abril/2020, n. 10, a. 10 • Periódico literário independente feito em Curitiba-PR desde set/2010 • ISSN 2525-2704
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Abril/2020 Conselho Editorial Alexandre Guarnieri Ben-Hur Demeneck Bruno Meirinho Carla Dias Celso Martini Cezar Tridapalli Enilda Pacheco Felipe Harmata Gisele Barão Jacqueline Carteri Osny Tavares Whisner Fraga
Dos leitores HORA DE REVER, PESSOAL
Flávio Theodósio Junkes Olá, uma pena [recusarem o meu texto]. Atualmente tenho premiação em 24 concursos literários, um deles pela Faculdade de Letras localizada em Portugal, Lisboa. Minha linha literária realmente tem pouco acesso na cultura de massa deste tempo. Aliás, a premiação em Portugal não passa de feijão com arroz para mim, porque foi outro poema de pouca complexidade, pouco teor de perfeição e impacto, condicionado à superficialidade dos seus juízes. E os três poemas ora enviados são premiados, um deles em três concursos literários diferentes. Forte abraço! Votos de paz… Silvia Victoria Gerschman de Leis Prezados, como não foi explicitado o motivo [de recusarem o meu texto], entendo que, se fosse pelos erros do portugues (sic) poderia ter entregado para revisão. Não me parece ter sido esse o motivo. Acredito que vocês não gostaram ou censuraram o tema. Lamento a decisão. Atenciosamente.
Editor: Daniel Zanella Editor-assistente: Mateus Ribeirete Ombudsman: Morgana Rech Revisão: Ramiro Canetta Projeto gráfico: André Infografia: Bolívar Escobar Logística: Thaís Alessandra Tavares Advogado: Bruno Meirinho OAB/PR 48.641 Impressão: Gráfica Exceuni Tiragem: 3.000 Edição finalizada em 31/03/2020
Da redação: Silvia, Tudo bem? Não é muito do feitio do nosso corpo de avaliação dos textos, na figura de seu editor, retornar detalhadamente os motivos da negativa. Sabemos como é desagradável não ter o texto aceito. Fiz apontamentos ligeiros, de uma página, no email anterior, apenas para você ter a convicção de que lemos todos os materiais. Todavia, a partir do que você escreveu acima, vou estender um pouco o retorno. O seu material enviado, de seis páginas, tinha mais de 70 erros ortográficos ou de pontuação, além de clichês, lugares-comuns e períodos confusos. São mais de dez problemas por página. Apontei apenas os problemas da primeira página porque faço esse tipo de serviço, no plano pessoal, por certos valores, não gratuitamente. Na avaliação dos textos que recebemos, leio como editor, não posso corrigir um texto com 70 problemas ou devolvê-lo para que se torne legível, para, então, relê-lo. Como faria para ler aproximadamente 400 textos enviados por mês, como faço, se todos exigirem o suor de revisão que o seu poderia exigir? De fato, é muito difícil, para nós, aceitar um texto que precisa de um trabalho pesado de revisão. Os problemas de escrita embaralham ideias, tiram profundidade narrativa, deslocam o leitor do sentido para o erro. Sobre a sua acusação de censura, recebemos muitos textos bons nas mais variadas perspectivas. Não temos tabus. Se o texto é sobre suicídio, por exemplo, um tema delicado em nossa sociedade, bem escrito, nós publicamos. Acreditamos que um dos propósitos da literatura, inclusive, é tensionar o mundo real, conduzir o ser humano às suas questões mais profundas. Infelizmente, para que isso ocorra, o texto precisa estar compatível com expectativas ortográficas, objetivas.
Espero não ter sido desagradável. Em tempos epidêmicos, queremos propor às pessoas, pela via literária, uma forma de lidar com as angústias e os medos que nos assolam. É que chamar o RelevO de censor, ainda mais no contexto em que vivemos, é um acinte a toda a nossa trajetória de experimentalismos e espírito progressista. (Também uma peculiar forma de deslocamento do objeto: o seu texto enviado.) Acredito que valha a pena você repensar os materiais que você envia para submissão em vez de acusar um jornal independente de censura. Obrigado. Edival Perrini Caros: quero registrar minha gratidão pelo “nosso” RelevO ter me apresentado a poeta Lucila Nogueira, em seu número 8/2020. Eu fazia parte dos que não a conheciam, o que é um absurdo por se tratar de uma poeta brasileira. Mas agora vou garimpar seus livros e divulgá-la também. Comunique ao Lucas Silos o meu abraço e agradecimento pelo belo texto e perfeita escolha dos poemas. Abraço forte! Teresa Silva Prezada equipe do RelevO. Desfilando na Acadêmicos da Leitura Atrasada no Carnaval, li os artigos de Donny Correia sobre arte. Gostei muito deles e das referências indicadas. O artigo de Luiz Guilherme Liborio comparando João Cabral de Melo Neto e Gaston Bachelard também estava excelente. Saiu em setembro, mas veio a calhar com o centenário de João Cabral. Na edição de fevereiro foi publicado outro texto sem autor. Começou com “Golfinho” em dezembro. E em fevereiro foi “Hereditariedade” (por sinal, ótimos). Qual é o mistério? Mandei para a página de humor “Robespierre guilhotinou foi pouco” o trecho dos projetos 2020 (dez. 2019) que fala das Cartas do pentelho príncipe.Vamos ver o que eles acham. Abraços! Da redação: Andamos prejudicando Natália Nodari e Mariana Cardoso, mas isso há de não acontecer mais. RELEMÓVEL Marília Napoleão Passando aqui só pra parabenizar a propaganda do carro. Eu não consegui parar de rir, ficou incrível. Camilla de Oliveira Deixando um feedback sobre a última edição: tá sensacional! Ri muito. Carlos Emílio Corrêa Lima Vi com atenção o novo jornal, aliás, o novo número, e achei ótimo. Também tornou-se uma publicação de humor, de misturas, algo meio novo, que ainda não tinha percebido que poderia existir.
