Revista Literarte

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revista EDIÇÃO 01 | ANO 01 | NOVEMBRO 2020

por que ler representatividade importa?

Conversamos com escritores para desvendar os desafios que a literatura inclusiva enfrenta

A reinventção dos eventos literários em meio à pandemia

Um bate-papo incrível com Juan Jullian, autor de “Querido Ex”

Entenda as causas da crise que assusta editoras e livrarias 1


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sumário

16. capa

Foto: jozileide alves

representatividade na literatura

6. novidades 8. literatura A Literatura nos tempos de pandemia 12. entrevista Larissa Siriani 14. setor crise do mercado editorial 26. polêmica A queda de J.K. Rowling 28. perfil JUAN JULLIAN 32. dicas 33. artigo Como definir literatura 35. resenha Daisy Jones & The Six – Uma história de amor e música 36. crônica Os amigos e as redes sociais

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■ da redação

Novembro 2020 – Ano I – Edição nº 01 Capa: Jozileide Alves Redação: Aline Cunha Jozileide Alves Projeto Gráfico, capa e editoração: Aline Cunha Jozileide Alves Reportagem: Aline Cunha Jozileide Alves Orientação geral: Profª Ma. Simone Leone Coordenadora do curso: Profª Gracy Duarte Fale com a redação rliterarte@gmail.com @revistaliterarte A Revista Literarte foi desenvolvida como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC).

2020. Pandemia. Literatura.

Quando as palavras estão dispostas dessa maneira, sem estarem em uma frase coesa, é difícil encontrar a relação entre elas. 2020 foi um ano intenso e atípico para todos nós. Aulas à distância para aqueles que estudam, trabalho remoto para aqueles que puderam e risco à saúde para aqueles que não tiveram escolha. Alguns podem dizer que tivemos um período fantasma, outros se forçaram a produzir tanto durante a quarentena que não ousariam falar isso. O fato é que tivemos uma pequena amostra do que o mundo pode se tornar no futuro. Algumas empresas, por exemplo, adotaram o teletrabalho como permanente. No ramo da cultura, tivemos uma onda gigantesca de lives para todos os gostos, a volta do cinema drive-in e livros. Muitos livros. A Flipop, um festival de literatura voltado para jovens leitores, aconteceu de forma remota, assim como acontecerá a Bienal do Livro 2020. O meio mudou e nós, camalões como somos, aprendemos a nos adequar. A cultura ilustra bem o seu papel em tempos tão sombrios. Por meio dela, conseguimos desviar a mente das inúmeras tragédias que entram em pauta na televisão quando chega o fim do dia. Logo no início da pandemia, como incentivo para as pessoas ficarem em casa, várias editoras e autores independentes disponibilizaram livros gratuitos em plataformas, como a Amazon. É claro que na época nós não fazíamos ideia de que ficaríamos tanto tempo presos em casa, no entanto, a literatura foi a salvação para aqueles que estavam sozi-

nhos e não somente sofrendo com o tédio. Afinal de contas, depois de um tempo, o psicológico começou a ceder à pressão, e não há nada melhor do que uma boa leitura para salvar os dias ruins. Nesta primeira edição de Literarte, falamos sobre representatividade. Entre os escândalos de transfobia vindos da até então amada J.K. Rowling, é importante bater na tecla de que o mundo não é mais o mesmo de dez anos atrás. As minorias hoje requerem atenção e, como todos, elas também querem se enxergar nos livros e nas telas de cinema. As coisas estão em processo de mudança, mas há um longo caminho pela frente. Não ignoramos a crise. O Brasil ainda sofre com a desvalorização do livro. A reforma tributária de Paulo Guedes, ministro da Economia, prevê a retirada da isenção de imposto do negócio livreiro e, dessa forma, taxação dos livros em 12%. Isso poderia ser a causa um colapso ainda pior no mercado literário, que já sofre com livrarias e editoras à beira da falência. Com exceção do Chile e da Guatemala, os demais países da América do Sul têm uma política de isenção parecida com a do Brasil. Livros não são “coisa de elite”, mas sim o alimento básico para a mente humana. Como uma planta, precisamos regá-la para que ela não definhe. A Literarte acredita na magia das palavras e no seu poder de mudar o mundo, uma letra de cada vez. Desejamos que você, que nos lê, viva mais mil vidas dentro das páginas.

Aline Cunha e Jozileide Alves Editoras da Literarte 4


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novidades

Coleção Vaga-Lume ganha título inédito depois de 12 anos

ponha-se no seu lugar! Ana Pacheco Ática

A coleção Vaga-Lume, notoriamente conhecida como um dos selos mais importantes para a formação de jovens leitores na história do mercado editorial brasileiro, vai publicar um livro inédito após uma pausa de 12 anos. A Editora Ática, que começou a editar os livros voltados ao público infantojuvenil na década de 1970, está lançando agora “Ponha-se no Seu Lugar!”, da escritora e pesquisadora Ana Pacheco. O livro é descrito como uma releitura para os tempos atuais de “O Nariz”, do russo Nikolai Gógol. Num primeiro momento, a iniciativa da editora foi a de resgatar obras de décadas anteriores, como “A Ilha Perdida”, de Maria José Dupré, e “O Escaravelho do Diabo”, de Lúcia Machado de Almeida, que estavam fora de catálogo ou tinham acesso difícil. Para o futuro, a editora estuda sobre investir em outros lançamentos dentro da coleção.

Foto: Reprodução

O caso Fred Elboni

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A Editora Sextante, depois de ser cobrada a se explicar pela publicação de novo livro de Fred Elboni, informou que decidiu, em comum acordo com o autor, suspender a publicação do livro “O que os olhos não veem, mas o coração sente”. Segundo consta no comunicado divulgado em suas redes sociais, a editora entende que há um conflito em andamento e que essa é a melhor decisão a ser tomada em respeito a todos. Ainda assim, a resposta não agradou ao público. A maioria entendeu que a editora estava apenas “esperando a poeira baixar”, o que a obrigou a voltar às redes socias para se explicar. No comunicado mais recente, ela diz que “é fundamental deixar claro que a decisão tomada foi a de não publicar em definitivo o livro”, além de “ressaltar também o nosso compromisso com a integridade e o respeito ao próximo”. Alguns meses atrás, o autor de best-sellers “femininos” foi acusado de agressão por mulheres com quem conviveu. Nas redes sociais, a hashtag #ExplicaSextante chamou atenção para o caso.


“Revolução” ou “Fazenda”?

a fazenda dos animais

George Orwell Companhia das Letras

Em nova tradução, feita por Paulo Henriques Britto — tradutor de Thomas Pynchon, Philip Roth, entre outros —, pela primeira vez a obra-prima de George Orwell é publicada entre nós com seu título original. Com capa em tecido, lombada impressa, projeto gráfico de Kiko Farkas e Felipe Sabatini e um ensaio visual especialíssimo da artista Vânia Mignone, esta edição inclui também uma seleção de capas históricas do romance — desde o seu lançamento, em 1945, até os dias de hoje — e ampla fortuna crítica com textos de gigantes como Edmund Wilson, Northrop Frye, Raymond Williams, Daphne Patai, Harold Bloom, Morris Dickstein e Alex Woloch. Num posfácio escrito especialmente para este volume, o professor e crítico Marcelo Pen refaz a trajetória da fábula de Orwell em terras brasileiras — onde surgiu em 1964 — e lança luz sobre as tentativas de uso do livro como arma ideológica no Brasil e no mundo. A história é conhecida: cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Fazenda do Solar rebelam-se contra seu dono e tomam posse do lugar, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário. Mas não demora para que alguns deles — em particular os mais inteligentes, os porcos — voltem a usufruir de privilégios, fazendo com que o velho regime de opressão regresse com ainda mais força. Animais de todo mundo, uni-vos! É chegada a hora. Em novembro, a rebelião na Fazenda, como você nunca viu.

