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ia 25 de Julho, Dia do Colono e do Motorista. Dia 28 de julho, Dia do Agricultor. Estas datas têm significados muito especiais para o desenvolvimento do país. O produtor rural, que apesar dos desafios diários e dificuldades, como desvalorização dos produtos, alto preço dos insumos e as intempéries de cada ano, produz o alimento que alimenta milhares de brasileiros. O motorista, que transporta a produção de um país, apesar dos perigos da estrada, do alto preço dos pedágios e dos combustíveis, sem contar a distância da família, não desiste da profissão. Neste caderno especial, dedicado à estas duas categorias, encontramos exemplos de sucesso, dedicação e amor pelo que fazem, mostrando que é possível se realizar profissional e pessoalmente nestas profissões.
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FOTO ARQUIVO PESSOAL/VANDERLEI HOLZ LERMEN
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3 FOTOS ARQUIVO PESSOAL
Campeã em produtividade na soja
Lavouras de Igor e Veridiane Beling alcançaram produtividade de
84 sacos de soja por hectare
“Lavouras com alta produtividade são resultado do bom manejo, solo com boa fertilidade, uso de novas tecnologias e assistência técnica na propriedade
Propriedade recebeu a premiação de “Campeão de produtividade” da Campanha PIN - Produtividade Integrada 2014/2015, da Syngenta, em parceria com Rota Agrícola e Rural Mais Agronegócios soja é um das culturas agrícolas mais importantes no município e na região Noroeste. Histórias de pequenos, médios e grandes produtores comprovam que a soja transforma propriedades com realidades distintas em negócios de sucesso, em que o uso da tecnologia não é ditado pelo tamanho da lavoura, mas pela profissionalização crescente da atividade. Em áreas de 30, 50, 100 ou mais de 500 hectares, agricultores desfazem velhos conceitos, quebram recordes e comprovam que o teto da produção agrícola e os lucros podem ir muito além. Um dos exemplos de empreendedorismo na sojicultura é do agricultor Igor Beling, 35 anos, de Lajeado Cachoeira, interior de Três de Maio. Recentemente, ele recebeu a premiação de “Campeão de produtividade” da Campanha PIN Produtividade Integrada 2014/2015, da Syngenta, em parceria com Rota Agrícola e Rural Mais Agronegócios. A conquista se deve ao fato de, em uma área da lavoura, ter alcançado a produtividade de 84,01 sacos de soja por hectare, sendo o melhor resultado entre 30 produtores da região Noroeste do Estado. Como premiação, ele e a família ganharam uma viagem a Bahia. Igor e a esposa Veridiane são filhos de agricultores e permanecem no meio rural porque gostam do que fazem e sentem orgulho da profissão que exercem. Na relação com as filhas Eduarda Letícia, 15 anos e Izadora, 4 anos, o casal se dedica a demonstrar a importância do trabalho na agricultura. “O principal é ter gosto e dedicação pelo que se faz, procurar sempre se atualizar para produzir o máximo, para manter a atividade viável”, contam.
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Clima favorável, aliado a assistência técnica Na propriedade da família, são cultivados soja, trigo, milho e aveia. A principal atividade é a produção de soja, mas também trabalham com a atividade leiteira. Para Igor, a soma de fatores fez com que alcançasse bons rendimentos na safra passada de soja e conquistasse o prêmio da Rota Agrícola. “Em primeiro lugar, o clima se manteve favorável para a cultura. Também foi fundamental a assistência técnica prestada pela equipe da Rota Agrícola, que aliada ao bom manejo, solo com boa fertilidade e o uso de novas tecnologias, resultaram em boa produtividade na lavoura”, comemora. A média de 84 sacos por hectare em uma das áreas da propriedade, supera em quase o dobro da média de produtividade da soja no município de Três de Maio, que é de 45 sacos por hectare. Contudo, o agricultor revela que este rendimento foi alcançado em uma área de alta fertilidade, na qual não faltou
chuva e foi utilizada uma tecnologia diferenciada, visando extrair o máximo de produtividade do soja.
P ilar es de altos ilares r endimentos O casal pontua que os pilares para alcançar altos rendimentos nas lavouras de soja são solos com alta fertilidade, clima favorável, sementes de qualidade com alto vigor, manejo adequado e controle de pragas e Igor e a esposa Veridiane, doenças. e as filhas Eduarda Letícia, 15 anos e Izadora, 4 anos Além disto, Igor e Veridiane revelam que sobre o sucesso na produção agrícola. utilizam a internet para se manterem “A nossa atividade no meio rural é cheia informados sobre novas tecnologias na de incertezas, dependemos muito de agricultura e, inclusive, para tirar dúviclima. Quando plantamos uma cultura, das sobre produtos e meteorologia. não sabemos se vamos obter algum Investindo na atividade, os agricultolucro com a mesma, mas fizemos a res podem chegar a patamares ainda nossa parte”, concluem. maiores, mas preferem manter cautela
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Em busca da propriedade rural modelo Contrariando a orientação dos pais, de buscar vida nova na cidade, Vanderlei Holz Lermen, 25 anos, optou por ficar na agricultura, e quer mostrar que numa pequena propriedade é possível produzir, ter renda e lucro FOTOS ARQUIVO PESSOAL
O começo de tudo: a primeira terneira
Parte da área da pequena propriedade é destinada à produção de alface, brócolis, couve flor, rúcula e repolho, que são vendidos direto ao consumidor. Vanderlei também cultiva morangos
o sonho de ser advogado na infância até a decisão de ficar no campo, contrário à vontade dos pais. Essa foi a opção do jovem boa-vistense Vanderlei Holz Lermen, 25 anos, ao continuar no meio rural. “A agricultura é a minha vida. Por mais que esteja envolvido em outras atividades, o campo será sempre o meu trabalho principal”, revela orgulhoso. Vanderlei é filho único dos agricultores Célio Lermen e Noeli Teresinha Holz Lermen, que sempre o incentivaram a ir em busca de outros projetos na cidade. “E eu fui cabeça dura e quis ficar em casa. Eu trabalhei um dia na cidade e não aguentei”, lembra. O rapaz afirma que a primeira e mais importante profissão dele é agricultor, mas que também faz outras atividades, entre elas, presta assistência a propriedades rurais e está abrindo uma empresa de assessoria e planejamento rural. Ele é formado em Processos Gerenciais, está terminando o curso Técnico em Agropecuária da Setrem e cursando Bacharelado em Desenvolvimento Rural no Polo Federal em Três de Maio. A propriedade de Vanderlei está localizada em Linha Gaúcha, interior boa-vistense. Ele ressalta que continua no campo por vários fatores. “Acredito que o meio rural é a área onde é mais fácil e rápido obter crescimento. Não me dou muito bem com a agitação da cidade, ou trabalhar em quatro paredes, gosto da liberdade que o trabalho no campo oferece. Lidar com a terra, animais, plantas é muito prazeroso, e lucrativo, claro! Outro fator é não ter horário fixo, não ter patrão e ter liberdade de sair a hora que quiser. Liberdade, essa é a palavra certa”, afirma.
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Atividade leiteira e horticultura A principal atividade da propriedade é o leite. Praticamente toda a área é coberta por pastagens perenes. “Não produzo milho ou outras culturas devido a pouca área e por não ter nenhum maquinário. Já cheguei a alugar terra, mas o custo de produção ficou muito elevado. Adquirir a silagem e feno de outros produtores e muito mais viável, além de me livrar da preocupação com essas culturas”, garante. Cerca de 10% da área é destinada à produção de hortaliças como alface, brócolis, couve flor, rúcula e repolho. Além destes, também são cultivados morangos. Quase toda a horta possui sistema de irrigação por gotejamento. Segundo Vanderlei, na produção de hortaliças ele planta, colhe, vende e faz tudo sozinho. “Entrego em restaurantes, para a merenda escolar e faço venda direta ao consumidor. A internet é a minha vitrine, minha loja. Tudo o que produzo na horta, vendo pela internet, pelas redes sociais, como o facebook”, cita. O jovem agricultor explica que a produção não é orgânica, mas afirma que não utiliza agrotóxico. “Prefiro dizer que é uma produção agroecológica”, afirma.
Vanderlei estava no 1º Ano do Ensino Médio e auxiliava na propriedade dos pais, que trabalhavam no sistema antigo, de milho e soja consorciada. Um dia, técnicos da Emater visitaram a propriedade e sugeriram para investir no leite. “Meu pai não queria, achava que não ia dar certo”, revela. Porém os técnicos levaram a família para visitar uma propriedade modelo, em Bom princípio, com pastagens em piqueteamento. Após, a família passou a investir na atividade leiteira, destinando uma pequena área para pastagem. “Já produzíamos leite, mas não era a principal fonte de renda”, recorda. Naquele tempo, o jovem ganhou a primeira terneira. “Eu lembrava daquela propriedade, com cinco hectares, tirava R$ 3 mil por mês de lucro, e ficava pensando: a atividade leiteira é viável. E cada vez mais me convencia que eu poderia fazer isto também”. Em novembro de 2006, a novilha pariu e ele iniciou na atividade leiteira. Com o dinheiro do leite, foi comprando mais animais. Mas Vanderlei também buscou qualificação, através de cursos, palestras, ficava atento a todas as novidades no setor. “E eu comecei a colocar em prática na propriedade e o pai não queria. Mas como tinha uma área, do outro lado da estrada, que era herança do meu avô, consegui comprar o primeiro hectare de terra e transferir minhas vacas para lá. Foi o início da minha propriedade. Fui comprando mais animais, mais um hectare de terra. Agora tenho três hectares e oito vacas. Ao
Aos 25 anos, Vanderlei já tem sua propriedade rural onde a atividade leiteira é a principal fonte de renda
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todo, são 15 animais. Meu pai tem mais 25. Mas cada um trabalha no seu sistema”, conta. Para ele, a principal motivação de estar na atividade é ver que “começou do zero” e está conquistando aos poucos o que almeja. “A maior realização é trabalhar no meio dos animais. Eu faço até selfies com elas e gosto de mostrar isso”, destaca o jovem, que registra suas atividades em uma rede social e um blog.
