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Dezessete anos, morta e encarregada dos ceifadores negros ansiosos para matar alguÊm. Sim, sou eu, Madison, a timekeeper negra, sem qualquer noção disso.
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GLOSSÁRIO
Ceifadores negros: Ceifadores que Kairos manda para matar pessoas quando seu futuro provável mostra que elas tomarão decisões contrárias ao grande esquema do destino (para aqueles que leram a tradução 'oficial', são os chamados 'agentes da morte'). Ceifadores brancos: Ceifadores que Ron manda para salvar essas pessoas de uma morte prematura, para assegurar o direito da humanidade ao livre arbítrio ('anjos da morte', na tradução 'oficial'). Juízes: Tanto os ceifadores brancos quanto os negros tem seus próprios juízes. Cada um é responsável por observar as fibras do tempo para determinar quando uma pessoa deve ser gadanhada – ou salva. Amuleto: Um colar com algo parecido com uma pedra, que torna possível se comunicar além da esfera terrestre. Cada amuleto tem sua própria aura ou música que combina com seu dono. Asas negras: Criaturas que se alimentam das almas daqueles mortos por ceifadores negros, tipicamente aparecendo antes que uma gadanhada aconteça. Na maior parte de tempo eles não são notados pelos vivos, mas podem lembrar corvos quando uma alma está em perigo.
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PRÓLOGO
Dezessete anos, morta e encarregada dos ceifadores negros ansiosos para matar alguém. Sim, sou eu, Madison, a timekeeper negra, sem qualquer noção disso. Não foi exatamente como eu imaginava minha colação, que foi em estragar meu baile de formatura á morrer no fundo de um barranco. Eu sobrevivi a minha morte por roubar o amuleto do meu assassino. Agora é a minha responsabilidade enviar um ceifador negro para o fim da existência terrena de uma pessoa. A ideia é salvar sua alma à custa de sua vida. Destino, os serafins diriam. Mas eu não acredito em destino, eu acredito na escolha, o que significa que eu estou no comando das próprias pessoas que lutaram contra. Os serafins estão confusos sobre as mudanças que eu estou tentando fazer no sistema que eu não acredito, mas eles estão dispostos a me dar uma chance. Pelo menos, essa é a teoria. A realidade é um pouco mais complicada...
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UM
O carro estava quente do sol, e eu esquivei dele covardemente, excitação correu em camadas sobre a minha pele como uma segunda aura. Curvada e furtiva, eu segui Josh no primeiro dia de aula. De jeans e camisa dobrada ele passou pelo estacionamento em direção a sua caminhonete. Sim, era o primeiro dia de escola, e sim, nós estávamos cabulando, mas não era como algo que ninguém nunca fez nos primeiros dias. Além disso, eu pensei: os serafins que me perdoem, era uma de suas almas marcadas que eu estava indo para tentar salvar. Josh virou para mim exatamente como parou, agachado atrás de um Mustang vermelho, ele jogou seu cabelo loiro para frente de seus olhos e sorriu. Era óbvio que essa não era sua primeira vez cabulando. Não foi a única vez que eu abandonei a escola também, mas eu nunca tinha feito isso com uma legião. Sorri de volta, mas como o olhar de Josh foi para trás, seu sorriso desapareceu. — Ela vai nos pegar, — ele murmurou.
8 Com meu tênis amarelo com cadarços de crânios e ossos cruzados no chão, eu me virei para olhar. Barnabas foi devidamente escondido entre os carros, seus olhos escuros, sério e sua expressão desagradável. Nakita, no entanto, foi casualmente caminhando, balançando seu braço em sua perfeição absoluta, ela estava vestindo uma das minhas calças jeans e um dos meus tops curtos, caindo melhor nela do que em mim, com seu cabelo escuro brilhante e suas unhas pretas brilhando ao sol glorioso. Ela não tinha pintado, era natural. Normalmente eu odeio Nakita, com os seus olhares perdidos, mas a ceifadora negra não tem ideia de como ela era bonita. Hesitando em agachar perto de mim, Barnabas franziu a testa e o cheiro de penas e girassois estava saindo dele, ele estava disfarçado de estudante em um jeans desbotado preto e uma camiseta mais desbotada ainda de banda, ele tinha caído duas vezes: primeiro quando ele foi expulso do céu, milênios atrás, e agora por ter mudado de lado no meio da guerra do céu.
— Nakita não tem a menor ideia de como fazer isso, — resmungou o ceifador, afastando seu cacho castanho de seus olhos. Os dois tinham estado em lados opostos da guerra do céu, e não demorou muito para lutassem fora de si. Eu me encolhi, acenando para Nakita se abaixar, mas ela simplesmente continuou andando. Nakita foi minha guardiã oficial, cedida a mim pelos serafins. Tecnicamente, como a Timekeeper1 Negra, eu era chefe dela, embora em todas as coisas terrenas, ela era a esperta; ela sabia o meu trabalho e o que eu deveria estar fazendo, o problema era que eu não queria fazer isso a caminho do céu, eu tinha outras ideias. — Abaixa, sua idiota! — Barnabas chiava, e a menina delicada, bela e mortal olhou para trás confusa. Sobre o ombro estava a bolsa que eu dei para ela esta manhã, para completar o seu look e combinando com suas sandálias vermelhas, estava absolutamente vazia, mas ela insistiu em levá-la porque pensou que isso a ajudava a se misturar. — Por quê? — Disse ela enquanto ela se aproximava. — Se alguém nos parar, eu vou simplesmente bater. 1
Controlador do tempo ou cronometrista.
9 Bater? Eu pensei, estremecendo. Ela não tinha estado na terra por muito tempo. Barnabas se adaptou melhor, tendo sido expulso do céu antes das pirâmides serem construídas, porque ele acreditava na escolha e não no destino, mas Nakita havia me dito que havia rumores que ele tinha se apaixonado por uma garota humana. — Nakita, — eu disse, puxando-a quando ela chegou perto, e ela obedientemente abaixou, balançando o cabelo. — Ninguém usa essa palavra mais. — É uma palavra perfeita, — disse ela, indignada. — Talvez você pudesse tentar bater nas pessoas ao invés disso? — Josh sugeriu Barnabas franziu a testa. — Não incentiva, — ele murmurou. — Nós devemos ir, — disse ela, olhando em volta. Se você não conseguir tratar de fazê-lo escolher um caminho melhor, antes que Ron envie um ceifador branco para mantê-lo vivo, eu vou tomar sua alma para salvá-lo. Com isso, Nakita começou a andar para a caminhonete de Josh. A barbaridade do que eu estava tentando fazer caiu sobre meus ombros. Eu era a nova timekeeper negra, mas ao contrário dos guardiões negros que vieram antes de mim, eu não acredito em destino, eu acreditava na escolha. A situação toda era uma grande piada cósmica desde o dia em que morri. O antigo Timekeeper Negro pensava que matando o seu substituto anunciado (ou seja, eu), ele seria imortal. Ninguém sabia quem eu era até que fosse tarde demais para mudar qualquer coisa, e eu fui presa ao trabalho até que pudesse encontrar meu corpo real e quebrar o vínculo com o amuleto que mantinha eu viva sem ele. Josh levantou-se, olhando na entrada do estacionamento através das janelas do Mustang. — Vamos lá. Vamos à caminhonete antes que ela tome o lugar da frente. Eu não estou dirigindo com sua arma. E mantendo os joelhos dobrados, ficou atrás dela.
10 Barnabas era muito melhor nessas coisas de salvação do que eu, pois sabia como usar seu amuleto e tinha experiência em encontrar pessoas marcadas por uma morte precoce, a fim de salvá-los de ceifadores como Nakita. Ele ter mudado de lado para ficar comigo era tão estranho, tanto como eu ser a escolhida para ser a nova timekeeper negra, talvez ele estivesse comigo pela culpa de não me manter viva, quando eu tinha sido alvo para a morte. Talvez, tenha sido por raiva de seu antigo chefe, Ron, o timekeeper branco que havia mentido para nós dois em sua busca pela supremacia, ou pode ser que Barnabas sabia as respostas para a traição de Ron, pensei. Seja qual for o motivo, eu estava contente que Barnabas estava aqui. Nós não concordamos com a filosofia do céu de matar alguém antes que fique mal, mas se eu tivesse sido predestinada a me tornar a nova timekeeper negra, eu poderia ter feito muito pior do que ganhar a lealdade de Barnabas. Nakita não confiava nele e achava que ele era um espião. — Ow, gente ?! — Josh disse, e eu congelei quando eu segui o seu olhar para o carro de polícia estacionado diante da escola. Ok, eu sei, estava morta, mas tente dizer isso para a minha mente, ela pensa que eu estava viva e com a ilusão tátil de um corpo quem sou eu para dizer que é diferente? É embaraçoso, se eu estava simplesmente sentada, nada. Mas o minuto em que ficava animada, vinha a memória de meu pulso. Era tão injusto que eu tinha que lidar com toda a porcaria física de estar com medo quando eu já estava morta, mas pelo menos eu não ia suar mais. Minhas costas foi pressionada contra o carro em que estávamos escondidos. Ao meu lado, Josh parecia preocupado. — É a policial. Você acha que ela nos viu? — Sussurrei. É simplesmente estupendo, já estávamos no radar da mulher. Ela tinha me seguido ao hospital quando Nakita tinha matado Josh há quase duas semanas atrás, sim, ela tinha o ferido, mas apenas pela metade. Eu não diria que os dois são amigos, mas pelo menos ela não estava tentando matá-lo mais uma vez. Agachada diante de mim, Nakita começou a se levantar, — vou ate ela, — disse Nakita.
11 — Não! — Tanto Barnabas, quanto eu gritamos, puxando–a para trás e para baixo. Josh foi observar através das janelas. — Ela está indo. — Presentes de cachorrinhos no tapete! — como eu vou salvar a vida de um cara se eu não posso nem sair de um estacionamento do colégio. Eu disse aos serafins, que se eu pudesse falar com ele, o marcado, ele teria que fazer uma melhor escolha e não teria que morrer para salvar sua alma. Esta foi provavelmente a minha melhor chance de provar que minhas ideias pudessem ser trabalhadas. Eu não quero perder a oportunidade chegandop muito tarde na festa. E não ia estragar tudo porque estava na detenção e depois trancada no meu quarto quando meu pai descobrisse. Meus dedos estavam rodeando meu amuleto, e minha preocupação ficou mais forte. Eu deveria poder parar o tempo com a pedra preta em seu centro, ficar invisível, e fazer todos os tipos de coisas, mas a última vez que tentei algumas experiências, eu tinha quase me destruído. Mas se eu não fizesse alguma coisa... Barnabas colocou a mão em torno da minha, nós dois estávamos segurando a pedra brilhante preta que me deixava viva, e eu virei para ele, piscando com surpresa. — Eu vou cuidar disso, — disse ele, a compaixão em seus profundos olhos castanhos. Meus lábios entreabertos, e eu acenei com a cabeça. Eu não tenho que fazer isso sozinha. Ele e Nakita estavam aqui para ajudar até que uma hora eu poderei fazer as coisas sozinha. Vendo a minha gratidão, sorriu e sua mão escorregou da minha enquanto ele permanecia. — Você? — Nakita disse... — Se alguém fará alguma coisa, serei eu! Josh suspirou. — Lá vão eles de novo.
12 Barnabas se irritou, mas seus olhos se arregalaram quando ele olhou para trás. Eu fiquei com uma estranha secura na garganta quando vi a policial com as mãos nos quadris e a decepção em sua expressão. — Não é um pouco cedo para uma viagem de campo? — perguntou ela. Ela parecia muito jovem para ser um policial, mas a severidade em seus olhos exigia um respeito que ia além de seu corte de cabelo e estatura média. — Policial! — Eu disse, sentindo-me tola como quando eu tinha colocado minha saia: ela era negra, com caveiras e ossos cruzados na bainha. Combinou com meus sapatos. E com as calças pretas, as roupas estavam ali, porém eu não. — Uau, é bom vê-la novamente. Eu não sabia que você era atribuída aqui, — disse. Minha voz morreu, e ninguém disse nada enquanto ela olhava para cada um de nós, por sua vez. — Ah, nós fomos ficando aqui fora na caminhonete de Josh, — eu menti, olhando para ela, dois metros de distância. Merda. Ela ergueu as sobrancelhas e colocou as mãos na cintura. — Josh, Madison... e vocês dois são...? — perguntou ela. — Barney, — disse Barnabas, não olhando para cima com os olhos prateados. Ele tinha dado o nome que eu usei quando eu estava louca para que ele me dissesse que estava marcada. — E você, mocinha? — Nakita — disse corajosamente a ceifadora negra, se preparando para usar seu amuleto. — Ela é minha irmã, — Barnabas disse, puxando-a, no que a policial, pensaria ser um abraço lateral, mas eu sabia que era uma advertência para ela se comportar. O problema era que os dois estavam como mestre, pensei. E isso só ficou pior quando ela o empurrou.
13 — Estamos sendo transferidos para a Dinamarca — acrescentou ele e eu o olhei com surpresa. Eu pensei que era a Noruega... — Eles vão ficar comigo, — eu acrescentei. A Policial pareceu relaxar, aparentemente satisfeita com a nossa expressão abatida. — Você está indo para a condicional se você puxar isso novamente, — disse ela, ficando atrás de nós e apontando para a escola. — Para dentro, todos vocês. Eu não darei um puxão de orelha no primeiro dia de escola. Vamos, — ela disse nos conduzindo à frente dela, e um a um, começamos a caminhar. — Desculpe — Josh murmurou, mas se ele estava falando comigo ou com a policial, eu não sabia. Decepção escorregou para dentro de mim, marcada com o desespero. Meu cabelo escorregou para parte de trás do meu pescoço e foi quando ouvi a policial atrás de mim. Nós não estamos indo calmamente, estamos nós? Eu pensei, mas o sorriso manhoso que eu peguei de Barnabas, quando eu olhei para ele me trouxe uma certeza por antecipação. — Continue andando — ele disse, em seguida puxou o braço de Nakita, para trazêla com Josh e eu. Eu não podia deixar de sorrir para a sua queixa abafada e como Barnabas colocava a cabeça ao lado dela e a convencia a não ferir a mulher. — Eu vi o que você estava indo fazer, — disse ele, sua mão sobre o seu amuleto, uma vez que começou a brilhar um demasiado verde. É usado para ser vermelho rubi, mas desde que ele abandonou seu status de ceifador branco, ele tinha se deslocado no espectro para grande vergonha de Barnabas.
14 — Impacto com isso, ela tem a sutileza de um rinoceronte Nakita — acrescentou ele. — Você precisa aprender a arte de minimização. Basta prestar atenção. Então, mais suave, para mim, Barnabas sussurrou: — Madison, começa a ficar para trás até a policial caminhar a direita atrás de você. — Josh, me desculpe, não posso cobri-lo. A mulher tem de ter alguém dentro, o melhor que posso fazer é retorná-lo, assim você não fica em apuros. Josh suspirou, olhando para mim, ele pegou minha mão: — Eu vejo vocês mais tarde — disse ele baixinho, sua expressão um tanto infeliz e resignada. — Eu sabia que era bom demais para ser verdade. Meus dedos deslizaram do seu, e eu estremeci. — Pega minhas tarefas para mim? — Sim. Vou passar na sua casa depois da escola. Tem o meu número? Eu toquei meu bolso, sentindo o celular: — Sempre — eu disse, e fiz um som de humf para a Nakita que não compreendeu tudo. A maioria das coisas era lógica para ela. Essa era a diferença entre ela e Barnabas, para todos os efeitos, ele era governado por seu coração. Senti como se estivesse afundando em sujeira por deixar Josh, mas o que mais eu poderia fazer? Lentamente, comecei a aliviar o meu ritmo, até que Nakita, assim como Barnabas voltaram a andar comigo, até Josh continuar à frente de nós, de cabeça baixa e as mãos nos bolsos. Eu segurei minha respiração e desloquei para o lado, deixando a policial continuar andando para a direita. Barnabas cutucou meu cotovelo e então eu parei. A outra mão foi em torno de seu amuleto, e seus olhos eram de prata no que ele tocou no divino, alterando memórias da policial para não incluir a gente. Isso era uma
15 tarefa menor, mas eu acho que ambos foram relutantes a me ensinar o que eu devo fazer com ele. Claro, eu era a sua chefa, mas eu tinha começado o trabalho sem a aprendizagem ao longo da vida e disciplina que geralmente foram antes deles. Eu estava entre os carros, e assisti incrédula como a policial pareceu esquecer tudo sobre nós, acompanhando Josh voltar para a escola como se fosse o único que ela tinha visto. Ceifador mágico, você tem que amar ele. — A mulher vai se lembrar, — Nakita disse com um acesso de raiva, balançando os quadris e assistindo também. — Você usou pouco do divino que a falsa memória não vai durar. — Ela vai ficar tempo suficiente para nos deixar, e isso é tudo que precisamos. — Com Josh claramente esquecido, Barnabas tomou o meu cotovelo e me levou para o campo à beira do estacionamento, mas meus olhos estavam na escola atrás de nós e nas janelas abertas. — E quando ela volta a olhar e ela não encontrar nada, então não haverá dúvidas. Uma semana a partir de agora, ela não vai se lembrar porque será mais fácil para ela esquecer. Uma semana, eu pensei, esperando que ele não estivesse cometendo um erro. Eu tinha pensado que seria mais demorado do que isso. Nakita, também parecia convencida. Eu não poderia ajudar, mas me sinto estranha andando entre dois anjos, uma negra e outro branco como se eu estivesse de alguma forma relacionada com todo o passado que tinha me acontecido e o futuro que ainda está para ser. Se eu não tivesse conhecido a escola que estava atrás de nós eu poderia ter andado no Éden... Nakita olhou para o céu e sacudiu os cabelos para trás. Um sorriso tão bonito que doía veio sobre ela, estendeu-lhe os braços para os céus, as asas gloriosa, suas gloriosas asas de plumas negras, asas impossivelmente grandes, se mostraram, brilhando ao sol. Ceifadora negra, asas escuras. Preocupada eu olhei para a escola, quando voltei, Barnabas tinha aberto suas asas também. Suas asas eram brancas, e eu perguntei se ele iria eventualmente mudar de cor como seu amuleto tinha mudado. Eu tinha menos de vinte e quatro horas para tentar ajudar alguma alma sem nome que estava prestes a encontrar-se no centro de uma luta por sua própria vida. E nós, eu
16 pensei quando Barnabas envolveu um braço em volta da minha cintura e eu passei para trás de seus pés para que ele pudesse me levar para o ar, somos os únicos que podem salválo. Estávamos ambos trazendo a salvação dele e de sua morte... porque se eu não pudesse convencer ele para fazer uma escolha diferente, Nakita ia matá-lo.
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DOIS
Fort Banks Mall
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foi como uma onda fresca. Eu podia sentir o calor do sol
deixando-me, fiquei esperando no balcão de informações com Barnabas e Nakita, que estavam tendo uma discussão, calaram-se apenas no interior das portas de vidro duplo. Grace, meu ex-anjo da guarda, agora virou mensageira, estava zumbindo em algum lugar, acima de mim. Uma bola de softball3 brilhante de luz tinha juntado-se a nós quase tão rapidamente como se tivéssemos nos transportados, e foi com a ajuda dos serafins que tínhamos encontrado esta pequena cidade no meio do milharal. Eu realmente só tinha visto Grace nas poucas vezes em que eu me dissociava do meu amuleto e isso quase me matou para o bem, aliás.