Nílbio Thé Eu e uma automobilística edição especial do RelevO. Acabou de chegar aqui em casa e já acho incrível. Uma edição em ALTA velocidade! Lorena de Lima Vocês arrasam mesmo. Sem sombra de dúvidas. CORAZÓN
Débora Sögur Hous Moro em São Paulo e toda bendita vez que toco no jornal, bate uma bruta saudade de Curitiba. Então, naturalmente, odiei a fotona da Avenida Paulista na última capa. Tudo bem. Doeu, mas já passou! MELHOR JORNAL DO MUNDO Marco Aurélio de Souza Com o valor de um lanche Madero + frete, você assina o RelevO e recebe em casa por um ano inteirinho o melhor periódico de literatura & humor da região metropolitana de Curitiba. Faz aí um pão com ovo frito e, ao invés de encher os bolsos de um velho escroto e pau no cu, ajude a manter na ativa um jornal impresso de literatura que já acumula dez anos de sobrevivência, chegando gratuitamente a bibliotecas e pontos culturais do país inteiro, ou seja, um jornal mais que relevante: fundamental. Gustavot Diaz Honrado e feliz por fazer parte da edição de março do jornal! O RelevO é um jornal que, pela insistência em acreditar que a literatura independente é possível, foi conquistando respeito de todo mundo e fazendo a gente acreditar um pouco também... Parabéns e agradeço o convite! Quanto ao erótico... se não for a arte a abordar esse tema, deixaremos então tudo nas mãos sujas da pornocracia? Grande abraço, meus caros! Mardônio França Força! Arte! Alegria! A FALTA DE UM RICAÇO Reinaldo Junior Desde que conheci o RelevO, me identifico muito com a história de vocês. Talvez não se lembrem — mas bem provável que sim — que distribuí exemplares por um tempo, no meu antigo cantinho, a Café Com Livros, em Sarandi (PR). E esse último editorial está perfeitamente pontual com a história que tive lá. Ah, que falta me fez um ricaço, um costa-quente ou dois mil a mais no orçamento. Eu imagino e senti na pele o que é isso aí. Esse meio “cultural” que vivemos é lindo, fascinante, apaixonante... Para nós. Para a maioria esmagadora que enxerga só “esse negócio literário”, nada mais é que “um negócio literário”. Só posso desejar bons ventos, força, persistência. Eu não aguentei, mas espero que vocês aguentem. Eu não sou esse ricaço, mas garanto que se amanhã eu me tornar ele, eu bato aí na porta para nossos olhares se cruzarem.
EDITORIAL
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Jornal de papel em tempos epidêmicos O RelevO é um impresso mensal de literatura. Existimos desde 2010 e somos mantidos por assinantes (atualmente, 1100) e anunciantes regulares (entre 10 e 15). Desde a criação do periódico, a nossa meta sempre foi pagar as contas, manter o jornal em dia e continuar publicando bons textos fora do radar (ou no nosso radar) do mercado literário, além de fotógrafos e artistas gráficos em geral. Prestamos contas públicas e somos um dos três jornais do Brasil a contar com o cargo de ombudsman (representante do leitor). Os outros dois são diários: a Folha de S. Paulo e O Povo, de Fortaleza. Em agosto, completaremos dez anos. Comemorar o quê? Vivemos um cisne negro, a maior crise sanitária da nossa geração, com consequências impossíveis de serem medidas neste momento. Sequer sabemos quando acabará esse momento, quando pararemos de contar nossos mortos. Em tempos de crise linear e da anulação das singularidades em prol da coletividade, como a rotina de um periódico de literatura tem sido afetada com a propagação do coronavírus? “Os boletos continuam vindo, né?”, diria o negacionista científico em potencial. No plano institucional, leitores preocupados e sob o desafio de viver em home office ou em quarentena gastam apenas o essencial, o que é compreensível, natural. Para o RelevO, isso tem significado que muitos assinantes estão empurrando as renovações para o próximo mês e segurando as pontas orçamentárias. O cenário é de insegurança, medo, desconforto, temor. Nós estamos muito preocupados com a nossa saúde, com o nosso jornal. Com o aumento de casos e com o risco iminente de colapso do sistema público de saúde, as questões de ordem institucional ficam adequadamente em segundo plano. Estamos em quarentena voluntária e somos favoráveis aos cancelamentos dos eventos culturais, por mais que toda a nossa escala tenha sido afetada, nos prejudicando de muitas formas. O que é a economia, afinal, senão um meio? Neste mês, já não enviaremos exemplares para os pontos culturais, desde as livrarias até as bibliotecas comunitárias. Acreditamos que logo as coisas irão retornar à normalidade. É preciso pensar na coletividade para que a normalidade possível seja restabelecida o quanto antes. Mas o apelo que fazemos não é para quem está lutando para fechar as contas e diminuir os impactos sanitários e econômicos: é para você que está em uma situação menos delicada e pode pagar por um jornal de papel e de literatura sem prejudicar o andamento cotidiano da vida.
Você pode doar, estender seu vínculo com o RelevO, indicar o nosso periódico para outras pessoas em condição de isolamento. Podemos enviar o jornal gratuitamente em abril para essas pessoas. É pouco, mas é o que está ao nosso alcance. Temos a sorte de ser um produto que estimula a ficar em casa e a ter vida interior. Contamos com um corpo de assinantes que acredita muito em nosso trabalho e propiciou a ida à gráfica de mais uma edição. Auxilie o RelevO e outros projetos culturais independentes. Somos diversos jornais, editoras, livrarias, autores e agentes do circuito literário, todos em busca de defender suas ideias e projetos. Se cuidem. Uma boa leitura a todos.
