Capa
Conteúdo O Convento dos Capuchos (de Santa Cruz de Sintra): a sua importância no espaço e no tempo ......................................................................................................................................... 238 1. Introdução ......................................................................................................................... 246 2. O convento de Varatojo: breve nota histórica .................................................................. 246 3. Extinção e incorporação da livraria de Varatojo ............................................................... 248 3.1. O processo de 1834 .................................................................................................... 248 3.2. O processo de 1910 .................................................................................................... 250 4. A livraria de Varatojo na Biblioteca Nacional: aspectos organizativos ............................. 252 5. Conteúdos e leituras na livraria de Varatojo (1861-1910) ............................................ 255 5.2. Caracterização temática da colecção: perfis de leitura ............................................... 257 6. Proveniências das colecções varatojanas ...................................................................... 260 7. Conclusão ...................................................................................................................... 261 Missionários em conflito: As disputas entre capuchos da Piedade e jesuítas acerca das aldeias do rio Xingu, .............................................................................................................................. 263 Santo António, o santo de todo o mundo luso-hispânico (e não só) ......................................... 276 A LIVRARIA DO EXTINTO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO DA SERTÃ ..................................... 288
238 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ O Convento dos Capuchos (de Santa Cruz de Sintra): a sua importância no espaço e no tempo
ELISABETE CORREIA CAMPO FRANCISCO Mestre em Património Cultural (U.C.P.); Doutoranda em Hist.Contemporânea [FLUL], C.E.H.R./(U.C.P.
“Aqui, a estrada larga do mundo antigo tornou-se estreita e a coragem dos que foram chamados tornou-se maior”. Frei António Piedade
Poucos ramos de religiosos conseguiram superar os Capuchos na concretização de um ideal de pobreza. Acreditando que na vida terrena todos somos passageiros e peregrinos, apregoando que o verdadeiro Reino não é o deste mundo, itinerância e mendicidade foram os traços fundamentais do seu perfil. Imitando assim o Cristo Pobre, os franciscanos capuchos cedo se diferenciaram do seu meio e se tornaram reconhecíveis. O seu signum distinctivum começou pelo hábito religioso, muito despretensioso e simples, de tecido ordinário. Andavam descalços, vivendo na pobreza voluntária mais extrema: “todos os que os viam ficavam num grande deslumbramento, pois o hábito e a sua vida tornavam-nos muito diferentes de todos os outros mortais e faziam deles, por assim dizer, homens das florestas1.” Sendo “o seu livro o mundo”, foi também no seio da própria natureza, que tanto amavam, que os Capuchos edificaram as suas casas. Foi este um ponto fulcral para as suas habitações, que estavam arquitectonicamente em harmonia com o modo de estar na vida e no mundo destes fascinantes homens. O franciscano capucho ”não é, com efeito, nem arquitecto, nem mesmo artífice2”, mas soube criar, num molde de pobreza e humildade no seio da natureza, obras inimitáveis. De tal forma
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Jacques LE GOFF,, Francisco de Assis, Alfragide, Editorial Teorema, 2000, p.71. Joaquim CERQUEIRA GONÇALVES, “Sabedoria e arte de ser Franciscano”, in Iº. Seminário: O Franciscanismo em Portugal, sécs. XIII – XVI, Actas, Lisboa; Fundação Oriente, 1996, p.80. 2
239 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ que, “aimables églises mendiantes...êtes-vous de l’arquitecture, êtes-vous même de l’art? Je l’ignore. Mais à coup sûr vous êtes de la poésie3.” E foi num ambiente envolto em poesia que se ergueu o Convento dos Capuchos, na Serra de Sintra, no outrora chamado Monte da Lua. Foi baptizado oficialmente de Convento da Santa Cruz da Serra de Sintra, apelidado de Convento da Cortiça, mas mais conhecido por Convento dos Capuchos. A fundação do convento, no século XVI, coincidiu com uma época de grande expansão dos Capuchos em Portugal, os quais contaram com a protecção da casa real e da alta nobreza. O próprio facto do convento lhes ter sido entregue, após a sua fundação, por D. Álvaro de Castro, é relevante para demonstrar a admiração que se tinha, na época, por estes homens4. Por outro lado, apesar de “confiado” nas mãos dos Capuchos, o convento nunca era tido por eles como uma pertença, uma propriedade. O seu limiar de abnegação levava a que os fundadores dos conventos fossem encarados como “Padroeiros” a quem anualmente pediam licença para continuar a habitá-los. Vindos do Convento da Arrábida, oito frades capuchos foram os primeiros habitantes deste modesto eremitério, após lançada a sua primeira pedra a 3 de Maio de 1560. Em plena serra de Sintra, num sítio ermo, natural, bem enquadrado naquele ambiente serrano – o outrora chamado Monte da Lua (território sagrado onde se cultuava o sol e a lua - , ergue-se o Convento. Nesse local místico, de ímpar beleza, onde a espessa névoa quase sempre cobre a serra e onde a extensão do dia atinge curta duração, o conjunto arquitectónico do convento assume uma forma poética. Referindo-se a este lugar, Eça de Queirós escreveu o seguinte. “Eu demoro-me apenas três ou quatro dias. O tempo de cavaquear um pouco com o Absoluto no alto dos Capuchos”.
“Explicava-se” a escolha de Sintra para a sua localização na medida em que, projectando-se à semelhança do convento da Arrábida a cuja província pertencia, estava rodeado pela “cúpula verde” da imponente serra.
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Louis GILLET, Histoire Artistique des Ordres Mendiants : étude sur l'art religieux en Europe du XIIIe au XVIIe siècles, Paris, 1912, p.55. 4 A expansão dos Franciscanos em Portugal foi de tal forma significativa que, à data da extinção das ordens religiosas, em 1834, esta Ordem era a mais numerosa no país.
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As formações rochosas, com grutas e cavidades, inseridas em penedos rodeados por uma vegetação de tons variados, serviam de abrigo a estes monges. Seria uma forma de penitência? Uma regra de vida? Ou o amor à natureza?... O certo é que estes homens construíram - aproveitando a expressão de Vitor Serrão – “uma arquitectura integrada no céu”. As condições naturais tiveram forte influência na escolha da localização do convento aquando da sua fundação. Se por um lado parecia ficar mais próximo de Deus, nesse alto da serra, “quase junto ao céu”, por outro, era um dos casos em que se afastava mais dos Estatutos da Província, segundo os quais “ |…|as nossas casas se edificarão não muito distantes das populações, nem muito junto às mesmas5”. Apesar da distância da povoação, dali acudiam os religiosos aos habitantes, para acudir aos doentes e celebrar missas; mantendo, porém, a distância suficiente a que os eremitas levassem a sua vida de ascese e contemplação, numa atitude cúmplice da natureza. Mas essa aproximação a esta nos seus edifícios explica-se, por outro lado, pelo seu “abandono” do mundo. Não querendo possuir nada como propriedade, recusavam ter grandes e solenes mosteiros, por isso erguiam conventos pequenos, de grosseira construção, sem qualquer comodidade ou conforto, longe da riqueza e numa simplicidade levada ao extremo. De facto, os franciscanos elevaram a beleza do mundo ao lugar supremo, como reflexo do poder infinito e da beleza de Deus. Proclamavam um hino à simplicidade das coisas e aos seres vivos e essa “descoberta” da beleza do mundo reflectiu-se na construção das suas casas. Entre o património natural e o património construído, entre a obra de Deus e a obra do Homem, compreendemos aqui as palavras de um anónimo fransciscano: “nenhum mestre te ensinará o que te ensinarão as árvores e os rochedos6”. Os frades aproveitaram, na estrutura do edifício, os afloramentos rochosos, desenvolvendo-se, a partir daí, a planimetria do convento. O Convento dos Capuchos tem uma planta irregular, composta por diversos corpos, também irregulares, dispostos ao longo da encosta da serra. Algumas dependências estão incorporadas nos penedos e em locais escavados nas rochas, aproveitando por vezes esses mesmos penedos para efectuar as coberturas, como é o caso da igreja.
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Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida, Lisboa, 1698, p.77. LIMA DE FREITAS, “Revolução franciscana na arte ocidental”, in IIº. Seminário: O Franciscanismo em Portugal,: A Província da Arrábida, Actas, 1996, p.131. 6
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De facto, este convento de escala minimalista, é um exemplo perfeito da pobreza franciscana expressa em arquitectura: porque o Convento dos Capuchos, ou da Santa Cruz da Serra de Sintra, ou simplesmente o Convento da Cortiça, foi edificado com materiais tão simples e naturais como a cortiça, granito e mármore, madeira, fragmentos cerâmicos, seixos e conchas. Foi ainda utilizada cantaria de calcário, reboco pintado e alvenaria mista, azulejos e telha cerâmica. Talvez o facto de ainda hoje podermos ver o convento, de tomar contacto com essa realidade do passado – apesar da ruína do presente – se deva ao profundo conhecimento franciscano acerca da natureza, à sua íntima cumplicidade, no fundo, à tal sabedoria escondida nas “árvores” e nos “rochedos”, tão longínqua dos livros e eruditos mestres... Diziam os Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida o seguinte sobre os edifícios: “as igrejas e casas que para nós se edificarem, em nenhuma maneira se recebam, senão forem conformes à pobreza que professamos.” As instalações são modestas como a regra determinava, elegendo aqui, a “altíssima pobreza” como maior tesouro7. De tal forma que o Convento dos Capuchos foi considerado, entre os vários conventos pertencentes à província da Arrábida, único entre todos. Segundo alguns autores, toda a composição do edifício é influenciada pelo número dois, nos diferentes caminhos ao longo da cerca, simbolizando a opção do bom e do mau caminho, e pelo número oito, que simboliza o número infinito por excelência, e que está patente, nomeadamente, no número de celas e de escadas. Torna-se curioso também o facto de serem oito os primeiros frades que vieram habitar o convento. Não deixam de impressionar, no meio do silêncio e paz da serra, as marcas da simbologia mística e ascética destes homens, que se fecharam para a vida mundana e terrena, sabendo que a glória do mundo é transitória. O próprio tipo de iconografia existente no convento, como a caveira, era muito usual na segunda metade do século XVI e foi particularmente utilizada pelos capuchos8. Simboliza a efemeridade deste mundo e, porque se encontra, nítida, por cima da porta correspondente à entrada dos noviços, representa a morte da vida terrena e o início da vida espiritual.
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Diz-se que, na época da coroa dual, Filipe II referia que tinha nos seus reinos duas preciosidades: o Mosteiro de S. Lourenço do Escorial na sua máxima exuberância, e o Convento dos Capuchos, no expoente da pobreza. 8 É importante referir, a este propósito, a impressionante Capela dos Ossos, na Igreja de S. Francisco, em Évora, obra do século XVI, e local de meditação e oração da Ordem Franciscana. O seu interior está totalmente revestido de ossadas humanas e, à saída, consta a arrepiante frase:” Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos.” É uma herança franciscana que nos convida a reflectir sobre a efemeridade da vida humana.
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Concluímos, assim, que este convento que servia de habitação a frades capuchos em busca de uma vida de rigor e austeridade, não poderia ter sido construído de outra forma: com materiais tão simples como a cortiça, na humildade das dependências – construídas rigorosamente de acordo com a função a que eram destinadas9... Após o ano de 1834, com a extinção das ordens religiosas, o Convento dos Capuchos terá deixado de sentir o silêncio dos monges, para passar a sentir, desabitado, o silêncio maior da solidão da serra. Adquirido, desde esse fatídico ano, por vários proprietários particulares, é na segunda metade do século XX que passa à posse do Estado, abrindo ao público. O convento sofreu, ao longo de todos estes anos, bastantes estragos, roubos e actos de vandalismo, como o comprovam algumas notícias de jornais.
Desde 1952 que o Convento de Santa Cruz da serra de Sintra tem sido alvo de numerosas intervenções de restauro e de conservação. O imóvel acaba por encerrar ao público de 1998 a 2000, por razões de segurança, dado o seu avançado estado de degradação. Em 2001, reabre novamente. Desde então a entidade responsável pelo monumento é o Parque de Sintra – Monte da Lua.
O convento serve, actualmente, de marco histórico - cultural, tendo utilização turística. Da antiga utilização cultual e devocional, enquanto modesta habitação de frades arrábidos, resta apenas a memória escrita em escassos documentos sobreviventes à razia que ocorreu após a expulsão da ordem, mas também na memória edificada deste convento, que perdurou no tempo. É de facto este conjunto arquitectónico o melhor testemunho de um passado aqui existente. É prova intacta dessa memória. Memória que teima em perdurar apesar das velhas coberturas em cortiça, das paredes vandalizadas, das ausências de estátuas nos nichos...As próprias árvores
9 “A Igreja terá de largo vinte e seis palmos e de comprimento, desde a porta da entrada até ao altar-mor, oitenta palmos (...).O refeitório não deve ultrapassar dezoito palmos de largura por vinte de comprido (...) A cozinha deve obedecer às seguintes medidas: dezoito palmos de largura e de comprimento apenas quinze. A portaria obedecerá à largura do refeitório (dezoito palmos) e terá de comprimento catorze palmos. O dormitório deve possuir dezassete, dezoito camas, cada uma das quais deve ter dez palmos de comprido e de largo nove.” Conforme Estatutos da Arrábida…cit., p. 79. Apesar das medidas estipuladas pelos Estatutos, o certo é que, neste convento, várias são as divisões que ficam aquém dessas mesmas medidas. Por isso, apesar de terem seguido os estatutos da Arrábida, os capuchos de Sintra souberam adaptá-los, minorizando ainda mais as medidas das dependências. Em tudo, ficou provado que este convento é de facto único no género.
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centenárias que ladeiam todo o cenário parecem ser uma prova de que o velho convento não quer ser apagado do tempo, da história e nem do espaço... Espaço, lugar, construção, são ideias que se cruzam quando se fala de arquitectura .O lugar nasce quando aí se instala o edifício. Esta é a condição filosófica da arquitectura, que dá ao espaço o seu pleno valor. Desta forma, podemos enfatizar que o monumento qualifica o espaço. O pobre convento dos Capuchos é o resultado da utilização do espaço como um material em que dentro se colocou a vivência dos eremitas. Indissociável dessa vivência isolada, o edifício condicionou estados de espírito, almas em busca de paz, numa construção que se pretendeu mais perto de Deus. Séculos após a sua edificação, com todas as vicissitudes do tempo, ainda transbordam no eco das divisões a mesma paz e tranquilidade ali vividas. Ao entrarmos nesta construção em pleno século XXI, conseguimos sentir ainda esta relação espaço-estado de alma que a arquitectura pretendeu. O monumento, ao ser inserido num determinado espaço, caracterizou-o, qualificou-o, deu-lhe vida. Mas porque falamos em monumento, é necessário relembrar a definição de monumento histórico na Carta de Veneza: “qualquer criação arquitectónica (...) que constitui testemunho de uma civilização, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico”. O Convento de Santa Cruz de Sintra ou dos Capuchos, que serviu de abrigo a humildes eremitas em busca da paz interior, é fruto da mentalidade pietista do século XVI, testemunho da vivência franciscana mais despojada e levada ao extremo. Assume-se como um marco no tempo, memória a ser preservada. Os seus materiais, a sua forma de construção, a sua simbologia, têm valor incalculável. São uma herança dos nossos antepassados que não podemos renegar, pois fazem parte das nossas raízes, da nossa cultura e património. O convento é um referencial espacial e temporal: é o que dá sentido à serra, que se ergue no meio dela, tornando-a única e diferente, mas é também um espaço que se pretende intemporal pois ali o próprio tempo pára, no meio do silêncio da serra. Perante o convento e dentro dele, sentimos talvez o mesmo significado do espaço que o século XVI sentiu e pretendemos que os vindouros tenham a mesma experiência, já que essa atmosfera do passado é essencial à nossa memória colectiva. Espaço e tempo cruzam-se nesta arquitectura invulgar que, pelo seu carácter de monumento histórico, precisa de ser conservada. Se para os frades capuchos esta modesta habitação servia como espaço de acolhimento físico, será legítimo dizer que, como homens despojados de bens terrenos, este convento serviu-lhes, acima de tudo, como meio para atingir um fim, um digno e duro trilho para chegarem à
244 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ “perfeição” espiritual. A vida terrena deveria ser cheia de sacrifícios, penitências, para que, no silêncio da serra e no silêncio das suas próprias almas, ouvissem mais alto a voz de Deus. Paz, tranquilidade, harmonia com a natureza, eis a ambiência que envolve o convento. Mas eis também aquilo que o convento trouxe à serra, que trouxe aos frades de outrora e que nos traz, no presente, a nós, herdeiros dessa mensagem e estado de espírito. O Convento de Santa Cruz de Sintra é, de facto, único porque só ele nos transmite esta mensagem, num lugar ímpar como este. Se experimentássemos outros edifícios franciscanos – e são inúmeros em Portugal 10- verificaríamos características típicas da Ordem: o despojamento de bens, a humildade na traça das suas casas, o ambiente propício ao recolhimento, a simbologia própria. No entanto, ele é único no género – talvez em toda a Europa não exista arquitectura semelhante. Num ambiente místico, onde quase sempre a neblina cobre a serra, escavado na rocha, de escala minimalista, foi o exemplo levado ao extremo dessa vida penitencial franciscana, transformando-se num espectáculo poético. Nem mesmo o convento da serra da Arrábida – o mais semelhante arquitectonicamente - consegue chegar a este limiar de pobreza e beleza. O Convento dos Capuchos é insubstituível. Se destruído ou demolido, a sua perda seria irreparável. O ser humano precisa, no seu dia a dia, de referências históricas, que assinalem as suas raízes. É uma exigência quase inconsciente; o que lhe confere segurança são as coisas estáveis, o cenário histórico, sítios conhecidos. Porque os homens são efémeros, mas a arquitectura, a obra de arte, o monumento, são feitos para perdurar. Para que o homem não se sinta perdido, precisa de memória. O convento é uma memória (ainda) viva; não se pode deixá-lo morrer, sob o risco de se perder o testemunho do espaço e do tempo. A própria serra ficaria mais vazia de sentido. Por isso, conservando o monumento, preserva-se a memória. O humilde convento, lá no alto da serra, não cede e parece sussurrar aos homens do presente as mesmas palavras que S. Francisco escutou de Deus “vai e repara a minha casa”.
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Alguns exemplos de conventos pertencentes à Província da Arrábida, fundada em 1539: S. Pedro de Alcântara (Lisboa); S. José de Ribamar (Algés); Senhora da Boa Viagem (Carnaxide, Oeiras); Nossa Senhora da Piedade da Caparica (Almada); Espírito Santo de Loures; Varatojo (Torres Vedras), etc.
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Livros e Leituras de Franciscanos: A Biblioteca do Convento do Varatojo (1861-1910)
FERNANDA MARIA GUEDES DE CAMPOS Doutora [UNL] Biblioteca Nacional de Portugal
Resumo Falar de livros e leituras de franciscanos significa, em primeiro lugar, recordar a importância desta ordem em Portugal, plasmada no número elevado de conventos e respectivas bibliotecas, organizadas de forma a apoiar os membros da comunidade na missão e actividades que desenvolviam. Dispersos os livros após a extinção dos conventos em 1834 e, mais tarde, em 1910, constituem hoje uma parte muito expressiva do património bibliográfico nacional. À Biblioteca Nacional (BN) coube a maior parte desses acervos, destacando-se a biblioteca do convento de Varatojo (1861-1910) única conservada como unidade orgânica dentro da BN e que, até 1969, manteve a disposição original da colecção numa reconstituição fiel que pressupôs a colocação dos livros nas suas estantes originais e em sala própria. Integra hoje o Fundo Geral da BN mas mantendo a unidade pelo que podemos ainda reconhecer o que foi a biblioteca nesse período de refundação do convento e da ordem franciscana em Portugal. O objectivo desta comunicação é divulgar esta importante colecção conventual oitocentista, desde logo na contextualização do processo de integração do espólio na BN, mas sobretudo através da caracterização dos seus conteúdos, nos perfis de leitura que se adivinham e nas estratégias de enriquecimento das colecções ao longo dos cerca de cinquenta anos da sua existência. Abstract Whenever we aim at speaking about franciscan books and reading, it immediately comes to our minds the importance that the order had in Portugal with its numerous convents and libraries that provided the support for the activities carried out by those communities. At the time the orders were extinguished in Portugal, first in 1834 later on 1910, the books were dispersed among different institutions where they now represent an important part of the Portuguese bibliographical heritage. The National Library received the majority of the books but it is the library of the convent of Varatojo (1861-1910) that represents a unique case because it was maintained exactly as it stood on the convent, until the National Library was transferred to its actual venue, in 1969. Nowadays, though not in that faithful reconstitution of the past, the books still maintain their order so it is possible to understand how the library was constituted and which were the purposes of its collections. The aim of this paper is, therefore, to present the library of the convent of Varatojo in its different aspects: history, contents, reading profiles and collection building strategies along its existence of about fifty years.
1. Introdução; 2. O convento de Varatojo: breve nota histórica; 3. Extinção e incorporação da livraria de Varatojo; 4. A livraria de Varatojo na Biblioteca Nacional: aspectos organizativos; 5. Conteúdos e leituras na livraria de Varatojo (1861-1910); 6. Proveniências das colecções varatojanas.
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1. Introdução A história das bibliotecas antigas e as dos estabelecimentos religiosos em particular, temse apoiado, sobretudo, na reconstituição do acervo através de inventários, listas ou catálogos das suas existências quer em Portugal quer noutros países da Europa. Esta é, por excelência, a metodologia escolhida também para a história de antigas bibliotecas particulares hoje desaparecidas. A possibilidade de contactar com os próprios livros que, em outros tempos, constituíram uma biblioteca à disposição dos seus leitores é, infelizmente, uma situação muito rara, para a qual concorre, no caso das bibliotecas religiosas, o facto de terem sido extintas as instituições que as albergavam e disperso o seu recheio. O caso que aqui pretendemos apresentar pertence às excepções: trata-se da segunda biblioteca ou livraria (como melhor se identificava à época) do convento e seminário de Santo António de Varatojo que, após a extinção das ordens religiosas e o encerramento das suas casas, com o advento da República, foi incorporada in integro na Biblioteca Nacional e aí mantida com a mesma disposição que tinha no convento. O estudo que dela vamos fazer resulta, por conseguinte, não do encontro com um inventário ou catálogo mas sim do encontro directo, livro a livro, com o que foi, na realidade, a biblioteca de Varatojo, criada a partir da sua refundação em 1861 e enriquecida até à sua extinção em 1910. Começaremos por uma breve nota histórica sobre este estabelecimento franciscano. Daremos, de seguida, um especial destaque ao destino da livraria e às condições da sua integração na Biblioteca Nacional e, por fim faremos, então, o estudo dos conteúdos da livraria nas suas diversas temáticas, apresentando as linhas de força do que foram estas leituras franciscanas dos séculos XIX-XX.
2. O convento de Varatojo: breve nota histórica A história do convento de Varatojo é conhecida e está, felizmente, bem divulgada. Recordemos então que este estabelecimento foi fundado em 1470 na aldeia de Varatojo, próximo de Torres Vedras por iniciativa de D. Afonso V. O convento recebeu a bula papal “Ad decorum sacrae religionis” em 1472 e, em 1474, já estava instalada a primeira comunidade sob invocação de Santo António. Os primeiros religiosos que habitaram no Varatojo provinham do convento franciscano de Alenquer. A comunidade prevista era, no seu máximo, de 25 religiosos e foi seu primeiro guardião frei Álvaro de Alenquer. O rei tinha aposento no convento e concedeu-lhe especiais privilégios. A fundação insere-se no movimento da observância que, durante todo o século XV, deu origem a mais de uma dezena de conventos em Portugal. O mais importante foi, precisamente,
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Varatojo e o seu vigário mais destacado nos primeiros tempos frei João da Póvoa (1439-1506) que exerceu o cargo por sete vezes, entre 1474 e 1506. Confessor e testamenteiro de D. João II, foi uma figura ímpar no apetrechamento das livrarias dos franciscanos, sendo crível que a sua notável acção em prol da promoção do livro e da leitura que exerceu, por exemplo, a nível dos conventos de Santa Cristina de Tentúgal, fundado em 1437 e de S. Clemente das Penhas depois transferido em 1482 para Nossa Senhora da Conceição de Matosinhos, também tenha tido reflexos em Varatojo. Promoveu a cópia de muitos livros manuscritos e a aquisição dos primeiros impressos para as livrarias destes e doutros conventos. Alguns estão, felizmente, integrados na colecção de Incunábulos dos Reservados da Biblioteca Nacional, testemunhando nas marcas de posse que ostentam o que foi o labor de frei João da Póvoa. Em 1503 passou a ser também casa de noviciado, situação que virá a manter até à sua extinção. Em consequência da reforma da ordem, o convento passa para a obediência da província dos Algarves em 1532 ou 1533. No reinado de D. João III, quer o rei quer a rainha D. Catarina mandaram fazer obras de ampliação adequadas a uma comunidade maior e que contemplavam o funcionamento de um noviciado. Em 1680, o convento e seminário são entregues a frei António das Chagas (1631-1682) que orientou a vocação deste instituto para a missionação. Deixada a observância da província dos Algarves, tornou-se então sede dos missionários apostólicos e dependente directamente do ministro geral. Daqui saíram os religiosos fundadores de mais quatro estabelecimentos dos missionários apostólicos, Brancanes (1711) Vinhais (1753), Mesão Frio (1790) e o seminário apostólico de Santa Maria Madalena do Monte de Falperra (entre 1826 e 1833). O convento é oficialmente extinto na sequência do decreto de 28 de Maio de 1834 que ordenava o encerramento e a apropriação dos bens dos estabelecimentos religiosos masculinos. Porém, já em Julho de 1833 a comunidade de Varatojo tinha abandonado o convento considerando que a situação de instabilidade que advinha das lutas entre liberais e absolutistas não conferia segurança. Em Novembro desse ano o juiz de fora da comarca de Torres Vedras mandou proceder ao arrolamento do recheio. O edifício conventual, com exclusão da igreja, foi vendido em hasta pública no ano de 1845 ao barão da Torre de Moncorvo, embaixador de Portugal em Londres, tendo retornado à posse dos missionários apostólicos em 1861, por iniciativa de frei Joaquim do Espírito Santo, antigo varatojano, que o comprou ao herdeiro do barão. A primeira comunidade então constituída e que marca o regresso dos franciscanos a Portugal, foi composta por seis antigos frades de Varatojo alguns que se tinham mantido próximo outros que tinham saído para Itália e que logo procuraram restaurar o estabelecimento, nomeadamente, no tocante ao seminário.
