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“O desenvolvimento local é a pedra de toque do nosso modo de estar na Câmara Municipal”, diz o presidente da Câmara de Vila Nova de Paiva
from Gazeta Rural nº 402
by Gazeta Rural
O presidente Paulo Marques em entrevista à Gazeta Rural
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Paulo Parques tomou posse há cerca de cinco meses como presidente da Câmara de Vila Nova de Paiva. Em entrevista à Gazeta rural, o autarca diz que quer mudar a face do concelho, considerando que “o desenvolvimento local é a pedra de toque” do seu “modo de estar” na Câmara Municipal.
dias.
O autarca quer lutar contra um país a duas velocidades. Daqui a quatro anos quer mais bem-estar para todos os que por lá vivem. Para o efeito, criou a Divisão de Desenvolvimento Local, que considera ser o instrumento para “desenvolver objetivamente o concelho em todas as suas vertentes”.
A Feira do Fumeiro do Demo, que vai decorrer a 12 e 13 de Março, é o primeiro grande evento realizado no seu mandato. Paulo Marques não quer mexer num certame que “é bom, que está bem estruturado”, mas quer elevá-lo a um patamar “com mais abrangência e mais visibilidade”.
Gazeta rural (Gr): tomou posse há cerca de cinco meses na presidência da Câmara. Encontrou aquilo que esperava?
Paulo Marques (PM): Nunca encontramos aquilo que esperamos. É uma mistura, pois há novidades todos os dias. Há coisas que estão bem, outras menos bem, mas não tínhamos pensado nisso antes. Não são aquilo que esperaríamos que fossem, mas isso acontece a todos os presidentes de câmara quem entram de novo, por isso apenas temos que nos adaptar às realidades que vão surgindo todos os
Gr: Disse que, com a reorganização administrativa da Câmara, quer definir o futuro do concelho. Com isso, o que pretende ter feito daqui a quatro anos?
PM: Quero mais famílias residentes em Vila Nova de Paiva, quero mais emprego, mais cultura e mais turismo. Quero, no culminar disto tudo, mais bem-estar para todos os que já cá estão e por cá fiquem daqui a quatro anos, por se sentirem bem em Vila Nova de Piava e sentirem também que estamos num concelho vivo e sempre em movimento.
Gr: Um estudo recente fala da crescente procura de habitação no interior do país. Um consultor imobiliário de Vila Nova de Paiva diz que não há casas para alugar, nem há construção. Essa é uma preocupação, tendo em vista a criação de emprego e, por conseguinte, a atração de pessoas?
PM: Olhando para a forma como perspetivo o futuro, sinto que daqui a quatro anos não temos os espaços de que necessitamos s para todas as pessoas que precisam de estar em Vila Nova de
Paiva. É minha profunda convicção que vamos ter mais gente a trabalhar em Vila Nova de Paiva e que nós queremos que cá residam, também, e, por isso, vai haver dificuldade e uma pressão imobiliária grande.
Contudo, também acredito que no momento em que os nossos empresários perceberem que o caminho vai ser este, que estamos a crescer e a criar empresas e emprego, haverá naturalmente um reajuste nas perspetivas dos próprios empresários, que apostarão também no ramo imobiliário. Isto é um círculo vicioso, porque é a lei da oferta e da procura. Desse modo, havendo falta de imobiliário, o mercado fará esse reajuste e essa falta será suprida com novos investimentos.
Gr: Com a Estratégia local de Habitação, a candidatura ao Programa 1º Direito pode ser um caminho para minorar o problema?
PM: Num dos aspetos do programa pode ser um dos fatores para desenvolver esta área, sendo certo que isso passa pela Estratégia Local de Habitação, que nos pode dar alguma liberdade para podermos investir nalgumas situações de habitação.
O Programa 1º Direito é mais virado para situações de carência económica das pessoas e da degradação das suas habitações e aí agimos para resolver problemas imediatos e de carência.
Mas na Estratégia Local de Habitação estará contemplada uma área para podermos ampliar a nossa oferta habitacional no concelho. que investir, é aqui que têm que apostar nos seus alojamentos locais, pois é por aqui que vai passar muita gente. Esse é o nosso objetivo. Obviamente que a nossa política pública passa por incentivar a iniciativa privada a investir, dizendo-lhes ‘vocês vão, que nós vamos convosco’. Não estamos a falar de facilitar, mas ajudar a que consigam ter aqui os seus investimentos, fazendo coisas para que estes sejam rentabilizados. Não é por acaso que apostamos na cultura. Perguntam-nos muitas vezes quanto é que isso custa. Nós não vemos a cultura ou a educação como um custo, mas sim um investimento para o futuro. Na educação estamos a investir no futuro das nossas crianças, da mesma forma que na cultura estamos a investir na nossa inteligência e na nossa visão para o dia a dia. Estamos a apostar para que as pessoas sintam que em Vila Nova de Paiva se respira modernidade.
