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Apogeu e queda da Sociedade Força e Luz Vera Cruz
Parte 4
das e assustadoras – basta dizer que as várias linhas de transmissão que partiam de Vera Cruz subiam primeiramente pelas encostas agressivas da Serra do Tinguá, circundavam o simpático Lago das Lontras (para cujas fazendas periféricas estendiam seus rabichos alimentadores), desciam à área de Arcádia e depois então eram esticadas unicamente à força do braço humano até os logradouros de Santa Branca e Conrado. Já para o norte, e também a partir de Vera Cruz, os fios galgavam as penedias da Serra do Couto logo após a igrejinha da Piedade, deslocavam-se para leste em direção a Pedras Ruivas e enfim conectavam-se com a Manga Larga, só dali se bifurcando para Miguel Pereira, de onde se ramificavam para a estação de Governador Portela.
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Ainda por essa época entrava em ação a Usina de Santa Branca, construída ao lado da bela cachoeira ali existente. Embora se possa pensar, a princípio, que Santa Branca utilizasse diretamente o fluxo da sua conhecida cachoeira, isto de fato não acontecia. As tubulações destinadas à captação direta de suas águas foram distribuídas pelas encostas contíguas às quedas locais, recolhendo o líquido acima da primeira cascata e direcionando-o para a casa de força construída ao lado da estrada de rodagem. Com isso, seus dínamos e geradores poderiam funcionar de forma bem mais eficiente, pois o jorro d’água aprisionado tinha seu ímpeto energético sensivelmente ampliado pelo diâmetro da tubulação e pelo efeito da gravidade, fenômeno que originava uma força mecânica suficientemente poderosa para manter os equipamentos da usina em plena e ininterrupta atividade. Alguns desses antigos tubos ainda se encontram enterrados naquela área, nas proximidades dos velhos prédios da empresa, em sua maioria em péssimo estado de conservação. Na encosta, implantou-se também um escoadouro de cimento a céu aberto, por onde o excesso de água era desviado por ocasião de chuvas mais intensas.
A despeito de produzir razoável quantidade de energia, as instalações de Santa Branca – cujas atividades chegaram a atrair para o local alguns empresários que lá deixaram o Hotel Santa Branca, hoje felizmente de pé e ostentando todas as suas características originais –, não enviavam sua carga para Miguel Pereira e Portela: toda sua produção era canalizada para Petrópolis através da Serra do Tinguá e lá pelos longínquos meandros da Serra de Santa Catarina, graças à implantação de linhas de transmissão que cruzavam toda a área de Marcos da Costa e parte da centenária Estrada do Imperador, indo todas elas desembocar nos contrafortes da Serra das Araras para daí seguir para o Alto da Serra e finalmente para a Cidade Imperial.
Pelo exposto, podemos avaliar como o território da então desconhecida Miguel Pereira desempenhou papel de relevância na produção de energia elétrica para uma imensa área da região serrana na primeira metade do século XX e como os bravos homens daqueles tempos dedicavam-se com afinco e coragem ao trabalho de promover o progresso do chamado Vale do Rio Santana, por meio de um trabalho orientado a todos os seus povoados, independentemente de limites municipais, partidos políticos e bairrismos medievais. Não havia, nas mentes e nos corações daqueles desbravadores notáveis, a preocupação nativista e absurda de contemplar somente este ou aquele logradouro com os benefícios da modernidade, pois tal plêiade de cidadãos era movida pela arraigada convicção de que, fomentando a prosperidade geral da área serrana e do vale do Santana, os povoados ali inseridos estariam em condições de se desenvolver plenamente e aproveitar satisfatoriamente suas vastas e múltiplas potencialidades. Na próxima edição: Apogeu e Queda da Sociedade Força e Luz Vera Cruz – Parte 5