Sebenta

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#01 - EDIÇÃO ÚNICA

JORNALSEBENTA.WIX.COM

SEBENTA

GRANDE REPORTAGEM - PÁGINAS 10-13

Quando o corpo não corresponde ao cérebro PÁGINAS 28-31

GRANDE ENTREVISTA A HELOÍSA APOLÓNIA

PÁGINA 15

PÁGINA 21

PÁGINA 32

PÁGINA 38

O chocolate vai acabar?

FEMEN: O feminismo na rua

Future Places: o futuro na Invicta

Portugal Fashion desfilou pelo Porto


EDITORIAL

2 FICHA TÉCNICA

Circo dos Políticos A 21 de Novembro de 2014 pelas onze da noite, o ex Primeiro-ministro José Sócrates era preso no aeroporto da Portela em Lisboa. Os portugueses assistiam em direto à primeira detenção de um ex-chefe de governo sob os holofotes da comunicação social. Os dias que se seguiram suscitaram uma constante cobertura noticiosa. A ética, tanto no Jornalismo como no Direito, foi colocada em causa, sendo que surgiram semelhanças com o processo Casa Pia aquando a detenção dos suspeitos em direto e debaixo do escrutínio de todos. O circo mediático construído em torno de fugas de informação e fontes não identificadas culminou em

julgamentos ao trabalho dos jornalistas. Casos que envolvam políticos e figuras públicas implicam, muitas vezes, o instinto de divulgar a primeira informação recebida. Os temas das peças não fugiram à agenda mediática e noticiar em primeira mão nunca foi tão cobiçado. A pressão do acontecimento levou a que houvesse uma panóplia de diretos quase de 15 em 15 minutos, que nada acrescentavam. “Encher chouriços” era o lema. Era preciso matar a fome aos jornalistas e saciar a curiosidade aos portugueses. A curiosidade não matou o gato, mas as sete vidas de José Sócrates parecem estar a acabar. A informação está no ar, não há confirmação nem cruzamento de dados. Se o segredo de justiça pressupõe a salvaguarda de determinados pormenores dos casos

em investigação, os jornalistas não saberiam, à partida, da detenção de José Sócrates num parque de estacionamento de um aeroporto. É muito estranho o facto de órgãos de comunicação social terem “acampado” no aeroporto da Portela, mesmo antes da chegada do ex Primeiro-ministro a Lisboa. Ainda era de noite e já Sócrates via o Sol da Manhã aos quadradinhos.

Daniela Cunha

Francisca Carvalho

Foto do Ano Rita Castro Gonçalves

Rita Neves Costa

Jovens tiram “selfies” junto ao estabelecimento prisional de Évora, onde se encontra detido José Sócrates (Fonte: DR) Rosa Neves Azevedo



POLÍTICA

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Eleições Legislativas 2015: todos os O ano ainda não terminou, mas o “burburinho” das eleições legislativas do próximo ano já está na agenda de muitos partidos políticos e a figura de futuro primeiro-ministro assume forma em várias personalidades. Com base em projeções e expectativas, o jornal Sebenta apresenta os candidatos mais prováveis à eleição do próximo chefe de Governo.

Pedro Passos Coelho

António Costa

Paulo Portas

Catarina Martins

Ainda sem informações quanto a uma possível coligação com o CDS nas eleições legislativas de 2015, o atual primeiro-ministro apresenta-se como o candidato “natural” do PSD para uma possível reeleição. Embora os dados não confirmem nem desmintam tal expectativa, o certo é que vários sociais-democratas já demonstraram o voto de confiança em Passos Coelho. Num mandato caracterizado pela subida de impostos e pelos cortes orçamentais, a reeleição não é descartada pelo PSD.

Depois de várias convulsões internas no seio do Partido Socialista, da saída de António José Seguro e da eleição de António Costa para secretário-geral, a única certeza no partido é que o atual Presidente da Câmara de Lisboa será candidato a primeiro-ministro. Com a missão de unir as vozes dissonantes no PS e retirar o PSD e o CDS do Governo, António Costa não poupa críticas ao executivo de Passos Coelho e promete desagravar a austeridade orçamental e fiscal em Portugal.

Uma coligação entre PSD e CDS para a próxima legislatura continua em aberto. Os temas fraturantes entre os dois partidos levam a crer que nas próximas eleições legislativas, a probabilidade de concorrem individualmente não será tão incerta quanto isso. Enquanto líder do CDS e atual vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, será o candidato provável do partido “centrista”. Aliado ou não aos sociais-democratas, para o CDS o único caminho possível é a vitória nas eleições.

A convenção do Bloco de Esquerda veio clarificar a posição do partido nas eleições legislativas de 2015. A saída de João Semedo da liderança do BE colocou Catarina Martins enquanto porta-voz única do partido e a confirmação enquanto candidata a chefe do Governo foi dada pela mesma. Depois de algumas disputas internas, o Bloco pretende atingir estabilidade de forma a ser uma alternativa de esquerda e de mudança serão os lemas do partido na campanha eleitoral.


POLÍTICA

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possíveis candidatos a chefe do Governo O XX Congresso do Partido Socialista, a IX Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, a criação do Partido Democrático Republicano e os constantes ataques entre os partidos políticos já demonstram que se está perante um clima de pré-campanha eleitoral. Tudo indica que as eleições legislativas de 2015 serão em Outubro, a “política” começou.

Jerónimo de Sousa Ainda sem informações quanto a uma possível coligação com o CDS nas eleições legislativas de 2015, o atual primeiro-ministro apresenta-se como o candidato “natural” do PSD para uma possível reeleição. Embora os dados não confirmem nem desmintam tal expectativa, o certo é que vários sociais-democratas já demonstraram o voto de confiança em Passos Coelho. Num mandato caracterizado pela subida de impostos e pelos cortes orçamentais, a reeleição não é descartada pelo PSD.

Rui Tavares

Ana Drago

As últimas notícias confirmam que o Partido Livre e a Associação Fórum Manifesto podem nas próximas eleições legislativas concorrer juntos numa convergência de partidos e movimentos à esquerda. Porém ainda não é claro qual dos dirigentes, se Rui Tavares ou Ana Drago, terá o nome colocado à frente da convergência. Para já, nenhum pretendeu prestar declarações quanto ao assunto, apenas reiteraram a união de esforços para a construção de um governo de esquerda. Ainda nesta convergência, mas tão mediatizado, está também o movimento Renovação Comunista com Cipriano Justo como cabeça de lista. Apesar de já ter despertado alguns elogios por parte de António Costa, o Partido Livre não se compromete com nenhuma coligação de esquerda com o PS. Dificilmente essa associação aconteceria, tendo em conta a convergência Livre/Fórum Manifesto, visto que nomes como Daniel Oliveira recusam concorrerem às legislativas com o PS. A nota principal desta coligação vai para o facto de muitos dos protagonistas terem sido deputados do Bloco de Esquerda, mas devido à discordância em determinados aspetos saíram do partido.

Marinho e Pinto Depois de ter sido cabeça de lista pelo Movimento Partido da Terra (MPT) e ter conquistado um lugar enquanto deputado no Parlamento Europeu, Marinho e Pinto assumiu a vontade de se candidatar a primeiro-ministro. A criação de um novo partido político, o Partido Democrático Republicano, foi uma das ações que colocaram o ex-bastonário da Ordem dos Advogados na corrida para a formação de um novo executivo. Um partido para todos os estratos sociais e um executivo sem promiscuidades são promessas de Marinho e Pinto.


POLÍTICA

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Regeneração marca a 31ª sessão de seleção nacional do PEJ A Universidade do Minho recebeu, de 5 a 9 de Novembro, a 31ª Sessão de Selecção Nacional do Parlamento Europeu dos Jovens (PEJ). Daqui serão seleccionados sete jovens que vão representar Portugal na 78º Sessão Internacional do PEJ na Turquia.

Ao abrigo do tema “Re:Generação”, reuniram-se em Braga 120 jovens ao longo de 5 dias para discutir questões com grande impacto na actualidade europeia. Para além da área do Porto, a mais representada na sessão, os mais de 70 delegados vêm de vários cantos do país, mas também de vários pontos da Europa, como Suécia, Suíça e até mesmo Ucrânia. Os delegados são divididos entre oito comités, onde elaboram uma moção com propostas de resolução para as problemáticas apresentadas em cada sessão. A escolha do tema base da sessão englobou vários aspectos característicos do projecto PEJ, como contou ao Sebenta um dos head-organisers da sessão, Henrique Vieira Mendes. “Para a 31ª Sessão de Selecção Nacional, escolhemos o tema “Re:Generation”, ou regeneração. Regeneração da Associação, numa fase de transição para o Biénio 2014-16, regeneração dos seus eventos, aumentando a exigência académica e a participação internacional, regeneração da cidadania europeia, reflectindo sobre os seus tópicos mais prementes.” A escolha do tema relacionou-se também com os vários assuntos discutidos durante a

sessão. “O tema sublinha também a importância de diálogo, com o “Re:” alusivo às respostas em correio electrónico. Diálogo entre todos, enfatizando o diálogo inter-geracional, condição essencial para projectar um futuro mais justo, ponderado e sustentável. A regeneração da política externa europeia, da participação democrática, dos papéis de género, do turismo sustentável, das oportunidades de emprego, do desenvolvimento rural, da educação e da agenda digital europeia foram os assuntos versados,” sublinhou Henrique. Os participantes são avaliados quanto ao seu conhecimento acerca do tópico discutido, a pertinência das suas intervenções, a sua fluência oral, postura durante o debate, criatividade e evolução pessoal durante a assembleia. Todas as sessões acontecem num cenário exigente e em tudo semelhante a um plenário do Parlamento Europeu, exclusivamente falado em inglês. Os sete melhores delegados escolhidos pelo júri terão a oportunidade de representar Portugal na 78º Sessão Internacional do PEJ em Izmir, na Turquia, de 17 a 26 de Abril de 2015.

18 comissões parlamentares com eurodeputados portugueses Vários são os deputados que integram as comissões parlamentares no Parlamento Europeu. As comissões dos Assuntos Económicos e Monetários, do Emprego e Assuntos Sociais e das Pescas são as que ficam com mais eurodeputados portugueses.

(Fonte: DR) No total são 18 comissões que incluem eurodeputados portugueses de vários partidos. Comissão dos Assuntos Externos, comissão do Desenvolvimento, Comissão dos Orçamentos, Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários, Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais, Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, Comissão do Desenvolvimento Regional, Comissão das Pescas, Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos são alguns exemplos de comissões do parlamento europeu. Só as

comissões do Comércio Internacional, Controlo Orçamental, Cultura e Educação, e Petições é que não estão integrados nenhum eurodeputado português. Os membros das comissões são escolhidos depois de apresentadas as candidaturas pelos grupos políticos e pelos deputados não inscritos. A composição das comissões deve refletir, a composição do Parlamento. Ainda podem ser nomeados para cada comissão um número de membros suplentes permanentes igual ao número de titulares que os representam nessa comissão.


POLÍTICA

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Alberto João Jardim pode vir a ser deputado Alberto João Jardim admite poder vir a ocupar o cargo de deputado na Assembleia da República.

“Juntos Podemos” é o nome de um possível novo partido Movimento “Juntos Podemos” já começa a recolher assinaturas e pensa em concorrer às próximas eleições legislativas em 2015.

(Fonte: DR) O Presidente do Governo Regional da Madeira disse que se demitia a 12 de janeiro e por isso colocou a hipótese de vir a assumir o seu lugar na Assembleia da República. No entanto, Jardim não tem a certeza se isso se vai concretizar. “Se houver eleições antecipadas [na Madeira], este Governo vai ter de ficar em gestão, pelo menos até à Páscoa, portanto essa hipótese de ir assumir funções ou de não ter pachorra de ir assumir qualquer função na Assembleia

da República ou na Assembleia Legislativa da Madeira não se põe para já”, declarou aos jornalistas. Quanto às eleições no PSD/Madeira, Jardim diz que vários candidatos merecem o seu voto e quem for eleito deve ter como objetivo a união do partido. O líder madeirense afirma que se não houver esforço de união “já está dado um mau sinal e é um mau sinal que vai implicar uma derrota eleitoral a seguir”.

Decisão sobre a coligação PSD/CDS-PP só será tomada em 2015 Pedro passos Coelho e marco António Costa remetem a decisão de uma eventual coligação com o cds-pp para 2015. Marco António Costa disse na reunião do Conselho Nacional do partido, que decorre desde segunda-feira em Lisboa, que a eventual coligação com o CDS-PP para as legislativas será decidida em 2015. O porta-voz do PSD acrescentou ainda que não há um limite temporal para decidir: “haverá em tempo próprio essa decisão”.

Segundo sociais-democratas presentes na reunião, Pedro Passos Coelho terá dito o mesmo, recordando que o CDS-PP prometeu discutir o assunto no Conselho Nacional do partido ou até realizar um referendo interno sobre a coligação.

(Fonte: DR) O movimento “Juntos Podemos” decidiu no dia 14 de dezembro não excluir a sua constituição como partido político para concorrer às próximas eleições legislativas. A decisão de concorrerem às próximas eleições legislativas foi defendida foi defendida pela antiga deputada do BE Joana Amaral Dias e pelo jornalista Nuno Ramos de Almeida e votada, entre outras, numa “assembleia cidadã” que terminou no dia 16 de dezembro em Lisboa. A recolha das assinaturas já começou a ser feita para entregar no Tribunal Constitucional e poderem constituir-se como partido, já que é a única forma para concorrem legalmente às eleições legislativas, pois não se aceitam como candidatos movimentos de cidadãos. “Houve um consenso geral de que será sempre um movimento de cidadãos, que depois pode assumir formas diversas em função das circunstâncias”, sintetizou aos jornalistas João Romão, que, tal como Ramos de Almeida e Joana Amaral Dias estava na mesa da assembleia e faz parte da equipa coordenadora do “Juntos Podemos”. “Houve uma discussão mais pormenorizada, mais focada, sobre o que pode ser a participação nas próximas eleições.

Houve pessoas que acharam que não devíamos fazer isso, houve pessoas que acharam que devíamos decidir já hoje se fazíamos isso. Prevaleceu a ideia de que devíamos avaliar essa possibilidade, quer em função dos nossos próprios meios, quer em função do contexto, num futuro próximo”, acrescentou. A decisão foi remetida para uma nova assembleia a realizar no dia 24 de janeiro. Durante a “assembleia cidadã”, várias foram as propostas a serem votadas: a de se avançar imediatamente para a criação de um partido (teve 4 votos), a de o “Juntos Podemos” permanecer somente um movimento (reuniu 21 votos), a de não excluir a sua constituição como partido e iniciar já uma recolha de assinaturas nesse sentido (a proposta que venceu, com 84 votos). O “Juntos Podemos” aprovou na assembleia o desenvolvimento de ações contra os despejos e demolições de pessoas que não conseguem manter financeiramente as suas casas, desencadear “a maior rede possível de combate ao TTIP”, o acordo de comércio transatlântico, criar uma petição pela transparência nos contratos do Estado que impeça cláusulas confidenciais, e ações contra a privatização da TAP.


POLÍTICA

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Operação Marquês ou Operação José Sócrates? Na noite de 22 de Novembro era noticiada a detenção do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, naquele que foi provavelmente um dos acontecimentos mais divulgados e analisados nas semanas seguintes e até aos dias de hoje. Desde a detenção no aeroporto da Portela em Lisboa até à leitura das medidas de coação a 24 de Novembro, o jornal Sebenta traça o panorama do que foi especulado e comentado. Dois dias em que Sócrates foi protagonista dos jornais, das rádios e das televisões.

(Fonte: DR) A revista Sábado divulgava a 31 de Julho deste ano, que o ex-primeiro-ministro socialista estaria a ser alvo de investigações no caso Monte Branco. Este facto seria desmentido pelo próprio no espaço semanal de comentário na RTP, onde classificava a publicação de “bandalheira”, sendo que a própria Procuradoria-Geral da República desmentiu tais investigações. Na altura, a Sábado noticiava alguns pormenores que vistos com alguma distância temporal, vão de encontro às acusações atualmente dirigidas a José Sócrates, nomeadamente a origem e os movimentos no património do ex-primeiro-ministro. Além destas nuances, a investigação estaria também ligada a branqueamentos de capitais, que

relacionavam Sócrates ao ex-presidente do BES, Ricardo Salgado. As movimentações no património mobiliário e imobiliário levantaram suspeitas à justiça portuguesa e motivaram a detenção de Sócrates no aeroporto da Portela em Lisboa, quando regressava de uma viagem a Paris. A partir daí, várias questões foram levantadas pelo comum português e pelos especialistas em áreas como o jornalismo e a justiça: Porquê é que José Sócrates foi preso? Como é que os órgãos de comunicação social sabiam desta detenção antecipadamente? Porquê o ex-primeiro-ministro foi preso no aeroporto e não notificado?

As acusações feitas a Sócrates A Procuradoria-Geral da República numa nota enviada à comunicação social no mesmo dia da detenção, esclareceu que o ex-primeiro-ministro é suspeito pelos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Na mesma nota, é referido o facto de que as quatro detenções, nomeadamente a de José Sócrates, João Perna (motorista do ex-primeiro-ministro), Gonçalo Trindade e Carlos Santos Silva, terem sido efetuadas com base em solicitações de um inquérito do Ministério Público. O grupo Lena, a empresa envolvida na investigação, afirmou no dia 22 de Novembro não ter quaisquer tra-

balhadores detidos, muito embora admitisse que o grupo foi alvo de investigações por parte do Ministério Público. A empresa de construção civil mostrou-se disponível para falar à comunicação social e apesar de ter registado proximidade com Sócrates, durante o mandato socialista, por exemplo no projeto Parque Escolar, desmarcou-se de qualquer acusação. No dia seguinte à detenção, o ex-primeiro-ministro foi interrogado pelo juiz Carlos Alexandre e ambos foram encaminhados para a residência daquele, com o propósito de efetuar buscas. O interrogatório acabou por terminar na segunda-feira, dia 24 de novembro, antes da hora de almoço. A declaração pública das medidas de coação foi


POLÍTICA

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(Fonte: DR) feita no mesmo dia, por volta das 22h e 20 minutos, depois de várias horas à espera da comunicação das mesmas.

A comunicação social desde o início da operação Marquês demonstrou interesse no caso, e quantidade de peças jornalísticas assim o demonstram. No entanto, foram muitos os que acharam a cobertura exagerada, quer pelo número, quer pelo sensacionalismo que lhe empregaram. Os dias seguintes à detenção mostravam manchetes com o nome Sócrates, o áudio da rádio continha reações ao acontecimento e a televisão tinha nos diretos à porta do Tribunal de Instrução Criminal em Lisboa ou à porta da residência do ex-primeiro-ministro, os grandes trunfos para manter a audiência. Nomes como Clara Ferreira Alves, numa coluna de opinião do jornal Expresso, fizeram um parale-

lo do caso com o processo Casa Pia, por serem veiculadas muitas informações não confirmadas e assentes em fontes anónimas: “Espero pelo processo e exijo, como cidadã, que seja cumprido à risca. Não foi, até agora. Nem neste caso nem noutros. Isto assusta-me. Como me assustou no caso Casa Pia. Esta Justiça de terceiro mundo aterroriza-me. Isto não acontece num país civilizado com jornais civilizados.”. E se muitos preferiram não comentar o caso José Sócrates, outros acusaram de ser uma situação de manipulação política e de o timing da detenção ser apropriado para determinadas intenções, como foi o caso de Edite Estrela na sua conta de Facebook: “Qual a melhor forma de desviar as atenções do escândalo dos vistos gold?”. O facto de alguns órgãos de comunicação social estarem antecipadamente no aeroporto da Portela, à espera da saída do ex-primeiro-ministro num carro da Polícia Judiciária, levantou também o debate se o facto não deveria ter

“Já se sabe quem é o próximo? Se a PJ precisar de instalações, sei de um visto gold que aluga quartos equipados para detidos...”

“A política e a justiça portuguesas nunca mais serão as mesmas depois de um ex-primeiro-ministro ser detido num aeroporto e passar a noite na cadeia”

- Estrela Serrano, ex-assessora de Mário Soares

- Daniel Oliveira ex-dirigente do Bloco de Esquerda

O jornalismo debaixo de fogo

permanecido enquanto segredo de justiça, ou se por ventura, existiu uma fuga de informação. A dualidade entre segredo de justiça e direito à informação voltou à ribalta com este caso.

A justiça no caso José Sócrates Ser preso num parque de estacionamento de um aeroporto, sem aparentemente ter notificado o suspeito de tal situação, levou a que muitas juristas e especialistas na justiça, se questionassem o porquê de a detenção ter ocorrido nestes moldes. Nos dias imediatamente a seguir, estas questões colocaram-se. Contudo alguns esclarecimentos do Estado do Direito, lembraram que o perigo de qualquer um dos suspeitos poder destruir provas ou prosseguir na atividade criminosa, exigiram tal ações e não apenas uma notificação pelo tribunal. Apesar das explicações e da diversidade de opiniões, o certo é que a polémica estalou nos vários domínios da

A prisão de José Sócrates, (...) no aeroporto de Lisboa, com pelo menos uma câmara de TV de sobreaviso, é (...) uma tentativa de humilhação do próprio ex-primeiro ministro” - João Soares, deputado do PS

vida pública e a justiça avizinha-se ser aquela mais suscetível a críticas e a pareceres pela importância óbvia que detém no processo. Outra constatação foi o facto de o juiz Carlos Alexandre ser o responsável pela condução do caso. Conhecido por estar envolvido em alguns dos processos judiciais mais mediáticos de Portugal como Face Oculta, Freeport, Apito Dourado e agora, Operação Marquês, a crítica passa pela atribuição em demasia de casos ao juiz, que já passou a ser referido como o “juiz dos poderosos” ou “juiz dos tabloides”. A leitura das medidas de coação ditou a prisão preventiva de José Sócrates, João Perna e Carlos Santos Silva e a ilibação de Gonçalo Trindade. O caso não se adivinha tão cedo sair da mente dos portugueses, do conteúdo da comunicação social ou do trabalho da justiça portuguesa. Será um processo para acompanhar, debater e refletir nos próximos episódios.

“Aleluia! A malta de Mação não perdoa” - Duarte Marques, deputado do PSD


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Quando o corpo não corresponde ao cérebro A transexualidade apresenta-se como um tema atual, mas ainda capaz de gerar algumas dúvidas e preconceitos. As associações, os transexuais e os especialistas na área tentam combater a falta de informação. Apesar da evolução portuguesa, ainda existe um longo caminho a percorrer.

