O jornal que Campos Gerais lê Castro-PR, terça-feira, março de 2013 * Ano XXIII * Nº 23
especial de aniversário
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ESPECIAL TERÇA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2013
EDITORIAL
O que acontece em dez anos
Como será Castro daqui a dez anos? Como vai ser a cara da cidade - que já tem 309 anos e que passa por profundas transformações – em uma década? Antes: quais estão sendo os desafios da atual administração municipal para dar conta dessas questões? Em resposta a essas e a outras perguntas, os secretários Marcos Bertolini, de Gestão Pública e Planejamento e também vice-prefeito, e Jaime Pusch, de Desenvolvimento Urbano, além do prefeito Reinaldo Cardoso, falaram com o Página Um e mostraram ponto por ponto o que a atual gestão pensa para o município nesse período. Entre muitas perspectivas po-
sitivas, principalmente na arrecadação e crescimento do município com instalação de grandes indústrias, há algumas preocupações que devem permear este governo. Na visão do prefeito Reinaldo, por exemplo, em dez anos Castro será uma “cidade grande”, pois aos atuais 67.082 habitantes – conforme o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – serão acrescidas entre 15 e 20 mil pessoas. O secretário Jaime Pusch faz uma observação preocupante. Segundo ele, Castro conta atualmente com cerca de três mil pessoas que vivem em situação de pobreza, ou seja, que vivem com até
metade de um salário mínimo por mês e que representam 4,47% da população. A expectativa para mudar esta realidade é justamente o grande desafio apontado pelo vice-prefeito Marcos Bertolini para os próximos anos: aumentar a renda do castrense. Enfim, são muitas as ‘previsões’, tanto promissoras quanto preocupantes. O que vai acontecer, só o tempo – e o empenho de sociedade e poder público – determinará. Mas, certamente daqui a dez anos valerá a pena dar uma folheada nesta edição comemorativa aos 309 anos de Castro para ver o que se concretizou.
TOMBAMENTO DO CENTRO HISTÓRICO
Secretaria de Cultura fará reestudo de
projeto
João Paulo Cobbe
HELCIO
ESPECIAL
KOVALESKI
PARA O PÁGINA UM
Ainda neste semestre, a Secretaria Estadual de Cultura (Seec) fará um reestudo do projeto de tombar 40 quadras no Centro de Castro para manter as características dos prédios antigos – a maioria deles utilizada como pontos comerciais. A informação é do procurador-geral do município, o advogado Ronie Cardoso Filho. De acordo com Ronie, a região a ser estudada pela Seec vai do entorno do rio Iapó até a área dos hotéis, que é justamente a parte mais antiga de Castro. “Mas é preciso lembrar que o estudo será geral e não necessariamente inclui tombamento dos imóveis”, observa. Para realizar esse estudo, a secretaria deverá licitar uma empresa, que fará a avaliação dos imóveis históricos. “O estudo que foi feito há oito anos será atualizado. A partir disso, a secretaria emitirá um parecer técnico para o Conselho Estadual do Patrimônio Histórico, que, por sua vez, fará a análise do processo”, explica Ronie. Mas, segundo Ronie, nada será feito sem consultar a população. “Uma das primeiras medidas da empresa licitada pela secretaria será realizar uma audiência pública”, conta. O projeto de tombamento do Centro histórico de Castro está incluído no ‘Programa de Aceleração do Cresci-
ESPECIAL 309 ANOS DE CASTRO Uma publicação exclusiva de
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REGIÃO a ser estudada vai do entorno do rio Iapó até a área dos hotéis
mento (PAC) das Cidades Históricas’, lançado em outubro de 2010 com a meta de preservar prédios e bens culturais e com previsão de recursos da ordem de R$ 250 milhões ao ano para cidades que têm centros históricos ou estão em processo de tombamento. Além de Castro, outros cinco municípios paranaenses serão contemplados: Morretes, Lapa, Antonina, Guaratuba e Paranaguá. No caso de Castro, é bom lembrar
que, em 2004, a população saiu às ruas para protestar contra a iniciativa do então governo estadual (do agora senador Roberto Requião, PMDB) de tombar 40 quadras no Centro da cidade. À época, a Prefeitura pediu R$ 35,7 milhões ao governo federal, mas estava previsto o recebimento de apenas R$ 12 milhões. O restante seria repassado nos três anos seguintes (2011, 2012 e 2013). Conforme explica Ronie Cardoso Filho, no entanto, nos editais de 2013, está previsto que somente Antonina receberá dinheiro do PAC. “Castro não conseguiu verba porque ainda não conta com a documentação necessária”, afirma.