Novo livro de “Dragões de Éter” à vista Depois de 10 anos de muitos questionamentos e dúvidas acerca de seu lançamento, a série de livros “Dragões de Éter”, que consagrou Raphael Draccon com um dos grandes nomes da literatura fantásticas nacional, ganha seu desfecho pela Editora Melhoramentos. Além do quarto livro, “Estandartes de Névoa”, a editora relançará também os

três primeiros volumes da série. São eles, respectivamente: “Caçadores de Bruxas”, “Corações de Neve” e “Círculos de Chuva”. Para aqueles que adquirirem o livro na pré-venda, haverá um evento virtual exclusivo que funcionará como um evento de lançamento, em que o escritor promete contar histórias, falar sobre o processo criativo e mostrar materiais inéditos. dragões de éter estandartes de névoa Raphael Draccon Melhoramentos

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literatura

Foto: dusanpetkovic1/stock.adobe.com

A LITERATURA NOS TEMPOS DE PANDEMIA Como os eventos literários se reinventaram para seguir as recomendações de ditanciamento social Jozileide Alves

A

pandemia do novo Coronavírus pegou o mundo todo despreparado. Literalmente falando. A partir dos protocolos de distanciamento social implementados, o mundo inteiro se viu em um grande dilema: como realizar muitos dos grandes eventos programados e esperados pelo público? A internet foi a resposta encontrada. Ao longo de 2020, o número de lives no YouTube, Facebook e Instagram cresceu exponencialmente. O mundo literário obviamente não ficou de fora. Por todo o mundo, eventos literários foram adiados a priori e, com a manutenção das restrições sobre aglomerações, muitos deles foram cancelados ou 8

tiveram que se adaptar. A internet acabou sendo a ferramenta encontrada para tentar aproximar aqueles que não poderiam estar fisicamente presentes. No Brasil, grandes eventos como a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) e a Bienal Internacional do Livro, que em 2020 aconteceria em São Paulo, adiaram suas datas esperando que a situação pudesse estar mais controlada ao longo dos meses. Agora, ambas estão previstas para ter edições online. Outros eventos com certo destaque entre o público jovem decidiram apostar nesse “novo formato” lá atrás, em meio ao período mais incerto da pandemia. Foi o caso da FLIPOP, organizado pela Editora Seguinte, e o


Mochilão da Record, organizado pelo Editora Record, que tiveram edições completamente virtuais e abertas ao público por meio de transmissões via YouTube. Estas adaptações, porém, não se limitaram apenas aos grandes eventos. Quem também acabou sendo afetado pelos protocolos de distanciamento social foram os clubes de livros. Diante da impossibilidade de realização presencial, muitos também tiveram que se adaptar. Foi o caso do Café Literário, da Profa. Janaína Soggia. Os encontros do clube, anteriormente realizados na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, agora acontecem

Em cima, uma das mesas virtuais da FLIPOP 2020. Em baixo, anúncio de novos títulos e conversa com autor no Mochilão Virtual da Record, tudo via YouTube.

virtualmente durante o período de pandemia. Há também quem tenha pausado suas atividades por tempo indeterminado, como foi o caso do clube do livro Leia Mulheres, sediado em São Paulo. Michelle Henriques, uma das criadoras, explica a decisão: “Não queremos fazer online, pois isso iria excluir quem não tem acesso a um dispositivo e/ou internet”. Rosemary Castro, do blog literário Fábrica dos Convites, organiza dois clubes de livros. Um deles, em parceria com outros perfis literários, é um modelo nascido para o virtual. Criado antes da pandemia, as reuniões são feitas por meio do aplicativo de mensagens instantâneas Whatsapp. “As pessoas tem participado de forma bem legal. Há uma boa interação no grupo e novas amizades estão sendo feitas”, diz Rosemary. O outro, em parceria com a Editora Arqueiro, é presencial e se encontra com o destino incerto. Rosemary não sabe se o clube irá retornar às atividades, mas garante que não há previsão de qualquer coisa antes de 2021. Questionada se voltaria com o clube presencial, ela é categórica ao afirmar que sim: “Gosto do olho no olho na hora da conversa”. 9


1ª Bienal Virtual do Livro de São Paulo

P

rogramada para acontecer en-

Além disso, espaços culturais tradicio-

tre os dias 30 de outubro e 8 de

nais da Bienal de São Paulo terão uma ver-

novembro, a 26ª edição da Bie-

são digitalizada. São eles: a Arena Virtual e o

nal Internacional do Livro de São Paulo foi

Salão de Ideias, que prometem trazer temas

mais um dos grandes eventos afetados pela

contemporâneos e muito bate-papo com au-

situação da pandemia do novo Coronavírus

tores.

no país. Em junho, a Câmara Brasileira do

Outro evento que ocorrerá dentro da

Livro (CBL) e a Reed Exhibitions Alcânta-

Bienal é a 2ª edição da Jornada Profissio-

ra Machado, responsáveis pela organização

nal, com rodadas de negócios entre players

e realização da exposição, anunciaram o

nacionais e internacionais. Esses encontros

cancelamento do evento de 2020 e o subse-

também promoverão discussões sobre os

quente adiamento da 26ª edição para 2022.

panoramas atuais do setor e as perspectivas

Em setembro, no entanto, um novo anúncio

para o mercado editorial mundial.

foi feito: vinha aí a 1ª Bienal Virtual do Livro de São Paulo. Promovendo o conceito “Conectando Pessoas e Livros”, o evento virtual acontecerá entre os dias 7 e 13 de dezembro em uma

Anote na sua agenda:

plataforma digital que promete fácil acesso

1ª Bienal Virtual:

tanto para o expositor como para o público

de 7 a 13 de dezembro de 2020 www.bienalvirtualsp.org.br

em geral. Totalmente online, este será o primeiro grande evento do segmento literário e deve reunir leitores, escritores, parceiros, editores, distribuidores, livrarias e outros profissionais do mercado editorial. Na plataforma será possível não apenas assistir palestras como também comprar livros e realizar negócios. A expectativa da organização

20ª Bienal do RJ: de 3 a 12 de setembro de 2021 www.bienaldolivro.com.br

26ª Bienal de SP: de 02 a 10 de julho de 2022 www.bienaldolivrosp.com.br

é de receber 150 expositores e mais de 1 milhão de visitantes online. Vitor Tavares, presidente da CBL, está otimista: “Pela primeira vez, pessoas de todos os lugares do Brasil e do mundo poderão participar dessa grande festa, conhecendo as novidades, fazendo bons negócios e aproveitando as palestras que jamais estariam disponíveis de outra forma”, diz. 10

Para mais informações, acompanhe as redes sociais dos eventos!


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entrevista

Foto: jozileide alves

“Acho que o maior desafio somos nós mesmos” Larissa Siriani fala sobre ritmo de trabalho, inspirações literárias e muito mais aline cunha

T

odas as coisas boas começam por algum lugar. Larissa Siriani tem 28 anos e publicou o primeiro livro de maneira independente aos 17, desde então não parou mais de escrever. Hoje, Larissa tem livros publicados pela editora Verus (Amor Plus Size, de 2016, e O Amante da Princesa, de 2018). Além de escrever, ela é formada em Cinema, dá aulas de inglês e estuda Produção Editorial. Sua personalidade se reflete em suas obras, que são cheias de lições sobre autoestima e empoderamento. A Literarte bateu um papo super diversificado com a autora. Conversamos sobre escrita, preconceito, representatividade e inspirações. Além disso, Siriani ainda deu dicas para jovens escritores. 12


Não sei se tenho um? Tenho livros que já li muitas vezes e que gosto de revisitar. Meu favorito é Eu sou o mensageiro, do Markus Zusak.

Como é seu ritmo de trabalho? Você escreve todos os dias? Hoje em dia não é mais tão regrado. Eu trabalho em período integral em uma editora, e isso consome muito do meu tempo. Na medida do possível, tento escrever um pouco todos os dias, ou pelo menos alguns dias por semana. Mais importante do que escrever todos os dias, pra mim, é estar em contato com a escrita, lendo, falando sobre isso, pensando na história, e isso tento fazer sempre.

Quais autores são a sua inspiração? Tantos! Todos os autores brasileiros contemporâneos, até os que eu não conheço, pela coragem que sei que precisamos ter pra seguir em frente. E tem algumas autoras que admiro e em quem me espelho muito pela capacidade de produzir histórias boas e contagiantes, como a Meg Cabot, a Marian Keyes e a Julia Quinn.

Como você trata a representatividade em seus livros de maneira tão natural? Eu tento sempre pensar que histórias são um reflexo do mundo que a gente vê e no qual a gente vive. Se você vive sempre cercado das mesmas pessoas, pessoas iguais a você, acaba reproduzindo isso nas suas criações. Acho que a naturalidade dessa representação tem a ver com o quão natural isso é na minha vida. Se eu convivo com pessoas diferentes, sou capaz de retratar pessoas diferentes.

Como você descreveria a experiência de ser au-

Foto: Reprodução/Instagram

Qual é o seu livro de cabeceira?

Na imagem, alguns dos livros já lançados por Larissa Siriani.

tora no Brasil? É que nem aquela expressão do “cego em tiroteio”. É um eterno estar perdido, e, muitas vezes, uma eterna sensação de estar dando murro em ponta de faca. Tem pouco incentivo, pouca atenção midiática, panelinhas, pilantras querendo dar o bote. Mas hoje, as águas são bem mais navegáveis do que eram há dez anos. O importante é que existe, sim, espaço para a literatura nacional crescer, e isso é o que torna nosso trabalho possível.

