Entre cr么nicas e contos, as minhas poesias
Jos茅 Hamilton da Costa Brito
SUMÁRIO
Prefácio..............................................................................................03 O propagandista ................................................................................05 Ainda te amo......................................................................................06 Era lá..................................................................................................08 O que fazer?.......................................................................................11 O tempo.............................................................................................14 Mon Dieu ..........................................................................................16 Cala a boca, Maurice!........................................................................19 Escombro........................................................................................... 21 Ponto e vírgula................................................................................... 23 O báculo..............................................................................................25 Pióses..................................................................................................27 Um caso de amor em Portugal............................................................29 Biografia.............................................................................................32
Prefácio Conheci José Hamilton de uma forma inusitada e ao mesmo tempo tão comum nos dias atuais: num comentário crítico em um dos primeiros textos meus publicados no blog da Cia dos Blogueiros. Lembro-me perfeitamente da antipatia que senti ao ler as palavras debochadas dele abaixo de um texto que eu escrevera com tanta indignação e empenho. Tentei ignorar, respirei fundo e pensei “nunca mais posto nada aqui nesse blog, que desaforo esse homem...quem ele pensa que é?”. Ignorar não resolveu! O poeta, contista, cronista, cabeça pensante de Araçatuba, membro do Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras, grande voz das noites de seresta, não desistiu de incomodar a minha poesia, de quebrar os meus paradigmas poéticos, minha visão limitada do que vinha a ser escrever. Continuei postando e ele continuou comentando. E eu cresci muito com isso. Hoje tenho a honra de prefaciar seu primeiro Ebook solo. Momento histórico em que poderemos passear docemente pela tríade da poesia do Zé: crônicas, contos e poemas com um toque precioso de humor e doçura. Leitura gostosa que prende e surpreende nosso olhar desarmado. Ter um amigo poeta é maravilhoso e a poesia precisa dessa teia, versos que se cruzam, palavras que se embaralham na tentativa de dar conta do universo de cada ser, tentativa de decifrar o código da felicidade de ter a literatura na alma e a poesia na palma das mãos. E o Zé tem. E isso é bonito. O Ebook representa para todos nós, amigos virtuais-reais, uma celebração de algo que só tem sido possível através da internet e suas redes
socias, que encurtam distâncias, estreitam laços, transportam conhecimentos e informações. Que ninguém canta “Unchained melody” como o Zé, isso eu ainda não posso confirmar, mas que ele é um grande escritor, eu e seus leitores não temos a menor dúvida!
Maria Tereza Marçal Cardoso
O propagandista
Se alguém amou o que fez na vida, sou um.
O propagandista representante de laboratório farmacêutico, só chamado de representante...se existe uma raça danada, essa é uma. Eu pertenci a esse grupo por anos; hoje, aposentado, evito pensar nele. Dói... e só parou de doer quando descobri que eu não precisava de uma pasta para ser feliz. Trata-se de um profissional preparado para identificar problemas, encontrar soluções e criar oportunidades em um mercado altamente complexo e sofisticado, como o farmacêutico. Existem empresas especializadas em criar campanhas de comunicação estratégica, mas ele é o responsável por colocar em prática, ali nos consultórios médicos, nos ambulatórios e pontos de vendas, sozinho, o que dezenas e até centenas de pessoas elaboraram. Muitas vezes, quando a coisa não anda , é ele quem paga o pato.Então, se aprimora em três princípios básicos: o da atenção, o da objetividade e o do respeito. Um bom representante é assim e os há em quantidade honrando esta bela profissão. Eu fui um deles, se tenho um orgulho, é esse. Havia um temor : a evolução da internet como nova mídia vai extinguir a profissão. Um terminal de computador e pronto. Todavia, há um estudo que mostra que " as palavras" são responsáveis por nove por cento do entendimento; a " tonalidade da voz" representa trinta e
seis por cento e a "linguagem corporal " cinquenta e cinco por cento.Ou seja, falar com ALGUÉM da mesma espécie é melhor do que " falar" com um email ou site. O ser humano será sempre fundamental, sobretudo quando o produto deve ser bem exposto para que seja corretamente dimensionado à cada circunstância terapêutica."Os segredos da profissão estão na mala do propagandista" Um bom treinamento implica no aprendizado, além de técnicas de comunicação, ensinar questões de anatomia, fisiologia e farmacologia. Servirão para embasar o contacto com médicos, enfermeiros (as), profissionais esses, que dedicam carinho e atenção, não sendo raro o surgimento de amizades duradouras entre uns e outros. Um representante é um ser solidário, basta um deles cair no desemprego para os demais saírem à procura de uma vaga onde colocá-lo. -Então você o recomenda, você o conhece bem? -Nossa Mãe! ponho minha mão no fogo por ele - mesmo que queime, pensa - é de dentro de casa, um irmão. Muitas vezes não é bem assim...mas é assim que é. Vendo um deles por ai, com a famosa pasta na mão, pode crer: trata-se de um grande sujeito. Mesmo com uma cara de invocado, como o Ailton ou o jeitão de galo de briga do Wilsão. Ah! são tantos nomes : Pandolfi, Ailton Paulo (Rio Preto), Sadan, Delfino , Clóvis, Valtinho, Fabião, Cunha ,Minoru, Isique, Senise, Toshio, Lima, Zazão,Vanni...esse, um grande supervisor, a quem dedico este texto. Alguns, já assistindo ao espetáculo bem juntinho Dele. Outros ainda na ativa...e eu...com saudade de tudo e de todos.