4Onde posso encontrar um Jornal RelevO para esboçar um sorriso enquanto leio? ACRE Rio Branco Livraria N&S / Livraria Paim / Estante do Livro
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O vídeo é nosso senhor e o sabão não faltará Morgana Rech
Desde a semana passada, retirei o meu corpo do consultório para ingressar no isolamento social e nas sessões on-line. A relação transferencial entre RelevO e eu se virtualizou. Nunca imaginei que meu espaço físico, o ar que respiro, a mão que cumprimenta ou segura o jornal, se tornaria tamanha ameaça para o outro. Centenas de colegas fazem o mesmo e saem com suas trouxas de trabalho embaixo do braço: o lenço de chorar, o relógio que dá as horas de início e fim, a agenda, os cadernos, as Obras Completas, nossos objetos de estar lá. Alguns levam para casa seus RelevO´s impressos, presença forte em nossas salas de espera. Levamos um pontapé na bunda dado por uma civilização de litros e mais litros de álcool que agora nos exige a desocupação das ruas e a ocupação de espaços internos. É um vírus, ok, mas eu não o vejo; o que vejo são garrafas de desinfetantes e roupas de astronauta. Duas promessas de liberdade, quem diria. Estamos rendidos, limpos e toda a nossa teoria de trabalho está temporariamente sob custódia, assim como está o rumo dos jornais independentes de literatura. Nos identificamos neste ponto. Freud não falou nada sobre Skype, muito menos sobre Corona. Falou, isso sim, de como a miséria humana e o adoecimento narcísico pediriam uma atualização da técnica de analisar. Ele não disse que faríamos isso tão abruptamente, e que teríamos que lidar com nossa própria vulnerabilidade, que surge com a saudade do nosso local de trabalho e dos objetos familiares à manutenção de nossos lugares. Bem, os poetas também sempre disseram que a miséria humana e o adoecimento narcísico pediriam uma atualização da linguagem. A bem da verdade, na ficção o atual já existia. O analista sempre trabalha com a ideia de que uma tela o separa do paciente. A diferença é que ela, agora, não é uma metáfora. É real e por tempo indeterminado, af! O atendimento on-line, como estamos fazendo aqui, deixou de ser exceção e se tornou regra, e quando a exceção vira regra, a teoria começa a girar em torno dela, rudimentar e única: ficar em casa. Talvez Freud tenha se visto numa situação parecida quando viu aqueles pacientes traumatizados pela guerra, tanto é que mudou
sua tática. O mundo, agora, voltou a ficar tão monotemático, mas tão monotemático, que já apareceram até os agentes de vigilância nos dizendo o que podemos e o que não podemos fazer do nosso mundo interno durante o isolamento. Dizem, alguns, que não podemos romantizar a quarentena. Bem, se entendermos isso no sentido romântico mesmo do termo, romantizar a quarentena me parece uma atitude bem interessante até mesmo para manter a psicanálise — e a literatura — em pé, já que romantizar equivale à ação do pensamento de recusar tanto a razão pura como a magia pura. Ficar entre elas: espaço analítico por excelência. Possível chance de ficar imune à cegueira. Romantizar a quarentena e refazer contratos sociais me parecem ações que vivem na mesma ilha, se não quisermos que ela seja sonífera. O RelevO está liberado para romantizar o que bem entender, mesmo porque, no mundo da ficção (o atual, rs), as coisas podem até andar mais a nosso favor do que antes. Enquanto estou revisando minhas técnicas e condições de trabalho, o jornal literário tem, pois sempre teve, uma das funções mais importantes para o cenário de trincheira em que estamos. Tento encorajá-lo nisso, do mesmo modo que ele me encorajará a remontar o meu setting.Vínhamos bem, afinal de contas, com aquela história do RelevO se despersonalizar e assumir a sua dupla identidade, naquele rompante falocêntrico de ser um jornal automobilístico. Eu diria que, por um lado, podemos nos aliviar juntos desse fardo, unidos no desamparo favorável à criação. Por outro lado, o “ricaço” que, dizia o RelevO, faz falta para injetar um ânimo na publicação pode, quem sabe, ser reencontrado ou refeito no coração da coletividade. Estamos de volta ao grau zero de leitura e de escrita. Lembraremos, fisiologicamente, da sua importância. Psicanalistas e artistas são, mais do que antes, colegas, como eram Freud e seus amigos gênios. Poetas, editores, ilustradores e quadrinistas: todos numa função mais ou menos analítica de oferecer ponte e alívio. Que o inconsciente saiba: na arte se continua vivendo. Que o jornal saiba: no seu espaço é onde contaremos essa história.
TRÊS SÓIS WILLIAM SOARES DOS SANTOS ED. PATUÁ "Com efeito, o livro, dividido em cinco partes, todas abrindo com sugestivas ilustrações e epígrafes de autores consagrados, da antiguidade aos nossos dias, tece uma espécie de arco, que vai do registro de um fenômeno meteorológico inusitado, que ocorre em regiões nórdicas, ao registro inquietante do próprio fenômeno poético, “sem pano para esfinge,/sem sombra alheia”. Diante da envergadura desse arco de estranhezas, o autor confessa que “a poesia que escrevo agora/quer apenas/a claridade dos espaços”." Adriano Espínola
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Bolívar Escobar Demorou três anos e meio para Marco Polo chegar até a capital do império de Kublai Khan, onde hoje fica a cidade chinesa de Pequim. De Veneza até lá foram mais de dez mil quilômetros, incluindo a travessia do deserto de Gobi, uma visita rápida pelo reino da Geórgia, um período de molho de mais ou menos um ano no Afeganistão, onde Marco Polo ficou se recuperando de uma doença, e diversas outras paradas no lendário tour pela rota da seda. Para fazer o caminho inverso, da China até a Itália, o novo coronavírus levou mais ou menos três meses: foi em meados de novembro de 2019 que as autoridades chinesas afirmam ter detectado o primeiro foco da doença respiratória. Em 15 de fevereiro de 2020, a Itália já registrava três pacientes com os sintomas. Hoje, policiais italianos recebem ordens para prender pessoas que estão saindo de casa sem a autorização do governo, para controlar o fator social da epidemia.
O fator social da epidemia é o contágio de pessoa para pessoa. A velocidade do contágio é assombrosa, mas o mérito é todo do vírus: por não demonstrar sinais de infecção nos dias iniciais, o hospedeiro do novo coronavírus pode transitar livremente pelas ruas, interagir com outras pessoas e compartilhar fluídos e perdigotos corporais, acreditando estar saudável. Como a doença se alastrou em países do hemisfério norte, o clima frio do inverno também contribui para o drama: lugares fechados conservam o ar mais tempo no mesmo ambiente. Ar esse que, inclusive, fica mais seco no frio, resseca as narinas, causa espirros, enfim, facilita a vida reprodutiva de qualquer microorganismo que gosta do nosso nariz. O vírus chegou rápido porque ele viajou de avião. De Pequim à Roma o trajeto dura mais ou menos 13 horas, se estivermos falando de um Boeing 747, capaz de fazer quase mil quilômetros por hora. Isso é cerca de 16 vezes mais rápido do que um camelo (o meio de transporte usado
pelo Marco Polo) correndo o máximo que conseguir. Marco Polo, contudo, jamais teria noção desse comparativo porque ele viveu em uma época na qual voar acima das nuvens era privilégio apenas de pássaros ou dos Rocs (dos quais falarei mais adiante), não de primatas ou de vírus mortais. O avião transformou o mundo em uma aglomeração de seres humanos. Aglomerações de seres humanos são vistas pelos especialistas da saúde como um fator de alto risco: o vírus se sente mais bem-acolhido ali pelo meio da galera, transita com mais tranquilidade entre pulmões e mucosas. O ideal é se manter mais ou menos um metro e meio de distância afastado das outras pessoas. Dizem que foi isso que aconteceu com o Marco Polo: os europeus da época ainda não tinham desenvolvido o hábito de escovar os dentes, e por isso os rumores eram de que o imperador pediu para o viajante cumprimentá-lo de longe, para aquele cheiro de bocade-cu não fazê-lo sentir ânsia. O fedor e o cheiro ruim são desagradáveis ao
