O São Paulo - 3406

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SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO

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Ano 67 | Edição 3406 | 27 de julho a 2 de agosto de 2022

www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00 ACN

Editorial O amor em família desperta vocações e é caminho para a santidade

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Encontro com o Pastor Os avós testemunham o perseverar nos valores altos que orientam a vida

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Espiritualidade Quem não reza não saboreia a doçura da vida e o sentido daquilo que faz

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Comportamento Na missa, encontramos presencialmente o próprio Deus, fonte de amor

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Com a Palavra Frei Patrício: pais, sejam os primeiros a testemunhar a alegria da fé

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Festa de São Joaquim e Sant’Ana valoriza a presença dos avós na família Centenas de fiéis participaram da festa litúrgica destes santos, na terça-feira, 26, na Basílica Menor de Sant’Ana. Uma das missas do dia foi presidida pelo Cardeal Scherer, Arcebispo de São Paulo, que destacou o papel dos avós para assegurar a comunhão da comunidade humana e da Igreja. Página 13

Papa Francisco faz viagem de peregrinação penitencial ao Canadá Nos primeiros dias em solo canadense, o Pontífice pediu perdão aos indígenas pelas formas com que muitos membros da Igreja e das comunidades religiosas cooperaram, no passado, com projetos de destruição cultural e assimilação forçada dos governos de então. O Papa prossegue no País até o dia 30. Página 20

Em diferentes países, milhões de cristãos vivem sob condição permanente de perseguição religiosa. Desde o começo do ano, têm sido recorrentes os casos de sequestros e assassinatos dos que professam a fé no Cristo, em especial no continente africano. No Oriente Médio, também são constantes os ataques a templos, e as mulheres cristãs têm sido

intimidadas a se converter ao Islamismo. Na América Latina, há crescentes e ostensivas ameaças aos que se colocam ao lado dos mais vulneráveis. Em 6 de agosto, a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) realizará o “Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos”, com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Páginas 10 e 11


2 | Encontro com o Pastor | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

CARDEAL ODILO PEDRO SCHERER Arcebispo metropolitano de São Paulo

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o 4º domingo de julho, data próxima da festa de São Joaquim e Sant’Ana, celebrada no dia 26 deste mês, a Igreja comemora em todo o mundo o Dia dos Avós e dos Idosos, por uma decisão feliz do Papa Francisco. A cada ano, o Papa envia uma mensagem especial a toda a Igreja e à sociedade em geral, abordando algum aspecto da temática ligada aos avós. No Brasil, já tínhamos a comemoração do “Dia da Pessoa Idosa” nessa mesma data em que a Igreja celebra na Liturgia a lembrança dos pais de Maria Santíssima e avós de Jesus. Lembrar das pessoas idosas já é importante, tendo em vista as situações nem sempre felizes em que vivem os idosos. Muitas vezes, acabam sendo esquecidos e deixados numa amarga solidão pelas gerações

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Os avós mais jovens; o sistema econômico baseado na produtividade os descarta como improdutivos, quando não, como um fardo que a sociedade do bem-estar deve carregar. E o número de idosos é crescente em todo o mundo, não sendo diferente no Brasil. A vida, graças aos progressos da medicina e de políticas públicas de saúde, alonga-se mais e mais, tendo como consequência o aumento considerável do número de idosos. Ao instituir a comemoração do Dia dos Avós e dos Idosos, o Papa Francisco aponta para a dimensão familiar da pessoa idosa. Nada mais acertado e sábio, num tempo em que os laços familiares vão sendo diluídos e até desconstruídos. Os avós são parte de um grupo familiar, têm filhos e netos e relações de afeto que vão além do relacionamento formal e legal proporcionado pela tutela do Estado. Este deve, com certeza, cumprir com justiça e dignidade as suas obrigações para com os cidadãos que dedicaram longos anos de sua vida à edificação do bem comum. Porém,

humanamente, isso não basta. As pessoas idosas necessitam do afeto dos familiares e da dedicação graciosa daqueles a quem deram a vida e ofereceram amor e o melhor de suas atenções. O Estado não substitui os filhos e netos. Não devemos esquecer que um dos Dez Mandamentos da Lei de Deus se refere, justamente, ao respeito e à atenção devidos aos pais e, por extensão, também aos avós. Na Bíblia, a Palavra de Deus promete bênção e grande recompensa a quem honra devidamente os próprios pais. Pelo contrário, anuncia infelicidade e castigos a quem não trata bem os pais ou se esquece deles. O Dia dos Avós e dos Idosos serve, portanto, para nos ajudar a cumprir melhor o 4º Mandamento da Lei de Deus. Além disso, o Papa Francisco aponta para mais um objetivo com essa comemoração: valorizar a família e as relações familiares. A mentalidade individualista, muito presente na cultura contemporânea, tende a romper os laços sociais e familiares. A

família está sempre mais fragilizada e desorientada, não por último, porque as relações familiares e os laços de sangue são subestimados, quando não, desprezados. Projeta-se o indivíduo, por si só, com suas capacidades e aptidões, como se não tivesse ele um vínculo e uma base familiar. Valorizar a família e os vínculos naturais que unem seus membros é pressuposto para um tecido social sólido. Quando o convívio formal em sociedade entra em crise, é na família que o cidadão vai buscar seu porto seguro e a base a partir da qual pode ser reconstruído o tecido social. Os avós são testemunhas de perseverança na busca dos valores altos que orientam a vida. Sua experiência humana, muitas vezes provada por muito sacrifício, ajuda os jovens a orientarem as suas escolhas pessoais. Os avós são a ponte entre as gerações que já se foram e as novas gerações que vêm chegando. Deus os abençoe e conforte, recompensando-os por tudo o que realizaram na vida.

Mantido pela Fundação Metropolitana Paulista • Publicação semanal impressa e online em www.osaopaulo.org.br • Diretor Responsável e Editor: Padre Michelino Roberto • Redator-chefe: Daniel Gomes • Revisão: Padre José Ferreira Filho e Sueli Dal Belo • Opinião e Fé e Cidadania: Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP • Administração e Assinaturas: Maria das Graças Silva (Cássia) • Diagramação: Jovenal Alves Pereira • Impressão: OESP Gráfica • Redação: Rua Manuel de Arzão, 85 - Vila Albertina - 02730-030 • São Paulo - SP - Brasil • Fone: (11) 3932-3739 - ramal 222 • Administração: Av. Higienópolis, 890 - Higienópolis - 01238-000 • São Paulo - SP - Brasil • Fones: (11) 3660-3700, 3760-3723 e 3760-3724 • Internet: www.osaopaulo. org.br • Correio eletrônico: redacao@osaopaulo.org.br • adm@osaopaulo.org.br (administração) • assinaturas@osaopaulo.org.br (assinaturas) • Números atrasados: R$ 3,00 • Assinaturas: R$ 90 (semestral) • R$ 160 (anual) • As cartas devem ser enviadas para a avenida Higienópolis, 890 - sala 19. Ou por e-mail • A Redação se reserva o direito de condensar e de não publicar as cartas sem assinatura • O conteúdo das reportagens, artigos e agendas publicados nas páginas das regiões episcopais é de responsabilidade de seus autores e das equipes de comunicação regionais.


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| 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Fé e Vida/Atos da Cúria | 3

Espiritualidade

Marta, Maria e Lázaro DOM CARLOS LEMA GARCIA

BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE E VIGÁRIO EPISCOPAL PARA A EDUCAÇÃO E A UNIVERSIDADE

A Igreja comemora numa mesma celebração, no dia 29 de julho, a memória dos três irmãos de Betânia. Eram bons amigos de Jesus, que se hospedava em sua casa quando estava de viagem a Jerusalém. Percebemos que Jesus gostava de se hospedar na casa dessa família porque era bem recebido: demonstravam o seu carinho deixando um quarto arrumado, preparando uma comida caprichada etc. Também Jesus encontrava pessoas dispostas a ouvi-lo e a dialogar com Ele. Ou seja, tratavam Jesus como Ele realmente é: Deus e Homem; na hospitalidade com que o recebiam e na veneração com que o tratavam. Imaginamos que estar naquela casa era um consolo, um momento de alegria em meio à resistência da parte de tantas pessoas. Jesus chegaria cansado depois daquelas andanças intermináveis, trazia dor no coração pela indiferença com que o tratavam, reparava que muitos dos que o ouviram não estavam à altura das suas palavras. Por

outro lado, os três irmãos também gostavam de receber Jesus. Sentiam falta dEle quando estava na Galileia, procuravam encontrá-lo em Jerusalém. Faziam constantes convites para que viesse e se hospedasse com eles. Maria gostava de se sentar aos seus pés e ouvir a sua palavra, enquanto Marta cuidava do trabalho da casa. Marta não se mostra, com certeza, indiferente às palavras de Jesus; ela também as escuta, mas está mais ocupada nas tarefas domésticas. Por isso, Marta inquieta-se ao sentir-se sozinha, a braços com mais trabalho do que podia realizar: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude”. Jesus responde-lhe no mesmo tom familiar: “Marta, Marta – diz-lhe –, tu te afadigas e andas inquieta com muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada”. É como se dissesse: “Marta, você anda correndo: sai e entra, passa rápido, sempre muito ocupada, e nunca encontra tempo para estar um momento calmo junto de mim”. Podemos tirar duas lições importantes desta cena do Evangelho. Primeiro, aprender de Maria a cultivar a vida espiritual, por meio da conversa com Deus. Jesus está contente com Maria, porque ela conversa com Ele com uma grande confiança. Precisamos aprender de Maria a conversar com Deus. A cuidar desta única coisa neces-

sária: fazer uma oração pessoal, sincera, aberta. Dizer a Deus aquilo que só nós podemos dizer. Por que é importante a oração? Porque é o caminho para conhecer o amor de Deus, para saborear a sorte imensa de ser amigos de Deus, de ser familiares de Deus, de ser filhos de Deus. Mas também temos que aprender a lição de Marta: que o nosso trabalho, as nossas fadigas, os nossos esforços sejam sempre realizados com capricho, por amor a Deus. Será que Jesus quis dizer que Marta estava errada e Maria estava certa? Dá a impressão que não. Pelo contrário, na resposta de Jesus vamos encontrar uma luz muito importante e muito prática. Uma pessoa que não faz oração, apesar de fazer muitas outras coisas, como Marta, se cansa, se enerva, não saboreia a doçura da vida e o sentido para as coisas que faz. Marta é uma pessoa responsável. É a dona da casa, segundo o Evangelho: talvez fosse a mais velha entre os três

irmãos. Não deixa faltar as coisas necessárias da casa. Jesus também gostava do carinho, da atenção, da comida preparada por Marta. O que nós precisamos aprender é unir o exemplo de Maria e de Marta numa unidade de vida. Mas como seria possível ser Marta e Maria ao mesmo tempo? Em primeiro lugar, cultivar a amizade com Jesus, definindo um momento do dia em que vamos dedicar a conversar com Deus. Podem ser apenas dez minutos. E, depois, esforçar-nos para trabalhar na presença de Deus: cumprir o dever de trabalhar com perfeição e seriedade. Assim faremos um trabalho que nos santifica porque é feito diante de Deus. Para entender bem concretamente, vejamos essa observação de São Josemaria acerca de uma cozinheira que aprendeu a santificar o seu trabalho: “...antes, só descascava batatas, agora santifica-se descascando batatas” (“Sulco”, nº 498).

Atos da Cúria NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE ADMINISTRADOR PAROQUIAL: Em 03/07/2022, foi nomeado e provisionado como Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no bairro do Sítio Morro Grande, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Walter Merlugo Júnior, “até que se mande o contrário”. NOMEAÇÃO E PROVISÃO DE VIGÁRIO PAROQUIAL: Em 03/07/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da Paróquia Santos Apóstolos, no bairro da Itaberaba, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Jaime Estevão Gomes, “até que se mande o contrário”. Em 03/07/2022, foi nomeado e provisionado como Vigário Paroquial da

Paróquia Santo Antônio, no bairro da Itaberaba, na Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Fabrício Mendes de Moraes, “até que se mande o contrário”. NOMEAÇÃO DE COORDENADOR REGIONAL DE PASTORAL: Em 24/06/2022, foi nomeado e provisionado como Coordenador Regional de Pastoral da Região Episcopal Brasilândia, o Reverendíssimo Padre Roberto Carlos Queiroz Moura, pelo período de 02 (dois) anos. POSSE CANÔNICA: Em 03/07/2022, foi dada a posse canônica como Vigário Paroquial da Paróquia São Judas Tadeu, no bairro da Vila Miriam, na Região Episcopal Brasilândia, ao Reverendíssimo Padre Ezael Juliatto.


4 | Ponto de Vista | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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Editorial

A missão de transmitir a fé na família

H

á um mês da realização do X Encontro Mundial das Famílias, em Roma, ainda ressoam as reflexões em torno do tema “Amor em família: vocação e caminho de santidade”, por meio do qual o Papa Francisco convidou as famílias a redescobrirem o amor familiar como vocação e forma de santidade, a fim de compreender e partilhar o sentido profundo e salvífico das relações familiares na vida cotidiana e sua missão imprescindível na transmissão da fé e no anúncio do Evangelho à humanidade. Na exortação apostólica Amoris laetitia, o Pontífice enfatizou que “a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo”, acrescentando que, embora a fé seja dom de Deus, recebido no Batismo, e não o resultado de uma ação humana, “os pais são instrumentos de Deus para a sua maturação e desenvolvimento”.

