N°2
UMA DECLARAÇÃO A nasce com o intuito de glorificar a Deus levando as Boas Novas do Senhor Jesus Cristo a todos. Enquanto ela existir terá por fim este propósito: o de anunciar que Deus, o Criador de todas as coisas, que mandou seu Filho, Jesus Cristo, para viver uma vida perfeita, cumprindo toda a Lei, livre de toda sorte de pecado, para morrer pelos seus, carregando em Si toda a ira de Deus. Tirando, assim, toda a culpa, perdoando todo pecado. E ainda: que Ele ressuscitou dentre os mortos, vencendo a morte, o inferno e Satanás. Voltará novamente, ressuscitará os mortos e dará vida eterna a todos àqueles que acreditaram nele. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus.” II Corintios 5:21
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Por John Piper A doutrina da Trindade é fundamental para a fé cristã. Ela é crucial para um apropriado entendimento de como Deus é, como Ele se relaciona conosco e como devemos nos relacionar com Ele. Mas ela também levanta muitas questões difíceis. Como Deus pode ser um e três ao mesmo tempo? A Trindade é uma contradição? Se Jesus é Deus, por que os Evangelhos registraram ocasiões nas quais Ele orou a Deus? Apesar de não podermos entender completamente tudo sobre a Trindade (ou sobre qualquer outra coisa), é possível responder questões como essas e chegar a uma sólida compreensão do que significa ser Deus três em um.
A doutrina da Trindade significa que há um Deus que existe eternamente como três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Explicando de outra maneira, Deus é único em essência e triplo em personalidade. Essas definições expressam três verdades cruciais: 1) Pai, Filho e Espírito Santo são pessoas distintas. 2) Cada pessoa é totalmente Deus. 3) Há somente um Deus.
A Bíblia fala do Pai como Deus: (“Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo“, Fp.1.2). De Jesus como Deus: (“aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”, Tt.2.13). E do Espírito Santo como Deus (“Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno? Enquanto o possuías, não era teu? e vendido, não estava o preço em teu poder? Como, pois, formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.”, At.5.3-4). Seriam essas, então, apenas três
diferentes formas de olhar para Deus? Ou ainda, três papéis distintos que Deus desempenha? A resposta deve ser não, porque a Bíblia também indica que Pai, Filho e Espírito Santo são pessoas distintas. Por exemplo, já que o Pai enviou o Filho ao mundo (“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”, Jo.3.16), Ele não pode ser a mesma pessoa que o Filho. Do mesmo modo, depois que o Filho retornou ao Pai ( “[...] porque vou para meu Pai, e n~o me vereis mais”, Jo.16.10), o Pai e o Filho enviaram o Espírito Santo ao mundo (“Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.”, Jo.14.26; “De sorte que, exaltado pela dextra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis.”, At.2.33). Portanto, o Espírito Santo deve ser distinto do Pai e do Filho. No batismo de Jesus, vemos o Pai falando dos céus e o Espírito descendo dos céus na forma de uma pomba, enquanto Jesus saia das águas (“E logo, quando saía da água, viu os céus se abrirem, e o Espírito, qual pomba, a descer sobre ele;” Mc.1.10-11). João 1.1 (“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”) afirma que Jesus é Deus e, ao mesmo tempo, que Ele estava “com Deus”, indicando, assim, que Jesus é uma pessoa distinta de Deus o Pai (“Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer”, Jo.1.18). E em João 16.13-15 (“Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele, recebendo do que é meu, vo-lo anunciará”) vemos que, apesar de haver uma íntima unidade entre todos eles, o Espírito Santo também é distinto do Pai e do Filho. O fato de Pai, Filho e Espírito Santo serem pessoas distintas significa, em outras palavras, que o Pai não é o Filho, o Filho não é o Espírito Santo e o Espírito Santo não é o Pai. Jesus é Deus, mas Ele não é o Pai nem o Espírito Santo. O Espírito Santo é Deus, mas Ele não é o Filho nem o Pai. Eles são pessoas diferentes, não três diferentes formas de olhar para Deus. A personalidade de cada membro da Trindade significa que cada pessoa tem um distinto centro de consciência. Assim, elas relacionam-se umas com as outras pessoalmente: o Pai trata a Si mesmo como “Eu”, enquanto Ele trata ao Filho e ao Espírito Santo como “Vós”. Do mesmo modo, o Filho trata a Si mesmo como “Eu”, mas ao Pai e ao Espírito Santo como “Vós”. Frequentemente é objetado que “Se Jesus é Deus, ent~o Ele deve ter orado a Si mesmo enquanto esteve na terra”. Mas a resposta a essa objeção encontra-se em simplesmente aplicar o que nós já vimos. Embora