FRASES MARCANTES

“Há 12 anos atrás tomei plena consciência de quem eu era.” - Lara Crespo

“A maior parte das pessoas não sabe muito bem, o que é a transexualidade e confunde com travestismo e homossexualidade.” - Zélia Figueiredo

Género é um termo que apenas tem a ver com a sociedade e com a classificação pessoal e social das pessoas como homens ou mulheres, orienta papéis e expressões de género sendo independente do sexo. Identidade de género, significa o género com o qual uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar com o género que lhe foi atribuído aquando do seu nascimento. Diferente da sexualidade da pessoa, identidade de género e orientação sexual são dimensões diferentes e que não se confundem. É o sentimento de “masculinidade” ou de “feminilidade” que a pessoa tem, tal como Júlia Couto explica na sua tese “Transexualidade: Passado, Presente e Futuro”. Segundo a associação ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero), o sexo atribuído à nascença e registado é geralmente inferido por um exame sumário da genitália, sendo que outros caracteres secundários ou fatores genéticos, endócrinos, ou neurológicos, são ignorados. Para muitas pessoas, a sua identidade de género (identificação psicológica como homem ou mulher) não corresponde ao sexo biológico que lhes foi atribuído à nascença, ou seja, não são cisgénero, mas sim transexuais. A socióloga Sandra Saleiro, investigadora da temática da transexualidade, clarifica que independentemente da situação face à cirurgia de reatribuição de sexo, ou seja, quer a tenham ou não realizado ou até quer seja ou não desejada. Por seu turno, os indivíduos transgéneros (ou transgender, como é mais habitual, utilizando o termo em inglês) serão aqueles cuja relação com o sexo biológico atribuído à nascença não é necessariamente problemática e que sentem e expressam não o outro género, mas outros fora do exclusivamente masculino e feminino ou não mantêm uma relação estável com nenhum dos dois. Será o caso, por exemplo, das pessoas cross-dressers, andróginas, drag queens ou drag kings, travestis, etc. Para Lara Crespo, transexual feminina, ativista e responsável pelo Grupo Transexual Portugal, cada pessoa é um caso. São estimados mais de 500 tipos diferentes de identidade de género. Há pessoas que nascem e entendem-se dos dois géneros, ou não se sentem de género nenhum. Atualmente em Portugal existe uma Lei de Identidade de Género, que entrou em vigor a 15 de março de 2011. Esta lei permite proceder à alteração de género e de nome próprio em qualquer conservatória de registo civil. Sendo que antigamente para mudar o género e nome era preciso passar por um tribunal e era obrigatório ter feito a cirurgia de reatribuição sexual. De acordo com o que está definido na lei nº 7/2011 da Assembleia da República, têm legitimidade para requerer esta mudança as pessoas de nacionalidade portuguesa, maiores de idade e que não se mostrem interdi-

tas ou inabilitadas por anomalia psíquica, a quem seja diagnosticada perturbação de identidade de género ou, como mais recentemente se designa de disforia de género. O pedido pode ser feito em qualquer conservatória de registo civil, devendo, para isso, ser apresentado um requerimento de alteração de género com indicação do número de identificação civil e do nome próprio pelo qual pretende vir a ser identificado. Hoje também já deixou de ser obrigatória a cirurgia de reatribuição sexual. Lara Crespo considera que Portugal não tem uma lei de identidade de género, mas sim apenas uma lei de alteração de nome e de género na documentação. Fazendo uma comparação com a lei da Argentina, que considera a mais completa: “Essa é uma verdadeira lei e é uma lei completamente despatologizante, ou seja, permitia-me que a mim, que há 12 anos atrás tomei plena consciência de que eu era, chegar a um cartório notarial, preencher o meu formulário, uma declaração minha, em que eu digo que eu não sou o não sei quantos, eu sou a Lara Crespo, sou do sexo feminino. Na Argentina não é necessária nenhuma declaração médica, não é necessário frequentar psicólogos, psiquiatras, sexólogos, seja o que for. Tem-se o direito, por lei, a fazer tratamento hormonal, se o desejar, a fazer cirurgias. A ter acesso a tudo aquilo que uma pessoa trans tem direito. Se quiser fazer só alteração do nome e do género, só faz isso, mas se quiser fazer hormonoterapia ou se precisar de fazer cirurgias, o estado comparticipa tudo isso. No caso português não é assim.” Zélia Figueiredo, psiquiatra no Hospital Magalhães Lemos e presidente da JANO (Associação de Apoio a Pessoas com Disforia de Género), não descarta, porém, a importância que a lei tem na condução do processo de transição: “As pessoas até 2011, mudavam de nome no final do processo. Agora não, podem fazer essa mudança em qualquer altura, é importante.”

Cuidados de saúde muito aquém das expectativas Em Portugal, para um indivíduo ser considerado transexual e poder sujeitar-se às cirurgias de mudança de sexo, tem de lhe ser diagnosticado disforia de género. Para tal, impõe-se a intervenção médica especializada para que o acesso a tratamentos cirúrgicos, por parte de um transexual, se revelem uma realidade. Por um lado, as consultas de Psicologia, Psiquiatria e Sexologia estão asseguradas um pouco por todo o país, como por exemplo, no Hospital de Santa Maria e no Júlio de Matos em Lisboa, e no Hospital Magalhães Lemos e no São João no Porto. Para Zélia Figueiredo, o diagnóstico não coloca a transexualidadade na categoria


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de uma doença/patologia, pelo contrário: “As pessoas são perfeitamente normais e saudáveis. Não são consideradas doentes, no sentido psiquiátrico.” Por outro lado, as cirurgias de reatribuição sexual recaem apenas sobre dois hospitais, um público e um privado, o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e o Hospital de Jesus em Lisboa, respetivamente. João Décio Ferreira era até 2011 o único médico que operava cirurgias de mudança de sexo no Sistema Nacional de Saúde, mais propriamente no Hospital de Santa Maria em Lisboa. Reformado desde 2009, manteve contrato com o hospital, de forma a ajudar os pacientes e na esperança de que a instituição resolvesse a lacuna neste tipo de tratamentos cirúrgicos. Tal não aconteceu. Atualmente mantém um contrato com o Hospital de Jesus, também em Lisboa, porque tal como explica: “É difícil parar quando se vê tantas pessoas a pedirem-me para as ajudar. Enquanto não existir uma alternativa, vejo-me obrigado naturalmente a continuar.” Tanto Lara Crespo como João Décio Ferreira denunciam a incapacidade de o Sistema Nacional de Saúde (SNS) atender aos casos das pessoas transexuais. Se na teoria o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

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encontra-se habilitado para proceder às cirurgias, na prática as listas de espera e a crise motivam o contrário. “Existem pessoas que estão há dois anos à espera de cirurgias. Isto porque não há dinheiro e como não há dinheiro, corta-se em tudo”, explica Lara. O médico-cirurgião relembra que o Estado tem o dever de pagar os tratamentos num hospital privado a partir do momento em que o setor público não consegue satisfazer as necessidades dos pacientes. O impasse do SNS, o desconhecimento face aos cuidados de saúde e a incapacidade económica motivam dificuldades acrescidas para as pessoas que pretendem concluir o processo médico de transexualidade.

Uma luta na qual não estão sozinhos Atualmente tem-se assistido a uma luta pelos direitos dos transexuais e aos poucos e poucos vão-se conseguindo pequenas vitórias. Portugal não é exceção. Existem várias associações que lutam por uma mudança, por uma integração das pessoas trans na sociedade. Fundada em 1995, a ILGA é uma associação de apoio social que teve um papel importante na aprovação da lei sobre a identidade de género. A sua sede

situa-se em Lisboa mas atua em todo o país com a ajuda de voluntários e de pessoas ativas. “Temos voluntários que são psicólogos ou psicólogas em diferentes partes do país para os quais reencaminhamos as pessoas”, afirma Nuno Pinto, voluntário na ILGA. A ação da ILGA não se fica por Portugal e vai além fronteiras: “Várias pessoas transexuais portuguesas que vivem no estrangeiro e que querem de facto mudar a sua documentação têm-nos procurado, porque podem fazê-lo através dos consulados e muitas vezes têm dificuldades.” Uma das preocupações da associação é a integração na vida social das pessoas para garantir uma melhor qualidade de vida, combatendo a discriminação. A ILGA tem desenvolvido projetos e atividades para ajudar a ultrapassar algumas barreiras que se encontram no caminho. “Temos o serviço de apoio psicológico (SAP), o serviço de integração social, o serviço de apoio jurídico. Depois, de uma forma mais específica, temos também um grupo que é o GRIT (Grupo de Reflexão e Intervenção sobre Transexualidade), que é constituído por pessoas transexuais e que tem encontros regulares”, refere Nuno. Apesar dos apoios desenvolvidos pelas associações ainda existe uma dificuldade das pessoas em pedir ajuda, principalmente devido à falta de informação. O voluntário da ILGA diz que “há uma grande dificuldade em as pessoas acederem, não só por exemplo a serviços de saúde, mas também a associações como a ILGA, que lhes podem dar ajuda. Há muitas vezes uma falta de informação sobre onde as pessoas se devem dirigir e que serviços existem. Muitas pessoas transexuais vivem em situações de maior isolamento.” A JANO nasceu no Porto, em Janeiro deste ano e a ação passa pelo apoio social, seja através de consultas médicas, ou de sessões de formação a escolas e a esquadras da Polícia Judiciária. Sem fins lucrativos, a JANO procura dar voz às pessoas transexuais, na tentativa de conceder um processo de transição menos doloroso tanto fisicamente, como emocionalmente.“Ainda têm dificuldades, talvez porque se escondam. Não se conseguem reunir, não se ouvem e não têm uma voz”, afirma Zélia Figueiredo. As famílias representam um papel ativo na associação, na medida em que, o apoio é alargado às mesmas, sobretudo por via do apoio psicológico. Segundo testemunhos avançados

por Zélia, os transexuais têm um duplo sofrimento, uma vez que não só sofrem por não se sentirem bem na sua pele, sendo simultaneamente discriminados, mas também porque a família representa um ponto de fragilidade - “Os transexuais sofrem sempre de duas maneiras, ou duplicar, uma porque são transexuais e a outra, porque a família vai sofrer muito por eles.”. As relações afetivas são, ao nível social, as que exigem maior coragem e compreensão. O processo de transição implica, na maioria dos casos, um acompanhamento familiar. O medo de “magoar a família” , faz com que muitos transexuais vivam “escondidos”.

Num país onde ainda se olha de lado “Porque a minha voz é mais grossa, porque sou muito alta, porque já sabem, porque eu dou a cara desde 2003. A discriminação continua a haver. Aliás, é uma dupla discriminação, é por ser transexual e por ser mulher.” A opinião de Lara Crespo reflete aquilo que muitos outros transexuais sentem. Mas será que é assim com todos eles? Uma transição de feminino para masculino é melhor vista pela sociedade e Sandra Saleiro explica porquê - “Alguém que é percecionado como mulher e que se aproprie de alguns símbolos da masculinidade não é tão mal visto como um homem que se apropria da feminilidade porque a feminilidade é aquilo que é discriminado na nossa sociedade.” Mas isto não significa que só as mulheres transexuais sofram de discriminação, muito pelo contrário. Nuno Pinto afirma que os transexuais encontram dificuldades na família, na escola e mais tarde no trabalho. “A maior parte das pessoas tinha documentos descoincidentes com a sua identidade e portanto estariam excluídas do mercado de trabalho, estariam excluídas de uma série de atividades que envolvem a identificação.” Lara Crespo é testemunha desta realidade: “Antes de 2011 eu ia a uma entrevista de emprego e tinha de mostrar um currículo com um nome masculino. Chamavam-me a uma entrevista e depois havia aquelas situações extremamente constrangedoras em que chamavam “o” não sei quantos e eu tinha de explicar a situação. Havia sempre aquelas coisas de «tem um currículo muito bom, nós depois dizemos alguma coisa», ou então havia a negação automática, «desculpe lá mas a vaga já está


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FRASES MARCANTES

“Muitas pessoas transexuais vivem em situações de maior isolamento.” - Nuno Pinto

“É difícil parar quando se vê tantas pessoas a pedirem-me para as ajudar.” - João Décio Ferreira

está preenchida». Para Nuno é urgente resolver as questões relacionadas com a parentalidade, como o acesso à reprodução medicamente assistida para todas as mulheres e a co-adoção e adoção por casais do mesmo sexo. Apesar de as mentalidades estarem a mudar e de se estar a avançar em termos legais, ainda existem crimes de ódio e Nuno diz que “falta não só acabar com a discriminação na lei, mas fazer também todo o trabalho de mudança de mentalidades e de erradicação da discriminação no dia-adia. Ainda é um trabalho para durar diria bastante tempo”.

Transexuais debaixo dos holofotes

“Vejo sempre falar do tema como sendo tabu, sem identidade dos entrevistados e com muitos preconceitos.” - Alexandra Borges

Entre os muitos obstáculos enfrentados diariamente pelos transexuais surge, com lugar de destaque, a perceção da sociedade sobre o mesmo. Podemos falar de uma discriminação que passa pela falta de informação acerca da temática, como refere a jornalista Alexandra Borges. A sua premiada reportagem sobre a transexualidade começou com um simples desejo que a própria descreve como uma “vontade de a [transexualidade] perceber melhor. Era um mundo muito desconhecido para mim e para muitos portugueses.” É este desconhecido, o “fora do normal”, que pode suscitar atitudes discriminatórias ainda tão pre-

sentes na sociedade corrente. A reportagem de Alexandra Borges para a TVI, intitulada “Metamorfose”, procurou desmistificar o tema da transexualidade, explicar do que se trata, procurando familiarizar o público e tentar abrir a mente da sociedade para o tema. Sendo que os media são o mais relevante veículo de informação para a sociedade, uma reportagem deste calibre exigiu uma abordagem diferente. “Exigiu verdade e honestidade acima de tudo, como em qualquer reportagem que assino. Vejo sempre falar do tema como sendo tabu, sem identidade dos entrevistados e com muitos preconceitos. Na minha reportagem até tinha um transexual masculino com um casamento anterior e um filho que revela a normalidade com que o tema tem que ser encarado”, afirma Alexandra. E quanto aos entrevistados? Esses, descritos como “uma imensa minoria que sofre discriminação e exclusão social porque acredita que nasceu no corpo errado”, interiorizam, na sua grande maioria, a errada caracterização da transexualidade pelos media como verdade, uma verdade difícil de contestar e refutar. Para Alexandra Borges este foi o maior desafio - “Encarei esta como qualquer outra reportagem, o desafio foi mesmo convencer os entrevistados de que eram pessoas normais”, remata. Os meios de comunicação social vieram, na opinião de Zélia

Figueiredo, alterar a perceção da transexualidade. A partir do momento em que o tema passou a ser notícia em televisões e jornais, a afluência a consultas aumentou, sobretudo por parte de um público mais jovem. “Quando começaram nos meios de comunicação social a ver outras pessoas transexuais, a dar a cara , a aparecer com as famílias, surgiram nas consultas pessoas cada vez mais novas.”, refere a presidente da JANO. A própria mediatização foi benéfica para as famílias: “As famílias também vão percebendo, que não estão sozinhas, que aquilo não nenhuma coisa do outro mundo, não é nenhuma aberração e vão ter consciência do que é a transexualidade.” Zélia Figueiredo acrescenta que a desmistificação do conceito pode, em última instância, liquidar ideias pré-concebidas e terminologias erradamente aplicadas. “A maior parte das pessoas não sabe muito bem, o que é a transexualidade e confunde com travestismo, e homossexualidade, sobretudo nas crianças.” O estigma persiste na sociedade, a incompreensão mostrada a quem não consegue evitar o que lhes é tão natural mas que pode ser mudada, pouco a pouco. Esta mudança pode surgir com a ajuda dos media, desde que estes procurem abordar o tema com seriedade, ouvindo o outro lado da história, facilitando assim a compreensão da temática pela sociedade.


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TRANSEXUALIDADE LÁ FORA

Yasemin Mengüllüoğlu, 22 anos, Turquia, transexual masculino Os direitos civis e humanos estão em perigo na Turquia devido ao aumento de tendências autoritárias. Nós temos de esconder as nossas identidades. As pessoas transexuais na Turquia enfrentam problemas ainda maiores, tal como: não estarem autorizadas a usar os transportes públicos, serlhes recusado o serviço em restaurantes, serem abusadas na rua, entre outros problemas. Todas as mulheres transexuais são forçadas a trabalhar na prostituição. Trinta pessoas transexuais foram mortas na Turquia entre 2008 e 2012, de acordo com um comunicado lançado este ano pela Transgender Europe. Foi o caso mais alarmante nos países Europeus e do Meio Oriente. Os nacionalistas e os conservadores religiosos estão por detrás desta violência, e isso é um assunto tabu. Eles vêem-nos como pessoas

estranhas e nojentas, coisas disformes, mesmo pelos homossexuais e feministas. Por isso é que somos pressionados pela sociedade e pelo governo a fazer a cirurgia de reatribuição sexual. Mas infelizmente não recebemos nenhum apoio. Este ódio precisa de acabar. A comunidade turca ignora a realidade das pessoas transexuais. Ignora-nos como indivíduos, ignora-nos na política, nos livros, na cultura, na filosofia, etc. Por causa disso, nós somos excluídos pela comunidade a cada dia que passa. Também somos vistos como a fonte de doenças sexualmente transmissíveis. A maneira como as pessoas transexuais se vestem na Turquia também é um grande problema. Se vestes saltos altos ou uma minissaia, então corres o risco de ser considerada uma prostituta. Já, ao estares vestido como um homem não passas

por tantos problemas, mas corres o risco de ser ofendido oralmente e desprezado em alguns locais. E continuas a ser visto como um objeto sexual por parte dos homens, mesmo que tenhas uma “alma” masculina.Consequentemente, nós (transexuais masculinos), desenvolvemos atitudes defensivas como resposta. Afinal de conta, estas atitudes negativas por parte da sociedade não deixam que os transexuais mantenham uma personalidade saudável. Os indivíduos que não preferem o isolamento, escolhem obedecer às normas da sociedade. Existem alguns que deixam o país para tentarem ter uma vida livre. Mas, não é fácil tomar essa decisão para a maior parte das pessoas. Depois de tantos anos a fingir que eram “indivíduos normais”, ou a serem “esmagados” pelo domínio subversivo, uma percentagem significante comete o suicídio.

Transexualidade na primeira pessoa “As pessoas trans, sejam transexuais ou transgéneras, não são doentes. Nós nascemos assim, e é assim que temos de ser aceites e respeitadas e ter os mesmos direitos que as outras pessoas, o que não se passa.” - Lara Crespo

“Foi apresentada no Parlamento pelos deputados do PS, uma proposta de incluir a identidade de género no código do trabalho, não permitindo que as pessoas transexuais sejam discriminadas na área de trabalho.” - Nuno Pinto

“No país, a identidade de género foi integrada no Código Penal como agravante nos crimes motivados por discriminação(...)” - Sandra Saleiro

“Depois de tantos anos a fingir que eram “indivíduos normais”, ou a serem “esmagados” pelo domínio subversivo, uma percentagem significante comete o suicídio.” - Yasemin Mengulluoglu


ECONOMIA

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Reunião do Eurogrupo para discutir OE para 2015 Os ministros das Finanças dos países da Zona Euro reuniram-se esta segunda-feira para discutir as opiniões da Comissão Europeia em relação às propostas de Orçamento do Estado para o próximo ano.

A Comissão Europeia não está muito otimista em relação a Portugal. Para Bruxelas a previsão de um défice de 2,7% do Governo português não é realista, apontando, em vez disso, para os 3,3%, o que levanta muitas dúvidas acerca do impacto de algumas medidas previstas no OE para 2015. O presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, diz que todos os membros concordaram com a avaliação da Comissão e só houve de-

bate relativamente ao possível efeito que as medidas anunciadas por Portugal podem ter. Jeroen Dijsselbloem acrescentou ainda que, apesar de Portugal afirmar que as medidas propostas são suficientes para atingir a meta do défice, o país tem de provar que são “efetivas”. No final de novembro a Comissão Europeia tinha dúvidas relativamente ao impacto das medidas de combate à fraude fiscal e afirmava que

França, Itália e Bélgica na mira do Eurogrupo, Grécia ainda não conhece decisão A Comissão Europeia terá apelado para que a França e a Itália corrijam os seus orçamentos de maneira a cumprirem as regras europeias. Jeroen Dijsselbloem e o Comissário Europeu, Pierre Moscovici disseram que os dois países, e também a Bélgica, têm até março para colocarem os principais indicadores orçamentais nos níveis acordados com as autoridades europeias. Também Angela Merkel pressionou a Itália e a França ao dizer que os dois países deviam aproveitar o tempo extra que lhes foi concedido para reduzirem o défice e tornarem as economias mais competitivas. Quanto à Grécia ficou por decidir um possível prolongamento do programa de ajuda. O Governo de Antonis Samaras quer que a troika saia do país antes das próximas eleições, mas os parceiros europeus preferem manter um prolongamento do programa, ainda que seja por apenas 6 meses, ou até menos.

havia falta de detalhes em alguns cortes despesa. Maria Luís Albuquerque afirmou apenas, no comunicado final, a dizer que “são bem-vindos os compromissos de Portugal para implementar as medidas necessárias para fazer a correção atempada do Procedimento dos Défices Excessivos”. A ministra das Finanças deverá, no entanto, prestar mais declarações sobre o assunto ainda esta segunda-feira.

Processo de venda do Novo Banco já arrancou O processo de venda do Novo Banco já começou, na passada quinta-feira, 4 de dezembro, com o envio de convites a potenciais interessados. A administração pretende concluir a venda em julho do próximo ano. O Banco de Portugal já deu início ao processo de venda do Novo Banco. O objetivo é vender o banco com a maioria dos seus ativos. De fora fica o BES Investimento e algumas operações internacionais do antigo BES, como a Moza Bank (Moçambique) e a Vénetie (França). As cartas-convite já começaram a ser enviadas, mas o memorando com informação sobre o banco só será fornecido em janeiro. O calendário prevê que em fevereiro sejam recebidas as propostas não-vinculativas dos potenciais interessados e em março e abril será feita a análise preliminar

das contas do Novo Banco. Durante maio e junho serão apresentadas as propostas vinculativas e em julho será revelado quem é o comprador do NB. Para já, e segundo Luís Marques Mendes, existem seis ou sete grupos interessados na compra do Novo Banco. O comentador diz que árabes, espanhóis, portugueses, chineses e americanos estão na corrida.