Por essa razão, o Encontro Mundial das Famílias destacou os exemplos de alguns pais que encontraram no cotidiano da vida familiar um caminho para a transmissão da fé, como os santos Luís e Zélia Martin, pais de Santa Teresinha do Menino Jesus; os bem-aventurados Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi; os veneráveis Sergio Bernardini e Domenica Bedonni, entre outros que, como o Papa Francisco afirmou na exortação apostólica Gaudete et exsultate, vivem a santidade “na porta ao lado”, nas lutas diárias, “e são um reflexo da presença de Deus”. Ao escrever sobre a vida de oração em família, Santa Teresinha do Menino Jesus relatou que sempre se sentava no lugar mais próximo do seu pai nas orações comuns e destacava: “Bastava olhá-lo para saber como rezam os santos”. “O meu pai e a minha mãe iam todos os dias à primeira missa da manhã. Comungavam sempre que podiam. Tanto

um quanto o outro jejuavam e abstinham-se de carne durante toda a Quaresma”, recordou. Na abertura da causa de canonização de Luigi e Maria Beltrame, em 1994, o Cardeal Camilo Ruini afirmou que, inspirando-se na Palavra de Deus e no testemunho dos Santos, esse casal viveu uma vida ordinária de maneira extraordinária. “Entre as alegrias e preocupações de uma família normal, souberam realizar uma existência extraordinariamente rica de espiritualidade. No centro, a Eucaristia cotidiana, à qual se acrescentava a devoção filial à Virgem Maria, invocada no Rosário recitado todas as noites, e a referência aos sábios conselheiros espirituais. Dessa forma, souberam acompanhar os filhos no discernimento vocacional, treinando-os a avaliar tudo, começando ‘do teto para cima’, como gostavam de dizer muitas vezes com simpatia.” Já sobre o casal Sergio e Domeni-

ca, uma de suas filhas, Irmã Augusta Bernardini, testemunhou: “A nossa mãe vivia na presença do Senhor e da Santíssima Virgem; recorria a Ele continuamente e em quaisquer circunstâncias: agradecimento, louvor, súplica e abandono, e exprimia-os muitas vezes em alta voz, e nós, ainda pequenos, aprendíamos esses comportamentos como coisas normais, que também ficaram gravadas na nossa vida, no nosso crescimento vocacional”. Seu irmão, Padre Sebastiano Bernardini, acrescentou: “Era motivo de grande edificação para nós, os filhos, ver esses pais interromperem o trabalho urgente e laborioso do campo ou da casa para esses encontros com o Senhor [um dos quais era a oração do Angelus], que lhes davam alegria e plenitude de vida. Assim, com muita naturalidade, ensinaram que se pode e deve viver o mandamento explícito do Senhor: ‘Orai sempre’”.

Opinião

Os arquivos da Igreja Católica: uma necessidade em vista da evangelização Arte: Sergio Ricciuto Conte

PADRE DENILSON GERALDO, SAC A documentação conservada nos arquivos da Igreja Católica é um patrimônio valioso para a evangelização e para a história da humanidade. Há uma quantidade incalculável de material conservado nos arquivos do Vaticano desde os primeiros séculos do Cristianismo; além de toda documentação produzida e até hoje administrada pelos mosteiros, dioceses, paróquias, universidades católicas, associações de fiéis, obras de assistência social, hospitais e pela vida consagrada nas diversas instâncias de governo (casa, província, governo geral). Os arquivos eclesiásticos transmitem a história de fé do povo de Deus e ecoam a encarnação do Verbo. De fato, a fé encarna-se na história humana e os arquivos documentam as consequências na nossa vida dos passos de Jesus Cristo neste mundo. Na especificidade histórica das comunidades, documentada e conservada nos arquivos, mostram-se os vestígios da ação de Cristo que fecunda a sua Igreja, sacramento universal de salvação, e a insere nos caminhos da humanidade. Em 1997, a Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, instituída pelo Papa João Paulo II, publicou o documento “A função pastoral dos arquivos eclesiásticos”, ressaltando a importância da transmissão do patrimônio escrito como memória da evangelização e instrumento pastoral.

Para tanto, é necessário investimento financeiro, uma administração profissional dos arquivos, com lugares adequados e pessoas preparadas. Como temos acesso aos documentos do primeiro milênio do Cristianismo, também somos responsáveis hoje pela conservação do material que permanecerá para as futuras gerações e os próximos milênios. Nas paróquias e nas comunidades, é fundamental mostrar que o cuidado e a valorização dos arquivos assumem grande importância cultural e pastoral. É necessário manter no arquivo as atas dos diversos conselhos, os do-

cumentos sobre os sacramentos, as comunicações da cúria diocesana, os documentos contábeis e os registros de propriedade. Melhor seria convergir o empenho das paróquias da diocese ou da conferência episcopal em linhas de organização comuns quanto à metodologia de coleta documental, conservação, proteção e utilização. Algumas iniciativas ajudariam a encorajar os arquivistas eclesiásticos no seu trabalho de proteção e administração dos arquivos. Primeiro, promover a participação nas associações nacionais competentes neste setor; depois, as faculdades de Teologia e Direi-

to Canônico poderiam promover conferências sobre a gestão dos arquivos eclesiásticos. No Arquivo Apostólico Vaticano, por exemplo, há uma escola de arquivística, fundada em 1884, que formou gerações de pesquisadores e ainda hoje oferece diversos cursos especializados com exercícios práticos realizados sobre documentos originais (www.archivioapostolicovaticano.va). Os arquivos não são uma burocracia inútil, mas um bem cultural de primordial importância, cuja peculiaridade consiste em registrar e conservar pelos documentos a trajetória percorrida ao longo dos séculos pela Igreja nas realidades que a compõem. O Código de Direito Canônico determina que as dioceses (cânones 482-491), paróquias (cânon 535) e fundações (cânon 1306) tenham seus arquivos. Como lugares de memória, devem recolher sistematicamente todos os dados, com os quais se escreve a história da comunidade eclesial, para oferecer a possibilidade de uma avaliação adequada do que foi feito, dos resultados obtidos, das omissões e dos erros. A consciência sobre a historicidade de nossa existência e de nossa fé nos leva à convicção de que não somos os primeiros membros da Igreja e não seremos os últimos. Padre Denilson Geraldo, SAC, membro do Conselho Geral da Sociedade do Apostolado Católico (Palotinos), é professor na Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, editor das revistas Scientia Canonica e Apostolato Universale.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.


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Comportamento

Afinal, missa on-line ‘vale’? LUIZ VIANNA

Se você parou para ler este artigo por pura curiosidade, podemos seguir. Mas, se você veio até aqui para saber se a missa on-line realmente “vale”, precisamos fazer uma pausa para meditarmos com cuidado sobre esse tema. A missa é a atualização do sacrifício de Jesus na cruz, sobre o altar. Naturalmente, Jesus não sofre novamente as dores da Paixão, mas de modo misterioso e incruento (sem derramamento de sangue) se oferece novamente, aplicando sobre nós os merecimentos infinitos da Sua Redenção. Nos lembra São Lourenço Justiniano: “Nenhuma língua humana pode expressar os enormes e preciosos frutos e graças que emanam da Celebração do Santo Sacrifício da Missa, em especial para os fiéis dignamente participantes: O pecador encontra ali a disposição para a sua reconciliação com Deus, e o justo, a sua purificação e perfeição mais amplas. Ali, os pecados são perdoados, ao menos os veniais, os vícios afogados, as virtudes aumentadas e as insídias de Satanás são desbaratadas”. O centro da missa é a Eucaristia. Nela, como sabemos, Jesus se apresenta para nós em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. De forma prática, Jesus vem até nós para um encontro pessoal. Por meio da Eucaristia, temos a oportunidade do encontro mais próximo com Deus que poderemos ter nesta vida, de tocar Deus, literalmente. Se cremos firmemente nessa realidade, acredito que o texto poderia parar por aqui. Quem poderia, em sã consciência e nesta fé, perder a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Deus? Em nosso curso de Catequese para adultos, minha esposa e eu costumamos fazer uma provocação com nossos alunos. Dizemos: “Imaginem se disséssemos a vocês que amanhã Jesus virá pessoalmente aqui na paróquia e que vocês terão a oportunidade de ficar individualmente com Ele. Vocês viriam?”. Claro, todos respondem que sim. Em seguida concluímos: “Então, podem vir, que tem missa!”. A brincadeira pode parecer tola, mas é a pura realidade. A secularização tirou da sociedade, e até mesmo de muitos de nós, católicos, o senso do sobrenatural. Por isso, tornamos o mundo como algo mais importante até mesmo que a realidade da nossa salvação.

Seríamos capazes de nos enfileirar para encontrar alguém importante da sociedade, mas damos de ombros para encontrar o próprio Deus. Estamos muito ocupados com nossos afazeres, com nossas realidades, e perdemos oportunidades de que Deus participe de todas essas realidades. Nós nos afastamos de Deus, e, ao mesmo tempo, reclamamos com Ele, quando algo não vai bem. Veja que já passada metade do artigo, não me referi ao termo “preceito”. E, além deste parágrafo, verá que não voltarei nele, e explico o porquê. Não podemos nos manter numa fé “legalista”, em que achamos que nossa salvação se dará pela simples atenção a um conjunto de regramentos com o menor dos esforços. A salvação não pode ser encarada apenas como mais um canal na TV ou no YouTube, como uma oferta que alcançamos apenas com o uso do controle remoto. Alguma forma de pasteurização na qual, em um dia, com a pipoca, assistimos a uma série, e no outro, assistimos a uma missa. Ou como se estivéssemos num campeonato de pontos corridos em que o inferno é apenas o rebaixamento para uma segunda divisão. Assim, a excepcionalidade que vivemos nos períodos de pandemia não pode ser tratada como um “novo normal”; aliás, confesso que não gosto muito desse termo. Deus é sempre o mesmo, a missa tem o mesmo significado desde a Santa Ceia, a salvação não sofreu nenhum “grande reset”, o inferno não foi cancelado. Então, deixemos nossas desculpas de lado, o cobertor no sofá e a TV, meio para tantos ataques a Nosso Senhor, desligada. Coloquemos nossa “roupa de missa”, e lutemos, de fato, por nossa salvação, que nos custará a eternidade. A missa é o melhor remédio contra todos os nossos males, a Santa Eucaristia, a fonte de todas as nossas necessidades. Neste amor infinito que ali nos espera, encontraremos nossas respostas, nosso conforto. É na missa que encontraremos “presencialmente” o próprio Deus, fonte de todo o amor. O quanto, afinal, isso “vale”? Luiz Vianna é engenheiro, pós-graduado em Marketing e CEO da Mult-Connect, uma empresa de tecnologia. Autor dos livros “Preparado para vencer” e “Social transformation e seu impacto nos negócios”; é também músico e pai de três filhos.

Você Pergunta O que fazer com as cinzas após a cremação? PADRE CIDO PEREIRA

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A Geraldina, da Vila Ema, decidiu cremar os ossos de seu falecido esposo e agora quer saber onde pode colocar as cinzas que irá receber. Minha irmã, vou passar para você a orientação dada pelo Papa Emérito Bento XVI. Ele pede respeito, muito respeito, pelas cinzas dos nossos entes queridos cujos corpos foram cremados. Por que colocar num jardim?

Não façamos adubo das cinzas humanas. Por que jogar no mar? Perdemos toda a referência com a memória de nossos parentes. Por que guardar as cinzas em casa? Isso até soa como mórbido, doentio. Então, o que fazer? A orientação de Bento XVI é levar as cinzas para o cemitério e colocá-las no túmulo da família. Alguns cemitérios já têm espaço

para colocar as cinzas. Os parentes podem ir até lá para lembrá-los e orar por eles. E algumas igrejas construíram nichos em uma capela. Nesses nichos, colocam-se vasos de cerâmica bem bonitos com as cinzas dentro deles. Aí estão algumas sugestões, minha irmã. O que desejo é que você coloque o coração nas mãos ao cuidar das cinzas de seu falecido esposo.

Fé e Cidadania A política é a forma mais perfeita da caridade PADRE ALFREDO JOSÉ GONÇALVES, CS A frase do título é assinada por ninguém menos que o Papa Pio XI (1857-1939). Vale sublinhar que, em termos evangélicos, caridade não é só esmola e assistencialismo, mas garantia de condições reais de vida a toda pessoa humana. Faltando poucos meses para as eleições no Brasil, convém ter presente alguns princípios da Doutrina Social da Igreja. Não se trata de apontar nomes, e sim de rever os critérios fundamentais para o exercício da autoridade como serviço e não tanto como poder. De início, o horizonte primordial de toda política é a busca do bem comum. Ou seja, o maior bem para o maior número possível de pessoas. Semelhante compromisso exclui todo tipo de atalhos escusos e escuros, no sentido de tentar privilegiar interesses pessoais e familiares, de amigos ou compadres. Corporativismo, balcão de negócios, toma lá dá cá, compra e venda de influência, corrupção e outras práticas conhecidas estão fora da agenda de um verdadeiro político. Se a atitude moral é sempre relevante, não é suficiente. As autoridades eleitas para representar a população, além de figurarem como modelo de testemunho, são chamadas a trabalhar pela justiça e a paz. Na encíclica Populorum progressio, de 1967, São Paulo VI afirma que “o desenvolvimento é o novo nome da paz”. Não bastam o progresso técnico e o crescimento econômico por si sós. Não basta aumentar a produção de bens e serviços. Estes devem caminhar juntos com um empenho pela distribuição justa de tudo o que é produzido pelo trabalho humano. Com frequência, ocorre que a democracia no campo visível da política não chega aos mecanismos invisíveis da economia. É como se a democracia navegasse nas ondas superficiais da sociedade, sem modificar as correntes profundas do modo de produção, comércio e consumo. Daí a espiral perversa da acumulação: de um lado, crescem a renda e a riqueza de um punhado de poderosos; de outro, cresce a exclusão social de grande parte da população. “Ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres”, alertava São João Paulo II. O regime democrático exige mudanças urgentes e necessárias em todo o edifício social. Se a meta a ser alcançada é o desenvolvimento integral, a política deve ser organizada no sentido de oferecer oportunidades iguais a todos os homens e mulheres. O retrato do desemprego e subemprego; da pobreza, miséria e fome; da falta de moradia, educação e saúde; da precariedade e vulnerabilidade de milhões de trabalhadores; da violência e do ódio!... Enfim, a violação dos direitos básicos – apontam para um Brasil como “terra de contrastes”, nas palavras de Roger Bastide. Nestes 200 anos de autonomia política, cabe, pois, a pergunta do Grito dos Excluídos: (in) dependência para quem? E cabe o parênteses no prefixo “in”, dadas as contradições do projeto político atual. Mas cabe, de modo todo particular, a atenção do(da) eleitor(a) na escolha de seus representantes. Torna-se imperativo superar a crise, o caos, a barbárie e o negacionismo para os quais o País vem perigosamente escorregando. Padre Alfredo José Gonçalves, CS, pertence à Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos).