Embora pequena, ela era bonita, com um rosto muito brilhante para olhar, na maioria das vezes, ela aparece como uma névoa de luz incandescente, como o tipo de pontos que você começa às vezes ver em fotografias. Isso era exatamente como ela aparecia nos filmes, e era a única maneira de um ser humano normal saber que ela estava por perto. Eu podia ouvi-la. Meus ceifadores podiam também, mas os seres humanos não podiam. Sortudos eles. — Era uma vez uma garota timekeeper — Grace cantou alegremente quando ela desceu para mim, aborrecida com os ecos no teto. — Quem não concordar com seu ceifador, então, ela combate a boa luta, pensando na escolha, só pode pegar o cara mau por pensar um pouco mais. 2
Nome de algum shopping
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— Obrigada, Grace. — eu disse ironicamente. Ela se iluminou, seu riso soava como água caindo. Grace gostava de seu novo trabalho de mensageira, que ela tinha ganhado quando eu dei-lhe um nome. Eu lhe concedi a promoção por acaso, não sabendo que os nomes tinham tanto poder no reino angelical. Eu acho que os serafins atribuíram ela para mim como punição, mas eu a teria de qualquer forma, por castigo ou não. — O que há com os ceifadores? — perguntou ela, invisível quando desceu em cima da lata de lixo ao meu lado. Quando suas asas pararam, estava brilhante. — Faz um ceifador negro, trabalhar com um ex–branco para você ver se não vai ter problemas. Eu disse, suspirando, encostei-me ao diretório e esperei. Minha mão percorria o meu amuleto e, em minha cabeça, eu alcancei para fora o divino para deformar a luz ao redor da pedra preta. Como mágica a pedra lisa desapareceu, embora ainda conseguisse sentir o seu peso na minha mão, com isso, fazendo meu amuleto desaparecer, foi uma das primeiras coisas que a Nakita havia me ensinado, algum dia eu ia conseguir mudar sua forma,, mas agora era só isso que eu poderia fazer. As asas de Grace apareceram borradas ante minha vista por causa da minha ―habilidade‖ e em seguida, desapareceu. — Pelo menos eles estão falando. — Eles não estão falando, eles estão discutindo, — disse. Isso ia ser mais difícil do que eu pensava se estávamos indo para uma ―discussão mortal‖. Nós estávamos aqui, era tempo de começar a olhar para a marca.
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Jogo igual ao baseball
19 — Você não achou que mudar o céu e a terra ia ser fácil, não é? — Grace perguntou franzindo a testa. — Seria mais fácil se eu pudesse fazer um relampejo nas linhas de tempo e vir o futuro, — reclamei. — Dê uma chance, — Grace disse secamente. — Você danificou seriamente o seu amuleto quando você se desassociou. Estremeci com o seu tom de acusação. Ela me disse para não fazê-lo, e eu ignorei. Tendo feito isso me salvou, mas até o meu amuleto ficar em si..., diria aos serafins que seria a leitura de linhas do tempo e enviar os meus ceifadores negros para matar pessoas. Serafins poderem ler as linhas do tempo foi uma pergunta feita para mim mesma. Podem fazê-lo, mas eles tinham uma dificuldade para separar passado de futuro, e isto era uma razão para timekeepers serem humanos. Timekeepers humanos, que, neste caso, seria eu também, permite flexibilidade ao longo dos milênios, uma forma do céu dar um jeito de adaptar os seres humanos perfeitamente e assim mudando sua relação com a vida, o universo e tudo mais. As gadanhas4 tomavam um rumo que eu não sabia, e isso me incomodou... Os serafins sabiam que eu queria mudar as coisas, e eu não podia ajudar, mas sinto como se eu tivesse sido dada esta gadanha como um julgamento. Se eu não pudesse pegar esse cara para ter uma nova escolha e tomar uma decisão diferente, como eu poderia esperar para buscar os meus ceifadores negros? Vendo-me deprimida, Grace pairou perto. — Não se preocupe, — ela acalmava. — Não vai demorar muito e você estará lendo as linhas do tempo. Eu acho que você já está fazendo isso de forma inconsciente. Seu instinto de parar no shopping foi uma boa. Eu não sabia que ele estava aqui.
— É ele? — Eu perguntei, e ela se animou, levantando quando Barnabas e Nakita finalmente chegaram a um acordo e vieram ao nosso encontro.
20 Talvez ela estivesse certa. Houve umas leves cócegas na minha mente como se tivesse sobrevoado o shopping, tendo a sensação de que estava sendo observada. Quando eu mencionei a Barnabas, ele imediatamente inclinou-se para o estacionamento. Ele tinha me dado um impulso de confiança, mas agora, como eu olhava para o lugar, eu me perguntava se tinha sido um verdadeiro sentimento ou simplesmente estava querendo colocar meus pés de volta na Terra. O shopping não parecia muito promissor. Era segunda-feira, por isso não havia muitas pessoas, principalmente as mães arrastando os filhos para loja de roupas das escolas, ou crianças arrastando suas mães para a mesma coisa. — Você acha que Josh está bem? — Eu perguntei para Grace, com a minha camisa de manga curta, vermelha e preta marcada. Se eu soubesse que eu estava indo a uma saga de prevenção esta manhã, eu teria usado algo um pouco mais desgastado. — Ele vai ficar bem, — disse Grace quando Barnabas veio entre nós. Os passos de Nakita eram precisos, e claro, ao ver seu desleixo ela perdeu um pouco de sua postura ereta, ainda tentando se encaixar, ela olhou as meninas no quiosque. — Assim, Grace — Barnabas disse sem rodeios: — Tem certeza que os serafins não podiam dar-lhe mais nada sobre esta marca? Eu suspirei. Marca. Isso era como os ceifadores chamavam as vítimas em potencial. Como se eles não fossem nada além de uma marca em uma lápide. Nakita sorriu, jogando os cabelos para trás e sorrindo para a neblina redonda que era Grace. A mensagem original, que havia começado fora da escola tinha sido só para ela, mas Barnabas tinha escutado. — Qual é o problema, Barnabas? Não há informação suficiente para você? Eu pensei que você era bom com isso. — Foi positivamente traiçoeira, e eles começaram a ir um pra cima do outro novamente, mandei o meu olhar errante. Um grupo de rapazes pela loja de revista havia nos notado, Nakita, ou melhor, sua barriga mostrada em flashes, enquanto Barnabas palestrava sobre a supremacia Serafim. Dando meia volta, me afastei para sentar numa das mesas vazias. A praça de alimentação me fez sentir bem, mas eu não poderia fazer isso por sentir. Eu tinha que saber. Não é uma palavra muito comum. Significa “Golpe da Gadanha”, que é aquele objeto usado pela Morte para coletar as almas das pessoas. A popular “foice”. 4
21 Imediatamente seus argumentos soaram distante de mim e eu ouvi que eles começaram a me seguir. Grace foi favorecê-los com um de seus poemas sobre — o ceifador lutou, com todas as suas forças, até que seu dono se fez deixar para trás. — Honestamente, eu estava prestes a fazer isso. Eles não estavam ajudando em nada. Encontrando uma mesa que estava mais ou menos limpa, arrastei uma cadeira para sentar de costas para as portas. Calados finalmente, os dois ceifadores tomaram seus lugares ao meu lado. Nakita colocou a bolsa vazia no colo, nervosamente dedilhando seu amuleto, enquanto observava as meninas em um quiosque. Sua expressão estava preocupada, não por causa do meu estado de espírito, mas porque as meninas eram góticas ao máximo, em preto e rendas, e ela estava vestindo uma camisa vermelha. Barnabas estava carrancudo e tinha má postura, mas mesmo com os cabelos crespos tinha uma boa aparência. — Grace, — perguntei, querendo saber como me tornaria a cabeça fria do círculo. — O que exatamente os serafins descreveram? Desta vez, os ceifadores ficaram quietos, e a anja mensageira desceu para a mesa, sua névoa desapareceu quando ela chegou a um descanso. — Nada demais, — disse Grace, sua voz etérea que parece inserir-se na minha mente. — Serafins não são muito bons em dar descrições físicas. Além da localização da cidade, sei que ele é bom com os computadores. Recostada na cadeira de plástico, eu mentalmente cruzei o caminho do cara no quiosque que estava lendo a revista Guns & Ammo5. — Os serafins nunca disseram que era um nerd — Barnabas disse secamente. Nakita arrepiou. Sua mão caiu de seu amuleto, e levantou as sobrancelhas quando eu vi que a pedra cinza tinha formado uma cruz gótica. — Os serafins disseram que um vírus de computador está sendo liberado em uma escola como uma brincadeira, — ela disse 5
Armas e munição
22 para mim quando olhou para ele. — Eu diria que é bom com os computadores. É quando o vírus entrar no hospital local que as pessoas começam a morrer. Assim você pode ver porque é o melhor para o interesse de todos, Barney tomar sua alma mais cedo antes que fique tão sujo e não possa mais buscar redenção. Cerrando os dentes, Barnabas ficou quieto, e eu me desloquei nervosamente na cadeira. Engraçado como ela poderia fazer o som da morte como uma coisa boa. Meu sentido de aranha tinha parado de formigar, e eu coloquei meus cotovelos sobre a mesa, pensando que era tão produtiva quanto à sala de estudo que eu nunca ia. Eu estaria disposta a apostar que o cara com a camisa Harley, caminhando pelo shopping com uma garota falando em um telefone ao lado dele estava fora. Eu precisava de um protetor. — Nerd — eu murmurei, apertando meus olhos por causa do brilho da janela. Supostamente eu deveria ser grata por qualquer informação que os serafins poderiam dar, mas frustrada, eu deixei minha cabeça cair sobre a mesa. O frio veio como um baque em minha testa. Barnabas pôs uma mão reconfortante no meu ombro. — Madison, está tudo bem, — disse ele, fazendo-me sentir ainda pior. Além disso, as linhas do tempo são difíceis de ler. Mesmo Ron é incapaz de dar uma descrição, antes que ele pisca para frente, e que normalmente seja apenas horas antes de a marca fazer sua escolha fatal, e não um dia inteiro. Estamos contando com interpretações angelicais do que poderia acontecer, por isso relaxe. Eu puxei minha cabeça, ainda olhando para a tabela. O timekeeper branco não era a minha pessoa favorita esse dia, mas eu me sentia melhor com Ron, do que provavelmente, sem informações, tentando salvar a vida deste garoto. Uma vez que ele sabia, iria tornar as coisas mais difíceis. — Madison, você está indo bem! Você nos tem aqui, não? — Barnabas disse, com sua mão caindo. — Eu também posso sentir a marca aqui. Seus instintos são bons, nós iremos encontrá-lo. Olhando para cima eu vi primeiro a esperança dele e a dúvida de Nakita. Na mesa, Grace estava em silêncio, ouvindo. — Em tempo? — eu perguntei. — Antes que Ron viaje no tempo e mandasse alguém nos parar? Eu não acho que um ceifador branco, vá acreditar que eu estou tentando salvar este cara com a Nakita ao meu lado pronta para matá-lo, se eu não puder fazê-lo mudar de ideia. Você faria?
23 Barnabas lançou um olhar para Nakita, ela se controla sobre a sua bolsa vermelha espremida. — Claro, eu faria. — Ele disse, mas ele estava mentindo. — Madison, não se preocupe, nós o encontraremos, é apenas nervosismo. — É um ceifador — Nakita disse, olhando para suas unhas pretas e depois para a alça. — É o que faz Madison, — Barnabas revidou, com o rosto vermelho. — Bem, eu tenho que ir! — disse Grace, o brilho suave que era suas asas levantando-se e enviando o cheiro de morangos para mim. — Foi me dito para vir até aqui, e logo voltar. — Você está indo embora? — eu perguntei aflita, mas então algo nas palavras de Grace me chamou atenção. — Voltar? — eu repeti, e seu brilho pela mesa quase virou um verde horrendo. — Não nos deixar? Maldita seja Grace, você está espionando a gente? Barnabas sentou-se preocupado e um gemido agudo veio de Grace. — Não seja louca! — ela exclamou. — Os serafins estão confusos, e eles querem alguma garantia de que mudar o caminho de uma marca é ainda possível. É por isso que você tem esse peso, Madison. Há sempre uma mudança na política quando um novo timekeeper assume, mas nunca foi tão grande como essa que você quer. Eles não acham que um ceifador pode abrir a mente de um ser humano, e o fazer escolher um caminho diferente e ao mesmo tempo manter o anonimato, especialmente quando se leva a um ceifador negro e branco a trabalharem juntos. Se Barnabas e Nakita não podem fazer isso com você ajudando-os, como eles irão fazer isso sem você? “Eu estou ajudando Barnabas e Nakita?” Eu pensei, confusa. Tudo o que eu estava pensando, era sobre eu estar indo salvar este cara, e não em constituir um precedente para
24 que todos seguissem, mas eu tinha de admitir que Ron não pensava o mesmo, mas sim, enviar o seus ceifadores brancos para fora e passar para a próxima alma. — Juntos? — Eu questionei, olhando para Barnabas e Nakita, ambos parecendo doentes. — Por que teria que fazerem juntos? — Porque se um ceifador branco falhar, os serafins vão querer um ceifador negro idiota com a foice — a anja disse alegremente. — E outra eu não sou espiã e sim uma avaliadora. — É a mesma coisa. — Exclamei, em seguida, debrucei em meu assento quando o cara que estava lendo a revista olhou para cima. — Bem, não é um trabalho que você realmente irá querer — Grace sussurrou — Qual é a lógica e suporte incondicional que os serafins irão te dar, já que assim que você encontrar o seu corpo entregará o cargo? Nakita congelou, o medo como uma sombra na parte de trás dos seus olhos. Merda, os zunidos das asas de Grace pareciam crescer mais rápido. Nakita não ficaria longe de mim. Era como se eu já tivesse a abandonado, eu, a pessoa que tinha danificado o anjo perfeito, sabedoria e o entendimento do anjo da morte. Ela não se encaixava no escuro como os irmãos dela, e eu era possivelmente a única capaz de ajudá-la a entender o porquê, visto que isso a mudou. — Bem, talvez se pudesse manter a minha ideia um pouco mais, eu poderia continuar com o trabalho depois de encontrar o meu corpo. Eu disse em um sussurro alto. Não era a primeira vez que eu tinha considerado mantê-lo após encontrar meu corpo. Os timekeepers não têm que ser mortos, na verdade acho que fui a primeira que foi morta, mas eu não vou ficar num sistema no qual não acredito. Ou eles me deixam fazer as coisas do meu jeito, ou eu estou fora.
25 — Eu não acredito em destino final, e eu não vou enviar ceifadores escuros lá fora para gadanhar as almas, porque as pessoas são ignorantes na escolha — eu disse sabendo que as minhas palavras serão ouvidas. — Se os serafins não podem me encontrar no caminho, então eu não vou fazer isso, viva ou morta. Eu estava discutindo com o céu, mas eu não me importei. Grace ficou em silêncio, depois que a neblina iluminou. — Eu não sei por que você quer estar viva de qualquer maneira — ela murmurou, aparentemente disposta a conceder um ponto. — É uma bagunça. — Sim, e nós comemos, também, — eu disse. — Você sabe quanto tempo passou desde que eu não sei o que é uma comida gostosa? — Era uma boa coisa que eu não precisava. Não só eu precisava salvar a vida de um cara, mas eu também convencer Barnabas e Nakita a trabalharem juntos no processo? Grande, apenas uma grande coisa estranha. — Você não pensou que ia ser fácil, não é? — Grace disse com seu brilho deslocando descontroladamente através do espectro antes que ela disparasse para cima como uma estrela cadente e invertesse e escorregasse para fora através das clarabóias. Nós parecíamos estar sozinhos, mas eu aposto que ela estava assistindo. Ninguém disse nada, e eu olhei para Nakita e Barnabas, o qual estava me ignorando, sua expressão sombria. — Eu estou indo comprar um shake, — disse eu de repente, não por estar faminta, mas necessitando de uma desculpa para me afastar deles por um instante. — Vocês querem alguma coisa? — Eu não esperava por uma resposta, em pé, eu quase corri para uma cadeira que alguém tinha deixado de lado. Cai contra ela e parei sobre a mesa com cuidado, tentando fazer parecer que não foi acidente. Avançando até os restaurantes, eu juro que eu pensei ter ouvido a canção da Grace. Eu abandonei a escola com expectativas elevadas, mas agora eu estava me sentindo totalmente inadequada. Ele não era um desconhecido, mas esta foi a primeira vez que a vida de alguém foi para a balança. Escolhi um restaurante, pus as mãos no balcão e olhei para o menu, para realmente não vê-lo. Eu tinha
26 o dinheiro que meu pai tinha me dado para o almoço. Merda, eu tinha o texto dele que eu poderia ler à tarde depois da escola hoje. — Você vai ler o fim dele? — disse a voz na minha frente, e eu saí do meu atordoamento, trazendo a minha atenção para baixo para encontrar um cara da minha idade, em um avental vermelho com uma galinha, corajosamente afirmando: O MELHOR FRANGO. Um chapéu de papel tentava conter o seu cabelo loiro de areia, mas falhou. Ele tinha um rosto bonito, e sorriu quando viu o meu embaraço. Seu crachá disse Ace. Meus pensamentos estavam em Josh, e eu senti um pouco de culpa, que ele havia sido deixado na escola — Uh, eu quero um shake de baunilha, pequeno! — Eu disse, pois não estava indo para beber. — Algo mais para seus amigos? — Virei-me para ver Nakita com uma mão na sua bolsa, me olhando com um olhar perdido no rosto. Barnabas tinha a cabeça jogada para trás, olhando para o teto, como se estivesse entediado. Pelo menos eles não estavam lutando. — Você está me olhando? — Eu perguntei, inclinando a cabeça com um olhar tímido. Estúpido, mas tímido. Ace arrancou um copo de um tamanho maior do que eu tinha encomendado e sorriu. — Boa jogada com a cadeira, até parecia que você queria fazer isso. — Revirei os olhos, droga Grace, obrigada por deixar lá para mim. — Sim, — eu disse, passando de pé para pé, terrivelmente consciente do meu cabelo. Eu não tinha visto ninguém aqui com o cabelo roxo, exceto pela deusa perfurada trabalhando na Hot Topic. Ace estava silencioso de costas para mim enquanto enchia o copo. Havia apenas outro cara que trabalhava nos bastidores, na limpeza dos fornos. Era muito cedo para o almoço. — Então, quando começa a escola para você? — Eu perguntei com a necessidade de dizer alguma coisa. Ace virou, me olhando maliciosamente, tirou uma parte superior do shake. — Amanhã, eu nem deveria estar aqui esta manhã, mas me chamaram. Cara, eu poderia ter matado a minha mãe. — Ele deslizou a bebida para mim. — Eu tive meu dia planejado, essa é a ultima vez que deixo minha mãe responder para mim.
27 Ace ajustava o chapéu, fazendo caretas. — Se eu estou no trabalho, ela sabe onde eu estou, — disse ele asperamente. — Ela está sempre verificando como está seu garoto. Ela trabalha no hospital, assim que ela vê tudo o que vem no meio da sala de emergência e acha que eu vou chegar em um acidente. Minha mente voltou a lembrar de um acidente de carro. Meu coração começou a bater. Eu não acho que foi a memória da minha morte, apesar de tudo. Um formigamento foi subindo pela minha aura como um pensamento evoluído em minha mente. — Sua mãe trabalha no hospital? — Pode ser tão fácil? Talvez isso seja o que Barnabas quis dizer sobre os meus instintos serem bons. — Te escuto, — disse eu, olhando para Barnabas e Nakita, mas eles estavam olhando para mim, indiferentes. Portanto, agora tudo que eu queria fazer hoje, eu farei amanhã. — Ace disse, encolhendo os ombros. Eu empurrei para trás meus pensamentos. — Você disse que você tem escola amanhã. — Eu disse que amanhã começa as aulas, mas não disse que eu estarei lá. Ooh, um pouco rebelde, somos nós? Eu peguei o canudo e coloquei no shake. — Você vai cabular no seu primeiro dia de aula? — Eu perguntei, fingindo tomar um gole do meu shake. — Algo parecido com isso, — disse ele, sorrindo de volta. — Eu tenho coisas mais importantes a fazer. — Como o quê? — Eu disse, sorrindo como as meninas populares da minha antiga escola tinham me ensinado antes de abandoná-las. Ace riu, lisonjeado em algum nível. — Música, Shoe e eu fazemos música, algumas coisas assim.
