O São Paulo - 3403

Page 1

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

www.arquisp.org.br |

Ano 67 | Edição 3403 | 7 a 12 de julho de 2022

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00

Luciney Martins/O SÃO PAULO

No adeus ao Cardeal Cláudio Hummes, reconhecimento e gratidão pelo seu legado * 08.08.1934 † 04.07.2022

‘Ao longo de sua trajetória, Dom Cláudio lançou muitas sementes de Evangelho, esperança e vida’ Dom Odilo Pedro Scherer

Editorial

Encontro com o Pastor

Espiritualidade

Sínodo arquidiocesano

Uma Igreja sinodal deve ouvir os clamores que vêm das fraturas da cidade

‘Pude testemunhar, em vários momentos, a força interior de Dom Cláudio’

Jesus é o samaritano que desce do céu para curar nossas feridas

2ª sessão aborda realidades cultural, social, econômica e política de São Paulo

Página 4

Página 2

Página 3

Página 20


2 | Encontro com o Pastor/Atos da Cúria | 7 a 12 de julho de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

N

a Igreja, nem sempre somos nós que escolhemos os companheiros de missão. Eles nos são designados pela Providência de Deus. Conhecendo-se ou não, eles têm em comum, desde logo, a fé, o Evangelho, a Igreja e a missão. Eu apenas conhecia vagamente o Cardeal Cláudio Hummes quando, em novembro de 2001, fui nomeado bispo auxiliar de São Paulo por decisão do Papa São João Paulo II. Dom Cláudio já era cardeal e tinha algo mais que três anos como arcebispo desta imensa Arquidiocese. Ele me ordenou bispo em 2 de fevereiro de 2002. Desde logo, impressionaram-me a liberdade e a confiança com que tratava seus seis bispos auxiliares. Fomos encarregados de tarefas enormes, desde o primeiro dia. Ele nos reunia com regularidade e dava as coordenadas pastorais e administrativas. Em sintonia com as experiências vividas pela Igreja na celebração do grande Jubileu do ano 2000, suas preocupações eram a evangelização renovada e

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Adeus a Dom Cláudio a caridade organizada. Estava em curso o “Seminário da Caridade” em toda a Arquidiocese, levantando dados sobre a ação social e caritativa nas comunidades e organizações eclesiais. Dom Cláudio também estava muito preocupado com o desemprego crescente e com a escassa evangelização do povo. Em Roma, São João Paulo II levantava a voz para enviar toda a Igreja novamente em missão e anunciava: “Duc in altum” – algo como –, levem o barco para águas mais profundas! (cf. Lc 5,4). O Papa dizia que a evangelização ainda não acabou, mas está apenas no seu início! (Novo Millennio ineunte). E Dom Cláudio dizia em São Paulo: a missão precisa ser retomada, pois a Igreja é missionária por sua própria natureza! Não se trata de fazer missão de alguns dias e, depois, fazer o encerramento dessa atividade: a Igreja precisa estar em estado permanente de missão! Os bispos do estado de São Paulo, em base a essa urgência, elaboraram diretrizes no “Plano de Ação Missionária Permanente” (PAMP), que antecipou em muitas coisas as propostas da Conferência de Aparecida, que seria realizada anos depois, em 2007. Em 2006, Dom Cláudio foi chamado a Roma para colaborar de perto com Bento XVI, como Prefeito da Congregação para o Clero. Com esse encargo, o Papa lhe confiava a responsabilidade de acompanhar os assuntos do clero de toda

a Igreja. Dom Cláudio imprimiu, também lá, a “marca missionária” na sua atividade, dando instruções para que a formação do clero fosse renovada, de acordo com as necessidades e desafios do “novo milênio”. A dimensão missionária deveria integrar a formação de todos os sacerdotes, cujo ministério é missionário por sua própria natureza. Também os padres do clero diocesano devem receber formação missionária e abrir os olhos para os vastos horizontes da missão. Uma vez cumprido o tempo de seu serviço em Roma, voltou a São Paulo em 2011. Poderia ter-se dedicado a tarefas amenas, desfrutando do merecido sossego da terceira idade, que já havia chegado. Mas Dom Cláudio ainda estava cheio de energias e guardava um sonho de juventude, não realizado, como ele próprio disse certo dia: ser missionário na Amazônia. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), sem saber desse sonho missionário amazônico, convidou-o para presidir a Comissão Episcopal para a Amazônia, e ele, sem titubear, aceitou o desafio. Tratava-se de viajar muito pela Amazônia, visitar os bispos e suas dioceses ou prelazias, fazer contatos, ouvir o povo, avaliar as situações dos indígenas e ribeirinhos, pensar em meios para dar novo dinamismo missionário à presença da Igreja naquela região. E ele o fez com dedicação e idealismo juvenil. De suas iniciativas e reflexões

surgiu a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), foi convocado pelo Papa e preparado o sínodo para a Amazônia, do qual Dom Cláudio foi o relator, e foi criada a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama), que ainda está em fase de estruturação definitiva. Nos quase dez anos de sua atuação como missionário da Amazônia, aquela região da América do Sul ganhou a atenção do mundo inteiro e a ação da Igreja recebeu ali um impulso extraordinário. No entanto, a idade do Cardeal avançava e sua saúde cobrava um preço cada vez maior. Em março de 2022, ele renunciou a todos os encargos que tinha, para cuidar da saúde e se preparar para o grande encontro final com o Senhor da vida e da história, em quem ele creu e esperou e a quem serviu de maneira generosa. Nas celebrações da Eucaristia em sua casa, todas as manhãs, ele encontrava forças para continuar sereno e forte, mesmo diante da aproximação da morte. Pude testemunhar pessoalmente, em vários momentos, essa sua força interior. Ele dizia, cheio de confiança e serenidade, como quem tem a consciência de ter cumprido a sua missão neste mundo: estamos nas mãos de Deus. Ao longo de sua vida, Dom Cláudio lançou muitas sementes de Evangelho, esperança e vida nova. Que elas brotem e frutifiquem ao longo do tempo. Deus o recompense!

Atos da Cúria POSSE CANÔNICA Em 26/06/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Thomás More, no bairro Vila Dalva, na Região Episcopal Lapa, ao Reverendíssimo Padre Benedito Claret Pereira Dias, SJC. Em 19/06/2022, foi dada a posse canônica como Pároco da Paróquia São Sebastião, no bairro de Vila Guilherme, na Região Episcopal Sant’Ana, ao Reverendíssimo Padre Luiz Cláudio Vieira. Em 19/06/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora Mãe e Rainha, no bairro Parque Panamericano, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Douglas Eurenides Modesto, C.R. Em 27/05/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro do Jardim Princesa, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Juscelino Ricardo de Santana, CRL.

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e on-line em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: OESP Gráfica • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222 • Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700, 3760-3723 e 3760-3724 • Internet: www.osaopaulo. org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 90 (semestral) • R$ 160 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Geral/Fé e Vida | 3

‘A missão do sucessor de Pedro é a de confirmar os irmãos na fé dos apóstolos’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na manhã do domingo, 3, o Cardeal Odilo Pedro Scherer presidiu a missa da Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo na Catedral da Sé. Nesta data, também é celebrado o Dia do Papa, e em todas as igrejas católicas do mundo ocorre a tradicional coleta do Óbolo de São Pedro. Trata-se da ajuda econômica que os fiéis oferecem diretamente ao Papa, para as múltiplas necessidades da Igreja universal e para as obras de caridade.

FÉ APOSTÓLICA

Na homilia, o Arcebispo explicou que São Pedro e São Paulo são comemorados juntos e que seus túmulos estão na mesma cidade, Roma, onde derramaram seu sangue por Cristo. “Quando falamos da nossa fé apostólica, lembramos que é a fé de Pedro e de Paulo… São recordados na liturgia como mártires de Cristo, que deram sua vida por amor a Cristo e pelo Evangelho, pela missão que receberam do Senhor e desempenharam fielmente até o fim com generosa doação de si próprios”, disse. Dom Odilo destacou, ainda, que São Pedro e São Paulo recordam as primícias, isto é, os primeiros frutos da fé cristã, regada pelo sangue dos mártires de todos os tempos. Ele sublinhou, ainda, que a Igreja é Católica Apostólica. “Portanto, estamos fir-

Cardeal Scherer incensa as imagens de São Paulo e São Pedro, em missa na Catedral da Sé

mes naquela fé testemunhada por aqueles que conheceram Jesus e nos deram o patrimônio da fé da Igreja”, completou. Ao comentar a primeira leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, que narra a prisão e a libertação de São Pedro, o Cardeal Scherer chamou a atenção para a primeira perseguição dos cristãos impetrada por Herodes, com o objetivo de “eliminar pela raiz” o Cristianismo nascente. “Quantos, hoje, estão inseguros na fé, pensando que o Cristianismo vai acabar. Há sempre alguém que aposte que esse será o fim da Igreja… Fiquemos tranquilos, firmes, seguros. Estamos em boa companhia. A perseguição, o martírio, a repressão, a tortura fazem parte da história do Cristianismo. Jesus sofreu tudo isso e disse que

quem quisesse segui-lo estaria sujeito a sofrer também”, afirmou o Arcebispo.

‘TU ÉS PEDRO’

Dom Odilo destacou, ainda, que o mesmo texto bíblico narra que, enquanto Pedro estava preso, a comunidade cristã rezava continuamente a Deus por ele: “Hoje é dia de rezar pelo Papa, mas não só hoje. Rezamos todos os dias, quando celebramos a missa, e também quando não participamos da missa, devemos rezar sempre por Pedro”. Mencionando o Evangelho do dia, no qual Jesus indaga os discípulos sobre o que dizem as pessoas a seu respeito, o Cardeal Scherer exortou que os fiéis testemunhem a fé da Igreja sobre Jesus, não apenas por palavras, mas pelo testemunho de

vida e de fidelidade a Cristo e à sua Igreja. Ao também ser indagado pelo Senhor, Simão responde: “Tu és o Messias, o filho de Deus”. Após a profissão de fé do apóstolo, Jesus lhe diz: “Tu és Pedro e sobre esta pedra eu edificarei a minha Igreja”. Ao comentar esse trecho, Dom Odilo explicou que Cristo edifica a Igreja sobre o testemunho da fé de Pedro em Jesus Salvador, o ungido de Deus. “Esta é a fé da Igreja”, disse, recordando que a Igreja não é uma ONG, partido, ideologia, movimento cultural ou social. “A Igreja se constrói sobre esta fé que Pedro professou”, sublinhou.

COMUNHÃO COM O PAPA

“A missão do sucessor de Pedro é a de, constantemente, confirmar os irmãos na fé de Pedro e dos apóstolos. O Papa nos mantém firmes nesta mesma fé”, enfatizou Dom Odilo. O Cardeal Scherer se referiu a Paulo como grande apóstolo e missionário de Jesus Cristo. “Pedro foi aquele que manteve a Igreja unida em torno da fé. Paulo foi aquele que levou o Evangelho aos povos… A Igreja não pode ficar parada olhando para si, deve sempre ir para frente, ao encontro das pessoas. É o que Pedro, por meio de Francisco, nos diz hoje: sejamos uma Igreja em saída, missionária…”, acrescentou. Por fim, Dom Odilo afirmou que cabe a todo católico assistir, apoiar, respeitar e estar em comunhão com o Papa Francisco, manifestando respeito e obediência.

Espiritualidade O Bom Samaritano DOM JOSÉ BENEDITO CARDOSO

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO LAPA

“Certo homem descia de Jerusalém para Jericó.” Assim começa a parábola do Bom Samaritano contada por Jesus para esclarecer um especialista da Lei que lhe perguntou: “Quem é o meu próximo?” É uma parábola sem palavras, mas rica em gestos que revelam pessoas marcando posição diante de um fato. Na estrada está um homem caído, sem roupa, ferido, semimorto, vítima de assaltantes. Primeiro surgem dois homens que pertencem à religião oficial de Jerusalém, um sacerdote e um levita. Eles viram o homem no chão, mas mudaram de calçada e seguiram o caminho. O mais importante era chegar “puro” ao templo para tomar parte da liturgia do culto. São pessoas piedosas, praticam o culto e a li-

turgia, mas se mostram insensíveis e indiferentes às pessoas vulneráveis e necessitadas encontradas pelo caminho. Para estes, Deus está trancado no templo, e basta este lugar para viver a religião. O terceiro personagem está viajando e, diferentemente dos dois primeiros, aproximou-se do homem caído, encheu-se de compaixão, tratou as feridas, colocou-o no seu animal e o confiou aos cuidados de outra pessoa que tinha condições de oferecer um tratamento melhor. Não tinha as credenciais religiosas do sacerdote e levita, muito pelo contrário, era um samaritano considerado herege pelos religiosos da época. Segundo ele, Deus está no caminho e se identifica com um homem machucado que precisa ser cuidado. Diante da posição de cada personagem, o especialista em Lei é convidado a dar a sua opinião sobre quem foi próximo do homem caído na estrada: “Aquele que o tratou com misericórdia”. O foco mudou não mais sobre quem está caído, mas sobre o que fazem as pessoas que passam, pois “existem simplesmente dois tipos de pessoas: aquelas que cuidam do sofrimento e aquelas que passam ao lar-

go; aquelas que se debruçam sobre o caído e o reconhecem necessitado de ajuda e aquelas que olham distraídas e aceleram o passo. De fato, caem as nossas máscaras, os nossos rótulos e os nossos disfarces: é a hora da verdade. Debruçar-nos-emos para tocar e cuidar das feridas dos outros? Abaixar-nos-emos para levar às costas os outros”? (Francisco, Fratelli tutti, 70). No caminho da vida, em diversas ocasiões, éramos nós que estávamos caídos, feridos e machucados e quantos não foram os que derramaram óleo e vinho em nossas feridas e nos encheram de afeto, tiveram compaixão de nós. No caminho de Jerusalém para Jericó e no caminho de toda a humanidade, é Jesus o samaritano que desce do céu para curar nossas feridas, aliviar nossas dores e nos carregar nos ombros com peso de Cruz. Ter o conhecimento da Sagrada Escritura que alimentou o coração do especialista em leis é necessário, mas não o suficiente. Zelar pelo culto e celebrar com a devida dignidade como costumavam fazer os sacerdotes e levitas também é importante, mas também insuficiente. Palavra, ritos litúrgicos, sacramentos devem

provocar em nós sentimentos de compaixão diante de tantas pessoas submetidas a uma vida desumana. E compaixão foi o que sentiu Jesus quando viu pessoas famintas e as alimentou, cegas e lhes devolveu a visão, angustiadas e abandonadas e começou a lhes ensinar muitas coisas. “Vai e faça o mesmo”, diz Jesus ao especialista em leis e a cada um de nós. Recebemos de Jesus a missão de tomar nos ombros a humanidade machucada, e de Francisco, de sermos uma “Igreja em saída” renunciando à própria comodidade para alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Por fim, lembro-me do dono da pensão que aceitou dois denários e viabilizou a continuação da viagem do samaritano, que soube chegar e desaparecer na hora oportuna sem deixar nome e endereço. Não fosse isso, tudo não passaria de uma “solidariedade paliativa” que não resolve o problema e pode criar dependências. Mais denários (investimentos) para o Sistema Único de Saúde (SUS), pois essa “pensão” tem sido a salvação de milhões de feridos encontrados nas sarjetas do nosso país, também “ferido”.


