Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira BIBLIOGRAFIA
BUENO, Alexei; TELLES, Augusto da Silva; Cavalcanti, Lauro. Patrimônio Construído: as 100 mais belas edificações do Brasil. São Paulo, Capivara, 2002. HOLLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo, Companhia das Letras, 1996. MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, Willian. Arquitetura no Brasil de Cabral a Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007. REIS, Nestor Goulart. Evolução Urbana do Brasil 1500/ 1720. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo, Pini, 2000. REIS, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 4 ed. São Paulo, Perspectiva, 1970. VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro, Objetiva, 2000.
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira Durante o período colonial, a arquitetura residencial urbana estava baseada em um tipo de lote com características bastante definidas. Aproveitando antigas tradições portuguesas, com residências construídas sobre o alinhamento das vias públicas e sobre os limites laterais dos terrenos. Não havia meio-termo; as casas eram urbanas ou rurais. Não se concebiam casas urbanas recuadas e com jardim. Os jardins são complementos relativamente recentes, introduzidos nas residências brasileiras somente no século XIX.
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Mesmo
os
palácios
dos
governadores, na Bahia, Rio de Janeiro e Belém, eram construídos no alinhamento das vias públicas.
Paço Imperial. Rio, 1743
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Este esquema envolvia a própria idéia que se fazia de via pública. Numa época em que as ruas ainda não tinham calçamento, nem havia passeios – recursos mais recentes de definição e aperfeiçoamento do tráfego – não seria possível pensar em ruas sem prédios (ruas sem edificações definidas por cercas eram as estradas). As ruas eram o traço de união entre conjuntos de prédios e por eles era definida espacialmente. Nesta época eram ainda desconhecidos os equipamentos de precisão de topografia e os traçados das ruas eram feitos por meio de cordas e estacas. Não poderiam ser mantidos por muito tempo se não fossem feitas edificações.
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A impressão de monotonia era ainda acentuada pela ausência de verde. Com a falta de jardins, acentuava-se a impressão de concentração, somente atenuada quando os galhos dos pomares derramavam-se sobre os muros.
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A uniformidade do terreno correspondia à uniformidade dos partidos arquitetônicos: as casas eram construídas de forma uniforme e, em certos casos, essa padronização era fixada em Cartas Régias ou em posturas municipais. Dimensões e números de aberturas, altura dos pavimentos e alinhamentos com as edificações vizinhas foram exigências correntes no século XVIII. Revelam uma preocupação formal cuja finalidade era manter o aspecto português nas vilas brasileiras.
Recife. Pernambuco
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As repetições não se davam somente nas fachadas, mostrando que os padrões oficiais apenas completavam uma tendência espontânea, as plantas, deixadas ao gosto dos proprietários apresentavam sempre uma grande monotonia. As salas de frente e as lojas aproveitavam as aberturas sobre a rua, ficando as aberturas dos fundos para a iluminação dos cômodos de permanência das mulheres e locais de trabalho. Entre estas partes de iluminação natural ficavam as alcovas, destinadas à permanência à noite, onde dificilmente penetrava a luz natural. A circulação se dava por um corredor longitudinal que conduzia da porta de entrada aos fundos. Esse corredor era central (nas casas maiores) ou encostado a uma das paredes laterais (nas casas menores).
1. 2. 3. 4. 5. 6.
Loja Corredor de entrada independente da loja Salão Alcovas Sala de estar ou varanda Cozinha e serviços
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As técnicas construtivas eram primitivas. Nas casas mais simples as parede eram de pau-a-pique, adobe ou taipa de pilão. Nas casas mais importantes empregava-se pedra e barro, tijolos ou pedra e cal. As coberturas eram em telhados de duas águas, lançando parte das águas de chuva sobre a rua e outra para o quintal. Evitava-se, deste modo, o uso de calhas ou qualquer sistema de captação e condução de águas pluviais.
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A construção sobre os limites laterais, alinhada às casas vizinhas protegia as empenas e garantia a estabilidade.
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A simplicidade das técnicas aplicadas denunciava o primitivismo tecnológico do período colonial: abundância de mão-de-obra proporcionada pela presença do escravo, mas ausência de aperfeiçoamentos. O uso da construção também se baseava no trabalho do escravo. É ele quem traz a água das fontes públicas e transportam o esgoto (os tigres) e o lixo. A ausência de equipamentos adequados nos centros urbanos pressupunha a presença do escravo. Somente em 1920 a população do terceiro mundo ultrapassou a do 1º mundo. Grande parte dessa alteração deve-se ao saneamento das cidades da América do Sul, África e Ásia.
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Os principais tipos de habitação eram o sobrado (dos ricos) com piso assoalhado e a casa térrea de chão batido (dos pobres). Os pavimentos térreos dos sobrados, quando não eram ocupados por lojas deixavam-se para acomodação dos escravos e animais, ou ficavam vazios sem ser usados pelas famílias dos proprietários.
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Os exemplares mais ricos acentuavam esta tendência: maiores dimensões, maior número de peças, sem chegar a caracterizar um tipo distinto de habitação.
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Outras variaçþes correspondiam ao aparecimento de åguas furtadas ou camarinhas. Mesmo assim, colocados de forma a evitar a necessidade de rufos ou calhas.
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Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira As variações mais importantes apareciam nas casas de esquina.
Solar Ferrão. Salvador, 1690
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira Solar Ferrão. Salvador, 1690
As duas portadas do Solar Ferrão trazem respectivamente as datas de 1690 e 1701, ao que tudo indica assinalando o início e a conclusão da obra. Situado na encosta da Sé, no bairro do Maciel, em terreno de forte declive, possui três pavimentos na fachada principal e seis na parte posterior, além de um porão.