Ainda te amo
Mais de quarenta anos depois a vejo caminhando pelo calçadão... Saiu esta poesia.
De repente o CD acabou. Silêncio. Só silêncio. Não o percebi, sonhava. O corpo ali na cama e a mente... por aí. Voltei no tempo. Fui a um passado onde fui feliz. Rememorei todos o meus amores, os possíveis e os não. Nos impossíveis: você. Era princesa... eu, plebeu. Assim, deu no que deu. Mas o mundo dá voltas. Em uma delas, encontrei você Meu Deus, o tempo!
Ele não foi bom para nós, não foi bom para você. Os cabelos... brancos. E o porte de rainha? Éramos crianças. O tempo... Hoje, ao te ver combalida, chorei... confesso, chorei. Estamos a caminho do fim. Vê lágrimas no meu rosto? Serão por você, serão por mim? não sei... acho... acho que te amo... ainda.
Era lá Pois é, depois de tanta luta....
A noite ainda dava os seus últimos bocejos e na linha do horizonte um clarão anunciava o início de um novo dia. Uma ou outra estrela teimava em permanecer como que aguardando o início de um grande espetáculo. Marlene abaixou a luz dos faróis deixando as lanternas acesas, pois se não era dia ainda, noite também não era. Trafegava por uma estrada bem cuidada, de três pistas que ofereciam segurança para os usuários. Estava cansada, ansiosa por um posto destes de beira de estrada, pensando em um cafézinho e em dar uma esticada nas pernas. Afinal, já havia rodado 750 quilômetros e outros 130 precisavam ser “ engolidos” Mas ia feliz. Recém formada em medicina, havia escolhido uma pequena cidade no interior de Santa Catarina para montar o seu consultório quando reunisse o numerário, trabalhando como contratada do hospital da cidade. Solteira, havia deixado a mãe aos cuidados da irmã mais velha, professora do ensino médio na cidade onde nascera; ela havia contribuído muito para a sua formação, dando-lhe os recursos que faltavam , posto serem os seus proventos como vendedora de carros, insuficientes. Quando se deu conta, trafegava por uma avenida beira mar vendo as ondas se quebrarem nos rochedos; gotículas de água chegavam ao seu rosto, mas não
suspendeu os vidros do carro, pois a sensação de vida nova começou a tomar conta dos seus sentidos. Dirigia com cuidado, pois via o paredão à sua esquerda e o asfalto estava molhado; qualquer descuido, qualquer vacilo na direção e... Deus me livre! Ali estava o seu presente e o seu futuro e se fosse tomar por base a paisagem que se descortinava à sua frente e às informações que tinha sobre a cidade e o hospital, seria um futuro radiante. Tentar fazer uma medicina mais humanizada era o seu objetivo. Mas pensando no futuro, voltou ao passado. A primeira imagem foi a do pai, funcionário de uma revenda de automóveis, vendedor conceituado que lhe dando todas as informações, possibilitou mais tarde que ela viesse ganhar o seu sustento e o da mãe, uma vez que o pai, vítima de violento infarto, virou espírito de luz. Viu-se como normalista, usando aquele uniforme de saia azul e camisa branca; a irmã já fazia o científico, mas depois optou pelo magistério. Optou nada, foi obrigada, pois não havia dinheiro suficiente para que um dia pudesse ostentar um belo número do Conselho Regional de Medicina. Com a irmã formada e casada dando-lhe o suporte necessário, prestou vestibular para medicina e de antemão sabia que se passasse, iria arrumar um problemão na vida, pois achava não ser justo sacrificar seus parentes para poder ser médica. Passou, pensou em desistir e teve que levar a maior esculhambação do cunhado, justo dele, que pensava, não iria gostar de ajudála nos estudos. No terceiro ano do curso quase a coisa se complica. Conheceu uma verdadeira praga morena, 1.80 de altura, cabelos pretos, olhos verdes e sonhadores, um sorriso que matava mais que formicida Tatu e não demorou vieram as ânsias de vômitos, as tonturas, as vontades de comer gabiroba às quatro horas da manhã. Não pensou um instante em si, mas no sacrifício inútil da família. Seu professor de obstetrícia, homem dado mais ao pragmatismo que aos princípios morais e éticos fez a sugestão e ela aceitou na hora.