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SANTANA Dom Jorge Pierozan participa de encontro com vocacionados PADRE JOSÉ CARLOS DOS ANJOS COLABORACÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

No sábado, 23, aconteceu, na Região Santana, o Encontro dos Vocacionados da Arquidiocese de São Paulo com Dom Jorge Pierozan. O tema “Formação intelectual do resbítero” foi conduzido pelo Padre Osvaldo Bisewski, Pároco da Paróquia Santa Luzia, no Mandaqui, que chamou a atenção para a formação permanente dos presbíteros, os quais devem aproveitar as oportunidades concedidas aos que se

deixam formar e evoluir intelectualmente. Ele deu testemunho de sua boa formação e as oportunidades recebidas, as quais aproveitou com mestria. Na sequência, aconteceu a celebração eucarística, na capela da Cúria da Região Santana, presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana. Ele endossou a fala do Padre Osvaldo, chamando a atenção às oportunidades que o jovem vocacionado recebe e que a Igreja propõe. Por fim, Dom Jorge falou sobre sua trajetória de vida e vocacional. Benigno Naveira

Arquivo pessoal

Luciana Pinheiro

[SANTANA] Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, ministrou o sacramento da Crisma a 26 jovens e adultos, durante a missa no domingo, 24, na Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, Setor Tucuruvi. Concelebraram os Padres Sulliver Rodrigues do Prado, Administrador Paroquial, e José Roberto Novaes, Vigário Paroquial, com assistência do Diácono Rogério Ruiz Soler. (por Luciana Pinheiro) Pascom paroquial

[LAPA] No domingo, 24, na Paróquia São José, no Jaguaré, Setor Butantã, aconteceu a celebração eucarística, presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, durante a qual houve a instituição do ministério de acólito a dois seminaristas da Congregação de Santa Cruz: José Soares da Silva Filho e Valman Fernande Barbosa. Concelebraram os Padres Laudeni Ramos Barbosa, CSC, Pároco; Severino Gomes, CSC, e José Paim, CSC. (por Benigno Naveira)

[BELÉM] No dia 16, a Rede de Oração do Papa (Apostolado da Oração) da Região Belém se reuniu na Paróquia São José do Maranhão, em missa presidida pelo Padre Arlindo Teles, Assessor Eclesiástico da Rede na Região. A celebração foi ocasião para a imposição das fitas a novos membros. (por Larissa Bernardo) Claudio Seiji

[IPIRANGA] No domingo, 24, os fiéis da Paróquia Santa Cristina, no Parque Bristol, Setor Cursino, celebraram sua padroeira, com procissão e missa presidida pelo Padre Rodrigo Felipe da Silva, Pároco. Durante a semana, houve um tríduo preparatório com a participação de sacerdotes convidados: Padre José Geraldo Rodrigues de Moura, Vigário Paroquial da Paróquia São José, na Vila Zelina, Região Belém; Padre João Otávio, SJS, Vigário Paroquial da Paróquia Nossa Senhora, Mãe de Jesus; e Padre Eduardo Higashi, Pároco da Paróquia São José Operário, Região Santana, os quais já fizeram parte da caminhada da Paróquia. (por Claudio Seiji)


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| 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Regiões Episcopais | 7

BELÉM ‘Maria Madalena é um sinal profundo para aqueles que buscam a Deus’ Pascom paroquial

FERNANDO ARTHUR

COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO DA REGIÃO

Na sexta-feira, 22, os fiéis da Paróquia Santa Maria Madalena, Setor Sapopemba, se reuniram para celebrar a festa litúrgica da padroeira e o jubileu de 50 anos de instalação canônica da Paróquia. A missa foi presidida por Dom Cícero Alves de França e contou com a presença dos Padres Anísio Hilário, Pároco, e Claudinês Venancio da Silva, Vigário Paroquial da Paróquia Natividade do Senhor. No início da celebração, foi recordado o histórico da Paróquia e de suas atividades pastorais, além da devoção a Santa Maria Madalena, que, além de ser nomeada pelo Papa Francisco como

“Apóstola dos Apóstolos”, em 2016, teve sua celebração declarada pelo Pontífice como “festa” em vez de “memória”. Na homilia, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém ressaltou que “celebrar 50 anos é celebrar a maturidade”. Ao falar sobre o Evangelho proclamado, Dom Cícero exortou os fiéis a serem como Maria Madalena do tempo presente. “Somos nós hoje que buscamos um sentido para a nossa vida, mesmo diante das dores e sofrimentos”, afirmou. “Nós precisamos nos apaixonar de novo por Deus”, disse, ressaltando que não basta somente estar presente à missa, mas que é necessário ir ao encontro de Deus. “Maria Madalena é um sinal profundo para aqueles que buscam a Deus”, enfatizou.

Reprodução da internet

Bruno Lima

[SÉ] Na quinta-feira, 21, Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, presidiu missa na Paróquia Assunção de Nossa Senhora, Setor Cerqueira César. Concelebrou o Padre Juarez Pedro de Castro, Pároco. Transmitida pela Rede Vida, a celebração foi em intenção dos benfeitores do Projeto Juntos pela Vida, uma parceria do Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã (Inbrac) e da Rede Vida para auxiliar a evangelização por meio da comunicação. (por Centro Pastoral Sé)

[IPIRANGA] Na quinta-feira, 21, no Santuário de Santa Edwiges, aconteceu a missa em ação de graças pelos 50 anos de ordenação sacerdotal do Padre Hilton Carlos, Oblato de São José. Concelebraram os Padres Orestes de Melo, Pároco do Santuário, João Batista e Mário Guinzone. Após a missa, houve um momento de confraternização. (por Bruno Lima) Miguel Aguiar

Rogério Reis

[BRASILÂNDIA] No sábado, 23, na Paróquia São Judas Tadeu, na Vila Míriam, aconteceu o Encontro Regional de Catequese da Iniciação à Vida Cristã ( IVC) com os catequistas de Batismo. Estiveram presentes Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e Padre Silvio Costa Oliveira, Assistente Eclesiástico Regional da IVC. (por Rogério Reis)

[BELÉM] Dom Cícero Alves de França presidiu, no domingo, 24, missa na Comunidade Católica Luz das Nações, na Vila Antonieta. Em sua homilia, ressaltou que a “oração é um voltar-se a Deus” e exortou os fiéis a rezarem cotidianamente. (por Miguel Aguiar)

SÉ Dom Rogério promove encontro com catequistas LÍVIA MIRANDA

COLABORAÇÃO ESPECIAL PARA A REGIÃO

Catequistas da Região se reuniram pela primeira vez com Dom Rogério Augusto das Neves, no sábado, 23, na Paróquia São Paulo da Cruz (Igreja do Calvário), Setor Pinheiros. O encontro foi assessorado pelo Padre Marcelo Delcin, Assistente Eclesiástico Regional da Pastoral da Animação Bíblico-Catequética. Cerca de 150 pessoas participaram da iniciativa, na qual houve, inicialmente, uma reflexão sobre

um trecho do livro do Êxodo, conduzida por Dom Rogério. Em seguida, abriu-se um espaço de partilha para os catequistas manifestarem dúvidas, sugestões e testemunhos pessoais, além de exporem as realidades das paróquias da Região. Por fim, o Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé e o Padre Marcelo Delcin anunciaram a retomada das escolas catequéticas, em vista da formação para o ministério de catequista, instituído pelo Papa Francisco em 2021.

Pascom paroquial


8 | Regiões Episcopais | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Pascom paroquial

[BELÉM] No domingo, 24, Dom Cícero Alves de França presidiu missa na Paróquia Coração Eucarístico de Jesus e Santa Marina, na Vila Carrão, Setor Carrão/Formosa, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 20 jovens e adultos. Em sua homilia, exortou os crismandos e os fiéis a permanecerem em oração. “Busquem a Deus! Deus os fez para coisas grandes”, afirmou. Concelebraram os Padres Marcos Roberto Souza Oliveira, SAC, Pároco, e Emerson José da Silva, SAC, Vigário Paroquial. (por Larissa Bernardo)

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Pascom paroquial

[LAPA] Um grupo de fiéis da Comunidade Nossa Senhora Aparecida e São Joaquim, no Jardim Humaitá, pertencente à Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Setor Leopoldina, no domingo, 24, fez a distribuição de marmitas a pessoas em situação de rua na região da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). (por Eduardo Fiora) [LAPA] Entre os dias 28 de julho e 5 de agosto, acontece a novena em honra do padroeiro da Basílica do Santuário do Senhor Bom Jesus, em Iguape (SP), cuja memória litúrgica é celebrada no dia 6 de agosto. No 7º dia da novena, em 3 de agosto, a missa será presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, com o tema “Caminhar junto no diálogo”. (por Benigno Naveira)

[BRASILÂNDIA] Na Paróquia Santa Cruz de Itaberaba, Setor Freguesia do Ó, no sábado, 23, após oito meses de preparação, dez adultos receberam o sacramento da Crisma pelas mãos de Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia. (por Eliana Lubianco) Pascom paroquial

Pascom paroquial

[BELÉM] No sábado, 23, aconteceu o Encontro da Pastoral da Saúde da Sub-Região São Paulo, no Centro Pastoral São José, contando com a presença de 130 participantes. A iniciativa foi uma oportunidade para discutir a importância da formação para agentes da Pastoral da Saúde, além de destacar a necessidade do SUS no dia a dia. O encontro se encerrou com a missa, presidida pelo Padre João Mildner, Assistente Eclesiástico da Pastoral da Saúde na Arquidiocese de São Paulo, e concelebrada pelo Padre Benedito Borba, Assessor Eclesiástico desta Pastoral na Região Belém. (por Laura Cruz) [BELÉM] No domingo, 24, pastorais e movimentos sociais do Sub-Regional de São Paulo se reuniram no Centro Pastoral São José para a plenária estadual, cujo objetivo foi discutir e pensar o projeto popular “Rumo ao país que queremos”, proposto pela 6ª Semana Social Brasileira. O encontro contou com a participação de Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa. (por Comunicação da 6ª Semana Social Brasileira)

[SÉ] No domingo, 24, Dom Rogério Augusto das Neves presidiu missa na Igreja Santo Expedito, da Capelania da Polícia Militar, Setor Bom Retiro. Concelebraram os Padres Hélio Pereira de Campos Vergueiro Filho, Capelão; Sérgio Henrique Nouh, Colaborador na Igreja; e João Benedictu Villano, que atuou na Igreja Santo Expedito por 30 anos e estava comemorando seus 60 anos de sacerdócio.

[BRASILÂNDIA] Aconteceu, entre os dias 18 e 21, a Semana Regional de Liturgia, nas Paróquias São José, em Perus; São Luís Gonzaga, na Vila Pereira Barreto; Santos Apóstolos, no Jardim Maracanã; e Santo Antônio, na Brasilândia. Nas quatro noites, com uma participação simultânea de 600 pessoas em média, no total, por dia, houve a assessoria do seminarista Miguel Lisboa, do artista sacro Guto Godoy, do Frei José Moacyr Cadenassi e da Irmã Veronice Fernandes. Foram tratados diversos temas fundamentais da liturgia: uma introdução geral, o sentido do espaço celebrativo, a importância do canto na celebração e a compreensão do tempo litúrgico. Houve, ainda, espaço para a partilha e o reencontro entre os fiéis das paróquias nos diversos setores da Região.

(por Centro Pastoral Sé)

(por Padre Álvaro Gonçalves Moreira)

Karen Eufrosino

Marcos Paulo

[IPIRANGA] Em comemoração do II Dia Mundial dos Avós e Idosos, instituído pelo Papa Francisco no ano passado, a Pastoral Familiar da Região Ipiranga esteve em visita ao Centro Dia para o Idoso (CDI) Nelson Mandela, mantido pela União de Núcleos, Associações de Moradores do Heliópolis e Região (Unas), em parceria com a Prefeitura de São Paulo. O CDI atende cerca de 30 idosos por dia e conta com dez cuidadores e uma equipe multidisciplinar composta por nutricionista, terapeuta ocupacional, psicóloga e assistente social. Além da alimentação e do controle da medicação, o centro oferece oficinas de música, artes e expressão corporal para garantir ao idoso melhores condições de envelhecimento.

[BRASILÂNDIA] Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, presidiu missa na Paróquia Nossa Senhora das Dores, Setor Jaraguá, na noite do domingo, 24, durante a qual apresentou o Padre Walter Merlugo Junior como Administrador Paroquial. Entre os concelebrantes estiveram o Padre Ricardo Pedro Pieroni, Vigário Paroquial, e o Padre João Henrique Novo do Prado, Pároco anterior.

(por Karen Eufrosino)

(Por Pascom paroquial)

[SÉ] A União Nacional dos Ex-Seminaristas Redentoristas (Uneser) promoveu o 25º Encontro Nacional de seus membros, no Santuário Nacional de Aparecida, com missa presidida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, no sábado, 23. Concelebraram os Padres José Marques Dias e José Aparecido, ambos Redentoristas, além do Padre João de Deus, incardinado na Arquidiocese de Salvador (BA). (por Pedro Luiz Dias) [SÉ] Padre Vitor Coelho de Almeida, o “Apóstolo de Aparecida”, é o personagem da entrevista do mês de julho do canal “Brasil, Terra de Santos”. Dom Darci José Nicioli, Arcebispo de Diamantina (MG) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é quem apresenta a vida e o testemunho de santidade do Servo de Deus, desde os primeiros anos no seminário redentorista até sua atuação na Rádio Aparecida, quando se tornou a voz que unia o Brasil na Consagração a Nossa Senhora. O vídeo está disponível no canal do YouTube do “Brasil Terra de Santos”, acessível pelo seguinte link: https://cutt.ly/0ZuQePs. (por Lívia Miranda)

[BRASILÂNDIA] No sábado, 23, na Comunidade Missão Mensagem de Paz, em Pirituba, aconteceu o evento RE-ATIVA, com o tema “Serás profeta do Altíssimo, ó Menino, pois irás andando à frente do Senhor”. A missa foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia, e concelebrada pelos Padres Francisco Antônio Rangel de Barros, Coordenador do Setor Juventude do Setor Pastoral Pereira Barreto; José Miguel Portillo, Coordenador Regional do Setor Juventude; e demais sacerdotes de paróquias da Região. (por Eva Nascimento)


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| 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Com a Palavra | 9

Frei Patrício Sciadini, OCD

‘Ou nós resgatamos o sentido sagrado da família ou teremos um mundo sempre mais desnorteado’ Luciney Martins/O SÃO PAULO

FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Um dos maiores escritores sobre a espiritualidade dos santos carmelitas, Frei Patrício Sciadini, OCD, está em visita ao Brasil para o lançamento do livro “Santos Luís & Zélia Martin – Pais santos gerando santos”, publicado pelas editoras Angelus e Sagrada Família. Na obra, o Sacerdote carmelita fala a respeito do exemplo de santidade dos pais de Santa Teresinha do Menino Jesus, canonizados pelo Papa Francisco em 2015, durante o Sínodo sobre a Família, que teve como fruto a exortação apostólica Amoris laetitia. Religioso carmelita, nascido na Itália, Frei Patrício veio para o Brasil após sua ordenação sacerdotal e se naturalizou brasileiro. É autor de mais de 50 obras sobre o assunto. Pregador de retiros e formações para congregações e novas comunidades, desde 2010 vive no Egito, onde é Reitor da Basílica de Santa Teresinha, no Cairo. Em entrevista ao O SÃO PAULO, ele fala sobre a realidade dos cristãos no Egito e das motivações que o levaram a escrever sobre o santo casal.

