alice AtravĂŠs do Espelho
alice Através do Espelho lewis carroll tradução
Maria Luiza Borges
Jams
Copyright © Lewis Carroll Todos os direitos reservados. Vedada a produção, distribuição, comercialização ou cessão sem autorização do autor. Os direitos desta obra não foram cedidos. ISBN: 4815162342 Autor: CARROLL, LEWIS Título Original $OLFH ौURXJK ौH /RRNLQJ *ODVV Edição: 1º Local: RECIFE/PE
Diagramação e Adaptação Juliana Alves
Editora Jams Ltda. www.jams.com.br jams@jams.com Rua 13, Bloco B
Sumário A Casa do Espelho O Jardim das Flores Vivas Insetos do Espelho Tweedledum e Tweedledee Lã e água Humpty Dumpty O Leão e o Unicórnio “É uma invenção minha” Rainha Alice Sacudida Despertar Quem sonhou?
11 20 28 36 47 55 65 73 85 97 98 99
O PEÃO BRANCO, ALICE, VAI JOGAR E VENCER EM ONZE LANCES 1. Alice encontra Rainha V. 2. Alice atravessa 3º casa da Rainha (de trem) e chega à 4º casa da Rainha (Tweedledum e Tweedledee) 3. Alice encontra Rainha B. (de xale) 4. Alice passa à 5º casa da Rainha (loja, rio, loja) 5. Alice passa à 6º casa da Rainha (Humpty Dumpty) 6. Alice passa à 7º casa da Rainha (floresta) 7. Cavaleiro B. toma Cavaleiro V. 8. Alice passa à 8º casa da Rainha (coroação) 9. Alice tornase Rainha 10. Alice roca (banquete) 11. Alice toma Rainha V. e vence
1. Rainha V. passa à 4º casa da Torre do Rei 2. Rainha B. passa à 4º casa do Bispo da Rainha (em busca do xale) 3. Rainha B. passa à 5º casa do Bispo da Rainha (vira ovelha) 4. Rainha B. passa à 8º casa do Bispo do Rei (deixa ovo na prateleira) 5. Rainha B. passa à 8º casa do Bispo da Rainha (fugindo do Cavaleiro V.) 6. Cavaleiro V. passa à 2º casa do Rei (xeque) 7. Cavaleiro B. passa à 5º casa do Bispo do Rei 8. Rainha V. passa à casa do Rei (exame) 9. As Rainhas rocam 10. Rainha B. passa à 6º casa da Torre da Rainha (sopa)
A CASA DO ESPELHO UMA COISA ERA CERTA: a gatinha branca nada tivera a ver com aquilo; a culpa fora toda da gatinha preta. Pois no Ăşltimo quarto de hora a cara da gatinha branca estivera sendo lavada pela gata velha (o que, apesar de tudo, ela suportara bastante bem); como vocĂŞ vĂŞ, ela nĂŁo teria podido meter sua patinha na travessura. (UD DVVLP TXH 'LQDK ODYDYD D FDUD GRV ŕ¨OKRWHV SULPHLUR HUJXLD R SRbre bichano pela orelha com uma pata, depois, com a outra, esfregava-lhe a cara toda ao contrĂĄrio, começando pelo focinho; e, neste momento mesmo, como disse, estava muito atarefada com a gatinha branca, que se mantinha bastante sossegada e tentando ronronar — sem dĂşvida sentindo que aquilo tudo era para o seu bem. Mas a faxina da gatinha preta terminara mais cedo aquela tarde, e assim, enquanto Alice enroscava-se num canto da poltrona grande, meio conversando consigo mesma e meio dormindo, ela se esbaldava com a bola de lĂŁ que Alice tentara enovelar, rolando-a para cima e para baixo atĂŠ desmanchĂĄ-la toda de novo; e lĂĄ estava a lĂŁ, espalhada sobre o tapete, cheia de nĂłs e emaranhados, com a gatinha correndo no meio atrĂĄs do prĂłprio rabo.