28 Ele jogou sua atenção brevemente para o cara de cabelos pretos e eu senti uma gota de decepção. — Você está numa banda? — Eu perguntei. Merda, não tinha sido nada, afinal. — Não, nós captamos isso antes que ela seja lançada. — O estresse que ele colocou em suas palavras me puxou de volta. — Você a rouba? — Eu perguntei, ampliando os olhos. Se ele pudesse hackear um site de música, um computador de hospital não seria nada. Animada eu dei um passo para frente. O movimento não foi perdido e Ace se inclinou sobre o balcão, batendo o botão de venda e fechamento da gaveta antes que ela tenha aberto. — Na semana passada — ele sussurrou, seus olhos brilhando. — Ferramos com uma grande gravadora, entrando no site e roubando uma faixa da música do Coldplay que só será lançada na próxima primavera. Eu tremia, minha aura parecia uma campainha. Ele poderia entrar em sites seguros. — Sério? Posso ouvir? — Ace recuou em pé atrás do balcão, como se fosse o rei do mundo. — Shoe e eu não deixamos ninguém ouvir. Não até que façamos tudo. Eu tenho que colocar a capa do disco. Depois, você pode comprá-lo — Minha respiração soprou fora de mim. Fingindo descrença, eu engatilhei meu quadril. — Ok, eu entendo, — eu disse em um tom aborrecido. — Tanto Faz. — Mas Ace riu. — Você não acredita em mim? — Virando-se para trás, ele gritou: — Shoe! Diga-lhe o nome do novo álbum do Coldplay. O menino puxou de volta no mesmo forno que tinha sido limpo. Havia mancha de graxa em seu ombro e ele olhou louco. — Que diabos você está fazendo Ace? — Exclamou. — Você nos fará sermos pegos. — Cara — disse Ace segurando as mãos em sinal de zoação. — Calma cara, ela não vai dizer nada. — Shoe jogou seu pano em Ace, mas caiu longe. — Você nem sequer sabe quem ela é! — Ele gritou, e uma porta lateral da cozinha aberta bateu em um homem baixo vestindo uma camisa pequena para o seu tamanho. Gerente. Eu poderia dizer antes mesmo que eu visse seus sapatos marrons com os pequenos cadarços marrons.
29 — Mitch, temos um problema aqui? — Ele perguntou, e virou-se para Shoe. — Não! — Gritou ele. Tornando ao forno limpo, ele é pulverizado descontroladamente na parte da frente do forno seguinte. — Relaxa cara — disse Ace. — Não é um grande negócio! — Ele estava quase rindo e isso só fez Shoe ficar mais irritado, tornando seus movimentos rápidos e irregulares. O gerente viu também, e ele se aproximou. — Relaxe, — disse o homem, tentando olhar como se estivesse em carga. — Eu suportei seu mau humor durante todo o verão. Shoe virou-se. — Sim? Bem, eu parei. — gritou, batendo o limpador de forno baixo. — Eu não preciso dessa merda! — Não, você está demitido! — Disse o homem, e Ace começou a rir, olhando para a praça de alimentação para ver quem estava assistindo. — Saia fora, e não volte. Vou verificar sua demissão! E não se atreva a pedir uma referência. — Você pode poupar o seu dinheiro ruim, — Shoe murmurou, e eu prestei atenção no jeito como ele tirou o avental e jogou com nojo. Virando–se para Ace que claramente pensava que tudo era uma piada, Shoe disse: — Você é um perdedor estranho, Ace. Você sabia? Você é tão estúpido que você não pode mesmo manter a sua boca fechada. Acabou. Ok? Você está sozinho. — Ace ficou com muita raiva. — Sim? — Disse ele em voz alta. — Bem, você pode ferrar um rato, idiota! — A mudança de Ace, me fez sentir mal e agarrei meu shake apertado, tentando descobrir isso. Meu queixo caiu, e eu recuei um passo. A praça de alimentação inteira estava assistindo agora. — Fora! — O gerente gritou, seu rosto redondo e vermelho. — Vocês dois.
30 — Eu nem queria vir hoje, banha de porco, — Ace disse baixinho, mas eu sabia que o gerente tinha ouvido, porque ele começou a xingar como se não estivéssemos lá. Tremendo de raiva, o gerente apontou para as portas do shopping. — Fora!!!! Eu me mexi para trás quando Ace colocou a mão sobre o balcão e saltou sobre ele! Dentro da cozinha veio o bater de uma porta pesada como a tempestade que Shoe tinha feito fora. Tomando o chapéu da cabeça, Ace jogou no chão de azulejos. — Este trabalho é uma merda, — disse ele, e ele foi embora, tirando seu avental e deixando cair. O gerente estava fumando, e eu disse hesitante, — Uh, quanto lhe devo? — Ele olhou como se me visse pela primeira vez, seus pensamentos claramente em Ace e Shoe. — Nada, é grátis, — disse ele. — Eu sinto muito que você tinha que ver isso. Ele foi assim todo o verão. Eu deveria ter despedido ele no terceiro dia que ele estava aqui. — Desculpe, — disse eu, sem saber por que eu estava pedindo desculpas. Sentindo-me estranha, eu me virei e voltei para Nakita e Barnabas. Olhando para baixo, passei em minha cadeira e tomei um gole de shake. Barnabas pigarreou. — O que foi isso? Eu olhei para cima, sorrindo para Nakita, então Barnabas. — Eu encontrei a nossa marca. É Ace. Nakita pegou seu amuleto como se quisesse segui-lo para fora e foiçá-lo no estacionamento. Eu estava começando a entender por que os serafins acreditavam que a luz e a escuridão não podiam trabalhar juntos. Nakita devia esperar até que Ace tenha uma chance para mudar seus modos, não ia ser fácil. — Você tem certeza? — Ela perguntou, olhos brilhantes e ansiosos.
31 Concordei, compartilhando o seu entusiasmo, se não, a razão por trás disso. Eu poderia fazer isso. Eu só tinha relaxado como Barnabas tinha dito, e deixei a minha intuição guiar-me. — Tenho certeza, — disse. — Ace é bom com os computadores e não se importa de infringir a lei. Ele diz que amanhã começará a escola, mas que ele estará cabulando. Sua mãe trabalha no hospital e é muito controlada e acredita que ele provavelmente está pronto para fazer qualquer coisa. Eu assisti Ace passear pelo estacionamento do parque, o tempo todo pensando em meu pai e como ele me observava de perto. Já não estando em seu avental, Ace parecia um tipo bruto em um par de jeans desbotado e uma camiseta preta. — Vamos lá, — eu disse com raiva quando Ace bateu um carro de forma aleatória. — Eu tenho que falar com ele. Nós levantamos como um só, mas Barnabas era hesitante. — Eu não sei, — ele disse quando nós o seguimos. — Parecia que Shoe era o cara do computador. — Virei-me para ele, com o shake frio em minhas mãos. — Você ouviu isso? — Todos já ouviram falar que... — Nakita disse, jogando os cabelos. A bolsa pendurada no ombro, ela caminhou até a porta como se fosse uma modelo. A dúvida me bateu, e meu ritmo acelerado retardou. — Shoe perdeu a paciência em primeiro lugar, — Barnabas disse. — E se ele é o único que invadiu o sistema, então ele é o único que pode fazer o vírus, não o cara que faz a arte da capa. Eu fiz uma careta como se batesse a porta e saí em direção ao sol no início da tarde. Passando a linha amarela na área do estacionamento do empregado, Ace estava de pé ao lado de um carro esportivo e discutindo com Shoe. Mordendo os lábios, eu pensei na experiência de mil anos de Barnabas, nesta comparação com a minha intuição. Provavelmente é Shoe, mas eu não quero perder de vista Ace. A lembrança de quão rapidamente o seu humor mudou não me deixou bem. Alguma coisa estava errada lá.
32 — Ok, — eu disse hesitantemente quando nós começamos a avançar novamente. — Barnabas, se você acha que é Shoe, você deve segui-lo. Nakita e eu vamos ficar com Ace e descobrir o que podemos. — E mantê-lo longe de Nakita. Nakita fez um som de satisfação, claramente feliz por estar a tomar medidas. — Eu devo ser a única a seguir o Shoe, não Barnabas, — disse ela com firmeza. — Dessa forma, se ele tenta colocar o vírus em um computador, eu vou estar lá para matá-lo. Parei, e ela passou dois passos antes de parar. Meu olhar passou a Barnabas, e ele fez uma expressão de desamparado. — Um, Nakita, eu pensei que você vinha comigo. A ceifadora foi burra sobre muitas coisas, mas ela não era estúpida. O blush marcava o rosto dela, e ela foi dura, suas unhas pretas brilhando ao sol. — Você está tentando me manter longe de Shoe. Eu estava tentando mantê-la longe de Barnabas também. Eu tomei uma respiração para protestar, então deixar sair. — Sim, mas venha comigo de qualquer maneira. Ace gosta de meninas bonitas. Ele vai lhe dizer algo. — Nakita piscou para mim, e eu acrescentei, — Venha aqui. Ajuda-me aqui. Ron não pode saber que estamos fora de Three Rivers, no entanto, então temos toneladas de tempo. — Ela é a sua chefe, — Barnabas resmungou, franziu a testa e Nakita... — Tudo bem, — disse ela, capitulando, — mas se Shoe fizer algo, prometa que você vai me chamar, Barnabas. — Você quer que eu te chame? — Barnabas disse, os polegares em seus bolsos jeans e o vento amarrotando a sua camiseta. — Como? Você é uma ceifadora negra, e eu sou branco. Nossas ressonâncias são demasiadamente distantes para nossos amuletos permitirem isso. Nakita sorriu, mudando seu amuleto da gótica cruz a sua normal pedra plana embalada em uma cesta de arame de prata. — Você não é tão branco quanto você pensa, ceifador. Olhou para a sua aura ultimamente? Você está neutro. Eu aposto que podemos falar através de nossos amuletos se tentarmos. Você está indo pro Negro, cara.
33 Barnabas ficou horrorizado, e ele olhou para o seu próprio amuleto. Nakita tomou o braço, eu a coloquei em movimento antes de Ace afastar-se. Eu sabia que Barnabas não foi feliz em perder seus status de ceifador branco, mas ela não tinha que atormentá-lo sobre o assunto. Desde que deixou Ron e a luz, ele foi considerado um Grim Reaper6, um grupo de anjos vigilante desprezado pelos ceifadores brancos e negros por causa de seu costume de matar sem motivo. Se houvesse uma praga, grim reapers estavam lá. Um desastre tinha-lhes varrido os corpos como se fossem uma onda grande e ruim que devastasse tudo no surfe. Guerra. Não seria até que a cor do amuleto de Barnabas passou perto do meu que poderia ser considerado respeitável novamente, mas desde que ele tinha, então, ser um ceifador negro que não acredita em destino, ele não era realmente. Os céus provavelmente não iriam deixá-lo voltar. — Vou pegar para vocês alguns telefones da próxima vez que eu for ao shopping, — eu disse acidamente. Mas se eu soubesse como usar o meu maldito amuleto para falar silenciosamente com eles, então não precisaria.
6
Ceifadores Crueis
34
TRÊS
—
Ace, — gritei, o pavimento rígido sob os meus pés enviou sacudidas para mim
e eu corri para o seu caminhão. — Espere! — Nakita, aparentemente, não viu nenhuma razão para correr, e ela seguiu tranquilamente em algum lugar atrás de mim, a bolsa ao seu lado e sandálias combinando com os cliques de distância. Barnabas estava indo na direção oposta, provavelmente buscando um lugar tranquilo para esperar e ter asas para seguir o Shoe. Shoe estava curvado quando ele entrou em um carro esporte estacionado em uma sombra. Ouvindo a minha voz, Ace encostou seu caminhão e colocou os polegares nos bolsos. Eu desacelerei respirando pesadamente. Ok, talvez por isso houvesse alguns benefícios com esta coisa de ser morta. Nakita apanhou-me, e eu desacelerei ainda mais. — Ele está com raiva, — disse ela simplesmente quando nós combinamos os ritmos. — Você tem certeza que ele vai nos dizer alguma coisa? — Sim, bem, você pode estar louco com seus amigos, mas você pode falar, — disse, lembrando de como eu estava com raiva de Wendy, minha melhor amiga na Flórida, onde eu morava antes de me mudar para Three Rivers. A maioria das nossas discussões tinha originado da minha dolorosa teimosia, mas Wendy era demasiadamente independente. — Como você pode ficar com raiva e como não ficar ao mesmo tempo? — Perguntou Nakita. Eu vi Shoe entrar em seu carro e ligá-lo, acelerando o motor. — Você acabou de fazer. Você gosta de Barnabas, não é? Mesmo quando vocês discutem?
35 — Não, — ela disse imediatamente, depois hesitou. — Ele é mais esperto do que eu pensava. Pensando que ele poderia estar certo e eu possa estar errada, isso me deixa irritada. — A mesma coisa aqui, — disse, indicando Ace, que agora estava levantando do caminhão e escovando a mão na sua enrugada camiseta. Ela apontou o seu amuleto e perguntou: — Quem está certo? Sorri para Ace e disse: — Não importa. Ela suspirou. — Eu não entendo. — É uma coisa de amizade. — Com meu sorriso brilhante, eu estava sendo a garota popular, cheia de charme. Geralmente eu me sentia estranha, de modo que o tempo que eu passei tentando entrar para o grupo de meninas pop não tinha sido uma perda total. Eu acho. Mas meu sorriso sumiu quando Ace quase vociferou: — O que você quer? —Nakita pegou seu amuleto, que "acidentalmente" caiu em seu pé. — Uh, nada, — disse eu, enquanto ela me afastou com um empurrão, mas eu já estava voltando. — Eu queria dizer que sinto muito você ser despedido. Isso foi um pouco minha culpa. Eu dei-lhe um olhar triste, grande, e com certeza, ele mudou. Ah, poder de um rosto bonito. Pena que ele estava olhando para Nakita e não para mim. Ela era um anjo. Por que mesmo eu estava tentando competir? — Não foi culpa sua, — disse ele, sua voz amolecendo. — Shoe é um burro. — Um flash de raiva avermelhada passou e ele gritou após o carro de Shoe passar, — BURRO. — Posso lhe gadanhar também? Só para me divertir? — Nakita perguntou e Ace virou-se chocado. — Pare com isso — eu murmurei, mas ele tinha ouvido.
36 — O que você disse? Lambi meus lábios, lutando por palavras. — Então você gosta de música? — Eu soltei, e ele se voltou para mim. Quando ele olhou de mim para Nakita, quase pude ver seus pensamentos realinharem, perguntando se ele tinha uma chance com ela. Claro, que não era provável. — Sim, — disse ele, ainda olhando para ela, e de repente ela sorriu e deu uma risadinha, como Amy, inimiga no meu terreno, usando sandálias de grife. Eu não fiquei surpresa quando Ace acrescentou: — Eu não tenho nada para fazer agora. Quer ouvir um pouco? — Absolutamente, — eu disse com entusiasmo, e ele se afastou da porta da frente, acertando o ombro no espelho do lado e tentando não perder a calma. — Entre, — disse ele, abrindo a porta. — Eu moro a vinte minutos daqui. Você pode ouvir o novo material. Por um momento, eu olhei o banco longo, lembrando a última vez que entrei em um carro de um estranho. Eu acabei no fundo de uma ravina, morta. — Bem, você não pode matar uma pessoa duas vezes, — pensei. Além disso, Nakita estava comigo. Pisando com cuidado para evitar os CDs lançados em todos os lugares, eu deslizei para a porta distante. O caminhão era velho, com bancos de vinil rachados e empoeirado. As caixas de CDs feitos flashes luminosos quando a luz pegou, e eu arranquei um que estava sob Nakita antes dela se sentar bem em cima dele. Era claramente um modelo de casa, com adesivo na lateral. Josh tinha um velho caminhão, mas pelo menos o mantinha limpo. Passou-me pela cabela mandar uma mensagem de texto para saber como ele estava, mas fazer isso na frente de Ace provavelmente não era a melhor forma de convencê-lo a mostrar-me os seus downloads ilegais. — É este o seu trabalho? — Eu perguntei quando Ace entrou, batendo a sua porta duas vezes para torná-la a travar. Só de olhar os carros, eu poderia dizer que havia uma discrepância grande entre Ace e Shoe, e eu me perguntava se era ali que parte da raiva
37 estava vindo. O ciúme, talvez. — Shoe, — ele disse pausadamente. — Não, eu quero dizer a ilustração, — acrescentei, e sua mandíbula apertada se relaxou enquanto girava a chave e ligou o motor. — Eu gosto dele. Tocava música pesada na percussão, o cantor gritando para que você não consiga entender o que ele estava dizendo. — Obrigada, — disse a ele quando ele abaixou a música para que pudéssemos ouvi-lo. — Minha mãe acha que eu poderia conseguir uma bolsa, mas qual é o ponto? Não é como se eu pudesse ganhar a vida com rabiscos. — Pensei no meu próprio sonho de ganhar a vida com a minha fotografia, e um suspiro de compreensão caiu de mim. — Talvez, — eu disse, hesitante. — Mas é mais fácil encontrar uma forma de fazer dinheiro em alguma coisa que você gosta do que aprender a amar um trabalho que você pode ganhar dinheiro. Ele não disse nada e sentindo os olhos Nakita em mim, eu rolei a janela para baixo. Eita... era um manivela e foi duro, como se não tivesse sido abaixada em um ano... Lentamente, o ar ainda foi substituído por novos rumos para a saída, seguindo o mesmo caminho que Shoe fez. Havia uma pequena cidade no leste perto daqui quando tínhamos voado dentro, bem no meio do milharal. Ace balançou a cabeça no tempo da música, olhando Nakita para ver como ela gostava... Minha atenção caiu para o CD que eu estava segurando, e eu coloquei sobre o painel do carro, dedilhando outra caixa decorada com trabalhos semelhantes. Foi tudo redemoinhos e cores extremas, brilhante, lembrando um nó celta. — Isto é bom, — eu disse enquanto eu olhava para o punhado de discos ao meu alcance. — A ilustração, quero dizer. Você deve conversar com seu professor de arte. Aposto que ele sabe de uma bolsa de estudos. — As pessoas como eles, não ajudam as pessoas como eu, — disse Ace, com seu descrédito humor. — Além disso, a faculdade... não é para mim. Minhas sobrancelhas se levantaram. Pessoas como ele?
38 — Esse é meu também, — disse ele, e eu segui o seu dedo apontando para o viaduto que abaixo. Ele estava coberto de grafite com os mesmos redemoinhos e ângulos. Símbolos arquétipo foram trabalhados para todos os lugares, fazendo com que pareça uma espécie de mistura entre uma tatuagem e um vitral. — Uau, — eu disse, voltando-se no banco ao descobrir que o outro lado da passarela foi decorado assim. — Isso é bonito. Ace deu um sorriso de bad-boy e tocou os dedos no tempo da bateria. — Quase fui apanhado na noite passada quando eu estava trabalhando nele. Eles estavam esperando por mim. Olhe para a torre de água. Nakita fez um som estrangulado, e eu segui o seu olhar para a coisa bulbosa crescente alta nos milharais. Com minha boca aberta eu olhei. — Você gostou? — Ace perguntou, e eu assenti, muito chocada para fazer mais. — Parece uma asa negra! — Nakita sussurrou, e acenou com a cabeça novamente. Envolvido em torno da torre de água estava um corvo preto-e-branco, olhando como se estivesse derretendo em uma poça d'água pingando de gosma. Parecia exatamente como uma asa negra pode olhar para a vida, uma espécie de mistura de grafite e sofisticado petroglifos nativo americano7. Asas negras foram catadores inteligentes da alma do mundo, aparecendo para colher a esperança e roubas as alma negligenciadas. Eu odiava, e elas me davam arrepios, elas ajudavam ambos os ceifadores (negros e brancos) para marcarem um alvo, mesmo repugnantes como eram. — Eu fiz disso a minha marca registrada, — Ace estava dizendo, e eu arrastei a minha atenção de volta para ele. — Onde você tirou a ideia de fazer eles "derreterem" assim? — Com sua mandíbula apertada ele respondeu: — Shoe — De volta a Shoe. Parecia que Barnabas estava certo: Shoe era o nosso alvo, não Ace. Ace levou uma mão ao volante e olhou Nakita. — Você não fala muito.