O SÃO PAULO – Como tem sido sua experiência no Egito? Frei Patrício Sciadini – Este país é maravilhoso, das pirâmides, da multiplicidade de ritos, da convivência com os muçulmanos. São muitos os motivos que abrem o nosso coração a uma visão universal e ecumênica. Tem sido uma experiência muito bonita de atenção às vocações, à vida comunitária. Lá, nós temos dois hospitais e uma creche. Eu nunca havia pensado em um dia trabalhar em um hospital. Depois, descobrimos que, com boa vontade, temos todos os dons para fazer tudo pelo Reino de Deus. Como é a presença dos cristãos nesse país? Devemos olhar o Egito como um dos berços onde o Cristianismo se desenvolveu. Toda a cultura dos chamados padres alexandrinos, como Orígenes e Cirilo, deu um rosto ao Cristianismo. Também a vida consagrada contemplativa começou no Egito, com Santo Antão. Depois, esse rosto foi se diluindo lentamente com a expansão islâmica, mas as raízes permanecem. Hoje, podemos dizer que há no Egito a presença de um Cristianismo pluricultural, por meio dos vários ritos (latino, caldeu, maronita, siríaco, copta, entre outros). Em uma população de 105 milhões de habitantes, 15 milhões são cristãos coptas ortodoxos, que não estão em plena comunhão com a Igreja de Roma. Já os coptas católicos, somados aos demais ritos em co-

ral das pastorais na Igreja é a familiar. Ou nós resgatamos o sentido sacral da família ou teremos um mundo sempre mais desnorteado. O Papa Francisco tem feito um belo trabalho por meio da [exortação apostólica] Amoris laetitia. É preciso redescobrir a família como pequena igreja. Eu escrevi este livro para que todos os pais saibam como Santa Teresinha e suas irmãs foram educadas por seus santos pais. Como o senhor descreve a vida desses santos? O bonito da vida de São Luís e Santa Zélia é ver como Deus preparou o encontro deles e, desse encontro, nasceu um caminho comum para a felicidade. É preciso reconhecer que ambos possuíam características e personalidades bastante diferentes, mas quando as pessoas se amam, todas as diferenças são superadas. O verdadeiro casal não deve ser o marido cópia da mulher e vice-versa. Cada um deve ter a sua personalidade. Depois, também notamos como, após a morte de Zélia, Luís assume sozinho a educação e o cuidado das filhas. Ele cultivou a vocação das filhas e nunca as impediu de responder ao chamado de Deus. Ele superou o egoísmo pessoal, ao contrário de muitos pais que pensam que geram os filhos para si mesmos.

munhão com Roma, totalizamos cerca de 250 mil almas. Portanto, uma minoria. Percebemos, contudo, que, pelo fato de sermos poucos, há maior preocupação em manter viva a nossa identidade, fidelidade para vivenciar e testemunhar publicamente a nossa fé. Atualmente, temos uma convivência pacífica com os muçulmanos, apesar das diferenças de crença, havendo, inclusive, obras sociais realizadas em conjunto. Inclusive, existe um costume próprio de os cristãos se identificarem no Egito, certo? Sim. No Egito, os cristãos, desde a infância, após o Batismo, costumam tatuar uma pequena cruz em um dos pulsos. Por exemplo, se pegam um táxi e, na conversa, um percebe que o outro é cristão, logo mostram o sinal e se reconhecem como irmãos no meio de um povo em que são minoria. Uma vez estando no Egito, eu também decidi fazer esse sinal, pois vivo no meio deles. Quando falamos em Igreja sinodal, de comunhão, participação e missão, isso também significa assumir os sinais que dizem muito para esse povo. Qual é a realidade das vocações no Egito? Quando eu cheguei, posso dizer que a realidade vocacional no Egito era um

pouco abaixo de zero. Mas, recordando a ideia do Papa Emérito Bento XVI, reforçada recentemente pelo Papa Francisco, de que a evangelização se faz por atração e não por proselitismo, percebemos que isso também pode ser dito sobre a pastoral vocacional. Na medida em que nos tornamos conhecidos em um ambiente, alguns jovens se sentem atraídos por essa forma de vida. Na pastoral vocacional carmelitana, um “carro-chefe” é, sem dúvida, Santa Teresinha do Menino Jesus. Temos uma basílica muito bonita dedicada a ela, muito amada e admirada não só pelos cristãos como também por muçulmanos. Isso tem favorecido para que, lentamente, surjam vocações. É claro que não podemos pensar num grande número, mas o suficiente para continuarmos a nossa missão. No período em que estou no Egito, já tivemos quatro ordenações sacerdotais e, atualmente, há dois seminaristas estudantes de Filosofia, um estudando Teologia e mais dois que caminham para a experiência religiosa. O senhor está no Brasil para lançar um livro sobre os santos Luís e Zélia Martin. Qual a motivação para essa obra? Sou carmelita e, portanto, o Carmelo é minha família. Logo, os pais de Santa Teresinha, em certo sentido, também são meus pais. Hoje, creio que a pasto-

Que conselho o senhor dá aos pais para a transmissão da fé e dos valores cristãos aos filhos? Meu conselho é muito simples: o exemplo. Palavras voam, exemplos convencem. Os pais devem ser os primeiros a testemunhar a alegria da fé, de serem cristãos. Uma das coisas que mais me entristecem é quando vejo, nas primeiras comunhões, que os filhos comungam enquanto os pais não comungam nem se confessam. A primeira reflexão que o filho faz diante desse fato é que aquilo que está celebrando não é importante. É preciso que os pais reassumam a responsabilidade própria da maternidade e da paternidade. Obviamente, essa tarefa exige tempo, sacrifício, disponibilidade e uma série de outras exigências. E quanto aos pais que, apesar dos esforços, veem seus filhos seguirem por caminhos distantes da fé? Esses devem ler a parábola do “filho pródigo”. O filho foi embora, mas a porta do coração do pai ficou aberta. A semente semeada sempre fica e nunca se perde. Chegará o momento em que esse filho se dará conta e retornará porque crê que a porta estará aberta. O pecado ou estrada errada dos filhos não destroem a paternidade. Deus não nos renega porque somos os seus filhos.

As opiniões expressas na seção “Com a Palavra” são de responsabilidade do entrevistado e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do jornal O SÃO PAULO.


10 | Reportagem | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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Perseguição aos cristãos: uma realidade global e crescente DESDE O COMEÇO DO ANO, EM ESPECIAL NO CONTINENTE AFRICANO, AUMENTARAM OS CASOS DE SEQUESTROS E ASSASSINATOS DOS QUE PROFESSAM A FÉ NO CRISTO; NO ORIENTE MÉDIO, CRISTÃS SOFREM COM INTIMIDAÇÕES; E NA AMÉRICA LATINA, AMEAÇAS OSTENSIVAS SÃO PARA OS QUE SE COLOCAM AO LADO DOS MAIS VULNERÁVEIS DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Era um domingo feliz em que a comunidade de fiéis acabara de celebrar a Solenidade de Pentecostes e se preparava para a procissão nos arredores da Paróquia São Francisco Xavier, na Diocese de Ondo, na Nigéria. De repente, ouve-se um forte barulho. Instantes depois, um estrondo ainda mais forte e pessoas correndo para todos os lados. “Eu estava na sacristia e não podia correr porque estava cercado de crianças, enquanto alguns adultos se agarravam a mim, alguns até dentro da minha casula. Eu os protegi como uma galinha protege seus pintinhos. Ouvi as vozes dos meus paroquianos gritando: ‘Padre, por favor, nos salve; Pai, ore!’. Eu os encorajei e os acalmei, e disse que não deveriam se preocupar, que eu estava orando e que Deus faria algo. Ouvi três ou quatro explosões, uma após a outra. Todo o ataque foi bem planejado e durou cerca de 20 a 25 minutos.” O relato do Padre Andrew Adeniyi Abayomi à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) ilustra o drama vivido em 5 de junho deste ano na Paróquia São Francisco Xavier, onde o ataque de radicais islâ-

Catholic Diocese of Ondo

Bispos nigerianos visitam a Paróquia São Francisco Xavier, na Diocese de Ondo, após o atentado de 5 de junho, que resultou em 41 mortes

micos resultou na morte de 41 católicos, incluindo crianças, e mais de 80 feridos. Embora o epicentro da perseguição deliberada aos cristãos esteja neste momento no continente africano, os que professam a fé no Cristo têm sido perseguidos em diferentes partes do planeta. Conforme dados da ACN, atualmente 400 milhões de cristãos vivem sob condição de perseguição religiosa, uma realidade verificada em, ao menos, 153 países.

co. Já na manhã do dia seguinte, a ACN mobilizou os benfeitores e iniciou campanhas e projetos para socorrer material e espiritualmente esses perseguidos e refugiados. As orações e suportes materiais continuam a ser indispensáveis para que a fé cristã e a própria vida dos católicos sejam resguardadas em locais onde são perseguidos, como nestes que apresentamos a seguir, com base em informações da ACN e de agências de notícias.

UMA AJUDA VALIOSA: A ORAÇÃO

SEQUESTROS E ASSASSINATOS NA NIGÉRIA

Criada em 1947 e elevada à condição de fundação pontifícia em 2011, a ACN atendeu no ano passado a 5.298 projetos de ajuda em 132 países, seja para dar suporte emergencial aos cristãos, seja no apoio a ações estruturais. E quase sempre o primeiro pedido que a instituição recebe dos cristãos perseguidos é um singelo “rezem por nós”. Anualmente, em 6 de agosto, a ACN realiza o “Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos”, que no Brasil ocorre com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Neste ano, como a data será em um sábado, o dia de oração também se estenderá para o domingo, 7, com o convite para que nas paróquias e comunidades, bem como individualmente, as pessoas rezem pelos cristãos perseguidos. Os detalhes da iniciativa podem ser vistos no site https://acn.org.br/6deagosto. Esse dia de oração foi realizado pela primeira vez em 2015, fazendo alusão ao ocorrido em 6 de agosto de 2014, quando cerca de 100 mil cristãos tiveram de abandonar suas casas na Planície de Nínive, no Iraque, após serem expulsos pelos extremistas do grupo Estado Islâmi-

O ataque à Paróquia São Francisco Xavier, mencionado no início desta reportagem, é apenas uma das muitas ocorrências de perseguição aos cristãos ocorridas neste ano na Nigéria. De acordo com a ACN, no estado de Benué, ao menos 68 cristãos foram mortos nos últimos dois meses. Além disso, mais de 1,5 milhão de pessoas já foram expulsas de suas casas após ataques terroristas, em especial das milícias Fulani, majoritariamente formadas por extremistas muçulmanos, que voltam seu alvo especialmente contra comunidades agrícolas nas quais os cristãos são a maioria. “A situação atual da perseguição aos cristãos na Nigéria está cada vez mais complexa. Os conflitos entre pastores nômades (majoritariamente muçulmanos) e os agricultores que têm sua própria terra (majoritariamente cristãos) existem há séculos. No entanto, esse conflito agora conta com armas de fogo cada vez mais pesadas, tornando os ataques cada vez mais brutais. Em uma outra frente, existe o terrorismo perpetrado pelo Boko Haram e outros grupos islamistas que praticam o terrorismo religioso. O

que torna a confusão ainda maior sobre a origem dos perpetradores desses ataques é que, conforme alguns bispos nos relataram, os terroristas se disfarçam de pastores nômades para encobrir a intenção real dos ataques, que é expulsar os cristãos de suas terras. Um outro alerta é que os ataques, que ficavam concentrados praticamente na região norte do país, estão se alastrando cada vez mais”, explicou, ao O SÃO PAULO, o Frei Rogério Lima, Assistente Eclesiástico da ACN Brasil. Desde o começo do ano, 18 sacerdotes foram sequestrados no país, e destes quatro morreram. O último foi o Padre John Mark Cheitnum, 44, raptado junto com o outro padre em 15 de julho, e encontrado morto no dia 19. Recentemente, a Associação Diocesana de Padres Católicos da Nigéria manifestou que “é muito triste que, no decurso das suas atividades pastorais normais, os padres nigerianos tenham se tornado uma espécie em extinção. Tentativas foram feitas em vários níveis para clamar ao governo, mas, como já observado pela Conferência Episcopal Católica da Nigéria, ‘é claro para a nação que [o governo] falhou em [seu] dever principal de proteger a vida dos cidadãos nigerianos’”. “Hoje, ser um sacerdote na Nigéria é colocar a vida em grande risco. Portanto, neste momento, ajudamos no sustento dos padres e seminaristas que permanecem com o povo, além das religiosas e os catequistas, que nos países africanos têm um trabalho pastoral muito mais amplo. Também auxiliamos com meios para o transporte e, o principal: os apoiamos com nossas orações e na divulgação das notícias sobre o sofrimento dos cristãos no país”, comentou Frei Rogério.


