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Reflexões e propostas pastorais da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe são entregues ao Papa

(RH, 15). Mais recentemente, na encíclica Laudato si publicada em 2015, o Papa Francisco enfatizou os impactos noci vos dos resíduos jogados como lixo no ambiente, sendo este comportamento uma expressão daquilo que o Pontí ce chama de cultura do descarte. Ele aponta que o sistema industrial, no nal do ciclo de produção e consumo, “não desenvolveu a capacidade de ab sorver e reutilizar resíduos e escórias” (LS, 22) e que há uma “lógica do ‘usa e joga fora’ que produz tantos resíduos, só pelo desejo desordenado de consu mir mais do que realmente se tem ne cessidade”. (123).

O Pontí ce também destaca o pa pel da educação para a responsabilida de ambiental e o incentivo a comporta mentos que ajudem a “evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar ape nas aquilo que razoavelmente se pode rá comer” (LS, 211). O jornal O SÃO PAULO publica a 1a edição do caderno “Ecologia”, que, inicialmente, trará uma série de repor tagens sobre a problemática do lixo. Os desa os e as oportunidades para a prá tica da reciclagem são o primeiro tema abordado.

UM PAÍS QUE RECICLA POUCOS RESÍDUOS A cada ano, cerca de 82,5 milhões de toneladas de resíduos são produ zidas no Brasil, tendo como destino principal o lixo, já que apenas 2,1% deste montante é reciclado, conforme dados do Sistema Nacional de Infor mações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos. Em relação ao lixo seco, o percentu al reciclado é de 3%, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos 2021, elaborado pela Associação Brasilei ra de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O do cumento informa, ainda, que 26% das cidades brasileiras não têm qualquer iniciativa de coleta seletiva.

“Em pesquisas, 75% das pessoas têm declarado que não separam re cicláveis, o que já indica uma falta de consciência sobre o tema. O poder

público e a iniciativa privada têm a responsabilidade de criar fórmulas modelos para incentivá-las à prática de reciclagem”, avalia Rodrigo Oliveira, CEO da Green Mining, empresa que atua no ramo de logística reversa de resíduos. Oliveira ressalta que as estratégias devem ir além do apelo à consciência ambiental, e permitir um efetivo retor nanceiro a quem recicla: “Sempre vejo o descarte como a imagem de al guém jogando uma moeda de R$ 1,00 no lixo. Não faz sentido, pois um re curso que já foi extraído da natureza, transformado e que ainda tem valor.

Tanto o produto quanto a embalagem pertencem a quem comprou, e essa pessoa tem o ônus do que fazer com eles, mas também pode ter o bônus”.

Para Rubens Lyra, engenheiro ambiental e coordenador do Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem (Recifran), a grande quantidade de itens jogados no lixo, especialmente no caso dos eletrônicos, tem como uma das razões a obsolescência programa da, ou seja, o apelo dos fabricantes para a aquisição de versões mais modernas de um produto, ainda que já adquirido pelo consumidor esteja em boas con dições. “Um produto que a pessoa já possui há três anos, quando surge algo mais novo na indústria, esse consumidor vai, compra e descarta o antigo. Tam bém há um pensamento de que talvez não valha a pena pagar para fazer o conserto de algo com defeito que de mandaria uma simples manutenção. A maioria das pessoas simplesmente des carta este material não busca saber se há um local especí co para o correto descarte”, comenta Lyra.

COMO MUDAR ESTE PANORAMA? A melhor destinação dos resíduos no Brasil tem sido alvo de constan tes re exões. Em 2010, foi instituída a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – lei 12.305/2010 – mais recentemente, em abril deste ano, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) – decreto 11.043/2022 – que traz entre suas metas que o percentual de reciclagem em todo o País chegue próximo a 14% em 2024 e a 48% em Oliveira acredita que alcançar tais metas não é impossível, desde que as empresas efetivamente realizem a lo gística reversa, devendo haver scali zação e sanções para as que não cum prirem a lei. Ele também cita como positivo o decreto 11.044/2022, que preconiza a comprovação de que uma empresa fez a restituição, em massa, de produtos e embalagens ao ciclo produ tivo, bem como se tem adotado medi das para a não geração redução de resíduos sólidos. “O decreto é muito bom, pois permitirá olhar cada vez mais de perto e só vai valer o que realmente chega nas usinas de reciclagem. Por que até então, se considerava logísti ca reversa quando o gerador do resí duo vendia para outrem, e este para outro, acumulando um monte de nota scal. Isso agora não vale mais”, explica Oliveira. Para Lyra, cobrar responsabilidades de todos os envolvidos na cadeia de produção o melhor caminho. “Não se deve focar a responsabilidade ape nas no consumidor nal. Na geração de resíduos plásticos, por exemplo, 50% é no pós-uso pelo consumidor doméstico, e a outra metade anterior

ao consumo. Há muita embalagem que seria desnecessária. Por exemplo: ter uma fruta descascada embalada algo tão necessário? Mas se tira a casca para facilitar o consumo, por questão de praticidade”, lamenta. Oliveira lembra que a PNRS, em seu artigo 9o, apresenta uma hierar quia para a gestão de resíduos. “O primeiro item é não gerar. Depois, se fala em reutilizar. Para a reutilização, o trabalho com as tecnologias que já existem de rastreabilidade, de retor no, tornará o processo mais vantajoso, para não se fazer embalagem para ser jogada fora. Pensa-se em embalagens contínuas, que podem ser de reu so, como as garrafas de cerveja, por exemplo, que são retornáveis e podem ser lavadas cerca de 24 vezes. Portan to, na hierarquia, a não geração e o reuso vem antes da reciclagem. Hoje, porém, a maior parte dos gastos estão em coleta e destinação, ou seja, coleta de lixo e aterro sanitário e não se gasta quase nada para não gerar o resíduo ou fazer o retornável”, analisa.

Uma outra esperança para o au mento da cultura da reciclagem no Brasil é a Lei de Incentivos Recicla gem (14.260/2021), que entre outras medidas permite que pessoas físicas jurídicas, por meio de deduções no Imposto de Renda, apoiem a recicla gem, colaborando com a compra de veículos e equipamentos para tal com a construção de postos de entre ga voluntária de resíduos centrais de separação de recicláveis, bem como no suporte capacitação pro ssional de cooperativas de catadores e o de senvolvimento de tecnologias volta das à coleta de materiais reutilizáveis recicláveis.

Membros da Presidência do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) apresentaram ao Papa Francisco, na segunda-feira, 31 de outubro, o documento “Para uma Igreja sinodal em saída para as

Os compromissos assumidos pelo presidente eleito

O caminho sinodal percorrido será traduzido em propostas concretas

Editorial Encontro com o Pastor Com a Palavra

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Crisleine Yamaji: divisão não são de Deus’

Olhemos para os santos, peçamos a sua intercessão e estejamos com eles

Lula é eleito presidente da República e Tarcísio será governador de SP

Liturgia e Vida Comportamento Sínodo 2021-2024

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Também nas redes sociais, somos chamados a defender os valores cristãos

Santa Sé divulga o documento de trabalho para a etapa continental

No domingo, 30 de outubro, Lula recebeu 50,9% dos votos válidos contra 49,1% de Jair Bolsonaro, que tentava a ree leição. Após uma campanha eleitoral polarizada, o presi dente eleito se comprometeu a buscar a harmonia, tanto entre os atores sociais quanto entre as instituições da República. Em São Paulo, o eleito go vernador foi Tarcísio de Frei tas (Republicanos), que ven ceu Fernando Haddad (PT).

SEMANÁRIO DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO Ano 67 | Edição 3420 | 2 a 8 de novembro de 2022 www.osaopaulo.org.br | R$ 3,00www.arquisp.org.br
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periferias – Reflexões e propostas pastorais da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe”, evento continental reali zado em novembro de 2021.
13 Edição 01 2 de novembro de 2022 O uso racional dos recursos naturais tem sido uma preocupação constante dos que se dedicam ao meio ambien te e também da Igreja. Já em 1979, na encíclica Redemptor hominis, São João Paulo II alertava que o homem “parece muitas vezes não dar-se conta de outros signi cados do seu ambiente natural, para além daqueles somente que servem para os ns de um uso ou consumo imediatos”
Bispos da Presidência do Celam, entre os quais o Cardeal Scherer, apresentam ao Papa Francisco, na segunda-feira, 31 de outubro, documento com apontamentos da 1ª Assembleia Eclesial
Vatican Media
Reprodução

os rumos da pastoral

ainda produzem sobre a fé e a vida religiosa do povo e sua par ticipação na vida das comunida des.

Nosso

primeiro sí nodo arquidiocesa no está chegando à conclusão dos seus trabalhos. No dia 5 de novem bro, teremos a 6ª sessão da as sembleia sinodal arquidioce sana, restando apenas uma, no início de dezembro. O encerra mento do sínodo será celebrado no dia 25 de março de 2023, com a divulgação das propostas sino dais e a ação de graças a Deus pelo trabalho realizado.

Nas duas sessões da assem bleia que ainda restam, serão apresentadas as propostas elabo radas pelas 25 comissões temá ticas, tratando dos mais diversos aspectos da vida e da organiza ção pastoral da nossa arquidio cese. As propostas serão subme tidas à votação da assembleia para a manifestação do seu con senso sobre elas.

Durante os 5 anos do cami nho sinodal arquidiocesano, procuramos lançar um olhar atento sobre a realidade religiosa e pastoral de nossa Arquidioce se. A vasta pesquisa de campo e

o levantamento paroquial (2018) trouxeram à luz uma imensida de de dados importantes e até preocupantes sobre a nossa si tuação eclesial. Desse primeiro momento do sínodo, que se ca racterizou como um ver-ouvir comunitário, passamos a suces sivas etapas de avaliação e dis cernimento, movidos pelo de sejo de compreender os apelos de Deus que nos vêm pela “voz da realidade” eclesial. Deixamo -nos interpelar pelas palavras do Apocalipse dirigidas às sete igre jas da Ásia Menor, já no nal do primeiro século do Cristianis mo: “Quem tem ouvidos, escute o que o Espírito diz às igrejas”: à nossa Igreja em São Paulo! Assim, compreendemos me lhor os motivos que levaram o episcopado da América Latina e do Caribe, na Conferência de Aparecida (2007), a conclamar toda a Igreja em nosso continen te a entrar num processo de co munhão, conversão e renovação missionária. Diante das profun das mudanças culturais, sociais e religiosas ocorridas nas últimas décadas, e ainda em curso, nos sa Igreja não pode desconhecer nem subestimar o impacto que essas mudanças produziram e

Não podemos continuar a fa zer apenas uma pastoral de con servação, como se nada tivesse acontecido. A fé e a prática da fé nas comunidades diminuíram e já não se transmite mais a fé por um processo espontâneo, de geração em geração; há escassa identi cação dos membros da Igreja com ela mesma, e o senso de pertença à Igreja muitas ve zes desapareceu. O apreço pelos Sacramentos e a participação na vida sacramentária baixou muito, enquanto cresce uma geral indi ferença religiosa. Com isso, tam bém se enfraquece o testemunho cristão na vida social e na cultu ra. Consequência previsível nesse estado de coisas é o desânimo e a deserção de muitos, para os quais a Igreja e a fé cristã se tornaram pouco relevantes e desinteres santes. Inevitável também é a es cassez de vocações sacerdotais e religiosas, tão necessárias à vida e missão da Igreja.

Diante disso, perguntamo-nos, como o apóstolo São Paulo às portas de Damasco: “Senhor, que devemos fazer? Por onde come

çar?” E, mais uma vez, a resposta já nos foi dada pelo Magistério recente da Igreja e pelo episco pado latino-americano reunido em Aparecida (SP): precisamos partir novamente de Jesus Cris to, do renovado encontro pessoal e eclesial com Ele, “autor e meta da nossa fé”. Dele, de sua palavra no Evangelho e da fé apostólica é que podemos recobrar forças e orientação para a vida cristã pes soal e comunitária.

Por isso, faz todo sentido que nosso sínodo arquidiocesano te nha sido proposto como um “ca minho de comunhão, conversão e renovação missionária” para nos sa Igreja em São Paulo. Veremos agora como essa proposta e o ca minho já percorrido serão tradu zidos nas propostas sinodais.

O certo é que o encerramento do sínodo não signi ca o nal do caminho nem um ponto de chegada, mas apenas uma etapa importante no caminho sinodal de nossa Igreja. A tarefa conti nuará no esforço para traduzir as indicações sinodais em pro cessos e práticas permanentes de comunhão, conversão e reno vação missionária ao longo do tempo. Que o Espírito Santo nos ilumine e nos ajude!

2 | Encontro com o Pastor | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
Arcebispo metropolitano de São Paulo
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Arcebispo abençoa crucifixo na

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo

O Cardeal Odilo Pedro Scherer visi tou na sexta-feira, 28 de outubro, a sede da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho (FAVC), a mantenedora da Faculdade de Ci ências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), no bairro de Santa Cecília. Na ocasião, o Arcebispo Metropolitano aben çoou um cruci xo entronizado em uma das salas da diretoria da instituição.

Dom Odilo elogiou a iniciativa da FAVC, que considerou “um ato de pro ssão de fé” e reconhecimento da ligação histórica da ins tituição com a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que tem na sua origem a fé e a caridade cristã.

O presidente da fundação, Antonio Clei denir Tonico Ramos, apresentou ao Cardeal o trabalho realizado pela FCMSCSP, con siderada a melhor faculdade particular de

Medicina do Brasil, tendo como prioridades a excelência acadêmica, pro ssional e, sobre tudo, a atenção especial a um serviço de saú de mais humanizado, valor ressaltado pelo Arcebispo.

“Fico feliz por conhecer melhor o tra balho realizado pela fundação, que prepara pessoas para o exercício de pro ssões tão importantes para a comunidade humana e forma pro ssionais da saúde sensíveis para lidar com pessoas nas situações de fragilida de humana”, a rmou Dom Odilo, indicando o exemplo de Jesus, que, em sua vida pública, sempre esteve em contato com os doentes, acolhendo-os com delicadeza e atenção.

Após a bênção, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar de São Paulo e Vigário Episco pal para a Educação e a Universidade, leu e entregou aos dirigentes da FAVC uma carta da Secretaria de Estado da Santa Sé, por meio da qual o Papa Francisco enviou sua bênção apostólica à instituição.

ERRATA

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Na publicação do jornal O SÃO PAULO Ano 67 | Edição 3419 | 26 de outubro a 1º de novembro de 2022|página 14|Balanço| Onde se lê: 33 Aprovação das Demonstrações Financeiras Leia-se: 33 Aprovação das Demonstrações Financeiras promovida em 11 de agosto de 2022
sede da mantenedora
Divulgação Reprodução Luciney Martins/O SÃO PAULO Reprodução

Editorial

Comos votos de 60,33 milhões de brasileiros, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito pre sidente da República, em 30 de outubro. O petista, que já presidiu o País entre 2003 e 2010, desta vez se com prometeu a reconstruir e transformar o Brasil, tendo como primeiro e mais ur gente compromisso “a restauração das condições de vida da imensa maioria da população brasileira – os que mais so frem com a crise, a fome, o alto custo de vida, os que perderam o emprego, o lar e a vida em família”, conforme consta em seu plano de governo registrado no Tri bunal Superior Eleitoral (TSE).

Em linhas gerais, estes propósitos es tão em sintonia com a busca do bem co mum, que é “a razão de ser da autoridade política” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI, 168), mas que só é efeti vamente alcançado quando o governo de um país se compromete a harmonizar, com justiça, os diversos interesses setoriais (cf. CDSI, 169); sendo também importan te que no exercício do poder o governante

tenha como nalidade do próprio agir o bem comum e não o prestígio ou a aquisi ção de vantagens pessoais (cf. CDSI, 410).

Os brasileiros não esperam menos do que isso do presidente eleito, e Lula rea rmou alguns compromissos com a po pulação em seu primeiro discurso após a vitória. Ele destacou como prioridade número 1 acabar com a fome, mazela so cial que tem afetado milhões de lares e as muitas pessoas que vivem em situação de rua nas grandes cidades do País. Fa lou, também, em proporcionar um cres cimento econômico que possa ser repar tido entre toda a população. “A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra”, e garantiu, ainda, apoio aos pequenos e médios produtores rurais e incentivos aos micros e pequenos empreendedores.

Lula também se comprometeu a in tensi car diálogos com o Legislativo e o Judiciário para “reconstruir a convi vência harmoniosa e republicana en

tre os três poderes”; com governadores e prefeitos, “para de nirmos juntos as obras prioritárias para cada população”; com o povo, por meio das conferências nacionais, para que se estabeleçam as prioridades das políticas públicas em diferentes áreas; com empresários, traba lhadores e a sociedade civil organizada, com diferentes nações e com investido res internacionais, a m de rmar novos acordos comerciais para que o Brasil não seja apenas um exportador de commodi ties e matéria-prima, mas, também, para que exporte conhecimento.

A defesa dos biomas, em especial da Amazônia, dos povos originários e o combate à violência contra as mulheres e a todas as manifestações de racismo, pre conceito e discriminação também foram mencionados pelo petista.

Ao longo da campanha, Lula também assumiu compromissos pela liberdade de expressão, que, conforme seu plano de governo, “não pode ser um privilégio de alguns setores, mas um direito de to dos”; contudo, defende ao mesmo tempo

Opinião

PADRE JOSÉ ULISSES LEVA

O tempo da pandemia nos colo cou mais re exivos. Isso é muito im portante. Precisamos aproveitar todos os instantes que a vida nos possibilita. O momento presente nos faz lembrar o passado e projetar o futuro. Deus é presente em todos os tempos. Nós ne cessitamos exercitar constantemente os variados tempos: passado, presen te e futuro. De fato, nós somos uma continuidade. Somente o passado, é saudosismo. Somente o presente, es quecemos que temos história. Somen te o futuro, esquecemos de lembrar o ontem e de viver o agora.

Enquanto eu estou no presente e preparando minhas atividades e exer cendo minha ocupação, eu projeto o meu futuro. É fundamental ter pro postas e mirar o porvir. Na verdade, é necessário nos alimentar de sonhos e almejar metas. Não podemos e não devemos nos colocar estáticos. Isso nos paralisa e nos enfraquece. Colocar o nosso corpo todo em ação nos ali menta para a vida.

Particularmente, hoje, quero fazer um passeio pelo meu passado. A nal, recordar, também, é viver. Duas datas me vêm à mente. Dois momentos sig ni cativos invadem o meu querer e o meu pensar. Eu quero tornar marcante o ano de 1896. Eu penso no signi cado do ano de 1936. O ano de 1896 me faz lembrar os 125 anos da chegada da Fa

mília Leva ao estado de São Paulo. Vin dos da Itália, Província do Piemonte, eles aportaram em Santos (SP). O ano de 1936 me faz recordar os 85 anos em que os meus avós maternos, Barlafante Zechinel, construíram uma capela em honra a Nossa Senhora do Monte Ser rat, na Fazenda Santa Giselda, no mu nicípio de Monte Alto (SP). No dia 15 de novembro de 1936, por ocasião de uma grande estiagem, houve uma San ta Missa. Logo em seguida, recitaram o Rosário, clamando aos céus, a chuva necessária para a lavoura do café.