Cr escer Crescer escer,, mas com os pés no chão A meta do jovem agricultor é transformar a sua propriedade em modelo, para mostrar que numa pequena propriedade é possível produzir, ter renda e lucro. “Na produção de leite sobra em torno de 30% na média do ano”, cita. Outro fator importante para Vanderlei, é trabalhar sempre com os pés no chão. “Na agricultura, tem bastante incentivo e os financiamento então, são aos “montes”. Muitos agricultores não pensam lá adiante, que vão ter que pagar. Quando começam a vencer as parcelas, e a situação pode ficar ruim. Tem que haver esse equilíbrio”, declara. Com entusiasmo, Vanderlei revela que futuramente, quer comprar mais terras e se vier a gerenciar a propriedade dos pais, quer ficar só trabalhando na agricultura. “Hoje, pelo tamanho da propriedade, eu tenho que buscar um pouco mais. Meu sonho de profissão é trabalhar na minha empresa de assistência aos produtores e ficar em casa, cuidando da propriedade”, conclui.
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Perspectivas da juventude rural Para conclusão do Curso Técnico em Agropecuária, Vanderlei está realizando pesquisa com jovens entre 14 e 17 anos sobre o jovem e o meio rural FOTOS ARQUIVO PESSOAL
oncluindo o Curso Técnico em Agropecuária da Setrem, o agricultor Vanderlei Holz Lermen, 25 anos, foi o idealizador de uma pesquisa sobre o jovem e o meio rural, denominado “Projeto Perspectivas da Juventude Rural”. A ideia surgiu a partir da possibilidade de apresentar um projeto de pesquisa no Salão de Pesquisa da Setrem. “Sempre gostei muito desse assunto: os jovens e o meio rural”. A primeira pesquisa foi feita na Escola Barão do Rio Branco de Boa Vista do Buricá. Como o tema chamou muita atenção na apresentação, os professores incentivaram o jovem a expandir a pesquisa e ver como ficariam os resultados em outros municípios. A pesquisa é realizada com os estudantes do Ensino Médio, a maioria entre 14 e 17 anos e já foi concluída nos municípios de Boa Vista do Buricá, Nova Candelária e São José do Inhacorá. “Por já terem mais estudo e estarem no momento de decisão de futuro, de carreira, acredito que seja o momento ideal desses jovens expor suas ideias sobre o meio rural”, destaca. A pesquisa também será feita nos municípios de Sede Nova, Humaitá e Crissiumal.
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Intenção de ficar no meio rural: RAPAZES
MOÇAS
BOA VISTA DO BURICÁ
33%
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NOVA CANDELÁRIA
45% Os números são apresentados nos municípios onde a pesquisa já foi concluída
Objetivos Vanderlei explica que a pesquisa tem o objetivo de analisar o que os jovens pensam sobre o meio rural. Tanto os que moram no interior como os que moram na cidade. O principal objetivo é saber qual a porcentagem de jovens que querem ficar no meio rural e sair, os fatores de decisão e porque isso acontece.
Curiosidades Como fator de decisão, o principal é o incentivo dos pais, avalia o jovem agricultor. “Quando os pais incentivam os filhos a permanecer na propriedade, eles querem ficar. Quando os pais incentivem a buscar uma vida e profis-
são na cidade, eles querem sair. Nos municípios de Nova Candelária e São José do Inhacorá, esses dados foram 100% concordantes. Vemos então, que a atenção deve ser voltada à mudar esse comportamento. Brinco que ao invés de incentivarmos os jovens a permanecer na agricultura, devemos incentivar os pais a incentivar os filhos a ficar no meio rural”, aponta. Para ele, de modo geral, está sendo muito interessante o resultado. “Mais gratificante é quando apresento os resultados e vejo que quando eles tem a oportunidade de visualizar como está o pensamento deles, eles possam repensar e analisar muito bem a opção de continuar ou não no meio rural”, conclui.
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SÃO JOSÉ DO INHACORÁ
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“Números revelam que o incentivo dos pais é fato determinante para que os filhos permaneçam na atividade agrícola
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O QUE REVELA A PESQUISA
pais incentivam os filhos a permanecer na propriedade, eles querem fficar icar icar. - Quando os
- Em relação ao sexo feminino, poucas querem continuar no meio rural. - Cerca de 50% dos jovens não sabem quantos hectares têm a propriedade dos pais. - Dos jovens que querem continuar no meio rural, cerca de 70% querem se profissionalizar, so superior ou técnico volt ado na área. através de cur urso voltado P esquisa ffeit eit tudant es, entre moças e rrapazes apazes dos 114 4 aos 117 7 anos nos eitaa com 400 es estudant tudantes, municípios de Boa Vista do Buricá, São José do Inhacorá e Nova Candelária
O agricultor e estudante Vanderlei Holz Lermen é idealizador do projeto da pesquisa
DADOS DO MEIO RURAL - A grande maioria dos jovens participa das atividades da propriedade e tem oportunidade de expor suas ideias. - Poucos jovens ainda não possuem acesso à internet em casa. O índice de acesso à internet no celular é praticamente o mesmo do índice de acesso à internet em casa. - Segundo o IBGE, em 2006 haviam 441.467 estabelecimentos rurais no Estado. Já em 2010, conforme os números do IBGE o número caiu para 336.060 jovens rurais. Isso quer dizer que são quase 100 mil propriedades que não terão sucessão. Ou foram vendidas, ou abandonadas. Isso reforça a preocupação em relação ao tema.
- A pesquisa também foi realizada em Sede Nova (dados ainda não foram compilados) e os próximos municípios devem ser Humaitá e Crissiumal.
Os desafios da sucessão rural Para coordenador do CTA da Setrem, Claudinei Schmidt, maior dificuldade para os filhos que permanecem no campo é colocar em prática os novos conhecimentos em função da resistência dos pais Claudinei Marcio Schmidt é engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ele é coordenador e professsor do Curso Técnico em Agropecuária (CTA), além de ser professor no curso superior de Agronomia e Engenharia de Produção. Com propriedade sobre o assunto, ele avalia que a grande maioria dos estudantes ainda busca a formação nestas áreas pensando em um emprego em empresas do setor agropecuário. Contudo, ele aponta que a cada ano que passa, tem aumentado o número de alunos que após concluírem seus estudos permanecem nas suas propriedades rurais. Segundo Claudinei, para aqueles que ficam no campo com suas famílias, a maior dificuldade é colocar em prática os novos conhecimentos em função da resistências dos pais. Por outro lado, o pro-
fessor pondera que a qualificação é fundamental no meio rural. “Atualmente, o produtor rural além de saber produzir, precisa saber gerenciar sua propriedade, estar atento as oportunidades e exigências do mercado”, orienta o coordenador do CTA.
Coordenador do Técnico em Agropecuária da Setrem, Claudinei Marcio Schmidt
Os números da juventude rural Dos 53 milhões de jovens no Brasil, cerca de 8 milhões residem no meio rural, o que representa 1 para cada 6 em todo o país, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os jovens entre 15 e 29 anos representam 27% de toda a população rural do Brasil. Com idade de 18 a 29 anos, eles foram responsáveis por acessar 37,4% dos recursos destinados ao Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), entre os anos de 2002-2013. Na educação, a juventude ocupou, no último ano, 63,6% das matriculas do Pronatec Campo.
A sucessão rural no país O último Censo Agropecuário brasileiro lista que, dos 5,2 milhões de estabelecimento rurais no Brasil, 1,5 milhão, ou quase um terço, foram obtidos por herança, fatia que representa a importância da sucessão na atividade agropecuária. No entanto, as estimativas ainda apontam que é pequeno o número de proprietários que já têm conhecimento o suficiente para obter êxito na sucessão não somente do patrimônio, mas também do negócio que gira dentro da porteira.
31% das propriedades rurais gaúchas não terão sucessor Conforme a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), atualmente, 31% das propriedades rurais gaúchas não terão sucessor, nas próximas décadas. Por isso, a importância de políticas públicas e programas, que agregam mais valor e estimulam a permanência dos jovens no campo. Para os especialistas, a sucessão familiar se sustenta em um tripé: família, sociedade e Estado (políticas públicas).
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Construindo o futuro no meio rural
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Jovem casal Deivid Schroer e Vanessa da Motta Botton, ambos 22 anos, e filhos de agricultores, optaram pela atividade rural para alcançar seus objetivos. Mas para isto, buscaram qualificação na área nquanto a maioria ainda está dormindo, Deivid Schroer e Vanessa da Motta Botton já estão na lida. O dia começa cedo para o casal de noivos, que mora na propriedade rural “Tambo Raio de Sol” em Lajeado Cachoeirinha, interior de Três de Maio, cuja principal atividade é a pecuária leiteira. Lá pelas 5 horas iniciam as primeiras atividades do dia: o serviço da ordenha das vacas por Vanessa e a limpeza do galpão freestall por conta de Deivid. “E assim segue todo um cronograma de tratar os animais. Tomamos café em torno de 8h45min para depois continuar com os serviços”, contam. Durante todo o dia há muito o que fazer. Puxar esterco, fazer cerca, roçar, limpar os silos, limpar as instalações, mudar terneiras de lote, lavar os cochos de água... Quando chega a tarde, por volta das 16h30, recomeça a lida com as vacas, quando novamente é feita a ordenha. “No fim do dia, podemos entrar em casa e descansar tranquilos, por volta de 19h”, revelam os jovens, realizados com a atividade. Embora trabalhoso e por vezes cansativo e até solitário, sem finais de semana e feriados, seja na chuva, no frio ou no calor do verão, o jovem casal garante: é muito gratificante permanecer na atividade rural. “É isso que nos mantém motivados para o futuro. Gostamos do que fazemos, por mais difícil que seja”, declaram. Deivid e Vanessa são filhos de agricultores e permanecem no campo por opção. Ele, filho de Neri e Neusa Schroer, donos da propriedade Tambo Raio de Sol. Ela, de Cláudio e Vera da Motta. O casal reside com os pais de Deivid, e todos estão envolvidos na atividade leiteira. Na propriedade, também são cultivados soja, trigo e milho para silagem dos animais. Para os jovens, a questão da sucessão no meio rural tem muitos pontos positivos. “Permanecemos no campo porque aqui encontramos tudo o que nos faz bem e o que gostamos. É onde nos sentimos úteis e importantes”, dizem satisfeitos.