— Oh, sua coisinha travessa! — exclamou Alice, agarrando-a e dando-lhe um beijinho para fazĂŞ-la compreender que estava frita. — Francamente, a Dinah devia ter lhe ensinado maneiras melhores! VocĂŞ devia, Dinah, sabe que devia! — acrescentou, com um olhar de censura para a gata velha e falando no tom mais zangado de que era capaz‌ Em seguida escalou de novo a poltrona, levando a gatinha e a lĂŁ consigo, e pĂ´s-se a enrolar a bola de novo. Mas o trabalho nĂŁo rendia muito, pois conversava o tempo todo, Ă s vezes com a gatinha, Ă s vezes consigo PHVPD .Lि\ ŕ¨FRX VHQWDGD PXLWR UHFDWDGDPHQWH HP VHX MRHOKR ŕ¨QJLQGR acompanhar o progresso do enovelamento, e de vez em quando esticando uma pata e tocando delicadamente a bola, como a dizer que teria prazer em ajudar, se pudesse. ‍ ŰŒâ€Ź6DEH TXH GLD ÂŤ DPDQKÂĽ .Lि\" ‍ ŰŒâ€ŹFRPHŠRX $OLFH ‍ ŰŒâ€Ź9RFÂŹ DGLYLQKDULD VH WLYHVVH ŕ¨FDGR QD MDQHOD FRPLJRŰž VÂľ TXH D 'LQDK HVWDYD ID]HQGR sua toalete, por isso vocĂŞ nĂŁo pĂ´de. Fiquei olhando os meninos catarem JUDYHWRV SDUD D IRJXHLUD ‍ ŰŒâ€ŹH ÂŤ SUHFLVR PXLWR JUDYHWR .Lि\ 6Âľ TXH ŕ¨FRX WÂĽR IULR H QHYDYD WDQWR TXH HOHV WLYHUDP GH SDUDU 1ÂĽR ID] PDO .Lि\ QÂľV vamos ver a fogueira amanhĂŁ. Nesse ponto Alice passou duas ou trĂŞs voltas da lĂŁ em torno do pescoço GD JDWLQKD VÂľ SDUD YHU FRPR ŕ¨FDULD LVVR SURYRFRX XPD EDOEÂźUGLD SRLV R novelo rolou para o chĂŁo em metros e metros de lĂŁ se desenrolaram de novo. ‍ ŰŒâ€Ź6DEH ŕ¨TXHL WÂĽR ]DQJDGD .Lि\ ‍ ŰŒâ€Ź$OLFH FRQWLQXRX DVVLP TXH HVtavam confortavelmente instaladas de novo, — quando vi toda a travessura que vocĂŞ aprontou que estive a ponto de abrir a janela e jogĂĄ-la na QHYH ( WHULD VLGR PHUHFLGR PLQKD WUDTXLQDV TXHULGD ་H WHP D GL]HU HP VXD GHIHVD" $JRUD QÂĽR PH LQWHUURPSD ‍ ŰŒâ€ŹFRQWLQXRX GHGR HP ULVWH — Vou lhe dizer todas as suas faltas. NĂşmero um: reclamou duas vezes enquanto a Dinah estava lavando seu rosto esta manhĂŁ. Ora, isso vocĂŞ QÂĽR SRGH QHJDU .Lि\ HX RXYL ་H HVWÂŁ GL]HQGR" ‍ ŰŒâ€Źŕ¨QJLQGR TXH D JDWLQKD HVWDYD IDODQGR ‍ ŰŒâ€Ź$ SDWD GHOD HQWURX QR VHX ROKR" %HP D FXOSD ÂŤ VXD SRU ŕ¨FDU GH ROKRV DEHUWRV VH RV IHFKDVVH DSHUWDQGR EHP LVVR QÂĽR teria acontecido. NĂŁo, nĂŁo me venha com outras desculpas, ouça! NĂşmero dois: vocĂŞ puxou Snowdrop pelo rabo bem na hora que eu tinha posto o SLUHV GH OHLWH GLDQWH GHOD $K YRFÂŹ HVWDYD FRP VHGH ÂŤ" &RPR VDEH TXH HOD QÂĽR HVWDYD FRP VHGH WDPEÂŤP" $JRUD QÂźPHUR WUÂŹV YRFÂŹ GHVHQURORX D OÂĽ inteirinha quando eu nĂŁo estava olhando! ‍ ŰŒâ€Ź6ÂĽR WUÂŹV IDOWDV .Lि\ H YRFÂŹ QÂĽR IRL FDVWLJDGD SRU QHQKXPD GHODV Sabe que estou acumulando todos os seus castigos para daqui a duas quartas-feiras‌ Imagine se tivessem acumulado todos os meus castigos! — ela
