Coletividade e Encontro
Reestruturação de Área Comunitária em São Joaquim da Barra
José Vitor dos Santos Coelho
ESTE TRABALHO É PARTE DE UM AGRADECIMENTO AOS INVESTIMENTOS PÚBLICOS PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA, GRATUITA E DE QUALIDADE
Coletividade e Encontro
Reestruturação de Área Comunitária em São Joaquim da Barra
José Vitor dos Santos Coelho
Trabalho de Graduação Integrado I
Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo - IAU.USP
Comissão de Acompanhamento Permanente Profª. Drª Akemi Ino Profª. Drª. Aline Coelho Sanches Corato Prof. Dr. David Moreno Sperling Prof. Dr. Joubert José Lancha Coordenadores do Grupo Temático Profª. Drª Aline Coelho Sanches Corato Prof. Dr. Paulo Yassuhide Fujioka
São Carlos, Junho de 2019
Sumário
Questões 11 Leituras 17 Ações Projetuais 35 Bibliografia 65
Meados de junho de 2003. Frente ao Centro Comunitário do bairro, a rua Sebastião Delmônico estava enfeitada com flores de papel crepom em estruturas de bambu que serviam de apoio às barracas de doces, bebidas quentes, bolos, de jogos de pescaria, de pontaria, de artesanato. A asfalto frio era aquecido pela grande fogueira, que aquecia também quem chegava perto. A rua era o palco pras danças. A rua era extensão das casas que faziam frente a festa. A rua era o local do encontro. A rua era a estrutura que dava condições as expressões do bairro e da cidade. O tempo passou e a rua deixou de ser, junto com o centro comunitário, junto com a organização social. Dezesseis anos atrás meu olhar era o de quem estava numa festa junina, promovida pelos moradores do bairro. Era um olhar de brincadeira, de vivência, que viam pessoas se reunindo para construir uma festa. Hoje como estudante de arquitetura e urbanismo vejo aquela festa como um ato político, de organização social, no qual era um evento anual que trazia o encontro, o movimento e o sentimento de construção de algo comum.
8
9
QuestĂľes
Em um contexto de questionamentos, políticos, sociais e pessoais, surge uma inquietação elementar: Qual a significância posso dar a profissão de arquiteto e urbanista e aplicar os conhecimentos na realidade? Para de se aproximar de um tema e da proposta de projeto, a princípio, buscou-se entender os conceitos e desdobrá-los em novas questões, a fim de ampliar o campo teórico e referencial. Surge a partir daí temáticas relacionadas à: organização do espaço, coletividade e diversidade, política e organização popular. Tendo o detalhamento e desenvolvimento da principais ideias, destacou-se os elementos interessados, num conjunto de reflexões para a criação do tema e da inicial proposta de projeto. Projeto esse que dê condições para a liberdade, do espaço e do ser, que impacta na vida do ser humano, que se faz no viver. A possibilidade de influenciar positivamente na qualidade de vida das pessoas, através da melhoria da infraestrutura urbana em intervenções que contribuam para o desenvolvimento das cidades, é o que move os interesses deste trabalho.
12
Retorno social de investimento público Tendo em vista, o destino profissional de colegas formados no Curso de Arquitetura e Urbanismo, e o contexto nacional de disputas políticas, fica a dúvida entre: até que ponto o arquiteto sai da universidade, com engajamento político para buscar novas formas de impacto social com sua profissão (uma vez que se tem entendimento da formação com recursos públicos), ou simplesmente se adequa a um sistema que não é emancipador (no caráter pessoal e profissional) mas que sustenta os interesses financeiros. “A questão não é só da atitude individual, mas é sobretudo de uma concepção, de uma ideia de profissão que é coletiva e socialmente engajada. Temos de pensar mesmo o papel da profissão do ponto de vista social. Temos uma urbanização que nega a cidade, que segrega e individualiza, construindo muros e negando o espaço público, e que prioriza o modelo insustentável do automóvel. Precisamos reinserir a arquitetura e o urbanismo como uma profissão que tem o que dizer, e que se mostra de fato preocupada.” (João Whitaker - Caderno da 1a Conferência Estadual de Arquitetos e Urbanistas do CAU/SP, 2013)
13
Coletividade e diversidade. Num período de visibilidade das minorias e busca por direitos, e ao mesmo tempo, na ascensão de poderes conservadores e autoritários, como se pensar, através da arquitetura, o acolhimento dessa diversidade, que além dos olhares da mídia, é ainda mais ampla e atinge todos os coletivos? Primeiramente, é necessário entender as diversidades, como elas se fazem presentes na esfera pública e onde acontece o debate coletivo. Também se faz necessária a compreensão dos elementos de acolhimento, oferecidos pela arquitetura e pelo planejamento urbano, através principalmente da infraestrutura local. “temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”. (Santos, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural.)