ECONOMIA

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Sardinha dá problemas aos pescadores A sardinha desde há algum tempo que é o “calcanhar de Aquiles” da pesca portuguesa. A reduzida quantidade de peixe que dá à costa e os limites impostos à pesca desta espécie colocam os pescadores na corda-bamba.

O chocolate está a acabar Os produtores de cacau não estão a conseguir acompanhar a procura de chocolate e profetizam um futuro “amargo” para um dos doces mais consumidos no mundo.

(Fonte: DR)

(Fonte: DR) A União Europeia decretou que a partir de 20 de Setembro até ao final deste ano, a pesca de sardinha está proibida, visto ter-se atingido o limite máximo de captura da espécie. Tal situação motivou que o Governo português tenha estabelecido uma ajuda monetária a todos os que se dediquem a esta atividade. No total, o Estado gastará até ao final de 2015, cerca de 6 milhões de euros no auxílio aos trabalhadores do mar. Se até há bem pouco tempo, tudo apontava para que a retoma da pesca da sardinha se fizesse logo em Janeiro, informações veiculadas vêm dizer o contrário.

A possibilidade de os pescadores voltarem ao mar apenas em Março de 2015 não é descartada. Durante 2015, os trabalhadores da pesca prometem não descansar e aproveitar para pescar nas alturas do ano em que o valor comercial do peixe é elevado e o consumo do mesmo justifica o trabalho. Muitos pescadores ainda não receberam a quantia prometida já em 2014. Os barcos estão nos portos e os pescadores estão em suas casas, pelo que a instabilidade continua para dezenas de trabalhadores em Portugal.

É sabido que o chocolate faz a delícia de inúmeras pessoas em todo o mundo e que estudos confirmam que o consumo do mesmo aumenta nas épocas de crise, no entanto os produtores de cacau estão preocupados com a sua provável extinção. Alguns países emergentes na Ásia que até então não demonstravam apreço pelo produto, estão atualmente a revelar-se sérios apreciadores do mesmo, o que coloca a procura num valor nunca antes atingido. A China, embora registe valores mais baixos no que toca ao consumo de chocolate relativamente à Europa, tem demonstrado sinais de crescimento na compra do produto, especialmente o chocolate preto.

A subida do preço em 24% espelha o desequilíbrio vivido no mercado do chocolate há algum tempo e o facto de várias colheitas não terem subsistido devido ao período de seca em África agrava a situação. Muitos produtores estão inclusive a abandonar as plantações de cacau e investir noutros produtos como o milho. A redução da produção de chocolate em 30 e 40% antevê um futuro instável na produção de cacau, sendo que uma das consequências será o aumento do preço a nível mundial. Caracterizado por ainda ser um produto acessível às massas, o chocolate poderá sofrer alterações no seu valor de mercado.

(Re)vistos “Gold” O programa de vistos “gold”, ou vistos dourados, foi lançado há dois anos pelo Governo para atrair o investimento estrangeiro para a economia portuguesa. Paulo Portas dizia que “vieram para ficar” . Entretanto quadros da administração pública, vários funcionários do Instituto dos Registos e Notariado e cidadãos chineses foram detidos. O caso vistos “gold”, supostamente envolveu duzentos inspectores, 12 detenções, 60 buscas, três Ministérios, duas demissões e um pedido de suspensão de funções. Tudo isto por suspeitas de crimes de corrupção activa e passiva, prevaricação, abuso de poder, trâfico de influências na atribuição de vistos “gold” a cidadão estrangeiros, recebimento indevido de vantagem e peculato de uso. Passados dois anos, segundo um balanço do Governo, os vistos “gold” per-

mitiram captar um total de 1.002 milhões de euros em investimento estrangeiro e foram concedidas autorizações de residência a 1.649 a cidadãos de mais de 45 nacionalidades. Os investidores são países como a Rússia, o Brasil, China, áfrica do Sul, Líbano, Moçambique e Angola.


ECONOMIA

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Portugueses podem passar a consumir alcoól no estrangeiro O aumento da carga fiscal sobre as bebidas alcoólicas pode alterar o valor deconsumo das mesmas em Portugal. A Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas teme que os clientes encontrem na vizinha Espanha, preços mais em conta.

Google está à procura de estagiários para 2015 A mais conhecida empresa de tecnologia do mundo está a recrutar estagiários para um dos seus escritórios em São Paulo, no Brasil. A temporada de seleção para 2015 começa a partir do dia 9 de Dezembro e será feita via Internet.

(Fonte: DR) (Fonte: DR) A conferência “Conversas ANEBE – Destilar a Realidade” discutiu o mais recente imposto sobre as bebidas alcoólicas, integrado no orçamento de Estado de 2015. O secretário-geral da Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas (ANEBE), Mário Moniz Barreto, acredita que a diferença na taxa de imposto em Portugal e Espanha, pode provocar mudanças no mercado português das bebidas alcoólicas. No país vizinho, a taxa é mais baixa e o valor por hectolitro ronda os 900 euros. Uma ideia ficou assente na conferência, o aumento de 2,9% no imposto das bebidas espirituosas em Portugal, será o menos agravado possível para o consumidor final e se isso significar perdas para os produtores, estes estão dispostos a isso. Mário Botelho Barreto acredita que a receita do Imposto sobre Álcool e Bebidas Alcoólicas (IABA) não

tem sido uma prioridade do Governo nos últimos anos. Em 2015, a receita líquida estimada deste imposto é de 201,1 milhões de euros, contra 177,9 milhões de euros em 2014. As diferenças de preços entre as bebidas alcoólicas não tem qualquer lógica para alguns dos intervenientes da conferência. A instabilidade fiscal é vista como uma fragilidade do mercado e o objetivo a prosseguir é não distinção dos produtos, especialmente quando se inserem no mesmo setor. Pedro Ortigão Correia da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) salienta que a carga fiscal não irá ser pejorativa para a exportação das bebidas espirituosas, mas junta-se às vozes que acreditam que o consumo irá ser afetado.

O sonho de estagiar na Google poderá tornar-se realidade para vinte e seis universitários, que se formem até Dezembro de 2015. A empresa abriu as candidaturas para diversas áreas como marketing, vendas e atendimento ao cliente. Sendo a Internet o domínio primordial da Google, as entrevistas serão feitas por videoconferência e os testes serão online. A possibilidade de estudantes de qualquer país concorrerem aos estágios, é assim, permitida através deste método. A Google reafirma-se mais uma vez, como o estágio de sonho

para muitos jovens, uma vez que para além de enriquecer o currículo, abre as portas do mundo do trabalho. As vinte e seis vagas terão facilmente vários candidatos a concorrer para o posto, no entanto o processo seletivo da empresa encarregar-se-á de reduzir o espectro de possíveis estagiários. Até 15 de Fevereiro de 2015, as inscrições estão abertas e o programa Google Business Internship avança para a sua quinta edição, com uma duração de seis meses.


ECONOMIA

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McDonald’s no Japão está com falta de batatas fritas Disputas laborais nos Estados Unidos da América estão na base do problema. A cadeia de fast-food mais conhecida no mundo, teve de racionar a venda de batatas fritas no Japão.

Custos da eletricidade baixam 10% em 2015 Os custos com redes de transporte e distribuição vão baixar no rpóximo ano devido à limitação do sobresobreendividamento nos novos regulamentos para o setor elétrico.

(Fonte: DR) (Fonte: DR)

(Fonte: DR) Os responsáveis e trabalhadores do McDonald’s no Japão foram obrigados a reduzir o tamanho das batatas fritas, para as doses mais pequenas. O principal problema prende-se algumas contestações por parte dos trabalhadores, que querem ver o seu poder reforçado junto dos empregadores. Os Estados Unidos da América exportam para o Japão uma imensa quantidade de batatas fritas, pelo que a instabilidade laboral está a afetar o negócio no Japão. Se se pensar que a cadeia McDonald’s já emitiu um envio de emergência para o Japão de cerca de mil toneladas de batatas, mostra a dependência que o país tem relativamente aos Estados Unidos e à própria base de alimentação do fast-food.

Mas nem só as batatas fritas são o “calcanhar de Aquiles” do McDonald’s no Japão. A manteiga ou a falta dela constituiu um ponto fraco no país, mas pelo por agora o ingrediente está assegurado nos supermercados e para a população. A venda do produto esteve também limitada e mais uma vez, o Japão teve de recorrer para à exportação para fazer face a esta lacuna nos mercados. O facto de estar tão dependente de terceiros para assegurar a manutenção de certos produtos, demonstra que os próprios hábitos dos japoneses estão a mudar e que, aquele que era visto como um país autossuficiente não é, pelo menos no que diz respeito aos ingredientes indispensáveis à alimentação fast-food.

“O sobreinvestimento nas redes tem sido uma preocupação central da ERSE ao longo dos últimos anos, cuja atuação integrada, através da diminuição das taxas de remuneração em cerca de 30% e de vários pareceres negativos aos planos de investimento propostos, se tem traduzido numa quebra significativa, nalguns casos de quase 50%, dos investimentos em redes, sem prejuízo do nível de qualidade de serviço”, em comunicado da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).No próximo ano, o setor elétrico sofrerá uma diminuição de 10%dos custos das redes de transporte e distribuição devidos aos novos regulamentos que estabelecem mecanismos de limitação ao ao sobreinvestimento. Em abril, a ERSE deu um parecer negativo ao plano de trans-

porte de eletricidade da REN — Redes Energéticas Nacionais para 2014-2023, que previa um volume de investimento de 1.065 milhões de euros, argumentando que iria agravar o défice tarifário, o que não se justifica face à contração do consumo nos últimos anos. Como resultado desta atuação da ERSE, refere, “os custos das redes a pagar pelos consumidores nas tarifas de 2015 vão diminuir cerca de 10% face a 2014 e o peso dos custos das redes nos custos totais a recuperar nas tarifas passou de quase 30% em 2010 para cerca de 21% previstos em 2015.


INTERNACIONAL

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COMENTÁRIO

As ideias são à prova de bala por Rita Neves Costa Se há virtude que a democracia concedeu à sociedade foi a liberdade de exprimir, sem censuras ou juízos de valor, aquilo em que se verdadeiramente acredita. A capacidade que tem hoje, um cidadão num regime democrático, de lutar por causas e direitos é um privilégio a que infelizmente nem todos têm acesso. No entanto, olhando para trás, verifica-se que os progressos estão à vista e mesmo nos países menos desenvolvidos, ondes os direitos humanos não são uma prioridade, a voz já não é de uma minoria e a palavra não é exclusividade de uma elite. A necessidade do protesto é ancestral: o ser humano protesta porque não se sente bem em determinada situação e deseja comunicar isso aos seus pares. A mensagem tem mais força quando divulgada em maior número e, se possível, com recurso a um momento espetacular que capte a atenção dos jornalistas. As ativistas do movimento Femen que o digam. O facto de protestarem seminuas não faz delas, pessoas más ou incorretas, mas força da palavra não necessita de um corpo nu para vingar as suas ideias. Certamente que as ativistas dirão que por detrás das suas ações está uma mensagem, todavia o corpo não necessita de ser uma arma de arremesso. Da Ucrânia para os Estados Unidos da América,

o movimento Occupy Wall Street surge como o antídoto ao capitalismo feroz deste último país. E se os banqueiros e os senhores da alta-roda vida norte-americana julgavam que estes manifestantes seriam inofensivos em 2011, ano em que o protesto nasceu, hoje verificam que as ideias têm sido transmitidas de país para país. A corrupção política e económica não é tolerada por uma maioria, cada vez mais esclarecida e atenta a tudo o que se passa à sua volta. Porquê viver no inconformismo e sob as “ordens” de uma minoria corrupta? A palavra de ordem é o protesto e se as ideias são à prova de bala, a espontaneidade dos movimentos de cidadania só tem de ser congratulada, especialmente quando valores mais altos como a honestidade se impõem. A grande mais-valia de protestos contínuos como o Occupy Wall Street é que comprovam que a sociedade não está apática, seja nos Estados Unidos da América nas pessoas que caminham por Manhattan, ou em Hong Kong nos jovens estudantes que lutam por um ideal de democracia. As ideias são necessárias, as ideias de protesto ainda mais, mostram o caminho que ainda se tem de percorrer.

Movimento anti-corrupção dos Estados Unidos em Wall Street Occupy Wall Street designa-se como um movimento de protesto contra a desigualdade económica e social entre uma minoria rica e uma maioria enpobrecida. A ideia começa agora a crescer noutros países, entre os quais, a Europa. A 17 de setembro de 2011, um grupo de pessoas reuniu-se no distrito financeiro de Nova Iorque, denominado Financial District. A partir desse momento, o movimento cresceu para mais de cem cidados nos Estados Uni- dos da América. As reivindicações passam pela injustiça social que assola o país, nomeadamente no que toca à distribuição da riqueza. Com o slogan “We are the 99%”, isto é, “Nós somos os 99%”, o movimento pretende demonstrar o poder que uma maioria pode ter perante uma minoria que é rica e cujas decisões podem influenciar todo um país e até o mundo. Occupy Wall Street acredita que esta minoria consegue ter um profundo impacto na economia global. Ao ditar comportamentos e atitudes, as corporações e as multinacionais sobrepõem-se ao poder democrático, o que acaba por corremper todo o sistema. O movimento encontrou inspiração na Primavera Árabe, especialmente na Tunísia e no Egipto e atualmente o efeito bola de neve, chegou à Ásia com o Occupy Tokyo e à Europa com os protestos de iniciativa popular em cidades como Roma ou Londres.

Nova Iorque recebe mais um protesto contra o racismo Depois do caso de Michael Brown, agora é a morte de Eric Garner que está a causar polémica. São ambos homens negros mortos por polícias brancos. No passado sábado milhares de nova-iorquinos voltaram a protestar contra o racismo.

(Fonte: DR) As ruas de Nova Iorque encheram-se mais uma vez. O objetivo é protestar contra a decisão de um júri em ilibar um polícia branco, depois da morte de um jovem negro no passado mês de julho. Eric Garner vendia cigarros de forma ilegal e foi abordado pelo polícia, que o imobilizou pelo pescoço. O homem sofria de asma e queixou-se que não conseguia respirar, mas acabou por morrer na esquadra. Apesar de o júri dizer não haver motivos para acusar o polícia, foi aberto um inquérito federal para apurar se os direitos cívicos foram violados. Já foi anunciada para a próxima semana uma marcha nacional contra a violência policial nos Estados Unidos.


INTERNACIONAL

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Escravatura e tráfico infantil no Gana: uma realidade diária para milhares de crianças Diariamente, uma criança do Gana é vendida pelos pais por 30 euros. Depois de compradas, as crianças trabalham como escravas no lago Volta, no Gana. Durante 14 horas por dia e 7 dias por semana trabalham na pesca e recebem como salário apenas um prato de mandioca.

(Fonte: DR) Estas crianças com 3 e 4 anos são tratadas como mercadorias, perdem o contacto com a família e logo no primeiro dia que são vendidasvão trabalhar, neste que é o maior lago artificial do mundo. A escola não é uma opção. Não existem cuidados médicos e os únicos pertences que tem é uma t-shirt rasgada. Conforme o dia da semana em que forem vendidas, ficam a chamar-se Kobies e Kofies. Não sabem a sua identidade e idade e podem acabar por afogadas no lago Volta. A sociedade já não está desligada desta realidade. Em 2007,

esta história foi publicada pelo New York Times e chamou a atenção do mundo, mobilizando pessoas que abriram orfanatos. Resgatar estas crianças não é a solução, porque voltam a ser colocadas outras crianças no seu lugar. Em Portugal, esta história também não passou ao lado. Alexandra Borges, jornalista da TVI fez uma a reportagem “Infância Traficada” em 2007 sobre os meninos do Gana. Com a ajuda de outras pessoas, desenvolveu o projecto “Filhos do Coração” e angariou fundos através da venda de um liv-

ro e de um cd, com a participação de vários artistas portugueses. Quase dois anos depois, o dinheiro angariado foi entregue a uma associação americana para que fosse possível construir uma escola e patrocinar a saúde, educação, alimentação e segurança de 10 das crianças que a jornalista conseguiu resgatar do lago Volta. Essas crianças depois foram entregues a uma ONGD americana chamada “TouchLifeKids”. Também existe um centro de acolhimento, patrocinado pelos “Filhos do Coração”, que protege

cerca de 65 crianças da escravatura, em Kumassi, no Gana. A ONGD “Filhos no Coração” lançou uma petição na Internet (Petição Pública Contra a Escravatura do Século XXI e a Favor da Libertação de Todas as Crianças Escravas do Lago Volta, no Gana), disponível para todos assinarem, já lançada em Agosto de 2012, mas que ainda está disponível. A situação tem melhorado, mas ainda existem crianças sem futuro.


INTERNACIONAL

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Ir de pijama para a escola por uma boa causa

Jornalistas da TVE em protesto insólito

O dia nacional do Pijama realizou-se no dia 20 de Novembro, dia que coincidiu com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança.

O canal público de televisão em Espanha foi no passado dia 28 de Novembro, lugar de protesto para a redação de jornalistas que aí trabalham. O movimento apenas feito à porta do gabinete do diretor de informação, ganhou dimensão através do Twitter.

(Fonte: DR) (Fonte: DR) Estas crianças com 3 e 4 anos são tratadas como mercadorias, perdem o contacto com a família e logo no primeiro dia que são vendidas vão trabalhar, neste que é o maior lago artificial do mundo. A escola não é uma opção. Não existem cuidados médicos e os únicos pertences que tem é uma t-shirt rasgada. Conforme o dia da semana em que forem vendidas, ficam a chamar-se Kobies e Kofies. Não sabem a sua identidade e idade e podem acabar por afogadas no lago Volta. A sociedade já não está desligada desta realidade. Em 2007, esta história foi publicada pelo New York Times e chamou a atenção do mundo, mobilizando pessoas que abriram orfanatos. Resgatar estas crianças não é a solução, porque voltam a ser colocadas outras crianças no seu lugar. Em Portugal, esta história também não passou ao lado. Alexandra Borges, jornalista da TVI fez uma a reportagem “Infância Traficada” em 2007 sobre os meninos do Gana. Com a ajuda de outras pessoas, desenvolveu o projecto “Filhos do Coração” e angariou

fundos através da venda de um livro e de um cd, com a participação de vários artistas portugueses. Quase dois anos depois, o dinheiro angariado foi entregue a uma associação americana para que fosse possível construir uma escola e patrocinar a saúde, educação, alimentação e segurança de 10 das crianças que a jornalista conseguiu resgatar do lago Volta. Essas crianças depois foram entregues a uma ONGD americana chamada “TouchLifeKids”. Também existe um centro de acolhimento, patrocinado pelos “Filhos do Coração”, que protege cerca de 65 crianças da escravatura, em Kumassi, no Gana. A ONGD “Filhos no Coração” lançou uma petição na Internet (Petição Pública Contra a Escravatura do Século XXI e a Favor da Libertação de Todas as Crianças Escravas do Lago Volta, no Gana), disponível para todos assinarem, já lançada em Agosto de 2012, mas que ainda está disponível. A situação tem melhorado, mas ainda existem crianças sem futuro.

A destituição de vários chefes de departamento nas secções informativas como Cultura, Internacional ou Sociedade motivaram um protesto por parte dos jornalistas da TVE. As mudanças nos conselhos diretivos do canal público e a entrada de José Antonio Álvarez Gundín como diretor de informação têm contribuído para um clima de tensão em toda a redação. As acusações de controlo ideológico nos noticiários da TVE chegaram a público e já foram negadas pelo novo diretor. O certo é que o afastamento dos chefes de departamento e de alguns adjuntos além de provocar o protesto por parte dos profissionais, já levou à demissão de Silvia Rodríguez, responsável pela

editoria de Economia e que se viu confrontada com a situação de dispensar os seus adjuntos. O “acampamento” da redação à porta do gabinete de José Antonio Álvarez Gundín, antes da oficialização do despacho das destituições dos chefes de departamento, criou a imagem de vários jornalistas sentados num corredor da televisão pública. A coincidência de tal ação ter ocorrido no dia da Black Friday em todo o mundo, foi aproveitada pelo protesto com recurso a uma hastag no Twitter, denominada #BlackFridayTVE. O mundo conhecia assim aquele que foi considerado um protesto histórico na televisão pública em Espanha.


INTERNACIONAL

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Femen: o feminismo na rua As activistas Femen surgiram em 2008 na Ucrânia, numa tentativa de chamar à atenção para os problemas mundiais e para o papel da mulher na sociedade em todo o mundo. Por “saírem para rua” , as activistas já foram detidas, agredidas, raptadas e perseguidas em países como a Rússia e a Ucrânia.

Femen: ao centro a líder do movimento, Inna Shevchenko (fonte: DR) A líder dasactivistas, Inna Shevchenko, encontra-se refugiada em França, onde lhe concederam asilo político e onde desenvolve um “centro de treino do novo feminismo”. Essa decisão foi tomada desde que foi ameaçada de um processo na Ucrânia. Com o lema “o meu corpo é a minha arma”, as Femen tem o papel de protestar seminuas pelos direitos das mulheres, chamando assim à atenção dos media e como resultado, a sociedade. Estes movimentos têm-se estendido a alguns países. Portugal já tem uma conta no Facebook e no Twitter que divulga o papel das Femen a nível internacional, explica a ideologia e mostra os protestos já realizados. As Femen realizam campanhas internacionais, com pessoas de toda a Europa e alertam para temáticas como a “epidemia do fas-

cismo”, que assumem que se está a espalhar. Estas activistas já protagonizaram protestos contra a religião, entre eles, um contra a visita do Papa a Estrasburgo, protestando no interior de uma catedral. O Vaticano também já foi palco de protestos, devido à influência da religião na esfera política. Protestando contra “a indústria do sexo”, as Femen já subiram ao telhado do mais famoso cabaret de Paris para demonstrarem que as mulheres “não estão à venda”. Ainda em Paris, também já ocuparam a Catedral de Notre Dame devido à oposição da Igreja Católica Romana em relação ao casamento homossexual. A luta das Femen, muitas das vezes tem consequências como a prisão. Na Tunísia, três mulheres (duas francesas e uma alemã) foram condenadas a quatro meses de

prisão por libertinagem e atentado contra o pudor e os bons costumes, mas foram libertadas. As Femen não se preocupam que as pessoas “recordem as suas imagens em topless”, porque dizem ser impossível “ignorar o que está lá escrito”. As activistas propõem ao mundo “um novo significado para a nudez feminina”, transformando os seios em “instrumentos políticos”. O objectivo é “criar o debate, colocar o problema em cima da mesa, mostrar a verdade e desmascarar quem anda mascarado”, segundo InnaShevchenko. Foi polémico quando as Femen afirmaram “antes nua do que burca”. Mas numa entrevista à Euronews, a líder do movimento Femen afirmou que aceita o uso de burca caso seja uma escolha, mas que sabe que “neste mundo há mulheres que são obrigadas a cobri-

rem-se como no Irão e no Afeganistão”. Os actos das Femen são sempre alvos de represálias e estas já foram raptadas durante 24 horas. Foi em 2011 que três das activistas estiveram “nas mãos” dos raptores na Bielorrússia, devido a um protesto contra o presidente Alexander Lukashenko. O dia-a-dia das Femen encontra-se agora representado num documentário chamado Ukraineisnot a Brothel (A Ucrânia não é um bordel), realizado por Kitty Green, uma australiana de 28 anos. O documentário foi apresentado no Festival de Cinema de Veneza, mas não se encontrou em competição.