4 | Ponto de Vista | 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Editorial

Olhando para a cidade

A

segunda sessão da assembleia sinodal arquidiocesana se propôs a olhar a realidade da cidade de São Paulo. A primeira coisa a perceber é a necessidade de dar graças a Deus por toda a beleza, toda a grandeza e o trabalho de homens e mulheres de boa vontade que constroem esta cidade em que Deus habita! Também é preciso dar graças a Deus pela Igreja paulistana que aqui testemunha sua fé de tantas maneiras. Durante o tempo de isolamento provocado pela pandemia, por exemplo, vivenciamos muitos trabalhos e ações em nossas comunidades, como o serviço de caridade e partilha, lembrando da fome presente entre nós; o serviço de consolação no contato com familiares de falecidos vítimas da COVID-19; o serviço de acompanhamento de doentes, mesmo a distância; o serviço de comunicação para transmissão de celebrações, palestras, cultos e cursos; a criatividade em ações que uniram a comunidade (reu-

niões on-line, grupos de WhatsApp etc.), mostrando que a Igreja não são as pedras, são as pessoas. E, se os templos fecharam, a Igreja continuou viva em seu testemunho de solidariedade! Como Igreja, agora nossa questão é pensar a ação pastoral, que é a concretização do cuidado do rebanho. Como ensina o Papa Francisco, “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Evangelii gaudium, 176). Por isso, nos perguntamos, como Igreja, sobre maneiras de ajudar a cidade em que Deus habita a ser mais humana. A Doutrina Social da Igreja traz elementos que ajudam a perceber como a cidade pode ser espaço de respeito e vivência da dignidade humana. E, na fidelidade ao Evangelho do Senhor, reconhecemos que Deus habita esta cidade sobretudo em suas fraturas, pois é preciso ter consciência do lugar em que nos situamos para olhar para a cidade. Não falamos simplesmente de problemas, mas de realidades em

que Deus habita, nossos presépios contemporâneos! A realidade da falta de moradia, com pessoas e famílias vivendo em habitações subumanas na rua, em favelas, em ocupações, em áreas de risco! A pandemia mostrou, de maneira clara, a desigualdade no trato da saúde, com filas para atendimento nos postos de saúde na cidade que tem medicina de ponta; algumas escolas com toda a estrutura de comunicação enquanto na periferia as crianças não têm nem internet. O transporte público maltratado porque não se privilegia o bem comum. A periferia abandonada, tanto as geográficas quanto as existenciais. Quase não há verde na cidade cinza, com rios apodrecidos e descaso com o meio ambiente. Existe violência nas ruas, a população carcerária é esquecida, há violência na internet e nas famílias, uma cultura de violência e ódio que se espalha rapidamente e contamina todo o tecido social. A realidade sofrida da cidade nos interroga: Por que na terra da

fartura há tantos necessitados? Por que interesses particulares ainda se sobrepõem ao bem comum? Onde estão os espaços democráticos de participação? Uma Igreja sinodal precisa ouvir os clamores que brotam das fraturas desta cidade, porque são clamores dos filhos de Deus que sofrem! Misericórdia é o que eu quero, e não o sacrifício (cf. Mt 12,7). Como ser Igreja em saída e ajudar São Paulo a ser mais humana? Há que se reconhecer que Deus habita as fraturas desta cidade! “Juntos podemos e devemos estabelecer gestos de cuidado pela vida humana, pela proteção da criação, pela dignidade do trabalho, pelos problemas das famílias, pela situação dos idosos e dos abandonados, rejeitados e desprezados. Ser uma Igreja que promova uma cultura de cuidado, compaixão pelos fracos e luta contra todas as formas de degradação, inclusive a de nossas cidades e dos lugares que frequentamos” (Papa Francisco, em 29/06/22).

Opinião

Da ‘Economia de Francisco’ à política melhor Arte: Sergio Ricciuto Conte

FRANCISCO BORBA RIBEIRO NETO No dia 23 de junho, aconteceu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) uma audiência pública sobre a “Economia de Francisco” (frequentemente chamada no Brasil de “Economia de Francisco e Clara”). A iniciativa faz parte de um grande processo internacional, iniciado pelo Papa Francisco, que tem por objetivo incentivar os jovens a criar, na teoria e na prática, novos modelos econômicos, mais humanos, solidários, inclusivos e com impactos socioambientais positivos – sob a luz do santo de Assis, que inspirou o nome do Papa. Por terem um caráter prático e concreto, as iniciativas iluminadas pela “Economia de Francisco” frequentemente surgem como atividades do Terceiro Setor, no qual a sociedade civil se organiza para resolver seus problemas. Seguindo as diretrizes sugeridas pelo próprio Pontífice, “Economia de Francisco” se autoidentifica como um processo, não como projeto, organização ou mesmo movimento. A ideia é ter uma realidade aberta, inspiradora e capaz de incluir as mais diferentes posições conceituais e propostas práticas. Sendo assim, trata-se evidentemente de um processo que deseja se afastar de qualquer perspectiva partidária, procurando agregar e incentivar todos aqueles que se comprometem com a proposta original. Isso não retira a sua dimen-

são política, inerente a qualquer experiência de mudança socioeconômica, nem sua meta clara de trabalhar por uma economia voltada aos mais pobres e à conservação do meio ambiente. Na audiência pública na Alesp, além da apresentação da proposta e dos comentários feitos pelos deputados que apoiaram a iniciativa, houve mesas-redondas com a presença de organizações do Terceiro Setor comprometidas em gerar impactos socioambientais positivos e de organizações de diferentes religiões que realizam atividades de promoção humana

(além dos católicos, estavam presentes metodistas e muçulmanos). Significativamente, os deputados e deputadas que apoiaram a iniciativa são todos relativamente jovens e/ou estão no primeiro ou segundo mandato – sinal do espírito de renovação que caracteriza a “Economia de Francisco”. Contudo, o mais notável no evento foi o amplo espectro programático representado pelos políticos envolvidos na audiência: Marcos Damasio (PL); Marcia Lia (PT); Marina Helou (Rede); Janaina Paschoal (PRTB) e Daniel José (Podemos). O Papa Francisco, sempre que toca

no tema da política, insiste na necessidade da construção de uma “política melhor”, atenta às necessidades dos mais frágeis e dos excluídos, mas que se realiza no diálogo, no encontro e na formação de consensos. Sendo assim, nada mais significativo que deputados de diferentes tendências se encontrassem sob a inspiração de suas ideias. No momento atual, de grande polarização política, quando ressentimentos e ideologias exacerbadas dificultam a construção do bem comum, uma das maiores contribuições que a Igreja pode dar é justamente ajudar a desarmar os espíritos, criando diálogos e encontros que levem à construção do bem comum. Aqueles que estão mais interessados no poder de seus partidos do que no bem comum querem nos convencer de que a hegemonia daqueles que compartilham as suas ideologias é a condição para a edificação de uma sociedade melhor. Mas essa é uma postura enganosa. Hegemonias partidárias não são eternas e tendem a se corromper com o tempo. Numa democracia, o mais importante é a construção de boas políticas de Estado, que se mantêm ao longo de governos de diferentes partidos. Por isso é tão importante criar consensos que levem ao bem comum, unindo políticos diferentes. O evento da “Economia de Francisco” na Alesp é um exemplo valioso para todos os que desejam realmente construir o bem comum. Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e biólogo, é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Viver Bem/Fé e Vida | 5

Comportamento

Eis que chegaram as férias SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO Aos poucos, a rotina vai voltando ao normal e estamos novamente em um período de férias escolares. Passamos dois anos em atividades escolares on-line, com desafios enormes de como conciliar a vida familiar com acompanhamento escolar e trabalho, mas, superado esse período, tivemos o primeiro semestre completo de aulas presenciais e, agora, chegamos às férias. É muito importante olharmos para esse período como uma nova oportunidade. Um momento de promover experiências diferentes aos filhos e de readaptar a rotina da casa com esse objetivo. Vamos então a dicas importantes para que as férias sejam muito positivas: Planeje uma rotina de férias – Descansar não é ficar sem rotina e sem atividades, mas sim ter rotina e atividades diferentes das habituais. Não deixe a critério das crianças os horários de acordar e dormir, as atividades que farão durante o dia, o horário de comer etc. Planeje uma rotina adequada às férias. Não se renda às telas (TV, celular, videogames etc.). É tentador deixar que as crianças se distraiam com esses recursos, afinal, nem sempre os pais têm férias junto com as crianças, e esses recursos exercem um papel encantador sobre os pequenos, distraindo-os por longos períodos. Não se esqueça de que, se utilizados de modo desmedido, esses recursos trarão muito mais

dificuldades do que benefícios em longo prazo. As crianças ficam extremamente dependentes, pouco criativas e mal-estimuladas quando são submetidas a períodos longos de uso de telas. Portanto, já estabeleça a princípio o tempo de telas que será permitido, combine com os filhos e faça cumprir o combinado. Resista aos argumentos: mas não tenho nada para fazer. Aliás, vamos falar sobre isso. Tempo de ócio – É muito importante que as crianças e adolescentes aprendam a lidar com o ócio. Tempo de ócio é necessário para que se ganhe habilidade de contemplação, de reflexão, de criatividade, de capacidade de estar em contato consigo mesmo – suas ideias, percepções e imaginações. Não se sintam obrigados a preencher o tempo todo dos filhos durante o período de férias. É muito comum encontrarmos pais angustiados, pois, se não colocarem muitas atividades no dia dos filhos, eles ficarão entediados e vão querer os eletrônicos para se distrair. O tédio também faz parte da vida e pode mover os filhos a encontrar, por si mesmos, possibilidades de se ocupar. Deixem materiais interessantes disponíveis, mas deixem que eles inventem o que fazer. Atividades diferentes – Escolher uma leitura adequada à idade para fazer em família nas férias. Pintar um quadro, confeccionar esculturas de argila ou biscuit. Fazer receitas na cozinha, fazer algum pequeno projeto social, levar um bolo a um asilo ou a uma família necessitada (crianças menores), fazer

campanhas de arrecadação de roupa para as pessoas em situação de rua (adolescentes), organizar os armários, fazer alguns passeios mais difíceis de acontecerem na época de aulas... É importante ajudar os filhos a compreender que descanso não é sinônimo de não fazer nada, mas sim de mudar as atividades que se faz, modificar o nível de exigência que se coloca nelas, e continuar crescendo e melhorando como pessoa. Viagens, acampamentos, atividades mais elaboradas nem sempre fazem parte do rol de possibilidades de todos, e não há problema nenhum nisso. O mais importante são as memórias que construímos com eles dentro das circunstâncias de vida que cabe a cada família. Não valorizem demasiadamente as férias, como se o período escolar fosse um tempo “escuro”, difícil, chato e, infelizmente, necessário para que tenhamos o prazer de gozar das férias. Ao contrário, férias demais também cansam, elas somente são boas porque temos uma rotina de atividades para a qual voltar. É bom que se sintam motivados a retomar as atividades com alegria depois do tempo de descanso. Pais, aproveitem com os filhos este período de férias, de acordo com suas circunstâncias e de modo natural. Lembrem-se: “A coisa mais extraordinária do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos comuns” (G. K. Chesterton). Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

Você Pergunta Por que na Bíblia não há menções ao casamento de Maria e José? PADRE CIDO PEREIRA

osaopaulo@uol.com.br

Eis esta curiosa dúvida da Luiza, do bairro de Santana: “Padre Cido, diz-se até hoje que o casamento de José com Maria é inspiração para os casamentos. Quando eles se casaram? Como e onde foi?”. Luiza, os Evangelhos foram escritos para nos falar de Jesus. Eles nos falam de José e Maria no que se refere a Jesus. De forma que o casamento de José e Maria não é essencial. Basta o que diz os Evangelhos: que, esclarecida a gravidez de Maria como obra do Espírito Santo, ele recebeu sua Maria e cuidou dela. Nos evangelhos apócrifos que surgiram nos primeiros séculos do

Cristianismo e não são considerados inspirados, há várias suposições, entre elas a de que José seria viúvo e se casou com Maria tendo filhos do primeiro casamento. Nada disso é verídico e se trata apenas de tentativas de preencher vazios deixados pelos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João. Lembre-se, porém, minha irmã, de que é possível concluir que José foi um pai atento com Jesus; e Maria, uma esposa e uma mãe maravilhosa para José e Jesus. Foi uma família feliz, apesar da pobreza, uma família que foi migrante no Egito. Quando Jesus começou sua vida pública, José ainda estava vivo. Mas, quando Jesus morreu, Maria estava sozinha e o discípulo que Jesus amava rece-

beu de Jesus a missão de cuidar dela. O certo, portanto, é que Jesus foi um bom filho para José e Maria. José um esposo carinhoso para Maria e um pai e tanto para Jesus. Com razão, nós chamamos a família de Jesus de Sagrada. Jesus quis ser igual a nós em tudo. Quis, portanto, ter sua família como qualquer um de nós tem. Por tudo isso, me encanta a verdade que o Padre Zezinho canta em uma de suas canções chamada “Estou pensando em Deus”. Canta ele que “tudo seria diferente se o Natal não fosse um dia, se as mães fossem Maria e se os pais fossem José. E se a gente parecesse com Jesus de Nazaré”. Deus abençoe sua família, minha irmã!