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Os jovens Deivid Schroer e Vanessa da Motta Botton optaram em continuar na agricultura, dando continuidade à atividade iniciada pelos pais de Deivid
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Valorizando o trabalho iniciado pelos pais Deivid avalia que estar na propriedade já “começada” é uma vantagem e um ponto de partida a mais para o futuro. Porém, sabe a responsabilidade que tem em dar continuidade ao trabalho que os pais iniciaram. “A partir do que já foi conquistado até aqui, vamos evoluir e nos modernizar ainda mais”, justifica. Vanessa pondera que, no caso deles, a permanência no campo se torna mais facilitada porque ambos têm conhecimento sobre produção de leite e culturas regionais. Mas o principal de tudo, ao optarem por ficar no meio rural é estar ao Animais da propriedade participaram de feiras na região
A propriedade A quantidade de terras que são semeadas as culturas de soja e trigo totalizam 60 hectares. Onde a família mora, são 17 hectares onde quase tudo é utilizado para a produção de leite. São 60 vacas em lactação, mantidas em sistema de galpão freestall, e mais 70 novilhas/ terneiras mantidas em semiconfinamento (ou seja, pastejam piquetes de grama e recebem suplementação com ração/ silagem/feno no cocho) e ainda mais 16 bois de engorda.
Qualificação em sala de aula Deivid e Vanessa são técnicos em Agropecuária formados pela Setrem. “O curso nos deu bases sólidas nos conhecimentos mais diversos da agricultura e pecuária”, destacam. Além disso, ele fez curso de inseminação artificial para auxiliar na propriedade. “Vale lembrar que sempre seguimos buscando novos connhecimentos, indo a tardes de campo, palestras e cursos da área do leite e culturas regionais”, comentam. Eles utilizam muitos ensinamentos de sala de aula na atividade no meio rural. “Praticamente tudo o que aprendemos no técnico se encaixa no dia a dia do tambo e da lavoura. Tivemos aulas na agroindústria da escola sobre produtos lácteos, carnes, compotas, aulas nas estufas e na horta sobre verduras e flores e ainda no pomar sobre podas de árvores frutíferas e plantio”.
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Tecnologia aliada à agricultura Para o casal, a tecnologia através da internet e redes sociais é grande aliada no trabalho no campo. “Hoje é possível monitorar a lavoura com uso de aplicativos do celular, que auxiliam no reconhecimento de doenças e pragas nas plantas. Também podemos acompanhar o rebanho das vacas com todos os dados no computador. Nas redes sociais, encontramos diversas páginas de empresas do ramo onde há informações e novidades do mundo todo. Ainda, encontramos pesquisas feitas e com resultados a respeito de diversas enfermidades e fatores que contribuem para a sanidade dos bovinos. Enfim, há muito material para ver, como vídeos, reportagens, textos, entre outros”.
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lado da natureza, dos animais e da própria família. “Esses pontos positivos consideramos ao escolher o interior para vivermos”, explicam. Os noivos confessam que, muitas vezes, pensam em como seria a vida se não estivessem na situação de sucessão familiar. “Se não tivéssemos as ‘vacas’e se escolhêssemos outro lugar para construir nossas vidas, sabe qual é a resposta que nos vêm em mente logo? Com certeza iríamos permanecer no campo, mesmo que fosse em outro lugar, comprar uma ‘terrinha’ nossa e começar do zero. Trabalhar no meio rural vai ser sempre nossa escolha. Ficar no interior, e com amor e dedicação, levar a vida para alcançar nossos objetivos”, descrevem. Satisfeitos e felizes com a escolha, Deivid e Vanessa falam com orgulho da profissão que escolheram. “Lutando dia a dia e trabalhando com suor é que descobrimos muito mais o valor da vida, da saúde e da paz interior. Os animais dependem da gente pra viver como se fossem ‘nossas crianças’. Cuidamos deles e em troca recebemos nosso meio de sobreviver”, finalizam.
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Cenário do leite na região Região produz 1,7 milhão de litros de leite por dia. Levantamento realizado pela Emater Regional em 45 municípios do Noroeste aponta redução de três mil produtores de leite e a busca de muitos por qualificação FOTO ARQUIVO PESSOAL
Número de propriedades Nos 45 municípios são produzidos 1, 7 milhão de litros de leite por dia. E das 50.300 propriedades rurais existentes na região, em torno de 22620 têm produção leiteira. No entanto, com novas regras e estruturação das rotas são quase três mil produtores a menos em relação ao final do ano passado.
Finalidade e destino da produção 14800, fornece leite cru para
A maior parte dos produtores, empresas, cooperativas e queijarias. Outros
6712 produzem apenas para o consumo familiar.
475 comercializam derivados lácteos de fabricação caseira. 386 comercializam leite cru diretamente para consumidores. 22 possuem agroindústria própria 155 dão outros destinos à produção de leite, como criação de No Tambo Raio de Sol, a média de produtividade por vaca no lote de alta produção é de 30 litros/dia, mas entre estes animais, tem os que se destacam produzindo de 40 a 45 litros/dia. Já no lote baixa produção, a média é 20 litros vaca/dia
A Emater/RS-Ascar Regional realizou um levantamento do cenário do leite no Noroeste gaúcho, abrangendo 45 municípios da região. O estudo indicou a redução no número de produtores de leite e a busca de muitos por qualificação. Segundo o assistente técnico regional da Emater/ RS-Ascar, na área de manejo e criação animal, Ivar Kreutz, os produtores que se mantém na atividade leiteira devem atentar-se a alguns cuidados especiais em relação ao mercado e aos custos de produ-
ção. Além disso, Kreutz destaca que há um esforço muito importante dos produtores em fornecer alimento de qualidade, adequando-se às regras da Instrução Normativa 62. Já o assistente técnico regional, na área de manejo de recursos naturais, Fernando Dornelles Fagundes, também destacou a importância daqueles que permanecem na atividade se especializarem e se atentar de modo especial ao manejo e conservação de solos em pastagens.
animais. Cada um dos produtores possui uma área média de
16 hectares, sendo que 14597 como agricultores familiares.
Três de Maio, segundo a Emater - produção diária total: 128.350 litros - produção litros vaca/dia: 11,6 litros (média) - total do rebanho leiteiro: 10.995 - produtores na atividade: 1 .45 7 .457
1, - O rebanho total de vacas leiteiras chega a 213.25 3.251 com volume de produção anual de aproximadamente 678 milhões e 287 mil litros. - Destes, mais de 625 milhões são entregues como leite cru para indústrias, cooperativas e queijarias.
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Produção média por família 3128 famílias produzem até 50 litros/dia 30 70 produzem média entre 51 e 100 litros 3070 258 1 entre 101 e 150 2581 2289 de 151 a 200 litros por dia 1817 entre 201 e 300 litros ao dia 1223 entre 301 e 500 659 de 501 a 1000 litros 122 com média entre 1001 e 2500 litros e 4 produtores com mais de 2500 litros de leite por dia
Assistência técnica As mais de 22 mil famílias que trabalham de alguma forma com a atividade leiteira contam com a assistência técnica de 100 profissionais da Emater/RS-Ascar
Em tempo O debate sobre o atual cenário do setor na região terá espaço especial no Seminário do Leite, que ocorre no dia 31 de julho, em Salvador das Missões. Neste dia, produtores de pelo menos 15 municípios da região de abrangência da Associação Regional de Produtores de Leite das Missões (ARPLE), estarão reunidos para debater o tema na comunidade de Vila Catarina. Na programação, palestras sobre manejadores de pasto e vacas, gestão e sistemas de pastagem e árvores.
83 técnicos de prefeituras 127 técnicos de cooperativas, empresas e indústria 111 profissionais da iniciativa privada 44 técnicos da Defesa Agropecuária e 77 profissionais autônomos Na região, também há aproximadamente 229 inseminadores profissionais.
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2917 famílias
Por outro lado, existem com tamanho reduzido ou inaptidão da propriedade para a atividade.