ATENTADOS EM BURKINA FASO E MOÇAMBIQUE

Em Burkina Faso, também no continente africano, 20 pessoas foram mortas na Diocese de Noruna, entre os dias 3 e 4 de julho. Os terroristas agiram à noite e os primeiros assassinatos ocorreram em frente a uma igreja. Horas antes, a diocese esteve em festa em razão da ordenação sacerdotal de dois vocacionados da comunidade local. No mesmo país, em fevereiro, terroristas invadiram o Seminário de São Kizito. Eles queimaram dormitórios, uma sala de aula e um veículo. Também destruíram o crucifixo do seminário e deixaram uma clara mensagem de perseguição aos cristãos: “Não queremos ver cruzes aqui”. Não houve mortos ou feridos no ataque, mas os terroristas prometeram voltar se as atividades do seminário tiverem continuidade. Em Moçambique, país que nos últimos anos tem sofrido com a escalada de intolerância dos radicais islâmicos, novos ataques ocorreram em junho na região de Cabo Delgado, resultando em mortes, sequestros de mulheres e crianças e 11 mil pessoas que fugiram de suas casas. No fim de maio, ao tomar posse como novo Bispo de Pemba, Dom Juliasse Sandramo fez um apelo: “Temos paróquias praticamente destruídas, padres que vivem em situações difíceis porque tiveram que abandonar suas missões de mãos vazias. Não podemos lidar com isso sozinhos. Peço ao mundo que não se esqueça de Cabo Delgado”.

MULHERES CRISTÃS EM RISCO

Em novembro de 2021, a ACN publicou o relatório “Ouça seus gritos – O sequestro, conversão forçada e vitimização sexual de mulheres e meninas cristãs”, mostrando que as mulheres cristãs estão em permanente risco de sequestros, casamentos e conversões forçadas, especialmente na Nigéria, Egito, Síria, Iraque e Paquistão. “A violência contra as mulheres cristãs é uma arma na guerra contra minorias religiosas. Isso também tem a ver com a estrutura da lei islâmica. Quando uma mulher cristã é forçada a se converter ou se casar com um muçulmano, é impossível para ela retornar à sua fé cristã, mesmo que consiga se libertar ou o casamento seja anulado. Além disso, se a mulher tiver filhos, eles serão muçulmanos para sempre”, disse Michele Clark, uma das autoras do relatório, em entrevista ao site da ACN.

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ACN

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Na Nicarágua, cristãos se unem em oração pelo fim das perseguições à Igreja; desde o ano de 2018, foram registrados mais de 190 ataques

Ela ressaltou que, por vezes, as mulheres e meninas se veem sem alternativa. “Uma garota cristã tem uma amiga muçulmana em seu bairro que diz: ‘Meu irmão gosta de você e gostaria de te ver mais vezes’. Assim, a garota concorda em entrar em um relacionamento. Às vezes, é uma armadilha: o homem convida a menina para sua casa onde ele a abusa. Se a jovem vem de um lar conservador, ela é considerada uma desonrada e não pode mais voltar para casa. Portanto, ou abusam da garota e a forçam a se casar e, consequentemente, mudar sua fé. Assim, aquilo que para ela começou como uma bela relação, se torna um pesadelo”, exemplificou.

NA AMÉRICA LATINA, PERSEGUIÇÕES À ‘IGREJA DOS OPRIMIDOS’

Se no Oriente Médio e na África o ódio aos cristãos é a causa principal para que sejam perseguidos, nos países latino-americanos, as razões são outras. “Na América Latina, os crimes contra líderes religiosos e templos de oração têm origem no papel da Igreja de se colocar em defesa dos oprimidos e de denunciar as injustiças. Como exemplo, podemos olhar o caso da Nicarágua, em que a Igreja acolheu os estudantes que realizavam manifestações pacíficas contra a corrupção em 2018. A Igreja abriu suas portas para acolher os feridos e, pouco tempo depois, começou a sofrer uma forte repressão. Hoje, de acordo com os dados a que tivemos acesso, essa represIsmael Martínez Sanches/ACN

são já resultou em mais de 190 ataques”, analisou o Frei Rogério Lima. “A ACN fica muito preocupada com esse contexto, pois, além de todo o sofrimento daqueles que são vítimas dessa violência, isso ameaça a presença da fé cristã na América Latina, que abriga praticamente metade de todos os católicos do mundo. Por isso mesmo, em 2021 ajudamos o continente com mais de 900 projetos aprovados”, recordou. Ainda na Nicarágua, em maio e em junho, canais de televisão operados por dioceses foram retirados da programação da tevê por assinatura. Além disso, no mês passado, a Congregação das Missionárias da Caridade, fundada por Santa Teresa de Calcutá, foi obrigada a interromper seus trabalhos no país, por força do regime do presidente Daniel Ortega. Desde 2018, há uma crescente hostilidade a padres, bispos e membros de congregações religiosas e leigos engajados na Igreja, além de registros de profanação aos locais de culto e itens litúrgicos. Na Colômbia, ameaças têm sido feitas a bispos e padres que se opõem ao avanço dos dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), dos membros do Exército de Libertação Nacional (ELN) e de guerrilhas que lutam pelo controle de áreas que se tornaram rotas para o narcotráfico. Este foi o caso de Dom Rúben Darío Jaramillo, Bispo de Buenaventura, que foi até impedido por grupos criminosos de circular em algumas áreas de abrangência da Diocese. Na assembleia geral do episcopado colombiano, em fevereiro, Dom Rúben lembrou que em toda a região do Pacífico colombiano há ameaças de morte a diferentes pessoas, bem como desaparecimentos e deslocamentos forçados. “Nós, que estamos à frente dessas comunidades, sendo a voz daqueles que não podem denunciar, continuaremos manifestando nosso compromisso como povo de Deus. Não importa nossa vida. Prosseguiremos contribuindo para a construção da paz e ajudando a buscar novas saídas por meio do diálogo e entendimento entre todas as instituições”, enfatizou.

ALVOS DA VIOLÊNCIA COTIDIANA No Oriente Médio, cristãs são alvo de sequestros, abusos sexuais e conversões forçadas ao Islã

E, embora não sejam casos que se enquadrem como perseguição religiosa, ao

menos três padres e uma religiosa foram assassinados em países latino-americanos desde o início do ano em situações de violência urbana. Na cidade de Santa Cruz, na Bolívia, o Frei Wilbert Daza Rodas, OFM, foi morto após uma pessoa viciada em drogas adentrar o convento de São Francisco, depois da celebração da Vigília Pascal, em 16 de abril. No México, em junho, dois sacerdotes jesuítas, os Padres Javier Campos e Joaquín Mora foram assassinados em Cerocahui, quando tentavam defender a vida de um homem que se refugiou na igreja enquanto era perseguido por uma pessoa armada. No mesmo mês, em Porto Príncipe, capital do Haiti, a missionária italiana Irmã Luisa Dell’Orto, da Congregação do Evangelho de Charles de Foucauld, foi morta quando uma pessoa tentou assaltá-la. Ela vivia no país havia 20 anos e se dedicava às crianças em situação de rua. Conforme um levantamento da Agência Fides, divulgado em 30 de dezembro de 2021, ao longo de todo o ano passado 22 missionários católicos foram mortos no mundo: 13 sacerdotes, um religioso, duas religiosas e seis leigos. O maior número de assassinatos ocorreu na África (11), seguido da América (7), Ásia (3) e Europa (1). Por todos os cristãos perseguidos, os vivos e os já martirizados em nome da fé, a Igreja se unirá em oração em 6 de agosto e, também no dia 7, elevando suas preces:

“Ajudai-nos, Pai, em nome de vosso Filho crucificado e ressuscitado, Jesus, para continuarmos a trabalhar juntos; para sermos livres, responsáveis e amorosos; para encontrarmos a vossa vontade e fazê-la com alegria, zelo e coragem”. (Trecho da prece do Dia de Oração pelos Cristãos Perseguidos 2022)


12 | Reportagem | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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‘Edith Stein – A Estrela e a Cruz’: um monólogo inspirado na vida e obra da santa carmelita Divulgação

ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

Baseado nos escritos da religiosa e filósofa morta em uma câmara de gás em Auschwitz, o monólogo “Edith Stein – A Estrela e a Cruz” estará em cartaz na capital paulista unicamente nos dias 30 de julho e 6 de agosto. A Santa carmelita é interpretada pela atriz Daniela Schitini. A produção e direção da peça teatral é de Hélder Mariani. O monólogo tem por objetivo traçar um panorama biográfico de Edith Stein, no contexto histórico do período entre a primeira metade do século XX e os dias atuais. A encenação retrata sua origem numa família judia, seu tempo de estudos acadêmicos, sua conversão, a entrada na Ordem das Carmelitas Descalças de Colônia, na Alemanha, e a ascensão dos importantes movimentos filosóficos do século XX. “A Estrela e a Cruz” é um marco por ocasião dos 80 anos do martírio de Edith Stein, a ser recordado no próximo dia 9 de agosto.

PEDIDO DO CARDEAL

Hélder Mariani, 57, recordou que a ideia da encenação da história da vida e obra de Edith Stein partiu de um pedido do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, em um retiro do clero no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba (SP). “Na ocasião, eu apresentava ao clero da Arquidiocese a peça sobre São João da Cruz. No final da apresentação, Dom Odilo sugeriu uma peça sobre a vida e obra de Edith Stein. Para completar a espiritualidade carmelita da noite escura, nasceu a partir desse pedido: ‘A Estrela e a Cruz’”, recordou Mariani. A partir do convite, Mariani debruçou-se sobre a história de Edith Stein e, impressionado por sua obra intelectual, legado religioso e espiritual, dedicou-se à concepção do novo projeto, que faz parte da trilogia de santos apresentados no formato de monólogo.

“O primeiro foi Santa Teresinha, São João da Cruz e agora Edith Stein – uma oportunidade de apresentar na dramaturgia a vida de homens e mulheres que, com seu testemunho de vida e santidade, inspiram a nossa caminhada de fé cotidiana”, disse o diretor. Mariani ressaltou que em sua pesquisa se impactou com Edith Stein, que “foi uma Santa, carmelita e filósofa que se apaixonou pelo Evangelho e pela mística carmelitana. Ela atravessou a noite escura da fé e deixou um grande exemplo de testemunho de fé”, recordou. O diretor ressaltou que o legado de Edith Stein traz temas contemporâneos que provocam a reflexão na atualidade. “A história de uma santa católica ainda pouco conhecida, mas que traz em seus escritos temas tão atuais para os nossos dias”, destacou, ressaltando que quem assistir ao monólogo vai se surpreender. “Muito além de um espetáculo, é um espaço de reflexão e exercício espiritual

à luz da vida e obra desta grande Santa católica”, disse. Após a estreia do monólogo em São Paulo, a intenção do diretor é percorrer o Brasil com a obra.

NO PALCO

Daniela Schitini, 49, dramaturga e atriz que interpreta Edith Stein no monólogo, disse que a peça teatral se concentra no momento antes da saída da religiosa do Mosteiro Carmelita de Echt, Holanda; na sua cela monástica, quando vai arrumar as poucas coisas que teve autorização para levar naquele dia 2 de agosto de 1942, quando dois oficiais nazistas, na portaria do Mosteiro, exigiram a saída de Irmã Teresa. A atriz ressaltou que é emocionante interpretar a história da vida da Santa – sua origem numa família judia, seu tempo de estudos acadêmicos, sua conversão, a entrada na Ordem das Carmelitas Descalças, sua ascensão nos movimentos filosóficos do século XX, suas escolhas e desafios até o martírio em um campo de concentração. “Interpretar Edith é desafiador. Exigiu muita leitura e aprofundamento sobre sua vida e obra. Ela é uma mulher forte, marcada por uma trajetória de múltiplas camadas para a reflexão em nossos dias atuais”, disse, frisando Edith Stein como “mulher de postura irrepreensível, que abraçou a fé não obstante os obstáculos enfrentados. Seu exemplo repercute em nossos dias e merece ser reconhecido e propagado”, enalteceu.

‘MÁRTIR DO AMOR’

A festa de Santa Teresa Benedita da Cruz, no civil Edith Stein, copadroeira da Europa, é celebrada na Igreja no dia 9 de agosto. Ela foi canonizada por São João Paulo II, em 1998, que lhe deu o título de “mártir do amor”.

Edith nasceu em Breslávia, na Polônia, em 1891, e morreu como mártir no campo de concentração de Auschwitz, em 9 de agosto de 1942. Doutorou-se em Filosofia, tendo sido uma das dez primeiras mulheres da Alemanha a obter tal título. Dedicou-se à fenomenologia na Universidade de Gottingen, onde conheceu o pensamento de Husserl e Martin Heidegger (dois dos mais importantes filósofos do século XX). Nesse curso, começou a ter os primeiros contatos com o catolicismo e, ao ler a autobiografia de Santa Teresa D’Ávila, pediu para ser batizada na Igreja Católica. No meio católico, exerceu intensa atividade como professora, conferencista, tradutora e escritora. Em 15 de abril de 1934, ingressou para o Carmelo alemão de Colônia, recebendo o nome religioso de Teresa Benedita da Cruz. Na clausura, escreveu um de seus livros mais importantes, “Ser finito e ser eterno”, no qual buscou aproximar as filosofias de Husserl e de Tomás de Aquino. Por causa do regime nazista, Edith Stein e sua irmã de sangue, Rosa, acabaram presas e levadas para o campo de concentração de Auschwitz, onde foram executadas na câmara de gás. Edith Stein ofereceu sua vida pela salvação das almas, a libertação do seu povo e a conversão da Alemanha.