Fé e Cidadania Uma reflexão em torno de duas crianças EDUARDO R. CRUZ Aconteceu mais uma vez. Uma menina, em Santa Catarina, foi estuprada por um conhecido e desse ato resultou uma gravidez. Uma criança gerando outra criança. De imediato, cria-se o consenso: é uma gravidez de risco, há que se sacrificar a segunda criança. Ao conselho médico se acrescenta o consenso social: uma gravidez resultante de estupro é indesejada, e uma criança dessa idade não tem a maturidade emocional para levar a termo a gravidez. Além disso, perderá seu futuro e suas oportunidades para todo o sempre. Uma juíza sugere à criança manter a gravidez. Agora, essa juíza sofre a recriminação de seus pares e da mídia, podendo sofrer processos e sanções de todos os tipos. O inexorável ocorreu: com quase 29 semanas de gravidez, o hospital comunicou ao Ministério Público Federal (MPF), no prazo estabelecido, “que foi procurado pela paciente e sua representante legal e adotou as providências para a interrupção da gestação da menor”. Este mesmo hospital havia recebido recomendação do MPF para realizar o procedimento nos casos autorizados por lei, “independentemente de autorização judicial, idade gestacional ou tamanho do feto”. Nada se diz sobre o destino desse feto: com quantos gramas estava, se poderia sobreviver com os devidos cuidados etc. Como já mencionava o Papa Francisco no início deste ano, dá-se menos importância aos nascituros do que aos pets. Em nota, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) diz: “De maneira especial, toca-nos profundamente a situação desta criança que, na sua mais tenra idade, passa por todos esses traumas e pressões e todas as crianças que, por uma vida sexual precoce ou porque são violentadas, perdem sua infância [...] a vida deve ser respeitada e defendida, em qualquer etapa ou condição em que se encontre a pessoa humana”. É preciso reconhecer que estamos diante de uma situação muito difícil, e há muitas outras situações difíceis envolvendo mulheres que acabam resultando em abortos. Não estamos aqui falando daqueles realizados por conveniência e assim devemos evitar julgar os envolvidos como se fôssemos fariseus impondo aos outros um jugo que nós próprios não estamos dispostos a assumir. Como pecadores, não devemos “atirar a primeira pedra”. Trata-se, sim, de denunciar o automatismo da solução hegemônica: houve estupro de vulnerável, resolva-se o “problema” interrompendo-se a gravidez, independentemente de outra consideração. Nenhum peso na consciência, nenhum esforço de criatividade que acolha a família, a criança e aquela outra que ela espera. Nenhum esforço para proporcionar um desfecho diferente. Estamos em ano eleitoral. Essa situação é extremamente útil para oportunistas à direita e à esquerda mostrarem como o lado oposto pensaria e agiria como a encarnação do demônio. Tudo o que menos se precisa é a politização do caso, adicionando-se à já existente judicialização e medicalização dele. É como julgar que a esfera pública fosse a única responsável para conduzir casos como esse. Por outro lado, deixar o ônus sobre os ombros da criança e de sua família seria o supremo ato de crueldade. Todos nós somos responsáveis por ocorrências como essas quando, por exemplo, assistimos impassíveis a processos de dissolução familiar. Um papel mais robusto pela família pode ser assumido, com o indispensável apoio de outras famílias ao redor da primeira, e outros grupos de suporte. A generosidade humana é criativa, e nada é impossível para quem se dispõe a ajudar e a ser ajudado. De resto, diante do fato consumado e da impotência diante da indiferença tão acentuada em face do nascituro, só nos restam a oração e a vigília, no aguardo da misericórdia divina. Eduardo R. Cruz é professor titular do Departamento de Ciência da Religião da PUC-SP.


6 | Pelo Brasil/Fé e Vida| 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Cardeal Geraldo Majella Agnelo celebra 65 anos de ordenação sacerdotal Santuário de Nossa Senhora Aparecida/Arquidiocese de Londrina

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Centenas de fiéis, autoridades civis, padres e bispos participaram, em 29 de junho, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, na Arquidiocese de Londrina (PR), da missa em ação de graças pelos 65 anos de sacerdócio do Cardeal Geraldo Majella Agnelo. Ele foi ordenado sacerdote nesta data, em 1957, na Catedral da Sé, e permaneceu na Arquidiocese de São Paulo até 1978, quando foi nomeado por São Paulo VI como Bispo de Toledo (PR). Hoje, aos 88 anos, o Purpurado vive na Arquidiocese de Londrina, onde foi Arcebispo entre 1982 e 1992. Antes da missa presidida por Dom Geremias Steinmetz, Arcebispo de Londrina, amigos e familiares de Dom Geraldo recordaram vivências com o Bispo. Entre os concelebrantes estiveram o Cardeal Scherer, Arcebispo de São Paulo; o Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador (BA) e Primaz do Brasil; e Dom Murilo Krieger, Arcebispo Emérito de Salvador. Ele sucedeu a Dom Geraldo, que esteve à frente daquela Arquidiocese entre 1999 e 2011.

FIDELIDADE À IGREJA E AO PAPA

Na homilia, Dom Geremias Steinmetz ressaltou que a Palavra de Deus sempre iluminou o Cardeal Majella Agnelo, que, a exemplo do Bom Pastor, sempre esteve atento às diferentes realidades dos fiéis, em especial nas periferias geográficas e existenciais. Após sua reflexão, o Arcebispo de Londrina passou a palavra ao Cardeal Scherer: “A vida sacerdotal de Dom Geraldo foi marcada sempre por um grande amor à Igreja. E quem teve a graça de conviver com ele, de conhecê-lo de perto, pôde testemunhar suas

Liturgia e Vida 15º DOMINGO DO TEMPO COMUM 10 DE JULHO DE 2022

‘Vai e faz a mesma coisa’ PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

Cardeal Geraldo Majella Agnelo com os concelebrantes da missa em 29 de junho

virtudes de pessoa afável, atenciosa e bondosa. Ele tem a virtude de criar laços de amizade e comunhão entre as pessoas e é capaz de dar atenção a todos com muita paciência”, disse Dom Odilo na homilia. O Arcebispo de São Paulo ressaltou, ainda, que Dom Geraldo sempre deu grande testemunho de vida sacerdotal, com especial zelo pela liturgia e irrestrita fidelidade e amor ao Papa.

PROXIMIDADE

Dom Odilo recordou, ainda, três momentos em que conviveu de modo mais próximo com Dom Geraldo. O primeiro, entre 1978 e 1982, quando Dom Geraldo foi Bispo de Toledo, e Dom Odilo era padre: “Marcou-me muito a proximidade de Dom Geraldo em relação aos padres, os religiosos, os seminaristas e o povo”. Um segundo momento foi entre 1994 e 1999, quando Dom Geraldo era o Arcebispo-secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e Dom Odilo, ainda padre, trabalhava na Congregação para os Bispos: “Dom Geraldo era o ponto comum de referência dos brasileiros que estavam em Roma a serviço do Papa e da universalidade da Igreja”.

Um terceiro período de proximidade foi na presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre 2003 e 2007, quando Dom Geraldo era Presidente da conferência e Dom Odilo, Secretário-geral. “Celebrando hoje os 65 anos de ordenação presbiteral de Dom Geraldo e vendo o grande bem que ele realizou ao longo de sua vida sacerdotal, podemos, também nós, exclamar com ele: ‘Que poderei retribuir ao Senhor por todo o bem que Ele me fez?’. E responder com ele: ‘Erguerei, mais uma vez, o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor na confiança de que Deus completará até o fim a boa obra que começou nele pelo exercício de seu ministério sacerdotal’”, concluiu Dom Odilo.

GRATIDÃO

Na parte final da missa, um cerimoniário leu, ao lado de Dom Geraldo, a mensagem de agradecimento do jubilando: “O Senhor me constituiu sacerdote em favor da salvação, e hoje me alegro em celebrar 65 anos de vida presbiteral, servindo a Deus e ao seu povo. Agradeço aos que fazem parte da minha vida e ministério, todos que vieram celebrar comigo este dia de ação de graças, Deus os abençoe”.

Uma das passagens mais conhecidas do Evangelho é a parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37). Nela, Cristo reafirma que o caminho para se alcançar a vida eterna é o amor: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!” (Lc 10,27). Além disso, Jesus explica o que nos torna verdadeiramente “próximos” uns dos outros: estarmos atentos para “usarmos de misericórdia” (cf. Lc 10,37), sempre que houver ocasião. Alguns Padres da Igreja tenderam a ler esta parábola como uma representação alegórica de realidades sobrenaturais. O homem que “descia de Jerusalém para Jericó” representaria, sob um ponto de vista alegórico, a humanidade que, após o pecado original, desceu do Céu em direção ao inferno. Os “assaltantes” seriam os demônios que “arrancaram tudo” e “espancaram” o homem decaído desde Adão. Largaram-no “quase morto”, pois o deixaram fisicamente vivo, mas espiritualmente sem vida. O “sacerdote” e o “levita”, que viram o homem ferido mas se omitiram para “seguir adiante por um outro lado”, representariam os sacrifícios da Lei de Moisés, que se mostraram incapazes de nos salvar. Com efeito, a salvação veio somente por meio do sacrifício de Cristo na Cruz. O Samaritano, por sua vez, seria Jesus! Ele sim “chegou perto, viu e sentiu compaixão” da humanidade ferida pelo pecado! Sendo o Verbo eterno de Deus, fez-se homem como nós, curou nossas “chagas” com o “óleo” de seus Sacramentos e com o “vinho” da Eucaristia. Retirou-nos do chão sujo e nos colocou “sobre o seu próprio animal”; isto é, elevou-nos por meio do Batismo para que nos tornássemos participantes da natureza divina. Em seguida, encaminhou o homem salvo porém ainda ferido a “uma pensão, onde cuidou dele”. Esta pensão seria, alegoricamente, a Igreja. O “dono da pensão” seriam os cristãos. Ao prometer “quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”, o Senhor estaria reiterando que, na sua segunda vinda no Juízo Universal, retribuirá a cada um pelo bem que tiver feito pelo próximo. As duas moedas que lhes deixou representam, sob essa perspectiva, o duplo Mandamento do amor a Deus e ao próximo, a moeda que temos neste mundo para adquirir um tesouro no Céu. Essa leitura nos ajuda a olhar o Evangelho com confiança. Lendo a mensagem “faz isso e viverás” (10,28) e “vai e faz a mesma coisa” (10,37), poderíamos sentir-nos sem forças. Para agradar a Deus, é necessário praticar o bem; no entanto, isso somente é possível porque o Senhor mesmo já fez um bem muito maior por nós. Perto de tudo o que Ele fez e faz continuamente por seus filhos, as exigências do amor ao próximo são pequenas e leves, um “jugo” verdadeiramente suave (cf. Mt 11,30). Ainda mais se consideramos que, por meio de suas graças atuais, “é Deus quem realiza em nós tanto querer como fazer” (cf. Fl 2,13) o bem. Que o Senhor nos ensine a “fazer a mesma coisa”, amando com obras e de verdade!


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Especial – Dom Cláudio Hummes | 7

‘Dom Cláudio lançou muitas sementes de Evangelho, esperança e vida nova’ AFIRMOU O CARDEAL ODILO SCHERER, NA MISSA EXEQUIAL DO ARCEBISPO EMÉRITO DE SÃO PAULO

Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Na manhã da quarta-feira, 6, centenas de fiéis se reuniram na Catedral da Sé para rezar pelo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e Prefeito Emérito da Congregação para o Clero, falecido na segunda-feira, 4, aos 87 anos. O funeral, iniciado na noite da segunda-feira, foi concluído com uma Santa Missa presidida pelo Núncio Apostólico Núncio Apostólico no Brasil preside rito de encomendação do corpo do Cardeal Cláudio Hummes, em missa de exéquias, na Catedral da Sé, dia 6 no Brasil, Dom Giambattista Diquattro. Conforme prevê os ritos fúnebres, o caixão com o corpo de Dom Nessa ocasião, em Roma, São João telegrama enviado por Francisco a Dom que o Cardeal Hummes nunca esteve tão Cláudio foi colocado no chão do presPaulo II levantava a voz para enviar toda Odilo, no qual manifestou seu pesar pelo atual em suas palavras e ensinamentos. “A bitério, tendo sobre ele o livro dos Evana Igreja novamente em missão e anunciafalecimento daquele a quem se referiu sua luta contra a desigualdade social, sua gelhos aberto. Ao seu redor, diversos va: “Duc in altum”, algo como: “Levem o como “querido irmão” e recordou: “Trago luta em favor dos pobres, a sua luta em arcebispos, bispos e sacerdotes, entre os barco para águas mais profundas!” (cf. Lc sempre vivas na memória as palavras que defesa do meio ambiente, das minorias, quais os Cardeais Odilo Pedro Scherer, 5,4). “E Dom Cláudio dizia em São Paulo: Dom Cláudio disse, no dia 13 de março de dos povos indígenas,” destacou, concluindo que “nós todos nos despedimos de um Arcebispo Metropolitano de São Paulo; a missão precisa ser retomada, pois a Igre2013, pedindo-me que não me esquecesse ja é missionária por sua própria natureza! grande brasileiro”. Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador dos pobres”. Não se trata de fazer missão por alguns O prefeito de São Paulo, Ricardo Nu(BA) e Primaz do Brasil; Orani João TemDom Joel Portella Amado, Bispo Auxipesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ); e liar do Rio de Janeiro e Secretário-geral da nes, destacou que fica gravada em sua medias e, depois, fazer o encerramento dessa mória a frase que Dom Cláudio disse ao Raimundo Damasceno Assis, Arcebispo Conferência Nacional dos Bispos do Brasil atividade: a Igreja precisa estar em estado Papa Francisco, para não se esquecer dos Emérito de Aparecida (SP). (CNBB), afirmou que o Cardeal Hummes permanente de missão!”, recordou o Cardeal Scherer. pobres. “Não tenha dúvidas, Dom Cláuensinou a todos o amor aos pobres e à dio, que o que disse para o Papa ecoará no Dom Odilo afirmou que o Cardeal Amazônia, da qual falava com “brilho nos VIDA ETERNA A homilia foi proferida pelo Cardeal ouvido de cada um de nós, durante todos Hummes também imprimiu ao encargo olhos” (leia as manifestações do Papa e da Scherer, que partiu da citação do Evangeos tempos”, ressaltou. na Congregação para o Clero a “marca CNBB na página 12). lho segundo São João, no qual Jesus afirmissionária”, dando instruções para renoma: “Quem vê o Filho e nele crê tem a vida var a formação do clero, enfatizando que HOMEM BOM SEPULTAMENTO Em nome do clero, o Monsenhor SerNa conclusão da missa, o Núncio eterna e eu o ressuscitarei no último dia”. “a dimensão missionária deveria integrar gio Tani, Vigário Judicial da Arquidiocese, Apostólico presidiu o rito de encomen“Poderia haver palavra mais confora formação de todos os sacerdotes, cujo tadora para nós, que celebramos a despedação do corpo do Cardeal Hummes. Em o primeiro ordenado pelo então Arcebisministério é missionário por sua própria dida do estimado Cardeal Cláudio Humpo de São Paulo, em 1998, expressou o peseguida, carregado por sacerdotes, sob natureza”. mes? Ele creu nisso e dedicou sua vida sar pelo falecimento do Cardeal Hummes, preces e cânticos, o corpo do Arcebispo Por fim, Dom Odilo recordou os últimos meses da vida do Cardeal Huminteira para proclamar que Jesus é o Filho recordando sua biografia e serviços presEmérito foi conduzido até a cripta, no submes, ressaltando que nas celebrações tados à Igreja. solo da Catedral, onde foi sepultado. de Deus e para ajudar outras pessoas a se da Eucaristia, todas as manhãs, em “Em seu coração de pastor, nunca falComo última homenagem, seus famiencontrarem com Ele e também crerem tou aquela preocupação especial com a liares – irmãos, sobrinhos e sobrinhas-nesua residência, ele encontrava forças Nele”, afirmou Dom Odilo, ressaltando tas – vindos do Rio Grande do Sul, depoformação do clero. Se via, era notório, que para continuar sereno e forte. “Pude que a morte nem sempre tem explicação sitaram flores no túmulo de Dom Cláudio, o Seminário era a pupila de seus olhos, testemunhar pessoalmente, em vários racionalmente aceitável. “Mas a fé e a confiança em Deus nos dão motivo de serenias mesmas flores que foram colocadas também por isso foi chamado pelo Papa momentos, essa sua força interior. Ele dade: É Ele quem vive e é a fonte da vida”, junto ao seu caixão por pessoas em situaBento XVI para que assumisse como dizia, cheio de confiança e serenidade, ção de rua, durante o velório. completou. Prefeito da então chamada Congregacomo quem tem a consciência clara de ção para o Clero, hoje Dicastério para o Enquanto o túmulo era fechado, após Ao destacar a “vida longa, operosa e ter cumprido a sua missão neste mundo: estamos nas mãos de Deus”, disse o Clero, colaborando muito de perto com a leitura da ata do sepultamento, cardeais, exemplar” de Dom Cláudio, o Cardeal Arcebispo de São Paulo. o Papa no cuidado e solicitude pelos sabispos, sacerdotes e familiares, presentes Scherer compartilhou a experiência de cerdotes do mundo inteiro... Em Roma, “Ao longo de sua vida, Dom Cláudio na cripta, entoaram o cântico católico potrabalhar e conviver com aquele ao qual pular: “Com minha Mãe estarei, na santa no Vaticano, era comum ser chamado de lançou muitas sementes de Evangelho, viria a suceder como Arcebispo de São Glória um dia. Junto à Virgem Maria, no ‘Uomo buono e semplice’: ‘homem bom e esperança e vida nova. Que elas broPaulo. Ele sublinhou que, em sintonia tem e frutifiquem ao longo do tempo. E céu triunfarei”. simples’, que nunca deixou de ser franciscom as experiências vividas pela Igreja cano, no modo de se comportar, de tratar que ele agora descanse de suas fadigas,” Por fim, a cripta foi aberta para a visitana celebração do Jubileu do ano 2000, concluiu. ção dos demais fiéis, o que poderá ser feito as pessoas e de viver” (leia a íntegra em: suas preocupações eram a evangelização https://tinyurl.com/2mdq42bg). Como representante do Papa, o Núntambém nos próximos dias. renovada e a caridade organizada (leia cio Apostólico ressaltou o conteúdo do (Colaborou: Fernando Arthur) O governador Rodrigo Garcia afirmou mais na página 2).


8 | Dom Cláudio Hummes – Especial | 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

MANIFESTAÇÕES DOS BISPOS AUXILIARES DA ARQUIDIOCESE (Nas missas que presidiram no funeral de Dom Cláudio na Catedral da Sé)

“Devemos agradecer a Deus pela sua vocação ao sacerdócio e o seu ministério episcopal: sua perseverança no sim dado a Deus desde muito jovem, a vida segundo o espírito de pobreza, humildade e serviço dos serviços dos filhos de São Francisco.” Dom Carlos Lema Garcia

“Dom Cláudio pode ser contado entre as pessoas leais à vocação recebida. Foi um homem que honrou a justiça, como religioso e cidadão, seja exercendo funções simples no convento franciscano, seja num dicastério na Santa Sé. Jamais renunciou à retidão da sua existência. Mesmo nas adversidades, não comprometeu a sua biografia honrada.”

“Dom Cláudio sempre rezou para que a Igreja fosse firme e unida, não cedendo às ameaças externas e internas. ‘A Igreja defende a sua unidade como unidade da pluralidade. As divisões são um mal’, disse o Cardeal, diante de quem questionava a autoridade do Papa.” Dom Carlos Silva, OFMCap.

“Que o bom combate travado por Dom Cláudio seja também o nosso. Que a nossa corrida seja pela defesa da vida dos mais vulneráveis, defesa da casa comum, como fez Dom Cláudio. Que guardemos a fé para que a vida seja plena e eterna junto de Deus. Que a alma de Dom Cláudio descanse em paz.”

Dom Jorge Pierozan

Dom José Benedito Cardoso

“Ele esperou a irmã morte. Nos últimos tempos, não queria se submeter ao tratamento de saúde que lhe poderia deixar de viver a dor e o sofrimento. E ele viveu a dor, o sofrimento e a perda das forças com espírito de fé e aquele espírito de alguém que estava chegando. Eu ainda celebrei com ele antes de vir a Roma, no dia 26 de junho.” Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ (em entrevista ao Vatican News concedida em Roma).

“Dom Cláudio inicia agora a sua última viagem, a sua segunda autoentrega. A primeira entrega de Dom Cláudio foi quando, ainda criança, deixou a casa de seus pais para seguir a Jesus Cristo, imitando o homem de Assis. Hoje. ele faz a

sua segunda e última entrega, isto é, como nos lembra igualmente a liturgia desta celebração, o barco começa a sair do porto e entra no mar, indo em busca de um objetivo: o Reino que Deus nos dá.” Dom Cícero Alves de França

“Nunca sentiremos falta de algo que nunca tivemos. Nunca teremos saudade de alguém que não conhecemos. Portanto, a vida deste nosso irmão foi um presente que Deus nos deu. [...] Ele não disse que tínhamos que resolver todos os problemas dos pobres. Disse que não podemos nos esquecer deles, pois tanto quanto eles precisam de nós, nós precisamos deles, que são verdadeiros modelos do Evangelho.” Dom Rogério Augusto das Neves

OBRIGADO, DOM CLÁUDIO Luciney Martins/O SÃO PAULO

“Um momento muito especial foi quando eu completei 40 anos de trabalhos na Catedral e coincidiu que ele veio presidir a missa aqui na data. Alguém comentou com ele sobre isso, e Dom Cláudio fez questão de mandar me chamar e me cumprimentou pessoalmente diante dos padres. Isso me marcou bastante.” Geraldo de Medeiros, sacristão da Catedral da Sé há 43 anos

“Quando eu entrei no seminário em 1986, Dom Cláudio era Bispo de Santo André. Ele tinha uma atuação muito grande em relação à formação dos seminaristas e dos padres. Era um bom, um grande Pastor, foi um grande pai para todos os padres, que gostavam muito dele, pela sua atuação junto aos operários e junto à classe que mais precisava.” Padre Décio Rocco Gruppi, do clero da Diocese de Santo André

“Ele era calmo, paciente, bom. Ia para seu escritório, descia cinco minutos antes do meio-dia para almoçar. Chegava e perguntava: ‘Posso rezar?’ Eu respondia que podia, que estava pronto o almoço. Foi um homem de muita oração. Ele não deixava de celebrar. Às vezes, chegava tarde de viagem e falava que ia celebrar, pois ainda não tinha celebrado a missa do dia. Um homem muito piedoso. Dava sempre força pra gente. Era um pai espiritual.” Irma Maria Nazaré, que conviveu com outras irmãs na casa de Dom Cláudio

“Em 2000, Dom Cláudio foi quem me ordenou, e tive a alegria de trabalhar aqui muito próximo e com quem muito aprendi, também quando fui Cura da Catedral da Sé. Ele sempre vinha celebrar às 9h, transmitia uma alegria muito grande, e um desejo de ser missionário na Amazônia, o que ele pode realizar no final da sua vida, um trabalho belíssimo!” Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo de Ourinhos (SP)

“A voz de Dom Cláudio soou mais alta, mais forte, ao falar de muitos aspectos da Amazônia, dos pobres, das vocações e dos leigos. Como franciscano, ele sempre lembrava que todos somos irmãos, seu lema episcopal, que ele sempre bem viveu. Ele tinha um coração muito aberto ao diálogo. A Igreja toda tem muito a agradecer a Deus pela vida de Dom Cláudio.” Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida (SP)

“Por causa do apoio que deu à greve dos metalúrgicos do ABC, nos anos 1979/1980, Dom Cláudio era chamado de o ‘Cardeal dos Trabalhadores’. E agora, con-

clui a sua vida como ‘profeta da Amazônia’. Ele conduziu o Sínodo para a Amazônia. Ele viveu intensamente e sempre esteve do lado certo.” Antônio Funari Filho, presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo

“Foi Dom Cláudio quem conseguiu, depois de todo o empenho de Dom Paulo Evaristo Arns, inaugurar a nossa rádio 9 de Julho. Todas as vezes que nós o convidávamos, ele ia à rádio, falava. Ele deixa um grande legado. Fica a memória desse franciscano discreto, mas presente, muito presente e firme nas suas convicções.” Cônego José Renato Ferreira, ex-diretor da rádio 9 de Julho

“Dom Cláudio é meu irmão de sangue, mas é irmão de todos, de modo especial, dos pobres, dos indígenas, dos ribeirinhos, dos quilombolas. Somos gaúchos, mas Dom Cláudio amava o povo de São Paulo. Como era bonito ouvi-lo contar sobre suas atividades missionárias na Arquidiocese paulista. Quando nos falava sobre a Amazônia, seus olhos brilhavam e sempre pedia para nós cuidarmos da nossa Casa Comum.” Inácio Hummes,73, irmão de Dom Cláudio (Colaboraram: Rosene Welter, Cidinha Fernandes, Cleide Barbosa, Júlia Cabral e Karen Eufrosino)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Especial – Dom Cláudio Hummes | 9

Dom Cláudio Hummes testemunhou o amor a Cristo nas diferentes realidades DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

“Devemos ser fiéis para dar respostas pastorais adequadas... Primordialmente, isso significa acentuar a evangelização, conduzir o povo de Deus à adesão a Jesus e à Igreja. Uma vez feita essa adesão, vem a prática do amor aos mais sofridos, como consequência do que Jesus nos pede. Não dá para separar uma coisa da outra, mas a missão da Igreja é despertar a religiosidade do povo e como consequência ou quase simultaneamente vem a solidariedade aos pobres. A solidariedade cristã é uma consequência da adesão a Jesus.”

Douglas Mansur - jun.1998

A resposta dada por Dom Cláudio Hummes em entrevista ao O SÃO PAULO, em abril de 1998, às vésperas de assumir a Arquidiocese de São Paulo como seu 6o Arcebispo, bem expressa o que foi sua vida como frade franciscano, bispo de grandes cidades e cardeal da Igreja: o pastor que testemunhou o amor de Cristo nas diferentes realidades humanas e difundiu o ideal da fraternidade cristã, fiel ao seu lema episcopal: “Vós sois todos irmãos”. Nos textos e imagens a seguir, apresentamos passagens da biografia e do pastoreio de Dom Cláudio Hummes, que faleceu na segunda-feira, 4, aos 87 anos de idade.

Uma vocação inspirada em São Francisco de Assis Aury Afonso Hummes – nome de registro de Dom Cláudio – nasceu em 8 de agosto de 1934, no atual território da cidade de Salvador do Sul (RS), à época pertencente ao município gaúcho de Montenegro. Ele se encantou pela vida franciscana ainda na adolescência. “Um dia passou por lá [no bairro onde morava] um franciscano, Frei Olímpio Reichert. Ninguém jamais tinha visto um franciscano na região e ele foi à minha escola. Era um homem de fala muito agradável, e perguntou quem queria ser padre”, recordou Dom Cláudio em entrevista ao site IHU on-line, em 2016. “Fazendo um exame de consciência para entender por que será que me encantei com aquele Franciscano, eu me lembrei de uma capela que havia numa comunidade ali perto, em Linha Bonita. Era uma capela de Santo Antônio, e sempre gostei muito daquela imagem de Santo Antônio que havia lá. Era um olhar muito vivo, e existe essa imagem até hoje. Penso que

aquilo deve ter funcionado como uma certa identificação na minha cabeça, daquele Franciscano e aquela imagem de Santo Antônio”, disse na mesma entrevista. O jovem Aury, então, ingressou na Escola Paroquial Santo André, no Seminário São Francisco, em Taquari (RS). Oito anos depois, começou o noviciado e, ao completar 18 anos, em 1952, iniciou uma nova etapa na formação, ainda com a dor da perda da mãe, que falecera um ano antes. Também no Rio Grande do Sul, na cidade de Garibaldi, formou-se em Filosofia pelo Convento Boaventura, em 1954. Em Divinópolis (MG), em 1958, concluiu o curso de Teologia. Em agosto do mesmo ano, ordenou-se sacerdote pela Ordem Franciscana dos Frades Menores. Enviado a Roma, em 1962, então com 28 anos de idade, obteve o título de Doutor em Filosofia, pela Pontifícia Universidade Antonianum. Quando retornou ao Brasil, passou a ensinar Filosofia na Paróquia do Distrito de Daltro Filho, no município de Garibaldi (RS).