De repente, uma freiada mais brusca; um cachorro saiu da mata em velocidade e atravessou a pista. Epa! Preciso tomar cuidado. Fico pensando na morte da bezerra, descuido e se....Deus me livre. Viu perfeitamente, como se estivesse acontecendo de novo, o seu baile de formatura. A família orgulhosa dela. Quando dançava com o cunhado, sentiu que o fazia com o pai. Sentiu o seu cheiro, os carinhos que ele fazia nela...ele sorria. -Olá papai, você por aqui, como é bom te ver! Não era aqui....era lá.
O que fazer?
Último ato da minha vida profissional
Trabalhou a vida inteira. Amava o que fazia; era uma atividade dinâmica. A competição, acirrada. Justificava-se tanta garra com a necessidade de ganhar o sustento da família. Havia, no íntimo, uma mola poderosa que o impelia cada vez a dedicar-se mais. Queria, na verdade ser o melhor. A estrela que mais brilhasse. Ser apontado como o de carreira mais promissora. Havia sempre dois ou três que deveriam ser observados, pois eram os que com ele mais competiam pelo lugar mais alto no podium. Não há quem não queira o sucesso e isso não é pecado. Colocar o produto no melhor ponto de venda, fazer a operação mais lucrativa e fazer convergir sobre ele os olhos admirados dos superiores. Ganhar os prêmios e comissões, chegar em casa e ver o orgulho estampado nos rostos da esposa e dos filhos. Quantas noites em claro, lutando para entender o desgraçado do tal de ciclo RAA, uma maldita de uma renina que sob a ação de um angiotensiógeno se tranformava em angiotensina um e que...puxa vida! E não soubesse essas desgraceiras todas pra ver. Mas era bom chegar nas convenções e ganhar o videocassete dado ao primeiro lugar na simulada médica.
Quantas foram as madrugadas nas quais pegava o carro e ia cobrir o setor de trabalho ou para as reuniões de ciclo, nas quais os resultados eram cobrados , os novos objetivos traçados e as avaliações de conhecimento eram feitas. Toda essa carga de responsabilidade, tendo, em muitas ocasiões, um filho
doente
no
berço
ou
uma
dívida
pendente.
Havia, é verdade, toda uma assessoria auxiliando na preparação do profissional e dando-lhe suporte, mas, em quantos momentos foi decisivo o fato dele se bastar. Não tinha essa de se tornar celebridade, mas quando os holofotes o procuravam nos eventos internos da empresa, tudo se ajustava na cabeça, as emoções do reconhecimento fazendo esquecer todas as agruras. A alternância entre os momentos de doçura e os de amargura era tão repentina, que não havia tempo para o prazer ou o sofrer...Mas o pouquinho de prazer
que
se
conseguia,
era
eterno.
Esquecia-se
do
resto.
Mas essas coisas não são próprias somente dessa atividade. E daí, não se está falando de todas, mas de uma só... A dele. De repente, um flash de amargura vem com o quantum de tempo já ido. Olha em volta, vê uma garotada, vê antigos colegas, competidores dignos já com os chinelos e pensa: está chegando a hora. Quando chegará a minha ? -Deus, afaste este cálice de mim. Mas Ele não tem muito a ver com isso, tudo fruto da nossa própria organização de vida. Será procurado para dar conforto nas horas de amargura, servir de lenitivo, fazer o papel de Pai.
De repente e não mais que de repente... "cadê você, cadê você... outros repetem as suas jogadas... no vídeo taipe da vida, a história gravou... Um dia, levantou-se para a jornada diária de trabalho. Como fazia sempre, foi barbear-se. No espelho, o "outro" lhe disse, quase que sussurrando: _ Vai dormir, seu tonto. Você já era.