A construção da nossa personali dade é constituída pela genética que herdamos dos nossos pais e dos nossos

antepassados. Precisamos preservar a lembrança e o carinho pelos nossos entes queridos falecidos. Necessitamos manter os laços de afeto e amor das ge rações que formam as nossas famílias.

Em tempos pandêmicos, nós po demos recordar e projetar. Assim, no presente da História, eu recordo os meus antepassados e, ao mesmo tempo, eu projeto o meu porvir com rmeza e seguridade. Posso utilizar esse recurso, dos três tempos: passa do, presente e futuro, para eu recordar os meus entes queridos, para eu me manter vivo e para eu me mover com con ança para dias melhores que, cer tamente, virão.

a implementação de “marcos legais”, que, na prática, estabeleceriam limites à liber dade informativa prevista na Constituição. Em uma carta endereçada à comuni dade evangélica, em 19 de outubro, Lula foi explícito sobre seus compromissos em re lação à liberdade religiosa, à família e à de fesa da vida. Ele assegurou que não fechará igrejas, que defende o exercício da religião sem interferência do Estado, que é tarefa primordial dos pais educar seus lhos, cabendo à escola respeitar os valores das famílias, e que seu governo terá compro misso com a vida plena em todas as suas fases. “Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo presidente da Re pública e sim pelo Congresso Nacional.” Que após tomar posse da Presidên cia da República, em 1o de janeiro de 2023, Lula se empenhe em cumprir os compromissos assumidos, e que o povo, dono do poder que confere a seus repre sentantes eleitos, faça atenta observação e as devidas cobranças ao longo dos qua tro anos de mandato.

Eu sempre me lembro, com ca rinho e saudade, dos meus que já se foram para a eternidade. Precisamos diferenciar a nostalgia do saudosismo. Nostalgia é lembrar e por eles rezar. Permanecer no saudosismo, torna-se um campo perigoso, porque nos faz permanecer sempre no passado. Fina dos é tempo de recordar e rezar.

Eu procuro recordar e escrever os fatos e acontecimentos da Família. Se eu não preservo a memória, ela se per de. Uma família sem valoração da sua história se torna mais difícil escrever e viver o presente e almejar o seu futuro.

Como disse, o tempo pandêmico nos coloca re exivos. Como projetar um mundo melhor, com segurança, trabalho, estudo, e todos os ingredien tes necessários para o bem-estar dos nossos familiares e amigos? Como lembrar os nossos entes queridos fa lecidos? Tempo de saudade! Eu faço memória dos 125 anos da chegada dos Leva e tornando presença os 85 anos das festividades em honra de Nossa Senhora do Monte Serrat, celebrada em novembro de 2021, pelos Barlafan te Zechinel, eu me fortaleço do meu passado e me lanço para o futuro, com esperança e alegria redobradas.

Que você também, caro leitor, te nha muitas memórias que o fortale çam e o ajudem a projetar um futuro melhor.

4 | Ponto de Vista | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
As opiniões expressas na seção“Opinião”são de responsabilidade do autor e não re etem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO
Arte: Sergio Ricciuto Conte

Fé e CidadaniaComportamento

homeschooling

LUIZ VIANNA

Nos últimos meses, as redes sociais foram o palco das mais calorosas discussões políticas que já vimos na história. De um lado ou de outro, pudemos ver insul tos e mentiras, não apenas entre os vários candidatos e seus apoia dores, mas também entre pessoas comuns.

Se pararmos por um instan te e olharmos para cerca de duas décadas atrás, – é verdade que não havia redes sociais tão difundidas –, veremos que o País não era tão ruidoso assim, não é da natureza do brasileiro comum a falta de acolhimentos; pelo contrário.

Mas o que pode ter ocorrido?

É da natureza do homem, por sua origem na imagem e semelhan ça com Deus, o desejo pelo amor, pela ordem, pelo respeito às leis na turais (que o Criador compilou nos Dez Mandamentos) e o desejo de uma vida em harmonia e paz.

O homem comum quer o que lhe é de direito: viver em paz com sua família, ganhar seu pão traba lhando com honestidade, educar seus lhos segundo suas crenças pessoais, sejam lá quais forem, e vi ver num mundo de justiça onde as pessoas que desrespeitam as leis são punidas, e as pessoas honestas estão protegidas contra as injustiças.

Não parece muito, certo?

Mas como isso tem sido difícil!

Há uma enorme pressão, e sua origem não é apenas no Brasil, que o Estado seja o controlador de absolutamente tudo. Ele, o grande oráculo, deve proteger o povo de tudo aquilo que o Estado acha pe rigoso, controlando desde o nasci mento das crianças, a informação que circula, o que os pais ensinam e até o que se come ou não.

Enquanto fazem isso, corro endo nosso espírito de nação, nos dividem entre grupos oponentes: brancos e negros, cristãos e não cristãos e até mesmo homens e mulheres. Assim, todas as discus sões acabam se resumindo em pe quenas “lutas”.

Mas quem disse que eu quero lutar? Não sou soldado, sou ape nas um pai de família!

Incomodou-me ler outro dia, num relógio da cidade, a frase: “Hoje é o dia da luta das pessoas com de ciência”. Será que todos os assuntos devem ser tratados como uma “luta”?

Nos zeram crer que tudo é “revolução”, tudo é “embate”, tudo é “espírito de guerra”! Sabemos que este não é o Espírito de Cristo, mas do outro.

Mas como sair dessa armadilha?

Resposta difícil, pois estamos imersos nisso até o pescoço. Pen so que a resposta deve vir princi palmente de nós, cristãos. Jesus

nos ensinou a chave de desarme: “Odiar o pecado, mas amar o pecador”.

Nós cristãos temos que ter cla ro aquilo que Jesus nos ensinou, sem entrar nas convenientes in terpretações, que tentam nos fazer crer que, “em sua in nita miseri córdia, Deus aceita tudo” ou que “Deus aceita o pecador do jeito que ele é”.

Mentira! Deus sabe que pode mos ser melhores e nos quer lon ge do pecado. Ele é o primeiro a nos amar, mas não aceita o nosso pecado. É justamente por isso que nos convida à Con ssão.

Precisamos olhar isso com ab soluta clareza, separando a ideia do interlocutor. É preciso amar a todos, sem que seja necessário ser tolerantes com toda e qual quer ideia. Fazendo o paralelo aqui, é necessário amar o outro, mas odiar e rebater com energia as ideias que sejam contrárias aos ensinamentos de Jesus.

Chega de falsa tolerância, em que somos levados a tolerar todos os ideais, menos os ideais do Cristo!

O que precisamos é de consen so, não de concessões. Precisamos de entendimento, não de acordos. Estamos carentes de justiça, não de justiceiros.

Entenda com cuidado o que digo: o cristão não deve buscar a “paz a todo o custo”, mas “buscar primeiro o Reino de Deus”, como diz a canção. Se na história da Igreja a busca pela paz fosse a pau ta central, não haveria mártires, não haveria santos.

Não podemos continuar a di zer “tudo bem” em nome da paz. Somos chamados a testemunhar Cristo, como zeram os mártires, defendendo os valores cristãos com unhas e dentes, mas sem cair no pecado. Com dureza se neces sário, mas sem falta de caridade, sem fazer “guerra”.

O joio e o trigo precisam ser separados como o próprio Jesus nos deu pistas em Lc 12,51: “Vós pensais que eu vim trazer a paz so bre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão”.

Se conhecemos a Verdade, Cristo, exerçamos então nossa missão de “sal da terra e luz do mundo”. Levemos essa luz aos outros, defendendo essa verdade, mesmo que isso nos custe. E se isso nos custar algumas divisões, alguns comentários desrespei tosos, ou algum “cancelamento”, lembremos sempre que muitos pagaram isso com o preço de suas próprias vidas.

LuizVianna é engenheiro, pós-graduado em Marketing e CEO da Mult-Connect, uma empresa de tecnologia. Autor dos livros“Preparado para vencer”e“Social Transformationeseuimpactonosnegócios”; é músico e pai de três lhos.

Ao falar sobre as limitações do governo, o professor in glês John Finnis ensina que “o essencial sempre é a busca da virtude: os governantes e leis do Estado têm a autoridade e o dever de promover e defender o bem comum, incluindo o bem da virtude”. O Estado brasileiro deve proteger seu fundamento de democracia, mas em conformidade com tal fundamento.

Os fundamentos sobre os quais se assenta o Estado democrático brasileiro, dispostos no artigo primeiro de sua Constituição, são a soberania, a cidadania, a dignida de da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa e o pluralismo político. A Constituição fe deral não indica de modo exaustivo quais modalidades de ensino são permitidas no País. A rma que a educação é “direito de todos e dever do Estado e da família” a ser ga rantido “com a colaboração da sociedade” (art. 205) e que é livre à iniciativa privada, desde que haja “cumprimento das normas gerais da educação nacional” e “autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público” (art. 209, I e II).

Entretanto, punições adotadas contra pais e responsá veis que praticam a educação domiciliar têm sido impostas com base tanto na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, art. 6º) quanto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, art. 55), que a rmam a necessidade de matrícula das crianças na rede regular de ensino. O Estatuto traz o dever dos pais ou responsável pela matrícula dos lhos; sua obrigação de acompanhar sua frequência e seu aproveitamento escolar (art. 129, V), sob pena de descumprir os deveres inerentes ao poder familiar (art. 249), conduta passível de multa. O Código Penal prevê, como crime de abandono intelectual, o não cumprimento dos pais com o seu dever de matricu lar lho ou pupilo na rede regular de ensino (art. 246).

Estabelece-se, numa extrapolação do que diz a lei, uma equivalência entre a adoção de uma modalidade de ensino domiciliar e o abandono intelectual dos lhos. Contudo, é primordial esclarecer que o abandono intelectual se refere ao direito dos lhos menores, que seus genitores lhes propi ciem educação, tutelando a instrução primária das crianças em idade escolar; a conduta consiste, portanto, em deixar de prover, de providenciar a instrução primária de um lho e não em relação à modalidade de ensino adotada pela família.

O homeschooling é prática cotidiana de milhares de fa mílias brasileiras, uma realidade social veri cada em deze nas de outros países e cuja existência, além de não contra riar os direitos mais elementares, requer proteção por parte do Estado. A prática já está legalizada em mais de 60 paí ses, tanto do Primeiro Mundo, quanto do grupo dos países emergentes. Entre os países da Organização para a Coo peração e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 84% (29 países) têm ensino domiciliar legalizado.

A expressão “educação domiciliar” refere-se ao regime de ensino de crianças e de adolescentes dirigido pelos pais ou por responsáveis – e não é restrita ao ambiente do lar. Na verdade, costuma ser realizada em locais diversos e inclui com frequência visitas a bibliotecas públicas, a museus, pas seios pela cidade e pela região, em áreas urbanas ou rurais.

Assim, deve-se assegurar condições, do ponto de vista jurídico, para que famílias praticantes da educação domi ciliar possam contar com o apoio solidário do Estado em sua missão de educar seus lhos. Faz-se necessário prever avaliações anuais, sob gestão do Ministério da Educação, para ns de certi cação da aprendizagem.

Quando uma família adota a modalidade de ensino do miciliar por entender que os lhos terão um ensino formal adequado, que poderá inclusive ser avaliado pelo Estado, acompanhado da educação religiosa, exerce plenamente a sua livre convicção.

RodrigoGastalhoMoreira,formadoemDireitopelaUFRJ,compós-graduação emGestãoEmpresarialpelaUniversidadeCândidoMendes,formaçãoemCiências ReligiosaspeloInstitutoSuperiordeCiênciasReligiosasdoRiodeJaneiroepósgraduaçãoemTeologiaAplicadapelaUniversidadedeOxford,ReinoUnido.

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No dia de São Judas Tadeu, Dom Odilo destaca o testemunho dos apóstolos para a transmissão da fé

Foi um dia inteiro de oração, pedidos de intercessão e gratidão por graças alcan çadas. Na sexta-feira, 28 de outubro, cerca de 200 mil éis foram ao Santuário São Judas Tadeu, na Avenida Jabaquara, na zona Sul, na data em que a Igreja celebrou a festa dos apóstolos e mártires São Judas Tadeu e São Simão.

Ao todo, aconteceram 14 missas, a pri meira às 5h e a última às 19h30. Às 12h, a Eucaristia foi presidida por Dom Ânge lo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga; às 17h, pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, tendo como concelebrante o Padre Da niel Aparecido de Campos, SCJ, Pároco e Reitor. Houve ainda a procissão com a imagem do padroeiro pelas ruas do bair ro, após a missa presidida pelo Arcebispo Metropolitano.

ATENÇÃO E RESPEITO AOS SACERDOTES

Conforme a programação estabeleci da na festa deste ano, a missa com Dom Odilo foi na intenção de todos os padres da Arquidiocese.

Na homilia, o Arcebispo pediu aos éis que rezem frequentemente pelas vocações sacerdotais, e recordou que em novembro terá início o 3o Ano Vocacional do Brasil, voltado a promover um ambiente mais

propício ao despertar de vocações para a Igreja.

“Os que recebem o chamado de Deus para a vida sacerdotal precisam ouvir, se tornar sensíveis ao chamado. Para isso, precisamos criar um ambiente de oração, mas, sobretudo, um ambiente de fé em nossas famílias e comunidades”, ressaltou.

O Arcebispo pediu aos éis que rezem diariamente pelos sacerdotes e os apoiem, já que, por vezes, os padres têm sido alvo de diversos atos de desrespeito. “Muitos perderam o apreço pelo padre. Temos de aprender, de novo, a valorizar este dom de Deus. O sacerdócio não é uma pro ssão, é uma vocação, uma consagração de vida, um dom de Deus para toda a comunida de”, prosseguiu o Cardeal, lembrando que

o padre é o ministro dos sacramentos e in dica a todos as virtudes de uma vida san ta, mas que precisa ser apoiado pelos éis para que não desanime em seu ministério.

A FÉ TRANSMITIDA PELOS APÓSTOLOS

Dom Odilo recordou que ao escolher os 12 apóstolos, Jesus deu-lhes a missão de preparar os irmãos para que alcancem o Reino de Deus, por meio da transmissão da fé.

“Se hoje estamos lembrando São Si mão e São Judas Tadeu, é porque nós guardamos a mesma fé que eles transmi tiram, as mesmas palavras que ouviram de Jesus, o exemplo que viram Dele. E esta é a prática da Igreja. Como é bom saber que

estamos em comunhão com a fé dos após tolos, e em união com todos aqueles que, como eles, caminharam com a Igreja. Isso é importante e bonito e nos dá a certeza de que estamos em um caminho bom”, recor dou, lembrando que muitos cristãos foram e são martirizados por testemunhar a fé.

Dom Odilo também pediu aos éis que caminhem junto com a Igreja, em co munhão com os padres, os bispos e o Papa Francisco.

GRATIDÃO PELA VIDA

O Arcebispo recordou, também, o pe dido de Jesus para que os apóstolos cuidas sem dos enfermos, missão que permanece ainda hoje, e exortou que os éis rendam graças a Deus pela vida.

“Estamos saindo de um tempo muito pesado para todos, que foi a pandemia. Quantos caram doentes. Mas estamos aqui: sobrevivemos, graças a Deus! Quan tos, porém, não estão mais aqui. Lembre mo-nos deles e por eles rezemos, e agra deçamos todos os dias o dom da vida que nos foi preservado”, exortou.

Criada em 25 de janeiro de 1940 por Dom José Gaspar d’A onseca e Silva, en tão Arcebispo Metropolitano, a Paróquia São Judas Tadeu foi elevada a santuário em 18 de novembro de 1997, por Dom Pau lo Evaristo Arns, Arcebispo à época. No próximo dia 18, às 19h30, haverá a missa solene de abertura do jubileu de prata do Santuário, presidida pelo Cardeal Scherer.

[BRASILÂNDIA] Em 26 de novembro, das 8h às 12h, acontecerá a Jornada Re gional da Juventude (JRJ), com gincanas, desa os e outras atividades envolvendo jovens de paróquias e comunidades da Brasilândia. A atividade ocorrerá na Pa róquia São Luís Gonzaga, Setor Pereira Barreto. Para informações e inscrições, acesse: https://jrjbrasilandia.com.br (por Redação)

[SANTANA] Na sexta-feira, 28 de ou tubro, na Capela São Judas Tadeu e San ta Rita de Cássia, pertencente à Paróquia Nossa Senhora da Livração, Setor Me deiros, oito jovens e adultos receberam, pelas mãos de Dom Jorge Pierozan, o sa cramento da Crisma, durante a missa em honra a São Judas Tadeu, que foi concele brada pelo Padre Silvano Alves dos San tos, MSJ, Pároco. (por Denilson Araujo)

[IPIRANGA] Na quinta-feira, 27 de ou tubro, os membros do núcleo regional da Caritas Arquidiocesana estiveram reunidos com Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bis po Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipi ranga, nas dependências da Cúria regional, para tratar, entre outros assuntos, da pro gramação do Dia Mundial dos Pobres e da assembleia da Caritas, que acontecerá no m deste mês. (por Caritas Região Ipiranga)

[SÉ] A Paróquia Nossa Senhora do Per pétuo Socorro, no Jardim Paulistano, Setor Jardins, tem um novo Pároco, o Padre Edu ardo Ribeiro, C.Ss.R. Ele sucede ao Monse nhor Geraldo de Paula Souza, C.Ss.R, que foi nomeado Bispo Auxiliar da Arquidioce se de Niterói (RJ) e, por esse motivo, deixou a Paróquia. Padre Eduardo, 53, que é Re dentorista, atuou vários anos no Santuário Nacional de Aparecida, no qual foi Prefeito de Igreja, e teve como responsabilidade a administração dos serviços pastorais do Santuário. (por Rogério Nakamoto)

[BELÉM] Na sexta-feira, 28 de outubro, Dom Cícero Alves de França presidiu missa na Paróquia São Judas Tadeu, no Tatuapé. Concelebrou o Padre Joimar Sella, Pároco. A celebração foi uma das seis que acon teceram em honra do padroeiro, levando centenas de pessoas à Paróquia. Ao m do dia, houve uma procissão luminosa com a imagem de São Judas pelas ruas do bairro. (por Fernando Arthur)

[LAPA] No domingo, 13 de novembro, por ocasião do Dia Mundial dos Pobres, cujo tema deste ano é “Jesus Cristo fez-se pobre por vós” (2Cor 8,9), a Região Lapa promove, no galpão da Paróquia São José, no Jardim Monte Alegre (Rua Jurumbi, 700), das 9h às 17h, o Dia de Ação Caritas. Na ocasião, pro ssionais voluntários prestarão serviços gratuitos à comunidade, como palestras, consultoria nanceira, jurídica, contábil, nu tricional e psicológica, além de serviços de enfermagem e cabeleireiros. Pessoas que desejam participar da ação como voluntá rios devem procurar a Paróquia São José, pelo telefone (11) 3906-8873.

