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Conteúdo O Convento dos Capuchos (de Santa Cruz de Sintra): a sua importância no espaço e no tempo ......................................................................................................................................... 238 1. Introdução ......................................................................................................................... 246 2. O convento de Varatojo: breve nota histórica .................................................................. 246 3. Extinção e incorporação da livraria de Varatojo ............................................................... 248 3.1. O processo de 1834 .................................................................................................... 248 3.2. O processo de 1910 .................................................................................................... 250 4. A livraria de Varatojo na Biblioteca Nacional: aspectos organizativos ............................. 252 5. Conteúdos e leituras na livraria de Varatojo (1861-1910) ............................................ 255 5.2. Caracterização temática da colecção: perfis de leitura ............................................... 257 6. Proveniências das colecções varatojanas ...................................................................... 260 7. Conclusão ...................................................................................................................... 261 Missionários em conflito: As disputas entre capuchos da Piedade e jesuítas acerca das aldeias do rio Xingu, .............................................................................................................................. 263 Santo António, o santo de todo o mundo luso-hispânico (e não só) ......................................... 276 A LIVRARIA DO EXTINTO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO DA SERTÃ ..................................... 288


238 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ O Convento dos Capuchos (de Santa Cruz de Sintra): a sua importância no espaço e no tempo

ELISABETE CORREIA CAMPO FRANCISCO Mestre em Património Cultural (U.C.P.); Doutoranda em Hist.Contemporânea [FLUL], C.E.H.R./(U.C.P.

“Aqui, a estrada larga do mundo antigo tornou-se estreita e a coragem dos que foram chamados tornou-se maior”. Frei António Piedade

Poucos ramos de religiosos conseguiram superar os Capuchos na concretização de um ideal de pobreza. Acreditando que na vida terrena todos somos passageiros e peregrinos, apregoando que o verdadeiro Reino não é o deste mundo, itinerância e mendicidade foram os traços fundamentais do seu perfil. Imitando assim o Cristo Pobre, os franciscanos capuchos cedo se diferenciaram do seu meio e se tornaram reconhecíveis. O seu signum distinctivum começou pelo hábito religioso, muito despretensioso e simples, de tecido ordinário. Andavam descalços, vivendo na pobreza voluntária mais extrema: “todos os que os viam ficavam num grande deslumbramento, pois o hábito e a sua vida tornavam-nos muito diferentes de todos os outros mortais e faziam deles, por assim dizer, homens das florestas1.” Sendo “o seu livro o mundo”, foi também no seio da própria natureza, que tanto amavam, que os Capuchos edificaram as suas casas. Foi este um ponto fulcral para as suas habitações, que estavam arquitectonicamente em harmonia com o modo de estar na vida e no mundo destes fascinantes homens. O franciscano capucho ”não é, com efeito, nem arquitecto, nem mesmo artífice2”, mas soube criar, num molde de pobreza e humildade no seio da natureza, obras inimitáveis. De tal forma

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Jacques LE GOFF,, Francisco de Assis, Alfragide, Editorial Teorema, 2000, p.71. Joaquim CERQUEIRA GONÇALVES, “Sabedoria e arte de ser Franciscano”, in Iº. Seminário: O Franciscanismo em Portugal, sécs. XIII – XVI, Actas, Lisboa; Fundação Oriente, 1996, p.80. 2


239 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ que, “aimables églises mendiantes...êtes-vous de l’arquitecture, êtes-vous même de l’art? Je l’ignore. Mais à coup sûr vous êtes de la poésie3.” E foi num ambiente envolto em poesia que se ergueu o Convento dos Capuchos, na Serra de Sintra, no outrora chamado Monte da Lua. Foi baptizado oficialmente de Convento da Santa Cruz da Serra de Sintra, apelidado de Convento da Cortiça, mas mais conhecido por Convento dos Capuchos. A fundação do convento, no século XVI, coincidiu com uma época de grande expansão dos Capuchos em Portugal, os quais contaram com a protecção da casa real e da alta nobreza. O próprio facto do convento lhes ter sido entregue, após a sua fundação, por D. Álvaro de Castro, é relevante para demonstrar a admiração que se tinha, na época, por estes homens4. Por outro lado, apesar de “confiado” nas mãos dos Capuchos, o convento nunca era tido por eles como uma pertença, uma propriedade. O seu limiar de abnegação levava a que os fundadores dos conventos fossem encarados como “Padroeiros” a quem anualmente pediam licença para continuar a habitá-los. Vindos do Convento da Arrábida, oito frades capuchos foram os primeiros habitantes deste modesto eremitério, após lançada a sua primeira pedra a 3 de Maio de 1560. Em plena serra de Sintra, num sítio ermo, natural, bem enquadrado naquele ambiente serrano – o outrora chamado Monte da Lua (território sagrado onde se cultuava o sol e a lua - , ergue-se o Convento. Nesse local místico, de ímpar beleza, onde a espessa névoa quase sempre cobre a serra e onde a extensão do dia atinge curta duração, o conjunto arquitectónico do convento assume uma forma poética. Referindo-se a este lugar, Eça de Queirós escreveu o seguinte. “Eu demoro-me apenas três ou quatro dias. O tempo de cavaquear um pouco com o Absoluto no alto dos Capuchos”.

“Explicava-se” a escolha de Sintra para a sua localização na medida em que, projectando-se à semelhança do convento da Arrábida a cuja província pertencia, estava rodeado pela “cúpula verde” da imponente serra.

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Louis GILLET, Histoire Artistique des Ordres Mendiants : étude sur l'art religieux en Europe du XIIIe au XVIIe siècles, Paris, 1912, p.55. 4 A expansão dos Franciscanos em Portugal foi de tal forma significativa que, à data da extinção das ordens religiosas, em 1834, esta Ordem era a mais numerosa no país.


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As formações rochosas, com grutas e cavidades, inseridas em penedos rodeados por uma vegetação de tons variados, serviam de abrigo a estes monges. Seria uma forma de penitência? Uma regra de vida? Ou o amor à natureza?... O certo é que estes homens construíram - aproveitando a expressão de Vitor Serrão – “uma arquitectura integrada no céu”. As condições naturais tiveram forte influência na escolha da localização do convento aquando da sua fundação. Se por um lado parecia ficar mais próximo de Deus, nesse alto da serra, “quase junto ao céu”, por outro, era um dos casos em que se afastava mais dos Estatutos da Província, segundo os quais “ |…|as nossas casas se edificarão não muito distantes das populações, nem muito junto às mesmas5”. Apesar da distância da povoação, dali acudiam os religiosos aos habitantes, para acudir aos doentes e celebrar missas; mantendo, porém, a distância suficiente a que os eremitas levassem a sua vida de ascese e contemplação, numa atitude cúmplice da natureza. Mas essa aproximação a esta nos seus edifícios explica-se, por outro lado, pelo seu “abandono” do mundo. Não querendo possuir nada como propriedade, recusavam ter grandes e solenes mosteiros, por isso erguiam conventos pequenos, de grosseira construção, sem qualquer comodidade ou conforto, longe da riqueza e numa simplicidade levada ao extremo. De facto, os franciscanos elevaram a beleza do mundo ao lugar supremo, como reflexo do poder infinito e da beleza de Deus. Proclamavam um hino à simplicidade das coisas e aos seres vivos e essa “descoberta” da beleza do mundo reflectiu-se na construção das suas casas. Entre o património natural e o património construído, entre a obra de Deus e a obra do Homem, compreendemos aqui as palavras de um anónimo fransciscano: “nenhum mestre te ensinará o que te ensinarão as árvores e os rochedos6”. Os frades aproveitaram, na estrutura do edifício, os afloramentos rochosos, desenvolvendo-se, a partir daí, a planimetria do convento. O Convento dos Capuchos tem uma planta irregular, composta por diversos corpos, também irregulares, dispostos ao longo da encosta da serra. Algumas dependências estão incorporadas nos penedos e em locais escavados nas rochas, aproveitando por vezes esses mesmos penedos para efectuar as coberturas, como é o caso da igreja.

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Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida, Lisboa, 1698, p.77. LIMA DE FREITAS, “Revolução franciscana na arte ocidental”, in IIº. Seminário: O Franciscanismo em Portugal,: A Província da Arrábida, Actas, 1996, p.131. 6


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De facto, este convento de escala minimalista, é um exemplo perfeito da pobreza franciscana expressa em arquitectura: porque o Convento dos Capuchos, ou da Santa Cruz da Serra de Sintra, ou simplesmente o Convento da Cortiça, foi edificado com materiais tão simples e naturais como a cortiça, granito e mármore, madeira, fragmentos cerâmicos, seixos e conchas. Foi ainda utilizada cantaria de calcário, reboco pintado e alvenaria mista, azulejos e telha cerâmica. Talvez o facto de ainda hoje podermos ver o convento, de tomar contacto com essa realidade do passado – apesar da ruína do presente – se deva ao profundo conhecimento franciscano acerca da natureza, à sua íntima cumplicidade, no fundo, à tal sabedoria escondida nas “árvores” e nos “rochedos”, tão longínqua dos livros e eruditos mestres... Diziam os Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida o seguinte sobre os edifícios: “as igrejas e casas que para nós se edificarem, em nenhuma maneira se recebam, senão forem conformes à pobreza que professamos.” As instalações são modestas como a regra determinava, elegendo aqui, a “altíssima pobreza” como maior tesouro7. De tal forma que o Convento dos Capuchos foi considerado, entre os vários conventos pertencentes à província da Arrábida, único entre todos. Segundo alguns autores, toda a composição do edifício é influenciada pelo número dois, nos diferentes caminhos ao longo da cerca, simbolizando a opção do bom e do mau caminho, e pelo número oito, que simboliza o número infinito por excelência, e que está patente, nomeadamente, no número de celas e de escadas. Torna-se curioso também o facto de serem oito os primeiros frades que vieram habitar o convento. Não deixam de impressionar, no meio do silêncio e paz da serra, as marcas da simbologia mística e ascética destes homens, que se fecharam para a vida mundana e terrena, sabendo que a glória do mundo é transitória. O próprio tipo de iconografia existente no convento, como a caveira, era muito usual na segunda metade do século XVI e foi particularmente utilizada pelos capuchos8. Simboliza a efemeridade deste mundo e, porque se encontra, nítida, por cima da porta correspondente à entrada dos noviços, representa a morte da vida terrena e o início da vida espiritual.

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Diz-se que, na época da coroa dual, Filipe II referia que tinha nos seus reinos duas preciosidades: o Mosteiro de S. Lourenço do Escorial na sua máxima exuberância, e o Convento dos Capuchos, no expoente da pobreza. 8 É importante referir, a este propósito, a impressionante Capela dos Ossos, na Igreja de S. Francisco, em Évora, obra do século XVI, e local de meditação e oração da Ordem Franciscana. O seu interior está totalmente revestido de ossadas humanas e, à saída, consta a arrepiante frase:” Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos.” É uma herança franciscana que nos convida a reflectir sobre a efemeridade da vida humana.


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Concluímos, assim, que este convento que servia de habitação a frades capuchos em busca de uma vida de rigor e austeridade, não poderia ter sido construído de outra forma: com materiais tão simples como a cortiça, na humildade das dependências – construídas rigorosamente de acordo com a função a que eram destinadas9... Após o ano de 1834, com a extinção das ordens religiosas, o Convento dos Capuchos terá deixado de sentir o silêncio dos monges, para passar a sentir, desabitado, o silêncio maior da solidão da serra. Adquirido, desde esse fatídico ano, por vários proprietários particulares, é na segunda metade do século XX que passa à posse do Estado, abrindo ao público. O convento sofreu, ao longo de todos estes anos, bastantes estragos, roubos e actos de vandalismo, como o comprovam algumas notícias de jornais.

Desde 1952 que o Convento de Santa Cruz da serra de Sintra tem sido alvo de numerosas intervenções de restauro e de conservação. O imóvel acaba por encerrar ao público de 1998 a 2000, por razões de segurança, dado o seu avançado estado de degradação. Em 2001, reabre novamente. Desde então a entidade responsável pelo monumento é o Parque de Sintra – Monte da Lua.

O convento serve, actualmente, de marco histórico - cultural, tendo utilização turística. Da antiga utilização cultual e devocional, enquanto modesta habitação de frades arrábidos, resta apenas a memória escrita em escassos documentos sobreviventes à razia que ocorreu após a expulsão da ordem, mas também na memória edificada deste convento, que perdurou no tempo. É de facto este conjunto arquitectónico o melhor testemunho de um passado aqui existente. É prova intacta dessa memória. Memória que teima em perdurar apesar das velhas coberturas em cortiça, das paredes vandalizadas, das ausências de estátuas nos nichos...As próprias árvores

9 “A Igreja terá de largo vinte e seis palmos e de comprimento, desde a porta da entrada até ao altar-mor, oitenta palmos (...).O refeitório não deve ultrapassar dezoito palmos de largura por vinte de comprido (...) A cozinha deve obedecer às seguintes medidas: dezoito palmos de largura e de comprimento apenas quinze. A portaria obedecerá à largura do refeitório (dezoito palmos) e terá de comprimento catorze palmos. O dormitório deve possuir dezassete, dezoito camas, cada uma das quais deve ter dez palmos de comprido e de largo nove.” Conforme Estatutos da Arrábida…cit., p. 79. Apesar das medidas estipuladas pelos Estatutos, o certo é que, neste convento, várias são as divisões que ficam aquém dessas mesmas medidas. Por isso, apesar de terem seguido os estatutos da Arrábida, os capuchos de Sintra souberam adaptá-los, minorizando ainda mais as medidas das dependências. Em tudo, ficou provado que este convento é de facto único no género.


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centenárias que ladeiam todo o cenário parecem ser uma prova de que o velho convento não quer ser apagado do tempo, da história e nem do espaço... Espaço, lugar, construção, são ideias que se cruzam quando se fala de arquitectura .O lugar nasce quando aí se instala o edifício. Esta é a condição filosófica da arquitectura, que dá ao espaço o seu pleno valor. Desta forma, podemos enfatizar que o monumento qualifica o espaço. O pobre convento dos Capuchos é o resultado da utilização do espaço como um material em que dentro se colocou a vivência dos eremitas. Indissociável dessa vivência isolada, o edifício condicionou estados de espírito, almas em busca de paz, numa construção que se pretendeu mais perto de Deus. Séculos após a sua edificação, com todas as vicissitudes do tempo, ainda transbordam no eco das divisões a mesma paz e tranquilidade ali vividas. Ao entrarmos nesta construção em pleno século XXI, conseguimos sentir ainda esta relação espaço-estado de alma que a arquitectura pretendeu. O monumento, ao ser inserido num determinado espaço, caracterizou-o, qualificou-o, deu-lhe vida. Mas porque falamos em monumento, é necessário relembrar a definição de monumento histórico na Carta de Veneza: “qualquer criação arquitectónica (...) que constitui testemunho de uma civilização, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico”. O Convento de Santa Cruz de Sintra ou dos Capuchos, que serviu de abrigo a humildes eremitas em busca da paz interior, é fruto da mentalidade pietista do século XVI, testemunho da vivência franciscana mais despojada e levada ao extremo. Assume-se como um marco no tempo, memória a ser preservada. Os seus materiais, a sua forma de construção, a sua simbologia, têm valor incalculável. São uma herança dos nossos antepassados que não podemos renegar, pois fazem parte das nossas raízes, da nossa cultura e património. O convento é um referencial espacial e temporal: é o que dá sentido à serra, que se ergue no meio dela, tornando-a única e diferente, mas é também um espaço que se pretende intemporal pois ali o próprio tempo pára, no meio do silêncio da serra. Perante o convento e dentro dele, sentimos talvez o mesmo significado do espaço que o século XVI sentiu e pretendemos que os vindouros tenham a mesma experiência, já que essa atmosfera do passado é essencial à nossa memória colectiva. Espaço e tempo cruzam-se nesta arquitectura invulgar que, pelo seu carácter de monumento histórico, precisa de ser conservada. Se para os frades capuchos esta modesta habitação servia como espaço de acolhimento físico, será legítimo dizer que, como homens despojados de bens terrenos, este convento serviu-lhes, acima de tudo, como meio para atingir um fim, um digno e duro trilho para chegarem à


244 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ “perfeição” espiritual. A vida terrena deveria ser cheia de sacrifícios, penitências, para que, no silêncio da serra e no silêncio das suas próprias almas, ouvissem mais alto a voz de Deus. Paz, tranquilidade, harmonia com a natureza, eis a ambiência que envolve o convento. Mas eis também aquilo que o convento trouxe à serra, que trouxe aos frades de outrora e que nos traz, no presente, a nós, herdeiros dessa mensagem e estado de espírito. O Convento de Santa Cruz de Sintra é, de facto, único porque só ele nos transmite esta mensagem, num lugar ímpar como este. Se experimentássemos outros edifícios franciscanos – e são inúmeros em Portugal 10- verificaríamos características típicas da Ordem: o despojamento de bens, a humildade na traça das suas casas, o ambiente propício ao recolhimento, a simbologia própria. No entanto, ele é único no género – talvez em toda a Europa não exista arquitectura semelhante. Num ambiente místico, onde quase sempre a neblina cobre a serra, escavado na rocha, de escala minimalista, foi o exemplo levado ao extremo dessa vida penitencial franciscana, transformando-se num espectáculo poético. Nem mesmo o convento da serra da Arrábida – o mais semelhante arquitectonicamente - consegue chegar a este limiar de pobreza e beleza. O Convento dos Capuchos é insubstituível. Se destruído ou demolido, a sua perda seria irreparável. O ser humano precisa, no seu dia a dia, de referências históricas, que assinalem as suas raízes. É uma exigência quase inconsciente; o que lhe confere segurança são as coisas estáveis, o cenário histórico, sítios conhecidos. Porque os homens são efémeros, mas a arquitectura, a obra de arte, o monumento, são feitos para perdurar. Para que o homem não se sinta perdido, precisa de memória. O convento é uma memória (ainda) viva; não se pode deixá-lo morrer, sob o risco de se perder o testemunho do espaço e do tempo. A própria serra ficaria mais vazia de sentido. Por isso, conservando o monumento, preserva-se a memória. O humilde convento, lá no alto da serra, não cede e parece sussurrar aos homens do presente as mesmas palavras que S. Francisco escutou de Deus “vai e repara a minha casa”.

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Alguns exemplos de conventos pertencentes à Província da Arrábida, fundada em 1539: S. Pedro de Alcântara (Lisboa); S. José de Ribamar (Algés); Senhora da Boa Viagem (Carnaxide, Oeiras); Nossa Senhora da Piedade da Caparica (Almada); Espírito Santo de Loures; Varatojo (Torres Vedras), etc.


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Livros e Leituras de Franciscanos: A Biblioteca do Convento do Varatojo (1861-1910)

FERNANDA MARIA GUEDES DE CAMPOS Doutora [UNL] Biblioteca Nacional de Portugal

Resumo Falar de livros e leituras de franciscanos significa, em primeiro lugar, recordar a importância desta ordem em Portugal, plasmada no número elevado de conventos e respectivas bibliotecas, organizadas de forma a apoiar os membros da comunidade na missão e actividades que desenvolviam. Dispersos os livros após a extinção dos conventos em 1834 e, mais tarde, em 1910, constituem hoje uma parte muito expressiva do património bibliográfico nacional. À Biblioteca Nacional (BN) coube a maior parte desses acervos, destacando-se a biblioteca do convento de Varatojo (1861-1910) única conservada como unidade orgânica dentro da BN e que, até 1969, manteve a disposição original da colecção numa reconstituição fiel que pressupôs a colocação dos livros nas suas estantes originais e em sala própria. Integra hoje o Fundo Geral da BN mas mantendo a unidade pelo que podemos ainda reconhecer o que foi a biblioteca nesse período de refundação do convento e da ordem franciscana em Portugal. O objectivo desta comunicação é divulgar esta importante colecção conventual oitocentista, desde logo na contextualização do processo de integração do espólio na BN, mas sobretudo através da caracterização dos seus conteúdos, nos perfis de leitura que se adivinham e nas estratégias de enriquecimento das colecções ao longo dos cerca de cinquenta anos da sua existência. Abstract Whenever we aim at speaking about franciscan books and reading, it immediately comes to our minds the importance that the order had in Portugal with its numerous convents and libraries that provided the support for the activities carried out by those communities. At the time the orders were extinguished in Portugal, first in 1834 later on 1910, the books were dispersed among different institutions where they now represent an important part of the Portuguese bibliographical heritage. The National Library received the majority of the books but it is the library of the convent of Varatojo (1861-1910) that represents a unique case because it was maintained exactly as it stood on the convent, until the National Library was transferred to its actual venue, in 1969. Nowadays, though not in that faithful reconstitution of the past, the books still maintain their order so it is possible to understand how the library was constituted and which were the purposes of its collections. The aim of this paper is, therefore, to present the library of the convent of Varatojo in its different aspects: history, contents, reading profiles and collection building strategies along its existence of about fifty years.

1. Introdução; 2. O convento de Varatojo: breve nota histórica; 3. Extinção e incorporação da livraria de Varatojo; 4. A livraria de Varatojo na Biblioteca Nacional: aspectos organizativos; 5. Conteúdos e leituras na livraria de Varatojo (1861-1910); 6. Proveniências das colecções varatojanas.


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1. Introdução A história das bibliotecas antigas e as dos estabelecimentos religiosos em particular, temse apoiado, sobretudo, na reconstituição do acervo através de inventários, listas ou catálogos das suas existências quer em Portugal quer noutros países da Europa. Esta é, por excelência, a metodologia escolhida também para a história de antigas bibliotecas particulares hoje desaparecidas. A possibilidade de contactar com os próprios livros que, em outros tempos, constituíram uma biblioteca à disposição dos seus leitores é, infelizmente, uma situação muito rara, para a qual concorre, no caso das bibliotecas religiosas, o facto de terem sido extintas as instituições que as albergavam e disperso o seu recheio. O caso que aqui pretendemos apresentar pertence às excepções: trata-se da segunda biblioteca ou livraria (como melhor se identificava à época) do convento e seminário de Santo António de Varatojo que, após a extinção das ordens religiosas e o encerramento das suas casas, com o advento da República, foi incorporada in integro na Biblioteca Nacional e aí mantida com a mesma disposição que tinha no convento. O estudo que dela vamos fazer resulta, por conseguinte, não do encontro com um inventário ou catálogo mas sim do encontro directo, livro a livro, com o que foi, na realidade, a biblioteca de Varatojo, criada a partir da sua refundação em 1861 e enriquecida até à sua extinção em 1910. Começaremos por uma breve nota histórica sobre este estabelecimento franciscano. Daremos, de seguida, um especial destaque ao destino da livraria e às condições da sua integração na Biblioteca Nacional e, por fim faremos, então, o estudo dos conteúdos da livraria nas suas diversas temáticas, apresentando as linhas de força do que foram estas leituras franciscanas dos séculos XIX-XX.

2. O convento de Varatojo: breve nota histórica A história do convento de Varatojo é conhecida e está, felizmente, bem divulgada. Recordemos então que este estabelecimento foi fundado em 1470 na aldeia de Varatojo, próximo de Torres Vedras por iniciativa de D. Afonso V. O convento recebeu a bula papal “Ad decorum sacrae religionis” em 1472 e, em 1474, já estava instalada a primeira comunidade sob invocação de Santo António. Os primeiros religiosos que habitaram no Varatojo provinham do convento franciscano de Alenquer. A comunidade prevista era, no seu máximo, de 25 religiosos e foi seu primeiro guardião frei Álvaro de Alenquer. O rei tinha aposento no convento e concedeu-lhe especiais privilégios. A fundação insere-se no movimento da observância que, durante todo o século XV, deu origem a mais de uma dezena de conventos em Portugal. O mais importante foi, precisamente,


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Varatojo e o seu vigário mais destacado nos primeiros tempos frei João da Póvoa (1439-1506) que exerceu o cargo por sete vezes, entre 1474 e 1506. Confessor e testamenteiro de D. João II, foi uma figura ímpar no apetrechamento das livrarias dos franciscanos, sendo crível que a sua notável acção em prol da promoção do livro e da leitura que exerceu, por exemplo, a nível dos conventos de Santa Cristina de Tentúgal, fundado em 1437 e de S. Clemente das Penhas depois transferido em 1482 para Nossa Senhora da Conceição de Matosinhos, também tenha tido reflexos em Varatojo. Promoveu a cópia de muitos livros manuscritos e a aquisição dos primeiros impressos para as livrarias destes e doutros conventos. Alguns estão, felizmente, integrados na colecção de Incunábulos dos Reservados da Biblioteca Nacional, testemunhando nas marcas de posse que ostentam o que foi o labor de frei João da Póvoa. Em 1503 passou a ser também casa de noviciado, situação que virá a manter até à sua extinção. Em consequência da reforma da ordem, o convento passa para a obediência da província dos Algarves em 1532 ou 1533. No reinado de D. João III, quer o rei quer a rainha D. Catarina mandaram fazer obras de ampliação adequadas a uma comunidade maior e que contemplavam o funcionamento de um noviciado. Em 1680, o convento e seminário são entregues a frei António das Chagas (1631-1682) que orientou a vocação deste instituto para a missionação. Deixada a observância da província dos Algarves, tornou-se então sede dos missionários apostólicos e dependente directamente do ministro geral. Daqui saíram os religiosos fundadores de mais quatro estabelecimentos dos missionários apostólicos, Brancanes (1711) Vinhais (1753), Mesão Frio (1790) e o seminário apostólico de Santa Maria Madalena do Monte de Falperra (entre 1826 e 1833). O convento é oficialmente extinto na sequência do decreto de 28 de Maio de 1834 que ordenava o encerramento e a apropriação dos bens dos estabelecimentos religiosos masculinos. Porém, já em Julho de 1833 a comunidade de Varatojo tinha abandonado o convento considerando que a situação de instabilidade que advinha das lutas entre liberais e absolutistas não conferia segurança. Em Novembro desse ano o juiz de fora da comarca de Torres Vedras mandou proceder ao arrolamento do recheio. O edifício conventual, com exclusão da igreja, foi vendido em hasta pública no ano de 1845 ao barão da Torre de Moncorvo, embaixador de Portugal em Londres, tendo retornado à posse dos missionários apostólicos em 1861, por iniciativa de frei Joaquim do Espírito Santo, antigo varatojano, que o comprou ao herdeiro do barão. A primeira comunidade então constituída e que marca o regresso dos franciscanos a Portugal, foi composta por seis antigos frades de Varatojo alguns que se tinham mantido próximo outros que tinham saído para Itália e que logo procuraram restaurar o estabelecimento, nomeadamente, no tocante ao seminário.