Dom Cláudio Hummes conduz a procissão de Corpus Christi pelas ruas de São Paulo, em 1998

Memorial da Democracia

Junto com os trabalhadores em Santo André Frei Cláudio Hummes foi nomeado por São Paulo VI, em março de 1975, como Bispo Coadjutor da Diocese de Santo André (SP), sendo ordenado em maio do mesmo ano, em Porto Alegre (RS), por Dom Aloísio Lorscheider, e meses depois, em dezembro, foi empossado como Bispo daquela diocese paulista. Em Santo André, onde permaneceu por 21 anos, Dom Cláudio Hummes acompanhou de perto a pujança do movimento operário no Brasil, incluindo a histórica greve geral dos metalúrgicos do ABC no fim da década de 1970. O Bispo, muitas vezes, abriu as portas da Catedral Metropolitana para assembleias e presidiu missas com a participação dos grevistas. “Embora os militares proibissem manifestações públicas nas praças, nós abrimos as igrejas para hospedar as assembleias dos grevistas. Foi uma decisão sábia. Assim, foram evitadas desordens e mortes nas ruas”, comentou, em 2009, em uma entrevista à jornalista Pina Baglioni. Ao comemorar os 40 anos de sua ordenação sacerdotal, em maio de 2015, o Cardeal Hummes presidiu uma missa em ação de graças na Catedral Nossa Senhora do Carmo, em Santo André. “Descobri que aqui era uma grande diocese de trabalhadores que lutavam pelos seus direitos, mas sempre com métodos pacíficos”, recordou na ocasião. “Vocês me ensinaram a ser Bispo”, enfatizou.


10 | Dom Cláudio Hummes – Especial | 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Rápida e intensa passagem pela Arquidiocese de Fortaleza Em maio de 1996, Dom Cláudio foi nomeado Arcebispo de Fortaleza (CE) por São João Paulo II, permanecendo nesta Arquidiocese por 21 meses, até abril de 1998, período em que estimulou um intenso trabalho com as famílias, especialmente as mais pobres e endividadas, no contexto da preparação do 2º Encontro Mundial das Famílias, com São João Paulo II,

e do Congresso Teológico Pastoral sobre a Família em outubro de 1997, ambos no Rio de Janeiro, uma vez que era responsável pelo Setor Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e um dos articuladores do encontro com o Papa. Em 24 de agosto de 1997, Dom Cláudio liderou o simbólico abraço na Catedral Metropolitana de For-

taleza, com a participação de cerca de 10 mil pessoas, a fim de divulgar uma campanha de arrecadação para construir a torre repetidora do sinal da Rede Vida de Televisão na capital cearense. Em 1998, o Arcebispo também aprovou o reconhecimento canônico em âmbito diocesano dos estatutos da Comunidade Shalom, à época uma asso-

ciação de fiéis. “Para mim, foi uma bela surpresa, porque era uma organização de leigos – embora tenha também sacerdotes – fundada por leigos e que tinha uma presença muito forte também na cidade de Fortaleza. Eles eram capazes de mover a cidade em termos de agilização, de celebração”, recordou o Cardeal Hummes, em entrevista ao Vatican News, em 2012.

Em São Paulo, diante dos desafios da grande metrópole Nomeado Arcebispo de São Paulo em 15 de abril de 1998, Dom Cláudio Hummes tomou posse da maior Arquidiocese do País em 23 de maio do mesmo ano, em missa solene na Catedral da Sé. Na homilia, afirmou que a evangelização da cidade era seu principal projeto. Também defendeu o diálogo e falou da importância da ação dos padres, seminaristas, religiosos e leigos. Disse ainda que assumiria um compromisso para atenuar os problemas da “pobreza das periferias e do desemprego” na cidade. E, de fato, Dom Cláudio preocupou-se com a condição de vida das pessoas mais pobres, fazendo com que a Arquidiocese apoiasse projetos de emprego e geração de renda, além de ter realizado o “Seminário da Caridade”, a partir de 2001, para mapear todas as ações caritativas que a Igreja em São Paulo realizava naquele momento. Naquele mesmo ano, foi feito cardeal da Igreja por São João Paulo II. Em 2005, participou do conclave que elegeu como pontífice o Cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI; e em 2013, do conclave em que foi eleito pontífice o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, Papa Francisco. Dom Cláudio também não mediu esforços para a evangelização, o que envolveu melhorias na formação contínua do clero, com os cursos anuais de atualização teológica e pastoral; a criação do Centro Vocacional Arquidiocesano e da Escola Diaconal São José, ambos no ano 2000; a reestruturação dos seminários; e o convite ao clero e a todo o povo de Deus para a saída missionária nas diferentes realidades. Em 2001, o Cardeal Hummes promoveu o Ano Vocacional na Arquidiocese, que buscou despertar muitas vocações para a vida consagrada e o sacerdócio. Em junho de 2005, inaugurou as instalações do Seminário de Teologia

Douglas Mansur - fev.2001

Bom Pastor, menos de um ano após ter sido lançada a pedra fundamental dessa casa de formação no bairro do Ipiranga. “Nos seminários, devemos sublinhar a questão da espiritualidade. Esta casa deverá ser sempre uma escola e uma comunidade de vida”, comentou na ocasião. Sua preocupação com a formação dos futuros padres e diáconos e com a atualização permanente do clero foi manifestada em muitos momentos, como neste artigo para a seção “Encontro com o Pastor”, do jornal O SÃO PAULO, de 1o de agosto de 2006, em que enfatizou que a boa formação dos presbíteros é “uma tarefa, ou melhor, um ministério pastoral central na vida da Igreja, pois dos pastores depende, em grande parte, o presente e o futuro da Igreja. Bons e santos pastores, missionários e dedicados ao povo, em especial aos pobres, são uma bênção e trarão muitos frutos, segundo o coração de Deus”. Em âmbito administrativo, elaborou o Estatuto Civil da Arquidiocese; profissionalizou e modernizou a administraAlderon Costa/Rede Rua - jun.2005

Cardeal Hummes, durante a inauguração do Seminário de Teologia, no bairro do Ipiranga

ção das finanças da Igreja em São Paulo; instituiu a partilha mensal das paróquias para ajudar na manutenção dos seminários e das pastorais arquidiocesanas; elaborou um novo plano de manutenção financeira da Arquidiocese; conduziu o restauro da Catedral da Sé, entre 1999 e 2002; reequilibrou as finanças da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); e concretizou a reinauguração da rádio 9 de Julho, em outubro de 1999, concluindo um processo que fora iniciado por seu antecessor, o Cardeal Paulo Evaristo Arns. Dom Cláudio foi nomeado pelo Papa Bento XVI como Prefeito da Congregação para o Clero, em outubro de 2006. Antes, porém, já mantinha constantes diálogos com o Pontífice por causa dos preparativos para V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que ocorreria em Aparecida, em maio de 2007, e pediu ao Santo Padre que nesta vinda ao Brasil também passasse pela capital paulista. “O Papa havia comunicado que não visitaria nenhuma

cidade a não ser Aparecida. Naquela época, eu era o Arcebispo de São Paulo e escrevi uma carta a ele ponderando o quanto seria importante que viesse a São Paulo [...] Pedi para que ele canonizasse Frei Galvão aqui em São Paulo, Frei Galvão o primeiro Santo nascido no Brasil. E o Papa aceitou e veio”, contou o Cardeal Hummes em entrevista ao O SÃO PAULO, em março de 2013. Dom Cláudio Hummes despediu-se da Arquidiocese de São Paulo em missa na Catedral da Sé, em 26 de novembro de 2006. “Agradeço a todo o povo de São Paulo, de modo muito especial aos católicos das nossas comunidades. Quero agradecer o carinho, a acolhida fraterna com que sempre fui recebido. Vocês me ajudaram a construir uma comunhão eclesial muito bonita. Agradeço aos padres, de coração. Nós fomos, juntos, um corpo de pastores fiéis, a quem foi confiada esta Igreja, e este corpo fez, de fato, um trabalho admirável”, disse em entrevista ao semanário arquidiocesano. Vatican Media

Dom Cláudio Hummes com São João Paulo II, que o fez cardeal da Igreja no ano de 2001


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Especial – Dom Cláudio Hummes| 11

Responsável por 400 mil sacerdotes Como Prefeito da Congregação para o Clero, de 2006 a 2010, no Vaticano, o Cardeal Hummes foi responsável por mais de 400 mil sacerdotes espalhados pelos cinco continentes, um trabalho que cumpriu com dedicação, solicitude e obediência ao Santo Padre. Na função, teve que enfrentar questões difíceis, como os casos de pedofilia e o abandono do sacerdócio por uma parcela dos presbíteros. Em 2008, na carta escrita por ocasião do Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, Dom Cláudio falou aos clérigos sobre a necessidade de “recordar a prioridade da oração em relação à ação, porque dela depende a incisividade da ação”, e alertou sobre o perigo do ativismo e da secularização: “Não nos cansemos de haurir da Sua Misericórdia, de deixá-Lo ver e curar as nossas chagas dolorosas do nosso pecado para ficarmos estupefatos diante do milagre, sempre novo, da nossa humanidade redimida [...] Esta consciência da relação com Ele é cotidianamente submetida à purificação da prova. Todos os dias, de novo, nos apercebemos que este drama

Vatican Media

Com o Cardeal Bergoglio (primeiro à dir.), Cardeal Cláudio Hummes participa de audiência com o Papa Bento XVI no Vaticano

não é poupado nem sequer a nós, ministros que agem in Persona Christi Capitis: não podemos viver, um só momento na Sua presença, sem o doce anseio por reconhecê-Lo, conhecê-Lo e aderir de novo a Ele. Não cedamos à tentação de olhar para o nosso ser sacerdotes como para um inevitável e indelegável peso,

já assumido, o qual se pode cumprir ‘mecanicamente’, até com um programa pastoral organizado e coerente. O Sacerdócio é a vocação, o caminho, o modo por meio do qual Cristo nos salva, com o qual nos chamou, e nos chama agora, a viver com Ele”. Também como Prefeito da Congre-

gação para o Clero, Dom Cláudio contribuiu para a aprovação do Acordo Brasil – Santa Sé, em 2008, trabalhou em prol da canonização do Apóstolo do Brasil, Beato José de Anchieta (algo que seria efetivado em 2014), e se empenhou na organização e realização do Ano Sacerdotal 2009-2010.

O olhar voltado para a Amazônia Luciney Martins/O SÃO PAULO - ago.2017

Após renunciar à Congregação para o Clero por ter alcançado os 75 anos de idade, Dom Cláudio Hummes retornou ao Brasil e aceitou, em 2011, o convite da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil para presidir a Comissão Episcopal para a Amazônia. Em 2014, ajudou a criar a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), da qual foi o primeiro Presidente. Em 2019, foi Relator-geral do Sínodo para a Amazônia e, de julho de 2020 a março de 2022, presidiu a Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama). Falando na COP21, a cúpula internacional sobre o clima, em dezembro de 2015, Dom Cláudio fez enfática defesa do modo de vida dos indígenas: “É preciso defendê-los, defender seus direitos, dar-lhes de novo a possibilidade de serem os protagonistas de sua história, os sujeitos de sua história. Deles foi tirado tudo: a identidade,

a terra, as línguas, sua cultura, sua história, tudo”. Em uma entrevista concedida ao site da Repam, às vésperas do Sínodo de 2019, comentou que “a Amazônia está passando por um momento em que está se definindo seu futuro. O Papa Francisco veio com a Laudato si’, que ajudou o mundo, mas sobretudo a nós, cristãos, a pensar mais concretamente sobre o sentido da Amazônia, sua missão, sua vocação, não só como Igreja, senão, também, como região, como área socioambiental”. Ao assumir a Presidência da Ceama, Dom Cláudio manifestou seu amor pela Amazônia: “É difícil expressar em palavras os sentimentos pela Amazônia. Agradeço muito todo o carinho e creio que podemos continuar a nos dedicar totalmente a essa vocação que o Papa nos confirmou: trabalhar para a evangelização na Amazônia”. Vatican Media - mar.2013

Em junho de 2021, após Dom Cláudio Hummes ter recebido o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de Rosário (UNR), da Argentina, o Papa Francisco escreveu-lhe, agradecendo-lhe pelo “exemplo que me deu durante a sua vida”, recordando duas frases que ficaram na história, pronunciadas pouco depois de ter sido eleito Papa, quando lhe disse, “é assim que o Espírito Santo age”, e, juntamente com isso, “não se esqueça dos pobres”. O Pontífice enfatizou que Dom Cláudio está entre aqueles “líderes que têm a coragem de abrir trilhas, caminhos e de provocar sonhos; a coragem de continuar sempre olhando o horizonte sobre os problemas e dificuldades do caminho”.