O tempo
Ah... se eu pudesse controlá-lo...
Ah! O tempo... Pudesse eu controlá-lo... Se não tivesse passado tanto tempo, entre o meu e o teu tempo, eu teria mais tempo para arrumar um tempo para nós dois. O teu tempo é bem menor que o meu.
E o meu, mostra as marcas ...do tempo. Assim meus cabelos brancos não combinam com os teus, ...loiros. Sem falar que o meu tempo há muito vivido, implica em menos ...libido. Então, pelo sim ou pelo não, sufoco no coração esta vontade desgraçada de dizer amo você.
Mon Dieu!
Um conto de amor em Paris
Ricardo, de repente, estava com o bolso cheio de dinheiro.... E sem emprego. Qual a providência nessas ocasiões? Sem dúvida, buscar logo uma nova ocupação e se possível, tão boa como a anterior. Mas qual o que... -Não quero nem saber... “se eu morrer amanhã...” hoje eu vou viajar, completou, usando a mesma melodia. E foi assim, como esse pensamento, tirado de uma letra de samba que tomou a decisão. -Pai, vou conhecer Paris. -Tá doido, filho. Desempregado e vai viajar para a Europa? Quando você voltar, vai estar mais duro que... Bem, hoje em dia, não sei mais. -Olha meu velho, vou trazer uma nora francesa, muito da linda e doida, daquelas que saibam dançar o can can. O pai duvidou, a princípio achou que era da boca para fora, mas de repente... -Pai, leva-me para pegar o avião em São Paulo? -Uai, eu falei que iria...
Quando chegou ao Charles de Gaulle... Aquilo era muito mais do que imaginava. -E agora, meu Pai, o que faço, por onde começo? Pegou um táxi, tentou conversar com o motorista: -Mon amie, je sui três fatigué. Je querrô um bonne hotel. -Oui, oui. Enquanto o táxi percorria as ruas, foi vendo: primeiro a famosa Torre Eiffel, os grandes magazines, até chegar ao hotel. Nem descansou direito. Banhou-se, colocou uma roupa limpa e... rua! No saguão, pensando que estava no Brasil, perguntou em tom, lá alto, aqui natural, como chegava ao metrô. Logo foi admoestado: -Docteur, silence; qui est-ce! -Cacete, povinho cheio de frescura! Comprou um carnê do metrô e começou a turnê pelo centro. Champs Ellysées; chegou à Estação Charles De Gaulle Etoile, dando logo de cara com o Arco do Triunfo...gelou, quase caiu das pernas. Mas precisava delas e continuou. Logo mais o largo Place de la Concorde. -Monsieu, pardon... -Hein! Não entendo. Je ne parle pas votre...não, não estou falando...diabos! Não entendia muita coisa... Mas via que cego o tonto não era. Alta, cabelos pretos, olhos mais verdes que o mais verde das águas do mar, o sorriso era uma canção de ninar. -Por favor, entendes a minha língua? -Sim, eu faço curso de línguas e estudo a sua. Se você quiser, eu posso servir de cicerone, assim pratico um pouco.
-Que lindo, então aqui é o Jardin des Tuilleries, Musée du Louvre. E assim ela foi mostrando. outro dia, encontraram-se novamente e pela Rue de la Varenne chegaram até Museu Rodin. Também conheceu o Musée D’Orsay. Atravessou o Senna pela ponte de pedestres Solferino e tirou varias fotos. Ainda teve tempo de conhecer Église de Sacre Coeur e mais um dia se foi. Convidou a deusa para passar a noite com ele no Reginne... -Você não acha que é prematuro, nos conhecemos há pouco. N’est-ce pás, monsieur? -C' est vrai, madame... -Bem,
já
que
concordou,
eu
aceito.
O coitado quase teve um infarto. -Escuta,
você
sabe
dançar
o
Ela sorriu um sorriso que parecia mais um hino ao amor e disse: -Filho, acorda, você me pediu que te chamasse as oito. -Put....
can
can?