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Em Maio de 1883, o ministro geral de toda a ordem franciscana determinou a aquisição dos conventos de S. Bernardino de Atouguia da Baleia e de Brancanes, também eles antigos estabelecimentos da ordem, a fim de se criar, com Varatojo, a província dos Santos Mártires de Marrocos, em Portugal, situação que veio a ocorrer em Novembro de 1891. Em 1901, o decreto de 10 de Março, conhecido como decreto de Hintze Ribeiro, procurou regular a existência das ordens religiosas em Portugal, sancionando aquelas que se organizassem em associações, destinadas a obras pedagógicas ou de assistência e, em cumprimento do decreto, é criada, em 1902, a Associação Missionária Portuguesa pelo provincial doutor padre frei João da Santíssima Trindade. Preservou-se assim a comunidade varatojana, já então muito diminuta, e foi também possível fazer regressar, em 1904, o noviciado que entretanto passara à Galiza. A situação não foi muito duradoura pois, logo após a implantação da República, foi ordenada a extinção das ordens religiosas e a expropriação dos seus bens, por decreto de 8 de Outubro de 1910. Ao tempo, a comunidade era composta por 8 sacerdotes, 5 irmãos leigos, 6 noviços e 5 donatos (cuja missão era a recolha de esmolas) e era vigário o padre frei David das Neves. Para além do convento, foram extintas as escolas primárias masculina e feminina que funcionavam anexas ao estabelecimento religioso. Com efeito, logo após a reinstalação em 1861, os padres frei Joaquim do Espírito Santo e frei Agostinho da Anunciação tinham dinamizado o projecto de criação destas escolas destinadas às crianças da região. O colégio feminino denominado colégio de S. José, tinha sido entregue às irmãs franciscanas hospitaleiras da Imaculada Conceição. O convento foi, então, convertido em asilo de idosos, o Asilo Latino Coelho, tendo os bens móveis sido expropriados. Quanto à igreja, mantiveram-na os varatojanos através da criação da Irmandade de Santo António em 1918 e assim permaneceu até 1928. Nesse ano, por decreto de 15 de Outubro, o Governo cedia o extinto convento de Varatojo às Missões Franciscanas Portuguesas. Reorganizada a comunidade pela terceira vez, voltou também a estabelecer-se o noviciado. Exemplo único da vontade e tenacidade dos franciscanos, Varatojo é também na expressão da sua livraria e nas leituras que a mesma convoca, um exemplo do pensamento e da acção franciscana, como iremos apresentar.
3. Extinção e incorporação da livraria de Varatojo
3.1. O processo de 1834
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A primeira livraria de Varatojo foi incorporada, na sequência do disposto no decreto de 28 de Maio de 1834, no Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos (DLEC) junto com as dos diversos conventos masculinos, sobretudo, da província da Estremadura. Desse Depósito saíram obras para formar ou reforçar bibliotecas já existentes, independentemente da sua proveniência, tendo os vários milhares remanescentes vindo a integrar as colecções da BNL e/ou em casos extremos, a ser vendidos a livreiros e a particulares (regra geral, por serem duplicados), ou então vendidos como papel velho (devido ao estado degradado de conservação), leiloados, etc. Destes percursos nos dá conta Paulo J. S. Barata11 que refere, especificamente, algumas circunstâncias relacionadas com a recolha dos livros de Varatojo e a sua vinda para Lisboa, nomeadamente, a hostilidade da população em deixar sair os livros pois desejavam constituir com eles uma biblioteca pública em Torres Vedras. De acordo com esta fonte, o processo geral de inventariação e expropriação dos bens móveis dos conventos sofreu, entre outros males, de uma grande desorganização e desarticulação entre os órgãos responsáveis, centrais e locais, a que acrescia uma enorme falta de recursos, humanos e materiais, para prover, de uma forma expedita mas com correcção, aos inventários e respectivo acondicionamento de bens, nos locais. O caso dos conventos de Torres Vedras e seu termo é paradigmático. Por falta de técnicos habilitados a fazer essas tarefas, foi necessário enviar funcionários do DLEC, também eles em número reduzido, e com evidente prejuízo da prossecução dos trabalhos no próprio depósito. Assim, o funcionário do DLEC João José Maria Jordão desloca-se no final de Junho de 1837 ao concelho de Torres Vedras para proceder à arrecadação dos bens dos conventos de Penafirme, Barro, Graça e Varatojo. Em ofício de 21 de Junho12 refere que pouco há a arrecadar dos dois primeiros mas que a livraria de Varatojo “he boa, e parece estar quasi completa, salvo se não houve troca de obras, porque tudo está em poder dos depositários, e não há inventários nem rellações algumas...”. Como atrás relatámos, a saída dos religiosos de Varatojo foi anterior ao Decreto de 28 de Maio de 1834 e o convento ficara encerrado. Tinham mediado quase quatro anos e a dúvida de Jordão sobre a integridade da livraria era justificada. Ainda assim, e no meio de um ambiente de grande resistência e hostilidade, foram arrecadados, em 1837, 5346 livros, 64 maços e 24 quadros do convento de Varatojo. De facto, se as outras arrecadações vinham decorrendo sem grandes problemas por parte das populações e das autoridades locais, o convento de Varatojo revelou-se “um dos únicos casos de reacção organizada das populações locais à saída daqueles bens apesar de nele se vislumbrarem sinais de clara instrumentalização13”. Concretamente, pretendiam constituir (e chegaram a enviar
11
Os livros e o liberalismo: da livraria conventual à biblioteca pública, Lisboa, 2003. Cf. Ob. cit., p. 99. 13 Ob. cit., p. 100. 12
250 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
pedido, nesse sentido, ao Ministério do Reino) uma biblioteca pública com os livros do convento e que se mantivessem no local os quadros e paramentos. Nas actas do DLEC, existentes no Arquivo Histórico da Biblioteca Nacional de Portugal, pode ler-se não só a determinação de suspender o processo de arrecadação temporariamente mas também a decisão de prosseguir com ele logo que possível ou de fiscalizar a instalação da presumível biblioteca pública14. Quando em Setembro os ânimos se acalmaram, o DLEC manda proceder ao envio para Lisboa dos quadros, ficando para Outubro o transporte dos caixotes de livros. Apesar do número de volumes indiciar uma livraria de bom porte, dentro dos parâmetros das bibliotecas conventuais portuguesas, não são muitas as obras que temos encontrado da primitiva livraria de Varatojo. Têm marca de posse manuscrita normalmente com os dizeres “Da Livraria de Varatojo” ou só “Varatojo”. Estão distribuídas pelas secções da BNP, tal como os espólios das outras livrarias de conventos extintos em 1834, nunca tendo existido intenção de as integrar com as obras resultantes da incorporação após 1910. Também é provável que a livraria tivesse maior dimensão e que tivesse sofrido extravios ainda antes da arrecadação. João José Maria Jordão, funcionário do DLEC encarregado da arrecadação dos bens do convento, refere que lhe terá sido dito que livros, quadros e outros objectos sacros teriam sido levados pelos próprios religiosos na sua fuga “e que ainda existem em varias casas particulares do povo de Varatojo e suas vizinhanças...”. E em ofício posterior acrescenta: “Em quanto a preciosidades artísticas, e scientificas, de que havia grande abundância, nem hua so existe, porque huas forão roubadas, outras vendidas, e outras dadas à Misericórdia desta villa15”.
3.2. O processo de 1910 Com a República, como dissemos, há lugar a um novo ciclo de incorporações, também regulamentadas, sendo que logo a 10 de Outubro de 1910 sai uma primeira portaria estabelecendo para algumas comarcas a responsabilidade principal do processo que, no caso de Torres Vedras fica a cargo do juiz de direito da comarca. O Governo reforça a posição tutelar sobre os bens móveis e imóveis das congregações religiosas extintas e, naturalmente, foi necessário criar os meios para a execução do processo de arrolamento e arrecadação. No que diz respeito às livrarias e cartórios foi a Inspecção Superior das Bibliotecas Eruditas e Arquivos que ficou incumbida da tarefa de recolher esses bens. No
14 15
Ob. cit., p. 101. Ob. cit., p. 146.
251 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
processo há a destacar a iniciativa de Júlio Dantas, médico e escritor, que desenvolveu uma actividade muito meritória como Inspector, a partir de 1912 e orientou, com a melhor correcção possível, o processo de incorporação dos bens bibliográficos e arquivísticos. A profusão de casas e outras instituições religiosas e a sua dispersão, acrescida da proverbial falta de meios humanos e materiais, não facilitava o processo. A orientação primeira de Júlio Dantas visava uma política centralizadora, no que dizia respeito às arrecadações, de modo a que fossem incorporados os bens bibliográficos na Biblioteca Nacional e os arquivísticos na Torre do Tombo. Não descurou, porém, oportunidades de incorporação de bens em instituições locais, sempre que tal não oferecia problemas de conservação. Em 1914, Júlio Dantas apresenta ao Governo um extenso relatório das actividades de incorporação e dos fundos entretanto recolhidos e publica uma versão abreviada nos Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal de onde respigámos este testemunho da sua visão patrimonialista: “Incorporar nas bibliotecas e arquivos do Estado os monumentos paleográficos e o património da livraria nacional, não é apenas salvá-los duma eventual destruição, reunindo-os, instalando-os e conservando-os: é colocá-los em condições de os tornar úteis, facilitando a sua consulta, promovendo a sua catalogação, inventariando, sumariando, vulgarizando documentos pela publicação de índices, de repertórios, de colecções16”.
A livraria de Varatojo, ainda que se inserisse nesta estratégia teve, no entanto, um processo de incorporação de contornos muito especiais. Júlio Dantas terá constatado in-loco o aparato da biblioteca, com os livros arrumados nas estantes, organizados em grandes assuntos e essa visão de um “exemplar típico das livrarias claustrais franciscanas do século XVIII” suscitou nele o interesse por ir mais longe na preservação do património e manter o conjunto in-integro, em sala própria na Biblioteca Nacional. A verdade é que, se no aspecto geral a livraria evocava uma época anterior, o mesmo, porém, não se verifica, como adiante apresentaremos, no que diz respeito aos conteúdos, dada a profusão de obras do século XIX e até algumas do XX. Vamos cotejar com os testemunhos dos bibliotecários encarregues da recolha e tratamento da biblioteca, começando por Ascensão Valdez a quem que Júlio Dantas incumbiu da transferência da livraria. No relatório que apresentou à Inspecção descreve assim os trabalhos realizados:
“Serviço de incorporações pela Inspecção das Bibliotecas Eruditas e Arquivos”, Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. I (1915), nº 1, p. 5. 16
252 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ “A livraria, estabelecida em uma vasta sala [...] compreende na sua quási totalidade obras de sciências eclesiásticas, dispostas metodicamente pelos títulos indicados nas estantes Fiz transportar no mês de Setembro do ano findo em cincoenta e um caixotes uma parte da livraria, depois dos livros serem devidamente marcados com o carimbo – Varatojo – e a classificação metódica respectiva, e nesta primeira remessa vieram também dezassete volumes de mobília e parte das estantes compreendendo o oratório, para, satisfazendo às determinações de V. Ex.ª, poder ser reconstituída a interessante Biblioteca daquela extinta congregação franciscana [...] Em Dezembro próximo passado fui ultimar a transferência do resto da livraria, que veio em vinte e seis caixotes17”.
O processo de transferência e incorporação na Biblioteca Nacional, estava terminado em 1916.
4. A livraria de Varatojo na Biblioteca Nacional: aspectos organizativos Ascensão Valdez retirou 409 volumes e folhetos de obras escolares (provavelmente pertencentes às escolas masculina e feminina que já referimos anteriormente) e alguns dicionários utilizados no Noviciado bem como mapas geográficos, que entregou à Comissão Administrativa do Município de Torres Vedras e que se destinavam à biblioteca municipal. Desta feita não houve problemas com a transferência dos bens, como se tinham registado em 1837. Vamos seguir agora o testemunho de António Joaquim Anselmo que foi distinto bibliotecário da Biblioteca Nacional a quem Júlio Dantas incumbiu de catalogar a livraria de Varatojo. A notícia que escreveu para os Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal indica que a livraria entretanto transferida já se encontrava instalada na sala nº 108, no 2º piso da BN e que os trabalhos de catalogação estavam praticamente concluídos e refere, ainda, quanto à manutenção da unidade: “A ideia geral, pelo sr. Inspector concebida quanto à organização desta livraria foi a de respeitar e conservar intactas a disposição e sistematização que pelos religiosos do Varatojo lhe tinham sido dadas. Para este efeito [...] foi a livraria removida para a Biblioteca Nacional e aqui provisoriamente arrumada nas mesmas estantes de revestimento e com o mesmo mobiliário que no Varatojo tinha, sem esquecer o clássico oratório inseparável das livrarias claustrais. Conservou-se exactamente a metodização monástica setecentista que lhe havia sido dada pelos frades; e o dístico que invariavelmente encimava todas as livrarias religiosas – Initium sapientiae Timor Domini - foi também posto a encimá-la. Completou-se a reconstituição com o retrato a óleo do fundador do Seminário do Varatojo, o místico Fr. António das Chagas [...]18”.
“Livrarias da Mitra Patriarcal e do Convento de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. I (1915), nº 1, p. 47. 18 “A livraria de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. II (1916), nº 6, p. 19-20. 17
253 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Mais adiante comenta ainda a solução encontrada considerando que “representa uma feliz e original inovação em matéria bibliotecária, e um aspecto, uma evocação pitoresca e sugestiva de uma época ida e duma cultura para nós extintas19”.
A tendência para criação de unidades autónomas dentro da BN que na época vingou, não podia ser regra mas tão-só excepção pois sempre implicaria uma disponibilização imprevisível de espaços autónomos20. De qualquer forma, aquando da mudança da BN de S. Francisco para o Campo Grande, em 1969, essa individualização perdeu-se, em parte, porquanto apesar de se manter a unidade da colecção, deixou de existir a evocação da antiga livraria em espaço próprio. Os livros foram integrar o Fundo Geral da BN, constituindo mais uma secção, identificada como “Varatojo” ou “Var.”, abreviatura que consta nas etiquetas coladas nos livros, com as respectivas cotas. Conforme atrás se referiu, Júlio Dantas no seu relatório indicava que a livraria de Varatojo era composta por um pouco mais de 7.000 volumes e, efectivamente, esse foi o conjunto arrolado. Porém, conforme nos refere Anselmo, muitos volumes “tiveram de ser excluídos, após diligente escolha, já porque as estantes os não comportavam todos, já porque se tratava de obras truncadas, a que faltavam vários tomos, ou de livros mutilados ou em estado de completa deterioração. E ainda assim, das obras truncadas algumas se conservaram, por lhes faltarem apenas um ou dois volumes, ou por mais valiosas do ponto de vista literário ou meramente bibliográfico21”. Tal significa, portanto, que a livraria de Varatojo, mesmo quando instalada em réplica da existente no convento, não integrou a totalidade dos volumes e foi objecto de escolha. No cômputo final, foram atribuídas 4.724 cotas a outros tantos volumes e há ainda a acrescentar os manuscritos22, o incunábulo e os impressos raros do século XVI, totalizando seis obras, que se encontram nos Reservados.
19
Ob. cit., p. 20. Foi o caso da biblioteca do escritor Fialho de Almeida cuja incorporação na BN foi também ordenada por Júlio Dantas conservando-se a arrumação que o escritor lhe dera e que deu origem, tal como Varatojo, a uma cota própria. Anselmo inclinava-se ainda para um tratamento idêntico à livraria do Colégio do Barro, da Companhia de Jesus, pela comparação que se poderia estabelecer entre instituições de congregações distintas e, como ele indica, “rivais”. Para além das livrarias incorporadas na BN, também o Colégio de Campolide mereceu uma atenção especial chegando a perspectivar-se a criação da biblioteca erudita de Campolide que preservaria a grande colecção que a Companhia de Jesus ali reunira. 21 Ob. cit., p. 21. 22 A propósito desse conjunto, refere António Joaquim Anselmo que se trata de “[...] pequena mas preciosa colecção de uns setenta e muitos códices. Encontram-se entre eles um Dicionário espanhol-chinês; a História da fundação do Real Convento e Seminário de Varatojo, por Fr. Manuel de Maria Santíssima, 1795, 415 pág. 4º; Apontados do Venerável P.e Fr. António das Chagas, autógrafo do fundador do Varatojo, 467 fls., 4º; Epitomehistorica-chronologica do Varatojo, em latim; memórias das missões dos frades do Varatojo; vidas de alguns destes frades, constituições religiosas, livros de orações, miscelânias curiosas, sermões, registos dos religiosos, etc.; por último, um magnífico exemplar (Officia Majoris Hebdomadae... 20
254 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Como atrás se referiu, a respeito do testemunho de Ascensão Valdez que procedeu ao arrolamento e carimbagem das espécies, as mesmas receberam um carimbo próprio com indicação da entidade custodial – a Biblioteca Nacional – e a menção da classe a que pertencia e onde deveria continuar a ser arrumada. As classes, na origem, eram as seguintes:
I
– Bíblia e Direito
II
– Liturgia
III
– Mística
IV
– Literatura e Filosofia
V
– História
VI
– Biografia
VII
– Patrística e Oratória
VIII – Ascética IX
– Apologética e Teologia Quando se percorre a secção Varatojo rapidamente nos apercebemos que não foi
exactamente esta a distribuição classificativa com que foi arrumada na BN. Com efeito, as classes que tinham mais do que um assunto, caso da I, IV, VII e IX, têm carimbo específico para cada um ou seja, foram subdivididas. Fica-se assim com um número maior de classes, como apresentamos, com o total de obras que as compõem23:
I
– Bíblia
115
II
– Direito
229
III – Liturgia
187
IV – Mística
418
V
– Literatura
353
VI – Filosofia
68
VII – Ciências Naturais
28
VIII – Oratória
226
IX – História
309
X
– Biografia
146
novocanto-plano, composto por C.J. Cordeiro, 1827), folio grande, belamente caligrafado.” (Ob. cit., p. 24). 23 Trata-se de uma contagem por obras, ou seja, por unidades bibliográficas, e não por volumes. A secção é pródiga em obras multi-volumes (uma só obra e várias cotas seguidas) miscelâneas (uma só cota e várias obras individuais) e periódicos (encadernados e, normalmente, correspondendo cada volume a um ano ou a vários, conforme a extensão da espécie, mas sendo, na realidade, uma unidade bibliográfica).
255 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ XI – Patrística
47
XII – Teologia
271
XIII – Ascética
92
XIV – Apologética
222
Total
2711
Deste total de 2711 obras, sobressai a absoluta predominância de obras religiosas mas numa proporção onde se adivinha a constituição de uma biblioteca conventual de cunho mais moderno do que poderíamos encontrar numa colecção quinhentista ou seiscentista. É o caso da Patrística e da Ascética, temas muito característicos dos séculos XVI e XVII, e que nesta livraria têm uma expressão pequena, sobretudo quando comparados com a Mística (a secção maior e com forte pendor franciscano), a Teologia, a Oratória (onde se incluem os sermões), a Apologética e a Liturgia. A secção Bíblia, considerada nos esquemas classificativos das bibliotecas conventuais, como a primeira secção, é abundante e equilibrada, dentro do conjunto de obras de temática religiosa. Valores importantes têm a Literatura (onde estão incluídos muitos periódicos), a História e o Direito constituindo-se em temas relevantes no conjunto da livraria. Já a Filosofia e as Ciências Naturais (esta, então, muito escassa e indefinida) são de fraca expressividade no conjunto. Ao olharmos estes números, convém não esquecer que a comunidade de Varatojo não era grande e que a sua função essencial era o noviciado. A livraria, no equilíbrio das suas escolhas temáticas reflecte, antes de mais, a preocupação de apoiar um programa de ensino de novos membros da ordem e de prepará-los, com o acesso a leituras adequadas, para a sua missão no século XIX e XX. Se, efectivamente, esta não será uma biblioteca que se distingue pela raridade das suas espécies, não restam dúvidas que o contacto com os livros que a compõem, nos transmite um outro tipo de valoração. O próprio facto de ser constituída por mais de 7.000 volumes que foram juntos, num espaço de tempo relativamente curto e com meios que imaginamos não seriam muito abundantes, é prova maior de vontade e habilidade em estruturar uma biblioteca que sem pretensões de ostentação se pretendeu viva, actualizada e útil. É esse o retrato que apresentaremos seguidamente.
5. Conteúdos e leituras na livraria de Varatojo (1861-1910)
5.1. A livraria de Varatojo: caracterização geral dos conteúdos
256 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Tendo presente que mais de 2.000 obras foram abatidas do acervo e não deram entrada na BN, conforme anteriormente referido, mas agregando os dados que fomos recolhendo da análise temática individual, obtemos o seguinte quadro de caracterização geral da livraria de Varatojo:
Século
Latim
Português
Italiano
XVI
28
XVII
111
48
4
XVIII
253
359
XIX
176
XX TOTAL
Francês
Espanhol
Inglês
TOTAL
3
31
5
32
200
32
113
59
740
154
434
52
14
66
1
20
5
1
107
582
1213
191
572
151
2
2711
1
817 1556
A primeira evidência é o predomínio das obras do século XIX (57,3%), ficando as outras publicações distribuídas do seguinte modo: Século XVIII - 30% Século XVII - 7% Século XX - 3,9% Século XVI - 1%24 Sem margem de dúvidas a livraria de Varatojo foi constituída no século XIX com a preocupação primordial de juntar um número suficiente de obras actualizadas para poder apoiar, com textos modernos, a preparação do noviciado. Tal não impediu a aquisição de obras importantes publicadas séculos antes, por serem, eventualmente, de relevo para as leituras da comunidade. Teremos ocasião de verificar quais as temáticas mais modernas e quais aquelas em que os textos antigos mais se destacaram e detalhamos o perfil de leitura, em termos cronológicos e linguísticos, mais adiante. A segunda evidência é o predomínio do português (44,7%), ficando as outras línguas ordenadas da seguinte forma25: Latim - 21,4%
24 25
Não estamos aqui a contabilizar as obras do século XV e XVI que foram retiradas para Reservados. Não atribuímos valor percentual à língua inglesa pela representação residual de 2 obras em 2711.
257 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Francês - 21% Italiano - 7% Espanhol - 5,5% O latim é a segunda língua representada mas quase em igualdade com o francês. As línguas vernáculas portuguesa, francesa e italiana mostram um crescimento importante no século XIX, o mesmo não se verificando com o espanhol que baixa ligeiramente do século XVIII para o XIX e com o latim que se distribui entre os séculos XVI a XX mas que tem o seu pico no século XVIII. A terceira evidência é a vitalidade da livraria demonstrada pelo número de obras do século XIX e XX. Tendo em conta que, para este último caso, estamos a contar apenas com os anos de 1901 a 1910, as 107 obras que registámos são demonstrativas do progresso nas aquisições para a livraria.
5.2. Caracterização temática da colecção: perfis de leitura
Tendo presentes estas características gerais, vamos analisar mais de perto as características próprias de cada um dos temas, seguindo a ordem das classes e começando pela distribuição cronológica dos assuntos.
Século
I
II
XVI
9
3
XVII
21
35
XVIII
44
XIX
III
IV
V
VI
2
2
2
14
26
12
2
2
12
13
77
92
137
103
21
8
75
40
107
79
249
220
43
18
XX
1
7
2
4
16
TOTAL
115
229
187
418
353
68
VII
28
VIII
IX
X
XI
XII
XIII
XIV
11
2
7
12
32
10
2
64
27
8
117
31
12
132
223
108
15
116
49
167
7
9
4
1
4
2
41
226
309
146
47
271
92
222
Relativamente às obras do século XVI vemos que estão presentes em apenas 7 classes e que têm relevo na Patrística e na Bíblia. O século XVII tem edições em todas as classes, com destaque para o Direito e a Teologia mas sem nunca alcançar os quantitativos dos séculos XVIII e XIX. As obras setecentistas têm distribuição uniforme e com quantitativos expressivos nalgumas classes, caso da Bíblia, Liturgia e Teologia, em que é dominante, demonstrando assim
258 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
que nalgumas matérias religiosas o peso da ortodoxia conferido por edições mais antigas, ainda era considerável. É, porém, o século XIX que corresponde às expectativas de leitura e formação dos varatojanos. Predomina em 11 classes, nalguns casos de forma muito evidente como na Apologética (75%), na Biografia (73,9%), na História (72%) e na Oratória (58%). Quanto às obras editadas no século XX, só não as encontramos nas classes de Filosofia e Ciências Naturais que são, aliás, pouco representativas no acervo de Varatojo. Tendo em conta que a biblioteca foi extinta em 1910, a existência destas obras demonstra a intenção de constituir uma colecção em permanente actualização. Passamos agora à análise dos conteúdos das diversas classes, por língua do texto.
Língua
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII IX
X
XI
XII
XIII XIV
Latim
67
133
53
21
31
30
2
8
24
3
37
156
12
4
Port.
26
79
105
160
225
26
12
104
185
60
60
39
132
Ital.
6
2
14
41
16
3
3
27
20
24
13
11
11
Franc.
13
11
12
158
57
8
11
73
66
48
7
30
17
62
Esp.