Rebanho e produção A produção de leite em
são enquadrados
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20 mil menos
pr odutor es de leite a produtor odutores em cinco anos no RS
Em contrapartida, setor lácteo gaúcho cr esceu 103% nos cresceu últimos onze anos
Estimativa é da Federação dos Trabalhores na Agricultura no Estado, que aponta a baixa remuneração do trabalho, aumento dos custos de produção, falta de pagamento e falência de empresas como alguns dos motivos para desistência da atividade A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) revelou através do Censo do Leite, divulgado no fim de maio, que o Estado gaúcho pode ter perdido cerca de 20 mil produtores de leite somente nos últimos cinco anos. Segundo a entidade, a desistência ocorre devido a baixa remuneração do trabalho, aumento dos custos de produção, falta de pagamento e falência de empresas, algumas envolvidas em fraudes. O assessor de política agrícola da Fetag, Márcio Roberto Langer exemplifica que muitos
De acordo com a Fetag, eram 120 mil produtores em 2010. De lá para cá, o número diminuiu 20%, sendo que, só em 2014, sete mil famílias saíram do negócio em função de que as indústrias deixaram de recolher o produto nas propriedades com volume inferior a 50 litros em locais de difícil acesso. A estimativa é de que outros 30 mil produtores deixem a atividade em cinco anos.
produtores buscaram outras formas de sustentar suas famílias, migrando para atividades como a pecuária de corte. Já o diretor-executivo do Instituto Gaúcho do Leite, Ardêmio Heineck, ressalta que a falta de uso de tecnologia como mecanização da ordenha e uso de resfriadores de expansão direta influencia na redução do número de produtores. No Censo realizado nos 497 municípios gaúchos, a mão de obra foi apontada pelos produtores como um dos três principais gargalos, junto com sucessão familiar e escala de produção reduzida.
O Rio Grande do Sul produz mais de 4,8 bilhões de litros leite/ ano, um crescimento de 103% nos últimos onze anos. O dado foi divulgado no dia 10 de julho pelo secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat/RS), Darlan Palharini, durante audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, em Ijuí.
Nos seis primeiros meses de 2015, entraram 64 milhões de quilos de produtos lácteos vindos do exterior para concorrer com a produção nacional. Esse volume corresponde a 41 dias de produção do Rio Grande do Sul. Atualmente, a cadeia láctea responde por 2,67% do PIB do Estado, representando R$ 8 bilhões, e movimenta em torno de 105 mil produtores no Estado.
Desde 2013, 13 indús indústrias leitee trias de leit fecharam as portas ou entraram em processo de recuperação judicial no Estado. O Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor de leite do Brasil Brasil, atrás de Minas Gerais, com um volume de 12 milhões de litros por dia. Há cerca de 40 anos, o Brasil tinha 90 milhões de habitantes e era o quinto maior importador de leite do mundo - produzia 7 bilhões de litros/ano. Hoje o país é autosuficiente, dobrou sua população e produz 37 bilhões de litros/ano.
Dados do Sindilat apontam que o Brasil tem 1,8 milhão de pessoas vinculadas diretamente na atividade leiteira. Hoje, o Brasil já é o quarto maior produtor mundial de leite, mas ainda precisa melhorar o seu consumo interno, que não acompanha a velocidade da produção. Segundo a Fetag, atualmente, mais de 12 mil produtores que entregaram leite a 15 empresas ainda não receberam pagamento. Estudo recente do Instituto Gaúcho do Leite (IGL) revela que o odut ores, Estado dispõe de um técnico para cada 24 pr produt odutores e mesmo assim 45% produzem menos de
100 litr os/dia na pr opriedade. litros/dia propriedade.
97% da produção de leite gaúcha é oriunda da agricultur amiliar agriculturaa ffamiliar amiliar,, em áreas de até 20 hectares.
Para a Fetag, alguma coisa está errada ou a assistência técnica não está direcionada para onde é necessária.
pato roberto
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Como se manter na atividade leiteira Ana Paula Cecatto, doutora em Agronomia, explica as normas e o caminho que os produtores de leite devem percorrer para que se mantenham na atividade FOTOS DIVULGAÇÃO
atividade leiteira no Rio Grande do Sul sempre foi uma das principais fontes de renda das famílias que vivem da agricultura e pecuária. Atualmente, especialmente no Estado, o setor está enfrentando dificuldades que muitas vezes motivam quem trabalha com esta atividade a desistir e buscar outras alternativas que tragam um retorno e satisfação maiores. Em entrevista ao Jornal Semanal, a Doutora em Agronomia e coordenadora do curso de Tecnologia em Laticínios da Setrem, Ana Paula Cecatto, explica o que é necessário para que os produtores desenvolvam a atividade leiteira em suas propriedades. Segundo ela, hoje as indústrias que recolhem o leite procuram produtores que atendam as exigências para produzir um produto de qualidade. Se o leite tiver a qualidade que esperam, as indústrias chegam a pagar um valor diferenciado para quem produziu. Para que isso aconteça, segundo Ana Paula, algumas práticas de manejo e ferramentas de controle de qualidade devem ser adotadas na propriedade. “A adoção de medidas de higiene e sanitização dos equipamentos, inclusive do resfriador, do ambiente de ordenha e dos manipuladores são necessárias para se atingir o objetivo”, destaca.
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“O leite produzido é reflexo da alimentação e bem estar do animal. Animais sadios, bem alimentados, com dieta balanceada, além de produzirem mais, produzem um leite com mais qualidade nutricional e maior sanidade”, afirma Ana Paula Cecatto
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Animais saudáveis geram rresultados esultados melhor es melhores Além dos cuidados com a higiene, é necessário que o produtor conheça e saiba controlar a mastite nos animais, e tenha o conhecimento de outras fontes contaminantes tanto microbianas quanto por medicamentos veterinários. “O controle de contaminantes externos (contagem bacteriana), internos (contagem de células somáticas) e da composição do leite somente é realizado através de análises periódicas em laboratórios credenciados, por isso da importância do envio de amostras aos laboratórios”, explica. Outro aspecto importante, a alimentação dos animais também deve ser sempre controlada, sendo este um dos fatores mais implicantes para a qualidade do produto final. “O leite produzido é reflexo da alimentação e bem estar do animal. Animais sadios, bem alimentados, com dieta balanceada e bem tratados, além de produzirem mais, produzem um leite com maior qualidade nutricional e maior sanidade”, alerta a profissional. Presença de mastite compromete a qualidade do leite
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Segundo Ana Paula, o resfriamento correto e a manutenção das baixas temperaturas até o momento do carregamento do leite também influenciam diretamente na qualidade do leite produzido, principalmente em relação à contagem bacteriana. Além disso, ela afirma que ter o conhecimento do controle de qualidade feito pelas indústrias ou pela indústria específica à qual se está comercializando o leite é importante. “Cada indústria possui suas normas e padrões de qualidade”, informa.
13 O que diz a legislação sobr e pr odução leiteira sobre produção Conhecer as normas aplicadas pelas indústrias é fundamental para que os produtores adequem o manejo às exigências destas. Além disso, existem normas regidas pela legislação nacional que devem ser cumpridas para que o leite produzido seja aceito no comércio. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), publicou em 2002 a Instrução Normativa nº 51 (IN 51), e em 29 de dezembro de 2011 publicou a Instrução Normativa nº 62, regulamentando a produção, identidade, qualidade, coleta e transporte do leite tipo A, leite cru refrigerado e leite pasteurizado. Segundo Ana Paula, a nova IN 62 altera, basicamente, o cronograma que rege os parâmetros de qualidade do leite, entre eles a CBT (Contagem Bacteriana Total) e a CCS (Contagem de Células Somáticas). “A CBT indica a contamina-
ção no leite expressa em Unidade Formadora de Colônia por mililitro (UFC/ mL). Com a IN 62, o limite máximo de bactérias vai diminuindo ao longo dos anos. Atualmente, o que vigora para a região Sul é um limite de 300.000 UFC/ mL, que será diminuido para 100.000 UFC/mL a partir de julho de 2016”, explica. Já a CCS indica a presença de mastite subclínica e é indicada por células/mL. “Atualmente, o limite máximo tolerado é de 500.000 células/ mL, diminuindo, em julho de 2016, para 400.000 células/mL”, esclarece. Dessa forma, com a nova IN, espera-se que o Brasil melhore a qualidade do leite produzido em todo o país, assegurando mais qualidade nos alimentos oferecidos à população, além de estar em condições de buscar novos mercados internacionais.
Capacitação do produtor para se manter na atividade Ana Paula sugere que os produtores devem sempre procurar capacitação na área, o que pode ser conseguido através de cursos específicos sobre a produção de leite de qualidade. “Além disso, a assistência técnica é de fundamental importância, pois proporciona aos produtores maior controle de todos os elos da cadeia, assim como os mantém
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informados sobre o mercado atual, melhores manejos e práticas produtivas. Hoje a quantidade mínima recolhida pelas indústrias varia entre 50 e 100 litros. Contudo, Ana Paula afirma que a tendência é que em breve somente seja recolhido o leite dos produtores que produzirem um mínimo de 100 litros de leite ao dia.
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Pequenas propriedades investem em produção orgânica Atualmente 38 propriedades rurais possuem certificação orgânica, sendo que três delas possuem agroindústrias de derivados de cana-de-açúcar Agricultura Orgânica (AO) é uma forma de se fazer agricultura diferente da forma convencional. De acordo com o engenheiro agrônomo Gilmar Francisco Vione, assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar na área de produção vegetal, na AO não são utilizados insumos como agrotóxicos, fertilizantes químicos de síntese e organismos geneticamente modificados. “AAgricultura Orgânica busca a produção de alimentos saudáveis, sem resíduos de agroquímicos que possam prejudicar a saúde das pessoas, e que promovam a preservação ambiental e a melhoria sócio-econômica das famílias rurais e dos consumidores”, explica. Conforme Vione, a AO pode ser utilizada em praticamente todos os segmentos da agricultura, tanto vegetais como animais. “O interesse e a vontade de mudar o sistema de produção devem ser as primeiras condições para que os agricultores ingressem na produção orgânica, porém há vários problemas a superar, entre os quais, a distância de áreas com sistemas convencionais, para evitar contaminações. Dependendo do sistema de produção, o tamanho da propriedade rural ou a dimensão da atividade que está sendo praticada pode dificultar a produção orgânica. Por exemplo, é muito complicado trabalhar com agricultura orgânica quando se tem uma monocultura como a soja, porque a uniformização do agroecossistema possibilita a proliferação de insetos e doenças, devido à falta de equilíbrio ecológico nestas condições”, informa.