Cala a boca, Maurice! Homenagem à Academia Araçatubense de letras e às acadêmicas
Uma Academia de Letras tem a finalidade de cultivar a língua e a literatura nacional. Temos a nossa aqui em Araçatuba e os objetivos acima mencionados, ela luta por cumprir. Fui buscar no discurso de Machado de Assis, no longínquo julho de 1987, a certeza de que os nossos acadêmicos procuram atender ao apelo que o grande escritor fez no seu discurso de posse, como presidente: “ Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira” Fiat lux....lux, no caso, o Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras. Criador e criatura, hoje, esquecendo ligeiros e ocasionais percalços, integram-se em cultivar a língua e a literatura nacional. Ultimamente, também a literatura “ da casa”, posto que diversos autores da cidade tiveram suas vidas e obras levadas às escolas na Semana da Literatura. O meu grupo, já no ano passado, falou da escritora Rita Lavoyer. Falamos de Marilurdes Martins Campezzi e de José Geraldo Martinez. Neste, a honra de poder falar da vida e
obra da Cecília Vidigal Ferreira. Ela, que tem por lema: se sei, vou compartilhar A meninada quis saber sobre eles, o que faziam, onde moravam, disputaram os seus livros e se entusiasmaram... parece que desconheciam que aqui temos os nossos escritores e que eles são tão bons quanto. “ os confrades e confreiras que, até agora, mais deram respaldo a Helio Consolaro nesta significativa obra que é o Grupo Experimental da AAL... foram Cecília Ferreira, Tito Damazo e Lúcia Piantino” Hoje eu acrescentaria ao discurso, Marilurdes Campezzi, Yara Pedro e Dr.Glen Wood. Nunca negando uma palavra de incentivo e carinho os demais, dentre os quais, destaco a acadêmica Maria Luzia Vilela, minha querida amiga e a minha também muito querida, professora Maria Aparecida Baracat. Mas voltemos ao Maurice, que outro não é senão o Maurice Druon, autor da sanguinária obra Chat dês Partisans; o cidadão, na velhice, deu uma de machista, bombardeando a entrada das mulheres na Academia Francesa de Letras. Dizia que elas, se admitidas, fariam grupos “ tricotando” durante as discussões sobre o dicionário. Mon Dieu! Não seria “ bunitinho” ver a Lula, a Cecília, a Yara, a Cidinha, a
Célia Vilella dona Maria Luzia, fazendo os seus tricozinhos
durante as reuniões acadêmicas? Ainda bem que o Maurice perdeu a batalha; esteja onde estiver, o danado deve estar vendo o que estão fazendo as nossas acadêmicas. ...e Deo Gratias!
Escombro
Um conselho recebido...
Antigamente punha-me a olhar o céu... Ficava horas e horas a contemplá-lo. As nuvens, em movimentos constantes, formavam em inesperados instantes, as mais incríveis figuras. ...E eu ali, a sonhar. Faces formavam-se na coreografia e em vários momentos, eu via você a sorrir para mim. Tinha que ser na primavera. Deixei de ser quem eu era e para o céu,
parei de olhar. Temia ver você Lá no alto e entre nós uma distância sem fim. Não queria que me visse caído derrotado e sofrido buscando o meu suspiro final. Mas um anjo apiedou-se de mim e sussurrou-me baixinho um conselho Filho, coloque-a no seu coração. Tire-a da cabeça. É escombro. Não a carregue no ombro. Vai ser feliz outra vez.
Ponto e vírgula
Uma história consequências
de
amor
virtual
e
suas
O facebook e o blog são ferramentas. Às vezes elas escapam das mãos e causam estrago. E como são pesadas, se atingem os pés ou a cabeça, dói pra dedéu. Foi o que aconteceu... Cristina, enfermeira padrão de um grande hospital de uma cidade do sul do país, casada, mãe de dois filhos adolescentes, por um destes desígnios da vida entrou no blog de Riberto, advogado aposentado, divorciado, residente em Manaus. Como se vê, uma no Arroio Chui e o outro longe dali. Comentário vai, comentário vem e descobriu-se uma afinidade: o amor pela literatura, sobretudo pela poesia.Um dia uma proposta: quer duetar uma poesia minha, pergunta ela.Ele aceitou. Por email uma foi enviada, poesia de amor. Havia algo mais “escrito” nas entrelinhas. Há sempre em todas as poesias de amor, algo mais escrito entre elas. Riberto entrou no espírito da coisa, caprichou nas rimas e a cadência foi tanta que atingiu em cheio o coração de Cristina.Correspondência vinda carrega de paixão que voltou com sobrecarga. Coisas como: estou faminta de troca, de identificação com um homem que queira e se