3
4
3
38
23
1
14
13
11
3
12
13
13
146
47
271
92
222
1
Inglês TOTAL
115
229
187
418
353
1 68
28
226
309
O latim é a língua principal nas classes Patrística (78,7%), Bíblia (58,2%), Direito (58%) e Teologia (57,5%). A prevalência de obras mais antigas nestas secções nem sempre se verifica: na Patrística há, de facto, um número apreciável de obras dos séculos XVI e XVII mas também existe um número quase idêntico das do século XIX. Era uma classe com grande evidência nas bibliotecas religiosas do Antigo Regime mas a orientação de leitura em Varatojo já aponta noutros sentidos. A Teologia tem obras em latim, maioritariamente do século XVIII e XIX. Na Bíblia, classe que congrega muitas traduções, comentários e vulgatas, era expectável o predomínio do latim mas também aí está mais evidenciado o século XVIII, tal como sucede com o Direito, cujas obras são, sobretudo, no âmbito eclesiástico e canónico. O português que, no geral, é a língua mais “lida” na biblioteca de Varatojo está em maioria nas edições da classe Liturgia (56%) devido à abundância de obras de liturgia própria de épocas
259 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
específicas, instruções para sacerdotes, regras (sobretudo ligadas aos Franciscanos), breviários e catecismos. Predomina também na Literatura (63%) principalmente em edições dos séculos XVIII e XIX, sendo de relevar o facto de nesta classe existirem muitas miscelâneas de folhetos de temática variada classificável em literatura religiosa e também laica. A Oratória é composta também por uma maioria de edições em língua portuguesa (46%) sobretudo do século XIX e nela se contam muitas espécies de sermonária. Sendo um género em que a produção tipográfica nacional sempre se evidenciou, é interessante verificar que Varatojo privilegiava a prédica moderna face à antiga. Também por essa razão o francês é a segunda língua nesta classe. Predominante na História (59,8%), Apologética (59%), Ascética (42%) e Biografia (41%) é quase sempre com uma expressão destacada nas edições do século XIX que tal acontece, sendo de destacar esta combinação sobretudo na classe História que, apesar de incluir alguns “clássicos” como a Monarchia Lusitana e a Historia genealógica da caza real portugueza, também tem a História de Portugal, de Alexandre Herculano e todos os folhetos da famosa polémica Eu e o clero, bem como muitas miscelâneas com folhetos de temática miguelista. Uma palavra para a obra História das ordens monásticas, de Manuel Bernardes Branco cujo conteúdo foi, de certa forma, “censurado” pois no rosto da obra está escrito “Lege caute”. São também os folhetos que tornam expressivas as edições em português na Apologética, do século XIX, classe onde se destacam também as edições do século XX. O francês é segunda língua quase em paridade com o português na classe da Mística, especialmente no século XIX, onde suplanta até as obras em português. Também na Biografia verificamos a mesma situação sendo que o destaque é menor noutras classes em que é a segunda língua como a História e a Apologética, sempre ligado de forma muito expressiva às edições oitocentistas o que mostra a que ponto em Varatojo se privilegiavam os conteúdos religiosos nesta língua que iam sendo publicados ao mesmo tempo que fica demonstrada a competência dos varatojanos e seus noviços na leitura em francês quer de monografias quer de periódicos de que destacamos, já do final do século XIX, os títulos L’ami du clergé, L’ami du clergé paroissien e L’ami de la religion.. Se o espanhol é de fraca expressão na biblioteca de Varatojo, longe que estava a hegemonia dessa língua nos séculos XVI e XVII, o italiano encontra-se representado nas diversas classes, à excepção da Patrística, com algum relevo, por exemplo, na Mística e na Biografia, associado quase sempre a edições do século XIX muitas das quais de índole franciscana. De notar que quer na História quer na Literatura são vários os exemplos de periódicos italianos oitocentistas como La Palestina e Le missione ou na Apologética, La civiltá catholica.
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6. Proveniências das colecções varatojanas
O conhecimento de uma biblioteca, especialmente com as características da livraria de Varatojo, não ficaria completo se não tentássemos percepcionar as proveniências das colecções. Ao percorrermos individualmente os livros de Varatojo, inequivocamente identificados por um carimbo próprio, verificámos a variedade de obras com proveniência anterior plasmada em marcas de posse maioritariamente de indivíduos mas também de instituições, aqui se incluindo algumas bibliotecas conventuais anteriores a 1834. Analisando os dados recolhidos sobre as marcas de posse individuais, verificamos, em primeiro lugar, que representam 32% das obras. Um terço das existências da livraria já tivera um anterior proprietário, na grande maioria religiosos regulares, existindo também um número expressivo de obras de posse anterior secular. Ainda que em 36% dos casos esses antigos possuidores, cujo nome está inscrito no rosto das obras, apareçam apenas uma vez, as ofertas ou “esmolas” mais vultuosas estão também presentes. Nesses casos há um predomínio dos membros da comunidade como frei David das Neves, guardião em 1900, frei António do Presépio que era guardião em 1875, frei José de Santa Rita, frei Manuel da Conceição e frei Joaquim do Espírito Santo ligados à refundação do convento e principalmente, frei Domingos dos Corações de Jesus e Maria que incluso tinha como marca de posse um carimbo próprio e que doa 62 obras. Também a marquesa de Angeja, D. Maria Joaquina, faz um importante legado de livros tal como os padres José da Assunção Rolim e António Emílio Pancada que não é outro que frei António do Presépio, uma vez que deixou as vestes seculares e ingressou nos franciscanos, mais concretamente, em Varatojo. Temos pois livros da sua biblioteca enquanto padre e enquanto frade, atingindo um total de 76 obras. Uma última questão quanto às proveniências individuais tem a ver com as obras oferecidas ao Varatojo pelos seus autores ou editores. São em número de 30 as que trazem dedicatória explícita; porém, é muito provável que as ofertas sem dedicatória e que vêm por via dos próprios editores (sobretudo de editoriais estrangeiras ligadas à Igreja Católica ou mais especificamente à ordem franciscana) sejam em número muito superior. Mais do que a compra de livros, que também está por vezes indicada com o respectivo preço, Varatojo teria uma colecção em que as ofertas eram parte muito importante. A nível das proveniências colectivas que representam apenas 2% das marcas que encontrámos, destacam-se as 18 obras que vieram do seminário de Mesão Frio por via do seu antigo responsável, frei Joaquim da Purificação. De forma muito esporádica há obras que pertenceram a instituições religiosas extintas em 1834, algumas das quais até de franciscanos,
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mas em reduzido número o que aponta para uma compra esporádica de livros dispersos após a extinção dos conventos e/ou para uma procura mais metódica de espécies que, de algum modo tinham sobrevivido à amortização dos bens dos conventos após 1834 e que se encontrariam em mãos de particulares.
7. Conclusão
Saída do propósito originário da sua constituição, a livraria de Varatojo revela-nos ainda hoje, pelos seus conteúdos, o que foram as leituras dos franciscanos daquela instituição, os seus objectivos de formação e, no cômputo geral, a importância que atribuíam ao livro e à leitura para atingir esses mesmos objectivos. Testemunho de uma vontade e determinação invulgares, os livros de Varatojo não se perderam. Ficando na Biblioteca Nacional, expoente da preservação da memória bibliográfica de Portugal, alcançaram novos leitores, constituindo “precioso subsídio posto à disposição de quem deseje estudar conscienciosamente o movimento católico26”.
BIBLIOGRAFIA ANDRADE, Maria Filomena, “Franciscanos”, in FRANCO, José Eduardo, dir., Dicionário histórico das Ordens, institutos religiosos e outras formas de vida consagrada católica em Portugal, Lisboa, 2010, p. 158-169. ANSELMO, António Joaquim, “A livraria de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. II (1916), nº 6, p. 19-25. BARATA, Paulo J. S., Os livros e o liberalismo: da livraria conventual à biblioteca pública, Lisboa, 2003. CAMPOS, Fernanda Maria Guedes de, “Memória e património: a incorporação das bibliotecas dos institutos religiosos após o advento da República e o caso da biblioteca do convento de Varatojo”, comunicação apresentada ao Congresso Histórico Internacional – I República e Republicanismo, 2010 (no prelo). CARVALHO, José Adriano de Freitas, “ Nobres leteras...Fermosos volumes” : inventários de bibliotecas de franciscanos observantes em Portugal no século XV, Porto, 1995. – Da memória do livro às bibliotecas de memória, Porto, 1998.
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A. J. ANSELMO, “A livraria de Varatojo”, p. 25.
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Missionários em conflito: As disputas entre capuchos da Piedade e jesuítas acerca das aldeias do rio Xingu, no Estado do Maranhão (1693-1710)
FREDERIK LUIZI ANDRADE DE MATOS, Doutor
Este presente trabalho tem por intenção tratar das tensões que envolveram os franciscanos da Piedade e os jesuítas acerca das aldeias do rio Xingu, após a promulgação do Regimento das Missões (1686) e da Repartição das aldeias entre as ordens missionárias que atuavam no Estado do Maranhão (1693). As aldeias do rio Xingu estavam sob a jurisdição dos membros da Companhia de Jesus; entretanto, após a chegada dos franciscanos da Província da Piedade no Estado do Maranhão (1693), estes receberam como missão as aldeias próximas à Fortaleza do Gurupá e também as do rio Xingu, iniciando assim o conflito com os jesuítas, por estes defenderam que já estavam atuando no trabalho missionário na região há muito mais tempo. Dessa maneira, este conflito também perpassa por relações de poder havidas no seio da colônia, já que a chegada dos franciscanos da Piedade foi pedida pelo próprio capitão-mor do Gurupá, que havia se indisposto com os jesuítas no tocante ao controle das canoas dos religiosos que passavam ao sertão, trazendo cravo e cacau, ou indígenas para servirem como mão-de-obra nas aldeias. Assim, por conta da grande quantidade de cravo e cacau na região, que estavam alcançando excelente cotação nas exportações para a metrópole, iniciam-se conflitos por jurisdição de espaço entre os religiosos, já que eram estes a partir do contato com os índios que traziam dos chamados “sertões amazônicos” os produtos desejados pelos colonos e governadores.
Religiosos em disputa: Capuchos da Piedade e Jesuítas no Estado do Maranhão (1693-1710)
Durante a virada do século XVII para o XVIII, o Estado do Maranhão foi palco de uma tensão entre jesuítas e capuchos da Piedade, acerca da jurisdição de algumas aldeias fixadas ao longo do rio Xingu. Essa tensão, originada a partir de uma interpretação dúbia da divisão das aldeias efetuada em 1693, que fora determinada pelo rei, prolongou-se durantes alguns anos,
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envolvendo os governadores do Estado do Maranhão, os missionários de ambas as casas religiosas e os capitães-mores da Fortaleza do Gurupá. Essas disputas parecem à primeira vista um conflito entre missionários que intentam prosseguir no seu trabalho evangelizador com os indígenas, em um processo de estreita cooperação com as diretrizes ditadas pela Coroa portuguesa para a “conservação e aumento” do Estado do Maranhão. Porém, ao analisarmos as correspondências que versam sobre a tópica deste conflito, percebemos que não se trata apenas de zelo apostólico, mas sim de choques de interesses e busca por um acesso a caminhos que levassem a hinterlândia, abrindo possibilidades para a exploração de algumas das propagadas “drogas do sertão”, como o cravo e o cacau, e o livre acesso a mão-de-obra indígena, beneficiando religiosos e elementos que estivessem integrados às suas redes de poder. Neste trabalho trataremos, portanto, dessas questões, mas também levando em consideração a relação homem-natureza, em uma teia de relações complexas que envolvem os religiosos, as autoridades locais, os índios e meio a ser explorado, mais especificamente a região do rio Xingu.
As disputas pela região do rio Xingu: jesuítas e capuchos da Piedade
A região do rio Xingu, segundo Rafael Chambouleyron, não foi alvo imediato da Coroa e nem das autoridades coloniais de uma sistemática ocupação da terra, excetuando nesse caso as missões religiosas, primeiramente dos jesuítas e depois com os capuchos da Piedade27. Os religiosos jesuítas começaram a atuar na região, mesmo de forma tímida, a partir da presença do padre Luis Figueira, que efetuou a primeira visita a essa região em 1636. Após a visita de Figueira, a efetivação do trabalho missionário jesuítico na região só foi intensificada a partir de 167028. Porém, a região do Xingu era retratada nos relatos da segunda metade do século XVII, como uma região com uma grande abundância de uma das chamadas “drogas do sertão”, o cravo. Esse excesso de cravo na região começou a atrair a atenção dos moradores de Belém, Gurupá e Cametá, desejosos de explorar esse recurso natural. Entretanto, a ação dos colonos lançando-se à exploração deste produto, levou a suscitar conflitos com os jesuítas que lá estavam29. CHAMBOULEYRON, Rafael. “O sertão dos Taconhapé. Cravo, índios e guerras no Xingu seiscentista”. In: CARDOZO, Alirio e SOUZA, César Martins de (orgs.). Histórias do Xingu: Fronteiras, espaços e territorialidades (séculos XVII-XXI). Belém: EDUFPA, 2008, p. 51. 28 GUZMÁN, Décio de Alencar. “O inferno abreviado: evangelização e expansão portuguesa no Xingu (século XVII). In: CARDOZO, Alirio e SOUZA, César Martins de (orgs.). Histórias do Xingu: Fronteiras, espaços e territorialidades (séculos XVII-XXI). Belém: EDUFPA, 2008, pp. 37-38. 29 CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., pp. 52-53. 27
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Quando da ocorrência da repartição das aldeias feitas a partir de uma carta régia datada de 19 de março de 1693, a região do rio Xingu passa a ser jurisdição missionária dos recémchegados capuchos da Piedade, que haviam sido designados para atuar no trabalho catequético nos arredores da Fortaleza do Gurupá. Segue-se a essa divisão uma disputa envolvendo os jesuítas e os capuchos da Piedade, por conta da jurisdição desta região, conflitos esses que denotam um embate que engloba questões complexas da ordem da relação homem e natureza, pois envolvem uma disputa por territórios e também pelo acesso a recursos naturais, no caso as “drogas do sertão”, além de uma disputa política, pois relaciona redes locais de poder que entram em conflito, redes estas que possuem uma relativa autonomia, a partir de uma concepção corporativa30. Antes de adentrarmos nessa disputa entre os missionários, devemos atentar para a importância estratégica da Fortaleza do Gurupá, tanto no sentido de defesa do território, como também social e econômico. Arthur Vianna assinalou que as fortificações eram erigidas para atender objetivos variados, entre eles, a defesa do território contra invasores europeus, por exemplo, ingleses e holandeses; para assinalar a expansão geográfica engendrada pelos portugueses ao sertão amazônico; e também como postos de fiscalização das coletas de “drogas” e da captura de índios efetuadas pelos colonos, valendo-se essas fortificações de vantagens topográficas em alguns pontos dos rios, facilitando assim a ação do fisco31. Para Isabella Ferreira, as fortificações erigidas durante o período colonial atendiam ao que ela classificou como uma “situação de fronteira”, recebendo dessa maneira sentidos diversos de uma cultura eminentemente bélica, servindo também como pontos de poder e de definição de identidades. As fortalezas representavam os limites físicos do território, e também mostravam uma região maior onde haveria de se estabelecer um modus vivendi, dentro do mundo colonial, que nesse caso seria o sertão mais remoto, ainda por ser explorado32. Assim as fortalezas eram erigidas em contraposição às zonas de povoamento com maior densidade populacional considerada branca, dessa forma distantes da presença de marcos da ocupação portuguesa e do seu sentido de civilidade, como se colocavam as principais cidades coloniais da região, Belém e São Luís, muito embora a própria ereção de fortalezas em rincões da Amazônia denotasse um ícone português de civilização. Essas fortalezas, como por exemplo a do
FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. “Introdução: Desenhando perspectivas e ampliando abordagens – De O Antigo Regime nos trópicos a Na trama das redes”. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). Na trama das redes: política e negócios no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, pp. 15-16. 31 VIANNA, Arthur. “As fortificações da Amazônia I – As fortificações do Pará”. In: Annaes da Bibliotheca e Archivo Publico do Pará, Tomo IV, 1905, pp. 227-228. 32 FERREIRA, Isabella Fagundes Braga. “Fortificações amazônicas nas cartas de Mendonça Furtado (17511759). In: COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Azevedo; PRADO, Geraldo (orgs.) Meandros da história: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, pp. 41-42. 30
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Gurupá, situavam-se na embocadura ou nas extremidades dos rios amazônicos, incluindo o próprio rio Amazonas, servindo como entrepostos de territórios já conhecidos, resguardando assim a sua integridade, e também como “portas ao sertão”, daquilo que era desconhecido e do que se buscava através das expedições, as “drogas do sertão”33. Nesse sentido, a Coroa portuguesa ao utilizar a Fortaleza do Gurupá como marco para as entradas ao sertão, e de defesa das áreas conhecidas, através de uma resolução tomada pelo rei D. Pedro II na forma de um Alvará, datado de 23 de março de 1688, deflagra um conflito entre os jesuítas e o capitão-mor do Gurupá, que ao se estender irá resultar no pedido deste para que fossem enviados do Reino os capuchos da Piedade, para trabalharem no Gurupá e nas suas proximidades, resultando em futuros embates havidos entre as duas casas religiosas por conta das aldeias do rio Xingu. Este Alvará determinava que todas as canoas que fossem ao sertão para a extração do cravo e do cacau, quando retornassem deveriam ser examinadas, tanto em Belém como na Fortaleza do Gurupá, evitando que nessas canoas fossem transportados índios feitos cativos contra as leis promulgadas pelo rei acerca da liberdade dos índios. O Alvará também obrigava as canoas que fossem ao sertão a apresentar na Fortaleza de Gurupá uma licença concedida pelo capitãomor do Pará e, quando retornassem, deveriam passar novamente pela Fortaleza para que o capitãomor do Gurupá concedesse a licença para o prosseguimento da viagem; caso não cumprissem essa determinação, deveriam os infratores serem punidos34. Mas, este Alvará com forma de lei, vinha apenas confirmar um dos artigos do regimento do capitão-mor de Gurupá, que fora deixado pelo antigo capitão-mor Gonsalo de Lemos Mascarenhas, aprovado pelo rei no mesmo dia da publicação do Alvará35. Confirmava-se assim um poder central e regulador na figura do capitão-mor do Gurupá, que com o passar dos anos entrou em conflito com os missionários jesuítas, culminando com a chegada dos capuchos da Piedade para trabalharem nas missões do entorno da Fortaleza do Gurupá. Os padres da Companhia de Jesus, após a confirmação do regimento do capitão-mor do Gurupá e do Alvará que determinava a passagem de todas as canoas pela dita fortaleza, sofreram acusações de se recusarem a registrar as suas canoas na citada fortaleza. Em carta datada de 17 de outubro de 1690, o rei faz saber ao governador Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que o antecessor deste, Arthur de Sá e Menezes lhe havia escrito indicando que uma canoa que entrara no rio Amazonas não havia passado na Fortaleza do Gurupá e, fazendo-se diligências para identificar as pessoas que estavam na canoa, descobriu-se que nela se encontrava um padre da
33
Ibidem. “Alvará em forma de Ley sobre as Canoas que forem a saque do páo cravo e cacao do Sertão do Maranhão”. 23 de março de 1688. ABN, vol. 66, 1948, pp. 87-88. 35 “Regimento de que hão de uzar os Capitães da Capitania do Gurupá”. 23 de março de 1688. ABN, vol. 66, 1948, pp. 89-90. 34
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Companhia de Jesus; reclamando então o governador ao Prelado dos jesuítas, respondeu este que não sabia que suas canoas estavam obrigadas a serem registradas. O rei então informa ao governador que os religiosos por serem vassalos estavam sujeitos ao registro dos seus bens na Alfândega, e que isto não seria apenas da utilidade da Fazenda Real e sim também da liberdade dos índios, parecendo assim com essas atitudes que os missionários estavam indo contra o zelo da liberdade dos índios, já que, através de cartas passada pelo Ouvidor geral ao Conselho Ultramarino, este denunciava a passagem de uma canoa sem registro e com muitos escravos índios, sendo alguns dos padres da Companhia de Jesus; manda também estranhar ao capitão-mor da fortaleza não interceptar a canoa, e nem tentar identificá-la, assim como o que transportava, para poder denunciar ao Ouvidor geral36. Cabe aqui uma informação dada por Arthur Vianna sobre a inutilidade estratégica do Fortaleza do Gurupá. Segundo Vianna, nas proximidades da fortaleza havia uma multiplicidade de ilhas e conseqüentemente de furos, igarapés e canais entre as ilhas, que facilitariam a passagem de pequenas embarcações, sem serem vistas a partir da fortaleza37. Possivelmente após esse caso da canoa não registrada na Fortaleza do Gurupá, as relações entre os jesuítas, que estavam atuando no trabalho missionário nas regiões próximas a fortaleza, e o capitão-mor do Gurupá, ficaram estremecidas, ao ponto do capitão-mor incutir mais denúncias contra os jesuítas, levando a resolução de enviarem para a Fortaleza do Gurupá outra ordem missionária. Assim, em 1691, o rei envia carta ao governador do Maranhão, Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, informando que por conta do capitão-mor do Gurupá, Manoel Guedes Aranha, se queixar dos missionários jesuítas, relatando que estes estavam embaraçando e proibindo a existência de aldeias de índios junto da Fortaleza, e que assim estavam sendo descidos índios por conta própria pelo capitão-mor, determinava que fosse reedificado o convento que existia antes na Fortaleza do Gurupá, para que assim fossem abrigados os religiosos capuchos da Província da Piedade (pertencentes à Ordem dos Franciscanos) ou os Carmelitas descalços, assumindo o ofício de trabalhar nas missões dessa região38.
“Sobre as canoas dos Padres da Companhia irem a registrar, e que tenhão entendido são vassallos”. 17 de outubro de 1690. ABN, vol. 66, 1948, pp. 108. O rei também envia uma carta ao capitão-mor da Fortaleza do Gurupá estranhando o seu procedimento de não interceptar a canoa. “Sobre uma Canôa em que hia um Padre da Companhia não chegar aresgistar pela Fortaleza do Rio das Amasonas e se lhe declara que os bens dos ditos Padres como vassalos estão sujeitos as registo, e se lhe estranha não haver constrangido”. 17 de outubro de 1690. ABN, vol. 66, 1948, p. 109. 37 VIANNA, Arthur. Op. cit., p. 237. 38 “Sobre se reedificar o Convento da Fortaleza do Gurupá para os Padres Missionarios”. 19 de fevereiro de 1691. ABN, vol. 66, 1948, pp. 122-123. O rei enviou o mesmo documento para o próprio capitão-mor Manoel Guedes Aranha, “Sobre se reedificar no Gurupá o Convento que de antes havia para os Missionarios Piedosos ou Carmelitas”. 19 de fevereiro de 1691. ABN, vol. 66, 1948, p. 123. 36
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Percebemos que nesse documento ainda havia uma dúvida sobre quais missionários iriam atuar na região da Fortaleza do Gurupá, dúvida essa que foi dissipada quando o rei envia carta ao governador, informando sobre o procedimento de repartição das aldeias em distritos a serem trabalhados por cada ordem religiosa, aparecendo nesta repartição os capuchos da Província da Piedade. Conjecturamos que os Capuchos da Piedade foram designados para essa missão a partir da ida de Manoel Guedes Aranha a Lisboa, que segundo Karl Arenz e Diogo Silva, já havia sido capitão-mor do Pará, e fora incumbido de ser o Procurador da Câmara de Belém em Lisboa, durante as negociações da promulgação do Regimento das Missões de 168639, mantendo assim contato para que esta Província franciscana viesse atuar na região do Gurupá, que estava sob sua jurisdição. A região destinada aos piedosos compreendia a Fortaleza do Gurupá e as aldeias que estivessem junto da fortaleza, e mais as terras para cima da aldeia de Urubucoara, e subindo pelo rio Amazonas, ficariam com a administração dos rios Xingu, Trombetas e do Gueribi. Interessante que neste documento o rei mostrava uma atenção especial quanto aos índios da região do rio Xingu, que ficariam sob a responsabilidade dos capuchos da Piedade, e que antes estavam sob administração dos jesuítas. De acordo com o rei, os índios não deviam se apartar do rio Xingu, mas sim povoar a margem do rio, sendo aldeados e domesticados pelos missionários, para que assim pudessem mostrar as riquezas existentes no sertão do rio Xingu, riquezas essas que haviam sido propagadas pelo padre Christovão da Cunha40. Porém, essa repartição foi motivo de disputas entre os capuchos da Piedade e os jesuítas, sobre o controle das aldeias da região do rio Xingu, já que os jesuítas não estavam conformados com essa nova divisão, devendo esse conflito ser resolvido pelo governador e pelo rei. Um ano após a repartição das missões o rei envia carta ao governador informando que, como um navio havia se perdido, extraviando-se as cartas que tinham sido mandadas pelo Conselho Ultramarino, e que se podia ter mudado os acontecimentos sobre as missões no Estado do Maranhão, relatados em 23 de junho de 1693 pelo governador em carta enviada ao rei, não estava informado sobre o que estava acontecendo na colônia. Assim, por conta dessa falta de informações, o rei deixava nas mãos do governador o arbítrio de todas as resoluções acerca das missões, não devendo haver mais “prejuízos” para a Coroa, acatando assim o que o governador determinasse. Um dos
ARENZ, Karl Heinz; SILVA, Diogo Costa. “Levar a luz de Nossa Santa Fé aos sertões de muita gentilidade”: Fundação e consolidação da missão jesuíta na Amazônia portuguesa (século XVII). Belém: Editora Açaí, 2012, p. 61. 40 “Sobre mandar separar distritos e encarregar aos Padres de Santo Antonio as missões do Cabo Norte”. 19 de março de 1693. ABN, vol. 66, 1948, pp. 142-144. 39
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principais pontos de consideração era a discórdia havida entre os jesuítas e os capuchos da Piedade, sobre a repartição das missões que o rei mandou declarar acerca do rio Xingu41. Pedia então o rei que o governador procedesse da melhor forma possível para restabelecer a paz e a concórdia entre os religiosos, para que assim pudessem continuar seus trabalhos missionários de acordo com as doutrinas que professavam no seu instituto, sem haver assim escândalo com os seculares; com relação à dúvida criada acerca da repartição dos distritos, dizia o rei que não era sua intenção tirar os jesuítas do rio Xingu, e nem os privar das aldeias que estavam sob sua administração no dito rio, querendo dar aos piedosos apenas as aldeias que ficavam nas terras do rio Xingu que desceu Manoel Guedes Aranha, por entender que estas pertenciam a Fortaleza do Gurupá, juntamente com outra antiga aldeia que já havia na dita fortaleza42. Mesmo tendo dito que deixava a cargo do governador a resolução sobre esse ponto, de certa forma neste documento o monarca português já mostrava um indicativo do que o governador devia fazer com relação a esta demanda, pois informava que os jesuítas ficariam com a sua aldeia do Xingu com obrigação das missões do dito rio, pelo seu interior, e dos rios que desaguam em sua corrente, e os piedosos com as aldeias referidas, e com os mais termos (terras) que se incluem em sua repartição. Mandava assim que os jesuítas, que com muita razão queriam a dita missão, segundo o rei, procurassem fazer o seu trabalho por todo o interior, fazendo descimentos e criando novas aldeias nas partes em que fosse mais conveniente para o trato e comércio no referido rio43. Mesmo após a confirmação do rei sobre a resolução da repartição das missões, e a sua saída dos arredores da Fortaleza do Gurupá, os conflitos entre os missionários jesuítas e o capitãomor do Gurupá se prolongaram por anos, por conta dos registros das canoas dos religiosos que passavam pela fortaleza. No ano de 1699, o então capitão-mor do Gurupá Eugenio Monteiro, desejoso de cumprir o que determinava o regimento de capitão-mor da Fortaleza do Gurupá, e a ordem passada em 17 de outubro de 1690, queixava-se ao rei sobre a não observância por parte dos religiosos de registrarem as suas canoas. O rei então envia carta ao governador do Maranhão, lhe informando do ocorrido, e ordenando que agisse conforme a lei, indo contra aqueles que estavam desobedecendo às ordens reais, e contra o bom andamento do governo do Estado44.
