Palácio carlos v

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PALテ,IO CARLOS V ALHAMBRA, GRANADA




PALÁCIO CARLOS V ALHAMBRA, GRANADA

UNIVERSIDADE DE ÉVORA CADERNOS DE VIAGEM DOCENTE: PROF JOÃO MATOS 2012/2013

JOSEPH LEE 26198

JOÃO VARELA 26067

FRANCISCO MAURÍLIO 25746

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Contexto Nos finais do século XV e início do século XVI, como consequência directa do Humanismo e da valorização da arquitectura clássica, verifica-se em Itália uma afirmação do estilo Renascentista, que se origina em Florença e rapidamente se espalha até Roma. Este estilo foi evoluindo, até que, por volta de 1520, através de Arquitectos como Giulio Romano, Michelangelo, Peruzzi e mais tarde, Andrea Palladio, inicia-se o período conhecido como o Maneirismo, considerado o apogeu da Arquitectura Renascentista. As bases do Maneirismo assentavam nas formas puras, na regularidade e nos cânones clássicos, inspirados pelo património que havia permanecido na Península Itálica, provenientes do antigo Império Romano. Contudo, contrariamente à Antiguidade Clássica, existia uma margem de manobra, um espaço reservado à criatividade e à expressão pessoal do arquitecto. Com o avançar dos anos, esta liberdade foi aumentando, tornando-se as obras cada vez mais pessoais e facilmente associadas a um arquitecto. Este processo acabou por trazer uma crise àquela que era considerada a metodologia Classicista. Como consequência, a relação entre a arquitectura e as outras artes, como a escultura, entram em ruptura, resultando na individualização do arquitecto e da sua prática profissional. No final do séc. XVI, o Barroco torna-se o estilo corrente, onde a liberdade criativa atinge o patamar da exuberância.

Palácio Medici

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Palácio Farnese


Tal como em Portugal, nomeadamente no estilo Manuelino, também em Espanha, através do estilo Plataresco, se verificou uma transformação do Gótico, vindo este a incorporar, mais tarde, algumas das características do Renascimento Italiano. Este estilo, assim denominado devido ao trabalho realizado pelos trabalhadores da prata, foi caracterizado pela ostentação e ornamentação das fachadas, sempre luxuosamente trabalhadas e decoradas. Mais tarde, com a evolução progressiva do estilo, foi-se favorecendo cada vez mais o Classicismo do Renascimento, em deterimento da influência Gótica. Este período foi denominado como o Pluralismo, detentor de uma maior austeridade decorativa face ao Plataresco, favorecendo a serenidade, o equilíbrio e a harmonia dos edifícios. Desenvolvido entre 1530 e 1560, o Pluralismo veio marcar os inícios do Renascimento em Espanha, sendo que a maior parte da sua difusão ocorre na zona da Andaluzia e Castilha. Algumas das principais obras deste período foram: o Palácio Carlos V, o Colegio Mayor de San Ildefonso, o Palácio dos Guzmanes e a Catedral de Granada. Neste período, destacaram-se os arquitectos Diego de Silué, Juan de Herrera, Andrés de Vandelvira, Diego Rieño e Pedro Machuca, o arquitecto responsável pela construção do Palácio Carlos V.