disponha a ler o meu coração ou ainda: tenho o amor que encontra no sexo uma de suas mais belas e concretas formas de expressão – a paixão. O que começou com simples comentários no blog atingiu a ambos de forma avassaladora, sem ao menos saberem como eram fisicamente, uma paixão veio como um tsunami. Precisavam consumá-la, entregarem-se era preciso.Ela propôs encontrarem-se; ele titubeou...ela percebeu. Mas como ele poderia aceitar sem pensar bem nas conseqüências? Ele, divorciado e só, nada teria a perder; poderia ganhar um coração cheio de amargura para carregar pela vida a fora. Ela, no entanto, se percebessem que não poderiam mais viver separados, teria a coragem necessária para dar às
costas ao marido e aos filhos adolescentes, foi-lhe perguntado...foi a vez dela titubear. Titubeou, mas ficou magoada; não queria ouvir aquela pergunta. Ninguém gosta de perguntas para as quais não tem resposta. Estabeleceu-se o conflito. As dúvidas que antes eram sufocadas pela alta temperatura erótica dos emails e MSN, com frases carregadas de palavras fortes, às vezes até chulas, mas que davam a real imagem da orgia virtual que os dois aprontavam, sobrepuseram-se a tudo. - Riberto, eu preciso fazer algo para mim mesma. Eu não posso mais protelar porque ser feliz e cuidar de mim é algo urgente! Ao cuidar do meu coração estou também de alguma forma cuidando das pessoas a quem amo e que me amam. A minha hora chegou e é agora. Isso, no entanto, não significa que estou disposta a magoar, a ferir o homem que dedicou toda a sua vida a mim. Temos uma relação muito prazerosa, ele me valoriza demais e me cerca de amor.... Confia na relação sólida e bonita que a gente teve e tem. Riberto estava a ponto de correr ao encontro dela e que fosse lá o que Deus quisesse, mas ante ao descrito, um fato se agigantava: ela queria muito, mas balançava entre dois sentimentos fortes: a gratidão ao marido e o amor por ele...e que talvez nem amor fosse e sim uma desgraça de uma paixão sem tamanho. Homem vivido sabia que a fogueira da paixão tem poucos gravetos. - Cristina, loucura eu não vou fazer. Não vou ser o artífice, não vou ser a causa da sua desgraça. Precisamos dar um tempo pra nós dois. -Riberto, o que não posso fazer é me machucar, ir do céu ao inferno tão rapidamente. Não é justo. Obrigada por colocar-me frente à realidade e realmente não existe espaço para amar sem querer estar juntos e ficarmos juntos, pelo menos por enquanto... -Cristina, talvez seja melhor, mesmo que sofrendo, colocar um ponto final na nossa história. -Façamos assim Riberto, por enquanto nada de ponto final... Coloquemos um ponto e vírgula.
O báculo
Houve erro no design divino?
Ponto de semelhança entre coisas diferentes. Voltando um pouco no tempo e atendo-nos à figura dos pastores, vamos notar que eles se apoiavam em cajados que nada mais eram que bordões com a parte superior arqueada. Utilizavam como apoio, instrumento de defesa e para conduzirem os seus rebanhos. Uma parte arqueada e a curva era usada, sobretudo, para segurar a rês pela perna, puxá-la e mantê-la no rebanho, protegida dos predadores. O cajado, na igreja católica, era símbolo de poder usado pelos bispos, arcebispos no papel de guardiões dos rebanhos do Senhor. Assim temos no sentido lato, que um báculo é um tipo de cajado usado por eles. Em sentido estrito, refere-se ao bordão usado pelos pastores, agora de almas, encarregados de cuidarem dos rebanhos do Senhor, ou seja, eu, tu, ele, nos, vos, eles...ah! Sim, ela e elas, que também são filhas de Deus. O papa, o bispo, arcebispo usam-no como sucessores dos apóstolos de Cristo. Puxar a ovelha, prender a ovelha, proteger a ovelha....Tudo no mundo parece rodar em torno da ovelha, sobretudo, satisfazê-la. O “ ovelho” que se vire, que dê os seus pulos.Vamos agora para a anatomia, falemos do ser vivo, sua constituição...Mais precisamente da genitália masculina.Tudo perfeito, mas será que não houve um erro no design divino, será que Ele fez certinha a coisa toda? Vamos passar reto pela descrição completa da genitália e ater-nos ao pênis, que o conceito anatômico descreve como o órgão da cópula, pela qual se dá a reprodução, a perpetuação do ser humano. Nele, a reprodução é sexuada, implicando na combinação de material genético de dois seres distintos, de sexos diferentes: o macho e a fêmea. O macho, no caso, o homem, tem que introduzir seu órgão no da fêmea, no caso, a mulher. Mas o negócio muito das vezes não funciona. Para que haja uma ereção é preciso uma série de mecanismos funcionando, tanto físicos como emocionais. Nas questões emocionais vai-se a um profissional especializado e muito se resolve. Nas questões físicas se procura um médico e o mesmo ocorre...Mas o médico não coloca um báculo em ninguém