ESPECIAL TERÇA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2013
A UM PASSO DO FUTURO
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Da Vila Nova à ‘nova Castro’ João Paulo Cobbe
Prefeito e secretários avaliam como será a cidade em dez anos
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Todas as avaliações convergem para um novo desenho da cidade
HELCIO KOVALESKI ESPECIAL PARA O PÁGINA UM
A questão se repete. Os tropeiros que passavam pela microrregião que hoje é chamada de Campos Gerais, mais precisamente às margens do rio Iapó, no vau tão caro à boa acolhida dos animais da tropa que vinham da cidade gaúcha de Viamão com destino à paulista Sorocaba, ainda nos longínquos primeiros anos de 1700, nem imaginavam que aquele território fosse um dia transformar-se em um local promissor pela excelência de uma economia forte, baseada predominantemente nos frutos da terra. E, muito tempo depois, na potencialização desses frutos, denominada tecnicamente de ‘industrialização’ – cumprindo, assim, a cadeia com a qual toda cidade baseada na agropecuária sonha contar. Mais do que um verbete indicando algo prometido, a se concretizar, a palavra ‘promissor’, meio a contragosto, ainda
VISTA AÉREA DE CASTRO: o que esperar da cidade na próxima década é pergunta frequente
teima em constar do dicionário do município de Castro. Ocorre que tal palavra não define e nem ao menos fecha a questão sobre o ponto principal, provavelmente formulada na cabeça de milhares de castrenses: mas quando é que a cidade deixará de ser apenas promissora – de vez, assim, para se esquecer dessa palavra? Bem, se exatamente há um ano essa prerrogativa ainda se configurava em uma, digamos, quimera, neste momento em que a cidade comemora seus 309 anos (a partir da data em que
foi feito o primeiro pedido de colonização, conforme iniciativa da Coroa Portuguesa, pelo capitão-mor Pedro Taques de Almeida e sua família, em 19 de março de 1704), a palavra ‘promissor’ começa, concretamente, a fazer sentido. Os motivos? Inúmeros. E eles são principalmente socioeconômicos. E arquitetônicos, uma vez que Castro faz parte de um rol de seis municípios paranaenses incluídos no ‘Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas’. O Página Um convidou o
prefeito Reinaldo Cardoso (PPS) e dois secretários municipais – Marcos Bertolini (PDT), de Gestão Pública e Planejamento, e também viceprefeito, e Jaime Pusch, de Desenvolvimento Urbano – para um exercício de pura futurologia. A pergunta aos três foi: ‘Como será Castro daqui a dez anos?’ – com base nos contornos que estão começando a ser desenhados sob o impacto do início da construção da biorrefinaria da Cargill Agrícola S/A; da Evonik Industries, a primeira empresa-satélite do com-
plexo; e do frigorífico de abate de suínos da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial Ltda. (em parceria com a Capal de Arapoti, e a Batavo, de Carambeí), todas alinhavadas durante a gestão anterior. E da expansão de outras empresas locais. Em resumo, todas as avaliações convergem para um novo desenho da cidade – não obstante os inúmeros desafios de se quebrar os ovos para fazer a omelete. Senão por menos, porque os três entrevistados concordam com o fato de que, se não houver uma mudan-
ça de hábito ou mesmo de conceito, a transformação tão esperada da cidade corre o sério risco de se tornar apenas cosmética. Seria o caso de arriscar até mesmo uma nomenclatura: de ‘Comarca da Vila Nova de Castro’ – nome sacramentado pela lei provincial nº 02, de julho de 1854 – para ‘Nova Castro’, bem aquela que possivelmente surgirá em 2023. Esse nome, aliás, coincide com o de um projeto conjunto da Prefeitura e da iniciativa privada que prevê a construção de nada menos que mil casas em uma área de 200 alqueires, beneficiando, em um primeiro momento, cerca de quatro mil pessoas. Só para lembrar. Até 2023, o Brasil já terá passado pela Copa do Mundo de 2014 (se for com vitória, tanto melhor), pelas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro (se for com a conquista de medalhas, tanto melhor); e pelas eleições gerais de 2014, 2018 e 2022 e municipais de 2016 e 2020. Nesse contexto, uma perguntinha vem bem a calhar: até 2023, o time de futsal do Caramuru Esporte Castro será campeão brasileiro? É esperar para ver. E planejar, a se considerar a visão da atual gestão municipal.