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FRQWLQXRX PDLV SDUD VL PHVPD TXH SDUD D JDWLQKD ‍ ŰŒâ€ŹŕĽ‹DO VHULD R UHVXOWDGR QR ŕ¨P GH XP DQR" 6HULD PDQGDGD SDUD D SULVÂĽR VXSRQKR TXDQGR R GLD FKHJDVVH 2XŰž GHL[H PH YHUŰž VH FDGD FDVWLJR IRVVH ŕ¨FDU VHP XP MDQWDU HQWÂĽR TXDQGR R GLD WHUUÂŻYHO FKHJDVVH HX WHULD GH ŕ¨FDU VHP FLQTXHQWD MDQtares de uma vez! Bem, nĂŁo me importaria tanto! Antes passar sem eles que comĂŞ-los! ‍( ŰŒâ€ŹVWÂŁ RXYLQGR D QHYH FRQWUD DV YLGUDŠDV .Lि\" 6RD WÂĽR DJUDGÂŁYHO H suave! Como se alguĂŠm estivesse beijando a janela toda do lado de fora. 6HUÂŁ TXH D QHYH DPD DV ÂŁUYRUHV H RV FDPSRV TXH EHLMD WÂĽR GRFHPHQWH" 'Hpois ela os agasalha, sabe, com um manto branco; e talvez diga: ‘Durmam, meus queridos, atĂŠ o verĂŁo voltar.’ E quando eles despertam no verĂŁo, .Lि\ VH YHVWHP WRGRV GH YHUGH H GDQŠDPŰž RQGH TXHU TXH R YHQWR VRSUHŰž oh, isso ĂŠ muito lindo! — exclamou Alice, soltando o novelo da lĂŁ para bater palmas. — E eu gostaria tanto que fosse verdade! O que sei ĂŠ que os bosques SDUHFHP VRQROHQWRV QR RXWRQR TXDQGR DV IROKDV HVWÂĽR ŕ¨FDQGR FDVWDQKDV 6DEH MRJDU [DGUH] .Lि\" 1ÂĽR QÂĽR VRUULD PHX EHP HVWRX SHUJXQWDQGR D sĂŠrio. Porque, quando estĂĄvamos jogando hĂĄ pouco, vocĂŞ observou exatamente como se entendesse; e quando eu disse ‘Xeque!’ vocĂŞ ronronou! %HP IRL XP EHOR [HTXH .Lि\ H HX UHDOPHQWH SRGHULD WHU JDQKR QÂĽR tivesse sido por aquele cavaleiro desagradĂĄvel, que veio se insinuar ziJXH]DJXHDQGR HQWUH PLQKDV SHŠDV .Lि\ TXHULGD YDPRV ID]HU GH FRQŰž E aqui eu gostaria de ser capaz de lhe contar a metade das coisas que Alice costumava dizer a partir da sua expressĂŁo favorita: “vamos fazer de contaâ€?. Ela tivera uma discussĂŁo bastante longa com a irmĂŁ ainda na vĂŠspera, tudo porque começara com “Vamos fazer de conta que somos reis e rainhasâ€?; e a irmĂŁ, que gostava de ser muito precisa, retrucara que LVVR QÂĽR HUD SRVVÂŻYHO SRUTXH HUDP VÂľ GXDV DWÂŤ TXH $OLFH ŕ¨QDOPHQWH VH vira forçada a dizer: “Bem, vocĂŞ pode ser sĂł um deles, eu serei todos os outros.â€? E certa vez assustara realmente sua velha governanta, gritando-lhe de repente ao pĂŠ do ouvido: “Vamos fazer de conta que eu sou uma hiena faminta e vocĂŞ ĂŠ uma carcaça!â€? Mas isto estĂĄ nos desviando da fala de Alice para a gatinha. ‍ ŰŒâ€Ź9DPRV ID]HU GH FRQWD TXH YRFÂŹ ÂŤ D 5DLQKD 9HUPHOKD .Lि\ 6DEH DFKR TXH VH YRFÂŹ VHQWDVVH H FUX]DVVH RV EUDŠRV ŕ¨FDULD LJXDO]LQKD D HOD 9DPRV tente, minha fofura! — E Alice pegou a Rainha Vermelha da mesa e a pĂ´s em frente Ă gatinha como um modelo. PorĂŠm a coisa nĂŁo deu certo — sobretudo, Alice disse, porque a gatinha nĂŁo cruzava os braços direito. Assim, para punila, segurou-a diante do Espelho, para que visse o quanto estava intratĂĄvel‌