Epa! Ta aí, o báculo... prótese peniana é o báculo que Deus não colocou na hora de fazer o design.“Então o que é o báculo senão um osso no interior do pênis para a ereção, posto que essa é uma simples ação muscular?”. E agora vem a coisa: “no homem o báculo não existe e o mecanismo fica complicado”....Órgão apropriado ou quase, lembra? Como diz a Coluna Ciência do Roelf Cruz Rizzolo, se tivéssemos báculo provavelmente não haveria disfunção erétil, não existiria o Viagra, e eu acrescento: não haveria tanto desquite, divórcio, não haveria Lei Maria da Penha, não haveria chefe muito bravo, mulher de cara feia, neguinho se afogando nas drogas porque não consegue...É , não consegue. O mundo seria maravilhoso. Coisas diferentes: o cajado do pastor e o diabo do ossinho peniano. Ponto de semelhança? Uai, não percebeu ainda?Tivéssemos o báculo e teríamos mais facilidade de manter as ovelhas perto da gente, alegres, satisfeitas, deixando a gente ver e jogar futebol quando quiséssemos, ficar com amigos nos bares depois do expediente, ir às pescarias a cada quinze dias com o carro lotado de cerveja, baralho e violão...O instrumento musical. Os predadores continuariam caçando, mas iriam comer...excremento.Mas por que será que Deus colocou o báculo no macaco e não colocou no homem? Que coisa, né? Com você a resposta.
Pióses
Se há uma ave com a qual me identifico é o falcão peregrino
Voando lá nas alturas Ou pousado numa falésia Obedecendo ao meu instinto Eu conseguia ser feliz. Eu sempre fui elegante apesar de nunca galante ... precisava sobreviver. Eis que voando bem alto notei lá em baixo, na relva, um movimento de vida vida que me daria a vida. Seguindo o instinto predador, atirei-me em ataque mortal e assim cheguei até você. Contive meu ímpeto a tempo impedido por sorriso divinal, então, como em passe de mágica começamos uma história trágica de predador, em caça me tornei. Foi você alimento da minh’alma, Amei você como ninguém amou. Quem pode evitar o próprio carma... O meu era a total liberdade... Assim eu te fiz infeliz em pobre infeliz me tornei. Deixa que eu siga meu caminho, preciso ganhar as alturas. Preciso voltar ao que sou. Sei, sou ave de rapina
mas é assim que eu sei viver. Então , peço em nome de Deus solte os pióses que me prendem. Serei novamente falcão peregrino em paz com meu próprio destino.
Um caso de amor em Portugal
Mas no fim, deu certo.
- O desfribilador, rápido! Uma, duas vezes e a paciente não reagia. Lembrou-se da frase do Chico: “e eu que não creio, peço a Deus por minha gente”. Adaptou-a para a situação, pediu pelo seu amor. Conheceu-a em Lisboa, andando despreocupado pelo Parque das Nacões , depois de ter descido do teleférico. Uma esbelta morena ia à sua frente. De repente, escorregou e caiu. Ajudou-a levantar-se. -Bom dia, senhorita, você esta bem? -Bom dia, estou sim, foi só o susto. O senhor é brasileiro, que bom ter caído para ser socorrida por um conterrâneo! Estava precisando falar um pouco o português da minha terra. Cheguei ontem, mas o sotaque já me dá nos nervos. -Heloisa é o meu nome, Eduardo. -Como você sabe o meu nome? -Está escrito no bolsinho da sua camisa, pode olhar. -Deus, que estúpido eu sou. Continuaram a caminhada dando sonoras risadas, chamando a atenção dos transeuntes, aos quais Eduardo, sorrindo, acenava. Aquela tarde passaram andando pela cidade, até depararem-se com o famoso Vértigo Café, com os seus móveis da década de 50 e 60, com o seu visual retrô. O interessante é que mesmo com toda a pompa e circunstância, serviam uma refeição simples e saborosa. Como estavam cansados, ela havia chegado um dia antes, resolveram que após o jantar, recolher-se-iam para um merecido descanso. Estavam hospedados no mesmo hotel e....mão de Deus, no mesmo andar. Descobriram estar em apartamentos contíguos. -Heloisa, na minha geladeira, tenho um champagne no ponto exato. -Na minha também tenho. Boa noite.