7
Representações gravadas pelos índios americanos em pedras ou rochas. A sua produção é misteriosa, quanto ao fato de não se saber se são criações xamânicas no momento, se idealizadas e preparadas, se direcionadas para constituírem cenários de rituais, se criadas por artistas itinerantes, copiadas, entre outras possibilidades.
39 — Eu não vejo o sentido quando ações são mais convincentes — disse ela com firmeza, comportando-se completamente em desacordo. Eu tive que voltar para Shoe. Barnabas estava certo. — Hey, eu sinto muito por seu amigo, — eu disse, hesitante, tentando parecer que a conversa era sobre ele. Ace fez um som de humf. — Ele é um burro. Eu o conheço desde a terceira série, e ele sempre foi um idiota, nada aqui é sempre bom o suficiente para ele. Ele sempre quis ir à cidade grande e ter uma "vida melhor". O que há de errado com apenas ficar aqui e ser normal? — Ace olhava para frente, nunca diminuindo a velocidade. — Ele é o hacker? — Eu perguntei. — Você faz o trabalho artístico, e ele recebe o material? — Sim, — ele disse sarcasticamente. — Sou apenas um cara que lhe confere o aspecto legal. Ele vai para a faculdade no fim deste ano, entre o preenchimento de candidaturas e se preparar para os testes de habilidades, eu só vejo ele no trabalho. Ohhh, ele está com ciúmes. Sentindo-se abandonado. Pode ser a hora errada, mas nós íamos correr para fora dos campos de milho, eventualmente. Eu não queria passar o dia com Ace, quando Shoe estava em perigo. — Uh, você acha que poderia nos levar para casa do Shoe? — Eu pedi, e Nakita se inclinou para frente passando por Ace para me ver. — Você tem que estar brincando, — Ace disse com repugnância. — Isso é para chegar até ele, não é? Você gurias são todas iguais. Você vê um carro de luxo e você acha que eu sou a sujeira. — Não! — Exclamei, meu pulso, pulando alto. Percebendo isso, Nakita olhou para mim. — Ace, o Shoe está em perigo, — disse eu, e vendo a sua ira, disse-lhe: — Eu sei tudo sobre o vírus que ele quer fazer o upload para a escola. Vai matar pessoas. O caminhão virou e Ace olhou para mim, chocado. — Olha para a estrada! — Eu gritei quando me lembrei do desfiladeiro.
40 Minha mão bateu contra o painel. Mas ele não estava me ouvindo. — Os vírus de computador não matam pessoas, — disse ele, irritado. — Como você ficou sabendo sobre isso? Será que ele te disse? Shoe te contou e depois fica com raiva de mim por causa de uma música estúpida que eu falei? Sua voz fere os meus ouvidos, e eu olhei para a estrada, feliz por ninguém não ter ninguém. — Ele não me disse — eu disse. — É o meu trabalho saber as coisas. Ace riu, mas eu respirava mais fácil quando ele olhava para a estrada. Nakita sentada entre nós, dedilhando seu amuleto e ficando de fora, mas a sua cara dizia que ela achava que eu estava cometendo um erro. — É seu trabalho, hein? E quem é você, menina silenciosa? Os músculos dela? — Nakita deixou cair sua mão firme na bolsa que estava sobre os joelhos. — Sim. Ele riu amargamente de novo, balançando a cabeça ele murmurou, — Eu sou um ímã de maluco. Uma onda de raiva acendeu em mim. — Eu não me importo se você acredita em mim ou não, — eu disse rapidamente, — mas o vírus vai escapar da escola e entrar no hospital e as pessoas vão morrer. — Baixei meu tom de voz. — Você tem que me ajudar a convencer Shoe a não fazê-lo. Ele não vai me escutar, mas você que é amigo ele vai. Ace olhou para mim, seus olhos segurando uma raiva inebriante. — Foda-se, — disse ele de repente. — Shoe... Porque eu deveria te ajudar com ele? Frustrada, eu soltei o painel, era Shoe quem ia para faculdade e Ace não. Ele tinha medo que ele não era bom o suficiente para manter-se, e era mais fácil odiar o Shoe por isso e não tentar.
41 — Nós não estamos indo encontrar o Shoe? — Nakita perguntou. — Eu prefiro ir para o inferno, — disse Ace, e Nakita se moveu. — Hey! — Ace gritou, Nakita de repente virou em seu assento e agarrou sua camisa. — Você não está indo para o inferno. Você está indo nos levar para casa do Shoe, — ela exigia, e o caminhão virou... — Nakita! Vamos! — Eu gritei quando cruzamos a linha amarela, e então virou para trás, os nossos pneus indo para a direita fora da estrada. — Deixe-me ir, garota Você está louca! — Ace gritou, uma roda ainda fora da estrada, enquanto continuamos a cem quilômetros por hora. Lentamente, ele nos trouxe de volta na calçada, e só depois de todas as quatro rodas estarem na estrada que ele pisou nos freios e deu uma guinada para parar. — Saiam! — Ace estava gritando. — Saiam do meu caminhão, suas loucas! Eu estava mais do que pronta para sair, e eu empurrei a porta e deslizei para o chão quente. Eu estava tremendo, quase doente, recordando o acidente de carro que havia me matado. — Eu disse-lhe para nos levar até o Shoe, — disse Nakita de dentro do caminhão. — E eu disse-lhe para sair! — Sua bolsa navegou no ar, caindo aos meus pés. — Eu nunca bati numa garota, mas você está empurrando-me, baby. Porque as "sexy" são todas porcas? Baby? Ele realmente te chamou de baby?
42 Nakita havia se dado por vencida, e cheguei para puxar o seu braço. — venha, vamos. — Eu arranquei fora a sua direita quando Ace bateu no acelerador, os seus pneus chiaram na calçada. A porta ainda não tinha sido fechada. — Suas loucas — gritou, deixando uma nuvem de fumaça de óleo e som desaparecendo de seu motor. Nakita estava ao meu lado, tremendo de raiva ... — Eu não sou louca, — ela disse quando pegou a sua bolsa vermelha, e eu silenciosamente concordei com ela. O som do caminhão de Ace desvaneceu-se rapidamente, e eu olhei para cima e para baixo na estrada deserta, perguntando onde Barnabás estava. — Isso não funcionou do jeito que eu queria, — eu disse, começando a caminhar na direção que Ace tinha ido. A cidade não poderia estar muito longe. Nakita colocou sua sandália, então começou a me acompanhar, clique, clique, clique sobre a calçada quente. — Você disse a ele demais, marcas nunca acreditam, é por isso que eles são gadanhados. Houve uma acusação silenciosa no seu tom de voz que eu estava sendo estúpida por tentar mudar milhares de anos de tradição. Pensativa, eu assisti as linhas retas do milho alto lentamente enquanto caminhávamos. Pelo menos Barnabas estava assistindo a pessoa certa. — Se não encontrarmos Barnabas? — Nakita perguntou, olhando em dúvida o meu silêncio contínuo. — Eu tentei ligar para ele quando eu estava no caminhão de Ace e não pude alcançá-lo, ele não está ainda suficientemente escuro. Você pode ser capaz de obter um suporte dele, apesar de tudo. — Eu? — Eu gritava, embaraçada, embora ela já soubesse da semana de falha quando Barnabas e eu tínhamos sentado no meu telhado e tentado. — Meu amuleto está
43 muito longe dele, também. Ceifador branco, timekeeper negro, você sabe. Eu disse, feliz, eu tinha meu telefone. Se o pior veio a piorar, eu ia chamar meu pai e dizer que estava fazendo algo com Josh. Ele daria cobertura para mim. Eu não deveria ter dito tudo a Ace. Não sabemos o que ele pensa quão louco somos. Eu penso que nós éramos loucas. O passo de Nakita tornou-se silencioso enquanto andava em linha reta no meio da estrada, seguindo a linha amarela. — A ressonância do amuleto de Barnabas era o vermelho de um ceifador branco na última vez que tentei, — ela disse, e olhei para ela, pensando que parecia muito a par. — Foi transferido para um verde neutro de Grim Reaper desde então. Eu não posso alcançá-lo, mas o amuleto do timekeeper é mais fluido que o meu, e é com ele que você está praticando. Eu posso ouvir seu amuleto ressoando no seus ossos, ele não tem escudo ainda. Eu posso levá-la, mas seria mais fácil encontrar Barnabas se soubéssemos exatamente onde ele está. — Suspirei, minha mão indo até tocar o meu amuleto. Toda vez que eu tentei usá-lo, ou nada aconteceu, ou eu cometi um erro. — O que você vai perder tentando? — Nakita bajulou. — Barnabas deveria saber o que aconteceu. Por mais que seja o insuportável sabe tudo, ele é parte da nossa equipe... Ela havia dito a última palavra, com um som ruim, e um ligeiro sorriso iluminou o meu humor. Ela estava tentando. — Ok, — eu disse agradavelmente, — mas se eu não conseguir alcançá-lo, vamos encontrá-lo por via aérea. Ela assentiu com a cabeça, e eu senti um tremor de antecipação. Meu amuleto era o mesmo profundo e brilhante negro que tinha sido desde que o adquiri, mas Barnabas tinha deslocado para baixo do espectro. Nakita estava certa: Isso pode ser possível. Animada, virei-me para os campos de milho, caminhando na estrada deserta e ouvindo o som do vento. Ou nada iria acontecer, ou eu ia fazer o trabalho. Não era como se eu não conhecesse a teoria por dentro e por fora depois de incontáveis noites no meu telhado
44 tentando. Parando, eu me sentei na beira da estrada, deslocando até as pedras triturando os meus tornozelos. Nakita compreensivelmente olhou para mim. — Eu não sou boa nisso, — expliquei envergonhada. — Eu preciso sentar. — Fechando meus olhos, foi a minha maneira de induzir uma sensação de calma. Meus ombros aliviaram. Em minha mente, eu tentei imaginar a minha aura. Ela não era realmente minha aura, já que eu estava morta, mas a ressonância do amuleto agiu da mesma maneira. Porque eu tinha o amuleto do timekeeper negro, a minha aura ou ressonância era um violeta tão escuro como estar fora do espectro visível e, basicamente, preto. De olhos fechados, cheguei até segurar o reluzente de pedra preta embalado em um fio de prata e um laço em volta do meu pescoço com uma corda simples. Contanto que eu tinha dentro de vinte metros de mim, eu tinha a ilusão de um corpo, se eu fosse muito longe disso, asas negras iam sentir e um enxame ia comer a minha alma e eu ia ficar entre mim e a morte absoluta. Alegando que o meu antecessor não tinha explodido a minha alma em poeira. A maioria das pessoas nem sequer iriam ver a menos que eu apontasse para fora. Eu poderia retirá-lo, mas eu estava relutante em fazê-lo. Os fios de prata embalando a pedra estavam quentes, mas a pedra era mais quente, como se estivesse segurando o calor do sol. Tudo o que eu tinha que fazer, em teoria, era me concentrar em meus pensamentos, tendo na mesma cor ou comprimento de onda como a minha aura para que pudesse deslizar sem mim. Então eu tive que segurar meus pensamentos que eu desloquei a cor para combinar. Então meus pensamentos poderiam deslizar através de sua aura e podia ouvi-lo. Sua ressonância era verde agora. Talvez eu pudesse fazer isso. Talvez. Eu pensei em Barnabas, seu sorriso, seu humor negro, sua maneira ímpar de olhar o mundo, a idade atrás de seus olhos castanhos, e como eles passavam de prata quando tocou o divino... Barnabas, pensei, mudando meus pensamentos para "violeta" como eu poderia obtê-los após minha aura. Nakita e eu estávamos, tipo, presa aqui na estrada. Uma iluminada emoção correu em mim, eu senti meus pensamentos saltarem fora e irem de encontro a esfera de ar que rodeava a terra. Chocada, eu abri meus olhos e
45 pisquei. — Eu senti deixá-los, — Nakita disse, sorrindo. — Mas eles se dispersaram quando foram contra o sol. Você precisa modificar seus pensamentos para sua aura, antes de saltar fora da atmosfera, e não depois. — Ela sentiu isso, eu pensei, sufoquei um tremor de antecipação. Barnabas nunca disse isso quando nós praticávamos. Eu sentei desajeitadamente no chão para disfarçar o meu arrepio, pensando que isso seria estúpido. Não é que nós tínhamos visto ninguém na estrada ainda. Este foi o mais próximo que eu já tinha começado a fazer este trabalho. Nakita tinha sido capaz de me ensinar a curvar a luz em volta do meu amuleto para ocultar também. Talvez Nakita, mesmo em todas as suas incapacidades estranhas entre as pessoas, foi a melhor professora. E Barnabas ficaria feliz com isso? — Deixe-me tentar de novo, — eu sussurrei, fechando os olhos e acalmando meus pensamentos para obtê-los do meu passado e a ressonância da aura, e, em seguida, pensei com uma estranheza precisa, Barnabas, nós estamos presas na estrada. Você pode encontrar-nos? — Agora! — Nakita exclamou, e eu torci os meus pensamentos, tornando a onda mais ampla, mais verde. Você pode nos encontrar? Ela bateu na curva da atmosfera e saltou para trás, sendo elaborado em algo, como se pertencesse. Barnabas, talvez? Enrijeci, eu ofeguei, quando eu tive um flash de sentimento, como uma memória pertencente à outra pessoa. Era como se eu estivesse vendo com os olhos de Barnabas quando ele se sentou em alguns arbustos em frente a uma bela casa, e saltou quando o meu pensamento surgiu em sua mente. Então ele se foi, ele estava cercado por areia e vesgo do sol. Eu estava vestindo uma camisa branca billowing. Um homem jovem, com olhos negros sentou-se perto de mim trabalhando num computador portátil, suas roupas brancas igual a minha. Ohhhh, isso não pode ser bom. Nakita estava agachada diante de mim, uma mão no meu ombro, a preocupação em seus olhos e os cabelos negros caindo sobre seu rosto. — Madison? Você está bem? — Estrábica, eu estendi a mão e ela aceitou, fazendo força para ajudar a me levantar.
46
Olhei para meu tênis e minhas calças. A sensação ruim foi crescendo em mim, e quando ela viu minha expressão, senti a mudança em Nakita ir de preocupação para alarme. — Quão rápido você pode voar? — Eu perguntei, e ela me olhou como se eu fosse louca. — Por quê? — Ela perguntou, e eu olhei para o céu, estremecendo. — Porque eu acho que eu disse para Ron que estamos tramando alguma coisa.
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QUATRO
Nakita esteve ao meu lado em seus jeans de grife e sandálias da moda, suas unhas pretas pegando um brilho de sol. Seus olhos corriam do céu para os campos e o farfalhar de ambos os lados. Seu amuleto era um ardente violeta que enviou flashes de luz roxa contra as sombras mais escuras no milho, balançando seu cabelo, ela girou em círculo, varrendo o céu. — Barnabas, onde está você? — Disse ela, e eu tremi. Hesitei. Ela era um anjo vingador, e nada conseguiria passar por ela. — Talvez devêssemos partir sem ele. Estou escondendo a sua assinatura do amuleto, mas se Barnabas pode seguir o eco do seu pensamento aqui, então Chronos pode, também. — Não me mexi, ouvindo o barulho do vento nas folhas, procurei nos céus e na minha aura qualquer picada de energia. Porra, se Ron sabia que estávamos aqui, ele faria tudo mais difícil. — Barnabas, — Nakita suspirou enquanto fixava seu olhar em algo que eu não podia ver, e eu tive um pensamento que foi provavelmente a primeira vez que ela tinha sido feliz em vê-lo. Meus ombros aliviaram, mas eu ainda me sentia enjoada quando eu me lembrava estar na cabeça de Ron. Tinha que ter sido ele. Se eu pudesse alcançar os seus pensamentos, então ele poderia alcançar os meus. E quem era o cara com ele? Seu substituto? Meu adversário futuro? Ron ou Chronos, como era chamado, foi formalmente sujo. Sim, ele acreditava na escolha do destino, como eu fiz. Sim, ele enviou Ceifadores Brancos para impedir os Ceifadores Negros de matar as almas antes do tempo, antes eu simpatizava com ele. Se as coisas fossem diferentes, nós estaríamos trabalhando para a mesma coisa. Mas ele mentiu sobre quem eu era quando eu tinha sido morta. Escondeu de mim que eu era uma timekeeper até que fosse tarde demais e meu corpo tivesse sido
48 escondido por Kairos, forçando-me a aceitar o meu estado de timekeeper negra, a fim de permanecer viva. Ele tinha traído eu e Barnabas e ambos mentiram para os céus em suas tentativas de mudar o equilíbrio do poder celestial na Terra a seu favor. Ele era supostamente um cara legal. As sandálias de Nakita roçavam o chão, a preocupação gravada profundamente em sua testa. — Logo que Barnabas chegue aqui, partiremos. Nenhum de nós pode enfrentar Chronos, — disse ela, visivelmente chateada. — Ele pode parar o tempo. — Eu me aproximei dela, desejando que Barnabas já houvesse desembarcado. Ele era apenas uma mancha de cor branca no céu azul de outra forma. — Está tudo bem, — eu disse, como se estivesse tentando me convencer. — Mesmo que Ron congelasse o tempo, ele não pode me matar. Ela se virou para mim, os olhos mudando de prata por um instante quando ela tocou no divino. — Mas e se ele te levar aonde eu não posso seguir? — Engolindo em seco, dei de ombros. — Por que ele? Nós apenas estamos aqui de pé em uma estrada. Talvez ele simplesmente envie um ceifador para fazer check-out. Mas era mais do que isso, e nós duas sabíamos disso. Uma vez que Ron soubesse o que estávamos fazendo, ele simplesmente ia mandar um anjo da guarda para Shoe e eu ia perder. Olhei para cima quando a luz foi eclipsada por um instante, só para me cegar quando um par de asas brancas piscou o sol. Em uma rajada de ar, Barnabas pousou diante de nós, seus olhos castanhos brilhando de alegria. — Madison, você fez isso! — Disse ele, arqueando as suas asas para cima, as pontas de passagem um instante antes de desaparecer. Avançando para frente, ele exclamou: — Eu sabia que podia. Quando caiu o seu pensamento para o meu ... Estou tão orgulhoso de você! — Mas então ele parou a uma parada em cima de observar Nakita e minha preocupação. — O que há de errado? — Nakita
49 tomou uma posição firme, olhou para o céu novamente. — A mensagem ecoou na mente de Chronos, assim como na sua. Ele provavelmente está chegando, — disse miseravelmente. — Como? — Barnabas disse, olhando confuso. — Sua ressonância não é em qualquer lugar perto da minha. — Nakita estava lançando seus olhos por toda parte. — Ambos são timekeepers, — disse ela. — Vocês não acham que os serafins os criaram de tal forma que eles poderiam se falar se quisessem? — Eu vi através dos seus olhos, — eu acrescentei. — Desgraçado — Barnabas amaldiçoou. — Você está protegendo ela? — Claro que eu estou protegendo ela, anjo caído! — Nakita agarrou. — Mas eu tenho certeza que ele tem uma ideia de onde estamos, antes eu tenho o meu escudo no lugar. Você fez, não é? — Barnabas fez uma careta. Tomando meu cotovelo, ele puxou-nos para fora da estrada, quase nos pés de milho, ele assobiou. — Ótimo. Nós saímos, — disse ele à Nakita. — Vamos sair daqui antes que ele apareça. Nakita assentiu com a cabeça e seu amuleto brilhou, ela encolheu os ombros e as asas apareceram. Em um instante, eu estava entre dois anjos, um com asas brancas e outras negras, ambos preocupados. — Por que não consigo fazer nada direito? — Eu perguntei, não esperando uma resposta, mas quando eu fiquei com medo, eu falei. Barnabas estendeu suas asas de novo, elas corriam de uma beira da estrada para outra. — Não é certo ou errado, — disse ele, perto de me levar para o ar. — Você fez isso, e agora você precisa aprender a concentrar-se. Porque só você espera ser perfeita na primeira vez? Eu teria tentado novamente agora, mas temos que ficar protegidos de agora em diante, e uma mente protegida é fechada. — Silenciosa, inclinei-me de volta para ele, respirando o cheiro de sol e penas. Embora ele disse que estava bem, ainda seria minha culpa se Ron descobriu que estávamos tramando alguma coisa. — Você fez bem, — ele disse quando seu braço escorregou perto de mim. — Você trabalhou duro para esta habilidade, e você deve ficar contente.