A pandemia afetou a sua produção? Estranhamente, me fez escrever mais. No começo da pandemia, descontei muitos medos e frustrações na escrita, e me fez muito bem. Passei por períodos em que estava psicologicamente afetada demais para escrever, mas, no geral, foi quase como um incentivo.

Quais são os desafios de escrever? Como você lida com procrastinação, bloqueios criativos e inseguranças? Acho que o maior desafio somos nós mesmos, nossas cabeças. Tudo é consequência de como a gente está no momento, ou das expectativas que criamos em cima dos nossos projetos. Hoje em dia é muito raro eu me sentir 13


insegura com relação à escrita, então mesmo quando estou procrastinando, ou sem conseguir escrever por algum motivo, isso não se volta contra mim, entende? Eu entendo que tenho meu tempo, meu processo, e que não preciso apostar corrida contra mim mesma. A única coisa que ainda me afeta bastante é o medo de nunca mais conseguir escrever de novo, ou nunca mais conseguir escrever algo bom depois de terminar um projeto de que gostei muito. Sempre acho que cheguei no auge [risos]. Felizmente, até hoje me provei errada todas as vezes.

Se você vive sempre cercado das mesmas pessoas, pessoas iguais a você, acaba reproduzindo isso nas suas criações. (...) Se eu convivo com pessoas diferentes, sou capaz de retratar pessoas diferentes.

Com qual protagonista sua você mais se identifica? Maitê, sem tirar nem por. Ela foi, afinal, a protagonista mais baseada em mim que já criei. Acho difícil chegar nesse nível de autobiografia fictícia de novo.

Qual é a parte mais fácil do seu processo criativo? E a mais difícil? Escrever e... escrever. Tudo depende da ideia e do projeto.

Você sente que ainda há muito preconceito com as fanfics? Não sei se é a minha bolha literária, mas acho que não. Muita gente talvez não considere como um gênero literário, ou uma forma super válida de literatura, mas, no geral, o que eu mais vejo são pessoas consumindo e/ou produzindo fanfics abertamente.

Foto: Reprodução/Facebook

Que dicas você daria para jovens escritores que começaram na autopublicação e sonham com o contrato com uma editora?

A escritora Larissa Siriani.

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Tenha paciência, cultive seus leitores com mais amor do que você cultiva seu sonho de estar em uma grande editora e procure um agente literário. A paciência vai te ajudar a não surtar; os leitores, a ter uma base importante pra todo o resto; e o agenciamento é a forma mais segura de chegar lá.


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setor

Foto: Divulgação

Crise do mercado editorial Setor começava a respirar antes da chegada da pandemia aline cunha

O

s últimos anos não têm sido nada fáceis para o mercado literário. Segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), o setor encolheu 25% entre 2006 e 2018. Enquanto ocorreu um crescimento de exemplares vendidos entre 2006 e 2014, nos anos seguintes houve uma queda acentuada de 27%. O preço dos livros também foi reduzido em 24%, o que explicaria facilmente a queda do faturamento. Entretanto, a mesma pesquisa, desta vez publicada em junho deste ano, mos16

trou que no final de 2019 houve um crescimento de 6,1% depois de anos de recessão. Embora não fosse uma melhora significativa, ainda representava um pouco de esperança. Em 2019, a Saraiva e a Cultura, duas grandes redes de comércio de livros, entraram em recuperação judicial. Este ano, quando o setor poderia voltar à ascensão, as livrarias fecharam as portas devido ao coronavírus e o consequente distanciamento social. Simone Marques, escritora e Mestre em Educação, acredita que a causa da crise se deve a diferentes razões, dentre elas a pouca aderência das editoras ao mercado nacional. “Elas querem que os livros


Foto: Reprodução/Facebook

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Além de escritora, Simone Marques é Mestre em Educação.

se vendam sozinhos, por isso, só negociam obras que são sucesso lá fora e isso custa caro e enfraquece o mercado interno. O trabalho de marketing dessas empresas também ignora autores que não sejam aqueles best-sellers e de pessoas famosas, e foca na venda de livros que já venderam milhões”. Esse problema também se reflete nas livrarias. Simone explica que para se colocar um livro em destaque, por exemplo, pode custar uma fortuna e as grandes redes ignoram editoras pequenas e autores independentes — que cresceram muito nos últimos anos. Além disso, ainda há o problema da pirataria. O autor pirateado não recebe pelos populares PDFs que são facilmente encontrados na internet, o que gera desvalorização. A cultura do Brasil nunca foi muito dada à leitura. De acordo com o IBGE, em 2017 havia cerca de 11,8 milhões de pessoas que não sabiam ler no Brasil. 30% sequer comprou um livro na vida. Há vários fatores embutidos nisso, como a desigualdade social e a falta de incentivo educacional. Simone acre-

dita que a leitura deve ser estimulada desde a infância. “Devemos colocar as crianças em contato com o maior número de livros possível e deixá-las escolher. Como educadores, precisamos aprender a ouvir as crianças, descobrir as histórias de que elas gostam de ler e valorizar aquilo ao máximo, não discriminando o que leem, mas também lendo o que leem, para os alcançarmos e sabermos como aproveitar esse material para incentivar as crianças a continuarem e alçarem outros voos”. Ela destaca que a escola ignora esses aspectos e somente passa uma lista de leituras obrigatórias que são tratadas como conteúdo programático. Como consequência, as crianças adquirem aversão aos livros e não leem mais nada até o ensino médio. A escritora também relata que as lives durante a pandemia não são de grande ajuda para alcançar novos leitores. Em sua experiência, elas apenas atraem aqueles que já acompanham o autor. “Eventos presenciais são mais impactantes, pois dão a oportunidade de os leitores pegarem os livros nas mãos, folhearem, muitas vezes podem conversar pessoalmente com autores, o que pode motivá-los a comprarem um livro”, argumenta. Ela diz, ainda, que conquistar um leitor no Brasil é muito difícil, especialmente se você for um brasileiro. É incerto o que o futuro reserva para o mercado literário. Enquanto alguns dizem que a pandemia fez com que as pessoas lessem mais, outros não acreditam nisso. Para passar pela crise, a única forma é consumir mais livros. Sobre apoiar autores nacionais, Simone sugere que as pessoas vençam as barreiras do preconceito à literatura que vem daqui. “Gostaram do livro? Falem dele para os amigos, nas redes sociais, contem sobre como o livro o afetou, surpreendeu”. 17


capa

a representação das “minorias” na literatura Os desafios que a literatura encontra para ser diversificada e inclusiva aline cunha • jozileide alves

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Foto: UndeadCarlos/stock.adobe.com

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que o conceito de representatividade nasceu na política. Isso faz com que falar sobre representatividade seja falar sobre alguém em posição de poder, autorizado a falar em nome da coletividade que este representa. Por ser também um conceito muito amplo, entender representatividade como sendo uma só coisa tende a gerar análises simplistas e equivocadas em alguns contextos. A literatura, obviamente, não ficaria fora dessa discussão. A representatividade na literatura é mais do que apenas visibilidade: é dar poder narrativo a personagens cujas vivências, anseios e visões de mundo representam grupos sociais histórica e estruturalmente marginalizados ou apagados. Desta forma, uma representação literária que se mantenha dentro de visões hegemônicas

Foto: jozileide alves

Foto: WindyNight/stock.adobe.com

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os últimos anos, a questão da representatividade se tornou um tema recorrente da sociedade moderna. Seja na política, nas questões civis ou nos mais diversos meios de cultura, há sempre alguém levantando uma bandeira em prol da importância que ser representado traz para o contexto da sociedade assim como para a formação dos indivíduos que dela fazem parte. Representatividade pode ser entendido como um conceito que traduz interações e construções sociais e que vai sofrer alterações de sentido em cada contexto apresentado. Assim, é preciso que se pense na representatividade dentro de contexto e também sob a perspectiva do meio em que ela se constrói. Ela é sempre política, por-


e/ou que não desperte o leitor para questionar essas estruturas opressoras de identidades, não tem, portanto, caráter representativo. Pode ser considerado um bom livro representativo aquele que tem como princípio o entendimento de que a literatura é sobre representação social e tem poder para delimitar espaços sociais no imaginário do leitor. A literatura é um dos principais elementos da construção do pensamento social e sempre foi um dos meios mais democráticos para se divulgar ideias e pensamentos ou alcançar saberes. Porém, o quanto ela pode ser realmente inclusiva dentro desta representatividade a qual se busca? Há quem acredite que o caminho a ser percorrido para que a literatura seja realmente diversa ainda seja muito longo, em especial devido a perceptível desigualdade que o mercado editorial tradicional e as grandes editoras apresentam. De maneira geral, este ainda é um mundo dominado por autores brancos. Sobretudo homens brancos cisgêneros, com histórias sobre homens e mulheres brancos, cisgêneros e héteros. As irmãs Isa e Pétala Souza, criadoras do projeto #LEIAREPRESENTATIVIDADE e do Blog Afrofuturas, dizem que minorias são grupos “socialmente oprimidos”, “socialmente segregados” e “socialmente discriminados”. Desta forma, falar de “minorias” seria falar