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Investimento para implantação Vione esclarece que a AO prioriza a utilização de recursos da propriedade (adubos verdes, orgânicos, sementes próprias), em detrimento da aquisição de insumos de fora. “Se o agricultor orgânico fizer simplesmente um processo de substituição de insumos convenci-
Cultivo de repolho orgânico no interior de Santa Rosa
onais por insumos orgânicos, poderá acontecer de o custo de produção se tornar muito elevado. O fato de não se utilizar herbicidas para o controle de plantas espontâneas (plantas ‘daninhas’), pode elevar os custos de produção com capinas manuais, porém há outras tecnologias que dificultam o desenvolvimento de plantas espontâneas, então os custos de produção podem variar bastante”.
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Agricultura Orgânica é a melhoria nas condições de solo, através do incremento de matéria orgânica, para melhorar suas características físicas, químicas e biológicas, para melhorar a saúde das plantas”. Engenheiro agrônomo Gilmar Francisco Vione, assistente técnico da Emater Regional
Mão de obra e manejo O agrônomo ressalta que para alguns manejos, a AO exige mais mão de obra. Por exemplo, no controle de plantas daninhas. Segundo ele, em um ambiente biodiversificado, com diversas espécies presentes, acabam se criando condições para o desenvolvimento de inimigos naturais das pragas, evitando a necessidade de intervenções que aumentam a mão-de-obra. O técnico regional ainda cita que os pilares da AO são o solo saudável (principalmente sua fração biológica) e o ambiente equilibrado através do enriquecimento da biodiversidade.
Rentabilidade e lucratividade Vione aponta que a procura por alimentos orgânicos cresce em torno de 20% ao ano, e muitas vezes há uma valoração do produto orgânico em relação ao convencional, o que se deve ao mecanismo da oferta e da procura (mercadorias escassas tem preços
Engenheiro agrônomo Gilmar Francisco Vione, assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar
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“O primeiro passo para implantar a
maiores). O agrônomo lembra que os mercados institucionais como o da alimentação escolar, priorizam a aquisição de alimentos orgânicos, podendo remunerar os agricultores em até 30% acima do preço dos alimentos convencionais. Outro fator, é que dependendo também do tipo de certificação que o agricultor orgânico realiza, seu produto pode se tornar mais caro, porque o custo da certificação por auditoria é bastante oneroso. “A alternativa que estamos trabalhando na região é a de certificação participativa, que envolve agricultores, técnicos e consumidores, que realizam controle social do processo, com custos muito menores”.
Produção orgânica na rregião egião O técnico regional da Emater assinala que há muitas famílias na região que trabalham com agricultura orgânica, inclusive diversas jamais utilizaram adubos químicos e agrotóxicos. “Considerando somente as famílias com certificação orgânica, temos atualmente 38 famílias que conquistaram este certificado, sendo que três delas possuem agroindústrias de derivados de canade-açúcar com certificação. Os municípios são Bossoroca, São Luiz Gonzaga, Dezesseis de Novembro, Porto Xavier, Porto Vera Cruz, Alecrim, Santo Cristo, Santa Rosa, Tucunduva, Cândido Godói, Campina das Missões e São Paulo das Missões”. Segundo Vione, estão em processo de certificação orgânica agricultores de Cerro Largo, Santo Ângelo, Três de Maio e Santiago.
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Produtividade média Na região, a AO é desenvolvida em propriedades familiares. São atualmente em torno de 134 hectares com produção orgânica nas 38 famílias com certificação participativa, sendo que na produção de hortaliças, mandioca e batata-doce, a produtividade é semelhante ao sistema convencional. Na produção de grãos orgânicos, a soja e o trigo tem média de produtividade de 35 sacas/ha, e o milho 60-70 sacas/ha. Atualmente, são 64 ha de soja orgânica, 59 ha de trigo, 2 ha de centeio e 15 ha de milho, considerando a área de atuação da Unicooper (Cooperativa Central da Agricultura Familiar), com sede em Santa Rosa.
Espaço para cr escimento crescimento Na avaliação do técnico regional da Emater, ainda há muito espaço para a produção orgânica na região, principalmente na agricultura familiar, em locais onde as áreas de produção se encontram protegidas por barreiras naturais (mata nativa, morros), em que a contaminação oriunda de lavouras convencionais é mais difícil. Ele resume que, assim como existem condições de clima e solo na região para o cultivo convencional, também é possível a produção orgânica. “Mas, o primeiro passo para isso é haver uma melhoria nas condições de solo, através do incremento de matéria orgânica, para melhorar suas características físicas, químicas e biológicas, para melhorar a saúde das plantas”, conclui o agrônomo.
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Núcleo Missões da Rede Ecovida faz a certificação de or gânicos na rregião egião orgânicos Até o fim do ano, mais de 100 produtores da região devem ter certificação de orgânicos as regiões Noroeste e Missões, o Núcleo Missões da Rede Ecovida faz a Certificação de Conformidade Orgânica dos produtores rurais. Conforme o coordenador do Núcleo, Ademir Amaral, a Rede Ecovida de Agroecologia é um espaço de articulação entre agricultores familiares, consumidores e organizações envolvidas na produção, transformação, certificação, comercialização e consumo de produtos ecológicos. “A Rede Ecovida atua em duas frentes principais: na ecologização das propriedades e na certificação participativa, também em seu histórico de atuação”, resume. Segundo Amaral, no Brasil, um dos principais OPACs (Organismos Participativos de Avaliação de Conformidade) é a Rede Ecovida de Agroecologia, credenciada junto ao Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa) em 2010. A Rede é formada por 23 núcleos regionais, compostos por cerca de 200 grupos de agricultores em 170 municípios do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, além de pouco mais de 20 Organizações Não Governamentais (ONGs). Atualmente, conta com mais de 1800 propriedades certificadas e 800 com o processo em andamento.
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Cultivo orgânico ainda é pouco difundido Segundo Amaral, a produção orgânica vem crescendo em toda a região e deve passar dos mais de 30 atualmente, para mais de 100 agricultores até o fim do ano. “Ainda temos limite no conhecimento de como produzir orgânicos e suas técnicas de produção, portanto, estamos sempre trabalhando com dias de campo e encontro de formação para troca de experiências”, diz.
Requisitos para a certificação Sobre os requisitos para o agricultor ter sua produção com certificação orgânica, o coordenador explica que é necessá-
rio realizar a produção conforme a lei brasileira de produção orgânica e passar pelo processo de avaliação das certificadoras. “Essas instituições devem ser credenciadas pelo Ministério da Agricultura, e, outra possibilidade, é passar pelas OPACs ou pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG). Nestes casos, é preciso haver grande participação dos consumidores e agricultores e técnicos envolvidos. Também deve ser credenciadas ao Mapa”, informa. Conforme Amaral, na região a certificação dos agricultores é através do Sistema Participativo de Garantia (SPG). “O SPG utilizado pela Ecovida, traz consigo uma metodologia diferenciada. Este sistema é formado por agricultores, processadores, consumidores e comerciantes reunidos em grupos, que por sua vez, fazem parte de núcleos regionais articulados em rede. O Selo Ecovida e o Selo Sisorg (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica) são obtidos após uma série de procedimentos desenvolvidos dentro de cada grupo e posterior no núcleo regional”, explica.
Avanços e mer cado mercado consumidor Amaral revela que grande parte dos produtos orgânicos produzidos na região são vendidos nas feiras, direto ao consumidor ou e pontos de vendas especializados para venda de alimentos orgânicos, em todo o Estado. O coordenador avalia que este esforço de várias mãos e de várias organizações na busca de avanços nos processos de produção e comercialização dos alimentos produzidos sem o uso de agrotóxicos pela agricultura familiar mostra que a Certificação de Conformidade Orgânica é possível, e representa um vasto mundo de oportunidades, onde o principal legado é o respeito à vida humana e a preservação da diversidade ambiental.
es com pr odução Atualmente são 134 hectar hectares produção orgânica nas 38 famílias com certificação participativa, sendo que na produção de hortaliças, mandioca e batata-doce, a produtividade é semelhante ao sistema convencional. Os agricultores são dos municípios de Bossoroca, São Luiz Gonzaga, Dezesseis de Novembro, Porto Xavier, Porto Vera Cruz, Alecrim, Santo Cristo, Santa Rosa, Tucunduva, Cândido Godói, Campina das Missões e São Paulo das Missões. Estão em processo de certificação orgânica agricultores de Cerro Largo, Santo Ângelo, Três de Maio e Santiago. DIVULGAÇÃO
Diferenciais na hora de cultivar Entenda como os produtores substituem o uso de agrotóxicos, f er tilizant es sintéticos e tr ansgênicos ertilizant tilizantes transgênicos
Ademir Amaral, coordenador do Núcleo Missões da Rede Ecovida
“10% ao ano, em média, é o aumento do faturamento dos orgânicos no mercado de alimentos e bebidas. É o segmento que mais cresce.
Semente: as sementes usadas são orgânicas certificadas e garantidas por meio de trocas entre produtores. A prática de não usar variedades geneticamente modificadas busca promover a biodiversidade na produção de alimentos.