olfato porque eles podem servir como um sinal da presença de bactérias e outros microorganismos infecciosos. Por isso a repulsa de Kublai Khan ao bafo de onça do seu visitante. “Eu não quero dentro de MIM o que tem dentro desse europeu”, é o que o cérebro dele transmitiu quando computou os dados olfativos enviados pelo nariz. Rumor é o que não falta sobre a viagem de Polo: muitos acreditam que o viajante forjou a maioria dos fatos descritos em seu diário, e que até mesmo a visita ao império chinês pode ter sido invenção pura. As pistas que aquecem a mente dos conspiracionistas são os pequenos detalhes, como o hábito de comer com hashis (os palitinhos) ou o de tomar chá — tão marcantes dessa cultura — não terem sido mencionados. Uma conspiração é uma narrativa paralela. “Paralela” no sentido de não encontrar subterfúgio em fatos, apenas em suposições que vivem dentro da cabeça e tomam controle do corpo do conspiracionista, movendo
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os músculos da face para abrir e fechar a boca, formando palavras doidas. Nesse sentido, a conspiração é parecida com o coronavírus, embora este prefira os pulmões, e não o cérebro, para infectar. Podemos pensar em várias conspirações sobre o coronavírus aqui: talvez ele tenha sido criado pelo governo chinês de propósito, para afetar a economia mundial e deixar o país na liderança competitiva. Um plano perfeito. Não perfeito o suficiente para passar desapercebido pelo eletrificadíssimo cérebro dos conspiracionistas, que já descobriram tudo e desmascararam os tataranetos de Kublai Khan. *** O brasileiro, por natureza, é um aglomerado. No sentido de, sendo impossível a presença de apenas um ou dois, o indivíduo conhecido no mundo como “brasileiro” carrega consigo, no entorno, como uma maldição e uma bênção, vários outros: simbolicamente, em forma de raízes indígenas, africanas, europeias, espirituais extra-planetárias e por aí vai; objetivamente, como os elementos que caracterizam mais salientemente nossa cultura: o aglomerado do carnaval, o aglomerado dos estádios de futebol, os cultos lotados das igrejas, o aglomerado das casas empilhadas em morros nas favelas. O vírus, se pudéssemos ouvir o que fala, estaria sempre repetindo a mesma frase: “com licença, eu PRECISO me reproduzir. Eu quero muito me reproduzir. Eu vou achar um lugar pra me reproduzir aí dentro. Não se preocupa, eu não vou reparar na bagunça”. É claro que uma criatura que só sabe repetir isso vai enxergar
no aglomerado um convite para a festa. E eis que o brasileiro se vê diante do seu nêmesis, dos seus doze trabalhos de Hércules condensados em um único ato de não trabalhar: o isolamento social. Nesta grande operação militar que virou o mundo pós-corona, o isolamento social é uma tática cujo objetivo é esperar o vírus perguntar “Opa, posso me reproduzir aí dentro?” e responder com “Dentro onde?”. Táticas militares nem sempre se baseiam em bater de frente. Como o general romano Fabius Maximus bem nos ensinou, muitas vezes vale mais a pena esperar o inimigo exaurir suas energias do que gastar as nossas. A energia dos indianos durante as monções, época do ano na qual se veem obrigados a ficar em casa por causa das pesadas e incessantes chuvas, termina convertida em um aumento cada vez maior da população. No que se converterá a energia aglomeradora do brasileiro durante o isolamento? Quantas conspirações são capazes de surgir aqui dentro enquanto não estamos lá fora? Marco Polo teria escrito (e aqui, sejamos francos, ele não se ajuda muito na hora de passar confiança sobre sua história) sobre um grande pássaro que habitava as montanhas chinesas chamado Roc, tão grande que conseguia erguer elefantes para os céus e derrubá-los lá de cima, para então devorar suas carnes. Apesar dos exageros e réplicas de lendas locais, considera-se hoje que Marco Polo, de fato, esteve na China. Um pesquisador alemão chamado Hans Ulrich Vogel escreveu um livro coletando evidências que, segundo ele, comprovam de uma vez por todas a autenticidade da saga do explorador veneziano. Inclusive, Hans pede para
que tenhamos em mente que visitas de viajantes europeus por lá eram bastantes comuns, e que talvez o diferencial de Marco Polo tenha sido um pouco mais de eloquência em seus relatos. Pesquisadores geralmente acabam fazendo isso, eles desmistificam coisas e acabam quebrando a aura de mistério em torno dos fatos. Por isso que eles são tão úteis em tempos de epidemia. Se não fossem os pesquisadores, os europeus teriam continuado acreditando que a peste negra foi um castigo divino, e não a consequência de deixar ratos se aninhando e convivendo com as pessoas nos grandes centros urbanos que se formavam na época. Outras coisas sobre as quais os pesquisadores já avisaram: que a Terra não é plana, que governantes devem ser escolhidos pelas suas competências´e não pelo seu partido, que o melhor jeito de controlar a pandemia do novo coronavírus é fazendo uma quarentena compulsória em toda a população e que o discurso de qualquer argumento que reduza um assunto aos aspectos matemáticos do seu funcionamento assumirá um tom de crueldade. Essa última, o pesquisador responsável pela descoberta fui eu mesmo.
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Apocalipse se revela viral da Google Vitor de Lerbo
Auditório vazio, plateia vazia, planeta vazio. Pouco tempo antes da premiação mais badalada da publicidade, ninguém tinha dúvidas sobre quem levaria o leão de Cannes – até porque não havia mais ninguém. Com um insight genial atingindo em cheio seu público-alvo – as 7 bilhões de pessoas na Terra –, a ação da Google (no feminino mesmo) gerou altíssimo engajamento de Deus, Hades, Anúbis e a porra toda. Afinal, não é todo dia que se faz o Apocalipse. Liderada por John Book, Head de Marketing da agência Inner Catastrophe e agora escritor de novidades sobre prêmios publicitários, a campanha “Consumismo nunca mais” surgiu como uma arrojada proposta sustentável, pronta para gerar mudanças reais e significativas no nosso day-by-day. Book é o único sobrevivente do Apocalipse, e agora revela – para ninguém ler – que todo aquele pandemônio (incluindo o literal Pandemônio) não passava de um viral da Google. “A Google sempre foi pioneira em mudanças positivas, bem como em tecnologias que influenciam e facilitam as relações interpessoais. E depois da nossa ação, ninguém precisa mais de celular pra se comunicar!”, explica um virtuoso John, que já havia sido indicado ao mesmo prêmio em razão da emocionante campanha “Em nome do Amor – Por que não lamber um corrimão?”.
Além de livrar as principais cidades do mundo de seu trânsito caótico, erradicar todas as doenças que afetavam os seres humanos e, principalmente, libertar todas as pessoas das angustiantes conversas de elevador, o Apocalipse da Google preveniu desmatamentos, despoluiu rios e oceanos e, de quebra, evitou ainda mais maus-tratos contra os animais – que por sua vez jazem todos mortos. “Em todos os nossos meetings, a sustentabilidade sempre foi o nosso goal. Quando shootamos a campanha, percebemos que ela seria top of mind por milênios!”, constata o pioneiro Book. Mesmo com um crono apertado, a agência foi capaz de mover montanhas para alcançar suas metas. Mas, é claro, a campanha ainda não acabou: tão importante quanto a ação é o pós-venda. “Nós selecionamos, via quiz no Insta, as 365 cidades mais votadas para que, agora, em cada dia do ano, você possa acessar a Google e conferir os melhores takes do Apocalipse ao redor do globo! E tem uma cidade surpresa pro próximo ano bissexto, fica ligado!”, complementa, com acuidade ímpar, Book. Curiosamente, seu plano foi previsto pelo episódio 7.394 de Os Simpsons, conforme aponta descoberta recente de um ciborgue lituano, também programado por John Book, que reclama de tédio. “Tá tudo meio que super boring”.