“Enxergar-nos nas histórias, perceber que somos pertencentes, compreender que somos protagonistas em narrativas que vão além das nossas vidas é engrandecedor. É o sentimento de existir.” - Deko Lipe, escritor

de grupos que são socialmente vulnerabilizados por suas relações de desigualdade (econômica, educacional, cultural, etc.). Assim como também seria falar de pessoas fora do padrão desta dita normalidade. Representatividade, então, é o reconhecimento, a autoestima e o empoderamento para aquele que se vê ali refletido, além de empatia para quem está vendo o outro. A empatia é um processo que faz parte da experiência da leitura, quando, por exemplo, nos transportamos para mentes de personagens cuja realidade e forma de pensar são bem distantes – ou diferentes – da nossa própria. Quando vemos, de maneira recorrente, o mesmo tipo de pessoa nas páginas, nós acabamos por enxergar isto como um padrão e o diferente se perde nesse meio. Se deixarmos de contar a história de toda a diversidade de pessoas – ou contá-las por meios de este-

reótipos – a ideia do homem cisgênero, branco e heterossexual de classe média como “representante da humanidade” se fortalece e a nossa visão de mundo se limita cada vez mais. Sob esta perspectiva, a representatividade LGBTQIA+, por exemplo, ficaria muito aquém da representação ideal, ainda esta que seja uma realidade que começou a mudar nos últimos anos. Para o escritor soteropolitano Deko Lipe, a literatura é feita por pessoas e estas mesmas pessoas são diversas apenas por existirem. O que faz com que, por meio da literatura, seja possível conhecer e vivenciar histórias em sua diversidade, olhar para o lado com mais cuidado, zelo, carinho e amor. “As histórias existem para serem lidas por quem quer ler”, diz Deko. Criador do projeto literário “Primeira Orelha”, um perfil no Instagram que surgiu da sua 21


A representação LGBTQIA+ na literatura A escritora Nay Rosário acredita que é difícil definir a questão da representatividade na literatura em geral como um todo, mas, por meio de sua perspectiva, observa uma crescente. Para ela, há tanto escritores dispostos a discorrer em suas obras sobre essas diversidades e representatividades quanto editoras abrindo suas portas e disponibilizando meios para essas pessoas se propagarem. Mediadora do Clube Lesbos Salvador e alimentadora de uma plataforma literária LGBTQIA+, Nay defende que a divulgação é de fundamental importância, pois, sem ela, nada acontece. “Incentivo e divulgação são palavras afins”, afirma. Uma observação interessante que a escritora faz é de que, enquanto grandes livrarias fecharam no período de pandemia, houve um crescimento de escritores independentes, cada qual com suas bandeiras. Assim como a resistência das editoras pequenas, todas como 22

Foto: Adriele Ribeiro

necessidade pessoal de retornar ao universo da literatura, Deko conta que sempre se sentiu encantado por literatura mais jovem e que aprende bastante com ela. E foi por acreditar na literatura transformadora e no fato de que ela começa na infância que decidiu fazer desse amor também uma forma de divulgação. Vale destacar, inclusive, que o mercado independente acaba por ser o lugar onde as minorias têm mais voz. O espaço, no entanto, é criado por estas pessoas, pois muitas veem na publicação independente a única chance de colocar suas histórias no mundo. Às vezes, é um trabalho árduo e demorado, mas que vem dando certo e está chamando a atenção de grandes editoras para esses novos autores e publicações. Os escritores Clara Alves, de “Conectadas”, e Juan Jullian, de “Querido Ex”, são exemplos. Iniciaram suas trajetórias com a autopublicação – ou uma publicação mais “indie” – e agora tiveram seus livros (com temática LGBTQIA+) lançados por selos jovens de grandes editoras.

Além de escritor, Deko Lipe também criou o projeto “Primeira Orelha”

editoras de representatividade. Algumas por seu elenco composto por mulheres, outras por LGBTQIA+ ou negros ou então tudo misturado. No entanto, ao mesmo passo em que vivemos uma época em que há uma maior diversidade de temas e protagonismos relacionados à literatura LGBTQIA+, ainda há muito a se fazer dentro da própria comunidade. É o que aponta a escritora Maria Freitas: “É preciso ressaltar que existe uma discrepância também dentro da própria representatividade LGBTQIA+, com uma maioria de histórias sobre homens gays, cis e brancos”. Maria Freitas, aliás, é a idealizadora do “Cadê LGBT”, um perfil do Twitter que divulga autores LGBTQIA+ independentes. Segundo ela, a ideia criar esse espaço surgiu de uma conversa com uma blogueira lésbica, onde elas reclamavam sobre como era difícil encontrar histórias com protagonistas sáficas que não fossem apenas romances. Maria também diz


“É um caminho muito longo, que eu, sinceramente, penso muitas vezes em não continuar seguindo. Parece um pouco pessimista, mas é uma realidade dura de constatar. Se tivéssemos mais apoio, talvez nosso caminho fosse menos árduo.”

que umas de suas reclamações era de que via muita gente dizendo que não achava livros com protagonistas bissexuais homens, mas sua própria novela, “As razões de Henrique”, estava lá e ela não conseguia fazer com que chegasse às pessoas. Foi aí que percebeu que existia uma falha, uma ponte que faltava, entre o escritor independente e seus livros e os leitores que queriam encontrar essas histórias. Para ela, autores independentes fazem coisas incríveis para vender o próprio livro, mas sempre acabam ficando para trás ou porque estão sozinhos ou por contar apenas com os colegas escritores para se divulgarem. “Ter um perfil como o Cadê LGBT dando apoio, indicando, mostrando é importante para muita gente, não só pela visibilidade em si, mas também pelo gesto de apoio”, afirma Maria. Deko Lipe acredita que vivemos

- Maria Freitas, escritora e criadora do “Cadê LGBT”

um momento em que é preciso, em suas palavras, “segregar para existir” em qualquer âmbito, pois ainda há a invisibilização de pessoas nas mais diversas áreas. Ele reforça que já chegou em livrarias procurando títulos escritos por mulheres, negros ou LGBTQIA+ e quem o atendeu nem sequer sabia que existia ou se tinha na loja. Para ele, fugir do padrão é trazer à tona existências sem dores, além de pessoas tangíveis e protagonismos. É potencializar vozes e perceber que o sentimento de inclusão ameniza a dor de ser quem você é. “Enxergar-nos nas histórias, perceber que somos pertencentes, compreender que somos protagonistas em narrativas que vão além das nossas vidas é engrandecedor. É o sentimento de existir”, afirma Deko.

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Foto: Reprodução

O público padrão e as novas representações na literatura

A escritora Maria Freitas e seus livros

Com relação a recepção do público dito como padrão à estas novas representações na literatura, Nay Rosário acredita que o preconceito já não seja tão escancarado atualmente e este público esteja, aos poucos, se interessando por essas questões. Entretanto, ela também 23


acredita que os mesmos leitores ainda estejam a passos de criança. “São temas que, muitas vezes, devem ser apresentados aos poucos. Para o bem da aceitação e do esclarecimento/ entendimento/desmistificação de conceitos”, afirma Nay. Deko Lipe compartilha opinião similar: “É passo de formiguinha. Estamos caminhando e conquistando espaços de forma gradativa, lenta? Sim! Mas tá caminhando”. O escritor acredita que estes autores LGBTQIA+ não precisamos aceitos por ninguém, em nenhuma instância, mas sim de espaço para viver, produzir e fazer com que suas histórias cheguem aqueles que querem ler. Para ele, a literatura feita por A, B ou C não deve ser consumida apenas por A, B ou C. Sobre o tema, Maria Freitas diz que não é algo que ela observe, já que o público leitor de maneira geral sempre foi pautado por este padrão, algo que gostaria que não acontecesse mais. Com razão, ela diz que eles sempre foram o centro de tudo e a maioria esmagadora das narrativas giram em torno das histórias deles – ou daquilo que querem consumir. “É claro que pessoas abertas a conhecer a vivência e as histórias de outras pessoas são sempre bem-vindas. Eu gostaria que mais pessoas hétero, cis, brancas e etc, fossem interessadas em histórias de minorias, por exemplo”. Ainda assim, a autora garante que se importar com a recepção desse público não é uma prioridade que tenha em sua vida e complementa de maneira enfática: “Porque, honestamente, se alguém se incomoda por estarmos erguendo nossa voz, essa pessoa não merece meu tempo”.