Gr: tendo em conta as novas formas de turismo, como os nómadas digitais, a procura de espaços de habitação temporários, nomeadamente alojamento local, passa também por aí?
PM: Claro, mas passa essencialmente pela iniciativa privada.
Gr: O que pode fazer a autarquia?
PM: Aquilo que já muitas vezes disse, que é dar a carta de conforto aos empresários em como este concelho está a mexer, a crescer, a desenvolver-se e que é aqui que têm
Gr: Seguindo essa estratégia de atratividade, a digitalização do concelho é uma prioridade, tendo em conta a cobertura de rede de fibra ou da rede móvel, que não chega a muitas zonas do concelho?
PM: Esse vai ser um grande desafio deste concelho para os próximos anos, porque é muito bonito falar em 5G, quando nem 3G temos, quando temos zonas sem fibra ótica. Estivemos sujeitos a contratos com empresas que apenas visam o seu lucro.
É muito fácil falar que devem ser os privados a tratar das coisas neste país, e falou-se muito nisso na campanha para as recentes legislativas, e os resultados estão à vista no nosso concelho, que em grande parte votou nessas pessoas, que
acham que os privados é que devem gerir o país. O resultado disso é mostrar-lhes o que nós conseguimos com os privados, que é ter metade do concelho sem rede móvel e sem fibra. Essas empresas investem onde há muita gente, onde dá lucro.
Felizmente temos um Estado Social e o país votou diferente, neste concelho não, infelizmente, e assim vamos tentar de outra forma, porque a nossa visão é diferente. Temos de ser integrados e ser integrantes também de comunidades, sejam maiores ou mais pequenas, de modo a conseguir que todos estejamos ligados. Temos um país a duas velocidades e nós vamos lutar contra isso.
Mas ter um concelho a duas velocidades, com uma parte a 5G, outra a 3G e outra a 0G também não é possível. Queremos atrair algumas empresas do ramo digital para o nosso concelho, mas não o podemos fazer com a Internet que hoje temos, que é incomportável.
Agora, sabemos que se vão abrir algumas portas nesse sentido. Nós estamos a concorrer para um aviso que tem a ver com os Bairros Comerciais Digitais, porque também queremos dar esse passo em frente, e estamos atentos a todos os avisos que saem, e nada nos mete medo. Avançamos com perspetivas de futuro bem definidas e claras, criadas por nós, de modo olhar para o futuro de Vila Nova de Paiva como um concelho de primeira linha e não de terceira ou quarta linha.
Gr: Nessa estratégia como pode evoluir o setor primário?
PM: Pode evoluir mediante a vontade dos seus empresários agrícolas. Aquilo que nós tentamos, e estamos a conseguir fazer, é dar a esses empresários ou aos jovens agricultores que querem investir no setor todas as ferramentas Gr: A Feira do Fumeiro do Demo pode ser o grande para que possam investir, facilitando-lhes o acesso a toda a evento da primeira metade do ano em Vila Nova de Paiva? informação, serem atendidos de uma forma clara, concisa PM: Seguramente será, até porque ainda não tivemos teme objetiva, para que possam fazer os seus investimentos. po para criar outros eventos. Agora, estamos a pegar num que
Por isso, é que nós, durante a campanha eleitoral, apon- está bom, que está bem estruturado, que correu bem desde o támos para a criação de um Gabinete de Desenvolvimento seu começo. Lembro-me da primeira edição e de outras, onde Local. Já o estamos a criar e com uma visão robusta e alar- nem o granizo que caiu afastou as pessoas. gada. Com isto, nós passamos a ter uma verdadeira Di- A Feira do Fumeiro do Demo tem vindo em crescendo e nós visão de Desenvolvimento Local, que não é só para ficar não queremos estragar nada do que está bom, mas queremos bonita no nome, mas é para desenvolver objetivamente melhorar e inovar para o tal patamar onde terá mais abrangêno nosso concelho em todas as suas vertentes, seja na cia, mais pessoa e mais visibilidade. Foi nestes pressupostos que agricultura, na indústria, nos serviços, na saúde, na edu- este ano apostamos na presença na RTP, na tarde de sábado, dia cação, no turismo, na cultura ou no património, religioso 12, para dar a conhecer não só o nosso fumeiro ou a freguesia ou natural. O desenvolvimento local é a pedra de toque de Touro, mas todo o concelho. Poderão confirmar que naquele do nosso ser e do nosso modo de estar na Câmara Mu- sábado, teremos um programa muito interessante e muito envolnicipal. Não pode ser de outra forma. vente relativamente a todo o concelho.