14
A organização do espaço e organização social Uma intervenção de um local, produz um espaço físico e um espaço psicológico, visando o bem estar, o conforto e segurança. O espaço organizado, deve ser especialmente preparado para o exercício de atividades humanas, de tal maneira que no projeto arquitetônico, tais intervenções se torne parte de um sistema complexo. Além de organizar as composições e os programas, é essencial uma análise das condições ambientais percebidas pelos usuários. A compreensão do espaço estabelece parâmetros de orientação, conforto e qualidade ambiental, com os quais esses atores estabelecem encontros com protagonismo e participação ativa. Tal participação e protagonismo são necessários para a manutenção do espaço coletivo e coordenação social, de modo que se tornem agentes de construção da cidade.
“ O que se diz é que a arquitetura, antes de cumprir programas de modo rígido, deve amparar a imprevisibilidade da vida.” - Paulo Mendes da Rocha
15
Leituras
São Joaquim da Barra O município de São Joaquim da Barra localiza-se no interior do Estado de São Paulo, no noroeste paulista, com distâncias de aproximadamente 170km de São Carlos e 385km de São Paulo. Em uma área de 410,863km² e com estimativa de 51447 habitantes, segundo o IBGE de 2018, possui densidade demográfica de 113,28 hab/km² e IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 0,762, considerado um valor alto. 1804 a mais antiga notícia de posse de terras na região situada ao oeste do antigo “Caminho de Goiás” entre os rios Sapucaí Mirim e Pardo. 1898 Nas terras da Fazenda São Joaquim, surge o “progressista povoado” de São Joaquim. 1902 “Na recém inaugurada Estação da Mogiana, já se comentava com entusiasmo sobre a intensa movimentação das cargas e descargas de mercadorias importadas e exportadas enchendo seus armazéns” 1918 Pouco tempo depois das ruas da cidade terem recebido nome o engenheiro José Tófolli, desenhou o primeiro mapa com as casas assinaladas 1955 “Havia 20mil sacas de cereais armazenadas em todo o espaço disponível. Só um corredor para movimentação de passageiros. Até na sala de espera havia cereais” Américo Villani chefe da estação. (fonte:estacoesferroviarias.com.br/s/sjoaquim) 1962 Os trilhos que cortavam a cidade ao meio, começava a atrapalhar o trânsito 1970 Inicia-se a abertura de novos loteamentos e conjuntos habitacionais na cidade 1979 A estação é desativada e substituída por outra nova fora da cidade, do outro lado da Via Anhanguera 1980 à 2000 Novos loteamentos, pela COHAB e CDHU, fazem a expansão de São Joaquim da Barra.
18
đ&#x;”ťPrimeiro mapa da cidade desenhado pelo engenheiro JosĂŠ TĂłfolli, em 1918
fonte: cronicassaojoaquimdabarra.com.br
đ&#x;”ťImagem aĂŠrea da cidade com os novos loteamentos, nos anos 1990. No destaque o Bairro Paulo Leonello, local com ĂĄrea de intervenção
fonte: cronicassaojoaquimdabarra.com.br
19
As primeiras quadras de São Joaquim da Barra demarcou e influenciou o traçado de modo que se torna-se uma malha ortogonal e quadriculada. A expansão do tecido urbano seguiu o traçado original até os anos 1970, quando inicia-se novos loteamentos e conjuntos habitacionais na cidade. As novas composições da malha urbana avançaram em direção à rodovia Anhanguera, ao norte, e ao sul avançou no sentido da primeira linha ferroviária desativada, que se transformou na avenida principal. Os novos loteamentos prosseguiram sobre as barreiras geográficas, córregos e topografia, que delimitavam as primeiras quadras centrais. Se observa, no arranjo do tecido, o grande vazio representado por uma propriedade particular e pela área da pedreira. Nota-se que o traçado não mais seguiu o desenho da malha ortogonal do núcleo central, busca de uma maior economia de custos, assim tendo nova implantação de quadras retangulares.