50 — Obrigada, — disse eu, me sentindo um pouco melhor eu dei um passo para trás em seus pés. Mas ele não se mexeu. Na verdade, nada se movia, nem Barnabas, o vento, ou o milho e eu empurrei quando senti uma coisa nebulosa em contato com meu amuleto reivindicando uma parte dele. Com meu instinto e com base nas horas de prática, eu trouxe a minha visão interna do meu amuleto, colocando-se entre o tecido do tempo. O "agora" era uma linha brilhante que se estende até o infinito. Era minha alma enviando pensamentos para o futuro, me puxando junto como eles me prendendo no futuro um instante antes de se tornar presente. Atrás de mim, em minha visão interior eu pude ver meu passado, fortemente entrelaçado com Barnabas, Nakita e até mesmo os pensamentos de prata brilhante do Ace. Mas não foi apenas meu pensamento que estava anexando meu amuleto para o presente, como era normal. Havia outra pessoa! Ron, eu pensei em pânico, limpando a mão sobre o tecido do tempo para destruir os seus laços do meu amuleto, e apenas os laços de seu amuleto, para mim. Abri os olhos... O processo inteiro tomou menos tempo do que se uma bolha estourasse. — Barnabas? — Eu tremia, vendo ainda o seu braço em volta de mim. Eu escorreguei de sua aderência imóvel. Pânico caiu entre meu pensamento e ação. Ron tinha parado de vez. Presentes de cachorrinho no tapete. Com o coração batendo forte, virei-me no silêncio absoluto do tempo parado. Lá, bem no meio da estrada estava Ron. Ron não era um homem alto, não muito mais do que a minha altura, o que não surpreende, já que ele nasceu há mil anos. Seus cabelos grisalhos enovelados tinha sido preto e sua pele era escura. Seus olhos mudavam de cor conforme o seu humor, e eu queria saber se o meu fazia isso agora, também. Ele usava a mesma roupa de cor clara, que eu tinha visto ele em momentos atrás na minha cabeça, algo grego. Vê-lo em pé há três metros de distância com uma expressão chocada me deu um flash de satisfação. Talvez ele não tivesse esperado que eu rompesse sua ligação com tanta facilidade. — Pare com isso, — eu disse quando prendi o meu amuleto. Sua tentativa de tomar o meu amuleto não foi possível, pois não poderia usá-lo, mas ainda era difícil eu deixar ir à pedra quente. Ron piscou para o baixo e longo caminho atrás de mim. — Parabéns, — disse ele, — tanto por quebrar a minha espera no seu amuleto e aprender a conversar em silêncio com ele. Eu sei que Barnabas não ensinou. Ele tem a imaginação de
51 uma minhoca. Será que os serafins? Talvez você pudesse usar sua voz da próxima vez? Você estava gritando. — Ele estava sendo sarcástico, e joguei a mão em aviso quando ele deu um passo adiante. Parando, ele colocou a mão em seu quadril para me olhar como alguém pode olhar para um cachorro latindo atrás de uma cerca. — O que você está fazendo aqui? Não é um dia de escola? — Nada que você precisa se preocupar, — disse, fazendo o backup para estar lado a lado com Barnabas e Nakita. — Deixa-nos ir. Ele sorriu. Lembrei-me de quando eu acreditava nele — Você não precisa ter medo de mim, Madison. Eu não vou te machucar. Os serafins iriam me matar. Você é a próxima grande esperança. — Ele balançou a cabeça, quase rindo de mim... — Há coisas piores do que ser ferido. E eu aposto que você sabe de todas elas, eu pensei, desejando que eu tivesse Barnabas e Nakita atrás de mim. Eita, era estranho tê-los em silêncio e imóveis atrás de mim. Com um pensamento repentino, levantei a vista inferior da minha mente, buscando o tecido de tempo para o brilho violeta de Nakita e verde brilhante de Barnabas. Ao encontrá-los, eu limpei todos os segmentos que estavam ligando-os ao amuleto de Ron. Sentindo isso, Ron jurou, retrocedendo enquanto Barnabas e Nakita vieram à vida. Uma onda de excitação correu através de mim, e eu oscilava sobre os meus pés com o esforço de tentar dividir minha atenção entre o agora e o próximo. No minuto em que eu parei de limpar o amuleto de Ron, eles devem ter congelados novamente. — Deixe-a sozinha, Ron! — Barnabas gritou quando ele me pegou, e eu senti uma estranha sensação de formigamento através da minha aura. Nakita colocou-se entre nós, e eu queria chorar. Eu os tinha libertado! Eu não estava tão desamparada, afinal, e Barnabas evitava minha queda. — Não sou eu, — Ron disse, sombriamente. — Ela não é apenas boa no que ela está tentando fazer. Barnabas me apertava, e eu encontrei o meu equilíbrio lentamente. Tudo bem, eu disse baixinho tentando dividir os meus pensamentos mais fáceis. Eu tinha praticado
52 limpando tópicos antes, mas eu não tinha feito há algum tempo. Mesmo assim, naquela época eu estava destruindo os meus tópicos que amuleto estava fazendo, e não outro. Essa foi difícil... e eu não conseguia me concentrar em tudo. Nakita calmamente foi para fora instintivamente, sabendo que Ron não estava empenhado em nos ferir. Ele só queria saber o que estávamos fazendo. Eu não ia dizer a ele, e ele olhou lentamente infeliz como eu estava em meu poder. Tudo que tínhamos a fazer era sair, e ele não ganharia nada. — O que você quer? — Eu disse, embora fosse óbvio. E quem estava com você no deserto? Encontrando tempo suficiente para ensiná-la, não é? Ron estendeu as mãos enquanto tentava olhar razoável. — Para saber o que você está fazendo, — disse ele. — Não está gadanhando ou eu já saberia. Nakita deslocou para colocar sua forma ligeira entre mim e Ron. — Então você pode ir, sim? — Disse ela, mas ele a ignorou, olhando Barnabas. — Matas aqueles que uma vez se comprometeu a salvar, — Ron disse causticamente, e percebi que os dois não se falavam desde que me tornei a timekeeper negra. — Eu dei-lhe o seu amuleto. Você foi o meu melhor, Barnabas, mas eu não iria levá-lo de volta agora que foi humilhado. Se aliar ao ceifador negro que você lutou contra? Olhe para ela, com unhas pretas e bolsa brilhante. Você se uniu a essa estúpida. Você realmente caiu, meu anjo. — Você não me deu o meu amuleto, — Barnabas disse firmemente. — Seu antecessor fez, — disse ele, lançando seu amuleto para deixar a pureza do brilho verde neutro diante. Nakita e eu trocamos um olhar pensativo. Quanto tempo Barnabas tinha estado nisso? — Eu ainda acredito na escolha, — ele seguia estoicamente. — Os tempos mudaram. Você não. Eu não lhe devo nada. Você mentiu para mim, — Barnabas terminou amargamente. — Você falhou comigo. — Ron disse, como se isso não importasse. — Eu lhe disse para manter a boca fechada. Se tivesse feito, ele teria sido perfeito e os ceifados brancos estariam no controle agora.
53 — Eu confiei em você para fazer o que é certo, — Barnabas disse suavemente. — Agora eu confio na Madison. Ron bufou. — Claro, facilmente influenciável para matar inocentes, — o Timekeeper Branco riu, tentando não olhar enquanto ele se movia lentamente. — Eu não estou, — disse Barnabas quando Nakita o empurrou. — E a marca não é inocente, — disse ela quente, um resplendor de seu rosto. — Ele é louco e vai permitir que as pessoas morram por suas ações, então vai fazê-lo novamente! — Alarmada, eu lancei um olhar para ela. — Cala a boca! — Exclamei. Estava dando tudo errado. Mas o estrago já estava feito, e os olhos de Ron se iluminaram. — É uma colheita, — disse ele. — Mas eu não passei na frente. — Nakita fez uma pose dramática. — Os serafins veem mais longe do que você. — Você cale a boca! — Gritou Barnabas. — E não se preocupe, Chronos, — vangloriou-se Nakita, sem se intimidar. — Eu vou matá-lo antes que você pode definir um anjo da guarda para protegê-lo da sua morte agonizante. Você não vai manchar a visão perfeita dos serafins dessa vez! — Grande. Simplesmente fantástico. Isso não estava indo bem, e eu olhei para os milharais congelados enquanto eu estava no meio de uma estrada vazia, e um céu com um sol imóvel. — Ron, você vai apenas sair? — Eu disse, sabendo que ele não iria. — Quer você acredite ou não, eu estou tentando salvar alguém. Barnabas fez um ruído estrangulado, e eu virei para ele. — O que, como ele já não tenha descoberto que é uma colheita? — Eu disse acidamente. — Nakita afundou. Nakita estremeceu com uma lavagem de desgosto, só agora percebendo o que ela tinha feito.
54 — Você, — Ron disse, apontando o dedo para mim, — é uma assassina de sangue, permitindo que um anjo vingador passe a foice em inocentes. Eu tentei te salvar, mas você jogou sua própria chance de fazer a diferença na terra! Meus olhos se estreitaram, e avancei até tocar Barnabas e ele me parou. — Bem, talvez se não tivesse mentido para mim, eu pudesse ver as coisas desta maneira! — Eu exclamei, sacudindo Barnabas. Sim, eu estava trabalhando para os Ceifadores Negros, mas eu estava tentando mudar as coisas, fazer o que os serafins queriam e engrenar com o que eu acreditava. Ron, entretanto, jamais entenderia. — Eu não me importo se você acredita em mim ou não, — eu disse. — Eu estou tentando salvar a vida de alguém. Por que você não vai embora? Sorrindo, ele deslizou seu olhar para Nakita. Ela estava lá para matar o Shoe se não eu falhar, e um brilho calculado entrou em seus olhos. Não importa o que, ele sempre me vê com maus olhos, encadeada, pelo o que ele pensava de mim e por tudo o que sabia. — Você está tentando salvar alguém, — ele repetiu, zombando de mim. — Com um Ceifador Branco traidor e sombrio e um Ceifador Negro ao seu lado no caso de você falhar. — Eu não sou um traidor por fazer o que eu acredito! — Barnabas disse, e eu ergui meu queixo elevado. — Nós vamos encontrá-lo primeiro, — eu disse. Ron riu, começando a retroceder lentamente — Vamos ver, — disse ele, conscientemente. — Você não sabe o que você está procurando. Você não o brilho de qualquer um. Eu posso dizer. Você está muito confiante. Os serafins dando-lhe a informação? Boa sorte com isso. Eles são tão previdentes que eles não podem ver o que está debaixo dos seus narizes. Você não tem ideia do que você está fazendo. — Sim? — Devolvi o olhar fixamente. — De quem é a culpa? Um sorriso surgiu em seu rosto. — Minha, — disse ele, e ainda olhando para mim, ele desapareceu.
55 O mundo pulou em movimento com uma lufada de som, e eu comecei, chocada com a súbita explosão de luz e ruído. Meu foco se nublou enquanto eu tentava limpar tópicos de um amuleto que não estava mais lá. Eu tinha o visto ir desta vez, dobrando em si mesmo a desaparecer em um pop brilhante, sem som. Eu nunca seria capaz de fazer isso. — Deus vos ajude, Nakita, — Barnabas disse enquanto caminhava para o meio da estrada. — Por que você não apenas mostrar-lhe uma imagem de que nós estamos tentando salvar? Nakita girou sobre os calcanhares. — Você ainda está trabalhando sob a suposição de que eu estou tentando salvar o Shoe, — disse ela, apontando a bolsa para ele como se fosse uma arma. — Se eu ver tanto uma asa negra, ceifador branco, ou anjo da guarda sem ser Grace, eu vou matá-lo. Eu não esperarei até que um cretino de um timekeeper coloque um anjo da guarda para proteger Shoe! — Ron não é um cretino! — Barnabas gritou, ainda sentindo um pouquinho de fidelidade, aparentemente. — Sim, ele é! Eu suspirei, sentada no meio da estrada quente, de costas para eles, esperando eles terminarem de gritar um com o outro. Pelo menos Ron acreditava que não sabíamos quem era a marca. — Você não vai matar o Shoe! — Barnabas disse. — Eu não vou deixar! — Cuidado, Barnabas, — ela zombou. — As sombras estão te alcançando. Isso foi baixo, e eu virei para vê-la com uma mão no quadril em pé centímetro de distancia dele. Ele estava amarrado, sentindo a vergonha do termo depreciativo. Barnabas não era desagradável. Claro, ele tinha deixado Ron, mas ele não era um vigilante que só existia para a emoção de matar alguém. — Não vou permitir que um anjo da guarda proteja Shoe, — disse ela, apontando vagamente na direção da cidade invisível. — A partir do momento que ele escolhe matar, ele vai causar dor só para o mundo. Não há graça em uma vida assim!
56 — Engraçado, não é isso que você faz? Matar pessoas? — atirou de volta para ela, e ela deu um grito abafado de frustração. — Cala a boca, — ela sussurrou para Barnabas. — Toda essa discussão, deixará Madison em apuros. Os serafins estão assistindo. — Então você cala a boca, — ele bufou, mas senti uma mistura nova de preocupação com o velho. Eu tinha esquecido isso. Os serafins estavam assistindo, e se eu não conseguisse que um branco e um negro trabalhassem juntos, então isso nunca iria funcionar. — Barnabas, — eu interrompi, não olhando para cima do meu ponto de vista do milharal. — O Ron sabe o que estamos fazendo é impossível, ou simplesmente difícil? Finalmente eles pararam de discutir. Barnabas ficou em silêncio com seu tênis desbotado quando ele chegou a ficar na minha frente. Suas asas foram embora, e ele olhou assombrado. É evidente que Ron o tivesse abalado. — Até Ron conseguir identificar quem a marca é, eu acho que nada mudou, — Barnabas disse, e Nakita resmungou. — É preciso ser mais cauteloso para mantê-lo de seguir conosco. Um de nós tem de ficar com você e ocultar o seu amuleto da ressonância. — Seus olhos foram atrás de mim para Nakita. — Seria mais fácil se você simplesmente concordasse em não matar o Shoe. — Eu não quero matar ele — ela insistiu. — Mas eu vou antes de deixar Chronos ou um de seus ceifadores colocarem um anjo para protegê-lo. Um anjo é para sempre, e com a defesa irracional do céu, ele poderia causar danos incalculáveis. — Gostaria de saber quantos ditadores da história recentemente tinha sido o resultado de Ron enviar um ceifador branco para sustentar o direito de escolha de uma alma. Levantando, eu suspirei. — Isso é realmente estranho, — eu disse quando eu escovei meus collants pretos. — Eu gosto tanto de você, e eu não sei por quê. Nakita piscou os olhos, sua atenção desviada do Barnabas. — Porque você é a timekeeper negra, — disse ela, como se fosse óbvio. Suspirando, eu olhei para cima e para baixo da estrada, querendo estar em outro lugar. Em qualquer outro lugar. — O que você acha que ele vai fazer? — Eu perguntei para Barnabas. — Ron, eu quero dizer. Você o conhece bem.
57 Barnabas olhou para o local do pavimento onde Ron tinha passado. — Provavelmente, as linhas de pesquisa, hora local, até descobrir aonde fomos, em seguida, tentar identificar as pessoas que já entraram em contato conosco. Mas ele não será capaz de realmente agir até que a marca brilhe e ele possa vê o futuro. É quando ele iria enviar um Ceifador. Às vezes, o Timekeeper negro tem lampejos em primeiro lugar, às vezes é o branco. É a última pessoa que vê o brilho que tem a imagem mais clara da marca, por isso equilibra as coisas, eu acho. Fazendo careta, olhei para meu relógio. Foi ficando tarde e ele estava indo tomar um tempo para chegar a casa, até mesmo voando. — Eu tenho que voltar para a escola, — disse, preocupada. — Verificar-me com meu pai. Receber minhas atribuições de Josh. — Eu vou ficar aqui, — disse Barnabas imediatamente, e previsivelmente Nakita estremeceu. — Por que você? — Ela perguntou beligerante, na ponta dos pés. Eu olhei nos olhos Barnabas, dizendo-lhe sem dizer uma palavra que eu lidaria com isso. Ela era louca o suficiente para ele já. — Porque Barnabas não vai matar o Shoe se Ron enviar alguém para nos observar. — Nakita protestou, e eu fiquei com raiva. — Olha, — eu disse, mostrando algumas das minhas frustrações. — Não há asas negras à vista. Eu não passei para frente ainda, e nem tem Ron. Barnabas, você pode alcançar os meus pensamentos sobre essa distância tão grande? — Não quando você está blindada, — disse ele sombriamente. — Não é um problema, — eu disse, correndo uma mão sobre as costas da minha cabeça para alisar meu cabelo. — Eu não preciso ser protegida quando estou em casa. Ron sabe onde eu moro, e se ele me vê lá, então ele pode desistir de ver-me em tudo. Nakita pode voar pra casa e voltar quando o meu pai for dormir. Você pode deixar-nos saber se alguma coisa mudar nesse meio tempo. Foi um bom plano, na medida em que eu poderia dizer, mas Barnabas parecia tão animado como estava Nakita. — Eu ligo para vocês se mudar alguma coisa, — ele
58 concordou, olhando cabisbaixo, eu percebi que o que o incomodava era que sua ressonância tinha sido oficialmente deslocada para baixo do espectro. Ele já não podia ser contado entre os ceifadores brancos, não importa no que ele acreditava. Seu contato comigo tinha manchado ele tanto quanto tinha danificado Nakita. — Tudo bem, — disse humildemente, não gosto de vê-lo deprimido. Ele tinha sido um ceifador branco por um longo tempo. Ele nunca vai se encaixar com os ceifeiros negros, mesmo que o seu amuleto esteja tão negro quanto o meu. Ele ia ficar sozinho e separado para o resto de sua vida. Eu passei por Nakita, nunca estive voando com ela antes, mas imaginei que se Barnabas podia fazê-lo, ela poderia, também. Por um momento, parecia que ela iria protestar, mas ao ver o quão infeliz Barnabas estava, simplesmente arqueou as asas para fazer as pontas dos dedos tocarem acima de sua cabeça. Olhei para eles, pensando que eles eram lindos, mesmo se eles não estivessem com suas roupas coloridas e sandálias. Eu olhei Barnabas, sentindo uma sensação esquisita por deixá-lo quando ele estava assim. — Você é capaz de voar com outra pessoa? — Eu perguntei a ela, e Nakita alternou seu olhar para Barnabas e de volta para mim. — Vou deixar você saber em um momento, — ela disse, fazendo-me feliz de já estar morta. Vendo-nos preparando para ir embora, Barnabas reuniu um sorriso. — Vá, — ele disse. — Eu vou ficar sozinho em um lugar distante onde possa assistir Shoe sem deixar saber que estou assistindo. Eu acho que nós temos pelo menos até meia-noite ate Ron escolher a ressonância de Shoe no tecido do tempo. Por sua posição desconfortável, eu não sei se deveria acreditar nele. Suspirando, eu o deixei para trás para ficar com Nakita. Seu braço hesitante em volta da minha cintura, e eu tropecei quando suas asas se abriram, fazendo-nos levantar um pouco e depois cair. Meu coração batia forte, e ela mudou seu peso. — Lamento que você esteja diferente agora, — ela disse a Barnabas. Suas palavras eram suaves, mas eu sabia que ele ouviu-a quando seu tufo desgrenhado de cabelo mudou. — Ela muda as pessoas, — ela disse, como se eu não estivesse ali mesmo. — Possivelmente este seja o seu propósito.