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TERÇA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2013
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EM POUCO TEMPO
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Castro será uma cidade grande Três mil estão em situação de pobreza HELCIO
KOVALESKI
ESPECIAL PARA O PÁGINA
UM
Mesmo fazendo parte do primeiro escalão da atual administração municipal, que é quem assumiu a função mesma de dar o pontapé inicial efetivo da transformação pela qual a cidade está começando a passar, o secretário de Desenvolvimento Urbano, Jaime Pusch, tem uma visão um tanto quanto contundente dos desafios de, na prática, segurar o touro a unha. “A Cargill [Agrícola S/A] é muito bem-vinda, mas o que vem a reboque?”, questiona ele, na lata. A primeira observação feita por Pusch, na entrevista que concedeu ao Página Um na tarde de terçafeira (12), é de que, do total de 67.082 habitantes, conforme o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Castro conta atualmente com cerca de três mil pessoas que vivem em situação de pobreza. Trocando em miúdos, são pessoas que sobrevivem com até metade de um salário mínimo por mês e que representam 4,47% da população. Sem dúvida, um índice expressivo e, por isso mesmo, alarmante. Qual a origem dessa situação? É o próprio Pusch quem explica. “Castro vem sofrendo uma série de pressões na sua tessitura urbana decorrente de impactos progressivos e alguns até mesmo instantâneos. São problemas seriíssimos de ocupação territorial ocasionada muitas vezes por certa ‘flacidez’ do poder público. Resultado: a criação de bolsões de pobreza”, afirma. “Ou seja, é mais de um resgate de um passivo do que melhoria de qualidade. Estamos trabalhando no vermelho”, completa. Mas Pusch enumera outros problemas atuais da cidade, como, por exemplo, na área de mobilidade urbana. Segundo ele, nos últimos 20 anos, a frota de veículos na cidade subiu de 12 mil para 24 mil. “Tudo isso em decorrência dos incentivos proporcionados à indústria automobilística”, observa. “É a tão propalada ascensão da classe C. Acontece que não temos cidade suficiente para isso, e a
consequência disso é o adensamento do município”, pondera. “Me preocupa muito a questão estrutural da cidade, que não está preparada para todo esse impacto que hoje a ameaça”, diz Pusch, que lembra que a cidade “não tem solo suficiente para enfrentar a demanda habitacional”. “E o custo é extremamente oneroso para o orçamento do município, que gasta muito com folha de pagamento e acaba tendo muito pouco investimento”, afirma. “Agora, o impacto que vai causar tudo isso, só Deus sabe. O fato é que, hoje, estamos com um passivo muito grande na área habitacional”, enfatiza. Segundo Pusch, a cidade precisa passar por um processo de “universitarização”. “Mas não só com títulos, e sim de aporte tecnológico. Por outro lado, eu vejo que o município tem uma potencialidade belga, mas com renda de Haiti”, afirma. ‘Messianismo’ Na avaliação de Jaime Pusch, os novos investimentos que estão aportando no município podem melhorar o circuito econômico, mas ele lembra que todo o processo vai demandar muitos outros serviços, e com qualidade sempre crescente. Ele aponta ainda para uma questão cultural que, de resto, não é privilégio de quem vive em Castro. “Ainda existe uma dependência, um hábito por parte das pessoas de achar que o governo tem que resolver as coisas. Uma espécie de ‘messianismo’ no qual não se promove o cidadão, que passa a somente esperar. Nesse quadro, é muito difícil trazê-lo para a cidadania. Se alguém reclama que o trânsito está parado é porque, em suma, o seu carro está no trânsito. Será que o poder público tem que resolver tudo?”, questiona. “Daqui a dez anos, dobrarão os problemas. Mas será que estarão dobradas também as soluções? Educação e saúde, por exemplo, é dever de todos, mas como resolver isso?”, complementa. Isto posto, Pusch vai direto ao ponto: para ele, um dos maiores problemas a serem enfrentados
será a resistência do castrense em inserir-se no processo de transformação pelo qual a cidade está passando. “E isso vale para todo brasileiro; ele tem que se automudar. E, para isso, são necessários talento e conhecimento”, assegura. ‘Cosmopolitismo caipira’ Pusch vai mais fundo na análise e observa que Castro já foi um município industrial, mais precisamente na virada dos séculos 19 e 20. De acordo com ele, era uma indústria mais ligada ao extrativismo. “A cidade já teve fábrica de cerveja, teatro, movimento de música. Antes da vinda dos colonos poloneses, não se fabricava pão em Castro. E foi somente com outros colonos, os holandeses, na década de 1950, que o município retomou a sua opção agrícola. E, agora, está sendo retomada a indústria com base na agropecuária”, conta. “Nesse sentido, como pegar uma população com hábitos culturais arraigados e mudar isso? Não existe mais processo revolucionário”, afirma Pusch, lembrando que o que existe em Castro, hoje, é uma espécie de “liberalismo conservador”, diz ele, que segue destacando que a atividade característica dos holandeses não é a agropecuária, “mas sim o comércio”. “A República de Amsterdam tem como marca o comercio internacional. Então, no caso da agropecuária, o foco é o agronegócio. Eles são comerciantes por tradição, até pela característica do seu país. E esses aspectos são mais visíveis na terceira geração dos holandeses que se estabeleceram em Castro”, diz. Resumindo tudo, Jaime Pusch arremata dizendo uma frase que mostra bem a sua já proverbial verve: “Estamos entrando no cosmopolitismo. Mas é um cosmopolita caipira, sui generis. Um caipira com internet”. Pelo sim, pelo não, ele faz uma ponderação. “Não estamos aqui para construir civilização, mas utopias. Ao mesmo tempo, temos que pensar no que seja melhor para a cidade. Não dá para sonhar pequeno e tampouco continuar sendo pobres em criatividade”, afirma.