[SÉ] Em 23 de outubro, Dom Rogério Au gusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arqui diocese na Região Sé, presidiu a missa na Paróquia São Vito Mártir, Setor Brás, duran te a qual conferiu o sacramento da Con rmação a quatro jovens. Concelebrou o Padre José Ferreira Filho, Vigário Paroquial. (por Padre José Ferreira Filho)

NOTA DE FALECIMENTO

[SÉ] No sábado, 29 de outubro, durante missa na Paróquia Santa Generosa, presi dida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, foi conferido o sacramento da Crisma a 43 jovens e adultos. Concelebrou o Padre Cássio Albério Pereira de Carvalho, Pároco. (por Márcia Elizabeth Gurgel Villegas)

A Congregação Nossa Senhora de Sion informa o falecimento, em 23 de outubro, da Irmã Giselda Quintiliano Rollemberg da Fonseca, mais conhecida como Irmã Gisa, aos 88 anos. Ela completaria 89 anos em 31 de outubro. Foram 63 anos de Vida Religiosa Consagrada de muito amor, de dicação e entrega ao Senhor. Irmã Gisa dedicou-se durante muitos anos ao diá logo ecumênico, inter-religioso e católi co-judaico. Ela também trabalhou na Casa da Reconciliação por 30 anos e atuou no Conselho de Fraternidade Cristã-Judaica de São Paulo por mais de três décadas.

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O SÃO PAULO

LAPA

Dom José Benedito participa do 20º retiro regional de catequistas

A equipe regional da Comissão de Animação Bíblico -Catequética realizou, em 22 de outubro, na Paróquia São José, no Jaguaré, Setor Butantã, o 20º retiro de catequistas da Região Lapa, com o tema “Quem faz a experiência de conviver com Jesus não consegue mais esquecê-lo”, que teve como iluminação bíblica o texto sobre os discípulos de Emaús, centrado no versículo “Não estava o nosso co ração ardendo quando ele falava pelo caminho, e nos ex plicava as Escrituras? (Lc 24,32)”.

O retiro foi iniciado com uma oração, conduzida por Dom José Benedito Cardoso. Em seguida, o Padre Geral do Raimundo Pereira, Assessor Eclesiástico regional para aquela Comissão, conduziu o evento, que contou com a participação de cerca de 80 pessoas, entre coordenadores de Catequese e catequistas das paróquias da Região.

O Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa destacou, em sua palestra, a importância do trabalho dos catequistas na formação dos catequizandos aos sacramen tos da Iniciação à Vida Cristã. O retiro foi concluído com uma missa por ele presidida.

FAMILIARES VISITAM SEMINARISTAS DO PROPEDÊUTICO – No sába do, 29 de outubro, o Seminário Propedêutico Nossa Senhora da Assunção promoveu a Festa das Famílias. Trata-se da ocasião em que se reúnem as famílias dos propedeutas para participar de uma missa, seguida de um almoço ou jantar de confraternização, para que conheçam o local de formação e residência dos seminaristas. A celebração euca rística foi presidida por Dom Carlos Silva, OFMCap., e concelebrada pelos Padres João Henrique Novo do Prado, Reitor do Seminário; Neil Charles Crombie, Vice-Reitor; e Luiz Claudio Vieira, Diretor Espiritual. Participaram também os nove seminaristas prope deutas e seus familiares e convidados. (por Gabriel Felipe, seminarista)

EDITAL DE CONVOCAÇÃO ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA ASSOCIAÇÃO DAS DAMAS DA CARIDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO

em 23 de Novembro de 2022, às 13h30, em primeira convocação, ou às 14h30, em segunda convocação seguinte ordem do dia:

Stephanie Fernandes do Carmo

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[IPIRANGA] No sábado, 29 de outubro, Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, Bispo Au xiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, conferiu o sacramento da Crisma a 14 jovens e adultos, durante missa por ele presidida na Paróquia São Francisco de Sales, Setor Cur sino. Concelebrou o Padre Sandro Degaraes, DC, Pároco. (por Pascom paroquial) [IPIRANGA] Dom Ângelo Ademir Mezzari, RCJ, presidiu missa na Paróquia Nossa Se nhora de Lourdes, Setor Vila Mariana, por ocasião do encerramento do Mês Missionário, no domingo, 30 de outubro. Concelebrou o Padre André Mariano, OMV, Pároco, com a assistência do Diácono José Mário Garcia Corral. (por Pascom paroquial) [LAPA] Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, pre sidiu missa no sábado, 29 de outubro, na Paróquia Santo Estevão Rei, na Vila Anastácio, Setor Leopoldina, durante a qual conferiu o sacramento da Crisma a 19 jovens e adultos. Concelebrou o Padre José de Assis Batista, Administrador Paroquial. (por Benigno Naveira) [LAPA] No sábado, 29 de outubro, na Capela Padre Basílio Moreau, do Colégio San ta Cruz, localizado no Alto de Pinheiros, 17 jovens e adultos receberam, pelas mãos de Dom José Benedito Cardoso, o sacramento da Con rmação, durante missa por ele pre sidida. Concelebrou o Padre Laudeni Ramos Barbosa, CSC, Administrador Paroquial da Paróquia São José, no Jaguaré. (por Benigno Naveira)
BENIGNO NAVEIRA COLABORADOR DE COMUNICAÇÃO NA REGIÃO
Osvaldo Reis Pascom paroquial
Pascom
paroquial Benigno Naveira Gabriel Felipe Pascom paroquial

[SÉ] Na quinta-feira, 27 de outubro, a Pa róquia São José, no Jardim Europa, Setor Jardins, recebeu Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, que presidiu a celebração eucarística durante a qual conferiu o sa cramento da Crisma a 57 jovens e adultos. Concelebraram Dom Oswaldo Francisco Paulino, O.PRAEM, Pároco, e o Padre Hugo Ramón Sánchez, O.PRAEM. (por Elaine Elias)

[IPIRANGA] Para comemorar os 62 anos de fundação da matriz paroquial Santa Cristina, Setor Cursino, foi celebrado um tríduo preparatório nos dias 27, 28 e 29 de outubro, e, no domingo, 30 de outubro, uma missa em ação de graças pela pre sença da Paróquia no bairro Parque Bris tol, presidida pelo Padre Rodrigo Felipe da Silva, Pároco. (por Pascom paroquial)

[SANTANA] No sábado, 29 de outubro, na Paróquia Santa Rosa de Lima, Setor Tre membé, Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, presidiu a missa durante a qual foi conferido o sacramento da Con rmação a dez jovens, com a assistência do Diácono Domenico Bruno. (por Lene Zuza)

Espiritualidade

Apalavra sínodo designa o “ca minhar juntos” da Igreja, isto é, fazer um caminho de co munhão, movido e orientado pelo o Espírito Santo; a nal, é do Espí rito que precisamos para que o respirar da Igreja seja sempre novo, libertador de todo fechamento e reanimador de tudo o que está morto. A espiritualidade, por sua vez, é a vida de comunhão com Cris to em Deus. São Paulo nos indica os lu gares em que se realiza a comunhão com Cristo: na Igreja, na oração e na caridade (cf. 1Cor 13,13). Por isso, a comunhão, mistério da Igreja, nos abre à plenitude interior da caridade, da graça e do com promisso para com o mundo contempo

râneo que clama por uma espiritualidade. Sendo assim, não há como existir sínodo sem espiritualidade, pois ele não é uma grande reunião com o intuito apenas de discutir problemas e estratégias, ou “um parlamento; a sinodalidade não é apenas a discussão de problemas, das diferentes coisas que estão na sociedade. Por isso, não pode haver sinodalidade sem o Espí rito, e não há Espírito sem oração” (Fran cisco, 2013). Dessa forma, sínodo se faz na oração e com oração; orar é, antes de tudo, escutar a Deus. Portanto, o sínodo é uma escuta que se propõe fazer-se como comunidade eclesial que escuta a voz do Espírito que fala nos irmãos, sobretudo por meio de suas esperanças e crises de fé, em suas urgências e anseios de reno vações locais.

A espiritualidade cristã é caracteri zada pelo seguimento de Jesus Cristo e marcada por uma experiência de encon tro, conversão, comunhão, discipulado e missão. A espiritualidade não é uma realidade de outro mundo, nem mes mo uma energia, mas uma vida guiada e plasmada pelo Espírito Santo que atua na história. Ela é a própria vida do su

jeito humano – individual e comunitário – que está inserido na comunidade dos crentes e busca se orientar para Deus por meio de Jesus Cristo, sob a ação do Es pírito Santo. Da mesma forma acontece com a sinodalidade, que tem no coração o impulso de caminhar junto com Cris to e escutar o Espírito Santo. O Espírito Santo, por sua vez, age sempre de forma criativa no mundo. Por isso, se quiser mos tocar, re etir e mudar nossa forma de ação eclesial, precisamos necessaria mente escutar o que o Espírito Santo diz à Igreja: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (cf. Ap 2,7).

A espiritualidade sinodal nos desper ta para a necessidade de escutarmos: isso signi ca que devemos respeitar o que o outro fala, fazendo o exercício de uma escuta ativa, isto é, uma escuta re exiva que desce da mente ao coração. Escutar nem sempre é fácil, mas é necessário, e a primeira escuta que devemos fazer é a escuta do Espírito.

O objetivo principal do sínodo é fa zer um discernimento espiritual e não apenas apresentar uma bela imagem de nós mesmos. O discernimento espiritual

proposto pela sinodalidade é um cami nho, um processo aberto, é saber para onde se vai. No discernimento espiritual, é Deus que nos faz conhecer a meta; é Ele que nos dá a ajuda para não parar mos e nos movermos sempre em direção àquilo que queremos atingir, ou seja, as fadigas e os anseios da humanidade. A espiritualidade sinodal no viés do dis cernimento signi ca, portanto, penetrar com profundidade a m de receber do Espírito o dom vivi cante de uma Igreja de olhos abertos a tudo e a todos. Se não levarmos em conta que o sínodo é cami nho de discernimento, caremos presos ainda àquelas grandes tentações de fa zermos do caminho sinodal uma espécie de “campo de batalha”, em que cada uma defende “sua bandeira”, isto é, seus pró prios ideais e projetos.

A Espiritualidade sinodal é, portanto, um caminho de discernimento espiritu al, e neste caminho é sempre o Senhor que nos faz conhecer, decidir e projetar caminhos para o futuro: um caminho centrado numa experiência de vida nova em Cristo, fonte e vigor de toda pastoral da Igreja.

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DOM CÍCERO ALVES DE FRANÇA BISPO AUXILIAR DA ARQUIDIOCESE NA REGIÃO BELÉM [BELÉM] No domingo, 30 de outubro, 20 jovens e adultos receberam o sacramento da Con rmação pelas mãos de Dom Cícero Alves de França, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Belém, na Paróquia Santa Cruz, Setor Vila Antonieta. Concelebraram os Padres Eduardo Bina, Pároco, e Kiyoharu Ojima, Vigário Paroquial. (por Fernando Arthur) [SANTANA] No sábado, 29 de outubro, na Paróquia Santíssima Trindade, Setor Casa Verde, 37 jovens e adultos receberam o sacramento da Crisma. A missa foi presidida por Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, e concelebrada pelo Padre Severino dos Ramos Lima Araújo, Administrador Paroquial. (por Simone Arruda)
Eliane Elias Pascom
regional
Lene Zuza
Hilton Felix Fernando Arthur

Padres novos participam de encontro anual com o Cardeal Scherer

Entre os dias 25 e 27 de outubro, na Vila Dom Bosco, em Campos do Jordão (SP), houve o encontro anual dos padres novos – aqueles com até oito anos de ministério sacerdotal – com Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano.

Com cerca de 40 participantes nesta edição, o encontro é uma oportunidade não somente de os padres rezarem e ce lebrarem conjuntamente, como também de estreitarem laços com o Cardeal e entre si, por meio da troca de ideias, do compartilhamento da situação das pa róquias e das iniciativas pastorais, bem como de se instruírem por meio das for mações e esclarecimento de dúvidas so bre os mais diversos assuntos.

A partir da recente carta apostólica do Papa Francisco, Desiderio desideravi, cujo objetivo é despertar em todo o povo de Deus, a começar pelos celebrantes, um maior interesse pela beleza da litur gia, Dom Odilo conduziu a formação aos padres, perpassando, ponto a ponto, todo o documento papal.

“O Papa Francisco nos recorda de que a liturgia é uma dimensão funda mental para a vida da Igreja e, como mi nistros ordenados, somos chamados à delidade à liturgia, a m de salvaguardar

a unidade e a uniformidade daquilo que é celebrado”, a rmou o Cardeal Scherer.

Dom Odilo salientou, também, a importância do Concílio Vaticano II, fri sando que não se pode rejeitar o que foi estabelecido naquela ocasião, sobretudo o que diz respeito à liturgia. Lembrou, ainda, que o Papa Francisco nos exorta a abandonar o rigorismo litúrgico, que acaba sendo motivo de divisão entre os éis, ferindo a unidade tão desejada por Cristo. “É preciso combater tal posicio namento e valorizar o que importa. Isso só se consegue por meio de formações li

túrgicas, tanto nas comunidades quanto para os sacerdotes”, enfatizou.

Destacou, ainda, a importância que precisa ser dada à homilia, que deve ser bem preparada, clara, concisa e se ater ao que apresentam as leituras bíbli cas previstas pela liturgia na ocasião de cada celebração. Lembrou, também, a importância de se preparar bem os éis para celebrar o nascimento de Cristo por meio da Novena de Natal.

O Arcebispo também mencionou detalhes a respeito da visita ad limina ao Papa, ocorrida no mês de setembro,

e que reuniu os bispos das províncias eclesiásticas de São Paulo, Sorocaba e Aparecida.

Houve também uma formação, con duzida por Dom Rogério Augusto das Neves, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé, que trouxe à discussão as pectos importantes sobre a realidade da paróquia e a gura do pároco, incluindo o vínculo que este deve ter com os éis e os requisitos para que um sacerdote as suma tal ofício, bem como suas atribui ções no serviço de santi car e governar os éis con ados ao seu pastoreio.

Por m, o Padre Zacarias José de Car valho Paiva, Procurador da Mitra Arqui diocesana, apresentou o Plano de Manu tenção da Arquidiocese de São Paulo. Este documento contém as normas que dizem respeito à organização administrativa ge ral da Arquidiocese e aos bens da Igreja, formação do clero, sustento e previdência dos ministros eclesiásticos e à promoção da ação evangelizadora da Igreja. Diante das mais diversas situações concretas que se apresentam em cada paróquia, os pa dres puderam fazer perguntas e esclare cer suas dúvidas, notadamente no que diz respeito a aspectos administrativo- nan ceiros da vida paroquial.

O encontro de 2023 está agendado para acontecer de 17 a 19 de outubro, em local ainda a ser de nido.

Inaugurada a capela da sede da Fundação São Paulo

Foi inaugurada na terça-feira, dia 1º, a capela privada da sede da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e do Centro Universitá rio Assunção (Unifai).

O evento foi marcado por uma missa presidida pelo Padre José Rodolpho Pe razzolo, Secretário-executivo da Fundasp e Procurador da Mitra Arquidiocesana, e contou com a participação de funcioná rios, colaboradores, professores e repre sentantes das instituições mantidas.

A capela, no 7º andar do edifício lo calizado no bairro de Perdizes, foi conce bida a partir da inspiração e idealização da procuradora da Fundasp, Ana Paula de Albuquerque Grillo, e elmente exe cutada pela arquiteta Ana Maria Eder e sua equipe. Tem como sua padroeira, Sant’Ana Mestra, representada por uma imagem sacra entalhada em madeira, datada do século XIX.

SÍMBOLOS

O altar é feito em mármore traverti no navona, com as pontas entalhadas em cruz, no qual foi depositada uma relíquia de Santa Dulce dos Pobres. Sobre o altar, está uma cruz vinda do espólio do Car

A capela conta, ainda, com o sa crário de madeira maciça, em imbuia, com uma cruz entalhada em dourado e com uma lamparina em vidro e fer ro, cuja chama destaca a presença de Jesus sacramentado. Ambas as peças

O Secretário-executivo explicou que a capela tem o objetivo de ser um lugar reservado à oração, espiritualida de e re exão daqueles que trabalham na Fundasp, reforçando a identidade e os valores que regem a instituição. “Este é um espaço para a transcendência dian te da nossa constante imanência”, disse o Sacerdote, acrescentando que o cul

tivo da espiritualidade faz com que os trabalhos cotidianos e serviços realiza dos pela instituição tenham um signi cado especial

Por ser uma capela privada, seu aces so é reservado a funcionários e colabo radores da Fundasp, que poderão fre quentá-la para a oração pessoal e atos de piedade, além da participação periódica das missas, que, a princípio, serão cele bradas uma vez por semana.

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Arquivo pessoal deal Cláudio Hummes, 6º Arcebispo de São Paulo, falecido em julho passado. Trata-se de um cruci xo feito com restos de armamentos da 2ª Guerra Mundial, vindos da cidade italiana de Pistoia. foram confeccionadas por Eduardo Carrara. Fernando Geronazzo Padre José Rodolpho Perazzolo preside missa de inauguração da capela privada da sede da Fundação São Paulo (Fundasp), na terça-feira, dia 1º

Igreja no Brasil oferece subsídio para a celebração do Dia Mundial dos Pobres

A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da Conferên cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em conjunto com as pastorais sociais e ou tros organismos da Igreja, oferece um sub sídio para a celebração do VI Dia Mun dial dos Pobres, que ocorrerá em 13 de novembro. A data foi instituída pelo Papa Francisco em 20 de novembro de 2016, na conclusão do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia.

Um caderno formativo foi elaborado, trazendo re exões teológicas e aprofun damentos sobre a realidade da pobreza no Brasil. A íntegra pode ser acessada pelo link a seguir: https://cutt.ly/4NU1hJK

“Esperamos animar as comunidades da Igreja do Brasil para atuarem no ges to concreto com os mutirões para arreca dação e doação de alimentos como ação emergencial. Mas também é fundamental que as comunidades assumam compro missos concretos de incidência política para que as políticas públicas de segurança e soberania alimentar sejam implemen tadas de fato no País”, escreveu, na intro dução do subsídio, Dom José Valdeci dos Santos Mendes, Bispo da Diocese de Brejo (MA) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora. Para a mensagem do Dia Mundial dos

Pobres deste ano, o Papa Francisco parte do versículo bíblico “Jesus Cristo fez-se pobre por vós” (cf. 2Cor 8,9) para convidar todas as pessoas a re itir sobre o próprio estilo de vida e os líderes políticos a pen sar em ações efetivas diante das inúmeras pobrezas atuais. “A pobreza que mata é a miséria, lha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos

recursos”, escreve o Pontí ce, em um dos trechos da mensagem.

O tema escolhido pela Igreja no Brasil para animar esta VI Jornada é “Dai-lhes vós mesmos de comer!”, em consonância com a Campanha da Fraternidade 2023, que traz o tema “Fraternidade e fome”.

No subsídio, é lembrado que, embora a América Latina e o Caribe estejam entre

‘O exercício da cidadania não se esgota com o fim do processo eleitoral’

Concluídas as eleições gerais de 2022, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota, na segunda-feira, 31 de outubro, ressal tando o caminho a ser trilhado por todos os brasileiros: acompanhar, exigir e scalizar aqueles que alcança ram êxito nas urnas, uma vez que “o exercício da cida

dania não se esgota com o m do processo eleitoral”.

No texto, a CNBB cumprimenta os candidatos eleitos deputados, senadores, governadores e presidente da Re pública, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) “por sua atuação no zelo de todo o processo democrático”.

Por m, os bispos expressam o desejo que os brasi

Caminhoneiros que contestam o resultado da eleição presidencial bloqueiam rodovias

Após a divulgação do resultado da eleição presidencial, no domingo, 30 de outubro, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), por diferença de 2,1 milhões de votos (leia mais detalhes na página 12), caminhonei ros que apoiam o atual presidente passa ram a bloquear estradas em diferentes partes do Brasil.

