Aforismos Desaforados - E Outros Desaforos

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sérgio antunes de freitas

AFORISMOS DESAFORADOS E OUTROS DESAFOROS

sérgio antunes de freitas

AFORISMOS DESAFORADOS E OUTROS DESAFOROS

metido a: ser pai, ser avô, ser marido, ser arquiteto e urbanista, ser poeta, ser artista plástico, ser humano.

Livro em processo de registro na Biblioteca Nacional

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Dedico esta obra a todos os meus companheiros de trincheira, conhecidos e desconhecidos.

Especialmente, à Silvia Schütte Gonçalves Fraga Topalian, colega do Curso Colegial, atual Ensino Médio, no Instituto de Educação Ernesto Monte, em Bauru, que tombou durante o combate.

– Quem estará nas trincheiras ao teu lado? – E isso importa?

– Mais do que a própria guerra.

Texto atribuído a Ernest Hemingway, no livro “Por Quem os Sinos Dobram”.

Mas eu procurei esse diálogo e não o encontrei nesse livro. De qualquer forma, pelo exemplo de fraternidade, é o que escolhi para a abertura deste conjunto de frases e pequenos textos.

Brasília, dezembro de 2022

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VIDA E ARTE INFINITAS

Prefácio

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“Vita brevis, ars longa” (“A vida é curta e a arte é longa”), escreveu Hipócrates milhares de anos atrás. Também assim cantou Tom Jobim, no século passado, em sua canção “Querida”: “Longa é a arte / Tão breve a vida”. Sérgio Antunes de Freitas, o autor deste livro, homem de nosso tempo, registra: “Homem tem prazo de validade. Poeta, não”. Os estoicos, entre os quais o mais emblemático é Sêneca, diziam: “Carpe Diem” (“aproveite o dia”), pois sabiam que a vida, como um aforismo, é curta e que, exatamente por isso, é preciso torná-la duradoura em sua brevidade. Entre esses dizeres de outrora e de hoje, digo eu, o autor deste prefácio: aproveitemos os aforismos de Sérgio, pois, se suas frases e parágrafos são breves, seus sentidos não são.

E o que Sérgio, na presente obra, tem em comum com Hipócrates? Em primeiro lugar, o aforismo. Para o dicionário, aforismo significa “texto curto e sucinto, fundamento de um estilo fragmentário e assistemático na escrita filosófica, ger. relacionado a uma reflexão de natureza prática ou moral”. Mas o dicionário, limitado em sua metalinguagem bidimensional, vê apenas uma camada, a mais imediata e superficial do tempo e do espaço de uma ideia, a fugacidade da existência desse corpo de ideias como se o ponto final fosse o fim irrevogável da estrada. O que o dicionário, contudo, não vê, preso que está em sua característica segunda dimensão, é a profundidade: a lagarta que, em sua metamorfose ovidiana, destrói seu cárcere no chão e abre as asas para a dimensão dos ares; a semente que, enterrada na escuridão, irrompe no solo e se abre para as grandezas das cores e do sol; a flor drummondiana que, em sua fragilidade, rasga o asfalto para romper os grilhões do nojo e do ódio; os olhos que, mesmo com suas retinas cansadas, estilhaçam a paisagem e avistam a metáfora, a poesia, e, ainda que numa suposta e simples realidade, projetam-se para além do horizonte que adiante parecia tudo encerrar. É por isso que Sérgio e Hipócrates, numa cadência jobiniana que ecoa entre nós e para além de nós próprios, assemel-

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ham-se. Ambos, munidos de aforismos, trazem para seus respectivos tempos o que levam além: a ideia, esta que se desdobra e que se reflete e se renova no corpo da experiência coletiva e essencial.

Sobre Hipócrates, vale acrescentar: em sua época, por volta de 400 a. C., ele era médico – hoje convencionalmente conhecido por muitos como o pai da Medicina. Através de seus aforismos, procurou não só resumir as regras de sua prática médica e, assim, o tratamento e a busca pela cura, como também encontrou neles a forma adequada para cristalizar suas ideias. Seu nome, ainda lembrado em nosso tempo após tantos séculos, comprova a eficácia dessa cristalização. De Hipócrates a Sérgio os aforismos estão aqui e acolá, como sementes de um tempo para outros tempos, como um pedaço de realidade em prol da vida dos que nasceram, nascem e nascerão. Suas mensagens, enraizadas numa época, reverberam por muitas eras, enquanto a humanidade existir e abrir essas mensagens como cristais cuja transparência nada poderá arranhar, nem os obscurantismos, nem as mentiras, nem as conspirações, nem as censuras, nem sequer as guerras.

A oportunidade é fugaz; a arte, não. Os aforismos de Sérgio, tal como em Hipócrates, estão aqui para isso: para serem digeridos e agirem como remédios contra a fugacidade, como cristais medicinais que reestabelecem a profundidade e a longevidade do pensamento, por meio das palavras, mostrando que vida e obra caminham juntas rumo ao infinito, pois vida também é palavra que se propaga e se permite ultrapassar os limites do corpo, seguindo no corpo da história sem ter reta de chegada. São as palavras, tornadas cristais que, no breve espaço de suas linhas, atravessam tempos e espaços e tratam seres e eras, enquanto remédios eficazes que são.

E quem diria que o autor desse livro, arquiteto de formação, teria precisamente na Arquitetura mais um ponto de comunhão com o “pai da Medicina”? Hipócrates, em seu tempo, escrevera o livro “Sobre os ares, as águas e os lugares” com o qual inspirou o pensamento de séculos depois para a correlação entre as patologias e as

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condições do ambiente. Sérgio Antunes Freitas, com a arquitetura de seu pensamento no breve espaço de seus aforismos, areja e hidrata com seus olhares os olhares de seu tempo. Como o próprio autor diz em um de seus aforismos:

“Muitos pensam que a maior alegria de um arquiteto é ver construída uma escola por ele projetada. Creio que, para muitos profissionais, a felicidade ocorre, de fato, quando ele escuta a algazarra alegre das crianças na hora do recreio”.

O poder medicinal dos aforismos está aí: na profundidade de sua arquitetura que não se resume a uma estrutura fechada, mas que se agiganta nos seres que nela se abrigam, vivem e se transformam. É preciso, portanto, por meio da palavra, arejar e hidratar nosso tempo e seus seres, mas também alertar, como quando diz: “a felicidade oriunda do ódio vira veneno e pode adoecer ou matar o odiento”.

Nessa farmácia aforista que aqui se apresenta, tudo está devidamente organizado para ser aplicado nas mais diversas situações e esferas da história humana: a Guerra, a Arte, o Consumismo, a Ignorância, a Educação, a Justiça, a Política, a Verdade, a Vida entre outras mais. Ao leitor das páginas que se seguem cabe aproveitar cada pílula-cristal que o autor oferece. Não há de se ter medo. Não há contraindicação, nem risco na overdose. Aliás, a overdose é recomendada, pois toda palavra que se bebe é vida que se alarga. “Escrever é espalhar sementes”, afirma o autor. O poder da linguagem está justamente nessa semeadura que o pensamento, por meio da palavra, é capaz de propagar. E quando, nessa semeadura, vida e arte se misturam, como um coquetel de plena linguagem, rompem juntas o limite das linhas, dos parágrafos, das páginas, do olhar individualista e planificado para então desembocar na infinitude.

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Os aforismos estão aqui. Não há receita. Basta que o leitor os prove, sinta seu poder curativo e descubra que, sim, somos todos atravessados por esse destino tão curto quanto um aforismo e tão infinito como o próprio. Vida e arte são infinitas, pois, quando unidas, não têm reta de chegada na grande seara da linguagem.

Professor de Língua Portuguesa em escolas públicas do Estado de São Paulo desde 1998. Graduado em Letras pela Universidade de Mogi das Cruzes (1996). Mestre em Linguística pela UNICAMP (2005).

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Carlos Alberto Ferreira Tenreiro

APRESENTAÇÃO

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Talvez meus amigos estranhem a minha dedicatória, comparando a razão dessa obra com a guerra, já que sou e sempre fui pacifista.

Mas essa foi a forma mais ilustrada que encontrei para mostrar o espírito do que aconteceu tempos antes da eleição da Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, até poucos dias atrás.

Foi muita luta, mas de ideias!

Nesse tempo também, eu coloquei meus pensamentos nas redes sociais, como sempre fiz, desde 1999, considerando o contexto político, sob as emoções do momento.

Os produtos intelectuais de escritores conhecidos sempre deixei claro a autoria e não estão aqui.

Estão os que julgo serem de minha lavra, mas não garanto a originalidade de todos, pois, como disse Millôr Fernandes, “às vezes, descobrimos que fomos plagiados há séculos”.

E, se isso aconteceu, atribuam à minha ignorância da informação, pois é a verdade.

Na guerra travada, nosso lado não usou armas brancas, nem armas de fogo, nem delas fez apologia ou ameaças. Também não usamos as mentiras, como foi o caso dos adversários.

Usamos as verdades filosóficas, as verdades científicas, os princípios cristãos, o amor ao próximo e o verdadeiro patriotismo.

Descemos as bandeiras falsas e hasteamos o verdadeiro Pavilhão Nacional. Aquele mesmo, verde e amarelo, mas o da paz!

Em outros embates semelhantes, este trabalho pode ser considerado também como um pequeno paiol de argumentos.

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TEMAS

Armamentismo Arte Comportamento Consumismo Corrupção Educação Eleições Humanismo Ignorância Imprensa Justiça Liberdade Mulher Natureza Ódio Pátria Política Religião Verdade Vida

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ARMAMENTISMO

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A frase “Eu quero o direito de me defender com uma arma, porque sou cidadão de bem” pode ser substituída por “Eu quero o direito de matar, porque me acho o dono da verdade”.

A guerra não gera tecnologia. É a ciência que faz isso. Os bélicos se apropriam da ciência para gerar horrores. E enriquecer!

A melhor defesa para um país é a própria paz.

Armamentista é uma pessoa que não enxerga além da mira.

Aumento da violência tradicional, mortes por desavenças, por balas perdidas! O incremento de armas de fogo leva à intensificação de uma roleta russa social.

A violência, o ódio, as armas nunca resolveram problema algum. No máximo, substituíram um por outro pior.

Como sempre, as indústrias bélicas faturam “horrores”.

É mais fácil dominar um país armado, que outro, cujos cidadãos valorizam sua cultura e seu conhecimentos.

O armamentismo, mesmo não armando as pessoas, armam seus espíritos.

Observando os desfiles patrióticos nos diversos países, notamos que a China, por exemplo, mostra toda a sua incrível e enorme força militar. O Brasil, sua grande força de vontade!

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O discurso armamentista da defesa leva, de forma intrínseca, a intenção do ataque.