FliCadê O mês de junho é marcado pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ e, diante do atual cenário de pandemia e isolamento social, eventos presenciais se mostraram impossíveis de serem realizados por conta das 24

restrições às aglomerações. Assim, o Cadê LGBT, em parceria com Deko Lipe e o Primeira Orelha, organizaram o “FliCadê – O primeiro festival on-line de Literatura LGBTQIA+”, com o intuito de reunir autores/as LGBTQIA+, editoras, agências e criadores de conteúdo em prol de motivar a leitura de histórias com protagonismo queer. O festival apresentou para o público mesas com temas como: “Literatura LGBTQIA+ e o mercado editorial”, “Corpos não-padrão na narrativa LGBTQIA+”, “O protagonismo LGBTQIA+ na ficção especulativa”, entre outros conteúdos muito interessantes para quem quer entender ou aprender um pouco mais sobre narrativas LGBTQIA+. Sobre a experiência do evento, Maria Freitas fala que o FliCadê foi uma síntese de muita coisa sobre o mercado em si. A organização tentou reunir um time bastante diverso, mas sofreu para ter um bom público no evento. “A mesa sobre poesia trans, por exemplo, foi belíssima, mas tinha pouca gente assistindo e participando”, revela Maria. A escritora e organizadora garante que não esperava que o público fosse alto, por ser um evento independente, mas que ainda assim ficou um pouco decepcionada. Para ela, ainda existe um desinteresse muito intrínseco nas pessoas. Apesar de trazer mesas com conteúdo riquíssimo sobre literatura, diversidade, vivências de pessoas LGBTQIA+, ela sente que a resposta do público, em alguns momentos, é de um desinteresse generalizado que eles ainda são muito limitados para conseguir reverter. Segundo Maria, no mesmo dia, um canal grande sobre livros no YouTube fez uma live que tinha 40 vezes o público que a FliCadê alcançou. “É um caminho muito longo, que eu, sinceramente, penso muitas vezes em não continuar seguindo. Parece um pouco pessimista, mas é uma realidade dura de constatar. Se tivéssemos mais apoio, talvez nosso caminho fosse menos árduo”, garante ela.


Foto: Fernanda Rouvenat/G1

A polêmica Bienal do Rio 2019

Os livros entregues na ação de Felipe Neto, todos embalados aleatoriamente em saco preto e lacrados com uma etiqueta onde se lia “livro impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas”.

Mesmo com a carga histórica que tem e as evoluções no mercado literário, a literatura com temática LGBTQIA+ ainda é frequentemente segregada e envolta em polêmicas. Há pouco mais de um ano, na Bienal do Livro de 2019, no Rio de Janeiro, o então prefeito Marcelo Crivella determinou o recolhimento de publicações que representavam pessoas LGBTQIA+. Tudo começou quando o prefeito da cidade do Rio de Janeiro mandou censurar exemplares da HQ “Vingadores – A Cruzada das Crianças” por, segundo um vídeo publicado em suas redes sociais, afirmar que a publicação possuía “conteúdo sexual para menores”. Segundo ele, livros assim precisariam estar e do lado de fora avisando o conteúdo. A polêmica foi tanta que envolveu um posicionamento firme da organização do evento dizendo que não retiraria os livros por dar voz a todos, fiscalização da prefeitura e até mesmo a Bienal recorrendo à Justiça para garantir o pleno funcionamento do evento e impedir a apreensão de livros por parte da prefeitura. Em meio à tudo isso, o youtuber Felipe Neto comprou todo o estoque dos principais livros com temática LGBTQIA+ do evento e organizou uma ação para distribuir os mais de 10 mil livros, que eram entregues para o público embalados em saco preto, lacrados uma etiqueta com os

seguintes dizeres: ‘’livro impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas”. Cybele Lobo, psicanalista, explica que a ideia de pecado vem do controle sobre os corpos. “No discurso religioso, as regras do que é certo e errado são claras. Duas pessoas de corpos iguais não podem ter um encontro amoroso ou sexual”, diz. Em sua opinião, a identificação com o discurso conservador é o que faz com que as pessoas aparentem estar mais retrógradas. “As ideias estão como um vulcão inativo, mas que, quando provocado, pode entrar em erupção”. O moralismo, entretanto, se mostra seletivo a partir do momento em que se reflete no depoimento da escritora Larissa Siriani sobre sua experiência em um dos estandes da Bienal do Rio. “O que mais tinha era literatura imprópria, cansei de ver criança de 13, 14 anos comprando livro erótico”, pontua a autora. Ainda assim, os fiscais do governo não reprovaram nenhum desses romances. “O preconceito contra livros LGBTs não é pelo conteúdo do livro, mas sim pelo LGBT”. Além disso, Larissa salienta a importância da representatividade. “É difícil pra qualquer pessoa enxergar realidades que não sejam as dela. Quando a gente se vê refletido nos produtos culturais é um atestado de “eu existo”. 25


literarte indica

indica (LGBTQIA+ edition)

A

pós séculos à margem da sociedade e, consequentemente, longe da literatura, o público LGBTQIA+ invadiu os livros e quer tomar o local que também é seu por direito. Quer ler, mas não sabe por onde começar? A Literarte te ajuda! Separamos alguns livros (best-sellers ou não) que são excelentes exemplos de boa representatividade. Eles vão te fazer rir e chorar, mas você não vai conseguir largar antes de chegar à última página. Aperte o cinto, pois lê-los será ser um caminho sem volta.

Lésbicas Conectadas (2019), de Clara Alves

Sua Alteza Real (2020), de Rachel Hawkins

bissexuais Os sete maridos de Evelyn Hugo (2019), de Taylor Jenkins Reid

Rainhas Geek (2018), de Jen Wilde

queer (não-binário) Todo Dia (2013), David Levithan

Todos, Nenhum - Simplesmente Humano (2017), de Jeff Garvin

assexuais Tash e Tolstói (2017), de Kathryn Ormsbee

Gays Quinze dias (2017), de Vitor Martins

Vermelho, branco e sangue azul (2019), de Casey McQuiston

transgêneros, transexuais e travestis George (2016), de Alex Gino

Apenas uma garota (2017), Meredith Russo

Intersexo Middlesex (2014), de Jeffrey Eugenides

Menino de Ouro (2013), de Abigail Tarttelin

+

(outras possibilidades de orientação sexual e identidade de gênero existentes)

pansexual Ninguém nasce herói (2017), de Eric Novello

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Crônicas Vampirescas – Entrevista com o Vampiro (1976), de Anne Rice


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polêmica

Foto: Reprodução/Facebook

A queda de J.K. Rowling A autora pouco tem se esforçado em mascarar opiniões transfóbicas e radicais Jozileide Alves

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á faz algum tempo que J.K. Rowling, autora da mundialmente famosa saga Harry Potter, tem se colocado no centro de uma discussão polêmica e que associa cada vez mais seu nome à uma repercussão negativa. Usuária ativa do Twitter, seus comentários têm gerado um debate intenso sobre transfobia. A polêmica é tanta que as reações às publicações dela partem não apenas de seguidores e fãs, mas também de integrantes do elenco da franquia e outros escritores. De maneira muito geral, transfobia é o preconceito e o ódio contra pessoas trans, que pode se manifestar em atos discriminatórios de violência física, psicológica ou moral. No Brasil, por exemplo, o assunto ganha tons ainda mais sérios e alarmantes quando 28

se leva em conta que, reconhecidamente, é um dos países que mais mata a população trans no mundo. Só em 2019, foram 132 assassinatos, de acordo com levantamento da Transgender Europe. O primeiro caso onde J.K. Rowling foi acusada de transfobia foi em 2019, após comentar sobre um episódio em que uma mulher perdeu seu emprego ao se posicionar contra uma legislação que permitiria que pessoas trans se identificassem com outros gêneros. A mensagem em questão dizia que “Vista-se como quiser. Chame a si mesmo do jeito que preferir. Durma com qualquer adulto que puder consentir e quiser você. Viva a sua vida da melhor forma, em paz e em segurança. Mas tirar as mulheres de seus empregos por dizerem que sexo biológico é


“Se sexo não é real, não existe atração entre pessoas do mesmo sexo. Se sexo não é real, a realidade vivida por mulheres ao redor do mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a habilidade de muitos discutirem suas vidas de forma significativa. Não é ódio dizer a verdade”.