59 — Talvez, — Barnabas disse, então ele se abaixou enquanto Nakita empurrava para baixo com suas asas. Engoli em seco enquanto o milho ao redor de nós se achatou e de repente estávamos no ar. A mudança repentina de pressão de ar fez-me estremecer, para não mencionar a ascensão vacilante de Nakita, e olhei para baixo enquanto Barnabas, olhava para cima. Ele estava parado no meio da estrada deserta, as impressões das asas de Nakita estavam fazendo como se parecesse quase como parte de um círculo de acultura em torno dele. Meu estômago embrulhou, e agarrei o braço que Nakita estava me segurando para ela. Ela não era tão boa como Barnabas na execução do meu peso, mas ela poderia fazê-lo, e eu relaxei, ouvindo-a suspirar de alívio. Enquanto ela nos fazia voar de volta a Três Rios, minha mente continuava rodopiando sobre o fato de que Nakita sentia tristeza por Barnabas quando ela uma vez tinha sentido só desdém. Eu tinha mudado ela, também. Dedicando a sua vida para a pessoa que tinha acidentalmente colocado asas negras dentro de você para comer suas memórias e lhe ensinar o significado da morte poderia não ser uma coisa fácil de fazer.
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CINCO
O
cheiro do molho picante do espaguete estava do jeito que eu gostava. Ou
teria gostado. Virei o meu garfo, envolvendo um monte de espaguete que ia passar ao Josh, assim que meu pai olhasse para longe. A existência morta era como aspirar água suja. Eu nunca havia me dado conta do quanto gostava de comida, até que não podia mais comer. Sentada na minha frente, na cozinha do meu pai, Nakita empurrou sua comida, como podia. Josh não estava a ajudando comendo seu macarrão, e meu pai estava começando a parecer preocupado com o seu prato cheio. — Orégano demais? — Perguntou ele, empurrando os óculos até a ponta de seu nariz. — Está muito boa, senhor A — Josh disse alegremente com a boca cheia. Os olhos do meu pai estavam em mim, porém, eu sorri, me forçando a colocar uma boa garfada na boca e mastigar. Simplesmente não era a mesma coisa. A ilusão do meu corpo sólido toma tudo o que precisa de meu amuleto. Não precisa de energia extra para existir, e o desejo de comer simplesmente não está ali. Posso fazer, mas é como mascar bolos de arroz. — De primeiro nível pai — eu disse, mas ficou evidente pelo seu suspeito "mmmm" que ele não acreditou em mim — Comi um lanche quando cheguei da escola — disse, acrescentando mentalmente, no ano passado, quando estava no penúltimo ano, só para tentar manter a mentira.
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— Bem, amanhã não, ok? — Disse ele, esfregando seus dedos em um guardanapo antes de tomar um gole de água. — Eu estou cansado de fazer comida para que permaneça no seu prato. Meu pai se levantou, e foi abrir a janela sobre a pia. O início de um cantar de um grilo, e o silêncio de um carro que passava em nossa rua residencial tranquila, deslizavamse com a névoa de ouro de um sol que se escondia. Eu rapidamente troquei os pratos com Josh, e Nakita franziu o cenho. Teria que se livrar de sua comida de outra forma. Josh estava com fome o suficiente, mas ele não era um cara grande. Nakita e eu havíamos voltado, cerca de três e meia para encontrar Josh nos degraus da frente, em boas condições, enquanto se sentava com uma pilha de livros novos. Eu devia muito a ele. Algo muito maior do que jantar em minha casa. Liguei para o meu pai de sua casa e então sentamos na varanda, olhando Josh comer batatas fritas enquanto eu estava contando a história. Josh tinha ouvido tudo, claramente desapontado por não ter estado lá. Eram mais ou menos sete, e eu estava ansiosa por Shoe. Ron deve ter achado algo por agora, mas Barnabas não havia dito uma palavra, ou seja, o status não mudou. Suspirando, fui para outro bolo de espaguete, passando-o para Josh, que alegremente tomou-o sacudindo a cabeça, a boca cheia ainda mastigando a última garfada. Os sapatos do meu pai raspavam no linóleo desbotado quando ele se virou, e eu respirei o aroma de óleo e tinta que fica nele quando vem do trabalho, assim que ele voltou para a mesa. Os seus pensamentos não estavam claramente no jantar. Estavam provavelmente em mim. Meu pai é um rato de laboratório clássico, um tipo de nerd alto, magro, talvez — quando ele era mais novo, mais confortável em seu jaleco do que em uma camisa com gravata da moda. Além do branco que estava começando a aparecer em seus cabelos e um leve sorriso que provoca rugas ao redor de seus olhos, ele parecia o mesmo que tinha sido quando ele e minha mãe haviam se separado há quase dez anos. Mamãe havia se mudado para a Flórida comigo nas costas. Ela era quase uma especialista em contratos de recursos
62 variáveis, que basicamente significa que ela era uma arma contratada para obras de caridade respeitáveis. Sua especialidade era seduzir o dinheiro das mulheres mais velhas — às vezes ela era muito boa— mas isso era uma fonte constante de conflitos entre nós quando eu não tinha estômago para vestir luvas brancas e agir como um enfeite em seu discurso. Meu pai ficou aqui. O barulho do trovão era fraco, mas estava crescendo fortemente, e o raio de sol entrando pela janela foi se suavizando quando as nuvens o alcançaram. Um anoitecer precoce começava aparecer. Eu enrolei outro bolo de espaguete pelo meu prato, me encolhendo quando encontrei os olhos de Nakita. Ela tinha seu prato cheio. Fiz um gesto na direção de Josh, para ela dar a ele, pelos menos, uma garfada, seus lábios se apertaram enquanto ela pensava sobre isso. Meu pai se sentou e recostou-se, me avaliando enquanto mastigava. — Vocês duas, não estão muito magras — disse, seus olhos castanhos ainda mantendo uma camada de preocupação. — Quê? — balbuciei, olhando a mim mesma. — Dever ser uma coisa de meninas do colegial — acrescentou ele, sorrindo para Nakita. — Eu vou te dizer uma coisa. Que tal você me ajudar a preparar o jantar a manhã à noite, hein Madison? O que você quiser. Josh bufou, inclinado sobre seu prato, e estremeci, lembrando como foi preparar o jantar quando eu tinha cinco anos. Ter uma menina em idade pré-escolar cozinhando ervilhas não te dá tanta vontade de comer, mas quando meus pais se asfixiaram com as verduras misturadas com molho de churrasco, tinha sido hilário para meus cinco anos de idade. A noite terminou em risos e gargalhadas. Talvez devêssemos ter tido ervilhas com molho de churrasco com mais frequência. — Ok — eu disse, com os olhos baixos, enquanto lembrava. Outra vez meu pai fez aquele "mmm...", como se estivesse olhando para o futuro. Ou talvez para o passado. A tristeza melancólica tomou conta de mim, e me obriguei a comer um pouco de massa, tratando de desfrutar do sabor dos tomates e a doçura almíscar do orégano.
63 Eu havia sido mandada pra cá há seis meses, logo no final do penúltimo ano. Eu perdi minha formatura e tudo mais. O que tinha sido a gota d' água para minha mãe ainda era um mistério. Pode ter sido quando o policial me levou pra casa por quebrar o toque de recolher, quando ela pensou que eu estava na internet. Ou quando eu fui a essa festa na praia quando eu disse que não iria, ou aquela tarde em que cruzamos com os caras e nadamos ao redor das boias, que não foi totalmente culpa minha. Liguei pra ela para dizer onde estava. Minha mãe estava prestes a explodir a cabeça nesse momento. Mas por alguma razão, minha mãe decidiu me mandar de volta pro Norte, eu estava contente por ela, e sorria enquanto olhava o feio papel de parede amarelo com rosas sobre ele, que eu recordava vagamente da minha infância. Eu pensei que ia ser uma mudança de um cárcere razoável para outro, mas conhecendo meu pai outra vez havia estado gratamente surpreendida, especialmente quando ele na realidade me escutou quando eu disse o porquê eu tinha que ter um par de sandálias. Minha mãe não tinha me dado qualquer senso de moda. Meu pai não tinha feito tampouco, mas pelo menos ele tentou. Sério, eu estava tentando ser boa. Eu não tinha fugido de casa, em quase uma semana, além da vez que tive que manter as asas negras longe de Josh. Eu ligava quando ia chegar tarde, e sempre estava lá para o jantar, menos quando fingia que ia comer na casa de Josh. Isso vai ficar mais difícil agora, porque eu tenho que lutar como uma timekeepers e tentar salvar almas. — Todos estão muito quietos — ele falou de repente, e eu levantei a cabeça pra cima. — Foi tudo bem na escola hoje? Merda. O quê? Quer falar sobre a escola? — Eu estou na classe de economia doméstica, — Nakita disse hesitante, vendo que eu estava quase entrando em pânico.
64 Uma ligeira careta cruzou o rosto do meu pai, mas ele relaxou, colocando seu cotovelo na mesa. — Eu odiava essa classe. Eles ainda fazem você fazer bolsas para livros? Nakita pegou um bolo de macarrão que estava fora de seu garfo e começou a enrolar outro bolo. — Por que um livro precisa de bolsa? — Uh, Nakita e eu estamos na classe de fotografias juntas — interrompi, tentando tirar a sua expressão confusa. Em todo o caso, tudo o que meu pai sabia, era que Nakita era da Nova Escócia e falava francês como sua língua natal. Na escola, as pessoas achavam que ela morava na minha casa, era uma pequena intervenção de um anjo. Ninguém se preocupou em verificar de onde era. Na realidade, eu não sabia de onde ela veio. Josh comeu um pedaço de pão. — Temos física juntos, — disse ele, enquanto comia. — Sim. Eu sorri por causa de exclamação fraca. — Foi muito bom ver todos outra vez — disse, enquanto acabava com outra garfada de massa. Meu pai sorriu com cumplicidade. — Este ano será melhor. Você vai ver — ele afirma, enquanto puxa um pedaço de pão e o mergulha no azeite e vinagre. — E depois a faculdade. — Posso conseguir passando primeiro em física? — Eu perguntei com um gemido. — Pelo menos tenho fotografia esse ano. Isso vai ser divertido. A cabeça do meu pai sacudiu — Isso me lembra, — disse ele, olhando por cima do meu ombro pro painel de avisos de telefones na parede. — Eu recebi um telefonema de sua professora de fotografia com uma lista de suprimentos da classe. Por que diabos ela não te deu quando você estava na escola? — A Sra. Cartwright? — Eu pergunto, sentindo uma olhada de preocupação, e ele assentiu. — Hm, talvez ela não soubesse no momento — eu sugeri, tentando não mentir. Ótimo, pensei enquanto olhava pra Josh, que encolhia os ombros — Precisa ir ao shopping essa noite? — Meu pai perguntou seus olhos se movendo para as unhas negras de Nakita.
65 — Eu posso levar você — Josh disse voluntariamente, vendo uma oportunidade para me livrar da forca8,mas meu impulso de dizer sim morreu. Seria uma boa maneira de sair do radar do meu pai por algumas horas, mas não podia escapar até que ele pensasse que eu estava na cama.
— Uh, não — eu balbuciei, e Josh ficou desapontado. — Eu provavelmente tenho algo disso lá em cima — eu ainda não tinha visto a lista, mas eu tenho todas as minhas coisas do ano passado. — Preciso de uma câmera — disse Nakita de repente, sua voz com um tom de preocupação. — Tenho uma que posso te emprestar — disse rapidamente. — Não se preocupe com isso Nakita. Ela limpou os lábios com o guardanapo. — Eu nunca usei uma antes. Não quero quebrá-la. Nakita parecia genuinamente preocupada, e meu pai riu. — Se é o que estou pensando, você não pode. Ele colocou o cotovelo na mesa e se inclinou para frente. — Madison costumava ser muito dura com suas câmeras, mas não posso culpá-la. Ela tem tirado fotos desde os quatro anos de idade. — Quanto tempo tem estado por detrás da lente? — Nakita piscou surpresa, como de costume, quando meu pai tenta incluir ela na conversa. Meu pai gostava dela, pensava que ela era estudiosa e tranquila, que ela poderia me aquietar. Mas eu provavelmente poderia trazer para casa uma menina motociclista e ele pediria que ela ficasse para jantar, como prova de que eu não estava deprimida e sozinha lá em cima, evitando as pessoas, como havia feito no meu primeiro ano aqui. Agora que eu tinha amigos para jantar aqui, provavelmente tinha realizado a sua semana. — Não muito tempo — ela disse, ao invés de dizer nunca, depois acrescentou — Eu não sou criativa. Estou ali porque Madison pensa que ajudará a me ajustar. — Em uma escola nova — eu soltei. 8
No original: uma forma de volver a La guardana de prevencion. Achei que assim fazia mais sentido. :x
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— Eu nunca vou ser capaz de tirar fotos como Madison — disse Nakita. — Sim — disse Josh, enquanto enxugava os últimos rastros de molho do seu prato com um pedaço de pão — Madison tira fotos incríveis. — Ah — exclamou meu pai, me fazendo pular — Todo ser humano tem criatividade. Basta praticar. Madison tem estado há um tempo — ele disse, seus olhos se perdendo em alguma memória. — Ela não deve se recordar, mas quando eu saía e a levava comigo para lugares remotos para colher as amostras. Sua mãe lhe deu a câmera para distraí-la. — Eu lembro — disse, querendo saber se meu pai iria notar se eu trocasse de prato com o Josh. Eu havia tentando jogar fora os álbuns de fotografias com nuvens e outras coisas, há quase três anos atrás, mas minha mãe tinha resgatado do lixo e os escondidos em algum lugar. — Eu tenho minha câmera velha lá em cima. — E, vendo uma maneira de sair de lá, me levantei, pegando meu prato quase cheio. — Já acabou? — meu pai perguntou, me olhando com uma expressão perdida quando Nakita seguiu o meu exemplo. Josh piscou para nós, então, pegou um último pedaço de pão da mesa enquanto ficava de pé também. Mais uma vez, a culpa me atingiu, inclusive quando eu estava jogando a comida fora, e abri a torneira para lavar o prato. Meu pai foi muito legal desde que eu tinha me mudado de volta, fazendo com que eu me sentisse querida e ainda me dando o espaço que eu precisava. Morrer e não ser capaz de lhe dizer nada parecia colocar um grande muro entre nós, nos colocando mais distantes do que quando estávamos separados por quilômetros. Mas eu não conseguia afastar a sensação de que ele lembrava a noite em que eu havia morrido. Não que ele tivesse dito algo, mas tinha uma dúvida agora onde não havia estado antes. Barnabas tinha ajeitado isso, para que meu pai não se lembrasse, mas acho
67 que meu pai o fez de algum modo. Eu não quero ficar sozinha com ele, com medo de que ele lembre enquanto lavava seu prato. Nakita estava em silêncio enquanto ela jogava fora sua comida. Ao seu lado, Josh lavou seu prato. — Será melhor que eu chegue logo em casa — disse Josh, decepcionado. Eu adoraria que ele voltasse comigo para Fort Banks, mas Nakita só podia levar apenas uma pessoa. — Tenho tempo para ajudar com os pratos, no entanto — ele adicionou. — Nakita e eu fazemos isso — eu ofereci rapidamente. De alguma forma, eu meio que lhe devo eu pensei, mas não disse isso. — Você provavelmente quer chegar antes de chover. — Eu posso dirigir na chuva, — Josh disse com um sorriso. Meu pai se adiantou e se juntou a nós na pia. — Obrigado por te vindo, Josh, — ele disse alegremente. — Eu gosto de ter uma casa barulhenta e cozinhar para mais de uma pessoa. — Pai... — Eu reclamei. — Eu simplesmente não estou com fome. — Ele não falou nada, suas sobrancelhas levantadas. Josh limpou as mãos na calça, balançando na pia, ele olhou para mim claramente querendo dizer alguma coisa. — Eu tenho que pegar as minhas coisas — disse ele finalmente, em seguida, se afastou da cozinha, deixando um silêncio constrangedor. Nakita levou o prato de pão para a pia, hesitando apenas por uns instantes antes de chegar ao saco para colocar dentro. — Podemos lavar os pratos mais tarde? Eu perguntei ao meu pai — Eu quero... — Quero o quê? Pensei em pânico. Eu não podia admitir que queria falar com o Josh. Meu pai poderia pensar que ele era meu namorado ou coisa assim. Quero dizer, ele meio que era, mas não era como se tivesse me beijado nem nada. Ainda.
68 — Vá, vá, vá — disse ele, fazendo um movimento me enxotando. — Eu limpo isso. Você vai falar com Josh. Nakita estava franzindo o cenho. Não gostava muito de Josh. Eu, porém, estava encantada, eu virei enxugando as mãos sobre o pano de prato. — Obrigada, pai! — Eu tenho que chamar a oficial Levy de qualquer maneira — disse, olhando para o relógio sobre o fogão. Oficial Levy? Ah, merda Balancei-me, e parei. Nakita e eu trocamos olhares, o meu preocupado, o dela irritado, provavelmente com Barnabas, por fazê-la parar de ceifar a mulher. Meu pai, porém, não parecia preocupado enquanto se erguia a sua altura máxima. — Pai, eu posso explicar — eu comecei. Como eu vou explicar? Eu pensei, amaldiçoando mentalmente Barnabas. Essa foi a segunda vez que ele tinha mudado as memórias das pessoas, só para devolver o suficiente para complicar a minha vida. Isso provavelmente veio de seu velho hábito de salvar o ser humano, então, partir. Ele nunca teve de lidar com as pessoas que se lembram das mentiras que eles tinham sido forçados a acreditar. Mas meu pai não parecia incomodado enquanto enxugava seu copo. — Ela me ligou no trabalho. Algo sobre ter certeza se você tinha permissão para estacionar na escola — disse ele, parecendo se divertir enquanto trabalhava nas torneiras. — Eu falei que você não tem carro, e ela ficou confusa. Mas em todo o caso, ela queria falar comigo sobre um evento para arrecadar fundos. — Oh — eu disse, relaxando. Atrás dele, os olhos de Nakita eram de um azul calmo. Se eles tivessem prata, ela estaria fazendo o controle de danos. O que seja que Barnabas tinha feito era aparentemente sustentável. — Bem, acho que não temos que se preocupar com um carro, né? — eu disse amargamente, e ele suspirou. Eu havia estado reclamando sobre meu carro na Flórida desde que cheguei aqui, e sua resposta era sempre a mesma "Ainda não".
