foram céticos quanto aos efeitos de sanções econômicas contra países belicosos. Tais sanções faziam o povo sofrer, mas não afetavam nem os “senhores da guerra”, nem os ricos desses países. A realidade da atual guerra é diferente. A Rússia é uma potência econômica inserida no mundo globalizado. Mais do que outros países anteriormente penalizados, precisa importar e exportar produtos para se manter. Seus milionários têm bens espalhados pelo mundo. Seu mercado financeiro está fortemente integrado ao sistema global. O impacto socioeconômico das sanções contra a Rússia está sendo muito maior do que os analistas especulavam. Não à toa, Putin sugere respostas que incluem até mesmo o uso de suas armas atômicas... Contudo, essas sanções têm um inevitável efeito bumerangue. Os demais países também precisam importar e exportar para a Rússia e serão inevitavelmente impactados se o conflito econômico continuar por muito tempo. Por piores que sejam as consequências de um enfrentamento econômico, é forçoso reconhecer que nos afetam muito menos do que o conflito bélico impacta as populações dos territórios atacados. Nesse sentido, podem ser entendidos como parte daqueles recursos, sugeridos pela Doutrina Social da Igreja, a serem empregados para se evitar ou minimizar um conflito armado, ao dizer que a guerra só pode ser considerada justa quando, entre outras coisas, “todos os outros meios de lhe pôr fim se tenham revelado impraticáveis ou ineficazes” (Catecismo da Igreja Católica, CIC, 2309). Assim, os prejuízos e sacrifícios econômicos que inevitavelmente nos afetarão nos convidam a assumir, como cristãos, dois compromissos de solidariedade. O primeiro é o da solidariedade internacional. Diante de uma guerra devastadora, como, diga-se de passagem, são todas elas, as populações das demais nações são convidadas a se comprometer e fazer sua cota de sacrifícios para que as vítimas da guerra possam encontrar novamente a paz. O segundo compromisso é o da solidariedade com os mais pobres em nosso próprio País. Numa nação tão desigual como o Brasil, o impacto direto ou indireto de um aumento no preço dos combustíveis e matérias-primas, por exemplo, é muito diferente entre aqueles que têm seu lucro diminuído e aqueles que podem deixar de ter comida à mesa pela perda do ganha-pão ou pelo aumento de preço dos alimentos. Num ano eleitoral, podemos nos perguntar como os políticos nos quais pretendemos votar estão se portando nessa conjuntura. Estão atentos às necessidades dos mais pobres ou olham apenas para os lucros dos ricos? Reconhecem os constrangimentos e as pressões objetivas a que toda atividade econômica está sujeita ou se contentam com discursos voluntaristas e populistas que não resolvem e até aumentam os problemas? Uma solidariedade realista pode ser difícil de ser concretizada, exigindo muita criatividade e capacidade de articulação. Mesmo assim, deve ser um farol que ilumina os caminhos da política com vistas ao bem comum... E é mais importante ainda nestes tempos de conflitos internacionais. Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Romeiros de Jundiaí (SP) voltam ao Santuário São Judas Tadeu após 2 anos Graziella Bracco

PRISCILA THOMÉ NUZZI

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No domingo, 13, um grupo de 38 devotos de São Judas Tadeu, moradores da cidade de Jundiaí (SP), foi em romaria ao Santuário São Judas Tadeu para participar da missa das 8h30, presidida pelo Padre Daniel Aparecido Campos, SCJ, Pároco e Reitor, com transmissão da TV Gazeta. Coordenadas pela senhora Vera Lúcia Siqueira, as romarias de Jundiaí há dois anos foram interrompidas por causa da pandemia de COVID-19. Os romeiros visitaram vários locais no espaço do Santuário: a igreja antiga onde está a imagem original de São Ju-

das Tadeu; a Capela da Paixão e a Capela dos Milagres; a igreja nova; o velário; a loja de artigos religiosos; o Café São Judas e o Instituto Meninos de São Judas Tadeu. Após a missa, os visitantes tiraram fotos com o Padre Daniel e recebe-

ram lembranças em nome do Santuário e da loja São Judas Tadeu. A bênção do ônibus dos romeiros na hora da despedida foi realizada pelo Diácono Vagner Lucas Pimentel, SCJ. No dia 27, o Santuário receberá mais uma romaria.

LAPA Coordenadores setoriais dos MESC da Região se reúnem virtualmente MARIA HELENA TAVARES DE PINHO TINOCO SOARES

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Os coordenadores setoriais da Pastoral dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão (MESC) da Região Episcopal Lapa se reuniram, de maneira on-line, no dia 8. A atividade foi conduzida pelo Assistente Eclesiástico da Pastoral dos MESC da Região, Padre Leandro Calazans de Oliveira, SJC, com a participação dos coordenadores dos setores: Ciro Barbieri da Cunha (Setor Leopoldina), Cristiane Marques Galvão (Setor Pirituba), Sueli Pandolfi Louzan (Setor Lapa) e Maria Helena Tavares de Pinho Tinoco Soares (Setor Butantã).

Erramos Diferentemente do publicado na página 6 da edição n. 3386 (de 9 a 15 de março de 2022) do O SÃO PAULO, a missa realizada em 5 de março na Paróquia São Domingos Sávio, na Região Episcopal Lapa, foi em ação de graças pela formatura da turma de 2020 do Curso de Teologia para Agentes de Pastoral (CTAP) e não pelo início de uma nova turma, como erroneamente foi publicado na manchete “Começam as aulas da nova turma do Curso de Teologia para leigos”. A notícia com o devido título corrigido foi publicada no site do jornal e pode ser acessada pelo link a seguir: https://cutt.ly/NAOCy1Q.

Após a oração inicial, Padre Leandro lembrou que o primeiro dever do grupo é a realização de encontros e formações com os ministros dos respectivos setores, a fim de “despertar” a espiritualidade no exercício de tão nobre e importante servir. Ele ressaltou, ainda, que no segundo semestre serão realizados cinco encontros, um em cada setor, com a participação de todos os ministros para o aprofundamento da liturgia. Depois da manifestação e conclusão de cada coordenador sobre

ideias e perspectivas ao grupo de ministros do seu setor, o Padre Leandro ressaltou que é preciso ponderar e levar em conta a realidade de cada paróquia, e sempre ter por objetivo primeiro a prática da caridade e o acolhimento da fé. Em seguida, o Sacerdote apresentou as diretrizes dos encontros formativos que serão realizados no segundo semestre. O próximo encontro de coordenadores de setor será realizado no sábado, 26, às 15h, na Paróquia São José Operário.

BELÉM Paróquia Nossa Senhora das Graças realiza assembleia no contexto do sínodo GABRIELA ROSANA

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Na quinta-feira, 10, foi realizada a assembleia da Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Vila Califórnia, sob a coordenação do Padre Reginaldo Miranda, Pároco. Na ocasião, houve a apresentação da proposta do sínodo arquidiocesano e se explicou que a sinodalidade significa “caminhar juntos”, indicando o caminho que os membros do povo de Deus percorrem unidos.

Entre os temas discutidos, destacam-se a união das comunidades e pastorais, a necessidade de se atualizar com as formações e a busca da maior presença dos jovens na Paróquia. Também foi destacado que o principal intuito do sínodo é responder à questão: “Como se realiza hoje, em diversos níveis esse ‘caminhar juntos’ que permite à Igreja anunciar o Evangelho, de acordo com a missão que lhe foi confiada; e que passos o Espírito nos convida a dar para crescer como Igreja sinodal?”.


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| 16 a 22 de março de 2022 | Pelo Brasil | 9

Decisões judiciais asseguram a manifestação da fé católica em Aparecida (SP) Luciney Martins/O SÃO PAULO

DANIEL GOMES

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Em votação unânime, a 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) decidiu, no dia 9, que devem ser mantidas em Aparecida (SP) as estátuas e imagens em rotatórias da cidade que recordam o encontro da imagem mariana no leito do rio Paraíba do Sul, em 1717, bem como autorizou que seja colocada uma imagem de Nossa Senhora Aparecida na entrada do município. Em 2017, quando se completaram 300 anos do achado da imagem, uma decisão tomada pelo juízo de primeiro grau ordenou que a prefeitura retirasse as estátuas e imagens das rotatórias.

Diante do fato, cidadãos aparecidenses e de todo o Brasil procuraram a União dos Juristas Católicos de São Paulo (Ujucasp), que, junto com outros juristas católicos e líderes locais, organizaram um abaixo-assinado pedindo ao TJSP a reversão da decisão. No dia 7 deste mês, o mesmo tribunal havia certificado o trânsito em julgado (sem possibilidade de novos recursos) da decisão, em primeiro grau da Justiça, que determinou a não intervenção do Ministério Público e da própria Justiça quanto à realização de missas e a abertura do Santuário Nacional de Aparecida. “Em tempos complicados como vivemos, é preciso comemorar muito ambas as decisões. Primeiro, porque se respeitou o ordenamento pátrio,

em detrimento do ativismo judicial, tão presente em nossos dias. Segundo, porque a história de nosso país, tão ligada com a religião católica, foi preservada. E, terceiro, porque se garantiu mais uma vez os direitos da Santa Igreja e de seus fiéis de manifestar e participar de celebrações religiosas e de demonstrar isso publicamente”, comentou o advogado Miguel da Costa Carvalho Vidigal, diretor da Ujucasp. Além dele, empenharam-se diante dessas duas questões os juristas Bruno de Avila Borgarelli, João Bosco Pasin, José Tadeu de Barros Nóbrega, João Carlos Biagini (já falecido), Maurício Pereira Colonna Romano, João Vitor Lozano Jeronymo e Luiz Gonzaga Bertelli, presidente da Ujucasp. Fonte: Ujucasp

Dom Marcony Vinícius é nomeado Arcebispo Militar do Brasil O Papa Francisco nomeou no sábado, 12, Dom Marcony Vinícius Ferreira como novo Arcebispo Ordinário Militar do Brasil, após aceitar a renúncia, por motivo de idade, de Dom Fernando José Monteiro Guimarães.

