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“O elevado potencial de Penacova não se traduzir nas políticas públicas” refere o presidente da Câmara de Penacova
from Gazeta Rural nº 402
by Gazeta Rural
Álvaro Coimbra, presidente da Câmara de Penacova
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Deixou a paixão do jornalismo por outra, a sua terra. Álvaro Coimbra, presidente da Câmara de Penacova, assumiu que a paixão pela sua terra falou mais alto na hora em que decidiu deixar uma bem-sucedida carreira de jornalista para abraçar os destinos da sua terra.
Com passagens pelo movimento associativo de Penacova, Álvaro Coimbra liderou a lista do PSD, como independente, nas últimas eleições autárquicas, que venceu. Em entrevista à Gazeta rural, diz que se candidatou “em primeiro lugar por um grande amor a Penacova”, mas também por ser “um inconformado militante do elevado potencial que Penacova tem”, que, diz, “não se traduzir nas políticas públicas”.
Gazeta rural (Gr): Como foi deixar o jornalismo para ser presidente de Câmara?
Álvaro Coimbra (AC): Em primeiro lugar por um grande amor a
Penacova. A minha vida foi quase toda feita aqui, com pequenos hiatos entre Lisboa e Porto, por razões profissionais, mas vivo cá e nunca reneguei as minhas raízes. Para além disso, ao longo do tempo tenho sido um inconformado militante do elevado potencial que Penacova tem, que não se traduzir nas políticas públicas.
Claro que sei as dificuldades que um município como o nosso tem para se poder transformar a vários níveis, empresarial, turístico e outros, mas acho que nos últimos 20 a 30 anos deveria ter sido feito muito mais. Foi por isso que arrisquei e aceitei este desafio.
Como venho de ‘outro planeta’, diga-se comunicação, coloquei como condição que a equipa fosse composta por pessoas especializadas em várias áreas. Temos um Executivo Municipal composto por especialistas em diferentes áreas, - gestão, economia, jurídica, planeamento e urbanismo - e por isso sinto-me confortável, com o seu
apoio, pelo que tudo se torna muito mais fácil.
Contudo, é um desafio muito grande e desafiante, mas ao mesmo tempo compensador, porque estamos perante um concelho que tem um grande potencial, como boas acessibilidades e que pode vir a ser muito forte a nível turístico. Para isso temos grandes projetos. ao nível da construção civil. No município estamos a abrir vários concursos, nos mais variados setores, e estamos a dar conta que as empresas não se candidatam por falta de mão-de-obra. Porém, se queremos que o nosso território seja atrativo, temos que criar condições para que as pessoas venham para cá viver. Não basta ter boas escolas, boas acessibilidades e bons transportes para as pessoas escolherem um território como Penacova, que
Gr: A paisagem que se vê do seu gabinete é ins- não é do interior profundo, mas já tem algumas características de piradora? território do interior.
AC: Claro que sim. É a paisagem que tenho da minha casa, moro na encosta virada para o rio, e que me é fa- Gr: A reunião com a ANACOM teve a ver com isso? miliar. É esta paisagem que quero que tenha mais visi- AC: Sim. Tivemos essa reunião para tentarmos a fazer alguma bilidade e mais notoriedade nos próximos anos. É nisso coisa ao nível das infraestruturas. Hoje a transição digital está que estamos a trabalhar. Claro que ainda estamos aqui há muito em voga e a ANACOM veio dar-nos um mapa real do que pouco tempo, mas temos ideias para transformar a Pena- são as insuficiências do concelho, em termos de cobertura de cova num concelho melhor para viver a vários níveis. rede móvel e rede digital, para termos uma ferramenta para, com as operadoras, podermos trabalhar para suprir todas essas
Gr: Penacova está à entrada ou à saída de Coimbra, dificuldades. dependendo do lado que quizermos. Esta passagem Não podemos falar em teletrabalho, em nómadas digitais ou pode ser potenciada? em famílias que decidam instalar-se no interior se não houver
AC: Claro que pode. Estamos bem localizados ao nível uma boa cobertura de rede móvel e de fibra óptica. Hoje essa de acessibilidades. Toda a gente coloca mil e um defeitos infraestrutura é muito importante. ao IP3, mas antes desta estrada existir era muito mais difícil viajar entre Viseu e Coimbra. Claro que o IP3 não é uma obra Gr: Há um estudo recente sobre a questão da habitação ideal, pois tem vários erros, que começaram logo no dese- no interior, onde há cada vez mais procura, mas não há nho do traçado, mas temos que viver com isso e, portanto, casas disponíveis. Qual é a situação em Penacova? temos que nos conformar com o que temos, digamos. AC: Existe disponibilidade de habitação, mas talvez não
Penacova, pela sua localização e pelas suas acessibilidades, seja a suficiente e não tenha a qualidade e os padrões de têm mais uma vantagem aí, por exemplo a nível empresarial. conforto que os dias de hoje exigem. A propósito do que não foi feito nestes últimos 20 anos, vejo Agora, o que nós verificamos, e até pelo despovoamento que, a esse nível, temos um caminho muito longo para andar, e desertificação das aldeias, é que existem muitas casas porque podíamos ter potenciado melhor a proximidade ao IP3 devolutas, talvez centenas, que estão ao abandono. Nós e ao IC6. Não o fizemos e essa é uma das nossas grandes prio- queremos avançar com a Estratégia Local de Habitação ridades. É o que estamos a fazer neste momento, a lutar contra para, paulatinamente, ir convencendo os proprietários, o tempo, em contra-relógio, para que a ampliação do parque dando-lhes algumas ferramentas para poderem recuperar empresarial da Alagoa e o novo parque industrial do IC6 tenham os seus imóveis. os projetos prontos dentro de poucos meses, para podermos Claro que há uma grande dificuldade, porque muitos avançar para os financiamentos europeus que vêm aí. herdaram as casas de familiares, que estão desabitadas há algum tempo. De qualquer forma, temos uma estra-
Gr: Depois, atrair gente ao concelho é importante. Contu- tégia para tentar, a pouco e pouco, começar a recuperar do, de uma forma geral, no interior nota-se a falta de mão de algumas dessas habitações em várias aldeias para atrairobra qualificada. Essa é também uma realidade em Penacova, mos população.
em setores como a agricultura, hotelaria e construção civil?
AC: Acho que isso se nota um pouco por todo o país. A falta de Gr: O Programa 1º Direito é um instrumento? mão-de-obra é cada vez mais um problema e o feedback que me AC: Sim. O concelho de Penacova aderiu ao prograchega é que isso acontece em todas as áreas e em todos os seto- ma e estamos, neste momento, a montar a o grupo que res de atividade. Aqui também temos essa lacuna, nomeadamente vai ajudar a equipa técnica a concretizar esse projeto.