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Em Maio de 1883, o ministro geral de toda a ordem franciscana determinou a aquisição dos conventos de S. Bernardino de Atouguia da Baleia e de Brancanes, também eles antigos estabelecimentos da ordem, a fim de se criar, com Varatojo, a província dos Santos Mártires de Marrocos, em Portugal, situação que veio a ocorrer em Novembro de 1891. Em 1901, o decreto de 10 de Março, conhecido como decreto de Hintze Ribeiro, procurou regular a existência das ordens religiosas em Portugal, sancionando aquelas que se organizassem em associações, destinadas a obras pedagógicas ou de assistência e, em cumprimento do decreto, é criada, em 1902, a Associação Missionária Portuguesa pelo provincial doutor padre frei João da Santíssima Trindade. Preservou-se assim a comunidade varatojana, já então muito diminuta, e foi também possível fazer regressar, em 1904, o noviciado que entretanto passara à Galiza. A situação não foi muito duradoura pois, logo após a implantação da República, foi ordenada a extinção das ordens religiosas e a expropriação dos seus bens, por decreto de 8 de Outubro de 1910. Ao tempo, a comunidade era composta por 8 sacerdotes, 5 irmãos leigos, 6 noviços e 5 donatos (cuja missão era a recolha de esmolas) e era vigário o padre frei David das Neves. Para além do convento, foram extintas as escolas primárias masculina e feminina que funcionavam anexas ao estabelecimento religioso. Com efeito, logo após a reinstalação em 1861, os padres frei Joaquim do Espírito Santo e frei Agostinho da Anunciação tinham dinamizado o projecto de criação destas escolas destinadas às crianças da região. O colégio feminino denominado colégio de S. José, tinha sido entregue às irmãs franciscanas hospitaleiras da Imaculada Conceição. O convento foi, então, convertido em asilo de idosos, o Asilo Latino Coelho, tendo os bens móveis sido expropriados. Quanto à igreja, mantiveram-na os varatojanos através da criação da Irmandade de Santo António em 1918 e assim permaneceu até 1928. Nesse ano, por decreto de 15 de Outubro, o Governo cedia o extinto convento de Varatojo às Missões Franciscanas Portuguesas. Reorganizada a comunidade pela terceira vez, voltou também a estabelecer-se o noviciado. Exemplo único da vontade e tenacidade dos franciscanos, Varatojo é também na expressão da sua livraria e nas leituras que a mesma convoca, um exemplo do pensamento e da acção franciscana, como iremos apresentar.

3. Extinção e incorporação da livraria de Varatojo

3.1. O processo de 1834


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A primeira livraria de Varatojo foi incorporada, na sequência do disposto no decreto de 28 de Maio de 1834, no Depósito das Livrarias dos Extintos Conventos (DLEC) junto com as dos diversos conventos masculinos, sobretudo, da província da Estremadura. Desse Depósito saíram obras para formar ou reforçar bibliotecas já existentes, independentemente da sua proveniência, tendo os vários milhares remanescentes vindo a integrar as colecções da BNL e/ou em casos extremos, a ser vendidos a livreiros e a particulares (regra geral, por serem duplicados), ou então vendidos como papel velho (devido ao estado degradado de conservação), leiloados, etc. Destes percursos nos dá conta Paulo J. S. Barata11 que refere, especificamente, algumas circunstâncias relacionadas com a recolha dos livros de Varatojo e a sua vinda para Lisboa, nomeadamente, a hostilidade da população em deixar sair os livros pois desejavam constituir com eles uma biblioteca pública em Torres Vedras. De acordo com esta fonte, o processo geral de inventariação e expropriação dos bens móveis dos conventos sofreu, entre outros males, de uma grande desorganização e desarticulação entre os órgãos responsáveis, centrais e locais, a que acrescia uma enorme falta de recursos, humanos e materiais, para prover, de uma forma expedita mas com correcção, aos inventários e respectivo acondicionamento de bens, nos locais. O caso dos conventos de Torres Vedras e seu termo é paradigmático. Por falta de técnicos habilitados a fazer essas tarefas, foi necessário enviar funcionários do DLEC, também eles em número reduzido, e com evidente prejuízo da prossecução dos trabalhos no próprio depósito. Assim, o funcionário do DLEC João José Maria Jordão desloca-se no final de Junho de 1837 ao concelho de Torres Vedras para proceder à arrecadação dos bens dos conventos de Penafirme, Barro, Graça e Varatojo. Em ofício de 21 de Junho12 refere que pouco há a arrecadar dos dois primeiros mas que a livraria de Varatojo “he boa, e parece estar quasi completa, salvo se não houve troca de obras, porque tudo está em poder dos depositários, e não há inventários nem rellações algumas...”. Como atrás relatámos, a saída dos religiosos de Varatojo foi anterior ao Decreto de 28 de Maio de 1834 e o convento ficara encerrado. Tinham mediado quase quatro anos e a dúvida de Jordão sobre a integridade da livraria era justificada. Ainda assim, e no meio de um ambiente de grande resistência e hostilidade, foram arrecadados, em 1837, 5346 livros, 64 maços e 24 quadros do convento de Varatojo. De facto, se as outras arrecadações vinham decorrendo sem grandes problemas por parte das populações e das autoridades locais, o convento de Varatojo revelou-se “um dos únicos casos de reacção organizada das populações locais à saída daqueles bens apesar de nele se vislumbrarem sinais de clara instrumentalização13”. Concretamente, pretendiam constituir (e chegaram a enviar

11

Os livros e o liberalismo: da livraria conventual à biblioteca pública, Lisboa, 2003. Cf. Ob. cit., p. 99. 13 Ob. cit., p. 100. 12


250 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

pedido, nesse sentido, ao Ministério do Reino) uma biblioteca pública com os livros do convento e que se mantivessem no local os quadros e paramentos. Nas actas do DLEC, existentes no Arquivo Histórico da Biblioteca Nacional de Portugal, pode ler-se não só a determinação de suspender o processo de arrecadação temporariamente mas também a decisão de prosseguir com ele logo que possível ou de fiscalizar a instalação da presumível biblioteca pública14. Quando em Setembro os ânimos se acalmaram, o DLEC manda proceder ao envio para Lisboa dos quadros, ficando para Outubro o transporte dos caixotes de livros. Apesar do número de volumes indiciar uma livraria de bom porte, dentro dos parâmetros das bibliotecas conventuais portuguesas, não são muitas as obras que temos encontrado da primitiva livraria de Varatojo. Têm marca de posse manuscrita normalmente com os dizeres “Da Livraria de Varatojo” ou só “Varatojo”. Estão distribuídas pelas secções da BNP, tal como os espólios das outras livrarias de conventos extintos em 1834, nunca tendo existido intenção de as integrar com as obras resultantes da incorporação após 1910. Também é provável que a livraria tivesse maior dimensão e que tivesse sofrido extravios ainda antes da arrecadação. João José Maria Jordão, funcionário do DLEC encarregado da arrecadação dos bens do convento, refere que lhe terá sido dito que livros, quadros e outros objectos sacros teriam sido levados pelos próprios religiosos na sua fuga “e que ainda existem em varias casas particulares do povo de Varatojo e suas vizinhanças...”. E em ofício posterior acrescenta: “Em quanto a preciosidades artísticas, e scientificas, de que havia grande abundância, nem hua so existe, porque huas forão roubadas, outras vendidas, e outras dadas à Misericórdia desta villa15”.

3.2. O processo de 1910 Com a República, como dissemos, há lugar a um novo ciclo de incorporações, também regulamentadas, sendo que logo a 10 de Outubro de 1910 sai uma primeira portaria estabelecendo para algumas comarcas a responsabilidade principal do processo que, no caso de Torres Vedras fica a cargo do juiz de direito da comarca. O Governo reforça a posição tutelar sobre os bens móveis e imóveis das congregações religiosas extintas e, naturalmente, foi necessário criar os meios para a execução do processo de arrolamento e arrecadação. No que diz respeito às livrarias e cartórios foi a Inspecção Superior das Bibliotecas Eruditas e Arquivos que ficou incumbida da tarefa de recolher esses bens. No

14 15

Ob. cit., p. 101. Ob. cit., p. 146.


251 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

processo há a destacar a iniciativa de Júlio Dantas, médico e escritor, que desenvolveu uma actividade muito meritória como Inspector, a partir de 1912 e orientou, com a melhor correcção possível, o processo de incorporação dos bens bibliográficos e arquivísticos. A profusão de casas e outras instituições religiosas e a sua dispersão, acrescida da proverbial falta de meios humanos e materiais, não facilitava o processo. A orientação primeira de Júlio Dantas visava uma política centralizadora, no que dizia respeito às arrecadações, de modo a que fossem incorporados os bens bibliográficos na Biblioteca Nacional e os arquivísticos na Torre do Tombo. Não descurou, porém, oportunidades de incorporação de bens em instituições locais, sempre que tal não oferecia problemas de conservação. Em 1914, Júlio Dantas apresenta ao Governo um extenso relatório das actividades de incorporação e dos fundos entretanto recolhidos e publica uma versão abreviada nos Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal de onde respigámos este testemunho da sua visão patrimonialista: “Incorporar nas bibliotecas e arquivos do Estado os monumentos paleográficos e o património da livraria nacional, não é apenas salvá-los duma eventual destruição, reunindo-os, instalando-os e conservando-os: é colocá-los em condições de os tornar úteis, facilitando a sua consulta, promovendo a sua catalogação, inventariando, sumariando, vulgarizando documentos pela publicação de índices, de repertórios, de colecções16”.

A livraria de Varatojo, ainda que se inserisse nesta estratégia teve, no entanto, um processo de incorporação de contornos muito especiais. Júlio Dantas terá constatado in-loco o aparato da biblioteca, com os livros arrumados nas estantes, organizados em grandes assuntos e essa visão de um “exemplar típico das livrarias claustrais franciscanas do século XVIII” suscitou nele o interesse por ir mais longe na preservação do património e manter o conjunto in-integro, em sala própria na Biblioteca Nacional. A verdade é que, se no aspecto geral a livraria evocava uma época anterior, o mesmo, porém, não se verifica, como adiante apresentaremos, no que diz respeito aos conteúdos, dada a profusão de obras do século XIX e até algumas do XX. Vamos cotejar com os testemunhos dos bibliotecários encarregues da recolha e tratamento da biblioteca, começando por Ascensão Valdez a quem que Júlio Dantas incumbiu da transferência da livraria. No relatório que apresentou à Inspecção descreve assim os trabalhos realizados:

“Serviço de incorporações pela Inspecção das Bibliotecas Eruditas e Arquivos”, Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. I (1915), nº 1, p. 5. 16


252 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ “A livraria, estabelecida em uma vasta sala [...] compreende na sua quási totalidade obras de sciências eclesiásticas, dispostas metodicamente pelos títulos indicados nas estantes Fiz transportar no mês de Setembro do ano findo em cincoenta e um caixotes uma parte da livraria, depois dos livros serem devidamente marcados com o carimbo – Varatojo – e a classificação metódica respectiva, e nesta primeira remessa vieram também dezassete volumes de mobília e parte das estantes compreendendo o oratório, para, satisfazendo às determinações de V. Ex.ª, poder ser reconstituída a interessante Biblioteca daquela extinta congregação franciscana [...] Em Dezembro próximo passado fui ultimar a transferência do resto da livraria, que veio em vinte e seis caixotes17”.

O processo de transferência e incorporação na Biblioteca Nacional, estava terminado em 1916.

4. A livraria de Varatojo na Biblioteca Nacional: aspectos organizativos Ascensão Valdez retirou 409 volumes e folhetos de obras escolares (provavelmente pertencentes às escolas masculina e feminina que já referimos anteriormente) e alguns dicionários utilizados no Noviciado bem como mapas geográficos, que entregou à Comissão Administrativa do Município de Torres Vedras e que se destinavam à biblioteca municipal. Desta feita não houve problemas com a transferência dos bens, como se tinham registado em 1837. Vamos seguir agora o testemunho de António Joaquim Anselmo que foi distinto bibliotecário da Biblioteca Nacional a quem Júlio Dantas incumbiu de catalogar a livraria de Varatojo. A notícia que escreveu para os Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal indica que a livraria entretanto transferida já se encontrava instalada na sala nº 108, no 2º piso da BN e que os trabalhos de catalogação estavam praticamente concluídos e refere, ainda, quanto à manutenção da unidade: “A ideia geral, pelo sr. Inspector concebida quanto à organização desta livraria foi a de respeitar e conservar intactas a disposição e sistematização que pelos religiosos do Varatojo lhe tinham sido dadas. Para este efeito [...] foi a livraria removida para a Biblioteca Nacional e aqui provisoriamente arrumada nas mesmas estantes de revestimento e com o mesmo mobiliário que no Varatojo tinha, sem esquecer o clássico oratório inseparável das livrarias claustrais. Conservou-se exactamente a metodização monástica setecentista que lhe havia sido dada pelos frades; e o dístico que invariavelmente encimava todas as livrarias religiosas – Initium sapientiae Timor Domini - foi também posto a encimá-la. Completou-se a reconstituição com o retrato a óleo do fundador do Seminário do Varatojo, o místico Fr. António das Chagas [...]18”.

“Livrarias da Mitra Patriarcal e do Convento de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. I (1915), nº 1, p. 47. 18 “A livraria de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. II (1916), nº 6, p. 19-20. 17


253 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Mais adiante comenta ainda a solução encontrada considerando que “representa uma feliz e original inovação em matéria bibliotecária, e um aspecto, uma evocação pitoresca e sugestiva de uma época ida e duma cultura para nós extintas19”.

A tendência para criação de unidades autónomas dentro da BN que na época vingou, não podia ser regra mas tão-só excepção pois sempre implicaria uma disponibilização imprevisível de espaços autónomos20. De qualquer forma, aquando da mudança da BN de S. Francisco para o Campo Grande, em 1969, essa individualização perdeu-se, em parte, porquanto apesar de se manter a unidade da colecção, deixou de existir a evocação da antiga livraria em espaço próprio. Os livros foram integrar o Fundo Geral da BN, constituindo mais uma secção, identificada como “Varatojo” ou “Var.”, abreviatura que consta nas etiquetas coladas nos livros, com as respectivas cotas. Conforme atrás se referiu, Júlio Dantas no seu relatório indicava que a livraria de Varatojo era composta por um pouco mais de 7.000 volumes e, efectivamente, esse foi o conjunto arrolado. Porém, conforme nos refere Anselmo, muitos volumes “tiveram de ser excluídos, após diligente escolha, já porque as estantes os não comportavam todos, já porque se tratava de obras truncadas, a que faltavam vários tomos, ou de livros mutilados ou em estado de completa deterioração. E ainda assim, das obras truncadas algumas se conservaram, por lhes faltarem apenas um ou dois volumes, ou por mais valiosas do ponto de vista literário ou meramente bibliográfico21”. Tal significa, portanto, que a livraria de Varatojo, mesmo quando instalada em réplica da existente no convento, não integrou a totalidade dos volumes e foi objecto de escolha. No cômputo final, foram atribuídas 4.724 cotas a outros tantos volumes e há ainda a acrescentar os manuscritos22, o incunábulo e os impressos raros do século XVI, totalizando seis obras, que se encontram nos Reservados.

19

Ob. cit., p. 20. Foi o caso da biblioteca do escritor Fialho de Almeida cuja incorporação na BN foi também ordenada por Júlio Dantas conservando-se a arrumação que o escritor lhe dera e que deu origem, tal como Varatojo, a uma cota própria. Anselmo inclinava-se ainda para um tratamento idêntico à livraria do Colégio do Barro, da Companhia de Jesus, pela comparação que se poderia estabelecer entre instituições de congregações distintas e, como ele indica, “rivais”. Para além das livrarias incorporadas na BN, também o Colégio de Campolide mereceu uma atenção especial chegando a perspectivar-se a criação da biblioteca erudita de Campolide que preservaria a grande colecção que a Companhia de Jesus ali reunira. 21 Ob. cit., p. 21. 22 A propósito desse conjunto, refere António Joaquim Anselmo que se trata de “[...] pequena mas preciosa colecção de uns setenta e muitos códices. Encontram-se entre eles um Dicionário espanhol-chinês; a História da fundação do Real Convento e Seminário de Varatojo, por Fr. Manuel de Maria Santíssima, 1795, 415 pág. 4º; Apontados do Venerável P.e Fr. António das Chagas, autógrafo do fundador do Varatojo, 467 fls., 4º; Epitomehistorica-chronologica do Varatojo, em latim; memórias das missões dos frades do Varatojo; vidas de alguns destes frades, constituições religiosas, livros de orações, miscelânias curiosas, sermões, registos dos religiosos, etc.; por último, um magnífico exemplar (Officia Majoris Hebdomadae... 20


254 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Como atrás se referiu, a respeito do testemunho de Ascensão Valdez que procedeu ao arrolamento e carimbagem das espécies, as mesmas receberam um carimbo próprio com indicação da entidade custodial – a Biblioteca Nacional – e a menção da classe a que pertencia e onde deveria continuar a ser arrumada. As classes, na origem, eram as seguintes:

I

– Bíblia e Direito

II

– Liturgia

III

– Mística

IV

– Literatura e Filosofia

V

– História

VI

– Biografia

VII

– Patrística e Oratória

VIII – Ascética IX

– Apologética e Teologia Quando se percorre a secção Varatojo rapidamente nos apercebemos que não foi

exactamente esta a distribuição classificativa com que foi arrumada na BN. Com efeito, as classes que tinham mais do que um assunto, caso da I, IV, VII e IX, têm carimbo específico para cada um ou seja, foram subdivididas. Fica-se assim com um número maior de classes, como apresentamos, com o total de obras que as compõem23:

I

– Bíblia

115

II

– Direito

229

III – Liturgia

187

IV – Mística

418

V

– Literatura

353

VI – Filosofia

68

VII – Ciências Naturais

28

VIII – Oratória

226

IX – História

309

X

– Biografia

146

novocanto-plano, composto por C.J. Cordeiro, 1827), folio grande, belamente caligrafado.” (Ob. cit., p. 24). 23 Trata-se de uma contagem por obras, ou seja, por unidades bibliográficas, e não por volumes. A secção é pródiga em obras multi-volumes (uma só obra e várias cotas seguidas) miscelâneas (uma só cota e várias obras individuais) e periódicos (encadernados e, normalmente, correspondendo cada volume a um ano ou a vários, conforme a extensão da espécie, mas sendo, na realidade, uma unidade bibliográfica).


255 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ XI – Patrística

47

XII – Teologia

271

XIII – Ascética

92

XIV – Apologética

222

Total

2711

Deste total de 2711 obras, sobressai a absoluta predominância de obras religiosas mas numa proporção onde se adivinha a constituição de uma biblioteca conventual de cunho mais moderno do que poderíamos encontrar numa colecção quinhentista ou seiscentista. É o caso da Patrística e da Ascética, temas muito característicos dos séculos XVI e XVII, e que nesta livraria têm uma expressão pequena, sobretudo quando comparados com a Mística (a secção maior e com forte pendor franciscano), a Teologia, a Oratória (onde se incluem os sermões), a Apologética e a Liturgia. A secção Bíblia, considerada nos esquemas classificativos das bibliotecas conventuais, como a primeira secção, é abundante e equilibrada, dentro do conjunto de obras de temática religiosa. Valores importantes têm a Literatura (onde estão incluídos muitos periódicos), a História e o Direito constituindo-se em temas relevantes no conjunto da livraria. Já a Filosofia e as Ciências Naturais (esta, então, muito escassa e indefinida) são de fraca expressividade no conjunto. Ao olharmos estes números, convém não esquecer que a comunidade de Varatojo não era grande e que a sua função essencial era o noviciado. A livraria, no equilíbrio das suas escolhas temáticas reflecte, antes de mais, a preocupação de apoiar um programa de ensino de novos membros da ordem e de prepará-los, com o acesso a leituras adequadas, para a sua missão no século XIX e XX. Se, efectivamente, esta não será uma biblioteca que se distingue pela raridade das suas espécies, não restam dúvidas que o contacto com os livros que a compõem, nos transmite um outro tipo de valoração. O próprio facto de ser constituída por mais de 7.000 volumes que foram juntos, num espaço de tempo relativamente curto e com meios que imaginamos não seriam muito abundantes, é prova maior de vontade e habilidade em estruturar uma biblioteca que sem pretensões de ostentação se pretendeu viva, actualizada e útil. É esse o retrato que apresentaremos seguidamente.

5. Conteúdos e leituras na livraria de Varatojo (1861-1910)

5.1. A livraria de Varatojo: caracterização geral dos conteúdos


256 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Tendo presente que mais de 2.000 obras foram abatidas do acervo e não deram entrada na BN, conforme anteriormente referido, mas agregando os dados que fomos recolhendo da análise temática individual, obtemos o seguinte quadro de caracterização geral da livraria de Varatojo:

Século

Latim

Português

Italiano

XVI

28

XVII

111

48

4

XVIII

253

359

XIX

176

XX TOTAL

Francês

Espanhol

Inglês

TOTAL

3

31

5

32

200

32

113

59

740

154

434

52

14

66

1

20

5

1

107

582

1213

191

572

151

2

2711

1

817 1556

A primeira evidência é o predomínio das obras do século XIX (57,3%), ficando as outras publicações distribuídas do seguinte modo: Século XVIII - 30% Século XVII - 7% Século XX - 3,9% Século XVI - 1%24 Sem margem de dúvidas a livraria de Varatojo foi constituída no século XIX com a preocupação primordial de juntar um número suficiente de obras actualizadas para poder apoiar, com textos modernos, a preparação do noviciado. Tal não impediu a aquisição de obras importantes publicadas séculos antes, por serem, eventualmente, de relevo para as leituras da comunidade. Teremos ocasião de verificar quais as temáticas mais modernas e quais aquelas em que os textos antigos mais se destacaram e detalhamos o perfil de leitura, em termos cronológicos e linguísticos, mais adiante. A segunda evidência é o predomínio do português (44,7%), ficando as outras línguas ordenadas da seguinte forma25: Latim - 21,4%

24 25

Não estamos aqui a contabilizar as obras do século XV e XVI que foram retiradas para Reservados. Não atribuímos valor percentual à língua inglesa pela representação residual de 2 obras em 2711.


257 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Francês - 21% Italiano - 7% Espanhol - 5,5% O latim é a segunda língua representada mas quase em igualdade com o francês. As línguas vernáculas portuguesa, francesa e italiana mostram um crescimento importante no século XIX, o mesmo não se verificando com o espanhol que baixa ligeiramente do século XVIII para o XIX e com o latim que se distribui entre os séculos XVI a XX mas que tem o seu pico no século XVIII. A terceira evidência é a vitalidade da livraria demonstrada pelo número de obras do século XIX e XX. Tendo em conta que, para este último caso, estamos a contar apenas com os anos de 1901 a 1910, as 107 obras que registámos são demonstrativas do progresso nas aquisições para a livraria.

5.2. Caracterização temática da colecção: perfis de leitura

Tendo presentes estas características gerais, vamos analisar mais de perto as características próprias de cada um dos temas, seguindo a ordem das classes e começando pela distribuição cronológica dos assuntos.

Século

I

II

XVI

9

3

XVII

21

35

XVIII

44

XIX

III

IV

V

VI

2

2

2

14

26

12

2

2

12

13

77

92

137

103

21

8

75

40

107

79

249

220

43

18

XX

1

7

2

4

16

TOTAL

115

229

187

418

353

68

VII

28

VIII

IX

X

XI

XII

XIII

XIV

11

2

7

12

32

10

2

64

27

8

117

31

12

132

223

108

15

116

49

167

7

9

4

1

4

2

41

226

309

146

47

271

92

222

Relativamente às obras do século XVI vemos que estão presentes em apenas 7 classes e que têm relevo na Patrística e na Bíblia. O século XVII tem edições em todas as classes, com destaque para o Direito e a Teologia mas sem nunca alcançar os quantitativos dos séculos XVIII e XIX. As obras setecentistas têm distribuição uniforme e com quantitativos expressivos nalgumas classes, caso da Bíblia, Liturgia e Teologia, em que é dominante, demonstrando assim


258 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

que nalgumas matérias religiosas o peso da ortodoxia conferido por edições mais antigas, ainda era considerável. É, porém, o século XIX que corresponde às expectativas de leitura e formação dos varatojanos. Predomina em 11 classes, nalguns casos de forma muito evidente como na Apologética (75%), na Biografia (73,9%), na História (72%) e na Oratória (58%). Quanto às obras editadas no século XX, só não as encontramos nas classes de Filosofia e Ciências Naturais que são, aliás, pouco representativas no acervo de Varatojo. Tendo em conta que a biblioteca foi extinta em 1910, a existência destas obras demonstra a intenção de constituir uma colecção em permanente actualização. Passamos agora à análise dos conteúdos das diversas classes, por língua do texto.

Língua

I

II

III

IV

V

VI

VII

VIII IX

X

XI

XII

XIII XIV

Latim

67

133

53

21

31

30

2

8

24

3

37

156

12

4

Port.

26

79

105

160

225

26

12

104

185

60

60

39

132

Ital.

6

2

14

41

16

3

3

27

20

24

13

11

11

Franc.

13

11

12

158

57

8

11

73

66

48

7

30

17

62

Esp.