“Carta do rei para o Governador do Estado do Maranhão”. 26 de novembro de 1694. Biblioteca Nacional, Códice 11, 2, 034, Regimentos e leis sobre o Estado do Maranhão (1724), doc. 30, p. 77. 42 Ibidem. 43 Ibidem. 44 “Sobre a queixa que fez o Capitão da Fortaleza do Gurupá da repugnancia que fazem os Missionarios a registrarem suas Canoas”. 20 de novembro de 1699. ABN, vol. 66, 1948, pp. 193. O rei também envia uma carta com o mesmo conteúdo para o capitão-mor do Gurupá, e para o Bispo do Maranhão, informando sua decisão, pedindo que também se enviasse a sua ordem para o Superior das Missões da Companhia de Jesus, para o Comissário dos religiosos de Nossa Senhora das Mercês, e outra ao Comissário dos Capuchos de 41
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Essas disputas por conta das aldeias da região do Xingu, entre jesuítas e capuchos da Piedade, pedem que façamos uma reflexão acerca da relação entre homem e natureza, pois, essa relação também está na gênese desses conflitos, já que a exploração de recursos naturais e o acesso ao chamado sertão amazônico, tanto para o contato com os povos indígenas, como também para uma forma de expansão de fronteiras, nesse caso, fronteira de influência e dominação, se faz bastante premente. Pensemos sobre essa relação homem e natureza.
O Xingu e a relação homem-natureza: religiosos, a mão-de-obra indígena e o cravo
Ao analisar a atuação dos religiosos, percebemos as interferências que estes promoveram através de sua ação na sociedade colonial, principalmente com relação às sociedades indígenas. Estas interferências são percebidas a partir do momento em que os indígenas são aldeados, ou seja, transferidos de sua localidade e levados para outro local, a chamada aldeia, que era administrada pelos religiosos. No caso dos religiosos e dos indígenas, cada um dos dois sectores possuía uma visão distinta da natureza; para os missionários, a da Amazônia era exuberante, e também destinada à exploração e cultivo de alimentos para o comércio; já para os indígenas, a ligação com a floresta estaria atrelada ao mito, a uma visão de natureza integrada na sociedade. Com relação à concepção de natureza presente nos relatos dos primeiros descobridores e viajantes, esteve esta primeiramente vinculada ao conceito de criação de Deus, servindo assim para usufruto destes conquistadores. Assim cria-se todo um imaginário sobre um paraíso cristão na terra, que estava em vigência durante o período do descobrimento do Novo Mundo45. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, os motivos edênicos, tiveram forte influência nesse tempo de descoberta e da colonização do Brasil:
“Os descobridores, povoadores, aventureiros, o que muitas vezes vieram buscar e não raro, acabaram encontrando nas ilhas e terra firme do Mar Oceano, foi uma espécie de cenário ideal, feito de experiências, mitologias ou nostalgias ancestrais”46.
Santo Antonio; estranhamente não se menciona os capuchos da Piedade, talvez por estarem sob a proteção do capitão-mor do Gurupá. ABN, vol. 66, 1948, pp. 193-195. 45 CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. “Paisagens, historicidade e ambiente: as várias naturezas da natureza”. In: Confluenze – Rivista di Studi Iberoamericani. Bologna: Università di Bologna, vol. 1, Nº 1, 2009, p. 152. 46 HOLANDA, Sérgio Buarque. Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1969 (2° edição), p. 304.
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No caso da Amazônia, predominava a visão de um lugar magnífico, com atrativos econômicos. Segundo Ângela Domingues, o sertão amazônico significava a floresta exuberante, um local de difícil acesso e habitado por “feras e bestas”, e também o local das conhecidas “drogas do sertão”, e de madeiras, produtos naturais apreciados pelos colonos para a importação. Mas esse sertão era também uma fonte de mão-de-obra indígena, sendo utilizada por todos os atores sociais atuantes na Amazônia colonial. Dessa forma grupos de moradores ou tropas organizadas entravam pelo sertão à procura de índios, na forma das leis vigentes sobre esse tipo de captura, ou até mesmo de modo ilegal, sendo toda a sociedade colonial, tanto laica quanto eclesiástica, beneficiada por esse tráfico de escravos. Essa mão-de-obra indígena era necessária para os colonos, ou missionários, para trabalhos de exploração das “drogas do sertão”, e também para o cultivo de produtos agrícolas47. Dessa forma os relatos sobre a natureza amazônica durante os primeiros séculos de ocupação reservam uma especial atenção a mostrar a exuberância da floresta e suas riquezas, mas também, principalmente a partir da segunda metade do século XVII, mostrar como essas riquezas poderiam ser manipuladas para o beneficio da Coroa e dos colonos que estavam se deslocando para ocupar a região. Para efeito deste nosso objeto de estudo, falaremos como era vista a região do rio Xingu, de acordo com a concepção dos missionários, e das autoridades coloniais. O rio Xingu foi descrito no século XVII pelo jesuíta João Felipe Bettendorff da seguinte maneira: “As primeiras terras que seguem para a riba da Capitania do Gurupá para banda sul, são as do belo rio do Xingu, que os índios também chamam Paranayba (...) São as terras boas para tudo se não houvesse a praga de formigas, e sem embargo disso, são ricas para tabaco. Seus ares são sadios, suas águas até as do mesmo rio excelentes, por descerem por cachoeiras e areias (...) Não falta caça e mel em seus matos, nem peixes em seus rios, além de boas tartarugas em seu tempo”48. Ainda utilizando o relato de Bettendorff, este afirmou que a realidade natural da bacia do rio Xingu não foi um grande obstáculo para a fixação do trabalho dos jesuítas. O trabalho foi ajudado pelas qualidades naturais do Xingu, que possuía águas claras e com tonalidades turquesa, com grande abundância de peixes, facilitando a pesca. As praias, encontradas à época do verão DOMINGUES, Ângela. “Régulos e absolutos”: episódios de multiculturalismo e intermediação no norte do Brasil (meados do século XVIII). In: MONTEIRO, Rodrigo Bentes e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Império de várias faces: relações de poder no mundo Ibérico da Época Moderna. São Paulo: Alameda, 2009, pp. 120-123. 48 BETTENDORFF, João Felipe, SJ. Crônica da missão dos Padres da Companhia de Jesus no Maranhão [1698]. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves/Secretaria de Estado da Cultura, 1990, p. 35. 47
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amazônico, período com menores chuvas, eram povoadas por tartarugas, principalmente de outubro em diante, em grande número e também por arraias. As suas águas também teriam efeitos medicinais, para os que sofressem de “dor de pedra”, podendo-se somente navegar no inverno de forma segura, por causa das muitas cachoeiras, que nesse período ficavam cobertas49. Essa região do rio Xingu é caracterizada por possuir grande diversidade, justamente por ser uma região de transição ecológica, dividida entre savanas e florestas, mais secas ao sul, tendo a floresta úmida ao norte, e cerrados, campos, florestas de igapó, florestas de terra firme, localizadas sobre as Terras pretas de índios.50. Além da descrição da natureza, o jesuíta Bettendorff fala sobre os habitantes do rio Xingu. Habitavam a região, segundo o missionário, “várias nações de língua geral”, como os Jurunas, Guayapis, Taconhapés, e Pacajás51. Vemos no relato do missionário jesuíta uma descrição detalhada quanto às características da natureza do rio Xingu e de seus habitantes, levando-nos a refletir sobre como os religiosos se portavam frente à natureza e aos seus habitantes naturais, principalmente após receberem liberdade para exercerem uma ingerência nos recursos naturais e junto dos indígenas. Essa relação é perceptível nas leis de 1° de abril de 1680, que entregavam a jurisdição dos indígenas nas mãos dos jesuítas, e declarava a liberdade dos índios, proibindo todos os cativeiros por meios de resgates ou de guerras justas, lei esta que será depois derrogada por outra, datada de 28 de abril de 168852. Dizia a Lei de 1680 que os religiosos deveriam ir fazer residências e igrejas nos sertões, para que assim os índios vivessem na doutrina cristã e fossem exortados a cultivar as terras, conforme a sua fecundidade e capacidade, aproveitando destas terras as chamadas “drogas do sertão” e os frutos oferecidos pela exuberante natureza amazônica. Os índios, com esse cultivo e exploração dos recursos naturais, poderiam assim ajudar os portugueses a comutarem e também a conduzirem esses produtos através dos rios, já que teriam sobre eles um grande conhecimento53. Mas, além da preocupação com relação aos índios aldeados, e como estes deveriam produzir lavouras, o rei também demonstrava preocupação com relação à extração das “drogas do sertão”, para que fosse feita de uma forma mais racional, mantendo assim os lucros da Coroa. E entre essas “drogas” estava o cravo, que era bastante abundante na região do rio Xingu, sendo assim, juntamente com o cacau, uma das principais receitas da Fazenda Real da Capitania do Pará, tendo desde a década de 1670 um crescimento considerável na arrecadação dos dízimos desses
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Ibidem, p. 115. GUZMÁN, Décio de Alencar. Op. cit., p. 42. 51 BETTENDORFF, João Felipe, SJ. Op. cit., p. 115-116, 272. 52 “Alvará em forma de Ley expedido pelo Secretario de Estado que deroga as demais leys que se hão passado sobre os Indios do Maranhão”. 28 de abril de 1688. ABN, vol. 66, 1948, pp. 97-101. 53 “Provisão sobre a repartição dos Indios do Maranhão e se encarregar a conversão d’aquella gentilidade aos Religiosos da Companhia de Jesus”. 1° de Abril de 1680. ABN, vol. 66, 1948, pp. 51-56. 50
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dois produtos54. Assim medidas eram tomadas pela Coroa com o intuito de diminuir o apetite dos moradores e de missionários ao lançarem-se na extração do cravo. Uma dessas medidas aparece em correspondência com o governador Arthur de Sá e Menezes. Em carta a este, o rei informava que havia recebido informações do seu antecessor, Gomes Freire de Andrade, sobre a descoberta de gêneros e sobre a fertilidade do solo, sendo o principal produto o cravo. Dessa forma o rei temia a sua possível extinção, comparando com a grande exploração do pau-brasil, que o deixara praticamente extinto no Estado do Brasil. Ordenava então que o governador interviesse não deixando que nos primeiros dez anos o cortassem das árvores novas, e, daquelas já cortadas, seriam necessários vinte anos para que o pudessem ser novamente; as remessas de cravo enviadas, não deveriam exceder a cada ano a quantia de três a quatro mil arrobas, bastando essa quantia para prover a Europa. Entretanto, mesmo estipulando regras sobre o corte do cravo e da quantidade que deveria ser enviada ao reino, o rei deixava livre campo a todos que desejavam ir ao sertão para a colheita do cravo, embora viesse a lembrar, dois anos depois, o registro de todas as canoas que fossem ao sertão nesse objectivo, tanto em Belém quanto na Fortaleza do Gurupá55. Em 1688, novamente o rei vem declarar ao governador que se fizesse cumprir o que já havia determinado sobre a extração do cravo, respeitando os prazos para o corte deste produto, apesar dos protestos dos moradores56. Gomes Freire de Andrade também chega a sugerir ao soberano que uma das formas de restringir essa extracção, seria limitar a exploração deste produto pelas ordens missionárias, já denotando um embate entre a autoridade colonial e os missionários por conta da exploração dos recursos naturais dos sertões amazônicos57. Podemos inferir que, no caso das determinações do rei com relação ao corte e extração do cravo na Amazônia, a principal preocupação real seria de motivo econômico, demonstrado quando afirma que essa extração deveria ser regrada para que não ocorresse a extinção, assim como já estava ocorrendo com o pau-brasil, exaurindo assim uma das formas de renda da Coroa. Portanto, essa determinação do monarca português visava um ideal económico e regulador da utilização de recursos naturais, acerca das investidas dos colonos e de missionários, cobiçosos de possuir o acesso ao sertão para a extração das drogas e aos índios que habitavam na hinterlândia. Mesmo com a preocupação do monarca português quanto à questão da extração racional do cravo, o apetite dos moradores pelo valorizado produto e pela mão-de-obra indígena no rio 54
CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., pp. 66-67. “Sobre a fertilidade das terras daquelle Estado, generos descobertos e que se não possa cortar cravo estes primeiros dez Annos”. 24 de novembro de 1686. ABN, vol. 66, 1948, pp. 75-76. Sobre o Alvará do registro das canoas, ver nota 16. 56 “Sobre dar a execução a ordem de se não cortar cravo das arvores novas espaço de dez annos”. 14 de maio de 1688. ABN, vol. 66, 1948, p. 104. 57 CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., pp. 67-68. 55
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Xingu não diminuía, porém, sempre vigiado de perto pelos religiosos. Em carta enviada ao Governador do Maranhão, o rei concede licença para o capitão-mor Luiz Pereira descer índios para o serviço de moradores da aldeia do Xingu, conforme pedido feito pelo mesmo. O interesse na concessão real é a justificativa dada por Luiz Pereira para efetuar o descimento, afirmando que os novos moradores do Xingu necessitavam de índios, pois estes eram imprescindíveis aos colonos nos trabalhos de lavouras e nas entradas nos matos para buscar cravo e cacau. Ao oferecer essa concessão o rei estipulava que os descimentos deveriam ser examinados por missionário, devendo ser doutrinados por este, repartindo os ditos índios somente com Luiz Pereira e os moradores da colônia do Xingu58.
Conclusão Podemos concluir, mesmo que de maneira preliminar, que a complexidade das relações demonstradas aqui entre religiosos de distintas doutrinas (jesuítas e capuchos da Piedade), autoridades coloniais, como o Governador do Maranhão e o capitão-mor do Gurupá, e indígenas, eram pautadas a partir da tópica econômica de exploração das “drogas” e do acesso a mão-deobra indígena, produzindo assim uma multiplicidade de sentidos da relação homem-natureza. Tanto religiosos, como colonos, buscavam montar redes de alianças, para que assim pudessem levar a cabo seus projetos de arregimentação de pessoas e riquezas, utilizando para este fim acusações mútuas, pedidos ao rei para o descimento de índios, e concessões de certos privilégios. Podemos citar dois exemplos para ilustrar esse tipo de situação. Em 1699, o rei D. Pedro II envia uma carta ao governador Antonio Albuquerque de Carvalho, respondendo a carta que este havia mandado ao Conselho Ultramarino, se queixando dos missionários, entretanto excetuando os capuchos da Piedade dessas queixas, informando que os religiosos traziam os índios continuamente ocupados na extração das drogas, assim negando-os aos moradores e aos serviços reais. Ordenava então o rei que o governador averiguasse tal situação, advertindo os religiosos caso estivessem excedendo o número de índios ou faltassem com o socorro de mão-deobra aos moradores, mas, se não incorressem nessas culpas, o governador não deveria tomar as denúncias como verdadeiras, sempre devendo aconselhar os missionários a não caírem nelas, procedendo com caridade para com os moradores, não usando os índios para serviços temporais ou em forma de comércio, deixando-os para conservação e defesa do Estado59.
“Sobre se conceder licença a Luiz Pereira para decer todo o Gentio que poder para o serviço dos moradores da Aldea Chingú”. 5 de outubro de 1708. ABN, vol. 67, 1948, pp. 28-29. 59 “Sobre a negação que os Missionarios excepto os Piedosos fazem dos Indios aos moradores trazendo-os continuamente ocupados na saca das drogas, e os manda adverter se abstenhão de todo o excesso”. 20 de novembro de 1699. ABN, vol. 66 (1948), pp. 194. 58
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Em outra situação, em carta enviada ao Superior dos missionários religiosos de Santo Antonio, com cópia ao Superior dos da Província da Piedade do Maranhão, o rei informa que havia recebido uma denúncia feita pelos Oficiais da Câmara da Capitania do Pará, queixando-se do procedimento dos religiosos da cidade de Belém, que mandavam pôr cerco em casas como pretexto para terem algum índio fora das suas missões em seu serviço voluntariamente, tirando alguns do domínio absoluto em que se achavam por estarem com o título de escravos, dizendo que são forros. Assim o rei pedia que o Superior advertisse os seus missionários que se abstivessem dos excessos que eram denunciados pelos moradores, por conta do risco de perderem sua imunidade, dizendo que deveriam requerer junto ao governador do Estado que mandasse pôr nas aldeias os índios que a eles pertencessem60. Essas acusações, conflitos e embates irão perdurar ao longo da primeira metade do século XVIII, culminando com a expulsão de jesuítas e capuchos da Conceição e da Piedade, em 1759, durante a administração do Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, o irmão do homem forte do ministério de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal.
“Sobre se lhe dizer advirta aos Missionarios seus Subditos se abstenhão do excesso com que occasionão as queixas daquelles povos”. 26 de setembro de 1705. ABN, vol. 66 (1948), pp. 266. 60
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Santo António, o santo de todo o mundo luso-hispânico (e não só) ISABEL DÂMASO SANTOS, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Resumo: A figura de Santo António ocupa um lugar especial na memória colectiva luso-hispânica, constituindo um caso particularmente interessante de formação, propagação e evolução de um culto religioso, que foi adquirindo múltiplas valências. Pela mão dos franciscanos, a imagem de Santo António tornou-se presente em todo o mundo, miscigenando-se com as diversas culturas locais nas quais se foi integrando. Santo António converteu-se, assim, num fenómeno histórico-religioso, com contornos muito particulares. Com efeito, verifica-se que o culto antoniano tem atravessado séculos e fronteiras, perpassando todas as classes sociais, cores e credos. O mundo luso-hispânico tem-se revelado um espaço privilegiado no que toca à multiplicidade de formas de expressão da devoção antoniana através de manifestações na arte, na literatura e nas tradições. Todos estes testemunhos, de cariz erudito e popular, têm contribuído para que a figura de Santo António permaneça tão viva no imaginário e na identidade cultural luso-hipânicos.
Abstract: The figure of St. Anthony holds a special place in the Luso-Hispanic collective memory, constituting an interesting case of formation, evolution and propagation of a religious cult that has acquired multiple valences. By the hand of the Franciscans, the image of St. Anthony became all over the world, amalgamating with the various local cultures in which it was integrated. St. Anthony became thus
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a religious-historical phenomenon, with very particular contours. Indeed, it appears that the cult Antoniano has crossed borders and centuries, permeating all social classes, colors and creeds. The Luso-Hispanic world has proved to be a privileged place giving the multiplicity of expressions of Saint Anthony devotion through manifestations in art, literature and traditions. All these testimonies, scholar and popular, have contributed to the figure of Saint Anthony drawn in Luso-hispanic imagery and cultural identity.
A figura de Santo António ocupa um lugar especial na memória colectiva luso-hispânica, constituindo um caso particularmente interessante de formação, propagação e evolução de um culto religioso. Inicialmente no seio da Ordem Franciscana, no âmbito da qual desempenhou um papel vital, complementando o carácter carismático de São Francisco, a figura de Santo António foi adquirindo múltiplas valências. O culto antoniano foi recebendo influências, ao longo dos tempos, tanto de outros cultos religiosos como de rituais pagãos, adquirindo novas características e conferindo ao santo atributos que os relatos hagiográficos medievais, entendidos como fontes histórico-biográficas61, não mencionam. O Liber Miraculorum, de finais do século XIV, constitui um marco fundamental no processo de difusão da biografia, da taumaturgia e da imagem de Santo António, na medida em que fixa para a posteridade grande parte dos dados biográficos e dos prodígios atribuídos a Santo António. Note-se que a franca maioria das biografias difundidas posteriormente, e algumas das que são ainda hoje publicadas, vão beber a esta fonte, que conheceu uma disseminação bastante pujante através de múltiplas cópias produzidas a partir do século XV, propagação intensificada depois pelo advento da imprensa. Um dos exemplos de circulação desta legenda consiste no manuscrito miscelâneo, de meados do século XV, conservado na Biblioteca Nacional de Espanha62 e no qual se concentram algumas obras de devoção em castelhano, com o título Espertamiento de la voluntad de Dios. 61
Vita Prima ou Assidua (Beati Antonii Vita Prima), 1232, escrita por franciscano paduano anónimo; Vita Secunda (Vita Sancti Antonii Confessoris), entre 1235 e 1240, de Julião de Spira; Dialogus (Dyalogus de gestis beati Antonii), 1245, escrita por anónimo franciscano italiano; Legenda Benignitas (Legenda Sancti Antonii presbyteris et confessoris), 1280, de João Peckham; Legenda Raimondina (Vita Sancti Patris Antonii de Padua), 1293, de Fr. Pierre de Raymond de Saint-Romain; Legenda Rigaldina (Vita Beati Antonii de Ordine Fratrum Minorum), entre 1298 e 1317, de Jean Rigauld; Liber Miraculorum Sancti Antonii, finais do século XIV, por autor anónimo. 62 Com a cota BNM 8744.
278 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ Uma parte deste códice, intitulada “Milagros que Nuestro Señor hizo por nuestro padre San Antonio”, apresenta vinte e nove milagres atribuídos a Santo António e retomados do Liber Miraculorum, matéria que tem sido estudada pela especialista María Jesús Lacarra63. Por outro lado, há que destacar a tradução portuguesa divulgada sob o título Florinhas de Santo António64 que, partindo da tradição do Liber Miraculorum, privilegia milagres ocorridos em Portugal. Ambos os exemplos ilustram a proliferação de textos de origem franciscana com o propósito de divulgar a vida e a taumaturgia do santo, contribuindo para a fixação da figura de Santo António no imaginário colectivo luso-espanhol. Na verdade, o culto antoniano difundiu-se enormemente graças à acção dos franciscanos e ao seu destacado labor no âmbito da fundação de hospitais, conventos e mosteiros sob a invocação do santo, um pouco por todo o território luso-espanhol. Esta vertente da actividade franciscana fez-se sentir desde cedo. Do século XV, por exemplo, datam o Convento de Santo António do Varatojo (Torres Vedras), mandado construir por devoção do rei D. Afonso V, assim como o Mosteiro de Santo António el Real, de Segóvia, que contou com o apoio e a devoção de duas rainhas: Dona Juana, segunda esposa de Enrique IV, que o mandou construir, e Isabel, a Católica, que o cedeu às clarissas franciscanas. De facto, a Ordem Franciscana com o apoio das monarquias ibéricas desempenhou sempre um papel determinante na divulgação do culto antoniano. Um caso emblemático desta conjugação de vontades é o complexo de Mafra, constituído por Basílica, Convento e Palácio, classificado como o maior ex-voto dedicado ao santo e mandado construir por D. João V, no início do século XVIII. Subjaz a esta edificação uma promessa feita pelo rei, que consistiu no pedido de nascimento de um herdeiro para o trono. Com efeito, não existindo descendência após dois anos de casamento com a austríaca D. Maria Ana Josefa, o rei decidiu dirigir um apelo a Santo António, comprometendo-se a construir um eremitério para albergar treze franciscanos da Província Eclesiástica da Arrábida. Em breve nasceria a primeira de seis filhos deste matrimónio, Maria Bárbara, que viria a casar com Fernando VI de Espanha. Assim, deu-se início ao cumprimento da promessa que, ao sabor do gosto exuberante do rei e às custas do ouro
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M. J. LACARRA, “Una colección inédita de Milagros de San Antonio de Padua: edición y estudio”, in Revista de Literatura Medieval, v. XIV/I (2002), pp. 9-33. 64 Pe. F. F. LOPES, “Livro dos Milagres ou Florinhas de Santo António de Lisboa”, in Fontes Franciscanas III. Santo António de Lisboa, Braga, Editorial Franciscana, 1998, v. III, pp. 71-140.