O objetivo da marca sempre foi o de criar uma campanha perene em meio a uma realidade tão mutável. “Bauman diz uma coisa que eu concordo muito – o amor é líquido. Ele também diz que a realidade, assim como o medo, é líquido. E eu concordo. E adivinha? A publicidade, até a nossa ação, também era líquida. Nós fomos a ruptura rs”. Você pode até achar que John Book deseja todos os holofotes após extinguir a raça humana. Mas o publicitário superstar é singelo ao narrar as próprias realizações. “Nada disso seria possível sem os protagonistas da nossa campanha, os dois cavaleiros e as duas amazonas do Apocalipse. Eles são as grandes estrelas da ação – sempre destacando a igualdade de gênero no nosso Armagedom. A diversidade é essencial no fim dos tempos”. O casting para o extermínio em massa não foi fácil: era essencial que a marca gerasse um buzz desde o início da ação. “O maior flash mob da história precisava de brilho! Então a primeira dama do Apocalipse foi a publicidade em si – óbvio. O segundo cavaleiro foi o irmão gêmeo dela, aquele que vive entre tapas e beijos com a publicidade, mas, quando eles conseguem falar a mesma língua, olha, haja destruição! Tô falando do marketing, claro. A outra dama, Sales, foi nossa razão de viver – porque quem está nesse ramo e não
pensa em Sales nem deveria estar aqui! Por último, pra garantir que ninguém saísse vivo, veio o Comercial – e tudo que ele cobrou pra participar foi 30% do lucro da campanha e um jantar grátis no Fogo de Chão!”, salienta o estrategista Book. Não bastasse ser o principal idealizador, planejador, entusiasta, executor e fã da campanha, Book oferece uma explicação lógica para ter sido o único sobrevivente do Apocalipse. “Parece que nem o pessoal de cima nem o de baixo estava preparado para essa alma aqui rs. Bom pro planeta; agora 100% da população da Terra tem bom gosto musical!”, afirma o antenado John, em um mundo em que Air Supply finalmente recebe seu devido valor. Sem competição no planeta, a agência de um homem só já estuda os próximos passos para a gigante americana. “A Terra era pequena demais para a Google; acho que nossa agência captou isso com perfeição. Agora podemos alçar voos mais altos e buscar nosso lugar ao sol – tipo do Sol mesmo –, já pensou que louco?”. Não perca o próximo Festival de Publicidade de Cannes, que marca o retorno do Gênesis aos palcos. A cerimônia acontece daqui a uns 4 milhões de anos, quando a nova humanidade, toda herdeira do formidável saco escrotal de John Book, já tiver repetido o ciclo da anterior.
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ENCLAVE A newsletter semanal do Jornal RelevO. Assine e receba de graça em seu e-mail: <https://jornalrelevo.com/enclave>
ON & DENNIS WILSON CHARLES MANSON
Um antigo ditado assírio, datado de quando a Babilônia virou modinha, defende que o ateísmo recebe três grandes testes ao longo da vida: o leito de morte, a queda livre de um avião e o contato com Pet Sounds. Nas palavras do próprio Assurbanípal, “mano…… Beach Boys é lôco demais”. Mas não é do Pet Sounds, especificamente, que trataremos. Ah, não. A Enclave de hoje traz uma dessas conexões inesperadas que a vida trata de abrir. Talvez uma nota 7 na escala Julian Assange-Pamela Anderson Anderson. <https://www.dailymail.co.uk/news/ article-4200594/Pamela-Andersonmakes-visit-Julian-Assange.html>
Acontece que Charles Manson, aquele Charles Manson, morou um certo tempo na casa de Dennis Wilson, baterista, compositor e único surfista de fato dos Beach Boys. Curiosamente, Wilson também era um Wilson, e, portanto, irmão de Brian e Carl, integrantes da banda californiana. O ano era 1968: conta-se que o músico encontrou duas moças peregrinando pela estrada e as levou à sua casa. No dia seguinte, lá estavam elas de novo, desta vez com mais uma dezena de pessoas, todas seguidoras de Manson – que ali também constava, literalmente beijando seus pés. A versão menos romântica narra que Manson descobriu a residência do baterista ao procurar maconha. Quando um culto inteiro para no seu jardim, resta chamá-lo pra dentro e abrigá-lo. Ou tomar outra cem decisões melhores do que essa, mas, de todo modo, foi o que ocorreu. Como é de se imaginar, a residência de Charles Manson & Seguidores deve ter sido uma bela merda para Wilson. Ao todo, a hospedagem de quase duas dezenas de gente custou ao músico mais de 100 mil dólares, 21 mil deles torrados em um carro sem seguro, destruído pelos inquilinos. Muito dinheiro também foi gasto com penicilina para amenizar o constante problema da Família Manson com… gonorreia. Qual era o benefício em receber uma corja tão expressiva? Para Wilson, 17 mulheres constantemente nuas e dispostas a obedecer comandos.
O disco solo de Wilson, Pacific Ocean Blue (1977), é tudo o que você precisa ouvir. Pianeira cabulosa.
<https://abcnews.go.com/US/beachboys-mike-love-recalls-meetingcharles-manson>
Com essa união, Charles Manson visava a um desenvolvimento de sua carreira musical, utilizando-se do estúdio do irmão Brian. Wilson chegou a afirmar que o guru dispunha de ótimas ideias. Manson compôs ‘Cease to exist’, música que acabaria regravada pelos Beach Boys e lançada como ‘Never learn not to love’, no lado B de ‘Bluebirds over the mountain’. Nenhum crédito foi concedido a Manson, que agiu de forma serena, ameaçando assassinar Wilson ao lhe presentear com uma bala. “Cada vez que você olhar para ela, quero que lembre de como seus filhos estão seguros”. Dennis Wilson resolveu a saia justa de forma simples: bastou enfiar a porrada até dizer chega. Para se livrar da Família Manson, no entanto, o baterista simplesmente abandonou a casa onde o grupo já havia se instalado.