Nascido em Brasília (DF) em 3 de março de 1964, Dom Marcony foi ordenado sacerdote em 3 de dezembro de 1988; e nomeado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília em 19 de fevereiro de 2014, pelo Papa Francis-

co, sendo ordenado em 12 de abril do mesmo ano. Dom Marcony tem pós-graduação na área de Liturgia pelo Instituto Teológico Pastoral da América Latina (Itepal), em Bogotá, na Colômbia. Especializou-se em

Teologia Litúrgica, frequentando primeiramente o Pontifício Ateneu Santo Anselmo (1993-1996) e depois o Instituto de Teologia Litúrgica da Universidade Santa Cruz (2011-2012), em Roma. Fonte: CNBB


10 | Reportagem | 16 a 22 de março de 2022 |

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CF 2022 – Fraternidade e Educação

Mais que saberes instrumentais, educar é amadurecer virtudes DANIEL GOMES

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Proporcionar que a pessoa seja mais consciente a respeito de si mesma e do mundo a sua volta, a fim de que tenha maior controle de seus sentimentos, pensamentos e ações, é uma das metas da Educação, conforme lembrado no texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano (cf. CF 2022, no 22).

Neste caminho de formação integral, a Educação deve levar ao desenvolvimento pessoal, cognitivo, emocional e profissional do ser humano (cf. no 93), e, para tal, como aponta o Papa Francisco no Pacto Educativo Global, deseja-se “que cada instituição educativa empreenda processos de diálogo e aproximação com as famílias, propondo uma aliança em torno de uma Educação para a verdade,

a solidariedade, o respeito às diferenças e a paz” (cf. no 121); bem como não se deve esquecer que a família é “lugar privilegiado para crescer em sabedoria, idade e graça. Por isso, se diz que a família é escola de virtudes” (cf. no 179). Nesta edição, O SÃO PAULO apresenta experiências concretas que oportunizam a educação integral às novas gerações, tendo como centro o

desenvolvimento das virtudes humanas, que são “atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade, que regulam os nossos atos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa” (Catecismo da Igreja Católica, CIC, no 1804).

Administrando os próprios sentimentos desde cedo Jussara Galoro/Escola Pedrita

É chegada a hora do lanche. A criança olha para a pera sobre a mesa e diz: “Não quero, não gosto”. Diante da resposta, a professora pede: “Come um pedacinho, experimenta!”. A criança novamente se recusa a experimentar. A professora, porém, insiste: “Vamos fazer o seguinte: como você tem fortaleza, é muito forte aí dentro, experimente pelo menos um pedacinho”. A criança, então, aceita. “Muito bem! Parabéns! Olha como você é forte! Você aguentou comer uma coisa de que não gosta tanto!”, comemora a professora. Situações como essas são corriqueiras na Escola Pedrita, no bairro do Limão, zona Norte de São Paulo. Fundada em 1968, a instituição de educação infantil, que atende crianças de 8 meses a 6 anos, trabalha a formação integral dos estudantes, para que se desenvolvam nas dimensões cognitiva, física, afetiva, humana e transcendente, por meio de múltiplas vivências nas quais precisam lidar com os próprios sentimentos. “A ideia é que as crianças possam ir tendo autoconhecimento, de modo que conheçam as suas emoções e de alguma forma traduzam isso para o professor, que, por sua vez, irá ajudá-las a administrar essas emoções fazendo o uso das virtudes”, detalhou Luciana Ribeiro Cabral dos Santos, diretora da escola. Com as crianças menores são trabalhadas virtudes básicas como a ordem, obediência, fortaleza, alegria e generosidade. “Nós perguntamos, por exemplo: ‘você não está feliz por ter emprestado o brinquedo ao seu amigo?’”, exemplificou. “Temos o objetivo de que a criança experimente este bem para que descubra o quanto é bom, o quanto traz alegria. A ideia também é que fortaleçam seu in-

chos como galinhas, tartarugas e coelhos e ainda fazer atividades na horta. “Tanto a proposta pedagógica quanto a proposta de formação integral da criança está muito ligada a este ambiente: espaço aberto, acesso à natureza, aos bichinhos. Na horta, por exemplo, é um lugar onde concretamente trabalhamos as virtudes. A criança sabe que se não regar e não cuidar, a plantinha não vai crescer”, explicou Luciana.

DIÁLOGO SINCERO COM OS PAIS

terior, aguentem frustrações e deem um passo em direção ao outro.” Com as crianças mais velhas, uma das estratégias envolve o uso dos ‘cards das virtudes’. “Quando aparece um conflito no grupo, a professora apresenta estes cards – fortaleza, paciência, ordem etc. – e reflete com a turma qual virtude será preciso para resolver o conflito. Além disso, se pensa sobre quais sentimentos estão envolvidos na situação e se não são bons ou estão desajustados.” Por vezes, os estudantes levam os cards para a casa. Se um deles fica com o card da ordem, por exemplo, terá o desafio de não

deixar as próprias coisas em desordem no lar.

AMBIENTAÇÃO

Era começo da tarde de uma sexta-feira quando a reportagem visitou a Escola Pedrita. Enquanto algumas crianças brincavam no parque, outras estavam na caixa de areia. Mais adiante, em uma das salas, com a porta de vidro entreaberta, alguns se preparavam para a aula de música. Em uma ampla área a céu aberto, as crianças também podem ter contato com árvores e plantas, ver de perto bi-

A interação permanente com as famílias também está na base dos trabalhos. “Montamos grupos de pais para que eles façam os ajustes necessários em casa, a fim de que a criança tenha um bom desenvolvimento e disciplina. Também temos reuniões virtuais com os pais, nas quais trazemos um tema, muitas vezes ligado às virtudes”, detalha a diretora. Luciana ressalta que é sempre lembrado que a família é a primeira incentivadora das virtudes, para que assim “a criança desenvolva critérios para saber o que é bom e o que não é, baseada em vivências que tenha, seja em casa, seja na escola”. A diretora lembra, ainda, que na conversa inicial com os pais que pretendem matricular o filho, é destacado que todo o trabalho ocorre na perspectiva da educação integral. Também é explicado que não se trata de uma escola confessional, mas sim administrada por uma família católica e na qual se trabalha a dimensão do transcendente: “Ensinamos às crianças que é o ‘Papai do céu’ que nos dá as coisas, mas não ensinamos a religião católica, pois também temos estudantes judeus, evangélicos, espíritas. As famílias, porém, sabem sobre o que nos fundamenta”. (DG)


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Em família e no cotidiano do lar Casados há 30 anos, Fábio Toledo e Andréa Calseverini de Toledo têm 11 filhos, com idades entre 4 e 26 anos, e duas netas. Pelas redes sociais, a “mãe dos 11” (@maedos11), como é mais conhecida, compartilha, especialmente por meio de vídeos, dicas para os pais sobre diferentes vivências do processo educativo. O casal também é colaborador em cursos para pais e faz tutoria para famílias. Andréa ressalta que muitos pais, ao matricularem os filhos em uma escola, esquecem que é deles a função permanente de educá-los em bons valores: “E isso deve ser feito no dia a dia, pois em qualquer situação sempre é possível tirar proveito para educar, como no trânsito, na ida ao supermercado ou vendo uma propaganda de televisão”.

COM AS CRIANÇAS: ROTINAS E O BOM EXEMPLO

mas busca alcançar as virtudes”. Sobre a generosidade, Andréa diz que isso pode ser estimulado entre os irmãos, por meio do compartilhamento de brinquedos, ou pela doação de itens em bom estado para outras crianças.

COM OS ADOLESCENTES: FAZÊ-LOS PENSAR SOBRE AS ATITUDES

Dos 11 filhos de Andréa e Fábio, três são crianças, três adolescentes e os demais jovens. A mãe lembra que não é incomum que, para serem aceitos em um grupo, alguns adolescentes ignorem os valores que aprenderam em família. Diante dessa constatação, os pais não devem confrontá-los, mas aproveitar oportunidades para fazê-los refletir sobre as próprias atitudes. “De uma forma tranquila, os pais

devem ir recordando esses valores, mas sem ser uma imposição, pois se impuserem o adolescente fará o contrário. O ideal, portanto, é fazer com que o adolescente reflita sobre os fatos, para que aja diferente, sem ir no impulso da galera. Tenha certeza de que, se os pais deram uma boa educação, transmitiram os bons valores, isso uma hora irá florescer”, ressalta, recomendando, ainda, que, diante de qualquer relato dos filhos, os pais tenham uma postura de escuta atenta, sem juízo prévio, para um posterior diálogo que os faça pensar sobre as próprias atitudes e a de outros adolescentes. “Isso, é claro, dá muito trabalho. O mais fácil para os pais é continuarem seu dia a dia, com seus vários compromissos, e deixar o adolescente com a vida dele, mas sempre se colherá os frutos um dia,

ou seja, se você não der atenção, se não tentar resolver alguns dos problemas agora, mais tarde eles vão aparecer”, alerta.