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proveniente do Brasil, seria convertido num projecto megalómano, expoente máximo do barroco em Portugal. O património arquitectónico relacionado com a figura de Santo António é vastíssimo, de notável valor e impossível de conter nestas páginas. Centremo-nos, por isso, em alguns exemplos localizados nas capitais da Península Ibérica. No caso de Lisboa, podemos reconhecer que um dos traços identitários da cidade é justamente o património arquitectónico e cultural antoniano, sob diferentes formas de expressão: monumentos relacionados com a sua vida na cidade e outros construídos em sua honra; toponímia; cerimónias religiosas específicas; ritos de festa na rua que envolvem toda a cidade e as suas estruturas, como a Câmara Municipal, o Patriarcado, os comerciantes, as colectividades recreativas dos bairros, especificamente os “Casamentos” e as “Marchas” de Santo António. Atentemos em monumentos relacionados com a vida do santo em Lisboa e que nos permitem compreender a sua trajectória biográfica nesta cidade: - Igreja-Casa de Santo António: monumento que preserva na cripta o lugar onde se crê que nasceu Santo António; guarda a imagem do século XVI que integra a procissão do dia 13 de Junho e que sobreviveu intacta à destruição provocada pelo terramoto de 1775; conserva uma relíquia de Santo António; exibe pinturas atribuídas ao pintor português Pedro Alexandrino, como a aparição do Menino Jesus, entre outras jóias artísticas. - Sé: templo edificado no início do século XII a partir de una mesquita existente, guarda a pia baptismal na qual o santo, ainda menino, recebeu o nome de Fernando (que mais tarde trocaria pelo de António, em Coimbra, quando ingressou na Ordem Franciscana); é também o lugar onde aprendeu as primeiras letras, a partir dos sete anos de idade. Na parede das escadarias que levam ao coro alto encontra-se cravada na parede uma cruz que o pequeno aprendiz terá esculpido com o seu dedo como gesto para afugentar o demónio que o atormentava. - Mosteiro de São Vicente de Fora: mosteiro da Ordem de Santo Agostinho onde ingressou com quinze anos e onde estudou durante dois anos, antes de ser transferido para Coimbra; conserva, para além do túmulo da sua mãe, a cela que o santo ocupava e que está transformada em capela. - Igreja de Santo António do Vale: erigida no local onde o santo terá descansado por instantes, em 1220, quando se encontrava em Lisboa, a caminho de Marrocos. Conta-se que o franciscano António se deteve naquele local quando descia do Mosteiro de São Vicente, onde
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ficara alojado, em direcção ao porto para embarcar. Esta pequena igreja conta com dois magníficos painéis de azulejos que retratam este episódio da vida do santo (a sua partida para Marrocos) e alguns milagres (a salvação do pai, o sermão aos peixes e o da Eucaristia). Para além destes monumentos, cenários de episódios biográficos de Santo António, importa elencar outros templos e organismos relacionados com a sua figura: - Museu de Santo António: contíguo à igreja, guarda obras de arte erudita e popular que reflectem a devoção ao santo; - Estátua em bronze, erigida no átrio em frente da igreja e do museu, que representa a figura do santo e alguns dos seus milagres. Foi realizada pelo escultor Soares Branco, e inaugurada dia 12 de Maio de 1982, momento em que recebeu a bênção do Papa João Paulo II; - Capela de Santo António do antigo Convento da Madre de Deus (actual Museu do Azulejo), onde se encontra um importante conjunto de pinturas atribuídas ao pintor setecentista André Gonçalves, e que representam episódios da vida e da taumaturgia do santo; - Capela de Santo António na Igreja de São Roque, que conta com valiosas pinturas do século XVIII atribuídas ao pintor Vieira Lusitano; - Museu Nacional de Arte Antiga, que reúne uma preciosa colecção de pintura e de escultura antonianas. Para além do espólio artístico e arquitectónico que acaba de se resumir, refiro ainda a forte presença de Santo António na toponímia da cidade de Lisboa, muito particularmente na Rua do Milagre de Santo António, no bairro de Alfama, junto ao Castelo de São Jorge, em alusão ao milagre que o santo terá operado nesse local quando veio a Lisboa para salvar o seu pai de ser injustamente enforcado. Com efeito, a íntima relação que Lisboa estabelece com Santo António decorre da condição privilegiada que a cidade assume por ter sido o berço de tão proeminente figura. Paralelamente, a autenticidade das suas origens no bairro de Alfama outorgou-lhe desde cedo o estatuto de amigo próximo dos lisboetas. Esta familiaridade poderá ter desencadeado as primeiras manifestações de devoção, particularmente no bairro de Alfama. Os bairros adjacentes à igreja tornaram-se rapidamente palco dos primeiros testemunhos de festa popular. Há notícia de que no ano de 1318 já havia festas em Lisboa com animados bailes em honra de Santo António, para complementar as celebrações religiosas da data da sua morte, no dia 13 de Junho.
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Actualmente os festejos em torno de Santo António envolvem toda a cidade e converteram-se também em momentos-chave das festas da própria cidade, articulando diferentes estruturas para a concretização de eventos como os Casamentos de Santo António ou as Marchas Populares. Estes espectáculos, que extravasam o sentido da figura de Santo António, constituem uma das vertentes dos festejos anuais que atingem o seu ponto alto na celebração litúrgica que tem lugar na Igreja de Santo António e na procissão que se lhe segue, reunindo grande números de devotos, que percorrem as ruas da zona. Cumpre-se também a distribuição dos pães, rito que remete para a acção social que caracteriza o culto antoniano e que congrega a entrega de muitos devotos. Pese embora a cidade de Madrid não usufrua desta marca identitária assente nas origens biográficas de Santo António, certo é que lhe dedica vários templos importantes e lhe presta culto com grande devoção. Detenhamo-nos nos principais templos que ali lhe são dedicados: - Iglesia de San Antonio de los Portugueses / Alemanes: fundada em 1604, pelo rei Felipe III de Espanha (Filipe II de Portugal), juntamente com o Hospital, a pedido do Conselho de Portugal, com a finalidade de prestar auxílio, físico e espiritual, quer aos súbditos portugueses residentes em Madrid, quer àqueles que visitavam a cidade. Estavam também contemplados os presos portugueses. A actividade do hospital e da igreja ficou a cargo da Hermandad de San Antonio, sob o domínio do Conselho de Portugal, tomando o rei Filipe III como fundador e patrono. Aliás, o patrono desta igreja é o rei, sendo D. Juan Carlos o actual patrono. Após a separação das coroas portuguesa e espanhola, em 1640 de facto e em 1668 de direito, o hospital e a igreja ficaram destinados ao amparo e à conversão de alemães, por vontade da rainha Mariana de Áustria, também ela de origem alemã. Considerada uma pérola artística inexplicavelmente desconhecida até da maioria dos madrilenos, esta igreja encerra um interesse identitário do ponto de vista histórico-político no que toca às relações de soberania entre Portugal e Espanha. Para além da talha dourada dos altares, há que destacar os magníficos frescos que cobrem integralmente as paredes da igreja, de planta oval. Refiro-me aos frescos da autoria de Juan Carreño de Miranda e Francisco Rizzi, mas sobretudo aos que Luca Giordano realizou em forma de cartões para tapeçaria, bem ao gosto italiano, representando alguns dos milagres mais emblemáticos de Santo António. - Iglesia de San Antonio de la Florida: mandada construir em 1720, foi destruída em 1768, devido a obras de reordenamento do território, tendo-se dado início à construção de uma nova ermida, que viria a ser igualmente destruída em 1792, devido a uma nova remodelação urbanística
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da zona. Esse mesmo ano, o rei Carlos V lança a primeira pedra da construção da terceira ermida que estaria concluída em 1799, contando com pinturas a fresco da autoria de Francisco de Goya. Destaca-se a pintura da cúpula na qual se representa o milagre que Santo António operou quando se deslocou a Lisboa para salvar o pai de ser injustamente enforcado, e que tem sido objecto de estudo não só do ponto de vista artístico como também interpretativo do tema abordado. A ermida foi aberta ao culto regular a partir de 1881, o que provocaria danos nas pinturas de Goya. Assim, em 1929 foi inaugurada uma ermida exactamente igual, erigida a poucos metros, onde têm lugar os ofícios religiosos, convertendo-se a original em museu e panteão do pintor. A partir de meados do século XIX, foi aumentando o hábito de festejar o Santo António, no dia 13 de Junho, com missa, procissão e particular devoção das costureiras que aqui acorriam para pedir noivo ao santo. - Iglesia de San Antonio del Retiro: de traços modernos, forma parte do convento franciscano que garante o culto nesta zona da cidade. - Iglesia de San Antonio de Cuatro Caminos: de meados do século XX, foi construída com o objectivo de prestar auxílio à população carenciada deste bairro de subúrbio, contando com o apoio incondicional de uma benemérita de profundo espírito franciscano, María Carmen de Córdoba y Pérez de Barradas, a Condessa de Gavia, que gostava de ser conhecida como “fray Carmela”. - Iglesia de Santa Cruz (San Antonio, el guindero): na Iglesia de Santa Cruz, presta-se devoção a Santo António, “el guindero” (o das ginjas)65, a partir de um acontecimento milagroso que se crê tenha ocorrido no início do século XVIII. Conta-se que um lavrador vinha a subir a Cuesta de la Veja, zona íngreme nas margens do rio Manzanares, montado no seu burro carregado de ginjas, a caminho do mercado. O burro assustou-se, começou a dar coices descontroladamente e acabou por fazer jorrar as ginjas pelos campos. O homem, desesperado, suplicou o auxílio de Santo António. De repente, apareceu-lhe um frade franciscano que tentou tranquilizá-lo, dizendolhe que o ajudaria a apanhar as ginjas. Surpreendentemente, acabaram por encher os recipientes com ginjas frescas reluzentes, como antes de terem sido derramadas. Muito agradecido, o homem quis oferecer uma cesta de ginjas ao frade, que lhe disse que as fosse entregar mais tarde à Iglesia de San Nicolás, onde ele estaria à sua espera. Após o negócio no mercado, e já de regresso a casa, o comerciante dirigiu-se à igreja para deixar a sua oferta. No entanto, aí lhe asseguraram que não havia nessa igreja nenhum frade franciscano. Depois de grande insistência da sua parte,
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Sendo difícil uma tradução mais próxima do termo espanhol, esta expressão traduz o sentido da situação narrada.
283 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ confirmaram-lhe:”Aquí no hay más fraile que éste!”66, apontando-lhe um quadro com o retrato de Santo António. Aproximando-se do quadro, o agricultor verificou que o frade que estava representado no quadro era exactamente aquele que o tinha ajudado a recuperar as ginjas. Deixou a cesta com as ginjas a seus pés e foi proclamar o milagre. A partir deste acontecimento, intensificou-se a veneração ao santo através deste quadro. Em 1720 criou-se a Real e Ilustre Congregación de San Antonio de Padua “El Guindero” para zelar pelo culto ao santo. O quadro permaneceu na Iglesia de San Nicolás até 1806, quando foi levado para a Iglesia de Santa María, até ser derrubada a igreja e transferido o quadro para a Iglesia del Sacramento (Bernardas Recolectas). Em 1911 foi levado para a cripta da Catedral de Almudena e em 1941 chegou este quadro à Iglesia de Santa Cruz onde se mantém, ladeado pelas pinturas a óleo de Emilio Tudanca, de 1962, que representam os dois momentos importantes desta lenda. À esquerda a cena do derrame das ginjas, à direita a situação do reconhecimento da figura de Santo António. Na festa anual, no dia 13 de Junho, são distribuídos no fim das missas cestos ou pequenos sacos com ginjas e pães. Seja em Lisboa seja em Madrid, seja um pouco por todo o território luso-espanhol, a figura de Santo António inspira muitos devotos e muitas obras de caridade que desempenham um papel fundamental na sociedade. Por outro lado, em torno da sua figura organizam-se festejos de arraigo popular e que remetem para ancestrais rituais de Primavera. Transpostos para a actualidade, permitem preservar ciclos festivos e esquemas organizacionais inerentes à condição humana. Como verificamos, a figura de Santo António tem dado origem a verdadeiras pérolas da arquitectura e da arte, e tem suscitado o interesse de grandes vultos da pintura portuguesa e espanhola. Para além dos nomes já mencionados, importa referir: El Greco e o seu óleo sobre tela “San Antonio de Padua”, do século XVI que se encontra no Museu do Prado em Madrid; Zurbarán e as quatro telas do século XVII que lhe são atribuídas; Murillo e a sua magistral pintura “Visión de San Antonio de Padua”, que ocupa uma parede do retábulo da capela de Santo António da Catedral de Sevilha; Juan Valdés de Leal e o seu “San Antonio de Padua y el Niño Jesús”, do século XVII, que se encontra no Museu de Belas Artes de Valencia. Note-se ainda o contributo de muitos pintores anónimos, portugueses e espanhóis, que traduzem tão bem o resplendor do santo.
J. C. FLORES, “Devoción popular a San Antonio en Madrid. San Antonio, «El Guindero»”, in El Pan de los Pobres, Bilbao, Sociedad de San Vicente de Paúl, Nº 1240, Março, 2006, p. 14. 66
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Estas telas pintam-nos a imagem de Santo António divulgada também por meio de publicações literárias que têm geralmente em conta as representações iconográficas coetâneas. Não raras vezes a literatura retoma nos frontispícios a iconografia fixada pela arte e desenvolve relatos assentes nos milagres mais representados. Aliás, os “mais duradouros na fama assumiram, na arte, representações que os imortalizaram”67. De facto, a arte e a literatura contribuíram decisivamente para a fixação da imagem do santo na memória colectiva e no imaginário cultural luso-espanhol. Podemos concluir que os milagres mais divulgados através da literatura e da arte são o da mula, o da salvação do pai e o do sermão aos peixes, mas o mais reproduzido ao longo dos tempos através de uma grande variedade de suportes e técnicas é, sem dúvida, o da aparição do Menino Jesus. Esta representação iconográfica serve de tema, por exemplo, a um conto de Emilia Pardo Bazán intitulado “El Niño de San Antonio”, que traduz a simplicidade da devoção que cada pessoa tem pelo santo mas essencialmente a cumplicidade que o santo estabelece com os seus devotos, como verificamos neste pequeno excerto, no qual se demonstra como Santo António conforta um pai pela morte do seu filho: De pronto me quedé mudo de sorpresa. Usted habrá reparado, sin duda, en que a San Antonio de Padua siempre lo representan los escultores con el niño en brazos. Pues bien: por primera vez en mi vida veía un San Antonio sin niño… y mientras los ojos de la efigie parecían fijarse en los míos severamente, noté que su mano, alzando el dedo índice, señalaba al cielo68. O teatro tem também contribuído bastante para fixar na memória colectiva a imagem de Santo António e da sua taumaturgia, desde o século XVI à actualidade. Refiro-me tanto ao teatro hagiográfico, que atingiu grande fulgor no Siglo de Oro espanhol, como ao «teatro de revista» português ou à obra de teatro antoniano infantil, A Afilhada de Santo António69, uma adaptação que António Torrado fez a partir de um conto popular. Aliás, a literatura popular constitui, sem dúvida, um manancial inesgotável de expressão de devoção a Santo António, que reflecte as
Pe. C. A. M. de AZEVEDO, “Variantes iconográficas nas representações antonianas”, in Cultura, p.41. 68 E. PARDO BAZÁN, “El Niño de San Antonio”, in Obras Completas, Vol. VIII, p. 642. 69 A. TORRADO, “A afilhada de Santo António”, in Era Uma Vez Quatro, Lisboa, Editorial Caminho, 2007, pp. 87-139. 67
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vivências de cariz mais popular, destacando-se a vertente casamenteira já referida, mas também a capacidade reconhecida no santo para recuperar objectos perdidos. Actualmente, parece que os devotos estão a descobrir em Santo António uma nova prerrogativa, a de ajudar, principalmente os jovens, a obter bons resultados escolares e a encontrar emprego. A verdade é que se crê que Santo António está sempre disponível para prestar auxílio aos seus devotos relativamente a todas as dificuldades sentidas. Já Padre António Vieira afirmava que Santo António, “sendo um só, é todos os santos”70. Isto é, reconhece-se em Santo António a capacidade de concentrar em si todas as categorias em que se subdividem os santos, a saber: patriarca, profeta, apóstolo, mártir, confessor e virgem. A religiosidade popular tem transformado o franciscano erudito e orador em santo taumaturgo, casamenteiro e folgazão, isto é, a figura histórica transfigurou-se numa entidade mitificada, construída à medida de cada devoto, como sugere Fernando Pessoa: “Tu és tu como nós te figuramos”.71 O culto religioso e a devoção popular têm consagrado Santo António como ícone transcultural. A dimensão simbólica que a sua figura alcança e o interesse artístico que suscita no espaço luso-espanhol têm concorrido para delinear o valor patrimonial, iconográfico e identitário que Santo António encerra neste domínio. O processo de difusão do culto antoniano, associado ao programa da expansão marítima, levou a sua imagem a todas as partes do globo. Com efeito, pela mão dos franciscanos, tornou-se presente em todo o mundo, miscigenando-se com as diversas culturas locais nas quais se foi integrando, dando resposta às mais variadas necessidades dos seus devotos. Santo António converteu-se, assim, num fenómeno histórico-religioso, com contornos muito particulares. De acordo com o grande especialista Pe. Henrique Pinto Rema, “o fenómeno da devoção antoniana não é, de facto, simples acontecimento histórico, antes se movimenta no âmbito da fé”72. Pode-se afirmar que os franciscanos foram os grandes responsáveis pela difusão da imagem de Santo António em todas as partes do mundo. Encontra-se geralmente associada à imagem de São Francisco de Assis, como ícone de cariz mais popular da Ordem religiosa que se afirmava, dando corpo à simplicidade, à humildade, à sabedoria, à sensatez e à exemplaridade fundamentais.
70
Pe. A. VIEIRA, Obras Completas de Padre António Vieira, v. 3 - Sermões, p. 32. F. PESSOA, “Santo António”, in Os Santos Populares, p. 28. 72 Pe. H. P. REMA, Santo António de Lisboa. Ex-Votos, p. 38. 71
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Visto que os descobridores portugueses e espanhóis se faziam acompanhar de frades franciscanos que levavam a imagem do santo, podemos considerar que Santo António entrou na América Latina nos tempos do império hispano-português como símbolo de identidade cultural, de paz e de ecumenismo, com vestígios até à actualidade, como acontece, por exemplo, com o convento de San Antonio en Izamal que se encontra geograficamente no centro da Península de Yucatán, no México. A sua história, desde a fundação, está ligada a uma forte tradição religiosa pois este convento foi estabelecido no lugar onde existira um importante centro cerimonial maia da região. Este majestoso convento de Santo António, fundado pelo padre Fray Diego de Landa e pelos missionários franciscanos em 1549, detém o maior átrio, depois do de São Pedro no Vaticano, e tem sido sede de reuniões entre diferentes grupos étnicos, nomeadamente aquando da visita do Papa João Paulo II ao México, o que demonstra que este lugar continua a exercer uma missão ecuménica notável. Encontramos em todas as ex-colónias portuguesas e espanholas uma forte e enraizada devoção a Santo António, plasmada na abundância de templos e de tradições relacionados com a sua figura. Muitas vezes, estas tradições encontram-se impregnadas de vestígios de crenças locais, o que faz pensar num fundo de religiosidade primitiva, marginal à fé cristã. E é esta uma das características mais interessantes do fenómeno antoniano: a sua capacidade de adaptação às culturas em que se integra, através de um processo de miscigenação único e surpreendente. Na verdade, Santo António transforma-se e pode ser o “negro, ou o indu ou o de tradição afrobrasileira”73, por isso encontramo-lo representado com diferentes feições étnicas, conforme as culturas que influenciam os artistas. É possível detectar viva a presença e a devoção antonianas nos cinco continentes, incluindo em lugares que não conheceram a influência colonizadora luso-espanhola. A própria toponímia é reveladora da dimensão universal deste fenómeno de culto em torno de Santo António. A devoção antoniana ultrapassa os limites do mundo católico e encontramos santuários e manifestações de culto em locais inesperados como, por exemplo, em Istambul (Turquia) ou em Colombo (Sri-Lanka). Verifica-se que o culto antoniano tem atravessado séculos e fronteiras, perpassando todas as classes sociais, cores e credos. Figura de destaque no seu tempo e reconhecido como o santo de todo o mundo, Santo António foi considerado em assembleia pública na cidade de Brives, em 1989, como o primeiro santo de perfil verdadeiramente europeu, na medida em que seguiu e difundiu os “princípios da moderna Doutrina Social da Igreja, ou seja, Solidariedade,
73
Maria de Lourdes Sirgado GANHO, O essencial sobre Santo António de Lisboa, p. 54.
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Subsidiariedade e Universalismo (que, em termos modernos, inclui o pluralismo, a tolerância, o ecumenismo, a participação e a partilha)”74. O mundo luso-hispânico tem-se revelado um espaço privilegiado no que toca à multiplicidade de formas de expressão da devoção antoniana através de manifestações na arte, na literatura e nas tradições. Todos estes testemunhos, de cariz erudito e popular, constituem um património riquíssimo e têm contribuído para que a figura de Santo António permaneça tão viva no imaginário e na identidade cultural luso-hipânicos.
BIBLIOGRAFIA AZEVEDO, Pe. Carlos A. Moreira de, “Variantes iconográficas nas representações antonianas”, in Cultura (Revista de História e Teoria das Ideias), Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, v. XXVII (2010), II Série, pp. 41-55. FLORES, Juan Carlos, “Devoción popular a San Antonio en Madrid. San Antonio, «El Guindero»”, in El Pan de los Pobres, Bilbao, Sociedad de San Vicente de Paúl, Nº 1240, Março, 2006, p. 14. GANHO, Mª de Lourdes Sirgado, O essencial sobre Santo António de Lisboa, Lisboa, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 2001. LACARRA, María Jesús, “Una colección inédita de Milagros de San Antonio de Padua: edición y estudio”, in Revista de Literatura Medieval, v. XIV/I (2002), pp. 9-33. LOPES, Pe. Fernando Félix, “Livro dos Milagres ou Florinhas de Santo António de Lisboa”, in Fontes Franciscanas III. Santo António de Lisboa, Braga, Editorial Franciscana, 1998, V. III, pp. 71-140. MELÍCIAS, Pe. Vítor, “O pensamento social em Santo António”, in Actas do Congresso Internacional Pensamento e Testemunho: 8º Centenário do Nascimento de Santo António, Braga, Universidade Católica Portuguesa e Família Franciscana Portuguesa, 1996, v. I, pp. 275-281. PARDO BAZÁN, Emília, “El Niño de San Antonio”, in Obras Completas, Fundación José Antonio de Castro, Madrid, 2005, Vol. VIII, pp. 637-642. PESSOA, Fernando, “Santo António”, in Os Santos Populares, Lisboa, Edições Salamandra, 1994, pp. 2332. REMA, Pe. Henrique Pinto, “A piedade popular e Santo António”, in Cultura (Revista de História e Teoria das Ideias), Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, v. X (1998), IIª Série, pp. 15-42. VIEIRA, Pe. António, Obras Completas de Padre António Vieira, v. 3 - Sermões, Porto, Lello & Irmão Editores, 1959. REMA, Henrique Pinto, Santo António de Lisboa. Ex-Votos, Lisboa, Quetzal Editores, 2003. SARAMAGO, José, Memorial do Convento, Lisboa, Caminho, 2005.
Pe. V. MELÍCIAS, “O pensamento social em Santo António”, in Actas do Congresso Internacional Pensamento e Testemunho: 8º Centenário do Nascimento de Santo António, v. I, p. 278. 74
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A LIVRARIA DO EXTINTO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO DA SERTÃ
MIGUEL PORTELA, Eng.; Investigador
Resumo A livraria do extinto convento de Santo António da Sertã revela uma grande diversidade de campos temáticos que vão da Teologia, à Homilética, à Espiritualidade, à Filosofia, às Artes e à História, apresentando, no momento da sua extinção, em 1834, um catálogo com mais de 900 volumes. Apresentaremos um breve resumo da história deste convento, procurando demonstrar a cultura e riqueza dos seus eloquentes pregadores, que sempre granjearam de grande prestígio. Procuraremos elucidar o leitor sobre o significado cultural desta casa franciscana, enunciando, ainda, alguns dos seus professos e ilustres pregadores, dando a conhecer sucintamente algumas das obras, locais e datas de impressão, síntese dos conteúdos dos mesmos assim como a sua organização na referida livraria. Abstract: The former convent of the Santo António da Sertã library reveals a wide range of thematic areas ranging from Theology to Homiletics, Spirituality, Philosophy, Arts and History, presenting, at the time of its extinction, in 1834, a catalog with over than 900 volumes. In this text we will present a brief summary of this convent history, demonstrating the culture and the wealth of its eloquent preachers, who always had a great prestige. We will elucidate the reader about the cultural significance of this Franciscan house, stating also some of their illustrious professors and preachers. We will be showing some of their works, local and print dates and content summary as well as their organization in the library.