algo real?”. Agora, a nova polêmica começou quando a autora fez um comentário sobre uma matéria que tinha em seu título a expressão “pessoas que menstruam”, onde criticou o uso destes termos, dando a entender que “mulheres” bastaria para explicar sobre quem o texto se referia. No entanto, a matéria em questão tinha como objetivo ser inclusiva e contemplar também homens trans ou pessoas não-binárias que nasceram com o sexo biológico feminino e que, por isso, também menstruam. O ator Daniel Radcliffe, intérprete de Harry Potter nos cinemas, escreveu no site do Trevor Project, uma organização sem fins lucrativos dedicada à intervenção de crise e à prevenção de suicídios para pessoas da comunidade LGBTQIA+ que “mulheres trans são mulheres” e que “qualquer declaração ao contrário apaga a identidade e a dignidade de pessoas transgênero e vai contra todos os conselhos dados por associações profissionais de saúde que têm muito mais experiência no assunto que Jo ou eu”. No texto, Daniel ainda explica que sua manifestação não é uma disputa ou mesmo desavença entre ele e a escritora, mas sim

uma maneira que encontrou de se manifestar em prol de um grupo notoriamente discriminado. Ele lembra ainda que “78% dos jovens transgênero e não-binários relatam que foram alvo de preconceito por causa de sua identidade de gênero. Está claro que precisamos fazer mais para apoiar as pessoas transgênero e não-binárias, não invalidar suas identidades, e não causar maior dano”. Já a atriz e ativista feminista Emma Watson, que viveu a personagem Hermione Granger na franquia Harry Potter, usou seu Twitter para afirmar apoio a comunidade LGBTQIA+: “Pessoas trans são quem dizem ser e merecem viver suas vidas sem serem constantemente questionadas”. A partir daí, quanto mais J.K. Rowling tentou explicar e justificar seu posicionamento, a situação só piorou. Em resposta às críticas que sofria, ela publicou um artigo em seu site oficial em que vinculava sua experiência com abuso sexual no passado à sua preocupação com o acesso de mulheres trans a espaços exclusivos para mulheres cis. A escritora disse que permitir, por exemplo, o uso do banheiro feminino às pessoas trans é “acobertar predadores”. O estopim do “cancelamento” (termo usado para dizer que alguém fez ou disse algo errado e que não é mais tolerado no mundo de hoje) da escritora, no entanto, veio quando foi anunciado que o protagonista de seu novo livro, “Troubled Blood”, escrito sob o pseudônimo Robert Galbraith, será um assassino em série que ocasionalmente se veste de mulher para atrair suas vítimas. A quinta obra do best-seller que envolve o detetive Cormoran Strike foi lançada oficialmente em setembro e teve uma crítica negativa publicada pelo jornal britânico “The Telegraph”, que casou grande repercussão e atraiu a atenção dos internautas. Jake Kerridge, autor do texto, afirmou que a moral da história parece se resumir em “nunca confie num homem de vestido de mulher.” 29


perfil

Foto: Reprodução

Da autopublicação a fenômeno de vendas A Jornada do Escritor de Juan Jullian jozileide alves

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uan Jullian é carioca e formado em Relações Internacionais, com especialização em teoria queer pela PUC-Rio. Atualmente cursa Direito na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e Pós-Graduação em Escrita Criativa pelo Núcleo de Estratégias e Políticas Editoriais (NESPE/Santa Úrsula) . Depois de se formar na pós, passou a trabalhar na plataforma Carreira Literária, voltada para a profissionalização de escritores, onde produz roteiros de aulas e cuida das mídias sociais. Após crescer lendo Harry Potter e Percy Jackson, seu primeiro livro, intitulado “Querido ex, (que acabou com a minha saúde mental, ficou milionário e virou uma subcelebridade)”, surge em grande parte da necessidade que Juan tinha em se sentir representado nas histórias que lia, especialmente na adolescência. O livro começou a ser escrito em 2018, enquanto Juan terminava a graduação, mas foi em 2019, após o episódio de censura ocorrido na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que ganhou destaque após atingir a marca de 23.000 downloads na Amazon – sendo 10 mil e-books em um só dia. Além disso, Juan e seu livro estiveram em 1º lugar, durante 100 dias seguidos, na lista dos mais vendidos na categoria LGBT da Amazon. Apesar da pandemia do novo coronavírus ter atrapalhado um pouco os planos originais de publicação, o livro foi relançado pelo selo Galera, da Editora Record, no que o autor chama de sua edição definitiva, com novos conteúdos. A sequência da história, “Maldito Ex, (a autobiografia da subcelebridade mais odiada do Brasil)”, está prevista para 2021. Em conversa com a Literarte, Juan falou um pouco sobre como foi essa sua “Jornada do Escritor”. 30


“Querido Ex” é o seu primeiro livro. Como foi o processo de nascimento dele, da ideia inicial até você perceber que tinha acabado de escrever um livro? A ideia de escrever o “Querido Ex” surge tanto da necessidade de me ver representado em uma história, já que poucas são as narrativas com protagonismo LGBTQIA+ com protagonismo preto que encontramos na literatura nacional. Também bebi muito das minhas próprias experiências com relacionamentos abusivos ao longo da juventude. A ideia de estruturar a história de forma epistolar, por exemplo, surgiu após eu me deparar com uma carta que eu tinha escrito para um ex-namorado anos atrás.

Como foi o processo de autopublicação e como isso o levou à Editora Transversal? Como um escritor desconhecido eu encontrei na autopublicação uma forma eficaz de formar público leitor. Ao disponibilizar o livro na Amazon eu tinha liberdade para alterar os preços, disponibilizar gratuitamente e divulgar meu livro da forma que fosse possível. Ao longo de meses eu experimentei diferentes formas de divulgação do e-book, de vídeo pago até parcerias com instagrams literários. Era um trabalho diário, sempre alimentando redes sociais, mantendo networking com as páginas. Assim o livro foi ficando mais conhecido ao longo do tempo. Na época eu estava fazendo pós-graduação em Escrita Criativa na Santa Úrsula e uma das coordenadoras era a Flávia Iriarte, editora da Oito e Meio e do selo Transversal. Eu apresentei os números para ela e assim surgiu o convite para a primeira publicação física do livro.

“Querido Ex” ganhou notoriedade ao alcançar números altíssimos de vendas na Amazon durante o episódio de censura na Bienal de 2019. Como você descreve o que aconteceu ali, tanto no episódio em si como no seu boom particular, e como foi lidar com isso? Foi um momento bem único e particular no sentido de que, ao mesmo tempo em que éramos vítimas dos ataques homotransfóbicos da prefeitura, também estávamos testemunhando um aumento inédito na procura por títulos LGBT, também em decorrência

da ação criada pelo Felipe Neto, de distribuição gratuita de livros. Foi um ponto de virada tanto como um momento que simbolizou a relevância de histórias plurais nesse momento sombrio do país como na minha própria jornada como escritor.

Atualmente, você é um dos autores que se destacam no cenário literário brasileiro com histórias focadas em personagens dentro da sigla LGBTQIA+ junto com Eric Novello, Vitor Martins, Lucas Rocha, Vinícius Grossos entre outros nomes. Como você vê a questão da representação (ou sub-representação) da sigla na Literatura? Eu fico muito feliz ao perceber que temos cada vez mais títulos escritos por autores LGBTQIA+ que se destacam comercialmente, chegando nas grandes casas editoriais e livrarias, mas acredito que a gente ainda tá longe o suficiente. Afinal, a maior parte dos autores que encontra espaço no mercado tradicional ainda é majoritariamente branco, gay e cisgênero. Temos um vão enorme quando falamos de autores pretos, trans, bissexuais, lésbicas e não podemos cair na falácia dessa representatividade cosmética que pouco faz para localizar minorias desviantes no centro das discussões e publicações.

De junho até agora, “Querido Ex” já contou com evento (e anúncio de lançamento) online, pré-venda estendida e a sua participação no Mochilão Virtual da Record com autores consagrados no mercado literário. Como está sendo o processo de lançamento do livro durante a pandemia do Coronavírus? Quais as dificuldades que você tem encontrado? A pandemia afetou profundamente o processo de lançamento e divulgação do “Querido Ex”. Inicialmente o livro seria lançado em

“Querido Ex” vendeu mais de 1.300 exemplares na pré-venda, números inéditos para um romance de estreia nacional com temática LGBTQIA+. 31


junho e a sequência em novembro, durante a Bienal de São Paulo. Além disso, teríamos eventos presenciais em livrarias e uma booktour por algumas cidades do país, o que se mostrou impossível frente ao início da pandemia. As decisões da editora foram 100% tomadas em conjunto comigo. Dessa forma, adiamos o lançamento do “Querido Ex” para setembro e o “Maldito Ex” para 2021, ainda sem data definida. Os esforços que seriam feitos com a booktour e eventos foram todos direcionados para a pré-venda e estratégias online. Dessa forma, estruturamos uma pré-venda inédita, no sentido de que utilizamos lotes de brindes que esgotavam com o tempo, com kits variando entre 7 e 4 brindes. Além disso, eu escrevi uma carta a mão para todos os leitores que compraram os primeiros lotes do livro, uma forma de agradecer pelo investimento no “Querido Ex” no meio desse momento tão crítico. Olhando para trás, acredito que fomos muito felizes nas escolhas. “Querido Ex” vendeu mais de 1.300 exemplares na pré-venda, números inéditos para um romance de estreia nacional com temática LGBTQIA+.