Até o começo da tarde da terça-fei ra, dia 1o, eram 267 rodovias federais bloqueadas, em mais de 20 estados e no Distrito Federal, algo que prejudica o transporte urbano de pessoas e o in termunicipal e interestadual de cargas, além de provocar atrasos e cancelamen tos de viagens aéreas e terrestres. Tam bém houve bloqueios em vias importan

tes de grandes cidades, como a marginal Tietê, em São Paulo.

Na noite da segunda-feira, 31 de ou tubro, a Confederação Nacional dos Tra balhadores em Transportes e Logística (CNTTL) publicou uma nota de repúdio aos protestos: “Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminho neiros autônomos de não aceitação do re sultado das urnas”.

Na terça-feira, agentes da Polícia Ro doviária Federal (PRF), das polícias mi litares e da Força Nacional de Segurança intensi caram ações para viabilizar os desbloqueios, após a maioria dos minis tros do Supremo Tribunal Federal (STF) rati car a decisão do ministro Alexandre

os maiores exportadores de alimentos do planeta, neste momento há 56,5 milhões de latino-americanos e caribenhos que passam fome, e 268 milhões de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

leiros “possam caminhar unidos para a construção da política melhor, aquela que está a serviço do bem co mum, conforme de ne o nosso amado Papa Francis co”, e rogam à materna intercessão de Nossa Senhora Aparecida pelo País. (DG)

de Moraes, tomada no dia anterior, deter minando que tanto a PRF quanto as po lícias militares “tomem todas as medidas necessárias e su cientes” para a “imedia ta desobstrução de todas as vias públicas que, ilicitamente, estejam com seu trânsi to interrompido”.

Moraes atendeu ao pedido da Confe deração Nacional do Transporte (CNT), que alegou inclusive risco de desabaste cimento em algumas cadeias industriais. O magistrado também determinou mul ta de R$ 100 mil por hora ao diretor-ge ral da PRF, Silvinei Vasques, pela omis são do órgão, até então, em desobstruir as vias. O ministro estipulou multa de R$ 100 mil por hora também a donos de ca minhões que estejam sendo usados em

bloqueios, obstruções ou interrupções. Em coletiva de imprensa, no dia 1o, o diretor-executivo da PRF, Marco Antô nio Territo, disse que a operação de de sobstrução é complexa. “Temos pontos com até 500 manifestantes, carretas pa radas, crianças de colo”, argumentou. “A PRF tem que agir com parcimônia com nossos parceiros de segurança pública. E, com o passar do tempo, a gente tenta outras medidas. Até com a disponibili zação da força de choque. Mas a gente deixa isso por último. A [greve dos ca minhoneiros] de 2018 durou quase uma semana, estamos no segundo dia, a gen te está usando todos os meios possíveis”, prosseguiu. (DG)

10 | Pelo Brasil | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
Fontes:AgênciaBrasil,G1ePRF.
Fonte: CNBB
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Fonte: CNBB
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em meio à cultura do descarte

O uso racional dos recursos naturais tem sido uma preocupação constante dos que se dedicam ao meio ambien te e também da Igreja. Já em 1979, na encíclica Redemptor hominis, São João Paulo II alertava que o homem “pa rece muitas vezes não se dar conta de outros signi cados do seu ambiente natural, para além daqueles somente que servem para os ns de um uso ou consumo imediatos” (RH, 15).

Mais recentemente, na encíclica Laudato si’, publicada em 2015, o Papa Francisco enfatizou os impactos noci vos dos resíduos jogados como lixo no ambiente, sendo este comportamento uma expressão daquilo que o Pontí ce chama de cultura do descarte. Ele aponta que o sistema industrial, no nal do ciclo de produção e consumo, “não desenvolveu a capacidade de ab sorver e reutilizar resíduos e dejetos” (LS, 22) e que há uma “lógica do ‘usa e joga fora’ que produz tantos resíduos, só pelo desejo desordenado de con sumir mais do que realmente se tem necessidade”. (123).

O Pontí ce também destaca o pa pel da educação para a responsabilida de ambiental e o incentivo a comporta mentos que ajudem a “evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar ape nas aquilo que razoavelmente se pode rá comer” (LS, 211).

O jornal O SÃO PAULO publica a 1a edição do caderno “Ecologia”, que, inicialmente, trará uma série de repor tagens sobre a problemática do lixo. Os desa os e as oportunidades para a prá tica da reciclagem são o primeiro tema abordado.

UM PAÍS QUE RECICLA POUCOS RESÍDUOS

A cada ano, cerca de 82,5 milhões de toneladas de resíduos são produ zidas no Brasil, tendo como destino principal o lixo, já que apenas 2,1% deste montante é reciclado, conforme dados do Sistema Nacional de Infor mações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (Sinir), do Ministério do Meio Ambiente.

Em relação ao lixo seco, o percentu al reciclado é de 3%, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos 2021, elaborado pela Associação Brasilei ra de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O do cumento informa, ainda, que 26% das cidades brasileiras não têm qualquer iniciativa de coleta seletiva.

“Em pesquisas, 75% das pessoas têm declarado que não separam reciclá veis, o que já indica uma falta de cons

ciência sobre o tema. O poder público e a iniciativa privada têm a responsa bilidade de criar fórmulas e modelos para incentivá-las à prática de recicla gem”, avalia Rodrigo Oliveira, CEO da Green Mining, empresa que atua no ramo de logística reversa de resíduos.

Oliveira ressalta que as estratégias devem ir além do apelo à consciência ambiental, e permitir um efetivo retor no nanceiro a quem recicla: “Sempre vejo o descarte como a imagem de al guém jogando uma moeda de R$ 1 no lixo. Não faz sentido, pois é um recurso que já foi extraído da natureza, trans formado e que ainda tem valor. Tanto o produto quanto a embalagem per tencem a quem comprou, e essa pessoa tem o ônus do que fazer com eles, mas também pode ter o bônus”.

Para Rubens Lyra, engenheiro ambiental e coordenador do Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem (Recifran), a grande quantidade de itens jogados no lixo, especialmente no caso dos eletrônicos, tem como uma das razões a obsolescência programa da, ou seja, o apelo dos fabricantes para a aquisição de versões mais modernas de um produto, ainda que aquele que o consumidor já tenha adquirido esteja em boas condições.

“Um produto que a pessoa já possui há três anos, quando surge algo mais novo na indústria, esse consumidor vai, compra e descarta o antigo. Tam bém há um pensamento de que talvez não valha a pena pagar para fazer o conserto de algo com defeito e que de mandaria uma simples manutenção. A maioria das pessoas simplesmente des carta esse material e não busca saber se há um local especí co para o correto descarte”, comenta Lyra.

COMO MUDAR ESTE PANORAMA?

A melhor destinação dos resíduos no Brasil tem sido alvo de constantes re exões e marcos legais. Em 2010, foi instituída a Política Nacional de Resí duos Sólidos (PNRS) – lei 12.305/2010 – e mais recentemente, em abril deste ano, o Plano Nacional de Resíduos Só lidos (Planares) – decreto 11.043/2022 – que traz entre suas metas que o per centual de reciclagem em todo o País chegue próximo a 14% em 2024 e a 48% em 2040.

Oliveira acredita que alcançar tais metas não é impossível, desde que as empresas efetivamente realizem a lo gística reversa, devendo haver scali zação e sanções para as que não cum prirem a lei. Ele também cita como positivo o decreto 11.044/2022, que preconiza a comprovação de que uma empresa fez a restituição, em massa, de produtos e embalagens ao ciclo produ tivo, bem como se tem adotado medi das para a não geração e redução de resíduos sólidos.

“O decreto é muito bom, pois permitirá olhar cada vez mais de perto os recicláveis e só vai valer o que realmente chega nas usinas de reciclagem. Por que, até então, se considerava logística reversa quando o gerador do resíduo vendia para ou trem, e este para outro, acumulando um monte de nota scal. Isso agora não vale mais”, explica Oliveira.

Para Lyra, cobrar responsabilidades de todos os envolvidos na cadeia de produção é o melhor caminho. “Não se deve focar a responsabilidade ape nas no consumidor nal. Na geração de resíduos plásticos, por exemplo, 50% é no pós-uso pelo consumidor doméstico, e a outra metade é anterior

ao consumo. Há muita embalagem que seria desnecessária. Por exemplo: ter uma fruta descascada embalada é algo tão necessário? Mas se tira a casca para facilitar o consumo, por questão de praticidade”, lamenta.

Oliveira lembra que a PNRS, em seu artigo 9o, apresenta uma hierar quia para a gestão de resíduos. “O primeiro item é não gerar. Depois, se fala em reutilizar. Para a reutilização, o trabalho com as tecnologias que já existem de rastreabilidade, de retor no, tornará o processo mais vantajo so, para não se fazer embalagem para ser jogada fora. Pensa-se em emba lagens contínuas, que podem ser de reúso, como as garrafas de cerveja, por exemplo, que são retornáveis e podem ser lavadas cerca de 24 vezes. Portanto, na hierarquia, a não geração e o reúso vêm antes da reciclagem. Hoje, porém, a maior parte dos gastos estão em coleta e destinação, ou seja, coleta de lixo e aterro sanitário, e não se gasta quase nada para não gerar o resíduo ou fazer o retornável”, analisa.

Uma outra esperança para o au mento da cultura da reciclagem no Brasil é a Lei de Incentivos à Recicla gem (14.260/2021), que, entre outras medidas, permite que pessoas físicas e jurídicas, por meio de deduções no Imposto de Renda, apoiem a recicla gem, colaborando com a compra de veículos e equipamentos para tal m, com a construção de postos de entre ga voluntária de resíduos e centrais de separação de recicláveis, bem como no suporte à capacitação pro ssional de cooperativas de catadores e o de senvolvimento de tecnologias volta das à coleta de materiais reutilizáveis e recicláveis.

Edição 01 2 de novembro de 2022
Luciney Martins/O SÃO PAULO

Itensqueparamuitaspessoasnãosãonadamaisdoquelixo,ouseja,têmcomodestinoodescarte,paramuitossetornamuma oportunidadedenegócioechanceparaumavidamaisdignapormeiodotrabalho.Éoqueareportagemdo O SÃO PAULO constatou emdoisprojetosdereciclagemdeinstituiçõescatólicaseemumaempresaqueatuanoramodelogísticareversaderesíduos

Reciclázaro: uma iniciativa voltada à dignidade humana e ao meio ambiente

O descarte impensado de resídu os causa prejuízo ao ser humano e ao meio ambiente como um todo, a nossa Casa Comum. Atenta a essa realidade, a Associação Recicláza ro, fundada em 1997, contempla em suas ações o projeto Coleta Seletiva, pelo qual os materiais recolhidos em prédios, escolas, igrejas e empresas são classi cados e repassados às co operativas parceiras para que sejam comercializados, tornando-se, assim, fonte de renda para os associados da Cooperativa Vitória do Belém, no Belenzinho, na zona Leste.

A obra é uma iniciativa do Padre José Carlos Spínola, que via em frente à Paróquia São João Maria Vianney, na Água Branca, onde era Pároco, o crescente aumento de pessoas em si tuação de rua e a exploração do tra balho daqueles que recolhiam mate riais recicláveis para sobreviver.

OLHAR PARA O MEIO AMBIENTE E O SER HUMANO

O nome Reciclázaro forma-se da conjugação do verbo reciclar com o substantivo Lázaro. Assim, a missão do projeto é reciclar materiais, mas, fundamentalmente, “reciclar” o ser humano. Por isso, há o empenho em preservar a natureza, reciclar vidas e reduzir a violência, a m de promover em seus centros a mudança e a trans formação por meio de atividades so cioeducativas, construindo oportuni dades e alternativas para a reinserção das pessoas no mercado de trabalho e a preservação do meio ambiente.

“Queremos restituir a dignidade humana às pessoas carentes, ofere cendo uma forma digna de trabalho e, também, atividades socioeduca tivas”, a rmou o idealizador, desta cando que a Reciclázaro busca trans formar o que é jogado no lixo e o ser

humano: “A lata volta a ser lata e a pessoa volta a ser gente por meio do resgate e reinserção ao mercado de trabalho”, salienta o Padre José Carlos.

AÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

Atualmente, a Reciclázaro desenvolve programas e pro jetos vinculados à reintegração por meio de diversas ações: Centro de Acolhida Especial para Idosos – Casa de Simeão; Centro de Acolhida e Inserção

Produtiva – Casa São Lázaro; Centro de Acolhida Especial para Mulheres – Casa de Marta e Maria; Centro de Formação Pro ssional e Educação Ambiental (Cefopea); Programa de Intervenção Comunitária; Programa de Coleta Seletiva e Geração de Ren da (Cooperativa Vitória de Belém).

Camille Carletti, 48, assistente so cial e coordenadora de projetos da Reciclázaro, frisou que os programas e as unidades são de passagem, para que o acolhido encontre sua autono mia: “Trata-se de uma ideia que gera bons resultados e proporciona, com pequenos gestos, a garantia dos direi tos à dignidade de inúmeras pessoas agregadas e atendidas pela Associa ção”, a rma.

As linhas diretivas desenvolvi das pelas unidades e programas do projeto são de integração ao sistema educativo, a inclusão no mercado de trabalho formal, a criação de alterna tivas de geração de emprego e renda adaptáveis à realidade da pessoa, a

A INCIDÊNCIA DA RECICLAGEM

orientação para o acesso à Previdên cia Social, o cuidado da saúde física, psicológica e emocional e o apoio na retomada dos vínculos familiares e comunitários.

COLETA SELETIVA

O Projeto Coleta Seletiva, por meio da Cooperativa Vitória de Be lém, recebe por mês uma média de 18 a 20 toneladas de recicláveis para triagem. Assim, em torno de 240 to neladas, por ano, são retiradas do meio ambiente e recebem o destino correto.

Juliana da Silva, 38, é a coordena dora da cooperativa. Ela enfatiza que o projeto é construído nos moldes sustentáveis da cidade, que realiza a captação, triagem e prensagem de re síduos sólidos urbanos, como papel, plástico, vidro, metais, eletrônicos e óleo de cozinha usado.

No espaço são oferecidas visitas monitoradas para conscientizar so bre o descarte adequado do lixo, o

processo de retorno dos resíduos e a importância desta atividade para ge ração de emprego e renda.

“Atuo na Vitória de Belém desde sua fundação, em 2013. No momen to, somos 16 cooperados atuando diretamente de forma sustentável e promovendo, com a coleta e tria gem, impactos positivos na preser vação do meio ambiente”, diz, evi denciando que as ações realizadas têm como principal viés a redução do desperdício de itens passíveis de reciclagem, amenização da poluição do solo, da água e do ar; e que aju dam a prolongar a vida útil dos ater ros sanitários.

A coordenadora ressaltou que ao lado da cooperativa há um biodiges tor responsável pela primeira etapa do tratamento de esgoto, que fortale ce a recuperação do ecossistema na tural; um sistema de energia fotovol taica, para transformar energia solar em elétrica; e um sistema de aquapo nia urbana, que associa a criação de

peixes ao cultivo de plantas e à horta urbana.

1.000 kg de vidro reciclado = 1.300 kg de areia extraída poupada; 1.000 kg de alumínio reciclado = 5.000 kg de minérios extraídos poupados;

1.000 kg de plástico reciclado = milhares de litros de petróleo poupados;

Uma única latinha de alumínio reciclada economiza energia sufi ciente para manter um aparelho de televisão ligado durante 3 horas; 1 tonelada de papel reciclado economiza 98 mil litros de água, 2.500 kWh de energia e 50 árvores.

Fonte: Associação Reciclázaro

“A cooperativa é a minha fonte de renda. Daqui levo co mida para dentro de casa, pago as contas de água, luz e aluguel”, conta Luis de Paula, 65, assegu rando que “o dinheiro contri bui para as despesas mensais, mas ajudar a cuidar do planeta é minha maior alegria”.

Detalhes sobre a Associação Reciclázaro podem ser vistos em: www.reciclazaro.org.br

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Reciclagem, atenção às pessoas e oportunidade de negócios
Associação Reciclázaro Projeto Coleta Seletiva, da Associação Reciclázaro, proporciona fonte de renda para associados da Cooperativa Vitória do Belém, na zona Leste

No Recifran, a preocupação ambiental e a restauração de vidas caminham lado a lado

Integrar as pessoas em situação de rua ao mercado de trabalho, ajudar que se libertem de vícios e que refaçam laços familiares são alguns dos objetivos do Serviço Franciscano de Apoio à Reci clagem (Recifran), criado na década de 2000, e instalado no bairro do Glicério, na região central da capital paulista.

Atualmente, o Recifran atende en tre 40 e 50 pessoas em seu centro de acolhida temporário. Além do traba lho com a separação de recicláveis, elas contam com serviços de assistência so cial e saúde.

Após participar de uma capacita ção inicial, com duração de cinco dias, o acolhido pode ingressar na atividade e participar de formações sobre o tema da reciclagem e a comercialização de itens passíveis de ser reciclados.

“O objetivo nal é reorganizar a vida das pessoas. Há um acompanha mento individualizado, e buscamos por vagas de trabalho para elas não só em reciclagem, mas em outros ramos. Quase todo mês, indicamos pessoas para virarem cooperadas em coope rativas com as quais temos contatos”, explica Rubens Lyra, engenheiro am biental e coordenador do Recifran.

No geral, o tempo de permanên cia no projeto é de 6 meses a um ano,

período em que as pessoas, a partir da renda obtida com a venda de reci cláveis, já conseguem alugar um local para morar ou obter um emprego xo, não voltando, portanto, à vida nas ruas.

MATERIAIS RECEBIDOS

Atualmente, o Recifran faz o pro cesso de reciclagem dos resíduos que recebe do Instituto Muda, o qual pro move práticas sustentáveis em condo mínios residenciais de São Paulo, cole tando cerca de 350 toneladas mensais recicláveis.

“O Instituto doa esse material para as cooperativas. Eles próprios fazem a separação dos itens nos condomínios, associado a um processo de educação ambiental com os moradores. Desse modo, o que recebemos aqui é um ma terial de boa qualidade, que não vem muito contaminado. Um papel cheio de óleo, por exemplo, é o que chama mos de um item contaminado, pois não dá para reciclar”, detalha Lyra, ex plicando o quanto essa triagem interfe re na qualidade do reciclável.

“Hoje, de maneira geral, o muni cípio faz a coleta nos bairros, mas, an tes, não promove uma boa campanha sobre como realizar o descarte desses materiais. Além disso, mesmo quan do o caminhão recolhe plástico, papel e papelão que estejam separados, tudo acaba sendo misturado para compac

tar e, assim, este material já chega com pouca qualidade para a reciclagem”, prossegue o coordenador do projeto.

A cada mês, o Recifran recebe cerca de 20 toneladas de resíduos, mas como cerca de 20% é de rejeito, são comercia lizadas, em média, 16 toneladas men sais de recicláveis. A maior quantidade de itens é de embalagens, mas even tualmente chegam eletrônicos, que o Recifran comercializa com outras em presas que reciclam tais itens. Também não é incomum que entre os resíduos estejam lâmpadas uorescentes, pilhas, toner de impressoras e materiais hospi talares, que deveriam ser descartados em locais especí cos.