Jesus e o Pai sejam Deus, eles são pessoas diferentes. Assim, Jesus orou a Deus, o Pai, sem orar a Si mesmo. Na verdade, é precisamente o contínuo diálogo entre o Pai e o Filho (“e eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” Mt.3.17; “Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu; e dela saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” Mt 17.5; “Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente” Jo.5.19; “Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, graças te dou, porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me enviaste.” Jo 11.41-42; “Depois de assim falar, Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o Filho te glorifique” Jo 17.1ss) que fornece a melhor evidência de que eles são pessoas distintas com distintos centros de consciência. Algumas vezes a personalidade do Pai e do Filho é estimada, mas a personalidade do Espírito Santo é negligenciada, de modo que Ele é tratado mais como uma “força” do que como uma pessoa. Mas o Espírito Santo n~o é algo, mas Alguém (veja: “Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito” Jo.14.26; “Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei. E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais, e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado. Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora. Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele, recebendo do que é meu, vo-lo anunciará.” Jo 16.715). A verdade de que o Espírito Santo é uma pessoa, não uma força impessoal (como a gravidade), também é mostrada pelo fato de que Ele fala (“Pelo que, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz” Hb.3.7), raciocina (Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas necessárias” At.15.28), pensa e compreende (“porque Deus no-las revelou pelo seu Espírito; pois o Espírito esquadrinha todas as coisas, mesmos as profundezas de Deus. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus.” I Co.2.10-11), deseja (“Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um como quer.” I Co.12.11), sente (“E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.” Ef.4.30) e oferece comunhão
pessoal (“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.” II Co.13.14). Todas essas são qualidades de uma pessoa. Além desses textos, os outros que mencionamos acima deixam claro que a personalidade do Espírito Santo é distinta da personalidade do Filho e do Pai. Eles são três pessoas reais, não três papéis que Deus desempenha. Outro erro sério que as pessoas têm cometido é pensar que o Pai se tornou o Filho, que, então, se tornou o Espírito Santo. Contrariamente a isso, as passagens que vimos sugerem que Deus sempre foi e sempre será três pessoas. Nunca houve um tempo em que alguma das pessoas da Divindade não existia. Todas elas são eternas. Embora os três membros da Trindade sejam distintos, isso não significa que um seja inferior ao outro. Pelo contrário, todos eles são idênticos em atributos, tais como poder, amor, misericórdia, justiça, santidade, conhecimento e em todas as demais qualidades divinas.
Se Deus é três pessoas, isso significa que cada pessoa é “um terço” de Deus? A Trindade significa que Deus é dividido em três partes? Não, a Trindade não divide Deus em três partes. A Bíblia deixa claro que cada uma das três pessoas é 100% Deus. Pai, Filho e Espírito Santo são totalmente Deus. Por exemplo, é dito de Cristo que “nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl.2.9). Não devemos pensar em Deus como uma torta cortada em três pedaços, cada um deles representando uma pessoa. Isso faria cada pessoa ser menos do que totalmente Deus e, assim, não ser realmente Deus. Antes, “o ser de cada pessoa é igual ao ser integral de Deus”[1]. A essência divina não é algo dividido entre as três pessoas, mas está totalmente em todas as três pessoas sem estar dividida em “partes”. Assim, o Filho não é um terço do ser de Deus, Ele é todo o ser de Deus. O Pai não é um terço do ser de Deus, Ele é todo o ser de Deus. E, da mesma forma, o Espírito Santo. Assim, como Wayne Grudem escreve: “Quando falamos conjuntamente do Pai, do Filho e do Espírito Santo, n~o estamos falando de um ser maior do que quando falamos somente do Pai, ou somente do Filho, ou somente do Espírito Santo”[2].