O que muitos chamam de heróis de guerra são, na verdade, assassinos de guerra. Heróis de guerra são os padioleiros, os enfermeiros, os médicos das instituições de ajuda humanitária, que cuidam dos feridos, doentes, amputados, por conta da ambição de incivilizados milionários, donos das fábricas de armamentos e de seus prepostos.

O revólver é o pior amigo! Dá gastos e perda de tempo para sua conservação e guarda. E se você precisar dele, de uma forma ou de outra, ele vai lhe trazer grandes aborrecimentos.

Quando for tomar partido em casos de guerra, seja radical, inflexível, intransigente e fique do lado da paz!

Quando se fala em armas, é bom lembrar do ditado: o pau que dá em Chico, dá em Francisco. Quando um policial mata uma pessoa, não significa apenas que ele é despreparado, mas que a humanidade ainda não chegou a um bom nível civilizatório.

Quando uma corporação armada, sem uma formação democrática sólida, toma o poder, o estado fica a um passo do despotismo.

Quanto mais armas, mais mortes.

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Que prazer mórbido é esse de matar, covardemente, à distância, um animal inocente? É uma mentalidade pior do que animalesca, incivilizada, torpe.

Sabem de onde sai a fortuna para a guerra? Sai dos que constroem, que geram riquezas e desejam a paz. Se a polícia é competente, o cidadão não precisa ter arma.

“Se queres a paz”, invista na diplomacia.

Se você acha que o problema do Brasil somente será resolvido, quando matarem muita gente, mesmo morrendo também alguns inocentes, saiba que o maior problema mesmo é esta sua forma ignorante de pensar.

Todos os lados estão errados. Os únicos certos são as vítimas, de qualquer lado, porque, certamente, não queriam a guerra.

Um imbecil nunca renuncia à violência, à força, à própria falsa superioridade.

Um homem, devidamente adestrado, afaga ou ataca, em obediência à voz de comando. Quando passa a obedecer à voz da própria consciência, não ataca mais.

Uns acham que as armas defendem os mais fracos. Mas é a educação e o bem-estar que evitam os ataques dos agressivos.

Usar o esporte para retaliar países em conflito bélico é desvalorizá-lo, rebaixando-o ao estúpido nível de uma guerra.

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20 ARTE

A autoajuda é o egoísmo, o individualismo posto de forma literária.

Arte não tem conceito, mas toda obra de arte deve ter algum.

A arte final, a impressão técnica, a arte por computador, considerando suas variáveis de tempo e conceito, são admiráveis. Todavia, o artesanato é sedutor, pois busca a excelência visual, sem perder a autenticidade das imperfeições humanas.

As emoções justificam e alimentam a si próprias. Isso explica as paixões por cantores, bandas, religiões, partidos políticos, times de futebol. E explicam, principalmente, o mau gosto.

Há fatos que não acontecem, mas os escritores e poetas fazem acontecer. É assim que se expande o universo humano.

Homem tem prazo de validade. Poeta, não!

Manifestação artística não libertária e com objetivo de apartação não é arte. É simulacro de arte.

Muitas músicas eruditas não têm letras; apenas títulos que servem como temas. Mesmo assim, são deleites para a audição. Também as pinturas ou esculturas abstratas não tem figuras, mas podem ser deleites para a visão. Deveriam se chamar eruditas também.

O artista é um obcecado. Vive a procura de muros para destruir.

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Quando morre um cidadão comum, a notícia de seu falecimento termina com a tradicional frase: “fulano deixa tantos filhos e tantos netos”! Em uma homenag em provavelmente involuntária, por isso mais avultada, li: “Manoel de Barros deixa dezoito livros de poesias, além de obras infantis e relatos autobiográficos”.

Quando uma mulher diz: - Eu sou música – deve-se entender nos dois sentidos.

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COMPORTAMENTO

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A apologia às permissividades, dita por políticos ou celebridades, permeia a sociedade em consequências cruéis.

A coerência é uma das marcas da honestidade.

Afora os das filosofias elevadas, seguidores são pessoas sem rumo próprio.

A Lei da Gravidade é irrevogável! Por isso, o Estado deve exigir meios de proteção ao público, em locais elevados, como guarda-corpos, grades de proteção, telas e assemelhados.

A Lei da Oferta e da Procura também é irrevogável! Por isso, o Estado deve exigir meios de proteção ao público, mediante o combate a monopólios, oligopólios, reservas de mercado, protecionismo, abuso de poder econômico etc.

Seja na família, no trabalho, no governo, a mais importante responsabilidade de um(a) líder é manter a harmonia de seus liderados. Ou haverá desentendimentos, sofrimentos, prejuízos, tudo desnecessário.

Ame seus amigos, mas não feche os olhos para seus defeitos.

A morte é sempre triste! Triste também é a transformação da morte em espetáculo midiático.

A morte é apenas um sono sem sonhos.

Ando tão desconsolado com as imbecilidades dos medíocres, que estou com medo de me tornar tolerante com esses intolerantes.

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A paz vem de dentro. O problema é que o terror vem de fora!

A caridade deve ser exceção. A regra é a fraternidade. Caridade é esmola. Fraternidade é ombro.

Chamar bandido de bandido não faz a menor diferença para ele.

Coisa de energúmeno: usar uma exceção, para contradizer a regra geral.

Contra a depressão, o trabalho voluntário pode ser um santo remédio!

E não tem desculpa, pois, se sobra tempo para a depressão, sobra para o voluntariado também.

Depois da adolescência, que é uma infância aprimorada, fingimos ser adultos e todos acreditam. Depois dessa farsa obrigatória, voltamos à autenticidade de nossos atos, querendo brincar, rir, abraçar, desenhar, escrever, ler, pintar, passear, sonhar.

De tanto procurar detalhes para discordar, esquece-se de manifestar concordância com o que é essencial.

Dizem que são fãs do autoritarismo: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Mas são é puxa-sacos mesmo!

“Econometristas”, pessoas que medem a vida só pela economia, são limitados e, às vezes, desumanos.

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É mais fácil administrar inimizades, que amizades turbulentas.

Em amigo de verdade, a gente confia, assim como Picasso confiava na própria mão. Eu não apoio bandidos, mesmo que eles estejam combatendo outros bandidos.

Eu não gosto de palavrões! Aceito em casos de humor, em conversas particulares com amigos, e outras poucas exceções. Mas, pior que palavrões, eu detesto a filosofia egoísta, o escárnio com o sofrimento alheio, o preconceito sempre fútil, a hipocrisia disfarçada, a bondade falaciosa, a caridade interesseira, a calúnia raivosa, a agressividade velada, maldades que me levam a utilizá-los quase involuntariamente.

Eu não tenho medo de contar minhas vitórias, meus planos, meus sonhos para ninguém, pois, se você acredita em olho gordo, deve acreditar também em corpo fechado.

Eu prefiro a boca suja dos palavrões, do que a mente suja da calúnia, do preconceito, do ódio.

Jovens inteligentes se sentem anormais. Mas só até descobrirem que anormal é a sociedade em que vivemos.

Lei da Exceção: - Quando a exceção, que confirma uma lei geral, prejudica a gente, ela acontece várias vezes seguidas.

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Lute para não descer na escala humana. Você pode não conseguir subir novamente.

No Brasil, temos descendentes da casa grande, da senzala e os mais pérfidos, os descendentes dos feitores e dos capitães do mato.

No futuro, empresas e profissionais buscarão “cativar” o cliente e não “fidelizar”. E, certamente, terão muito mais lucros e menos demandas judiciais.

Nos tempos de Natal, é tanta a religiosidade nas palavras, que muitos se esquecem de amar o próximo.

O cachorro é fiel, pois defende seu dono independentemente de ser uma pessoa de bom ou mau caráter. Muitas pessoas também são assim. Fiel também é o dispositivo das balanças que indicam o equilíbrio, donde concluímos que o fiel não tem fiel.

O homem é o seu próprio limite.

O homem evolui como os computadores. Com o tempo, fica mais soft. E menos hard!

O problema não é a falta de planejamento urbano, mas o impedimento a ele.

O pior hipócrita é o que acredita na própria hipocrisia.

O que sacraliza um alimento é o amor da mão que o prepara ou o das pessoas em torno da mesa.

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O pior profissional julga ser a sua profissão a mais complexa. E as demais, simples ofícios que qualquer um pode exercer.

Os colonizados reclamam do calor tropical no Brasil, mas usam terno preto, britânico, o dia inteiro! O tempo é o algoz do homem. Ele transforma as residências não apenas pelo envelhecimento material. Quando os filhos estão saindo de casa, ela se tor na meio lavanderia, meio restaurante. Às vezes, consultório sentimental, empresa financeira e outros. Um pouco mais de tempo, vira creche. Depois, asilo. E, finalmente, museu. Para morrer logo, há vários caminhos. O mais confortável deles é o sedentarismo.

Paradoxo existencial é a constatação de que nós, os humanos, somos os mais desumanos.

Por que artistas de sucesso são simpáticos, amáveis, atenciosos?

Oras! Porque a atenção, a amabilidade, a simpatia, abrem as portas para o sucesso! Poupança é assim! Você poupa na idade adulta, para ter na velhice. Saúde, por exemplo.

Quando uma pessoa aponta o dedo leviano para outra que nasceu com diferenças naturais, ela morre um pouco como ser humano.

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Quando um pensante sai da sua condição individualista, para participar do pensamento essencial da humanidade, entra em uma dimensão maior, universal. Nela, o tempo não existe. Nem a morte!

Rir é sentir cócegas na alma.

Se a sua família depende de um bicho de estimação para ter harmonia, há alguma coisa de errado com ela. Se eu soubesse que a vida me traria onde me trouxe, eu teria vindo do mesmo jeito, porém, mais relaxado, gingando, cantando, dançando!

Todos nós podemos escrever um livro sobre nossas virtudes. E uma enciclopédia sobre nossos defeitos!

Quando eu for encontrar meu amigo pela última vez na vida, farei com que seja tão bom quanto na primeira vez.

Quando uma corporação toma o poder, em qualquer instância, seus componentes ficam com os egos inflados. Passam a acreditar que entendem de todos os assuntos e servem para qualquer cargo no contexto, até mais que os especializados de outras áreas. Eu chamo a isso de Síndrome do Óleo do Peixe Elétrico. O camelô dizia que servia para tudo, mas não servia para nada ou quase nada.

Quando vejo pessoas passeando com um cão, fico triste. Vida restrita a poucos metros quadrados, longe de seu ambiente natural. Fora do local, movimentação com coleiras. Castigos físicos para se adequar aos costumes

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do dono. Castração! Chamam de animal de estimação! Chamo de animal de expiação.

Quantas e quantas vezes a riqueza está ao alcance de nossas mãos, mas não a enxergamos.

Podemos ter alguém talentoso dentro de casa, mas não o valorizamos, pois santo de casa não faz milagres.