Colegio Mayor de San Ildefonso

Palácio Vázquez de Molina

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História No início do século XVI, pouco tempo depois do domínio de Granada ter sido perdido pela dinastia Islâmica para os Reis Católicos, dá-se o início da construção de um palácio, desenhado à moda Italiana, no seio da cidadedela do Alhambra, um local conhecido pela seu forte património Islâmico. O Responsável pela ordem de construção do palácio foi Carlos V, conhecido também como Carlos de Hasburgo (1500-1558) (Carlos I) e imperador do sacro império romano (Carlos V) arquiduque da Áustria, duque de Milão e duque de Suábia, conde de Flandres, rei de Nápoles e Sicília (de 1516 a 1555) príncipe dos países baixos e mais uma série de outros títulos nobres. Abdica do trono em 1556 para o seu filho, Filipe II, à excepção do império e das terras Austríacas, que deixou a cargo do irmão Fernando. Carlos V foi responsável por diversas melhorias sociais na Flandres e em Espanha. Reconhecido como uma das mais importantes figuras da história da Europa, com um império tão vasto distribuído por três continentes, levou-o a afirmar que sobre o seu reino o sol nunca se punha. Nos últimos anos da sua vida retirou-se para uma pequena construção por ele ordenada edificar adjacente ao muro do mosteiro de San Jerónimo di yuste em Vera de Plasencia. Pedro Machuca (1490 -1550) foi um pintor e arquitecto espanhol do século XVI. A sua única, embora célebre, obra de arquitectura é o Palácio de Carlos V. Formado em Itália diz-se que terá sido discípulo de Miguel Ângelo ou apenas amigo. De regresso a Espanha Machuca trabalhou exclusivamente como pintor até 1526 (de salientar o seu trabalho na Capela Real de Granada, assim como em Jaén, em Toledo, e Uclés), quando projecta os arcos e “tableaux” para uma das portas de entrada do palácio. O seu sucesso neste trabalho garantiu-lhe a nomeação como arquitecto da nova residência de Carlos V. Nas suas plantas aprecia-se o contacto com a cultura do arquitecto romano Vitrúvio e dos artistas italianos Rafael e Giulio Romano. Enquanto que algumas características Maneiristas são claramente perceptíveis nos seus projectos, a sua tradição nativa, mostra a sua receptividade às características renascentistas com analogias na arquitectura espanhola, Machuca mostra-se surpreendentemente inventivo no que diz respeito ao género clássico, e firme na manutenção do seu estilo severo da renascença. Culturalmente Pedro Machuca, representa a vontade dos conquistadores cristãos, de desafiar o dominio da arquitectura mourisca na provincia de Granada.

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A obra A implantação do Palácio Carlos V é feita de uma forma impositiva perante uma malha de vestígios Islãos. A valorização que o Rei dava a este património, acabou por ser a causa para que o palácio fosse construído juntos aos antigos palácios Nasridas, criando um forte contraste entre as construções da época Muçulmana e o posterior domínio Católico. Devido ao seu desenho e tipologia, a construção altera por completo a imagem do recinto, alterando não só o tecido interior do recinto, mas também a sua conexão com a cidade. Construído junto ao Palácio de Comares, o acesso ao Palácio Carlos V é tipicamente feito pela Puerta de Las Granadas, desenhada em 1536 pelo arquitecto do Palácio, Pedro Machuca, sobre um antigo torreão defensivo, conhecido como a Puerta de Las Alegres Nuevas. Este Portal liga, através do caminho da Cuesta de Gomérez, a Medina à Plaza Nueva da cidade de Granada. Uma vez dentro do Alhambra, após a aproximação ao palácio, somos confrontados com um embasamento que formula um largo diante da fachada principal do edifício. Este espaço, construído acima da cota do Alcazaba, formula entre este e o palácio, um jardim onde domina a vegetação de pequeno e médio porte, onde é imposta uma malha regrada nos arbustos e árvores, configurando-lhe um aspecto bastante Europeu, que contrasta com a densa vegetação da colina. Por de trás das árvores, o palácio em si, transmite para o exterior uma enorme austeridade, que, através do seu aspecto horizontal, assente numa forma pura, a quadrangular, configura um aspecto sólido e pesado ao edifício, que se afirma e impõe perante as construções que o rodeiam.