TESTEMUNHO DE FÉ

Andréa também comenta que ela e o esposo sempre buscaram transmitir aos filhos os valores da fé católica e que, embora dois deles não os acompanhem na ida à missa, eles sabem que ser católico é parte da identidade da família. “Meu esposo e eu rezamos, vamos à missa, e mesmo esses dois filhos que não vão conosco, quando os irmãos se atrasam, eles falam ‘vocês estão atrasados para a missa’, ou seja, já sabem sobre o certo a fazer. Para tudo, é preciso transmitir bons valores, vivê-los e acompanhar os filhos efetivamente, respeitando a individualidade de cada um.” (DG) Beatriz Cabral/Escola Pedrita

Andréa lembra que já aos 2 anos de idade é possível transmitir bons valores às crianças, a partir de atitudes cotidianas. “Em qualquer casa, pois, mais simples que seja, todos os objetos têm um lugar próprio. Isso vale para a escova de dentes, a caneta, a camiseta, o brinquedo. Desse modo, se a criança começa a entender que tudo na casa tem lugar certo, os pais estarão ensinando sobre a virtude da ordem”, comenta. Os filhos também precisam perceber que os pais bem vivem determinada virtude ou se esforçam para aprimorá-la: “Quantas vezes já falei para meus filhos da minha dificuldade em manter a ordem das coisas, mas digo: ‘Vamos a cada semana arrumar uma gaveta?’. Não há problema em mostrar que você também tem dificuldade, que não é perfeita. Com isso, até se consegue trabalhar o valor da humildade, mostrando que você não é um ser superior,

A relação com o professor e a busca pelo transcendente Um ensinamento relacional. É isso que faz Jesus ao ensinar não só com palavras, mas, também, levando em consideração a realidade das pessoas com as quais Ele se encontra (cf. CF 2022, no 150). Para a professora Cecília Canalle, doutora em Educação pela USP, essa postura de Jesus é o melhor caminho a ser seguido pelos professores que desejam favorecer o desenvolvimento integral dos estudantes. “Cristo não fica dando lição de moral. Ele se vale de parábolas. Além disso, Cristo acontece, está sempre em movimento e é pela maneira como Ele se move que as pessoas conseguem extrair um valor”, comenta. Cecília destaca que virtudes como temperança, justiça, prudência e fortaleza podem ser mais bem compreendi-

das pelos estudantes no encontro com o professor. “Uma relação de amorosidade tem de acontecer durante a aula. Não adianta, por exemplo, o professor descrever a justiça. O mestre é o valor. Se não o for com suas práticas, não há discurso que se sustente.”

EM PARCERIA COM OS PAIS

Com quase 40 anos de experiência em docência, Cecília, que já foi diretora de colégios particulares, lembra que não há educação integral eficaz sem a efetiva participação dos pais. “O lugar dos pais é dentro da escola, não o tempo todo, mas em todas as vezes que for possível, pois eles podem ser grandes parceiros, já que têm todo o interesse para a boa formação dos filhos. Desse modo, a escola precisa inventar si-

tuações para que os pais estejam presentes e tragam ideias e sugestões”, comenta.

A BUSCA PELO TRANSCENDENTE

Conforme aponta o Catecismo da Igreja Católica, “as virtudes humanas, adquiridas pela Educação, por atos deliberados e por uma sempre renovada perseverança no esforço, são purificadas e elevadas pela graça divina. Com a ajuda de Deus, forjam o caráter e facilitam a prática do bem” (CIC, no 1810). “Toda a pessoa tem uma experiência elementar, como que uma bússola interior, pela qual deseja o bom, o belo e o verdadeiro, além do infinito”, afirma Cecília, destacando que, ao se autoconhecer, a pessoa se torna protagonista na medida em que identifica valores que deseja vivenciar, como a sinceridade, a

amizade e a responsabilidade. “São valores preciosíssimos, mas o estudante precisa descobri-los de dentro para fora. Do contrário, não se gerará protagonistas, mas sim pessoas treinadas.” Ela lembra, ainda, que o que diferencia os homens de outras espécies animais é a constante busca pelo significado da própria vida, e isso deve ser levado em conta ao se pensar a educação integral: “Quando fazemos apenas o treinamento da pessoa, a tratamos como bicho. Entretanto, o ser humano é um ‘bicho que transcende’, e assim a educação integral tem de considerar a transcendência, que não é só uma questão espiritual, mas do significado, ou seja, qual sentido a vida tem. Quando não se faz isso, acaba por se tornar só ‘treinamento de bicho’”. (DG)


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Você sabia que pode destinar até 6% do imposto de renda a fundos em prol de crianças e idosos? Receita Federal

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Até 29 de abril, cerca de 34,1 milhões de pessoas deverão fazer a declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) 2022. Para aqueles que optam ou precisam fazer a tributação por deduções legais, a chamada declaração completa, é possível destinar diretamente até 3% do IRPF devido para fundos da criança e do adolescente e até 3% para fundos do idoso.

COMO FAZER?

Após preencher toda a declaração, incluindo a ficha de “Doações efetuadas”, o contribuinte deve ir à ficha “Doações Diretamente na Declaração”, onde saberá o valor disponível para doação. Depois, deve escolher para qual dos fundos cadastrados quer destinar o recurso e quanto. Após transmitir a declaração, basta imprimir o correspondente Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf), que já será emitido com o CNPJ do fundo escolhido (veja detalhes ao lado). O pagamento precisa ser feito até 29 de abril. Não é possível pagar depois e, no caso de esquecimento do pagamento, será necessário retificar a declaração do IRPF, retirando a destinação. O valor total destinado será abatido do que o contribuinte deveria pagar de imposto ou somado à restituição, se tiver saldo de imposto a restituir. “Ao preencher a declaração, informando rendimentos e deduções, o programa calcula o valor devido. A destinação é feita com base nesse valor. Assim, independentemente de você ter valores a pagar ou a serem restituídos, conseguirá destinar, caso tenha feito a declaração sujeita às deduções legais, popularmente chamada de modelo completo. Não é possível fazer a destinação no modelo simplificado”, explica ao O SÃO PAULO Marcos Gregório Borges, coordenador técnico das ações de incentivo à Campanha Destinação da Receita Federal no estado de São Paulo.

O QUE SÃO OS FUNDOS

Borges detalha que, embora o contribuinte também possa destinar valores do IRPF para fundos da Cultura, do Desporto e do Audiovisual, a destinação direta, ou seja, aquela feita na hora em que se preenche a declaração, só é possível para os fundos da criança e do adolescente e os fundos do idoso. “O fundo está sempre ligado a um conselho – municipal, estadual ou federal – que tem a responsabilidade de decidir como vai ser gasto esse recurso, respeitando uma política específica, e é o governo ao qual é vinculado, no caso de um fundo municipal da criança, por exemplo, a prefeitura, quem vai executar esse recurso”, prossegue Borges, detalhando ainda que a verba da destinação é sempre direcionada para um fundo, jamais para um projeto específico. “Não há como no ato da declaração fazer o vínculo da destinação para uma entidade ou projeto específico. A destinação é sempre para o fundo, e as entidades vão pleitear o recurso mediante projetos que submetam a um conselho.” No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, existe o Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (Fumcad), que é gerido pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), órgão deliberativo e paritário, composto por representantes da sociedade civil e do poder público municipal, vinculado à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. É esse conselho que estabelece critérios para a utilização dos recursos do fundo e a definição das linhas prioritárias e de parâmetros para a destinação dos recursos. Uma das formas de acessar os recursos do fundo é que as entidades devidamente regulamentadas apresentem projetos quando há a publicação de editais de chamamento. Ao consultar o Fumcad de 2020, por exemplo, verifica-se que

alguns dos projetos mantidos por entidades que foram financiados contemplaram iniciativas voltadas ao fomento da arte e cultura de crianças e adolescentes, bem como projetos para a inclusão daqueles que são cegos ou têm paralisia cerebral.

BAIXA ADESÃO

Dados de anos anteriores mostram que uma parcela muito pequena de contribuintes tem optado pela destinação direta na declaração do IRPF. Em 2020, de acordo com a Receita Federal, os cerca de 4 milhões de contribuintes do estado de São Paulo que entregaram a declaração no modelo completo poderiam ter destinado quase R$ 2,4 bilhões. Contudo, apenas cerca de 25,6 mil deles optaram por realizar destinações diretamente na declaração, o que resultou no total de R$ 35,2 milhões, apenas 1,48% do que poderia ter sido alcançado. “Obviamente, se houver a ampliação dessa destinação direta, haverá mais recurso disponível, o que aumenta a possibilidade de que se aprovem mais projetos. Por isso que temos feito essa maior divulgação”, afirma Borges, ressaltando que o dinheiro da destinação não pode ser utilizado para outros fins: “Um prefeito, por exemplo, não pode usar o recurso do fundo da criança e do adolescente ou do fundo do idoso para pagar o salário dos seus servidores municipais”.

SUBSIDIARIEDADE FISCAL

Católico e mestre em Gestão de Políticas Públicas pela USP, Borges lembra, ainda, que a destinação do imposto de renda é uma situação concreta do conceito de subsidiariedade fiscal, algo, segundo ele, muito comum na Itália, especialmente na região da Lombardia, mas ainda pouco conhecido no Brasil. “Com a destinação é como se o cidadão dissesse: ‘Estado, eu quero que 3%

deste imposto seja gasto com política de atenção à pessoa idosa; e 3% com atenção à criança’. Assim, é uma experiência muito concreta de protagonismo do cidadão. Trata-se daquilo que podemos chamar de subsidiariedade fiscal, com o contribuinte exercendo o protagonismo de deliberar sobre como ele quer que ao menos uma parte do imposto que foi obrigado a recolher ao Estado seja aplicado.”

COMO FAZER A DESTINAÇÃO

1) Ao ter preenchido toda a declara-

ção do IRPF no modelo completo, incluindo a ficha “Doações efetuadas”, com eventuais destinações realizadas ao longo do ano passado, vá à ficha “Doações Diretamente na Declaração”, clique em “novo” e saiba o valor disponível para a destinação. 2) Escolha para quais dos fundos cadastrados quer destinar e quanto. É possível dividir o valor disponível entre mais de um fundo ou destinar para apenas um. 3) Pode ser destinado até 3% para fundos da criança e do adolescente e até 3% para fundos do idoso, totalizando, assim, até 6% de destinação. 4) Após transmitir a declaração, imprima o Darf (um para cada fundo escolhido) e pague até o último dia do prazo de entrega da declaração, neste ano, 29 de abril. Sua declaração só terminará de ser processada quando o sistema da Receita Federal detectar que o Darf da destinação foi pago e não houver qualquer outra pendência. * Em caso de dúvidas, acesse o menu “Ajuda” do Programa Gerador da Declaração (PGD)


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Jesuítas comemoram 400 anos das canonizações de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier Luciney Martins/O SÃO PAULO

CARDEAL SCHERER RESSALTOU O PAPEL DESSES SANTOS NA RENOVAÇÃO DA IGREJA EM UM PERÍODO DE CRISE CULTURAL FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Uma missa solene celebrada na capela do Colégio São Francisco Xavier (foto), no Ipiranga, marcou as comemorações, no Brasil, dos 400 anos das canonizações de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier. A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, e concelebrada por sacerdotes da Companhia de Jesus (Jesuítas). Em 12 de março de 1622, o Papa Gregório XV canonizou na mesma celebração Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, Santa Teresa de Jesus (de Ávila), São Filipe Néri e Santo Isidoro, lavrador. Na homilia da missa em ação de graças, Dom Odilo se referiu a esses santos como “gigantes” da vida cristã. “Ao canonizá-los, a Igreja afirma que eles estão com Deus e que sua vida é uma interpretação autêntica do Evangelho”, disse.