Por vezes, é um membro qualquer da família, mas não o prestigiamos, devido a pequenos rancores ou discordâncias.

Ou uma amiga, um amigo, com dotes especiais, cuja imagem não bate com os clichês da televisão. Jamais fará sucesso, pensamos! Colegas, vizinhos, conhecidos, ridicularizados por não atenderem aos padrões convencionais ou por fugirem muito deles.

E, assim, vamos perdendo Gabrielas, Carinhosos, Abaporus, Pietás.

Que me desculpem os que desprezam os verdadeiros valores nacionais, mas se a cachaça e a companhia forem boas, até a ressaca é alegre!

Tenho ouvido algumas pessoas dizerem que o país está sem graça, pois não se pode mais fazer piada de “preto, bicha, nordestino, aleijado” e outros. Pior, uns dizem que não existe humor sem escárnio. Concordo que o país está sem graça, mas devido a esse tipo de pensamento. Tudo tem que evoluir, até mesmo o humor. Sim, existe muito humor sem preconceito, inteligente, com respeito humano. Basta procurar. Aos insanos que não desejam evoluir, sugiro que procurem fazer humor sobre si mesmos. É um bom exercício intelectual!

Tristes tempos, quando é mais confortável ser açoitado no pelourinho, que engolir as mentiras da Casa Grande!

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Toda amizade tem história!

Passa por momentos bons e ruins! Assim, torna-se rica, com discussões, caras viradas, momentos festivos, cumplicidades, risadas, zombarias, críticas positivas e negativas, segredos, fidelidades, afora suas idiossincrasias tão exclusivas e, muitas vezes, não manifestas.

E a história corre, até quando não se tem muito mais o que esperar de novo, na amizade ou na vida. Então, vem aquela vontade de dizer o que não disse, mas deveria ter dito; vem aquela vontade de pedir desculpas, por pequenos ou grandes deslizes; vem aquela vontade de elogiar, de parabenizar, de agradecer.

E tudo isso pode ser feito da forma mais simples possível, com um abraço forte, verdadeiro, apertado mesmo.

Toda vez que se vai a um lugar à procura do próprio passado, há o risco de se encontrar um presente indesejável.

Todo servidor público que trabalha com honestidade e aplicação não faz mais que sua obrigação. Mas há uma enorme diferença entre cumprir suas obrigações de forma automática e cumpri-las com espírito público.

Todos acham que as burocracias devem existir para resolver os seus problemas e não os dos outros. Pensam assim, inclusive, os burocratas que as inventam.

Uma família não é importante para a sobrevivência de seus membros, exceto para o vulneráveis. Mas, em uma família acolhedora, as agruras da vida são muito mais fáceis de serem superadas.

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Você quer viver em um meio onde há pessoas importantes? Simples! Valorize, prestigie, dê importância a seus amigos.

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34 CONSUMISMO

É comum pessoas provincianas usarem de “indiretas”.

É uma forma de atacar aqueles supostos merecedores de serem atacados, se escondendo por trás do muro da insolência, para não serem contra-atacados. É típico de pessoas fofoqueiras do interior!

Dias desses, vi um caso tradicional e emblemático: “Tem muito copo de requeijão se achando taça de cristal”. Quem nunca ouviu isso?

Além da ausência de criatividade da pessoa, observei nossas diferenças de visão de mundo.

Em muitas casas pobres, eu já tomei sucos de frutas naturais, na temperatura da água de pote, deliciosos, em copos de vidro humildes.

E, em festas ricas, já bebi péssimos vinhos, baratos, em taças de cristal. Assim, aprendi ser o conteúdo muito mais importante que as aparências, aquelas tão veneradas por essas pessoas críticas, mas sem lastro de cultura.

Essas criaturas acreditam mais na imagem de uma guloseima que no próprio paladar; mais na crítica musical que na própria audição; mais no comentário alheio que na própria visão; mais na embalagem que no olfato; mais na descrição da textura que no tato. Por isso, perdem a oportunidade dos sabores, dos perfumes, das canções, das cores, dos toques, das verdades.

Há pessoas que não apresentam propostas para o bem de todos, não geram riquezas, não se importam com o planeta, como o fogo que destruiu o Museu Nacional! Querem apenas, irresponsavelmente, consumir.

Há pessoas que viajam para consumir; outras, para aprender. Os primeiros vão para Miami comprar parafernálias eletrônicas que, depois de dois ou três anos, estão obsoletas. Outros vão, por exemplo, para a Áustria e visitam campos de concentração.

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A aprendizagem é para o resto da vida e, ainda, evita que digam asneiras, como o Holocausto não ter acontecido ou que o nazismo foi coisa da esquerda política.

O melhor crédito bancário é aquele que você não pega.

Se a organização social e política da humanidade tivesse evoluído como evoluiu a tecnologia nos últimos séculos, hoje, viveríamos em um paraíso.

Um dos piores verbos atuais é “fidelizar”. Ele significa manter um cliente à força, por pressão. É uma espécie de extorsão consentida.

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CORRUPÇÃO

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A emissão de moeda sem lastro é a causa da inflação. Ou a movimentação da moeda, sem a geração de riqueza. Abaixo a especulação!

É sabido! Em todos os governos do mundo, sempre existiram as mazelas: corrupção, ignorância, injustiças sociais, miséria, desobediência às leis, violências, destruição da natureza. A grande diferença fica entre um governo progressista, que combate essas mazelas, e um governo nefasto, que as utiliza a seu favor.

Há vários tipos de corruptos na direção dos órgãos públicos. O que considero corrupto profissional, tradicional, age de uma forma interessante. O filé que pretende abocanhar, ele esconde de todo mundo, dizendo que está sendo tratado com reserva, por ser assunto sensível a desvios. No resto, é a pessoa mais legalista do mundo, ameaçador dos que queiram cometer ilícitos, cumpridor de obrigações, exigente de bom comportamento e bom desempenho de seus subordinados. Também é disciplinado, no que se refere às ordens superiores, além de simpático e respeitador. Um doce de pessoa!

Homens fortes e guerreiros lutam para que esteja no poder um forte e guerreiro. Homens cultos e inteligentes tentam convencer aos demais de que o poder deve recair em cultos e inteligentes. Homens justos sonham que o poder seja exercido por pessoas justas. Mas os corruptos precisam que o poder esteja nas mãos de outros corruptos.

O que é público, nas regiões desenvolvidas, é de todo mundo. Nas subdesenvolvidas, não é de ninguém.

Todos os altos salários, vantagens, mordomias, privilégios de carreiras de estado são previstos em lei. Este é o problema!

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EDUCAÇÃO

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A Bíblia é o único livro que os analfabetos funcionais leem.

A falta de educação financeira causa muitos prejuízos às pessoas. Acredito que é uma verdade e vou além. A falta de educação em outras áreas também causa prejuízos de diversas ordens.

Nessa linha de raciocínio, sou favorável à educação sexual nas escolas, com conteúdo adequado a cada idade e ministrada por professores bem-preparados. Essa disciplina deve ensinar aos jovens não apenas os bons hábitos da higiene íntima, os cuidados contra as doenças sexualmente transmissíveis, os meios para se evitar a gravidez precoce, os perigos de um aborto e tantas outras armadilhas que os deuses da vontade espalham, para aqueles que acreditam ser o relacionamento sexual simplesmente uma competição.

É fundamental ensinar aos adolescentes os segredos dos encontros. Os meninos precisam saber quando, como e onde tocar uma mulher, com o devido cuidado e carinho, e que os ciclos femininos precisam ser respeitados.

As meninas precisam aprender a orientar seus parceiros sobre a forma como tudo deve acontecer, já que são portadoras das informações mais relevantes sobre o tema, por razões fisiológicas e, também, por serem mais evoluídas e complexas anatomicamente.

Todos devem reconhecer também os caprichos da natureza, relativos à homossexualidade e mesmo à neutralidade sexual.

Mas o mais importante é a apredizagem da aura romantica que deve existir no momento do prazer, assim como do valor de um abraço, da honestidade do beijo, da confiança no olhar, do aproveitamento do momento, do reconhecimento da respiração arfante, dos cheiros, do uso da poesia e das palavras doces. Assim, pode-se evitar um dos maiores prejuízos na vida!

A falta da educação sexual causa a perda irreparável de grandes amores.

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A escada do conhecimento leva ao patamar do raciocínio lógico. Poucos sabem, porém, que há outro patamar acima, o da dialética.

A grande sabedoria consiste em reconhecer que não existe nenhuma pessoa inferior a outra. Sob nenhum aspecto.

A informação cultural não cria bandidos. A desinformação, sim.

As pessoas são como as apostilas. Existem as honestas e as tendenciosas.

Às vezes, nem é necessário continuar uma leitura. Mas não se pode deixar de pensar sobre ela!

Aprender é uma tendência natural do homem. Apresente os livros para uma criança alfabetizada e esqueça os métodos acadêmicos e sofisticados. É mais econômico e eficaz. Com o tempo, há pessoas que amadurecem intelectualmente. Outras apodrecem sem amadurecer.

Conhecer a língua inglesa e ler Ernest Hemingway no original é maravilhoso. Mas dominar a língua de Shakespeare só para comprar bugigangas em Orlando é ridículo! Conheci um sujeito que não escovava os dentes. Ele dizia que nos restos dos alimentos estavam as melhores vitaminas. Aprendi, desde então, que ter argumentos não significa

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ter razão. Os ignóbeis, geralmente, têm muitos argumentos. Porém, simplórios e errados!

Demorei uma vida, mas encontrei minha preferência de leitura. Gosto de livros honestos. Podem ser filosóficos, humorísticos, políticos, religiosos, desde que o autor acredite no que está afirmando e suas afirmações não tenham interesses outros, subliminares ou não. Não gosto de livros filosóficos, que buscam doutrinar politicamente os leitores. Também não gosto de livros pretensiosamente científicos, que tentam justificar dogmas religiosos. Quando se mistura ciência e religião, a primeira torna-se falsa e a segunda, apenas prepotente.

(Dica de português) “Celebridade” nem de longe é derivada da palavra cérebro. Dogma é uma ideia fixa coletiva.

Dos grandes mestres, aprendemos até com os grandes erros que cometem, pois isso decorre de seus arrojos, de suas criatividades, de suas coragens, de seus talentos. Com os medíocres, também aprendemos, mas com seus erros e acertos também medíocres. Em todo sucesso da vida laboral dos nossos filhos, há o DNA dos ensinamentos de nossos professores.

Esclarecer um ignorante é coisa que leva tempo. Às vezes, uma vida!

Estimular uma criança a lavar os pratos, arrumar a cama, ajudar no negócio da família, sem comprometer seu desenvolvimento físico e psicológico, faz parte da desejável educação. Isso é muito diferente do chamado “trabalho infantil”, que

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ocorre sob o contexto da exploração de mão de obra, da opressão, da desigualdade social, o que é repugnante. E misturar as duas coisas é, no mínimo, deficiência de raciocínio.