3

4

3

38

23

1

14

13

11

3

12

13

13

146

47

271

92

222

1

Inglês TOTAL

115

229

187

418

353

1 68

28

226

309

O latim é a língua principal nas classes Patrística (78,7%), Bíblia (58,2%), Direito (58%) e Teologia (57,5%). A prevalência de obras mais antigas nestas secções nem sempre se verifica: na Patrística há, de facto, um número apreciável de obras dos séculos XVI e XVII mas também existe um número quase idêntico das do século XIX. Era uma classe com grande evidência nas bibliotecas religiosas do Antigo Regime mas a orientação de leitura em Varatojo já aponta noutros sentidos. A Teologia tem obras em latim, maioritariamente do século XVIII e XIX. Na Bíblia, classe que congrega muitas traduções, comentários e vulgatas, era expectável o predomínio do latim mas também aí está mais evidenciado o século XVIII, tal como sucede com o Direito, cujas obras são, sobretudo, no âmbito eclesiástico e canónico. O português que, no geral, é a língua mais “lida” na biblioteca de Varatojo está em maioria nas edições da classe Liturgia (56%) devido à abundância de obras de liturgia própria de épocas


259 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

específicas, instruções para sacerdotes, regras (sobretudo ligadas aos Franciscanos), breviários e catecismos. Predomina também na Literatura (63%) principalmente em edições dos séculos XVIII e XIX, sendo de relevar o facto de nesta classe existirem muitas miscelâneas de folhetos de temática variada classificável em literatura religiosa e também laica. A Oratória é composta também por uma maioria de edições em língua portuguesa (46%) sobretudo do século XIX e nela se contam muitas espécies de sermonária. Sendo um género em que a produção tipográfica nacional sempre se evidenciou, é interessante verificar que Varatojo privilegiava a prédica moderna face à antiga. Também por essa razão o francês é a segunda língua nesta classe. Predominante na História (59,8%), Apologética (59%), Ascética (42%) e Biografia (41%) é quase sempre com uma expressão destacada nas edições do século XIX que tal acontece, sendo de destacar esta combinação sobretudo na classe História que, apesar de incluir alguns “clássicos” como a Monarchia Lusitana e a Historia genealógica da caza real portugueza, também tem a História de Portugal, de Alexandre Herculano e todos os folhetos da famosa polémica Eu e o clero, bem como muitas miscelâneas com folhetos de temática miguelista. Uma palavra para a obra História das ordens monásticas, de Manuel Bernardes Branco cujo conteúdo foi, de certa forma, “censurado” pois no rosto da obra está escrito “Lege caute”. São também os folhetos que tornam expressivas as edições em português na Apologética, do século XIX, classe onde se destacam também as edições do século XX. O francês é segunda língua quase em paridade com o português na classe da Mística, especialmente no século XIX, onde suplanta até as obras em português. Também na Biografia verificamos a mesma situação sendo que o destaque é menor noutras classes em que é a segunda língua como a História e a Apologética, sempre ligado de forma muito expressiva às edições oitocentistas o que mostra a que ponto em Varatojo se privilegiavam os conteúdos religiosos nesta língua que iam sendo publicados ao mesmo tempo que fica demonstrada a competência dos varatojanos e seus noviços na leitura em francês quer de monografias quer de periódicos de que destacamos, já do final do século XIX, os títulos L’ami du clergé, L’ami du clergé paroissien e L’ami de la religion.. Se o espanhol é de fraca expressão na biblioteca de Varatojo, longe que estava a hegemonia dessa língua nos séculos XVI e XVII, o italiano encontra-se representado nas diversas classes, à excepção da Patrística, com algum relevo, por exemplo, na Mística e na Biografia, associado quase sempre a edições do século XIX muitas das quais de índole franciscana. De notar que quer na História quer na Literatura são vários os exemplos de periódicos italianos oitocentistas como La Palestina e Le missione ou na Apologética, La civiltá catholica.


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6. Proveniências das colecções varatojanas

O conhecimento de uma biblioteca, especialmente com as características da livraria de Varatojo, não ficaria completo se não tentássemos percepcionar as proveniências das colecções. Ao percorrermos individualmente os livros de Varatojo, inequivocamente identificados por um carimbo próprio, verificámos a variedade de obras com proveniência anterior plasmada em marcas de posse maioritariamente de indivíduos mas também de instituições, aqui se incluindo algumas bibliotecas conventuais anteriores a 1834. Analisando os dados recolhidos sobre as marcas de posse individuais, verificamos, em primeiro lugar, que representam 32% das obras. Um terço das existências da livraria já tivera um anterior proprietário, na grande maioria religiosos regulares, existindo também um número expressivo de obras de posse anterior secular. Ainda que em 36% dos casos esses antigos possuidores, cujo nome está inscrito no rosto das obras, apareçam apenas uma vez, as ofertas ou “esmolas” mais vultuosas estão também presentes. Nesses casos há um predomínio dos membros da comunidade como frei David das Neves, guardião em 1900, frei António do Presépio que era guardião em 1875, frei José de Santa Rita, frei Manuel da Conceição e frei Joaquim do Espírito Santo ligados à refundação do convento e principalmente, frei Domingos dos Corações de Jesus e Maria que incluso tinha como marca de posse um carimbo próprio e que doa 62 obras. Também a marquesa de Angeja, D. Maria Joaquina, faz um importante legado de livros tal como os padres José da Assunção Rolim e António Emílio Pancada que não é outro que frei António do Presépio, uma vez que deixou as vestes seculares e ingressou nos franciscanos, mais concretamente, em Varatojo. Temos pois livros da sua biblioteca enquanto padre e enquanto frade, atingindo um total de 76 obras. Uma última questão quanto às proveniências individuais tem a ver com as obras oferecidas ao Varatojo pelos seus autores ou editores. São em número de 30 as que trazem dedicatória explícita; porém, é muito provável que as ofertas sem dedicatória e que vêm por via dos próprios editores (sobretudo de editoriais estrangeiras ligadas à Igreja Católica ou mais especificamente à ordem franciscana) sejam em número muito superior. Mais do que a compra de livros, que também está por vezes indicada com o respectivo preço, Varatojo teria uma colecção em que as ofertas eram parte muito importante. A nível das proveniências colectivas que representam apenas 2% das marcas que encontrámos, destacam-se as 18 obras que vieram do seminário de Mesão Frio por via do seu antigo responsável, frei Joaquim da Purificação. De forma muito esporádica há obras que pertenceram a instituições religiosas extintas em 1834, algumas das quais até de franciscanos,


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mas em reduzido número o que aponta para uma compra esporádica de livros dispersos após a extinção dos conventos e/ou para uma procura mais metódica de espécies que, de algum modo tinham sobrevivido à amortização dos bens dos conventos após 1834 e que se encontrariam em mãos de particulares.

7. Conclusão

Saída do propósito originário da sua constituição, a livraria de Varatojo revela-nos ainda hoje, pelos seus conteúdos, o que foram as leituras dos franciscanos daquela instituição, os seus objectivos de formação e, no cômputo geral, a importância que atribuíam ao livro e à leitura para atingir esses mesmos objectivos. Testemunho de uma vontade e determinação invulgares, os livros de Varatojo não se perderam. Ficando na Biblioteca Nacional, expoente da preservação da memória bibliográfica de Portugal, alcançaram novos leitores, constituindo “precioso subsídio posto à disposição de quem deseje estudar conscienciosamente o movimento católico26”.

BIBLIOGRAFIA ANDRADE, Maria Filomena, “Franciscanos”, in FRANCO, José Eduardo, dir., Dicionário histórico das Ordens, institutos religiosos e outras formas de vida consagrada católica em Portugal, Lisboa, 2010, p. 158-169. ANSELMO, António Joaquim, “A livraria de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. II (1916), nº 6, p. 19-25. BARATA, Paulo J. S., Os livros e o liberalismo: da livraria conventual à biblioteca pública, Lisboa, 2003. CAMPOS, Fernanda Maria Guedes de, “Memória e património: a incorporação das bibliotecas dos institutos religiosos após o advento da República e o caso da biblioteca do convento de Varatojo”, comunicação apresentada ao Congresso Histórico Internacional – I República e Republicanismo, 2010 (no prelo). CARVALHO, José Adriano de Freitas, “ Nobres leteras...Fermosos volumes” : inventários de bibliotecas de franciscanos observantes em Portugal no século XV, Porto, 1995. – Da memória do livro às bibliotecas de memória, Porto, 1998.

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A. J. ANSELMO, “A livraria de Varatojo”, p. 25.


262 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ DANTAS, Júlio, “Serviço de incorporações pela Inspecção das Bibliotecas Eruditas e Arquivos”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. I (1915), nº 1, p. 1-8. – “O segundo ciclo de incorporações”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. II (1916), nº 8, p. 119-132. MENDES, Maria Valentina Sul, “Frei João da Póvoa, “freire pobre de S. Francisco” e os livros”, in Revista Portuguesa de História do Livro, v. 2 (1998), nº 3, p. 9-32. MOREIRA, António Montes, “Franciscanos”, in AZEVEDO, Carlos Moreira, dir., Dicionário de História religiosa de Portugal, Lisboa, 2000, v. II, p. 273-280. RIBEIRO, Bartolomeu, OFM, Convento de Santo António de Varatojo, Varatojo, 2005. SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, dir., Ordens religiosas em Portugal: das origens a Trento, Lisboa, 2005. VALDEZ, J. J. de Ascensão, “Livrarias da Mitra Patriarcal e do Convento de Varatojo”, in Anais das Bibliotecas e Arquivos de Portugal, v. I (1915), nº 1, p. 45-48. VILARES, Artur, As congregações religiosas em Portugal (1901-1926), Lisboa, 2003.


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Missionários em conflito: As disputas entre capuchos da Piedade e jesuítas acerca das aldeias do rio Xingu, no Estado do Maranhão (1693-1710)

FREDERIK LUIZI ANDRADE DE MATOS, Doutor

Este presente trabalho tem por intenção tratar das tensões que envolveram os franciscanos da Piedade e os jesuítas acerca das aldeias do rio Xingu, após a promulgação do Regimento das Missões (1686) e da Repartição das aldeias entre as ordens missionárias que atuavam no Estado do Maranhão (1693). As aldeias do rio Xingu estavam sob a jurisdição dos membros da Companhia de Jesus; entretanto, após a chegada dos franciscanos da Província da Piedade no Estado do Maranhão (1693), estes receberam como missão as aldeias próximas à Fortaleza do Gurupá e também as do rio Xingu, iniciando assim o conflito com os jesuítas, por estes defenderam que já estavam atuando no trabalho missionário na região há muito mais tempo. Dessa maneira, este conflito também perpassa por relações de poder havidas no seio da colônia, já que a chegada dos franciscanos da Piedade foi pedida pelo próprio capitão-mor do Gurupá, que havia se indisposto com os jesuítas no tocante ao controle das canoas dos religiosos que passavam ao sertão, trazendo cravo e cacau, ou indígenas para servirem como mão-de-obra nas aldeias. Assim, por conta da grande quantidade de cravo e cacau na região, que estavam alcançando excelente cotação nas exportações para a metrópole, iniciam-se conflitos por jurisdição de espaço entre os religiosos, já que eram estes a partir do contato com os índios que traziam dos chamados “sertões amazônicos” os produtos desejados pelos colonos e governadores.

Religiosos em disputa: Capuchos da Piedade e Jesuítas no Estado do Maranhão (1693-1710)

Durante a virada do século XVII para o XVIII, o Estado do Maranhão foi palco de uma tensão entre jesuítas e capuchos da Piedade, acerca da jurisdição de algumas aldeias fixadas ao longo do rio Xingu. Essa tensão, originada a partir de uma interpretação dúbia da divisão das aldeias efetuada em 1693, que fora determinada pelo rei, prolongou-se durantes alguns anos,


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envolvendo os governadores do Estado do Maranhão, os missionários de ambas as casas religiosas e os capitães-mores da Fortaleza do Gurupá. Essas disputas parecem à primeira vista um conflito entre missionários que intentam prosseguir no seu trabalho evangelizador com os indígenas, em um processo de estreita cooperação com as diretrizes ditadas pela Coroa portuguesa para a “conservação e aumento” do Estado do Maranhão. Porém, ao analisarmos as correspondências que versam sobre a tópica deste conflito, percebemos que não se trata apenas de zelo apostólico, mas sim de choques de interesses e busca por um acesso a caminhos que levassem a hinterlândia, abrindo possibilidades para a exploração de algumas das propagadas “drogas do sertão”, como o cravo e o cacau, e o livre acesso a mão-de-obra indígena, beneficiando religiosos e elementos que estivessem integrados às suas redes de poder. Neste trabalho trataremos, portanto, dessas questões, mas também levando em consideração a relação homem-natureza, em uma teia de relações complexas que envolvem os religiosos, as autoridades locais, os índios e meio a ser explorado, mais especificamente a região do rio Xingu.

As disputas pela região do rio Xingu: jesuítas e capuchos da Piedade

A região do rio Xingu, segundo Rafael Chambouleyron, não foi alvo imediato da Coroa e nem das autoridades coloniais de uma sistemática ocupação da terra, excetuando nesse caso as missões religiosas, primeiramente dos jesuítas e depois com os capuchos da Piedade27. Os religiosos jesuítas começaram a atuar na região, mesmo de forma tímida, a partir da presença do padre Luis Figueira, que efetuou a primeira visita a essa região em 1636. Após a visita de Figueira, a efetivação do trabalho missionário jesuítico na região só foi intensificada a partir de 167028. Porém, a região do Xingu era retratada nos relatos da segunda metade do século XVII, como uma região com uma grande abundância de uma das chamadas “drogas do sertão”, o cravo. Esse excesso de cravo na região começou a atrair a atenção dos moradores de Belém, Gurupá e Cametá, desejosos de explorar esse recurso natural. Entretanto, a ação dos colonos lançando-se à exploração deste produto, levou a suscitar conflitos com os jesuítas que lá estavam29. CHAMBOULEYRON, Rafael. “O sertão dos Taconhapé. Cravo, índios e guerras no Xingu seiscentista”. In: CARDOZO, Alirio e SOUZA, César Martins de (orgs.). Histórias do Xingu: Fronteiras, espaços e territorialidades (séculos XVII-XXI). Belém: EDUFPA, 2008, p. 51. 28 GUZMÁN, Décio de Alencar. “O inferno abreviado: evangelização e expansão portuguesa no Xingu (século XVII). In: CARDOZO, Alirio e SOUZA, César Martins de (orgs.). Histórias do Xingu: Fronteiras, espaços e territorialidades (séculos XVII-XXI). Belém: EDUFPA, 2008, pp. 37-38. 29 CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., pp. 52-53. 27


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Quando da ocorrência da repartição das aldeias feitas a partir de uma carta régia datada de 19 de março de 1693, a região do rio Xingu passa a ser jurisdição missionária dos recémchegados capuchos da Piedade, que haviam sido designados para atuar no trabalho catequético nos arredores da Fortaleza do Gurupá. Segue-se a essa divisão uma disputa envolvendo os jesuítas e os capuchos da Piedade, por conta da jurisdição desta região, conflitos esses que denotam um embate que engloba questões complexas da ordem da relação homem e natureza, pois envolvem uma disputa por territórios e também pelo acesso a recursos naturais, no caso as “drogas do sertão”, além de uma disputa política, pois relaciona redes locais de poder que entram em conflito, redes estas que possuem uma relativa autonomia, a partir de uma concepção corporativa30. Antes de adentrarmos nessa disputa entre os missionários, devemos atentar para a importância estratégica da Fortaleza do Gurupá, tanto no sentido de defesa do território, como também social e econômico. Arthur Vianna assinalou que as fortificações eram erigidas para atender objetivos variados, entre eles, a defesa do território contra invasores europeus, por exemplo, ingleses e holandeses; para assinalar a expansão geográfica engendrada pelos portugueses ao sertão amazônico; e também como postos de fiscalização das coletas de “drogas” e da captura de índios efetuadas pelos colonos, valendo-se essas fortificações de vantagens topográficas em alguns pontos dos rios, facilitando assim a ação do fisco31. Para Isabella Ferreira, as fortificações erigidas durante o período colonial atendiam ao que ela classificou como uma “situação de fronteira”, recebendo dessa maneira sentidos diversos de uma cultura eminentemente bélica, servindo também como pontos de poder e de definição de identidades. As fortalezas representavam os limites físicos do território, e também mostravam uma região maior onde haveria de se estabelecer um modus vivendi, dentro do mundo colonial, que nesse caso seria o sertão mais remoto, ainda por ser explorado32. Assim as fortalezas eram erigidas em contraposição às zonas de povoamento com maior densidade populacional considerada branca, dessa forma distantes da presença de marcos da ocupação portuguesa e do seu sentido de civilidade, como se colocavam as principais cidades coloniais da região, Belém e São Luís, muito embora a própria ereção de fortalezas em rincões da Amazônia denotasse um ícone português de civilização. Essas fortalezas, como por exemplo a do

FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima. “Introdução: Desenhando perspectivas e ampliando abordagens – De O Antigo Regime nos trópicos a Na trama das redes”. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Maria de Fátima (orgs.). Na trama das redes: política e negócios no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, pp. 15-16. 31 VIANNA, Arthur. “As fortificações da Amazônia I – As fortificações do Pará”. In: Annaes da Bibliotheca e Archivo Publico do Pará, Tomo IV, 1905, pp. 227-228. 32 FERREIRA, Isabella Fagundes Braga. “Fortificações amazônicas nas cartas de Mendonça Furtado (17511759). In: COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Azevedo; PRADO, Geraldo (orgs.) Meandros da história: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, pp. 41-42. 30


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Gurupá, situavam-se na embocadura ou nas extremidades dos rios amazônicos, incluindo o próprio rio Amazonas, servindo como entrepostos de territórios já conhecidos, resguardando assim a sua integridade, e também como “portas ao sertão”, daquilo que era desconhecido e do que se buscava através das expedições, as “drogas do sertão”33. Nesse sentido, a Coroa portuguesa ao utilizar a Fortaleza do Gurupá como marco para as entradas ao sertão, e de defesa das áreas conhecidas, através de uma resolução tomada pelo rei D. Pedro II na forma de um Alvará, datado de 23 de março de 1688, deflagra um conflito entre os jesuítas e o capitão-mor do Gurupá, que ao se estender irá resultar no pedido deste para que fossem enviados do Reino os capuchos da Piedade, para trabalharem no Gurupá e nas suas proximidades, resultando em futuros embates havidos entre as duas casas religiosas por conta das aldeias do rio Xingu. Este Alvará determinava que todas as canoas que fossem ao sertão para a extração do cravo e do cacau, quando retornassem deveriam ser examinadas, tanto em Belém como na Fortaleza do Gurupá, evitando que nessas canoas fossem transportados índios feitos cativos contra as leis promulgadas pelo rei acerca da liberdade dos índios. O Alvará também obrigava as canoas que fossem ao sertão a apresentar na Fortaleza de Gurupá uma licença concedida pelo capitãomor do Pará e, quando retornassem, deveriam passar novamente pela Fortaleza para que o capitãomor do Gurupá concedesse a licença para o prosseguimento da viagem; caso não cumprissem essa determinação, deveriam os infratores serem punidos34. Mas, este Alvará com forma de lei, vinha apenas confirmar um dos artigos do regimento do capitão-mor de Gurupá, que fora deixado pelo antigo capitão-mor Gonsalo de Lemos Mascarenhas, aprovado pelo rei no mesmo dia da publicação do Alvará35. Confirmava-se assim um poder central e regulador na figura do capitão-mor do Gurupá, que com o passar dos anos entrou em conflito com os missionários jesuítas, culminando com a chegada dos capuchos da Piedade para trabalharem nas missões do entorno da Fortaleza do Gurupá. Os padres da Companhia de Jesus, após a confirmação do regimento do capitão-mor do Gurupá e do Alvará que determinava a passagem de todas as canoas pela dita fortaleza, sofreram acusações de se recusarem a registrar as suas canoas na citada fortaleza. Em carta datada de 17 de outubro de 1690, o rei faz saber ao governador Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que o antecessor deste, Arthur de Sá e Menezes lhe havia escrito indicando que uma canoa que entrara no rio Amazonas não havia passado na Fortaleza do Gurupá e, fazendo-se diligências para identificar as pessoas que estavam na canoa, descobriu-se que nela se encontrava um padre da

33

Ibidem. “Alvará em forma de Ley sobre as Canoas que forem a saque do páo cravo e cacao do Sertão do Maranhão”. 23 de março de 1688. ABN, vol. 66, 1948, pp. 87-88. 35 “Regimento de que hão de uzar os Capitães da Capitania do Gurupá”. 23 de março de 1688. ABN, vol. 66, 1948, pp. 89-90. 34


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Companhia de Jesus; reclamando então o governador ao Prelado dos jesuítas, respondeu este que não sabia que suas canoas estavam obrigadas a serem registradas. O rei então informa ao governador que os religiosos por serem vassalos estavam sujeitos ao registro dos seus bens na Alfândega, e que isto não seria apenas da utilidade da Fazenda Real e sim também da liberdade dos índios, parecendo assim com essas atitudes que os missionários estavam indo contra o zelo da liberdade dos índios, já que, através de cartas passada pelo Ouvidor geral ao Conselho Ultramarino, este denunciava a passagem de uma canoa sem registro e com muitos escravos índios, sendo alguns dos padres da Companhia de Jesus; manda também estranhar ao capitão-mor da fortaleza não interceptar a canoa, e nem tentar identificá-la, assim como o que transportava, para poder denunciar ao Ouvidor geral36. Cabe aqui uma informação dada por Arthur Vianna sobre a inutilidade estratégica do Fortaleza do Gurupá. Segundo Vianna, nas proximidades da fortaleza havia uma multiplicidade de ilhas e conseqüentemente de furos, igarapés e canais entre as ilhas, que facilitariam a passagem de pequenas embarcações, sem serem vistas a partir da fortaleza37. Possivelmente após esse caso da canoa não registrada na Fortaleza do Gurupá, as relações entre os jesuítas, que estavam atuando no trabalho missionário nas regiões próximas a fortaleza, e o capitão-mor do Gurupá, ficaram estremecidas, ao ponto do capitão-mor incutir mais denúncias contra os jesuítas, levando a resolução de enviarem para a Fortaleza do Gurupá outra ordem missionária. Assim, em 1691, o rei envia carta ao governador do Maranhão, Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, informando que por conta do capitão-mor do Gurupá, Manoel Guedes Aranha, se queixar dos missionários jesuítas, relatando que estes estavam embaraçando e proibindo a existência de aldeias de índios junto da Fortaleza, e que assim estavam sendo descidos índios por conta própria pelo capitão-mor, determinava que fosse reedificado o convento que existia antes na Fortaleza do Gurupá, para que assim fossem abrigados os religiosos capuchos da Província da Piedade (pertencentes à Ordem dos Franciscanos) ou os Carmelitas descalços, assumindo o ofício de trabalhar nas missões dessa região38.

“Sobre as canoas dos Padres da Companhia irem a registrar, e que tenhão entendido são vassallos”. 17 de outubro de 1690. ABN, vol. 66, 1948, pp. 108. O rei também envia uma carta ao capitão-mor da Fortaleza do Gurupá estranhando o seu procedimento de não interceptar a canoa. “Sobre uma Canôa em que hia um Padre da Companhia não chegar aresgistar pela Fortaleza do Rio das Amasonas e se lhe declara que os bens dos ditos Padres como vassalos estão sujeitos as registo, e se lhe estranha não haver constrangido”. 17 de outubro de 1690. ABN, vol. 66, 1948, p. 109. 37 VIANNA, Arthur. Op. cit., p. 237. 38 “Sobre se reedificar o Convento da Fortaleza do Gurupá para os Padres Missionarios”. 19 de fevereiro de 1691. ABN, vol. 66, 1948, pp. 122-123. O rei enviou o mesmo documento para o próprio capitão-mor Manoel Guedes Aranha, “Sobre se reedificar no Gurupá o Convento que de antes havia para os Missionarios Piedosos ou Carmelitas”. 19 de fevereiro de 1691. ABN, vol. 66, 1948, p. 123. 36


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Percebemos que nesse documento ainda havia uma dúvida sobre quais missionários iriam atuar na região da Fortaleza do Gurupá, dúvida essa que foi dissipada quando o rei envia carta ao governador, informando sobre o procedimento de repartição das aldeias em distritos a serem trabalhados por cada ordem religiosa, aparecendo nesta repartição os capuchos da Província da Piedade. Conjecturamos que os Capuchos da Piedade foram designados para essa missão a partir da ida de Manoel Guedes Aranha a Lisboa, que segundo Karl Arenz e Diogo Silva, já havia sido capitão-mor do Pará, e fora incumbido de ser o Procurador da Câmara de Belém em Lisboa, durante as negociações da promulgação do Regimento das Missões de 168639, mantendo assim contato para que esta Província franciscana viesse atuar na região do Gurupá, que estava sob sua jurisdição. A região destinada aos piedosos compreendia a Fortaleza do Gurupá e as aldeias que estivessem junto da fortaleza, e mais as terras para cima da aldeia de Urubucoara, e subindo pelo rio Amazonas, ficariam com a administração dos rios Xingu, Trombetas e do Gueribi. Interessante que neste documento o rei mostrava uma atenção especial quanto aos índios da região do rio Xingu, que ficariam sob a responsabilidade dos capuchos da Piedade, e que antes estavam sob administração dos jesuítas. De acordo com o rei, os índios não deviam se apartar do rio Xingu, mas sim povoar a margem do rio, sendo aldeados e domesticados pelos missionários, para que assim pudessem mostrar as riquezas existentes no sertão do rio Xingu, riquezas essas que haviam sido propagadas pelo padre Christovão da Cunha40. Porém, essa repartição foi motivo de disputas entre os capuchos da Piedade e os jesuítas, sobre o controle das aldeias da região do rio Xingu, já que os jesuítas não estavam conformados com essa nova divisão, devendo esse conflito ser resolvido pelo governador e pelo rei. Um ano após a repartição das missões o rei envia carta ao governador informando que, como um navio havia se perdido, extraviando-se as cartas que tinham sido mandadas pelo Conselho Ultramarino, e que se podia ter mudado os acontecimentos sobre as missões no Estado do Maranhão, relatados em 23 de junho de 1693 pelo governador em carta enviada ao rei, não estava informado sobre o que estava acontecendo na colônia. Assim, por conta dessa falta de informações, o rei deixava nas mãos do governador o arbítrio de todas as resoluções acerca das missões, não devendo haver mais “prejuízos” para a Coroa, acatando assim o que o governador determinasse. Um dos

ARENZ, Karl Heinz; SILVA, Diogo Costa. “Levar a luz de Nossa Santa Fé aos sertões de muita gentilidade”: Fundação e consolidação da missão jesuíta na Amazônia portuguesa (século XVII). Belém: Editora Açaí, 2012, p. 61. 40 “Sobre mandar separar distritos e encarregar aos Padres de Santo Antonio as missões do Cabo Norte”. 19 de março de 1693. ABN, vol. 66, 1948, pp. 142-144. 39


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principais pontos de consideração era a discórdia havida entre os jesuítas e os capuchos da Piedade, sobre a repartição das missões que o rei mandou declarar acerca do rio Xingu41. Pedia então o rei que o governador procedesse da melhor forma possível para restabelecer a paz e a concórdia entre os religiosos, para que assim pudessem continuar seus trabalhos missionários de acordo com as doutrinas que professavam no seu instituto, sem haver assim escândalo com os seculares; com relação à dúvida criada acerca da repartição dos distritos, dizia o rei que não era sua intenção tirar os jesuítas do rio Xingu, e nem os privar das aldeias que estavam sob sua administração no dito rio, querendo dar aos piedosos apenas as aldeias que ficavam nas terras do rio Xingu que desceu Manoel Guedes Aranha, por entender que estas pertenciam a Fortaleza do Gurupá, juntamente com outra antiga aldeia que já havia na dita fortaleza42. Mesmo tendo dito que deixava a cargo do governador a resolução sobre esse ponto, de certa forma neste documento o monarca português já mostrava um indicativo do que o governador devia fazer com relação a esta demanda, pois informava que os jesuítas ficariam com a sua aldeia do Xingu com obrigação das missões do dito rio, pelo seu interior, e dos rios que desaguam em sua corrente, e os piedosos com as aldeias referidas, e com os mais termos (terras) que se incluem em sua repartição. Mandava assim que os jesuítas, que com muita razão queriam a dita missão, segundo o rei, procurassem fazer o seu trabalho por todo o interior, fazendo descimentos e criando novas aldeias nas partes em que fosse mais conveniente para o trato e comércio no referido rio43. Mesmo após a confirmação do rei sobre a resolução da repartição das missões, e a sua saída dos arredores da Fortaleza do Gurupá, os conflitos entre os missionários jesuítas e o capitãomor do Gurupá se prolongaram por anos, por conta dos registros das canoas dos religiosos que passavam pela fortaleza. No ano de 1699, o então capitão-mor do Gurupá Eugenio Monteiro, desejoso de cumprir o que determinava o regimento de capitão-mor da Fortaleza do Gurupá, e a ordem passada em 17 de outubro de 1690, queixava-se ao rei sobre a não observância por parte dos religiosos de registrarem as suas canoas. O rei então envia carta ao governador do Maranhão, lhe informando do ocorrido, e ordenando que agisse conforme a lei, indo contra aqueles que estavam desobedecendo às ordens reais, e contra o bom andamento do governo do Estado44.