SANTO INÁCIO

O fundador da Companhia de Jesus nasceu no Castelo de Loyola, no norte da Espanha, em 1491. Filho de família cristã da nobreza rural, o caçula de 13 irmãos foi batizado como Iñigo. Mais tarde, entretanto, mudaria seu nome, passando a assinar Inácio. Sua inclinação para a carreira militar o tornou um exímio cavaleiro. Como descreveu em sua autobiografia, até os 26 anos de idade “tinha sido um homem entregue às vaidades do mundo”. Em 1521, ao tentar, sem sucesso, proteger Pamplona dos invasores franceses, Inácio foi ferido por uma bala de canhão, que, além de partir sua perna direita, deixou lesões na esquerda.

CONVERSÃO

Durante o período de recuperação no Castelo de Loyola, como não havia livros de Cavalarias – seus preferidos –, Inácio dedicou-se à leitura de “Vida de Cristo” e uma coletânea “Vida dos Santos”. Foi após o contato com essas obras que ele percebeu, com atenção e paciência, que as ambições mundanas lhe causavam alegrias efêmeras, meros prazeres, ao passo que a entrega a Jesus Cristo lhe enchia o coração de alegria duradoura. Essa consolação foi, para Inácio, um sinal de Deus. Recuperado, Inácio decidiu partir rumo a Jerusalém. Vivendo como eremita e mendigo, passou pelas mais duras necessidades. Seu objetivo, porém, era maior: queria ter tranquilidade para fazer anotações em um caderno que, mais tarde, iriam se transformar no livro dos Exercícios Espirituais (EE), considerado até hoje um de seus mais importantes legados. Após essa experiência, Inácio seguiu em sua peregrinação a Jerusalém, onde permaneceu por um tempo.

COMPANHIA DE JESUS

Em 15 de agosto de 1534, na capela de Montmartre, em Paris, Inácio e seis companheiros – Francisco Xavier, Pedro Fabro, Afonso Bobadilha, Diogo Laínez, Afonso Salmeirão e Simão Rodrigues – fizeram votos de se dedicarem ao bem dos homens, imitando Cristo. A Companhia de Jesus foi aprovada oficialmente pelo Papa Paulo III, em 27 de setembro de 1540. Em 31 de julho de 1556, muito debilitado, Inácio morreu em Roma.

SÃO FRANCISCO XAVIER

Dom Francisco de Jaso e Javier nasceu em 7 de abril de 1506, em Navarra, na Espanha. Foi o sétimo filho da família dos senhores de Javier e viveu sua infância e adolescência entre os castelos e as cortes, a mudança de privilégios e territórios, a perda do pai e a partida dos irmãos para a guerra. Teve, portanto, um início de vida em um am-

biente de tumulto e alguns conflitos. Estudou na Universidade de Paris e se destacou nas ciências, tornando-se professor e ocupando cátedras importantes. Conheceu grandes homens e mulheres, inteligentes e sábios, mestres e doutores. Porém, nenhum como aquele que transformaria sua vida por completo, Inácio de Loyola. Após a experiência de realizar os exercícios espirituais com ele, conseguiu enxergar o sentido profundo de sua existência.

NO ORIENTE

O seu ardor missionário nasce meio que por acidente, pois um jesuíta que partiria para a Índia adoeceu, levando Xavier a se aventurar nessa região. Após professar os votos na Companhia de Jesus, partiu para nunca mais retornar a Roma. Dos 15 anos de sacerdócio, 11 foram vividos no Oriente. Passou por Portugal, antes de partir rumo à Índia, onde atuou em Goa, seguiu para a costa da Pescaria e Cabo de Comorim. Passou, ainda pelas Ilhas do Pacífico e nas atuais Malásia e Indonésia. Também realizou um amplo trabalho missionário no Japão, mais especificamente nas regiões de Kagoshima, Hirado, Yamaguchi e Kyoto. Morreu exausto, olhando para a China, na madrugada do dia 3 de dezembro de 1552, sem concretizar o sonho de anunciar o Evangelho nessa nação.

HERANÇA ESPIRITUAL

O Cardeal Scherer sublinhou que os dois santos jesuítas marcaram uma época da história da Igreja e continuam a marcar a vida eclesial e a comunidade humana. “O Santo não fica no passado. Continua a atuar por meio da sua herança espiritual, seus exemplos, escritos, as obras por ele fundadas que permanecem”, afirmou, mencionando a própria Companhia de Jesus, que continha a sua ação evangelizadora no mundo, e o exemplo missionário de São Francisco Xavier, cujos frutos são percebidos na autenticidade e fervor dos católicos no extremo Oriente.

Nesse sentido, Dom Odilo recordou que, após a expulsão dos jesuítas do Japão, o catolicismo continuou a ser transmitido por gerações pelos próprios fiéis leigos, que se organizavam na clandestinidade. Esse, apontou o Cardeal, é o maior fruto da pregação e do exemplo de São Francisco Xavier naquelas terras. O Purpurado recordou, ainda, que o século XVI, quando foi fundada a Companhia de Jesus, era uma época extremamente conturbada na vida da Igreja, especialmente na Europa, em “ebulição cultural” que retomava modelos de vida não cristãos que afetaram todos os âmbitos da sociedade, inclusive a Igreja. Daí surgiram os movimentos de reforma na Igreja, alguns dos quais romperam com a comunhão eclesial. Outros, porém, aconteceram a partir de dentro, por meio do empenho de homens e mulheres que, inspirados por Deus, instituíram grandes obras, como foi o caso de Santo Inácio.

CRISE DE SANTOS

“Vocês repararam que o século XVI foi um período de grandes santos? De grandes iniciativas que marcaram a vida da Igreja até hoje?”, indagou, mencionando, por exemplo, o Concílio de Trento, que promoveu uma grande reforma interna na Igreja e que se pautou em questões que também hoje merecem atenção: “Renovação da vida do clero; nova impostação da vida religiosa consagrada; renovação da pregação, da catequese, da liturgia; renovação missionária, da caridade organizada...” “Vivemos um período de crises e muitos estão pessimistas. Eu estou mais otimista porque é nesses momentos que a ação do Espírito Santo se faz mais forte... e já está surgindo. Nem sempre vemos logo os frutos dessas iniciativas de vida nova na Igreja. Eles aparecem com o passar do tempo”, completou Dom Odilo, reforçando o convite para que o exemplo desses e dos muitos santos inspire os cristãos de hoje no caminho de renovação missionária da Igreja.


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Pela dignidade de 13 milhões de brasileiros com doenças raras O SÃO PAULO

APRESENTA O TRABALHO DE DUAS ORGANIZAÇÕES QUE SE DEDICAM A PESSOAS COM ENFERMIDADES RARAS E SEUS FAMILIARES

IRA ROMÃO

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No início de março, o governo federal, por meio do Ministério da Saúde, lançou a caderneta dos raros. O documento vai registrar informações sobre o atendimento médico das pessoas com doenças raras, as quais serão compartilhadas, sobretudo com a família, facilitando o acompanhamento multidisciplinar do paciente. A ação fortalece a causa, que é exaltada no último dia de fevereiro, com a celebração do Dia Mundial das Doenças Raras, criado pela Eurordis – Rare Diseases Europe, que reúne organizações de 74 países.

No Brasil, a causa dos raros ganhou força com a Portaria 199 da Política de Atenção Integral às Pessoas com Doenças Raras no Sistema Único de Saúde (SUS), publicada em 2014 pelo Ministério da Saúde.

CARACTERIZAÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define como doença rara aquela que afeta até 65 pessoas a cada 100 mil indivíduos. Embora não se saiba o número exato de doenças raras, estima-se que existam cerca de 7 mil tipos e que mais de 300 milhões de pessoas convivam com uma

doença rara em todo o mundo. Segundo a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), no Brasil existem 13 milhões de pessoas com enfermidades raras. Caracterizadas por diferentes sinais e sintomas, essas doenças variam não somente de uma para outra, mas também de pessoa para pessoa com o mesmo diagnóstico. Cerca de 80% delas decorrem de fatores genéticos. O teste do pezinho pode detectar algumas, sendo fundamental para o diagnóstico e tratamento precoce. Nesta edição, conheça as ações de duas instituições que se dedicam às pessoas com doenças raras e seus familiares.

Instituto Vidas Raras: amparo às mulheres diante de doenças incomuns André Nakahara/Instituto Vidas Raras

Evento de lançamento do livro ‘Mulheres Raras’ e do clipe da música ‘Ela é rara’ reúne homenageadas e o cantor Landau no Espaço Itaú de cinema do Shopping Bourbon, em São Paulo

Em São Paulo, até 31 de março, quem passar pela estação Jardim Silveira, Linha 8 - Diamante, da Via Mobilidade, pode prestigiar a exposição fotográfica “Mulheres Raras”, uma homenagem a mães, pacientes e profissionais da saúde que fazem a diferença na causa dos raros. A exposição é do Instituto Vidas Raras (IVR), que atua em prol de pessoas com doenças incomuns. Trata-se de uma organização localizada em Guarulhos (SP), mas com atuação nacional e reconhecimento internacional.