Eu não guardo livros, exceto os de consulta permanente, os autografados e os com dedicatórias. Creio que a informação não pode ser privatizada ou ocultada. Nem tenho a vaidade de manter uma vasta biblioteca!

Há livros que constringem os grilhões que ligam as pessoas ao egoísmo, ao individualismo, ao obscurantismo, ao estado de espírito da agressividade e da beligerância.

Outros trazem luz a toda a humanidade! Indicar um livro a um amigo é, muitas vezes, um ato de amor. Mas, cuidado, pode-se perder o amigo.

Livros sagrados são fontes! Qualquer um pode delas beber, mas jamais apropriar-se.

O tempo apaga as informações. Mas também pode iluminar!

Muitos pensam que a maior alegria de um arquiteto é ver construída uma escola por ele projetada. Creio que, para muitos profissionais, a felicidade ocorre, de fato, quando ele escuta a algazarra alegre das crianças na hora do recreio.

Nada mais chato do que uma pessoa lembrar, o tempo todo, daquilo que julga ser suas virtudes ou vantagens.

Já virou moda, pelos doutrinados, a jactância da própria fé!

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E a coisa não tem aquele freio, o tal do discernimento, que só se obtém com educação e leitura.

No curso de Arquitetura e Urbanismo, aprende-se a projetar e construir edifícios, cidades, regiões, sob a égide dos mais elevados valores humanos. Mas, uma casa, por exemplo, só é tornada um lar, se nela for incluída uma família feliz. O amor e o zelo são os melhores e mais importantes itens de decoração.

O primeiro estágio de um país civilizado e evoluído é a proteção total de todas as crianças.

Quando um professor avalia as provas de seus alunos, está avaliando também a sua competência de ensino.

Quando você estiver de folga, sem nenhuma vontade de ler um livro, leia só um pouquinho.

Quanto mais se lê, mais a própria ignorância salta aos olhos. E a dos que não leem mais ainda!

Todo arquiteto tem a obrigação de amar o teatro, já que ele é o principal cenógrafo da tragédia humana.

Todo enaltecimento à educação, aos professores, aos livros, todo apoio à ciência, à pesquisa, toda valorização das artes e da cultura é um ato de oposição a um governo tirânico.

Todas as vidas importam, sim! O problema é que, por razões estúpidas, muitos consideram suas vidas mais importantes que as dos outros.

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Uma perfeição de professor é um professor de perfeições.

Vi muitas fotos das maiores e mais belas bibliotecas do mundo, com uma infinidade de prateleiras repletas de livros de todos os tempos. Admirei a arquitetura dos edifícios e pensei: - Meu Deus! Quanto conhecimento eu não tenho!

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ELEIÇÕES

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Em vez de verde e amarelo, eu vou votar vestido de branco. Pois, só existe uma Pátria, se existir a paz.

Mais importante que votar em candidatos, pois eles passam, é votar em ideias e ideais. Muitas pessoas pensam que, se há eleições diretas, a democracia está garantida. As eleições são apenas eventos fundamentais no início e no fim de uma gestão democrática. O intermédio é muito mais importante e, se nele não houver o poder e o benefício ao povo, o conceito se perde nas piores atitudes de governantes tiranos, individualistas, despreparados, inconsequentes.

Em outras palavras, o “demos” deve exercer o “kratos” por todo o tempo e em toda a sua plenitude. No meio do século passado, o Governador de São Paulo foi visitar um reduto eleitoral e seu automóvel quebrou em frente a uma cidadezinha. Após ser bem acolhido pelo Prefeito local, perguntou qual presente ele poderia dar para a pequena cidade tão hospitaleira. Um centro esportivo, uma escola agrícola, um hospital? Sabe-se lá o porquê, o Prefeito escolheu uma cadeia. Construído, durante muitos anos, o ostentoso prédio da cadeia ficou subutilizado. Só quem ficou preso foi o progresso do município. Por isso, quando vou votar, pergunto se meu candidato pretende construir escolas ou cadeias.

Sempre fui leal com meus adversários. Quando ganho, respeito o oponente. E quando perco também. Desde que ele não seja um trapaceiro!

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Se um candidato tem propostas para o bem comum, para o bem do próximo, para o bem dos humildes, e um outro tenha propostas nefastas, de apartação, de violência contra grupos, mesmo que, no todo ou em parte, os dois estejam mentindo, sempre ficarei com o primeiro.

Seu voto é o reflexo do seu caráter.

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Vote em candidato que usa “nós” em vez de “eu”.
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HUMANISMO

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Abelha e escorpião têm ferrões, que podem até matar!

A abelha vive em uma organização social.

O escorpião é individualista.

A abelha produz mel. Gera riquezas!

O escorpião não produz nada. Só consome!

A abelha busca as flores!

O escorpião vive no lixo.

A dissimulação mais avara é o fingimento em não ouvir o grito dos que sofrem. Ajudar as pessoas necessitadas é a forma mais digna de agradecer àqueles que nos ajudaram algum dia.

A má distribuição da renda traz junto a má distribuição do amor ao próximo.

As pessoas apegadas a bens materiais se horrorizam mais com furtos e roubos. Os humanistas se horrorizam mais com assassinatos.

Catequizar índios sempre foi uma forma dissimulada de genocídio. Viva e deixe-os viver!

Creio que a humanidade está polemizada em dois opostos. Em um deles, estão os justos, desejosos de uma vida digna e civilizada para todos. Em outro, os individualistas, egoístas, que acreditam ser o mundo uma competição, como na selva. Entre os dois pontos, há opiniões intermediárias. Desde as neutras e alienadas, para quem pode economicamente, até as seletivas nos princípios cristãos, na fraternidade.

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Devemos ser generosos com nossos filhos, para que eles aprendam e sejam generosos com nossos netos.

Diziam: tempo é dinheiro. Hoje, sabemos: tempo é vida!

Enaltecedores da tortura tem a alma tão sádica e cruel como a dos próprios torturadores.

Escrever é espalhar sementes.

É sobre as vidas mais frágeis que devemos ter as maiores responsabilidades.

É unânime o conceito, até mesmo entre eles, de que o militar é treinado mesmo para matar. Daí minha preocupação, quando conjugo essa informação com a de uma frase de Abraham Maslow, que diz: “Para quem só sabe usar martelo, todo problema é um prego.”

Há pessoas que merecem a vida. Outras, a vida é que deve se regozijar por tê-las.

Há tempos de plantar e de colher. Mas aqueles que só colhem, e sempre só para si mesmos, reclamam muito da escassez, quando outros estão plantando para todos.

Maldito seja o governo que aumenta o orçamento da guerra e reduz o da paz.

Muita gente acha que determinada criança tem problemas. Na maioria das vezes, não são problemas, são diferenças. Na maioria das vezes também, essas diferenças só propagam o amor.

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Muitos chamam os detentos de escória humana. É bom lembrar que escória é resíduo da mesma matéria.

Não adianta mostrar, para os olhos, aquilo que um coração egoísta não quer enxergar.

No dia em que todos acreditarem na utopia, ela se tornará realidade.

No fundo, no fundo, o que interessa em um país é se todos tem acesso à educação, assistência à saúde, habitação, segurança, previdência. E se há uma justiça célere e imparcial. Esse conjunto já garante a inexistência ou raridade da corrupção e um bom nível de vida para todos. De um modo geral, são admiráveis os países que defendem, acima de tudo, as vidas das pessoas e suas liberdades. Se esses países são capitalistas, total ou parcialmente, socialistas, total ou parcialmente, ou comunistas, total ou parcialmente, pouco importa. Se o humanismo não for a bússola de um governo, ele está em um caminho absolutamente errado.

O caráter mais apodrecido é o que zomba da tragédia alheia.

O diabo só rouba a comida de quem tem pouca.

O egoísta, ou mau caráter, pode ser identificado pelas causas que não defende.

Os doutrinados de verdade, pelas religiões, corporações, imprensa de massa, acham ser doutrinados todos os pensadores destoantes de seus dogmas e ideias fixas. Nunca eles!

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Os egocêntricos desejam que todos sejam iguais a eles.

Os mesquinhos desejam que ninguém seja igual a eles.

Os deficientes, inseguros e de baixa estima desejam ser iguais aos outros.

Os esclarecidos desejam que todos sejam iguais, mas em direitos, deveres e oportunidades.

O grave do conservadorismo é justamente a falta de evolução.

O traço psicológico mais característico de um nazista é o seu extremo amor pelos seus e seu mais irônico desprezo, sua mais cruel indiferença pelo sofrimento alheio.

Progredir, evoluir é uma tônica da civilização. Todos buscam a evolução espiritual, se servem da evolução tecnológica, da evolução na medicina, testemunham a evolução social, que deixa muito a desejar, mas acontece mesmo vagarosamente. Portanto, nada mais certo do que considerar o estacionado conservadorismo como signo do atraso.

Pouco importa se Jesus Cristo existiu ou não. Também não importa se o seu martírio foi verdadeiro ou lenda. Ou se os milagres a ele atribuídos aconteceram de fato, como algo sobrenatural. Fundamental é que a filosofia cristã seja acatada, respeitada e que todos amem uns aos outros.

Quando você, verdadeiramente, se empenha para fazer o bem ao próximo ou o bem à humanidade, não mais interessa a sua religião, a sua condição social, a sua posição política.

Você já está em um plano muito superior a tudo isso.

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Quase sempre, na vanguarda da história de um grande homem ou de uma grande mulher, há um pai amoroso.

Quem combate a fome, está combatendo a raiz da maior parte dos furtos, roubos e outros crimes. Se excluirmos as ciências humanas de uma sociedade, ela se torna desumana!

Sempre, a bondade tem uma versão e a maldade tem outra. Com uma inteligência equilibrada e um coração puro, consegue-se discernir uma da outra.

Sempre que se estiver entre duas opiniões antagônicas, irreconciliáveis, de difíceis comprovações, a preferência deve recair naquela que contiver o discurso da paz.

Se não dermos um pequeno espaço de negociação para os inimigos, nunca haverá paz. Se ela for desejável, claro! Se não puder plantar árvores, plante ideias.

Só quem faz autocrítica são as pessoas honradas, desapegadas de vaidade e soberba; são os espíritos desarmados e elevados, que buscam o bem comum, sabendo que almejam o melhor para si e para o próximo.

Uma coisa é ter ideias. Outra, ter ideais.

Um rolo compressor arrota a sua força, mas só até chegar ao pântano.

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IGNORÂNCIA

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A ausência do conhecimento leva ao fim do pensamento livre e compromete o raciocínio. E esse desmazelo mental leva à violência.