Como você descreveria essa sua “Jornada do Herói” da publicação? Do lugar onde está agora e olhando para o seu passado, quais dicas ou diferentes caminhos você indicaria para alguém que começou a trilhar essa jornada? Definitivamente, nada aconteceria sem trabalho duro. É um esforço constante e diário tanto de formação como escritor quanto de entendimento das dinâmicas do mercado. Acho que o principal conselho para escritores que querem chegar em grandes casas editoriais é: não se preocupe com a publicação, mas sim com a formação do seu público leitor. Vejo muitos jovens escritores se desgastando e queimando cartuchos entrando em contato com editoras ou fazendo abordagens de formas indevidas. Se você se focar em escrever uma boa história e em seguida trabalhar para fazê-la chegar nos leitores, seja através da participação de eventos literários, parcerias com páginas, contado direto, redes sociais, as propostas para publicação eventualmente vão surgir. Entenda o mercado, entenda seu objetivo e seu público antes de correr atrás de uma editora.

A nossa cultura tende a associar escritores a pessoas reclusas, seja em seu “próprio mundo” ou numa rotina solitária de escrita. A pandemia de coronavírus mudou, de alguma forma, a sua rotina de escrita? Seu rendimento foi alterado por causa da situação?

Como fica a saúde mental do escritor nesse momento onde o mundo foi obrigado a ficar em casa, com várias incertezas sobre o futuro? Você acha que isso teve (ou talvez possa gerar no futuro) algum impacto no seu trabalho? Acho que ainda não sou capaz de entender ou mensurar as consequências desse momento na minha vida. Acredito que eu só vá ser capaz de entender o que aconteceu ao longo dos próximos anos. [risos] 32

Foto: Reprodução/Twitter

A pandemia reforçou a necessidade de criação de laços com os leitores para além do livro. Acredito que escritores preocupados em fazer a manutenção dessas conexões através das redes sociais, grupos, iniciativas do Catarse e YouTube, conseguiram criar uma oportunidade para se aproximar ainda mais da sua audiência.

No dia 13 de junho, Juan organizou no Instagram a I Festa dos Ex-Namorados. A série de lives consecutivas, que duraram aproximadamente 5h, iniciaram com a abertura da pré-venda do livro “Querido Ex”.


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dicas

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Dicas de escrita “The Writer’s Room”

izem por aí que, antes de morrer, uma pessoa deve plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Plantas e filhos podem não ser bem a sua praia, mas quase todo mundo já quis escrever um livro. Na “Era das Adaptações Literárias”, os livros ainda nos dão uma ideia de prestígio e sucesso que muitos almejam alcançar. Escrever um livro até parece ser um bicho de sete cabeças, mas com as dicas certas a tarefa pode ser muito mais fácil do que parece. Separamos aqui algumas dicas que podem ser encontradas no site “The Writer’s Room”, da carioca Beatriz Costa. Idealizado e voltado para escritores, nele você pode encontrar artigos escritos, traduzidos e adaptados sobre todas as etapas para escrever uma história, desde a primeira ideia até a sonhada publicação. São dicas, “macetes” e reflexões, com o objetivo de ajudar escritores; além de fichas e outros materiais úteis para facilitar a vida de autores. O que é mais importante, o enredo ou os personagens? Busque pelo equilíbrio entre criar personagens interessantes e dar a eles o que fazer. Um elemento influencia diretamente o outro. Não sabe como transformar aquela ideia em um livro? Experimente começar com um conto! Construindo arcos de personagens

Arco “negativo” O personagem inicia a história em um lugar de luta, conflito interno ou negação; Passa por situações que o faz regredir em suas crenças nocivas; Se entrega aos seus piores defeitos e fracassa em seus objetivos. Arco “positivo” O personagem inicia a história em um lugar de luta, conflito interno ou negação; Passa por situações que o faz aprender lições valiosas; No final, passa por um amadurecimento e é bem-sucedido nos seus objetivos. Para mais dicas, acesse as redes sociais do “The Writer’s Room”: https://thewritersroomblog.tumblr.com instagram: @blogthewritersroom facebook: @thewritersroomblog 34

Dicas para escrever vilões Dê objetivos! Assim como os heróis, os vilões precisam de motivações e objetivos que se alinhem com suas ações dentro da história. Não é apenas sobre ser mal, é o porquê. Nem 8, nem 80 Para dar mais profundidade aos vilões, experimente colocar algumas qualidades e virtudes no seu caráter. O ideal é que esse vilão não seja nem totalmente bom, nem totalmente mau. Coloque perspectiva Faça o seu vilão acreditar que está realmente fazendo a coisa certa. Como diria Tom Hiddleston, o famoso Loki: “todo vilão é um herói em sua própria mente”.

Dicas para escrever personagens LGBT+ Cuidado com estereótipos Nem todo personagem gay precisa ser o melhor amigo “afeminado”, nem toda lésbica precisa ser “masculina”, nem todo personagem bi precisa (ou deveria!) ser escrito como “pegador”... estereótipos podem machucar e desumanizar. Não os escreva pela “cota” Escrever um personagem LGBT+ é mais do que colocar alguém para “diferenciar”. Eles devem ter suas próprias histórias, objetivos e, principalmente, uma personalidade que vai além de ser LGBT+.


Sérsi Bardari

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efinir literatura é tarefa, senão de todo impossível, um tanto quanto complexa. Tentativas de conceitualizar o fato literário surgiram na Antiguidade grega nos séculos V e IV a.C. Exemplo disso são as obras Arte Retórica e Arte Poética, de Aristóteles, ainda hoje fundamentais para o estudo da literatura. De maneira apressada, é possível definir literatura como escrita “imaginativa”, no sentido de ficção – escrita esta que não é literalmente verídica. Mas tal definição não procede na prática. Ilíada e Odisseia, por exemplo, obras que inauguram a literatura ocidental, mesclam relatos das guerras por conquistas de territórios na Grécia antiga com narrativas mitológicas sobres os deuses do Olimpo. Entre os séculos XVI e XVII, os romances e as notícias não eram claramente factuais nem claramente fictícios. Diante dessa dificuldade, tornou-se necessário buscar caminhos diferentes para definir literatura. Talvez a literatura possa ser definida não pelo fato de ser ficcional ou “imaginativa”, mas porque emprega a linguagem de forma peculiar. Esse tipo de definição acerca da literatura surge com os formalistas russos, antes da revolução bolchevista de 1917. Para os formalistas, o con-

teúdo era apenas um motivo para a construção da arquitetura do texto. Entre os mecanismos textuais observados por eles, estavam o som, as imagens, o ritmo, a sintaxe, a métrica, a rima, as técnicas narrativas. Obviamente, os formalistas foram muito criticados por essa posição. Decorre daí que as tentativas de conceituar literatura sempre foram alvo de polêmicas, em diversas épocas. Hipoteticamente, definir literatura seria então uma questão de entender tanto que tipo de atitude as pessoas podem tomar por meio do ato de escrever, quanto que tipo de efeito a escrita pode causar à percepção das pessoas. Dessa forma, pode-se dizer que a literatura seria definida mais pelas várias maneiras como as pessoas se relacionam com a escrita do que por um conjunto de qualidades inerentes a determinados gêneros de texto. Essa definição faz com que a literatura seja compreendida como algo cujo enfoque esteja mais na maneira de falar do que, propriamente, naquilo de que se fala. Muitos estudiosos referem-se à literatura como uma espécie de linguagem que fala de si mesmo. Mas não se pode excluir da compreensão do que seja literatura a relevância psicológica, social, histórica, entre outros valores, daquilo que é dito nos textos literários.

artigo

A maneira pelas quais as pessoas reagem a uma determinada obra está profundamente ligada a um sistema de crenças, preconceitos e demais formas estruturadas de ver o mundo. Embora a literatura não seja um fenômeno que se possa definir objetivamente, a compreensão do que seja o fazer literário mantém estreita ligação com as ideologias sociais e afirma-se nos pressupostos a partir dos quais determinados grupos exercem e mantêm poder sobre outros.

