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RODOVIA PARA ARCÁDIA PARTE 3 PÁG

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Trajetória Política e Social de Miguel Pereira Rodovia para Arcádia - Parte 3

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Somente após a trágica inundação de 29 de março de 1945, as autoridades estaduais perceberam que se tornara imprescindível abrir um caminho melhor para Governado Portela a partir de Arcádia, até porque os trens já não bastavam para atender as demandas das cidades serra acima. Pressionado por Vassouras – cabeça de Município responsável por Portela, Miguel Pereira e Paty e Avelar – criticado por famílias influentes que já se encontravam estabelecidas na região e instado pela população geral, o Governo do Estado do Rio enviou uma comissão de trabalho à Serra do Tinguá. Influenciado pelo engenheiro Bernardo Sayão, autor de um amplo relatório sobre o assunto e intimamente ligado aos trabalhos iniciados em Miguel Pereira por Pereira Soares e colaboradores, o governador do Estado da época, comandante Ernâni do Amaral Peixoto, determinou uma série de melhorias na estrutura viária já existente na serra e a abertura definitiva da estrada para Portela, a qual, recebendo os recursos mais modernos de engenharia, adquiriu o traçado que ostenta até hoje.

Obviamente, não foi apenas o trecho mais complicado da serra que se viu ungido por tais benefícios. É preciso registrar que a partir de Arcádia a estrada prosseguia para Santa Branca, Conrado, Mangueiras e Paes Leme até desembocar em Japeri, dali infletindo para o Rio de Janeiro. Este percurso mostrava uma segurança bem maior e exigia trabalhos mais simples de contenção de encostas e aperfeiçoamento de piso, uma vez que recebera especial atenção dos construtores da estrada de ferro durante os anos de sua implantação pelas colinas, que ali promoveram vários melhoramentos a fim de atender os veículos que traziam equipamentos e homens para a conclusão do leito da via férrea. Mesmo assim, a largura da estrada e seu piso de barro batido não se mostravam adequados ao trânsito mais pesado e frequente que, por certo, far-se-ia presente nos anos seguintes, haja vista a atração que o alto da serra já exercia sobre inúmeros turistas. A despeito de exibir melhores condições de tráfego do que o sinuoso e inclinado trecho das montanhas, não teria sentido deixar tal percurso sem Escritório de corretagem de J. S. Pimentel no Largo do Machadinho no final dos anos setenta. Na área inferior, loja de variedades de D. Maria Portuguesa

um tratamento apropriado, já que, em última análise, era ele a conexão direta entre as vilas da serra e a estrada Rio-São Paulo.

A partir dessa sensata decisão político-administrativa, enfim a estrada rasgada na Serra do Couto pelos velhos pioneiros viu-se contemplada com as ampliações e restaurações tão reivindicadas pelos miguelenses, ganhando muros de contenção, alargamentos adequados em suas curvas e acostamentos protetores, trazendo para nossas cidades novas levas de imigrantes, veranistas, comerciantes, agricultores, pecuaristas, médicos, professores e, em especial, apreciável quantidade de automóveis e caminhões. Era o palco que faltava em nossa terra, mas que, ironicamente, ao trazer progresso para nossas cidades, acabaria por determinar a morte, décadas depois, do grande fator de sucesso até então obtido pelos municípios serranos: a estrada de ferro.

Com as facilidades proporcionadas pela rodovia – apesar de seu piso de argila e saibro – verificou-se um notável aumento no fluxo turístico da região. Agora, além do trem, as populações serranas tinham a opção do automóvel, e tão significativo foi o benefício carreado pela estrada, que até mesmo Paty viu-se em condições de escoar para o Rio de Janeiro sua já crescente produção agrícola. Graças à nova estrada e às constantes viagens de trem pelas colinas, novos turistas vinham passear pelas cidades, ocupar seus hotéis e visitar suas cachoeiras e rios, contribuindo também para a multiplicação das casas comerciais. Visitantes ocasionais, atraídos pelo clima tão exaltado no Rio de Janeiro, adquiriam casas e compravam terrenos, construíam suas residências e abriam seus negócios pela região, professores apareciam para incentivar a abertura de escolas, times de futebol subiam as montanhas aos domingos para medir forças com o Miguel Pereira Atlético Clube, o Portela Atlético Clube ou o Estiva Futebol Clube e até artistas do porte de Francisco Alves e Luiz Gonzaga interessaram-se pelo lugar, vindo para cá em finais de semana, por vezes alegrando a população com improvisadas e aplaudidas audições nos clubes populares ou mesmo nos bares de esquina em Miguel Pereira. Tal circulação de pessoas modificou bastante a pacata vida das cidades, mas orgulhosas do título de “Cidades de Veraneio”, elas de pronto adaptaram-se àqueles novos e gloriosos tempos de bem-estar e alegria. Surgiram então, pela sua periferia, vários outros loteamentos que produziram a figura do corretor de imóveis, até então inédita nas colinas, vindo João da Silva Pimentel a ser um dos seus mais ativos e incansáveis representantes entre as décadas de cinquenta e sessenta, ao montar seu concorrido e respeitável escritório num velho sobrado de Miguel Pereira, o mesmo onde funcionara, em 1937, a sede da primeira Companhia Telefônica Brasileira da região. A corretagem de imóveis tornar-se-ia um rendoso e tradicional ramo de negócios na cidade, até hoje bastante explorado por descendentes das famílias Bernardes, Pinheiro e Vilela.

Em consequência de tais movimentos imobiliários, tanto em Miguel Pereira quanto em Portela levantaram-se novas casas, instalaram-se hotéis, abriram-se mesmo alguns cassinos, rasgaram-se ruas em direção aos bairros mais afastados, nasceram novos restaurantes e algumas casas noturnas espaçosas e confortáveis, implantaram-se clubes e associações, surgiram várias colônias de férias administradas por de associações cariocas, inauguraram-se lojas de tecidos e aviamentos, com maior variedade de ofertas em roupas prontas, multiplicaram-se as Igrejas Evangélicas, montaram-se postos de gasolina bem mais modernos e eficientes, apareceram oficinas mecânicas, inauguraram-se largas casas de materiais de construção, triplicaram-se as salas de aula, estabeleceram-se as primeiras casas bancárias da serra, circularam pelas ruas os táxis até então conhecidos romanticamente como carros de praça, e nessa azáfama de crescer dobraram-se as ofertas e trabalho no comércio, na construção civil, na ferrovia e no setor agropastoril, o que de súbito provocou um salto demográfico, urbanístico e financeiro que, num repente, desembocaria nos movimentos de emancipação de nosso território.

Na próxima edição: o Asfaltamento da Rodovia RJ 125

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