20
Centro
Expansão apartir dos anos 1970/ Conjuntos Habitacionais
Antiga Linha Férrea
Pedreira
Nova Linha Férrea
Rodovia Anhaguera
21
Aproximação _ São Joaquim da Barra _ Bairro Paulo Leonello
22
fonte: Google Earth
Aproximação _ Bairro Paulo Leonelo _ Área Associação Amigos do Bairro
fonte: Google Earth
23
“Os encontros com demais membros da comunidade sempre geram trocas de idéias e de saberes. Cada grupo ou indivíduo possui sua própria história e seu acúmulo de experiências, que são diversas. Trabalhar junto e pactuar decisões traz à tona também a exposição de saberes e suas trocas. O resultado é mais saberes populares e mais conhecimento. O encontro e o diálogo contribui para construir rede de coalizões sociais. Coalizões que são ligações entre grupos ou sujeitos de interesse inicialmente antagônicos e divergentes, geralmente em torno de um objetivo comum. Estas ligações são fatores que podem gerar processos positivos em comunidades ou sociedades. A participação de diversos atores sociais, a necessidade do trabalhar coletivo promove a formação de redes e vínculos de natureza diversa, favorecendo a formação de novas coalizões na comunidade. “ ESPAÇOS PÚBLICOS Leitura Urbana e Metodologia de Projeto [dos pequenos territórios às cidades médias] Simone Gatti, Patricia Zandonade – São Paulo, ABCP, 2017. 120 p.
24
Imagens da Área de Intervenção
25
Imagens da Área de Intervenção
26
Imagens da Área de Intervenção
27
Imagens da Área de Intervenção
28
Imagens da Área de Intervenção
29
Imagens da Área de Intervenção
30
Imagens da Área de Intervenção
31
Imagens da Área de Intervenção
32
Imagens da Área de Intervenção
33
Ações Projetuais
Estudos preliminares
Estudo de Volumetria
36
Estudo de Percurso
Estudo de Relevo
Estudo Volumetria
37
Processos preliminares
Estudo de Fachada
38
Divagação Projetual
Critérios projetuais
Poética Projetual
39
Elementos da Área e Entorno
12min - 1000m
11min - 800m
6min - 450m
Educação
Esporte 9min - 650m
6min - 500m
Saúde
Tempo e distância de caminhada
40
Elementos da Área e Entorno
1 1. Canaleta de escoamento pluvial
2
2.Declividade do terreno 3.Campo de Futebol
3
4.Centro Comunitário 5.Pomar
4
6.Vista para o Pôr do Sol
6
5
7. Limite da Área da Associação dos Moradores 8.Rodovia Anhanguera
7 8
41
Preexistências e Acessos Existentes
Na área: Campo de Futebol, Centro Comunitário, Pomar Limite da área: Canaleta de escoamento pluvial
42
Sobreposição das camadas de preexistências e acessos existentes
Barreiras/Potencialidades e Projeção dos Acessos Existentes
A
A’
Barreiras Visuais à Paisagem
Prolongamento dos acessos á potencialidade
Potencial Paisagístico e de Contemplação Corte A - A’
43
Corte A - A’
Proposta de Rebaixamento do Campo de Futebol e Demolição da Edificação
44
45
Zoneamento
Prolongamento dos Acessos e Área de Confluência
46
Zonas preexistentes e potencias
Zoneamento
Novas Zonas
Curvas de nĂvel com rebaixamento do Campo de Futebol
47
Processos projetuais
Estudo da Forma e Percurso
48
Estudo da Forma
Estudo de Implantação
Estudo de Implantação e Vegetação
49
Implantação
Escala 1:500
50
Planta
Escala 1:500
51
Acesso e Circulação
Escala 1:500
52
Planta da Edificação
Escala 1:200
53
Programa
Banheiro Cozinha Café Administração Biblioteca
Escala 1:200
54
Volumetria
6m
10m
4m
5m
Banheiro
7,5m
Cozinha 20m Café 6m
14m
5m
Administração Biblioteca
7,5m 20m
55
56
Corte Geral
Escala 1:500
57
Corte
Escala 1:500
58
Corte
Escala 1:500
59
ReferĂŞncias projetuais
60
SESC Nova Iguaçu Vigliecca e Associados
fonte: vigliecca.com.br/pt-BR/projects/sesc-nova-iguacu
O projeto se apropria de uma gleba residual e articula novos usos e atividades, gerando um conjunto legível sem espaços excedentes. Assim, todos os lugares desenhados pelo projeto são descritíveis, estabelecendo dois setores de indubitável clareza na sua leitura: setor construído x setor não construído. O setor construído estabelece uma clara continuidade urbana com a situação existente, portanto, as interfaces desse setor refazem os segmentos viários do entorno a partir da localização no projeto dos acessos principal e o de serviços.