Se cada pessoa da Trindade é distinta e, ainda assim, totalmente Deus, então, devemos concluir que há mais do que um Deus? Obviamente não, pois a Escritura deixa claro que há apenas um Deus: “Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há
outro” (Is.45.21-22; veja também: “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e fora de mim não há Deus. Quem há como eu? Que o proclame e o exponha perante mim! Quem tem anunciado desde os tempos antigos as coisas vindouras? Que nos anuncie as que ainda hão de vir. Não vos assombreis, nem temais; porventura não vo-lo declarei há muito tempo, e não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas! Acaso há outro Deus além de mim? Não, não há Rocha; não conheço nenhuma.” Is.44.6-8; “Quem entre os deuses é como tu, ó Senhor? a quem é como tu poderoso em santidade, admirável em louvores, operando maravilhas?” Ex.15.11; “A ti te foi mostrado para que soubesses que o Senhor é Deus; nenhum outro há senão ele.” Dt.4.35; “Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.” Dt.6.4-5; “Vede agora que eu, eu o sou, e não há outro deus além de mim; eu faço morrer e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar da minha mão.” Dt.32.39; “Ninguém há santo como o Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como a nosso Deus.” I Sm.2.2; “para que todos os povos da terra, saibam que o Senhor é Deus, e que não há outro.” I Rs.8.60). Tendo visto que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas distintas, que cada um deles é totalmente Deus e que não há senão um só Deus, devemos concluir que todas as três pessoas são o mesmo Deus. Em outras palavras, há um Deus que existe como três pessoas distintas. Se há uma passagem que mais claramente traz tudo isso em conjunto, ela é Mateus 28.19: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Primeiro, note que Pai, Filho e Espírito Santo são distinguidos como pessoas distintas. Nós batizamos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Segundo, note que cada pessoa deve ser divina porque todas elas são colocadas no mesmo nível. Na verdade, você acha que Jesus nos batizaria no nome de uma mera criatura? Certamente que não. Portanto, cada uma das pessoas em cujo nome devemos ser batizados é, necessariamente, divina. Terceiro, note que, apesar de que as três pessoas divinas são distintas, nós somos batizados em seu nome (singular), não em seus nomes (plural). As três pessoas são distintas, mas constituem um único nome. Só pode ser assim se elas compartilharem uma mesma essência.
Essa pergunta leva-nos a investigar mais de perto uma definição muito útil da Trindade que eu mencionei anteriormente: Deus é único em essência, mas triplo em personalidade. Essa formulação pode nos mostrar por que não há três deuses e por que a Trindade não é uma contradição. Para que alguma coisa seja contraditória, ela deve violar a lei da não contradição. Esta lei afirma que A não pode ser A (é) e não-A (não é) ao mesmo tempo e no mesmo sentido. Em outras palavras, você se contradiz
quando afirma e nega a mesma sentença. Por exemplo, se eu digo que a Lua é feita inteiramente de queijo, mas, então, também digo que a Lua não é feita inteiramente de queijo, estou me contradizendo. Algumas afirmações podem parecer contraditórias à princípio, mas não o são realmente. O teólogo R.C. Sproul cita como exemplo uma famosa afirmaç~o de Dickens: “Esse foi o melhor dos tempos, esse foi o pior dos tempos”. Obviamente isso é uma contradiç~o se Dickens est| dizendo que esse foi o melhor dos tempos no mesmo sentido em que esse foi o pior dos tempos. Porém, essa afirmação não é contraditória, porque ele está dizendo que em um sentido esse foi o melhor dos tempos, mas em outro sentido esse foi o pior dos tempos. Levando esse conceito à Trindade, não é uma contradição para Deus ser tanto três quanto um porque Ele não é três e um no mesmo sentido. Ele é três num sentido diferente do qual Ele é um. Assim, não estamos falando com uma linguagem dobre. Não estamos dizendo que Deus é um e, então, negando que Ele é um ao dizer que Ele é três. Isto é muito importante: Deus é um e três ao mesmo tempo, mas não no mesmo sentido. Como Deus é um? Ele é um em essência. Como Deus é três? Ele é três em personalidade. Essência e personalidade não são a mesma coisa. Deus é um em certo sentido (essência) e três em um sentido diferente (personalidade). Já que Deus é um em um sentido diferente do qual Ele é três, a Trindade não é uma contradição. Só haveria contradição se disséssemos que Deus é três no mesmo sentido em que Ele é um. Então, uma olhada mais de perto para o fato de que Deus é único em essência, mas triplo em personalidade, foi útil para mostrar por que a Trindade não é uma contradição. Mas como isso nos mostra que há apenas um Deus e não três? Muito simples: Todas as três pessoas são um Deus porque, como vimos acima, todas elas são a mesma essência. Essência significa a mesma coisa que “ser”. Assim, j| que Deus é uma única essência, Ele é um único ser, não três. Isso torna mais claro por que é tão importante entender que todas as três pessoas são a mesma essência. Pois se nós negamos isso, estamos negando a unidade de Deus e afirmando que há mais do que um ser de Deus (ou seja, há mais do que um Deus). O que vimos até agora provê um entendimento básico da Trindade. Mas é possível aprofundarnos mais. Se pudermos entender mais precisamente o significado de essência e personalidade, como esses dois termos diferem e como se relacionam, teremos um mais completo entendimento da Trindade.