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Dos mais extraordinários exemplos da arquitetura civil seiscentista no Brasil, esse solar exibe, na portada mais recente, magnífica porta almofadada, tudo coroado por frontispício com o brasão dos Maciel entre duas volutas. A portada mais antiga traz também frontispício com volutas, com uma cartela encimada por uma cruz no meio. Solar Ferrão. Salvador, 1690
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Há também a hipótese de o atual solar ter resultado da fusão de duas casas, daí se justificando a ausência de portada central em lugar das duas laterais. Das mãos da família Maciel passou aos jesuítas, que nele instalaram o Seminário de Nossa Senhora da Conceição em 1756. Com a expulsão dos mesmos três anos depois, foi incorporado aos bens da Coroa, e finalmente leiloado.
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira Paço Imperial. Rio, 1743
Em obediência à ordem régia de 27 de novembro de 1731, Gomes Freire de Andrada, Conde de Bobadela, mandou edificar a casa de residência dos Governadores, no antigo terreiro do Carmo, sucessivamente denominado do Paço, de Dom Pedro II, atual praça 15 de Novembro. A residência foi inaugurada em 1743. O responsável pelo projeto foi o Brigadeiro José Fernandes Pinto, fundador das "Aulas de Teoria da Artilharia e Fogos Artificiais" e autor de tratados de engenharia dos artilheiros e dos bombeiros e de outros projetos de edificação.
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A extensa construção - ocupava toda uma quadra - apresentava-se com dois pavimentos e ladeava a praça, contrapondo-se aos prédios de residência dos Teles de Menezes, planejados pelo mesmo arquiteto. O antigo convento dos carmelitas formava fundo de composição a esse conjunto. Paço Real em 1808, depois Imperial, foi palco dos mais importantes fatos do período monárquico, tal como a assinatura da Lei Áurea em 1888. Por ter sediado o Departamento dos Correios e Telégrafos, sofreu obras de porte que o descaracterizaram. Em 1982, foi transferido para a Fundação Nacional Pró-Memória, a fim de funcionar como espaço cultural. Paço Imperial. Rio, 1743
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A edificação apresenta fortes cunhais de cantaria, e tinha o telhado com três corpos justapostos ao centro da fachada principal, imponente portada de lioz interessa à janela central do sobrado e culminava em elegante brasão, hoje inexistente. Ladeando esse elemento central e prosseguindo pelas demais fachadas, janelas de púlpito com bacias de cantaria e fortes guarda-corpos elegantes de ferro forjado localizam-se no andar nobre, o sobrado às quais corresponde, no térreo, iguaI número de janelas e portas de feição mais modesta. As vergas arqueadas das janelas do sobrado são acentuadas por sobrevergas de alvenaria. O aspecto primitivo dessa edificação pode ser conhecido pela pintura atribuída a Leandro Joaquim, propriedade do Museu Histórico e por gravura existente no livro de John Mawe. A entrada principal abre-se na fachada voltada para a baía com portada ladeada por colunas e encimada por frontão curvo rompido ao centro e ligado à janela rasgada central do sobrado. Essa portada dá acesso a uma galeria coberta que atravessa o prédio lateralmente e que, através de arcos abatidos, abre-se para o pátio de honra, em cujo final uma portada rococó dá passagem à escada de dois lanços, acesso ao andar nobre do Paço. Paço Imperial. Rio, 1743
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira Casa do Engenho d’água. Jacarepaguá – Rio RJ (séc. XVIII)
Solução preferida das famílias abastadas, a chácara denunciava, no seu caráter rural, a precariedade das condições do meio urbano. O principal problema que solucionavam era o do abastecimento. Durante todo o período colonial as tendências monocultoras do nosso mundo rural contribuíram para a existência de uma permanente crise no abastecimento das cidades. As casas urbanas resolviam em parte este problema com a criação de pequenos animais e o cultivo da mandioca ou outro legume.
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira Fazenda Colubandê. São Gonçalo – RJ (1760)
Soluções mas satisfatórias eram porém conseguidas nas chácaras, que aliavam ainda as vantagens da presença dos cursos dágua, que substituíam os equipamentos hidráulicos inexistentes nas residências urbanas. Por tais razões morar nas chácaras tornara-se característica de pessoas abastadas que utilizavam as casas urbanas somente em ocasiões especiais. Mesmo funcionários mais importantes e comerciantes abastados, acostumados ao convívio social característico de suas atividades, cuidavam de adquirir chácaras ou sítios afastados, para onde transferiam suas residências permanentes.
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O afastamento espacial não significava desligamento dos centros urbanos, mas medida de conforto. A atividade econômica que exerciam caracterizava-os como participantes da economia urbana. As cidades menores chegavam a apresentar aspectos desoladores: “ como em toda cidade do interior do Brasil, a maioria das casas fica fechada durante a semana, só sendo habitada nos domingos e dias de festa” Sain Hilaire sobre Taubaté, em 1882.
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Apoiando-se no trabalho escravo e no mundo rural circundante, e sob a dominação política econômica e cultural do mundo europeu, nossos núcleos urbanos eram dependentes e insuficientes para resolverem seus próprios problemas. Somente tendo em vista esses fatores, podemos compreender como puderam funcionar em níveis tecnológicos tão primários.
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira EXEMPLARES PORTUGUESES - Lisboa
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira EXEMPLARES PORTUGUESES - Lisboa
Lote Urbano e Arquitetura Colonial Brasileira EXEMPLARES PORTUGUESES - Lisboa