Cardeal Cláudio Hummes, ao lado do Papa Francisco, logo após este ter sido eleito pontífice no conclave realizado em março de 2013


12 | Dom Cláudio Hummes – Especial | 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

Gratidão pela vida e o ministério de Dom Cláudio Vatican Media

PAPA FRANSCISCO VENERÁVEL IRMÃO DOM ODILO PEDRO CARD. SCHERER ARCEBISPO METROPOLITANO DE SÃO PAULO Tendo recebido com profundo pesar a notícia do falecimento do Eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes, O.F.M., seu antecessor na condução pastoral da dileta Arquidiocese de São Paulo, quero assegurar-lhe dos sufrágios que elevo ao Altíssimo pelo eterno descanso deste querido irmão. Minhas preces são também de gratidão a Deus pelos longos anos de seu dedicado e zeloso serviço, sempre pautado pelos valores evangélicos, à Santa Mãe Igreja nos diversos encargos pastorais que lhe foram confiados tanto no Brasil quanto na Cúria Romana, e por seu empenho em anos recentes pela Igreja que caminha na Amazônia. Trago sempre vivas na memória as palavras que Dom Cláudio me disse no dia 13 de março de 2013, pedindo-me que não me esquecesse dos pobres. Como penhor de consolação de esperança na vida eterna, envio a vossa eminência e a todos os que se unem em oração para as exéquias do Cardeal Hummes, a bênção apostólica. (Telegrama enviado pelo Papa Francisco ao Cardeal Odilo Pedro Scherer)

Nota da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) une-se em solidariedade aos familiares, à Arquidiocese de São Paulo, aos Franciscanos e aos amigos do Cardeal Cláudio Hummes, falecido nesta segunda-feira, 4 de julho de 2022. E manifesta o pesar pela Páscoa deste irmão, renovando a confiança na ressurreição. Cardeal Cláudio Hummes marcou a Igreja no Brasil com sua atuação, de forma particular durante o ministério episcopal, que soma quase cinco décadas. Foi bispo coadjutor e bispo titular de Santo André, em São Paulo, e arcebispo das arquidioceses de Fortaleza, no Ceará, e de São Paulo. Desde o início do seu ministério episcopal, contribuiu na missão desta Conferência Episcopal nas dimensões do Ecumenismo, dos leigos, da família, da cultura e, mais recentemente, na realidade da Amazônia. Também atuou por vários anos à frente da Pastoral Operária. Toda a dedicação de Dom Cláudio à ação pastoral no Brasil o fez ser chamado para o cardinalato e para colaborar na Cúria Romana, tanto em Assembleias Sinodais quanto nas diversas Congregações das quais foi membro e, de forma especial, na Congregação para o Clero, da qual foi prefeito entre 2006 e 2010. A CNBB recorda o que foi destacado pelo Papa Bento XVI, quando Dom Cláudio renunciou à função à frente da Congregação para o Clero, por limite de idade. O Pontífice agradeceu o “bem realizado no longo e fiel serviço à Igreja” e salientou que Hummes dedicou “incansavelmente, com alegria e competência, toda tua energia pela causa do Reino de Deus”.

coroado com o Sínodo para Amazônia e a publicação da exortação apostólica Querida Amazonia. A criação da Conferência Eclesial da Amazônia, à qual Dom Cláudio esteve à frente até quando sua saúde permitiu, também revela o esforço para realizar os sonhos apontados pelo Papa Francisco para a região amazônica. Roguemos a Deus que acolha o eminentíssimo Cardeal Cláudio Hummes em seu Reino e lhe dê o descanso eterno. Possamos imitar seu testemunho de comprometimento com a causa do Reino, com a comunhão eclesial e com o cuidado com os pobres e com a casa comum. Em Cristo, Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo de Belo Horizonte (MG) Presidente da CNBB Dom Jaime Spengler Arcebispo de Porto Alegre (RS) 1o Vice-presidente da CNBB Resta parafrasear o hoje Papa Emérito, pois assim o fez Dom Cláudio até aqui. Nos últimos anos, o seu empenho permitiu novo impulso à presença da Igreja na Amazônia, ao favorecer, por meio da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), maior articulação, escuta às dores e alegrias dos povos e o protagonismo das comunidades. Esse caminho foi

Dom Mário Antônio da Silva Arcebispo de Cuiabá (MT) 2o Vice-presidente da CNBB Dom Joel Portella Amado Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) Secretário-geral da CNBB


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Especial – Dom Cláudio Hummes | 13

Repercussões e condolências pela morte do Cardeal Hummes REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Minutos após o anúncio do falecimento do Cardeal Cláudio Hummes, na manhã da segunda-feira, 4, aos 87 anos de idade, a Arquidiocese de São Paulo e o Cardeal Odilo Pedro Scherer passaram a receber mensagens de condolências, com expressões de gratidão pela vida e o pastoreio de Dom Cláudio. Reproduzimos a seguir, total ou parcialmente, algumas dessas mensagens. A íntegra pode ser vista no site do O SÃO PAULO, por meio do link a seguir: https://cutt.ly/WLtJ5A3

sem a proteção aos segmentos mais vulneráveis de nossas sociedades. Nesses papéis e em tantos outros, Dom Cláudio foi nosso parceiro, oferecendo sua visão, sua liderança e sua voz clara, e estabelecendo conosco um diálogo de irmãos que reconhecem e respeitam tanto nossas diferenças quanto as similaridades e que buscam a construção de uma sociedade mais acolhedora e mais justa para toda a população brasileira.”

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO

(em mensagem enviada ao Cardeal Odilo Pedro Scherer)

DOM NARED BERBERIAN Primaz da Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil

DICASTÉRIO PARA O CLERO

“Caríssimo Dom Odilo, receba as condolências de S.E. Dom Lazarus You Heung-sik, Prefeito do Dicastério para o Clero e de todos nós que aqui estamos a serviço da Igreja, pelo falecimento de Dom Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e que também foi Prefeito deste Dicastério entre 20062010. Que Maria o conduza à presença do Bom Pastor para que seja recompensado pelo abundante bem que ele realizou. Celebraremos uma Santa Missa por Dom Cláudio amanhã na capela do Dicastério.”

da Arquidiocese de São Paulo, que hoje perdeu seu Pastor emérito. Asseguro-lhe de minhas orações pelo repouso da alma do Arcebispo Emérito, para que, como celebramos no rito bizantino em favor dos fiéis falecidos, o Senhor Deus coloque a alma de seu filho falecido Cláudio (no século, Aury Afonso) ‘num lugar luminoso, num lugar verdejante e de descanso, onde não há dor nem tristeza’.”

“A Associação Comercial de São Paulo – ACSP externa seus votos de pesar pelo falecimento do Arcebispo Emérito Dom Cláudio Hummes, ocorrido hoje em São Paulo, aos 87 anos, após prolongada enfermidade. Teve Dom Cláudio Hummes destacada atuação na sua missão religiosa, de modo especial aos menos favorecidos, e deixou uma vida de exemplo para todos nós.”

“Nossa Diocese, assim como toda a comunidade armênia do Brasil, se solidariza com a população brasileira pelo passamento de Dom Cláudio Hummes. Seu legado humanizou os menos favorecidos, em que não apenas os votos, mas os atos de Nosso Senhor puderam ser revividos”. A paz dos nobres e justos estará com ele.”

FUNDAÇÃO PONTIFÍCIA AJUDA À IGREJA QUE SOFRE (ACN)

nome foi fruto de sua sugestão. ‘Dom Cláudio’, como era chamado carinhosamente por quem conhecia o Cardeal Cláudio Hummes, tinha um grande coração que pulsava – e não há retórica em dizer isso – pelos ‘pobres’.”

CARDEAL PEDRO BARRETO Presidente da CEAMA e da REPAM

“Seus últimos 12 anos de vida, como Arcebispo Emérito de São Paulo, viveu-os intensamente presidindo a Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) de 2014 a 2020, e a inédita Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama) entre 2020 e 2022. [...] Tive a enorme graça de Deus de partilhar de perto os últimos oito anos e meio de sua vida. Mostrava-se como um pastor simples e firme para expressar suas convicções de fé e suas escolhas claras em favor dos mais pobres e esquecidos. Seu amor e paixão eram por toda a criação de Deus, na sua escolha preferencial pela Amazônia e seus povos originários.”

DIOCESE DE MONTENEGRO (onde nasceu Dom Cláudio)

CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL – REGIONAL SÃO PAULO

(Mensagem de Dom Andrés Ferrada Moreira – Secretário do Discatério, enviada ao Cardeal Scherer)

REGIONAL SUL 1 DA CNBB

“Manifestamos as mais profundas condolências ao Sr. Arcebispo, Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, ao presbitério e a todo o povo de Deus da Arquidiocese de São Paulo, unindo-nos em oração em sufrágio pela alma do querido Dom Cláudio Hummes. Dom Cláudio teve uma trajetória de vida marcada pela dedicação a Cristo, à Igreja e aos pobres. Iniciou sua trajetória na Igreja como frade franciscano (OFM), tornando-se sacerdote. Como bispo, escolheu como lema “Omnes vos fratres” (Vós sois todos irmãos).”

CONGREGAÇÃO ISRAELITA PAULISTA

“Nesta hora em que a Igreja nos chama à liturgia cristã dos funerais, pela celebração do mistério pascal de Cristo, elevamos nossas orações em sufrágio e auxílio espiritual por todos os fiéis defuntos, bem como, consolação e esperança para os que choram a morte. Peçamos ao Senhor que conceda a este seu filho a graça de participar na alegria dos novos céus e da nova terra, que Ele preparou para os seus eleitos.”

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CATÓLICA DO BRASIL (ANEC)

“Rogamos à Virgem Maria, que esteve junto à cruz de Jesus, que console a todos os que sofrem com sua partida. Que Jesus Cristo ressuscitado, fonte de vida e de esperança, nos conceda mansidão e serenidade para passarmos por esse momento de dor.”

DOM GEORGE KHOURY “Dom Cláudio foi líder ativo do diálogo católico-judaico e proponente de perspectivas religiosas que privilegias-

Bispo da Eparquia de N. Sra. do Paraíso Greco-Melquita Católica do Brasil

“Envio-lhe minhas sinceras condolências, bem como a todo o povo de Deus

“Com a ACN, teve uma grande proximidade, tendo recebido ajuda da Obra desde o seu tempo de seminarista e realizado vários projetos quando arcebispo de Fortaleza e São Paulo. O Cardeal Cláudio Hummes também visitou diversas vezes a sede da ACN Brasil, como quando presidiu a celebração de inauguração da nova capela da ACN, em 2005. Em sua última visita à ACN Brasil, encorajou a todos com muita esperança, dizendo: ‘O trabalho fundamental da ACN é fazer misericórdia, é a misericórdia que mantém a Igreja em pé!’”

ORDEM FRANCISCANA SECULAR DO BRASIL

“No seu brasão episcopal lê-se ‘Omnes vos fratres’ (Vós sois todos irmãos), ecoando a expressão de São Francisco de Assis, “Fratelli tutti”, que inspirou também a última encíclica do Papa. Outro sinal evidente daquela unidade de propósitos e pensamento que o ligava ao outro Francisco, o Pontífice reinante, cujo

“Dom Cláudio Hummes é filho da nossa terra. Nasceu em Salvador do Sul, então município de Montenegro. É um discípulo de Cristo, modelado no espírito franciscano, se fez frade, tornou-se bispo e cardeal da Igreja. [...] Agradecemos a Deus tão grande dom concedido à Igreja e ao mundo, por meio deste filho, deste discípulo e pastor. Como cristãos, professamos nossa fé na Ressurreição. No Cristo Ressuscitado, Dom Cláudio e todos nós colocamos nossa fé e nossa esperança.”

DIOCESE DE SANTO ANDRÉ (onde foi Bispo por 21 anos)

“Na Diocese de Santo André, seu ‘primeiro amor’, como dizia, trabalhou com simplicidade e constância em meio a dificuldades de todo tipo [...] A Diocese de Santo André estava em seu coração, e Dom Cláudio está e permanecerá no coração desta Diocese, que recebeu as primícias de seu episcopado exercido aqui com coragem, em tempos mais difíceis que os atuais.”


14 | Dom Cláudio Hummes – Especial | 7 a 12 de julho de 2022 |

Dom Cláudio: servidor da Igreja no Brasil e no mundo REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

Nascido em 8 de agosto de 1934, na atual cidade de Salvador do Sul (RS), antes pertencente ao município gaúcho de Montenegro, Cláudio Hummes dedicou-se à vida da Igreja desde os 17 anos de idade, quando ingressou na Ordem

dos Frades Menores – Franciscanos – em 1o de fevereiro de 1952, e manteve-se na ativa até março de 2022, quando, já com a saúde debilitada em decorrência do câncer no pulmão, renunciou ao cargo de Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama). Veja ao lado a biografia de Dom Cláudio Hummes, OFM. Luciney Martins/O SÃO PAULO

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

0 8/08/1934 – Aury Afonso Hummes (Dom Cláudio) nasce no atual território da cidade de Salvador do Sul (RS), à época pertencente ao município de Montenegro (RS). Filho de Pedro Adão Hummes e Maria Frank Hummes, ambos imigrantes alemães, ele fez seus primeiros estudos na Escola Paroquial Santo André, no Seminário Seráfico São Francisco, em Taquari (RS). 0 1/02/1952 – Ingressa na Ordem dos Frades Menores (Franciscanos). 02/02/1953 – Faz os primeiros votos na congregação.

0 2/02/1956 – Professa solenemente os votos perpétuos. 0 3/08/1958 – É ordenado Padre em Divinópolis (MG), por Dom João Resende Costa, então Arcebispo de Belo Horizonte (MG). 1 962 – Após um período de estudos em Roma, obtém o título de Doutor em Filosofia. 1 965 a 1968 – Assessora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em Ecumenismo, especializandose nessa área no Institut Écuménique de Bossey, em Genebra, na Suíça. 1 969 – Passou a lecionar na Faculdade de Filosofia de Viamão (RS), da qual também foi Diretor, e na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre. 1 972 – É nomeado Superior Provincial dos Franciscanos do Rio Grande do Sul, e nessa condição presidiu a União das Conferências Latino-Americanas dos Franciscanos, de 1973 a 1974. 2 2/03/1975 – É nomeado

por São Paulo VI como Bispo Coadjutor de Santo André (SP).

2 5/05/1975 – É ordenado Bispo em Porto Alegre (RS), por Dom Aloísio Lorscheider, então Arcebispo de Fortaleza (CE).

2 9/12/1975 – É empossado Bispo da Diocese de Santo André (SP).

1 976 a 1998 – Membro da

Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo da CNBB.

1 979 a 1990 – Assistente Nacional da Pastoral Operária. 1979 a 1983 – Integrante da Comissão Episcopal Pastoral (CEP) para os Leigos, Família, Pastoral Urbana e Operária da CNBB. 1 980 – É eleito Delegado do

Sínodo dos Bispos sobre a Família.

1 995 a 1998 – Responsável pelos setores Família e Cultura da CNBB. 21/07/1996 – É nomeado

Arcebispo de Fortaleza (CE).

1 997 – É eleito à Assembleia especial do Sínodo dos Bispos e confirmado por São João Paulo II. 1 997 – Atua na linha de frente da organização do II Encontro Mundial das Famílias, no Rio de Janeiro (RJ), do qual participou São João Paulo II. 1 5/04/1998 – É nomeado por São João Paulo II como Arcebispo de São Paulo. 2 3/05/1998 – É empossado como o 6º Arcebispo de São Paulo. 2 1/02/2001 – É nomeado Cardeal por São João Paulo II. 1 9/04/2005 – É um dos cardeais eleitores no conclave em que o Cardeal Ratzinger foi eleito Papa, Bento XVI. 3 1/10/2006 – É nomeado Prefeito da Congregação para o Clero, na Cúria Romana. 2 6/11/2006 – Despede-se da Arquidiocese de São Paulo. 07/10/2010 – O Papa Bento XVI aceita o pedido de renúncia de Dom Cláudio como Prefeito da Congregação para o Clero.

1 8/04/2011 – Passa a exercer a função de Vigário-geral da Arquidiocese de São Paulo, acompanhando as coordenações pastorais do Mundo do Trabalho, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades em âmbito arquidiocesano. 2011 – Passa a presidir a

Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB.