-Tenho algumas garrafas de vinho do Porto e.... Ficou ali, com a maior cara de besta...mas prometeu vingança. No outro dia saíram para passear, conhecer mais a linda cidade. Perguntaram ali mesmo no hotel sobre um roteiro a seguir e foram sem preocupação alguma. Caso se perdessem, um táxi os traria de volta. Sem que tivessem feito uma pergunta a alguém, de repente estavam no Culturgest. Trata-se de uma galeria de arte localizada no porão do maior banco Português, cuja sede os de Lisboa acham feia. Assim como navegar era preciso, alimentarem-se também era. -Amigo, somos brasileiros e queremos ir a um bom restaurante. Pode nos indicar um? -Claro, será um prazer, amo a sua terra. Minha filha está fazendo direito lá na Instituição Toledo, em Araçatuba, Estado de São Paulo. Recomendaramme por tratar-se de uma conceituada faculdade. Meu amigo Zé Hamilton formou-se nela e recomenda-a com ênfase. Das palavras aos fatos, chamou um táxi e disse ao motorista: - Leve estes amigos até a rua Marquês de Fronteira, 37, restaurante Elevem e, por favor, diga ao Maitre que eles são meus convidados. Não esqueça dessa recomendação. Heloisa e Eduardo se olharam...será? O táxi já estava com a porta aberta, esperando. O jeito foi aceitar a oferta. Não era um restaurante dos mais bonitos, sofisticados, mas tinha um salão de jantar confortável e moderno. Tinha a melhor vista da cidade para o rio e para o castelo e uma cozinha inspirada no Mediterrâneo. -Heloísa, teremos que tomar vinho nacional. Ah! Não quero nem saber, eu quero um....desgraçado! Tomaram o vinho nacional acompanhado pelo bacalhau mais apetitoso, cheiroso, maravilhoso de suas vidas. -Helô, menina, vai ficar uma grana; só valeu a pena porque durante toda a refeição eu estava olhando para você e pensando: -Quem é mais linda, ela ou aquela vista do rio? -Por favor, veja a despesa. -O que ! Que despesa, querem ver-me no olho da rua? Vocês são convidados do dono do restaurante. Aquele que chamou o táxi é o proprietário do restaurante. Foram para o hotel e aquele champagne da geladeira dele introduziu uma linda noite de amor. O da geladeira dela, deu o arremate romântico que faltou devido à sofreguidão com a qual se atiraram sobre os límpidos lençóis. Retornaram ao Brasil. Ele para o hospital onde era cirurgião geral e ela para a universidade, onde era mestra em Filosofia. Mas a casa onde passaram a residir, era a mesma.
E a vida caminhava como pediram a Deus, até o dia no qual ela teve um problema cardíaco, em plena sala de conferência para um grupo de professores Escandinavos. Era caso de cirurgia urgente. Foi chamado pelo interfone, o cirurgião chefe, pois o caso era complexo. -Doutor Eduardo, comparecer urgente na sala de cirurgia número três. Eduardo saiu na correria, preparou-se para a intervenção e: -Meu Deus, você? Alegou as razões pelas quais não poderia fazer o atendimento, não estaria emocionalmente apto para intervir naquela paciente. -Doutor, não dá mais tempo de convocar outro cirurgião, ou é o senhor ou ela morre. Quando gritaram alto pela segunda vez, pedindo o uso do desfibrilador, ele, superando-se, deu o melhor de si e mais ainda, pediu, não por sua gente, mas por ela....e por ele mesmo. Ao sair do hospital, o dia estava radiante. Ele não percebeu. Tinha pedido, foi atendido, mas estava envergonhado. Havia pedido muito mais por ele... Não poderia mais viver sem ela.
José Hamilton da Costa Brito, Araçatubense, fez seus estudos primários no Grupo escolar Cristiano Olsen e Colégio Salesiano. Estudou no Seminário Diocesano de Lins, e na antiga Instituição Toledo de ensino, hoje Unitoledo, onde fez Letras, com licenciatura plena e Direito. Membro do grupo experimental da academia araçatubense de letras, do ciadosblogueiros.blogspot.com, o site aracatubaeregião.com.br e da Nova Academia Virtual poética do Brasil. Participou de várias coletâneas do grupo experimental, tendo prefaciado a de número oito, laureado como ganhador do troféu Osmair Zanardi em concurso de poesias e do prêmio Odete Costa por ter idealizado e organizado o evento Astros de Sempre resgatando a memória do grupo Astros do Amanhã.