MULHERES RARAS

No decorrer dos anos, o IVR passou a focar também a visibilidade das mulheres ao identificar que muitas das que buscam acolhimento por causa de seus filhos lidam ainda com o abandono dos parceiros e familiares. “Há o abandono porque as crianças demandam muita atenção. Na fase adulta, esses filhos ficam acamados. É uma vida muito solitária para as mães”, expõe Rosely Maria, di-

retora de comunicação do instituto. “Muitas mães mal dormem. Temos uma assistida que põe o relógio para despertar a cada 20 minutos porque o filho tem epilepsia de difícil controle. Pode ser que ele tenha uma crise e morra. Por isso, ela se mantém alerta”, relata. Ao sofrerem o abandono, essas mulheres são obrigadas a manter o lar financeiramente, por meio de trabalho informal, já que não conseguem se fixar em um emprego por ter que dar assistência ao filho em tempo integral. Para apoiá-las, o instituto oferece capacitação profissional por meio de cursos, para os quais a instituição depende de patrocínios. O IVR criou o Prêmio Mulheres Raras para homenageá-las. “O objetivo é de uma se encontrar na outra e se sentir valorizada. E, também, mostrar para a sociedade essa realidade”, destaca Rosely. “É tanta invisibilidade que não existem leis que amparem a mulher que é mãe rara. Se ela se dedica 40 anos como cuidadora do filho, por exemplo, após a morte dele, a mãe não terá uma pensão, pois era o filho e não o marido.”

LANÇAMENTOS

A terceira edição do Prêmio Mulheres Raras, ocorrida em 2021, deu origem

à atual exposição na estação de trem, além de um livro de mesmo nome e uma música intitulada “Ela é rara”, ambos lançados em um evento, no dia 7, junto com o videoclipe da canção que pode ser visto em https://cutt.ly/NSqKZok. O livro, da editora Canguru, reúne histórias das premiadas. Já a música, assinada pelo cantor Landau, em parceria com Gabi Roncatti, é inspirada em uma poesia de Rosely. No evento, Rosely contou que a poesia foi escrita como um desabafo em que ela reuniu as histórias que já acompanhava no IVR, somadas à dor das mães de raros que perderam seus filhos na pandemia. Participaram do videoclipe, além das premiadas, mulheres assistidas e de grupos e associações de raros parceiros do IVR. Rita de Fátima de Souza, 56, participou com a filha Maria Letícia, diagnosticada intrauterinamente com Síndrome de Edwards e que faleceu após a filmagem. “De acordo com a literatura médica, é uma doença incompatível com a vida. Inclusive, me propuseram interromper a gestação, mas neguei”, lembra Rita, que integra a Associação Síndrome do Amor, de Ribeirão Preto (SP). “Minha filha chegou aos 12 anos, 11 meses e 20 dias, quando virou estrela. No

vídeo é possível ver como ela era alegre.” A mineira Roberta Ladeira, 40, também está no clipe. Ela é membro da PanDi (Associação de Pessoas com Pan-Hipopituitarismo e Diabetes), condição caracterizada pela diminuição da produção de vários hormônios devido a alterações na glândula hipófise. Para ela, as ações do instituto com foco nas “Mulheres Raras” valorizam todos os papéis da mulher na sociedade. “Isso é reforçado não só para quem convive com a gente, mas para nós mesmos. Somos capazes e temos valor”, diz. Quem também aparece no clipe é a catarinense Fernanda Martinez, 23, uma das premiadas. Ela chegou ao IVR após ser diagnosticada com Síndrome de Ehlers-Danlos, que torna as articulações e os órgãos mais frágeis. “O IVR era o que eu estava precisando”, diz a jovem, que compartilha nas redes sociais informações sobre sua doença. “É uma visibilidade muito importante. [O abandono] existe, mas o que estamos fazendo aqui é informar para quebrar esses preconceitos”, complementa.

TRAJETÓRIA

O instituto foi fundado em 2001, por pais em busca de troca de experiências,


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literatura médica e esperança de dias melhores para os filhos raros. “Mas já havia um trabalho desde 1988, quando as doenças raras invadiram a família da [cofundadora] Regina Próspero, por meio do Niltinho, o filho mais velho, diagnosticado com mucopolissacaridose”, conta Rosely. “Ele faleceu aos 6 anos, vítima da falta de informação sobre a doença. Por causa dele e do filho do meio, o Dudu, que

tem a mesma doença, Regina se juntou a outros pais e formou uma associação que hoje é o instituto, luta que tem valido a pena”, acrescenta Rosely, enfatizando que Dudu está com 32 anos. Atualmente, a organização é referência em apoio ao universo das doenças raras. “Lutamos por políticas públicas e estamos sempre em Brasília (DF). Tentamos entender tudo a respeito da Agência Nacional de Vigilância Sani-

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tária (Anvisa), Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no SUS, entre outros órgãos, para saber onde buscar dados e tudo sobre medicamentos para raros, como é feito, e quais os caminhos para a inclusão no SUS”, detalha Rosely. Ao longo da trajetória, o IVR contabiliza mais de 400 mil atendimentos a pacientes raros e participou de mais de 60 projetos de lei em favor da causa, in-

cluindo a criação da Portaria 199/2014. Desde 2013, com exceção desses anos mais recentes de pandemia, membros do instituto foram recebidos no Vaticano para celebrar o Dia Mundial das Doenças Raras. Além disso, o IVR realiza anualmente a Romaria dos Raros ao Santuário Nacional de Aparecida. Linha Rara: 0800 0067 868 www.vidasraras.org.br

Instituto Raros: iniciativa familiar busca ampliar ações Instituto Raros/Divulgação

Há uma década, o administrador de empresas Augusto Estellita Lins, 47, fundou o Instituto Raros, que se empenha para obter tratamento digno às crianças com doenças raras. Localizado no bairro dos Jardins, na zona Oeste, o instituto surgiu da realidade vivida pela família de Lins com a chegada do segundo filho, Guilherme. Já na gestação, ele foi diagnosticado com uma doença rara, a Síndrome de Jacobsen, anomalia que compromete o desenvolvimento cognitivo, neurológico e físico. A pessoa com esse diagnóstico precisa de constantes cuidados médicos especializados, que incluem terapias, o uso de equipamentos, além de consultas e intervenções constantes. Diante da condição do filho, além dos receios pelo diagnóstico, Lins se deparou com a falta de informação e amparo clínico sobre a síndrome. “Na gestação, o médico falou: ‘acho melhor vocês tirarem [abortarem a criança] porque vai nascer um vegetal, um monstro, um ser que vocês não aguentarão’. Minha família e eu dissemos não”, recorda. O empresário passou a pesquisar e juntar informações sobre a doença, tentando descobrir tratamentos disponíveis e como a família poderia se estruturar para proporcionar qualidade de vida a Guilherme. Ao longo do tempo, ele conheceu outros pais com crianças que tinham a mesma síndrome e que também buscavam por respostas. Diante dessa realidade, Lins criou o instituto, visando a amparar todos que convivem com crianças com doenças raras. “Simplificando uma história longa: quero ajudar outros pais a não sofrerem tanto quanto eu e minha família sofremos”, frisa Lins.

PROPÓSITO DE VIDA

“O diagnóstico do meu filho mudou toda a minha família. A dedicação é total. Ao longo desses anos, achei meu propósito de vida. Estou neste mundo para cuidar do meu Gui e do máximo de crianças possível”, afirma Lins. O instituto acolhe e cuida de pessoas com síndromes raras, de qualquer idade, e também de suas famílias. “Cuidamos do pai, da mãe e dos irmãos, porque eles são muito importantes no desenvolvimento desse indivíduo.” Católico fervoroso, como se define, Lins avalia como vitais para sua família a fé e a ajuda espiritual que vivenciam. “O

O pequeno Guilherme, de 10 anos, é a grande inspiração do Instituto Raros

apoio espiritual é fundamental para você buscar forças e ‘adquirir musculatura’ para os reveses e as angústias.” Essa ajuda espiritual vem sendo estendida aos assistidos do instituto, por meio do acolhimento dessas famílias por parte da comunidade católica da qual Lins faz parte. “Quero fazer esse vínculo do Instituto Raros ser também uma casa de Deus, uma casa católica, ainda que hoje atendamos todas as vertentes [classes sociais e religiosas]”, salienta Lins. “O catolicismo é vital para essa luta que é ter uma criança, um anjinho, com doença rara.”

TRABALHO

Lins relata que, com a demanda de tratamento específico, o cuidado ofertado pelo Instituto Raros é amplo. “Nosso cuidar é primeiro acolher, fazer o acolhimento amoroso e humano. Depois, vem o tratamento mais técnico,

em que ocorre o direcionamento para ortopedista, cardiologista, fisioterapia, fonoaudiologia, psicólogos e demais profissionais.” Hoje, 12 crianças são assistidas gratuitamente pelo instituto, que depende do apoio, sobretudo financeiro, de pessoas e de empresas sensíveis à causa. “Recebemos verbas, mas também ajuda de logística, mantimentos, remédios, roupas etc.”, conta Lins. Entre os assistidos estão famílias de outras cidades do País como Rio de Janeiro (RJ), Recife (PE) e Fortaleza (CE). Além do suporte remoto dado a elas, o instituto tem destinado um espaço na própria sede em que mães de outros estados possam dormir com seus filhos quando há a necessidade de atendimento presencial na capital paulista. Ana Santos é do Rio de Janeiro. Em dezembro passado, esteve em São Paulo com o filho Lucas, de 6 anos, que tem

Síndrome de Jacobsen. “Pude contar muito com o instituto, que me socorreu. Sou grata ao Augusto e à família que, inclusive, sempre passam informações sobre a Síndrome de Jacobsen”, diz. Lins relata que com o passar dos anos, além de crianças com Síndrome de Jacobsen, o instituto passou a acolher crianças diagnosticadas com outras doenças raras. “A gente tem dado esse acolhimento humano, técnico e informacional, às vezes, até jurídico. Ajudando a fazer uma ação contra o plano de saúde para que aceitem pagar tratamento de um filho raro”, expõe. Lins frisa que uma das maiores batalhas, “talvez a mais dolorosa” dos pais de raros, é lidar com o despreparo social. “Órgãos públicos, sociedade e o governo não estão preparados para síndromes raras. Não há estrutura, não há médicos e os equipamentos são caros”, relata. “Eu, por exemplo, tenho que gastar algo em torno de R$ 30 mil por mês. Só de clínica para ele (filho) dá R$ 12 mil mensais. Qualquer clínica por mês custa pelo menos R$ 5 mil. Poucos podem gastar isso”, acrescenta. O instituto promove ainda, por meio de encontros, a integração entre as famílias assistidas, algo que Lins acredita ser muito importante para quem tem ou convive com alguém que tenha uma doença rara: “Esse contato nos dá o que eu chamo de musculatura, nos prepara. Faz-nos entender as fragilidades e buscar potência em nós mesmos, pois, às vezes, fraquejamos”, diz.