No Br asil: 10.505 produtores. AO ocupa 0,3% da área agrícola, Brasil: ou em torno de 1 milhão de hectares São PPaulo aulo é o estado com maior número: 1.361 produtores No mundo 1,9 milhão de produtores Representa 0,9% da área ocupada pela agricultura no mundo
O produtor deve fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, o que é possível apenas se estiver certificado por um dos três mecanismos abaixo:
Auditoria: a concessão do selo SisOrg é feita por uma certificadora pública ou privada credenciada no Ministério da Agricultura. A avaliação obedece critérios internacionais, além de requisitos técnicos estabelecidos pela legislação brasileira.
Controle na venda direta:
a legislação brasileira abriu exceção na obrigatoriedade de certificação dos produtos orgânicos para a agricultura familiar. Exige-se, no entanto, que o produtor se credencie a uma associação que seja cadastrada em órgão fiscalizador oficial.
Participativo de garantia: caracteriza-se pela responsabilidade coletiva dos membros do sistema, que podem ser produtores, consumidores, técnicos e demais interessados. Para estar legalizado, o sistema tem que ter um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac) legalmente constituído, que responderá pela emissão do SisOrg.
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Fer tilizant Fertilizant tilizantee: a adubação do solo é feita com biofertilizantes ou resíduos sólidos gerados na propriedade, como restos de culturas, de alimentos, esterco de galinha, conteúdo ruminal de bovinos, podas de árvores etc.
Produção orgânica No RS: 930 produtores com certificação
Certificação garantida
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Proteção: para controlar o ataque de pragas e doenças, é feito controle biológico da produção. No lugar de inseticidas e fungicidas, usam formas naturais de controle, como Trichogramma sp. (micro vespa), pó de rotenona (substância encontrada nos extratos de raízes e caules de plantas) e caldas à base de biofertilizantes (mistura de uma série de nutrientes, como cobre, melaço de cana e esterco).
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Produtores de Três de Maio apostam na agricultura orgânica Em Três de Maio, agricultores investem no ramo de agroecologia. Um exemplo é a agricultora Isabel Margarida de Morais, que destina cinco hectares de sua propriedade, no interior de Três de Maio, para a produção de alimentos de maneira agroecológica produção de alimentos orgânicos é uma tendência que apresenta uma alternativa à agricultura tradicional e que se demonstra cada vez mais, muito mais sustentável e completamente livre de agrotóxicos. Embora ainda pequena e com poucos adeptos, esta atividade vem ganhando destaque, tanto entre os pequenos produtores quanto entre os consumidores, que buscam uma alimentação mais saudável. Há cerca de três anos trabalhando nessa atividade com a ajuda de seu companheiro, a agricultora Isabel Margarida de Morais destina cinco hectares de sua propriedade, localizada em Nossa Senhora do Carmo, interior de Três de Maio, para a produção de alimentos de maneira agroecológica. Para ela, é
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importante que as pessoas conheçam o que é um produto orgânico e suas diferenças dos produtos aos quais estamos acostumados. “Nesses três anos, a gente veio se moldando ao agroecológico. Queremos fazer com que o orgânico seja visto. O pessoal não dá muito valor. Não é que não conheçam, eles sabem que existe, mas não dão valor. O orgânico é totalmente livre de agrotóxicos”, avalia. Na propriedade, são produzidas verduras e legumes como alface, couvefolha, couve-flor e repolho, e também pretende iniciar o plantio de outras variedades como cenoura, beterraba, rabanete, tudo isso de maneira orgânica. Ela também possui um pomar com mais de cem árvores e diversas frutas, tudo livre de agrotóxicos.
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17 de tempero ou erva. Isso ajuda a cuidar de algumas pragas e age como repelente. É uma concepção que os produtores têm que mudar. Eu venho mudando a minha há três anos”, conta.
Uma tendência que veio para ficar
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Para Isabel, o comércio de produtos agroecológicos é uma tendência e algo que veio para ficar. “Se você deixar de comer, em uma semana, todo tipo de verduras, legumes e frutas que você compra nos mercados, e comprar os orgânicos, você vai perceber muitas mudanças em seu organismo. E isso eu não digo porque alguém me disse, eu já fiz essa experiência. Quando eu morava na cidade e comprava no mercado, eu também nunca dava importância se o produto era orgânico ou não, comprava o que tinha”, conta. Alguns consumidores podem achar que
o preço dos produtos é muito alto, mas ela garante que esse custo maior se dá pela dificuldade em produzir esse tipo de alimentos. “Se você não passa veneno, não fica bonito. Se não coloca um tipo de fertilizante, não cresce. É preciso ter alternativas, como os fertilizantes naturais que a gente faz. Para a saúde, os orgânicos são o que existem de melhor no momento”, ressalta. No cultivo em sua propriedade, Isabel faz uso apenas de produtos naturais, que não prejudicam aos consumidores e não envenenam a terra. “Se, por exemplo, preciso eliminar uma praga na couve-folha, eu faço uma calda - a Emater disponibiliza um livro com receitas para os produtores para vários tipos de pragas. Também tenho a citronela, o alecrim e diversas ervas, que plantadas próximo da área de cultivo evitam o ataque das pragas”, diz.
Adaptação para produção orgânica Para que isso seja possível, ela cercou sua propriedade com barreiras, para impedir que as lavouras da qual é vizinha interfiram no processo, contaminando os alimentos produzidos por ela e seu marido. “Meu sítio são cinco hectares cercados de lavouras, então eu tenho ele rodeado de mato, para fazer a barreira”, revela a agricultora. Estas barreiras, além do mato nativo, são feitas com o plantio de cana, erva mate, banana, capim elefante, entre outras culturas. Isabel pretende aperfeiçoar sua propriedade para deixar os alimentos produzidos lá com uma qualidade cada vez maior. Uma das dificuldades encontradas ao
adaptar-se ao modelo agroecológico, segundo Isabel, é quando o produtor precisa mudar a maneira como ele concebia os cuidados com a horta. A partir do momento em que é criado um compromisso com a sustentabilidade nas plantações, tudo pode ser adaptado e utilizado de alguma maneira. “A gente tem uma concepção de horta na qual ela deveria estar limpa, sem inços. Hoje eu tenho que mudar essa ideia, que vem lá dos tempos dos nossos pais e avós. O inço é o que me dá a sustentação do orgânico”, assegura. Em sua propriedade, ela aproveita os recursos oferecidos pela própria natureza para conseguir os resultados que deseja. “Dependendo do inço, eu corto, deixo cair a palha e ele vira um adubo. Às vezes é um chá ou um tipo de folhagem
“A gente tem uma concepção de horta que deveria estar limpa, sem inços. Hoje eu tenho que mudar essa ideia, que vem lá dos tempos dos nossos pais e avós. O inço é o que me dá a sustentação do orgânico”, assegura agricultora Isabel Margarida de Morais.
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Sem nada de agrotóxicos Atualmente, Isabel está comercializando seus produtos em casa, para alguns clientes que visitam sua propriedade e também para alguns restaurantes, mas sua maior venda é para as escolas da rede municipal de Três de Maio. O início da comercialização dos produtos aconteceu de forma natural. Quando começou a trabalhar com essa atividade, Isabel não tinha pretensão de vender. “Eu ia produzir para mim e para a minha família”, conta. Quando algumas pessoas começaram a pedir, ela começou a trabalhar a ideia e hoje produz e vende seus produtos no município. “Eu sempre disse para produzirmos alimentos sem nada de agrotóxicos”, acrescenta. A única coisa que Isabel ainda não possui adaptada ao modelo que escolheu, é a alimentação de seus animais. “Ainda não temos estrutura para plantar o milho e produzir a ração dos animais, mas a intenção é essa. Queremos produzir a ração dos nossos animais para não precisar comprar”, conta. A entrega dos alimentos para a merenda escolar inicia no próximo mês, quando terminam as férias. Mas Isabel já está preparando a sua produção. Para os restaurantes, ela começará a vender em setembro. Com esse trabalho, e com
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entrega agendada, Isabel fica feliz em compartilhar um alimento mais saudável com as pessoas que consomem os alimentos cultivados por ela e sua família. “Me propus a fazer isso para pelo menos, minha família ter mais qualidade de vida. Mas fico tão feliz em poder proporcionar isso para os outros”, revela. A agricultora acredita que os produtores terão que, com o tempo, se adaptarem à esse novo modelo agroecológico. “Vai chegar um momento em que não vamos mais ter como plantar, com tanto veneno. A terra não está recebendo o que precisa para se manter. O orgânico é saudável e é o que nós vamos precisar para o amanhã”, assegura.
Em busca da certificação Há cerca de um ano e meio, Isabel está tentando conseguir, junto à Rede de Agroecologia Ecovida, um selo de certificação para seus produtos orgânicos. Nas próximas semanas ela receberá a visita de um avaliador, que realizará uma primeira vistoria em sua propriedade. A produtora está se adaptando às normas da Rede para conseguir este selo o mais breve possível.
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Produtor aposta em pr odutos or gânicos produtos orgânicos difer enciados para o consumidor diferenciados om o uso de adubo orgânico e tratamento cultural realizado com produtos naturais, Gilson Schast é um dos produtores que também investe e aposta no potencial da produção orgânica de alimentos em Três de Maio. Mesmo sendo poucos, agricultores como ele e Isabel se dedicam e buscam valorização nessa atividade, ramificando a saúde nos alimentos consumidos pelas pessoas. Ele diz que não possui o certificado, mas que mesmo assim continua exercendo e se envolvendo com a atividade. Segundo ele, o município não possui um certificador. O produtor dedica dois hectares à produção de alimentos orgânicos, que incluem duas variedades de milho e também as mais diversas frutas. Segundo Gilson, o novo Plano Safra da Agricultura Familiar, lançado no
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último mês, demonstrou a preocupação do governo com o incentivo à produção de alimentos com menos venenos e mais qualidade. “Produzir com menos agrotóxicos vai gerar um produto de melhor qualidade para a população, que atualmente recebe 70% de seus alimentos da agricultura familiar”, destaca.