PAÍS

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O projeto de combate ao desperdício alimentar Refood é uma iniciativa que visa combater o desperdício em todos os estabelecimentos da indústria alimentar, os restaurantes e supermercados são alguns desses locais. Os alimentos recolhidos são entregues a quem mais precisa.

Fachada da Reitoria com nova imagem A Reitoria da Universidade do Porto está a ser alvo de obras de restauro. O projeto pretende dar uma nova vida ao edifício histórico. O edifício da reitoria da Universidade do Porto, na Praça Gomes Teixeira, está por esta altura a ser restaurado. A obra tem como objetivo reabilitar a fachada pintada e renovar a caixilharia exterior do edifício. A obra começou em setembro e está inserida no programa “Porto com Pinta”, promovido pela Câmara. Este projeto pretende financiar parte da obra através da venda de um espaço publicitário pelo período de seis meses. Os trabalhos na fachada da Reitoria terminaram em novembro e portuenses e turistas já podem ver o edifício “de cara lavada”.

(Fonte: DR) O trabalho é essencialmente feito por voluntários, que vêm no projeto uma oportunidade de ajudar quem mais precisa e de dar vazão a muitos alimentos desperdiçados todos os dias nos mais variados estabelecimentos. O projeto começou em Lisboa, no entanto tem-se espalhado um pouco por todo o país. Desde Leiria até ao Porto, o projeto tem mobilizado várias pessoas e os locais de ação têm crescido, sobretudo nos meios urbanos. A ideia surgiu de um imigrante norte-americano, chamado Hunter Hadler, que implementou em 2011 uma rede de “re-distribuição alimentar” na freguesia de Nossa Senhora de Fátima e a partir daí a rede cresceu, não só geograficamente e no número de voluntários, mas também no número de dadores. No Porto, o Refood já tinha um núcleo na Foz do Douro, umas das áreas mais afetadas com a pobreza, ainda que não seja visível, porém a zona de Cedofeita prepara-se para também englobar o projeto. E para que tal aconteça é necessária a ajuda de mais voluntários. Uma necessidade que, segundo os responsáveis, não parece ser motivo de preocupação, visto que muitos dos voluntári-

os são pessoas com profissões e horários exigentes, e nem por isso deixaram de integrar o Refood. O pensamento de ajudar o outro e de que um dia “possa ser a minha família a precisar” motiva muitos deles. Outros dos aspetos importantes é contabilizar qual o número de famílias a enfrentar dificuldades, uma vez que desta forma, a ajuda tornar-se-á eficiente. Conhecer a realidade é um dos pontos de partida. A crise provocou imensas transformações nos hábitos das famílias, sobretudo da classe média, logo o projeto tem de ter em conta todos esses fatores. Para além dos alimentos, trata-se de entender o contexto, como por exemplo, muitos pais devido à falta de dinheiro, tiveram de transferir os seus filhos das escolas onde anteriormente estavam. Apesar de não encaixar de todo na categoria da alimentação, mexe no orçamento familiar e isso já é suficiente para que o reflexo nos bens essenciais seja notório. O autodenominado Refood Cedofeita ainda não está constituído, mas a vontade de estabelecer o projeto na zona é evidente.

110 detidos pela GNR em operação STOP A operação de fiscalização à condução sob efeito de álcool e drogas realizada pela GNR, n período de 8 a 14 de dezembro por todo o país, deteve 110 condutores. Segundo a Guarda Nacional Republicana, dos 110 condutores, 72 foram detidos por excesso de álcool, 26 por falta de habilitação legal para conduzir e 12 por outros crimes. Em comunicado, a GNR adianta que durante a operação foram testados 11.686 condutores, tendo detetado 235 com excesso de álcool, dos quais 72 foram detidos por circularem com uma taxa de álcool no sangue superior a 1,20 gramas por litro. Durante a operação, denominada “Tispol – álcool e drogas”, a GNR detetou ainda 2.835 infrações, designadamente 916 por excesso de velocidade, 191 por falta de inspeção periódica obrigatória, 176 relativas a cintos de seguranças e cadeirinhas para crianças, 125 por uso do telemóvel durante a condução, 117 relativas a tacógrafos e 56 por falta de seguro.


PAÍS

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Harry Potter invade a Invicta Atenção Muggles portugueses: a saga de feiticeiros mais famosa de todos os tempos já chegou ao Porto.

Baixa do Porto em modo natalício Milhares de pessoas encheram a Baixa do Porto no passado domingo para celebrar a época natalícia.

(Fonte: DR)

Os mais fanáticos pela história do Rapaz-Que-Sobreviveu saberão com certeza que a série é inspirada, em parte, pela cidade do Porto. Mas 17 anos após a edição do primeiro livro e inúmeros parques temáticos, visitas guiadas e locais de culto depois, parece que ninguém se lembrou de incluir a Invicta no roteiro. Até recentemente. Sob o nome “Experiência Harry Potter no Porto”, Bruno Correia, um fã da série, criou um itinerário que passa pelos locais emblemáticos da cidade que inspiraram J. K. Rowling, e por outros sítios que nos remetem para o imaginário da saga. Mas isto não é apenas uma visita guiada. É também um concurso: quem acertar mais perguntas tem direito a um prémio no final. São 10h da manhã. O ponto de encontro é a Praça da Ribeira. O tempo não podia estar mais perfeito para uma caminhada: apesar do frio está um dia de sol fantástico. Depois de o grupo estar todo reunido partem em direção à Casa do Infante, que aos mais astutos faz lembrar a entrada do castelo de Hogwarts. Aqui

os participantes são divididos em equipas: Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff, as quatro Casas que existem na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. E quem melhor para fazer a seleção que o próprio Chapéu Selecionador?! O próximo passo na aventura é uma viagem de elétrico desde a Alfândega até ao Museu do Carro Elétrico. A partir daí o caminho é sempre a subir. Passando por ruas que fazem parte dos Caminhos do Romântico, ainda há tempo para mais umas perguntas antes de o grupo chegar aos jardins do Palácio de Cristal. A visita guiada continua num cenário que faz lembrar a Floresta Proibida. A equipa dos Gryffindor vai à frente, mas o jogo ainda não acabou. O percurso continua até à Cordoaria, Praça dos Leões e finalmente a Livraria Lello. Considerada uma das livrarias mais bonitas do mundo, a Lello transporta os visitantes diretamente para Hogwarts e é uma das maiores inspirações para a série.

E desengane-se quem pensa que esta experiência é só para crianças Muggles. De miúdos a graúdos todos se divertem e para além de testarem os conhecimentos sobre o feiticeiro mais famoso de sempre, têm também uma oportunidade para conhecer melhor a Invicta.

Num fim-de-semana véspera de feriado são muitas as pessoas que aproveitam para passear com a família. As ruas do Porto, dos Clérigos a Santa Catarina rebentavam pelas costuras e quem agradecia eram os comerciantes. Apesar de ser domingo, as lojas em Santa Catarina estavam abertas e eram tantos os que por lá passeavam que mal se conseguia andar. Entre portuenses e turistas todos aproveitavam não só para fazer as compras de Natal, mas também para ver as atrações na rua: palhaços, homens-estátua e bolas de sabão gigante. Já nos Aliados a diversão era outra. Para além da árvore de Natal e do mercado, era possível admirar uma instalação de sinos, xilofones e gongos. Claro que quem mais delirava com os “instrumentos musicais” eram as crianças. A avenida transformou-se numa espécie de concerto gigante ao ar livre feito pelos mais pequenos. Mas não foram só as compras e a música que fizeram este domingo. Os mais aventureiros podiam experimentar as duas pistas de gelo instaladas na Invicta: uma na Praça D. João I e outra na Cordoaria, em frente ao Centro Português de Fotografia. Para quem não tem medo das quedas esta é uma boa opção para um domingo bem passado.


PAÍS

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Língua gestual portuguesa celebrada a 15 de Novembro Para muitos portugueses, a língua gestual é somente conhecida através de um intérprete num pequeno “quadrado” no canto da televisão. A 15 de novembro, dia nacional da língua gestual portuguesa, o jornal Sebenta procurou saber quais as dificuldades existentes na comunidade surda e como a formação de tradutores e intérpretes pode combatê-las.

(Fonte: DR) A 15 de novembro de 1997, a língua gestual portuguesa era reconhecida na Constituição, eno mesmo dia, era criada a Comissão para a defesa dos direitos das pessoas surdas. Apesar dos avanços, Portugal apresenta ainda em 2014, algumas falhas no que toca à preservação e manutenção desses mesmos direitos. Miguel Santos, coordenador do curso de Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa, da Escola Superior de Educação (ESE) do Porto, acredita que existem algumas lacunas na sociedade portuguesa relativamente à integração da comunidade surda: “Desde de questões tão simples como o acesso aos serviços até outras questões

como o acesso aos conteúdos televisivos, em que a presença da língua gestual ainda é muita reduzida, na maior parte dos meios de comunicação.”. A formação de intérpretes e tradutores de língua gestual apresenta-se como uma das matrizes principais para o combate ao isolamento, que as pessoas com deficiência auditiva enfrentam no seu dia-a-dia. “Acho que contribuímos largamente para a disseminação da língua gestual portuguesa, principalmente na região Norte do país, o que vai possibilitar uma maior integração do surdo na sociedade em geral, porque mais facilmente encontrará pessoas, que conseguirão

interagir com ele em termos linguísticos.” – salienta Miguel Santos. Na ESE, a procura do curso de Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa é feita tanto por pessoas interessadas profissionalmente na área como por aquelas que pretendem apenas enriquecer a sua formação pessoal. Porém, o coordenador do curso confessa que os alunos no primeiro ano da licenciatura, poderão ter “uma visão um pouco romântica” do que é ser intérprete e tradutor de língua gestual. Essa preocupação é esbatida a partir do momento, em que exercem as funções reais de um profissional e começam a con-

tactar com as pessoas surdas e as associações. A necessidade de compreender a comunidade surda no contexto educativo e sociocultural assume-se como uma das valências mais importantes da licenciatura. A existência de ideias pré-concebidas em redor da língua gestual portuguesa provam que a sociedade ainda está aquém no conhecimento desta matéria – “Ainda estão presentes muitos mitos relativamente à língua gestual, desde o seu estatuto enquanto língua, até ao mito de que é uma língua universal para os surdos.”, explica Miguel Santos.


PAÍS

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Cerca de 2.900 professores incritos para a prova de acesso à profissão Este ano são muito menos os professores contratados que se inscreveram para realizar o exame de avaliação.

Norte e Alentejo têm os melhores hospitais Uma multinacional fez a seleção das cinco melhores unidades hospitalares de Portugal. Os hospitais universitários de Coimbra e de Santa Maria, em Lisboa, não fazem parte da lista.

(Fonte: DR) (Fonte: DR) Foram apenas 2.900 os professores contratados que se inscreveram para realizar a Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC), marcada para dia 19 deste mês. Em comparação, a primeira edição da PACC, realizada no ano passado, tinha mais de 13.500 contratados inscritos. Quem realizou a prova no ano passado não precisa de a repetir. O exame destina-se aos professores contratados com menos de cinco anos de serviço. Esta ressalva foi conseguida pela Federação Nacional de Educação (FNE) nas negociações feitas em 2013 com o Ministério da Educação e Ciência (MEC). Inicialmente o MEC queria que a prova fosse realizada por todos os professores contratados que se quisessem candidatar a um lugar numa escola. De acordo com o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), inscreveram-se 2.861 candidatos para a componente comum da PACC, que se realiza no dia 19. O prazo para as inscrições terminou no dia 28 de novembro, mas o número oficial de inscritos só foi apurado na passada sexta-fei-

ra, data limite para o pagamento de 20 euros, que é quanto custa a prova a cada candidato. Tal como no ano passado, a componente geral da PACC será composta por 32 perguntas de escolha múltipla e uma redação. O MEC anunciou que a partir de fevereiro, e pela primeira vez, realiza-se a componente específica que pretende testar os conhecimentos dos docentes nas disciplinas a que pretendem concorrer. Ainda não se sabe em que escolas vão decorrer as provas. Entretanto, a FNE e mais seis organizações sindicais já entregaram um pré-aviso de greve a todos os serviços ligados à PACC, que abrange os docentes que foram chamados a vigiar as provas ou a integrar o secretariado das provas. Por outro lado, o MEC solicitou serviços mínimos para esse dia, alegando que a nova Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas assim o exige quando há greves convocadas para dias de provas nacionais. Os sindicatos negam esta interpretação da lei, defendendo que isto só se aplica quando estão em causa avaliações de alunos.

A multinacional de origem espanhola IASIST, que faz estudos de benchmarking (referência sobre as melhores páticas) na área da saúde, selecionou os melhores hospitais públicos portugueses. Cinco unidades hospitalares foram consideradas as melhores na sua categoria e os maiores hospitais do país – Coimbra e Santa Maria, em Lisboa – não foram incluídos na lista de nomeados. Em declarações à Rádio Renascença, o diretor clínico do Centro Hospitalar Lisboa Norte, que inclui os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente diz não estar surpreendido com a exclusão da unidade. “Surpreendido não fiquei, porque tenho os pés assentes na terra e sei as dificuldades com que me defronto”, diz Miguel Oliveira e Silva. Os 41 hospitais que fazem parte do Serviço Nacional de Saúde, incluíndo as Parcerias Público-Privadas, foram divididos em cinco categorias definidas pela Administração Central do Sistema de Saúde. Os critérios a ter em conta foram a dimensão, variedade e complexidade casuística. No grupo dos pequenos

hospitais estavam incluídos o Hospital de Santa Maria Maior, em Barcelos (vencedor), o Hospital Distrital da Figueira da Foz e o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde. Na categoria dos hospitais de pequena/média dimensão destacam-se o Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (vencedor), Hospital Beatriz Ângelo e o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Já no grupo dos hospitais de média/grande dimensão incluem-se os do Espírito Santo, em Évora (vencedor), o hospital de Braga e o Garcia de Orta, em Lisboa. Seguem-se o Centro Hospitalar do Porto (vencedor), São João e o Hospital de Lisboa Central na categoria dos hospitais universitários e centrais. Por fim, no grupo relativo a unidades de saúde locais, ficaram selecionadas as do Litoral Alentejano (vencedor), do Alto Minho e de Matosinhos. A multinacional IASIST acrescenta que a intenção desta lista não é criar um ranking, mas sim distinguir os hospitais que apresentam melhores resultados.


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Pérola do Mercado

Sábado de manhã significa para muitos: não acordar cedo, exercitar os músculos porque não houve tempo durante a semana ou simplesmente tomar o pequeno-almoço acompanhado de uma revista ou de um jornal. Para outros, este é o dia ideal para fazer as compras da semana. 8h45 e a manhã há muito que começou no mercado municipal da Póvoa de Varzim. Os passos são apressados, os carrinhos das compras correm freneticamente e entre sacos já cheios, vozes femininas ofuscam os motores dos carros e prevêem o que será o interior do mercado. As portas automáticas abrem-se e uma explosão de som “ataca” os ouvidos, é o regatear entre vendedores e clientes. A procura do melhor negócio sempre assentou na alma da palavra e na célebre expressão “Quanto quer por isto?”. No mercado não existem preços estabelecidos como numa grande superfície comercial, o melhor orador obtém a melhor compra ou venda, dependendo da perspetiva. É uma “arte” antiga, a da palavra, que poderá aumentar em tempos de crise, nem todos têm jeito e nem todos convencem, mas vale a pena tentar.

A vida no rés-do-chão Rés-do-chão do mercado, as pequenas lojas de roupa e quinquilharia, os talhos e as bancas de fruta não parecem neste sábado ser alvo de atenção dos clientes. Mas nem por isso, os vendedores de fruta perdem o ânimo. Atentos à movimentação, fixam o olhar de quem se aproxima das suas bancas e em pé entre sorrisos e muita conversa com outros vendedores, saboreiam a própria fruta que vendem. A apresentação será crucial para uma potencial venda. Cada tipo de fruta encontra lugar numa caixa, depois conjuntamente ficam dispostas como que numa escada. Caso o cliente queira algum produto do topo, o vendedor terá a amabilidade de recolher, por detrás da sua banca, para um saco de plástico, as maçãs ou as laranjas mais apelativas aos olhos. Nestas bancas, como em mais nenhumas, as cores preenchem. Assim como as vozes atordoam os ouvidos, as cores dos frutos maravilham a visão. Nada possui de uníssono, mas a harmonia é contraditoriamente, conseguida. O encarnado e o cheiro a

carne circundam as lojas do rés-dochão. As batas brancas dos talhantes já se encontram um pouco sujas e alguns exibem grandes facas afiadas enquanto atendem os poucos clientes desta manhã. Pelo contrário, os talhos do exterior contam com pequenos grupos de pessoas. A dimensão reduzida de cada um deles não permite uma circulação fácil. Entre sacos e carrinhos das compras, as pessoas “lutam” por um lugar confortável aquando da compra da proteína. O vestuário não é de longe o mais procurado, as lojas estão vazias. Não há mais nada do que o vendedor e a roupa. O olhar de cada um é dirigido para fora dos seus próprios estabelecimentos. Não é possível deixar de denotar o sentimento de desmotivação. A vivacidade que se assiste na banca da fruta como que esmorece quando comparada com estas lojas. Muitos dirão que serão efeitos da crise, outros partilham a opinião de que a alimentação está em primeiro lugar.

na rampa, entra-se no universo do peixe e das flores. Neste espaço, a circulação torna-se particularmente difícil, as pessoas aglomeram-se, o alarido intensifica-se. Tudo leva a crer que num dia como este o mercado deveria ser maior. Se a flor é bonita, o peixe é fresco e barato, não há como enganar, tal como remata uma vendedora que elogia as suas flores: “Olha que bonitas!” ou outra comerciante que dá ar aos pulmões e grita: “Peixe barato!”. Ir a um sábado à “Praça”, nome pelo qual muitos poveiros apelidam o mercado, impõe sobretudo para as senhoras, comprar flores. Seja para colocar no cemitério em memória aos entes queridos ou para embelezar a casa, as poveiras não dizem não a um ramo de flores. “Vou ao cemitério”, diz uma senhora ao percorrer o espontâneo corredor que se formou com os baldes pretos das vendedoras. Rosas, margaridas, cravos amontoam-se, mal se consegue perceber a que vendedora pertencem. Uma cliente está interessada, a vendedora chega-se à A flor é bonita e o peixe é frente, como que sai do escombro e fresco tenta efetuar uma venda. Quando o consegue, procede-se ao tradicionA partir da subida de uma peque- al conto de trocos. A vendedora en-


FOTO-REPORTAGEM

trega as flores e lá vai a cliente com a face quase toda encoberta pelos ramos e as pétalas. Outras clientes preferem colocar no carrinho e à medida que andam, verificam se está tudo bem, não vá as flores ficarem machucadas.

Conviver ao fim-de-semana A figura dos carrinhos das compras é, de facto, primordial neste dia. Um autêntico auxílio quando se trata de carregar produtos mais pesados e volumosos. Talvez em virtude dos novos tempos, o carrinho evoluiu do comum axadrezado e das cores sóbrias para o moderno padrão tigresa e para as cores berrantes como o laranja. Apesar da nova estética, transportar um carrinho implica esforço e determinação sobretudo para as pessoas mais idosas que se deparam com as dificuldades de subir uma escada. Desengane-se, no entanto, quem pense que não possuem energia. Na verdade, demonstram mais vitalidade que as crianças que acompanham as avós ou os maridos que acompanham as mulheres. Mesmo em 2013, a tradição mantém-se, o mercado é um ponto de encontro de amigos e familiares. Os ditos encontros permitem desejar as melhoras a alguém que está doente ou galhofar com algum amigo que, por acaso tem uma alcunha engraçada: “Oh Cabeças!”.

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Assiste-se a uma verdadeira democracia no mercado, desde os aventais mais humildes ao salto alto, todos concorrem ao sábado a este lugar. Um lugar, que reúne aspetos tão diferentes como as calças de fato de treino e o “puxo” das velhotas, e a maquilhagem e o cabelo arranjado. Numa cidade de pescadores, o peixe é rei e senhor da “Praça”. O gelo que cobre as bancas, exibe a diversidade da costa portuguesa. Desde as lulas, à pescada, à cascarra e ao famoso bacalhau, o leque de escolha é dos mais variados. Como não poderia deixar de ser, é o espaço propício ao cheiro mais forte, mas também ao mais refrescante. Aliado ao cheiro do peixe, vem o cheiro à maresia. A fadiga no mar culmina agora no amanhar do peixe e na voz das peixeiras. Os aventais e as toucas brancas equipam cada uma delas numa tarefa, que tem como objetivo fazer justiça não só a si próprias, mas também ao esforço de muitos homens. Pescadores que garantiram que o peixe estivesse na banca a tempo e horas. Quem sabe, se muitos deles não serão seus maridos, irmãos ou filhos.

O campo no primeiro andar No primeiro piso e subindo mais uma rampa, encontramos o campo em plena cidade. Dezenas de lavradeiras trazem o que de melhor cultivam nas

suas hortas e aqui assim o regatear tem outras proporções. A confusão é superior, um simples “com licença” ou “desculpe” não resultam. O alarido conjunto e o canto do galo superam as vozes individuais. Os animais não faltam, entre galos e galinhas, há também os coelhos. A falta de espaço é notória, os caminhos entre as bancas são diminutos e corre-se sempre o risco de pisar alguém. O coelho até partilha a mesma “cela” que o galo. O carrinho das compras alheio cai e recebe-se de volta um “Deixe estar.” Os clientes estão demasiados atentos a ver quem tem o melhor produto e os vendedores esperam pela venda mais lucrativa. Ninguém se incomoda, os olhos estão pregados nas bancas, nas “favinhas” e nas abóboras. “Então vai levar a cebola toda?”, diz uma vendedora. A lei do “despachar” interessa a todos, comerciantes e consumidores. Apregoam-se argumentos como “Esse tem um quilo”, “ O marido tem”, e os porta-moedas logo aparecem, assim como as mãos colocadas no ar, prontas a receber, o “trocadinho” de preferência. Não há tempo para um atendimento demorado e muito individualizado, por detrás de um cliente, está um outro a tocar no produto e disposto a comprar. É um frenesim, um constante movimento de pessoas que vão e que vêm, caras diferentes e com diferentes personalidades.