A exploração racional das florestas é muito mais rentável que a pecuária extensiva ou a soja. Esse uso permite a extração de madeira, frutos, castanhas, borracha, plantas medicinais, plantas ornamentais etc. de modo perpétuo, além da exploração turística e outros. Portanto, o imediatismo do desmatamento arrasador e dos incêndios não passam de atestados da ignorância, do atraso.

A falta de estudo das ciências humanas faz as pessoas acreditarem que a política é adversidade e guerra.

A ignorância, quando alimentada pelo ódio, é o mais barato dos entorpecentes.

A ignorância política é como a gordura de um cozido. Basta aquecer a panela ou a discussão, que ela aflora, deformada, asquerosa, repulsiva. Mas tem gente que gosta e até sorri!

A ignorância sádica caminha ao lado da desumanidade.

A leitura é como o paladar. A cada idade é diferente e, também, muda com o tempo. Lamentavelmente, muitos professores não oferecem a leitura apropriada aos seus alunos. Mas, depois que crescemos, é bom experimentar aquilo que não gostávamos quando criança.

A pior deficiência da evolução humana é a carência da autocrítica. Ou a

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crueldade disfarçada?

Em qualquer grupo social, inclusive na Academia, há vaidades. Mas é preferível a vaidade de um sábio que a arrogância de ignorantes.

Estúpido honoris causa é aquele que enaltece o mérito, mas cultua os privilégios.

Faculdade da vida? A pessoa nunca se sentou em um banco de faculdade, muito menos para estudar uma única matéria de ciências humanas, mas quer palpitar sobre ciência política, economia, sociologia, psicologia, antropologia, pedagogia, direito, história, metodologia científica, artes. Também não viu nada de ciências da saúde, mas quer discursar sobre nutrição, farmácia, odontologia, medicina etc., tudo com base em seu estupendo conhecimento adquirido nos fakes do zap zap. Quando encontra o vídeo de um estúpido no Youtube, apoiando alguma ideia estúpida que lhe agrada, considera como se a sua hipótese tivesse sido publicada em uma revista científica internacional! E ainda diz que estudou na faculdade da vida, como se todos não fossem viventes! Essa absoluta falta de discernimento é um subproduto da má educação básica, na escola e na família, sem uma visão política múltipla e universal. Pelo jeito, deve piorar um pouco mais, pois se há uma coisa que os dominadores gostam é da ignorância garantida.

Fora dos roteiros turísticos, eu andei por todo o Brasil. Nas cinco regiões, vi maravilhas da natureza e da cultura do nosso povo, mas também presenciei a miséria e a tristeza que atingem nossos irmãos desventurados. Fico extremamente entristecido, quando leio opiniões que os inferiorizam ainda mais, que os desonram, que os desprezam, sempre usando a agressividade leviana e a empáfia. Por isso, dos que assim opinam, mesmo mantendo as relações sociais, desprezo as almas.

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Há dois tipos de cães.

Os da elite e os vira-latas.

Eu jamais criaria algum, por diversas razões, entre as quais, por ser contra retirar um animal da natureza ou a natureza do animal.

Não existe animal doméstico, existe animal domesticado, submetido às vontades do dono, assim como não existiram escravos, mas a escravidão.

Entretanto, como o mundo não é ideal para ninguém, considero a realidade.

O cachorro da madame, ou do cavalheiro, é aquele que tem pedigree, tem raça admirada, pronunciada em língua estrangeira. Sempre bem cuidado e bem alimentado, é adestrado por treinadores caros e volta demonstrando seu condicionamento. Seeenta! Juuuuunto! Amigo, amigo!

O vira-latas é assim chamado porque precisa buscar a própria comida e acaba virando latas de lixo para encontrá-la. Vai um pouco além dos adestrados, usando estratégias para sua sobrevivência, até com criatividade. Assim, o apelido poderia ter outro significado, o de se virar na vida! Também com os homens, podemos correlacionar os dois tipos. Uns foram treinados e gostam de obedecer, até por medo! Outros não abdicam de suas liberdades e passam a vida lutando por elas.

Há pessoas que agem como os cães. Não interessa o caráter do dono! Defendem-no até à morte, a troco de agrados e restos de comida.

Já vi pessoas vencerem seus preconceitos. Mas, hoje, vejo muito mais os preconceitos vencendo as pessoas. Doutrinados sempre querem pautar a sociedade com suas crenças, conceitos e preconceitos.

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Na área da saúde, afirmam ser uma pessoa aquilo do qual se alimenta; na área da sanidade mental, aquilo que lê.

O “ignorante criativo” é engraçado! Ele cria argumentos, até bem-humorados, para justificar suas opiniões ignorantes.

O mundo exterior de muitos brasileiros, mesmo tendo viajado para a Disneylândia, vai da porta da casa-grande à porteira da fazenda.

O preconceito dissimulado ataca, com ironia e escracho, os problemas sociais, sem perceber a maldade que carrega. Pior que um analfabeto, é o leitor de um livro só. Quem só aprendeu a fazer a guerra tem dificuldades para a viver a paz.

Síndrome do Casulo!

É uma doença das pessoas que acham meritocracia ter nascido em família abastada ou mesmo remediada. Porque tem o que comer de manhã, no almoço e jantar, acham que isso é normal para todos. Porque não precisam trabalhar tanto, dizem que humildes, desempregados e até deficientes são molóides. Isso entre outros dogmas e chavões de linguagem, que refletem sua filosofia egoísta!

Essa doença já se tornou uma epidemia no Brasil. O contágio se dá no meio familiar ou em festas, coquetéis, encontros sociais ou religiosos. A cura é complicada, exige estudo, desprendimento e leitura diversificada. Ou seja, tratamento muito cruel para eles, que precisam de todo o tempo para consumir. Chama-se “do Casulo”, porque dele nunca sairão e, também, nunca poderão voar.

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Socialismo” é uma palavra proscrita pelos que não estudaram ciências humanas. Talvez, simplificando para “cooperativismo”, eles aceitem e até aplaudam! Um dia, um novo Freud ou uma nova psicologia conseguirá explicar o porquê de as pessoas amarem tanto os seus preconceitos, a ponto de virarem escravos desses juízos de valores.

Os velhos sábios procuram conhecer os pássaros que os cercam, saber seus nomes e costumes, identificar seus cantos, apreciar seus voos. Para os velhos medíocres, são apenas passarinhos e não tem grande importância.

Os velhos ignorantes, covardemente, prendem as aves.

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Críticas e acusações, sem fontes nem provas de veracidade, são apenas vandalismos de informações.

É fácil observar como referências causam a repetição de atos. Quando a imprensa divulga um crime incomum, outros iguais acontecem em sequência. É sugestionável! Também quando pessoas referenciais indicam atos, esses atos acontecem. Por isso, a imprensa e os homens públicos devem ter muita responsabilidade na divulgação de fatos e ideias. E quem sabe muito bem disso são os professores.

Fumar, beber refrigerantes artificiais, ver televisão, você pode até achar que não são coisas nefastas. Mas há de concordar que são coisas absolutamente desnecessárias na vida de qualquer um.

Há pessoas inteligentes que conseguem enxergar muito além das manchetes dos jornais. Aos medíocres, os classificados satisfazem.

Lamentável é a imprensa chapa branca. Pior é a imprensa chapa fria!

O silêncio de uma imprensa cooptada é mais nefasto para um povo, que seu escarcéu em defesa dos próprios interesses financeiros e políticos.

Palavras são como sementes. As boas devem ser cuidadas e multiplicadas, pois delas dependem o bom futuro. Deve-se desprezar aquelas das ervas daninhas, que carregam o ódio, o desamor, a desumanidade. É muito bom colher os bons frutos originados das boas sementes. E os das boas palavras.

Quando leio os grandes jornais, fico pensando: hoje, não há coisa mais suspeita que a suspeita.

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Quando toda a imprensa fala de um assunto só, tente descobrir quais os outros que ela quer esconder.

Quando um poeta está na iminência de escrever um belo poema de amor e recebe uma agressão, isso pode estancar o fio do raciocínio e não mais ser retomado. A agressão nada produz e pode ainda inibir a produção de trabalhos beneficiadores de toda a humanidade. Ela é a chancela da incapacidade.

Se as críticas ou acusações que você publica não têm bom humor nem provas de que é verdade, você é apenas um vândalo de informações.

Uma pessoa pode dar sua opinião, mas deve assumir a autoria de forma bem clara, se não for mal-intencionada.

A notícia falsa é como um prédio construído sem cálculo de engenheiro nem responsável técnico. Pode até ficar em pé, mas eu é que não fico embaixo.

Já aquele construído por responsáveis conhecedores da técnica e normas de segurança pode até cair, mas a probabilidade é ínfima.

Se você acha que pensa o certo, por que o receio de publicar?

Nós devemos nos lembrar, mas não lamentar, agora, pela igualdade que não houve. Devemos lutar pela igualdade que não há.

Um trabalho intelectual, jornalístico por exemplo, deve seguir os princípios do método científico. Deve tratar dos prós e dos contras, de forma honesta e transparente, sem preconceitos. Se não o fizer, vai oferecer aos seus leitores, no máximo, 50% da verdade. Ou 100% de mentiras.

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JUSTIÇA

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A fixação em punir com rigor quase desumano os diferentes, ou mesmo os erráticos, é o traço psicológico mais repugnante nos néscios.

A justiça brasileira é um jogo de xadrez. Se for amigo ou pagar bem, está livre. Senão: xadrez.

A Justiça deve combater a corrupção, como os outros crimes, delitos. Mas o combate à corrupção não pode pautar a justiça.

A justiça que se preocupa só em condenar um culpado é falsa. A que visa proteger um inocente é sublime.

A justiça social não onera ninguém. Já a injustiça social rouba os pobres e miseráveis.

“A justiça é como uma serpente, só morde os pés descalços” (Eduardo Galeano) E só é rápida para dar o bote traiçoeiro.

Alguns mentirosos, combinados entre si, conseguem levar um inocente para o cárcere. Mas se, em vez de juízes, houver inquisidores, basta um mentiroso!

A ocupação de um espaço físico por pessoas carentes só acontece como reação a uma invasão ocorrida em seus direitos.

A pena aplicada pelo sádico é sempre exagerada e desproporcional ao delito.

A pior assessora da Justiça é a vingança.

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De uma emboscada judicial, qualquer um pode ser vítima. Principalmente se os criminosos, além de protegidos pelo poder, forem estupradores dos princípios do estado de direito, da honestidade, do respeito ao semelhante, escravos de suas vaidades e invejas miseráveis.

Em uma sociedade de injustiças, ninguém tem segurança.

Mágoa, revolta, vingança, violência, guerra! A injustiça não morre de repente.

Negar a presunção da inocência é um crime muitas vezes maior que o supostamente cometido.