Divulgação / João Paulo Cobbe
Projeto conta com a parceria da iniciativa privada
Catro sofreu pressão do ‘Vale do Ribeira’ O secretário de Desenvolvimento Urbano de Castro, Jaime Pusch, conta que, em um prazo entre dez e 20 anos, o município sofreu uma pressão das cidades do Vale do Ribeira, cortado pelas rodovias PR092 e PR-090 (a Estrada do Cerne) e localizado entre a região dos Campos Gerais e a Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Segundo ele, trata-se de uma região “eternamente decadente e da qual Castro recebe “muita migração” de pessoas. “Eu me lembro uma vez em que a Cohapar [Companhia de
Na visão do prefeito Reinaldo Cardoso (PPS), em dez anos Castro será uma “cidade grande”. Isso porque, nesse período, aos atuais 67.082 habitantes – conforme o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – serão acrescidas entre 15 e 20 mil pessoas. “No entanto, o projeto de uma ‘nova Castro’, mais modernizada, vai depender muito de planejamento e de um crescimento coordenado. Será algo difícil de implantar se não se mudar os conceitos”, observa
PREFEITO Reinaldo Cardoso: “A primeira cidade planejada dos Campos Gerais” Reinaldo. “Mas, sem dúvida, será uma cidade grande com qualidade de vida”, prevê. Reinaldo se refere ao projeto intitulado ‘Nova Castro’ que será desenvolvido pela Prefeitura em parceria com a iniciativa privada – mais precisamente com o empresário Arata Hara,
um dos ex-proprietários, juntamente com a família Yamamoto, do terreno onde está sendo construída a biorrefinaria da Cargill Agrícola S/A, na região do Cruzo. A ideia é, em um primeiro momento, construir mil casas, beneficiando, assim, perto de quatro mil pessoas.
município. E contou que já foram realizadas várias reuniões com a equipe da Prefeitura e que, na sequência, o projeto será apresentado aos vereadores. “Queremos urbanizar ordenadamente, fazer uma cidade planejada”, disse. Na ‘Nova Castro’, deverão ser construídos imóveis residenciais e comerciais, um centro de eventos (com quatro salões e uma praça), um hotel com capacidade para 210 quartos e um condomínio fechado “de alto padrão”. “Inclusive, tem 20 alqueires [destinados] para o [programa federal] Minha Casa, Minha Vida, cuja área, num prazo de dois a três meses, será desmembrada”, observou Arata. Segundo o empresário, a previsão é de que em um prazo de três meses sejam iniciados os trabalhos nesses 20 alqueires, localizados próximos à Associação Atlética Banco do
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Brasil (AABB), “no sentido que vai para Terra Nova”. “Daí, eu começo, logo em seguida, a implantação do condomínio. Depois, do centro de eventos e do hotel. Lá na frente, com os módulos, vamos desenvolvendo a nova cidade de Castro, inclusive com uma área destinada a um ‘centro cívico’ e um centro universitário”, relatou. “Vai ser a primeira cidade planejada dos Campos Gerais”, garante Reinaldo Cardoso. De acordo com ele, a contrapartida da Prefeitura será fornecer toda a infraestrutura necessária para o projeto sair do papel, com readequações em fundos de vale “e a necessária mudança na malha urbana”. Conforme explicou Arata, o empreendimento, claro, está sendo impulsionado pelo atual ciclo de transformações pelo qual a cidade está passando. “Um segue o outro, não é? Por isso que estamos trazendo
de 20 anos, Castro terá perto de 100 mil habitantes”. Pusch lembra ainda que, entre as décadas de 1980 e 1990, Castro registrava uma média de crescimento censitário da ordem de 29%, uma das mais altas do país. “Exatamente o mesmo índice era registrada em cidades do Vale do Ribeira, só que de decréscimo”, diz. Segundo ele, dois terços do município de Castro estão localizados na região dos Campos Gerais e o outro um terço, no Vale do Ribeira, mais exatamente o distrito do Socavão e parte do distrito do Abapan.
