“Este trabalho eu dedico ao Ney Junior, Vinícius Gomes e Pr. João Victor, amigos e irmãos que têm me ensinado a piedade com toda simplicidade, seja em nossos encontros de oração, meditações ou conversa informal. Deles tenho tido conselho que me instruem na mordomia cristã”
Pecado - O que todos devem saber Introdução Redigi este pequeno livreto sob o olhar atento ao que Isaias pronunciou:
“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã.” (Is 1:18) Não é fácil concluir que somos pecadores e que estes pecados são terríveis, mortíferos e nos separam de Deus (Is 59:2; Rm 3). Mas devemos estar cientes que pior do concluir isto é não considerar que se faz necessário uma mudança radical. Esta mudança ocorre primeiro em nossa consciência, quando somos convencidos que somos de tal modo pecadores que em nenhum momentos de nossas vidas chegamos a ser dignos de perdão. Logo depois, sabedores de um mediador (1Tm 2:5), somos conduzidos a ele para que possamos ser genuinamente “alvos como a neve” (Is 1:18).. Contudo é esquecido muitas vezes de examinarmos sempre o fato de que a graça consiste de uma vontade soberana e livre da parte de Deus e que ensinar isto requer expor a quem ouve que a parte desta graça está o nosso estado de morte espiritual, de que não temos o tino de responder positivamente porque mortos, não podem
responder a voz de quem fala, a não ser por uma graça maior que a morte se manifeste. O objetivo deste pequeno livreto é facilitar o ensino desta verdade, de que os homens estão tão mortos em seus delitos e pecados que se tornam incapazes de ter fé e responderem positivamente ao evangelho por si só. Uma breve analise da questão do pecado desde Adão até nós hoje está apresentada aqui.
Pecado - O que todos devem saber A Relação entre Adão e sua posteridade Deus fez Adão e o estabeleceu como cabeça representativa dos seus descendentes.
"entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram a semelhança da transgressão de Adão" (Rm 5:4). Esta representatividade reunia os benefícios da sua existência e suas responsabilidades. Para validar isto, Deus estabeleceu uma aliança de vida1 com Adão.
"de todas as árvores do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque , no dia que comeres, certamente morrerás" (Gn 2:6-17). A aliança consistia em (1) uma promessa (a vida); (2) uma condição (a obediência); (3) uma penalidade à desobediência (a morte). Toda aliança consiste em direitos e deveres, um pacto deve ser cumprido por todas as partes. A responsabilidade de Adão era de obedecer e o benefício à essa obediência era a vida. Porém Adão infringiu a sua responsabilidade - "vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido , e ele comeu" (Gn 3:6) e no lugar do benefício da vida veio a maldição da morte - "e, expulso o
homem , colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que revolvia para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3:24). A morte é um dado real na existência de todos os homens. Talvez digamos: mas a morte a que a Bíblia se refere é a física. Sim, é também física, porém é a morte espiritual e a incapacidade de relacionar-se com Deus que herdamos mais perigosamente. Adão mostra-se moralmente perdido depois da transgressão da aliança. "quando ouviram a voz do Senhor Deus que andava na viração do dia pelo jardim, esconderam-se da presença do Senhor Deus" (Gn 3:8). Charles Hodge faz o seguinte comentário sobre esta questão: "este princípio representativo impregna toda Escritura. A imputação do pecado de Adão e sua posteridade não é um fato isolado. É apenas a ilustração de um princípio geral"2. Esta realidade está claramente declarada quando Jó ao apresentar-se a Deus mostra-se moralmente perdido.
"se como Adão, encobri minhas transgressões, ocultando meu delito no meu seio" (Jó 31:33). Também na declaração de Davi ao explicar a razão do seu pecado - "eu nasci na iniquidade" (Sl 51:5a) e demonstra que isso é um fato por gerações - "e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51:5). Mais enfaticamente pela boca de Deus contra Israel se lê - "mas eles
transgrediram a aliança, como Adão; eles se prostram aleivosamente contra mim" (Os 6:7). A doutrina do pecado leva em conta o principio básico de que Adão foi dotado de capacidade de administração na sua existência e que somos a continuação dessa existência. Assim como continuidade, herdamos também sua incapacidade adquirida pelo pecado. Temos a consciência de que herdamos tão plenamente a morte e o pecado quanto o ato de nos multiplicarmos (Gn 1:27).
"portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, a pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Rm 5:12). O efeito do pecado no homem A Bíblia nos mostra que em Adão nós morremos - "porque assim como, em Adão, todos morrem" (1Co 15:22a). O pecado, portanto não nos deixou numa cama ao ponto de podermos esticar o braço para pegar o remédio na cabeceira da cama. Mas se pudéssemos olhar para o estado de pecador como enfermo, diríamos que este enfermo está cego - "porque o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos" (2Co 4:4)3. e cego, de modo que não pode ver onde está o remédio. Está fraco - "porque Cristo, quando éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Rm 5:6), e fraco de tal modo que não
pode esticar o braço. E por último este cego e fraco tem ódio do médico - "se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim" (João 15:8a)4. O Rev. Josafá Vasconselos em um dos Simpósios do Projeto Os Puritanos apresenta pelo menos sete adjetivos para salientar o estado de depravação humana. Ele diz: Por natureza o homem está MORTO. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram”. (Rm 5:12) “Ele vos deu vida estando vós mortos nos vossos delitos e pecados...” (Ef 2:1). Está CEGO. “...obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza de seus corações”. (Ef 4:18). Está CORROMPIDO na sua consciência , “...porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas... são abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa obra”. (Tt 1:15, 16); (Gn 6:5; Gn 8:21; Ec 9:3; Jr 17:9; Tt 1:15). Estão ESCRAVIZADO AO PECADO. “Todo o que comete pecado é escravo do pecado”. (Jo 8:34); Ef 2:12; Rm 6:17; Ef 2:1-3).
São INIMIGO DE DEUS. “O pendor da carne é inimizade contra Deus” (Rm 3:18; 8:7). Estão SEM DESEJO POR DEUS. “...não há quem busque a Deus”. (Rm 3:11). Não têm SEM TEMOR A DEUS. “Não há temor de Deus diante de seus olhos”. (Rm 3:18)5. A natureza pecaminosa afeta o homem gravemente e produz consequências eternas. Priva os homens de exercer qualquer bem espiritual ainda que possam produzir algum bem natural. Mas ainda podemos também perguntar o seguinte: “é possível haver alguma vontade de fazer o bem?” Sim, mas não o faz, e a resposta clara para isto é dada assim:
"porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço" (Rm 7:19). Pode-se perguntar mais ainda: mas não é dito que querer é poder? A resposta para esta pergunta é: "porque eu sei que em mim, isto é na minha carne não habita bem nenhum, pois o querer fazer o bem está em mim; não porém, o efetuá-lo" (Rm 1:18). Então, a não ser que este homem seja despertado e convencido de seu estado (Jo 16:8), jamais produzirá o bem.
O homem está morto e sua vontade escrava pelo pecado. Se os filhos de Deus estão livres - "se pois o filho vos libertar verdadeiramente sereis livres" (Jo 8:36) como estão os que não são filhos?
"nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da ira" (Ef 2:2). Nos é conhecido que o escravo faz a vontade do seu senhor. Sendo assim, qual vontade o homem faz sendo ele pecador? Eis a resposta:
"entre os quais também todos nós andávamos outrora, segundo as inclinações da carne e dos pensamentos, e éramos, por natureza, filhos da ira como também os demais" (Ef 2.3). A liberdade é quebrar as algemas da natureza pecaminosa que não produz nada digno de salvação. Enxergar esta verdade, convencidos por ela é caminhar para o consolo da cruz que tem o poder de fazer morrer a morte que nos escraviza.
Refrerências 1..Aliança de vida e Pacto de Obras têm o mesmo sentido. Pacto de Obras é porém um termo usado mais comumente usado pelos reformadores enquanto João Calvino prefere dar o nome do pacto feito com Adão a Pacto de Vida ou Aliança de Vida. 2..Charles Hodge, Teologia Sistemática - São Paulo: Hagnos, 2001. p.631. (Charles Hodge, 1797-1878). 3..Adaptação da ilustração de Arthur W. Pink em Deus é Soberano - São José dos Campos-SP: Editora Fiel 2008. p.118. 4..substitui a referência Ef 4:18 publicada originalmente no livro. 5..Rev. Josafá Vasconcelos é pastor da Presbiteriana da Herança Reformada. O trecho aqui associado parte da palestra “Os Cinco Pontos do Calvinismo” - Postado no Portal Os Puritanos http://ospuritanos.blogspot.com.br/search/label/Os %205%20Pontos%20do%20Calvinismo%20-%2002, 2011.