Foto: acervo pessoal

Como definir literatura

Sérsi Bardari é paulistano, nascido em 1954. Jornalista e escritor de literatura para crianças e jovens, recebeu prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 1984, na categoria autor revelação. Em 2009, doutorou-se em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP. 35


curiosidades

10 curiosidades sobre o mundo dos livros

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eorge R.R. Martin já disse, em uma das frases mais famosas do livro “A Dança dos Dragões”, que “Um leitor vive mil vidas antes de morrer. Um homem que nunca lê vive apenas uma”. Todo leitor sabe bem da verdade dessa frase. Livros nos possibilitam conhecer novas culturas, viver aventuras fantásticas ou descobrir o prazer de um grande amor. Às vezes, tudo isso ao mesmo tempo. São companheiros para todas as horas e situações e, com eles, o leitor nunca está realmente sozinho. Da produção de livros ao mundo literário, Literarte reuniu aqui alguns fatos curiosos sobre esse objeto tão querido e tão presente na vida dos leitores, conforme levantamento da Editora Viseu. Confira:

1.

A Índia é o país que mais lê no mundo, registrando uma média de 10 horas semanais para cada leitor.

4. O livro mais

2. O primeiro livro feito em uma máquina de escrever é do autor Mark Twain, o “Adventures of Tom Sawyer”.

5. “Bibliosmia” é o

3. Já o primei-

ro livro registrado como “bestseller” foi o “Fools of Nature”, da escritora Alice Brown.

6.

caro do mundo, hoje, custa 153 milhões de euros, com apenas 13 páginas de conteúdo.

nome dado ao prazer em que as pessoas sentem ao cheirar livros antigos.

A frase mais longa impressa em um livro vem da obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, com 823 palavras.

7. Os três livros

8. Segundo a

9. Paulo Coelho

mais lidos no mundo são: a Bíblia, “O Livro Vermelho”, de Mao Tsé-Tung, e “Harry Potter”.

Unesco, Agatha Christie é considerada a escritora mais traduzida mundialmente.

é o autor brasileiro que mais vendeu livros no mundo. Cerca de 70 milhões de exemplares.

10. Nos livros de Sherlock Holmes, o protagonista nunca chega a dizer a célebre frase “Elementar, meu caro Watson”.

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resenha

Daisy Jones & The Six

Uma história de amor e música

Uma história potente embalada pelo “sexo, drogas e rock’n roll” dos anos 70 jozileide alves

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ançado em 2019 pela editora Paralela, “Daisy Jones & The Six – Uma história de amor e música”, de Taylor Jenkins Reid, é um livro que vem ganhando fãs desde o seu lançamento. Já de cara somos apresentados a um formato inusitado: toda a história é narrada em forma “oral”, por meio de depoimentos. Parece estranho a princípio, mas adequado por se tratar da biografia da lendária banda fictícia Daisy Jones & The Six. A banda, porém, não surgiu do nada. A grande inspiração de Reid para compor o livro é a banda anglo-americana Fleetwood Mac. Formada em Londres, ela surgiu no final dos anos 60, mas foi o álbum RUMOURS, de 1975, que a consagrou de maneira definitiva para o mundo. Todas as histórias e dramas que permeiam a produção de RUMOURS, aliás, servem basicamente para o pano de fundo para a história de Daisy Jones & The Six. Além disso, pode-se dizer que a Daisy Jones é a representação de Stevie Nicks. O livro começa com uma pequena contextualização ao leitor, no qual afirma que ele é uma tentativa de compor um retrato transparente de como a renomada banda de rock dos anos 70, Daisy Jones & The Six, foi alçada a fama, assim como os motivos que levaram ao seu abrupto término durante a turnê de seu primeiro e único álbum, AURORA, em 1979. Assim, vamos sendo apresentados aos personagens da história. Primeiro conhecemos Daisy Jones, a garota rica que queria ser cantora. Apesar de ter um bom suporte financeiro, seu pai é um pintor famoso e a mãe modelo, e a relação de Daisy com os pais é quase inexistente. Criada em Hollywood Hills (em Los Angeles, Califórnia), ela pode passar dias fora de casa e eles sequer se atentarem a esse fato. É assim que, ainda adolescente, Daisy começa a se envolver no cenário musical da Sunset Strip como groupie. Em paralelo, começamos a conhecer um pouco do The Six. A formação da banda começa com os irmãos Billy e Graham Dunne e a banda precursora “Dunne Brothers”. Mesmo com a adição de novos membros, a banda manteve o nome original por algum tempo, mas foi pouco depois de chegar a sua formação final que a questão de um novo nome é levantada. “The Six”, então, surge como resposta à questão: “Como fazer seis

Capa nacional do livro, lançado pela Editora Paralela.

pessoas concordarem com um nome?”. Neste momento, a banda é composta por Billy Dunne nos vocais, Graham Dunne na guitarra solo, Warren Rhodes na bateria, Pete Loving no baixo, Eddie Loving na guitarra base e Karen Karen nos teclados. Em dado momento, Daisy começa a ser reconhecida também por seu talento musical e assim, aos poucos, os dois núcleos da história vão caminhando em direção ao seu ponto de convergência. E também onde os grandes dramas e complexidades da trama surgem durante a criação de uma superbanda em meio ao cenário de “sexo, drogas e rock’n roll” dos anos 70. Um dos pontos fortes do livro são os grandes relacionamentos que ele nos apresenta. Desde a forte amizade de Daisy e Simone como a relação de Billy e Camila ou a conexão entre Daisy e Billy. Outro destaque são as histórias secundárias que são desenvolvidas ao longo da trama e trazem questionamentos muito fortes. Abuso de álcool e drogas, relacionamentos abusivos, a escolha da maternidade e os limites do perdão são apenas alguns muitos assuntos que o livro aborda. As situações e os sentimentos envolvidos por vezes são tão viscerais que o leitor pode facilmente se esquecer que é uma obra de ficção. Este, aliás, é um dos pontos mais interessantes da escrita de Taylor Jenkins Reid: sua capacidade em tornar a história tão vívida que você passa a realmente questionar se aquela banda realmente existe. Infelizmente, não. No entanto, se serve de consolo aos fãs, a Amazon já anunciou a produção de uma série baseada no livro. Prevista para ter 13 episódios, e com produção da própria autora, o elenco conta com nomes como Riley Keough como Daisy Jones e Sam Claflin como Billy Dunne. Reese Witherspoon é uma das produtoras executivas da série, que ainda não possui previsão de lançamento. 37


crônica

Foto: Herson Carranza/unsplash.com

Os amigos e as redes sociais jozileide alves

T

odo mundo tem um amigo que lembra uma rede social. Sim, isso mesmo, você não entendeu errado: uma rede social. Parece estranho, eu sei, mas não é loucura. Acompanha meu pensamento: Quem não conhece aquela pessoa meio “Facebook”, sempre cheio de novidades e super antenado no que acontece no mundo? Que também pode ter seus momentos de piadista, com os memes do momento ou então aqueles clássicos a la “tiozão do pavê”? E o “amigo WhatsApp”, cheio de contatinhos? Aquela pessoa que fica contando cada história que ouviu de alguém por aí nas reuniões de família? Geralmente ela não sabe a procedência do que tá falando, mas jura pro mundo que “é verdade esse bilhete”. O que dizer então do “amigo Instagram”? Que sempre aparece cheio de fotos e uma vida de ostentação que você tem certeza ABSOLUTA de que não pode ser assim. Tem bônus: essa pessoa pode ser aspirante a coach quântico que jura que pode mudar a sua vida com uma programação neural. O pior é que tem doido que acredita, sabia? E o “amigo Twitter”, que na maior parte do tempo fala pouquíssimo, mas também quando desanda a falar... Ninguém segura! Haja thread... Quer dizer, textão! 38

O “amigo YouTube” é o cara descolado, moderninho e que sempre tem algo pra mostrar aos amigos. Em geral te diverte bastante e você passa hooooras com ele. Nos últimos tempos ele provavelmente teve uma vibe sertaneja seríssima, mas vai ficar tudo bem. A gente espera, pelo menos. E isso são só alguns dos exemplos que eu poderia citar. Para e pensa na variedade de redes sociais existentes por aí e a quantidade de amigos que você tem pra classificar. Dá pra ficar aqui por horas! Provavelmente agora você tá pensando se é mais um “Facebook” ou “Instagram”, né? Ou um “YouTube”, quem sabe? Você pode ser um “WhatsApp” também. Normal. Acontece. A gente nem vai te julgar. Tanto. Mas, e aí, diz pra mim: o que você tem para compartilhar com o mundo hoje?

Jozileide Alves nasceu em Mogi das Cruzes, em 1987, mas viveu a vida toda em Suzano. Estudante de Jornalismo, já teve um conto publicado na antologia “Daemonicus: Histórias Fantásticas de Demônios”, da Editora Literata. É uma das editoras da Literarte.


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