<http://smileysmile.net/board/index. php?topic=2371.25>
E a música não é ruim. Charles Manson sabia pôr emoção em tudo. *-*
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Juliana Frank Trecho de Cabeça de pimpinela, Editora 7Letras, 2012
03/03 Pensamentação 1: Mamãe tem ene motivos: caxumba infecciosa que se pronuncia sempre em novembro. O rosto rosado e ama trabalhar. “Muito esforçada, corajosa” — é o que todos dizem. Parabéns pra ela e para toda a gente justa que merece habeas corpus. Pensamentação 2: Agora, é melhor eu me virar pro lado esquerdo. O direito já cansou dessa posição. Pretendo continuar dormindo, já que não tenho muito o que fazer, né? Pelo menos assim eu vivo algo nos sonhos. E, também, dormindo eu não gasto dinheiro.
Pensamentação 4: Se eu não comer nada hoje, amanhã poderei ir beber na Lapa. O Rio é uma boa cidade para beber. A gente tropeça na nossa sombra e cai de boca na imundície. Estou de bem com todas as cidades. Principalmente com aquelas em que não estou. Tenho isso de não gostar das cidades e querer me mudar sempre. Conheço poucas. Como estou confusa. Qual será o meu problema? Se concentra em dormir e cala essa pensamentação toda, Pimpinela! Preciso desaparecer de mim. Tem coisa aqui não dita.
Pensamentação 3: Vinte por dia e nem mais dez centavos.
Pensamentação final: Tô débil elemental.
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Urgências Carla Carvalho Alves Ia assim apressado, numa madrugada fria de abril, como recordava perfeitamente tantos anos depois. Pegou um ônibus para o centro, outro até o bairro e, por fim, o circular que passava pela rua da construção. Pão com manteiga e um pingado, se chegasse até às sete, depois disso costumava acabar o leite e às vezes também a manteiga. Mas o pão nunca lhes faltaria, garantia o gerente da obra. Encostou a cabeça na janela e foi sacudindo a conversa da noite anterior. Mari reclamava de tudo. Ele não conseguia entender aquilo. Ela que queria um filho, que rezou tanto, que fez até promessa pra ficar grávida, agora andava assim, choramingando por qualquer bobagem. Estava de licença-maternidade, podia ficar o dia todo em casa, com o menino, mas nem jantar fazia mais. As noites eram desertas e os domingos exaltados, mas ele não sabia ainda se era caso de separação. Marília voltaria a ser como antes, pensava. E quase acreditava mesmo nisso, quando via a mulher amamentando, tão tranquila, sentada na cadeira de praia embaixo do abacateiro, como se não houvesse o mundo. De repente, sem que mudasse vento ou caísse folha, sem que cachorro nenhum latisse, ela levantava aflita e ia para o quarto chorar. Apesar de todo o desgosto, nessa terça-feira tinha pão, manteiga, café e leite. Tudo tão quentinho, que
ele achou que o dia podia ser bom. Antes de pegar seus equipamentos de segurança, conferiu o quadro de avisos e viu destacado em amarelo: “Dirceu, favor procurar o Sr. Joel, com urgência”. Um colega lhe disse que o mestre de obras estaria no oitavo andar, a sua espera. Não pegou o elevador, foi assim ensimesmado pelas escadas, adiando as urgências daquela fria manhã de junho. Talvez pensasse em Marília, em Pedro, nas contas da casa... O certo mesmo é que havia parado no sétimo andar para observar a cidade. As pessoas costumavam dizer que ela parecia apequenar-se, quando vista de cima, mas, pra ele, era ainda mais monstruosa. Ficou um tempo ali, encostado no parapeito inacabado, enganando a pressa, repensando a vida, quando, subitamente, um fato singular para qualquer humana existência aconteceu. A caneta azul, que ele guardava sempre no bolso da camisa, soltou-se da roupa, pairou por alguns segundos na altura de seus olhos, depois subiu ainda mais, como se fosse atravessar o teto e, de repente, caiu no chão, livre e veloz como qualquer corpo. Dirceu sem poder respirar, olhou abismado a sua volta, tomou a caneta nas mãos, e a examinou desesperadamente, sem encontrar nenhuma explicação consoladora. Revirando-se em contradições e incertezas, subiu mecanicamente até o oitavo andar e não ouviu a ameaça de demissão feita pelo Sr. Joel. Saiu atordoado, deparou-se com
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Jorge e outros dois companheiros de trabalho. Juntou os resquícios de coerência que pôde e tentou contar o ocorrido. Os colegas riram um pouco e depois despediram-se com tapinhas nas costas, como se tivessem ouvido uma piada ruim. Jorge ficou pra trás, olhou consternado pra ele, disse que acreditava na história, acreditaria mesmo que fosse um bloco de concreto no lugar da caneta, porque o conhecia desde criança, porque trabalharam juntos em tantas obras, porque ele era um homem bom, mas aquilo não mudava a vida de ninguém. Não faria nenhuma diferença se a caneta tivesse caído direto no chão. “Isso não te faria mais rico, nem mais jovem, meu amigo, isso não mudaria nem mesmo o fato de você demorar três horas e meia pra chegar ao trabalho”. O melhor era esquecer os desvarios da vida e cuidar para não faltar o pão de cada dia. Depois de perder-se pela cidade por um tempo que já não sabia dizer, Dirceu passou em um supermercado, comprou uma rosa e voltou para casa. Sentou-se com sua Marília debaixo do abacateiro, tomou o filho nos braços e contou serenamente a sua delirante experiência. Marília sorriu feliz como já não sabia que era. Ficaram assim abraçados vendo a vida agigantar-se naquela fria noite de abril.