Nos jardins zoológicos, todos os animais são presos políticos. Não cometeram nenhum crime.

O bom caráter pode se equivocar, defendendo um inocente que talvez não seja. O mau caráter ataca um inocente por inveja e ódio, sem lhe dar o benefício da dúvida pelo menos. É melhor acertar ou errar ao lado do bem!

O mais traiçoeiro dos malfeitores é aquele que tem notório saber e notório mau caráter.

O que protege uma sociedade são as leis! O que atrapalha uma sociedade é o desconhecimento das leis.

Quando o Estado defende seu povo, com democracia, justiça, assistência aos desvalidos, as propriedades não são atacadas. E não é necessária a violência contra irmãos.

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Quando os do Direito perdem o respeito pelas leis, o povo perde o respeito por eles.

Repetem sempre: “O povo precisa ter medo para obedecer”. É uma versão de interpretação religiosa, também doutrinária, que manda o homem ser “temente” a Deus. Há entendimento contrário, o de que Deus é amor.

Nos grupos mais intelectualizados, há algo semelhante, que assegura: o povo precisa ter educação para obedecer, mas às leis!

Ser absolvido por amigos sugere a mesma desconfiança que ser condenado por inimigos.

Um crime cometido por uma pessoa pode e deve ser punido, dentro da legalidade, pelo Estado. Mas quem pune o crime cometido pelo Estado? A assimetria entre esses dois tipos de delitos é berrante.

Todo brasileiro é um técnico de futebol e um jurista. E isso sem nunca ter nem consultado as regras do futebol nem a Constituição Federal.

Violência de Agentes do Estado – Um cão de guarda não pode morder a mão que o alimenta.

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LIBERDADE

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A liberdade é uma condição defendida por todos, mas poucos usam da liberdade de se informar bem. É a escravidão moderna.

Lamentavelmente, até hoje, o sonho dos herdeiros da casa grande é ter um rei para beijar a mão e alguns escravos para chicotear.

Não adianta ter o pensamento livre, mas o espírito acorrentado a valores espúrios.

Nossas mentes são escravas! Da religião, do ódio, dos preconceitos, das vontades... Ou da liberdade de pensamento!

O cão mais violento é aquele privado de sua liberdade. Assim também é o pensamento humano.

Também aos animais, o homem leva sua injustiça social e apartação.

No alto da pirâmide social dos bichos, está a elite: cães e gatos. São os privilegiados que gozam da maior proteção, têm uma cadeia produtiva voltada exclusivamente para eles, embora não retribuam com uma produção proporcional. Só uns poucos casos de segurança do território, farejamento de drogas, companhia para carentes afetivos ou solitários. Quando têm oportunidade, atacam e matam os demais bichos de porte menor que eles. Não são originários da fauna brasileira, é bom lembrar! São predadores exóticos, pode-se considerar espécies invasoras, com todas as consequências descritas por Darwin.

Abaixo dessa elite, ficam os animais de fazenda: vacas, porcos, galinhas etc. São os inocentes úteis! São bem tratados, mas explorados. O destino de todos é serem mortos. Sem compaixão ou misericórdia.

Na base, os marginais, os animais silvestres, esquecidos, invisíveis, sem proteção nem voz. São expulsos de seus habitats, caçados, queimados, dizimados, extintos.

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Não sabermos se, um dia, a natureza irá vingá-los!

Um indivíduo que deseja uma ditadura de esquerda, centro ou direita, civil ou militar, é apenas um idiota que deseja uma ditadura!

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76 MULHER

A Constituição Federal é o verdadeiro símbolo da mulher brasileira consciente: não aguenta mais ser desrespeitada.

Assim como das plantas, de algumas amizades podemos esperar bons frutos. De outras, a satisfação está apenas no aroma das flores.

Nada contra as mulheres que saem da prostituição e entram na política. Tudo contra as que levam a prostituição para a política.

Toda mulher é única! O problema é que elas sabem disso!

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NATUREZA

A cultura japonesa é admirável sob inúmeros aspectos, pela sua sabedoria milenar. Mas a tradição de atrofiar vidas não tem a minha concordância. Abaixo o bonsai!

A destruição da natureza é a mais antiga das ignorâncias.

A exploração racional das florestas é muito mais rentável que a pecuária extensiva ou a soja. Esse uso permite a extração de madeira, frutos, castanhas, borracha, plantas medicinais, plantas ornamentais etc. de modo perpétuo, além da exploração turística e outros. Portanto, o desmatamento arrasador e os incêndios não passam de atestados da ignorância, do atraso.

Amar os animais não é manter relações antropomórficas com eles, tirando suas liberdades, para satisfazer os próprios anseios afetivos.

Ama-se os animais, defendendo suas naturezas e a natureza onde vivem a plenitude de suas existências.

A natureza tem dois grandes inimigos: a ignorância de uns tantos e a alienação de outros tantos.

Atenção! Para o bem ou para o mal, nenhum reflorestamento recupera as espécies vegetais e animais, grandes, médias, pequenas e microscópicas, perdidas ou extintas, quando uma floresta é arrasada.

Cada vez que um desmatador fica mais rico, a humanidade fica mais pobre. Cansam, as tragédias! Causadas pelas doenças, pelas intempéries, pelas violências, pela ignorância, pela insensatez, pelo desprezo a tragédias anteriores.

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Fechando o ciclo, voltamos ao útero materno. O da mãe terra, que estamos ajudando a matar.

O agronegócio, com seu princípio de terra arrasada, é o butim da guerra contra a natureza. O homem vive controlando as plantas, os bichos, a natureza em geral, quando deveria controlar a si mesmo.

Quando se trata de florestas, incêndio criminoso é pleonasmo.

Um cão criado em apartamento é o mesmo que um pássaro preso em uma gaiola.

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82 ÓDIO

A alegria do ódio é o escárnio!

A felicidade oriunda do ódio vira veneno e pode adoecer ou matar o odiento.

Assim como uma fruta que nasce saudável, muitas pessoas também apodrecem! No caráter! Aprendem a odiar os humildes, os defensores dos humildes, os inocentes, os diferentes de seu padrão de comportamento. Mas, assim também como se pode aproveitar uma parte boa da fruta, pode-se conviver com a parte sã dessas pessoas.

A raiva é quente! Mais tempo, menos tempo, ela esfria e termina. O ódio é gelado! Se for grande, torna-se um iceberg, que pode matar pessoas, amores, sonhos.

É perfeitamente possível apresentar uma manifestação política sem ódio. Se incluir o ódio, ela deixa de ser política.

Há pessoas que tem um coração enorme. Parece até que ele tem fundo falso! Nunca vi caber tanto ódio! O ódio é uma das características humanas mais imperfeitas, pois cega e ensurdece o ignorante. Mas, infelizmente, não emudece!

Há uns tão insensatos, que odeiam até a gente, que não odeia ninguém.

Inspirados no bem e no mal, inventaram o bumerangue.

No contexto do amor ao próximo, não há espaço para o ódio. Se saem da mesma fonte, esse amor é uma falácia ou um amor egoísta.

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O amor pode modificar meus caminhos; o ódio, jamais!

O individualismo tem limites. Menos para os egoístas.

O ódio contra alguns e a bajulação dos idolatrados são faces de uma mesma moeda de baixo valor. O ódio constante é a certeza de um desequilíbrio mental por si mesmo.

Ódio de classes é vício horrível! Ódio contra a própria classe é, também, vesguice social.

O ódio é uma espécie de câncer, no qual a metástase ocorre nos entes próximos.

O ódio não faz autocrítica. E apodrece as pessoas que o sentem sistematicamente.

O ódio só poderia ser coisa de consumista. É confortável e não exige esforços, como pensar, pesquisar, analisar!

O pior radical de direita é aquele que já foi o pior radical de esquerda, pois o radicalismo não está nas doutrinas políticas, mas em sua mente limitada por dogmas e veleidades.

O preconceito dissimulado ataca com ironia os problemas sociais, sem perceber a maldade que carrega.

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Para o espírito de torturador, um pedido de justiça ou clemência é estímulo para recrudescer a crueldade.

Quando a inteligência humana é voltada para o bem comum, produz coisas incríveis. E aí está a diferença entre os bons e o maus. Ou entre o bons e os medíocres. Há fartos exemplos históricos: não se constrói uma nação com ódio.

Querer eliminar, violentar, matar, prender quem pensa ou age de forma diferente, mas legal, não é ideologia. É paranoia! Também a inveja, quando usinada, vira ódio.

Temos um planeta real, maravilhoso, para nos deleitar; outro, virtual, para contemplarmos, afora a dádiva dos sonhos, solitários ou em conjunto, mas os ignóbeis preferem odiar.

Tenho observado que o ódio nas redes sociais usa o amor pela Pátria, ou assemelhado, como justificativa para tal agressividade. Não é nada disso! O que há por trás desse ódio é a vaidade, o pedantismo, a presunção, a arrogância, a prepotência, o preconceito contra os que pensam de forma diferente. Onde há discórdia, desequilíbrio emocional, desrespeito, não há amor nenhum.

Uns são tão hipócritas, que parecem esses bichos brigando com a própria imagem no espelho.

Você é favorável à vida ou favorável à morte. Às duas coisas, ao sabor das ondas, não dá.

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Um governo que preconiza a violência, o assassinato, a guerra, não pode ser melhor que nenhum outro.

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PÁTRIA

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De muitos brasileiros, o patriotismo sai pela boca, mas só cabe no próprio bolso.

Pátria é povo, cultura e território. Ser patriota é defendê-los.

Sempre que passo pela Praça dos 3 Poderes e vejo a bandeira, eu penso que muitos indivíduos se dizem patriotas, porque cantam o Hino Nacional e chamam esse estandarte de mãe-pátria, mãe gentil. Porém, cantam alto o Hino decorado e não o escutam direito. Não conseguem ouvir, entre os acordes, o choro das mães que perderam seus filhos inocentes por falta de assistência à saúde; nem o clamor dos necessitados; nem o grito dos injustiçados. Não percebem que a verdadeira Pátria é o povo, seus patrícios, seus irmãos humildes, merecedores da verdadeira devoção, da igualdade, do amor pátrio. - Patriota não é quem adora o Hino e a bandeira apenas, mas quem ama seus semelhantes com o mesmo fervor e luta para que todos possam ter o mesmo sonho intenso. Se Pátria Brasileira não for todo o Povo Brasileiro, eu não quero ser patriota.

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POLÍTICA

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A ausência do Estado é muito melhor que uma presença nefasta!

A extrema direita não consegue argumentar sem o dedo no gatilho.

A extrema direita brasileira não é um pigmento escuro na paleta das cores políticas. É uma mancha de ódio, pois seus seguidores só falam em extraditar, banir, prender, ofender, machucar, humilhar, matar, torturar, guerrear. E sempre com mentiras e posturas egoístas.