Município terá plano de ‘remanejamento’
REGIÃO onde será construído o empreendimento ‘Nova Castro’ Em entrevista ao Página Um em 26 de fevereiro, Arata explicou que se trata de duas fazendas. “Uma, o Capão Alto, que virou distrito industrial [Tetsuo Yamamoto, justamente onde está sendo construído o complexo da Cargill], e a outra é a Cantagalo, onde a cidade chegou ao limite, no nosso muro”, afirmou, lembrando que o projeto começou a ser engendrado ainda ao tempo da gestão anterior, do ex-prefeito Moacyr Elias Fadel Junior (PMDB). “Foi numa das conversas com o prefeito anterior e também com o [atual] prefeito Reinaldo [Cardoso, PPS], resolvemos fazer um plano junto com a Prefeitura de como desenvolver os 200 alqueires da fazenda Cantagalo”, relatou. “Demorou um pouquinho para sair do papel, e resolvermos chamar de ‘Nova Castro’”, completou. O empresário lembrou também que esse tamanho de área corresponde a dois terços do
Habitação do Paraná] foi fazer um conjunto habitacional em Cerro Azul com base em uma pesquisa de demanda habitacional. Constatou-se que a cidade precisava só de 25 casas. Construíram as casas, mas 17 ficaram desocupadas, porque, até ficarem prontas, o povo já tinha ido embora”, relata o secretário. “Até hoje, o Vale da Ribeira está perdendo população, que está indo para Curitiba ou vindo para os Campos Gerais, habitando as periferias das cidades de porte médio, como é o caso de Castro”, afirma, fazendo uma previsão: “Depois
ARATA HARA: “Me aguardem, que vai ser um negócio show” todo esse projeto para a câmara aprovar e deixar tudo dentro da lei. Eu seria irresponsável se loteasse tudo, ganhasse dinheiro e fosse embora. Não é isso que queremos. Queremos, sim, uma nova cidade de Castro, planejada”, afirmou. “Me aguardem, que vai ser um negócio show”, garantiu.
A Prefeitura de Castro irá desenvolver um ‘plano de remanejamento dos bens públicos’. É o que conta o secretário de Desenvolvimento Urbano, Jaime Pusch. De acordo com ele, primeiro será feita uma auditagem técnica em cada um dos bens públicos quanto à adequação de uso e ao estado de conservação, programada ainda para este ano. Depois, será realizado um ‘plano de manutenção e manejo’. “Tudo será avaliado. Por exemplo, vale a pena recuperar o matadouro municipal? Talvez não. Isso não é mais atividade pública, e sim privada”, diz Pusch. A preocupação da Prefeitura é com relação aos chamados ‘vazios urbanos’ – “qualquer área que esteja fora do que já está assentado”, na explicação de Pusch. Ele lembra que Castro é cortada no sentido norte-sul por quatro divisões: rodovia PR-151, ribeirão Maracanã, ferrovia e ribeirão São Cristóvão. Já no sentido leste-oeste, a cidade é cortada pelo rio Iapó, “com
sobra em uma faixa de explosão na região sul”. “E o que era um traço de união, hoje se tornou um divisor: o Contorno Sul, que está sendo tratado como rodovia”, observa o secretário. “Pergunte para [o município de] Ventania se gosta de ter uma rodovia cortando a cidade, guardadas as devidas proporções?”, questiona ele, em referência à rodovia BR-153, a Transbrasiliana. ‘Arquipélago’ Na avaliação de Jaime Pusch, Castro é uma cidade dividida, “quase um arquipélago”, e com o que ele chama de um “movimento pendular de lado a lado muito grande”, em termos de migração de um espaço para outro dentro da cidade. “E nós vamos lutar arduamente para tentar harmonizar tudo isso”, diz. No entanto, Pusch lembra que, por outro lado, Castro conta com algumas potencialidades que são “ricas”, como o ribeirão São Cristóvão, “uma dádiva divina”. “É um trambolho? É. Inco-
moda? Sim. É insalubre? Sim. Mas tem potencial de transformação para áreas aprazíveis no Centro da cidade, como já fizeram, em uma primeira experiência, no Parque Lacustre, como um ponto de convergência para a população, em convivência com a área pública”, afirma. Na opinião de Pusch, isso abre para uma “leitura diferente” da cidade. “Castro é a terra do Agroleite [evento anual promovido pela Castrolanda Cooperativa Agroindustrial Ltda.], mas por que não é a terra dos lagos, a terra dos parques?”, questiona. Para o secretário, “por incrível que pareça”, a obra pública que mais marcou a história das administrações públicas de Castro não foi hospital Anna Fiorillo Menarim e nem os conjuntos habitacionais, mas sim o Parque Lacustre. “E agora o prefeito [Reinaldo Cardoso, PPS] está obstinado para expandir o parque”, diz Pusch, em alusão ao projeto do atual governo de criar também os parques lacustres II e III.