O que essência significa? Como eu disse anteriormente, significa o mesmo que ser. A essência de Deus é o Seu ser. Para ser mais preciso, essência é aquilo que você é. Sob o risco de soar muito físico, essência pode ser entendida como o “material” do qual você “consiste”. Certamente estamos falando por analogia aqui, pois não podemos entender essência de uma forma física em relaç~o a Deus. “Deus é espírito” (“Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” Jo.4.24). Além disso, claramente não devemos pensar em Deus “consistindo” de outra coisa além da divindade. A “subst}ncia” de Deus é Deus, n~o um monte de “ingredientes” que misturados produzem a divindade.
Em relação à Trindade, nós usamos o termo “pessoa” diferentemente do que usamos no dia-a-dia. Portanto, geralmente é difícil ter uma definição concreta de pessoa quando usamos esse termo em relaç~o { Trindade. Por “pessoa” n~o queremos dizer um “indivíduo independente”, assim como eu e outro ser humano somos independentes e existimos separados um do outro. Por “pessoa” queremos dizer alguém que se trata como “eu” e aos outros como “vós”. Ent~o, o Pai, por exemplo, é uma pessoa diferente do Filho porque Ele trata ao Filho como “Tu”, apesar de Se tratar como “Eu”. Assim, em relaç~o { Trindade, podemos dizer que “pessoa” significa um sujeito distinto que Se trata como “Eu” e aos outros dois como “Vós”. Esses sujeitos distintos n~o s~o uma divis~o no ser de Deus, mas “uma forma de existência pessoal que não é uma diferença no ser” [3].
O relacionamento entre essência e personalidade, então, é como segue. Na unidade de Deus, o ser indiviso é um “desdobramento” em três distinções pessoais. Essas distinções pessoais são modos de existência no ser divino, mas não são divisões do ser divino. Elas são formas pessoais de existência e não uma diferença no ser. O antigo teólogo Herman Bavinck declarou algo muito útil sobre isso: “As pessoas são modos de existência no ser; consequentemente, as pessoas diferem entre si como um modo de
existência difere de outro, e – usando uma ilustração comum – como a palma aberta difere do punho fechado” [4]. J| que cada uma dessas “formas de existência” s~o relacionais (e assim s~o pessoas), cada uma delas é um distinto centro de consciência, cada um deles Se tratando como “Eu” e aos outros como “Vós”. Porém, todas essas três pessoas “consistem” da mesma “matéria” (ou seja, o mesmo “o que”, ou essência). Como o teólogo e apologista Norman Geisler explicou, enquanto essência é “o que” você é, pessoa é “quem” você é. Ent~o, Deus é um “o que”, mas três “quem”. Assim, a essência divina n~o é algo que existe “acima” ou “separada” das três pessoas, mas a essência divina é o ser das três pessoas. Não devemos pensar nas pessoas como seres definidos por atributos acrescentados ao ser de Deus. Wayne Grudem explica: “Mas se cada pessoa é plenamente Deus e tem todo o ser divino, então tampouco devemos pensar que as distinções pessoais são alguma espécie de atributos acrescentados ao ser divino… Em vez disso, cada pessoa da Trindade tem todos os atributos de Deus, e nenhuma das pessoas tem algum atributo que não seja também possuído pelas outras. Por outro lado, precisamos dizer que as pessoas são reais, que não são apenas modos diferentes de enxergar o ser único de Deus… a única maneira de fazê-lo é dizer que a distinção entre as pessoas não é uma diferença no “ser”, mas sim uma diferença de “relações”. Trata-se de algo bem distante da nossa experiência humana, na qual cada “pessoa” distinta é também um ser distinto. De algum modo o ser divino é tão maior que o nosso que dentro do seu ser único e indiviso pode haver um desdobramento em relações interpessoais, de forma tal que existam três pessoas distintas”. [5]
Há muitas ilustrações que têm sido oferecidas para nos ajudar a entender a Trindade. Embora existam algumas ilustrações úteis, devemos reconhecer que nenhuma ilustração é perfeita. Infelizmente, há muitas ilustrações que não são apenas imperfeitas, mas erradas. Uma ilustração com a qual devemos tomar cuidado diz: “Eu sou uma pessoa, mas também sou um estudante, um filho e um irmão. Isso explica como Deus pode ser tanto um quanto três”. O problema com essa ilustraç~o é que ela reflete uma heresia chamada modalismo. Deus não é uma pessoa que desempenha três diferentes papéis, como essa ilustração sugere. Ele é um Ser em três pessoas (centros de consciência), não simplesmente três papéis. Essa analogia ignora as distinções pessoais em Deus e as transforma em meros papéis.