FUTURO

Para atender à demanda, o Instituto Raros tem planejado alugar um espaço maior, além de focar a busca de novas parcerias com clínicas especializadas e contar com o apoio financeiro de pessoas físicas e jurídicas, fundamental para subsidiar os tratamentos das crianças. “Estamos buscando uma casa nova, em que possamos acolher 100 crianças [por mês]”, almeja Lins, assinalando que o Instituto Raros contribui para uma necessidade em que há um abismo entre a demanda e a oferta de instituições que lutam pela causa. “Em poucas semanas, lançaremos um site onde colocaremos mais informações sobre o nosso trabalho”, completa. E-mail: raros@gmail.com (11) 97773-4587.


16 | Reportagem | 16 a 22 de março de 2022 |

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Luciney Martins/O SÃO PAULO

A ‘Conversão de São Paulo’ é retratada em fachada de prédio

ARTISTA ANDREA RAVO REALIZOU A PINTURA QUE PODE SER VISTA NAS PROXIMIDADES DO VIADUTO JÚLIO DE MESQUITA FILHO

NAYÁ FERNANDES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Caravaggio pintou, entre 1600 e 1601, a cena da Conversão de São Paulo, que é mundialmente conhecida e marcou a história da Arte. O que poucos sabem é que o famoso pintor se inspirou em Moretto da Brescia, Alessandro Bonvicino, mais conhecido como Il Moretto da Brescia, que foi um pintor italiano do Renascimento, ativo na Bréscia e em Veneza. A obra da Conversão de

São Paulo encontra-se na Igreja de Santa Maria presso San Celso, em Milão; e recentemente uma releitura desta foi pintada na fachada de um prédio nas proximidades do viaduto Júlio de Mesquita Filho, na ligação Leste-Oeste de São Paulo, por Andrea Ravo Mattoni. Trata-se do primeiro trabalho de Ravo na capital paulista e o maior, em dimensão, que ele já realizou. O painel foi idealizado a pedido da Prefeitura de São Paulo, para integrar o projeto municipal “Museu de Arte de Rua”. Por meio do Consulado Geral da Itália em São Paulo, Andrea Ravo foi o artista convidado para fazê-lo. Durante o lançamento da obra, o cônsul-geral da Itália no Brasil, Filippo La Rosa, lembrou que, “depois da contribuição à arquitetura da cidade no século passado, estamos desejando deixar mais uma marca italiana na paisagem urbana de São Paulo”. “Esperamos, de verdade, ter começado uma nova fase de maior presença e visibilidade italiana na cidade. A street art é uma ferramenta extraordinária para dar sequência a esse projeto”, continuou La Rosa. Carla Aparecida Teixeira, 28, mora em São Paulo e, quase todos os dias, utili-

za o viaduto Júlio de Mesquita Filho para se deslocar até o trabalho. “A obra tem o poder de transformar um dia ruim em um dia melhor. É impressionante como a obra de arte faz diferença em nossas vidas”, disse à reportagem, destacando que até então não conhecia a obra que foi reproduzida no prédio. “Fiquei imensamente feliz ao descobrir que uma obra tão importante para a arte mundial agora faz parte do meu dia a dia”, afirmou.

CIDADES IRMÃS

Em 2022, as cidades de São Paulo e de Milão comemoram 60 anos de irmandade. O acordo foi assinado em março de 1962, ano em que Gino Cassini, prefeito de Milão, inaugurou na capital lombarda o Largo São Paulo e, em outubro daquele mesmo ano, foi inaugurada em São Paulo a Praça Cidade de Milão, localizada na Vila Nova Conceição. “Além de homenagear a relação entre as duas cidades, ter pintado um muro de um grande edifício de São Paulo, com uma obra que pode mudar a visão de quem anda de automóvel todos os dias, é oferecer a oportunidade aos paulistanos de admirar a arte antiga reproposta de forma contemporânea e, assim, colocá-

-los em contato com algo que possivelmente não conheçam”, afirmou Ravo ao O SÃO PAULO. “Respeito a fé religiosa e tudo aquilo que ela representa, sobretudo na pintura de São Paulo. A fé no confronto entre a história da Arte e a história do homem, nesta obra em especial, é muito significativa, pois se trata de uma invenção. Isso porque, no Novo Testamento não há o relato de que São Paulo tenha caído de um cavalo. Neste caso, foi a Arte que criou a queda, uma cena quase cinematográfica, que dá ainda mais grandiosidade para o momento da conversão de São Paulo”, explicou Ravo. De fato, no livro dos Atos do Apóstolos, Paulo relata que, após ser cercado por uma forte luz, caiu por terra (cf. At 22,6-7), mas não há menção de que estava anteriormente montado em um cavalo. Segundo o artista, a composição foi escolhida para provocar um choque cultural, mostrando diferenças e semelhanças entre Itália e Brasil. “Temos uma obra que não faz parte somente do Renascimento italiano, mas que é mundialmente representativa”, disse. (Com informações do Consulado da Itália em São Paulo)


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| 16 a 22 de março de 2022 | Papa Francisco | 17

No 9° ano de seu pontificado, Francisco insiste: é preciso abrir-se às dores do outro e curar as feridas L’Osservatore Romano/Vatican Media - mar.2013

FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM ROMA

Nove anos atrás, quando se sentou pela primeira vez na cátedra de Pedro, o Papa Francisco já mostrava a que vinha. “Quando o homem falha na responsabilidade de cuidar, quando não cuida da Criação e dos irmãos, então encontra espaço para a destruição e o coração fica árido”, declarou na missa do início do ministério, em 19 de março de 2013. Hoje, ele continua a insistir: é preciso abrir-se para as dores do outro e curar as feridas. Durante o Angelus do domingo, 13, falando sobre a atual guerra na Ucrânia, recentemente invadida pelas forças militares da Rússia, ele disse: “Com dor no coração, uno-me à voz daquela gente comum, que implora o fim da guerra. Em nome de Deus, se escute o grito de quem sofre e se coloque fim aos bombardeamentos e ataques”. A semana do nono aniversário de pontificado do Papa argentino, Jorge Mario Bergoglio, foi marcada por reflexões sobre os fatos atuais, especialmente a guerra na Ucrânia, repleta de mensagens sobre as quais ele tem refletido nestes anos.

SINAIS DE DESTRUIÇÃO

Na sua missa de inauguração em 2013, o Papa Francisco já alertava para o risco de que a humanidade continuasse deixando “sinais de destruição e de morte”. Na segunda-feira, 14, nove anos depois de sua eleição, ele voltou a manifestar tristeza. “Parece-me que substancialmente o mundo tenha continuado e continue sendo governado por critérios obsoletos”, afirmou, em audiência a pequenos e médios empresários.

Não devemos temer a bondade, nem menos a ternura”, declarou à época.

A ORAÇÃO COMO RESPOSTA

Francisco recebe o anel do pescador na missa inaugural de seu pontificado, em março de 2013

Chamando a guerra de “um verdadeiro massacre”, o Papa manifestou nesta semana profunda dor pelo bombardeamento de um hospital pediátrico e maternidade em Mariupol, que matou mulheres e crianças no dia 9. Nenhuma estratégia justifica tanto sangue, comentou. Ele reza pelos refugiados e por todos aqueles que os acolhem. Em outras ocasiões recentes, recordou as muitas situações de violência, como na Síria, na Etiópia e no Iêmen. No encontro com empreendedores, ele exortou: o sistema político e econômico, guiado pelos que estão no poder, deve deixar espaço para a “interioridade humana”, ser orientado “pelo bem, pelo belo e pelo verdadeiro”. Isso quer dizer “animar-se”, disse. Assim, a globalização “deve ser governada” e a economia, vol-

tada ao bem comum. Mais do que isso, ela deve estar “a serviço da vida, da vida humana e da vida da Criação, nossa casa comum, e não a serviço da ‘não vida’ ou da morte, como frequentemente ocorre”, completou. Somente o “cuidado” desinteressado – como São José, celebrado em 19 de março, manifestou em relação a Jesus e a Maria –, somado a uma visão integral do ser humano podem nos colocar num caminho de vida plena, defende o Papa Francisco. Naquela missa de 2013, ele já apontava: “O ódio, a inveja, o orgulho, sujam a vida”, dizia. “Cuidar quer dizer vigiar sobre nossos sentimentos, sobre nosso coração, porque é exatamente dali que saem as intenções boas e ruins: aquelas que constroem e aquelas que destroem.

Com três encíclicas e quatro exortações apostólicas publicadas, além de 35 viagens passando por 51 países nestes nove anos, o Papa Francisco toca em pontos essenciais para aproximar o mundo do que considera ser o projeto de Deus. Ele prega um processo de crescimento individual e coletivo na fé, por meio do constante discernimento, orientado pelo Espírito Santo, e por uma atenção particular às pessoas que se encontram em situações de maior dificuldade. “Ouvir o grito dos que sofrem” e o cuidado que lhes compete estão presentes em todos os níveis de seu pontificado, das estruturas de governo à pastoral e à espiritualidade. Há nove anos, Francisco se apresentou como Bispo de Roma e, portanto, Papa, como alguém que iria “cuidar” da Igreja e do povo de Deus. Parte essencial desse processo, em sua experiência, é a oração. Em uma pregação no sábado, 12, durante missa celebrada com a comunidade dos jesuítas em Roma, o Pontífice recordou que a oração é “uma missão ativa, uma intercessão contínua”. Na visão do Papa Francisco, “rezar é levar o palpitar dos acontecimentos até Deus, para que seu olhar se escancare sobre a história”. Esta Quaresma, recordou o Santo Padre no Angelus do domingo, 13, é oportunidade para “estar mais acordados, atentos, participativos, não perder ocasiões preciosas”, e deixar de lado a “sonolência interior”. Se para alguns a oração é “distância do mundo”, para ele a oração é “mudar o mundo”.