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INVESTIMENTO DE R$ 350 MILHÕES
Cargill é o carro-chefe do futuro João Paulo Cobbe
Unidade deve gerar 800 empregos diretos e indiretos HELCIO
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Os bons números da safra de milho 2011/2012 em Castro são apenas um dos motivos pelos quais a Cargill Agrícola S/ A decidiu escolher Castro para a instalação de uma biorrefinaria – inédita no Brasil. Outros dois motivos são a facilidade de acesso a grandes centros, como Curitiba e São Paulo, e a fartura de rios e riachos na região, o que também viabiliza logisticamente o empreendimento. Após uma briga meio no braço que durou cinco meses e na
NOVA FÁBRICA vai aumentar em 30% capacidade de de moagem de milho da Cargill para a América Latina
qual Castro teve de disputar com cidades pesos-pesados do Paraná, como Ponta Grossa, Guarapuava, Londrina e Maringá, e também de outros Estados
PERFIL DO MUNICÍPIO DE CASTRO
(Mato Grosso e Goiás), o protocolo de intenções entre o município, a empresa e o governo do Estado – aliado fundamental, que garantiu incentivos fiscais pelo
programa ‘Paraná Competitivo’ – finalmente foi assinado em 5 de agosto do ano passado, no Memorial da Imigração Holandesa – Moinho da Castrolanda.
A biorrefinaria que Cargill está construindo em Castro – e cuja inauguração está prevista para agosto deste ano – vai processar o milho para obtenção de
xarope de glucose, maltose, amidos naturais e amidos modificados, além de óleo, massa e dextrose – de onde sairão vários tipos de açúcares. A unidade será uma espécie de ‘âncora’ em torno da qual também se instalarão até cinco outras empresas – como é o caso da Evonik Industries, que também já iniciou a construção da sua unidade. O investimento total da Cargill em Castro somará R$ 350 milhões. A planta deve gerar 800 empregos – 200 diretos e 600 indiretos. A nova fábrica vai aumentar em 30% a capacidade de moagem de milho da Cargill para a América do Sul. A capacidade inicial dessa moagem deverá ser de 800 toneladas por dia. No futuro, essa capacidade deverá aumentar para 3,2 mil t/dia. Já quanto à produção inicial, a previsão é de 220 mil t/ano, e a produção futura, 880 mil t/ano.
Biorrefinaria faz parte da terceira fase de industrialização de Castro Na avaliação do empresário Paulo Bertolini, diretor comercial da Calpar Calcário Agrícola, a vinda da Cargill para Castro faz parte da terceira fase do processo de industrialização do município. A primeira, segundo ele, aconteceu entre 1880 e 1890, com a vinda do imigrante austríaco Bernardo Pusch, que construiu aqui uma fábrica de embalagens de madeira. Naturalizado brasileiro, Pusch foi quem implantou a iluminação pública em Castro, além de também trazer para a cidade o primeiro trator. A segunda fase aconteceu entre os anos 1950 e 1993, período no qual o agora município de Carambeí ainda era distrito de Castro. Nessa fase, Cas-
tro era o ‘município perfeito’, porque seu ciclo econômico ia desde a produção agrícola, passando pela produção de ração que era dada a animais suínos e aves e também a vacas leiteiras, e pela industrialização de produtos agroindustriais e chegava até ao envasamento dos produtos em embalagens. “Ou seja, tudo era produzido por empresas genuinamente castrenses e entregávamos os produtos já embalados, por exemplo, na Avenida Paulista [em São Paulo, SP] ou na Avenida [Nossa Senhora de] Copacabana [no Rio de Janeiro, RJ]”, diz Bertolini. “Mas, com a emancipação de Carambeí, em 1993, tudo isso foi tirado de Castro, e o município virou produtor somente de matéria-prima.