Lyra vê com certa preocupação o futuro de oportunidades de emprego para os catadores diante das políticas

de logística reversa que preveem que todo o processo seja controlado pelo próprio gerador do resíduo.

“Do ponto de vista ambiental, isso pode trazer bons resultados e até dimi nuir os custos, mas há o risco de que se descarte as pessoas que estão na base deste processo de reciclagem, como os catadores”, pondera, lembrando, ainda, que se for tentar comercializar indivi dualmente o que coletou, o catador re ceberá muito pouco, pois os intermedi ários do processo, como os sucateiros, também buscam lucrar com o resíduo que será revendido à indústria. Assim, acrescenta Lyra, é fundamental o papel das cooperativas, para que os catadores recebam mais pelo reciclável.

Conheça detalhes do Recifran no site www.sefras.org.br/nosso-trabalho

Green Mining: logística reversa inteligente e inclusão social

que realizemos uma coleta sem custo algum, já que somos contratados pelas indústrias”, detalha Oliveira.

Durante o auge da pandemia de COVID-19, com o fechamento dos estabelecimentos comerciais, a Green Mining passou a oferecer seus servi ços para condomínios, que chegaram a perfazer 75% do volume de recicláveis coletados pela empresa.

valor real, o que chamamos de valor justo, que é pago a todo aquele que en trega um quilo de material reciclável na nossa estação”, detalha Oliveira.

Com atividades em seis estados, in cluindo São Paulo, onde opera na ca pital paulista, em Embu das Artes, Ca rapicuíba e Ilhabela, a Green Mining é uma startup de logística reversa inteli gente, com foco em reaver embalagens descartadas pós-consumo para que sejam devolvidas ao ciclo de produção. “Buscamos trazer e ciência a esse processo de logística reversa de emba lagens, pois hoje o formato de como é feito no Brasil é ine ciente, seja em relação à separação e logística, seja no que se refere a quem está à frente des sas operações. A grande consequência disso é que no Brasil se recicla muito pouco, apenas 2,1% de tudo que é gerado de resíduo”, comenta Rodri

A startup tem atuação especial no mercado B2B, ou seja, de empresa para empresa, voltado para a gestão de recicláveis em bares, restaurantes, hotéis e padarias, estabelecimentos que, na cidade de São Paulo, por gera rem mais de 200 litros de lixo por dia, são considerados Grandes Geradores de Resíduos Sólidos e, conforme de termina a lei municipal 13.478/2002, têm a obrigação pela coleta, transpor te, tratamento e destinação nal des tes resíduos.

“Nós analisamos a venda que a in dústria faz para estes estabelecimentos. Depois, vamos até eles e pedimos que façam a separação dos materiais, para

Atualmente, a maioria dos resí duos recolhidos, considerando todas as unidades de atuação da startup no Brasil, são vidro, plástico e papel car tão. Grande parte dos colaboradores da Green Mining é de ex-catadores de resíduos, que recebem por serviço rea lizado e não por quilo coletado, como é o padrão do mercado.

ESTAÇÃO PREÇO DE FÁBRICA

Em novembro de 2021, a Green Mining iniciou o projeto “Estação Pre ço de Fábrica”, cuja meta principal é re munerar a quem entrega o resíduo re ciclável direto no contêiner de coleta o valor integral que é pago pela indústria.

“Na Estação Preço de Fábrica, o dono da marca custeia a operação e a logística para que o material chegue na porta de uma usina de reciclagem, e assim, esse material é vendido em seu

O CEO da Green Mining destaca que mais de 80% das pessoas que en tregam os materiais na estação são ca tadores e carroceiros. Ele cita o exem plo de uma catadora de Carapicuíba que recebia, em média, R$ 0,06 pelo quilo do vidro coletado, enquanto na Estação Preço de Fábrica recebe entre R$ 0,42 e R$ 0,62. “Naturalmente, isso incentivou o aumento dessa coleta e o pedido dos catadores para que as co munidades comecem a separar vidro, algo que antes não era muito coletado. Hoje, na maior parte dos lugares, o ca tador ca com 20% a 25% do valor do material, e o que nós zemos foi co locar uma operação que permita a ele car com praticamente 100% do valor que é pago pela indústria”, detalha.

Em 19 de outubro foi inaugurada uma segunda estação em Embu das Artes, na fábrica da Ibema, empre sa que recicla papelão e papel cartão. O local também recebe vidros para reciclagem.

Conheça mais sobre a Green Mi ning em https://greenmining.com.br (DG)

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go Oliveira, CEO da Green Mining. Recifran
Grenn Mining/Divulgação
Por mês, Recifran comercializa 16 toneladas de resíduos recicláveis, especialmente embalagens Unidade da Estação Preço de Fábrica recém-inaugurada pela Green Mining em Embu das Artes (SP)

Prefeitura diz estimular a coleta seletiva

Diariamente na cidade de São Paulo, 12 mil toneladas de resíduos domici liares são gerados, mas a minoria desse montante é reciclado. Em setembro, por exemplo, das 260 mil toneladas de coleta domiciliar, apenas 5,1 mil tone ladas tiveram como destino a coleta seletiva.

“Isso não signi ca que apenas esse total foi para a reciclagem, pois há toda uma coleta feita pelo comércio e pelas cooperativas que não entram no nosso sistema, além dos clandestinos”, detalhou, ao O SÃO PAULO, Mauro Haddad Nieri, gerente de saneamento ambiental da SP Regula, agência da Prefeitura de São Paulo responsável pela regulação e scalização de servi ços de coleta de lixo na cidade.

Em 2020, primeiro ano da pan demia, quando boa parte das pessoas permaneceu em isolamento social, a coleta de recicláveis na cidade teve alta de 17,4% em relação a 2019.

O gerente da SP Regula a rma que tem havido uma ampla divulgação sobre o serviço nas redes sociais, bem como nas escolas. Lembra, ainda, que nas redes sociais, YouTube e site Reci cla Sampa há explicações sobre como separar os resíduos, onde estão os pon tos de descarte de resíduos especiais e outros detalhes.

ecopontos, locais onde as pessoas podem fazer a entrega voluntária e gratuita de pequenos volumes de en tulho (até 1 m³), de grandes objetos (como móveis e poda de árvores) e resíduos recicláveis. O funcionamen to é de segunda-feira a sábado, das 6h às 22h, e aos domingos e feriados, das 6h às 18h.

COMBATE A PONTOS VICIADOS DE DESCARTE

Um levantamento divulgado em ja neiro pela SP Regula indicou que exis tem 1,4 mil pontos viciados de descarte de lixo na cidade. Em 2016, eram cerca de 4 mil.

“No começo da pandemia, as pes soas estavam em casa, houve a ex pansão das compras on-line, delivery de alimentos, e isso gerou um grande aumento de recicláveis. Com a volta da rotina de atividade externas para mui tas pessoas, esse volume de recicláveis coletados diminuiu. Ao mesmo tempo, aumentou o número daqueles que co mercializam estes materiais, pois mui tos com o seu próprio carrinho entram na rota da coleta seletiva e recolhem o material para poder vender”, explica Nieri.

LOGÍSTICA

De acordo com a SP Regula, a coleta domiciliar seletiva ocorre nos 96 distritos de São Paulo, atendendo 76% das vias da cidade. O serviço é

Os recicláveis coletados nas re sidências são destinados priorita riamente às 25 cooperativas de re ciclagem habilitadas no Programa Socioambiental de Coleta Seletiva da Prefeitura, as quais cam com 100% do lucro das vendas dos materiais, gerando renda para cerca de 940 fa mílias de cooperados. Os materiais também são enviados para as duas centrais mecanizadas de triagem, ope radas pela cooperativa Coopercaps, onde passam pelo processo de tria gem, prensagem, pesagem e depois são comercializados pela cooperativa por meio de um leilão eletrônico.

ECOPONTOS E O DESCARTE DE ITENS ESPECÍFICOS

A Prefeitura mantém cerca de 120

FAÇA A SUA PARTE!

Destaque-se que o descarte de ma teriais como óleo de cozinha, pilhas, lmes de raios-x e remédios não deve ser feito no lixo domiciliar nem enca minhado aos ecopontos. No site Reci cla Sampa há o endereço dos locais es pecí cos onde estes materiais podem ser descartados.

Além disso, a Prefeitura e outros órgãos públicos recorrentemente fazem campanhas pontuais para o recolhimento desses materiais. Até 18 de novembro, por exemplo, estão montados pontos para o descarte de lixo eletrônico e pilhas no Metrô, nas estações Jabaquara e Tucuruvi (Linha 1), Palmeiras-Barra Funda, Sé, República e Tatuapé (Linha 3), Vila Prudente, Paraíso e Clínicas (Linha 2) e São Mateus (Linha 15).

esse monitoramento e a repres são a quem descarta irregular mente.

Nieri explica que há duas razões principais para que ainda existam tais locais. “Quando o munícipe coloca para fora de casa o lixo, há catadores clandestinos que reviram os sacos e acabam espalhando os resíduos e des cartando o resto nos pontos viciados. E existem os locais que se tornaram pontos viciados para o descarte de grandes volumosos, como sofás, por exemplo. As empresas da varrição têm metas semanais de recuperação desses pontos, o que inclui revitaliza ções, comunicação do entorno, expli cação de como fazer a coleta seletiva, os horários que passam os caminhões e quais os ecopontos mais próximos. Além disso, scais da SP Regula e das subprefeituras fazem a scalização deste descarte irregular”, assegura, dizendo, ainda, que a Prefeitura tem investido em tecnologias para realizar executado pelas concessionárias Loga e Ecourbis. Os caminhões passam em dias e horários es pecí cos nos bairros, mas não é incomum encontrar moradores que dizem desconhecer o dia da coleta seletiva.

“As empresas que fazem a coleta têm a obrigação de fazer essa divulgação e a conscienti zação ambiental. Além disso, no site da Prefeitura e no site Recicla Sampa, nós concentra mos essa informação detalha da sobre o dia, hora e minuto que o caminhão vai passar. De fato, recebemos reclamações de pessoas que não sabem o dia da passagem do caminhão, mas lembro que como essa informa ção está disponível na internet, muitas vezes os catadores clan destinos passam no local minu tos antes e fazem a recolha do material de melhor qualidade”, pondera Nieri.

1) Em casa ou no trabalho, separe o que é lixo comum do que é resí duo reciclável;

2) Antes de colocar algum item nos recicláveis, faça uma mínima limpe za: retire sobras de comida e de líquidos que estejam no reciclável;

3) O material que vai para o reciclável precisa estar seco. Um papel com óleo, por exemplo, não deve ir para os recicláveis, pois ele não será aproveitado e ainda poderá “contaminar” os demais, ou seja, sujar itens que estavam em boas condições para a reciclagem;

4) Sempre que possível, compacte o item a ser reciclado para econo mizar o espaço e facilitar o transporte. Assim, amasse as latinhas, tire o ar das garrafas plásticas, desmonte e dobre as embalagens Tetra Pak e os papéis;

5) Não contrate serviços clandestinos para o descarte de grandes vo lumes. Leve-os aos ecopontos. A lista de endereços pode ser vista neste link: https://cutt.ly/pNtDhnI;

6) Resíduos de saúde, pilhas, baterias, remédios, óleo de cozinha, roupas, lâmpadas e eletrônicos não devem ser colocados junto com os recicláveis. Veja os locais específicos onde descartá-los: https://www.reciclasampa.com.br/aprenda-a-reciclar;

7) Ainda resta alguma dúvida sobre como fazer a coleta seletiva? Acesse: https://www.reciclasampa.com.br

“Notadamente, não é o mora dor próximo dos pontos viciados que joga os resíduos. São pessoas até de outros bairros. Isso tam bém é impulsionado por quem acaba chamando um carrinhei ro que pega esses materiais vo lumosos, anda algumas quadras e descarta em pontos viciados”, complementa.

Nieri lembra que o cidadão pode denunciar o descarte irre gular de resíduos por meio do serviço 156 (pelo telefone ou Por tal 156) e que essa informação é repassada em tempo real para as empresas de varrição. “O paga mento feito a elas também está atrelado a esse serviço. Assim, elas irão fazer a limpeza e, se percebe rem que o local está se transfor mando em um ponto viciado de lixo, deverão recuperá-lo”, detalha.

4 | Ecologia | 2 de novembro de 2022 | www.arquisp.org.br www.osaopaulo.org.br/fe-cultura
Loga/Divulgação Segundo a SP Regula, a coleta domiciliar seletiva ocorre em 76% das vias; em setembro, foram 5,1 toneladas de recicláveis coletadas

Um incentivo aos jovens para ampliarem saberes no universo tecnológico

MORADORES DA PERIFERIA, ELES SÃO APOIADOS PELA PASTORAL DO MENOR DA ARQUIDIOCESE E PARTICIPAM DO PROGRAMA ‘ACADEMIA DIGITAL’, MANTIDA PELA EMPRESA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (PRODAM)

Em julho deste ano, a Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo r mou parceria com a Empresa de Tecno logia da Informação e Comunicação do Município de São Paulo (Prodam), liga da à Secretaria Municipal de Inovação e Tecnologia (SMIT).

A parceria visa a oferecer aos jovens assistidos pela Pastoral cursos on-line e quali cação em tecnologia e inovação, por meio da “Academia Digital”, progra ma de capacitação digital da Prodam.

O projeto será implantado em todas as regiões da capital paulista onde hou ver organizações sociais ligadas à Pasto ral do Menor.

“Estamos localizados nos pontos pe riféricos da cidade, sendo a presença da Igreja Católica no atendimento a crian ças, adolescentes e jovens vulnerabiliza dos por ausência de políticas públicas”, disse ao O SÃO PAULO Sueli Camargo, coordenadora da Pastoral do Menor da Arquidiocese.

Sueli a rmou, ainda, que “a iniciativa possibilita ao jovem uma formação inte lectual de forma a viabilizar sua reinser ção na sociedade e, eventualmente, no mercado de trabalho”, e, para que isso ocorra, “o apoio institucional é impres cindível e deve oferecer formação, co nhecimento e liberdade para inovar”.

À reportagem, Johann Dantas, CEO da Prodam, garantiu que o programa “traz um despertar para o jovem”. Ele explicou ainda que o projeto tem uma proposta de letramento digital.

“Ele parte do básico, que é para con textualizar o que, muitas vezes, julgamos ser algo simples e que acreditamos que todo mundo sabe, mas, na verdade, mui tos alunos desconhecem”, disse Dantas.

“Estou falando de coisas como co piar e colar no computador de diferen tes maneiras ou mexer em uma planilha de forma mais intuitiva. Tudo isso acaba ajudando muito o jovem”, acrescentou.

PROJETO PILOTO

Desde agosto, a iniciativa está em an

damento como projeto piloto no Centro de Capacitação Pro ssional Henry Ford Multimarcas, unidade de atendimento do Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar), organização ligada à Igreja Católica.

O Centro Henry Ford, localizado em São Mateus, na zona Leste da capital, atende jovens e adultos com idades entre 15 e 59 anos.

“Essa primeira organização bene ciada está localizada na periferia de São Paulo, onde a população é esquecida e, ao mesmo tempo, esse centro possui es trutura tecnológica e conhecimento his tórico no atendimento do público a ser atingido”, relatou Sueli.

Na unidade, são oferecidos cursos de capacitação pro ssional no segmento au tomotivo e de gestão e negócios. O pro grama da Prodam está sendo ofertado para todos os educandos matriculados em qualquer período (manhã, tarde ou noite) de funcionamento da instituição.

“Estão sendo bene ciados 320 jovens e adultos, moradores prioritariamente da região de São Mateus”, contou An dreia Alves, coordenadora do Centro Henry Ford.

“O projeto-piloto oferta cursos na plataforma EAD da Prodam, a ‘Acade mia do Saber’, na qual os educandos po dem fazer diversos cursos no Letramen to Digital e futuramente em outras áreas da tecnologia”, acrescentou.

Também está prevista a realização de palestras motivacionais e treinamen tos ministrados por colaboradores da Prodam.

Andreia explicou como tem sido na

prática a parceria entre as instituições envolvidas no projeto. “A Prodam faz a oferta dos cursos e suporte técnico, a Pastoral do Menor é a articuladora nas Organizações Sociais, e o Bompar dispo nibiliza a estrutura física e humana para realizar os cursos.”

IMPRESSÕES DOS BENEFICIADOS

Apesar do pouco tempo que a for mação foi iniciada, o projeto-piloto está sendo bem avaliado pelos estudantes do curso de Gestão e Negócio do Centro Henry Ford.

“Sinto que estou me preparando mais para o mercado de trabalho. [A platafor ma] tem facilidades e exibilidade, uma forma interativa de estudos. Os vídeos e os formulários disponíveis nos testam no dia a dia”, disse Gabriel B. da Silva, 16.

Yndaiara S. de Oliveira, 17, pretende incluir em seu currículo os cursos aos quais está tendo acesso. “Os vídeos são bem didáticos. Ótimo para quem não entende muito de informática e bom também para quem já tem um enten dimento e pode conhecer outras partes mais importantes.”

Filipe Daniel de L. Spozato, 17, contou que o projeto o tem ajudado muito. “Ele deixa o meu conhecimento em geral mais versátil, acredito que isso possa me ajudar no mercado de trabalho, pois traz conheci mentos que abrangem diversas pro ssões nas áreas de contabilidade, TI (tecnologia da informação) e administrativo.”

Luciana de Jesus Decerchio, 44, avalia que está sendo uma oportunidade única de muito aprendizado. “Está sendo de muita importância, pois aprendi coisas

que não aprendi em escola alguma. É um conteúdo completo de forma fácil e acessível. Uma oportunidade sem custo nenhum.”

PERSPECTIVAS

A Prodam pretende ampliar o al cance do projeto. “A ideia é chegarmos a um número maior de bene ciados, na base de mil jovens atendidos simultane amente. Temos infraestrutura para isso”, comentou Dantas, lembrando que para isso a empresa conta com o “trabalho sé rio e de cuidado” da Pastoral do Menor e do Bompar.

O objetivo da empresa está alinha do com as necessidades dos educandos assistidos pela Pastoral e as organizações ligadas a ela.

“A inserção no mundo da tecnologia se faz necessária, e boa parte da popula ção atendida pela Pastoral do Menor não teria esta oportunidade se não fosse por este novo projeto”, comentou Sueli.

“Acreditamos neste projeto como ins trumento de transformação e sabemos da importância de fortalecer ações que contribuam para a obtenção de conheci mento em níveis mais altos de aprendi zagem possíveis, para dar continuidade na quali cação educacional das crianças, adolescentes e jovens”, acrescentou a co ordenadora da Pastoral do Menor.

“A Pastoral tem a função de sensibi lizar, motivar e mobilizar os vários seg mentos da Igreja, sociedade e do poder público para adoção de posturas e ações efetivas, como essa iniciativa em favor da defesa dos direitos da criança e do ado lescente”, concluiu Sueli.

www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br | 2 a 8 de novembro de 2022 | Reportagem | 11
IRA ROMÃO ESPECIAL PARA O SÃO PAULO Fotos: Pastoral
do Menor da Arquidiocese de São Paulo
Na ‘Academia Digital’, a Prodam oferta os cursos, a Pastoral do Menor mobiliza os jovens a participar e o Bompar oferece a estrutura física

Eleito presidente, Lula diz que trabalhará pela união e harmonia do País

COM DIFERENÇA DE 2,1 MILHÕES DE VOTOS, PETISTA VENCEU O ATUAL PRESIDENTE DA REPÚBLICA, JAIR BOLSONARO (PL)

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 77 anos, voltará a governar o Brasil a partir de 1o de janeiro de 2023. Presidente da República entre 2003 e 2010, o petista venceu no domingo, 30 de outubro, em 2o turno, a disputa pelo Planalto con tra Jair Bolsonaro (PL), que tenta va a reeleição.