“Carta do rei para o Governador do Estado do Maranhão”. 26 de novembro de 1694. Biblioteca Nacional, Códice 11, 2, 034, Regimentos e leis sobre o Estado do Maranhão (1724), doc. 30, p. 77. 42 Ibidem. 43 Ibidem. 44 “Sobre a queixa que fez o Capitão da Fortaleza do Gurupá da repugnancia que fazem os Missionarios a registrarem suas Canoas”. 20 de novembro de 1699. ABN, vol. 66, 1948, pp. 193. O rei também envia uma carta com o mesmo conteúdo para o capitão-mor do Gurupá, e para o Bispo do Maranhão, informando sua decisão, pedindo que também se enviasse a sua ordem para o Superior das Missões da Companhia de Jesus, para o Comissário dos religiosos de Nossa Senhora das Mercês, e outra ao Comissário dos Capuchos de 41


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Essas disputas por conta das aldeias da região do Xingu, entre jesuítas e capuchos da Piedade, pedem que façamos uma reflexão acerca da relação entre homem e natureza, pois, essa relação também está na gênese desses conflitos, já que a exploração de recursos naturais e o acesso ao chamado sertão amazônico, tanto para o contato com os povos indígenas, como também para uma forma de expansão de fronteiras, nesse caso, fronteira de influência e dominação, se faz bastante premente. Pensemos sobre essa relação homem e natureza.

O Xingu e a relação homem-natureza: religiosos, a mão-de-obra indígena e o cravo

Ao analisar a atuação dos religiosos, percebemos as interferências que estes promoveram através de sua ação na sociedade colonial, principalmente com relação às sociedades indígenas. Estas interferências são percebidas a partir do momento em que os indígenas são aldeados, ou seja, transferidos de sua localidade e levados para outro local, a chamada aldeia, que era administrada pelos religiosos. No caso dos religiosos e dos indígenas, cada um dos dois sectores possuía uma visão distinta da natureza; para os missionários, a da Amazônia era exuberante, e também destinada à exploração e cultivo de alimentos para o comércio; já para os indígenas, a ligação com a floresta estaria atrelada ao mito, a uma visão de natureza integrada na sociedade. Com relação à concepção de natureza presente nos relatos dos primeiros descobridores e viajantes, esteve esta primeiramente vinculada ao conceito de criação de Deus, servindo assim para usufruto destes conquistadores. Assim cria-se todo um imaginário sobre um paraíso cristão na terra, que estava em vigência durante o período do descobrimento do Novo Mundo45. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, os motivos edênicos, tiveram forte influência nesse tempo de descoberta e da colonização do Brasil:

“Os descobridores, povoadores, aventureiros, o que muitas vezes vieram buscar e não raro, acabaram encontrando nas ilhas e terra firme do Mar Oceano, foi uma espécie de cenário ideal, feito de experiências, mitologias ou nostalgias ancestrais”46.

Santo Antonio; estranhamente não se menciona os capuchos da Piedade, talvez por estarem sob a proteção do capitão-mor do Gurupá. ABN, vol. 66, 1948, pp. 193-195. 45 CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. “Paisagens, historicidade e ambiente: as várias naturezas da natureza”. In: Confluenze – Rivista di Studi Iberoamericani. Bologna: Università di Bologna, vol. 1, Nº 1, 2009, p. 152. 46 HOLANDA, Sérgio Buarque. Visão do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1969 (2° edição), p. 304.


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No caso da Amazônia, predominava a visão de um lugar magnífico, com atrativos econômicos. Segundo Ângela Domingues, o sertão amazônico significava a floresta exuberante, um local de difícil acesso e habitado por “feras e bestas”, e também o local das conhecidas “drogas do sertão”, e de madeiras, produtos naturais apreciados pelos colonos para a importação. Mas esse sertão era também uma fonte de mão-de-obra indígena, sendo utilizada por todos os atores sociais atuantes na Amazônia colonial. Dessa forma grupos de moradores ou tropas organizadas entravam pelo sertão à procura de índios, na forma das leis vigentes sobre esse tipo de captura, ou até mesmo de modo ilegal, sendo toda a sociedade colonial, tanto laica quanto eclesiástica, beneficiada por esse tráfico de escravos. Essa mão-de-obra indígena era necessária para os colonos, ou missionários, para trabalhos de exploração das “drogas do sertão”, e também para o cultivo de produtos agrícolas47. Dessa forma os relatos sobre a natureza amazônica durante os primeiros séculos de ocupação reservam uma especial atenção a mostrar a exuberância da floresta e suas riquezas, mas também, principalmente a partir da segunda metade do século XVII, mostrar como essas riquezas poderiam ser manipuladas para o beneficio da Coroa e dos colonos que estavam se deslocando para ocupar a região. Para efeito deste nosso objeto de estudo, falaremos como era vista a região do rio Xingu, de acordo com a concepção dos missionários, e das autoridades coloniais. O rio Xingu foi descrito no século XVII pelo jesuíta João Felipe Bettendorff da seguinte maneira: “As primeiras terras que seguem para a riba da Capitania do Gurupá para banda sul, são as do belo rio do Xingu, que os índios também chamam Paranayba (...) São as terras boas para tudo se não houvesse a praga de formigas, e sem embargo disso, são ricas para tabaco. Seus ares são sadios, suas águas até as do mesmo rio excelentes, por descerem por cachoeiras e areias (...) Não falta caça e mel em seus matos, nem peixes em seus rios, além de boas tartarugas em seu tempo”48. Ainda utilizando o relato de Bettendorff, este afirmou que a realidade natural da bacia do rio Xingu não foi um grande obstáculo para a fixação do trabalho dos jesuítas. O trabalho foi ajudado pelas qualidades naturais do Xingu, que possuía águas claras e com tonalidades turquesa, com grande abundância de peixes, facilitando a pesca. As praias, encontradas à época do verão DOMINGUES, Ângela. “Régulos e absolutos”: episódios de multiculturalismo e intermediação no norte do Brasil (meados do século XVIII). In: MONTEIRO, Rodrigo Bentes e VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Império de várias faces: relações de poder no mundo Ibérico da Época Moderna. São Paulo: Alameda, 2009, pp. 120-123. 48 BETTENDORFF, João Felipe, SJ. Crônica da missão dos Padres da Companhia de Jesus no Maranhão [1698]. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves/Secretaria de Estado da Cultura, 1990, p. 35. 47


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amazônico, período com menores chuvas, eram povoadas por tartarugas, principalmente de outubro em diante, em grande número e também por arraias. As suas águas também teriam efeitos medicinais, para os que sofressem de “dor de pedra”, podendo-se somente navegar no inverno de forma segura, por causa das muitas cachoeiras, que nesse período ficavam cobertas49. Essa região do rio Xingu é caracterizada por possuir grande diversidade, justamente por ser uma região de transição ecológica, dividida entre savanas e florestas, mais secas ao sul, tendo a floresta úmida ao norte, e cerrados, campos, florestas de igapó, florestas de terra firme, localizadas sobre as Terras pretas de índios.50. Além da descrição da natureza, o jesuíta Bettendorff fala sobre os habitantes do rio Xingu. Habitavam a região, segundo o missionário, “várias nações de língua geral”, como os Jurunas, Guayapis, Taconhapés, e Pacajás51. Vemos no relato do missionário jesuíta uma descrição detalhada quanto às características da natureza do rio Xingu e de seus habitantes, levando-nos a refletir sobre como os religiosos se portavam frente à natureza e aos seus habitantes naturais, principalmente após receberem liberdade para exercerem uma ingerência nos recursos naturais e junto dos indígenas. Essa relação é perceptível nas leis de 1° de abril de 1680, que entregavam a jurisdição dos indígenas nas mãos dos jesuítas, e declarava a liberdade dos índios, proibindo todos os cativeiros por meios de resgates ou de guerras justas, lei esta que será depois derrogada por outra, datada de 28 de abril de 168852. Dizia a Lei de 1680 que os religiosos deveriam ir fazer residências e igrejas nos sertões, para que assim os índios vivessem na doutrina cristã e fossem exortados a cultivar as terras, conforme a sua fecundidade e capacidade, aproveitando destas terras as chamadas “drogas do sertão” e os frutos oferecidos pela exuberante natureza amazônica. Os índios, com esse cultivo e exploração dos recursos naturais, poderiam assim ajudar os portugueses a comutarem e também a conduzirem esses produtos através dos rios, já que teriam sobre eles um grande conhecimento53. Mas, além da preocupação com relação aos índios aldeados, e como estes deveriam produzir lavouras, o rei também demonstrava preocupação com relação à extração das “drogas do sertão”, para que fosse feita de uma forma mais racional, mantendo assim os lucros da Coroa. E entre essas “drogas” estava o cravo, que era bastante abundante na região do rio Xingu, sendo assim, juntamente com o cacau, uma das principais receitas da Fazenda Real da Capitania do Pará, tendo desde a década de 1670 um crescimento considerável na arrecadação dos dízimos desses

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Ibidem, p. 115. GUZMÁN, Décio de Alencar. Op. cit., p. 42. 51 BETTENDORFF, João Felipe, SJ. Op. cit., p. 115-116, 272. 52 “Alvará em forma de Ley expedido pelo Secretario de Estado que deroga as demais leys que se hão passado sobre os Indios do Maranhão”. 28 de abril de 1688. ABN, vol. 66, 1948, pp. 97-101. 53 “Provisão sobre a repartição dos Indios do Maranhão e se encarregar a conversão d’aquella gentilidade aos Religiosos da Companhia de Jesus”. 1° de Abril de 1680. ABN, vol. 66, 1948, pp. 51-56. 50


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dois produtos54. Assim medidas eram tomadas pela Coroa com o intuito de diminuir o apetite dos moradores e de missionários ao lançarem-se na extração do cravo. Uma dessas medidas aparece em correspondência com o governador Arthur de Sá e Menezes. Em carta a este, o rei informava que havia recebido informações do seu antecessor, Gomes Freire de Andrade, sobre a descoberta de gêneros e sobre a fertilidade do solo, sendo o principal produto o cravo. Dessa forma o rei temia a sua possível extinção, comparando com a grande exploração do pau-brasil, que o deixara praticamente extinto no Estado do Brasil. Ordenava então que o governador interviesse não deixando que nos primeiros dez anos o cortassem das árvores novas, e, daquelas já cortadas, seriam necessários vinte anos para que o pudessem ser novamente; as remessas de cravo enviadas, não deveriam exceder a cada ano a quantia de três a quatro mil arrobas, bastando essa quantia para prover a Europa. Entretanto, mesmo estipulando regras sobre o corte do cravo e da quantidade que deveria ser enviada ao reino, o rei deixava livre campo a todos que desejavam ir ao sertão para a colheita do cravo, embora viesse a lembrar, dois anos depois, o registro de todas as canoas que fossem ao sertão nesse objectivo, tanto em Belém quanto na Fortaleza do Gurupá55. Em 1688, novamente o rei vem declarar ao governador que se fizesse cumprir o que já havia determinado sobre a extração do cravo, respeitando os prazos para o corte deste produto, apesar dos protestos dos moradores56. Gomes Freire de Andrade também chega a sugerir ao soberano que uma das formas de restringir essa extracção, seria limitar a exploração deste produto pelas ordens missionárias, já denotando um embate entre a autoridade colonial e os missionários por conta da exploração dos recursos naturais dos sertões amazônicos57. Podemos inferir que, no caso das determinações do rei com relação ao corte e extração do cravo na Amazônia, a principal preocupação real seria de motivo econômico, demonstrado quando afirma que essa extração deveria ser regrada para que não ocorresse a extinção, assim como já estava ocorrendo com o pau-brasil, exaurindo assim uma das formas de renda da Coroa. Portanto, essa determinação do monarca português visava um ideal económico e regulador da utilização de recursos naturais, acerca das investidas dos colonos e de missionários, cobiçosos de possuir o acesso ao sertão para a extração das drogas e aos índios que habitavam na hinterlândia. Mesmo com a preocupação do monarca português quanto à questão da extração racional do cravo, o apetite dos moradores pelo valorizado produto e pela mão-de-obra indígena no rio 54

CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., pp. 66-67. “Sobre a fertilidade das terras daquelle Estado, generos descobertos e que se não possa cortar cravo estes primeiros dez Annos”. 24 de novembro de 1686. ABN, vol. 66, 1948, pp. 75-76. Sobre o Alvará do registro das canoas, ver nota 16. 56 “Sobre dar a execução a ordem de se não cortar cravo das arvores novas espaço de dez annos”. 14 de maio de 1688. ABN, vol. 66, 1948, p. 104. 57 CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. cit., pp. 67-68. 55


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Xingu não diminuía, porém, sempre vigiado de perto pelos religiosos. Em carta enviada ao Governador do Maranhão, o rei concede licença para o capitão-mor Luiz Pereira descer índios para o serviço de moradores da aldeia do Xingu, conforme pedido feito pelo mesmo. O interesse na concessão real é a justificativa dada por Luiz Pereira para efetuar o descimento, afirmando que os novos moradores do Xingu necessitavam de índios, pois estes eram imprescindíveis aos colonos nos trabalhos de lavouras e nas entradas nos matos para buscar cravo e cacau. Ao oferecer essa concessão o rei estipulava que os descimentos deveriam ser examinados por missionário, devendo ser doutrinados por este, repartindo os ditos índios somente com Luiz Pereira e os moradores da colônia do Xingu58.

Conclusão Podemos concluir, mesmo que de maneira preliminar, que a complexidade das relações demonstradas aqui entre religiosos de distintas doutrinas (jesuítas e capuchos da Piedade), autoridades coloniais, como o Governador do Maranhão e o capitão-mor do Gurupá, e indígenas, eram pautadas a partir da tópica econômica de exploração das “drogas” e do acesso a mão-deobra indígena, produzindo assim uma multiplicidade de sentidos da relação homem-natureza. Tanto religiosos, como colonos, buscavam montar redes de alianças, para que assim pudessem levar a cabo seus projetos de arregimentação de pessoas e riquezas, utilizando para este fim acusações mútuas, pedidos ao rei para o descimento de índios, e concessões de certos privilégios. Podemos citar dois exemplos para ilustrar esse tipo de situação. Em 1699, o rei D. Pedro II envia uma carta ao governador Antonio Albuquerque de Carvalho, respondendo a carta que este havia mandado ao Conselho Ultramarino, se queixando dos missionários, entretanto excetuando os capuchos da Piedade dessas queixas, informando que os religiosos traziam os índios continuamente ocupados na extração das drogas, assim negando-os aos moradores e aos serviços reais. Ordenava então o rei que o governador averiguasse tal situação, advertindo os religiosos caso estivessem excedendo o número de índios ou faltassem com o socorro de mão-deobra aos moradores, mas, se não incorressem nessas culpas, o governador não deveria tomar as denúncias como verdadeiras, sempre devendo aconselhar os missionários a não caírem nelas, procedendo com caridade para com os moradores, não usando os índios para serviços temporais ou em forma de comércio, deixando-os para conservação e defesa do Estado59.

“Sobre se conceder licença a Luiz Pereira para decer todo o Gentio que poder para o serviço dos moradores da Aldea Chingú”. 5 de outubro de 1708. ABN, vol. 67, 1948, pp. 28-29. 59 “Sobre a negação que os Missionarios excepto os Piedosos fazem dos Indios aos moradores trazendo-os continuamente ocupados na saca das drogas, e os manda adverter se abstenhão de todo o excesso”. 20 de novembro de 1699. ABN, vol. 66 (1948), pp. 194. 58


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Em outra situação, em carta enviada ao Superior dos missionários religiosos de Santo Antonio, com cópia ao Superior dos da Província da Piedade do Maranhão, o rei informa que havia recebido uma denúncia feita pelos Oficiais da Câmara da Capitania do Pará, queixando-se do procedimento dos religiosos da cidade de Belém, que mandavam pôr cerco em casas como pretexto para terem algum índio fora das suas missões em seu serviço voluntariamente, tirando alguns do domínio absoluto em que se achavam por estarem com o título de escravos, dizendo que são forros. Assim o rei pedia que o Superior advertisse os seus missionários que se abstivessem dos excessos que eram denunciados pelos moradores, por conta do risco de perderem sua imunidade, dizendo que deveriam requerer junto ao governador do Estado que mandasse pôr nas aldeias os índios que a eles pertencessem60. Essas acusações, conflitos e embates irão perdurar ao longo da primeira metade do século XVIII, culminando com a expulsão de jesuítas e capuchos da Conceição e da Piedade, em 1759, durante a administração do Governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, o irmão do homem forte do ministério de D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido como Marquês de Pombal.

“Sobre se lhe dizer advirta aos Missionarios seus Subditos se abstenhão do excesso com que occasionão as queixas daquelles povos”. 26 de setembro de 1705. ABN, vol. 66 (1948), pp. 266. 60


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Santo António, o santo de todo o mundo luso-hispânico (e não só) ISABEL DÂMASO SANTOS, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Resumo: A figura de Santo António ocupa um lugar especial na memória colectiva luso-hispânica, constituindo um caso particularmente interessante de formação, propagação e evolução de um culto religioso, que foi adquirindo múltiplas valências. Pela mão dos franciscanos, a imagem de Santo António tornou-se presente em todo o mundo, miscigenando-se com as diversas culturas locais nas quais se foi integrando. Santo António converteu-se, assim, num fenómeno histórico-religioso, com contornos muito particulares. Com efeito, verifica-se que o culto antoniano tem atravessado séculos e fronteiras, perpassando todas as classes sociais, cores e credos. O mundo luso-hispânico tem-se revelado um espaço privilegiado no que toca à multiplicidade de formas de expressão da devoção antoniana através de manifestações na arte, na literatura e nas tradições. Todos estes testemunhos, de cariz erudito e popular, têm contribuído para que a figura de Santo António permaneça tão viva no imaginário e na identidade cultural luso-hipânicos.

Abstract: The figure of St. Anthony holds a special place in the Luso-Hispanic collective memory, constituting an interesting case of formation, evolution and propagation of a religious cult that has acquired multiple valences. By the hand of the Franciscans, the image of St. Anthony became all over the world, amalgamating with the various local cultures in which it was integrated. St. Anthony became thus


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a religious-historical phenomenon, with very particular contours. Indeed, it appears that the cult Antoniano has crossed borders and centuries, permeating all social classes, colors and creeds. The Luso-Hispanic world has proved to be a privileged place giving the multiplicity of expressions of Saint Anthony devotion through manifestations in art, literature and traditions. All these testimonies, scholar and popular, have contributed to the figure of Saint Anthony drawn in Luso-hispanic imagery and cultural identity.

A figura de Santo António ocupa um lugar especial na memória colectiva luso-hispânica, constituindo um caso particularmente interessante de formação, propagação e evolução de um culto religioso. Inicialmente no seio da Ordem Franciscana, no âmbito da qual desempenhou um papel vital, complementando o carácter carismático de São Francisco, a figura de Santo António foi adquirindo múltiplas valências. O culto antoniano foi recebendo influências, ao longo dos tempos, tanto de outros cultos religiosos como de rituais pagãos, adquirindo novas características e conferindo ao santo atributos que os relatos hagiográficos medievais, entendidos como fontes histórico-biográficas61, não mencionam. O Liber Miraculorum, de finais do século XIV, constitui um marco fundamental no processo de difusão da biografia, da taumaturgia e da imagem de Santo António, na medida em que fixa para a posteridade grande parte dos dados biográficos e dos prodígios atribuídos a Santo António. Note-se que a franca maioria das biografias difundidas posteriormente, e algumas das que são ainda hoje publicadas, vão beber a esta fonte, que conheceu uma disseminação bastante pujante através de múltiplas cópias produzidas a partir do século XV, propagação intensificada depois pelo advento da imprensa. Um dos exemplos de circulação desta legenda consiste no manuscrito miscelâneo, de meados do século XV, conservado na Biblioteca Nacional de Espanha62 e no qual se concentram algumas obras de devoção em castelhano, com o título Espertamiento de la voluntad de Dios. 61

Vita Prima ou Assidua (Beati Antonii Vita Prima), 1232, escrita por franciscano paduano anónimo; Vita Secunda (Vita Sancti Antonii Confessoris), entre 1235 e 1240, de Julião de Spira; Dialogus (Dyalogus de gestis beati Antonii), 1245, escrita por anónimo franciscano italiano; Legenda Benignitas (Legenda Sancti Antonii presbyteris et confessoris), 1280, de João Peckham; Legenda Raimondina (Vita Sancti Patris Antonii de Padua), 1293, de Fr. Pierre de Raymond de Saint-Romain; Legenda Rigaldina (Vita Beati Antonii de Ordine Fratrum Minorum), entre 1298 e 1317, de Jean Rigauld; Liber Miraculorum Sancti Antonii, finais do século XIV, por autor anónimo. 62 Com a cota BNM 8744.


278 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ Uma parte deste códice, intitulada “Milagros que Nuestro Señor hizo por nuestro padre San Antonio”, apresenta vinte e nove milagres atribuídos a Santo António e retomados do Liber Miraculorum, matéria que tem sido estudada pela especialista María Jesús Lacarra63. Por outro lado, há que destacar a tradução portuguesa divulgada sob o título Florinhas de Santo António64 que, partindo da tradição do Liber Miraculorum, privilegia milagres ocorridos em Portugal. Ambos os exemplos ilustram a proliferação de textos de origem franciscana com o propósito de divulgar a vida e a taumaturgia do santo, contribuindo para a fixação da figura de Santo António no imaginário colectivo luso-espanhol. Na verdade, o culto antoniano difundiu-se enormemente graças à acção dos franciscanos e ao seu destacado labor no âmbito da fundação de hospitais, conventos e mosteiros sob a invocação do santo, um pouco por todo o território luso-espanhol. Esta vertente da actividade franciscana fez-se sentir desde cedo. Do século XV, por exemplo, datam o Convento de Santo António do Varatojo (Torres Vedras), mandado construir por devoção do rei D. Afonso V, assim como o Mosteiro de Santo António el Real, de Segóvia, que contou com o apoio e a devoção de duas rainhas: Dona Juana, segunda esposa de Enrique IV, que o mandou construir, e Isabel, a Católica, que o cedeu às clarissas franciscanas. De facto, a Ordem Franciscana com o apoio das monarquias ibéricas desempenhou sempre um papel determinante na divulgação do culto antoniano. Um caso emblemático desta conjugação de vontades é o complexo de Mafra, constituído por Basílica, Convento e Palácio, classificado como o maior ex-voto dedicado ao santo e mandado construir por D. João V, no início do século XVIII. Subjaz a esta edificação uma promessa feita pelo rei, que consistiu no pedido de nascimento de um herdeiro para o trono. Com efeito, não existindo descendência após dois anos de casamento com a austríaca D. Maria Ana Josefa, o rei decidiu dirigir um apelo a Santo António, comprometendo-se a construir um eremitério para albergar treze franciscanos da Província Eclesiástica da Arrábida. Em breve nasceria a primeira de seis filhos deste matrimónio, Maria Bárbara, que viria a casar com Fernando VI de Espanha. Assim, deu-se início ao cumprimento da promessa que, ao sabor do gosto exuberante do rei e às custas do ouro

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M. J. LACARRA, “Una colección inédita de Milagros de San Antonio de Padua: edición y estudio”, in Revista de Literatura Medieval, v. XIV/I (2002), pp. 9-33. 64 Pe. F. F. LOPES, “Livro dos Milagres ou Florinhas de Santo António de Lisboa”, in Fontes Franciscanas III. Santo António de Lisboa, Braga, Editorial Franciscana, 1998, v. III, pp. 71-140.