Sem contar que, na parte assistencial, a cidade ficou sem receita”, completa. A terceira fase de industrialização teve início em janeiro de 2008, com a implantação da Unidade de Beneficiamento de Leite (UBL) da Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, e se completará, agora, com a instalação da Cargill na cidade. “Como o investimento é muito grande [cerca de R$ 350 milhões], é enorme a possibilidade de Castro recuperar integralmente um parque industrial equivalente ao que lhe foi tirado quando Carambeí se emancipou. Com a industrialização do milho pela biorrefinaria da Cargill, essa fase adquire um novo impulso”, afirma Bertolini.
Isto é Castro Central de Abastecimento (Ceasa) de São Paulo, capital. Em meio à algaravia muito comum desse tipo de lugar – um entreposto de hortifrutigranjeiros presente em muitos Estados brasileiros –, entre clientes, compradores, fornecedores e vendedores, chega alguém (pode ser de qualquer parte do Brasil) a uma banca, aponta para um amontoado de abóboras de formato esférico e de cor verde-escuro e pergunta: “Esta abóbora cabotiá é de Castro?”. “Sim”, responde o vendedor. “Então, eu vou levar”. E o comprador sai feliz da vida. (Relato do produtor rural castrense Adão Valenga ao Página Um , em junho de 2010)
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Um dos desafios é ‘melhorar a renda’ Preocupação é garantir crescimento de forma ordenada HELCIO
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MARCOS BERTOLINI: bairrismo assumido
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Na visão do vice-prefeito Marcos Bertolini (PDT), que acumula também o cargo de secretário de Planejamento e Gestão Pública, o grande desafio para os próximos anos é de natureza socioeconômica: aumentar a renda do castrense. Mas ele aponta também para o
PIB DO AGRONEGÓCIO
O ‘23º do país’ e o primeiro do Paraná Uma lista com os 100 maiores produtos internos brutos (PIBs) do setor agropecuário brasileiro, que somam R$ 26,4 bilhões, fruto de um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao quadriênio 2004-2008, coloca Castro em 23º lugar no país e em
primeiro lugar no Paraná. Nesse período, o PIB do Agronegócio de Castro somou R$ 298,913 milhões. Essa notícia foi divulgada pelo Página Um em 17 de dezembro de 2011. “Esse resultado só confirma a posição e a importância da nossa terra como um dos principais municípios no agronegócio do
que considera uma contradição: um baixo índice de desemprego – hoje em torno de 4,5%. “Pode parecer estranha essa avaliação, mas esse índice pode ser nocivo, já que atrai muita gente de fora. Porém, de outro lado, queremos que os castrenses melhorem a sua renda, num contexto de uma economia mais ativa”, explica Marcos, que concedeu entrevista ao Página Um na terça-feira (12). Para ele, um índice considerado ideal de desemprego talvez fosse de 6%, “pois está provado que índices muito baixos provocam emigração de pessoas para cá”, situação na qual aumentam as dificuldades moradia, aumento populacional e serviços públicos. “Isso gera uma demanda para o município que, em termos socioeconômicos, não é o que estamos buscando. O que gostaríamos é desenvolver isso para os castrenses. Queremos que Castro cresça, mas para os castrenses”, observa, admitindo que essa posição é uma espécie de “bairrismo assumido”. Marcos lembra que, no mo-
mento, é difícil falar em metas para os próximos anos pelo simples motivo de que a atual gestão encontra-se na fase de construção dessas metas. Ele conta que a etapa atual é a da apresentação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), baseado no Plano Plurianual (PPA) para os anos de 2014 a 2017, “que começa a ter a perspectiva do município a médio e curto prazo”. “E, dentro desta diretriz, a gestão pública está sendo enfatizada onde entendemos que a própria administração pública tem que acompanhar, principalmente pelo atual momento contraditório de excesso de gastos com pessoal, falta de pessoal em diversas secretarias e baixa remuneração. Isso é extremamente contraditório e desafiador”, avalia. De acordo com Marcos, o limite prudencial 51% da folha de pagamento, conforme preconiza a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), foi “estourado” já no segundo quadrimestre do ano passado, ainda ao tempo da administra-
Paraná. E a informação, muito embora seja do período de 2004 a 2008, vem num bom momento. Mas é preciso lembrar que o estudo é por essa metodologia adotada pelo IBGE”, observou à época o produtor rural Eduardo de Medeiros Gomes, vice-presidente do Sindicato Rural de Castro.