SERVIÇO

Em cartaz: 30 de julho e 6 de agosto, às 20h Local: Auditório São Paulo (360 lugares) Rua Dona Inácia Uchôa, 62, Vila Mariana (próximo ao Metrô Vila Mariana) Ingressos disponíveis em: https://sympla.com.br Valor: R$ 30,00, meia: R$ 15,00


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| 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Reportagem | 13

‘Que Sant’Ana e São Joaquim intercedam por todos os avós e idosos’ Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

AFIRMOU O CARDEAL SCHERER, AO CELEBRAR A FESTA DA PADROEIRA DA BASÍLICA MENOR DE SANT’ANA FERNANDO GERONAZZO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, presidiu na terça-feira, 26, a missa da festa litúrgica de Sant’Ana e São Joaquim, na Basílica Menor de Sant’Ana, na zona Norte da capital. A Eucaristia foi concelebrada pelo Reitor da Basílica, Padre José Roberto Abreu de Mattos, e por diversos sacerdotes. Na homilia, Dom Odilo recordou que desde 2021, por ocasião dessa festa em honra dos pais de Nossa Senhora e avós de Jesus, a Igreja comemora no 4º domingo de julho o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, por iniciativa do Papa Francisco. O Cardeal ressaltou que, ao instituir essa comemoração, o Pontífice chama a atenção para os idosos inseridos no contexto familiar, a partir da sua relação com as diferentes gerações. “Os avós são importantes para a comunhão da comunidade humana e da Igreja, para nos recordar constantemente aquilo que são os valores fundamentais da nossa existência pelos quais nos orientamos”, afirmou. (Leia também “Encontro com o Pastor”, na página 2.) O Arcebispo convidou os fiéis a se lembrarem do papel de seus avós na educação e transmissão da fé, e indagou: “Os avós de hoje continuam a contar para seus netos as histórias bonitas sobre a fé, sobre Jesus e os santos?”. Referindo-se, ainda, aos santos Joaquim e Ana, o Cardeal sublinhou que esses foram aqueles que geraram e educaram a Virgem Maria no temor de Deus, ensinaram-na a conhecer e guardar os mandamentos, que, portanto, prepara-

no Ocidente; mas, ao longo dos séculos, foram recordados pela Igreja em datas diferentes. Em 1481, o Papa Sisto IV introduziu a festa de Sant’Ana no Breviário romano, fixando a data da sua memória litúrgica em 26 de julho, dia da sua morte, segundo a tradição; em 1584, o Papa Gregório XIII incluiu a celebração litúrgica de Sant’Ana no Missal Romano, estendendo-a a toda a Igreja; em 1510, o Papa Júlio II inseriu, no calendário litúrgico, a memória de São Joaquim em 20 de março; depois, foi mudado várias vezes, nos séculos seguintes. Com a reforma litúrgica, após o Concílio Vaticano II, em 1969, os pais de Maria foram “reunidos” em uma única celebração, em 26 de julho.

BASÍLICA

ram o seu coração para acolher o chamado de Deus para gerar e dar à luz o Filho de Deus salvador. Nesse sentido, o Arcebispo reforçou o papel dos pais e avós no cultivo da vocação dos seus filhos e netos. “Que Sant’Ana e São Joaquim intercedam por todos os nossos idosos”, concluiu Dom Odilo.

FESTA

Ao longo do dia, milhares de fiéis passaram pela Basílica Menor de Sant’Ana, para participarem de uma das seis missas celebradas em honra da padroeira, bem como da tradicional quermesse no pátio da Igreja. A festividade também contou com a “Blitz da Rádio 9 de Julho”, com a presença da equipe da emissora da Arquidiocese de São Paulo, para a divulgação

da campanha Família dos Amigos, com flashes da festa na programação e a transmissão do programa “Em Família”, com Cidinha Fernandes, e da missa presidida pelo Cardeal Scherer.

ANTIGA TRADIÇÃO

Sobre os avós de Jesus, não há relatos nos Evangelhos canônicos. Algumas das informações a respeito são encontradas no “Protoevangelho de Tiago”, um evangelho apócrifo do século II. O texto fala dos momentos da vida de Nossa Senhora, o matrimônio dos pais Joaquim e Ana, a concepção da filha após 20 anos de casados, seu nascimento e a apresentação ao Templo de Jerusalém. Os acontecimentos narrados estão inseridos no contexto histórico de Jerusalém. O culto aos avós de Jesus desenvolveu-se, primeiro, no Oriente e, depois,

A história da Paróqui Sant’Ana se confunde com a origem da cidade de São Paulo no século XVI, quando uma grande porção de terra do outro lado da margem do Rio Tietê foi confiada aos missionários da Companhia de Jesus (Jesuítas), ao norte da Vila de São Paulo de Piratininga. Anexa à sede da fazenda, havia uma igreja dedicada a Sant’Ana. Ali, os colonos se reuniam para rezar e, assim, foi se difundindo a devoção à mãe da Virgem Maria. Em cartas enviadas aos portugueses em 1560, São José de Anchieta, fundador da cidade de São Paulo, chega a mencionar a fazenda. Em 12 de julho de 1895, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, então bispo diocesano de São Paulo, erigiu a Paróquia de Sant’Ana. Construída entre 1896 e 1936, a matriz paroquial de Sant’Ana é um dos símbolos do bairro. No dia 5 de maio de 2020, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos atendeu o pedido do Cardeal Scherer para conceder à Igreja de Sant’Ana o título de basílica menor. O ato que oficializou a elevação do templo à nova dignidade aconteceu no dia 26 de julho do mesmo ano.


14 | Reportagem | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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No Revelando SP, grupos mostram a viva tradição da Folia de Reis Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

ROSEANE WELTER

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO

A tradicional Folia de Reis é uma manifestação popular que busca preservar a religiosidade nas cidades do interior paulista. Vários grupos se apresentaram no evento Revelando SP, entre os dias 20 e 24, no Parque da Água Branca, na zona Oeste da capital. O Dia de Reis é celebrado em 6 de janeiro, data em que o calendário da fé cristã narra a visita dos três reis magos ao Menino Jesus, em Belém. Segundo o relato bíblico, os reis, guiados por uma estrela, levaram ao recém-nascido ouro, incenso e mirra. A Folia de Reis é uma tradição centenária na cultura popular, que reúne grupos de cantadores e instrumentistas que vão, de casa em casa, para homenagear os reis magos: Baltazar, Belchior e Gaspar. No Revelando SP, considerado o maior festival de cultura popular do estado de São Paulo, mais de 25 grupos de Folia de Reis, vindos do interior paulista, se apresentaram mostrando ao público, de todas as idades, essa manifestação da religiosidade e da fé por meio da arte.

ORIGEM

A Folia de Reis está associada a uma tradição cristã de origem portuguesa e espanhola, que foi trazida para o Brasil, provavelmente, no século XIX. São manifestações culturais-religiosas que buscam manter viva a devoção aos reis magos, ao Divino Espírito Santo, a São Sebastião, a São Benedito e a Nossa Senhora da Conceição. As folias, também conhecidas como caravanas ou companhias, são formadas por um mestre ou embaixador, um contramestre, os três reis magos, os palhaços e os foliões. Os grupos são conhecidos por suas danças e cantorias acompanhadas por múltiplos instrumentos de corda, sanfonas e percussão, que saem pelas ruas, de casa em casa, cantando louvores e recolhendo donativos para ações caritativas nas paróquias e comunidades.

FÉ E CULTURA

A Companhia de Reis Estrela Guia, de São José do Rio Preto (SP), foi fundada em 1970, com o intuito de propagar a fé

e a tradição de prestar homenagens aos reis magos. Junio Fonseca Nascimento, 37, é o atual presidente, embaixador da companhia e membro do grupo há 27 anos: “Como foliões, nossa principal missão é mostrar essa devoção popular às novas gerações. Atualmente, somos 30 membros na companhia que fomenta essa tradição cultural com o intuito de resgatar os jovens para o caminho da fé”, disse, recordando que conheceu o grupo ainda na infância, quando viu uma apresentação pelas ruas da cidade. “Minha esposa e filhos me acompanham. Somos, assim como na maioria dos grupos, em pequena quantidade, e muitos já em idade avançada. O que nos fortalece é a certeza da missão realizada”, disse Nascimento.

ESPIRITUALIDADE E ARTE

Wallace Henrique Calixto Chagas, 24, é o palhaço da Companhia Estrela Guia e ingressou no grupo após ver a sua atuação na cidade. Já são 18 anos como membro do grupo. “Aprendi com meus pais a participar da missa e atuar nas pastorais da paróquia. A companhia de Folia de Reis me apresentou uma nova dinâmica de expressar a espiritualidade por meio da arte. É fantástico ver crianças, jovens, adultos e idosos unidos pela arte na evangelização”, afirmou, emocionado. Chagas recordou que as apresentações da companhia se destacam no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro, e que, durante o ano eles são chamados para eventos em São José do Rio Preto e arredores. “Meus amigos ficam impressionados

porque deixo de ir a baladas, festas e até rodeios para evangelizar. A Estrela Guia é uma família na qual aprendo muito e quero que mais pessoas tenham contato com essa folia do bem”, contou.

SEGUNDA FAMÍLIA

A Folia de Reis Santo Antônio, de Caraguatatuba (SP), foi fundada em 1998. Atualmente, conta com 13 membros que no período de outubro a janeiro, aos fins de semana, realizam visitas a mais de 100 famílias na cidade, simbolizando o percurso dos reis magos ao encontro de Jesus. “A visita nas casas é um momento de evangelização, uma oportunidade de transmitir a fé e até convidar para a atuação nas pastorais da Igreja”, destacou Edil de Almeida do Espírito Santo, 74, coordenador do grupo, do qual começou a participar aos 7 anos de idade, acompanhando seus pais que eram foliões. “Na companhia, aprendi muitas coisas, mas sempre destaco a humildade, a simplicidade e o senso de família. Esta é a minha segunda família”, afirmou.

ENGAJAR NOVOS MEMBROS

A Companhia de Reis São Francisco de Assis foi fundada em 1987 pelo folião Pedro Moreira de Sousa, o Goiano, a pedido do Padre Piaza, da Comunidade São Francisco de Assis, em Indaiatuba (SP). Manoel Antonio Macedo, 70, presidente da companhia, participa desde sua fundação. “Para mim, o significado maior de ser folião de Santos Reis é saber que nós representamos uma história, que tem um significado importante para nossa fé e para a tradição da Igreja. É tão bom quando a gente sai com a compa-

nhia – porque levamos a fé, o amor, a esperança, e mantemos acesa a chama que não deixa essa cultura e a tradição se perderem”, afirmou. Macedo ainda enfatizou que a missão é engajar os jovens para dar continuidade a essa jornada de fé. “Somos no momento 35 membros, mas todos já idosos”, disse, enfatizando a missão de levar a mensagem dos santos reis às casas das pessoas. Amélia Cordeiro, 72, contou à reportagem que seu pai participava do grupo e ela desde pequena sempre atuou como foliã. “Hoje meu filho e neto participam como foliões, isso significa que essa tradição vem de família e atravessa gerações”, disse. “Muitos podem achar ‘brega’ nossa ação, mas é preciso transmitir nossa cultura, é uma forma de evangelizar a humanidade, levando uma pitada de amor, compreensão e união às famílias e à sociedade”, afirmou. Antonio Pereira dos Santos, 74, participa do grupo desde os 12 anos de idade. “Ser folião é um orgulho. Somos bem recebidos nas casas. Independentemente da religião, o respeito predomina, pois nosso ideal é levar a mensagem do Evangelho”, disse, ressaltando que tem o sonho de ver mais pessoas, sobretudo jovens, nas companhias para prosseguir essa tradição que atravessa gerações.


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| 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Geral | 15

CNBB disponibiliza subsídio impresso e em podcast sobre as eleições 2022 Regional Sul 2 da CNBB

DANIEL GOMES

osaopaulo@uol.com.br

Em 2 de outubro, mais de 156 milhões de brasileiros irão às urnas para escolher um dos candidatos à Presidência da República, um governador, um senador por estado e os deputados federais e estaduais. Com a proposta de contribuir para o bom exercício do voto e da cidadania, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) disponibiliza a Cartilha de Orientação Política 2022, um subsídio sem posicionamento partidário ou ideológico, mas que reforça o compromisso da Igreja com a democracia e o bem comum. “Os valores de uma autêntica política, como a busca do bem comum, que visa a garantir vida digna a todos, são comuns também ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja. Sendo assim, como define o Papa Francisco, a política é muito nobre e é uma das mais altas formas de se viver a caridade. Por isso, a Igreja é um espaço aberto para acolher a todos, independentemente das opções político-partidárias, para um incansável diálogo sempre em vista do bem comum”, consta no texto de divulgação da cartilha, que é produzida pelo Regional Sul 2 da CNBB e por uma comissão composta pela assessoria política da Conferência, bispos, padres e leigos peritos em várias áreas do conhecimento e da comunicação. Além da cartilha – que contém 24 páginas, com linguagem de simples compreensão, imagens e ilustrações coloridas e indicações para vídeos por meio de QR Code –, as temáticas tratadas no subsídio são aprofundadas na série de podcasts “A política melhor”, produzida com o apoio da Pascom Brasil, da Signis Brasil e da Rede Católica de Rádio.

UM OLHAR A PARTIR DA FRATELLI TUTTI

A cartilha deste ano está embasada no pensamento do Papa Francisco quanto à política, expresso na encíclica Fratelli tutti (FT), de 2020. “Para se tornar possível o desenvolvimento de uma comunidade mundial capaz de realizar a fraternidade a partir de povos e nações que vivam a amizade social, é necessária a política melhor, a política colocada a serviço do verdadeiro bem comum” (nº 154), escreveu o Pontífice, exortando os fiéis a também romperem com a visão de que a política é algo sujo e maléfico. “Poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encon-

somatório de votos, fundo partidário e tempo de rádio e tevê, mas que agora essa união ocorre nas federações partidárias: “A coligação terminava no dia da diplomação do eleito. Hoje, elas estão proibidas nas eleições proporcionais. Já a federação partidária têm uma duração longa, de no mínimo quatro anos. É como se fosse um partido com vários associados. A federação é formalizada, tem registro em cartório”, destaca. O cientista político também lembra que o financiamento de campanha por pessoas jurídicas (empresas) está proibido, mas continuam a ser permitidas as doações de pessoas físicas, e que os partidos também recebem recursos do fundo eleitoral – formado pelas multas aplicadas pela Justiça Eleitoral a eleitores e candidatos – e do fundo de campanha – verba destinada aos partidos políticos no orçamento público.