Vamos revisar rapidamente o que vimos. 1. A Trindade não é uma crença em três deuses. Há um único Deus e nós nunca devemos desviar-nos disso. 2. Esse único Deus existe como três pessoas. 3. As três pessoas não são partes de Deus, mas cada uma delas é total e igualmente Deus. No ser único e indiviso de Deus há um desdobramento em três relações interpessoais, de forma tal que existam três pessoas. As distinções na Divindade não são distinções de Sua essência, nem são acréscimos à Sua essência, mas são o desdobramento da unidade de Deus, do ser indiviso, em três relacionamentos interpessoais, de modo que há três pessoas reais. 4. Deus não é uma pessoa que assume três papéis consecutivos. Essa é a heresia do modalismo. O Pai não se tornou o Filho e, então, o Espírito Santo. Pelo contrário, sempre houve e sempre haverá três pessoas distintas na Divindade. 5. A Trindade não é uma contradição porque Deus não é três no mesmo sentido em que Ele é um. Deus é um em essência e três em personalidade.
A Trindade é extremamente importante porque Deus é importante. Conhecer mais completamente a Deus é uma forma de honrá-Lo. Além disso, devemos admitir o fato de que Deus é triuno para aprofundar nossa adoração. Nós existimos para adorar a Deus. E Deus busca pessoas que O adorem “em espírito e em verdade” (Jo.4.24). Portanto, devemos sempre empenhar-nos em aprofundar nossa adoração a Deus, tanto em verdade quanto em nosso coração. A Trindade tem uma aplicação muito importante na oração. O padrão geral de oração na Bíblia é orar ao Pai através do Filho e no Espírito Santo (“porque por ele ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito.” Ef.2.18). Nossa comunhão com Deus deve ser reforçada por um conhecimento consciente de que estamos nos relacionando com um Deus tri-pessoal. A conscientização dos papéis distintos que cada pessoa da Trindade tem em nossa salvação pode servir especialmente para nos dar grande conforto e apreciação por Deus em nossas orações, assim como nos ajudar a ser específicos ao dirigi-las a Deus. Porém, apesar de reconhecer os papéis distintos de cada
pessoa, nunca devemos pensar nesses papéis de forma tão separada que as outras pessoas não estejam envolvidas. Pelo contrário, em tudo que uma pessoa está envolvida, as outras duas também estão envolvidas, de uma forma ou de outra. Notas: 1. Wayne Grudem, Teologia Sistemática (Edições Vida Nova, 1999), p.189. 2. Ibid, p.187. 3. Wayne Grudem, Teologia Sistemática (Edições Vida Nova, 1999), p.189. Apesar de eu crer que essa é uma definição útil, deve ser reconhecido que o próprio Grudem está oferecendo-a mais como uma explanação do que como uma definição de pessoa. 4. Herman Bavinck, The Doctrine of God, (Great Britain: The Banner of Truth Trust, 1991 edition), p. 303. 5. Grudem, p.187-188. Recursos adicionais Agostinho, A Trindade. Herman Bavinck, The Doctrine of God, p. 255-334. Edward Bickersteth, The Trinity. Wayne Grudem, Teologia Sistemática, capítulo 14. Donald Macleod, Shared Life: The Trinity and the Fellowship of God’s People. R.C. Sproul, O Mistério do Espírito Santo. R.C. Sproul , Verdades Essenciais da Fé Cristã. J.I. Packer, O Conhecimento de Deus. John Piper, The Pleasures of God, chapter 1. James White, The Forgotten Trinity.
Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org Original: What is the doctrine of the Trinity? Tradução e Revisão: André Aloísio e Davi Luan do blog Teologia e Vida (http://teologia-vida.blogspot.com/) Texto extraído do blog: http://voltemosaoevangelho.com/blog/