Os restos de legumes no chão indiciam um grande trabalho de limpeza e arrumação. Mas o dia está longe de terminar.

As zangas e a amizade O labor dá aso às brincadeiras, às canções e aos desacatos. Encontram-se situações tão díspares como um senhor a cantar para uma senhora: “Sim, Carolina ó-ió-ai, Sim Carolina ó-ai meu bem” ou alguém a insultar outra pessoa: “Oh matraquilho, quando é que ganhas vergonha?”. O nome de um café no exterior consegue resumir a essência de uma manhã no Mercado Municipal Dr. David Alves. “Pérola do Mercado” faz justiça ao lugar onde a maior riqueza não emana apenas dos produtos, mas da interação humana.


GRANDE ENTREVISTA

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Heloísa Apolónia:

“Quando dizem «são todos iguais», eu não suporto que me associem a este género de comportamento e a esta forma de estar na política” A deputada do Partido Ecológico “Os Verdes”, Heloísa Apolónia, recebeu o Sebenta no Palácio da Assembleia da República em Lisboa. A jurista e mãe de dois filhos, embora não se considere um dos rostos mais conhecidos do Parlamento, tem como “imagem de marca” as intervenções mais diretas e francas a que o Plenário teve a oportunidade de acolher. Desde a política até à sua vida diária, Heloísa Apolónia apresenta, nesta entrevista, um pouco de si. Desde que momento percebeu que o lugar da Sra. Deputada era na política e no parlamento?

bleia da República me fazem o convite para ficar num lugar elegível pelo círculo eleitoral de Setúbal e é nesse momento que venho para a Assembleia.

Talvez uma precisão. A perceção de que temos um papel a desenvolver na política é muito diferente de ter a perceção de que podemos dar um contributo na Assembleia da República. Uma coisa não se pode confundir com a outra. Na política comecei muito mais cedo, num exercício coletivo de uma associação de estudantes na Escola Secundária da Baixa da Banheira, onde eu fiz o ensino secundário e fui também Presidente da Associação de Estudantes. Envolvi-me muito a nível associativo no movimento estudantil e só depois é que venho a ter um relacionamento com os “Verdes”. Um dia, encontro-os numa atividade de rua na baixa de Lisboa e interessei-me. Era um teatro sobre a questão do nuclear, fiquei para ver e acabei por deixar contacto, mais tarde contactaram-me e começa assim o meu relacionamento com os “Verdes”. E é quando os conheço em maior profundidade, que eu me apaixono por este projeto, o Partido Ecologista “Os Verdes”, e decido que lhes quero dar uma parte da minha vida. Depois faço o meu percurso académico em Direito e o estágio em Advocacia, penso lançar-me tal como muitos dos meus colegas na área, com a formação feita, mas o amor pelos “Verdes” foi mais forte. É já no decurso do meu envolvimento muito intenso no projeto, que um dia em discussão sobre as listas da Assem-

Enquanto jovem já tinha uma consciência política? Sim, eu sou daquelas pessoas que acredita que a generalidade dos jovens tem consciência política. Às vezes pode não saber que a tem. A política, no fundo, são todas as dimensões da nossa vida coletiva. Nós quando vamos ao café e começamos a queixar-nos dos cortes salariais porque o dinheiro não dá para tudo, porque os pais agora ganham menos e isso restringe-nos nos sonhos e nas perspetivas de futuro, ou quando alguém chega ao supermercado e comenta que, “fulano” emigrou porque não tinha condições em Portugal. Não se está a falar só da vida de uma pessoa em concreto, está-se a falar de uma dimensão política da nossa vida. As pessoas, por norma, são interessadas na política, pelas respostas que o centro de saúde e a escola lhes dá. Outra coisa é a dimensão partidária da vida política, eu apaixonei-me por um projeto partidário, o Partido Ecologista “Os Verdes”.

Aquele projeto dizia-me qualquer coisa, a uma dimensão que eu não encontrava noutros partidos ou projetos. Não quer dizer que eu andasse à procura em partidos, mas a dimensão ecológica foi algo que me aliciou. A minha perceção e o meu interesse mais profundos sobre o que é a ecologia, Ecológico Os Verdes têm desenvolveram muito por influênmais a ganhar do que a cia dos “Verdes”.

perder com a coligação com a CDU (Coligação DePode-se dizer que a conmocrática Unitária)? sciência ecológica acabou por ditar o seu caminho Eu não vou colocar a resposta no enquanto deputada e na que mais interessa aos “Verdes”, mas naquilo que eu considero que própria política? Se eu não tivesse tido esta ligação com os “Verdes”, provavelmente tinha seguido outro caminho na vida. Não sei se ligada a algum partido, tenho muitas dúvidas, mas seguramente o meu caminho teria sido diferente. Agora tentar refletir sobre qual, não faço a mínima ideia.

Não consegue considerar uma aproximação que pudesse ter a algum partiA sua consciência ecológi- do, caso não existissem os ca surgiu naturalmente ou Verdes? por influência de alguém?

Não, a minha paixão de facto é peDos “Verdes”. Eu julgo que a minha los “Verdes”, foi a eles que me agarcuriosidade, a relevância que eu já rei, é este o projeto em que acredito. dava às matérias ecológicas fizeram-me aproximar dos “Verdes”. Considera que o Partido

os “Verdes” podem dar à sociedade, agregados e unidos a outros projetos. Eu acho que há uma dimensão de união de projetos, que gera mais força na sua mensagem e na sua ação na sociedade. Estes projetos neste caso, o PCP e os “Verdes”, e podemos colocar a Intervenção Democrática, que faz parte da Coligação Democrática Unitária (CDU), são partidos diferentes com ideologias diferentes, mas há uma dimensão que os aproxima. Se nós em coisas fundamentais sobre a realidade portuguesa tivéssemos visões completamente diferentes eram impossível estarmos coligados. Em questões centrais do desenvolvimento para o país, nós conseguimos encontrar convergências. Nessas convergências forma-se a Coligação Democrática Unitária,


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29 outra deputada.

Procura desenvolver também a capacidade coHá deputados que como fazem in- municativa? tervenções regulares no plenário e naqueles debates mais mediáticos, é normal que sejam também mais conhecidos nessa faceta de intervenção parlamentar. Eu faço imensas intervenções no plenário que não passam em rigorosamente lado nenhum. Como muitos deputados fazem um trabalho centrado nas comissões, que é um trabalho fulcral para o Parlamento, praticamente não são conhecidos de ninguém. O trabalho das comissões não tem normalmente grande mediatismo. A dimensão do trabalho parlamentar é enormíssima e diversíssima. Não lhe sei responder à questão do mediatismo, peçolhe desculpa (risos).

Algumas situações que se passaram no Parlamento, por exemplo, com o engenheiro José Sócrates e até com o atual primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, suscitaram mais atenção mediática. O espírito combativo é algo que justamente a caracteriza?

uma coligação exclusivamente eleitoral. A partir do momento em que se dá o ato eleitoral, a CDU termina e são dois partidos completamente autónomos. Na Assembleia da República são dois grupos parlamentares completamente autónomos e muitas vezes não temos a mesma votação. O PCP nem sempre votou a favor dos projetos dos “Verdes”. Existem determinadas dimensões em que não concordamos, mas é normal e por isso é que são dois partidos diferentes. No entanto, especialmente hoje, julgo que não estamos em tempo de desunião, mas em tempo de união. A Coligação Democrática Unitária é um exemplo de como essa união de projetos pode perdurar e gerar mais força. Isto não está baseado em nenhum estudo científico, mas acredito da experiência que tenho e das inúmeras e intensas campanhas eleitorais que já fiz, que a CDU não representa que um mais um seja igual a dois, mas que um mais um seja superior a dois.

também mais conhecidos do Parlamento, muitas das suas intervenções são registadas e recebem atenção pela comunicação social. Porque é que acha que isso acontece? Nós queixamo-nos tanto da discriminação que a comunicação social nos faz. (risos) Quem segue os trabalhos parlamentares no dia-a-dia como eu sigo, de facto, às vezes é pesaroso perceber como a comunicação social consegue silenciar tanta mensagem importante que é dita e designadamente em relação aos “Verdes”. Nós queixamo-nos muito de discriminação nas reportagens, designadamente televisivas. Sobre o mediatismo, eu não penso nisso e nem sei se tenho essa noção da forma como está a dizer.

Mas não se considera um dos rostos mais conhecidos? A Sra. Deputada é o rosto Talvez, mais rapidamente mais conhecido dos Verdes, as pessoas reconhecema e um dos rostos femininos Heloísa e não reconhecem

Pois, essas sim (risos). Sim, acho que posso dizer que sim. Mas eu acho que sou muito direta naquilo que tenho para dizer. Às vezes é um bocadinho complicado porque os tempos na Assembleia da República são distribuídos em função do grupo parlamentar. “Os Verdes” são o grupo parlamentar com menos tempo. Para poder dizer alguma coisa e é o que me cria uma imensa tensão, é ter necessidade de explorar uma ideia e não conseguir. Ter de deixar a ideia a meio e “o tempo está a esgotar-se, é preciso dizer mais alguma coisa”, ou seja, gerir o tempo é aquilo que me dá mais cabo da cabeça na Assembleia da República. É uma tortura autêntica, mas procurofundamentalmente obter respostas diretas e objetivas. Se divagarmos muito nas nossas perguntas, damos ao interlocutor a possibilidade de também divagar imenso, para aquilo que lhe interessa. Quando procuramos respostas objetivas, é preciso ser muito direto, para que o interlocutor tenha a perceção exata do que queremos dizer. Depois é evidente que há todo o jogo político como o não querer responder diretamente e enviesa-se a resposta, mas isso faz parte da dialética parlamentar.

Eu julgo que se vai desenvolvendo pela força das circunstâncias. Eu noto em mim uma evolução. Hoje sou capaz de dizer coisas num minuto, que quando comecei seria algo completamente impensável para mim. A experiência também nos vai dando traquejo na forma de comunicar.

Alguma vez foi abordada pelos cidadãos por alguma intervenção que tenha feito no Parlamento? Uma intervenção em concreto, não sei. Mas sou reconhecida algumas vezes na rua. É engraçado perceber que as pessoas reconhecem outras pessoas, que têm algum mediatismoenquadradas de uma determinada forma, portanto eu é no Parlamento. Imagine que estou num centro comercial e alguém do Porto vem-me perguntar, “Você é do Porto, não é? Eu estou a reconhecê-la” (risos). A pessoa reconhece a fisionomia, mas não está exatamente a ver de onde. Porquê? Porque não estou enquadrada pelo Parlamento na minha vida diária. Existem pessoas que reconhecem logo, e outras que não reconhecem, há de tudo.

O Direito conseguiu ajudála de algum modo no seu trabalho enquanto deputada? O Direito ajudou-me imenso em várias facetas da minha vida, porque a formação específica numa determinada área é sempre importante. Mas se eu tivesse estudado Comunicação Social, Psicologia ou Matemática tinha-me ajudado noutras. Eu acho que para o Parlamento, a formação académica não é relevante. No Parlamento, o que é relevante, é a componente ideológica, ou seja, tudo o que colocamos ao nível da pluralidade de ideias. A experiência de vida também é algo que acaba por ter alguma influência na intervenção. O saber ouvir os outros é muito importante para depois transportar ideias, pensamentos, necessidades e problemas para a Assembleia da República.O Direito tendo-me ajudado em tudo na minha vida, não me ajudou particularmente no trabalho parlamentar. Talvez


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consiga ter uma leitura de uma lei de uma forma mais familiar. Estou mais familiarizada do que outra pessoa que não é de Direito, mas existem profissionais na Assembleia da República para ajudar os deputados nas dimensões mais técnicas. Para os deputados e os governantes, não é o currículo académico que criaboas ou más pessoas para a política. Agora relativamente, à Ministra que está na Administração Interna devido à demissão do ex-ministro Miguel Macedo, ouvi muita gente da maioria dizer tratar-se de “uma pessoa com um currículo notável”. Não é isso que vai fazer dela uma boa ou uma má ministra.Na minha dimensão político-partidária direi que neste governo, não acredito que alguém faça um bom trabalho, nem nessa pasta nem noutras.

Participa em inúmeras comissões parlamentares, como é que se reflete o seu trabalho nas mesmas? Nas comissões o que é pedido são inúmeras coisas.Nas comissões há a possibilidade de interpelar ministros diretamente, chamar ministros à comissão, existem reuniões regimentais das comissões com ministros e ouvem-se inúmeras entidades e instituições, fazem-se audições com movimentos e audiências com inúmeros cidadãos. É onde se fazem os relatórios das petições que chegam à Assembleia da República e faz-se todo o trabalho legislativo na especialidade. Um projeto de lei é discutido no plenário na generalidade e depois desce em função da matéria à comissão respetiva, para ser discutida artigo a artigo e para se ouvirem entidades sobre aquela matéria. Só depois de estar o trabalho concluído é que volta a subir a plenário, para se realizar a votação final global. As comissões representam uma faceta relevantíssima do trabalho parlamentar e mais intensa do que o plenário, apesar de não ter aquele mediatismo. Cada deputado pode estar em duas comissões permanentes, sem contar com eventuais comissões que são criadas ou comissões de inquérito. Porém se o grupo parlamentar tiver menos do que dez deputados, os deputados podem pertencer a três comissões. Sou efetiva em três comissões, na Comissão de Ambiente, Ordenamento de Território e Poder Local, na Comissão de Economia e na Comissão de Educação. O deputado José Luís Ferreira, também

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dos “Verdes”, está igualmente em três comissões. Nós escolhemos as comissões conforme aquilo que em cada legislatura, perspetivamos que será mais importante para o conteúdo do trabalho parlamentar que nós queremos dar aos “Verdes”. A Educação nesta legislatura seria fundamental, o Ambiente estamos sempre e depois a Economia face à situação em que o país está é uma matéria extraordinariamente importante para ir acompanhando. Temos inúmeras propostas sobre a matéria de dinamização da Economia e da produção local.

O que é que a fascina mais na política? A possibilidade de intervir coletivamente, sinceramente é isso que me chama à política. O poder fazer uma reflexão e ter uma ação sobre aquilo que podemos dar à sociedade, numa atividade em que não estou sozinha, estou com várias pessoas. A forma como podemos formar e construir sociedade, acho que é fundamentalmente isso. termos de hobbies, gosto muito de que deputados. Tínhamos de tentar

Para além da política, dança, neste momento não estou a perceber exatamente o que é isso quais são os seus outros praticar nada, e de natação. Em con- do político. Alguns deputados são interesses? junto com os meus amigos, procuro pessoas com ideologias muito difertambém ouvir a música. Sou perfeitamente normal como todas as outras pessoas. Cada uma com os seus gostos pessoais, naturalmente. Gosto de ler por prazer, que não o faço neste momento. Leio por necessidade e por obrigação, nas questões parlamentares e ao nível de estudo. Consegue conciliar tudo? Como tenho tanta coisa para ler por Tenho de conseguir. Posso-lhe dizer obrigação descurei completamente que todos os dias quando chego a da leitura por prazer, que é algo que casa faço um jantar para a família. tenho de readquirir rapidamente. Outras vezes pode estar adiantado, mas tenho sempre um papel As ideias pré-concebidas na questão do jantar. Isto para as que o cidadão comum tem pessoas terem a perceção de como dos políticos, como por a minha vida é igual à de muitas exemplo, a expressão “os outras pessoas. Vou às compras e faço uma correria muitas vez- políticos são todos iguais”, es. Vou muito à mercearia do meu como é que se Sra. Deputabairro, tenho sorte…Faço lá muitas da encara esta situação? compras diárias. Para além destes afazeres todos, gosto imenso de Deixa-me profundamente triste e estar com amigos. Procuro aos chateada, que as pessoas não confins-de-semana sempre que posso, sigam muitas vezes perceber. Eu estar com grupos variados de ami- acho que a comunicação social congos meus, que é sempre um prazer tribui muito para isso, com toda a e um enriquecimento para mim. E franqueza. Contribui muito para se me vai perguntar se tenho amigos que passe uma imagem muito negade todas as componentes políticas, tiva e homogénea dos políticos. As digo-lhe que sim que tenho, porque pessoas que estão na política, se é é uma pergunta que nos costumam isso que chamam políticos. Julgo fazer com muita frequência. Tenho haver comentadores políticos na amigos da esquerda à direita. Em t televisão que são mais políticos do (Risos) Eu faço aquilo que uma pessoa absolutamente normal faz. Sou uma pessoa muito ocupada porque tenho dois filhos, tenho de acompanhar…

entes. Se pensarmos do partido que está mais sentado à esquerda para o partido que está mais sentado à direita, são pessoas com ideologias diferentes, com ideias diferentes e o debate ideológico é extraordinariamente saudável. A presença e a imposição do pluralismo e a divergência de ideias, na procura de uma consensualização de projetos também são enriquecedoras. Agora eu não posso “apanhar por tabela” por algo que eu contesto na Assembleia da República. Eu fartei-me de denunciar no Parlamento, que não suporto que uma determinada pessoa diga numa campanha eleitoral “não vou aumentar impostos” e chega ao governo, faz exatamente o contrário. Dá o dito por não dito, diz que não foi bem isso que disse ou procura ignorar. É uma das coisas que me deixa mais frustrada, em todo o discurso que ouço na Assembleia da República, é ouvir as pessoas a mentir desta forma. Quando dizem “são todos iguais”, eu não suporto que me associem a este género de comportamento e a esta forma de estar na política, que não é a minha forma de estar na política nem do meu projeto. É preciso procurar desmistificar essa questão e a comunicação social tem


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um papel importante, porque transporta a divergência e o debate de ideias, mas também todas as denúncias que se vão fazendo. Muitas vezes não o faz.

Quais as grandes influências da Sra. Deputada e que acabaram por ditar aquilo em que acredita atualmente? Eu não sei. A minha maior influência foi talvez o meu próprio percurso de vida. O nosso percurso de vida é influenciado por uma multiplicidade de fatores e de pessoas, que nos vão influenciando sem nós termos exatamente essa perceção de que estamos a ser influenciados.Eu sou filha de um casal que teve uma infância e uma juventude difíceis na época do fascismo. De certeza absoluta que, a história que os meus pais contaram-me da sua infância e juventudeme influenciaram imenso. A perceção que eles me transmitiam da injustiça que era uma enormíssima fatia da sociedade viver na pobreza, para que uns poucos tivessem muito e conseguissem concentrar e cavalgar sobre a sua riqueza. A ideia do que significou o fascismo em termos de medo, de ausência de liberdade e constrangimento da vida de tanta gente,influenciou-me. Quando se deu o 25 de Abril tinha 4 anos, portanto não tenho recordação nenhuma daquilo que seria o fascismo na vida diária das pessoas. No entanto,fui ouvindo a forma como tudo isso influenciou a minha família enão só. Muitas pessoas quando falam do 25 de Abril e as pessoas que o viveram brilham-lhes os olhos (risos). Aquilo foi de tal maneira intenso que, às vezes, tenho imensa inveja, porque foi um período de intensidades atrás de intensidades.Sem ter essa consciência fui construindo o meu pensamento político e as minhas curiosidades. As minhas respostas foram construídas por toda essa realidade e todas essas pessoas que me foram certamente influenciando.

Deputada dos Verdes, Heloísa Apolónia, na Assembleia da República (Fonte: DR)

Bilhete de Identidade: Heloísa Apolónia - Heloísa Apolónia - 45 anos - Licenciada em Direito - Jurista e Deputada na XI Legislatura

Comissões: - Comissão de Economia e Obras Públicas - Comissão de Educação, Ciência e Cultura - Comissão do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local


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Future Places: o futuro na Invicta De 15 a 18 de Outubro, o Future Places voltou numa sétima edição, repleta de inovação, debates e novos desafios. O media lab englobou as mais variadas atividades, desde uma aula para não-guitarristas até à experiência da rádio biológica.

Após seis edições, o Future Places regressou em 2014 com a mesma essência de sempre: providenciar a todos os que assim o desejarem, uma série de atividades, que permitirão refletir sobre o panorama dos medias digitais e sobre a própria sociedade. Este ano, o destaque foi para o tema da liberdade de expressão e todas as suas variantes. A sessão de abertura contou com a presença da ativista Jillian York, cuja apresentação centrou-se na segurança dos dados pessoais. As redes sociais e os governos foram as áreas mais salientadas pela norte-americana como aquelas mais suscetíveis à falta de privacidade e segurança. O primeiro dia contou ainda com uma aula de não-guitarristas. “The OportoSmouth Sinfonia” pretendeu romper com o conceito do “Guitar Hero”, ao convidar pessoas sem qualquer formação musical a embarcarem numa experiência, onde os acordes de guitarra funcionavam como uma metáfora para a expressão de cada participante. Com desafino ou não, a intenção era libertar os participantes de qualquer ideia pré-concebida relativamente aos guitarristas e à música. Os formadores deste citizen lab, Anselmo Canha e José Maria Lopes, insistiram na liberdade de cada um e relembraram que não precisavam

de imitar ninguém. O workshop resultou na formação de uma pequena banda experimental, que no final do primeiro dia do Future Places, atuou no Passos Manuel. A reflexão assumiu desde o início do evento, uma parte fulcral. O segundo dia reservava uma “round table”, onde a liberdade de expressão deu o mote para as intervenções dos oradores. Jillian York, Len Massey, Sara Moreira e Heitor Alvelos debateram entre si e com o público, de acordo com a sua experiência, aquilo que mais poderia significar nos dias de hoje, o conceito de liberdade. Música, política e a expressão “comunidade” acabaram por ser os exemplos mais referidos pelos oradores, que não esconderam o facto de 2014 ser o ano da mudança, da reflexão e da consciencialização. O dia seguinte, o terceiro de Future Places, apresentava algo novo: a rádio biológica. “WTF is biological radio?” era uma novidade para o evento, para os participantes e prometia não deixar ninguém indiferente. A rádio biológica requeria sobretudo, pensar a comunicação. Não num sentido mais lato e racional, mas num sentido filosófico. Individualmente e a pares, os participantes deste workshop foram

convidados a exprimirem-se por meio de palavras, não esquecendo Escrever o fluxo de consciência foi um dos desafios, que deixou os mais habituados ao método, um pouco desorientados com tanta liberdade criativa. Os participantes dividiram-se em dois grupos e cada um elaborou uma pequena gravação com base nos exercícios feitos durante a tarde. Idalina Correia da Silva, coordenadora deste laboratório, embora reconheça o sucesso do mesmo, acredita que para o ano o conceito possa ser alterado: “- Talvez lhe dê uma nova roupagem, faça alguma alteração e depois vai surgir de outra maneira.”. Jon Phillips surgia como um dos grandes destaques da edição de 2014. No último dia apresentou no Passos Manuel, “Rise of the superindividual”, uma intervenção que deu a conhecer, de outra forma, indivíduos cuja ação e mediatismo são impossíveis de ignorar. Esses indivíduos foram apresentados por Phillips como “superindividuals”, pessoas que detêm determinadas características em comum, que não as deixam passar despercebidas. Kim Dotcom, Julian Assange e Edward Snowden foram alguns dos visados. O ativista norte-americano, defensor do conceito de software

livre, e membro da Creative Commons, salientou o facto de que residir em Hong Kong, permitiu-lhe conheceroutras culturas, logo conhecer uma realidade mais ampla. A atualidade não foi esquecida quer através das manifestações, que têm assolado o país, quer por via dos novos “superindividuals” que estão a surgir, e dos quais ainda ninguém ouviu falar. Um jovem estudante de Hong Kong, encarado como o líder das manifestações, foi um dos exemplos apontados.