O convento de Santo António da Sertã: breve resumo da sua história
Estabelecido no interior centro do país, o convento de Santo António da Sertã assumiu uma vocação de casa de acolhimento e de formação de religiosos capuchos de considerável nível intelectual. Foram seus iniciadores Fr. Jerónimo de Jesus e Fr. Cristóvão de S. José (†1643), pregador afamado e missionário, já por 1617, no Maranhão (Brasil). Sabemos, também, que o primeiro guardião deste convento foi Fr. António de Santo André. “Em todo o priorado do Crato não houve convento algum desde o reinado de D. Afonso Henriques até 1604, além dos da Ordem do Hospital. No citado ano foi
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edificado o dos Franciscanos no Crato. Quanto ao da Sertã foi fundado com esmolas por Frei Cristovam de S. José, natural da mesma vila, em 1635. Pertencia aos frades Capuchos, franciscanos reformados, cuja séde era em Lisboa no Convento de Santo Antonio dos Capuchos, onde até ha pouco esteve instalado o Azilo da Mendicidade. A primeira pedra foi colocada pelo Provincial da Ordem, Frei Manuel de Santa Maria em oito de Julho do referido ano de 1635, começando os trabalhos em 16 de maio do ano seguinte. Era subsidiado pelo Grão-Prior do Crato, seu padroeiro, com trinta alqueires de trigo e 10:000 reis em dinheiro anualmente. D. João IV concedeu-lhe uma arroba de vaca cada semana, que D. João V mandou pagar em dinheiro ao preço corrente. Tinha em recolhimento 16 religiosos, em cujo habito muitos habitantes da vila e do termo eram amortalhados, conforme consta de vários testamentos. Em 1810 os freires deste convento, escudados num Alvará do infante D. Fernando, pretenderam o exclusivo da pregação em todo o termo da Sertã; mas o Provisor do Grão Priorado, D. Antonio Barros Leitão Carvalhosa, fez constar em circular aos párocos que todos os padres seculares aprovados, bem como os Carmelitas de Figueiró dos Vinhos, podiam continuar, como até aí, a exercer esse munus. Não sei a quem ficou pertencendo depois da extinção das ordens religiosas em 1834; apenas averiguei que o edifício conventual era propriedade da Camara Municipal em 1878 e nele funcionavam as diversas Repartições públicas. Mais tarde adquiri-o a família Relvas da Golegã, pertencendo agora novamente à Camara. A cerimonia do descimento da Cruz realizava-se com grande solenidade em 1831 na escadaria por onde se desce para a Alameda da Carvalha, sempre proximo do sol-posto.75”. Nos concelhos mais vizinhos não se encontram documentadas edificações de mosteiros desta ou de outras ordens religiosas, excepto, já na alçada do Bispado de Coimbra, em Figueiró dos Vinhos (Nª Senhora do Carmo (1601) e Santa Clara (anterior a 1549)) e em Pedrógão Grande (Nª Senhora da Luz dos padres dominicanos fundado em 1476)76. O estabelecimento, nesta vila, de um convento franciscano capucho envolveu, necessariamente, o acordo de vários agentes e poderes: o dos benfeitores seculares e das elites locais, o do município sertanense, o da Província de Santo António, da Ordem Franciscana, o do
“Frei Cristovam de S. José - Professou na Religião Serafica de Santo Antonio e missionou desde 1617 no Maranhão (Aldeia Grande de Tamogica), descobrindo com outros freires da sua Ordem o rio Tocantins. Fundou com esmolas o convento da Sertã, sua terra natal, tendo colocado a primeira pedra o Provincial da Ordem, Frei Manuel de Santa Maria, em 2 de maio de 1635. Cançado e doente, foi mandado para o Mosteiro de N.S. dos Anjos do Sobral, Diocese de Lisboa, afim de se restabelecer; mas Deus houve por bem leva-lo para junto de si em dez de maio de 1643”, in P.e A. L. FARINHA, A Sertã…cit., p. 85; 115116. A.N.T.T., O.F.M., Província de Santo António, Convento de Santo António da Sertã, maço 16, 16461686 - Despesas de obras realizadas na igreja do Convento de Santo António da vila da Sertã, in M.A.F.B., AMORIM, A Missionação Franciscana… cit., v. II, doc. n.º 57, Livro das coisas notáveis que ao diante sucederem neste Convento de Santo António da Sertã e obras que nele se fizeram e quem as fez. “Sendo Provincial Frei Manuel de Santa Catarina a oito de Julho do ano de mil e seis centos e trinta e cinco se lançou a primeira pedra neste Convento de Santo António desta vila da Sertãm, testemunhas que assim o afirmaram Vicente do Casal e João da Mota Gomes, Síndico deste convento e António Nunes de Andrade, Belchior Moniz do Sobral, pessoas que correram com as obras desta Casa que aqui assinaram hoje dezaseis de Agosto de mil seiscentos e quarenta e seis, sendo eu Frei António de Santo André que este fiz por minha mão, Guardião o primeiro do dito Convento. M.A.F.B., AMORIM, A Missionação Franciscana… cit., v. I, p. 202-204. Para um estudo mais aprofundado sobre este convento, consulte-se a obra de S. I. O. F. MATOS, Convento de Santo António…, cit.. 76 M. PORTELA, O Mosteiro de….cit…, p.7-21. M. PORTELA, O Fabrico do Papel…cit., p.4-6. 75
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Priorado de Malta, o do bispo de Portalegre, ao tempo D. Joane Mendes de Távora (1632-1638), o do Cardeal-Infante D. Fernando de Áustria e, seguramente, como se comprovará, o do próprio monarca, D. Filipe III. A Província de Santo António, de frades capuchos, conheceu, em meados do século XVII, um período de expansão. Nos domínios do Priorado de Malta, nesse tempo, o convento seráfico mais próximo do nosso localizava-se na vila do Crato. O convento, projectado para uma pequena comunidade de 12 religiosos, tinha em recolhimento, no tempo de D. João V, 16 frades, e em 1834, aquando da sua extinção, era habitado por 7 professos. Não importava apenas a pastoral de uma espiritualidade franciscana para o povo desta região serrana interior de Portugal, interessando, sobremodo, o aprofundamento dos níveis de formação sacerdotal destes frades. O serviço do altar, pela celebração da missa, e pela administração dos sacramentos (em especial o da confissão ou da reconciliação), e o da celebração da palavra, pela pregação, eram áreas eclesiais para as quais os religiosos que aqui se recolhiam pareciam estar particularmente vocacionados. Pregadores ilustres: breves dados Crónicas e documentos enaltecem como pregadores ilustres deste convento de Santo António da Sertã os nomes, entre outros, dos seguintes religiosos77:
Fr. Cristóvão de S. José (1581-1643): missionário e pregador; Fr. Manuel Henriques (1635-?): pregador; Fr. Domingos da Assunção (?-1780): pregador; Fr. Pedro de S. Paulo: pregador (?-?) e fundador do convento se S. José em Cernache do Bonjardim; Fr. António de Cristo (?-?): pregador.
Tenhamos presente que foi a partir da iniciativa de frades deste convento que foi fundado, em Cernache de Bom Jardim, em 1699, um hospício e recolhimento (Convento de S. José) para recreação espiritual e intelectual de religiosos da Ordem78.
77
Para um melhor conhecimento genealógico dos nomes indicados consulte-se a obra de C. TEIXEIRA, Antiguidades, Famílias…cit. vol. I. 78 A.N.T.T., O.F.M., Província de Santo António, Convento de Santo António da Sertã, maço 16, macete 4, in M.A.F.B., AMORIM, A Missionação Franciscana… cit., v. II, doc. n.º 147, pós-1706 – Notícias dos provinciais da Província de Santo António de Portugal (inc) desde o 2º Provincial, Frei Marcos de Lisboa até ao 45º, Frei Francisco da Rosa (1706/7), “40.º, Frei Miguel de Santa Maria, natural de Lisboa. (…)
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A biblioteca de Santo António da Sertã, conhecida por inventários do século XVIII e, depois, pelo de 1834, demonstra esta atitude de formação exigente e “actualizada” dos frades capuchos portugueses enquanto ministros particularmente tocados pelo apelo da pregação e da confissão. Na sua maior parte, os livros que aqui se encontravam propiciavam leituras justamente dominadas pelas esferas da homilética, da espiritualidade e da preparação de confessores. Em 1810, aliás, os frades deste convento reclamaram o exclusivo da pregação em todo o termo da Sertã, pedido que o dom prior do Crato recusou, antes determinando que caberia a todo o clero secular desempenhar tais funções. A fonte e o contexto “Com efeito, mesmo se através de sérias dificuldades, as livrarias conventuais, em virtude dessa sua dimensão institucional, oferecem ou deveriam oferecer a possibilidade de mais facilmente verificarmos a sua história, independentemente da dificuldade de hoje localizarmos as provas dessa história… Um momento houve, contudo, em que a interrupção dessa história, ainda que de diversos modos, largamente documentada, determinou o inventário dessas bibliotecas. Referimo-nos, obviamente, aos inventários levados a cabo por força das directrizes legais que presidiram à extinção das ordens religiosas em 1834. Se 1834 não significou - entendamos: sistematicamente e em larga escala - o fim dos livros que as constituíam, significou, isso sim, o fim dessas bibliotecas…, não, porém, sem antes de as terem inventariado… De bibliotecas passaram a “catálogos”…, algumas até, com alta probabilidade, pela primeira vez… Sempre na suposição teórica de que a lei se cumpriu - o que evidentemente não acontece -, o conjunto desses inventários constitui-se num amplo inventário em que se traduzia - e em que se pode ver hoje traduzir - o estado geral - em qualidade e em quantidade - das bibliotecas conventuais…”79 As considerações que passamos a expor, neste domínio, resultam da análise pormenorizada, a que procedemos, do inventário desta livraria monástica de 1834 80. A nossa abordagem não conflitua, antes permite aprofundar uma reflexão histórica, com investigações de outros autores que se dedicaram ao estudo histórico da Sertã e do seu convento capucho, nomeadamente do P.e António Lourenço Farinha (1930)81e, mais recentemente, de Susana Isabel de Oliveira Ferreira Matos (2004)82.
Obras no Hospício Convalescença Santo António da Sertã, por oferta de João Leitão que lhes deu a Quinta de Cernache do Bom Jardim. Fizeram dormitório em 6 celas (…)”. 79 J.A.F.CARVALHO, Da memória dos livros…, cit., p. IV. 80 A.N.T.T., A.H.M.F., Convento de Santo António da Sertã, caixa 2205, Inventário do Convento de Santo António da Sertã, folhas 23-36verso. 81 e P. A. L. FARINHA, A Sertã… cit. 82 S. I. O. F. MATOS, Convento de Santo António…, cit., p.10-103.
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No dia 15 de Julho de 1834, apresentaram-se no convento de Santo António da Sertã, para procederem ao arresto de bens e respectivo inventário, para a Fazenda Pública, José Caldeira Manso, procurador fiscal, os louvados Joaquim Germano da Silva e Francisco Aleixo e o escrivão interino da provedoria, Jerónimo Joaquim Nunes. É neste inventário que, entre as folhas 23 a 36 verso, encontramos a relação da antiga livraria dos frades capuchos. Exporemos, de seguida, os dados mais relevantes sobre esta biblioteca deste convento capucho português no final do Antigo Regime, que com a extinção das ordens religiosas abriu caminho a um longo período de abandono e extravio deste património bibliográfico de que se perdeu rasto. Apesar de conhecermos a sua organização, há que reconhecer, desde já, que se torna uma tarefa bastante difícil conseguir apurar se as obras citadas neste catálogo foram lidas, como o foram, com que preferências e com que efeito. Se um dia se encontrarem livros deste acervo, eventualmente anotados por leitores desta comunidade, aí poderemos percepcionar mais aprofundadamente estes aspectos tão importantes na história do livro e na história da(s) sua(s) leitura(s) e usos sociais. A livraria: números gerais Este acervo bibliográfico que julgamos pertinente e interessante dar a conhecer, somava, à data da elaboração do referido inventário, um total de 590 títulos, perfazendo um conjunto de 910 volumes83. Consideramos útil expor um quadro resumo com a distribuição do número de títulos existentes nessa livraria por séculos, tendo em conta o ano de edição de cada título. Todavia, salientamos o elevado número de títulos a que, aquando da elaboração do referido inventário, não foi atribuído qualquer data de edição. Séc. XVI Totais
Séc. XVII
Séc. XVIII
Séc. XIX
49 265 135 1 Quadro 1 - Distribuição do número de títulos por século.
Sem indicação 140
Face ao exposto e no que respeita ao número total de volumes, que como referimos ascendia a 910 unidades, poderemos visualizar, num quadro resumo, a sua distribuição por séculos, uma vez que, para a maioria das obras, a fonte indica o ano da respectiva edição.
83
Apesar de no fim da listagem se fazer menção a um total de 917 volumes, constatámos que o somatório de todos os volumes perfaz apenas 910 volumes. No nosso entender esta diferença prende-se com o facto de no inventário haver correcção ao número de volumes, ou seja, um ou outro caso onde o número foi corrigido e não foi verificado novamente o somatório final.
293 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Séc. XVI Totais
Séc. XVII
Séc. XVIII
Séc. XIX
56 324 265 1 Quadro 2 - Distribuição do número de volumes por século.
Sem indicação 264
A presença de um elevado número de títulos existentes nesta livraria, referentes ao século XVII, face aos restantes séculos, leva-nos a apresentar um novo quadro onde, resumidamente, podemos pormenorizar e constatar a presença de um maior número de obras editadas nas primeiras décadas dessa centúria. 1601-1625 Totais
93
1626-1650
1651 - 1675
1676-1700
Restantes séculos
Sem indicação
49 54 69 185 Quadro 3 - Distribuição do número de títulos no século XVII.
140
Livros do século XVI: países e cidades de impressão Observemos agora os locais onde foram impressos a totalidade de títulos, correspondentes ao século XVI, bem como o respectivo lugar de impressão. Lembremo-nos de que a fundação desta casa monástica é posterior à edição destes livros impressos no século XVI, nela tendo sido integrados, naturalmente, em datas posteriores. Podemos comprovar que estas obras maioritariamente foram impressas em países, como a França, Espanha, Portugal, e Itália, sendo que as cidades de Lyon, Salamanca, Veneza e Lisboa são aquelas onde se regista maior número de impressões. França Espanha Itália Portugal Alemanha Bélgica Suíça Sem indicação Totais 14 11 9 6 3 3 1 2 Quadro 4 - Distribuição do número de títulos impressos no século XVI, por países. Lyon
Paris
Totais 11 3 Quadro 5 - Distribuição do número de títulos impressos em França no século XVI, por cidades. Salamanca Valencia Madrid Barcelona Alcalá de Henares Medina del Campo Totais 4 2 2 1 1 1 Quadro 6 - Distribuição do número de títulos editados em Espanha no século XVI, por cidades. Veneza
Roma
Totais 6 3 Quadro 7 - Distribuição do número de títulos editados em Itália no século XVI, por cidades. Lisboa
Coimbra
Évora
294 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Totais 4 1 1 Quadro 8 - Distribuição do número de títulos editados em Portugal no século XVI, por cidades.
Livros do século XVII: países e cidades de impressão Observemos agora os locais onde foram impressos os títulos correspondentes ao século XVII, bem como o respectivo lugar de impressão. Podemos comprovar que estes títulos maioritariamente foram impressos em Portugal e Espanha, sendo que as cidades de Lisboa e Madrid são aquelas onde se regista maior número de impressões. Portugal Espanha França Itália Bélgica Alemanha Inglaterra Sem indicação Totais 147 83 15 9 4 3 1 3 Quadro 9 - Distribuição do número de títulos impressos por países no século XVII. Lisboa
Coimbra
Évora
Porto
Braga
Totais 116 22 6 2 1 Quadro 10 - Distribuição do número de títulos impressos em Portugal no século XVII. Madrid 51 Salamanca 9 Barcelona 5 Saragoça 4 Valladolid 3 Córdova 3 Sevilha 2 Valencia 2 Lérida 1 Granada 1 S. Tiago de Compostela 1 Málaga 1 Quadro 11 - Distribuição do número de títulos impressos em Espanha no século XVII.
Livros do século XVIII: países e cidades de impressão Observemos agora os locais onde foram impressos os títulos correspondentes ao século XVIII, bem como o respectivo lugar de impressão. Podemos comprovar, à semelhança do século anterior, que estes títulos maioritariamente foram impressos em Portugal e Espanha, sendo que as cidades de Lisboa e Madrid são aquelas onde se continua a regista maior número de impressões. Portugal Espanha Itália França Alemanha Bélgica Sem indicação Totais 85 28 11 4 3 1 3 Quadro 12 - Distribuição do número de títulos impressos por países no século XVIII.
295 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Lisboa
Coimbra
Évora
Porto
Totais 70 12 2 1 Quadro 13 - Distribuição do número de títulos impressos em Portugal no século XVIII. Madrid 12 Salamanca 6 Valencia 3 Barcelona 2 Saragoça 2 Múrcia 1 Valladolid 1 Pamplona 1 Quadro 14 - Distribuição do número de títulos impressos em Espanha no século XVIII.
Livros do século XIX: países e cidades de impressão Apenas aparece mencionada em todo o inventário uma obra correspondente ao século XIX. Esta obra, Considerações Literais, fora escrita por Fr. Thomas da Veiga e impressa em Lisboa no ano de 1833.
A livraria: países e cidades de impressão Da totalidade dos 590 títulos pertencente a esta livraria, reconhecemos que a maioria das obras fora impressa na Península Ibérica, particularmente com maior expressão em Portugal. Portugal Espanha França Itália Alemanha Bélgica Inglaterra Suíça Sem indicação Totais
264
137 43 38 12 12 1 1 Quadro 15 - Distribuição do número de títulos impressos por países.
80
Procedemos agora a uma visão mais clarificadora quanto às cidades onde foram impressos esses títulos, tendo em conta os quatro países mais representativos nesta livraria. Como podemos comprovar, o número de títulos impressos em Portugal provêm na sua quase totalidade da cidade de Lisboa, sendo de realçar a importância de Coimbra como o segundo grande centro português livreiro representado nesta antiga biblioteca. Lisboa
Coimbra
Évora
Porto
Braga
Totais 211 40 9 3 1 Quadro 16 - Distribuição do número de títulos impressos em Portugal.
296 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
No que se refere a Espanha: as obras impressas nesta livraria têm a sua origem maioritariamente nas cidades de Madrid e Salamanca, confirmando serem estas grandes pólos de impressão e difusão de obras literárias, tendo em conta: ser nelas que se centralizavam os mais importantes estudos universitários nesse país. Madrid 73 Salamanca 23 Barcelona 9 Valencia 7 Saragoça 7 Valladolid 4 Córdova 3 Múrcia 2 Sevilha 2 Lérida 1 Granada 1 Alcalá de Henares 1 S. Tiago de Compostela 1 Málaga 1 Pamplona 1 Medina del Campo 1 Quadro 17 - Distribuição do número de títulos impressos em Espanha.
Podemos reconhecer que, em França, Lyon é a cidade por excelência de onde provêm as obras impressas em maior número produzidas nos prelos deste país. Lyon
Paris
Totais 35 8 Quadro 18 - Distribuição do número de títulos impressos em França.
Por último e no que à Itália diz respeito, reconheceremos que é de Veneza que proveio um maior número das obras impressas que existiram neste convento. Veneza Totais
Roma
Pádua
Benevento
Bolonha
23 10 2 1 1 Quadro 19 - Distribuição do número de títulos impressos em Itália.
Nápoles 1
A livraria: temas dominantes e casos especiais Após uma análise mais cuidada do referido inventário, e como se poderá observar da leitura do quadro final que aqui publicamos, onde arrolamos a biblioteca em análise, comprovamos que os volumes desta livraria tinham, como principais temas dominantes, a Sermonária, a Espiritualidade, a Moral e Doutrina, a Patrística e as Artes de confessar.
297 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Todavia, temas como a Bíblia, os Panegíricos, a Hagiografia, a Mariologia, a normativa eclesiástica (decretos, regras e estatutos), as Crónicas e os Léxicos e concordâncias bíblicas, são os menos representados neste acervo documental. Não podemos deixar de salientar o peso dos autores portugueses nesta livraria, como podemos verificar anteriormente, dado o elevado número de obras impressas no nosso país. É ainda de referir alguns casos especiais, como sejam a presença de algumas obras Conimbricenses, nomeadamente dois volumes, in 4º, do chamado Collegii Conimbricensis Commentariiii, e dois volumes, in folio, datados estes últimos de 1597 e 1606. Encontrava-se ainda nesta livraria um volume, in 8º, dos Comemtarium de Comelli Jansenni, impresso em Lyon, no ano de 1594. Em síntese Importará anotar algumas reflexões finais em relação à biblioteca que nos ocupa:
- Existência de uma biblioteca em que pesavam os títulos editados antes da fundação do Convento. - Uma biblioteca com um forte acervo bibliográfico editado na segunda metade do século XVII e primeiro terço do XVIII (tempos de ouro da história da instituição). - Portugal e Espanha são os mais representados em relação aos restantes países. - Em Espanha, é Madrid a cidade que tem maior número de índice de exportação de livros. - Óbvia diminuição de aquisições a partir do último terço do século XVIII e totalmente amorfa para o primeiro terço de Oitocentos.
O caso aqui apresentado permite reconhecer, todavia, que entre os frades capuchos, a formação e a “actualização” intelectual dos seus membros foram preocupações presentes nos séculos em causa. Não sendo uma grande biblioteca, ela não deixa de ser demonstrativa de uma das maiores riquezas do franciscanismo português nos séculos modernos: o amor dos irmãos de hábito do Poverello aos livros e ao seu Deus.
Apêndice Por último, parecendo-nos útil a divulgação do inventário da livraria do antigo Convento de Santo António da Sertã, deixamos aqui um quadro em que arrolamos as obras inventariadas na fonte a que recorremos para este breve estudo.