69 Mas dessa vez, ao invés de dar a mesma resposta, ele se virou pra mim, com olhos preocupados e perguntou: — Madison, está tudo bem? Eu podia ouvir o barulho de Josh descendo as escadas, eu acenei com a cabeça, empurrando a tolha seca na prateleira, quando eu percebi que estava enrolando ela com os meus dedos. — Confie em mim, papai — eu disse, com o que eu esperava que fosse a quantidade correta de aborrecimento e sinceridade, enquanto eu andava para o corredor, encontrando Nakita do meu caminho. — Eu gosto daqui. Não vou estragar tudo. Agora eu tenho amigos e tudo mais. Mesmo sem ter um carro. Sua atenção foi para Nakita, e, sorrindo, disse: — Só me prometa que vai me dizer se precisar conversar sobre algo. Eu não posso ajudar se não souber o que está errado. Estava muito próximo de eu confessar e pedir seus conselhos. Mas o que eu fiz foi tirar a lista de suprimentos da classe da geladeira e murmurar — É apenas uma coisa normal da adolescência. — ‗Normal‘ e ‗adolescente‘ não caminham juntos — disse ele, e eu andava para a sala. — Liga para a sua mãe essa noite, ok? — acrescentou, quando Nakita saía antes de mim. — Ela ligou essa tarde, querendo falar com você. — Bem no horário da escola. Falei com ela que não se pode atender telefone na escola e que ela esperasse, mas você sabe como é sua mãe. Sua voz tinha uma velha frustração, e eu parei no arco da passagem, o vendo reviver o passado. Eu, no entanto, estava um pouco mais preocupada com o presente. Minha mãe estava a mil milhas de distância, e o seu radar de problemas ainda estava trabalhando. — Vou ligar. E obrigada por deixar Nakita dormir aqui essa noite. — Eu não sei como deixo que me peça coisas como esta. — Ele resmungou e se virou para a pia arregaçando as mangas. — Nunca tinha permissão de levar alguém para dormir e muito menos em dia de semana — Sorrindo, voltei, ficando na ponta dos pés para beijar sua bochecha. Ele estava com barba por fazer, e ele cheirava como... Pai.
70 — Porque eu sou sua favorita — disse, trazendo de volta uma velha piada da família que não tinha sido dita em quase dez anos. Meu pai sorriu, acabando com todos os sentimentos desconfortáveis. — A única, — disse ele, me dando um abraço desajeitado enquanto ele tentava não me molhar com espumas de sabão. — As luzes se apagam às dez. Estou falando sério. — Estávamos bem, e, caminhando com passo rápido, eu fui ao corredor encontrar Josh de pé com Nakita, sua mochila no ombro. Vendo-me a deixou deslizar para o chão. Da cozinha, a corrente de água que enchia a pia foi interrompida momentaneamente. Josh olhou para a cozinha enquanto eu me aproximava. — Vejo você amanhã? — ele perguntou, e eu assenti. Provavelmente seria de uma maneira ou de outra pelo nascer do sol. — Obrigada por tudo — eu disse, olhando sua mochila, em seguida, fiz uma careta. — Josh me desculpe. Eu sei que você queria vir conosco. Seus olhos estavam no teto. — Da próxima vez, talvez, — disse ele, fazendo com que eu me sentisse pior. Nakita cruzou os braços sobre o peito, deslocando seu peso para um pé. O olhar de Josh foi para ela, e ele franziu a testa. — Você se importa se eu falar com Madison, sozinho? — ele perguntou. Ela suspirou, revirando os olhos. Ofendida, ela girou sobre um salto, e subiu pelas escadas. Eu juro, algumas coisas inoportunas ela entendia rápido. Eu ainda estava sorrindo quando voltei minha atenção para Josh. Mas vendo seus olhos se iluminarem enquanto eu o olhei, senti uma faísca de nervosismo acender. Ele quer ficar sozinho comigo? — Você tem toda sua lição de casa? — Ele perguntou, olhando para a nota em minhas mãos. — Sim, obrigada — eu disse, empurrando a nota no meu bolso. — Eu realmente queria que viesse. Nakita não pode levar mais de uma pessoa. — Seus olhos foram da
71 arcada aberta para a cozinha. — Tudo bem — disse ele, dando um passo para trás perto da porta. — Apenas não me transforme em um cara de biblioteca, que procura as coisas sempre que você pede — sorriu — O jantar estava bom. — Eu tomarei a sua palavra sobre isso. Josh pegou as chaves de seu carro no bolso, e alcançou a porta atrás dele — Bem, vejo você amanhã — disse ele, ajeitando a mochila no ombro. A decepção se alastrou em mim. Mas o que eu esperava? Não era como se estivéssemos em um encontro, excerto no baile do ano passado, e foi um desastre. Alcançando ele, toquei sua mão. Josh parou, a porta se abriu. — Obrigada — sussurrei. — Josh, estou falando sério. Ele olhou para nossas mãos, em seguida, para a cozinha, onde meu pai estava ruidosamente colocando os pratos na máquina de lavar louça. — Será que seu pai ficaria louco se eu te desse um beijo de despedida? — Ele perguntou. Pisquei, meu coração pulou uma batida antes que eu pudesse detê-lo. — Provavelmente — eu disse, me sentindo sem fôlego. Eu tinha beijado meninos antes. Minha mãe não pegava no meu pé porque eu era uma santa, mas eu tinha estado ultimamente meio morta e havia estado distante. O fato de que ele queria me beijar me emocionou até os dedos dos pés. Josh pegou minha mão um pouco mais firme. Da cozinha veio o barulho de panelas na pia. Prendi minha respiração, sentindo a memória do meu coração batendo com toda a sua força. — Não se esqueça de mim? — ele sussurrou, com a cabeça junto a minha, sem beijar, mas muito perto. O aroma de macarrão, pão e xampu me encheram com uma sensação de segurança.
72 — Nunca — eu disse, afirmando. Inclinei minha cabeça, e fechei os olhos. Nossos lábios se tocaram como eu esperava. Quente contra o meu, os seus estavam apenas ali antes dele se afastar. Um tremor subia e desceu por mim, e meus olhos abriram encontrando os seus. Ele sorria suavemente. Isto tinha ocorrido muito rápido, e ele abaixou a cabeça quando os talheres tilintaram. Eu me sentia vazia e quente. Animada e calma. Tudo ao mesmo tempo. — Devo ir — disse ele, erguendo a mochila novamente. — Sim — disse eu, pensando como algo tão simples fazia com que o mundo parecesse tão diferente. — Vejo você amanhã, Madison — ele acrescentou, olhando para a cozinha. — Tchau — eu realmente não quero que ele vá. Josh se aproximou, pegou minha mão e logo deixou que ela deslizasse enquanto ele caminhava até a porta e a fechava atrás dele. Deixei escapar um suspiro que estava contendo, quem sabe desde quanto tempo, minha atenção voltando rapidamente para a cozinha quando meu pai gritou: — Tchau, Josh. Vá com calma para a casa. — Sim, sr. A. — disse de volta fracamente, eu me virei para a escada, balançando quando vi Nakita esperando no topo. Josh não havia dado nenhum sinal de que ela houvesse estado ali, mas eu sabia por sua expressão de aborrecimento que ela tinha visto a coisa toda. — Ele te beijou — disse ela, antes que eu estivesse sequer na metade do caminho. — Não quer falar um pouco mais alto? — Eu disse acidamente. — Meu pai pode não ter ouvido você. — Se afastou pro lado quando eu cheguei perto dela, sua postura incomodada. — Isso fez teu pulso acelerar — disse ela, dando um passo atrás de mim. — Sim — eu disse, sorrindo. Através da casa, eu ouvi Josh acelerar sua caminhonete.
73 Meus pensamentos ainda estavam nele quando eu caí na minha cama. Realmente era um cara legal. Nakita fechou a porta atrás dela. — Você acha que eu deveria pintar as unhas? A mudança de assunto tirou a minha atenção do teto e eu me apoiei no meu cotovelo. — Viu meu pai olhando pra suas unhas? — lhe perguntei e ela assentiu com a cabeça, seu lindo rosto mantendo uma preocupação quase cômica. — Se você quiser. — Eu quero — ela disse, parecendo aliviada agora — E os dedos dos pés. — Eu gosto do jeito que são — eu disse, rolando em meu estômago para chegar à mesa da cabeceira. Mantendo-a aberta, eu procurei até que encontrei um esmalte vermelho brilhante que combinava com sua bolsa, que agora estava em cima da minha cômoda ao lado dos nossos livros didáticos. Josh os havia trazido, também. Cara, eu realmente devia a ele. — Que tal? — Eu perguntei, enquanto levantava para ela. Nakita o pegou, sua expressão vazia. — Tem uma cor um pouco mais clara? De repente eu percebi que ela estava tentando parecer normal. — Eu tenho cor de rosa — eu disse e Nakita relaxou visivelmente. — Obrigada. Ela era toda sorriso de novo. Pensando que nada mais poderia ser rotulado como transtorno bipolar, fechei a gaveta e peguei a lista de materiais da aula de fotografia no meu bolso, olhando para o papel amassado e mentalmente comparando com as coisas que eu tinha no meu armário. — Maior parte disso eu tenho — disse, virando e caindo sobre meus pés. — Você quer minha câmera vermelha ou preta? — Preta. Não, vermelha — ela disse rapidamente, e depois continuou — Qual delas você escolheria?
74 Abri meu armário. Com as mãos em meus quadris, eu procurei a caixa onde eu havia escondido elas. Josh disse que eu tiro excelentes fotos. Meu pai tinha dito a mesma coisa, mas ouvir de Josh tão casualmente me deixou com a sensação de calor, e calor era algo que eu não tinha sentido há meses. — Aqui está — eu sussurrei, inclinando-me sobre minhas velhas saias, tops, e jeans para pegar a caixa na parte de trás. Isso era do supermercado onde minha mãe fazia compras, e eu senti uma pontada nostalgia quando a coloquei na minha cômoda. Ligar para mamãe. Não esquecer. O aroma inconfundível de peças eletrônicas veio quando eu abri a caixa, fazendo cócegas de memórias. — A vermelha é mais recente, mas a preta é mais versátil. — Eu disse, e quando ela piscou vagamente para mim, eu lhe entreguei a preta. — Essa tira fotos melhores. Não se foca automaticamente, e você pode escolher focalizar. Às vezes tirar de algo espalhado é mais fácil ver o que está tentando mostrar. — Okay, não tinha muito sentido, mas ela pegou a câmera antiga, cuidadosamente abrindo sua bolsa e colocando-a dentro. Juro que vi seu sorriso quando a bolsa outra hora inútil, agora tinha um uso. Era a única coisa ali. — Pode colocar o esmalte, também — eu disse, pensando que uma bolsa realmente deveria ter mais do que apenas uma coisa nela. — Obrigada — disse ela seriamente, quando colocou sua bolsa ao lado dos seus livros e tirou as sandálias como uma pessoal normal. Normal, sim, mas perfeitamente localizada debaixo da minha janela, como se todo o tempo tivessem estado ali. — Nunca vou ser tão boa como você — ela disse melancólica. Olhei para seus pés perfeitos, então olhei para longe. Deus, não me admira que os rapazes caíssem um sobre o outro para falar com ela. Até seus pés eram lindos. — Ser 'bom' como outra pessoa não é o objetivo — eu disse, caindo de costas na cama para olhar o teto. Ligaria para minha mãe depois. — Encontrar uma forma de mostrar algo que faz você se sentir como é. Não existe uma maneira errada de tirar foto. Se te faz sentir algo. Então você fez bem.
75 A cama se moveu quando ela sentou na beira, e eu mudei o meu peso. — Acha que seu pai vai gostar? — ela perguntou. — Minhas fotos, eu quero dizer. Nakita era tão segura de si mesma quando estava em uma gadanhada, que foi estranho a ver tão insegura. — Eu sei que ele vai. Um sorriso curvou os cantos da minha boca, enquanto imaginava ela mostrando as fotos ao meu pai. Ele amava as minhas fotos. Havia uma parede inteira na sala de jantar dedicada as minhas coisas, com luzes que brilhavam em suas favoritas e tudo. Ele foi o único que falou comigo de como capturar algo que te faça sentir, e eu sei que ele tratou de descobrir o que estava passando pela minha cabeça através do que estava saindo pela minha impressora. O cheiro de esmalte era forte. A espera era desesperadora, mas não podíamos sair até que meu pai estivesse na cama. Meu olhar se desviou, encontrando a imagem de Wendy, e o meu ex-namorado, Ted, no meu espelho. Eles pareciam muito felizes juntos, na praia ao pôr do sol. Eu me virei para ver meus velhos amigos em uma posição vertical. Tinha esquecido a ideia de ter Ted na minha vida quase logo que me mudei pra cá. Os meninos são como cachorros - às vezes, leal, mas facilmente distraídos - e eu sabia logo que me mudei que ele havia encontrado a quem seguir por toda parte. Essa tinha sido a minha melhor amiga, Wendy, o que não foi uma surpresa. Cerrando os olhos, me perguntei si eu podia ver uma aura azul em torno de Wendy, misturando-se com o tom amarelo sobre Ted. Suas auras? Meus pensamentos voaram de volta a Josh e esse primeiro beijo. E sorri. — Você acha que Barnabas está indo bem? — Eu perguntei à Nakita. — Não sei. Não posso alcançá-lo — ela disse, soando quase maliciosa. Deus, o que há de errado com ela essa noite? Eu me virei, vendo ela se dobrando em um ângulo doloroso para colocar o rosto perto do pé. Seu cabelo cobrindo um lado, enquadrando suas maçãs fortes e acentuando sua pele perfeita. Seu amuleto balançava delicadamente, enquanto ela pintava as unhas negras de rosa, escondendo o que era.
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Sinceramente, parecia uma modelo. Eu, que estava muito reta nos seios, e como estava morta agora, estava presa aguardando a fada dos seios para o resto da minha existência. Não é o máximo? Nakita sabia que não poderia manter contato com Barnabas, mas isso não significava que eu tinha que perder as próximas duas horas. Meu corpo estava em algum lugar entre o agora e o depois, de acordo com o serafim que tinha testemunhado minha escolha para tomar o papel como timekeeper negra. Se eu pudesse encontrar meu corpo, então poderia votar a viver verdadeiramente e deixar de ser chefe de um sistema com que eu não eu não estava de acordo. Poderia esquecer tudo sobre timekeepers, amuletos e assas negra. Eu poderia ser eu mesma novamente. Mesmo que isso significasse esquecer tudo. Enquanto olhava Nakita, me perguntei se isso era algo que eu ainda queria fazer. ―Claro que é” eu pensei, e logo olhei pro teto, me perguntando como se encontrava o espaço entre o agora e o depois. O silêncio encheu minha alma, e eu fechei os olhos. Eu não sabia para onde olhar. Mas onde quer que fosse eu provavelmente tinha que encontrá-lo com a minha mente, não com os olhos. Tomando três respirações lentas e segurando a última, deixando escapar o ar lentamente até que meus pulmões estavam vazios. Foi o primeiro passo para o exercício que Barnabas deu, "o centro de si mesmo". — O que você está fazendo? — Nakita perguntou, me assustando, apesar de sua voz ter sido baixa. Respirei. — Além de esperar que meu pai vá dormir? Estou vendo se posso encontrar o agora e o depois. — Era isso, ou ligar pra minha mãe. A ouvi mudar de posição e começar a trabalhar no outro pé. — Boa sorte com isso. Ergui as sobrancelhas. A frase moderna tinha soado estranha vinda dela. Ela estava louca. — Está fingindo muito bem, Nakita — eu disse enquanto abria os olhos e me sentava com as pernas cruzadas sobre a minha cama. — Pareceu quase como uma adolescente de verdade assim.
77 — Você não quer ser uma timekeeper — acusou ela, seus olhos azuis sem piscar, ela continuou, irritada. — Você não quer ser a timekeeper negra. Acho que se você tivesse a chance colocaria um anjo da guarda no seu lugar. Isso é o que está incomodando-a? — Eu não vou colocar um anjo da guarda em meu lugar — eu disse. — Um anjo da guarda não conseguiria nada, — eu peguei o esmalte vermelho e esfreguei o frasco entre as palmas das mãos para misturar, sem colocar o ar nele. Nakita me olhou misturar o esmalte, e eu quase podia ver seu lista de informação pegando à distância. Seus olhos próximos, ela apertou os lábios e olhou. — Você não acredita em destino. Tão logo você não precisar de um amuleto pra te manter viva, você vai devolvê-lo. E então esquecer tudo. Eu estava lá. Eu ouvi você dizer ao serafim. — Nakita... — eu comecei. — Está tudo bem, — ela disse com força, e mergulhou o pincel de volta ao frasco equilibrando-o precariamente nas dobras do joelho. — Eu sou uma ceifadora negra. É o meu trabalho gadanhar pessoas. Eu não espero que você goste de mim. Isso estava ficando cada vez pior. Suspirando, coloquei o frasco sobre minha cômoda e cuidadosamente o abri. — Você gosta de mim — eu disse incapaz de olhar pra ela enquanto eu colocava uma listra vermelha em minhas unhas pretas. — Eu acho que você é legal. Deus, Nakita, você pode voar, — olhei pra cima. — Mas eu sinto falta de dormir. Eu gosto de estar com fome, e então me sentir bem depois que comer. Eu me sinto mal por mentir para o meu pai e pelas memórias modificadas. E eu não posso ser chefe de um sistema que não acredito. Se eu não posso mudar as coisas, então eu vou desistir do amuleto assim que eu recuperar meu corpo. Ela tomou fôlego para falar. Seus olhos fixos nos meus, eu não podia desviar o olhar. — Mas você é boa nisso — ela disse suavemente. Sou boa nisso? Chocada, olhei-a fixamente, e uma gota vermelha caiu no meu edredom. — Como é isso? — eu perguntei, deixando o pincel no frasco e lutando para obter um lenço de papel. — Você deixou bem claro que acha que eu estou fazendo a coisa errada. Como posso convencer os serafins, se nem posso te convencer?
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Ótimo. Papai vai ficar louco por causa do edredom. Pensei nervosa enquanto secava o pior de tudo, mas a confusão estava em seus olhos quando eu levantei a vista para ela. — Não sei — ela disse. — Mas você acredita no que está fazendo. Timekeepers mudam por uma razão. Você ama ajudar as pessoas, mas eu não entendo o que você está tentando fazer. Os erros não importam. É o que ocorre quando se erra no que está fazendo. — Além disso — Nakita disse baixo quando ela voltou sua atenção a suas unhas — Vou sentir sua falta. Sentei-me na cama, duas unhas pintadas, o resto estava completamente preto. Eu não sabia o que dizer. Minha cortina se movendo com a rajada de vento, e um trovão deu mais peso as suas últimas palavras. O sol ainda estava lá, provavelmente, mas eu não conseguia ver por detrás das nuvens escuras. O suspiro de Nakita se misturou com as primeiras gotas de chuva batendo no telhado. Eu tinha que dizer algo, mas nada passou pela minha cabeça abençoadamente vazia enquanto grandes golpes de chuva golpeavam esporadicamente e o cheiro de telha úmida à deriva na brisa... Ainda seguia na busca de algo para dizer para dar conforto a ela, e deixar minhas intenções claras, e fui para perto da janela. — Nakita — comecei, olhando para a escuridão antecipada e as nuvens cinza. Mas um som suave de um “oh” tão familiar raspou na minha consciência como um cochicho. Era o som de sapatos pisando no telhado. E então o suave tilintar de Grace cantando: — Havia uma vez um menino em um telhado, que se manteve longe demais. Como um caracol que rasteja, até que levou uma grande queda. Porque na realidade era um grande idiota... Barnabas voltou? — Barnabas? — Gritei em voz alta, debruçando-me na janela. Nakita olhou para cima, terminando as unhas dos pés. Uma súbita palpitação desde o teto tremeu por mim. Procurando a tela, eu levantei a parte livre e deixei ao lado. Um grito de ajuda do teto colocou Nakita em pé, e com o som aterrorizante de deslizamento de areia, uma sombra branca caiu por minha janela. Balançando os braços e as pernas, alguém caiu
79 do telhado. Um forte estrondo, seguido de um gemido aumentando com o suave barulho do trovão. Virei-me para Nakita. — Não acredito que é o Barnabas — eu disse. Seu rosto estava calmo, mas seus olhos era prata. — Eu não posso dizer. Quem quer que seja está protegendo sua aura. — Ansiosa pra encontrá-lo, ela me entregou o esmalte. — Eu já volto. — Meus olhos se arregalaram. — Nakita! — Eu sussurrei, mas ela já tinha colocado a mão em seu amuleto. Um brilho de luz violeta passou por cima dela, e logo sua espada apareceu na sua mão livre. — Nakita, espera! — Eu exigi, enquanto tentava manter o esmalte para baixo, mas ela estava a meio caminho entre mim e a janela e o teto. — Maldita seja, quero te ver aqui sobre o tapete. — Sussurrei enquanto ela permanecia de pé, na beira do telhado e olhava para baixo com a mão no quadril. O vento soprava e a chuva batia com mais força, os galhos acima do meu quarto bloqueando a maior parte. — Quem é você? — Ela perguntou em voz alta enquanto olhava para baixo, depois ela sumiu de vista. — Grace — gritei. Ok, não tinha escutado Barnabas, mas era alguém, e Grace poderia ter o feito cair. O anjo da guarda voou, trazendo com ela o cheiro de ozônio e de chuva, lançandose com desgosto, se é que uma bola de luz podia ser envergonhada. — Droga, Madison! Eu não queria que você soubesse que eu estava aqui — ela disse em tom decepcionado. — Não estava te espiando. Eu juro! Foi esse menino timekeeper em preparação. Paul não estava sendo amável, então o fiz cair. Era pra você não saber que eu estava aqui! — Vai encontrar Barnabas — eu disse, com a minha mão no peitoril da janela.