Lula foi o escolhido por 60,3 milhões de eleitores (50,9% dos votos válidos), enquanto nulos 3,16% (3,93 milhões de eleitores).

58,2 milhões de pessoas votaram em Bolsonaro (49,1% dos votos válidos).

A diferença entre eles foi próxima a 2,1 milhões de eleitores, a menor da história em uma eleição presidencial pós-redemocratização.

Dos mais de 156,4 milhões de eleito res aptos a votar, 32,2 milhões não com pareceram às urnas, 20,58% do total, índice de abstenção menor que o regis trado no 1o turno, quando 32,7 milhões de pessoas não foram às urnas. No 2o turno, o percentual de votos brancos foi de 1,43% (1,73 milhões de eleitores) e de

‘NÃO EXISTEM DOIS BRASIS’

A vitória de Lula foi con rmada per to das 20h do domingo, quando mais de 98% das urnas estavam apuradas. Minu tos depois, o petista discursou em um hotel em São Paulo, ao lado de apoiado res e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).

“A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois

Dom Odilo Scherer cumprimenta os eleitos

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropoli tano de São Paulo, manifestou em notas, na segunda-feira, 31 de outubro, suas congratulações a Luiz Inácio Lula da Silva, eleito presidente da República, e a Tarcísio de Frei tas, eleito governador de São Paulo, nos pleitos de nidos em 2o turno, no domingo, 30 de outubro.

A ambos, ele apresentou as preces a Deus para que os ilumine ao longo de seus mandatos.

A Luiz Inácio Lula da Silva, o Cardeal Scherer fez votos de que “seu governo seja comprometido com a promoção da vida e da dignidade humana, da justiça e da paz social, empenhado, sobretudo, na busca de ca minhos para o desenvolvimento econômico e social que bene cie a todos, especialmente aqueles que mais so frem com os impactos da crescente desigualdade social, do desemprego e da fome”.

Na mensagem a Tarcísio de Freitas, Dom Odilo lem brou que a maioria dos eleitores paulistas o escolheu, “con ando na realização de um mandato marcado pelo diálogo e a concórdia, a justiça, a promoção da dignidade humana e o progresso econômico e social em benefício de todos, com especial atenção para as pessoas mais ne cessitadas”.

As íntegras das notas podem ser lidas na página 3 desta edição. (DG)

Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação”, a rmou Lula.

Diante da intensa polarização que marcou a eleição presidencial, Lula também se comprometeu a “encontrar uma saída para que este País volte a viver democraticamen te, harmonicamente”, e lembrou que para governar o Brasil precisa rá de “todos os partidos políticos, trabalhadores, empresários, parla mentares, governadores, prefeitos e gente de todas as religiões”.

Lula ressaltou que a prioridade número 1 de seu governo será o combate à fome e à miséria, falou na retomada de programas sociais criados quando presidiu o Brasil entre 2003 e 2010, como Minha Casa, Minha Vida; indicou que realizará conferências nacionais em diferentes temas para decidir políticas públicas; disse que seu governo terá como meta o des matamento zero da Amazônia; e

que se abrirá ao diálogo com diferentes países, a m de “reconquistar a credibili dade, a previsibilidade e a estabilidade do País, para que os investidores – nacionais e estrangeiros – retomem a con ança no Brasil”.

Ainda na noite de domingo, por meio de pronunciamentos, os presiden tes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pa checo (PSD-MG), e do Supremo Tribu nal Federal (STF), ministra Rosa We ber, cumprimentaram Lula pela eleição, assim como o zeram chefes de Estado

de diferentes nações. Apenas na tarde da terça-feira, dia 1º, Bolsonaro se manifes tou pela primeira vez após as eleições, e não deixou explícito se aceitará ou não o resultado das urnas, mas autorizou as tratativas para a transição de governo.

ELEIÇÃO BRASILEIRA REPERCUTE NA IMPRENSA INTERNACIONAL

The Guardian (Reino Unido)

Pobreza, habitação e a Amazônia: os focos de Lula como presidente eleito do Brasil

El Clarín (Argentina)

Lula ganhou por muito pouco e chamou a dialogar e a terminar com a divisão

Le Monde (França)

Da prisão à Presidência brasileira: o retorno espetacular de Lula, mas com uma vitória decepcionante

Público (Portugal)

Brasil escolheu a democracia e voltou a eleger Lula

Corriere dela Sera (Itália)

Lula é eleito presidente em um Brasil dividido

The New York Times (EUA)

Brasil expulsa Bolsonaro e traz de volta ex-líder de esquerda, Lula

Escolhido por 13,48 milhões de pessoas (55,27% dos votos válidos), Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi eleito governador do estado de São Paulo, no domingo, 30 de outubro. Na disputa em 2o turno, ele superou Fernando Haddad (PT), que obteve 10,9 milhões de votos (44,73% dos vo tos válidos).

Ex-ministro de Infraestrutura do governo Bol sonaro, Tarcísio falou sobre a vitória na eleição es tadual após a con rmação de Lula como o eleito à Presidência da República.

“Vamos olhar sempre o interesse do estado de

São Paulo. Para que a gente possa fazer política pública para o estado, vai ser fundamental o ali nhamento e o entendimento com o governo fe deral”, a rmou o governador eleito, já garantindo que irá participar da reunião que Lula disse que fará com os governadores em janeiro de 2023: “Tenho certeza de que São Paulo pode ajudar muito o Brasil, e o Brasil, obviamente, pode tam bém ajudar São Paulo”.

O político do Republicanos disse que montará um secretariado de per l técnico. Ele acredita que não encontrará di culdades no processo de tran sição de governo com Rodrigo Garcia, do PSDB, partido que antes destas eleições havia ganhado todas as disputas estaduais desde o pleito de 1994.

Tarcísio assegurou que dois temas polêmicos apresentados por ele durante a campanha eleito ral – a privatização da Sabesp e o m do uso das câmeras nos uniformes dos policiais militares –serão analisados detalhadamente antes de uma decisão.

O governador eleito disse que recebeu uma ligação de Fernando Haddad ainda no domingo, que o cumprimentou pela vitória e desejou suces so na futura gestão estadual. (DG)

12 | Geral | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
Tarcísio de Freitas é o novo governador: ‘São Paulo pode ajudar muito o Brasil’
Ricardo Stuckert Republicanos/Divulgação

Apresentado o documento da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe

O Papa Francisco recebeu na manhã de segunda-feira, 31 de outubro, os membros da Presidência do Conselho Epis copal Latino-Americano e Ca ribenho (Celam). Na ocasião, foi apresentado ao Pontí ce o documento “Para uma Igreja sinodal em saída para as peri ferias – Re exões e propostas pastorais da Primeira Assem bleia Eclesial da América Latina e do Caribe”, evento continental realizado na Cidade do México em novembro de 2021.

Participaram do encontro, no Vaticano, Dom Miguel Ca brejos Vidarte, Arcebispo de Trujillo, no Peru, e presidente do Celam; o Cardeal Odilo Pe dro Scherer, Arcebispo de São Paulo e 1º Vice-Presidente; o Cardeal Leopoldo José Bre nes Solórzano, Arcebispo de Manágua, na Nicarágua, e 2º Vice-Presidente; Dom Rogelio Cabrera López, Arcebispo de Monterrey, no México, e Pre sidente do Conselho para As suntos Econômicos; Dom Jorge Eduardo Lozano, Arcebispo de San Juan de Cuyo, na Argenti na, e Secretário-Geral; Padre Pedro Brassesco, Secretário -Geral Adjunto; e o teólogo ita liano Gianni La Bella.

Publicado em seis línguas (espanhol, português, inglês, italiano, alemão e francês), o texto também foi apresentado na tarde da mesma data em uma coletiva de imprensa na sede da Rádio Vaticana, em Roma.

O documento de 146 pági nas é dividido em três partes: “Os sinais dos tempos que desa am e alentam”; “Uma Igreja si nodal e missionária a serviço da vida plena”; e “Derramamento criativo em novos caminhos a percorrer”.

Na apresentação do texto, os bispos enfatizaram que esse “não é um Documento con clusivo – como os que emergi ram das Conferências Gerais do Episcopado Latino-Ame ricano –, nem é o resultado de uma elaboração realizada por um grupo de teólogos; mais do que isso, é a sistematização do que foi expresso no diálogo dos participantes em quase uma centena de grupos de trabalho, compostos de leigos, leigas, re ligiosos, religiosas, sacerdotes, diáconos e bispos”.

“É um documento que

oferece caminhos em seis dimensões: querigmática e missionária; profética e formativa; espiritual, litúrgica e sacra mental; sinodal e participativa; socio transformadoras; e ecológica. Estas áreas foram re etidas em comunidade, e mos tram muito claramente as preocupações do povo de Deus em nossa região e suas sugestões e propostas”, reforçaram.

LABORATÓRIO DE SINODALIDADE

Dom Miguel Cabrejos enfatizou que a Igreja na América Latina e no Caribe viveu “um laboratório prático de sinodalidade”, de modo que, pro gressivamente, “não será possível evitar a participação do povo de Deus nas vá rias decisões da Igreja”, que, nas pala vras do presidente do Celam, “favorece a corresponsabilidade, mas, ao mesmo tempo, põe desa os”.

Entre os desa os, o Bispo peruano mencionou agir sempre a partir da mi sericórdia, a coerência entre discurso e prática, a leitura adequada dos sinais dos tempos, a escuta, o diálogo e o dis cernimento como processo, comunica ção mais empática, habitando o “conti nente digital”, acolhendo a diversidade, integrando a mulher nos espaços de de cisão e ver sempre no próximo a ima gem de Deus.

Dom Miguel destacou, ainda, os de sa os que afetam o clero e a vida religio sa, em relação à sua formação em um mundo plural, seu modo de vida, mais simples, austero e místico, trabalhando na sinodalidade, promovendo e acom panhando os leigos. Estes, salientou, são chamados a caminhar juntos, avançar numa formação sólida, numa práxis co erente, e assumir a Doutrina Social da Igreja.

O Presidente do Celam reforçou que a Igreja “deve construir pontes, derrubar muros, integrar a diversidade, promo ver a cultura do encontro e do diálogo,

educar no perdão e na reconciliação, no sentido de justiça, no repúdio à violência e na coragem da paz”.

ESCUTA

Gianni La Bella destacou a “ponte” entre a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia (2019) e o caminho em vista da assembleia do Sínodo sobre a sinodalidade (20212024), experimentando concretamente uma nova abordagem conceitual para a “eclesiologia de comunhão”.

O teólogo italiano recordou as duas palavras em que o Papa insistiu em re lação à Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe: transbordar, para “superar as divisões e encontrar soluções criativas e inovadoras”, e escutar Deus e os gritos do povo. A partir daí, foi mos trando a importância “dos sinais dos tempos” e como surgiram os desa os que nasceram da Assembleia, que busca “oferecer uma série de sugestões práticas para reler e atualizar o conteúdo e o espí rito daquela Conferência de Aparecida”.

À LUZ DE APARECIDA

O Cardeal Scherer recordou a Assem bleia Geral do Celam realizada em Tegu cigalpa, Honduras, em 2019, na qual foi decidido apresentar ao Papa o pedido para que fosse convocada uma VI Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho. O Pontí ce, no entanto, con siderou melhor voltar ao Documento de Aparecida e aconselhou outro tipo de ini ciativa, mantendo esse documento como referência, que deu origem à Assembleia Eclesial, com a participação de todos os membros do povo de Deus.

Dom Odilo sublinhou, ainda, as três recomendações de Francisco na época: avaliar os frutos de Aparecida, analisar as lacunas e enxergar os novos desa os. O Arcebispo de São Paulo insistiu que, du rante a Assembleia Eclesial, o desenvol

vimento das re exões não se xou tanto em Aparecida, mas nos novos desa os e problemas não resolvidos desde então. O 1º Vice-Presidente do Celam acrescen tou que esse foi um evento novo, diver si cado, único, em termos de dimensões e participação, que despertou grande in teresse em outros continentes, “com uma metodologia sinodal muito clara, algo nascido em Aparecida e promovido pelo Papa Francisco nos últimos anos”.

TRANSBORDAMENTO EVANGELIZADOR

O Cardeal Leopoldo Brenes também enfatizou a novidade da Assembleia Ecle sial, algo “que fez os bispos latino-ameri canos se sentirem felizes e orgulhosos de pertencer a esta Igreja”, em saída, em mis são permanente. O 2º Vice-Presidente do Celam destacou o compromisso do Santo Padre em celebrar um processo e não um evento, e em dívida com Aparecida. Da mesma forma, rea rmou a riqueza das contribuições de milhares de pessoas, “que nos deram o que estamos apresentando hoje, como re exões e propostas, como algo que vem revigorar e dar um novo im pulso a todo o nosso trabalho pastoral”.

Nesse sentido, o Arcebispo de Ma nágua pediu aos meios de comunicação que ajudem este documento a chegar às pessoas simples por meio deles, “um do cumento que traz o que faltava em Apa recida, com o qual estamos traçando di retrizes para outros continentes”.

O documento pode ser baixado no site: https://cutt.ly/7NOimmW

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Vatican Media
CELAM Presidência do Celam se encontra com o Papa e entrega documento sobre a 1ª Assembleia Eclesial

Crianças em vulnerabilidade estão nas intenções de oração do Papa neste mês

REDAÇÃO osaopaulo@uol.com.br

Crianças que diariamente sofrem com a rejeição, a pobreza, a miséria e todos os tipos de con itos estão nas intenções de oração do Papa Francis co neste mês de novembro, conforme a mensagem de vídeo divulgada pelo Vaticano no começo desta semana.

O Pontí ce lembra que, “muitas ve zes, esquecemos a nossa responsabilidade e fechamos os olhos à exploração destas crianças que não têm direito de brincar,

nem de estudar, nem de sonhar. Elas nem sequer têm o calor de uma família”.

Cada criança marginalizada, aban donada por sua família, sem escola ridade, sem cuidados médicos, é um grito – lembra o Papa – “um grito que se eleva a Deus e acusa o sistema que nós, adultos, construímos”.

De acordo com o Fundo das Na ções Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 1 bilhão de crianças em todo o mundo vivem na pobreza multidi mensional, ou seja, sem acesso a edu cação, saúde, moradia, alimentação,

saneamento ou água. Além disso, 153 milhões de crianças são órfãs. Tam bém chama a atenção o fato de 450 milhões de crianças viverem em zonas de con ito, conforme informações do Alto Comissariado das Nações Uni das para os Refugiados (Acnur).

“Uma criança abandonada é cul pa nossa. Não podemos continuar permitindo que se sintam sozinhas e abandonadas; elas precisam receber uma educação e sentir o amor de uma família para saberem que Deus não as esquece”, concluiu o Papa no vídeo.

Em viagem ao Barein, Papa participará de encontro inter-religioso

Nesta semana, entre os dias 4 e 6, o Papa Francisco fará sua 39a viagem apostóli ca internacional. O destino é o Barein, no continente asiático. Na ocasião, o Pontí ce buscará intensi car o diálogo com o mundo islâmico, conforme disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em um recente encontro com os jornalistas: “Este é um momento para buscar aliados na causa da paz e da fraternidade”.

O Pontí ce participará do Fórum do Barein para o Diálogo: Oriente e Ocidente para a Coexistência Humana, um encontro inter-religioso. Francisco é o primeiro Papa a visitar o Reino do Barein – com o qual a Santa Sé estabeleceu relações diplomáticas no ano 2000 –, convidado pelas autorida des civis e eclesiásticas.

Segundo Bruni, dois documentos em particular são os pontos de referência para esta nova visita papal a um país com grupos étnicos e religiosos diversos: o documen to sobre a fraternidade humana pela paz mundial e a convivência comum e a encí clica Fratelli tutti

‘A escuta é o ingrediente indispensável para um verdadeiro diálogo’

Em audiência, na segunda-feira, 31 de outubro, com os membros da Coordenação das Associações para a Comunicação (Copercom) – uma or ganização que coloca em rede várias associações na Itália que trabalham no campo da comunicação –, o Papa Francisco re etiu sobre três atitudes indispensáveis para o verdadeiro diá logo: “encontrar, escutar e falar. É uma espécie de ‘a-b-c’ do bom comunica

dor, porque é a dinâmica que sustenta toda boa comunicação. Primeiro, o encontro com o outro: signi ca abrir o coração, sem ngimento, para a pes soa à sua frente. O encontro é o pré -requisito para o conhecimento. Se não há encontro, não há comunicação. Depois vem a escuta”.

“Trata-se de aprender a car em silêncio, antes de tudo dentro de si mesmo, e a respeitar o outro: respeitá

-lo não formalmente, mas, na verdade, ouvindo-o, porque cada pessoa é um mistério. A escuta é o ingrediente in dispensável para que haja um verda deiro diálogo. Só depois de ouvir é que vem a palavra”, prosseguiu o Pontí ce. “A palavra, saída do silêncio e da es cuta, pode se tornar anúncio, e, então, a comunicação se abre à comunhão” ressaltou.

(por Redação)

“O primeiro tema que emerge é o do encontro, do diálogo como raiz de paz”, acrescentou o diretor da Sala de Imprensa vaticana. Um tema que se repetirá nos en contros que o Pontí ce terá, nos eventos previstos e, quase certamente, em seus dis cursos, e que se encontra também no lema da viagem, “Paz na terra aos homens de boa vontade”, inspirado no canto dos anjos na narração do nascimento de Jesus no Evan gelho de Lucas.

Fotos, vídeos e a íntegra dos dis cursos do Papa ao longo da viagem podem ser vistos pelo link a seguir: https://cutt.ly/zNR1wUN

14 | Papa Francisco | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
Reprodução

Crisleine Yamaji

‘Guerra, conflito e divisão não são de Deus’

Representantes de diferentes religiões e personalidades da sociedade civil e da política estiveram em Roma, de 23 a 25 de outubro, para o Encontro Internacional de Oração pela Paz, organizado pela Comu nidade Sant’Egidio.

Um dos momentos marcantes foi no Coliseu, em Roma, quando o Papa fez uma oração conjunta pela paz com outros líderes religiosos.

Crisleine Yamaji, que integra a Comu nidade Sant’Egidio, participou deste en contro. Ao O SÃO PAULO, a advogada e professora universitária detalha os princi pais assuntos re etidos e lembra que dian te dos muitos cenários de con itos mun diais são indispensáveis a “compaixão, criatividade, fraternidade social e oração, incansável oração a Deus”.

O SÃO PAULO – Quando teve início este encontro internacional de oração?