298 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
Número de títulos e nome dos autores
Designação das obras
1
Fr. Rafael de Jesus
Sermões vários
2
P.e Jerónimo Pardo
Discursos Evangélicos
3
Fr. Eusébio de Matos
4
Local de edição
Data e número de volumes
Formato
Lisboa
1689
1
in 4º
Coimbra
1662
1
In 4º
Sermões
Lisboa
1614
1
in 4º
Fr. Jaime Reboloso
Sermões
Barcelona
1614
1
in 4º
5
P.e Luis Brandão
Meditações sobre a História do Evangelho
Lisboa
1685
1
in 4º
6
Fr. Rafael de Jesus
Sermões Vários
Lisboa
1688
1
in 4º
7
Fr. Bernardo de Paredes
Campanha Espiritual
Coimbra
1655
1
in 4º
8
Fr. João Cardoso
Jornada da alma libertada
Lisboa
1626
1
in 4º
9
Fr. Francisco de Liscine
Primeira escoela del hombre dios
Madrid
1669
1
in 4º
10
Fr. Diogo Niseno
Apsumptos predicaveis
Lisboa
1632
1
in 4º
11
Francisco Fernandes Galvão
Sermões dos Santos
Lisboa
1613
2
in 4º
12
Fr. Manuel Rodrigues
Explicação da Bulla
Salamanca
1607
1
in 4º
13
Fr. Vicente da luz
Sermões vários
Lisboa
1724
1
in 4º
14
Fr. Manoel da Conceição
Sermões vários
Lisboa
1620
1
in 4º
15
Francisco Aquilar
Orbis Eucharisticus
Salamanca
1725
1
in 4º
16
Fr. Manuel da Conceição
Eschola da Penitencia de Fr. Antonio das Chagas
Lisboa
1687
1
in 4º
17
Fr. Luis de S. Francisco
Penitelogia Sacramental
Coimbra
1691
1
in 4º
18
O P.e Hieronimo Plati
Libro del bien del estado Religioso
Medina del Campo
1595
1
in 4º
19
Fr. Manuel de Lima
Ideas Sagradas
Lisboa
1721
2
in 4º
20
Frater Ludovicus Manganelis
Discursus praedicabiles
Madrid
1619
1
in 4º
299 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
21
P.e José da Natividade de Seixas
Medalha Evangélica
22
Diogo de Paiva
Sermões
23
Fr. Francisco de Lisavia
Doutrinas Evangélicas
24
Fr. Manuel de Gouvea
Sermões vários
25
---
Promptuario Moral (Mutilado)
26
Fr. Manuel de Naxera
27
Lisboa
1712
1
in 4º
---
1601
1
in 4º
Coimbra
1606
1
in 4º
Lisboa
1706
1
in 4º
---
---
1
in 4º
Sermões vários
Lisboa
1646
1
in 4º
Fr. António de Santo Eliseu
Sermões vários
Lisboa
1715
1
in 4º
28
Fr. Manuel de Gouvea
Sermões vários
Lisboa
1715
3
in 4º
29
Fr. António de Gouvea
Monte Calvário
---
---
1
in 4º
30
Fr. Isidoro de S. Joan del Sacro
Triumpho Quadragisimal
Madrid
1672
1
in 4º
31
P. e Simão da Gama
Sermões Vários
Lisboa
1708
1
in 4º
32
Pedro de Calataiude
Juicio de los Sacerdotes
Pamplona
1736
1
in 4º
33
---
Honras Christans nas affrontas de Jesus Christo
Lisboa
1625
1
in 4º
34
Fr. José de Santa Maria
Tribunal de Relligiosos
Sevilha
1617
1
in 4º
35
Fr. Pedro Sanches
Anno predicable
Múrcia
1750
5
in 4º
36
Fr. Pedro Palumino
Sermones
Madrid
1684
2
in 4º
37
---
Concilio Tridentino
Valladolid
1614
1
in 4º
38
Fr. Diego Lopes
Tratados sobre os Evangelhos
Lisboa
1618
1
in 4º
39
Fr. Gabriel de Naboa
Apologia de Confessores
Salamanca
1785
1
in 4º
40
[Fr. Filipe Dias]
Summa praedicantium ex omnibus locis Comunibus a fratre Philipo Dias
Salamanca
1639
2
in 4º
41
Fr. Domingos de la Vega
Empleo Santo
Madrid
1607
1
in 4º
42
Fr. Baltasar Pais
Sermões
Lisboa
1733
1
in 4º
300 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
43
P.e Jerónimo Pardo
Discursos Evangelicos
44
---
Sermões vários
45
P.e Simão da Gama
Sermões
46
[Vários autores]
47
Lisboa
1661
1
in 4º
Coimbra
1716
1
in 4º
Lisboa
1709
1
in 4º
Sermões vários
Coimbra
1685
1
in 4º
P.e Diego Mello
Panegiricos vários
Madrid
1668
1
in 4º
48
Fr. Domingos de S. Thomaz
Predica Sacramental
Lisboa
1675
1
in 4º
49
Fr. Christoval da Fonseca
Vida de Christo
Lisboa
1600
1
in 4º
50
Fr. Luis de Rebolhedo
Libro de las Reglas e Constituciones generales de la ordem de Nuestro P.e S. Francisco (Mutilado)
---
---
1
in 4º
51
[S. João Crisóstomo]
Opera
---
---
4
in fólio
52
[S. João Crisóstomo]
Humilia
---
---
14
in 8º
53
---
Gradus ad Parnasum
---
---
1
in 8º
54
Cartusiano [Ludolfo de Saxónia]
De Vita Christi
---
---
2
in fólio
55
S. Basílio
Opera
---
---
1
In fólio
56
Simonis de Cassia
De gestis Domini Salvatorisapud Sanctam Ubiorum
Colónia
---
1
in fólio
57
---
Policut Nova de Lanci
Frankfurt
---
1
in fólio
58
---
De ornatu et vestibus Aaronis
Antuérpia
---
2
in fólio
59
Santo Agostinho
Opera
---
---
8
in fólio
60
S. Bernardo
Opera
---
---
1
in fólio
61
S. Gregório
Opera
---
---
1
in fólio
62
Cornelli a Lapiride
Commentarium
---
---
8
in fólio
63
---
Apparatus concionatorum
---
---
2
in fólio
64
Laureti
Silva Alegoriarum
---
---
1
in fólio
65
Felix
Potestas Moral
---
---
2
in fólio
66
---
Chronica de Marrochos
---
---
1
in fólio
301 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
67
Calepinum
Lexicon Latinum
---
---
1
in fólio
68
Barchorii
Opera omnia
---
---
3
in fólio
69
Bonacinae
Opera omnia
---
---
2
in fólio
70
Silveira
Commentaria
---
---
8
in fólio
71
Silveira
Opuscula varia
---
---
1
in fólio
72
Haye
Commenta in Genesim
---
---
1
in fólio
73
---
Directorium Confessariorum
---
---
1
in fólio
74
Zuteta
Epistolam Catholicam S. Jacobi
---
---
1
in fólio
75
---
Commentarium in Isaiam
---
---
1
in fólio
76
---
Polianthea Seraphica
Lisboa
---
1
in fólio
77
Prasecson
Historia Eclesiastica
Germania
---
4
in fólio
78
Hugonis
Opera omnia
Veneza
---
8
in fólio
79
Pedro de Figueiredo
Commentarium
Lyon
---
1
in fólio
80
Naxera
Commentarium
Lyon
---
3
in fólio
81
Soto Maior
Cantici Canticorum Interpretatio
Lisboa
---
1
in fólio
82
S. Thomas Aquinatis
Theologia
Antuérpia
---
4
in fólio
83
S. Thomas Aquinatis
Catena aurea
Veneza
---
1
in fólio
84
Belem
Chronica de Xabregas
Lisboa
---
4
in fólio
85
Guillem
Sermoes Hespanhoes
Madrid
---
2
in fólio
86
---
Philosophia dos Principes
Lisboa
---
1
in fólio
87
Nicolau de Lira
Glossa ordinaria
Lyon
---
7
in fólio
88
Pleastro
Commentaria
Lyon
---
1
in fólio
89
Maldonado
Commentarium
Lyon
---
1
in fólio
90
Barradas
Commentarium
Lyon
---
3
in fólio
91
---
Concordantia Bibliae
Paris
---
1
in fólio
92
Marracci
Polinathea Mariana
Colonia, Agripia
---
2
in 4º
93
Didaci
Stella conciones
Antuérpia
---
1
in 4º
94
Avicentia
De previlegiis regularium
Veneza
---
1
in 4º
302 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
95
---
Collegii Conimbricensis commentarium
Coimbra
---
2
in 4º
96
Perevius
In Ginesim
Lyon
---
1
in 4º
97
---
Speculum Parochorum
Veneza
---
1
in 4º
98
Sabino
Lux moralis
Veneza
---
1
in 4º
99
Raulim
Sermones
Paris
---
1
in 4º
100
---
Concordantia Bibliae
Lyon
---
1
in 4º
101
Baltasar Pais
In Epistolam Jacobi
Antuérpia
---
1
in 4º
102
---
Monarchia Mystica da Igreja
---
---
1
in 4º
103
---
Silvestrina Moral
Roma
---
1
in 4º
104
José da Costa
Conciones
Salamanca
---
1
in 4º
105
Fr. Filipe da Rocha
Conciones Dominicarum
Lisboa
---
1
in 4º
106
Naxera
Sermões Hespanhoes
Coimbra
---
11
in 4º
107
Certa
Sermões
Lisboa
---
2
in 4º
108
---
Conselheiro fiel
Lisboa
---
3
in 4º
109
Val de Rama
Exercicios espirituaes
Lisboa
---
2
in 4º
110
Medalha Evangelica
Sermões
Lisboa
---
2
in 4º
111
Morillo
Discursos predicaveis
Saragoça
---
2
in 4º
112
Fr. Diogo d’Arsea
Sermões
Múrcia
---
2
in 4º
113
Fr. Aleixo
Annuntiationes in Evangelia
Coimbra
---
1
in 4º
114
Fr. Diogo da Véga
Sermões
Salamanca
---
2
in 4º
115
---
Epitome Sanctorum Patrum
Colónia Agripina
---
5
in 4º
116
---
Silva Concionnatoria
Lisboa
---
5
in 4º
117
P.e Curado
Sermões
Roma
---
3
in 4º
118
Blutto [Bluteau]
Primicias Evangelicas
Lisboa
---
3
in 4º
119
Bartholomeu do Quintal
Sermões
Lisboa
---
2
in 4º
120
Fr. Manuel Rodrigues
Sobre a Bulla
Salamanca
---
1
in 4º
303 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
121
P.e Borumbau
Theologia Moral
Lisboa
---
1
in 4º
122
Fr. Luis d’Ascensão
Sermões Vários
Coimbra
---
1
in 4º
123
---
Rosas do Japão - História
Lisboa
---
1
in 4º
124
---
Culto de S.to Adão
Madrid
---
1
in 4º
125
---
Thesouro de Cerimonias
Lisboa
---
1
in 4º
126
Fr. Diogo Niceno
Sermões
Barcelona
---
1
in 4º
127
Fr. Diogo Serrano
Sermões
Madrid
---
1
in 4º
128
Fr. Fernando da Soledade
Sermões
Lisboa
---
1
in 4º
129
P.e Mendo
Sermões
Madrid
---
1
in 4º
130
---
Sermões Vários
Lisboa
---
1
in 4º
131
Fr. Christovão de Lisboa
Sermões
Lisboa
---
1
in 4º
132
Fr. Luis de Miranda
Praticas Espirituais
Salamanca
---
1
in 4º
133
Fr. Luis de Paula
Discursus Predicabiles
Madrid
---
1
in 4º
134
---
Summa de casos de consciencia
Madrid
---
1
in 4º
135
Fr. João Cardoso
Jornada da Alma
Lisboa
---
1
in 4º
136
P.e João Coutinho
Stromas predicaveis
Coimbra
---
6
in 4º
137
Fr. André Mendo
Quaresma
Madrid
---
1
in 4º
138
---
Candelabrum aureum
Veneza
1605
1
in 4º
139
---
Cantico Marianno
Évora
1709
1
in 4º
140
Fr. Lourenço de Zamora
Monarchia Mistica da Igreja
Madrid
1619
1
in 4º
141
Domini Henrici Harphi
Theologia Mistica
Colónia
1605
1
in 4º
142
P.e Jacinto Quintero
Discursos Evangelicos
Madrid
1651
1
in 4º
143
P.e Diogo de Baesa
Commentariorum Moralium in Evangelicam Historiam
Lyon
1629
1
in 4º
144
Medina
In Isaian
Roma
1699
1
in 4º
304 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
145
D. José de Barsia e Zantrano
Despertador Christiano de Varios Sermões
Lisboa
1693
13
in 4º
146
Fr. Isidoro de S. João
Triumpho Evangélico
Salamanca
1634
1
in 4º
147
Fr. Pedro Correia
Triumphos Eclesiasticos
Lisboa
1617
1
in 4º
148
Fr. Diogo d’Annunciação
Tropheo Evangélico
Lisboa
1699
2
in 4º Tomo 2º e 3º
149
Fr. Diogo d’Annunciação
Tropheo Evangélico
Lisboa
1699
1
in 4º Tomo 2º
150
P.e Diogo d’Annunciação
Tropheo Evangélico dedicado a D. Veríssimo de Lencastre
151
Fr. Alonso de Cabrera
De las Consideraciones en los Evangeliosa
152
P.e João
153
Lisboa
1685
1
in 4º
Saragoça
1610
2
in 4º
Sermões
Madrid
1663
1
in 4º
Fr. Diogo Niceno
El gran Padre de los Crientes
Lisboa
1636
1
in 4º
154
Fr. Hortensio Felix
Orações Evangélicas
Madrid
1689
1
in fólio
155
Fr. Pelipe da Luz
Sermões
Lisboa
1617
2
in fólio
156
António de Sousa de Macedo
Eva e Ave
Lisboa
1676
1
in fólio
157
Fr. Juan Duram
Santoral Serafico
Madrid
1618
1
in fólio
158
Fr. Juan Duram
Adrento e Sermões Vários
Madrid
1722
1
in fólio
159
Fr. Juan Duram
Panegirios
Madrid
1714
2
in fólio
160
Cesar Baronius
Martirologium Romanum
Roma
1598
1
in fólio
161
---
Espejo de la consciência (Mutilado)
---
---
1
in fólio
162
Fr. Juam de More
Enigma Numerico
Madrid
1683
1
in fólio
163
Sebastiam Barradas
Commentario
Lyon
1611
1
in fólio
164
Gregorius Sairmo
Theologia Moralis
Veneza
1718
1
in fólio
165
Fr. Baltasar Limpo
Fugas de David
Lisboa
1642
1
in fólio
166
Fr. Manuel da Trindade
Bibliotheca do mundo
Lisboa
1758
1
in fólio
167
Fr. Lucio Ferraris
Biblioteca
Bolonha
1763
5
in fólio
305 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
168
Fr. Antonius Horman
Theologia Moral
Beneventi
1743
2
in fólio
169
Collgii Salmaticensis
Teologia
Veneza
1739
3
in fólio
170
P.e Claudo Lacroá
Theologia moral
Veneza
1725
2
in fólio
171
Fr. Manuel da Conceição
Ceremonial Serafico
Lisboa
1730
1
in fólio
172
Michael Vivien
Tertulianus praedicans
Pádua
1729
2
in fólio
173
Frati Francisci Heno
Theologia Dogmatica
Colónia
1718
2
in fólio
174
D. Francisco de Sobrecosas
Sermões Evangélicos
Madrid
1690
1
in fólio
175
Sebastianus Cesar
Coagitatio Ingracitudinis
Lisboa
1697
1
in fólio
176
Fr. Apolinário da Conceição
Piquenas na Terra e grandes no Ceo
Lisboa
1744
1
in fólio
177
Fr. Martinho do Amor de Deos
Crónica da Província de Santo António
Lisboa
1790
1
in fólio
178
P.e Affonso Rodrigues
Exercicio de perfeição
Lisboa
1730
1
in fólio
179
---
Felicis Protestatis Examen Eclesiasticum
Coimbra
1714
1
in fólio
180
Fr. Domingos da Torregrossa
Nectar Divino
Valença
1655
1
in fólio
181
Francisco Larraga
Moral
Coimbra
1749
1
in fólio
182
P.e Benito Remigio
Pratica de Curas
Lisboa
1686
1
in fólio
183
Frater Constantius Serrannus
Summa Theologia
Roma
1590
1
in 4º
184
Fr. Manuel dos Anjos
Politica praedicavel
Lisboa
1693
1
in fólio
185
---
Calendario perpetuo (Mutilado)
---
---
2
in 8º
186
P.e Manuel Correia
Compendio d’indulgencias
Coimbra
1734
1
in 8º
187
[Leão]
Philosophia de Leão
Lyon
1782
4
in 8º
188
Jacobi de Voragine
Sermones
Lyon
1687
5
in 8º
189
Frater Augustinus Mateuci
Schola para per tuti
Roma
1734
1
in 8º
190
Patris Dominici Schram
Institutiones Theologiae Mysticae Augustos Vindelicorum
---
1777
2
in 8º
306 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
191
S. Petri
Chrisologi opus humiliarum
Paris
1544
1
in 8º
192
P.e Manuel Severino Faria
Discursos vários políticos
Évora
1624
1
---
193
Fr. Didaci Stella
Fabula veneu omnicium
Salamanca
1588
1
in 8º
194
Fray Juan Climenes
Exposicion de la regla de los Fragles menores
Valencia
1622
(1)
in 8º
195
---
Um piqueno tratado de moral (Mutilado)
---
---
(1)
---
196
Fratel Laurencius de Portel
Responsorium moralium
Lisboa
1739
1
---
197
Frater Ludivicus de Miranda
Ordinis Judiciarii quaestiones
Salamanca
1601
1
---
198
Frater Ludivicus de Miranda
Exposicion de la regla de los Fragles menores
Salamanca
1609
(1)
---
199
P.e Nicolao Fernandes Colares
Descripção do tormentoso Cabo da Boa Esp. Digo Cabo da enganosa esperança
Lisboa
1718
2
---
200
Fr. Francisco Diez
Del espejo Serafico
Santiago
1683
(1)
---
201
---
Constituições Gerais da Ordem Franciscana
Lisboa
1631
1
---
202
Fr. João do Redondo
Memorial Religioso
Lisboa
1744
1
---
203
Fr. Valério do Sacramento
Thesouro Serafico
Coimbra
1735
1
---
204
Fr. José de Santa Maria
Tribunal de Relligiosos
Madrid
1616
1
---
205
Georgio Broloco
Economia concordantiarium Scripturae
Veneza
1595
1
in fólio menor
206
Diogo Lopes d’Andrade
Tratado sobre os Evangelhos
Lisboa
1616
(1)
---
207
Fr. Juan Henriques
Questionespratiques de casos morales
Coimbra
1668
(1)
---
208
---
Sermões de Domingos (Mutilado)
---
---
1
---
209
D. Jerónimo Mascarenhas
Vida d’Abrahão
Lisboa
1636
1
in 4º
307 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
210
D. Francisco Ignácio de Torres
Discursos eloquentes
Lisboa
1658
1
in 4º
211
D. Juan de Cabrera
Sermones varies
Madrid
1763
1
in 4º
212
Fr. Allonso Cabrera
Considerações sobre os Evangelhos
Córdova
1688
2
in 4º
213
Gracian
Criticon e a abgudesa
Madrid
1720
2
in 4º
214
Fr. António da Expectação
Josephina panegirica
Lisboa
1731
2
in 4º
215
Francisco Fernandes Galvão
Sermões das festas dos Santos
Lisboa
1619
1
in 4º
216
Fr. Manuel de S. Placido
Sermões vários
Lisboa
1709
2
in 4º
217
Fr. Pedro Calvo
Definição das lágrimas
Lisboa
1618
1
in 4º
218
Fr. José Ferreira
Sermões vários
Lisboa
1668
1
in 4º
219
P.e Simões da Gama
Sermões vários
Lisboa
1702
1
in 4º
220
Fr. Luiz de S. Francisco
Sermões vários
Coimbra
1602
1
in 4º
221
Francisco Larraga
Moral
Coimbra
1731
1
in 4º
222
Fr. Cristoval de Fonseca
Terceira parte da Vida de Christo
Barcelona
1606
1
in 4º
223
Fr. José d’Oliveira
Sermões vários
Coimbra
1689
4
in 4º
224
Fr. Christovão d’Almeida
---
Lisboa
1680
1
in 4º
225
P.e António Fernandes de Moura
Examen Theologiae moralis
Braga
1613
1
in 4º
226
Fr. Baltasar Pais
Sermões
Lisboa
1633
1
in 4º
227
Fr. Bernardo de Paredes
Harmonia Mystica e Moral
Coimbra
1634
1
in 4º
228
D. Francisco Ignácio de Torres
Discursos Eloquentes
Lisboa
1648
3
in 4º
229
---
Theatro Evangélico – Sermões
Coimbra
1755
1
in 4º
230
Fr. Francisco de Lisana
Doutrinas Evangélicas
Coimbra
1666
1
in 4º
231
Diversos Autores
Sermões
Lisboa
1685
1
in 4º
308 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
232
Fr. Bernardo de Paredes
Campanha Espiritual
Coimbra
1655
1
in 4º
233
D.or Diogo de Paiva d’Andadre
Sermões
Lisboa
1603
1
in 4º
234
Diego Nixeno
Asontos predicables
Lisboa
1628
2
in 4º
235
D. Manuel Rico
Summa Moral
Madrid
1733
1
in 4º
236
Fr. Augustin de Carrion
Vários Sermones
Madrid
1659
1
in 4º
237
Fr. Manuel de Gouveia
Sermões vários
Lisboa
1715
6
in 4º
238
F. João da Certa
Sermões das Festas da Virgem Santa Maria
Lisboa
1635
1
in 4º
Laurea Portuguesa – Sermões
Lisboa
1685
1
in 4º
239
240
Doctoris Josephi Aldreti
Religiosa Disciplina tuanda Libri 3
Hispali
1615
1
in 4º
241
Fr. Francisco de Rojas Nieto
Vespertinas de las opprobios da pacion de Christo em modo de diálogos
Madrid
1634
1
in 4º
242
Fr. Manuel de Lima
Ideas Sagradas
Lisboa
1720
1
in 4º, Tomo 1º
243
Francisco dos Santos Gorsini
Promptuario de Theologia moral
Madrid
1780
1
in 4º
244
Diego de Morillo
Discursos predicaveis
Lisboa
1608
1
in 4º
245
Philippi Dies
Conciones quadriphices
Veneza
1606
1
in 4º, Tomo 1º
246
Fr. Gaspar de Vila Real
Commentarios e discursos sobre os Evangelhos da Quaresma
Lisboa
1631
1
in 4º
247
Fr. Francisco Fernandes Galvão
Sermões das Festividades dos Santos
Madrid
1615
1
in 4º
248
Fr. Pedro Calvo
Humilias da Quaresma
Lisboa
1727
1
in 4º
249
Fr. Laurentii de Portel
Dubia regularia
Lisboa
1613
1
in 4º
250
Fr. José Carabantes
Remedio de Peccadores
Madrid
1628
1
Em grande, Tomo 2º
309 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
251
Fr. Angel Henrique
Laurea Evangelica
Salamanca
1709
1
in 4º
252
D. António de Molina
Instrucções de Sacerdotes
Madrid
1607
1
in 4º
253
Petri a Navarra Tolentani Theologi
Ablatorum rostutitione
Lyon
1593
1
in 4º
254
Fr. Francisco Xavier
Sermões vários
Madrid
1693
1
in 4º
255
P.e Francisco Lopes
Sermões
Barcelona
1685
1
in 4º
256
D. Alexandre Calamato
Tratatus Adventualis
Antuérpia
1657
2
in 4º
257
Fr. Tomás da Veiga
Considerações sobre os Evangelhos
Lisboa
1609
1
in 4º
258
Fr. Lourenço de Portel
Despositiones aliquorum casicum moralium
Lisboa
1630
1
in 4º
259
Fr. Manuel de Sá
Memórias Históricas da Ordem do Carmo
Lisboa
1724
1
in 4º
260
Fr. Pedro de Poiares
Sobre as Cruses de Barcelos
Lisboa
1670
1
in 4º
261
Fr. Gabriel da Purificação
Trono Sonoro cantado nas festas de N. S.ª
Lisboa
1689
1
in 4º
262
Fr. Tomás da Veiga
Sermões Quaresmais
Lisboa
1618
1
in 4º
263
Fr. João Pereira
Exhortações Domesticas
---
---
1
in 4º
264
Fr. João Salves
Sermões Quaresmais
Madrid
1670
1
in 4º
265
Fr. João da Estrada Gijon
Panegirios predicados em diversos assuntos
Madrid
1666
1
in 4º
266
D Rodrigo Henrique
Commentaruim in Esaian Prophetan
Roma
1602
1
Tomo 2º
267
Hyeronimi Plati
Bono Statu Relligioso
Lyon
1546
1
---
268
Frei Francisco Gonzaga
Manipulus Fratun ninorum
Paris
1582
1
---
269
Fratis Laurentii de Portel
Dubia Regularia
Lyon
1634
2
---
270
Frater Antonius a Sancto Bernardino
Vita Minoritica
Londres
1658
3*
---
271
Fr. Martinho de S. José
Exposição da Regra Seraphica
Salamanca
1633
4*
---
272
Fr. Dâmaso d’Appresentação
Obrigação do Frade menor
Lisboa
1727
2*
---
310 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
273
D.or S. Boaventura
Alguns tractados do Seraphico
Lisboa
1602
1
---
274
Remigio [P.e Benito]