A definição Places

do

Future

Para Heitor Alvelos, comissário e autor do projeto Future Places, a importância da cidadania acaba por resumir o propósito de um evento, que já conta com sete edições: “- O Future Places coloca uma questão central em permanência, desde sempre e para sempre, porque a questão nunca tem resposta final: Como é que os novos media podem ajudar a construir uma cultura e uma sociedade mais justas, mais saudáveis e mais criativas?”. Os novos desafios justificam cada edição e motivam o “olhar para a realidade já existente” e a aprendizagem contínua e mútua. “A próxima edição já começou”, é a garantia de Heitor.


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Investigadores da UP ajudam a desenvolver novas terapêuticas para o Alzheimer Três equipas de investigação do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto integram um estudo internacional de investigação de uma nova terapêutica para a doença de Alzheimer. O estudo foi financiado pela iniciativa de angariação de fundos “La Marató”, promovida pelo canal de televisão espanhol TV3 e terá a duração de três anos.

Projeto português sobre o VIH ganha 100 mil euros

Travar a infeção do vírus do VIH é o objetivo da investigação. O projeto foi um dos vencedores de um concurso europeu no qual recebeu um financiamento de 100 mil euros para os próximos dois anos. A investigação é pioneira na terapia genética.

(Fonte: DR) (Fonte: DR) Com o título “Programa de rastrieo racional de compostos estabilizadores da união transtirretina-Aβ como potenciais fármacos modulares da doença de Alzheimer”, o projeto tem como objetivo a procura de terapias para a doença de Alzheimer. Para além do IBMC, também participam na investigação o Instituto de Química Avançada da Catalunha (IQAC), o Centro de Investigação Cooperativa em Biomateriais, de San Sebastián, e o Centro de Investigações Biológicas, em Madrid. Em comunicado, Jordi Quintana, do IQAC, afirma que o estudo contempla “todas as fases do desenvolvimento inicial de fármacos, desde o desenho computacional de compostos que interagem com o complexo de proteínas até aos testes em animais, passando pela química médica, a biologia estrutural e os ensaios bioquímicos e celulares”. Segundo Isabel Cardoso, responsável pela participação do IBMC no projeto, o objetivo é eleger uma molécula “capaz de ligar a proteína transtirretina (TTR) ao peptídeo beta-amilóide (Aß) de

forma eficaz, para entrar, depois, em testes clínicos”. De acordo com a investigadora, este peptídeo é o principal causador da doença. Esta substância destrói a ligação entre os neurónios, o que leva à morte das células cerebrais. Este projeto poderá levar, eventualmente, à criação de um medicamento para o Alzheimer. No entanto, o trabalho não é fácil. “Esperamos que o nosso trabalho seja uma contribuição para se seguir para o próximo passo: os ensaios clínicos”, afirma Isabel Cardoso. O Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto tem um papel importante nos testes centrais do projeto: “verificar quais das moléculas sintetizadas pelos investigadores da área química aumentam a ligação entre a proteína transtirretina e o peptídeo beta-amilóide, e, depois, testar os compostos selecionados em ratinhos”. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 35,6 milhões de pessoas têm demência. 60 a 70% dos casos são doentes de Alzheimer.

“Este tratamento permite que se controle a infecção do VIH na ausência de medicação anti-retroviral”, diz Pedro Borrego sobre o projecto que começou a desenvolver no doutoramento. A investigação tem por base atacar o vírus em duas frentes sem ajuda dos anti-retrovirais. Por um lado, o objectivo é evitar novas replicações, por outro, é inutilizar o ADN viral que está escondido no genoma de muitas células. No trabalho também estão envolvidos Nuno Taveira, investigador principal da equipa de Pedro Borrego, e Helena

Florindo, investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. “A entrada do vírus numa célula vai ser impedida pela expressão genética de uma pequena proteína que se liga ao vírus e impede que este entre nessa célula”, diz Pedro Borrego, explicando como pretende travar a replicação do vírus. Durante o trabalho de doutoramento, o cientista identificou pequenas proteínas, chamadas de péptidos, muito eficazes em bloquear a entrada do vírus.


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IV Congresso Internacional de Ciberjornalismo discutiu a qualidade e a credibilidade do jornalismo online A Faculdade de Letras da Universidade do Porto recebeu a 4 e a 5 de dezembro, a quarta edição do Congresso Internacional de Ciberjornalismo. O congresso, primou mais uma vez, pelo debate e a reflexão na área do jornalismoonline. Nomes como John V. Pavlik, António Granado e Neil Thurman foram “cabeças de cartaz” em algumas das conferências do evento.

(Fonte: DR) O primeiro dia do ObCiber iniciava com a conferência de John V. Pavlik, naquela que foi uma das mais concorridas de todo o congresso. O professor e investigador académico da Universidade de Rutgers, em Nova Jérsia nos Estados Unidos, apresentava “The News Code: Implications of Data, Algorithms and Connectivity for Journalism Quality in the Digital Age”, e lançavaa discussão sobre o papel do jornalismo numa era em que o tratamento de dados é necessariamente diferente, e a profissão está sob escrutínio do público e do próprio regime democrático. “Jornalismo, jornalistas e democracia” foram dimensões privilegiadas por John Pavlik, onde salientou a necessidade de os profissionais da área terem liderança. As novas formas de “dar vida” aos dados não foram desenquadradas do contexto da liberdade de expressão, tal como o professor universitário referiu: “Os jornalistas revelam

supostos segredos, não para embaraçar, mas para revelar práticas erradas”. Pavlik acredita que os dados são essenciais para conceder uma visão alargada da realidade e que revesti-los de um caráter mais humano pode ser recompensador. A previsão de que um dia o jornalismo seja feito por máquinas, não é descartada – “O jornalismo humano tem de estar num novo nível.”, afirma o investigador norte-americano. A organização da informação e toda a tecnologia que lhe está agora inerente, requer o desenvolvimento das redações, a participação ativa dos cidadãos e o próprio ensino nas escolas de jornalismo.

abertura de John Pavlik, foi a vez de alguns investigadores darem a conhecer os seus estudos na área da qualidade e da credibilidade do ciberjornalismo. Um dos painéis, sob moderação do professor universitário e membro da organização, Fernando Zamith, recebeu comunicações desde Portugal, Espanha e Brasil. Com o estudo “Qualidade do ciberjornalismo profissional e amador: Estudo comparativo”, Fernando Zamith expunha como o jornalismo online pode beneficiar com a participação dos cidadãos e que ferramentas poderão ser utilizadas para medir a sua qualidade. Daniela Ramos em “Formatos digitais: qualidade e credibilidade no Estudos de investigação jornalismo brasileiro” enaltecia a atentos ao ciberjornalismo responsabilidade política que o jornalismo detém nas sociedades deOs painéis de comunicação tiveram mocráticas e como a semiótica e a um papel fundamental na quarta origem dos dados numa reportagem edição do Congresso de Ciberjor- podem condicionar a qualidade de nalismo. Após a conferência de uma peça.

No estudo “A importância da verificação no ciberjornalismo: o Manual de Verificação como ferramenta básica para evitar erros”, Miguel Veja salientava a importância de um jornalista verificar todos os factos e utilizou uma frase que fez rir a audiência – “Se a tua mãe diz que te ama, verifica logo.”. O professor universitário de Espanha não olha para a participação dos cidadãos como uma ação prejudicial para o jornalismo, mas atenta que não possuem a mesma formação que os profissionais. Flávio da Costa centrou a sua apresentação na instantaneidade do ciberjornalismo, e não deixou de tecer críticas a muitas peças jornalísticas que são divulgadas na Internet: “Jornalismo rápido, mas feito à pressa”. A tirania do tempo que coloca sob pressão os profissionais, tem conduzido a um aumento da velocidade, mas a uma significativa descida da qualidade jornalística.


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Jornalismo: Já gastamos as palavras? A conferência de António Granado surgiu como aquela que provocou mais tumultos no público, seja pelas gargalhadas que suscitou ou pela quantidade de questões com que o professor universitário, foi interrogado no final da mesma. Com uma frase de um poema de Eugénio de Andrade “Já gastamos as palavras pela rua, meu amor”, António Granado intitulava assim a sua apresentação e enunciava o jornalismo como o “meu amor”. Porém, se a audiência pensava que estariam perante uma visão romântica da profissão, essa hipótese não se verificou. O ainda jornalista concedeu um olhar pessimista sobre a comunicação social em Portugal e interrogava: “O que temos andado a fazer?” A degradação daquilo que acredita ser a qualidade do jornalismo, tem-se verificado na redução dos trabalhadores nas redações, na imitação de peças e na própria moral dos jornalistas. “Estamos há anos e anos, a enganar os leitores” – reforçou. As declarações de fontes anónimas sem substância e a criação de perfis falsos nas redes sociais “para dar a ideia de que os jornais ainda têm leitores”, foram alvo de crítica. O professor universitário prenuncia que o jornalismo de qualidade nos meios de comunicação mainstreamvai-se esgotar.

Dois dias de contínua reflexão Neil Thurman avançava como um dos nomes de destaque do congresso e a conferência “Speed, sources, andsubstantiation: Risksandopportunities in real-time onlinereporting” no segundo dia de Obciber, motivou a reflexão das peças jornalísticas feitas em live blog. O investigador britânico começou por esclarecer que o jornalismo de cidadania apresentava problemas, mas que a sua aceitação é viável. A apresentação partiu da seguinte interrogação: “Como é que a qualidade pode ser mantida com tanta informação por verificar?”. De facto, a questão mantém-se no online e ganha mais dimensão quando as publicações em tempo real se tornam mais comuns que a tradicional cobertura das notícias. A tensão crescente nas redações, nova dimensão. A possibilidade foi salientada por Neil Thurman, de recriar uma realidade existente visto que nem todos os profission- e a sensação de estar no lugar dos ais concordam que muitas notícias acontecimentos são as grandes sejam tratadas como um evento valências do jornalismo imersivo. em direto eque a divulgação das A investigadora espanhola comenmesmas seja feita em tempo real. tou que o realismo na tecnologia O contexto, uma abordagem equil- assume um papel importante e que ibrada e a capacidade de admitir recursos como o som são imprecorreções podem auxiliar o jornal- scindíveis, quando o objetivo é criismo enquanto percursor dos live ar a sensação de presença. blogs e “guardião” da transparên- Um dos painéis de comunicação cia. do segundo dia, com a moderação do professor Vasco Ribeiro, deu Os desafios dos jornalistas a conhecer com Bárbara Yuste e Humberto Martínez-Freseda, os numa nova era desafios que o jornalista poderá ter Eva Domínguezcom a conferência de enfrentar no futuro. A importân“Periodismo immersivo. Funda- cia de determinados valores como mentos para una forma periodística a humildade, a ética ou a coerênbasada en la interfaz y en la acción” cia, assumem posição privilegiada transportava o jornalismo para uma na definição de jornalista. Servir

António Granado, professor e jornalista da Universidade Nova de Lisboa (Fonte: DR) a sociedade e conhecer de raiz o conteúdo publicado são dimensões que diferenciam os jornalistas dos outros produtores de conteúdos. BisseraZankova e Iliana Franklin, em “CreativityandInnovation in the New Digital Environment” reforçavam, tal como os outros conferencistas, a mudança de paradigmas no jornalismo, com a imersão das novas tecnologias. AskeKammer dava entrada no mundo das redes sociais em “Social Media andTransformation to the Role oftheJournalist”, ao apresentar uma reflexão sobre a constante negociação entre o domínio público e pessoal, que um jornalista tem de executar diariamente. Vagner de Alencar deu a conhecer à audiência do Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da Univer-

sidade do Porto, o blogMural, um projeto de jornalismo colaborativo no Brasil. Um dos objetivos do projeto é mostrar a vida nas periferias de São Paulo e desmistificar algumas ideias que possam existir relativamente a estes lugares. Em funcionamento graças à ajuda de jovens estudantes de jornalismo, também residentes nas periferias, e de cidadãos anónimos, o Mural pretende mostrar uma abordagem mais humana de locais desconhecidos para o público em geral. A quarta edição do Congresso de Ciberjornalismo contou com a presença de vários especialistas na área, sendo que a diversidade de temas nas conferências demonstrou que no jornalismo online, o debate e a reflexão são um processo contínuo e permanente.


DESPORTO

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Matraquilhos chegam às escolas e também às universidades

Nova modalidade desportiva junta o futebol e o golf

A Federação Portuguesa de Matraquilhos e Futebol de Mesa quer introduzir os matraquilhos no desporto escolar e universitário, a partir do próximo ano. O objetivo é aproximar os mais jovens desta modalidade.

Footgolf é a nova modalidade desportiva que conquistou os portugueses. Já são vários os países que aderiram ao jogo de futebol no campo de golfe. Portugal recebeu pela primeira vez a competição europeia de footgolf. O objetivo é num só remate fazer entrar a bola num buraco.

(Fonte: DR)

(Fonte: DR) “A partir de 2015 vamos tentar entrar nas escolas e fazer o campeonato nacional de escolas e universidades. Isso será importante para trazer mais jovens a disputar o campeonato da federação.”, explicou Vítor Bessa,presidente da Federação. O apoio das autarquias é bastante importante para iniciar o projeto em 2015 e os primeiros contactos já começaram a ser feitos. “Já estamos a entrar em contacto com as câmaras do país, mas é um longo processo, é demorado. Queremos que esteja implementa-

do a partir de 2016.″ Com o crescimento de adesão dos jogos eletrónicos, os jovens foram deixando para trás alguns jogos antigos como os matraquilhos, criado em 1936 durante a Guerra Civil espanhola, com o objetivo de entreter os feridos que não podiam jogar futebol. Com a integração dos matraquilhos nos estabelecimentos de ensino, Vitor Bessa tenta chegar a “alguns milhares” de jovens interessados na modalidade.

Campeã do mundo de bodyboard é portuguesa A atleta Teresa Almeida recebeu a medalha de ouro no campeonato mundial de bodyboard em Iquique no Chile. Foi na final que a atleta do Clube de Desportos Alternativos de Nazaré ganhou a medalha de ouro na categoria feminina ao vencer a venezuelana Yuleiner Gonzalez, a francesa Yuleiner Gonzalez e a brasileira Neymara Carvalho. Em Iquique para a competição de

bodyboard apresentaram-se mais de 170 atletas provenientes de 24 países distribuídos por cinco ramos desportivos. Teresa Almeida sagrou-se em outubro vice-campeã europeia na competição de bodyboard em Marrocos.

A etapa final do First European Trophy Tour 2014 é realizada em Portugal pelas mãos de Marie Coudernt coordenadora da Associação Desportiva Portuguesa de Footgolf “É a primeira vez que acontece uma prova internacional europeia. Acredito que este torneio vem credibilizar e mudar o panorama do footgolf em Portugal”, diz Marie. O desporto foi introduzido em Portugal pela francesa Marie Coadernet e pelo marido o australiano Gary Nairn quando chegou ao nosso país com a família para começarem uma nova vida. “Percebi que Portugal é um sítio fantástico para jogar footgolf, tem bons campos de golfe, um clima fantástico e muitos adeptos de futebol.” Em 2012, Marie, membro da Federação Internacional de Footgoolf na Holanda,organismo que tutela a modalidade, criou a Associação Desportiva Portuguesa de Footgolf. A entrada do desporto não têm sido fácil. A utilização dos campos de golf tem se tornado uma barreira ao footgolf, não deixando crescer a modalidade “A recetividade ao meu projeto foi favorável o início, mas os responsáveis pelos campos de golf

não querem fazer nada. Há campos de golf completamente vazios e parecem preferi-los assim. É estranho porque o footgolf permite que o campo seja usado fora das horas de ocupação do golf, tornando-o mais rentável,” afirma Marie. O problema existente em Portugal pode estar relacionado com a falta de visão e por preconceito. “Algumas pessoas não aceitam pagar caro para serem membros de um clube de golf e depois aparecem jogadores que só pagam cinco euros para fazer footgolf durante algumas horas no mesmo campo. Mas, na realidade, no footgolf não usamos o green. Os nosso buracos são outros e não vamos ao green porque utilizamos a relva normal. A manutenção é mais barata.”

Afinal o que é o footgolf? O objetivo da modalidade, que não é futebol nem golf, é pontapear a bola de futebol a partir do “tee”, e depois é ir rematar a bola desde o ponto onde ela cai até à “buraliza”. O jogo é individual e não conta a necessidade de haver árbitros, segundo refere o site oficial da modalidade na internet.


DESPORTO

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Real Madrid expulsa 17 adeptos dos jogos

Declarações de Paulo Futre chocam Espanha

O clube madrileno terá aberto um processo contra 17 adeptos, em virtude de insultos dirigidos ao jogador Leonel Messi durante o jogo Real Madrid – Celta Vigo a 7 de Dezembro.

O antigo jogador de futebol português divulgou ao jornal Record, práticas de manipulação de resultados que terão sido mantidas, enquanto jogava no Atlético de Madrid na década de 90.

(Fonte: DR)

(Fonte: DR)

A morte de um adepto nas imediações do Estádio Vicente Calderón a 30 de Novembro em Madrid, à margem do jogo entre o Atlético de Madrid e o Deportivo da Corunha, têm motivado a repulsa pela Liga Espanhola de Futebol e conduzido a ações mais firmes relativamente à conduta anti-desportiva. Embora o comportamento em pouco se compare, o Real Madrid, segundo informações divulgadas pelo El Mundo, terá aberto um processo contra 17 adeptos, pertencentes às fações mais radic-

ais das claques, depois de ter constatado a proliferação de insultos a Messidurante um jogo. As consequências serão ainda mais penosas para estes adeptos, uma vez que o clube madrileno estará a pensar proibir a entrada destes em jogos no Estádio do Santiago Bernabéu. A violência em estádios de futebol e as condutas menos aceitáveis como os insultos e cânticos ofensivos estão sob o olhar atento da Liga Espanhola, que pretende punir todos os que transgridam as normas.

Espanha ficou em choque com as declarações de Paulo Futre ao jornal desportivo português, Record. As suas palavras fizeram eco em inúmeros meios de comunicação social espanhóis e provocaram inúmeras reações em antigos jogadores e figuras do futebol em Espanha. Segundo Futre, o ex-presidente do Atlético de Madrid, Jesus Gil y Gil, terá pedido aos jogadores para perderem o jogo com o Espanhol de Barcelona. Na época 1990/1991, no então jogo entre o Atlético de Madrid e o Espanhol de Barce-

lona, estaria em jogo a descida de divisão desta última equipa. A vitória na partida impediu que tal facto acontecesse, porém a serem verdadeiras as declarações de Paulo Futre, a situação avançaria para um caso de clara manipulação de resultados. Colegas de equipa de Futre na altura dos acontecimentos, como Patxi Ferreira ou Alfredo Santaelena desmentiram as declarações do antigo internacional português.

E se os Jogos Olímpicos fossem em mais de um país? O Comité Olímpico Internacional (COI) aprovou algumas medidas que irão transformar um dos eventos desportivos mais conhecidos do mundo. A diminuição do número de desportos em competição ou a dispersão do evento para vários países são normas a implementar a partir de 2020. Em 2016, os Jogos Olímpicos vão ter como casa o Rio de Janeiro no Brasil, porém até lá o Comité Olímpico Internacional tem trabalhado no sentido de diminuir os custos do evento, e assim fazer face a algumas críticas que reinam na opinião pública relativamente aos exacerbados valores despendidos. A127ºsessão no Mónaco, no qual foram levadas a voto cerca de 40 propostas, contou com a presença de 94 membros do COI de um total de 104 membros. A proposta de os Jogos Olímpicos se alargarem a outras ci-

dades e até a outros países foi votada favoravelmente. Além disso, a redução do número de desportos em competição para 28 foi aceite, assim como a criação de um canal televisivo permanente para a cobertura do evento. O Comité Olímpico Internacional espera ainda ver aprovadas até 2020, medidas que promovam e melhorem a ética dos Jogos Olímpicos nos mais variados níveis.


CULTURA

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A 35º edição do Portugal Fashion “desfilou” pela Alfândega do Porto

Dupla portuguesa vence prémio de moda em Inglaterra

Depois de passar por Lisboa, o Portugal Fashion esteve por lugares emblemáticos do Porto, de 23 a 25 de Outubro. Com o tema SPRINKLE, os criadores lançaram as propostas para primavera/verão do próximo ano.

Marques’Almeida venceram o prémio na categoria “Talento Emergente” dos British Fashion Awards. Nomeados pela segunda vez consecutiva, a dupla portuguesa que iniciou os estudos de design de moda no Porto, conquistou o reconhecimento internacional.