Crisleine Yamaji – Em outubro de 1986, o Papa João Paulo II convocou uma Jornada Mundial de Oração pela Paz, em Assis, convidando representantes de to das as religiões mundiais a se reunirem para um apelo comum e fraterno de paz no mundo. Ele, um visionário da paz, nos convidou a viver a mensagem de paz no espírito de Assis e, desde então, a Comu nidade Sant’Egidio assumiu com o Papa o compromisso de repetir anualmente esse encontro de diálogo inter-religioso e de oração incansável pela paz. Conheci a Comunidade Sant’Egidio em Roma, em 2012. Participei, desde então, de cinco en contros de oração pela paz – em Assis e em Roma, na Itália; em Sarajevo, na Bósnia; em Tirana, na Albânia; e em Münster, na Alemanha, para um testemunho desse di álogo de paz e comunhão entre os povos.

Fale-nos um pouco sobre o carisma da Comunidade Sant’Egidio?

Sant’Egidio é um movimento que nas ceu em 1968, em Roma. Está presente em mais de 70 países, com forte atuação nas periferias. O Papa Francisco resume o ca risma de Sant’Egidio com os 3 P: preghiera (oração), poveri (pobres) e pace (paz): uma oração em comunidade sempre ancorada na Palavra de Deus, que deve ser o guia norteador da comunidade cristã; uma atuação aos pobres que são irmãos, cujo encontro leva ao próprio Cristo; e uma consciência de paz e um diálogo pela paz, em todos os níveis, inclusive, de forma in ter-religiosa, algo primordial para a defesa dos mais pobres.

“O grito de paz: religiões e culturas em diálogo” foi o tema escolhido para a 36ª edição do encontro. A partir desta temática, quais foram as reflexões centrais?

O grito de paz é necessário quando a paz é gravemente violada. É proposto em um momento em que estamos pres tes a um agravamento do cenário de guerra na Europa, com riscos de uma

guerra nuclear, a 3a guerra mundial. Representa, como disse o Papa, um grito de angústia de lhos frágeis que somos de Nosso Senhor; representa a invocação que nasce no coração das mães para proteger seus lhos, dos refugiados de guerra que perdem suas casas e suas vidas em uma guerra que massacra e humilha. Reforça algo que une as religiões, pois a paz está no cer ne de todas as religiões.

O Papa também se posicionou con tra a retórica e a defesa das armas e pelo mal da indiferença, algo que nasce antes da guerra e conduz à situação de con i to, ressentimento, prevalência de forças do mal. E demonstrou enorme preocu pação com uma nova situação de guerra atômica, com armas nucleares que con tinuaram a ser produzidas e servem de ameaça no uso da força, mesmo após Hiroshima e Nagasaki.

O grito de paz nasce, portanto, em um contexto que o Papa quali cou como sombrio; expressa nossa dor, nosso medo e nosso horror à guerra, mãe de todas as pobrezas (expressão do Professor Andrea Riccardi – fundador da Comunidade Sant’Egidio –retoma da pelo Papa).

Entre as re exões centrais, houve não só o reforço do papel da Palavra de Deus em novos sonhos e visões de um mundo de paz, mas, também, a chama da pela responsabilidade dos países que detêm as armas e as forças para desen cadear e manter o mundo em guerra. O Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Cardeal Matteo Zuppi, em diversos momentos, clamou por uma sociedade que se empenhe na aplicação da encícli ca Fratelli tutti, do Papa Francisco, com sua proposta corajosa de fraternidade e amizade social.

No primeiro dia de atividades, o senhor Andrea Riccardi disse que o evento de veria ser visto como uma nova abertura “para enfrentar os novos cenários do mundo” diante da guerra. Quais são

estes novos cenários e as formas para enfrentá-los?

Os novos cenários do mundo são cenários de con ito que surgem a cada dia e que não se resumem somente ao ataque de um Estado soberano contra o outro, mas são fundamentados no ódio, na divisão, na indiferença e na pobreza que nascem dentro dos nos sos próprios Estados. Estão por toda parte. Nascem da falta de dignidade humana, da indiferença, do esgota mento dos recursos naturais, do res sentimento, do ódio e de questões me ramente econômicas. Enfrentam-se esses cenários com compaixão, criati vidade, fraternidade social e oração, incansável oração a Deus.

Para a senhora, o que representou aquele momento de oração do Papa e outros líderes religiosos no Coliseu?

Representou a esperança de paz, e tanta comoção em ver nosso Papa como mensageiro de paz, capaz de tocar o co ração de tantos representantes de todas as religiões do mundo, humanistas, po líticos, leigos e religiosos, com seu jeito humilde e acessível, aberto ao diálogo, à compreensão do outro, ao bem comum. O Papa reforçou a necessidade do espíri to de fraternidade que inspirou São João Paulo II.

Qual papel as religiões têm no mundo de hoje para a promoção da paz?

Quando cada religião compreende seu papel na defesa da paz, que é Santa, começa a atuar para que a paz seja um imperativo no dia a dia e se torna reli gião de encontro e de diálogo, de bus ca de compreensão do outro em uma sociedade em que parece prevalecer a divisão e o con ito. Esse é o espírito de Assis que prevalece em detrimento de qualquer quali cação religiosa e leva a um ecumenismo em prol da paz e do bem comum.

O Papa, citando a Fratelli tutti, disse que a guerra “é um fracasso da políti

ca e da humanidade”. Como é possível reverter este fracasso?

Antes de tudo, por meio do diálogo e da compreensão do outro. Em seguida, com a compaixão por quem sofre, não importando de qual religião, escolha política ou nacionalidade se trate. E na convicção de que guerra, con ito e divi são não são de Deus. Como disse o Papa, nenhuma guerra é santa.

No Brasil, há um acirramento das po larizações em decorrência do atual momento político. Concluídas as elei ções, como o ‘Grito pela paz’ que ecoa de Roma pode ajudar a pacificar os ânimos em nosso País?

O Papa tem sido claro ao dizer que a polarização e a divisão não são de Deus, mas do diabo. Igreja é comunhão, acei tação do outro. Temos liberdade de de fender o candidato com projeto político que melhor se adapte à nossa história de vida, aos nossos valores e às nossas convicções, mas, na discordância, temos que respeitar as diferenças e estar unidos como Igreja.

De um lado e de outro, vimos pes soas se posicionando como únicos en tendedores da Verdade, como os bons e verdadeiros cristãos. Tem havido muito uso do nome de Deus em vão. A Igreja deve se posicionar pela vida, pela digni dade, pela paz social e não é, como diz o Papa, nem de direita, nem de esquerda. É Igreja de Cristo, o mesmo que deixou claro não vir para combater o reino dos romanos e dos césares; o Reino de Deus é outro, reino de amor, compreensão e unidade.

Nos últimos anos, vivemos em clima de ódio e de con ito no nosso País, com uma defesa armamentista inaceitável na construção da paz. Apesar de não estar mos imersos em uma guerra e não sen tirmos diretamente seus efeitos, como no caso da Europa, vivemos em tensão na sociedade brasileira. E essa tensão e esse con ito que permeia nosso dia a dia, esse medo do outro, também são uma afronta à paz.

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Arquivo pessoal
Crisleine Yamaji (3a à dir.) em foto com membros da Comunidade Sant’Egidio de Nápoles, durante o Encontro Internacional de Oração pela Paz
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‘As Ave-Marias de Villa-Lobos’

TEMÁTICA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEFENDIDA NA USP PELO MAESTRO DANILLO DEL CHIARO (FOTO) FOI MOTIVADA POR SEU CAMINHO DE CONVERSÃO À FÉ CATÓLICA

Danillo Del Chiaro, 47, é mestre em Musicologia pela Escola de Comunica ção e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), maestro do Coro da Paróquia Nossa Senhora do Brasil e diretor musical do Coral e Orquestra Del Chiaro.

Em conversa com O SÃO PAULO, o maestro conta sua jornada na música, seu caminho de conversão à fé católica e a de fesa da tese de mestrado com o tema: “As Ave-Marias de Villa-Lobos”.

JORNADA NA MÚSICA

Danillo é lho de Sandra e José; irmão de Daniel e Denis. Casado com Rita, é pai do Carlo Felice, 24, do Giovanni, 15, e da Micaela, 7. Iniciou sua jornada na música aos 10 anos, sob in uência e incentivo do seu avô que estudava Música. Na escola, viu as aulas de piano e pediu à mãe que também queria estudar o instrumento com a professora Noemi Munhoz.

Na adolescência, parou de estudar piano e, a princípio, havia desistido da música. Ao concluir o ensino médio, prestou vestibular e foi aprovado em En genharia. “Quando fui fazer a matrícula no curso de Engenharia, não consegui. Foi quando percebi que a música tinha um espaço especial dentro de mim. Mu dei a rota e, desde então, estudo e vivo pro ssionalmente da Música”, a rmou Danillo, destacando a alegria em ter in gressado na graduação da USP e por ter sido aluno do renomado pianista Her mes Jacchieri.

Trabalhou como bolsista no Coral do Museu Lasar Segall, sob regência do maestro Marco Antônio da Silva Ramos,

e ali atuou como monitor dos tenores. Cantava e tocava piano.

Realizou vários concertos com a Or questra de Câmara da USP e com a Or questra do Festival de Prados, sob a Re gência do Maestro Olivier Toni. No festival de Prados, em 1996, atuou como regente assistente de coro infantil e, em 1998, foi regente do coro juvenil/adulto e, no mes mo período, de 1996 a 1998, atuou como arranjador orquestral e acompanhador.

Estudou Regência na USP, sob orien tação do professor Marco Antônio da Sil va Ramos, quando teve a oportunidade de reger o Coral da ECA-USP por várias vezes. Danillo Del Chiaro tem especializa ção em Música, com ênfase nas áreas de Piano e Regência pela União Bandeiran te de Ensino (Uniban); pela University of Louisiana Monroe (ULM); pela Sociedade Kodály do Brasil; e, na USP, estudou sob a orientação do professor e pianista Doutor José Eduardo Martins. No mesmo centro de ensino, foi monitor de Música, lecio nando aulas na classe de Piano.

AVE-MARIA INÉDITA

Em 2020, durante a pandemia, Da nillo Del Chiaro ingressou no mestrado em Musicologia na USP, concluindo-o em outubro deste ano com o tema: “As Ave -Marias de Villa-Lobos: conjunto da obra e discussão sobre uma possível Ave-Maria inédita a partir da análise do manuscrito MVL 1999-21-0005”, sob a orientação da professora Susana Cecilia Almeida Igayara de Souza.

A ideia original do projeto de mes trado era reunir as várias partituras das Ave-Marias de Villa-Lobos com o intuito de catalogar as composições do músico brasileiro.

“Durante a pesquisa, debrucei-me sobre a origem e o contexto histórico da Ave-Maria, e foi, então, que encontrei um manuscrito original da primeira Ave-Ma ria de Villa-Lobos, de 1909, em formato rascunho, cuja partitura nunca havia sido editada, pois a mesma era considerada perdida”, recordou Danillo.

“Tive a oportunidade de reconstruir o rascunho e apresentar à sociedade a par titura a partir da composição original de Villa-Lobos. É uma alegria, após 113 anos de sua composição, apresentar essa Ave -Maria inédita do compositor, maestro, violoncelista, pianista e violonista brasi leiro – de singular importância para a his tória da música do nosso País”, enfatizou, ressaltando que esse é um legado acadê mico que ca para as próximas gerações de estudantes.

CAMINHO DE VOLTA

Quando criança, Danillo fez os sacra mentos na Igreja Católica e depois, por muitos anos, cou afastado da Igreja. O caminho de volta, a “conversão”, como ele costuma a rmar, aconteceu quando seu lho Giovanni, na época com 3 anos, cou muito doente e precisou ser internado às pressas.

Passados 15 dias e ainda sem o diag nóstico médico, com o coração de pai

apertado e desesperado, procurou no hos pital uma capela para rezar e pedir pela saúde do lho. “Ali, na capela, diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, de joelhos, queria entender o que Deus que ria de mim e senti a voz de Deus me a r mando: é um problema de fé”, recordou. Após esse encontro de oração e escuta do apelo de retornar à Igreja, ele se com prometeu a participar das missas domini cais. Seu lho se recuperou rapidamente, recebendo alta no dia seguinte.

Durante a pandemia, na Paróquia Nossa Senhora do Brasil, Danillo fez a sua consagração a Nossa Senhora pelo método de São Luís de Montfort. Aos do mingos na mesma Paróquia, é maestro do coro. “Deus me trouxe de volta, resgatan do a fé e a pertença a Cristo, a Maria e a Igreja”, descreveu, ressaltando que a temá tica da dissertação do mestrado foi moti vada pelo caminho de conversão e desejo de aprofundar a composição mariana.

MÚSICA: EXPRESSÃO DE FÉ

Sobre a experiência musical na Pa róquia Nossa Senhora do Brasil, Danillo destacou que o coro é composto por pa roquianos que são atraídos pela beleza dos cantos litúrgicos e dos cantos gregorianos. “A música bem cantada, bem tocada, pro porciona aos éis uma verdadeira experi ência de fé e oração e os conduz à partici pação mais ativa do momento celebrativo e da inserção na dinâmica comunitária”, disse o maestro.

“Nosso desejo é ajudar o povo a par ticipar de forma mais ativa da celebração. Queremos oferecer o melhor para que a música litúrgica seja a expressão de fé do povo católico”, a rmou Danillo, recordan do o intenso trabalho realizado na Paró quia, e a preocupação da sua empresa Del Chiaro na formação musical católica para os casamentos e demais eventos.

Danillo Del Chiaro destacou que entre as inúmeras funções do maestro, uma das mais primordiais é a de orientar os músi cos sobre o “‘caminhar’ da melodia, a m de proporcionar aos ouvintes uma experi ência, um encontro consigo e com o belo que a música, seja ela sacra ou não, pro porciona”, frisou. “A canção aproxima, aca lenta e promove a cultura e a fé”, concluiu.

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Arquivo pessoal

Rede de postos de combustíveis constrói capelas com o Santíssimo em suas instalações

Imagine que grata surpresa parar em um posto de combus tíveis de uma estrada e descobrir que nele há uma capela com Je sus Eucarístico, aberta 24 horas por dia.

Foi com isso que se deparou o Padre Marcelo Henrique Gon zalez Dias e seus pais, no começo deste ano, durante uma viagem rumo a Araguari (MG), quando pararam em um posto de com bustíveis em Frutal (MG).

“Chegamos perto do restau rante e notei que logo ao fundo

tinha uma capela. Resolvemos nos apro ximar e, chegando à porta, constatamos que tinha o sacrário, altar e mesa da Pa lavra”, detalhou o Sacerdote ao O SÃO PAULO

“Vimos que era uma bela capela preparada tanto para a oração indivi dual quanto para celebrações litúrgicas. Rezamos um pouco e seguimos nossa viagem”, acrescentou Padre Marcelo, do clero da Diocese de Marília (SP), com atuação nas cidades paulistas de São João do Pau D’Alho e Nova Guataporanga.

A capela é uma das oito em funcio namento construídas e mantidas pela Rede Marajó de postos de combustí veis e estão em unidades localizadas no Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. A nona está em constru ção, com previsão de ser inaugurada ainda neste ano.

Além de car diante do Santíssimo, quem passa pelas capelas tem a possibi lidade de participar da missa ou ter aten dimento de um padre, seja para Con s são, aconselhamento ou oração.

“Eu acredito que esta é uma excelente forma de evangelizar os caminhoneiros e demais trabalhadores ou turistas que usam as estradas. Num mundo tão secu larizado e ao qual a Igreja tem di culda de de anunciar o Evangelho, tal iniciativa ajuda a reavivar a experiência de fé em muitas pessoas”, opinou Padre Marcelo.

DÉCADAS PROMOVENDO A FÉ

A primeira capela construída pela Rede Marajó foi a do posto de Nova Olinda (TO), às margens da BR-153, há exatos 30 anos.

Na época, Janeth Vaz, presidente do conselho corporativo da Rede Marajó e

responsável pelas capelas, havia começa do a participar da Renovação Carismáti ca Católica (RCC).

“Tive uma experiência pessoal muito profunda com o Espírito Santo. Fui toca da pelo Senhor e me deixei dominar por Ele. Comecei uma busca constante da minha espiritualidade, tornei-me assí dua na Igreja, nas participações da missa e nos eventos da RCC”, contou Janeth à reportagem.

Inicialmente, o marido de Janeth, também católico, revelou-se incomo dando com a frequência da esposa nas atividades da Igreja. Um dia, disse que construiria uma igreja no quintal de casa, para diminuir as saídas dela. “To mara mesmo que você faça, mas o maior frequentador dela não será eu, mas, sim, você”, disse Janeth ao esposo na ocasião.

E foi o que aconteceu. Logo após tam bém passar por uma experiência de fé, o marido de Janeth retomou a conversa sobre a construção de uma capela, desta vez no posto de combustíveis do casal.

Desde a inauguração da primeira capela, em Tocantins, o casal tem conse guido permissão da Igreja para manter nela o Santíssimo. Assim também tem sido nas demais, que cam em: Apareci da de Goiânia (GO), Belém (PA), Frutal (MG), Centralina (MG), Várzea Gran de (MT), Santana do Araguaia (PA) e Hidrolândia (GO).

Nas capelas, há missas semanais, com exceção de Nova Olinda, em que a cele bração é mensal. “Na capela de Belém, por exemplo, se celebra até casamentos, pois a vizinhança dali passou a frequen tá-la. Assim como ocorre em Frutal e em Centralina”, contou Janeth.

Em Belém, ocorrem ainda missas do

minicais, com atendimento de Con ssão. “Esse serviço de Con ssão que os padres prestam nas capelas é dedicado aos cami nhoneiros”, comenta Janeth, destacando que é para estes trabalhadores que as ca pelas são especialmente pensadas.

“Já na primeira construção, observa mos a assiduidade dos caminhoneiros, que, além de cansados, estão longe da família. Eles encontram na capela um momento para se ajoelhar e agradecer a Deus na presença viva de Cristo, no San tíssimo”, disse Janeth.

Para ela, “o coração da Marajó é a ca pela”. E as capelas são para os caminho neiros como “um oásis no meio do de serto”, ou melhor, “um oásis na beira da estrada”, onde eles podem beber da fonte viva que é Jesus Eucarístico.

DEVOÇÃO MARIANA

Todas as capelas têm um título maria no, devido à grande devoção de Janeth e sua família à Virgem Maria. Isso também é uma forma de estender os laços com os caminhoneiros.

“Quando o caminhoneiro é católico, ele é muito mariano. Ele quer carregar alguma coisa de Nossa Senhora em seu caminhão, pode ser até um adesivo. E as capelas dedicadas à Virgem Maria são um convite aos caminhoneiros devotos”, contou.

Janeth ainda frisou que cada capela é idealizada individualmente, desde a es colha de cada título mariano, que parte da oração que ela faz pedindo inspiração ao Espírito Santo, até os elementos da es trutura. Ela cita o exemplo da arquitetu ra da capela de Belém. “O arquiteto fez o teto como se o manto de Maria estivesse caindo, protegendo os lhos.”

VIVENDO A FÉ

Segundo Janeth, pelo menos dois caminhoneiros desistiram de cometer suicídio após passa rem por uma delas.

O primeiro testemunho aconteceu em Nova Olinda, na Capela Nossa Senhora das Gra ças, quando um caminhoneiro chegou ao posto desesperado, dizendo que tiraria a própria vida.

“Ele disse isso ao frentista, que o encaminhou à capela. O guarda do plantão o acom panhou e conversou com ele, que permaneceu um tempo na capela. Ao sair, o homem disse que foi uma graça de Deus ter encontrado aquela capela com o Santíssimo. E que não mais cometeria suicídio.”