A democracia é como filhos. Mesmo com defeitos, devemos acolher e proteger. Deste modo, evoluem sem problemas.

A opinião política é como a direção no trânsito. A correta é defensiva. A agressiva só causa conflitos.

A polarização na sociedade brasileira não é de ordem político-ideológica, mas por diferença de índoles.

A política de alto nível, construtiva, patriótica, se faz com respeito às leis, com espírito público, inteligência, criatividade. Assim é a conduta dos estadistas, dos grandes homens que adquiriram a admiração internacional e histórica.

A política atrasada, dos grotões, das mentes provincianas, se faz com mentiras, com calúnias, sem propostas inteligentes, tentando apenas pregar no adversário “a pecha de ladrão, marido traído ou homossexual”.

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A política é uma ciência! A boa política respeita a boa técnica em qualquer área do conhecimento humano. Também a boa técnica considera a boa política em seu desempenho. Se entram em conflito, uma das duas está errada.

As estultices históricas cometidas pelos extremistas de esquerda não obrigam à aceitação das estultices cometidas pela extrema direita. Ou vice-versa!

A obrigação fundamental, precípua, primaz, basilar, de um estado é a proteção à vida de todos. Inclusive da vida vegetal e dos animais irracionais. Abaixo disso, quando os responsáveis por um estado colocam interesses econômicos como prioritários, é porque não tem a menor visão de estadistas.

(Inspirado em Paulo Freire) A política certa é includente. A política perversa é segregadora, divisionista, excludente, egoísta.

A popularidade não neutraliza a psicopatia.

A única vantagem da privatização é a possibilidade da reestatização.

Com o tempo, a gente aprende que a ideologia é algo muito importante para ser gasta com coisas desimportantes.

Consta da história universal o costume de os grandes reis, grandes imperadores, grandes presidentes, grandes estadistas se consultarem com os sábios, para tomar as atitudes mais acertadas, objetivando o bem do seu povo. Hoje, sabemos que os dirigentes idiotas, quando o fazem, se aconselham com outros idiotas.

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Em países capitalistas ou socialistas, o problema não é a iniciativa privada, mas o seu abuso, o seu uso inconsequente, que transforma a liberdade em libertinagem social e ambiental. Daí a miséria e a destruição do planeta!

Espalham veneno em seu derredor e, depois, choram e se revoltam, quando ficam intoxicados. Isso no sentido mais amplo possível, inclusive no sentido político.

Estado mínimo? O que é dispensável para você pode ser essencial para o próximo!

Existem animais que parecem racionais. Também há pessoas que parecem irracionais, pois não possuem equilíbrio nem inteligência emocional e rosnam, em vez de falar, atacam os mais fracos, ameaçam, machucam, matam. E, na maioria das vezes, por motivos fúteis. Na verdade, são bestas humanas com direito a voto.

De relance, ouvi em um programa da televisão que menos de 20% dos ingleses apoiam a continuidade da monarquia. A maioria, claro, é culturalmente desenvolvida! Certamente, o número de subdesenvolvidos, em outros países, que apoiam a monarquia inglesa é muito maior. Os 20% de lá devem conter a nobreza, para a qual sobra uns nacos do orçamento público. Igual às elites subdesenvolvidas com menos nacos! Vamos dar um desconto para as meninas e meninos que sonharam em se casar com um príncipe, passear de carruagem, colocar o professor de matemática no calabouço e, por isso, idolatram aquele carnaval de fantasias e alegorias. Os vassalos adoram sonhar em virar elite. Eles não sabem que, quem aplaude a futilidade, é mais fútil ainda.

É bom ter relações com gente de esquerda, de centro e de direita, e manter discussões construtivas, com respeito às diferenças. Mas há um pessoal, agressor das “esquerdas”,

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sem propostas, e que se diz de direita. Não são! Muito menos de centro. Eles são de baixo. De baixo nível intelectual, baixo nível cultural, baixo nível emocional e até baixo nível cristão. Mas abaixo um pouco e rastejariam!

Há governos que se dedicam a aplacar a fome. Outros buscam matar a sede, mas de sangue!

Um governo humano comete erros. Um governo insano comete atrocidades.

Importantes instituições brasileiras, como as Forças Armadas, Polícias etc. sempre confessam ou deixam claro que estão politicamente à direita. Não deveriam estar politicamente à esquerda! Deveriam estar acima de ambas.

Na luta de ideias, se houver lealdade e inteligência, só há vencedores.

Na medicina mais científica, os profissionais cuidam das consequências das doenças, sem deixar de procurar e eliminar as causas, buscando debelar definitivamente o indesejável. Assim também acontece em muitas outras atividades, quando tratadas com competência e seriedade. Resumindo, isso está no velho conhecimento humano, que assevera: “o mal deve ser cortado pela raiz”. Entretanto, muitos políticos, por falta de boas qualidades, sempre dizem que vão combater o crime organizado com rigor. Esse verbo já demonstra sua belicosidade e sua falta de visão social, sua falta de criatividade, seu conhecimento restrito a mesmices. O resultado, claro, é sempre o mesmo. Ou pior!

Não é certo mudar nomes de logradouros públicos, retirar monumentos ou queimar livros por motivos ideológicos. Além de atentar contra a história, é como esconder provas de crimes. Imaginem se o campo de concentração de Auschwitz fosse eliminado, para dar

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lugar a um jardim bucólico. Pode-se ter soluções melhores que reforcem e esclareçam a história. Por exemplo, se há uma estátua de um escravagista, pode-se colocar uma outra de um abolicionista, em patamar mais elevado e com uma placa esclarecedora.

No conceito tradicional, “política é a ciência da governança de um Estado ou Nação” e, também, uma arte de negociação para compatibilizar interesses.

O termo tem origem no grego politiká, uma derivação de polis que designa aquilo que é público, e tikós, que se refere ao bem comum de todas as pessoas. O significado de política é muito abrangente e está, em geral, relacionado com aquilo que diz respeito ao espaço público e ao bem dos cidadãos. Mas, para os atuais governantes brasileiros e seus eleitores, política é uma espécie de torcida para time de futebol, personagem de novela, escola de samba, integrante e “reality show”, bandido de estimação.

Nós chegamos ao lugar para onde caminharmos. Por isso, é importante buscarmos a democracia, a justiça, o estado de direito, a concórdia, a fraternidade. Caminhando para trás, nunca chegaremos lá.

Nos países completamente civilizados, o que interessa aos cidadãos é a atuação pública das pessoas públicas. As preferências sexuais, as religiões, os costumes, por mais exóticos que sejam, os gostos, as condições econômicas, se não interferirem nas suas ações públicas, não interessam a ninguém. A administração pública não é “reality show”!

Ao Estado cabe prioritariamente proteger a vida de seus cidadãos, propiciando-lhes a educação, a assistência à saúde, a segurança, a previdência. Do contrário, não é um Estado, é um negócio!

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O certo é não votar em pessoas ou partidos, mas em propostas de governo, programas sociais, objetivos de estado.

O estrabismo político leva a pessoa a criticar o que ocorre em outros países. E não ver o que acontece de errado no seu.

O poder sempre traz a soberba como escudeira. Para neutralizá-la, só a humildade ou o espírito público.

O problema de um militar no poder é quando ele tenta administrar um país como se fosse uma guerra.

O problema dos alienados é que eles nem sabem que são!

Os individualistas enxergam só com seus olhos; não enxergam com os olhos dos outros nem com os olhos do mundo.

Os militares sul-americanos em geral são doutrinados para defender os interesses do bloco dos países comandado pelos Estados Unidos. Os militares chineses são doutrinados para defender o Partido Comunista. Os militares britânicos, para defender a realeza. Já os intelectuais de todo o mundo são doutrinados, pelos livros, para não serem doutrinados por ninguém.

Os regimes libertários são alegres, musicais, dançantes, coloridos, construtivos, cheios de sorrisos e de amor ao próximo.

Os regimes autoritários são carrancudos, escuros, destrutivos, carregados de ódio, de

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agressividade, de ofensas, de desamor. Os primeiros festejam a vida: os segundos ensejam a morte.

Os políticos escolhem os argumentos técnicos para lastrear seus interesses pessoais. Os técnicos precisam aprender as artimanhas políticas, para impor suas verdades científicas. O sonho romântico do anarquismo jamais se realizará na anarquia.

Parafraseando Paulo Freire, não existe neutralidade. Todos são orientados por valores aprendidos na vida. A questão é: esses valores são de uma ideologia construtiva ou destrutiva?

Para os capitalistas, quando as irresponsabilidades e os crimes afloram na iniciativa privada, a culpa sempre é do governo.

Pior que uma ditadura militar é uma ditadura paramilitar.

Pobres conservadores, que brigam para conservar suas pobrezas de bolso e de alma!

“Toda obra tem que ter conceito” é a máxima aceita por todos os artistas autênticos, pesquisadores, profissionais sérios, intelectuais.

Transpondo essa ideia para a política, pode-se dizer que todo bom candidato deve ter conceito, mesmo que não saiba de toda a densidade da assertiva. Mas o difícil mesmo é convencer eleitores mal-informados de que pronunciamento de chavões, beleza, simpatia, condição econômica, não são conceitos.

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Toda pessoa em boas condições psicológicas respeita os direitos das pessoas que ama: pais, filhos, companheiros, amigos, sem necessidade de leis. Logo, quando todos amarem ao próximo, as leis serão totalmente desnecessárias. Assim, o amor precisa transcender sua condição de sentimento puro e passar a ser, de fato, lastro filosófico das doutrinas políticas.

Todos desejam a alternância do poder, mas só quando estão na oposição.

Tudo é relativo! Mas devido à atual velocidade das informações, os conservadores já podem ser ‘considerados retrógrados.

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RELIGIÃO

A Bíblia é um livro histórico, cheio de simbologias, que precisa ser lido e interpretado com extremo cuidado, atenção e sensibilidade. Uma pessoa equilibrada e inteligente retira de sua leitura muitos bons ensinamentos. Mas um ignorante, de sua leitura, só pode concluir por extremas imbecilidades.

A religião é a primeira infância da filosofia.

As religiões são como as roupas. Elas acolhem! E, também, escondem aquilo que as pessoas julgam ser suas vergonhas.

Até nas religiões, é possível enxergar o viés ideológico. Naquelas mais socialistas, todos colaboram e a sobra de caixa é aplicado em ações de benevolência. Naquelas capitalistas, todos colaboram, mas só alguns pastores ficam ricos.

Conheço católicos, espíritas, crentes, seguidores de religiões de matriz africana, de religiões orientais, que têm o coração cheio de ódio. A religião deles não serve para ninguém. Aliás, nem para eles!