Venda é de porta em porta, de telefone em telefone Ele vende seus produtos “de porta em porta, de telefone em telefone”. Gilson avalia a criatividade dos produtores como uma aliada na hora de comercializar os produtos. “Praticamente tudo que você produzir, vai vender. Ano passado comecei a vender buchas vegetais, e foram bem aceitas pelo consumidor. Além disso, tenho as variedades de milho. Para tudo o que é produzido tem mercado consumidor”, afirma o produtor.
Com a produção de milho, ele chegou a perder apenas o talo. “Vendia a espiga, o sabugo, a palha seca para artesanato. Se você tem um produto diferenciado, tem uma gama maior de mercado, basta querer produzir”, ressalta. Ele está bastante satisfeito com a atividade, principalmente com a renda, que, segundo ele, traz um retorno bem maior, e a aceitação dos produtos no comércio, que também é valorizada. Trabalhando sozinho em sua propriedade, na localidade de Medianeira, interior de Três de Maio, Gilson garante que um equilíbrio com a natureza é essencial na hora de produzir os orgânicos. “Conseguindo isso, o produtor terá um controle maior, principalmente, em releção ao controle de pragas. Só que o produtor precisa ir atrás de alternativas, para não depender dos agrotóxicos. Com biodiversidade na propriedade, você está mais seguro para produzir e consegue tornar a produção ainda mais barata”, lembra.
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“Na produção de miho, perdi só o talo. Vendi a espiga, o sabugo, a palha seca para artesanato. Se você tem um produto diferenciado, tem uma gama maior de mercado, basta querer produzir”, sugere o produtor rural
Esponja vegetal e milho caiano são apostas de Gilson
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Horticultura como alternativa de diversificação e renda
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Além das culturas tradicionais, Sílvio Naressi e família apostam no plantio de hortaliças e na hidroponia para aumentar a rentabilidade da família. A opção de voltar à agricultura, surgiu depois dele morar e trabalhar por mais de 10 anos na cidade Em família: Sílvio José Naressi, 38 anos, esposa Márcia, 37, e a filha Caroline Elis, 7 anos
á sete anos, Sílvio José Naressi tomou uma importante decisão que mudou sua vida. Depois morar na cidade, onde trabalhava como marceneiro por mais de dez anos, ele resolveu assumir o desafio de retornar ao campo e tomar conta da propriedade rural dos pais. Aposentados, eles decidiram morar na cidade e deixaram a sucessão rural por conta do filho. Junto com a esposa Márcia, Sílvio aceitou o desafio. A partir de então, o casal e a filha Caroline Elis, 7 anos, começaram a construir seu futuro. No Sítio São José, localizado em Lajeado Lambedor, interior de Três de Maio, são 10 hectares, onde oito são áreas cultivadas. Para fugir do tradicional cultivo de grãos - soja, milho e trigo, Sílvio decidiu investir na horticultura e na hidroponia. Hoje, o agricultor afirma que não existe apenas uma atividade principal na propriedade, pois uma complementa a outra. “Além dos grãos, a horta gera renda. Tem anos que a soja vai bem, outros vai mal, e aí, a horta salva”, comenta.
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Começo difícil Sílvio começou plantando 200 pés de repolho, 200 de brócolis e 200 de couve-flor, além de um “tirão” de tomate. “Quando colhi os primeiros pés, vi que estavam bonitos, viçosos. Daí chegou a época de melancia. Na primeira vez, plantei 40 covas (buracos), tinha todo um trabalho de fazer cova por cova. Colhi bem e daí começou aparecer compradores de melancia. No outro ano plantei 140 pés. Percebi que estava dando resultado”, recorda. Contudo, o agricultor destaca que o começo foi difícil, pois não tinha conhecimento sobre horticultura na prática. “Não tinha noção de ter a continuidade, de plantar agora e esperar pra colher. Tive prejuízos. Fiz por conta, pois não tinha assistência. Em Três de Maio não existe assistência técnica para a horticultura”, informa. Foi então que amigos da Emater o levaram para conhecer propriedades com horticultura na região. “Aprendi por conta própria e olhando algumas propriedades na região, trocando informações. No ramo de horticultura, a pessoa que conhece não vai abrir mão do seu conhecimento, muitas vezes, por medo da concorrência”, lamenta.
Investimento na horticultura
Excesso de chuvas traz pr ejuízos prejuízos
A horta ocupa uma área de aproximadamente 1,2 hectares da propriedade. Nesta época, são cultivados brócolis, couve-flor, tempero verde, alface e repolho. Depois, serão plantados melão e melancia. No cultivo hidropônico, está plantada rúcula. “Procuro ocupar todos os espaços da propriedade com alguma atividade. Também tenho um pomar, cujos frutos são para o consumo da família”. Um dos produtos mais vendidos é a melancia, cujo plantio ocorrerá em setembro. “Começo a colher melancia em dezembro. Ano passado tive perdas por causa da chuva, mas em 2013 colhi muito bem. Vamos ver como vai ser este ano”, estima. O casal é responsável por toda mão de obra da propriedade. Por isso, investe em equipamentos para fazer os canteiros na horta e auxiliar nos trabalhos.
Sílvio ressalta que esta é uma atividade em que se aprende a ganhar e a perder dinheiro. “Acredito que hoje, em função do excesso de chuvas as perdas ultrapassem os 2 mil pés de brócolis e couve flor; ou seja de 20% a 25% de perda até o momento”, estima. No ano passado, as perdas foram de 3 a 4 mil pés, devido o pouco frio. “Com o clima ninguém pode". Para ele, na horticultura é preferível que haja seca do que chuva em excesso. "Água eu coloco com a irrigação a hora que eu quero. Pois quando tem muita chuva, não tem como tirar água do solo”, avalia, destacando que 100% da área da horta é irrigada, por gotejamento (ferti-irrigação). O agricultor aposta na hidroponia e atualmente tem mil pés de rúcula no sistema. “Quando a estufa ficar pronta, serão 4 mil pés de agrião e rúcula na hidroponia. No caso da rúcula, do plantio até a colheita, são em torno de 20 dias. Então, ganha tempo e qualidade”, resume.
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Atualmente são mil pés de rúcula pelo sistema de hidroponia. Em breve serão cerca de 4 mil, entre rúcula e agrião
Mercado consumidor As hortaliças são comercializadas em um grande mercado e em restaurantes de Três de Maio, além da venda direta ao consumidor, feita no próprio sítio. Para o agricultor, a experiência na cidade ajudou bastante na atividade agrícola. “Eu sei da necessidade das pessoas na cidade de consumir produtos mais saudáveis, com qualidade e bom preço. Isso me deu um norte para eu investir na horticultura”, garante.
Consciência ambiental O agricultor garante que a horticultura é viável. “Esse é o caminho. Se eu fosse ficar só na lavoura, não teria tanto resultado. Na lavoura, depois do
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plantio, tem uma época em que eu ficava ‘ocioso’ e, então, a horta é uma maneira de preencher o tempo. Hoje, ela é uma das principais fontes de renda. É bem gratificante plantar, ter o cuidado, e depois colher”, salienta. No meio rural, segundo Sílvio, deve-se buscar alternativas, sair do tradicional e procurar investir em novas atividades. “Na horticultura, é fundamental buscar novas variedades e estar por dentro do mercado”, orienta. Outro fator importante, conforme o agricultor é ter consciência ambiental. “No caso de inseticidas, sempre dou preferência para os fisiológicos onde os inimigos naturais não são atingidos, eliminando somente as pragas prejudiciais à lavoura”, conclui.
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Da adrenalina do motocross, para a responsabilidade ao volante do ônibus FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
Quando jovem, Marcos Lasch conquistou muitos títulos voando alto nas pistas de motocross. Hoje, aos 50 anos, além de empresário, exerce a profissão de motorista de ônibus or mais de 20 anos, a adrenalina da velocidade moveu a paixão de Marcos Antônio Lasch pelo motocross. Hoje, aos 50 anos, além de empresário do ramo de eletrônica e som automotivo, ele é proprietário de uma empresa de transportes e turismo, exercendo também, a profissão de motorista de ônibus. Casado com Luciana, pai de Roggero, 29 anos, Lara, 25, e Ana Vitória, 14, Marcos sabe a responsabilidade em conduzir passageiros pelas estradas da vida. “ Ser motorista é ter um desafio diário, ser responsável pelas pessoas que estão apostando em você e no seu trabalho. Embora não tão valorizada quanto mereça, a profissão de motorista é muitíssimo importante”.
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O começo da P rimu´s T ur Tur Em agosto, a Primu´s Tur comemora 10 anos de atividades. Marcos conta que Luciana sempre tinha a ideia de comprar uma kombi ou Van para transportar alunos dentro da cidade. Um dia, em uma conversa na eletrônica, Marcos revelou a um primo a vontade de ter outra empresa paralela. “Eu sempre fui movido a desafios, a buscar coisas novas. E aí surgiu a ideia de comprar uma Van para transporte de passageiros”. Com o passar do tempo, a empresa foi crescendo e se consolidando no ramo de transportes, viagens e turismo. Hoje, a frota é composta por nove ônibus. “Temos trajetos para Santo Ângelo para universidades; um trajeto que vem de Esquina Araújo para a Setrem e roteiros diários de alunos para essa instituição. Ainda, temos três ônibus grandes para turismo que viajam os países do Mercosul”, informa, ressaltando que a empresa conta com a colaboração de vários motoristas.