(Fonte: DR)

Além da Alfândega, as coleções passaram pelo Palácio dos CTT, Mosteiro de São Bento da Vitória e Conservatório de Música do Porto. O line-up foi constituído por nomes de criadores já “bem” reconhecidos nacionalmente, como por exemplo: Katty Xiomara, Fátima Lopes, Luís Buchinho, Anabela Baldaque e Miguel Vieira. Foi de destacar o regresso de Nuno Baltazar, passados 8 anos à passerelle do Portugal Fashion. A colecção”Wire Frame” Katty Xiomara foi apresentada de uma forma original. A plateia ficou surpreendida quando as modelos se sentaram ao seu lado e integraram a plateia antes de começar a desfilar. A maneira como começou foi adequada, visto que a colecção não descurou o lado práctico e urbano que a mulher precisa no seu dia-a-dia. Também os jovens criadores do Espaço Bloom foram o “espelho” do futuro da moda e as escolas de moda (Árvore, MODATEX, EAD

E EMP) deram a conhecer os trabalhos finais dos seus alunos. Foram demonstradas colecções com cortes irreverentes, inspirações orientais, jogos simétricos, entre outros. Carlos Feiteira da EMP (Escola de Moda do Porto), apresentou a sua colecção “Young Nature” no âmbito da plataforma Bloom. Com inspiração na natureza e na cultura oriental, o jovem criador apresentou três propostas para a primavera-verão 2015. Uma colecção clean, com cortes originais, onde as cores predominantes são o verde, o branco e o rosa. Algumas marcas nacionais também desfilaram, como é o caso da Lion of Porches, que apresentou um tema “Old Navy” . O calçado nacional também foi representado por marcas como Dkode e Fly London. Em 4 dias, os 33 desfiles foram vistos por cerca de 30 mil pessoas.

Marta Marques e Paulo Almeida participam desde 2010 na semana da moda de Londres, uma cidade que já lhes diz muito quer outrora enquanto estudantes de moda, quer agora enquanto profissionais. Depois de terem concluído o curso de Design de Moda no Citex, no Porto, viajaram para Londres com o objetivo de alargar horizontes e frequentar o mestrado na Central Saint Martins. Marta acabou por estagiar com Vivienne Westwood e Paulo com marca Preen e em 2011 surgiu a ideia de criarem uma marca própria, a Marques’Almeida. O sucesso do projeto refletiu-se não só no reconhecimento de algumas das mais conhecidas figuras do star system como Beyoncé e Rihanna, que vestiram criações made in Portugal, como na venda de uma minicoleção na multinacional britânica, Topshop. O British Fashion Council, uma organização não-governamental que se dedica à divulgação da moda e dos designers britânicos, e organizadora do evento British Fashion Award, premiou a dupla portuguesa que não deixou de sentir orgulho no reconhecimen-

to. “Estamos muito orgulhosos por fazer parte desta indústria e pelo British Fashion Council nos ter acompanhado e acreditado em nós”, foram algumas das palavras de Marta Marques no discurso, no qual teve tempo para agradecer a Louise Wilson, professora de mestrado na Central Saint Martins, e indicada como uma das pessoas que marcou o percurso de ambos. A concorrer para o prémio “Talento Emergente” estavam também os designers 1205 e Thomas Tait. Marques’Almeida encontra-se atualmente difundida um pouco por todo o mundo. Desde os Estados Unidos da América até ao Cazaquistão, a moda portuguesa está representada por via destes dois designers.


CULTURA

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Santuário de Fátima comemora Centenário das Aparições

E se recebesses um postal de outro lado do mundo?

As comemorações começaram no ano de 2010 com o estabelecimento do Itinerário Temático do Septenário até ao Jubileu das Aparições,em 2017. Em cada ano pastoral ocorrem várias ações e eventos associados ao tema de cada ciclo.

A Postcrossing foi criada há em julho de 2005 por um português e pretende encher as caixas de correio vazias. Já foram trocados mais de 16 milhões de postais por todo o mundo.

(Fonte: DR) (Fonte: DR) “A Comissão Organizadora do Centenário das Aparições de Fátima (COCAF), aquando da preparação e organização do programa para a celebração do centenário, teve e continua a ter, emprimeiro lugar, a preocupação em divulgar a mensagem que foi deixada em Fátima para o mundo inteiro.” refere a assessora Carla Vaz. A mensagem de Fátima é para todos, “desde o peregrino mais simples ao peregrino mais letrado; desde os peregrinos mais pequenos aos mais crescidos, desde os peregrinos portugueses aos peregrinos espalhados por todo o mundo.” Para o ano de celebração

do Centenário das Aparições de Fátima estão previstas vários eventos não só a nível religioso,mas também, a nível cultural,“Parece-nos que religião e cultura estão intrinsecamente ligadas” afirma Carla Vaz. Recriar a história de Fátima foi a proposta apresentada para os eventos de cariz cultural. No ciclo de 20162017 serão apresentados um teatro-musical dirigido pele Elenco Produções sobre a mensagem de Fátima e uma coreografia realizada pelos coreógrafos Cláudia Martins e Rafael Carriço que refletirá a luz de Fátima no mundo.

Com a chegada das novas tecnologias, as velhas formas de comunicar foram deixadas de lado. O hábito de abrir a caixa de correio e encontrar, para além das contas e da publicidade, um postal ainda não se perdeu. São mais de 5 mil portugueses que aderiram ao Postcrossing. “Num mundo de Twitter, Facebook e e-mail, fazem cada vez mais falta formas de comunicação com significado, que não sejam descartáveis, distantes.Um postal é perfeito para isso.É pessoal, íntimo, táctil. Alguém o escolheu, escreveu à mão uma mensagem só para ti, colocou um selo e depois enviou-o por correio”. Diz Paulo Magalhães fundador do PostCrossing. A ideia do projeto baseia-se no envio de postais,envia-se um postal e recebe-se outro. O processo é simples e gratuito. O primeiro passo é registar-se no site. Depois pede-se a morada de

um utilizador,envia-se o postal e espera-se que a troca comece. “Cada troca é única e acontece sempre com pessoas diferentes. Deste modo, o sistema assegura que os postais que se recebem vêm sempre de sítios inesperados. E que há sempre uma surpresa à nossa espera quando abrimos a caixa do correio”, afirma Ana Campos namorade de Paulo Magalhães. O projeto funciona devido “à surpresa, o prazer de chegar a casa e encontrar qualquer coisa que não contas ou publicidade à nossa espera na caixa de correio” e a”empatia/dedicação.”Quando recebemos um postal, sabemos que alguém que não conhecemos, algures noutra parte do mundo, dedicou uns minutos do seu dia a escrever este postal para nós.” acrescenta Ana Campos. No site podem observar-se os postais digitalizados e listá-los por países ou por postcrossers.


CULTURA

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Ainda há talento por descobrir em Portugal Carlos Feiteira tem 18 anos e terminou este ano o curso de design de moda na Escola de Moda do Porto (EMP). Foi o melhor aluno da escola e por isso ganhou um lugar no Espaço Bloom da 35ª edição do Portugal Fashion que decorreu este ano na Alfândega do Porto. Em entrevista ao Sebenta, Carlos fala da sua experiência e do estado da moda em Portugal. Porquê que decidiu estudar é produzida em grandes quantidades e um designer faz em pequenas quantimoda? dades, logo fica-lhe mais caro e o cliEu nunca tive a moda como um futuro para mim, mas gostava muito de estética e tudo o que tenha a ver com a beleza, acho que sempre me senti atraído. Então foi uma opção vir para moda porque acho que englobava tudo o que eu gostava.

ente vai ter de pagar mais. Também por ser novidade e exclusividade, também se paga.

Acha que hoje em dia a formação é essencial para vencPorquê que ainda não coner no mundo da moda? correu ao Espaço Bloom?

A sua família apoia-o nessa Sim. A pessoa nasce ou não nasce com talento, mas aprendem-se muitas coi- Eu acabei agora o curso. A próxima sua decisão?

sas como as técnicas, estamparia, bor- etapa seria o Espaço Bloom, mas para isso é preciso um investimento moneSim, a minha família foi fundamental. dados... Sim, aprende-se muito numa tário muito grande e eu não tenho essa escola e é essencial. Sempre me apoiaram, sempre quiserestabilidade financeira ainda para podam que eu fosse mais longe e sempre er concorrer. investiram em mim. Foi muito impor- E acha que Portugal está capacitado para ensinar moda? tante.

Mas é a sua intenção?

Sei que a moda e a dança são duas das suas paixões. Consegue combinar as duas?

Eu acho que há muitas escolas que não sabem ensinar moda. Mas também há outras como a EMP que eu acho que são muito boas. A nível de experiências, a EMP é talvez das melhores escolas do nível secundário.

Durante o curso foi muito complicado. Temos muitos trabalhos para fazer e conciliar com as horas de treino é muito complicado. Mas acho que se Num país em crise como Porformos bem organizados e metódicos, tugal, onde a primeira área a conseguimos conciliar as duas coisas. sofrer cortes é normalmente

Como é que foi estagiar com a Anabela Baldaque? É uma pessoa super simpática e muito acolhedora. E o espaço dela também é muito acolhedor. Senti-me muito bem lá e adorei a experiência de estar lá com ela. Aprendi muito.

Sim, gostava muito. Ao Bloom ou ao Sangue Novo, na Moda Lisboa.

De que forma é que o Espaço Bloom é importante para os jovens criadores?

Acho que o Espaço Bloom é uma plataforma que o Portugal Fashion criou que ajuda os jovens criadores a tera cultura, existe algum tipo em uma maior visibilidade. E é muito de apoios para jovens cri- bom para angariar clientes e novas adores? oportunidades de negócio. Se estivermos a falar de jovens criadores independentes que se lançam sozinhos, aí é muito difícil arranjar patrocinadores e pessoas que colaborem connosco. Mas se participarmos em concursos ou estivermos por exemplo no Bloom, aí o Portugal Fashion já nos ajuda a angariar patrocinadores e pessoas que nos apoiam através dessa plataforma.

Tendo em conta que vivemos numa sociedade consumista e que se inspirou na natureza para a sua coleção no Espaço Bloom, acha que deveria ser uma preocupação dos jovens criadores utilizar materiais mais amigos do ambiente?

Mais ou menos. Depende do criador, porque só pela marca também se paga. Ir para o estrangeiro é uma É preciso ter um nome e estatuto, mas possibilidade para si? normalmente é um pouco mais cara do que nas lojas. Porque nas lojas a roupa Talvez, no futuro.

Acho que sim, não só da parte dos jovens criadores, mas de todas as pessoas, porque o ambiente é nosso, é de todos. Acho que todos devem cuidar do ambiente e da natureza.

Será que a moda de criadores é acessível a todas as pessoas?

CITAÇÕES

“Eu nunca tive a moda como um futuro para mim” “O Espaço Bloom (...) ajuda os jovens criadores a terem uma maior visibilidade”


CULTURA

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Comemora-se a liberdade no Festival de Cinema Português em Londres Cinco filmes portugueses são apresentados no 5ª edição do Festival de Cinema no Reino Unido. Celebra-se o 40º aniversário da Revolução dos Cravos. O Festival tem a duração de dois dias. A abertura está ao encargo de Ana Maria Magalhães com o filme “Reidy- A Construção de uma Utopia”. O filme retrata a “liberdade de criação” do arquiteto urbanista Affonso Eduardo Reidy, pioneiro da arquitetura moderna no Brasil e de alguns projetos marcantes

no Rio de Janeiro. Ainda serão apresentados o documentário “Operações SAAL”, de João Dias, “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu, “Cinema - Alguns Cortes: Censura III”, de Manuel Mozos, e “E Agora?

A senhora do folk está de volta a Portugal O regresso de Joan Baez a Portugal para dois concertos, um no Coliseu do Porto, e o outro no Coliseu de Lisboa, avizinha-se em Março e Abril do próximo ano. Depois de em Março de 2010, ter presenteado Portugal com um concerto na Casa da Música no Porto e dois concertos no coliseu de Lisboa, a cantora e ativista norte-americana, regressa com 73 anos, mas sem nunca perder a música do seu horizonte. Conhecida pela atividade política e social, Joan Baez ficará para sempre associada à intervenção seja porque as suas músicas assim o estabeleciam ou porque acompanhou de perto as ações de nomes como Nelson Mandela ou Martin Luther King. Os contemporâneos da cantora conhecerão certamente a proximidade que teve com Bob Dylan e poderão muito bem concluir, que nem só de intervenção se fizeram as músicas de Joan Baez. Com uma voz mélico-doce, canções como “Diamonds and Rust”

ou “House of the Rising Sun” demonstram o caráter mais romântico do seu repertório e comprovam a variedade temática da artista. Os portugueses não são estranhos a Joan Baez, nem às suas tentativas de cantar a “Grândola Vila Morena” de Zeca Afonso, tal como se verificou na última vez que esteve em Portugal, no Coliseu de Lisboa. Um momento em que voz do público se sobrepôs à da artista, uma vez que a dificuldade em cantar em português foi notória. Ainda assim recebeu a aclamação de todos os presentes na sala. 31 de Março no Porto e 1 de Abril em Lisboa são as datas dos concertos avançadas pela promotora Everything is New e os preços dos bilhetes variam entre os 20 e os 55 euros.

CRÍTICA

Poesia Sem Portagens por Rosa Azevedo A gestação demorou três anos. Foi o tempo que passou para José Manhente, um pai, trabalhador, estudante e escritor, voltar a dar à luz um livro de poesia. Chamou-lhe“Serviços Mínimos” e registou-o na editora Mosaico de Palavras. São 85 páginas onde se podem colher as flores que Manhente plantou.Este livro presta uma consulta grátis ao leitor e faz com que sejam receitados suplementos para o desempenho mental, não estivesse o dia-a-dia do escritor ligado à saúde. Por vezes estamos tão focados em nós mesmos que decidimos ser tolos e desligar o botão que nos une à realidade dos outros. Ou será que ficamos tolos ao estar ligados ao que nos rodeia? É tentador ser egocêntrico? Delicioso ver dinheiro na nossa conta? As coisas que para nós são importantíssimas, podem não ser para Manhente. Será que um escritor nos pode levar a sentir a areia da praia? A ver as estrelasdo-mar e a sentir o São João do Porto, mesmo estando no frio do Natal? Estas são questões que só quem degusta o livro pode responder. Mas se procura quadras com cheiro a rabanadas, também lá pode ouvir o repicar dos sinos. José Manhente respeita as suas necessidades, caro leitor. Talvez seja por isso que escreve poesia, para que assim o leitor possa voar, sem nunca pagar portagens, nas asas das sílabas que não limitam as almas. A sua alma, caro leitor, pode viajar para onde quiser ao ler este livro. Porque José Manhente não usa as palavras que nin-

Joan Baez (Fonte: DR)

guém conhece (mesmo sabendo-as usar). O escritor “desenterra o óbvio”, como no seu poema “Serviços Mínimos”, que dá nome ao livro, em que, no seu jeito humorístico de retractar o sério fala da situação de Portugal e esconjura “bancos, conselhos de administração, tecnocratas, agiotas, proxenetas, praxenetas, duplas tributações, desregulamentações, burlões, deslocalizações”, entre outros e ainda deixa o leitor acrescentar quem quiser esconjurar. O livro começa com uma recomendação: “Os textos contidos neste livro podem conter linguagem ou imagética susceptível de ferir a sensibilidade dos leitores mais incautos”. Talvez Manhente o quisesse assustar, ou então aguçar o apetite, ao jeito dos títulos das notícias do Correio da Manhã. Mas não se deixe enganar caro leitor. O escritor também tem uma conta aberta no banco do amor. Ele ama as terras de Portugal, como Esposende e Coimbra, ele ama a esperança num novo amanhã, ama os domingos e ama os seus. O autor afirma que se “dependesse da escrita para viver morreria à fome”, mas mata a fome aos leitores que dependem da sua escrita.


CULTURA

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Gonçalo Cadilhe: “Nunca foi tão bom, ser jovem e querer viajar, como no dia em que estamos hoje”

Chegado aos 20 anos de carreira, Gonçalo Cadilhe decide seleccionar as fotos das suas viagens, agora com uma visão mais madura. Com a exposição e o livro “Um dia na Terra” a percorrer o país, o escritor viajante de profissão faz uma pequena retrospectiva destas duas décadas, revela projectos futuros e incentiva os jovens que sonham em viajar. Como surgiu a ideia desta ecológica, seria uma vergonha, portanto, infelizmente viajar é muito exposição “Um dia na Ter- pouco sustentável. ra”? E o programa nos passos Era uma ideia continuamente adiade Magalhães voltou a pasda. Ou seja, ao longo destes últimos 20 anos, que é metade da minha sar agora na RTP2. Para vida, tenho viajado regularmente e quando é que está previsto o arquivo de fotografias não parava um novo programa? Está a de crescer. Há muito tempo que eu pensar nisso? achava que ia querer ver uma selecção pessoal das minhas fotografias, mas continuava a adiar porque nunca sabia quando seria o dia. No sentido que: Secalhar faço hoje e amanha tiro mais uma fotografia extraordinária, que eu gostaria de ver incluída, pena já ter feito… Portanto fui adiando, e talvez tenha chegado a uma fase da minha vida que começo a ter mais calma, mais maturidade, mais necessidade de reflexão e, nesse sentido, achei que era o momento certo, independentemente do que o futuro possa trazer, a nível de mais imagens para o arquivo. Portanto, foi essa a minha opção, porque 20 anos é um bom espaço de tempo para termos a certeza que a selecção fica boa.

Sim, já estamos em fase de pré-produção, de um novo documentário de viagens baseado na História de Portugal. A RTP deu OK, a luz verde, estamos também na fase de negociar financiamento, mas há partida irá para a frente. Claro que agora é tudo mais demorado, mais complicado, por causa da falta de dinheiro. Mas o programa já passou a principal fase, que era, aquela de provar que tem interesse, que merece ser emitido. Portanto estamos em pré-produção e em princípio para o ano de 2015 passaremos às filmagens. Não vou querer explicar o que é que é, porque trata-se obviamente de segredo profissional.

Aproxima-se então uma É uma boa alternativa sus- nova rota a Itália. Como é tentar a felicidade, não no que faz para a planear? petróleo, mas na escrita e na fotografia? Bom… Isso tem a ver com o proPor acaso não é uma alternativa. Infelizmente para mim e para a minha consciência, viajar é uma actividade extremamente dependente do petróleo e uma actividade extremamente anti ecológica. Se eu me pusesse a fazer contas à minha pegada

jectoViagens com os Autores, que pessoalmente,desculpem a falta de modéstia, acho que é extremamente bem pensado. Este desafio que a Agência Pinto Lopes anda a colocar é o de dar a autores portuguese, não só escritores, basta só pensar nos presentes no painel, como o

maestro Rui Massena…Estamos a falar de música clássica, não só de literatura, mas é um projecto que eu acho muito interessante. No meu caso, os desafios andam à volta do que tem sido o material dos meus livros, as pessoas que eu tenho contactado e as experiências que eu tenho vivido. Uma vez que eu vivi em Itália nos anos 90, portanto tenho uma relação muito afectiva, muito fundamentada, Itália tem sido um destino recorrente nas minhas propostas. A próxima proposta do catálogo tem a haver com um período muito pouco conhecido, muito obscuro da história, na história da Europa, que é a queda do Império Romano e as Evasões Bárbaras, que destruíram a Itália, destruíram a civilização Ocidental e foi preciso mais de mil anos para que a Europa se conseguisse reerguer de novo. Então, esse período bastante obscuro é o que nós chamamos idade média. Aqui estamos a falar concretamente do inicio da idade média, período mesmo da derrocada das invasões bárbaras, estas serão tema da minha próxima proposta e nesse sentido ando a pesquisar quer no terreno, onde é que devemos ir, de maneira a ver o que sobra, neste caso estamos a falar do que os bárbaros destruíram e também do que os bárbaros também construíram, porque também eles acabaram por assimilar o que restava. E a nível de pesquisa, em casa, ando a ler muito sobre essa fase da história da Europa.

As mais fáceis. Que são aquelas que acho que qualquer português tem obrigação de dominar, ou seja, o inglês e o francês porque faz parte do nosso currículo, do nosso percurso académico. O espanhol, que viajando um bocadinho por terras onde se fale castelhano e passado umas semanas estás a falar minimamente bem espanhol. E depois o italiano, porque como vivi em Itália e de facto é uma língua que está na base da nossa, é muito fácil também, ao fim de algumas semanas estarmos a falar italiano, nada de… Não falo polaco, húngaro, uigure e tajique.

E a língua nunca foi um entrave nas suas viagens?

Quer dizer, a língua não é um entrave porque, como dizia um professor meu da universidade, quando um problema não tem solução não é um problema, portanto se nós não falamos a língua é assim que a viagem se estabelece, é a partir desse pressuposto. Eu costumo dizer é que quase toda a gente, hoje em dia, tem como referência de língua franca, ou seja, daquela língua que também toda a gente fala, é o inglês, portanto, é muito fácil, viajando pelo mundo, encontrar alguém, nomeadamente de uma geração mais nova, de um nível académico mais elevado, que fale inglês, portanto nunca me aconteceu estar num país onde eu não tenha aberto a boca do princípio ao fim. De qualquer das formas é uma maneira de conhecer o país que quem fala a língua não E o Gonçalo Cadilhe domi- tem acesso e vice-versa, portanto, na muitas línguas? nunca saberia o que tinha sido a


CULTURA

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Quando concluiu o curso de gestão qual foi a reacção dos seus pais quando disse que ia viver a viajar?

tos profissionais e as férias que eu faço com a família? Eu não considero viagens.

E com o seu livro, O Mundo É Fácil, uma pessoa pega Péssima. Quer dizer, é um momento muito doloroso, acho eu… Na no livro e consegue fazer o vida deles, quando eu lhes disse. que o Gonçalo Cadilhe fez? Claro que hoje em dia, estão perfeitamente apaziguados com isso, mas demorou, 7, 8, 10, 15 anos até eles perceberem que eu estava a seguir uma carreira, não apenas um capricho, e pronto, hoje em dia percebem que a minha aposta pela felicidade também resultou a nível profissional. Na altura, para eles e para mim também, que eu não sabia onde me estava a enfiar, portanto foi complicado para todos nós a minha opção de vida.