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1. Masturbação Algum Lucas
Desde Marx, há a convenção de que consumir é também um modo de produção, a questão aqui, porém, é: o que produz o consumidor de pornografia? Para além das questões que vêm à tona num primeiro momento — beleza, performance sexual, fantasias, artificialidade —, pensar contemporaneamente a pornografia requer entender o que há de mais sombrio em seu consumo: ele é ubíquo, precoce, unissex e cotidiano. As expectativas irreais, os corpos maquiados, a iluminação perfeita, a performance industrial: fatores que, um a um, vêm sendo subvertidos em nichos de consumo. Há, na pornografia, a tendência da simulação da espontaneidade. Nos anos 1990, podia-se afirmar que a pornografia era mesmo mais sexual do que o próprio sexo (BAUDRILLARD, 1983, p. 11); hoje, contudo, ela busca adentrar o campo semântico da intimidade. Tal qual as streams de almoço e janta asiáticas, que visam prover ao espectador que as consome um senso de companhia, sanar sua solidão, a nova pornografia é cada vez mais profissionalmente amadora: são “casais autênticos” que publicizam suas vidas — sexuais e civis, por assim dizer —, com o intuito de tornar as próprias vidas seus instrumentos de trabalho, seu meio de produção. Passam, portanto, a existir e, graças a isso, o limite entre vida e trabalho esvai-se. Consomem as próprias vidas para que possam ser
ainda mais consumidos e, enfim, ser consumindo. Byung-Chul Han (2017x, p. 26–27): “Hoje, o amor se positiva em sexualidade, a qual está também submissa à ditadura do desempenho. Sexo é desempenho. Sexyness é um capital que precisa ser multiplicado. O corpo, com seu valor expositivo, equipara-se a uma mercadoria. O outro é sexualizado como objeto de excitação. Não se pode amar o outro, a quem se privou de sua alteridade; só se pode consumi-lo”. Daí, afirmo a ideia da necessidade de uma reflexão metatécnica no que disser respeito à sexualidade e à intimidade. Falar de pornografia é, em essência, tecer comentário acerca de um dos maiores sintomas de uma sociedade informática consumidora de imagens. Pois, quando a intimidade se faz presente através das impresenças digitais, da insubstancialidade da rede (seja ela social no sentido de plataforma digital ou mesmo rede como mídia que permite acessar informações e a imagem do outro), é preciso começar a pensar a relação de intimidade entre o indivíduo e o aparelho. Em 2017, assim como em 2016, num dos maiores sites pornográficos do mundo, o termo mais pesquisado foi o nome de um jogo de computador. E pouco importa ser o jogo sobre a defesa do mundo e de ideais de união:
uma vez assentada a afetividade do consumidor pelas personagens, nasce o desejo de consumar estas relações intimamente, ou seja, sexualmente, já que o clímax deste amor somente se pode manifestar pornográfica e, por conseguinte, imageticamente. Antes de avançar, vale dizer que há, na própria internet, grupos enormes de usuários que percebem a pornografia desta maneira e contra ela se rebelam, coletivamente; só para descobrir que, tal como cada vez mais se dá com jogos de computador, o vício é um problema real. Aqui, entretanto, não cabe justificar ou desbancar a veracidade ou não do problema como vício. A mera percepção do fato como tal já é reveladora da ansiedade e do desespero causados pela tomada de consciência destes consumidores: suas identidades já estão desconectadas de suas corporalidades e, deste modo, suas sexualidades tornaram-se digitais, a pornografia venceu o sexo “ao vivo”, real. O problema destas comunidades é que o fazem, assim como em grupos que buscam espiritualizar-se após tomarem consciência de sua autoalienação existencial, por meios e estratégias de consumo. Não basta resolver, refletir ou enfrentar o problema, mas, resolvendo-o, há a promessa da reinvenção do indivíduo. Noventa dias sem pornografia ou masturbação e a pessoa tornar-se-á alpha, diferenciada
— e, mais uma vez, consome-se status quo. Este tipo de abordagem é onipresente na sociedade informática. Porque é claro que muitos perceberão as incorrespondências entre o que sentem e aquilo que dizem desejar, fazer e, principalmente, ser. Percebêlo, entretanto, não pressupõe, antes, entender o fenômeno nem, ainda, ser capaz de localizá-lo em alguma esfera da própria vida privada. O fácil acesso à informação, neste caso, não ajuda: ao primeiro sintoma, em vez de entrar em contato consigo mesmo, o indivíduo contata a rede, que lhe diz mil e uma respostas a tudo aquilo que ele sente e um dia irá sentir. Nada, contudo, sobre como senti-lo. Aí, portanto, outro traço de uma Agonia de Eros. “Graças aos avanços da física quântica, com as águas de ------, em um ciclo, suas energias vibracionais atingirão a harmonia quântica necessária para uma vida iluminada”; “Superando este desafio de noventa dias, assim como eu, você subirá seus níveis de testosterona e perceberá o quanto sua mente estava anuviada com imagens artificiais, e, enfim, será capaz de se tornar alpha e impor a sua vontade sobre o mundo!”. Saltos de fé desesperados perante o abismo críptico que se percebe desvelar. À la Kierkegaard: “Pule, então, para os braços de Deus!” ou da ciência, do sucesso, da física quântica... Tamanhas positivações geram ausências de negatividade exasperantes.
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Como é possível entender o outro, se mal há algum outro com alteridade o suficiente para interagir? Numa entrevista em Osnabrück, Flusser comenta, acerca das imagens técnicas, dois pontos imprescindíveis: 1. elas não mais representam o mundo — estas novas imagens são agora articulações do pensamento, elas não são cópias, mas projeções, modelos; 2. as revoluções tecnológicas anteriores simulavam o corpo, ao passo que a revolução informática, com suas novas técnicas, simula o sistema nervoso. Em outros termos, portanto, pode-se afirmar que esta foi uma revolução “espiritual”. Daí, tamanhas aflições existenciais e questões identitárias. Este novo estar-no-mundo presume fazerse presente num mundo mediado por imagens técnicas, um ambiente cibernético que hiperestimula o sistema nervoso em detrimento de promover o contato com a própria corporalidade. A pornografia de antes, portanto, simulava fetiches e exacerbava de modo hardcore a performance, o que ainda acontece, é claro: a indústria de “entretenimento adulto” é uma das que mais prospera na atualidade — apesar da cada vez maior tendência intimista. Tal qual promove-se o microempreendedorismo, promovese a profissionalização da pornografia amadora, autêntica — real. Está-se sempre em busca de conexões afetivas, de negatividade e, em todos os campos, esta busca se realiza no consumo, gerando, enfim, nichos de mercado. O próprio diálogo sobre a pornografia foi adotado pela sociedade como tema, e dia após dia mais documentários e making ofs dos bastidores da indústria pornô são produzidos e consumidos, a perpetuar o feedback do processo. A pornografia e o consumo pornográfico de imagens em redes sociais se equivalem na medida em que consistem, ambos, de modelos reais —
é implausível afirmar sua inexistência. Há um abismo entre a escrita, com sua tradição narrativa, linear e histórica, e a produção de imagens técnicas, circular e pós-histórica. Cabe entender, aqui, que a pós-história não presume a morte da história, mas a disrupção de sua linearidade (FLUSSER, 2010x). Esse estar-no-mundo pornográfico em que é preciso ser visto para que se possa ser (videor ergo sum) causa tanto desconforto, porque, sob análise, revela-se incoerente — contradictio in adjecto. Logo, é preciso parar de olhar um pouco o sujeito e encarar o objeto.
Mudança climática REFERÊNCIAS BAUDRILLARD, J. La société de consommation. Folio essais, 2017, p. 11. HAN, B. Agonia do Eros. Editora Vozes, 2017, p. 26-27.