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proveniente do Brasil, seria convertido num projecto megalómano, expoente máximo do barroco em Portugal. O património arquitectónico relacionado com a figura de Santo António é vastíssimo, de notável valor e impossível de conter nestas páginas. Centremo-nos, por isso, em alguns exemplos localizados nas capitais da Península Ibérica. No caso de Lisboa, podemos reconhecer que um dos traços identitários da cidade é justamente o património arquitectónico e cultural antoniano, sob diferentes formas de expressão: monumentos relacionados com a sua vida na cidade e outros construídos em sua honra; toponímia; cerimónias religiosas específicas; ritos de festa na rua que envolvem toda a cidade e as suas estruturas, como a Câmara Municipal, o Patriarcado, os comerciantes, as colectividades recreativas dos bairros, especificamente os “Casamentos” e as “Marchas” de Santo António. Atentemos em monumentos relacionados com a vida do santo em Lisboa e que nos permitem compreender a sua trajectória biográfica nesta cidade: - Igreja-Casa de Santo António: monumento que preserva na cripta o lugar onde se crê que nasceu Santo António; guarda a imagem do século XVI que integra a procissão do dia 13 de Junho e que sobreviveu intacta à destruição provocada pelo terramoto de 1775; conserva uma relíquia de Santo António; exibe pinturas atribuídas ao pintor português Pedro Alexandrino, como a aparição do Menino Jesus, entre outras jóias artísticas. - Sé: templo edificado no início do século XII a partir de una mesquita existente, guarda a pia baptismal na qual o santo, ainda menino, recebeu o nome de Fernando (que mais tarde trocaria pelo de António, em Coimbra, quando ingressou na Ordem Franciscana); é também o lugar onde aprendeu as primeiras letras, a partir dos sete anos de idade. Na parede das escadarias que levam ao coro alto encontra-se cravada na parede uma cruz que o pequeno aprendiz terá esculpido com o seu dedo como gesto para afugentar o demónio que o atormentava. - Mosteiro de São Vicente de Fora: mosteiro da Ordem de Santo Agostinho onde ingressou com quinze anos e onde estudou durante dois anos, antes de ser transferido para Coimbra; conserva, para além do túmulo da sua mãe, a cela que o santo ocupava e que está transformada em capela. - Igreja de Santo António do Vale: erigida no local onde o santo terá descansado por instantes, em 1220, quando se encontrava em Lisboa, a caminho de Marrocos. Conta-se que o franciscano António se deteve naquele local quando descia do Mosteiro de São Vicente, onde


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ficara alojado, em direcção ao porto para embarcar. Esta pequena igreja conta com dois magníficos painéis de azulejos que retratam este episódio da vida do santo (a sua partida para Marrocos) e alguns milagres (a salvação do pai, o sermão aos peixes e o da Eucaristia). Para além destes monumentos, cenários de episódios biográficos de Santo António, importa elencar outros templos e organismos relacionados com a sua figura: - Museu de Santo António: contíguo à igreja, guarda obras de arte erudita e popular que reflectem a devoção ao santo; - Estátua em bronze, erigida no átrio em frente da igreja e do museu, que representa a figura do santo e alguns dos seus milagres. Foi realizada pelo escultor Soares Branco, e inaugurada dia 12 de Maio de 1982, momento em que recebeu a bênção do Papa João Paulo II; - Capela de Santo António do antigo Convento da Madre de Deus (actual Museu do Azulejo), onde se encontra um importante conjunto de pinturas atribuídas ao pintor setecentista André Gonçalves, e que representam episódios da vida e da taumaturgia do santo; - Capela de Santo António na Igreja de São Roque, que conta com valiosas pinturas do século XVIII atribuídas ao pintor Vieira Lusitano; - Museu Nacional de Arte Antiga, que reúne uma preciosa colecção de pintura e de escultura antonianas. Para além do espólio artístico e arquitectónico que acaba de se resumir, refiro ainda a forte presença de Santo António na toponímia da cidade de Lisboa, muito particularmente na Rua do Milagre de Santo António, no bairro de Alfama, junto ao Castelo de São Jorge, em alusão ao milagre que o santo terá operado nesse local quando veio a Lisboa para salvar o seu pai de ser injustamente enforcado. Com efeito, a íntima relação que Lisboa estabelece com Santo António decorre da condição privilegiada que a cidade assume por ter sido o berço de tão proeminente figura. Paralelamente, a autenticidade das suas origens no bairro de Alfama outorgou-lhe desde cedo o estatuto de amigo próximo dos lisboetas. Esta familiaridade poderá ter desencadeado as primeiras manifestações de devoção, particularmente no bairro de Alfama. Os bairros adjacentes à igreja tornaram-se rapidamente palco dos primeiros testemunhos de festa popular. Há notícia de que no ano de 1318 já havia festas em Lisboa com animados bailes em honra de Santo António, para complementar as celebrações religiosas da data da sua morte, no dia 13 de Junho.


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Actualmente os festejos em torno de Santo António envolvem toda a cidade e converteram-se também em momentos-chave das festas da própria cidade, articulando diferentes estruturas para a concretização de eventos como os Casamentos de Santo António ou as Marchas Populares. Estes espectáculos, que extravasam o sentido da figura de Santo António, constituem uma das vertentes dos festejos anuais que atingem o seu ponto alto na celebração litúrgica que tem lugar na Igreja de Santo António e na procissão que se lhe segue, reunindo grande números de devotos, que percorrem as ruas da zona. Cumpre-se também a distribuição dos pães, rito que remete para a acção social que caracteriza o culto antoniano e que congrega a entrega de muitos devotos. Pese embora a cidade de Madrid não usufrua desta marca identitária assente nas origens biográficas de Santo António, certo é que lhe dedica vários templos importantes e lhe presta culto com grande devoção. Detenhamo-nos nos principais templos que ali lhe são dedicados: - Iglesia de San Antonio de los Portugueses / Alemanes: fundada em 1604, pelo rei Felipe III de Espanha (Filipe II de Portugal), juntamente com o Hospital, a pedido do Conselho de Portugal, com a finalidade de prestar auxílio, físico e espiritual, quer aos súbditos portugueses residentes em Madrid, quer àqueles que visitavam a cidade. Estavam também contemplados os presos portugueses. A actividade do hospital e da igreja ficou a cargo da Hermandad de San Antonio, sob o domínio do Conselho de Portugal, tomando o rei Filipe III como fundador e patrono. Aliás, o patrono desta igreja é o rei, sendo D. Juan Carlos o actual patrono. Após a separação das coroas portuguesa e espanhola, em 1640 de facto e em 1668 de direito, o hospital e a igreja ficaram destinados ao amparo e à conversão de alemães, por vontade da rainha Mariana de Áustria, também ela de origem alemã. Considerada uma pérola artística inexplicavelmente desconhecida até da maioria dos madrilenos, esta igreja encerra um interesse identitário do ponto de vista histórico-político no que toca às relações de soberania entre Portugal e Espanha. Para além da talha dourada dos altares, há que destacar os magníficos frescos que cobrem integralmente as paredes da igreja, de planta oval. Refiro-me aos frescos da autoria de Juan Carreño de Miranda e Francisco Rizzi, mas sobretudo aos que Luca Giordano realizou em forma de cartões para tapeçaria, bem ao gosto italiano, representando alguns dos milagres mais emblemáticos de Santo António. - Iglesia de San Antonio de la Florida: mandada construir em 1720, foi destruída em 1768, devido a obras de reordenamento do território, tendo-se dado início à construção de uma nova ermida, que viria a ser igualmente destruída em 1792, devido a uma nova remodelação urbanística


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da zona. Esse mesmo ano, o rei Carlos V lança a primeira pedra da construção da terceira ermida que estaria concluída em 1799, contando com pinturas a fresco da autoria de Francisco de Goya. Destaca-se a pintura da cúpula na qual se representa o milagre que Santo António operou quando se deslocou a Lisboa para salvar o pai de ser injustamente enforcado, e que tem sido objecto de estudo não só do ponto de vista artístico como também interpretativo do tema abordado. A ermida foi aberta ao culto regular a partir de 1881, o que provocaria danos nas pinturas de Goya. Assim, em 1929 foi inaugurada uma ermida exactamente igual, erigida a poucos metros, onde têm lugar os ofícios religiosos, convertendo-se a original em museu e panteão do pintor. A partir de meados do século XIX, foi aumentando o hábito de festejar o Santo António, no dia 13 de Junho, com missa, procissão e particular devoção das costureiras que aqui acorriam para pedir noivo ao santo. - Iglesia de San Antonio del Retiro: de traços modernos, forma parte do convento franciscano que garante o culto nesta zona da cidade. - Iglesia de San Antonio de Cuatro Caminos: de meados do século XX, foi construída com o objectivo de prestar auxílio à população carenciada deste bairro de subúrbio, contando com o apoio incondicional de uma benemérita de profundo espírito franciscano, María Carmen de Córdoba y Pérez de Barradas, a Condessa de Gavia, que gostava de ser conhecida como “fray Carmela”. - Iglesia de Santa Cruz (San Antonio, el guindero): na Iglesia de Santa Cruz, presta-se devoção a Santo António, “el guindero” (o das ginjas)65, a partir de um acontecimento milagroso que se crê tenha ocorrido no início do século XVIII. Conta-se que um lavrador vinha a subir a Cuesta de la Veja, zona íngreme nas margens do rio Manzanares, montado no seu burro carregado de ginjas, a caminho do mercado. O burro assustou-se, começou a dar coices descontroladamente e acabou por fazer jorrar as ginjas pelos campos. O homem, desesperado, suplicou o auxílio de Santo António. De repente, apareceu-lhe um frade franciscano que tentou tranquilizá-lo, dizendolhe que o ajudaria a apanhar as ginjas. Surpreendentemente, acabaram por encher os recipientes com ginjas frescas reluzentes, como antes de terem sido derramadas. Muito agradecido, o homem quis oferecer uma cesta de ginjas ao frade, que lhe disse que as fosse entregar mais tarde à Iglesia de San Nicolás, onde ele estaria à sua espera. Após o negócio no mercado, e já de regresso a casa, o comerciante dirigiu-se à igreja para deixar a sua oferta. No entanto, aí lhe asseguraram que não havia nessa igreja nenhum frade franciscano. Depois de grande insistência da sua parte,

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Sendo difícil uma tradução mais próxima do termo espanhol, esta expressão traduz o sentido da situação narrada.


283 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________ confirmaram-lhe:”Aquí no hay más fraile que éste!”66, apontando-lhe um quadro com o retrato de Santo António. Aproximando-se do quadro, o agricultor verificou que o frade que estava representado no quadro era exactamente aquele que o tinha ajudado a recuperar as ginjas. Deixou a cesta com as ginjas a seus pés e foi proclamar o milagre. A partir deste acontecimento, intensificou-se a veneração ao santo através deste quadro. Em 1720 criou-se a Real e Ilustre Congregación de San Antonio de Padua “El Guindero” para zelar pelo culto ao santo. O quadro permaneceu na Iglesia de San Nicolás até 1806, quando foi levado para a Iglesia de Santa María, até ser derrubada a igreja e transferido o quadro para a Iglesia del Sacramento (Bernardas Recolectas). Em 1911 foi levado para a cripta da Catedral de Almudena e em 1941 chegou este quadro à Iglesia de Santa Cruz onde se mantém, ladeado pelas pinturas a óleo de Emilio Tudanca, de 1962, que representam os dois momentos importantes desta lenda. À esquerda a cena do derrame das ginjas, à direita a situação do reconhecimento da figura de Santo António. Na festa anual, no dia 13 de Junho, são distribuídos no fim das missas cestos ou pequenos sacos com ginjas e pães. Seja em Lisboa seja em Madrid, seja um pouco por todo o território luso-espanhol, a figura de Santo António inspira muitos devotos e muitas obras de caridade que desempenham um papel fundamental na sociedade. Por outro lado, em torno da sua figura organizam-se festejos de arraigo popular e que remetem para ancestrais rituais de Primavera. Transpostos para a actualidade, permitem preservar ciclos festivos e esquemas organizacionais inerentes à condição humana. Como verificamos, a figura de Santo António tem dado origem a verdadeiras pérolas da arquitectura e da arte, e tem suscitado o interesse de grandes vultos da pintura portuguesa e espanhola. Para além dos nomes já mencionados, importa referir: El Greco e o seu óleo sobre tela “San Antonio de Padua”, do século XVI que se encontra no Museu do Prado em Madrid; Zurbarán e as quatro telas do século XVII que lhe são atribuídas; Murillo e a sua magistral pintura “Visión de San Antonio de Padua”, que ocupa uma parede do retábulo da capela de Santo António da Catedral de Sevilha; Juan Valdés de Leal e o seu “San Antonio de Padua y el Niño Jesús”, do século XVII, que se encontra no Museu de Belas Artes de Valencia. Note-se ainda o contributo de muitos pintores anónimos, portugueses e espanhóis, que traduzem tão bem o resplendor do santo.

J. C. FLORES, “Devoción popular a San Antonio en Madrid. San Antonio, «El Guindero»”, in El Pan de los Pobres, Bilbao, Sociedad de San Vicente de Paúl, Nº 1240, Março, 2006, p. 14. 66


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Estas telas pintam-nos a imagem de Santo António divulgada também por meio de publicações literárias que têm geralmente em conta as representações iconográficas coetâneas. Não raras vezes a literatura retoma nos frontispícios a iconografia fixada pela arte e desenvolve relatos assentes nos milagres mais representados. Aliás, os “mais duradouros na fama assumiram, na arte, representações que os imortalizaram”67. De facto, a arte e a literatura contribuíram decisivamente para a fixação da imagem do santo na memória colectiva e no imaginário cultural luso-espanhol. Podemos concluir que os milagres mais divulgados através da literatura e da arte são o da mula, o da salvação do pai e o do sermão aos peixes, mas o mais reproduzido ao longo dos tempos através de uma grande variedade de suportes e técnicas é, sem dúvida, o da aparição do Menino Jesus. Esta representação iconográfica serve de tema, por exemplo, a um conto de Emilia Pardo Bazán intitulado “El Niño de San Antonio”, que traduz a simplicidade da devoção que cada pessoa tem pelo santo mas essencialmente a cumplicidade que o santo estabelece com os seus devotos, como verificamos neste pequeno excerto, no qual se demonstra como Santo António conforta um pai pela morte do seu filho: De pronto me quedé mudo de sorpresa. Usted habrá reparado, sin duda, en que a San Antonio de Padua siempre lo representan los escultores con el niño en brazos. Pues bien: por primera vez en mi vida veía un San Antonio sin niño… y mientras los ojos de la efigie parecían fijarse en los míos severamente, noté que su mano, alzando el dedo índice, señalaba al cielo68. O teatro tem também contribuído bastante para fixar na memória colectiva a imagem de Santo António e da sua taumaturgia, desde o século XVI à actualidade. Refiro-me tanto ao teatro hagiográfico, que atingiu grande fulgor no Siglo de Oro espanhol, como ao «teatro de revista» português ou à obra de teatro antoniano infantil, A Afilhada de Santo António69, uma adaptação que António Torrado fez a partir de um conto popular. Aliás, a literatura popular constitui, sem dúvida, um manancial inesgotável de expressão de devoção a Santo António, que reflecte as

Pe. C. A. M. de AZEVEDO, “Variantes iconográficas nas representações antonianas”, in Cultura, p.41. 68 E. PARDO BAZÁN, “El Niño de San Antonio”, in Obras Completas, Vol. VIII, p. 642. 69 A. TORRADO, “A afilhada de Santo António”, in Era Uma Vez Quatro, Lisboa, Editorial Caminho, 2007, pp. 87-139. 67


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vivências de cariz mais popular, destacando-se a vertente casamenteira já referida, mas também a capacidade reconhecida no santo para recuperar objectos perdidos. Actualmente, parece que os devotos estão a descobrir em Santo António uma nova prerrogativa, a de ajudar, principalmente os jovens, a obter bons resultados escolares e a encontrar emprego. A verdade é que se crê que Santo António está sempre disponível para prestar auxílio aos seus devotos relativamente a todas as dificuldades sentidas. Já Padre António Vieira afirmava que Santo António, “sendo um só, é todos os santos”70. Isto é, reconhece-se em Santo António a capacidade de concentrar em si todas as categorias em que se subdividem os santos, a saber: patriarca, profeta, apóstolo, mártir, confessor e virgem. A religiosidade popular tem transformado o franciscano erudito e orador em santo taumaturgo, casamenteiro e folgazão, isto é, a figura histórica transfigurou-se numa entidade mitificada, construída à medida de cada devoto, como sugere Fernando Pessoa: “Tu és tu como nós te figuramos”.71 O culto religioso e a devoção popular têm consagrado Santo António como ícone transcultural. A dimensão simbólica que a sua figura alcança e o interesse artístico que suscita no espaço luso-espanhol têm concorrido para delinear o valor patrimonial, iconográfico e identitário que Santo António encerra neste domínio. O processo de difusão do culto antoniano, associado ao programa da expansão marítima, levou a sua imagem a todas as partes do globo. Com efeito, pela mão dos franciscanos, tornou-se presente em todo o mundo, miscigenando-se com as diversas culturas locais nas quais se foi integrando, dando resposta às mais variadas necessidades dos seus devotos. Santo António converteu-se, assim, num fenómeno histórico-religioso, com contornos muito particulares. De acordo com o grande especialista Pe. Henrique Pinto Rema, “o fenómeno da devoção antoniana não é, de facto, simples acontecimento histórico, antes se movimenta no âmbito da fé”72. Pode-se afirmar que os franciscanos foram os grandes responsáveis pela difusão da imagem de Santo António em todas as partes do mundo. Encontra-se geralmente associada à imagem de São Francisco de Assis, como ícone de cariz mais popular da Ordem religiosa que se afirmava, dando corpo à simplicidade, à humildade, à sabedoria, à sensatez e à exemplaridade fundamentais.

70

Pe. A. VIEIRA, Obras Completas de Padre António Vieira, v. 3 - Sermões, p. 32. F. PESSOA, “Santo António”, in Os Santos Populares, p. 28. 72 Pe. H. P. REMA, Santo António de Lisboa. Ex-Votos, p. 38. 71


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Visto que os descobridores portugueses e espanhóis se faziam acompanhar de frades franciscanos que levavam a imagem do santo, podemos considerar que Santo António entrou na América Latina nos tempos do império hispano-português como símbolo de identidade cultural, de paz e de ecumenismo, com vestígios até à actualidade, como acontece, por exemplo, com o convento de San Antonio en Izamal que se encontra geograficamente no centro da Península de Yucatán, no México. A sua história, desde a fundação, está ligada a uma forte tradição religiosa pois este convento foi estabelecido no lugar onde existira um importante centro cerimonial maia da região. Este majestoso convento de Santo António, fundado pelo padre Fray Diego de Landa e pelos missionários franciscanos em 1549, detém o maior átrio, depois do de São Pedro no Vaticano, e tem sido sede de reuniões entre diferentes grupos étnicos, nomeadamente aquando da visita do Papa João Paulo II ao México, o que demonstra que este lugar continua a exercer uma missão ecuménica notável. Encontramos em todas as ex-colónias portuguesas e espanholas uma forte e enraizada devoção a Santo António, plasmada na abundância de templos e de tradições relacionados com a sua figura. Muitas vezes, estas tradições encontram-se impregnadas de vestígios de crenças locais, o que faz pensar num fundo de religiosidade primitiva, marginal à fé cristã. E é esta uma das características mais interessantes do fenómeno antoniano: a sua capacidade de adaptação às culturas em que se integra, através de um processo de miscigenação único e surpreendente. Na verdade, Santo António transforma-se e pode ser o “negro, ou o indu ou o de tradição afrobrasileira”73, por isso encontramo-lo representado com diferentes feições étnicas, conforme as culturas que influenciam os artistas. É possível detectar viva a presença e a devoção antonianas nos cinco continentes, incluindo em lugares que não conheceram a influência colonizadora luso-espanhola. A própria toponímia é reveladora da dimensão universal deste fenómeno de culto em torno de Santo António. A devoção antoniana ultrapassa os limites do mundo católico e encontramos santuários e manifestações de culto em locais inesperados como, por exemplo, em Istambul (Turquia) ou em Colombo (Sri-Lanka). Verifica-se que o culto antoniano tem atravessado séculos e fronteiras, perpassando todas as classes sociais, cores e credos. Figura de destaque no seu tempo e reconhecido como o santo de todo o mundo, Santo António foi considerado em assembleia pública na cidade de Brives, em 1989, como o primeiro santo de perfil verdadeiramente europeu, na medida em que seguiu e difundiu os “princípios da moderna Doutrina Social da Igreja, ou seja, Solidariedade,

73

Maria de Lourdes Sirgado GANHO, O essencial sobre Santo António de Lisboa, p. 54.


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Subsidiariedade e Universalismo (que, em termos modernos, inclui o pluralismo, a tolerância, o ecumenismo, a participação e a partilha)”74. O mundo luso-hispânico tem-se revelado um espaço privilegiado no que toca à multiplicidade de formas de expressão da devoção antoniana através de manifestações na arte, na literatura e nas tradições. Todos estes testemunhos, de cariz erudito e popular, constituem um património riquíssimo e têm contribuído para que a figura de Santo António permaneça tão viva no imaginário e na identidade cultural luso-hipânicos.

BIBLIOGRAFIA AZEVEDO, Pe. Carlos A. Moreira de, “Variantes iconográficas nas representações antonianas”, in Cultura (Revista de História e Teoria das Ideias), Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, v. XXVII (2010), II Série, pp. 41-55. FLORES, Juan Carlos, “Devoción popular a San Antonio en Madrid. San Antonio, «El Guindero»”, in El Pan de los Pobres, Bilbao, Sociedad de San Vicente de Paúl, Nº 1240, Março, 2006, p. 14. GANHO, Mª de Lourdes Sirgado, O essencial sobre Santo António de Lisboa, Lisboa, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 2001. LACARRA, María Jesús, “Una colección inédita de Milagros de San Antonio de Padua: edición y estudio”, in Revista de Literatura Medieval, v. XIV/I (2002), pp. 9-33. LOPES, Pe. Fernando Félix, “Livro dos Milagres ou Florinhas de Santo António de Lisboa”, in Fontes Franciscanas III. Santo António de Lisboa, Braga, Editorial Franciscana, 1998, V. III, pp. 71-140. MELÍCIAS, Pe. Vítor, “O pensamento social em Santo António”, in Actas do Congresso Internacional Pensamento e Testemunho: 8º Centenário do Nascimento de Santo António, Braga, Universidade Católica Portuguesa e Família Franciscana Portuguesa, 1996, v. I, pp. 275-281. PARDO BAZÁN, Emília, “El Niño de San Antonio”, in Obras Completas, Fundación José Antonio de Castro, Madrid, 2005, Vol. VIII, pp. 637-642. PESSOA, Fernando, “Santo António”, in Os Santos Populares, Lisboa, Edições Salamandra, 1994, pp. 2332. REMA, Pe. Henrique Pinto, “A piedade popular e Santo António”, in Cultura (Revista de História e Teoria das Ideias), Lisboa, Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, v. X (1998), IIª Série, pp. 15-42. VIEIRA, Pe. António, Obras Completas de Padre António Vieira, v. 3 - Sermões, Porto, Lello & Irmão Editores, 1959. REMA, Henrique Pinto, Santo António de Lisboa. Ex-Votos, Lisboa, Quetzal Editores, 2003. SARAMAGO, José, Memorial do Convento, Lisboa, Caminho, 2005.

Pe. V. MELÍCIAS, “O pensamento social em Santo António”, in Actas do Congresso Internacional Pensamento e Testemunho: 8º Centenário do Nascimento de Santo António, v. I, p. 278. 74


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A LIVRARIA DO EXTINTO CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO DA SERTÃ

MIGUEL PORTELA, Eng.; Investigador

Resumo A livraria do extinto convento de Santo António da Sertã revela uma grande diversidade de campos temáticos que vão da Teologia, à Homilética, à Espiritualidade, à Filosofia, às Artes e à História, apresentando, no momento da sua extinção, em 1834, um catálogo com mais de 900 volumes. Apresentaremos um breve resumo da história deste convento, procurando demonstrar a cultura e riqueza dos seus eloquentes pregadores, que sempre granjearam de grande prestígio. Procuraremos elucidar o leitor sobre o significado cultural desta casa franciscana, enunciando, ainda, alguns dos seus professos e ilustres pregadores, dando a conhecer sucintamente algumas das obras, locais e datas de impressão, síntese dos conteúdos dos mesmos assim como a sua organização na referida livraria. Abstract: The former convent of the Santo António da Sertã library reveals a wide range of thematic areas ranging from Theology to Homiletics, Spirituality, Philosophy, Arts and History, presenting, at the time of its extinction, in 1834, a catalog with over than 900 volumes. In this text we will present a brief summary of this convent history, demonstrating the culture and the wealth of its eloquent preachers, who always had a great prestige. We will elucidate the reader about the cultural significance of this Franciscan house, stating also some of their illustrious professors and preachers. We will be showing some of their works, local and print dates and content summary as well as their organization in the library.