Puerta de Las Granadas

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O Palácio no Alhambra


Implantação do Palácio Carlos V no Alhambra

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A sóbria, embora visível ornamentação exterior do palácio Carlos V, é feita conforme a moda Italiana, com a pedra aparelhada, num estilo almofadado rústico, a revestir os pisos inferiores, atribuindo-lhe um carácter defensivo, fortificado, mas que, pela técnica de corte e a forma como estas pedras são trabalhadas, nunca sacrificam a elegância do conjunto arquitectónico. Na cota superior, identifica-se uma decoração com bases claramente classicistas, identificando-se os frontões triangulares acima dos vãos sobrepostos, com os frisos e as colunas duplas trabalhadas em relevo. O contraste entre a plasticidade destas duas tipologias distintas, resulta num grande contraste entre o claro e o escuro, atribuindo uma dinâmica e um certo movimento ás fachadas do edifício. A fachada é complementada pelo pórtico de entrada, sobreposta por duas estátuas aladas localizadas no frontão, acompanhada das cenas figurativas de Hércules nas laterais e rematado em cima por três grandes medalhões sobre mármore verde. Para o desenho planimétrico do palácio, Pedro Machuca apresenta-se bastante formalista ao apostar na forma quadrangular, referente à matéria terrena, que se divide interiormente num traçado regular, apenas interrompido por um pátio de forma circular, representante da perfeição divina, invocando assim, uma atitude Maneirista por parte do arquitecto. Nos espaços formados pela intersecção do circulo com o quadrado, formam-se escadas de acesso ao topo do pátio, sendo excepção, um corredor a nordeste que comunica com a capela. Vale ainda, destacar o uso complementar da capela ortogonal, figura geométrica que acaba por se tornar uma segunda estrutura centralizada do palácio, de grande prestígio no renascimento.

Pórtico Principal

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Detalhe da Pedra


Entrada Museu Capela Escadaria Noroeste

Pรกtio Circular

Entrada Principal Claustro Colunata Escadaria Sudeste

Salas Expositivas

Planta do Palรกcio Carlos V

Galeria Superior Sala Expositiva Superior

Hall Entrada Claustro Pรกtio Entrada Museu Corte do Palรกcio Carlos V

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O pátio circular, para além de ser a característica que mais facilmente distingue o palácio dos outros edifícios Espanhóis da época, representa uma inovação, mesmo quando comparado com as construções renascentistas italianos do seu tempo. Inspirado talvez pelos monumentos da antiguidade romana, nomeadamente o anfiteatro, o Arquitecto Pedro Machuca aplica a mesma forma para o pátio, visto este ter sido pensado para festas e torneios, sendo ainda hoje utilizado para esse propósito. No pátio é de salientar o uso de uma variação das colunas Dóricas no piso térreo, que, ao não apresentarem caneluras, tal como na ordem Toscana, reforçam o seu carácter robusto e sólido, daí a serem empregues na base como sustento do edifício. No piso superior, já é permitido uma tipologia mais leve, pelo que são utilizadas colunas de ordem jónica de base simples, de intercolúnio menor, indicando a sua tendência maneirista, que ajudam a estabelecer correspondência com os alçados da parede do perímetro, que comunica com as fachadas mediante quatro corredores, um deles de planta elíptica. Entre os dois pisos indentificamos um friso onde, através de baixos-relevos, identificam-se as figuras de touros, envocando a tradição tauromáquica espanhola e homenageando os animais que por lá passaram durante o tempo que o espaço fora utilizado para touradas. A galeria inferior do pátio é coberta por uma abóbada anular, que circunda o claustro na sua totalidade e que nos remete para soluções similares da antiguidade. O mesmo acontece no piso superior, revestido em caixotões de madeira, que tal como no panteão lhe atribuem uma enorme elegância e leveza. O acesso ao segundo piso é feito por duas escadarias, uma situada a Noroeste, construído com linhas ortogonais, com o primeiro lance de escadas a fazer um ângulo recto com o segundo. O outro acesso é feito na extremidade oposta, a Sudeste, onde encontramos uma escadaria erguida de uma forma bastante mais fluída, que adoptam uma curvatura, desenhando num único lance a transição de cotas para o patamar superior. Ambas elas foram desenhadas com enorme rigor e precisão, com o trabalho da pedra a revelar a mestria dos seus trabalhadores, que constroem a totalidade das escadas em mármore, incluindo os corrimões, que lhes atribuem uma beleza e serenidade típica dos meus belos dos palácios Romanos. Por todas estas qualidades, que contribuem para a sua pureza e proporcionalidade, o Palácio Carlos V, é considerado por muitos como a obra, construída fora da Península Itálica, mais classicista do período Renascentista. 15