1 3/03/2013 – É um dos cardeais eleitores no conclave em que o Cardeal Mario Jorge Bergoglio foi eleito Papa, Francisco, sendo um dos que estavam ao lado do Pontífice quando este é apresentado aos fiéis na Praça São Pedro. 2 015 – Torna-se Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam). 2 019 – Participa da Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, como um dos relatores do evento convocado pelo Papa Francisco. 2020 (novembro) – Renuncia à Presidência da Repam.

2021 – Torna-se o 1o Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).

2 022 (março) – Renuncia à Presidência da Ceama.


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Regiões Episcopais | 15

BELÉM Cardeal preside missa na memória litúrgica da Beata Assunta Marchetti REDAÇÃO

osaopaulo@uol.com.br

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, presidiu missa na capela dedicada à Bem-aventurada Assunta Marchetti, localizada na Vila Prudente, na sexta-feira, dia 1º, na memória litúrgica da Beata. Concelebraram os Padres Arlindo Teles, Pároco da Paróquia São José do Maranhão, no Tatuapé; e Joseph Dillon, Vigário Paroquial da Paróquia São Marcos Evangelista, no Parque São Rafael. A Beata Assunta Marchetti nasceu em Lombrici – Camaiore, na Itália, em 15 de agosto de 1871, em família humilde. Seu irmão, José Marchetti, foi ordenado Sacerdote em 1892, e dois anos depois, a convite de Dom João Batista Scalabrini, apóstolo dos migrantes, embarcou

Pascom paroquial

para o Brasil para a assistência pastoral aos imigrantes italianos que vieram para a América. Em fevereiro de 1895, Padre Marchetti iniciou a construção do Orfanato Cristóvão Colombo, em São Paulo, e, retornando à Itália, convidou Assunta a abraçar a causa dos migrantes. Ela chegou ao Brasil, em 1895, aos 24 anos, e dedicou-se de modo preferencial aos migrantes, aos órfãos, aos doentes, aos sofredores e aos pobres que precisavam de ajuda. Madre Assunta faleceu em 1º de julho de 1948, no Orfanato Cristóvão Colombo, atualmente chamado Associação Educadora e Beneficente Casa Madre Assunta Marchetti, no bairro de Vila Prudente. Foi beatificada em 25 de outubro de 2014, em uma celebração na Catedral da Sé. (Colaborou: Fernando Arthur) Benigno Naveira

IPIRANGA Inscrições abertas para o curso de Teologia no 2º semestre NEI MARCIO OLIVEIRA DE SÁ

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

O Centro de Estudos Teológicos do Ipiranga (Ceti), administrado pela Região Ipiranga, promove um curso de Teologia com professores das várias faculdades de São Paulo, destinado sobretudo a leigos. Em virtude da pandemia, o curso é oferecido de forma remota, pela internet, com aulas ao vivo por meio de videoconferências e, também, com o envio de aulas gravadas semanalmente. [LAPA] Três paróquias da Região se uniram para acolher dez seminaristas da Arquidiocese durante a realização de sua missão de férias. No domingo, 3, houve a missa de abertura dos trabalhos na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Ester, presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, e concelebrada pelos Padres das paróquias em cujos territórios acontecerão as atividades missionárias: José Andrade dos Santos, SJC, Pároco da Paróquia São José Operário, no Jardim Sarah; Cristiano de Souza Costa, Pároco da Nossa Senhora Aparecida, no Jardim Ester; e Antônio Roberto Pimenta, CSSP, Administrador Paroquial da Paróquia São Mateus, no Jardim Esmeralda, assistidos pelo Diácono Cláudio Bernardo. (por Benigno Naveira)

As inscrições para o VI módulo, que acontecerá de agosto a novembro, já estão abertas. Serão oferecidas as disciplinas “Liturgia”, com o Padre Eduardo Binna, que é professor e doutor em Teologia, com enfoque em liturgia; e “Estudo do livro dos Atos dos Apóstolos”, com o Padre Antônio César Seganfredo, professor, mestre e doutor em Teologia Bíblica. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail pastoral@regiaoipiranga.com.br ou pelo telefone 2274-8500. Há uma contribuição mensal de R$ 70,00. Katiuscia Teodoro

Valdete Trajano dos Anjos

[LAPA] Após um tríduo preparatório entre os dias 26 e 28 de junho, os fiéis da Paróquia São Pedro Apóstolo, no Central Parque, Setor Lapa, festejaram seu padroeiro, em 29 de junho, com missa presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa. Concelebraram os Padres Marcos Lourenço Cardoso, RCJ, Pároco; Luciano Grigorio, RCJ, Vigário Paroquial; e Anderson Adriano Teixeira, RCJ, convi(por Benigno Naveira) dado da congregação dos rogacionistas. Silvano Jacobino

[IPIRANGA] A Pastoral da Criança regional se reuniu no sábado, 2, na Cúria da Região Ipiranga, para sua assembleia avaliativa 2022. Participaram cerca de 30 pessoas, entre coordenadoras paroquiais, coordenadoras de área, multiplicadores e articuladores de Saúde e, também, a Irmã Rosane Maria Garlet, assessora da Pastoral da Criança; Selma Leite Galindo, coordenadora arquidiocesana da Pastoral; e o Frei José Maria Mohomed Junior, Coordenador de Pastoral da Região Ipiranga. (por Valdete Trajano dos Anjos)

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan presidiu no domingo, 3, a missa de envio dos seminaristas da Arquidiocese para a missão de férias: Leonardo de Oliveira, Yago Ferreira, Vinicius Estêvão e Gil Pierre, na Capela de Santa Paulina, pertencente à Paróquia Sagrada Família, Setor Mandaqui. Concelebrou o Padre Erly Avelino Guillen Moscoso, Pároco. (por Silvano Jacobino)


16 | Regiões Episcopais | 7 a 12 de julho de 2022 | [LAPA] O Padre Edilberto Alves da Costa, Pároco da Paróquia São Francisco de Assis, no Jaguaré, Setor Butantã, participou no domingo, 3, como convidado do programa “Minha família é assim”, da TV Canção Nova, durante o qual refletiu sobre o tema “Um chamado, uma missão”. (por Benigno Naveira)

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

SÉ Padre Bogaz recebe o título de Cidadão Paulistano Paulo Celso Takahashi e Paulo Cavalcanti

[IPIRANGA] Na quinta-feira, 30 de junho, as lideranças da Pastoral da Comunicação da Região Ipiranga estiveram reunidas na Cúria regional para avaliação das atividades do primeiro semestre. (por Andrea Carvalho) Robson Francisco

CIDA GODOY E EVA YU BERTANI

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

[SANTANA] No sábado, 2, a Comunidade Santa Maria Goretti, que pertence à Paróquia Santa Zita, Setor Medeiros, recebeu Dom Jorge Pierozan, que presidiu a missa em honra à padroeira. Concelebrou o Padre Aloizio José Nunes de Azevedo Júnior, Administrador Paroquial, assistidos pelo Diácono Jorge Albuquerque Fernandes Vides. (por Robson Francisco)

www.osaopaulo.org.br Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Dom Odilo: a sinodalidade não é uma ‘moda’, faz parte da natureza da Igreja https://cutt.ly/HLyXr5a Cardeal Parolin no Sudão do Sul: ‘Que se fechem páginas dolorosas para o país’ https://cutt.ly/gLyXIsC

O título de Cidadão Paulistano foi conferido ao Padre Antônio Sagrado Bogaz, na noite da quinta-feira, 30 de junho, no salão da Paróquia Nossa Senhora Achiropita, Setor Cerqueira César, onde ele é Pároco desde fevereiro de 2017. Essa honraria é entregue pela Câmara Municipal de São Paulo a pessoas nascidas em outras cidades e que têm atuações de reconhecido valor para a capital paulista e sua população. A concessão do título é feita por decreto legislativo, aprovado pela maioria dos vereadores. A indicação do título ao Padre Bogaz foi feita pelo vereador Marcelo Messias (MDB), em reconhecimento aos esforços do [SÉ] No sábado, 2, foi realizada, em formato on-line, a assembleia anual da Pastoral do Menor (Pamen) regional, com a participação dos coordenadores paroquiais e agentes desta Pastoral, os quais expuseram suas ações e refletiram sobre os trabalhos realizados. A pauta foi conduzida pela Irmã Josefa Ferreira de Medeiros, coordenadora regional da Pamen, e a atividade contou com a presença do Padre Luiz Claudio de Almeida Braga, Assistente Eclesiástico da Pastoral na Região; de Marilda dos Santos Lima, vice-coordenadora nacional da Pamen, que fez uma apresentação a respeito da metodologia e mística dessa Pastoral e de sua história; de Robson Batista, vice-coordenador regional; e de Sonia Maria Pereira, vice-secretária regional. (por Andréa Campos) Gabriel Oliveira

Papa desmente rumores de renúncia e reitera desejo de viajar a Moscou e Kiev https://cutt.ly/oLyCqGa

sacerdote e iniciativas em favor dos necessitados, por meio das Obras Sociais Nossa Senhora Achiropita. Padre Antônio Sagrado Bogaz nasceu em Lavínia (SP) e vive na cidade de São Paulo desde 1980. Hoje com 63 anos de idade e 35 anos de sacerdócio, é Padre da Congregação da Pequena Obra da Divina Providência (PODP), fundada por São Luís Orione, cujo carisma é o serviço na evangelização do povo cristão e o serviço da promoção social e da caridade. Formado em Filosofia, Pedagogia e Teologia, Padre Bogaz também é doutor em Filosofia pela USP, Liturgia e Sacramentos e Teologia Sistemática – Cristologia em Roma, artista plástico, roteirista e cineasta, professor universitário, autor de diversos livros; fala inglês, espanhol,

francês, italiano, alemão e russo. Atualmente, é Pároco da Paróquia Nossa Senhora Achiropita e Diretor Presidente das Obras Sociais que leva o mesmo nome, localizada no bairro da Bela Vista. A sessão solene foi iniciada com um vídeo sobre a vida do Padre. Em seguida, foi cantado o Hino Nacional pelo coral da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Entre os participantes estavam o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), irmãos e familiares do homenageado, religiosos, autoridades civis, militares, além de membros da comunidade Achiropita Orione e seus representantes. Ao longo dos pronunciamentos, familiares revelaram a infância esforçada e estudiosa do Padre Bogaz, o incentivo dos pais para que se tornasse Padre. Já os amigos e representantes da comunidade enalteceram sua atuação às causas da Igreja e sua coragem no enfrentamento dos desafios. O prefeito Ricardo Nunes ressaltou que as homenagens recebidas pelo Padre simbolizam a gratidão e o reconhecimento de todos pelo trabalho dedicado do Sacerdote. O ponto alto da cerimônia foi a entrega da titulação, feita pelo vereador Marcelo Messias (foto). Padre Bogaz agradeceu a honraria e todas as manifestações de carinho e apreço, afirmando: “Eu sou a soma de todos vocês, estou apenas segurando o título que vocês construíram”. Ricardo Souza

[BRASILÂNDIA] No domingo, 3, os fiéis da Paróquia São Judas Tadeu, na Vila Miriam, Setor Pereira Barreto, acolheram o Padre Ezael Juliatto, conhecido por Padre Tchê, como o novo Vigário Paroquial. A missa foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e teve entre os concelebrantes os Padres Antônio Leite Barbosa Júnior (Padre Toninho) e Gilnei Antônio Fronza, da Diocese de Caxias do Sul (RS), em visita à comunidade. (por Marina Silva) Gustavo Cruz

Abertas as inscrições para a especialização em Teologia e Ensino Religioso https://cutt.ly/vLyXfPD ADCE-SP realiza evento sobre desenvolvimento da economia digital https://cutt.ly/kLyXv3k ‘Não existe família perfeita, todos estamos em busca da perfeição’, diz casal coordenador da Pastoral Familiar https://cutt.ly/PLyCkCP

[BELÉM] No domingo, 3, Dom Cícero Alves de França visitou a Área Pastoral Nossa Senhora das Flores, no Parque das Flores, Setor Conquista. Na ocasião, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém conheceu o Padre Romanus Hami, SVD, Pároco, que apresentou as instalações da área pastoral. (por Fernando Arthur)

[IPIRANGA] No domingo, 3, em missa presidida por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, 12 adultos receberam o sacramento da Crisma no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora Aparecida, no Ipiranga. Na homilia, Dom Carlos enfatizou a missão de divulgadores e missionários do Evangelho que os crismados recebem, convidando-os a levarem o Cristo a todos os seus ofícios e missões, uma vez que cada fiel é responsável pela Igreja. (por Gustavo Cruz)


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Regiões Episcopais | 17

BRASILÂNDIA Pascom regional promove evento formativo em âmbito arquidiocesano TAÍSE CORTÊS

COLABORADORA DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO

No domingo, 3, na Paróquia Nossa Senhora das Dores, em Taipas, Setor Jaraguá, aconteceu o evento “+Pascom – 2ª edição”, uma série de formações voltadas para os agentes da Pastoral da Comunicação de todas as paróquias. A atividade ocorreu de forma híbrida (presencial e virtual), com a assessoria do jornalista e produtor de conteúdo, Fernando Borsarini. O assessor explanou sobre a estrutura básica de composição de um texto jornalístico e, a partir das contribuições trazidas pelo grupo presencial e virtual, refletiu-se sobre o olhar responsável

Marcos Paulo

para a notícia; formas de deixá-la mais atrativa para o leitor; captação de notícias interessantes para o seu contexto; e a importância de se conhecer o público com quem se comunica para produção de conteúdos mais assertivos. Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, prestigiou presencialmente o evento e falou aos comunicadores, lembrando as palavras de Jesus: “Esforçai-vos!”. Ressaltou que essas formações estruturam o esforço para manter as bases da comunicação da nossa Igreja. Esta edição do “+Pascom” pode ser conferida na íntegra pelo link: https://fb.watch/e2Jn_6FaoM/

IPIRANGA Arquidiocese acolhe formação missionária destinada a seminaristas José Denilson Santos da Cruz

JOSÉ DENILSON SANTOS DA CRUZ COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Nos dias 2 e 3, no campus Ipiranga da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP, aconteceu a 3ª Formação Missionária de Seminaristas (Formise), que teve como tema “Missão e pós-modernidade” e, como lema, “Ide sem medo para servir”. Promovida anualmente pelo Conselho Missionário de Seminaristas (Comise) do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi a primeira vez que essa atividade aconte[SÉ] No sábado, 2, a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Setor Jardins, realizou, no Parque Villa-Lobos, a segunda edição do “Terço no Parque”, com a equipe do Terço dos Homens. Houve momentos de espiritualidade e confraternização, sob a direção espiritual do Padre José Eduardo Naves, C.Ss.R.