O convento de Santo António da Sertã: breve resumo da sua história

Estabelecido no interior centro do país, o convento de Santo António da Sertã assumiu uma vocação de casa de acolhimento e de formação de religiosos capuchos de considerável nível intelectual. Foram seus iniciadores Fr. Jerónimo de Jesus e Fr. Cristóvão de S. José (†1643), pregador afamado e missionário, já por 1617, no Maranhão (Brasil). Sabemos, também, que o primeiro guardião deste convento foi Fr. António de Santo André. “Em todo o priorado do Crato não houve convento algum desde o reinado de D. Afonso Henriques até 1604, além dos da Ordem do Hospital. No citado ano foi


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edificado o dos Franciscanos no Crato. Quanto ao da Sertã foi fundado com esmolas por Frei Cristovam de S. José, natural da mesma vila, em 1635. Pertencia aos frades Capuchos, franciscanos reformados, cuja séde era em Lisboa no Convento de Santo Antonio dos Capuchos, onde até ha pouco esteve instalado o Azilo da Mendicidade. A primeira pedra foi colocada pelo Provincial da Ordem, Frei Manuel de Santa Maria em oito de Julho do referido ano de 1635, começando os trabalhos em 16 de maio do ano seguinte. Era subsidiado pelo Grão-Prior do Crato, seu padroeiro, com trinta alqueires de trigo e 10:000 reis em dinheiro anualmente. D. João IV concedeu-lhe uma arroba de vaca cada semana, que D. João V mandou pagar em dinheiro ao preço corrente. Tinha em recolhimento 16 religiosos, em cujo habito muitos habitantes da vila e do termo eram amortalhados, conforme consta de vários testamentos. Em 1810 os freires deste convento, escudados num Alvará do infante D. Fernando, pretenderam o exclusivo da pregação em todo o termo da Sertã; mas o Provisor do Grão Priorado, D. Antonio Barros Leitão Carvalhosa, fez constar em circular aos párocos que todos os padres seculares aprovados, bem como os Carmelitas de Figueiró dos Vinhos, podiam continuar, como até aí, a exercer esse munus. Não sei a quem ficou pertencendo depois da extinção das ordens religiosas em 1834; apenas averiguei que o edifício conventual era propriedade da Camara Municipal em 1878 e nele funcionavam as diversas Repartições públicas. Mais tarde adquiri-o a família Relvas da Golegã, pertencendo agora novamente à Camara. A cerimonia do descimento da Cruz realizava-se com grande solenidade em 1831 na escadaria por onde se desce para a Alameda da Carvalha, sempre proximo do sol-posto.75”. Nos concelhos mais vizinhos não se encontram documentadas edificações de mosteiros desta ou de outras ordens religiosas, excepto, já na alçada do Bispado de Coimbra, em Figueiró dos Vinhos (Nª Senhora do Carmo (1601) e Santa Clara (anterior a 1549)) e em Pedrógão Grande (Nª Senhora da Luz dos padres dominicanos fundado em 1476)76. O estabelecimento, nesta vila, de um convento franciscano capucho envolveu, necessariamente, o acordo de vários agentes e poderes: o dos benfeitores seculares e das elites locais, o do município sertanense, o da Província de Santo António, da Ordem Franciscana, o do

“Frei Cristovam de S. José - Professou na Religião Serafica de Santo Antonio e missionou desde 1617 no Maranhão (Aldeia Grande de Tamogica), descobrindo com outros freires da sua Ordem o rio Tocantins. Fundou com esmolas o convento da Sertã, sua terra natal, tendo colocado a primeira pedra o Provincial da Ordem, Frei Manuel de Santa Maria, em 2 de maio de 1635. Cançado e doente, foi mandado para o Mosteiro de N.S. dos Anjos do Sobral, Diocese de Lisboa, afim de se restabelecer; mas Deus houve por bem leva-lo para junto de si em dez de maio de 1643”, in P.e A. L. FARINHA, A Sertã…cit., p. 85; 115116. A.N.T.T., O.F.M., Província de Santo António, Convento de Santo António da Sertã, maço 16, 16461686 - Despesas de obras realizadas na igreja do Convento de Santo António da vila da Sertã, in M.A.F.B., AMORIM, A Missionação Franciscana… cit., v. II, doc. n.º 57, Livro das coisas notáveis que ao diante sucederem neste Convento de Santo António da Sertã e obras que nele se fizeram e quem as fez. “Sendo Provincial Frei Manuel de Santa Catarina a oito de Julho do ano de mil e seis centos e trinta e cinco se lançou a primeira pedra neste Convento de Santo António desta vila da Sertãm, testemunhas que assim o afirmaram Vicente do Casal e João da Mota Gomes, Síndico deste convento e António Nunes de Andrade, Belchior Moniz do Sobral, pessoas que correram com as obras desta Casa que aqui assinaram hoje dezaseis de Agosto de mil seiscentos e quarenta e seis, sendo eu Frei António de Santo André que este fiz por minha mão, Guardião o primeiro do dito Convento. M.A.F.B., AMORIM, A Missionação Franciscana… cit., v. I, p. 202-204. Para um estudo mais aprofundado sobre este convento, consulte-se a obra de S. I. O. F. MATOS, Convento de Santo António…, cit.. 76 M. PORTELA, O Mosteiro de….cit…, p.7-21. M. PORTELA, O Fabrico do Papel…cit., p.4-6. 75


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Priorado de Malta, o do bispo de Portalegre, ao tempo D. Joane Mendes de Távora (1632-1638), o do Cardeal-Infante D. Fernando de Áustria e, seguramente, como se comprovará, o do próprio monarca, D. Filipe III. A Província de Santo António, de frades capuchos, conheceu, em meados do século XVII, um período de expansão. Nos domínios do Priorado de Malta, nesse tempo, o convento seráfico mais próximo do nosso localizava-se na vila do Crato. O convento, projectado para uma pequena comunidade de 12 religiosos, tinha em recolhimento, no tempo de D. João V, 16 frades, e em 1834, aquando da sua extinção, era habitado por 7 professos. Não importava apenas a pastoral de uma espiritualidade franciscana para o povo desta região serrana interior de Portugal, interessando, sobremodo, o aprofundamento dos níveis de formação sacerdotal destes frades. O serviço do altar, pela celebração da missa, e pela administração dos sacramentos (em especial o da confissão ou da reconciliação), e o da celebração da palavra, pela pregação, eram áreas eclesiais para as quais os religiosos que aqui se recolhiam pareciam estar particularmente vocacionados. Pregadores ilustres: breves dados Crónicas e documentos enaltecem como pregadores ilustres deste convento de Santo António da Sertã os nomes, entre outros, dos seguintes religiosos77:

Fr. Cristóvão de S. José (1581-1643): missionário e pregador; Fr. Manuel Henriques (1635-?): pregador; Fr. Domingos da Assunção (?-1780): pregador; Fr. Pedro de S. Paulo: pregador (?-?) e fundador do convento se S. José em Cernache do Bonjardim; Fr. António de Cristo (?-?): pregador.

Tenhamos presente que foi a partir da iniciativa de frades deste convento que foi fundado, em Cernache de Bom Jardim, em 1699, um hospício e recolhimento (Convento de S. José) para recreação espiritual e intelectual de religiosos da Ordem78.

77

Para um melhor conhecimento genealógico dos nomes indicados consulte-se a obra de C. TEIXEIRA, Antiguidades, Famílias…cit. vol. I. 78 A.N.T.T., O.F.M., Província de Santo António, Convento de Santo António da Sertã, maço 16, macete 4, in M.A.F.B., AMORIM, A Missionação Franciscana… cit., v. II, doc. n.º 147, pós-1706 – Notícias dos provinciais da Província de Santo António de Portugal (inc) desde o 2º Provincial, Frei Marcos de Lisboa até ao 45º, Frei Francisco da Rosa (1706/7), “40.º, Frei Miguel de Santa Maria, natural de Lisboa. (…)


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A biblioteca de Santo António da Sertã, conhecida por inventários do século XVIII e, depois, pelo de 1834, demonstra esta atitude de formação exigente e “actualizada” dos frades capuchos portugueses enquanto ministros particularmente tocados pelo apelo da pregação e da confissão. Na sua maior parte, os livros que aqui se encontravam propiciavam leituras justamente dominadas pelas esferas da homilética, da espiritualidade e da preparação de confessores. Em 1810, aliás, os frades deste convento reclamaram o exclusivo da pregação em todo o termo da Sertã, pedido que o dom prior do Crato recusou, antes determinando que caberia a todo o clero secular desempenhar tais funções. A fonte e o contexto “Com efeito, mesmo se através de sérias dificuldades, as livrarias conventuais, em virtude dessa sua dimensão institucional, oferecem ou deveriam oferecer a possibilidade de mais facilmente verificarmos a sua história, independentemente da dificuldade de hoje localizarmos as provas dessa história… Um momento houve, contudo, em que a interrupção dessa história, ainda que de diversos modos, largamente documentada, determinou o inventário dessas bibliotecas. Referimo-nos, obviamente, aos inventários levados a cabo por força das directrizes legais que presidiram à extinção das ordens religiosas em 1834. Se 1834 não significou - entendamos: sistematicamente e em larga escala - o fim dos livros que as constituíam, significou, isso sim, o fim dessas bibliotecas…, não, porém, sem antes de as terem inventariado… De bibliotecas passaram a “catálogos”…, algumas até, com alta probabilidade, pela primeira vez… Sempre na suposição teórica de que a lei se cumpriu - o que evidentemente não acontece -, o conjunto desses inventários constitui-se num amplo inventário em que se traduzia - e em que se pode ver hoje traduzir - o estado geral - em qualidade e em quantidade - das bibliotecas conventuais…”79 As considerações que passamos a expor, neste domínio, resultam da análise pormenorizada, a que procedemos, do inventário desta livraria monástica de 1834 80. A nossa abordagem não conflitua, antes permite aprofundar uma reflexão histórica, com investigações de outros autores que se dedicaram ao estudo histórico da Sertã e do seu convento capucho, nomeadamente do P.e António Lourenço Farinha (1930)81e, mais recentemente, de Susana Isabel de Oliveira Ferreira Matos (2004)82.

Obras no Hospício Convalescença Santo António da Sertã, por oferta de João Leitão que lhes deu a Quinta de Cernache do Bom Jardim. Fizeram dormitório em 6 celas (…)”. 79 J.A.F.CARVALHO, Da memória dos livros…, cit., p. IV. 80 A.N.T.T., A.H.M.F., Convento de Santo António da Sertã, caixa 2205, Inventário do Convento de Santo António da Sertã, folhas 23-36verso. 81 e P. A. L. FARINHA, A Sertã… cit. 82 S. I. O. F. MATOS, Convento de Santo António…, cit., p.10-103.


292 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

No dia 15 de Julho de 1834, apresentaram-se no convento de Santo António da Sertã, para procederem ao arresto de bens e respectivo inventário, para a Fazenda Pública, José Caldeira Manso, procurador fiscal, os louvados Joaquim Germano da Silva e Francisco Aleixo e o escrivão interino da provedoria, Jerónimo Joaquim Nunes. É neste inventário que, entre as folhas 23 a 36 verso, encontramos a relação da antiga livraria dos frades capuchos. Exporemos, de seguida, os dados mais relevantes sobre esta biblioteca deste convento capucho português no final do Antigo Regime, que com a extinção das ordens religiosas abriu caminho a um longo período de abandono e extravio deste património bibliográfico de que se perdeu rasto. Apesar de conhecermos a sua organização, há que reconhecer, desde já, que se torna uma tarefa bastante difícil conseguir apurar se as obras citadas neste catálogo foram lidas, como o foram, com que preferências e com que efeito. Se um dia se encontrarem livros deste acervo, eventualmente anotados por leitores desta comunidade, aí poderemos percepcionar mais aprofundadamente estes aspectos tão importantes na história do livro e na história da(s) sua(s) leitura(s) e usos sociais. A livraria: números gerais Este acervo bibliográfico que julgamos pertinente e interessante dar a conhecer, somava, à data da elaboração do referido inventário, um total de 590 títulos, perfazendo um conjunto de 910 volumes83. Consideramos útil expor um quadro resumo com a distribuição do número de títulos existentes nessa livraria por séculos, tendo em conta o ano de edição de cada título. Todavia, salientamos o elevado número de títulos a que, aquando da elaboração do referido inventário, não foi atribuído qualquer data de edição. Séc. XVI Totais

Séc. XVII

Séc. XVIII

Séc. XIX

49 265 135 1 Quadro 1 - Distribuição do número de títulos por século.

Sem indicação 140

Face ao exposto e no que respeita ao número total de volumes, que como referimos ascendia a 910 unidades, poderemos visualizar, num quadro resumo, a sua distribuição por séculos, uma vez que, para a maioria das obras, a fonte indica o ano da respectiva edição.

83

Apesar de no fim da listagem se fazer menção a um total de 917 volumes, constatámos que o somatório de todos os volumes perfaz apenas 910 volumes. No nosso entender esta diferença prende-se com o facto de no inventário haver correcção ao número de volumes, ou seja, um ou outro caso onde o número foi corrigido e não foi verificado novamente o somatório final.


293 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Séc. XVI Totais

Séc. XVII

Séc. XVIII

Séc. XIX

56 324 265 1 Quadro 2 - Distribuição do número de volumes por século.

Sem indicação 264

A presença de um elevado número de títulos existentes nesta livraria, referentes ao século XVII, face aos restantes séculos, leva-nos a apresentar um novo quadro onde, resumidamente, podemos pormenorizar e constatar a presença de um maior número de obras editadas nas primeiras décadas dessa centúria. 1601-1625 Totais

93

1626-1650

1651 - 1675

1676-1700

Restantes séculos

Sem indicação

49 54 69 185 Quadro 3 - Distribuição do número de títulos no século XVII.

140

Livros do século XVI: países e cidades de impressão Observemos agora os locais onde foram impressos a totalidade de títulos, correspondentes ao século XVI, bem como o respectivo lugar de impressão. Lembremo-nos de que a fundação desta casa monástica é posterior à edição destes livros impressos no século XVI, nela tendo sido integrados, naturalmente, em datas posteriores. Podemos comprovar que estas obras maioritariamente foram impressas em países, como a França, Espanha, Portugal, e Itália, sendo que as cidades de Lyon, Salamanca, Veneza e Lisboa são aquelas onde se regista maior número de impressões. França Espanha Itália Portugal Alemanha Bélgica Suíça Sem indicação Totais 14 11 9 6 3 3 1 2 Quadro 4 - Distribuição do número de títulos impressos no século XVI, por países. Lyon

Paris

Totais 11 3 Quadro 5 - Distribuição do número de títulos impressos em França no século XVI, por cidades. Salamanca Valencia Madrid Barcelona Alcalá de Henares Medina del Campo Totais 4 2 2 1 1 1 Quadro 6 - Distribuição do número de títulos editados em Espanha no século XVI, por cidades. Veneza

Roma

Totais 6 3 Quadro 7 - Distribuição do número de títulos editados em Itália no século XVI, por cidades. Lisboa

Coimbra

Évora


294 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Totais 4 1 1 Quadro 8 - Distribuição do número de títulos editados em Portugal no século XVI, por cidades.

Livros do século XVII: países e cidades de impressão Observemos agora os locais onde foram impressos os títulos correspondentes ao século XVII, bem como o respectivo lugar de impressão. Podemos comprovar que estes títulos maioritariamente foram impressos em Portugal e Espanha, sendo que as cidades de Lisboa e Madrid são aquelas onde se regista maior número de impressões. Portugal Espanha França Itália Bélgica Alemanha Inglaterra Sem indicação Totais 147 83 15 9 4 3 1 3 Quadro 9 - Distribuição do número de títulos impressos por países no século XVII. Lisboa

Coimbra

Évora

Porto

Braga

Totais 116 22 6 2 1 Quadro 10 - Distribuição do número de títulos impressos em Portugal no século XVII. Madrid 51 Salamanca 9 Barcelona 5 Saragoça 4 Valladolid 3 Córdova 3 Sevilha 2 Valencia 2 Lérida 1 Granada 1 S. Tiago de Compostela 1 Málaga 1 Quadro 11 - Distribuição do número de títulos impressos em Espanha no século XVII.

Livros do século XVIII: países e cidades de impressão Observemos agora os locais onde foram impressos os títulos correspondentes ao século XVIII, bem como o respectivo lugar de impressão. Podemos comprovar, à semelhança do século anterior, que estes títulos maioritariamente foram impressos em Portugal e Espanha, sendo que as cidades de Lisboa e Madrid são aquelas onde se continua a regista maior número de impressões. Portugal Espanha Itália França Alemanha Bélgica Sem indicação Totais 85 28 11 4 3 1 3 Quadro 12 - Distribuição do número de títulos impressos por países no século XVIII.


295 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Lisboa

Coimbra

Évora

Porto

Totais 70 12 2 1 Quadro 13 - Distribuição do número de títulos impressos em Portugal no século XVIII. Madrid 12 Salamanca 6 Valencia 3 Barcelona 2 Saragoça 2 Múrcia 1 Valladolid 1 Pamplona 1 Quadro 14 - Distribuição do número de títulos impressos em Espanha no século XVIII.

Livros do século XIX: países e cidades de impressão Apenas aparece mencionada em todo o inventário uma obra correspondente ao século XIX. Esta obra, Considerações Literais, fora escrita por Fr. Thomas da Veiga e impressa em Lisboa no ano de 1833.

A livraria: países e cidades de impressão Da totalidade dos 590 títulos pertencente a esta livraria, reconhecemos que a maioria das obras fora impressa na Península Ibérica, particularmente com maior expressão em Portugal. Portugal Espanha França Itália Alemanha Bélgica Inglaterra Suíça Sem indicação Totais

264

137 43 38 12 12 1 1 Quadro 15 - Distribuição do número de títulos impressos por países.

80

Procedemos agora a uma visão mais clarificadora quanto às cidades onde foram impressos esses títulos, tendo em conta os quatro países mais representativos nesta livraria. Como podemos comprovar, o número de títulos impressos em Portugal provêm na sua quase totalidade da cidade de Lisboa, sendo de realçar a importância de Coimbra como o segundo grande centro português livreiro representado nesta antiga biblioteca. Lisboa

Coimbra

Évora

Porto

Braga

Totais 211 40 9 3 1 Quadro 16 - Distribuição do número de títulos impressos em Portugal.


296 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

No que se refere a Espanha: as obras impressas nesta livraria têm a sua origem maioritariamente nas cidades de Madrid e Salamanca, confirmando serem estas grandes pólos de impressão e difusão de obras literárias, tendo em conta: ser nelas que se centralizavam os mais importantes estudos universitários nesse país. Madrid 73 Salamanca 23 Barcelona 9 Valencia 7 Saragoça 7 Valladolid 4 Córdova 3 Múrcia 2 Sevilha 2 Lérida 1 Granada 1 Alcalá de Henares 1 S. Tiago de Compostela 1 Málaga 1 Pamplona 1 Medina del Campo 1 Quadro 17 - Distribuição do número de títulos impressos em Espanha.

Podemos reconhecer que, em França, Lyon é a cidade por excelência de onde provêm as obras impressas em maior número produzidas nos prelos deste país. Lyon

Paris

Totais 35 8 Quadro 18 - Distribuição do número de títulos impressos em França.

Por último e no que à Itália diz respeito, reconheceremos que é de Veneza que proveio um maior número das obras impressas que existiram neste convento. Veneza Totais

Roma

Pádua

Benevento

Bolonha

23 10 2 1 1 Quadro 19 - Distribuição do número de títulos impressos em Itália.

Nápoles 1

A livraria: temas dominantes e casos especiais Após uma análise mais cuidada do referido inventário, e como se poderá observar da leitura do quadro final que aqui publicamos, onde arrolamos a biblioteca em análise, comprovamos que os volumes desta livraria tinham, como principais temas dominantes, a Sermonária, a Espiritualidade, a Moral e Doutrina, a Patrística e as Artes de confessar.


297 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Todavia, temas como a Bíblia, os Panegíricos, a Hagiografia, a Mariologia, a normativa eclesiástica (decretos, regras e estatutos), as Crónicas e os Léxicos e concordâncias bíblicas, são os menos representados neste acervo documental. Não podemos deixar de salientar o peso dos autores portugueses nesta livraria, como podemos verificar anteriormente, dado o elevado número de obras impressas no nosso país. É ainda de referir alguns casos especiais, como sejam a presença de algumas obras Conimbricenses, nomeadamente dois volumes, in 4º, do chamado Collegii Conimbricensis Commentariiii, e dois volumes, in folio, datados estes últimos de 1597 e 1606. Encontrava-se ainda nesta livraria um volume, in 8º, dos Comemtarium de Comelli Jansenni, impresso em Lyon, no ano de 1594. Em síntese Importará anotar algumas reflexões finais em relação à biblioteca que nos ocupa:

- Existência de uma biblioteca em que pesavam os títulos editados antes da fundação do Convento. - Uma biblioteca com um forte acervo bibliográfico editado na segunda metade do século XVII e primeiro terço do XVIII (tempos de ouro da história da instituição). - Portugal e Espanha são os mais representados em relação aos restantes países. - Em Espanha, é Madrid a cidade que tem maior número de índice de exportação de livros. - Óbvia diminuição de aquisições a partir do último terço do século XVIII e totalmente amorfa para o primeiro terço de Oitocentos.

O caso aqui apresentado permite reconhecer, todavia, que entre os frades capuchos, a formação e a “actualização” intelectual dos seus membros foram preocupações presentes nos séculos em causa. Não sendo uma grande biblioteca, ela não deixa de ser demonstrativa de uma das maiores riquezas do franciscanismo português nos séculos modernos: o amor dos irmãos de hábito do Poverello aos livros e ao seu Deus.

Apêndice Por último, parecendo-nos útil a divulgação do inventário da livraria do antigo Convento de Santo António da Sertã, deixamos aqui um quadro em que arrolamos as obras inventariadas na fonte a que recorremos para este breve estudo.


298 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

Número de títulos e nome dos autores

Designação das obras

1

Fr. Rafael de Jesus

Sermões vários

2

P.e Jerónimo Pardo

Discursos Evangélicos

3

Fr. Eusébio de Matos

4

Local de edição

Data e número de volumes

Formato

Lisboa

1689

1

in 4º

Coimbra

1662

1

In 4º

Sermões

Lisboa

1614

1

in 4º

Fr. Jaime Reboloso

Sermões

Barcelona

1614

1

in 4º

5

P.e Luis Brandão

Meditações sobre a História do Evangelho

Lisboa

1685

1

in 4º

6

Fr. Rafael de Jesus

Sermões Vários

Lisboa

1688

1

in 4º

7

Fr. Bernardo de Paredes

Campanha Espiritual

Coimbra

1655

1

in 4º

8

Fr. João Cardoso

Jornada da alma libertada

Lisboa

1626

1

in 4º

9

Fr. Francisco de Liscine

Primeira escoela del hombre dios

Madrid

1669

1

in 4º

10

Fr. Diogo Niseno

Apsumptos predicaveis

Lisboa

1632

1

in 4º

11

Francisco Fernandes Galvão

Sermões dos Santos

Lisboa

1613

2

in 4º

12

Fr. Manuel Rodrigues

Explicação da Bulla

Salamanca

1607

1

in 4º

13

Fr. Vicente da luz

Sermões vários

Lisboa

1724

1

in 4º

14

Fr. Manoel da Conceição

Sermões vários

Lisboa

1620

1

in 4º

15

Francisco Aquilar

Orbis Eucharisticus

Salamanca

1725

1

in 4º

16

Fr. Manuel da Conceição

Eschola da Penitencia de Fr. Antonio das Chagas

Lisboa

1687

1

in 4º

17

Fr. Luis de S. Francisco

Penitelogia Sacramental

Coimbra

1691

1

in 4º

18

O P.e Hieronimo Plati

Libro del bien del estado Religioso

Medina del Campo

1595

1

in 4º

19

Fr. Manuel de Lima

Ideas Sagradas

Lisboa

1721

2

in 4º

20

Frater Ludovicus Manganelis

Discursus praedicabiles

Madrid

1619

1

in 4º


299 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

21

P.e José da Natividade de Seixas

Medalha Evangélica

22

Diogo de Paiva

Sermões

23

Fr. Francisco de Lisavia

Doutrinas Evangélicas

24

Fr. Manuel de Gouvea

Sermões vários

25

---

Promptuario Moral (Mutilado)

26

Fr. Manuel de Naxera

27

Lisboa

1712

1

in 4º

---

1601

1

in 4º

Coimbra

1606

1

in 4º

Lisboa

1706

1

in 4º

---

---

1

in 4º

Sermões vários

Lisboa

1646

1

in 4º

Fr. António de Santo Eliseu

Sermões vários

Lisboa

1715

1

in 4º

28

Fr. Manuel de Gouvea

Sermões vários

Lisboa

1715

3

in 4º

29

Fr. António de Gouvea

Monte Calvário

---

---

1

in 4º

30

Fr. Isidoro de S. Joan del Sacro

Triumpho Quadragisimal

Madrid

1672

1

in 4º

31

P. e Simão da Gama

Sermões Vários

Lisboa

1708

1

in 4º

32

Pedro de Calataiude

Juicio de los Sacerdotes

Pamplona

1736

1

in 4º

33

---

Honras Christans nas affrontas de Jesus Christo

Lisboa

1625

1

in 4º

34

Fr. José de Santa Maria

Tribunal de Relligiosos

Sevilha

1617

1

in 4º

35

Fr. Pedro Sanches

Anno predicable

Múrcia

1750

5

in 4º

36

Fr. Pedro Palumino

Sermones

Madrid

1684

2

in 4º

37

---

Concilio Tridentino

Valladolid

1614

1

in 4º

38

Fr. Diego Lopes

Tratados sobre os Evangelhos

Lisboa

1618

1

in 4º

39

Fr. Gabriel de Naboa

Apologia de Confessores

Salamanca

1785

1

in 4º

40

[Fr. Filipe Dias]

Summa praedicantium ex omnibus locis Comunibus a fratre Philipo Dias

Salamanca

1639

2

in 4º

41

Fr. Domingos de la Vega

Empleo Santo

Madrid

1607

1

in 4º

42

Fr. Baltasar Pais

Sermões

Lisboa

1733

1

in 4º


300 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

43

P.e Jerónimo Pardo

Discursos Evangelicos

44

---

Sermões vários

45

P.e Simão da Gama

Sermões

46

[Vários autores]

47

Lisboa

1661

1

in 4º

Coimbra

1716

1

in 4º

Lisboa

1709

1

in 4º

Sermões vários

Coimbra

1685

1

in 4º

P.e Diego Mello

Panegiricos vários

Madrid

1668

1

in 4º

48

Fr. Domingos de S. Thomaz

Predica Sacramental

Lisboa

1675

1

in 4º

49

Fr. Christoval da Fonseca

Vida de Christo

Lisboa

1600

1

in 4º

50

Fr. Luis de Rebolhedo

Libro de las Reglas e Constituciones generales de la ordem de Nuestro P.e S. Francisco (Mutilado)

---

---

1

in 4º

51

[S. João Crisóstomo]

Opera

---

---

4

in fólio

52

[S. João Crisóstomo]

Humilia

---

---

14

in 8º

53

---

Gradus ad Parnasum

---

---

1

in 8º

54

Cartusiano [Ludolfo de Saxónia]