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— E se nĂŁo consertar essa cara jĂĄ — acrescentou, — eu lhe faço atravesVDU SDUD D &DVD GR (VSHOKR 2 TXH DFKDULD GLVVR" ‍ ŰŒâ€Ź%HP VH YRFÂŹ ŕ¨FDU VÂľ RXYLQGR VHP IDODU WDQWR YRX OKH FRQWDU WRGDV as minhas ideias sobre a Casa do Espelho. Primeiro, hĂĄ a sala que vocĂŞ pode ver atravĂŠs do espelho, sĂł que as coisas trocam de lado. Posso ver a sala toda quando subo numa cadeira‌ fora o pedacinho atrĂĄs da lareira. 2K *RVWDULD WDQWR GH SRGHU YHU HVVH SHGDFLQKR *RVWDULD WDQWR GH VDEHU se eles tĂŞm um fogo aceso no inverno: a gente nunca pode saber, a menos que o nosso fogo lance fumaça, e a fumaça chegue a essa sala tambĂŠm‌ PDV SRGH VHU VÂľ ŕ¨QJLPHQWR VÂľ SDUD GDU D LPSUHVVÂĽR GH TXH WÂŹP XP IRJR Agora, os livros sĂŁo mais ou menos como os nossos, sĂł que as palavras estĂŁo ao contrĂĄrio; sei porque segurei um dos nossos livros diante do espelho e eles seguraram um na outra sala. O que vocĂŞ acharia de morar QD &DVD GR (VSHOKR .Lि\" 6HUÂŁ TXH OKH GDULDP OHLWH OÂŁ" 7DOYH] R OHLWH GR (VSHOKR QÂĽR VHMD JRVWRVRŰž PDV RK .Lि\ DJRUD FKHJDPRV DR FRUUHGRU SĂł se consegue dar uma espiadinha no corredor da Casa do Espelho deixando a porta da nossa sala de estar escancarada: ĂŠ muito parecido com o nosso corredor, atĂŠ onde se pode ver, sĂł que adiante pode ser compleWDPHQWH GLIHUHQWH 2K .Lि\ FRPR VHULD ERP VH SXGÂŤVVHPRV DWUDYHVVDU para a Casa do Espelho! Tenho certeza de que nela, oh! HĂĄ tantas coisas bonitas! Vamos fazer de conta que ĂŠ possĂvel atravessar para lĂĄ de alguPD PDQHLUD .Lि\ 9DPRV ID]HU GH FRQWD TXH R HVSHOKR ŕ¨FRX WRGR PDFLR como gaze, para podermos atravessĂĄ-lo. Ora veja, ele estĂĄ virando uma espĂŠcie de bruma agora, estĂĄ sim! Vai ser bem fĂĄcil atravessar‌ Estava de pĂŠ sobre o console da lareira enquanto dizia isso, embora nĂŁo tivesse a menor ideia de como fora parar lĂĄ. E sem dĂşvida o espelho estava começando a se desfazer lentamente, como se fosse uma nĂŠvoa prateada e luminosa. No instante seguinte Alice atravessara o espelho e saltara lepidamente QD VDOD GD &DVD GR (VSHOKR $ SULPHLUD FRLVD TXH IH] IRL YHULŕ¨FDU VH KDYLD IRJR QD ODUHLUD H ŕ¨FRX PXLWR VDWLVIHLWD DR FRQVWDWDU TXH KDYLD XP IRJR de verdade, crepitando tĂŁo alegremente quanto o que deixara para trĂĄs. ‍ ŰŒâ€Ź$VVLP YRX ŕ¨FDU WÂĽR DTXHFLGD DTXL TXDQWR HVWDYD OÂŁ QD VDOD ‍ ŰŒâ€ŹSHQsou; — ou mais aquecida, porque aqui nĂŁo vai haver ninguĂŠm mandando que eu me afaste do fogo. Oh, como vai ser engraçado quando me virem aqui, atravĂŠs do espelho, e nĂŁo puderem me alcançar! Em seguida começou a olhar em volta e notou que o que podia ser visto da sala anterior era bastante banal e desinteressante, mas todo o resto era tĂŁo diferente quanto possĂvel. Por exemplo, os quadros na parede