E ainda perguntam quando vai deixar esse tipo de vida? a minha viagem naquele país se eu toda a vida, hoje em dia, cada vez falasse a língua. que chove anda ai um extracomunitário a vender guarda-chuvas para E atualmente acha que os aquela tarde de chuva, por isso tejovens ainda podem juntar mos sempre no bolso aquele dindinheiro enquanto estão heiro para o guarda-chuva que depois deitamos fora. Se começarmos a estudar, para fazer uma a pensar, na quantidade de vezes viagem? que nós ao longo do dia utilizamos dinheiro. Se formos ver ao final Cada vez mais. Eu acho que agora é do mês, dou outro exemplo, já não muito mais fácil do que alguma vez vou para o exemplo da cerveja e do na nossa História, alguma vez na tabaco que cada um de nós pode História de Portugal ou na História beber uma cerveja ou comprar um da Europa, nunca foi tão fácil ganmaço de tabaco, que nem vou para har dinheiro. Há dinheiro em circuesses exemplos que são muito óbvilação, há excesso de dinheiro, nós os… Hoje em dia eu acho que 90% temos dinheiro no bolso, quer dizdos jovens, anda com uma tatuaer, pensem há uns anos atrás que, gem, eu não sabia quanto é que fieu ainda me lembro disso, o meu vizinho, que vivia em frente à casa cava fazer uma tatuagem… Há dias dos meus pais, era um médico, e eu perguntei, e fiquei parvo. Uma peslembro-me de ver as consultas do soa com esse dinheiro pode estar médico a serem pagas com coelhos, um mês a viver no sudeste asiático. com galinhas, com robalos, coisa São sociedades que, por exemplo, que hoje é impensável. Quer dizer, Laos, Camboja, o Vietname, a Birhoje as pessoas têm dinheiro e quan- mânia, países extraordinários, que o do não têm dinheiro não pensam na salário médio mensal lá, é para aí, alternativa, a galinha, o peixe, não. 100 euros, 130 euros. Quer dizer… Pensam como vão arranjar dinhei- As pessoas vivem lá com 100 euro para lá chegar. Quer dizer, vive- ros por mês e ainda suportam uma mos numa sociedade e numa época família com 5 ou 6 filhos, então não em que há muito dinheiro em cir- será possível um jovem hoje, ao culação, portanto também é muito fim do mês, ter posto de lado 100 fácil ter dinheiro no bolso. Se nós euros? E pensar que pode ficar um pensaremos na quantidade de solic- mês a viajar no Camboja? Ou no itações ao consumo com que somos Auch? Portanto nesse aspecto acho assaltados todos os dias e que são que nunca foi tão bom, ser jovem e muito fáceis. Por exemplo, antig- querer viajar, como no dia em que amente um guarda-chuva era para estamos hoje.

Não. Claro que isso hoje em dia é eles os primeiros a compreender, que todo o capital de experiência, reputação, notoriedade, de carreira que eu reuni em 20 anos, não pode ser desperdiçado, vamos supor, se eu agora lhes dissesse, vou deixar cair tudo isto que tenho vindo a fazer e vou tentar arranjar um emprego num banco. Punham as mãos à cabeça!- Tu és doido, és a única pessoa em Portugal que neste momento tem essa capacidade de viver assim, há milhares de bancários e tu vais querer fazer uma coisa, 20 anos depois? Portanto, seriam eles a travar-me se eu quisesse abandonar esta opção de vida, portanto acho que está respondido.

Não. Vai conseguir fazer aquilo que essa pessoa consegue fazer. Que é irrepetível, porque foi feito por mim. É um bocado como dizer, OK, eu hoje de manhã, olho para um espelho, se outra pessoa vier e olhar para o mesmo espelho, olha e vê a mesma cara? Não. Vê outra. Portanto é exactamente a mesma coisa. É irrepetível. Isto significa que, o livro é apenas um pontapé de saída, mas depois, a partir daí é tipo efeito borboleta. Quer dizer, a borboleta bate as asas na Ásia e depois tem-se um furacão na Flórida, as possibilidades são tantas que é impossível repetir o que eu lá digo. Agora o que eu quero com esse livro é demonstrar que viajar é fácil, ou seja, em Portugal, estamos 20 anos, 30 anos atrasados em relação ao resto do mundo ocidental, quanto à forma com entendemos as viagens. Às vezes eu digo que estive a viajar, fui aqui ou ali e as pessoas olham para mim com admiração e dizem: ah, que aventureiro, que coragem! Não tem nada de aventura, não tem nada de coragem, é fácil, tá tudo no Google, tá tudo nos low-cost, tá tudo nos livros que explicam tudo. Portanto, o que eu quis com esse livro, foi demonstrar que qualquer pessoa, mas mesmo qualquer pessoa, pode viajar por conta própria. Não é perigoso. Se depois de ler o livro ainda acharem que não estão preparados então é melhor dedicarem-se à bricolage.

Costuma viajar com a família, é diferente do que quando viaja sozinho? E quais foram os povos com que sentiu mais afViajar com a família é ir de férias. inidade? Acha que os porO que pode, pura e simplesmente pode ser ir a Monsanto, a Belmon- tuguese têm alguma afinite. Eu quando viajo estou inserido dade específica com outra num esquema profissional, com nacionalidade? responsabilidades, com prazos de entrega, dinheiro já investido que está à espera de retorno, por isso é que não estou a ser presuntuoso quando digo, sou um viajante profissional, o dinheiro entra na minha conta bancária através de projectos de viagem, portanto viajar é uma coisa, ir de férias é outra e não são comparáveis, há uma separação clara. As viagens que eu torno públicas, porque são projec-

Não. Quer dizer, isto é um bocadinho tipo pedra no charco. Quando cria aqueles círculos que se vão stando, não é? Portanto o primeiro círculo, o círculo mais imediato é aquele onde nós temos mais afinidade e se nós olharmos à nossa volta, vemos que é a Espanha, a França, a Itália, são os países onde nós temos mais afinidade, são os que estão mais próximos de nós,


CULTURA

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Exposição de Gonçalo Cadilhe aliás, quanto mais nos formos afastando teremos menos e isto é a regra básica. Depois há países que não tem a haver com a afinidade, mas com a simpatia. Sei lá… Eu continuo a achar que, vou lá pelo menos uma vez por ano, à Indonésia, acho um pais extremamente simpático, também porque a nível da história a Indonésia sempre esteve no centro do mundo. Se nós olharmos para um lado, temos o Império Chinês, e no outro temos o Império Indiano, ou seja, as duas civilizações mais importantes na história do mundo, ou as mais antigas, a Indonésia está la no meio, portanto esta habituada a ver passar pessoas. Talvez por isso eles sejam tão simpáticos para com os estrangeiros. Há povos também da América Latina, que tem, não diria ,uma vez mais, afinidade, mas sim são compreensíveis, porque a

língua é a mesma, não é? Falamos o castelhano, falamos espanhol, portanto chegando lá percebemos um bocadinho da alma deles e há outros que são completamente impenetráveis. Como por exemplo, aquela área mais Extremo Oriente, a China, o Japão, não é? Mas isso não é a minha experiência de 20 anos que me permitiu descobrir qualquer coisa que não seja extremamente obvia para qualquer outra pessoa que nunca tenha viajado. Se eu perguntar ao meu avó o que é que ele acha que são os países que tem mais afinidade ele, que nunca viajou, dirá a mesma coisa que eu estou a dizer.

Sinto-me extremamente realizado, extremamente feliz com o privilégio que tive de nascer neste país e nesta época da história que me permitiu viajar tanto. Quanto à questão do arrependimento, não é a palavra correcta, porque o arrependimento pressupõe o sentimento de culpa e eu apostei por uma estrada, por um percurso, em vez de ter ido por outros, portanto, arrependimento em termos existenciais, creio que não existe, uma pessoa nunca poderá saber, se em vez de ter feito esta estrada, este percurso, tivesse feito aquele, como estaria hoje: mais feliz, mais rico, mais doente, isso nunca pode saber… Portanto, há uma E quando olha para trás frase que eu acho bastante engraçada, que diz assim: eu não tenho o dinão se arrepende de nada? reito de me arrepender do que fiz, só Sente-se realizado com es- do tenho o direito de me arrepender tes 20 anos? do que deixei por fazer. E nesse sen-

tido, acho que não deixei nada por fazer, que fosse possível fazê-la, ou seja, daquilo que eu deixei por fazer foi porque estava demasiado ocupado a fazer aquilo que fiz. Aquilo que eu fiz deixou-me feliz, portanto a palavra arrependimento não tem cabimento. elevado, que fale inglês, portanto nunca me aconteceu estar num país onde eu não tenha aberto a boca do princípio ao fim. De qualquer das formas é uma maneira de conhecer o país que quem fala a língua não tem acesso e vice-versa, portanto, nunca saberia o que tinha sido a minha viagem naquele país se eu falasse a língua.



OPINIÃO

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Coadoção por casais homossexuais OPINIÃO

Não - Posição do PCP Aquando da discussão da iniciativa sobre a co-adopção por casais do mesmo sexo, o Grupo Parlamentar do PCP apresentou a seguinte declaração na Assembleia da República: “Respeitamos as compreensíveis expetativas e sentimentos dos que pretendem ver consagrada a possibilidade de adoção que hoje lhes está vedada e procuramos refletir sobre elas com profundidade. Não ignoramos também as situações concretas existentes, de famílias constituídas de ligações de afeto e de relações efetivas de parentalidade e filiação. Rejeitamos qualquer aproveitamento político das compreensíveis expectativas e anseios das pessoas. É matéria em que temos de procurar encontrar soluções adequadas em prejuízo de buscar ganhos políticos imedi-

atos. Foi o PCP que apresentou a iniciativa que veio a dar origem, no já longínquo ano de 1999, à consagração explícita na lei de direitos para os casais em união de facto, fossem de sexo diferente ou de pessoas do mesmo sexo. Foi o PCP que, desde a primeira lei sobre a procriação medicamente assistida, propôs sempre (infelizmente sem sucesso ainda), que as mulheres sós pudessem recorrer a estas técnicas. O PCP votou a favor da consagração legal do casamento entre pessoas do mesmo sexo, convicto da adequação e oportunidade desta alteração, aliás confirmada pela aceitação social generalizada da sua aplicação. Votaremos hoje favoravelmente o projeto de lei de alguns deputados do Partido Socialista que visa consagrar a possibilidade

de co-adoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo. Trata-se afinal de fazer corresponder a uma relação afetiva e familiar real, e consistente a sua consagração jurídica plena, correspondendo aos anseios de muitas famílias que, estando nesta situação, temem pelas consequências de uma qualquer situação de infortúnio daquele que já tem responsabilidades parentais sobre a criança. Trata-se, como justamente afirma o preâmbulo deste projeto, de “prevenir um colapso injusto, emocionalmente irreparável e insustentável do ponto de vista do superior interesse da criança.” O projeto formula corretamente os parâmetros desta coadoção, designadamente quanto à sua irrevogabilidade e à condição de inexistência de um segundo vínculo de filiação.

Não reconhecer esta questão seria dar crédito a teorias sobre os alegados ou possíveis efeitos perniciosos da educação de uma criança por casais de pessoas do mesmo sexo, teorias de que discordamos e que nunca foram para nós fundamento de análise nesta matéria. Reforçamos essa convicção neste dia internacional contra a homofobia. E mais ainda rejeitamos que a prisão, a condenação e a morte sejam aplicadas ao direito de livre orientação sexual que a nossa Constituição consagra.”

está em causa acima de tudo é o interesse da criança. E nesse sentido tenho algumas questões, mas esta em particular: o interesse e o bem superior de uma criança será crescer numa instituição, ou numa família? Sabemos muito bem que o conceito de família tem mudado. Há vários tipos de família e se não formos capazes de acompanhar esta evolução ou estamos a ser hipócritas ou estamos alheados à realidade e assim não temos que sair da nossa zona de conforto e tomar decisões, opinar e confrontar. (...) Não querendo, no entanto, entrar nesta matéria, também sensível, da dimensão e sentido da família, entendo que o importante num lar, entre pessoas, numa família o bem maior são os afetos, o respeito, enfim o Amor. E uma criança do que precisa é de Amor. (...) Uma criança que possa receber uma família será uma criança mais feliz, e uma família que receba uma criança será mais comple-

ta. Uma criança que possa ter o seu lar, os seus afetos próprios, terá direito ao seu bem maior, receber o que não recebeu quando nasceu, ter a possibilidade logo à partida dos mesmos direitos de ter a sua família. Não há pessoas perfeitas, não há famílias ideais, há sim, crianças, pessoas que precisam de ser felizes. Não significa que as Instituições não cuidem bem das crianças que acolhem, mas sabemos que não é o mesmo que ter o próprio Lar, os próprios afetos, as próprias partilhas, as cumplicidades inerentes de uma família. Sabemos que quem é amado saberá amar. A sociedade evolui e será melhor encontrando meios para que os cidadãos se possam realizar na sua plenitude de Ser Humano: Serem felizes. Acredito que a família é o meio para a felicidade, seja qual for o seu modelo. Sim à coadoção.

OPINIÃO

Sim - Posição do PSD Sobre o Projeto de Resolução do Partido Social Democrata que propôs a realização de um referendo sobre a possibilidade de coadoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo e sobre a possibilidade de adoção por casais do mesmo sexo, casados ou unidos de facto o que estava em causa, na votação levada à Assembleia da República era a realização ou não de um Referendo sobre a matéria. Houve, na opinião pública, alguma confusão sobre o que na verdade estava a ser discutido e votado. Tratava-se da realização de um Referendo para dar a possibilidade a que os Portugueses se pronunciassem sobre a matéria e não a discussão ou a votação dos (as) Senhores (as) Deputados (as) se eram a favor ou contra. São coisas distintas. O PSD sempre promoveu a defesa dos Direitos Humanos. E só aqui estão dois: o direito à coadoção e o direito à pronúncia dos Portugueses so-

bre esta matéria. A pretensão do PSD era, com este projeto de Resolução, fazer ouvir os Portugueses. Aliás pretensão sempre da Social Democracia: ouvir-nos, ouvir a opinião dos cidadãos. Creio que o problema está na própria génese da matéria, pois não há uma opinião forte, ainda, formada sobre este assunto na sociedade, logo é um assunto fraturante que envolve a construção, o envolvimento e o crescimento da família. Daí advém toda a sensibilidade à volta da coadoção, em particular por pessoas do mesmo sexo. O PSD entendeu, aquando da votação no Parlamento sobre a realização do Referendo, não tomar uma posição oficial, optando pela liberdade de voto dos seus deputados, cabendo a cada um a sua opinião, o seu entendimento. Até porque votar contra o Referendo não é sinónimo de se ser contra a coadoção. Nesta matéria sou de opinião que o que


OPINIÃO

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Politiquices CRÓNICA

A austeridade e o presidente de tacões por Vânia Pimenta Adoro sapatos de saltos altos! Aliás tenho uns à minha frente e não páro de olhar para eles. Revestidos a purpurinas, com uns saltos de quinze centímetros, tacões pretos e uma plataforma de compensação. Mais brilho era impossível. Para quem não mede mais de 1,60m dão-nos uma certa superioridade, inúmeras vantagens estéticas e ainda complementam diversos outfits. Mas não sou a única. Apesar de nunca ter imaginado percebi que esta adoração por sapatos de salto é partilhada por António Costa. Mas, com uma diferença, eu calço-os. Acho impressionante o conhecimento que o atual Presidente da Câmara de Lisboa tem sobre este assunto.

Após a saída de José Sócrates, quando a estrada a percorrer estava mais deteriorada, António Costa afastou-se e preferiu usar sapatilhas. Perspicaz! Saltos e pedras não combinam... Mas agora não! A estrada é diferente. O atual governo terminou o Programa de Ajustamento Económico e Financeiro, e atingiu algumas metas com a austeridade que implementou. O autarca de Lisboa sobre essa mesma austeridade disse no dia da sua recandidatura ao cargo - Mostrámos no governo da cidade que há uma política alternativa àquela (...) seguida no Governo. Pouco mais de um ano depois, António Costa decide vestir-se de gala e calçar os seus

sapatos de salto. Embora não tangíveis, com o mesmo objetivo com que calço os meus. Venceu as primárias no PS e mostrou como os seus saltos o tornaram mais alto. No discurso de vitória declarou - A força que os portugueses nos dão para construirmos a alternativa a este Governo e a esta política. Eu pregunto-me: um mês e meio após a declaração, o país terá mudado tanto para não poder implementar essa alternativa? A resposta é não. Em entrevista à RTP, António Costa não garantiu o fim da austeridade. Para António Costa já não é tão evidente a reposição dos salários dos funcionários públicos no ano de 2016, e, pretende criar

uma taxa de ocupação turística em Lisboa. Ou seja, quer fazer o que sempre criticou. Com alguma pena minha vi que afinal António Costa não percebe assim tanto de saltos como eu pensava. Isto porque, deveria saber que o uso excessivo de saltos altos pode provocar dores nos pés e, ao fim de algum tempo, o desequilíbrio. Deveria saber também que quem vai a uma festa de saltos altos nunca deve perder o nível e descer dos mesmos. Os saltos não se usam apenas no momento alto da festa. Diva que é diva nunca desce do salto até ao final. Para alguém que entrou na festa de saltos altos não fica nada bem sair de pantufas...

vida devia ter a lata de ficar em casa em dia de eleições. Quem sabe de História, sabe que o direito ao voto não nasceu com Portugal em 1143, em Zamora. Votar nunca foi um dado adquirido. Ninguém acordou de manhã e decidiu que seria engraçado organizar umas eleições de vez em quando para todos podermos dar a nossa opinião e fazer a nossa escolha. Foi um bocadinho mais complicado que isso. Pode-se falar dos 48 anos de ditadura em que o direito ao voto era impensável (melhor, era pensável, mas ai de quem votasse contra Salazar) e depois disso toda a luta necessária para que todos tenhamos o direito ao voto em pleno. Porventura será essa a razão pela qual a minha avó nunca falhou com o seu dever de votar e algumas pessoas da minha idade falharam logo na primeira vez. Possivelmente

para nós é tudo demasiado fácil, e lutas políticas nunca estiveram no nosso calendário. Talvez por isso, alguns se deitem e esperam que os pais cumpram o dever por eles que isto de crescer dá muito trabalho. Ninguém pede que se juntem a movimentos políticos e que sejam de um partido, mas dava jeito saber que os partidos não são só diferentes porque um é laranja, e um é rosa e lá pelo meio, aliás, mais para a esquerda ainda há um vermelho e mais para a direita há um amarelo e azul! E da próxima vez que houver eleições e acharem que são demasiado bons para ir votar, lembrem-se que a Emmeline Pankurst morreu atropelada por um cavalo da guarda britânica, a lutar pelo direito ao voto feminino. Afinal, isto de votar até é muito badass!

CRÓNICA

Geração Abstenção por Isabel Meireles Expressões como “não vou votar porque não me apetece” ou “não voto porque eles são todos iguais” são cada vez mais ouvidas e ditas, principalmente pelos jovens, o que é inadmissível. Assiste-se a um desinteresse total, por parte das camadas mais jovens, pela política e tudo o que lhe está relacionado. Creio que a maioria nem sequer deve saber a importância que uma simples cruz num boletim de voto, de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos, pode ter na vida social, económica e obviamente política de um país. Sendo, o direito ao voto tão importante que se torna um dever, é para mim inconcebível que a minha geração não lhe atribua o devido valor e receio que esta minha geração seja demasiado preguiçosa para de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos pegar no seu cartão de cidadão e

deslocar-se ao centro escolar para votar. Se calhar, a culpa é da pressa que temos sempre de viver as coisas, se calhar é melhor ficar enrolado nos cobertores a ver um filme novo do que perder cinco minutos a votar. Dá muito trabalho, perde-se demasiado tempo. Ou então, o problema é mesmo a falta de conhecimento. Talvez seja mesmo isso. Até vou mais além do que o mero conhecimento de factos, como saber quando são as eleições ou quem são os candidatos. Aliás, é indesculpável não saber este tipo de coisas porque estamos em 2013, toda a gente tem televisão e ver o telejornal uma vez por dia durante uma hora não deve ser assim tão doloroso. Enfim. Concentrar-me-ei então no conhecimento histórico, que penso ser muito importante para esta questão, pois quem sabe de História nunca na


CARTOON

Zé Povinho vai ao corte

FRASES MARCANTES

CRÓNICA

Voltem filmes de domingo, estão perdoados! por Daniela Cunha Desde há uns tempos para cá os canais generalistas portugueses têm apostado num formato um tanto ou quanto diferente aos domingos. Agora a moda é enviar três ou quatro apresentadores a percorrer o país de norte a sul numa espécie de romaria pelas festas populares. Se isto fosse uma coisa sasonal, como era no início, ainda se tolerava. Mas todos os domingos (quando não é também aos sábados) durante anos a fio, ninguém aguenta. O formato é sempre igual: montam um palco numa localidade onde haja alguma festa e passam uma tarde a falar das coisas típicas da região. Pelo meio ainda entram alguns “cantores” – e para quem tiver paciência para assistir a esses programas há-de reparar que são sempre os mesmos nos três canais. Depois de a TVI ter tido a brilhante ideia de começar com es-

tes programas criou-se uma espécie de fenómeno “Maria vai com as outras”. E para não ficarem atrás da concorrência a SIC e a RTP também decidiram apostar no mesmo formato. Se cada canal ainda fizesse coisas diferentes, até se compreendia, mas basta assitir durante 5 minutos a cada programa para se perceber que é tudo o mesmo: só mudam os apresentadores. Não sei o que pensam os diretores dos canais, mas não me parece que isto agrade a alguém a não ser às velhinhas que adoram ver o João Baião a dar espetáculo. Por mim regressavam os filmes de domingo. Alguns podiam ser terríveis e a maior parte das vezes eram os mesmos, mas sempre era uma tarde melhor passada. Bem, vendo pelo lado positivo, temos sempre os prémios “milionários” para nos animar.

“Cada mulher é um mundo muito para além do corpo que a recebe. Apoiem-se. Defendam-se. Não permitam olhares redutores sobre aquilo que somos. Ela por ela. Cada uma de nós pela mulher ao nosso lado. Seja no autocarro ou numa fotografia no ecrã do computador.” - Jéssica Athayde, atriz portuguesa, 14/10/2014 “Oh senhora deputada, vasqueiro é um termo utilizado na gíria do Porto, que eu aprendi quando vivi no Porto. Eu sei que a senhora deputada é uma deputada fina aqui das zonas do Sul, mas no Porto este termo é mais do que utilizado.” - Pires de Lima, Ministro da Economia, 6/11/2014 “Queremos acabar com a desigualdade de género. E para que isso seja possível, precisamos que todos estejam envolvidos. E quanto mais eu falava sobre feminismo, mais me dava conta de que falar sobre os direitos das mulheres, muitas vezes se tornava sinónimo de repúdio pelos homens. Se há uma coisa de que tenho certeza, é que isso tem de parar.” - Emma Watson, atriz britânica, 21/9/2014 “A decisão de me colocar em prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita.” - José Sócrates, ex-primeiro-ministro, 30/11/14


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