De Vita Christi

---

---

2

in fólio

55

S. Basílio

Opera

---

---

1

In fólio

56

Simonis de Cassia

De gestis Domini Salvatorisapud Sanctam Ubiorum

Colónia

---

1

in fólio

57

---

Policut Nova de Lanci

Frankfurt

---

1

in fólio

58

---

De ornatu et vestibus Aaronis

Antuérpia

---

2

in fólio

59

Santo Agostinho

Opera

---

---

8

in fólio

60

S. Bernardo

Opera

---

---

1

in fólio

61

S. Gregório

Opera

---

---

1

in fólio

62

Cornelli a Lapiride

Commentarium

---

---

8

in fólio

63

---

Apparatus concionatorum

---

---

2

in fólio

64

Laureti

Silva Alegoriarum

---

---

1

in fólio

65

Felix

Potestas Moral

---

---

2

in fólio

66

---

Chronica de Marrochos

---

---

1

in fólio


301 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

67

Calepinum

Lexicon Latinum

---

---

1

in fólio

68

Barchorii

Opera omnia

---

---

3

in fólio

69

Bonacinae

Opera omnia

---

---

2

in fólio

70

Silveira

Commentaria

---

---

8

in fólio

71

Silveira

Opuscula varia

---

---

1

in fólio

72

Haye

Commenta in Genesim

---

---

1

in fólio

73

---

Directorium Confessariorum

---

---

1

in fólio

74

Zuteta

Epistolam Catholicam S. Jacobi

---

---

1

in fólio

75

---

Commentarium in Isaiam

---

---

1

in fólio

76

---

Polianthea Seraphica

Lisboa

---

1

in fólio

77

Prasecson

Historia Eclesiastica

Germania

---

4

in fólio

78

Hugonis

Opera omnia

Veneza

---

8

in fólio

79

Pedro de Figueiredo

Commentarium

Lyon

---

1

in fólio

80

Naxera

Commentarium

Lyon

---

3

in fólio

81

Soto Maior

Cantici Canticorum Interpretatio

Lisboa

---

1

in fólio

82

S. Thomas Aquinatis

Theologia

Antuérpia

---

4

in fólio

83

S. Thomas Aquinatis

Catena aurea

Veneza

---

1

in fólio

84

Belem

Chronica de Xabregas

Lisboa

---

4

in fólio

85

Guillem

Sermoes Hespanhoes

Madrid

---

2

in fólio

86

---

Philosophia dos Principes

Lisboa

---

1

in fólio

87

Nicolau de Lira

Glossa ordinaria

Lyon

---

7

in fólio

88

Pleastro

Commentaria

Lyon

---

1

in fólio

89

Maldonado

Commentarium

Lyon

---

1

in fólio

90

Barradas

Commentarium

Lyon

---

3

in fólio

91

---

Concordantia Bibliae

Paris

---

1

in fólio

92

Marracci

Polinathea Mariana

Colonia, Agripia

---

2

in 4º

93

Didaci

Stella conciones

Antuérpia

---

1

in 4º

94

Avicentia

De previlegiis regularium

Veneza

---

1

in 4º


302 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

95

---

Collegii Conimbricensis commentarium

Coimbra

---

2

in 4º

96

Perevius

In Ginesim

Lyon

---

1

in 4º

97

---

Speculum Parochorum

Veneza

---

1

in 4º

98

Sabino

Lux moralis

Veneza

---

1

in 4º

99

Raulim

Sermones

Paris

---

1

in 4º

100

---

Concordantia Bibliae

Lyon

---

1

in 4º

101

Baltasar Pais

In Epistolam Jacobi

Antuérpia

---

1

in 4º

102

---

Monarchia Mystica da Igreja

---

---

1

in 4º

103

---

Silvestrina Moral

Roma

---

1

in 4º

104

José da Costa

Conciones

Salamanca

---

1

in 4º

105

Fr. Filipe da Rocha

Conciones Dominicarum

Lisboa

---

1

in 4º

106

Naxera

Sermões Hespanhoes

Coimbra

---

11

in 4º

107

Certa

Sermões

Lisboa

---

2

in 4º

108

---

Conselheiro fiel

Lisboa

---

3

in 4º

109

Val de Rama

Exercicios espirituaes

Lisboa

---

2

in 4º

110

Medalha Evangelica

Sermões

Lisboa

---

2

in 4º

111

Morillo

Discursos predicaveis

Saragoça

---

2

in 4º

112

Fr. Diogo d’Arsea

Sermões

Múrcia

---

2

in 4º

113

Fr. Aleixo

Annuntiationes in Evangelia

Coimbra

---

1

in 4º

114

Fr. Diogo da Véga

Sermões

Salamanca

---

2

in 4º

115

---

Epitome Sanctorum Patrum

Colónia Agripina

---

5

in 4º

116

---

Silva Concionnatoria

Lisboa

---

5

in 4º

117

P.e Curado

Sermões

Roma

---

3

in 4º

118

Blutto [Bluteau]

Primicias Evangelicas

Lisboa

---

3

in 4º

119

Bartholomeu do Quintal

Sermões

Lisboa

---

2

in 4º

120

Fr. Manuel Rodrigues

Sobre a Bulla

Salamanca

---

1

in 4º


303 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

121

P.e Borumbau

Theologia Moral

Lisboa

---

1

in 4º

122

Fr. Luis d’Ascensão

Sermões Vários

Coimbra

---

1

in 4º

123

---

Rosas do Japão - História

Lisboa

---

1

in 4º

124

---

Culto de S.to Adão

Madrid

---

1

in 4º

125

---

Thesouro de Cerimonias

Lisboa

---

1

in 4º

126

Fr. Diogo Niceno

Sermões

Barcelona

---

1

in 4º

127

Fr. Diogo Serrano

Sermões

Madrid

---

1

in 4º

128

Fr. Fernando da Soledade

Sermões

Lisboa

---

1

in 4º

129

P.e Mendo

Sermões

Madrid

---

1

in 4º

130

---

Sermões Vários

Lisboa

---

1

in 4º

131

Fr. Christovão de Lisboa

Sermões

Lisboa

---

1

in 4º

132

Fr. Luis de Miranda

Praticas Espirituais

Salamanca

---

1

in 4º

133

Fr. Luis de Paula

Discursus Predicabiles

Madrid

---

1

in 4º

134

---

Summa de casos de consciencia

Madrid

---

1

in 4º

135

Fr. João Cardoso

Jornada da Alma

Lisboa

---

1

in 4º

136

P.e João Coutinho

Stromas predicaveis

Coimbra

---

6

in 4º

137

Fr. André Mendo

Quaresma

Madrid

---

1

in 4º

138

---

Candelabrum aureum

Veneza

1605

1

in 4º

139

---

Cantico Marianno

Évora

1709

1

in 4º

140

Fr. Lourenço de Zamora

Monarchia Mistica da Igreja

Madrid

1619

1

in 4º

141

Domini Henrici Harphi

Theologia Mistica

Colónia

1605

1

in 4º

142

P.e Jacinto Quintero

Discursos Evangelicos

Madrid

1651

1

in 4º

143

P.e Diogo de Baesa

Commentariorum Moralium in Evangelicam Historiam

Lyon

1629

1

in 4º

144

Medina

In Isaian

Roma

1699

1

in 4º


304 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

145

D. José de Barsia e Zantrano

Despertador Christiano de Varios Sermões

Lisboa

1693

13

in 4º

146

Fr. Isidoro de S. João

Triumpho Evangélico

Salamanca

1634

1

in 4º

147

Fr. Pedro Correia

Triumphos Eclesiasticos

Lisboa

1617

1

in 4º

148

Fr. Diogo d’Annunciação

Tropheo Evangélico

Lisboa

1699

2

in 4º Tomo 2º e 3º

149

Fr. Diogo d’Annunciação

Tropheo Evangélico

Lisboa

1699

1

in 4º Tomo 2º

150

P.e Diogo d’Annunciação

Tropheo Evangélico dedicado a D. Veríssimo de Lencastre

151

Fr. Alonso de Cabrera

De las Consideraciones en los Evangeliosa

152

P.e João

153

Lisboa

1685

1

in 4º

Saragoça

1610

2

in 4º

Sermões

Madrid

1663

1

in 4º

Fr. Diogo Niceno

El gran Padre de los Crientes

Lisboa

1636

1

in 4º

154

Fr. Hortensio Felix

Orações Evangélicas

Madrid

1689

1

in fólio

155

Fr. Pelipe da Luz

Sermões

Lisboa

1617

2

in fólio

156

António de Sousa de Macedo

Eva e Ave

Lisboa

1676

1

in fólio

157

Fr. Juan Duram

Santoral Serafico

Madrid

1618

1

in fólio

158

Fr. Juan Duram

Adrento e Sermões Vários

Madrid

1722

1

in fólio

159

Fr. Juan Duram

Panegirios

Madrid

1714

2

in fólio

160

Cesar Baronius

Martirologium Romanum

Roma

1598

1

in fólio

161

---

Espejo de la consciência (Mutilado)

---

---

1

in fólio

162

Fr. Juam de More

Enigma Numerico

Madrid

1683

1

in fólio

163

Sebastiam Barradas

Commentario

Lyon

1611

1

in fólio

164

Gregorius Sairmo

Theologia Moralis

Veneza

1718

1

in fólio

165

Fr. Baltasar Limpo

Fugas de David

Lisboa

1642

1

in fólio

166

Fr. Manuel da Trindade

Bibliotheca do mundo

Lisboa

1758

1

in fólio

167

Fr. Lucio Ferraris

Biblioteca

Bolonha

1763

5

in fólio


305 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

168

Fr. Antonius Horman

Theologia Moral

Beneventi

1743

2

in fólio

169

Collgii Salmaticensis

Teologia

Veneza

1739

3

in fólio

170

P.e Claudo Lacroá

Theologia moral

Veneza

1725

2

in fólio

171

Fr. Manuel da Conceição

Ceremonial Serafico

Lisboa

1730

1

in fólio

172

Michael Vivien

Tertulianus praedicans

Pádua

1729

2

in fólio

173

Frati Francisci Heno

Theologia Dogmatica

Colónia

1718

2

in fólio

174

D. Francisco de Sobrecosas

Sermões Evangélicos

Madrid

1690

1

in fólio

175

Sebastianus Cesar

Coagitatio Ingracitudinis

Lisboa

1697

1

in fólio

176

Fr. Apolinário da Conceição

Piquenas na Terra e grandes no Ceo

Lisboa

1744

1

in fólio

177

Fr. Martinho do Amor de Deos

Crónica da Província de Santo António

Lisboa

1790

1

in fólio

178

P.e Affonso Rodrigues

Exercicio de perfeição

Lisboa

1730

1

in fólio

179

---

Felicis Protestatis Examen Eclesiasticum

Coimbra

1714

1

in fólio

180

Fr. Domingos da Torregrossa

Nectar Divino

Valença

1655

1

in fólio

181

Francisco Larraga

Moral

Coimbra

1749

1

in fólio

182

P.e Benito Remigio

Pratica de Curas

Lisboa

1686

1

in fólio

183

Frater Constantius Serrannus

Summa Theologia

Roma

1590

1

in 4º

184

Fr. Manuel dos Anjos

Politica praedicavel

Lisboa

1693

1

in fólio

185

---

Calendario perpetuo (Mutilado)

---

---

2

in 8º

186

P.e Manuel Correia

Compendio d’indulgencias

Coimbra

1734

1

in 8º

187

[Leão]

Philosophia de Leão

Lyon

1782

4

in 8º

188

Jacobi de Voragine

Sermones

Lyon

1687

5

in 8º

189

Frater Augustinus Mateuci

Schola para per tuti

Roma

1734

1

in 8º

190

Patris Dominici Schram

Institutiones Theologiae Mysticae Augustos Vindelicorum

---

1777

2

in 8º


306 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

191

S. Petri

Chrisologi opus humiliarum

Paris

1544

1

in 8º

192

P.e Manuel Severino Faria

Discursos vários políticos

Évora

1624

1

---

193

Fr. Didaci Stella

Fabula veneu omnicium

Salamanca

1588

1

in 8º

194

Fray Juan Climenes

Exposicion de la regla de los Fragles menores

Valencia

1622

(1)

in 8º

195

---

Um piqueno tratado de moral (Mutilado)

---

---

(1)

---

196

Fratel Laurencius de Portel

Responsorium moralium

Lisboa

1739

1

---

197

Frater Ludivicus de Miranda

Ordinis Judiciarii quaestiones

Salamanca

1601

1

---

198

Frater Ludivicus de Miranda

Exposicion de la regla de los Fragles menores

Salamanca

1609

(1)

---

199

P.e Nicolao Fernandes Colares

Descripção do tormentoso Cabo da Boa Esp. Digo Cabo da enganosa esperança

Lisboa

1718

2

---

200

Fr. Francisco Diez

Del espejo Serafico

Santiago

1683

(1)

---

201

---

Constituições Gerais da Ordem Franciscana

Lisboa

1631

1

---

202

Fr. João do Redondo

Memorial Religioso

Lisboa

1744

1

---

203

Fr. Valério do Sacramento

Thesouro Serafico

Coimbra

1735

1

---

204

Fr. José de Santa Maria

Tribunal de Relligiosos

Madrid

1616

1

---

205

Georgio Broloco

Economia concordantiarium Scripturae

Veneza

1595

1

in fólio menor

206

Diogo Lopes d’Andrade

Tratado sobre os Evangelhos

Lisboa

1616

(1)

---

207

Fr. Juan Henriques

Questionespratiques de casos morales

Coimbra

1668

(1)

---

208

---

Sermões de Domingos (Mutilado)

---

---

1

---

209

D. Jerónimo Mascarenhas

Vida d’Abrahão

Lisboa

1636

1

in 4º


307 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

210

D. Francisco Ignácio de Torres

Discursos eloquentes

Lisboa

1658

1

in 4º

211

D. Juan de Cabrera

Sermones varies

Madrid

1763

1

in 4º

212

Fr. Allonso Cabrera

Considerações sobre os Evangelhos

Córdova

1688

2

in 4º

213

Gracian

Criticon e a abgudesa

Madrid

1720

2

in 4º

214

Fr. António da Expectação

Josephina panegirica

Lisboa

1731

2

in 4º

215

Francisco Fernandes Galvão

Sermões das festas dos Santos

Lisboa

1619

1

in 4º

216

Fr. Manuel de S. Placido

Sermões vários

Lisboa

1709

2

in 4º

217

Fr. Pedro Calvo

Definição das lágrimas

Lisboa

1618

1

in 4º

218

Fr. José Ferreira

Sermões vários

Lisboa

1668

1

in 4º

219

P.e Simões da Gama

Sermões vários

Lisboa

1702

1

in 4º

220

Fr. Luiz de S. Francisco

Sermões vários

Coimbra

1602

1

in 4º

221

Francisco Larraga

Moral

Coimbra

1731

1

in 4º

222

Fr. Cristoval de Fonseca

Terceira parte da Vida de Christo

Barcelona

1606

1

in 4º

223

Fr. José d’Oliveira

Sermões vários

Coimbra

1689

4

in 4º

224

Fr. Christovão d’Almeida

---

Lisboa

1680

1

in 4º

225

P.e António Fernandes de Moura

Examen Theologiae moralis

Braga

1613

1

in 4º

226

Fr. Baltasar Pais

Sermões

Lisboa

1633

1

in 4º

227

Fr. Bernardo de Paredes

Harmonia Mystica e Moral

Coimbra

1634

1

in 4º

228

D. Francisco Ignácio de Torres

Discursos Eloquentes

Lisboa

1648

3

in 4º

229

---

Theatro Evangélico – Sermões

Coimbra

1755

1

in 4º

230

Fr. Francisco de Lisana

Doutrinas Evangélicas

Coimbra

1666

1

in 4º

231

Diversos Autores

Sermões

Lisboa

1685

1

in 4º


308 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

232

Fr. Bernardo de Paredes

Campanha Espiritual

Coimbra

1655

1

in 4º

233

D.or Diogo de Paiva d’Andadre

Sermões

Lisboa

1603

1

in 4º

234

Diego Nixeno

Asontos predicables

Lisboa

1628

2

in 4º

235

D. Manuel Rico

Summa Moral

Madrid

1733

1

in 4º

236

Fr. Augustin de Carrion

Vários Sermones

Madrid

1659

1

in 4º

237

Fr. Manuel de Gouveia

Sermões vários

Lisboa

1715

6

in 4º

238

F. João da Certa

Sermões das Festas da Virgem Santa Maria

Lisboa

1635

1

in 4º

Laurea Portuguesa – Sermões

Lisboa

1685

1

in 4º

239

240

Doctoris Josephi Aldreti

Religiosa Disciplina tuanda Libri 3

Hispali

1615

1

in 4º

241

Fr. Francisco de Rojas Nieto

Vespertinas de las opprobios da pacion de Christo em modo de diálogos

Madrid

1634

1

in 4º

242

Fr. Manuel de Lima

Ideas Sagradas

Lisboa

1720

1

in 4º, Tomo 1º

243

Francisco dos Santos Gorsini

Promptuario de Theologia moral

Madrid

1780

1

in 4º

244

Diego de Morillo

Discursos predicaveis

Lisboa

1608

1

in 4º

245

Philippi Dies

Conciones quadriphices

Veneza

1606

1

in 4º, Tomo 1º

246

Fr. Gaspar de Vila Real

Commentarios e discursos sobre os Evangelhos da Quaresma

Lisboa

1631

1

in 4º

247

Fr. Francisco Fernandes Galvão

Sermões das Festividades dos Santos

Madrid

1615

1

in 4º

248

Fr. Pedro Calvo

Humilias da Quaresma

Lisboa

1727

1

in 4º

249

Fr. Laurentii de Portel

Dubia regularia

Lisboa

1613

1

in 4º

250

Fr. José Carabantes

Remedio de Peccadores

Madrid

1628

1

Em grande, Tomo 2º


309 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

251

Fr. Angel Henrique

Laurea Evangelica

Salamanca

1709

1

in 4º

252

D. António de Molina

Instrucções de Sacerdotes

Madrid

1607

1

in 4º

253

Petri a Navarra Tolentani Theologi

Ablatorum rostutitione

Lyon

1593

1

in 4º

254

Fr. Francisco Xavier

Sermões vários

Madrid

1693

1

in 4º

255

P.e Francisco Lopes

Sermões

Barcelona

1685

1

in 4º

256

D. Alexandre Calamato

Tratatus Adventualis

Antuérpia

1657

2

in 4º

257

Fr. Tomás da Veiga

Considerações sobre os Evangelhos

Lisboa

1609

1

in 4º

258

Fr. Lourenço de Portel

Despositiones aliquorum casicum moralium

Lisboa

1630

1

in 4º

259

Fr. Manuel de Sá

Memórias Históricas da Ordem do Carmo

Lisboa

1724

1

in 4º

260

Fr. Pedro de Poiares

Sobre as Cruses de Barcelos

Lisboa

1670

1

in 4º

261

Fr. Gabriel da Purificação

Trono Sonoro cantado nas festas de N. S.ª

Lisboa

1689

1

in 4º

262

Fr. Tomás da Veiga

Sermões Quaresmais

Lisboa

1618

1

in 4º

263

Fr. João Pereira

Exhortações Domesticas

---

---

1

in 4º

264

Fr. João Salves

Sermões Quaresmais

Madrid

1670

1

in 4º

265

Fr. João da Estrada Gijon

Panegirios predicados em diversos assuntos

Madrid

1666

1

in 4º

266

D Rodrigo Henrique

Commentaruim in Esaian Prophetan

Roma

1602

1

Tomo 2º

267

Hyeronimi Plati

Bono Statu Relligioso

Lyon

1546

1

---

268

Frei Francisco Gonzaga

Manipulus Fratun ninorum

Paris

1582

1

---

269

Fratis Laurentii de Portel

Dubia Regularia

Lyon

1634

2

---

270

Frater Antonius a Sancto Bernardino

Vita Minoritica

Londres

1658

3*

---

271

Fr. Martinho de S. José

Exposição da Regra Seraphica

Salamanca

1633

4*

---

272

Fr. Dâmaso d’Appresentação

Obrigação do Frade menor

Lisboa

1727

2*

---


310 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

273

D.or S. Boaventura

Alguns tractados do Seraphico

Lisboa

1602

1

---

274

Remigio [P.e Benito]

Promptuario

Lisboa

1675

1

---

275

P.e António d’Araujo

Definições Morais

Lisboa

1625

1

---

276

---

Historia e Vida de Santa Catharina Virgem

Valença

1587

1

---

277

D. Fr. Pedro Mart.

Directorium Curayorum

Lisboa

1615

1

---

278

Fr. Christoval Moreno

Vida de S. João Evangelista

Valença

1595

1

---

279

Fr. Diego d’Estrella

Meditaciones del amor de Dios

Salamanca

1578

(1)

---

280

Martini Aspicueta

Compenduim Manualis

Lyon

1591

1

---

281

Joannis Gerson

Imitatione Christi (Mutilado)

---

---

(1)

---

282

Fr. Laurentius de Portel

Super decalogum

Lisboa

1626

1

---

283

Beari Dionisii Ariopagitae

Opera

Lyon

1585

1

in 8º

284

Beati Joannis Trinitate

Expositiae Casum qui in ordine Seraphica reservantur

Paris

1617

1

in 8º

285

---

Biblia Sacra (Mutilado)

---

---

2*

---

286

D. Lourenço Martinez de Marcila

Chronicon de Christiano Agricobio Delpho

Madrid

1679

1

---

287

Fr. Philippe Diez

Tractado de Consideraciones

Salamanca

1697

(1)

---

288

D. Fr. Andrez Ferraz de Valle de Cebro

Governo Geral das aves

Madrid

1683

1

---

289

D. Fr. Andrez Ferraz de Valle de Cebro

Memorial dos Animais

Madrid

1683

1

---

290

Fr. António Arbió

Os terceros hyjos del humano Serafim

Saragoça

1724

2*

---

291

Fr. António Arbió

La família regulada

Saragoça

1739

(1)

---

292

Fr. Apolinário da Conceição

Primaria Seráfica

Lisboa

1733

3*

---

293

Fr. Luis de S. Francisco

Breve explicação da regra Seráfica

Coimbra

1690

1

in 4º


311 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

294

Fr. Bartolomeu de Medina

Instruções para o Sacramento da Penitência

Lisboa

1587

2

in 8º

295

Ovidio

Fábulas (Mutilado)

---

---

8

---

296

Fr. Simão de Salasar

Promptuario moral

Valladolid

1659

1

in 8º

297

P.e Domingos Moreira

Definições morais

Lisboa

1679

1

in 8º

298

Fr. Henrique de Villa Lobos

Manual de Confessores

Lisboa

1633

1

in 8º

299

Frater Joanne a Cruce

Epithone de Statu relligionis

Lisboa

1617

1

in 8º

300

Frater Petri Reginaldi

Speculum Finalis retribletionis (Mutilado)

---

---

1

in 8º

301

Antonii Franciscii Pistratorato

Alfabeto Eclesiástico

Lisboa

1725

1

in 8º

302

Joannis Molare

Lexion Hispano Italicum

Veneza

1576

1

in 8º

303

Lucani

Bello civili

Lyon

1542

1

in 8º

304

D. Manuel Sarmento

Milicia Evangélica

Madrid

1618

1

in 8º

305

Nattio Narin Cagnan

La Furca Fedele Inceprede

---

1715

1

in 8º

306

P.e António d’Araujo

Definições morais

Lisboa

1680

1

in 8º

307

D. Fr. Pedro Martir

Directorium Curatorum

Leridae

1617

1

in 8º

308

Thomas Stapletono

Promptuarium morale

Veneza

1594

2

in 8º

309

Arnobii

Commentaria in Psalmos

Basilae

1537

1

in 8º

310

Genebrardus

Psalmos

Lyon

1615

1

in 8º

311

S. Martini Bonacinae

Compendium Theologiae moralis

Antuérpia

1638

1

in 8º

312

Don Joseph de Barsia

Compendio de los cinco tomes del despertador Christiano

Lisboa

1634

1

in 8º

313

Frat. Didaci da Vega

Quaresmales conciones

Lyon

1602

1

in 8º

314

Frat. Didaci da Vega

Vespertinas Conciones

---

---

1

in 8º

315

Fr. António Freire

Thesouro Spiritual

Lisboa

1624

1

in 8º

316

Fratris Zaclevare La Zelos

Annuncius Appostolicus seu conciones

Paris

1713

6

in 8º


312 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

317

Fratris Francisci a Victoria

Relectiones Theologiae

Lyon

1584

1

in 8º

318

Fratris Jacobi Soares

Oito conciones corporis Christi

Lyon

1607

1

in 8º

319

---

Meditações várias (Mutilado)

---

---

1

in 8º

320

P.e Manuel Lourenço Soares

Explicação dos casos reservados

Lisboa

1660

1

in 8º

321

---

Relação de várias ilhas e reinos do mundo (Mutilado)

---

---

1

in 8º

322

P.e António Pereira

Tradução do Velho e novo testamento

Lisboa

1791

18

in 8º

323

Fratris Thoino Xavio

Summa Sacramentorum

Lisboa

1554

1

in 8º

324

Fratris Henrici Engelgrave

Celeste Patheon Lucis Evangelicos

Colónia

1659

5

in 8º

325

Bourdaloue

Sermons

Lyon

1750

15

in 8º

326

Tulense

Methaphisica Speciales

---

---

(1)

in 8º,Tomo 2º

327

Tulense

Physicos generales

---

---

(1)

in 8º,Tomo 4º

328

Fratris Sebastianni Dupaschier

Summa Philosophia Scholasticae

---

---

(1)

Tomo 2º

329

Fratris Sebastianni Dupaschier

Methaphisica

Patavii

1732

1

in 8º

330

D. Juan Zevaleta

Dia de festa por la tarde

Madrid

1659

1

in 8º

331

Fr. Rafael de Bluteau

Sermões Panegiricos

Lisboa

1732

2

in fólio

332

Fr. António da Piedade

Chronica da provincial d’Arrabida

Lisboa

1728

1

in fólio

333

Fr. António da Expectação

Estrella d’Alva Santa Theresa de Jesus

Lisboa

1755

3

in fólio

334

Fr. Joan de Mora

Pensil Eucharistico

Lisboa

1732

2

in fólio

335

Fr. António Caethano de S. Boaventura

Paraiso Mystico da Ordem dos menores

Lisboa

1750

1

in fólio

336

D. José Pocorsell Vilagrassa

Ramalhete de flores mysticas

Barcelona

1743

1

in fólio


313 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

337

Frater Joseph ab Assumptione

Martirologium Augustiniannum

Lisboa

1743

2

in fólio

338

Madre Maria de Jesus d’Agreda

Mystica Cidade de Deos

Lisboa

1685

3

in fólio

339

Fr. João Baptista de Santo António

Paraiso Serafico

Lisboa

1734

1

in fólio

340

Fratris Caroli Percesin

Chronologia Historica legalis ordinis

Lyon

1752

2

in fólio

341

Petrus Pollus

Mansiones morales seu quadragésima continua

Madrid

1739

1

in fólio

342

Hyeronimus Cardosus

Dictionarium Latino Lusitanum

Lisboa

1601

1

in 4º

343

Martini de Aspilcoeta Navarro

Addicções ao Manoal dos Confessores

Évora

1574

3

in 4º

344

D. Antonius Ginther

Cursus Israelis et auriga ejus

Antuérpia

1752

5

in 4º

345

Fr. Francisco de Santo António

Arte Theologico Pratica de Confessores

Lisboa

1755

1

in 4º

346

P.e António Tavares

Exame de Confessores

Lisboa

1754

1

in 4º

347

Frater Isidorus de Isulanis

De donis Sancti Joseph (Mutilado)