( ) A favor ( ) Contra ( ) Não sei opinar
FLUSSER,V. Pós-história: vinte instantâneos e um modo de usar. Annablume, 2011.
livros ı vinis
Joaquim
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eu era a criança que ninguém queria brincar no recreio Ítalo Lima chorar de frente ao muro com os olhos cobertos de concreto / na fala dizeres cinzas ao invés de flores
no abraço cadeado nos dedos dolorosos ardores expostos na saliva há mares no engasgo da garganta folhagens secas à procura do outono
chorar de frente ao muro morrer de vez em sempre sufocado e com sal na língua dizer vapores que atormentem a vizinhança ser incômodo no vazio da surdina dizer palavras tortas com os olhos arranhados no chapisco
chorar de frente ao muro com a agonia me esbofeteando o rosto a ânsia invadindo minhas narinas e na dolência povoar os meus delírios
chorar de frente ao muro & derramar ancestrais do meu sangue chorar de frente ao muro chorar de frente ao muro chorar de frente ao muro sozinho na hora do recreio
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Mrs. Dalloway Camilla Canuto
Eu mesma comprarei as flores; é minha única opção, não tenho quem as compre para mim.
Sigo pela calçada e um cachorro atravessa a rua na minha direção. Atraio cachorros, penso. Ele
pareia comigo, como se eu fosse uma cadela a quem ele deseja proteger.
Abanamos juntos nossos rabos até a esquina em que a separação acontece. Um saco de lixo,
em que outros animais já haviam remexido, chama sua atenção e ele parte. Sequer um olhar sela nossa despedida.
A floricultura fica ao lado de uma casa funerária. Três parentes lamentam juntos a morte de
alguém enquanto discutem qual entre as mensagens de pêsames disponíveis é a mais adequada. Dou bom dia e ninguém responde.
Se ouvi bem — e me esforcei —, a defunta era mulher, mais de cinquenta, viúva, morreu de
Influenza. Espirro bem na hora que mencionam a doença e a sincronia me provoca um irônico agrado. Disfarço o sorriso de satisfação enquanto escolho entre rosas e camélias.
Olho, toco, cheiro; escolho, enfim, as mais baratas.
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Pedro Mohallem Não nos cabe o silêncio das montanhas, o silêncio de pedra, imponderável, o silêncio que irrompe na garganta como o grito sem voz de um fuzilado;
não nos cabe o silêncio dos abismos, o silêncio da queda incalculável, o silêncio de um corpo que se inclina, mas que jamais se atira; não nos cabe
o silêncio traiçoeiro de uma trégua, o silêncio maciço de uma porta aberta: só nos cabe o mais infenso
dos silêncios: aquele que se entrega — Cabe a nós o silêncio dos silêncios — para cuspir uma palavra morta.
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bagdad café Carina Gonçalves
vasculho as fotografias das nossas últimas viagens e não encontro vestígio do elefante que nos fez companhia lembra-se dele no carro pelo retrovisor? por vezes nos sorria nervoso por outras olhava ausente pela janela, perdido na paisagem seca
no avião, nosso elefante se sentou no meu colo. te pedi que revezasse o peso comigo e você disse que eu já estava na janelinha
na selfie que tiramos os três juntos ele não aparece. deu espaço para o mar — cortês da parte dele — sempre muito discreto. e a foto ficou linda. todo mundo viu o quanto nós nos amávamos. até você e eu
sempre havia um espaço entre a minha coxa e a sua. entre o meu peito e o seu que ele preenchia liquidamente com seu couro cinza. áspero mas eu gostava de acariciá-lo para sentir sentir lixar a palma das minhas mãos (nem toda sensação agradável é boa)
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Carta ao café Sammis Reachers
Café aroma de lar
Inimigo do deus do sono Oneiros,
Ritual, despedida de quem vai,
Adversário do deus de gelo Ymir
Abraço a quem retorna
Multilíngue deus de ébano & trópico
Coffea arábica, Coffea canephora, Coffea liberica, Coffea dewevrei
Licor laboral
E as raças secretas de café
Elixir de trevas luminosas Rubro fruto de a noroeste
Cremes, bolos, infusões
Do Eufrates e do Tigre
Drinks, balas, canapés
Último pomo a escapar do Paraíso
Reversa marihuana
Antes de seu traslado
De santos, céticos e sahibs
De volta ao seio de Deus
Aqueduto tônico odoropulsante
Orfeu negro, liquefeita
Odoropulsar:
Cítara
Café cuspidor de estrelas,
Poema em estado tênsil
Regurgitador de luzes
Combustível dos Napoleões
Festim fenomenológico
Comburente dos Quixotes
!
Reserva moral da literatura Aumente a pressão sanguínea
Sol do leite, do creme, do rum
De nossas ideias,
Sol para tantas pressurosas luas
Aqueça nossa tumultuosa
Centro da galáxia
Solidão campestre ou citadina
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Cachinhos Lisos Guilherme Bucco Capítulo 1 Ao acordar, Cachinhos Lisos notou um baú na sala. “Lola, olha, um baú!”, exclamou Cachinhos Lisos, acordando Lola, uma cachorrinha de pelos brancos. “Abra ele pra gente ver o que tem dentro”, animou-se Lola, já toda desperta e com o rabo abanando. Cachinhos Lisos tentou abrir o baú, roxo com contornos amarelos, sem cadeado e da altura de suas pernas. A tampa, azul e muito pesada, nem se moveu. “E se você me ajudar, Lola?”, pediu Cachinhos Lisos. Mas nem a força das duas juntas pôde revelar o conteúdo do baú. “Já sei!”, pulou Lola, “vamos levá-lo à Dona Ferramentas, ela certamente conseguirá abrir”.
Assim, Cachinhos Lisos pegou o baú, Lola vestiu sua mochila e as duas partiram em direção à oficina da Dona Ferramentas. O espaço da Dona Ferramentas era cheia dos mais diversos objetos. Tinha um martelo que ficava pulando como uma mola, pregos em forma de S, C, P e outras letras, uma chave inglesa contadora de histórias, chaves de fenda que consertam brigas e serrotes para serrar mau humor. Cachinhos Lisos ficou encantada especialmente com o alicate-cantor. Dona Ferramentas, toda feita de engrenagens, rodas, pregos e parafusos, colocou seus mecanismos para funcionar e logo deu seu parecer. “Não posso abrir esse baú. Ele não é meu.Vocês devem achar o dono e pedir para ele abrir”, lamentou ela.
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“Nós não sabemos quem é o dono... O baú estava lá em casa hoje de manhã...”, entristeceu-se Cachinhos Lisos, abaixando e abraçando seus joelhos, com os cachos cobrindo seu rosto. “Hm… bom, então não há o que fazer”, concluiu Dona Ferramentas. “Podemos ir à cidade procurar o dono!”, Lola deu a ideia toda contente, com seu focinho farejando uma aventura pela frente. “É verdade!”, concordou Cachinhos Lisos, ficando de pé em um pulo. “Esse baú não pode ter surgido assim. Deve ter um dono e um jeito de abrir!” E, então, Cachinhos Lisos e Lola saíram da casa da Dona Ferramentas rumo à cidade.
SEBO
SOLARIS