Conheço muitos que são cristãos por filosofia. Outros, quase apenas por religiosidade. Certo é que os ensinamentos de Cristo são das poucas coisas que podem congregar sábios e ignorantes, pessoas de todas as religiões, agnósticos e ateus.

Dar dinheiro para a caridade é a melhor forma de comprar a própria consciência. É importante ser generoso, mas sabendo que a caridade é um placebo para uma doença injusta chamada desigualdade.

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Diabo e Deus não são gerentes de RH. Não premiam nem castigam. Os prêmios e castigos acontecem em decorrência das relações, ações e reações humanas.

Fé é emoção, não é razão. Ao atravessar a rua, use a razão.

Não é possível acreditar em religião que diz pregar o amor, cujos seguidores só pregam a apartação social e o ódio.

Se você misturar religião e política, não terá política nem religião.

Um país, que constrói mais igrejas que escolas, formará uma maioria de religiosos analfabetos.

Vejo uma diferença muito forte entre orar e rezar. Quando alguém pensa no bem da humanidade, está orando. Ou quando sorri para uma criança, se emociona com uma poesia, afaga um velho solitário, com as mãos ou com a escuta. Rezar é pronunciar, mesmo silenciosamente, uma série de palavras decoradas e repetidas. Ou ler um livro sagrado automaticamente. Enquanto reza, uma pessoa não consegue pensar em outra coisa. Há muita gente que reza o dia inteiro.

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VERDADE

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A farsa tem ossos de vidro.

As pessoas que usam o termo “politicamente correto”, na verdade, querem dizer humanisticamente correto. As verdades são simples. Não precisam de muitas palavras.

A verdade não tem pressa, pois seu destino é certo. A verdade só se banha em fontes limpas!

É preciso aprender a discernir as pessoas, ações e atividades que geram riquezas das que apenas especulam, depredam, esbulham a economia pública. A cada fração de centavo ganho, deve corresponder uma gota de suor e não de escárnio.

Fake News é um anglicismo, uma roupa de gala para a mentira deslavada.

Em um grupo social de pessoas sérias e instruídas, um criador ou disseminador de mentiras seria desprezado. E é mesmo um animal desprezível!

José Saramago disse: “Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”

Se assim o é, a mentira é uma tentativa de escravização da mente alheia.

Por um lado, ela alegra um bando de iguais desprezíveis. Por outro, é uma traição à amizade e ao amor dedicados ao desleal, por aqueles que, equivocadamente, o consideram por virtudes também falsas.

Geralmente, há três lados errados, os dos extremistas e o dos alienados.

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Há pessoas que mentem para defender amigos, mentem para incriminar inimigos. Por isso, só acreditam na tortura para obter a verdade.

Há pessoas que usam argumentos muito convincentes, para justificar o fato de serem canalhas.

Há três tipos de pessoas: os pensadores, que se preocupam em não repetir os pensamentos alheios; os repetidores, que sempre acham que pensam; e os analfabetos, que, por falta de oportunidades, não pensam nem repetem. Dos dois últimos tipos, prefiro os analfabetos, pois apresentam maior disposição para aprender. Harold Thomas Henry Carter afirmou que “Em tempo de guerra, a primeira vítima é a verdade.” No avesso, se todos dissessem e vivessem a justa verdade, não haveria guerras.

Jovem, construa suas próprias opiniões! E mantenha uma visão crítica sobre elas.

Não existe nenhuma atividade humana mais honesta que a ciência. Algumas vezes, desonestos são os seus porta-vozes.

Nos órgãos públicos que atendem às elites, os servidores públicos ganham bem e não se fala em estado mínimo.

Palavras são moedas e, também, servem para a troca. É importante que se observe o que está por trás de suas faces apresentadas, pois podem ser falsas.

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Para os incautos, a calúnia é irretorquível, quando propalada. Por isso, ela consegue tantos adeptos de imediato.

Quando a verdade e a justiça sucumbem, as instituições nelas alicerçadas também desabam.

Quem se informa de só uma fonte, e suas derivadas, passa a acreditar em meias verdades e mentiras completas. Torna-se escravo da desinformação!

Quem usa de uma mentira recebida é mais inescrupuloso que o mentiroso.

Para os pensamentos, há pessoas que são gaiolas. Outras, correntes de ar ascendentes. Sempre é válido argumentar para defender uma opinião. Mas é imperioso lutar pelo prevalecimento da verdade.

Também na expressão do pensamento, não se deve dar pérolas aos porcos. O problema não é a incompreensão do valor, é que eles terminam por emporcalhá-las.

Todos os encarcerados se dizem inocentes. Até mesmo os verdadeiramente inocentes.

Um dos maiores trunfos da lucidez é saber que a verdade tem a vida mais longa que a do homem. A mentira é interessante e rápida como o coelho. A verdade é carrancuda e longeva como a tartaruga.

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108 VIDA

A Inteligência Artificial – IA já está entre nós. Mais alguns anos e os computadores substituirão, no todo ou em parte, praticamente todas as profissões da área das ciências médicas, fazendo diagnósticos mais precisos, por exemplo; também das Ciências Exatas, mais fáceis ainda para a máquina, por vocação natural, e boa parte das Ciências Humanas, tirando algumas exceções, como arqueologia, antropologia, sociologia, mais difíceis de se encaixar algoritmos. Muitos se preocupam com o desemprego, o aumento das injustiças sociais e outros. Minha maior preocupação é que a IA não está vindo acompanhada, na mesma velocidade, pela CA, a Consciência Artificial. A guerra de ideias é fundamental para a evolução da humanidade, quando promovida pelas boas palavras e pelo bom humor. Mas se torna nefasta, quando descamba para as ofensas, as agressões, a violência.

A insegurança pública em que vivemos é causada por quadrilhas com leis e ética próprias. Seus objetivos são o bem-estar e o enriquecimento de seus componentes. Nelas, não há escrúpulos para mentir, enganar, ameaçar, corromper, trair, golpear, matar, sequestrar, recrutar desamparados ou imorais para suas defesas físicas ou judiciais. Mas Comando Vermelho, PCC e outros são fichinhas. A pior é a quadrilha do poder econômico. Amigos são como pássaros! Se você encontra um deles machucado, com a asa quebrada, você deve cuidar com carinho. Mas, depois de curado, você não precisa mantê-lo junto de si. Deve deixá-lo voltar à sua vida normal, voar para longe dos seus olhos. Ele ficará guardado apenas no seu coração.

A morte é um sono sem sonhos!

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A persuasão mais aviltante é a ridicularização de um humilde, para que ele se cale. A pior decepção é aquela da qual não se consegue tirar nem forças para reagir contra ela. A vida, às vezes, é como um pesadelo infantil. Fingimos que a ameaça não existe, não podemos dar atenção a ela, a fim de que suma e possamos acordar em paz.

Cansam, as tragédias! Causadas pelas doenças, pelas intempéries, pelas violências, pela ignorância, pela insensatez, pelo desprezo a tragédias anteriores.

Certa vez, para agradar uma amiga, chamada Ana Cândida, que havia se tornado avó, inventei a palavra “voternidade”. Existe as palavras materna, paterno, então, deve existir “vó terna”, daí a invenção. Lembrei disso após conversar com dois amigos que são avôs recentes. Só falavam dos netos e eu ouvia com prazer. Havia uma razão para a minha paciência agradável! Fez 54 anos que morreu meu avô e eu ainda ouço suas palavras carinhosas, sinto suas mãos protetoras, vejo seus olhos sorrindo. Por isso, vibro com a “voternidade” de meus amigos, pois entendo a situação como uma corrente que se perde no passado, mas garante o amor do futuro. Estou com vontade de inventar outra, a “voeternidade”!

Com o tempo, há pessoas que amadurecem intelectualmente. Outras apodrecem sem amadurecer.

Cora Coralina transformou as dificuldades de sua vida em doces, na forma de guloseimas e de poesia. As pessoas atrasadas transformam a doçura da vida em amargor para si e para os outros.

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Depois de assistir a um vídeo, no qual fica demonstrado que as crianças não nascem preconceituosas, mas aprendem esse vício com seus grupos familiares e sociais, concluí que há uma forma de acabar com os nossos preconceitos e ódios próprios. Basta voltar a ser criança!

Geração mi-mi-mi é a dos que não respeitam as leis, quando elas não atendem às suas vontades.

Há pessoas com quem nos encontramos quase todos os dias. E nos cumprimentamos, seguramos as mãos, trocamos sorrisos. Outras, quase não nos vemos e a comunicação é praticamente só eletrônica. Mas parece que andamos de mãos dadas pela vida toda.

Há pessoas que merecem a vida. Outras, de tão valiosas, a vida é que deve se regozijar por tê-las.

Há um lugar, na quadra onde moro, que permite uma linda perspectiva, com árvores, flores, pássaros. Creio que ninguém percebeu ainda a sua beleza, pois é pouco frequentado. Quando morre alguém que admiro ou gosto, eu vou lá reverenciar sua memória. Lembro-me das conversas, daquilo que aprendi, dos sorrisos, das manifestações de afeto. Aproveito para pedir desculpas pelos meus erros em nossa amizade e acato o inverso. Em alguns minutos, eu renovo a minha impressão do que é a essência da vida: nascer, amar e morrer. Muita gente coloca o infinito na morte. Eu aprendi, com Vinicius de Moraes, a colocá-lo na vida.

Muitas pessoas ainda nem desconfiaram que um Estado promotor da educação pública, da saúde pública e de uma previdência confiável é a garantia de vida para os nossos descendentes, mesmo que eles venham a ser pobres, doentes, inválidos.

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O direito à vida é a única cláusula pétrea na Constituição da existência humana.

Muita gente gasta sua vida para sobreviver. Umas, por falta de recursos; outras, por falta de reflexão.

O melhor relógio de ponto que existe é: “Tarefas Inteligentes com Responsabilidade”. O resto é desperdício de recursos.

O tempo envelhece as pessoas. Algumas, ele envilece também.

Quando descobrirem que você voa, vão lhe jogar pedras. Então, voe mais alto! Todas as vidas importam, sim! O problema é que, por razões estúpidas, muitos consideram suas vidas mais importantes que as dos outros.

Todo dia em que um pai é abraçado pelo seu filho ou tem a certeza de que ele é feliz, mesmo distante no tempo ou no espaço, é Dia dos Pais.

Uma frase, um pensamento, um poema, um livro, um jardim, uma ponte, um quadro, uma escultura, uma roupa, uma música, um estribilho, uma piada. Não é necessário ser gênio, inventor, cientista, para criar algo que traga o bem aos semelhantes, à humanidade. Alguém, um dia, poderá tomar dessa produção e agradecer. Ou se inspirar e multiplicar o bem. No mínimo, é um humilde presente ao futuro, em agradecimento pelo muito que se recebeu do passado e muitas vezes não se apercebe disso.

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Como é bom saber que o mundo continua e a gente não faz falta!

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