[BRASILÂNDIA] Foi implantada na Paróquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto, a Pastoral da Escuta. Seus agentes receberam uma formação específica para que acolham aqueles que precisam desabafar, com caridade e sigilo absoluto. Eles estão disponíveis para atendimento todos os sábados, das 9h às 12h e das 13h às 16h.

(por Rogério Nakamoto)

(por Taíse Cortês)

ceu de modo presencial. Participaram 65 seminaristas das mais diversas dioceses e casas religiosas do estado de São Paulo. Além dos padres que palestraram sobre o tema aos participantes, também estiveram presentes Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano; Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém; e o Padre Boris Agustín Nef Ulloa, Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção e Pároco da Paróquia Imaculada Conceição, que proporcionou aos seminaristas espaços de reflexão, vivências, trocas de experiências e oração. Denilson Araujo

Pascom paroquial

[SANTANA] A missa de envio dos seminaristas da Arquidiocese em missão de férias aconteceu no domingo, 3, na Paróquia São Gabriel da Virgem Dolorosa, Setor Jaçanã, presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, e concelebrada pelo Padre Alescio Aparecido Bombonatti, MSJ, Pároco. (por Denilson Araujo) Simone Arruda

[BELÉM] Dom Cícero Alves de França presidiu missa no domingo, 3, na Paróquia Santa Isabel Rainha, na Vila Santa Isabel, Setor Carrão-Vila Formosa. Com o tema “Renovação Missionária”, o último dia do tríduo em honra à padroeira foi marcado pela presença do Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, que ressaltou, na homilia, a importância dos apóstolos Pedro e Paulo, além de destacar a caridade e virtudes de Santa Isabel Rainha. Concelebrou o Padre Marcelo Jordan, Pároco. (por Fernando Arthur)

[SANTANA] No domingo, 3, encerrou-se o tríduo em preparação para a festa da padroeira da Paróquia Rainha Santa Isabel, Setor Casa Verde, com missa presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, e concelebrada pelo Padre Rafael Contini Quirino, Capelão do Hospital da Aeronáutica, assistidos pelo Diácono Permanente Franco Antonio Abelardo e pelo Diácono Seminarista Nilo Shinen. Na sexta-feira, dia 1º, na abertura do tríduo, a missa foi presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana. (por Simone Arruda)


18 | Publicidade | 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br


www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

| 7 a 12 de julho de 2022 | Papa Francisco | 19

Deus é nossa alegria: nada de ‘mediocridade’

A países africanos: ‘Não lhes deixem roubar a esperança!’ Vatican Media

DESTACOU O PAPA, EM MISSA À COMUNIDADE CONGOLESA EM ROMA FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM ROMA

Cristo muda a vida e, portanto, o cristão não deve se contentar com uma vida na “mediocridade”, disse o Papa Francisco, no domingo, 3, durante missa celebrada com a comunidade congolesa em Roma. “O Reino está próximo. Ainda não foi alcançado, mas está perto de nós. Essa proximidade de Deus em Jesus é a fonte de nossa alegria”, afirmou. “Somos amados e jamais deixados sozinhos. A alegria, porém, nasce da proximidade de Deus, enquanto dá paz, não deixa em paz. Dá uma alegria especial”, declarou o Pontífice na celebração, que ocorre uma vez por ano na Basílica de São Pedro. A missa de rito congolês é uma adaptação daquela prevista no Missal Romano, com alguns aspectos típicos das comunidades católicas da República Democrática do Congo. “O Senhor nos muda a vida sempre”, disse o Papa. “É o que acontece com os discípulos no Evangelho. Para anunciarem a proximidade de Deus, vão para longe, vão em missão, pois quem acolhe Jesus deve imitá-lo, fazer como Ele fez, que deixou o céu para nos servir na terra, e sai de si mesmo.” A mediocridade, portanto, “é uma doença”, disse o Papa. Essa palavra, que

significa viver de forma mediana, sem grandes aspirações, contradiz a proposta do Evangelho, avalia ele. Uma vida de oportunidades e conveniências não é aberta às “surpresas missionárias de Jesus”, que “deixa espaço ao Espírito Santo”, aos irmãos e à mensagem de Cristo. “O cristão é portador de paz, porque Cristo é a paz. Disso se reconhece se somos seus. Se, em vez disso, difundimos fofoca e suspeitas, criamos divisões, obstáculos à comunhão, colocamos nossa aparência diante de tudo, não agimos em nome de Jesus. Quem alimenta o rancor, incita ódio, se sobrepõe aos outros, não trabalha para Jesus, não leva a paz”, refletiu.

EM VEZ DA PREGUIÇA, O MOVIMENTO INTERIOR

Dias antes, na Solenidade de São Pedro e São Paulo, celebrada em 29 de junho, feriado em Roma, o Papa Francisco recordou que devemos trabalhar

constantemente para superar nossas “resistências interiores” à mensagem de Cristo. “Às vezes, como Igreja, somos sobrecarregados pela preguiça e preferimos ficar sentados a contemplar as poucas coisas seguras que possuímos, em vez de nos levantar para colocar o olhar na direção de horizontes novos, do mar aberto”, disse. É preciso romper essas correntes, como Pedro na prisão, superar o medo das mudanças e dos hábitos consolidados, não cair na mediocridade, mas ser “sinal de vitalidade e criatividade” no mundo. Falando do caminho sinodal que vem sendo realizado atualmente em toda a Igreja, o Papa completou: “O Sínodo que estamos celebrando nos chama a nos tornarmos uma Igreja que se levanta em pé, não é fechada em si mesma, mas capaz de colocar seu olhar além, de sair das próprias prisões e ir ao encontro do mundo, com a coragem de abrir as portas”.

Após o cancelamento da viagem à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul, por causa de problemas no joelho, o Papa Francisco enviou uma mensagem gravada em vídeo às igrejas locais. “Vocês têm uma grande missão, todos, a partir dos responsáveis políticos: aquela de virar a página para abrir novas estradas, estradas de reconciliação, estradas de perdão, estradas de serena convivência e desenvolvimento”, declarou. O Papa comentou que esta é “uma missão para assumir olhando sempre para o futuro”. Ele desejou a paz a esses dois países, martirizados historicamente pela guerra. “As lágrimas que vocês derramam na terra e as orações que elevam ao céu não são inúteis”, observou Francisco. “A consolação de Deus chegará, porque Ele tem projetos de paz, e não de infortúnio.” (FD)

Continuam os pedidos de paz na Ucrânia e no mundo O Papa Francisco pediu que se “continue a rezar pela paz na Ucrânia e no mundo inteiro”, conforme afirmou após a oração do Angelus do domingo, 3. “Faço apelo aos chefes das nações e das organizações internacionais para que reajam à tendência de acentuar a conflitualidade e a contraposição”, disse. “O mundo precisa de paz. Não uma paz baseada em equilíbrio dos armamentos, sobre o medo recíproco.” Em vez disso, a paz verdadeira se sustenta. “A crise da Ucrânia deveria ter sido – mas se se quer pode ainda se tornar – um desafio para os estadistas sábios, capaz de construir no diálogo um mundo melhor para as novas gerações”, argumentou o Santo Padre. (FD)


20 | Reportagem | 7 a 12 de julho de 2022 |

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br

2ª sessão da assembleia sinodal arquidiocesana

Perspectivas sobre a realidade cultural, social, política e econômica da cidade DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

A Arquidiocese de São Paulo realizou na manhã do sábado, 2, na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação (Fapcom), na zona Sul, a 2a sessão da assembleia sinodal arquidiocesana, na qual se buscou olhar para as realidades cultural, social, econômica e política da cidade, com reflexões acerca das questões que mais interpelam a comunhão, conversão e renovação missionária da Igreja em São Paulo. Os trabalhos foram iniciados

Também o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano e Presidente da assembleia sinodal arquidiocesana, enfatizou que todos são chamados à missão de anunciar o Evangelho e o amor de Deus na cidade. Ele ressaltou, ainda, que o discernimento comunitário feito nas sessões da assembleia sinodal deve levar os participantes a refletir sobre a ação evangelizadora da Igreja na metrópole.

UMA CIDADE DE CONTRASTES

Para esta sessão da assembleia, Rubens Rizek Júnior, secretário de governo municipal, foi o convidado para apresentar um panorama sobre a cidade. “Em São Paulo, temos 2 milhões de

tivo termômetro da realidade social. O gestor público em uma cidade enorme como esta muitas vezes pode ter uma visão distorcida da realidade, uma percepção apenas trazida por mecanismos burocráticos. Assim, é fundamental que não haja intermediários entre o tomador da decisão pública e as pessoas, e a Igreja é um fórum muito qualificado para fazer isso, pois nela não há luta ideológica política, mas, sim, um ambiente voltado para o amparo das pessoas necessitadas, que é próprio da missão cristã”, comentou, ressaltando ainda a intenção de ampliar os canais de interlocução que a Prefeitura já mantém com as organizações da Igreja em São Paulo. Luciney Martins/O SÃO PAULO

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, preside a 2a sessão da assembleia sinodal arquidiocesana na Fapcom, no sábado, 2

com uma celebração presidida por Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade. Refletindo sobre a leitura da Palavra, em que o profeta Jonas é mandado por Deus a Nínive (cf. Jn 1,1-3; 3,1-10) com a missão de converter a todos dessa cidade pagã, Dom Carlos lembrou que também em São Paulo há muitos a serem evangelizados, o que requer que cada um dos católicos – que pelo Batismo são chamados à santidade e ao apostolado missionário – se comprometam com as ações da Igreja e o testemunho cotidiano da fé: “Os cristãos são o fermento no meio da massa. Assim, temos de dar o exemplo pessoal, falando de Deus às pessoas, e, também, animando todos os leigos que participam das nossas paróquias a fazer essa evangelização nos espaços em que estão regularmente”.

pessoas vivendo em extrema pobreza, ou seja, com renda familiar abaixo de um quarto do valor do salário mínimo, mas a média salarial das pessoas ocupadas é de R$ 4 mil, e chega a R$ 5 mil para os que têm empregos formais”, ponderou em sua apresentação, na qual trouxe inúmeros indicadores sobre a pujança econômica de São Paulo, seus não menos grandiosos dados de pobreza, e as ações que a atual gestão municipal tem buscado realizar, com o apoio da sociedade civil e da Igreja. “Não abandonem o poder público. Ajudem-nos a corrigir os nossos rumos”, pediu aos participantes da assembleia, comentando, ainda, que, em locais da cidade onde a comunidade monitora as ações do poder público, os indicadores de desenvolvimento humano se mostram melhores, ainda que não haja ampla disponibilidade de recursos. Ao O SÃO PAULO, Rizek enfatizou o propósito da atual gestão municipal em se manter próxima da Igreja para melhorar a eficácia das políticas públicas. “A vida comunitária em torno da Igreja e as atividades pastorais trazem um efe-

‘DEUS HABITA AS FRATURAS DESTA CIDADE’

Após a exposição do secretário, o Cônego Antonio Manzatto, um dos peritos do sínodo arquidiocesano, falou sobre algumas realidades que preocupam na cidade, como a falta de moradia para todos, a desigualdade de acesso aos serviços de saúde e educação, as precariedades nas áreas de mobilidade urbana, a degradação ambiental – “quase não há verde na cidade cinza” – e a violência crescente nos espaços públicos e nas famílias – “uma cultura de violência e ódio que se espalha rapidamente e contamina todo o ambiente social”. “A realidade da cidade nos interroga: ‘Por que na terra da fartura há tantos necessitados? Por que interesses particulares ainda se sobrepõem ao bem comum? Onde estão os espaços democráticos de participação? Uma Igreja sinodal precisa ouvir os clamores que brotam das fraturas desta cidade, porque são os clamores dos filhos de Deus que estão sofrendo. Como ser Igreja em saída e ajudar São

Paulo a ser mais humana? Deus habita as fraturas dessa cidade”, comentou.

PERCEPÇÕES

Antes da plenária aberta aos demais participantes, o Cardeal Scherer exortou os membros da assembleia a refletirem sobre como as realidades apresentadas interpelam as ações dos cristãos na metrópole, destacando que a Igreja não é uma bolha em meio à realidade, mas deve interagir com a cidade e suas pessoas. “De fato, o sínodo arquidiocesano é um chamado a nos renovarmos na missão, em como ser missionários, em como ‘ser Jonas’ nesta grande cidade”, disse. Entre os apontamentos dos participantes na plenária, houve pedidos para que a Prefeitura destine um maior percentual do orçamento às ações de assistência social; que haja atenção integral a idosos, crianças e às pessoas em situação de rua, incluindo as que vivem nas ‘cracolândias’ dispersas pela cidade, proporcionando-lhes a devida acolhida, cuidados com a saúde física e mental e oportunidades de trabalho; que haja melhorias no acesso a tecnologias nas comunidades mais carentes, bem como nos atendimentos de saúde; e ampliação de apoio às obras sociais mantidas pela Igreja em diferentes bairros. Alguns participantes também externaram a preocupação de que o agir da Igreja em favor dos mais pobres e excluídos não ocorra apenas na dimensão de suprir-lhes as necessidades materiais, mas também seja evangelizadora e missionária, permitindo que conheçam a Cristo e possam vivenciar a fé católica.

COMISSÕES TEMÁTICAS

Na parte final da 2a sessão da assembleia sinodal, cada participante foi convidado a se inscrever em até três das 25 comissões temáticas que irão refletir sobre âmbitos específicos da vida e ação da Arquidiocese e discernir sobre os modos como o propósito do sínodo de “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária” deve acontecer e se traduzir em novas práticas de ação da Igreja em São Paulo. A composição final das comissões será anunciada na próxima sessão da assembleia sinodal arquidiocesana, em 6 de agosto. “O que podemos fazer? Como isso tudo exposto nesta manhã nos interpela como discípulos missionários de Jesus Cristo, como cidadãos católicos nesta cidade e como organizações da Igreja? Como cada leigo, cada cidadão, pode se envolver a partir da sua vocação pessoal e batismal para ajudar a cidade, para mudar essas situações? Esse discernimento, pouco a pouco, vai passar para o trabalho dos grupos nas comissões temáticas, que elaborarão propostas à luz da proposta do sínodo”, disse Dom Odilo na conclusão dos trabalhos.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.