18 | Pelo Mundo | 16 a 22 de março de 2022 |

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Eslováquia/Polônia/Ucrânia

Chile

Mães polonesas e eslovacas se solidarizam com mães ucranianas refugiadas

Igreja conclama chilenos a participar do resgate e reabilitação do país

Reprodução/Twitter Francesco Malavolta

JOSÉ FERREIRA FILHO

osaopaulo@uol.com.br

Uma foto com vários carrinhos de bebê enfileirados, sem ninguém por perto, viralizou na internet na semana passada. A cena chamou a atenção e despertou a curiosidade a respeito do que a teria motivado. No registro da imagem, os carrinhos foram deixados por mães polonesas na estação de trem de Przemysl Glowny, em Medyka, na Polônia, região fronteiriça que recebe milhares de refugiados ucranianos em fuga, que tentam se salvar dos ataques russos. A ideia, segundo o jornal italiano Corriere della Sera, é ajudar mães que chegam com seus bebês à Polônia a continuar sua jornada com um mínimo de conforto às crianças. Estima-se que mais de 100 mil ucranianos cruzem a fronteira polonesa a cada dia. O mesmo gesto de solidariedade tem acontecido na cidade de Uzhhorod, na fronteira com a Eslováquia, país que recebe 10 mil pessoas a cada dia – com filas de refugiados que chegam a três quilômetros – e já acolheu

quase 200 mil ucranianos em seu território.

CUIDADO E PROTEÇÃO

Esses carrinhos – que vêm com cobertores, roupas, fraldas, itens de higiene e comida infantil – são necessários porque as mães ucranianas saem de seu país apenas com as roupas do corpo e os filhos nos braços. Sozinhas com as crianças – os homens de 18 a 60 anos são obrigados a

permanecer e lutar na Ucrânia –, as mães carregam apenas uma mochila ou saco plástico com o mínimo possível. Chegam famintas, traumatizadas e completamente exaustas aos países de refúgio, muitas vezes depois de percorrer longas distâncias a pé, sob uma temperatura de -5° C. Carregam, porém, o sonho de retornar à própria casa e retomar uma vida normal no seu país natal. Fontes: Corriere della Sera, Médicos sem Fronteiras e ABC News

Zâmbia Bispos pedem às dioceses que garantam a segurança e proteção de menores e pessoas vulneráveis “Todas as dioceses católicas do país devem garantir que as crianças compreendam o caminho do processo sinodal para garantir sua participação significativa”, disse Fidelis Hamweemba, responsável pela salvaguarda das crianças da Conferência dos Bispos Católicos da Zâmbia (CBCZ), em seu apelo sobre a participação dos menores no processo sinodal em curso. “É importante que a comunidade se concentre na criação de estruturas eficazes de proteção infantil em nossas dioceses católicas”, disse o Padre Francis Mukosa, secretário-geral da CBCZ, que pediu a todos que trabalhem com o governo para

garantir que a Zâmbia seja um país seguro para crianças e pessoas vulneráveis. O Padre Francis falou em nome dos bispos após um seminário de quatro dias para funcionários diocesanos sobre proteção infantil. A Conferência dos Bispos Católicos da Zâmbia, por meio da política lançada em 2017, reafirmou seu compromisso de salvaguardar os direitos das crianças e adultos vulneráveis, e encorajou um caminho jurídico estatal público na abordagem dos direitos humanos. (JFF) Fonte: Agência Fides

Assegurando às autoridades e ao presidente chilenos que Deus iluminará suas mentes “para que saibam o que é bom e o que é mau, o que é justo e o que é injusto”, o Cardeal Aós acrescentou: “Queremos e buscamos um Chile em que todos vivamos juntos, respeitando uns aos outros, ouvindo uns aos outros, dialogando, colaborando, cuidando dos mais pobres e tratando a natureza com responsabilidade”. Sobre os desafios que o Chile enfrenta hoje, o Cardeal Aós destacou que “Deus criou todos os seres humanos à Sua imagem e semelhança. Pertencemos a Deus e não ao Estado. Deus nos deu direitos que o Estado deve reconhecer e respeitar. Homens e mulheres são iguais em direitos, deveres e dignidade; Deus nos chamou e nos chama hoje a vivermos juntos como irmãos”.

SUPERAÇÃO

“No Magistério da Igreja, o valor da vida sempre e em todos os tempos foi defendido desde sua concepção até sua morte natural”, diz o comunicado. Citando a encíclica Evangelium vitae, de São João Paulo II, a declaração dizia que “esta é uma teoria errônea, pois ‘nenhuma circunstância, nenhum propósito, nenhuma lei pode tornar lícito um ato intrinsecamente ilícito, pois é contraditório à Lei de Deus, que está inscrita em cada coração humano, conhecida pela própria razão e proclamada pela Igreja”. (JFF) Fonte: ACI Prensa

Fonte: Agência Fides

Diocese nega Eucaristia a políticos católicos que votaram pela legalização do aborto uma pessoa para receber o Corpo de Cristo”. Na carta dirigida aos políticos católicos, o Sacerdote destacou que “hoje temos muitas pessoas escandalizadas pela traição pública ao ensinamento da Igreja sobre a fé e a moral por parte daqueles legisladores que se dizem ‘católicos’”. Ele continuou: “De fato, o questionamento dos fiéis faz sentido: como pode um católico que promove abertamente e é a favor de políticas contrárias à vida vir à missa e se aproximar para comungar?”.

DIÁLOGO

Debruçou-se sobre as dificuldades encontradas pelo país nos últimos anos, por causa da pandemia, violência política e social, ataques na região da Araucanía e criminalidade: “Semear violência não é vida, mas morte, é não é progresso, mas regressão”. Superar as consequências dessas situações não é tarefa apenas de quem exerce a responsabilidade pública, mas de todos os chilenos, destacou o Prelado, citando medidas sanitárias para conter a pandemia: “Estamos aqui para renovar nossa convicção de que não podemos esperar tudo dos governantes, mas que cada um de nós é responsável pelo bem de todos”. Por fim, o Cardeal Aós fez um apelo especial pela paz, hoje ameaçada em todo o mundo: “O Chile precisa de nós como pacificadores, como exemplos de diálogo, prontos para gerar processos de cura e reencontro, com engenho e audácia”. (JFF)

México

Depois que a legislatura do estado mexicano de Sinaloa votou pela legalização do aborto para gestações de até 13 semanas, a Diocese de Culiacán anunciou que os políticos católicos que votaram a favor da lei não poderão receber a Eucaristia nem ser padrinhos. Em um comunicado, o Padre Miguel Ángel Soto Gaxiola, diretor da Comissão para a Vida, Família, Juventude e Leigos de Culiacán, anunciou oficialmente que a decisão de negar a Comunhão a tais legisladores é “o reconhecimento do estado de

Um dia após a tomada de posse oficial do novo presidente, Gabriel Boric, a Conferência Episcopal do Chile promoveu o tradicional encontro ecumênico e inter-religioso de oração, na Catedral de Santiago, no sábado, 12. “Todos os dias nos deparamos com a escolha de ser bons samaritanos ou viajantes indiferentes. A cada dia nos é oferecida uma nova oportunidade, uma nova etapa. Não devemos esperar tudo de quem nos governa, pois isso seria infantil. Promovamos um espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Participemos ativamente da reabilitação e resgate de nossa sociedade ferida”, proferiu o Presidente da Conferência Episcopal do Chile, Cardeal Celestino Aós, Arcebispo de Santiago, durante a homilia da missa na ocasião.


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| 16 a 22 de março de 2022 | Geral/Fé e Vida | 19

Faculdades de Teologia e de Direito Canônico abrem ano acadêmico de 2022 Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu na sexta-feira, 11, a missa de abertura (foto) do ano letivo da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e da Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, ambas da Arquidiocese de São Paulo. A Eucaristia, celebrada na matriz da Paróquia Imaculada Conceição, anexa ao campus Ipiranga da PUC-SP, marcou a retomada das atividades acadêmicas presenciais das instituições, após dois anos de aulas remotas, devido às restrições impostas pela pandemia de COVID-19. Na ocasião, o Diretor da Faculdade de Teologia, Padre Boris Agustín Nef Ulloa, e o Diretor Adjunto, Padre Donizete José Xavier, tomaram posse para mais quatro anos de mandato, após serem nomeados pelo Cardeal Scherer, que também é Grão-Chanceler da PUC-SP, e aprovados pela Congregação para a Educação Católica, organismo da Santa Sé responsável pelas instituições eclesiásticas de ensino. Também nessa missa, dois novos professores – Padre Antônio Genivaldo Cordeiro de Oliveira, da área de Teologia Pastoral, e a Irmã Maria Solange Aparecida Novaes, da área de Teologia Moral – receberam do Arcebispo de São Paulo a Missio Canonica, que consiste na licença para lecionar as disciplinas teológicas nas instituições da Igreja.

PROFISSÃO DE FÉ

Antes de assumirem os novos cargos, os diretores e professores fizeram a profissão de fé e o juramento de fidelidade diante do Arcebispo, reafirmando

FACULDADE DE TEOLOGIA

Fundada em 20 de setembro de 1949 pelo Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, então Arcebispo de São Paulo, a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção nasceu integrada à PUC-SP, criada em 1946. Oferece cursos de Bacharelado em Teologia e de Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, bem como cursos livres aprovados pela legislação brasileira e adequados às diretrizes da Santa Sé. Atualmente, estudam na instituição seminaristas da Arquidiocese de São Paulo e das dioceses paulistas de Osasco, Registro, Guarulhos, Santo André, Santos

o compromisso de se manterem em comunhão com a Igreja, “tanto por palavras quanto em sua maneira de proceder”. “No exercício do cargo que me foi confiado, em nome da Igreja, conservarei intacto, transmitirei e explicarei fielmente o depósito da fé, evitando todas as doutrinas que lhe são contrárias”, diz um trecho do juramento feito por cada professor, enquanto toca o livro dos Evangelhos.