A POLÍTICA EM FAVOR DA VIDA INTEGRAL

trar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (nº 176). O primeiro bloco da cartilha destaca a relação entre a Igreja e a Política, com menções de trechos da Fratelli tutti, ênfase sobre dimensão da caridade na política; a participação dos leigos; diferenças entre frente parlamentar católica e bancada católica; propaganda eleitoral na Igreja; responsabilidade cristã na escolha dos candidatos; e o trato entre candidatos como adversários, não como inimigos. “A origem do compromisso político da Igreja é o Evangelho. Jesus participou do cotidiano das pessoas de seu tempo e convida seus discípulos e discípulas, convida a Igreja, a continuar com o mesmo compromisso. O ser humano é integral, é alma e corpo, e os dois precisam ser atendidos. Nesse atendimento entra, também, a política: como corpo, na medida em que cuida das chamadas necessidades materiais; como alma, na medida em que questiona, interpela, cobra em termos éticos e existenciais”, afirma Dom Joel Portella Amado, Secretário-geral da CNBB no primeiro podcast da série.

ASPECTOS PRÁTICOS

O segundo bloco da cartilha aborda aspectos práticos das eleições gerais deste ano, com detalhes sobre o conceito de democracia, sistema político brasileiro, critérios para ser candidato, mudanças na legislação eleitoral de 2022, financiamento de campanhas eleitorais e propaganda, e maneiras para acompanhar e cobrar os candidatos. Em um dos podcasts, o professor Rogério Carlos Born, cientista político e doutorando e mestre em Direito Constitucional, detalha que o sistema eleitoral brasileiro prevê o voto direto, secreto e igual para todos, e que as eleições ocorrem no sistema proporcional para os cargos de deputado estadual, distrital e federal – “em que você primeiro vota no partido e depois, conforme a quantidade de vagas que o partido obteve, são eleitos os que receberam mais votos” – e no sistema majoritário, com voto direto no candidato, para os cargos de presidente da República, governador e senador. Born explica que, antes, os partidos podiam se unir em coligações partidárias, uma espécie de acordo para obter maior

O último bloco da cartilha trata sobre a política em favor da vida integral, destacando, entre outros aspectos, que ninguém se salva sozinho; que a política deve ser feita prioritariamente em favor dos pobres e da ecologia e, também, estar voltada para os jovens. “Jesus disse que veio para que todos tenham vida em abundância, ou seja, vida plena, vida digna, desde a concepção até a morte natural. Isso é para nós vida integral. A política tem como fundamento a Constituição federal, que em seu artigo 5o diz que o direito à vida é inviolável, sendo o mais fundamental de todos os direitos, pois, se não houver vida, os demais direitos perdem o sentido. Assegurar este bem, que é o mais precioso, demanda outras medidas como a proteção por meio da saúde, alimentação de qualidade, acesso à educação e demais formas de garantia da dignidade da pessoa”, explica, em um dos podcasts, a professora Tânia Silveira, doutoranda em Ciências Sociais e mestre em Política Social.

ONDE ENCONTRAR

CARTILHA DE ORIENTAÇÃO POLÍTICA 2022 https://cnbbs2.org.br *Valor unitário: R$ 1,30

PODCAST – ‘A POLÍTICA MELHOR’ Spotify - https://cutt.ly/7ZumYpR *Download gratuito


16 | Reportagem | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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Templo mais antigo da cidade, Capela de São Miguel completa 400 anos de reconstrução Capela de São Miguel Arcanjo/Divulgação

LOCALIZADA NA DIOCESE DE SÃO MIGUEL PAULISTA, IGREJA NA ZONA LESTE FOI CONSTRUÍDA POR INDÍGENAS GUAIANASES, ORIENTADOS POR MISSIONÁRIOS JESUÍTAS DANIEL GOMES

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O ano é 1560. Nas terras de Ururaí, localizadas no que hoje se conhece como extremo da zona Leste de São Paulo, os indígenas da etnia Guaianases, junto com os padres jesuítas formaram o aldeamento de São Miguel de Ururaí, e construíram uma capela de bambu e sapé. Com o desgaste da estrutura ao longo dos anos, São José de Anchieta idealizou a construção de uma nova capela, inaugurada no local em 18 de julho de 1622. Os trabalhos foram coordenados pelo carpinteiro e bandeirante

www.osaopaulo.org.br No site do jornal O SÃO PAULO, você acessa conteúdos atualizados sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publicados recentemente.

Pontífice escreve mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação https://cutt.ly/LZpu8Ns 30 de julho: dia mundial de enfrentamento ao tráfico de pessoas https://cutt.ly/NZpuERn Em motu proprio, Papa Francisco busca fortalecer o carisma do Opus Dei https://cutt.ly/nZpuGip Irmã Helena Corazza recebe prêmio ‘Comunicador da Paz’ https://cutt.ly/WZpyPcm Comissão Pastoral da Juventude da CNBB lança livro-documento: ‘Grupo Jovem Paroquial: jeito jovem de ser Igreja’ https://cutt.ly/8Zpup7Z Conheça os finalistas nas sete categorias da 54º edição dos Prêmios de Comunicação da CNBB https://cutt.ly/dZpuxw1

espanhol Fernão Munhoz, e realizados pelas mãos dos indígenas Guaianases, usando um material mais resistente que o anterior: a taipa de pilão, uma mistura de barro socado com palha. Passados 400 anos da reconstrução, a Capela de São Miguel, ou “Capela dos Índios” como também é conhecida, mantém-se de pé, e graças a restauros, o último realizado entre 2006 e 2010, ajuda a contar a história da cidade e da fé na metrópole. O templo mais antigo da capital paulista é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1938. Atualmente, há missas todos os sábados, às 18h, além de celebrações de batizados e casamentos. Em suas dependências, existe um museu e acontecem visitas monitoradas.

PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DE FÉ

Em artigo publicado no jornal O SÃO PAULO, em maio de 2021, o Prof. Dr. Percival Tirapeli, artista plástico e docente em Artes Visuais na Universidade Estadual Paulista (Unesp), falou sobre algumas características do templo quadricentenário. “A capela inovou nas plantas luso-brasileiras, inaugurando a colocação de um corredor único lateral ao longo da nave e um grande pórtico alpendrado sustentado por pilares. Tal modalidade de telheiro se estenderia por construções rurais até fins do século XVIII”, detalhou. Tirapeli mencionou, também, que o templo tem pinturas dos altares em perspectiva. “Este exemplo de altar em perspectiva é único. A pintura sobrevivente em meio a tantas mudanças e restauros está sobre frágil suporte de parede de adobe que lhe dá um aspecto de simplicidade e pureza, e foi realizada por algum indígena a enfatizar o aspecto arquitetônico do altar pintado com as quatro colunas. Acima, os florais mostram os modelos retirados das talhas vazadas, à maneira da América Espanhola. As colunas mostram a videira, símbolo

do Cristo ao qual devem os cristãos estar unidos. Os cachos de uva são a alegria da videira, do conhecimento por meio do vinho, e simbolizam a lembrança do sacrifício de Cristo e, portanto, da aliança do homem com Deus”, explicou. O artista plástico recordou, ainda, que no nicho escavado na parede estão a imagem de São Miguel, à direita, e de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, à esquerda. “Dentro dos nichos, em continuidade à simbologia da videira, o resplendor da Eucaristia, como o sol da justiça, tão usado pelos jesuítas; dentro do arco, rolos de nuvens envolvem as faces do sol e da lua – elementos da natureza, da luminosidade, da união dos opostos, do dia e da noite, do masculino e do feminino. A videira está a sustentar os acontecimentos do mundo celeste; de sua seiva emana a luz do Espírito”, afirmou. Tirapeli comentou, ainda, que na capela lateral há o altar com pinturas ornamentais do século XVIII. “Na sacristia, as pinturas se encontram nas faces de um pequeno armário incrustado na parede de taipa com desenhos florais, em tons vermelho-alaranjados, com contornos bem definidos em tonalidades escuras. Sobre um arcaz – armário para guardar os paramentos – há um oratório com amplo arco aberto e colunetas nas laterais, que sustentam o coroamento com pintura esverdeada”, prosseguiu.

DESCOBERTAS DURANTE O RESTAURO

No mais recente restauro, realizado entre 2006 e 2010 pela Diocese de São Miguel Paulista e pela Associação Cultural Beato José de Anchieta, houve a revitalização da arquitetura histórica e da estrutura de iluminação. Também foi possível recuperar vários elementos artísticos e ornamentos que estavam escondidos ou deteriorados, como as pinturas murais feitas em taipa de pilão, que foram encontradas

atrás dos altares laterais da nave principal; além de exemplares da arte jesuítica e do período colonial paulista. Ao todo, 11 imagens sacras, dos séculos XVI a XVIII, foram restauradas, entre as quais uma de São Miguel Arcanjo, feita em cerâmica e tecido engessado. Essas imagens podem ser vistas no Museu da Capela, bem como algumas ferramentas e utensílios utilizados para a construção do templo. Quando da reabertura da capela para visitação pública, em março de 2011, Dom Manuel Parrado Carral, Bispo de São Miguel Paulista, ressaltou que todo o restauro do templo foi feito com o cuidado para que não se perdesse o sentido religioso: “Não queríamos simplesmente transformar a capela em um museu, pois o espaço religioso tem toda sua história, sua memória, sua importância cultural para o povo. E conseguimos chegar ao final com esses dois aspectos unidos: a capela é um espaço religioso, mas, ao mesmo tempo, é um espaço de visitação, em que é mostrado todo o aspecto cultural e um pouco do início da própria cidade de São Paulo. Devemos preservar a história, a memória das pessoas que construíram a capela, que por ali passaram, que viveram sua experiência com Deus e, também, a sua experiência humana e comunitária”, comentou à época.

CONHEÇA E VISITE A CAPELA DE SÃO MIGUEL

Endereço: Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, 10 (Fundos), São Miguel Paulista Visitas monitoradas: de terça-feira a sábado, das 10h às 17h, apenas mediante agendamento Telefones: (11) 2033-4160 ou (11) 2956-0177 E-mail: catedralsaomiguelarcanjo@hotmail.com Conheça mais sobre a capela: https://capeladesaomiguelarcanjo.org


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18 | Pelo Mundo | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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Austrália

Australianos enaltecem a santidade de vida dos criadores do método Billings JOSÉ FERREIRA FILHO

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John e Evelyn Billings, médicos australianos conhecidos por seu trabalho pioneiro em um dos métodos de fertilidade natural mais bem-sucedidos até hoje, o método Billings, estão sendo celebrados como santos em potencial pelos profissionais que trabalharam com eles, bem como por famílias que ainda se beneficiam de seus ensinamentos, presentes em mais de 40 países ao redor do mundo. Embora falecidos há alguns anos – John Billings, em 2007, e Evelyn Billings em 2013 –, o interesse em sua história pessoal está crescendo, com um site dedicado a promover sua causa de canonização, com base em seus atributos pessoais inspiradores e profunda fé católica.

VIDA DE SANTIDADE

Lynne Anderson, presidente da Billings Life Austrália, uma agência oficial de disseminação do método, afirmou não estar surpresa com os pedidos para que os dois sejam feitos santos. Ela os descreveu como um casal notavelmente altruísta, que também era muito dedicado à prática de sua fé católica. “Eles eram muito devotos, frequentadores diários da missa e, sempre que viajavam para o exterior para conferências, tendiam a ficar hospedados em comunidades religiosas”, disse ela. “Quando John começou este trabalho em 1953, Lyn estava trabalhando no Royal Children’s Hospital, e o casal concordou em adotar o que era seu nono filho, quando viram um pobre bebê que ficou órfão e teve ferimentos profundos, incluindo a amputação de uma das mãos.” “Eles eram conhecidos por sua infa-

lível generosidade de espírito”, acrescentou Lynne. “Também foram um grande exemplo de vida de casados, dedicados a honrar as conquistas um do outro e compartilhar o método Billings com comunidades em conferências ao redor do mundo, muitas vezes viajando por seis a oito semanas de cada vez, duas a três vezes por ano.” “Eles não aceitariam nenhuma honraria, a menos que fosse dada a ambos, e raramente apareciam em público sem o outro: eles eram uma equipe real e um exemplo perfeito do que um casamento cheio de fé pode ser.”

TRAJETÓRIA

Sua jornada começou na década de 1950, quando John Billings foi abordado pelo Padre Maurice Catarinich, um conselheiro matrimonial de Melbourne, como era desejo de Dom Daniel Mannix,

então Arcebispo daquela localidade, que estava procurando iniciar uma agência de assistência social católica para ajudar casais cujos casamentos estavam com problemas porque não tinham uma maneira confiável e natural de “espacejar” a chegada dos filhos, se assim desejassem. Evelyn Billings ficou cada vez mais interessada no trabalho do marido quando revisou seu primeiro livro sobre fertilidade natural e quis se envolver. Em 1966, ela fez uma descoberta marcante, reconhecendo padrões na secreção de muco do colo do útero antes da ovulação; isso ajudou os casais a identificar o dia mais fértil do ciclo menstrual de uma mulher. O método Billings ganhava crescente interesse internacional e, em 1971, já havia sido reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Fonte: Catholic News Service (CNS)

Chile Igreja pede ‘voto com consciência’ para a nova Constituição No dia 4 de setembro, os chilenos são chamados a aprovar ou rejeitar o texto da nova Constituição do país, marcando a última etapa de um longo processo que começou com protestos de rua e violência em outubro de 2019. Em 11 de março, Gabriel Boric, 36, líder estudantil daqueles protestos, tomou posse como presidente do Chile, com o objetivo de reformar radicalmente a es-

trutura sociopolítica do país. Após sua eleição, ele convocou uma reunião com os representantes das diferentes confissões religiosas. Os bispos chilenos se reuniram de 18 a 22 deste mês para estudar a proposta do documento constitucional à luz da Doutrina Social da Igreja, e no final do encontro ofereceram suas diretrizes para “iluminar a consciência de todos com a

Palavra de Deus, especialmente daqueles que professam a fé cristã”. “Apreciamos o texto constitucional em sua proposta sobre direitos sociais, meio ambiente e reconhecimento dos povos indígenas. Fazemos uma avaliação negativa das normas que permitem a interrupção da gravidez, as que deixam em aberto a possibilidade da eutanásia, as que desfiguram o conceito de

família, as que restringem a liberdade dos pais de ensinar os filhos e que impõem algumas limitações ao direito à educação e à liberdade religiosa. Consideramos que introduzir o aborto seja particularmente grave, o que o texto da proposta constitucional chama de ‘direito à interrupção voluntária da gravidez’”, escreveram. Fonte: Agência Fides