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perto da lareira pareciam todos vivos, e o prĂłprio relĂłgio sobre o console (vocĂŞ sabe que sĂł pode ver o fundo dele no espelho) tinha o rosto de um velhinho, e sorria para ela. — Esta sala nĂŁo ĂŠ tĂŁo arrumada como a outra, — Alice pensou, ao notar vĂĄrias peças do jogo de xadrez caĂdas no chĂŁo entre as cinzas; mas no instante seguinte, com um pequeno “Oh!â€? de surpresa, estava de gatinhas, observando-as. As peças do xadrez estavam andando, duas a duas! — Aqui estĂŁo o Rei Vermelho e a Rainha Vermelha — Alice disse (num sussurro, com medo de assustĂĄ-los), — e ali estĂŁo o Rei Branco e a Rainha Branca, sentados na borda da pĂĄ da lareira‌ e aqui vĂŁo duas Torres, andando de braço dado‌ Acho que nĂŁo podem me escutar, — continuou, baixando mais a cabeça, — e tenho quase certeza de que nĂŁo podem me ver. Alguma coisa me diz que estou invisĂvel‌ Nessa altura algo começou a guinchar na mesa atrĂĄs de Alice e a fez virar a cabeça bem a tempo de ver um dos PeĂľes Brancos cair e começar a espernear. Observou-o, muito curiosa para saber o que iria acontecer em seguida. ‍ ‹ ŰŒâ€ŹD YR] GD PLQKD ŕ¨OKD ‍ ŰŒâ€ŹH[FODPRX D 5DLQKD %UDQFD SDVVDQGR SHOR Rei, apressada e com tanto Ămpeto que o derrubou entre as cinzas. — Minha preciosa Lily! Minha gatinha imperial! — e começou a escalar freneticamente um lado do guarda-fogo. — Desatino imperial! — disse o Rei, esfregando o nariz, que machucara na queda. Tinha direito a estar um bocadinho aborrecido com a Rainha, pois estava coberto de cinzas da cabeça aos pĂŠs. Alice estava ansiosa por ser Ăştil e, quando a pobrezinha da Lily estava a ponto de ter um ataque de tanto berrar, passou a mĂŁo na Rainha rapLGDPHQWH H D GHSRVLWRX VREUH D PHVD MXQWR GH VXD HVFDQGDORVD ŕ¨OKLQKD A Rainha se sentou, arquejante: a rĂĄpida viagem pelo ar lhe tirara o fĂ´lego por completo e por um minuto ou dois nada pĂ´de fazer senĂŁo abraçar a pequenina Lily em silĂŞncio. Assim que recobrou um pouquinho de alento, gritou para o Rei Branco, que estava sentado entre as cinzas, mal-humorado: — Cuidado com o vulcĂŁo! ‍ ŰŒâ€ŹŕĽ‹H YXOFÂĽR" ‍ ŰŒâ€ŹSHUJXQWRX R 5HL ROKDQGR D਎LWR SDUD D ODUHLUD FRPR se julgasse aquele o lugar mais provĂĄvel para encontrar um. — Ele‌me‌expeliu — arquejou a Rainha, que ainda estava um pouco sem ar. — Trate de subir‌ da maneira normal‌ nĂŁo se deixe expelir! Alice observou o Rei Branco transpor lenta e laboriosamente obstĂĄcuOR SRU REVWÂŁFXOR DWÂŤ TXH ŕ¨QDOPHQWH GLVVH