SABER TEOLÓGICO

Após a celebração, houve a sessão acadêmica de tomada de posse da direção da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção. Em seu discurso, o Cardeal Scherer afirmou que o trabalho realizado pelos Padres Boris e Donizete no último quadriênio os credenciou para serem reconduzidos a mais um mandato. Dom Odilo enfatizou, ainda, a contribuição da Faculdade de Teologia não apenas por meio dos cursos de graduação e pós-graduação na área, mas também nas diversas frentes de estudo e pesquisa da PUC-SP, sobretudo por meio dos créditos teológicos oferecidos aos alunos de todos os cursos da Universidade, devido à sua natureza pontifícia. “A Teologia deve estar em diálogo com a Economia, o Direito, a Administração, a Filosofia, a Saúde, as Ciências e Campo Limpo, além de religiosos de ordens como os Frades Menores Conventuais e de Nossa Senhora das Mercês, e congregações como os Missionários Combonianos, Missionários da Consolata, Missionários do Sagrado Coração de Jesus, entre outros. Há, ainda, o curso noturno, voltado especialmente para leigos e candidatos ao diaconato permanente.

FACULDADE DE DIREITO CANÔNICO

Primeira faculdade de Direito Canônico do Brasil pela Congregação, a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo foi erigida canonicamente em 26 de

Sociais... Assim, mostra-se, de fato, a vocação da Teologia de ouvir atenta a todas as questões postas pela vida, pela sociedade, e ajudar a discernir sobre essas realidades a partir de um olhar diferente das ciências humanas e exatas, com seu método próprio”, afirmou o Arcebispo. A reitora da PUC-SP, Maria Amalia Pie Abib Andery, também enfatizou o quanto a Faculdade de Teologia enriquece e diferencia a Universidade das demais instituições. “A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo tem a obrigação de ajudar a sociedade a enfrentar os grandes desafios da humanidade e, certamente, terá mais condições e tem muito a ganhar com a Faculdade de Teologia”, disse.

EXIGÊNCIA DA FÉ

Ao renovar a missão à frente da faculdade, Padre Boris ressaltou que a instituição se prepara para celebrar 75 anos de fundação em 2024. “Em continuidade com as gerações que nos precederam nesta casa, caberá a nós, corpo docente, discente e administrativo, renovar seu compromisso com a Igreja de Cristo presente em nossa metrópole”, afirmou. O diretor sublinhou que “produzir, estudar e ensinar Teologia é, antes de tudo, uma exigência da fé recebida dos apóstolos e testemunhada ao longo dos séculos pelos santos e mártires”. fevereiro de 2014, sendo fruto da elevação do então Instituto de Direito Canônico “Padre Dr. Giuseppe Benito Pegoraro”. Possui autonomia para oferecer a formação exigida para a obtenção dos diplomas de mestre e doutor em Direito Canônico, concedidos com o reconhecimento da Santa Sé. Até então, existiam no Brasil apenas institutos afiliados a universidades pontifícias que concediam seus títulos acadêmicos. Atualmente, além do curso oferecido em São Paulo, a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo possui extensões do curso de mestrado em Direito Canônico em Teresina (PI) e em Marília (SP).

Liturgia e Vida 3º DOMINGO DA QUARESMA 20 DE MARÇO DE 2022

Os frutos da Quaresma

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA Fomos postos no mundo por Deus para “dar frutos”! Uma árvore frutífera não é plantada somente para ocupar espaço, absorver nutrientes do solo e oferecer alguma sombra; ela existe para alimentar os homens. Cresce, absorve água e nutrientes, para que um pouco da sua própria vida seja dada aos outros. Serve para beneficiar o entorno e propagar, por meio dos frutos, a sua boa semente. Também nós existimos para sermos espiritualmente fecundos. Se desejássemos apenas nos nutrir, ocupar espaço e nos proteger, perderíamos o sentido da vida. Temos de, na ordem da graça, gerar e alimentar os demais. “Não fostes vós que me escolhestes, Eu é que vos escolhi e estabeleci, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16), disse Jesus. Mas em que consistem esses frutos? Para quem recebe a graça da paternidade ou maternidade, tal fecundidade é inclusive física: “Sede fecundos e multiplicai-vos!” (Gn 1,28). Pelo Matrimônio, um casal povoa a terra e o Céu, aumentando a Igreja em tamanho e em amor. Assim, coopera com Deus na obra da criação. Os frutos gerados por sua união serão, por toda a eternidade, filhos de Deus. No Céu, os pais terão uma alegria ainda maior ao contemplar a glória dos filhos que eles, ao custo de sacrifícios, aceitaram e educaram para Cristo e que, sem a sua generosidade, simplesmente não existiriam! Todos nós, cristãos, porém, somos chamados a dar frutos espirituais: amor, fé, esperança na vida eterna, arrependimento, obras de misericórdia e apostolado. São Paulo especifica ainda alguns frutos que se esperam da alma de um cristão: “O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, continência” (Gl 5,22-23). Estes não são uma teoria ou meros bons sentimentos; devem se concretizar em obras, que Deus e os homens colherão no tempo oportuno. Por isso, o Batista adverte: “O machado está posto na raiz das árvores; toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada ao fogo!” (Lc 3,9). No Evangelho deste domingo, Jesus conta a parábola de uma árvore sem frutos. O dono do campo se impacientava: “Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?” (Lc 13,7). Um bom agricultor lhe pediu mais uma chance: “Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás” (Lc 13,8). A Quaresma é uma nova chance para que demos fruto: “Buscai o Senhor enquanto Ele pode ser achado, clamai por Ele agora que está perto!” (Is 55,6). Por meio de um exame de consciência mais atento, da oração mais intensa, da penitência mais generosa e de um maior zelo pelo próximo, descobriremos o que é preciso fazer (ou deixar de fazer) para que nossa vida seja fecunda. Confiemos e sejamos sinceros! O Senhor é paciente! Ele mudará nosso interior e nos fará dar frutos de sincero amor e conversão.


20 | Geral | 16 a 22 de março de 2022 |

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Imagem de Santa Dulce dos Pobres é entronizada na Catedral da Sé Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

No domingo, 13, recordaram-se os 30 anos do falecimento de Santa Dulce dos Pobres, religiosa brasileira que dedicou a sua vida aos mais necessitados. Nessa ocasião, foi entronizada na Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção (Sé), em São Paulo, a imagem dessa Santa, popularmente conhecida como o “Anjo Bom da Bahia”. A imagem foi presenteada pelo Vicariato Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua e abençoada pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, no fim da missa por ele presidida na igreja-mãe da Arquidiocese. Carregada por pessoas em situação de rua, acompanhadas pelo Padre Júlio Lancellotti, Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, e agentes de pastoral, a imagem foi entronizada enquanto era entoado o refrão do hino composto por ocasião da canonização de Santa Dulce, em 13 de outubro de 2019.

A OBRA

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

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“A vocês da Pastoral do Povo da Rua, ao Padre Júlio e a todos os grupos que fazem tantos trabalhos em favor dos nossos irmãos em situação de rua, que Deus os abençoe e conforte. Continuem firmes, a exemplo de Santa Dulce, assistindo os irmãos em nome de toda a Igreja”, manifestou Dom Odilo, recomendando a todos os fiéis que apoiem as iniciativas realizadas em favor dos pobres.

SANTA DULCE

Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914 em Salvador (BA). Aos 13 anos, manifestou o desejo de se consagrar a Deus. Já naquela época, inconformada com a pobreza, amparava miseráveis e carentes. Aos 18 anos, recebeu o diploma de professora e entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada

No mesmo ano, ocupando um barracão, passou a abrigar pessoas em situação de rua e doentes, levados depois ao Mercado do Peixe, nos Arcos do Bonfim. Desalojados pela prefeitura da cidade, acolheu-os, com a permissão da madre superiora, no galinheiro do convento, transformado, em 1960, em Albergue Santo Antônio, com 150 leitos (hoje o Hospital Santo Antônio). Irmã Dulce criou ainda um asilo, o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, e um orfanato, o Centro Educacional Santo Antônio e, em 1983, inaugurou o Hospital Santo Antônio. Em 1988, foi indicada, pelo então presidente da República, José Sarney, ao Prêmio Nobel da Paz. Em 7 de julho de 1980, teve seu primeiro encontro com São João Paulo II por ocasião da visita do Pontífice ao País. O segundo encontro foi em 20 de outubro de 1991, quando ela já estava bastante debilitada por problemas respiratórios. O “Anjo Bom da Bahia” morreu em 13 de março de 1992, aos 77 anos.

CANONIZAÇÃO E BEATIFICAÇÃO

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Conceição da Mãe de Deus. Em 13 de agosto de 1933, recebeu o hábito religioso e adotou, em homenagem à sua mãe, o nome de Irmã Dulce. Sua primeira missão como religiosa foi ensinar em um colégio mantido pela Congregação, em Salvador. No entanto, o seu pensamento estava voltado para o trabalho com os pobres. Já em 1935, dava assistência à comunidade pobre de Alagados, conjunto de palafitas localizado na parte interna do bairro de Itapagipe. Nessa mesma época, começou a atender também os operários que viviam no bairro, criando um posto médico e fundando, em 1936, a União Operária São Francisco. Em 1937, fundou, com o Frei Hildebrando Kruthaup, o Círculo Operário da Bahia. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugurou o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Após a missa na qual foi entronizada a imagem de Santa Dulce dos Pobres na Catedral da Sé, no domingo, 13, o Cardeal Odilo Pedro Scherer almoçou com um grupo de pessoas em situação de rua e agentes da Pastoral do Povo da Rua.

A causa da canonização de Irmã Dulce foi aberta em janeiro de 2000. Suas virtudes heroicas foram reconhecidas em abril de 2009, sendo, então, considerada Venerável. A beatificação de Irmã Dulce ocorreu em 22 de maio de 2011, em Salvador, em missa presidida pelo Cardeal Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo Emérito de Salvador e delegado papal do rito de beatificação, então Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, com a participação de 70 mil pessoas. A Religiosa recebeu o título de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo como data de sua memória litúrgica o dia 13 de agosto. Em 13 de outubro de 2019, Dulce dos Pobres foi proclamada Santa da Igreja pelo Papa Francisco, em celebração na Praça São Pedro, no Vaticano.


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