O outro relato, mais recen te, aconteceu há cerca de cinco meses em Belém, na Capela Nossa Senhora de Nazaré.

Na ocasião, um padre da re gião que passava em frente à ca pela achou que a luz do sacrário estava apagada. Ao entrar para

acender, viu que ela estava acesa e que havia um homem chorando.

Ao se aproximar e perguntar se pode ria ajudar, o padre ouviu do homem que ele tinha entrado ali com pensamentos suicidas, mas tinha dito a Deus que, se ele encontrasse um padre, mudaria de ideia. “O padre, então, se revelou. Eles conversaram, rezaram juntos e o homem mudou de ideia”, contou Janeth.

A ESPIRITUALIDADE DA REDE

Fé em Cristo é um dos valores da Rede Marajó. Por isso, diariamente, em todas as unidades, mesmo onde não há capela, das 8h às 8h30, o trabalho é para lisado para se fazer uma oração em gru po, a partir da liturgia do dia.

“Ninguém é obrigado a participar, mas todos são convidados. Entretanto, quem não participa da oração, durante esses 30 minutos, não pode adiantar o serviço. Deve car parado”, contou.

Janeth disse ainda que a resposta à oração é muito positiva. “Independen temente de ser católico ou não, todos participam. Quando iniciamos [a oração diária], pensava comigo que não seria fá cil manter essa perseverança. Mas já são 30 anos que isso acontece.”

“É pela graça de Deus que há unida de. Além daqueles que fazem as leituras, há os que levam violão e tocam, inde pendente da fé que professam.”

Atualmente, a Rede Marajó é dirigida pelos lhos de Janeth, que, segundo ela, pretendem seguir com a oração diária e construir capelas em todos os postos. A próxima inauguração, prevista para de zembro, será da Capela dedicada a Santa Rita de Cássia e Nossa Senhora d’Abadia, em Cariri (TO).

18 | Reportagem | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
BELÉM-PA HIDROLÂNDIA-GO FRUTAL-MG Fotos: Rede Marajó/Divulgação

Coreia do Sul País deseja sediar a próxima Jornada Mundial da Juventude

A Arquidiocese de Seul manifes tou seu desejo de sediar a próxima edição da Jornada Mundial da Juven tude (JMJ), após a que será realizada em Lisboa, Portugal, em 2023.

Segundo Dom Peter Chung Soon -taick, Arcebispo de Seul, esta “seria uma oportunidade extraordinária para relançar a pastoral juvenil em um país que luta com o inverno demográ co e com um sistema educacional domina do pela competitividade”.

O Arcebispo explicou que o país asiático está enfrentando um grande desa o em relação ao número de jo vens, que está diminuindo. De acordo com estatísticas o ciais, a nação apre senta a taxa de natalidade mais baixa do mundo, com apenas 0,8 lho por casal. Por causa disso, o número de jovens nas igrejas também diminuiu.

“Precisamos de um ponto de virada para a pastoral juvenil em Seul, e a JMJ é uma ocasião propícia. Apresentamos o projeto aos outros bispos sul-coreanos, que deram seu apoio. Ainda não há nada decidido,

porém estamos preparando o dossiê para ser enviado à Santa Sé com nos sa candidatura”, declarou.

Dom Peter acredita que a prepa ração para a JMJ “pode se tornar uma excelente oportunidade para reunir os jovens em torno de um projeto que os faz protagonistas. Daria início a um processo e, uma vez concluído, seria bom compartilhar com todos o que temos experimentado. Seria uma oportunidade missionária para com partilhar os valores do Evangelho em nossa sociedade”, concluiu.

México

Autoridades podem proibir colocação de presépios em locais públicos

Em 2020, o cidadão mexicano Miguel Fernando Anguas Rosado se sentiu ofendido com a exposição de presépios em locais públicos. Ele pe diu que a Justiça mexicana proibisse a apresentação de qualquer referên cia ao nascimento de Jesus em locais coletivos no município de Chocholá.

Baseado na petição de Miguel Fernando, o magistrado da Supre ma Corte de Justiça mexicana, Juan Luis González Alcántara Carrancá, 73, propôs um projeto que proíbe a colocação de presépios e quaisquer

outros símbolos de alusão religiosa em locais públicos.

O projeto considera, ainda, que a colocação dos ditos objetos fere a liberdade religiosa e vai contra os princípios de laicidade da constitui ção mexicana e privilegia a religião católica em relação a outras crenças.

No dia 9 de novembro, a Supre ma Corte de Justiça se reunirá para julgar o projeto, cuja proibição seria destinada apenas ao município de Chocholá. No entanto, os bispos da Igreja Católica no México temem

Ásia

que esta medida seja o começo de um viés anticlerical e acabe por proi bir os tradicionais presépios natali nos no país.

Além disso, a Arquidiocese pri maz do México considera que o pro jeto favorece uma “laicidade negati va”, pois evita que as religiões sejam públicas, e pediu que a Suprema Cor te não vote a favor dele. Se aprovado, a decisão colocaria o México entre os países com medidas mais restritivas em relação às religiões. (JFF)

Igreja Católica asiática se inspira nos bispos latino-americanos

No domingo, 30, na conclusão da 50ª conferência geral da Federação da Conferência Episcopal da Ásia (FABC, na sigla em inglês) – organização que congrega os bispos católicos do Afega nistão, Bangladesh, Camboja, Coreia do Sul, Filipinas, Hong Kong, Índia, In donésia, Japão, Laos, Macau, Malásia, Mianmar, Mongólia, Nepal, Paquistão, Quirguistão, Sri Lanka, Tadjiquistão, Tailândia, Taiwan, Timor Leste, Turco menistão, Uzbequistão e Vietnã –, os prelados a rmaram que inspiram suas ações no Conselho Episcopal Latino -Americano e Caribenho (Celam), por causa de preocupações e questões semelhantes nas duas regiões.

“O Celam é muito inspirador, uma força poderosa na América Latina. Aprendemos muito com o Celam e devemos muito a ele”, a rmou o Car deal Oswald Gracias, indiano, durante

recente entrevista coletiva sobre o en contro realizado de 12 a 30 de outubro em Bangkok, na Tailândia, para co memorar o 50º aniversário da FABC. Cerca de 20 cardeais, 120 bispos, 37 padres, oito freiras e 41 leigos de 29 países participaram dessa conferência.

“Eu mesmo tive muito contato com os membros do Celam e con versamos muito sobre o que o Celam tem feito nos países latino-america nos, como ajudou a inspirar, apoiar, compartilhar. E o Comitê Central da FABC discutiu isso, e sentimos que nos bene ciaríamos muito se tivésse mos uma conferência semelhante, não uma assembleia plenária, que trata de um tema, mas uma conferência geral, com maior número de bispos, maior propriedade e, portanto, olhando para toda a perspectiva”, disse o Cardeal Gracias.

O Cardeal Gracias, que presidiu a conferência geral da FABC 50, disse que a FABC está em contato com o Celam para criar “intercâmbio e siner gia, porque muitas das preocupações e questões são semelhantes”.

O 50º aniversário da FABC ocor reu, na verdade, em 2020, mas a reu nião plenária e a celebração do jubileu foram adiadas por causa da pandemia de coronavírus. A Federação foi fun dada em novembro de 1970 durante a visita de São Paulo VI a Manila, Filipi nas. O objetivo era “fortalecer a cole gialidade” entre os bispos da região e de nir melhor o signi cado da “Igreja na Ásia” no espírito do Concílio Vati cano II (1962-1965). Realiza uma as sembleia plenária aproximadamente a cada quatro anos, alternando o local entre os países-membros. (JFF)

Liturgia e Vida

exemplo, peçamos

PADRE JOÃO BECHARA VENTURA

A Igreja não se resume a nossas paróquias e dioceses. Uma parte ainda maior do Corpo místico de Cristo já não está na terra. Trata-se dos Santos, que contemplam a Deus no Céu, e das almas, que são puri cadas no Purgatório. Ter consciência disso nos preserva de reduzir a Igreja ao seu aspecto político e sociológico. Não somos uma associação de pessoas com interes ses comuns e regida por um parlamento terre no. Somos a porção militante dos lhos ado tivos de Deus, que ainda caminha para a vida eterna por meio da “grande tribulação” (Ap 7,14). Nesta via, unimo-nos aos Santos, nossos intercessores.

Santa Teresinha disse que, depois de mor rer, desejava “passar o meu Céu fazendo o bem na terra”. O Padre Pio prometeu car “à porta do Céu” até que todos os seus lhos espirituais tivessem entrado com segurança. Os milagres são uma prova da ajuda dos Santos. A cura de um cego que colocou uma imagem da Beata Dulce sobre os olhos foi o que valeu a cano nização do “Anjo Bom da Bahia”. Como um irmão que ajuda outro irmão, um pai ou uma mãe que cuida do lho, os Santos auxiliam-nos corporalmente e espiritualmente. Sobretudo Nossa Senhora, a Rainha dos Santos, além de nos alcançar muitas graças, dirige as almas no caminho da santidade.

Além disso, os Santos são modelos de con duta cristã. Segundo Bento XVI, as suas vidas nos oferecem “a interpretação mais profunda da Escritura”. Correríamos o risco de deformar a missão e até mesmo o Magistério da Igreja se não nos recordássemos, continuamente e com reverência, da prática concreta de nossos “maio res” na fé! Como viveram mães de família ca nonizadas, como Gianna Beretta Molla e Zelia Guérin? Como atuaram religiosos como Maxi miliano Kolbe e Irmã Dulce? O que desejaram missionários como José de Anchieta e Damião de Molokai? O que praticaram e ensinaram pa dres como o Cura d’Ars e Josemaria Escrivá? Em que acreditavam doutores como Santo To más, São Francisco de Sales e Santo Agostinho?

Podemos até nos sentir pequenos diante deles. Porém, é preciso que confrontemos nos sa vida e nossa fé com a sua. O Papa Francisco alerta constantemente sobre o perigo de uma Igreja “autorreferencial”. Pois bem, a pior autor referencialidade consistiria em nos esquecer mos dos Santos, cuja vida é referência segura do que é o amor a Deus e ao próximo. A pretensão de nos aventurar numa “igreja nova” feita à ima gem e semelhança dos “tempos atuais” e alheia ao exemplo dos Santos apenas faria de nós lhos soberbos e ingratos. Uma semelhante loucura afastar-nos-ia de Jesus Cristo. Cedo ou tarde, teríamos de retornar, como o “ lho pródigo”, envergonhados de nossa miséria e degradação.

“Lembrai-vos dos vossos dirigentes, que vos anunciaram a Palavra de Deus. Considerando o m de sua vida, imitai-lhes a fé” (Hb 13,7). Os Santos são um presente que Deus nos fez e faz. Olhemos para suas vidas, peçamos a sua inter cessão e desejemos estar ao seu lado, com Jesus e Maria, no Céu.

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SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS 6 DE NOVEMBRO DE 2022
Fonte: La Croix International

Sínodo sobre sinodalidade avança para etapa continental

NESTA FASE DE ESCUTA, ESPERA-SE QUE BROTEM AINDA MAIS AS RIQUEZAS E PREOCUPAÇÕES DE CADA REALIDADE, E QUE SE SUPEREM AS RESISTÊNCIAS AO PROCESSO SINODAL

“O Sínodo vai em frente.” Assim co meça o documento de trabalho da etapa continental do Sínodo sobre a sinodali dade, que está atualmente em curso na Igreja e é a maior iniciativa de consulta e participação dos éis católicos na histó ria da Igreja. O texto, divulgado na quin ta-feira, 27 de outubro, pela Secretaria Geral do Sínodo, resume algumas das questões que mais preocupam os católi cos hoje, em diferentes partes do mundo.

Um ano após a abertura deste Síno do, convocado pelo Papa Francisco em 2021, “podemos a rmar com entusias mo” que o caminho continua – diz o documento de trabalho, que orientará as próximas etapas do processo, as assem bleias em nível continental, organizadas na África, América do Norte, América do Sul, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania. Algumas delas, que congregam representantes das igrejas de cada país nas regiões, já têm data marcada para fe vereiro e março de 2023.

Igreja”, disse ele, no dia 16 de outubro, defendendo dar tempo para uma “plena maturação” do processo.

TEMAS CENTRAIS

“Alarga o espaço da tua tenda” (Is 54,2). Essa referência bíblica foi usada no documento de trabalho para se referir à proposta de uma Igreja aberta a todos. A imagem da tenda faz pensar em um teto que, ao mesmo tempo, tem bases rmes, equilibradas em seus fundamentos, mas também um corpo exível, capaz de aco lher a muitos e resistir às instabilidades do tempo. Essa metáfora trata de “uma morada ampla, mas não homogênea, capaz de dar abrigo a todos, mas aberta, que deixa entrar e sair (cf. Jo 10,9), e em movimento para o abraço com o Pai e com todos os outros membros da huma nidade”, diz o documento.

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Diariamente, no site do jornal O SÃO PAULO, você pode acessar notícias sobre a Igreja e a sociedade em São Paulo, no Brasil e no mundo. A seguir, algumas notícias e artigos publica dos recentemente.

Francisco lembra que o mundo precisa de unidade e que a Igreja é a ‘casa da Comunhão’ https://cutt.ly/2NIatF9

Dom Odilo: ‘Não deve mais haver vencedores e vencidos, mas, sim, o desejo de caminhar juntos para construir um Brasil melhor’ https://cutt.ly/cNIpnub

Bispos do Benim revelam preocupação com escalada de violência e mudanças climáticas

https://cutt.ly/2NInSzW

2,3 mil denúncias de propaganda eleitoral irregular são registradas em todo o Brasil https://cutt.ly/1NIpC8f

A Igreja ensina a rezar por aqueles que já morreram https://cutt.ly/GNIsdVw

Após uma ampla consulta em âmbi to paroquial, comunitário e diocesano sobre os desa os e oportunidades que a Igreja encara hoje, 112 conferências dos bispos, assim como 15 igrejas orientais e 17 dicastérios do Vaticano, congre gações religiosas, associações e grupos independentes enviaram suas contribui ções à Secretaria Geral. Essas sínteses foram lidas e organizadas por ela, que redigiu o documento de trabalho divul gado agora.

De acordo com a Secretaria, a parti cipação, até aqui, “superou todas as ex pectativas”. Os participantes apresenta ram, segundo o documento, “esperanças e preocupações”. As grandes perguntas que buscaram responder foram: “Como se realiza hoje, em diferentes níveis (da quele local àquele universal), aquele ‘caminhar juntos’ que permite à Igreja anunciar o Evangelho, conforme a mis são que lhe foi con ada? E quais passos o Espírito nos convida a dar para crescer como Igreja sinodal?”.

MATURAÇÃO E COMPREENSÃO

A fase atual do Sínodo ainda é de “escuta”. Em 2023 e 2024, membros da Igreja em todo o mundo virão a Roma para a fase de “discernimento”, na qual re etirão, dialogarão e apresentarão pro postas. Duas semanas atrás, o Papa Fran cisco decidiu estender por mais um ano o atual Sínodo, que estava previsto para terminar em 2023 e, agora, será concluí do em outubro de 2024. “Espero que esta decisão favoreça a compreensão da sino dalidade como dimensão constitutiva da

O documento de trabalho reconhece que em algumas realidades eclesiais há “resistência” ou “passividade” no proces so sinodal. Durante a coletiva de impren sa em que se apresentou o documento de trabalho, O SÃO PAULO questionou as autoridades da Secretaria sobre o que se pode esperar, daqui por diante, para pro mover a maturação e compreensão – ou uma conversão sinodal – desejada pelo Papa Francisco.

Em resposta, o padre jesuíta Giaco mo Costa, consultor da Secretaria, disse que é preciso tomar tempo para fazer crescer uma Igreja sinodal. “Não é uma coisa que se constrói em uma reunião. O documento permite compreender que a expressão ‘estilo sinodal’ já se conecta com muitas experiências práticas. Mui tos já começam a sair de uma perspectiva ideológica, da noção de ‘conservadores e progressistas’, e começam a escutar, fazer estrada com os outros”, a rmou.

“Já não querem homogeneizar a to dos, mas envolver a todos no caminho. Temos que ir em frente nesse processo de escuta e identi car o que há de precioso na contribuição de cada um. Mesmo os que erram têm algo a dizer, a contribuir.” Espera-se que a etapa continental do Sí nodo permita fazer brotar ainda mais “as riquezas e preocupações de cada realida de”, acrescentou.

Ainda em resposta à reportagem, o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral do Sínodo, disse que, no início do pro cesso, algumas conferências episcopais declararam ter enfrentado resistência por parte dos éis, mas que isso foi su perado. “Muitos não tinham entendido do que se tratava, mas lentamente con seguiram esclarecer o que é o estilo da sinodalidade. Espero que esta primeira etapa ajude a todos – ninguém excluído. De todos, o Espírito Santo pode comu nicar algo à Igreja”, disse. Ele pediu que até mesmo os que não estão convencidos pela sinodalidade “deem um passo avan te e venham caminhar juntos”.

“Quem é convidado para a ten da?”, indagou o Cardeal Jean-Claude Hollerich, Arcebispo de Luxemburgo e Relator-geral da próxima assembleia do Sínodo. “Todo o povo. Mas nossos comportamentos nem sempre re etem o amor acolhedor de Deus. Precisamos aprender a olhar para todas as pes soas como alguém amado por Deus”, complementou.

O documento, que não é ainda o resultado do Sínodo, mas um relatório desta etapa, fala sobre a necessidade de se promover uma Igreja missionária, com “hospitalidade profunda, segundo os ensinamentos de Jesus”. Coloca a “op ção pelos jovens” e a defesa da vida como pontos essenciais para a ação da Igreja, bem como a sua celebração litúrgica, a ser valorizada tanto em forma quanto em conteúdo.

No geral, fala-se de uma Igreja que precisa ir ao encontro dos que se sen tem fora. Diz o texto: “Entre os grupos excluídos mencionados mais frequen temente: os mais pobres, os idosos sozinhos, os povos indígenas, os mi grantes sem nenhum pertencimento e que vivem uma existência precária, as crianças da rua, os alcoolizados e os drogados, aqueles que caíram nas redes da criminalidade e aqueles para quem a prostituição representa a única possi bilidade de sobrevivência, as vítimas do trá co humano, os sobreviventes dos abusos (na Igreja e não só), os presos, os grupos que sofrem discriminação e violência por causa da raça, da etnia, do gênero, da cultura e da sexualida de. Nas sínteses, todos estes aparecem como pessoas com rosto e nome, que pedem solidariedade, diálogo, acompa nhamento e acolhimento”.

Segundo a teóloga Anna Rowlands, professora na Universidade de Durham (Reino Unido), que participou da comis são de redação do documento, a presen ça e a participação das mulheres na Igreja surgiu como questão transversal urgente, que precisará ser aprofundada nas pró ximas etapas. “É um dos temas mais importantes das sínteses”, disse. “Mas os relatórios mostram renovada con ança na Igreja e na sua capacidade de trazer Cristo para o mundo”, acrescentou.

20 | Reportagem | 2 a 8 de novembro de 2022 | www.osaopaulo.org.br www.arquisp.org.br
FILIPE DOMINGUES ESPECIAL PARA O SÃO PAULO, NA CIDADE DO VATICANO Synod.va

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