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| 27 de julho a 2 de agosto de 2022 | Pelo Brasil/Fé e Vida | 19

Em encontro nacional, Pascom Brasil elege nova coordenação Pascom Brasil

Liturgia e Vida 18º DOMINGO DO TEMPO COMUM 31 DE JULHO DE 2022

‘Louco!’ (Lc 12,20) PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

REDAÇÃO

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Entre os dias 22 e 24, aconteceu no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba (SP), o 7º Encontro Nacional da Pastoral da Comunicação (Pascom Brasil), com o tema “Comunicação e Sinodalidade – Comunhão, Participação e Missão”. Participaram cerca de 500 pessoas, 200 das quais presencialmente e 300 de modo on-line, incluindo agentes da Pastoral da Comunicação das regiões episcopais da Arquidiocese de São Paulo. Os participantes foram convidados a pensar sobre sua missão de anunciar o Cristo, nos diferentes meios em que estejam presentes, na perspectiva da Igreja sinodal. Dom Joaquim Giovani Mol,

Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), destacou que o encontro permitiu aos participantes melhor entender o que é, de fato, ser uma Igreja sinodal, experiência na qual todos caminham juntos, tarefa a ser assumida pelos agentes da Pastoral da Comunicação. Outro momento do encontro foram as trilhas temáticas, em que os participantes se dividiram em grupos segundo seus interesses nos três pontos dos lemas do encontro. Nas trilhas Comunhão, apresentaram-se os temas “Concílio Vaticano II: 60 anos depois, qual o caminho?” e “Ministerialidade na Igreja sinodal: leigos e leigas como sujeitos eclesiais”;

nas trilhas Participação, os assuntos foram “Pascom e Pastorais Sociais” e “Interatividade e proximidade no ambiente digital”; e nas trilhas Missão, falou-se a respeito da “Igreja missionária e solidária: comunidade em estado permanente de missão” e “Juventude na Igreja Sinodal”. Já no último dia, houve um painel sobre a situação eleitoral no País. Na oportunidade, foi eleita a coordenação da Pascom Brasil para o período de 2022 a 2026: o coordenador-geral, reeleito, é Marcus Tullius; a vice-coordenadora será Janaina Gonçalves, da Pascom-Regional Leste 2 (Minas Gerais), e o secretário-geral eleito é Allex Ferrero, da Pascom-Regional Nordeste 1 (Ceará). (por CNBB – com informações complementares do Padre Gabriel Oberle, ISch)

Ministro da Saúde diz que País está preparado contra a ‘varíola dos macacos’ Em um evento promovido pelo Ministério da Saúde, na segunda-feira, 25, o ministro Marcelo Queiroga assegurou que o Brasil está atento ao crescimento de casos da “varíola dos macacos” (Monkeypox) e pronto para combater o vírus. “Nós aqui no Brasil já vínhamos fazendo nosso dever de casa desde o primeiro rumor, desde o primeiro caso suspeito. Preparamos nossa estrutura para fazer o diagnóstico. Temos quatro laboratórios hoje no Brasil com capacidade para isso”, disse Queiroga. Os laboratórios em questão estão no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo; na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas Gerais; na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro; e no laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Desde o início, começamos a fazer o diagnóstico e o acesso a ele está

disponível. Fizemos alertas para as secretarias estaduais de saúde e para as secretarias municipais. Os casos são identificados, são isolados”, acrescentou. Até a tarde da segunda-feira, já havia a confirmação de 696 casos da “varíola dos macacos” no Brasil. Ela é causada por um vírus e transmitida pelo contato próximo com uma pessoa infectada e com lesões de pele. O contato pode se dar por meio de abraço, beijo, relações sexuais ou secreções respiratórias. A transmissão também ocorre por contato com objetos, tecidos e superfícies que foram utilizadas pelo infectado. Não há tratamento específico, mas, de forma geral, os quadros clínicos são leves e requerem cuidado e observação das lesões. O paciente pode ter febre, dor no corpo e apresentar manchas, pápulas [pequenas

lesões sólidas que aparecem na pele] que evoluem para vesículas [bolhas contendo líquido no interior] até formar pústulas [bolinhas com pus] e crostas [formação a partir de líquido seroso, pus ou sangue seco]. Em recente nota à imprensa, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado de São Paulo apontou que, apesar do nome, o Monkeypox “é um vírus que infectou roedores na África; os macacos, assim como o homem, são hospedeiros acidentais. Apesar de o vírus receber essa nomenclatura, ele não tem a participação dos primatas na transmissão para as pessoas. Todos os casos identificados até o momento pelas agências de saúde no mundo foram atribuídos à contaminação por transmissão entre humanos”. Fontes: Agência Brasil e Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo

Fomos criados para possuir e amar a Deus eternamente. O coração humano tem um “espaço” infinito a ser ocupado pelo próprio Senhor. Ainda que não nos demos conta, desejamos um tesouro imenso, aspiramos à beleza suprema, anelamos pela alegria, o prazer, o amor, a posse, a segurança e a paz perfeitos, que somente Ele pode proporcionar. Contudo, desde o pecado original, o homem procura preencher esse “espaço” infinito com as criaturas, e aí está a raiz de todos os males! Apegamo-nos desordenadamente a coisas e pessoas. Experimentamos a cobiça, o egoísmo, a sensualidade, o ciúme… Trocamos o Criador pelas criaturas, numa inadvertida idolatria. Por isso, São Paulo exorta: “Fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria” (Cl 3,5). O primeiro Mandamento – amar o Senhor sobre todas as coisas – é, entre todos, o mais violado! Nascemos sim para “acumular”, deixar uma marca e uma herança neste mundo; nascemos também para amar e ser “um só” com os demais...w Porém, este “acúmulo” e esta união têm em vista a eternidade! Se nos esquecermos disso, cairemos no pecado! O Senhor ensina: “Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam” (Mt 6,20). A grande herança que deixaremos é o auxílio para a salvação eterna dos demais: as obras de misericórdia corporal e espiritual, os sacrifícios, as orações, a fidelidade, a fé, a esperança e o amor. Há pessoas que vivem numa evidente avareza. Ambiciosos, colocam o acúmulo de bens acima das pessoas e de Deus. Mesmo que já possuam bens materiais, perdem o sono e a alegria, com medo de reduzir o padrão de vida e o nível social. Esses, quando se dão conta do erro – geralmente após um grande infortúnio pessoal –, lamentam amargamente o tempo, o esforço e o amor desperdiçados. Mas, sempre é tempo de mudar! Na maioria dos casos, contudo, a avareza é mais sutil. Insinua-se o desejo de se possuir uma “justificada” segurança e um “merecido” descanso. Assim como o rico do Evangelho, podemos sonhar poder, depois do trabalho duro, dizer a nós mesmos: “Tens uma boa reserva. Descansa, come, bebe, aproveita” (Lc 12,19). Parece até uma atitude razoável. Para quem pensa assim, porém, o Senhor tem duras palavras: “Louco! E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,20). Jesus, aliás, ensinou-nos a pedir o “pão de cada dia”, confiando na Providência. É justo querer dar uma boa condição material à família. No entanto, é loucura pensar que os bens podem nos proteger. Eles nada podem contra o pecado, a morte, a tristeza e a falta de sentido de vida. Aliás, “quem ama o dinheiro nunca se fartará. Quem ama a riqueza não tira dela proveito” (Ecl 5,9). O dinheiro não comprará o resultado de nosso Juízo e não nos acompanhará à sepultura. Que Nossa Senhora nos ajude a encontrar a verdadeira riqueza em Cristo e a usarmos os bens deste mundo com os olhos voltados para o Céu.


20 | Papa Francisco | 27 de julho a 2 de agosto de 2022 |

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Papa no Canadá: a Igreja é casa de reconciliação Vatican Media

FRANCISCO VAI AO ENCONTRO DOS INDÍGENAS E FAZ UMA ‘PEREGRINAÇÃO PENITENCIAL’ DE 24 A 30 DE JULHO FILIPE DOMINGUES

ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, EM ROMA

A Igreja é “uma casa aberta e inclusiva”. É uma “casa de reconciliação”, disse o Papa Francisco, nos primeiros dias de sua viagem ao Canadá, que ocorre até 30 de julho. A visita apostólica é uma “peregrinação penitencial”, na definição do próprio Pontífice. O objetivo principal é ir ao encontro das comunidades indígenas, às quais Francisco se apresenta como amigo e a quem pede desculpas pelos erros históricos cometidos por cristãos no processo de colonização da América do Norte. Em encontro com líderes das populações indígenas e com membros da comunidade paroquial da Igreja do Sagrado Coração, em Edmonton, na segunda-feira, 25, ele recordou a passagem do Evangelho segundo São Mateus, que diz: “Tudo aquilo que vocês fizeram a um dos meus menores irmãos, é a mim que o fizeram” (Mt 25,40). Jesus está presente nos mais pequeninos, disse ele, e, por isso, também quando membros da Igreja pecam contra os pequenos, estão ofendendo ao próprio Cristo. “É por causa do joio [misturado com o trigo] que eu quis fazer esta peregrinação penitencial, e a começo fazendo memória do mal sofrido pelas populações indígenas por causa de tantos cristãos, e pedindo-lhes perdão, com muita dor”, declarou o Papa Francisco. “Me dói pensar que católicos tenham contribuído com políticas de assimilação que adotavam um senso de inferioridade [dos indígenas], privando comunidades e pessoas de suas identidades culturais e espirituais, rompendo suas raízes e alimentando comportamentos de preconceito e discriminação, e que isso tenha sido feito também em nome de uma educação que se supunha cristã.” Em vez disso, a Igreja é “uma família dos filhos de Deus, em que a hospitalidade e a acolhida, valores que são típicos da

cultura indígena, são essenciais: onde cada um deve se sentir bem-vindo, independentemente das situações passadas e das circunstâncias da vida individual”.

COMPORTAMENTOS INCOMPATÍVEIS

Francisco se refere a uma história antiga. Por décadas, as comunidades indígenas do Canadá vêm pedindo algum reconhecimento e compensação por tudo o que sofreram nos séculos de colonização europeia – período em que também organizações católicas participaram de políticas de Estado que não valorizavam os povos nativos. Entre elas, as chamadas “escolas residenciais”, uma evidência traumática mais recente que se prolongou por quase dois séculos, até os anos 1970. Nessas escolas, que funcionavam como internatos, meninos e meninas indígenas eram educados nos padrões ocidentais. Para isso, eram afastados de suas famílias indígenas, não tinham contato com os pais e perdiam também a ligação com a cultura tradicional. Boa parte das escolas era administrada por congregações ou grupos religiosos, financiados pelo Estado. Embora se tratasse de uma política pública, as escolas adotaram práticas que, hoje, o Papa Francisco reconhece como “comportamentos incompatíveis como o Evangelho”. Em editorial para o site Vatican News, o vaticanista Andrea Tornielli disse que, após rezar silenciosamente no cemitério das populações indígenas de Maskwacis, na Igreja de Nossa Senhora das Sete Dores, o Papa afirmou que o primeiro passo dessa peregrinação penitencial é “renovar com vocês o pedido de perdão e dizer, de todo o coração, que estou profundamente adolorado”. Sobre as escolas residenciais, o Papa Francisco admitiu que milhares de

crianças, afastadas das famílias, sofreram “abusos físicos e verbais, psicológicos e espirituais”. Muitas acabaram morrendo por doença ou falta de higiene, observa o editorial, algo que, como disse o Papa, é “devastante e incompatível com o Evangelho”.

A UNIÃO DÁ FRUTOS

No ano passado, pesquisas arqueológicas organizadas pelos líderes indígenas identificaram valas comuns que teriam sido usadas para sepultar centenas de crianças sem identificação. Muitas delas eram tidas como desaparecidas. Aos poucos, inicia-se o processo de estudar melhor o fenômeno, procurar identificar os restos mortais e entender os motivos de terem sido depositados em valas comuns, e não em cemitérios normais. Tudo isso levou os bispos do Canadá e os governos atuais a unirem forças para promover a reconciliação e algumas medidas de mitigação dos traumas do passado. O Papa Francisco, em sua viagem, atende a um pedido da conferência dos bispos. “A educação deve partir sempre do respeito e da promoção dos talentos que já estão nas pessoas. Não é e não pode jamais ser algo de precondicionado a ser imposto”, disse o Papa. “Quero agradecer de modo especial pelo trabalho que têm feito os bispos. Uma conferência episcopal unida dá muitos frutos”, acrescentou. Nesses primeiros dois dias de viagem, Francisco beijou as mãos de mulheres e homens indígenas, encontrou pessoas que realizam trabalho pastoral com eles e se reuniu com autoridades do Canadá.

PROXIMIDADE, TERNURA, SABEDORIA

Na missa celebrada na terça-feira, 26, no estádio do Commonwealth, em Edmonton, o Santo Padre recordou os

avós de Jesus, Sant’Ana e São Joaquim, e os associou à ideia de que todos nós temos origens, raízes, memórias que devem ser cuidadas e protegidas. “Não somos indivíduos isolados, não somos ilhas, ninguém vem ao mundo desligado dos outros. As nossas raízes, o amor que nos esperou e que recebemos vindo ao mundo, os ambientes familiares em que crescemos, fazem parte de uma história única, que nos precedeu e gerou. Nós não os escolhemos, mas recebemos em forma de dom. É um dom de que somos chamados a cuidar”, completou. Os avós são nossa ligação com a história, analisou o Pontífice, e é deles que aprendemos o que é bem, ternura e sabedoria. Joaquim e Ana recordam que os avós são a história viva e ajudam a “cuidar da história generativa, recordam a importância de valorizar os idosos e construir laços com as gerações mais jovens”, avaliou. Como ele havia dito um dia antes, em Maskwacis, é preciso “fazer memória”, inclusive dos erros do passado, que nos levam a melhorar e corrigir a rota. Aos indígenas, ele declarou: “Saibam que conheço os sofrimentos, os traumas e os desafios dos povos indígenas em todas as regiões deste país [o Canadá]. As minhas palavras, pronunciadas ao longo desse caminho penitencial, são direcionadas a todas as comunidades e pessoas nativas, que abraço de coração”, disse.


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