A experiência de ‘ser motorista’ Atualmente, como empresário, Marcos realiza constantes investimentos na frota para o transporte de alunos e turismo. Contudo, devido a alta do dólar, as excursões para compras diminuíram em torno de 40%. “Os destinos preferidos eram Oberá, Argentina; Cidade de Leste, Paraguai; e Rivera, Uruguai.As viagens intermunicipais e interestaduais também caíram, em função do atual momento econômico”. Em diversas viagens, o empresário também é motorista. “Me divido entre a parte administrativa e o volante. Às vezes, recordo o passado e lembro quando era piloto de motocross. Naquele tempo, eu era admirado por andar mais rápido que os outros. Sofri várias quedas,
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Marcos Lasch: “ser motorista da própria frota de ônibus, é uma forma de acompanhar de perto os clientes”
me fraturei várias vezes, tenhos uns 30 parafusos no corpo. Hoje, no ônibus, tenho que ser admirado por ser um bom motorista, consciente e responsável”, afirma. Segundo o empresário, a experiência de ser motorista de ônibus começou para aprender a profissão e melhorar a qualidade do atendimento da sua própria empresa. “Dirigir o ônibus foi uma forma de acompanhar os clientes, saber o que eles gostam, conhecer as estradas, além do mais, porque eu gosto de viajar. Além de uma profissão é um hobby”, garante. Marcos relata ainda que a empresa faz turismo de pesca para o Pantanal matogrossense e Argentina, sendo um diferencial que tem atraído muitos clientes.
Quando jovem, Marcos (no alto) era piloto de motocross
Desafios
Perigos da estrada Questionado sobre os perigos das estradas, Marcos confessa que cada vez que sai em viagem, não sabe o que vai encontrar pelo caminho. “Muitos motoristas estão cheios de pressa. Os veículos andam hoje muito mais do que a estrada oferece de segurança. Não temos mais pedágios na nossa região e as estradas ficam muito a desejar. É muito trânsito nas ERS e BRS. O motorista acaba sofrendo muita pressão, de cumprir horário e tendo que enfrentar problemas de chuva, neblina. Os cuidados devem ser redobrados”, alerta. Por isso, na empresa, cada motorista tem sua pasta, onde cada viagem que é feita, na volta é trazido o tacógrafo. “É uma
medida importante, pois controlamos a velocidade. Não aceitamos, de forma alguma, que se ande numa velocidade acima que a lei permite”, orienta. Em dez anos de atividades e vários quilômetros percorridos, Marcos comenta que as viagens mais distantes, são as mais cansativas. Porém, a profissão tem o lado bom. “As viagens de excursão são interessantes, gratificantes, onde fazemos amizades, trocamos informações. Nas viagens para a praia, por exemplo, ficamos uma semana com os passageiros, onde a convivência oportuniza momentos de diversão, lazer e amizade”.
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Piloto de motocross com várias conquistas e uma sala cheia de troféus e medalhas, Marcos confessa que ainda curte o esporte, tendo, inclusive, uma moto para treinar e fazer trilhas. Contudo, hoje, além do amor maior pela família, a paixão é pelo trabalho nas suas duas empresas. Sobre o ramo de transportes, ele ressalta que terá que fazer novos investimentos e comprar mais ônibus ainda, para manter a empresa firme e competitiva no mercado. E finaliza dizendo que sente-se realizado pessoal e profissionalmente. “Hoje, sou feliz por estar administrando minhas empresas, dirigindo, fazendo o que eu gosto”, finaliza.
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Há mais de 40 anos pegando a estrada Moacir Godói iniciou na profissão como motorista de caminhão, na década de 1970. Hoje, aos 68 anos, transporta diariamente estudantes para faculdade em Ijuí
os 68 anos, Moacir Godói continua exercendo a profissão que escolheu quando jovem e pela qual tem um carinho muito especial: dirigir. Hoje, ele leva diariamente vários estudantes entre os municípios de Três de Maio e Ijuí, mas relembra que, por vários anos, trabalhou cruzando as estradas de vários estados do Brasil. Godói iniciou como motorista de uma transportadora da cidade, no ano de 1973. "Comecei a trabalhar como motorista na transportadora Trêsmaiense. Fiquei lá por quatro anos, até que mudei para outra transportadora que trabalhava com grãos. Após fui trabalhar para a Cotrimaio, onde fiquei por mais oito anos, trabalhando como motorista", lembra. Depois que saiu da Cotrimaio, Godói comprou um caminhão, em parceria com um amigo. "Entrei em sociedade com o Nego Pires, que era gerente da cooperativa e residia em Esquina Araújo. Depois que ele faleceu, em um acidente de carro, comecei a trabalhar com a viúva dele, mas acabei deixando tudo para a família dele e comprei um caminhão para mim. Foi quando comecei a ir mais longe", conta. Na época em que trabalhou por conta própria, Godói lembra que começou transportando cargas de arroz do município de Itaqui até o Estado de São Paulo, atividade a qual exerceu por oito anos. "Depois me agreguei em uma transportadora no município de Uruguaiana, onde comecei a puxar motores até Belo Horizonte, Minas
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Após rodar por estradas de todo Brasil, Moacir Godói se dedica ao transporte de estudantes
Gerais. Foram mais quatro anos", relembra.
Ijuí e Três de Maio", afirma.
Fazendo fretes por todo o país
Godói tem prazer e satisfação com o que faz. "Eu faço isso porque gosto muito de dirigir. Minha vida sempre foi na estrada. Quando eu tinha o caminhão, praticamente foi minha mulher quem criou nossos três filhos, Elisangela, Mariglai e Fabiano. Ela cuidava de tudo, enquanto eu andava pelas estradas para pagar as contas com o trabalho, o que hoje em dia, com o preço dos combustíveis e o valor pago pelos fretes, não seria mais possível", admite. Godói revela que ao encontrar amigos caminhoeiros, não se contém, entra na cabine, e muitas vezes até faz o caminhão funcionar, tudo para matar a saudade. “Mas eu não tenho mais saúde para viajar, então fico por aí", observa.
Trabalhando por conta própria, o motorista revela que buscava fretes por todos os cantos do Brasil. "Viajava por Mato Grosso, Fortaleza. Onde tinha frete, eu estava. Tinha contas para pagar, e muitas vezes aqui na região, os fretes não estavam muito bem. Eu tinha que me virar", revela. E assim, ele seguiu trabalhando até o ano 2000, quando parou com a profissão de caminhoneiro, e acabou vendendo seu caminhão. Ao parar de fazer estas longas viagens, foi que Godói teve a ideia de comprar uma van, para realizar o transporte de estudantes e, de certa forma, continuar fazendo o que gosta. "Aqui em Três de Maio só tinha uma van, que era a do Chocolate. Eu comecei levando estudantes até Santa Rosa, todas as noites. Fiz isso por sete anos, até que comprei um veículo novo e agora trabalho todas as noites dirigindo entre
Paixão pela profissão
Quanto à segurança nas estradas, Godói relembra que na época em que ele viajava por todo Brasil, as coisas eram
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diferentes, as estradas eram mais seguras. "Na época, todos dormiam com portas e vidros abertos nos caminhões, em qualquer posto. Ninguém mexia com a gente. Não é igual hoje, que você se chaveia dentro de uma cabine e mesmo assim é assaltado", expõe. Em todos os anos de caminhoneiro, Godói foi assaltado apenas uma vez, em São Paulo. “No geral, era bem tranquilo. Viajava dia e noite, ia até o centro de São Paulo com a carreta. Hoje não se pode entrar nem nos bairros”, acrescenta. Mesmo gostando do que faz e fez, Godói não aconselha a profissão aos jovens. "O combustível está caro e o frete, baixo. Para comprar um caminhão, não é fácil. E com as vans também não está mais fácil de trabalhar”, expressa. Mesmo assim, ele investe e continua seu trabalho com dedicação.
CADERNO COLONO E MOTORISTA TRÊS DE MAIO - 24 DE JULHO 2015
Região celebra o Dia do Colono e do Motorista Em Independência e Três de Maio, programação ocorre hoje. Boa Vista do Buricá e Nova Candelária realizam festividade no domingo Na região onde a agricultura é uma das principais atividades econômicas e de geração de emprego e renda para os municípios, o dia 25 de julho, data simbólica do Colono e do Motorista, será celebrada com programação especial. Confira os eventos:
Independência Em torno de 300 pessoas são aguardadas hoje, a partir das 9h, em frente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Independência. Em caso de chuva, o evento será realizado no Salão Católico do muni-
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cípio. Na programação, almoço, eleição e posse da nova Diretoria do Conselho Municipal de Agricultura, além de confraternização e diversão. O evento é uma promoção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, da Emater/RS-Ascar e Secretaria Municipal da Agricultura.
sendo participantes de Três de Maio e São José do Inhacorá. A confraternização é uma promoção conjunta da Prefeitura de Três de Maio, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Três de Maio e São José do Inhacorá, Emater/RS-Ascar, Cotrimaio, Certhil, Sicredi, Funcap e igrejas cristãs.
Três de Maio
Boa Vista do Buricá e Nova Candelária
Também nesta sexta, ocorre a comemoração em Três de Maio, na comunidade de Mato Queimado, a partir das 9h, com pelo menos 600 pessoas previstas,
Outro evento marcante será a Festa do Colono e Motorista, no domingo, dia 26, envolvendo participantes de Boa Vista do
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Buricá e Nova Candelária. Em torno de 1300 pessoas devem acompanhar a programação durante todo o dia, em Nova Candelária. O evento é resultado da parceria de entidades dos dois municípios, como Rotary Club, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Administração Municipal e Emater/RS-Ascar. A partir das 8h30, haverá desfile de veículos e máquinas agrícolas. Logo depois, missa na Praça Municipal, seguida de almoço nos Pavilhões da Schweinfest. À tarde, sarau dançante com animação do conjunto musical Ireno e Dari e de Laik Som.