VALOR BRUTO DE PRODUÇÃO
Castro é segundo, de novo Novamente, e pela segunda vez consecutiva, o município de Castro ficou em segundo lugar no Paraná no Valor Bruto de Produção (VBP) 2011, conforme levantamento divulgado pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) em mjulho de 2012. Com um total de R$ 956.165.054,73, Castro ficou somente atrás de Toledo, que registrou em 2011 R$ 1.118.066.739. O VBP é um índice de frequência anual, calculado com base na produção agrícola municipal e nos preços recebidos pelos produtores paranaenses. Engloba produtos da agricultura, pecuária, silvicultura, extrativismo vegetal, olericultura, fruticultura, de plantas aromáticas, medicinais e ornamentais e pesca, entre outros. Itens Entre os itens que mais contribuíram para expressiva produção agropecuária de Castro, em 2011, em ordem decrescente, foram: soja safra normal, 80 mil toneladas e valor final de R$ 198,660 milhões; leite, 220 milhões de litros, R$ 171,6 milhões; frango de corte, 4,294 milhões de kg, R$ 104,451 milhões; milho safra normal, 24 mil t, R$ 92,440 milhões; suínos-raça (para abate), 117 mil kg, R$ 69,135 milhões; silagem de milho e/ou sorgo, 470 mil t, R$ 35,767 milhões; trigo,
22,5 mil t, R$ 33,716 milhões; suínos com dois meses (leitão para recria), 285 mil unidades, R$ 28,716 milhões; feijão da seca, oito mil t, R$ 24,973 milhões; batata da seca (lisa), 1,3 mil t, R$ 23,852 milhões; feijão das águas, nove mil t, R$ 22,956 milhões; batata das águas (lisa), 950 t, R$ 11,637 milhões; madeira de pinus em tora para serraria, 150 mil m³, R$ 11,283 milhões; pintinhos de uma semana para corte, 13 milhões de cabeças, R$ 9,1 milhões; milho safrinha, 5,5 mil t, R$ 8,872 milhões; madeiras para lenha, 230 mil m³, R$ 7,373 mi-
lhões; esterco de suínos/bovinos, 126,752 t, R$ 6,774 milhões; vaca (para corte), 4,66 mil kg, R$ 5,508 milhões; ovos de galinha fecundados, 1,1 milhão de dúzias, R$ 5,324 milhões; feno de alfafa, sete mil t, R$ 5,059 milhões; feno ‘outros’, 18 mil t, R$ 4,745 milhões; madeiras em tora para serraria/eucalipto, 50 mil m³, R$ 4,525 milhões; vaca (para cria), 3,336 mil cabeças, R$ 4,420 milhões; madeiras em tora para papel e celulose, 45 mil m³, R$ 2,320 milhões; e touro PO (reprodutor para gado de leite), 510 cabeças, R$ 1,958 milhão.
Desde 2008, Castro e Toledo se alternam na liderança Desde pelo menos o levantamento do Valor Bruto de Produção (VBP) de 2008, os municípios de Castro e Toledo vêm disputam a liderança do ranking. Naquele ano, Toledo, com uma produção total de R$ 1 bilhão, ficou à frente de Castro, que registrou R$ 815,9 milhões. No ano seguinte, no entanto, foi a vez de Castro figurar em primeiro lugar, com R$ 842,7 milhões; Toledo registrou um total de R$ 834 milhões.
Em 2010 e 2011, Toledo passou à frente de Castro. No VBP 2010, Toledo registrou R$ 975,2 milhões e Castro, R$ 894,2 milhões; e, no VBP 2011, Toledo apontou R$ 1,1 bilhão e Castro, R$ 956,1 milhões. O valor do VBP 2011 de Castro significa um aumento de 6,92% em relação ao VBP 2010. Em relação ao VBP de 2008, o aumento foi de 17,18%.
Inova
ção anterior, “o que nos trouxe algumas restrições legais”. E, no fechamento do terceiro quadrimestre de 2012, houve a extrapolação. “Hoje, portanto, há a necessidade de diminuição desse índice, da relação entre a receita total e a despesa com pessoal. Pode parecer pequeno, de menos de 3,5%, mas é bastante significativo, pois teríamos que fazer crescer a receita em dobro”, explica. “Por outro lado, a diminuição das despesas depende muito dos repasses dos governos federal e estadual, responsáveis por grande parte da receita. E o que temos na mão para poder corrigir isso é justamente a essência do serviço público? A remuneração do servidor”, acrescenta. Entre os desafios imediatos da atual administração municipal, Marcos cita o que ele chama de “ordenamento legal” para que o crescimento do município se dê de forma ordenada. “Isso nos propicia um crescimento com um pouco menos de problema”, observa.