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— Ora, nesse ritmo vocĂŞ vai levar horas e horas para chegar em cima GD PHVD 6HULD PXLWR PHOKRU HX DMXGÂŁ OR QÂĽR ÂŤ" ‍ ŰŒâ€Ź0DV R 5HL QÂĽR WRPRX conhecimento da pergunta: estava perfeitamente claro que nĂŁo a podia ouvir nem ver. Diante disso Alice o apanhou com muita delicadeza e o ergueu muito mais lentamente do que erguera a Rainha, tentando nĂŁo lhe tirar o fĂ´lego. Mas, antes de opĂ´r na mesa, pensou que nĂŁo seria mĂĄ ideia dar-lhe uma espanadinha, tĂŁo coberto de cinzas estava. Mais tarde, contou que nunca em toda sua vida vira uma cara como a que o Rei fez ao se ver erguido e espanado no ar por uma mĂŁo invisĂvel. (OH ŕ¨FRX HVSDQWDGR GHPDLV SDUD JULWDU PDV VHXV ROKRV H VXD ERFD IRUDP ŕ¨FDQGR FDGD YH] PDLRUHV H FDGD YH] PDLV UHGRQGRV DWÂŤ TXH D PÂĽR GH Alice tremeu tanto com a gargalhada que ele quase caiu no chĂŁo. — Oh! Por favor, nĂŁo faça essas caretas, meu caro! — gritou, esquecendo por completo que o Rei nĂŁo a podia ouvir — VocĂŞ me fez rir tanto que mal FRQVLJR VHJXUÂŁ OR ( QÂĽR ŕ¨TXH FRP D ERFD WÂĽR HVFDQFDUDGD $V FLQ]DV YÂĽR entrar todas nela‌ pronto, agora acho que estĂĄ apresentĂĄvel! — acrescentou, enquanto lhe ajeitava o cabelo e o punha sobre a mesa ao lado da Rainha. 2 5HL WRPERX GH FRVWDV LPHGLDWDPHQWH H DVVLP ŕ¨FRX DEVROXWDPHQWH HVWÂŁWLFR 8P SRXFR DODUPDGD FRP R TXH ŕ¨]HUD $OLFH VDLX SHOD VDOD SDUD ver se conseguia encontrar um pouco de ĂĄgua para borrifar nele. Mas nĂŁo achou nada, a nĂŁo ser um tinteiro, e quando chegou de volta com ele viu que o Rei se recuperara e conversava com a Rainha em sussurros aterrorizados‌ tĂŁo baixinho que Alice mal pĂ´de ouvir o que falavam. O Rei dizia: ‍( ŰŒâ€ŹX OKH DVVHJXUR PLQKD FDUD ŕ¨TXHL JHODGR DWÂŤ DV SRQWDV GDV PLnhas suĂças! Ao que a Rainha respondeu: — VocĂŞ nĂŁo usa suĂças. — O horror daquele momento — continuou o Rei — eu nunca, nunca vou esquecer! — Vai sim, — a Rainha disse — a menos que faça uma anotação. $OLFH ŕ¨FRX REVHUYDQGR FRP JUDQGH LQWHUHVVH R 5HL WLUDU XP HQRUPH bloco de anotaçþes do bolso e começar a escrever. Ocorreu-lhe uma ideia de repente e segurou a ponta do lĂĄpis, que ultrapassava de algum modo o ombro do Rei, e começou a escrever por ele. O pobre Rei pareceu confuso e infeliz, lutando com o lĂĄpis por algum WHPSR VHP GL]HU QDGD PDV $OLFH HUD IRUWH GHPDLV SDUD HOH TXH ŕ¨QDOmente disse, resfolegando:
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‍ ŰŒâ€Ź0LQKD FDUD 5HDOPHQWH SUHFLVR DUUDQMDU XP OÂŁSLV PDLV ŕ¨QR 1ÂĽR estou tendo o menor controle sobre este; escreve todo tipo de coisas que nĂŁo pretendo‌ ‍ ŰŒâ€ŹŕĽ‹H WLSR GH FRLVDV" ‍ ŰŒâ€ŹSHUJXQWRX D 5DLQKD GDQGR XPD HVSLDGD QR bloco (em que Alice escrevera: “O Cavaleiro Branco estĂĄ escorregando pelo atiçador. Equilibra-se muito mal.â€?) — Isto nĂŁo ĂŠ uma anotação das suas sensaçþes! Havia um livro sobre a mesa, perto de Alice, e, enquanto observava o Rei Branco (pois ainda estava um pouco apreensiva com relação a ele, e pronta a lhe jogar a tinta, caso voltasse a desmaiar), folheou suas pĂĄginas, encontrando um trecho que nĂŁo conseguia ler — â€œĂŠ todo em alguma lĂngua que nĂŁo seiâ€?, disse para si mesma. Era assim:
་HEURX D FDEHŠD SRU DOJXP WHPSR PDV SRU ŕ¨P OKH RFRUUHX XPD ideia luminosa. — Ora, este ĂŠ um livro do Espelho, claro! E se eu o segurar diante de um espelho as palavras vĂŁo aparecer todas na direção certa de novo. Este foi o poema que Alice leu: PARGARĂ VIO Solumbrava, e os lubriciosos touvos Em vertigiros persondavam as verdentes; Trisciturnos calavam-se os gaiolouvos ( RV SRUYHUGLGRV HVWULJXLODYDP ŕ¤&#x;HQWHV ‍&ڨ‏XLGDGR Âľ ŕ¤&#x;OKR FRP R 3DUJDUÂŁYLR SULVFR 2V GHQWHV TXH PRUGHP DV JDUUDV TXH ŕ¤&#x;QFDP (YLWD R SÂŁVVDUR -ÂźEDUR H IRJH TXDO FRULVFR 'R IUXPLRVR &DSWXUDQGDP ‍ ڊ‏
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O moço pegou da sua espada vorpeira: 3RU GHORQJDGR WHPSR R IHUDJRQLVWD EXVFRX Repousou entĂŁo Ă sombra da tuntumeira, ( HP OÂźPEULRV UHठDQHLRV PHUJXOKRX Assim, em turbulosos pensamentos quedava ॊDQGR R 3DUJDUÂŁYLR RV ROKRV D UDLVOXVFDU 9HLR ठDPLVFXVSLQGR SRU HQWUH D PDWD EUDYD ( ERUEXOKDYD DR FKHJDU 8P GRLV 8P GRLV ( LQWHLUD DWÂŤ R SXQKR $ HVSDGD YRUSHLUD IRL SRU ŕ¤&#x;P FUDYDGD 'HL[RX R OÂŁ PRUWR H HP VHX URFLP FDWXQKR 7RUQRX JDORUIDQWH ¢ PRUDGD ‍ڨ‏0DWDVWH HQWÂĽR R 3DUJDUÂŁYLR" %UDYR 7H HVWUHLWR QR SHLWR PHX 5HVSOHQGRURVR • JORULDQGHL +RVDQD (VWÂŁV VDOYR ‍ ڊ‏ ( QD VXD DOHJULD HOH ULX SXUR JR]R Solumbrava, e os lubriciosos touvos Em vertigiros persondavam as verdentes; 7ULVFLWXUQRV FDODYDP VH RV JDLRORXYRV ( RV SRUYHUGLGRV HVWULJXLODYDP ŕ¤&#x;HQWHV — Parece muito bonito, — disse quando terminou — mas ĂŠ um pouco difĂcil de entender! (Como vocĂŞ vĂŞ, nĂŁo queria confessar nem para simesma que nĂŁo entendera patavina.) — Seja como for, parece encher minha cabeça de ideias‌ sĂł que nĂŁo sei exatamente que ideias sĂŁo. De todo modo, alguĂŠm matou alguma coisa: isto estĂĄ claro, pelo menos‌ Mas, oh! — pensou Alice dando um pulo de repente, — se nĂŁo me apressar vou ter de passar pelo espelho de volta sem ter visto como ĂŠ o resto da casa! Vou dar uma olhada no jardim primeiro. Saiu da sala como um raio e correu escada abaixo — ou melhor, nĂŁo se tratava exatamente decorrer, mas de uma nova invenção dela para descer escadas de maneira rĂĄpida e fĂĄcil, como dizia para si mesma: PDQWLQKD DSHQDV DV SRQWDV GRV GHGRV VREUH R FRUULPÂĽR H GHVFLD ਎XWXando suavemente, sem sequer roçar os pĂŠs nos degraus. Atravessou o YHVWÂŻEXOR DLQGD ਎XWXDQGR H WHULD VDÂŻGR SRUWD DIRUD GR PHVPR MHLWR VH
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Q┬еR WLYHVVH VH DJDUUDGR DR XPEUDO (VWDYD ринFDQGR XP SRXFR WRQWD FRP WDQWD риоXWXD┬й┬еR H VHQWLX VH EDVWDQWH VDWLVIHLWD DR VH YHU DQGDQGR GH novo da maneira natural.
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