fonte: vigliecca.com.br/pt-BR/projects/sesc-nova-iguacu
61
Secular Retreat Peter Zumthor
fonte: living-architecture.co.uk/the-houses/a-secular-retreat
A forma horizontal do projeto foi esculpida para enquadrar as vistas dessa paisagem extensa e o contexto natural mais amplo em todas as direções. “Torna-se cada vez mais raros os momentos em que podemos nos sentar em uma casa e observar uma bela paisagem, um panorama o qual não haja sequer um traço de outro edifício que interrompa as linhas sinuosas das colinas no horizonte. Tranquilidade, contemplação, luxuosidade. Eu não pude resistir ao convite para projetar este edifício.” -Peter Zumthor
fonte: living-architecture.co.uk/the-houses/a-secular-retreat
62
Igreja Espírito Santo do Cerrado Lina Bo Bardi
fonte: institutobardi.com.br
Esse conjunto arquitetônico religioso (quiosque comunitário, casa, campo de futebol e Igreja) se tornaria para a comunidade do Bairro Jaraguá e para a Igreja, símbolo de trabalho comunitário e, para a arquiteta, a possibilidade de propor uma arquitetura condizente com a realidade social, econômica e cultural do povo que formava a periferia da progressista cidade.
fonte: institutobardi.com.br
63
BibliograямБa
64
BESTETTI, Maria Luisa Trindade. AMBIÊNCIA: espaço físico e comportamento - . Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, 2014. DIVERSIDADE E CONVIVÊNCIA : construindo saberes / Grupo Conviver (Org.), Jaime de Oliveira Praseres Jr., Efson Batista Lima, Rejane de Oliveira, Fredson Oliveira. - Salvador : EDUFBA, 2011. 408 p. ESPAÇOS PÚBLICOS Leitura Urbana e Metodologia de Projeto [dos pequenos territórios às cidades médias] Coordenação do Programa Soluções para Cidades, Simone Gatti, Patricia Zandonade – São Paulo, ABCP, 2017. 120 p. FARIAS, José Almir. PROJETO URBANO E DEMOCRACIA TÉCNICA. III ENANPARQ arquitetura, cidade e projeto: uma construção coletiva. São Paulo, 2014. FURTADO, Juarez Pereira. A CONCEPÇÃO DE TERRITÓRIO NA SAÚDE MENTAL. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(9):e00059116, set, 2016. LACERDA, Norma. LEITÃO, Lucia. O ESPAÇO NA GEOGRAFIA E O ESPAÇO DA ARQUITETURA: reflexões epistemológicas. Cad. Metrop., São Paulo, v. 18, n. 37, pp. 803-822, set/dez 2016. MASCARENHAS, Thais Silva. Sígolo, Vanessa Moreira. PARTICIPAÇÃO POPULAR, ESPAÇO PÚBLICO E AUTOGESTÃO. Cadernos Gestão Social, V.3, n.1, p.101-120, jan/jun 2012 VESCINA, Laura Mariana. PROJETO URBANO, PAISAGEM E REPRESENTAÇÃO: alternativas para o espaço metropolitano/ Laura Mariana Vescina. – Rio de Janeiro: UFRJ/FAU, 2010.
65
Cerca de 500 a.C. Heráclito escreveu o seguinte: Tudo flui e nada permanece, tudo dá forma e nada permanece fixo. Você não pode pisar duas vezes no mesmo rio, pois outras águas e ainda outras, vão fluir.