Promptuario
Lisboa
1675
1
---
275
P.e António d’Araujo
Definições Morais
Lisboa
1625
1
---
276
---
Historia e Vida de Santa Catharina Virgem
Valença
1587
1
---
277
D. Fr. Pedro Mart.
Directorium Curayorum
Lisboa
1615
1
---
278
Fr. Christoval Moreno
Vida de S. João Evangelista
Valença
1595
1
---
279
Fr. Diego d’Estrella
Meditaciones del amor de Dios
Salamanca
1578
(1)
---
280
Martini Aspicueta
Compenduim Manualis
Lyon
1591
1
---
281
Joannis Gerson
Imitatione Christi (Mutilado)
---
---
(1)
---
282
Fr. Laurentius de Portel
Super decalogum
Lisboa
1626
1
---
283
Beari Dionisii Ariopagitae
Opera
Lyon
1585
1
in 8º
284
Beati Joannis Trinitate
Expositiae Casum qui in ordine Seraphica reservantur
Paris
1617
1
in 8º
285
---
Biblia Sacra (Mutilado)
---
---
2*
---
286
D. Lourenço Martinez de Marcila
Chronicon de Christiano Agricobio Delpho
Madrid
1679
1
---
287
Fr. Philippe Diez
Tractado de Consideraciones
Salamanca
1697
(1)
---
288
D. Fr. Andrez Ferraz de Valle de Cebro
Governo Geral das aves
Madrid
1683
1
---
289
D. Fr. Andrez Ferraz de Valle de Cebro
Memorial dos Animais
Madrid
1683
1
---
290
Fr. António Arbió
Os terceros hyjos del humano Serafim
Saragoça
1724
2*
---
291
Fr. António Arbió
La família regulada
Saragoça
1739
(1)
---
292
Fr. Apolinário da Conceição
Primaria Seráfica
Lisboa
1733
3*
---
293
Fr. Luis de S. Francisco
Breve explicação da regra Seráfica
Coimbra
1690
1
in 4º
311 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
294
Fr. Bartolomeu de Medina
Instruções para o Sacramento da Penitência
Lisboa
1587
2
in 8º
295
Ovidio
Fábulas (Mutilado)
---
---
8
---
296
Fr. Simão de Salasar
Promptuario moral
Valladolid
1659
1
in 8º
297
P.e Domingos Moreira
Definições morais
Lisboa
1679
1
in 8º
298
Fr. Henrique de Villa Lobos
Manual de Confessores
Lisboa
1633
1
in 8º
299
Frater Joanne a Cruce
Epithone de Statu relligionis
Lisboa
1617
1
in 8º
300
Frater Petri Reginaldi
Speculum Finalis retribletionis (Mutilado)
---
---
1
in 8º
301
Antonii Franciscii Pistratorato
Alfabeto Eclesiástico
Lisboa
1725
1
in 8º
302
Joannis Molare
Lexion Hispano Italicum
Veneza
1576
1
in 8º
303
Lucani
Bello civili
Lyon
1542
1
in 8º
304
D. Manuel Sarmento
Milicia Evangélica
Madrid
1618
1
in 8º
305
Nattio Narin Cagnan
La Furca Fedele Inceprede
---
1715
1
in 8º
306
P.e António d’Araujo
Definições morais
Lisboa
1680
1
in 8º
307
D. Fr. Pedro Martir
Directorium Curatorum
Leridae
1617
1
in 8º
308
Thomas Stapletono
Promptuarium morale
Veneza
1594
2
in 8º
309
Arnobii
Commentaria in Psalmos
Basilae
1537
1
in 8º
310
Genebrardus
Psalmos
Lyon
1615
1
in 8º
311
S. Martini Bonacinae
Compendium Theologiae moralis
Antuérpia
1638
1
in 8º
312
Don Joseph de Barsia
Compendio de los cinco tomes del despertador Christiano
Lisboa
1634
1
in 8º
313
Frat. Didaci da Vega
Quaresmales conciones
Lyon
1602
1
in 8º
314
Frat. Didaci da Vega
Vespertinas Conciones
---
---
1
in 8º
315
Fr. António Freire
Thesouro Spiritual
Lisboa
1624
1
in 8º
316
Fratris Zaclevare La Zelos
Annuncius Appostolicus seu conciones
Paris
1713
6
in 8º
312 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
317
Fratris Francisci a Victoria
Relectiones Theologiae
Lyon
1584
1
in 8º
318
Fratris Jacobi Soares
Oito conciones corporis Christi
Lyon
1607
1
in 8º
319
---
Meditações várias (Mutilado)
---
---
1
in 8º
320
P.e Manuel Lourenço Soares
Explicação dos casos reservados
Lisboa
1660
1
in 8º
321
---
Relação de várias ilhas e reinos do mundo (Mutilado)
---
---
1
in 8º
322
P.e António Pereira
Tradução do Velho e novo testamento
Lisboa
1791
18
in 8º
323
Fratris Thoino Xavio
Summa Sacramentorum
Lisboa
1554
1
in 8º
324
Fratris Henrici Engelgrave
Celeste Patheon Lucis Evangelicos
Colónia
1659
5
in 8º
325
Bourdaloue
Sermons
Lyon
1750
15
in 8º
326
Tulense
Methaphisica Speciales
---
---
(1)
in 8º,Tomo 2º
327
Tulense
Physicos generales
---
---
(1)
in 8º,Tomo 4º
328
Fratris Sebastianni Dupaschier
Summa Philosophia Scholasticae
---
---
(1)
Tomo 2º
329
Fratris Sebastianni Dupaschier
Methaphisica
Patavii
1732
1
in 8º
330
D. Juan Zevaleta
Dia de festa por la tarde
Madrid
1659
1
in 8º
331
Fr. Rafael de Bluteau
Sermões Panegiricos
Lisboa
1732
2
in fólio
332
Fr. António da Piedade
Chronica da provincial d’Arrabida
Lisboa
1728
1
in fólio
333
Fr. António da Expectação
Estrella d’Alva Santa Theresa de Jesus
Lisboa
1755
3
in fólio
334
Fr. Joan de Mora
Pensil Eucharistico
Lisboa
1732
2
in fólio
335
Fr. António Caethano de S. Boaventura
Paraiso Mystico da Ordem dos menores
Lisboa
1750
1
in fólio
336
D. José Pocorsell Vilagrassa
Ramalhete de flores mysticas
Barcelona
1743
1
in fólio
313 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
337
Frater Joseph ab Assumptione
Martirologium Augustiniannum
Lisboa
1743
2
in fólio
338
Madre Maria de Jesus d’Agreda
Mystica Cidade de Deos
Lisboa
1685
3
in fólio
339
Fr. João Baptista de Santo António
Paraiso Serafico
Lisboa
1734
1
in fólio
340
Fratris Caroli Percesin
Chronologia Historica legalis ordinis
Lyon
1752
2
in fólio
341
Petrus Pollus
Mansiones morales seu quadragésima continua
Madrid
1739
1
in fólio
342
Hyeronimus Cardosus
Dictionarium Latino Lusitanum
Lisboa
1601
1
in 4º
343
Martini de Aspilcoeta Navarro
Addicções ao Manoal dos Confessores
Évora
1574
3
in 4º
344
D. Antonius Ginther
Cursus Israelis et auriga ejus
Antuérpia
1752
5
in 4º
345
Fr. Francisco de Santo António
Arte Theologico Pratica de Confessores
Lisboa
1755
1
in 4º
346
P.e António Tavares
Exame de Confessores
Lisboa
1754
1
in 4º
347
Frater Isidorus de Isulanis
De donis Sancti Joseph (Mutilado)
---
---
1
in 4º
348
Fr. António do Espirito Santo Andrade
Sermões Panegíricos
Lisboa
1755
1
in 4º
349
Fr. João de Coimbra
Sermões em várias festividades
Coimbra
1752
2
in 4º
350
Fr. João de S. Margarida
Sermões vários
Lisboa
1744
1
in 4º
351
Fr. Francisco de Larraga
Promptuarius moral
Coimbra
1735
1
in 4º
352
Benedicti Papae 14
Libri tredecim de Synodo Diocesano
Veneza
1793
2
in 4º
353
Madureira
Syntaxe
Coimbra
1739
1
in 4º
354
D.or Gil Osorio Udemira
Sermões quaresmais
Lisboa
1748
1
in 4º
355
Fr. Simão António de Santa Catherina
Luz de Verdades Catholicas
Lisboa
1727
1
in 4º
314 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
356
Fr. Agostinho de S. Boaventura Montoya
Sermões quaresmais
Lisboa
1727
1
in 4º
357
D.or João Evangelista
Sermões
Lisboa
1743
1
in 4º
358
Fr. Francisco de S. Luiz Rebello
Sermões
Lisboa
1759
1
in 4º
359
Fr. Dionísio da Conceição
Imagens predicaveis
Lisboa
1774
2
in 4º
360
P.e Nicoláo Fernandes Colares
Desempenho de Pregadores
Lisboa
1700
1
in 4º
361
P.e Manuel Consciência
Sermões Panegíricos
Lisboa
1726
1
in 4º
362
Cornelii Jansenii
Commentarium
Lyon
1594
1
in 8º
363
Joannis Osorii
Conciones
Antuérpia
1592
4
in 8º
364
Sancti Gregorii
Moralia
---
1530
1
in 8º
365
Joannes Hentenius
Rationes vetuslissimorum Theologonim
Paris
1545
1
in 8º
366
---
Vitta Flavii Vigetii Rurati (Mutilado)
---
---
1
in 8º
367
Frater Ildefonsus Ad Prosio
Declamationes pro Dominicis post Pascha
Compluti
1571
1
in 8º
368
Sancti Leonis Papae primi
Homiliae
Lovanii
1561
1
in 8º
369
Thomas Hibernicus
Flores orimium praedoctorum
Colónia
1577
1
in 8º
370
Fr. Diego de Estella
Meditaciones de la amor de Dios
Madrid
1572
1
in 8º
371
Gasparis Graphar
Michaean Prophetan commentaria
Salamanca
1570
1
in 8º
372
Pater Antonius de Regibres
Joanni quinto epigramma
Lisboa
1730
1
in 8º
373
---
Livro da Vaidade do mundo (Mutilado)
---
---
1
in 8º
374
Fr. Jaime Rebulosa
Conceptor Seripturales
Barcelona
1598
1
in 8º
375
Pedro de Messia
La Salva de varia leccion
Veneza
1583
1
in 8º
376
---
Testamenti novi editio vulgara
Lyon
1557
1
in 8º
315 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
377
Frater Joannes de Cruce
Epithome de Statu Relligionis
Lisboa
1617
1
in 8º
378
Hyeronimi Stridonicusis
Epistola
Lyon
1604
1
in 8º
379
Francisci Assiatis
Opuscula
Antuérpia
1623
1
---
380
Fr. Pedro Palomino
Sermões vários
Madrid
1679
1
---
381
João Gomes da Silva
Sermão do Glorioso S. Bento
Lisboa
1700
1
---
382
Fr. Francisco Amijugo
Rethorico Sagrada
Saragoça
1670
1
---
383
---
Sermões vários pregador na cidade de Leira p. um Pregador estimado
Saragoça
1678
1
---
384
D.or Jeronimo Ribeiro de Carvalho
Sermão nas honras do Serenissimo Princepe de Portugal D. Theodosio
Coimbra
1653
1
---
385
Patre Silvestro Prieratae
Silvestrina
---
1539
1
---
386
Franciscus de Aguillar
Orbis Ecclesiasticus
Salamanca
1725
1
---
387
---
Instructorium conscientiae
---
1725
1
---
388
Francisco Pedro de S. José
Discursos morales para Domingos
Coimbra
1663
1
---
389
Fratrem Franciscum de Aguillar
Hyeroglifica Symbola Marianna
Salamanca
1635
1
---
390
---
Sermões vários
Coimbra
1680
1
---
391
Fratre Diogo Mallo de Anduasia
Orationes Evangelicae de Adventu et Quaresma
Madrid
1666
1
---
392
D.or Francisco Ignácio de Porres
Escuella de discursos
Lisboa
1649
1
---
393
Fr. Manuel Rodrigues Lusitano
Summa de casos de consciência
Lisboa
1604
1
---
394
Vários autores
Orações várias
Lisboa
1647
1
---
395
Fray Joanne de S. Gabriel
Sermones sobre los Evangelios
Madrid
1662
4
in 4º
396
Fr. António de Gouveia
Relectiode Censuris Bullae
Lisboa
1615
1
in 4º
316 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
397
Fr. Manuel de Gouveia
Phaenix gloriosa
Lisboa
1727
1
in 4º
398
Fr. Christovão d’Almeida
Sermões vários – 2.ºparte
Lisboa
1680
1
in 4º
399
Fr. Diogo Lopes d’Andrade
Tratados da puríssima Conceição – 1.ºparte
Nápoles
1683
1
---
400
---
Summa de casos de consciência (Mutilado)
---
---
1
in fólio
401
Mestre Alonso de Vilgas
Discursos e Sermões (Mutilado)
---
---
1
in fólio
402
Alonso de Vilgas
Victoria e triumpho de Jesus Christo
Madrid
1603
1
in fólio
403
P.e António do Espírito Santo Macabello
Policanthea Eucharistica
Lisboa
1733
1
in fólio
404
Fr. Juan Gil de Gudoi
El mejor Guiman de los Boenos
Lisboa
1690
2
in fólio
405
Fr. Manuel de Damaso
Verdade Illucidada
Lisboa
1730
1
in fólio
406
Fr. João de S. Francisco
Primavera Sagrada
Lisboa
1675
1
in fólio
407
Henrique de Villa Lobos
Summa de Theologia moral e canónica – Tratado 1.º de consciência
Lisboa
1644
3
in fólio
408
Roque Rico de Miranda
Sermões sobre os Evangelhos
Madrid
1690
1
in fólio
409
P.e Alonso d’Andrade
Itenerario historial
Madrid
---
1
in fólio
410
Fr. Thomas da Veiga
Considerações Literais – T. 1.º
Lisboa
1833
(1)
in fólio
411
Fr. Lucas Nuadingues
Scriptores ordinis minorum
Roma
1650
1
in fólio
412
---
Refeição Espiritual (Mutilado)
---
---
1
in fólio
413
Fr. Angel Henrique
Meditações para os dias da Quaresma
Salamanca
1612
1
in fólio
414
André Mendo
Sermones vários
Madrid
1676
3
in 4º
415
Fr. Pedro de S. José
Glorias de Maria Santíssima
Coimbra
1688
1
in 4º
317 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
416
Fr. Diogo Morillo
Vida e excellencias da Madre de Deos
Saragoça
1610
1
in 4º
417
Fr. Pedro Calvo
Segunda parte das homilias da quaresma
Lisboa
1629
1
in 4º
418
Seixas
Medalha Evangélica
Lisboa
1606
1
in 4º
419
Ignácio Ramos
Ramos Evangélicos
Lisboa
1724
(1)
Tomo 2º
420
Fr. Christoval d’Avendanó
Sermones sobre los Evangelhos
Lisboa
1524
1
in 4º
421
P.e Francisco de Santa Maria
Sermões
Lisboa
1689
1
in 4º
422
Lopes d’Andrade
Tractados sobre os Evangelos da festividade dos Santos – 1.ª parte
Madrid
1622
1
in 4º
423
Amador Vieira
Sermões das festas de Christi
Lisboa
1616
1
in 4º
424
Frater Joanne Galarro
Homiliae in Dominicas in Adventum
Granato
1617
1
in 4º
425
Fr. Agostini de Corrion
Sermões da festividade de Nossa Senhora - Tomo 10
Madrid
1639
1
---
426
Fr. José d’Oliveira
Sermões – 1.ª parte
Coimbra
1688
1
in 4º
427
P.e Luis Alvares
D.os – 2.ª parte
Lisboa
1683
1
in 4º
428
---
Desposorios do Espirito (Mutilado)
---
---
1
in 4º
429
Annuel de Naxere
Sermon de la concepcion de la Virgem Nossa Senhora
Lisboa
1647
1
in 4º
430
P.e António d’Amorim
Sermões
Lisboa
1710
1
in 4º, Tomo 2º
431
Luis Cordeiro
D.os
432
---
Cartapacio de Syntaxe (Mutilado)
433
João Baptista de Múrcia
Clarim Evangélico
434
---
Canticum Moryais (Interp.º e mutilado)
Évora
1687
1
in 4º
---
---
1
in 4º
Valência
1732
1
in fólio
---
---
1
---
318 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
435
Fr. Pedro
Resolução do que pertence aos Sacramentos; e duvidas morais
Lisboa
1617
2
in fólio
436
Fr. António Rosado
Tratado sobre os quatro Novíssimos
Porto
1622
1
in fólio pequeno
437
Didaco de Baesa
Commenturia moralia
Valhisoleti
1626
1
in fólio
438
Corrélla
Pratica del confessionario
Madrid
1600
1
in fólio
439
Corrélla
Summa Theologica moral
Lisboa
1700
3
in fólio
440
Corrélla
Summa Theologica moral – 1.ª, 2.ª e 3.ª parte
Lisboa
1701
1
in fólio
441
Corrélla
Summa Theologica moral – 1.ª e 2.ª parte
Lisboa
1693
1
in fólio
442
---
Chronicas dos Relligiosos menores (Alguns mutilados)
Lisboa
1615
4
---
443
Fr. Manuel da Esperança
História Serafica da Ordem dos Frades menores
Lisboa
1656
1
in fólio
444
---
Chronica geral da Província de Portugal
Lisboa
1725
3
in fólio
445
---
Origens – Epistolas e humilias ad diversos (Mutilado em pequenos fragmentos)
---
---
(1)
in fólio grande
446
Garáo
El sábio instruído de la Naturalesa 1.ª parte
Lisboa
1687
1
in fólio
447
Frei Pedro Calvo
Homilias da Quaresma
---
1627
1
in 4º
448
Aristoteles
In libros Aristoteles de interpetratione (Mutilado)
---
---
(1)
in fólio
449
Fr. Luiz de Sousa
Chronica de S. Domingos de Portugal
S. Domingos de Benfica
1623
1
in fólio
450
Didaci de Sellada
In Rutham Commentaria literales et morales
Lyon
1651
1
in fólio
451
Didaci de Sellada
Benedictionibus Patriarcharum
Veneza
1642
1
in fólio
452
Didaci de Sellada
In Iudith commemtaria
Lyon
1641
1
in fólio
453
Benedicti Fernandes Borlensis Lusitani
Commentarinum --- in Genesin (Trun.cos)
Veneza
---
3
in fólio
319 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
454
Sottomaior
Cantici canticorum Salomonis interpetratio
Lisboa
1599
1
in fólio
455
---
Explanatio moralis ad cap. 15 Sacrosancti Evangelii Secundum Lucam (Mutilado)
--
---
1
in fólio
456
Mendonça
Commemtarium in quatuor regum libros (Mutilado)
---
---
2
in fólio
457
Mendonça
Commemtarium in quatuor regum libros (Mutilado)
---
---
2
in fólio
458
Mendonça
Sermões 1.ª parte
Lisboa
1632
1
in fólio
459
Fr. Jorge da Natividade
Centurias predicáveis
Coimbra
1658
1
in fólio
460
Fernando Ramires
Oraciones Evangelicas
Madrid
1638
1
in fólio
461
Jeronimo de Florencia
Sermones vários (Mutilado)
---
---
2
in fólio
462
Fratris Dounmis Souto
De Justitia et jure
Lyon
1559
1
in fólio
463
Fr. Pedro Pola
Mantiones festa que Haebraeorum
Barcelona
1743
1
in fólio, Tomo 1º e 4º
464
Fr. Pedro Pola
Mantiones Mystico
Madrid
1737
1
in fólio
465
Fr. António Feio
Tratado 1.º e 2.º
Lisboa
1612
(1)
in fólio
466
Fr. Joannis Ducis Scholi
Inquatuor libros Sententiorum
Veneza
1597
1
in fólio
467
Thomas
Le Sacramentis in genere
Paris
1667
1
in fólio
468
---
Liber Sextus de Christi miraculis (Mutilado)
---
---
1
in fólio
469
Fr. Pedro Correia
Conspiração universal
Lisboa
1615
1
in fólio
470
Fr. João de S. Francisco
Primavera Sagrada
Lisboa
1675
1
in fólio
471
Fr. Gabriel do Espirito Sancto
Jardim
Lisboa
1653
1
in fólio
472
Beserra
Ave Maria
Madrid
1629
1
in fólio
473
Ribeiro
Ave Maria
Madrid
1691
1
in fólio
320 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
474
Christoval da Fonseca
Vida de Christo 4.ª parte
Madrid
1611
1
in fólio
475
Diogo da Veiga
Paraiso de la gloria de los Santos
Lisboa
1603
1
in fólio
476
José Cardoso
Agiologio Lusitano (Mutilado)
Lisboa
1666
(1)
in fólio, Tomo 3º
477
---
Commentariii Collegii Conimbricencis
Coimbra
1597
1
in fólio
478
---
Commentariii Collegii Conimbricencis
Coimbra
1606
1
in fólio
479
Fr. João da Ceita
Quadragena
Évora
1625
1
in fólio
480
Alfonsi Paleoti
Sacxae Synodi explicatia (Mutilado)
---
---
1
in 4º
481
Domini Didaci del Castilho
Alfabetum Marianum
Lyon
1669
1
in 4º
482
Fr. Christovão d’Almeida
Sermões vários
Lisboa
1681
1
in 4º
483
Fr. Pedro Palumino
Sermões vários
Madrid
1680
1
in 4º
484
P.e Francisco Lopes
Sermões vários
Barcelona
1685
1
in 4º
485
Fr. Manuel de Gouveia
Sermões vários
Lisboa
1706
1
in 4º
486
---
Vários Sermões (Mutilado)
---
---
1
in 4º
487
Fr. Alonso Cabrera
Consideraciones sobre los Evangelhos
Barcelona
1602
1
in 4º
488
Alexandre de Gusmon
Eschola de Bellem
Évora
1678
1
in 4º
489
---
História da vida do venerável Fr. João de Vasconcellos
---
---
1
in 4º
490
Fr. Joseph Gavani
Instructiones praedicabiles
Málaga
1674
1
in 4º
491
---
Livro de procissões (Mutilado)
---
---
1
in 4º
492
Bartholomeu de Escovar
Livro de la generacion
Córdova
1622
1
in 4º
493
Gaspar Pires
Thesouro de Pensamentos
Lisboa
1635
1
in 4º
494
Rafael Bloteau
Primicias Evangelicas
Lisboa
1685
1
in 4º
321 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
495
P.e Bartlhomeu de Escobar
Da geração de J. Christo
Córdova
1632
1
in 4º
496
Aleixo
Annotationes in Evangelio
Coimbra
1610
1
in 4º
497
Van Hesper
Commentarium in decretum Gratiani
Coimbra
1773
1
in 4º
498
Franciscus d’Aquillar
Psalterium decem chordarum
Salamanca
1724
1
in 4º
499
Laurencius de Portel
Sermones et exhortationes Monasticae
Lisboa
1617
1
in 4º
500
Christovão d’Andrade
Sermões varios – 4.ª parte
Lisboa
1686
1
in 4º
501
Francisco d’Aguillar
Hyeroglifica
Salamanca
1724
1
in 4º
502
Luis Alvares
Sermões – 1.ª parte
Évora
1688
1
in 4º
503
João Marques
Os dous estados espirituais de Jerusalem
Lisboa
1695
1
in 4º
504
Guijon
Sermones para los dias de la Semana Santa
Madrid
1670
1
in 4º
505
Expectação
Semana Santa
Lisboa
1719
1
in 4º
506
Ramos
Sermões (Mutilado)
---
---
1
in 4º
Laurea Portugueza
Lisboa
1637
1
in 4º
507 508
Fr. Jose Caravantes
Pratica de Missiones
Leon
1674
1
in 4º
509
---
Sermões (Mutilado)
---
---
1
in 4º
510
Rosado
Tratado sobre a distruição de Jerusalem
Porto
1624
1
in 4º
511
Pensione
Praxis Lusitana (Mutilado)
---
---
1
in 4º
512
Madre de Dios
Foero de la Consciencia
Lisboa
1609
1
in 4º
513
Alvaro de Escovar
Sermões de tarde
Lisboa
---
1
in 4º
514
João Cardoso
Ruth peregrina
Lisboa
1628
1
in 4º
515
Francisco de Lisana
Thesouro Mariano
Madrid
1663
1
in 4º
516
P.e Manuel da Guerra
Vários Sermões (Mutilado)
---
---
1
in 4º
517
Diogo de Mendonça
Guerra de Graunada
Lisboa
1627
1
in 4º
322 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
518
Pavarrio
Instructiones praedicabiles
---
---
1
in 4º
519
Balthasar Pais
Sermões da Quaresma
Lisboa
1631
1
in 4º
520
Mello de Anddera
Orações panegiricas
Madrid
1665
(1)
in 4º, tomo 4º
521
Bochambau
Medulla de Theologia
Lisboa
1683
1
in 4º
522
Lourenço Ribeiro
Serm. Do Amparo
Lisboa
1686
1
in 4º
523
Fr. João Henriques
Questões Rethoricas
Madrid
1665
1
in 4º
524
Hernando de S. Tiago
Consideraciones
Lisboa
1617
1
in 4º
525
Philippe Dies
15 Tratados
Salamanca
1597
1
in 4º
526
Vieira
Sermão Histórico
Lisboa
1668
1
in 4º
527
Amorim
Sermões
Lisboa
1707
1
in 4º
528
Falcão de Sousa
Sermão do dia do Juízo
Coimbra
1636
1
in 4º
529
Andrese Mendo
Sermões vários
Madrid
1663
1
in 4º
530
Andrese Mendo
Assumptos predicables
Madrid
1664
1
in 4º
531
Álvaro Leitão
Sermões das tardes da Quaresma
Lisboa
1670
1
in 4º
532
Rafael de Jesus
Sermões vários
Bruxelas
1674
1
in 4º
533
----
Tractado de Santo Agostinho em Latim e Grego (Mutilado)
---
---
1
in 4º
534
Sá
Notationes in totum Scripturam Sacrã
Lyon
1601
1
in 4º
535
Nixemcergo
Obras Christianas
Madrid
1633
1
in fólio
536
Viegas
Commentarii exegetii in Apocalipsin
Évora
1601
1
in fólio
537
Parra
Rosa Labada
Madrid
1670
1
in fólio
538
?
Sayro Augulo Clavis Regia
Veneza
1605
(1)
in fólio
538
Fr. Juan de Ovando
Consideraciones e exercícios Sanctos
Lisboa
1609
1
in fólio
540
Torrecila
Summa de todas as matérias morais (Mutilado)
Madrid
1691
1
in fólio
323 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
541
[Juan Bautista de] Murcia
Clarin Evangelico – 2.ª parte
542
Noidins
543
Valência
1732
(1)
in fólio
Pratica de Curas
Madrid
1672
(1)
in fólio
Expectação
Estrella d’Alva
Lisboa
1710
2
in fólio
544
Expectação
Estrella d’Alva
Lisboa
1716
1
in fólio, Tomo 2º
545
Thomas Aquinatis
Summa Theologiae Sancti Thomae Aquinatis
Lyon
1562
1
in fólio
546
---
Questões morais (Mutilado)
---
---
1
in fólio
547
Arnobii
Disputationes adversus gentes
Roma
1543
1
in fólio
548
Fr. Paulo de Santa Theresa
Flagello do peccado
Lisboa
1735
13
in 4º
549
Marius Bognonius
---
Veneza
---
(1)
---
550
[Marij Bignoni]
Encyclopedia Concionatorum
Colónia, Agrípina
1663
3
in 4º
551
[Ludovico de] Miranda
Manuale Praelatorum regularium
Roma
1612
2
in 4º
552
Augustim Pauleti
Discursos predicabiles
Colonia, Agripina
1724
2
in 4º
553
Pater Carolus Vanhorn
Cornucopia Cancionum Sacrarim
Colonia, Agripinae
1701
(1)
---
554
Alfonsus de Ligario
Homo Appostolicus ad audiências confessiones
Veneza
1759
(1)
---
555
[Frei João de] Ceita
Quadragena de Sermões
Lisboa
1619
(1)
---
556
P.e Pedro de Calatayud
Exercicios Espirituais
Valladolid
1748
(1)
---
557
Annunciação
Annunciações Evangélicas
Lisboa
1748
4
in 4º
558
Larraga
Promptuario de Theologia moral
Porto
1799
(1)
---
559
Jeronimo d’Elso
Sermões vários
Madrid
1731
1
in 4º
560
Fr. Manuel d’Almeida
Quaresmal
Lisboa
1740
2
in 4º
561
Sanches
Orações várias
Madrid
1750
1
in 4º
562
P.e Manuel dos Reis
Sermões
Évora
1717
2
in 4º
324 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
563
Fr. Manuel de Santo António
Floresta Evangélica
Lisboa
1744
5
in 4º
564
Fr. Manuel das Chagas
Ramalhete espiritual
Lisboa
1764
1
in 4º
565
P.e Francisco Bono
Quaresma inteira
Valença
1741
1
in 4º
566
Jacobo de Besombes
Moralis Christiana
Veneza
1788
2
in 4º
567
Fr. Lourenço de Santa Thereza
Sermões vários
Lisboa
1761
3
in 4º
568
Fr. Antonio de Santa Maria
Sermões vários (Truncados)
Lisboa
1750
13
in 4º
569
P.e Sebastião d'Azevedo
Ceo Mystico
Lisboa
1725
1
in 4º
570
Frater Josephus Caetanus
Divini Verbi Hyerologia
Coimbra
1730
3
---
571
Fr. Agostinho de Santa Maria
Adiodati Contemplativo
Lisboa
1713
1
in 4º
572
---
Thesouros dos Christãos
Lisboa
1799
2
in 4º
573
Frater Raphael Bouherba
Problemata Sacra
Lisboa
1736
2
in 4º
574
P.e Manuel Consciencia
Sermões Panegiricos (Truncados)
---
---
2
in 4º
575
P.e António d'Araujo
Diffinições Morais
Lisboa
1695
1
in 8º
576
Arce Sobrio Sena
Historia Evnagelica
Madrid
1605
1
in 8º
577
P.e Estevão de Castro
Aparelho para bem morrer
Lisboa
1637
1
in 8º
578
---
Livro sobre a vaidade do mundo (Mutilado)
---
---
1
in 8º
579
---
Divi Dionisii Carthesianni contra scatam Maho metacan (?)
Colónia
1532
1
in 8º
580
Fr. Daniel Coucina
Instruções de Confepsores
Madrid
1766
1
in 8º
581
Thomas Stapletono
Promptuarium morale
Veneza
1596
1
in 8º
582
D. Frater Constatinus Serranus
Concilialia dilucida omnium contriversiarum S. Thomas, et Schoti
Lyon
1590
1
in 8º
583
Joannis Feri
Conciones
Antuérpia
1560
1
in 8º
325 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
584
Fratris Francisci Ribero
Commentaruim induodecin Prophetas
Colónia
1599
1
in fólio
585
Fratris Gregorii Baptista
Annotationes inEvangelia Secundum Joannem
Coimbra
1621
1
in fólio
586
Frater Emanuel de Incarnatione
Comentarium inEvangelium Secundum Matheum
Lisboa
1687
1
in fólio
587
Fratris Francisci Martinensis
Bukkarium Ordinis Minorum
Madrid
1744
3
in fólio
588
Pater Joannes Haye Servio
Triumphus Veritatis Buaci
---
1609
1
in fólio
589
---
Expositia Evangeliorum (mutilado)
---
---
1
in fólio
590
---
Ceremonial da Provincia de Santo António (mutilado)
---
---
1
in fólio
*Exemplares NOTA: Este inventário termina fazendo menção ao número total de volumes, ou seja, “tem a livraria acima descrita – 917 Volumes”.
FONTES MANUSCRITAS Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, Convento de Santo António da Sertã, caixa 2205, Inventário do Convento de Santo António da Sertã. BIBLIOGRAFIA AMORIM, Maria Adelina de Figueiredo Batista, A Missionação Franciscana no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1622-1750). Agentes, Estruturas e Dinâmicas., Tese de Doutoramento em História, Especialidade: História e Cultura do Brasil, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2011, v. I e II. CARVALHO, José Adriano Freitas de, Da memória dos livros às bibliotecas da memória, Centro Interuniversitário da História da Espiritualidade, Porto, 1998. FARINHA, P.e António Lourenço, A Sertã e o seu Concelho, Lisboa, Escola Tip. das Oficinas de S. José, 1930 (Edição fac-similada de Câmara Municipal da Sertã, A Gráfica de Tomar, 1998). MATOS, Susana Isabel de Oliveira Ferreira, Convento de Santo António da Sertã. Da fundação aos nossos dias, Câmara Municipal da Sertã, Sertã, 2004. PORTELA, Miguel, O Fabrico do Papel em Figueiró dos Vinhos no séc. XVII, Edição do autor, Figueiró dos Vinhos, Março/2012. PORTELA, Miguel, O Mosteiro de Santa Clara de Figueiró dos Vinhos. Apontamentos para o seu estudo, Edição do autor, Figueiró dos Vinhos, 2013.
326 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________
TEIXEIRA, Cândido, Antiguidades, Famílias e varões ilustres de Cernache do Bonjardim e seus contornos, Cernache do Bonjardim, Tipografia do Instituto, 1925, v. I.