Axonometria do Palรกcio Carlos V

Corrimรฃo da Escadaria

Base da Coluna Jรณnica

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Museu de Belas Artes O Palácio de Carlos V, no Alhambra em Granada, é uma obra singular do período renascentista do século XVI, construída a partir do projecto original de Pedro Machuca. Considera-se também um claro exemplo do que a história moderna classificaria como um edifício sujeito a uma "larga duração", o que equivale a afirmar que aliado à sua construção, que durou cerca de quatro séculos, o edifício mantém-se aberto a novas possibilidades e intervenções arquitectónicas. Deste modo, a ultima dessas intervenções ocorreu no ano 2000 (por A. Jiménez Torrecillas), e teve como desafio a adaptação do piso principal do palácio a uma zona expositiva com várias salas, todas elas aliadas a uma arquitectura moderna e contemporânea. As salas de exposição organizam-se em redor do pátio central do palácio, e o acesso às mesmas faz-se mediante uma de duas escadas que conduzem ao piso superior. No piso superior ficamos perante a presença de uma enorme galeria exterior que circunda todo o pátio. O espaço expositivo compõe-se por dez salas, nove das quais se destinam a albergar a colecção permanente, sendo que a restante poderá acolher exposições de carácter temporal.

Objectivos do Projecto O projecto responde a dois objectivos principais: -Adaptar as condições espaciais do palácio aos usos expositivos das distintas salas do museu, organizando e hierarquizando duas escalas: a expositiva e a arquitectónica. -Desenhar um projecto de acondicionamento ambiental das salas em total sintonia com o projecto arquitectónico (especialmente o referente à luz), e tendo em consideração a facilidade de contemplação das obras expostas, suas condições de conservação, o conforto dos visitantes e a eficiência energética do edifício.

Proposta de Intervenção A adequação de imóveis antigos (sobretudo monumentais), a exigências de uso modernas implica necessariamente a adaptação da sua estrutura, à satisfação de certos requerimentos não previstos no seu projecto de origem. Este aparente conflito entre manutenção e renovação não é de todo intransponível, e no projecto de intervenção distinguem-se três níveis de uso do monumento; como documento histórico, como suporte de valores culturais e como equipamento que garanta o seu uso continuado. 17



No projecto de intervenção devem-se considerar, a partir das análises histórico-críticas, aquela solução que melhor concilie a sua dimensão cultural, documental e de uso do monumento. Assim o projecto assumiu desde um primeiro momento uma valorização arquitectónica dos espaços existentes e uma valorização histórica das diferentes fases construtivas do edifício, chegando a uma proposta arquitectónica que evita o contacto com os parâmetros verticais, recorrendo a uma estrutura interior suportada por painéis de gesso cartonado. Estes painéis, revestem completamente os espaços interiores das salas, preservando a percepção global das mesmas. Estas estruturas em gesso cartonado cumprem duas funções principais. Primeiramente, de modo a acolher no seu interior uma grande parte das instalações do edifício (condutas de climatização, ligações eléctricas, canalizações, e outros), e também com propósito de organizar e hierarquizar duas escalas, a expositiva e a arquitectónica, claramente delimitadas espacialmente. O plano expositivo estende-se até uma cota de aproximadamente 4.20m, sendo que a partir dessa altura os painéis deixam de existir, dando lugar à parede pré existente, marcada pontualmente por vãos em que a luz entra de forma indirecta. Há uma intenção em diferenciar os planos; entre inferior expositivo e superior reflector de luz. O projecto de iluminação do Museu de Belas Artes de Granada, opta por um sistema de iluminação indirecta por várias razões; permite diferenciar e ter uma boa perceção de todos os parâmetros que compõem o espaço (incluindo o tecto, dando uma sensação de amplitude), proporciona uma percepção de espaço uniforme, que não gera contraste entre zonas, manchas de luz, nem problemas de adaptação visual, e proporciona o suporte ideal para a contemplação das pinturas do século XVII a XIX, evitando o reflexo. A instalação de iluminação artificial indirecta, teve também como propósito evitar a presença visual de elementos suspensos que fossem fontes de luz, evitando assim a invasão do espaço pelos mesmos, bem como obter um espaço de qualidade superior. Quis-se criar uma iluminação ambiente, que conseguisse permitir uma adequação visual ideal das obras de arte expostas. Foi criada assim uma simbiose quase perfeita entre luz natural e artificial, em que ambas se adaptam de forma quase imperfectível. 19


Salas Expositivas

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