---

---

1

in 4º

348

Fr. António do Espirito Santo Andrade

Sermões Panegíricos

Lisboa

1755

1

in 4º

349

Fr. João de Coimbra

Sermões em várias festividades

Coimbra

1752

2

in 4º

350

Fr. João de S. Margarida

Sermões vários

Lisboa

1744

1

in 4º

351

Fr. Francisco de Larraga

Promptuarius moral

Coimbra

1735

1

in 4º

352

Benedicti Papae 14

Libri tredecim de Synodo Diocesano

Veneza

1793

2

in 4º

353

Madureira

Syntaxe

Coimbra

1739

1

in 4º

354

D.or Gil Osorio Udemira

Sermões quaresmais

Lisboa

1748

1

in 4º

355

Fr. Simão António de Santa Catherina

Luz de Verdades Catholicas

Lisboa

1727

1

in 4º


314 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

356

Fr. Agostinho de S. Boaventura Montoya

Sermões quaresmais

Lisboa

1727

1

in 4º

357

D.or João Evangelista

Sermões

Lisboa

1743

1

in 4º

358

Fr. Francisco de S. Luiz Rebello

Sermões

Lisboa

1759

1

in 4º

359

Fr. Dionísio da Conceição

Imagens predicaveis

Lisboa

1774

2

in 4º

360

P.e Nicoláo Fernandes Colares

Desempenho de Pregadores

Lisboa

1700

1

in 4º

361

P.e Manuel Consciência

Sermões Panegíricos

Lisboa

1726

1

in 4º

362

Cornelii Jansenii

Commentarium

Lyon

1594

1

in 8º

363

Joannis Osorii

Conciones

Antuérpia

1592

4

in 8º

364

Sancti Gregorii

Moralia

---

1530

1

in 8º

365

Joannes Hentenius

Rationes vetuslissimorum Theologonim

Paris

1545

1

in 8º

366

---

Vitta Flavii Vigetii Rurati (Mutilado)

---

---

1

in 8º

367

Frater Ildefonsus Ad Prosio

Declamationes pro Dominicis post Pascha

Compluti

1571

1

in 8º

368

Sancti Leonis Papae primi

Homiliae

Lovanii

1561

1

in 8º

369

Thomas Hibernicus

Flores orimium praedoctorum

Colónia

1577

1

in 8º

370

Fr. Diego de Estella

Meditaciones de la amor de Dios

Madrid

1572

1

in 8º

371

Gasparis Graphar

Michaean Prophetan commentaria

Salamanca

1570

1

in 8º

372

Pater Antonius de Regibres

Joanni quinto epigramma

Lisboa

1730

1

in 8º

373

---

Livro da Vaidade do mundo (Mutilado)

---

---

1

in 8º

374

Fr. Jaime Rebulosa

Conceptor Seripturales

Barcelona

1598

1

in 8º

375

Pedro de Messia

La Salva de varia leccion

Veneza

1583

1

in 8º

376

---

Testamenti novi editio vulgara

Lyon

1557

1

in 8º


315 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

377

Frater Joannes de Cruce

Epithome de Statu Relligionis

Lisboa

1617

1

in 8º

378

Hyeronimi Stridonicusis

Epistola

Lyon

1604

1

in 8º

379

Francisci Assiatis

Opuscula

Antuérpia

1623

1

---

380

Fr. Pedro Palomino

Sermões vários

Madrid

1679

1

---

381

João Gomes da Silva

Sermão do Glorioso S. Bento

Lisboa

1700

1

---

382

Fr. Francisco Amijugo

Rethorico Sagrada

Saragoça

1670

1

---

383

---

Sermões vários pregador na cidade de Leira p. um Pregador estimado

Saragoça

1678

1

---

384

D.or Jeronimo Ribeiro de Carvalho

Sermão nas honras do Serenissimo Princepe de Portugal D. Theodosio

Coimbra

1653

1

---

385

Patre Silvestro Prieratae

Silvestrina

---

1539

1

---

386

Franciscus de Aguillar

Orbis Ecclesiasticus

Salamanca

1725

1

---

387

---

Instructorium conscientiae

---

1725

1

---

388

Francisco Pedro de S. José

Discursos morales para Domingos

Coimbra

1663

1

---

389

Fratrem Franciscum de Aguillar

Hyeroglifica Symbola Marianna

Salamanca

1635

1

---

390

---

Sermões vários

Coimbra

1680

1

---

391

Fratre Diogo Mallo de Anduasia

Orationes Evangelicae de Adventu et Quaresma

Madrid

1666

1

---

392

D.or Francisco Ignácio de Porres

Escuella de discursos

Lisboa

1649

1

---

393

Fr. Manuel Rodrigues Lusitano

Summa de casos de consciência

Lisboa

1604

1

---

394

Vários autores

Orações várias

Lisboa

1647

1

---

395

Fray Joanne de S. Gabriel

Sermones sobre los Evangelios

Madrid

1662

4

in 4º

396

Fr. António de Gouveia

Relectiode Censuris Bullae

Lisboa

1615

1

in 4º


316 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

397

Fr. Manuel de Gouveia

Phaenix gloriosa

Lisboa

1727

1

in 4º

398

Fr. Christovão d’Almeida

Sermões vários – 2.ºparte

Lisboa

1680

1

in 4º

399

Fr. Diogo Lopes d’Andrade

Tratados da puríssima Conceição – 1.ºparte

Nápoles

1683

1

---

400

---

Summa de casos de consciência (Mutilado)

---

---

1

in fólio

401

Mestre Alonso de Vilgas

Discursos e Sermões (Mutilado)

---

---

1

in fólio

402

Alonso de Vilgas

Victoria e triumpho de Jesus Christo

Madrid

1603

1

in fólio

403

P.e António do Espírito Santo Macabello

Policanthea Eucharistica

Lisboa

1733

1

in fólio

404

Fr. Juan Gil de Gudoi

El mejor Guiman de los Boenos

Lisboa

1690

2

in fólio

405

Fr. Manuel de Damaso

Verdade Illucidada

Lisboa

1730

1

in fólio

406

Fr. João de S. Francisco

Primavera Sagrada

Lisboa

1675

1

in fólio

407

Henrique de Villa Lobos

Summa de Theologia moral e canónica – Tratado 1.º de consciência

Lisboa

1644

3

in fólio

408

Roque Rico de Miranda

Sermões sobre os Evangelhos

Madrid

1690

1

in fólio

409

P.e Alonso d’Andrade

Itenerario historial

Madrid

---

1

in fólio

410

Fr. Thomas da Veiga

Considerações Literais – T. 1.º

Lisboa

1833

(1)

in fólio

411

Fr. Lucas Nuadingues

Scriptores ordinis minorum

Roma

1650

1

in fólio

412

---

Refeição Espiritual (Mutilado)

---

---

1

in fólio

413

Fr. Angel Henrique

Meditações para os dias da Quaresma

Salamanca

1612

1

in fólio

414

André Mendo

Sermones vários

Madrid

1676

3

in 4º

415

Fr. Pedro de S. José

Glorias de Maria Santíssima

Coimbra

1688

1

in 4º


317 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

416

Fr. Diogo Morillo

Vida e excellencias da Madre de Deos

Saragoça

1610

1

in 4º

417

Fr. Pedro Calvo

Segunda parte das homilias da quaresma

Lisboa

1629

1

in 4º

418

Seixas

Medalha Evangélica

Lisboa

1606

1

in 4º

419

Ignácio Ramos

Ramos Evangélicos

Lisboa

1724

(1)

Tomo 2º

420

Fr. Christoval d’Avendanó

Sermones sobre los Evangelhos

Lisboa

1524

1

in 4º

421

P.e Francisco de Santa Maria

Sermões

Lisboa

1689

1

in 4º

422

Lopes d’Andrade

Tractados sobre os Evangelos da festividade dos Santos – 1.ª parte

Madrid

1622

1

in 4º

423

Amador Vieira

Sermões das festas de Christi

Lisboa

1616

1

in 4º

424

Frater Joanne Galarro

Homiliae in Dominicas in Adventum

Granato

1617

1

in 4º

425

Fr. Agostini de Corrion

Sermões da festividade de Nossa Senhora - Tomo 10

Madrid

1639

1

---

426

Fr. José d’Oliveira

Sermões – 1.ª parte

Coimbra

1688

1

in 4º

427

P.e Luis Alvares

D.os – 2.ª parte

Lisboa

1683

1

in 4º

428

---

Desposorios do Espirito (Mutilado)

---

---

1

in 4º

429

Annuel de Naxere

Sermon de la concepcion de la Virgem Nossa Senhora

Lisboa

1647

1

in 4º

430

P.e António d’Amorim

Sermões

Lisboa

1710

1

in 4º, Tomo 2º

431

Luis Cordeiro

D.os

432

---

Cartapacio de Syntaxe (Mutilado)

433

João Baptista de Múrcia

Clarim Evangélico

434

---

Canticum Moryais (Interp.º e mutilado)

Évora

1687

1

in 4º

---

---

1

in 4º

Valência

1732

1

in fólio

---

---

1

---


318 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

435

Fr. Pedro

Resolução do que pertence aos Sacramentos; e duvidas morais

Lisboa

1617

2

in fólio

436

Fr. António Rosado

Tratado sobre os quatro Novíssimos

Porto

1622

1

in fólio pequeno

437

Didaco de Baesa

Commenturia moralia

Valhisoleti

1626

1

in fólio

438

Corrélla

Pratica del confessionario

Madrid

1600

1

in fólio

439

Corrélla

Summa Theologica moral

Lisboa

1700

3

in fólio

440

Corrélla

Summa Theologica moral – 1.ª, 2.ª e 3.ª parte

Lisboa

1701

1

in fólio

441

Corrélla

Summa Theologica moral – 1.ª e 2.ª parte

Lisboa

1693

1

in fólio

442

---

Chronicas dos Relligiosos menores (Alguns mutilados)

Lisboa

1615

4

---

443

Fr. Manuel da Esperança

História Serafica da Ordem dos Frades menores

Lisboa

1656

1

in fólio

444

---

Chronica geral da Província de Portugal

Lisboa

1725

3

in fólio

445

---

Origens – Epistolas e humilias ad diversos (Mutilado em pequenos fragmentos)

---

---

(1)

in fólio grande

446

Garáo

El sábio instruído de la Naturalesa 1.ª parte

Lisboa

1687

1

in fólio

447

Frei Pedro Calvo

Homilias da Quaresma

---

1627

1

in 4º

448

Aristoteles

In libros Aristoteles de interpetratione (Mutilado)

---

---

(1)

in fólio

449

Fr. Luiz de Sousa

Chronica de S. Domingos de Portugal

S. Domingos de Benfica

1623

1

in fólio

450

Didaci de Sellada

In Rutham Commentaria literales et morales

Lyon

1651

1

in fólio

451

Didaci de Sellada

Benedictionibus Patriarcharum

Veneza

1642

1

in fólio

452

Didaci de Sellada

In Iudith commemtaria

Lyon

1641

1

in fólio

453

Benedicti Fernandes Borlensis Lusitani

Commentarinum --- in Genesin (Trun.cos)

Veneza

---

3

in fólio


319 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

454

Sottomaior

Cantici canticorum Salomonis interpetratio

Lisboa

1599

1

in fólio

455

---

Explanatio moralis ad cap. 15 Sacrosancti Evangelii Secundum Lucam (Mutilado)

--

---

1

in fólio

456

Mendonça

Commemtarium in quatuor regum libros (Mutilado)

---

---

2

in fólio

457

Mendonça

Commemtarium in quatuor regum libros (Mutilado)

---

---

2

in fólio

458

Mendonça

Sermões 1.ª parte

Lisboa

1632

1

in fólio

459

Fr. Jorge da Natividade

Centurias predicáveis

Coimbra

1658

1

in fólio

460

Fernando Ramires

Oraciones Evangelicas

Madrid

1638

1

in fólio

461

Jeronimo de Florencia

Sermones vários (Mutilado)

---

---

2

in fólio

462

Fratris Dounmis Souto

De Justitia et jure

Lyon

1559

1

in fólio

463

Fr. Pedro Pola

Mantiones festa que Haebraeorum

Barcelona

1743

1

in fólio, Tomo 1º e 4º

464

Fr. Pedro Pola

Mantiones Mystico

Madrid

1737

1

in fólio

465

Fr. António Feio

Tratado 1.º e 2.º

Lisboa

1612

(1)

in fólio

466

Fr. Joannis Ducis Scholi

Inquatuor libros Sententiorum

Veneza

1597

1

in fólio

467

Thomas

Le Sacramentis in genere

Paris

1667

1

in fólio

468

---

Liber Sextus de Christi miraculis (Mutilado)

---

---

1

in fólio

469

Fr. Pedro Correia

Conspiração universal

Lisboa

1615

1

in fólio

470

Fr. João de S. Francisco

Primavera Sagrada

Lisboa

1675

1

in fólio

471

Fr. Gabriel do Espirito Sancto

Jardim

Lisboa

1653

1

in fólio

472

Beserra

Ave Maria

Madrid

1629

1

in fólio

473

Ribeiro

Ave Maria

Madrid

1691

1

in fólio


320 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

474

Christoval da Fonseca

Vida de Christo 4.ª parte

Madrid

1611

1

in fólio

475

Diogo da Veiga

Paraiso de la gloria de los Santos

Lisboa

1603

1

in fólio

476

José Cardoso

Agiologio Lusitano (Mutilado)

Lisboa

1666

(1)

in fólio, Tomo 3º

477

---

Commentariii Collegii Conimbricencis

Coimbra

1597

1

in fólio

478

---

Commentariii Collegii Conimbricencis

Coimbra

1606

1

in fólio

479

Fr. João da Ceita

Quadragena

Évora

1625

1

in fólio

480

Alfonsi Paleoti

Sacxae Synodi explicatia (Mutilado)

---

---

1

in 4º

481

Domini Didaci del Castilho

Alfabetum Marianum

Lyon

1669

1

in 4º

482

Fr. Christovão d’Almeida

Sermões vários

Lisboa

1681

1

in 4º

483

Fr. Pedro Palumino

Sermões vários

Madrid

1680

1

in 4º

484

P.e Francisco Lopes

Sermões vários

Barcelona

1685

1

in 4º

485

Fr. Manuel de Gouveia

Sermões vários

Lisboa

1706

1

in 4º

486

---

Vários Sermões (Mutilado)

---

---

1

in 4º

487

Fr. Alonso Cabrera

Consideraciones sobre los Evangelhos

Barcelona

1602

1

in 4º

488

Alexandre de Gusmon

Eschola de Bellem

Évora

1678

1

in 4º

489

---

História da vida do venerável Fr. João de Vasconcellos

---

---

1

in 4º

490

Fr. Joseph Gavani

Instructiones praedicabiles

Málaga

1674

1

in 4º

491

---

Livro de procissões (Mutilado)

---

---

1

in 4º

492

Bartholomeu de Escovar

Livro de la generacion

Córdova

1622

1

in 4º

493

Gaspar Pires

Thesouro de Pensamentos

Lisboa

1635

1

in 4º

494

Rafael Bloteau

Primicias Evangelicas

Lisboa

1685

1

in 4º


321 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

495

P.e Bartlhomeu de Escobar

Da geração de J. Christo

Córdova

1632

1

in 4º

496

Aleixo

Annotationes in Evangelio

Coimbra

1610

1

in 4º

497

Van Hesper

Commentarium in decretum Gratiani

Coimbra

1773

1

in 4º

498

Franciscus d’Aquillar

Psalterium decem chordarum

Salamanca

1724

1

in 4º

499

Laurencius de Portel

Sermones et exhortationes Monasticae

Lisboa

1617

1

in 4º

500

Christovão d’Andrade

Sermões varios – 4.ª parte

Lisboa

1686

1

in 4º

501

Francisco d’Aguillar

Hyeroglifica

Salamanca

1724

1

in 4º

502

Luis Alvares

Sermões – 1.ª parte

Évora

1688

1

in 4º

503

João Marques

Os dous estados espirituais de Jerusalem

Lisboa

1695

1

in 4º

504

Guijon

Sermones para los dias de la Semana Santa

Madrid

1670

1

in 4º

505

Expectação

Semana Santa

Lisboa

1719

1

in 4º

506

Ramos

Sermões (Mutilado)

---

---

1

in 4º

Laurea Portugueza

Lisboa

1637

1

in 4º

507 508

Fr. Jose Caravantes

Pratica de Missiones

Leon

1674

1

in 4º

509

---

Sermões (Mutilado)

---

---

1

in 4º

510

Rosado

Tratado sobre a distruição de Jerusalem

Porto

1624

1

in 4º

511

Pensione

Praxis Lusitana (Mutilado)

---

---

1

in 4º

512

Madre de Dios

Foero de la Consciencia

Lisboa

1609

1

in 4º

513

Alvaro de Escovar

Sermões de tarde

Lisboa

---

1

in 4º

514

João Cardoso

Ruth peregrina

Lisboa

1628

1

in 4º

515

Francisco de Lisana

Thesouro Mariano

Madrid

1663

1

in 4º

516

P.e Manuel da Guerra

Vários Sermões (Mutilado)

---

---

1

in 4º

517

Diogo de Mendonça

Guerra de Graunada

Lisboa

1627

1

in 4º


322 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

518

Pavarrio

Instructiones praedicabiles

---

---

1

in 4º

519

Balthasar Pais

Sermões da Quaresma

Lisboa

1631

1

in 4º

520

Mello de Anddera

Orações panegiricas

Madrid

1665

(1)

in 4º, tomo 4º

521

Bochambau

Medulla de Theologia

Lisboa

1683

1

in 4º

522

Lourenço Ribeiro

Serm. Do Amparo

Lisboa

1686

1

in 4º

523

Fr. João Henriques

Questões Rethoricas

Madrid

1665

1

in 4º

524

Hernando de S. Tiago

Consideraciones

Lisboa

1617

1

in 4º

525

Philippe Dies

15 Tratados

Salamanca

1597

1

in 4º

526

Vieira

Sermão Histórico

Lisboa

1668

1

in 4º

527

Amorim

Sermões

Lisboa

1707

1

in 4º

528

Falcão de Sousa

Sermão do dia do Juízo

Coimbra

1636

1

in 4º

529

Andrese Mendo

Sermões vários

Madrid

1663

1

in 4º

530

Andrese Mendo

Assumptos predicables

Madrid

1664

1

in 4º

531

Álvaro Leitão

Sermões das tardes da Quaresma

Lisboa

1670

1

in 4º

532

Rafael de Jesus

Sermões vários

Bruxelas

1674

1

in 4º

533

----

Tractado de Santo Agostinho em Latim e Grego (Mutilado)

---

---

1

in 4º

534

Notationes in totum Scripturam Sacrã

Lyon

1601

1

in 4º

535

Nixemcergo

Obras Christianas

Madrid

1633

1

in fólio

536

Viegas

Commentarii exegetii in Apocalipsin

Évora

1601

1

in fólio

537

Parra

Rosa Labada

Madrid

1670

1

in fólio

538

?

Sayro Augulo Clavis Regia

Veneza

1605

(1)

in fólio

538

Fr. Juan de Ovando

Consideraciones e exercícios Sanctos

Lisboa

1609

1

in fólio

540

Torrecila

Summa de todas as matérias morais (Mutilado)

Madrid

1691

1

in fólio


323 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

541

[Juan Bautista de] Murcia

Clarin Evangelico – 2.ª parte

542

Noidins

543

Valência

1732

(1)

in fólio

Pratica de Curas

Madrid

1672

(1)

in fólio

Expectação

Estrella d’Alva

Lisboa

1710

2

in fólio

544

Expectação

Estrella d’Alva

Lisboa

1716

1

in fólio, Tomo 2º

545

Thomas Aquinatis

Summa Theologiae Sancti Thomae Aquinatis

Lyon

1562

1

in fólio

546

---

Questões morais (Mutilado)

---

---

1

in fólio

547

Arnobii

Disputationes adversus gentes

Roma

1543

1

in fólio

548

Fr. Paulo de Santa Theresa

Flagello do peccado

Lisboa

1735

13

in 4º

549

Marius Bognonius

---

Veneza

---

(1)

---

550

[Marij Bignoni]

Encyclopedia Concionatorum

Colónia, Agrípina

1663

3

in 4º

551

[Ludovico de] Miranda

Manuale Praelatorum regularium

Roma

1612

2

in 4º

552

Augustim Pauleti

Discursos predicabiles

Colonia, Agripina

1724

2

in 4º

553

Pater Carolus Vanhorn

Cornucopia Cancionum Sacrarim

Colonia, Agripinae

1701

(1)

---

554

Alfonsus de Ligario

Homo Appostolicus ad audiências confessiones

Veneza

1759

(1)

---

555

[Frei João de] Ceita

Quadragena de Sermões

Lisboa

1619

(1)

---

556

P.e Pedro de Calatayud

Exercicios Espirituais

Valladolid

1748

(1)

---

557

Annunciação

Annunciações Evangélicas

Lisboa

1748

4

in 4º

558

Larraga

Promptuario de Theologia moral

Porto

1799

(1)

---

559

Jeronimo d’Elso

Sermões vários

Madrid

1731

1

in 4º

560

Fr. Manuel d’Almeida

Quaresmal

Lisboa

1740

2

in 4º

561

Sanches

Orações várias

Madrid

1750

1

in 4º

562

P.e Manuel dos Reis

Sermões

Évora

1717

2

in 4º


324 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

563

Fr. Manuel de Santo António

Floresta Evangélica

Lisboa

1744

5

in 4º

564

Fr. Manuel das Chagas

Ramalhete espiritual

Lisboa

1764

1

in 4º

565

P.e Francisco Bono

Quaresma inteira

Valença

1741

1

in 4º

566

Jacobo de Besombes

Moralis Christiana

Veneza

1788

2

in 4º

567

Fr. Lourenço de Santa Thereza

Sermões vários

Lisboa

1761

3

in 4º

568

Fr. Antonio de Santa Maria

Sermões vários (Truncados)

Lisboa

1750

13

in 4º

569

P.e Sebastião d'Azevedo

Ceo Mystico

Lisboa

1725

1

in 4º

570

Frater Josephus Caetanus

Divini Verbi Hyerologia

Coimbra

1730

3

---

571

Fr. Agostinho de Santa Maria

Adiodati Contemplativo

Lisboa

1713

1

in 4º

572

---

Thesouros dos Christãos

Lisboa

1799

2

in 4º

573

Frater Raphael Bouherba

Problemata Sacra

Lisboa

1736

2

in 4º

574

P.e Manuel Consciencia

Sermões Panegiricos (Truncados)

---

---

2

in 4º

575

P.e António d'Araujo

Diffinições Morais

Lisboa

1695

1

in 8º

576

Arce Sobrio Sena

Historia Evnagelica

Madrid

1605

1

in 8º

577

P.e Estevão de Castro

Aparelho para bem morrer

Lisboa

1637

1

in 8º

578

---

Livro sobre a vaidade do mundo (Mutilado)

---

---

1

in 8º

579

---

Divi Dionisii Carthesianni contra scatam Maho metacan (?)

Colónia

1532

1

in 8º

580

Fr. Daniel Coucina

Instruções de Confepsores

Madrid

1766

1

in 8º

581

Thomas Stapletono

Promptuarium morale

Veneza

1596

1

in 8º

582

D. Frater Constatinus Serranus

Concilialia dilucida omnium contriversiarum S. Thomas, et Schoti

Lyon

1590

1

in 8º

583

Joannis Feri

Conciones

Antuérpia

1560

1

in 8º


325 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

584

Fratris Francisci Ribero

Commentaruim induodecin Prophetas

Colónia

1599

1

in fólio

585

Fratris Gregorii Baptista

Annotationes inEvangelia Secundum Joannem

Coimbra

1621

1

in fólio

586

Frater Emanuel de Incarnatione

Comentarium inEvangelium Secundum Matheum

Lisboa

1687

1

in fólio

587

Fratris Francisci Martinensis

Bukkarium Ordinis Minorum

Madrid

1744

3

in fólio

588

Pater Joannes Haye Servio

Triumphus Veritatis Buaci

---

1609

1

in fólio

589

---

Expositia Evangeliorum (mutilado)

---

---

1

in fólio

590

---

Ceremonial da Provincia de Santo António (mutilado)

---

---

1

in fólio

*Exemplares NOTA: Este inventário termina fazendo menção ao número total de volumes, ou seja, “tem a livraria acima descrita – 917 Volumes”.

FONTES MANUSCRITAS Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, Convento de Santo António da Sertã, caixa 2205, Inventário do Convento de Santo António da Sertã. BIBLIOGRAFIA AMORIM, Maria Adelina de Figueiredo Batista, A Missionação Franciscana no Estado do Grão-Pará e Maranhão (1622-1750). Agentes, Estruturas e Dinâmicas., Tese de Doutoramento em História, Especialidade: História e Cultura do Brasil, Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras, 2011, v. I e II. CARVALHO, José Adriano Freitas de, Da memória dos livros às bibliotecas da memória, Centro Interuniversitário da História da Espiritualidade, Porto, 1998. FARINHA, P.e António Lourenço, A Sertã e o seu Concelho, Lisboa, Escola Tip. das Oficinas de S. José, 1930 (Edição fac-similada de Câmara Municipal da Sertã, A Gráfica de Tomar, 1998). MATOS, Susana Isabel de Oliveira Ferreira, Convento de Santo António da Sertã. Da fundação aos nossos dias, Câmara Municipal da Sertã, Sertã, 2004. PORTELA, Miguel, O Fabrico do Papel em Figueiró dos Vinhos no séc. XVII, Edição do autor, Figueiró dos Vinhos, Março/2012. PORTELA, Miguel, O Mosteiro de Santa Clara de Figueiró dos Vinhos. Apontamentos para o seu estudo, Edição do autor, Figueiró dos Vinhos, 2013.


326 Congresso Os Franciscanos no Mundo Luso-Hispânico _____________________________________________________________________________

TEIXEIRA, Cândido, Antiguidades, Famílias e varões ilustres de Cernache do Bonjardim e seus contornos, Cernache do Bonjardim, Tipografia do Instituto, 1925, v. I.


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