80 — Você está louca? — A luz era tudo o que eu podia ver dela enquanto suas asas pararam de se mover. — Não, mas eu vou ficar se não for buscar Barnabas. Ele está protegido, e eu não posso alcançá-lo. — Na verdade, eu estava furiosa, mas estava mais preocupada por Nakita e o que tinha caído do telhado. — Eu vou voltar — respondeu de volta, e ela se lançou pela janela. Tomando ar, alcancei de novo a janela. Um surpreendente ataque de fúria veio do quintal, debaixo da minha janela, seguido por um som metálico. Era mais um sentimento do que um som e uma lavagem violeta na parte inferior das folhas do carvalho por cima do meu quarto. Isso não parecia bom. Empurrando as cortinhas de lado, subi ao telhado quente, úmido e entrei na noite pesada.
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SEIS
Meus tênis escorregaram sobre a areia úmida da cobertura e me sentei rapidamente, antes de cair. Os ramos que pairam sobre a casa deixavam a noite mais escura do que parecia e cuidadosamente me aproximei da borda, olhando para baixo para encontrar Nakita de pé ao lado de alguém. Tinha duas espadas, uma em cada mão. Meus lábios se separaram quando eu reconheci o sujeito, agora totalmente em pé no meu quintal. Eu já tinha o visto no deserto através dos olhos de Ron. Tinha um amuleto de um brilhante verde escuro terra. A profunda cor se refletiu em uma das espadas que levantava Nakita - a sua, obviamente. Grace tinha chamado Paul. — Diga-me quem você é! — exigiu Nakita. Suspirando, mexi meus pés para frente e me deixei cair pelo o beiral, me empurrando para fora para não enganchar as meias em nada. Caí ao chão, em um forte golpe e rapidamente empurrei para baixo a minha saia. — Nakita! Vai com calma! — Eu disse em um sussurro enquanto o choque do impacto me fazia estremecer. Ele virou para mim e eu acrescentei, — Eu acho que é o substituto de Ron, Paul.
82 — Chronos é que... — ela começou, para depois gritar e pular de volta enquanto o garoto lhe golpeava. Sandy, o Golden Retriver9 um cão de caça dourado do nosso vizinho, começou a pular e latir ao redor da cerca. O sujeito se mexeu e se levantou, endireitando as suas roupas, enquanto ele se deteve bem dentro do alcance de Nakita. Tolo mortal. — Dê-me minha foice,10 — exigiu, mas Nakita não o escutava. Nem mesmo Sandy quando eu lhe pedi que se calasse. Estava chovendo com mais força e até estando debaixo da árvore nós estávamos molhando. — Você é o novo timekeeper Branco? — ela perguntou, com o rosto sombrio, mas com uma voz clara. — Tem apenas a idade suficiente. Eu estremeci em condolência por que ele fechou sua mandíbula e resistiu sua mão. — Só me dê minha espada, ok? — Seu sotaque era claramente do centro-oeste norteamericano, apesar de suas roupas - a horrível camisa e calças que tinha visto através dos olhos de Ron, hoje, - parecendo alguém que faz artes marciais. Eu tinha certeza que Ron lhe dava conselhos divertidos sobre sua roupa. Nakita levantou o queixo e tomou uma postura mais firme. — Por quê? Você estava nos espionando! — Porque devolvendo a ele sua espada é a coisa mais decente a fazer, — disse, pensando que parte da minha conversa com Nakita, ele teria ouvido. Genial. Ron não precisava saber que Nakita estava preocupada com minha futura traição. Sandy finalmente parou de latir, e me aproximei calmamente de Nakita. Foi bom sentir no controle por uma vez, e olhei fixamente enquanto ele me olhava de cima para baixo. — Vá para o inferno — me disse simplesmente. Oooh, genial. — Novo plano. Não dê a ele sua espada — eu disse, e ele retirou-se para a sombra da garagem, muito mais perto de Sandy. O cão amigável começou a escavar a cerca.
9 10
Raça canina. http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2005/guiadobrinquedo/images/halloween-0043-470.jpg
83 — Vê? É um mal-educado, — disse Nakita enquanto me deu a sua espada e Paul se colocava rígido. A espada Paul pesava em minhas mãos, com uma espécie de comichão, mas não sabia se me movimentava e lhe mostrar que não sabia como usá-la. Nunca havia visto uma pedra tão bonita, no entanto o brilho verde do seu cabo foi uma combinação perfeita com o seu amuleto, com umas bolinhas douradas atravessando-o como os olhos de um gato. O sujeito se acalmou, claramente não gostava que eu a segurasse. — Eu não sou o único que mata por eleições e feitos que ainda não o fizeram. — Quem? Eu ou ela? — Perguntou Nakita. Dei uma olhada a janela aberta do meu quarto. — Você consegue tranquilizar? Meu pai está lá dentro — disse, mas ninguém estava me ouvindo. Os olhos de Paul estavam fixados em sua espada. Oh, legal. Ele a queria desesperadamente. — Onde está Ron? — Perguntei, com uma ideia repentina, e seu rosto perdeu a expressão. Estava escuro, mas ainda podia ver o rosto dele na penumbra luz da varanda dianteira. O som da chuva ficou mais pesado, e uma leve névoa começou a silvar por entre as folhas, chegando a nos. Ao meu lado, Nakita fez um pequeno ruído de prazer, — Ele tem medo, — disse, erguendo a ponta de sua espada, e ele deu mais um passo pra trás em direção à cerca. — Conheço o medo. Eu conheço isto melhor que qualquer Ceifeiro que nunca tenha pegado as asas. Chronos não sabe que você está aqui, e você tem medo. — Ela me olhou, curvando os lábios. — Ele me lembra você. Impulsivo. Nossa, obrigada, pensei, enquanto o aprendiz de Ron ficou rígido. — Eu não sou como você! — Afirmou, então, levantou os olhos para o céu, ao som das asas. Era Barnabas - também Grace - e meus ombros ficaram mais leves. O cheiro de girassóis logo encheu o ar pesado. Um flash de luz iluminou a noite e o trovão ecoou sobre nós. Raio. Sim, isso iria acabar bem.
84 — Nós estamos bem! Estamos todos bem! — Disse o mais alto que eu ousei, olhando para a janela brilhante do meu segundo andar. A última coisa que precisávamos era de outra foice puxada. Grace deu três voltas em torno de mim e de Nakita e depois foi para a árvore. Paul não a olhou. Curioso... Nakita manteve o seu aperto sobre a espada enquanto chegava Barnabas. Suas asas desapareceram e estava como sempre, com seus jeans e uma camisa cinza que usava às vezes, andando pela calmamente pela grama de forma casual. As queixas de Sandy aumentaram, a cauda se movia como louca e fazia Paul ficar mais agitado. — Eu sei quem você é, — disse Paul a Barnabas, se moveu para a cerca até que percebeu que o cão fazia outro movimento. — Você se tornou sombrio. Traidor asqueroso! Você está pior do que eles. — Ele é rude! — Disse Grace. — É por que o fiz cair do telhado, para que fosse um grande golpe! Sabia que a acusação do Paul aborreceu Barnabas, mas não parecia afetado, seu passo não hesitou vindo em nossa direção e depois continuou. Paul empalideceu. Olhando assustado, ele se aproximou sobre a cerca, mas Barnabas foi para o cão, que lhe deu uma lambida, quando ele murmurou uma saudação e passou os dedos ao redor da cadela. — Bem, bem, bem — disse ele ligeiramente enquanto ele secava seus dedos em sua camisa e tirava a espada da minha inexperiente mão. Um arrepio me percorreu enquanto a pegava e estremeci. — Olha quem se livrou da correia, — acrescentou, examinando a joia verde. — Você é substituição do Ron, não é? Será o novo timekeeper branco? Paul teimosamente não disse nada, mas obviamente que era. — Eu disse que era — Grace disse feliz. — Os serafins o viram sair e me mandaram para vigiá-lo. Eu não estava espionando Madison. Eu sabia que Madison estaria bem com Nakita. — O anjo circulou em volta de mim. — De verdade Madison. Eu não fazia.
85 — Acredito em você — eu disse, e eu juro, suas asas cresceram tão brilhantes que Paul teve que se fixar nela. Mas ele não fez, seus olhos me disseram que achava que estava conversando com Barnabas. — Ele caiu do telhado, — disse Nakita. — Ele é tão imprudente como Madison. Nos próximos cem anos será bastante difícil até que eles compreendam o que estão fazendo. Paul fez uma careta, eu tampouco estava muito feliz com isso. Grace animou-se. — Oh! — Ela exclamou, finalmente entendendo porque Paul não tinha ideia de que ela estava lá. — Ele não pode me ver? Por que não? Ela correu para pairar na frente de seu amuleto. — Era uma vez um guardião chamado Ron, que teve a inteligência de um camarão-rosa11. Ele fez um amuleto, que deu para seu aluno, mas seus poderes foram considerados um bocejo. Ron tinha dado a Paul um amuleto de nível inferior? Por que não me surpreende? Nakita estava rindo, e até Barnabas riu silenciosamente. — Como é que você estava no meu telhado? — perguntei, olhando para a joia enquanto Barnabas virava a lâmina de modo que brilhava sob a luz do poste a frente. — É isso que eu quero saber — disse Barnabas, começando a manejar a espada, testando o balanço da lâmina com séries rápidas, mudanças intrincadas quase rápido demais para acompanhar, girando uma e outra vez, enquanto ele se movia. Eu estava acostumada com o domínio do anjo, mas Paul assistiu de boca aberta. A espada havia sido criada pelo amuleto de Paul e até que sua energia voltasse para a pedra, o seu amuleto seria diminuído. Havia assumido o controle do amuleto de Nakita uma vez para tomar posse de sua espada. Paul tinha o direito de estar preocupado. — Me devolve minha espada! — Disse Paul e Barnabas o olhou de cima a baixo quando parou seus movimentos. A raiva nos olhos de Barnabé era algo novo e eu não gostava de vê-la lá. — Por que estava no telhado da Timekeeper negro? — Exigiu Barnabas, e percebi o quanto isso o incomodava. Estava chateado também, e ali, de pé, ombro a ombro com Nakita, Paul se encurralou contra a cerca.
86 Atrás dele, Sandy reclamou. Estava começando a chover mais forte e eu juro que eu podia sentir o cheiro das penas molhadas. Paul ficou em silêncio, seus olhos brilhavam na luz fraca. Eu coloquei a mão no meu quadril, prestes a deixar Nakita seguir o seu caminho, quando uma voz de dentro gritou: — Madison? Merda, era meu pai. Fazendo uma careta, olhei para a janela brilhante. Soava como se tivesse chamado de baixo, mas isso pode mudar muito rapidamente. — Eu vou lidar com isso — disse Barnabas, enquanto ele me entregava a espada de Paul. Estava quente em minhas mãos, escorregadia com chuva e mais uma vez me surpreendi o quão ruim ela estava em minhas mãos. Depois de dar uma olhada em Nakita avisando para se comportar, Barnabas correu para a porta e tocou a campainha. — Vá para as sombras — Nakita assobiou e ficamos de pé ao lado da garagem. Aqui era aonde ele normalmente ia ao telhado quando se escondia e eu trazia os biscoitos de cachorro que eu tinha na janela da garagem, jogando sobre a cerca para se manter ocupada Sandy enquanto meu pai abria a porta. Paul inclinou-se para o cão com as pontas do cabelo pingando. — Você não pode me tocar — disse a Nakita, mas ele também parecia ansioso para não ser pego. — Ela pode apenas matá-lo — disse sem rodeios e Grace suspirou profundamente. — Era a lâmina de ceifeiro que me matou. Os olhos de Paul se arregalaram e Nakita sorriu. — Você não sabia isso, verdade? — ela sussurrou enquanto meu pai abria a porta e Barnabas dizia: — Olá. — Era uma vez um homem com um grande ego, — cantou Grace baixinho, pouco a pouco perdendo altitude até que ela parou na beirada da janela — ...eu pensei que era um grande heroi. Como um ceifeiro escuro, ele ceifou um timekeeper. Mas isso só fez dele um grande zero.
11
Camarão-rosa: fruta. De acordo com o contexto, Grace diz que Ron não é muito inteligente.
87 Ela estava falando sobre Kairos, o timekeeper cujo amuleto eu tinha agora. Não só tentou me matar para manter a posição, ele havia matado seu antecessor, para ganhar o título inicial. Paul recuou, então se mudou para dar uma olhada em torno do canto. Um raio de luz na noite iluminou Barnabas. Sei que foi na minha imaginação, mas meu pai parecia pálido em comparação com ele. — Oi, sr. A, — disse Barnabas, parecendo completamente normal. — Eu sei que é tarde, mas eu tenho que levar Nakita para casa. Uma pontada de culpa me bateu e eu fiz uma careta quando a minha figura paterna eclipsou a luz e a voz retumbante disse: — Eu pensei que iria passar a noite. Vamos entre. — Iria, — disse Barnabas enquanto ele enxugava os pés na entrada. — Mas ela não... — A porta se fechou e eu não podia ouvir a mentira de que ia dizer. — Pelas penas quebradas de Gabriel — choramingou Nakita, olhando pela janela. — Agora eu tenho que ir fazer uma aparição. Madison, ficará bem? — Claro — disse eu, levantando a espada de Paul. — Apenas não fique muito tempo. — Eu ia devolver para Paul a sua espada, logo quando saísse da minha vista. Se tentasse alguma coisa depois disso, Grace poderia prendê-lo e o fazer tropeçar nos próprios pés. Sem saber dos meus planos, Nakita olhou veemente, pedindo para ele se comportar. Escapando do telhado da garagem, saltou para cima, agarrando e balançando a si própria como um astro do esporte. Eu fazia assim, mas precisava de um apoio para fazêlo. Eu era muito menos elegante também. Quando ele se levantou, sacudiu a poeira da calça jeans e parou um curto prazo a minha janela. Eu ouvi, mais que vi, como ela deslizou para dentro. Enfim sós... — Se tentar alguma coisa, — disse Grace ao meu lado — Eu vou soltar Sandy sobre ele.
88 Eu não quero saber como estava pensando conseguir que Sandy passasse a cerca. Poderia implicar um raio. Exalando um suspiro de ar que tinha levado, provavelmente, dois minutos antes, olhei para Paul. — Aqui está, — eu disse, dando a ele sua espada, com a ponta para baixo. — Desculpe. Nakita é um pouco intensa. — Madison, — exclamou Grace, tornando-se três tons mais claros, e a ignorei. Na verdade, Paul não tomou a decisão mais certa. — Não vou deixar você matar de novo! — ele gritou e eu tive que pular para trás quando me atacou, acertando minhas costas na barra de um lado da garagem. Algo que senti como penas frias e escuras se deslizaram ao meu lado, e eu ofeguei. — Hey! — Gritei quando eu percebi que eu tinha evitado alguma coisa. — Qual é o seu problema amigo? — Exclamei, enquanto Sandy ladrou furiosamente. Grace estava rindo, fora da minha faixa de audição, enquanto seu esplendor era deslocado violentamente em todo o espectro. Eu ainda não vi Grace. Paul olhava para mim firmemente com sua espada apertada em punho, enquanto as gotas de chuva escorriam em seu rosto. — Eu te golpeei! Eu sei que te golpeei! — Ele disse, soando traído. — Passou através de você e você está bem! Realmente está morta! — Você acha? — Disse bruscamente enquanto tirava a camisa para ver se a havia cortado. Grace rolou na grama com uma cor vermelha de tanto rir. — Você deseja estar morto também? Basta seguir por este caminho, idiota. Que diabos se passa? Ficou olhando, enquanto dava passos para trás e atingiu a cerca. Sandy saltou para ele e deu um passo adiante distraído, com as patas molhadas de cachorro de volta com segurança. — Ron disse que estava, — balbuciou. — Ele às vezes diz a verdade. — Felizmente a espada de Paulo foi desenhada para destruir as almas não tecidos. Minha camisa estava bem. — Você sabe quanto custa uma
89 como esta? — Perguntei, aliviada por não ter que explicar ao meu pai. — O fato de você sair por aí como Luke Skywalker12 não significa que o resto quer vestir de trapos! — Paul era um Timekeeper nascente, que em prática seria como um Ceifeiro. Virou a grande espada como um senhor medieval o que o fazia parecer como um bastardo. — Quase faz sentido, Grace — eu disse, e alçou voo novamente. Ela brilhava suavemente, e uma tela de poeira caiu sobre ela enquanto a chuva se desfez em suas asas. Os olhos de Paul olharam ao redor, quando percebeu que não estava tão só quanto eu parecia. Inseguro, ele permaneceu em silêncio até que os nossos olhos se encontraram. — Você não é o que eu pensei que seria. Encolhi os ombros, encostada na garagem para ficar fora da chuva, cruzando os braços sobre o peito, até que percebi que me fazia parecer mais vulnerável, então coloquei os polegares nos bolsos. — Ron disse que eu era a morte com patins de rodas? — eu disse, ainda irritada com a espada. — Ele disse a você que ele mentiu sobre quem eu era? Depois que eu estava morta, e tudo isso? Disse que escondeu a minha existência aos serafins para que eles não pudessem me dar o meu corpo e que eu não pudesse voltar a viver? Estou morta, Paul, e isso é uma merda. Paulo abaixou os olhos. Grace, também estava em silêncio, provavelmente recordando o seu papel neste contexto. Ron a tinha usado muito bem. Um trovão soou distante e à luz da lâmpada da rua iluminou o cabelo molhado de Paul. Agora ele era negro, mas quando eu tinha visto no deserto parecia marrom. — Eu não queria ser o timekeeper negro, — eu disse, e apertei os lábios como se ele não acreditasse em mim. — Eu ainda não quero. Eu poderia ter conseguido o meu corpo naquele momento e deixar tudo isso. — Mostrei o meu amuleto, querendo que visse quanto mais velho era do que o dele. Poderia saber como usá-lo, mas era muito mais potente do que Ron o havia dado. — Mas Ron não contou a ninguém, e quando soube da verdade, Kairos tinha morrido e já era tarde demais. Ron falou sobre ele, certo? — O antigo timekeeper, — disse Paul. — Você o matou?
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Personagem de Star Wars.
90 — Que parte do eu não sou uma assassina não entendeu? — Grace murmurou e sentiu uma onda de calor que me encheu enquanto posava no meu ombro. — Não — disse. — Nakita o ceifou quando soube que ele tinha mentido para ela e que eu era o seu substituto. Ele não gostou que estivesse indo contra os serafins me matando. Você sabe o que é ter alguém tentando matá-lo? Eu dei um passo à frente, deixando a parede da garagem e ele deu um meio passo para trás. — Não. — É o que me acontece o tempo todo. Paul olhou para sua espada e Grace se afastou do meu ombro. Por um momento, a espada brilhava em todo seu comprimento. Então sua mão estava vazia. Um brilho de ouro nadava nas profundezas do seu amuleto e, em seguida, este também ficou escuro e em repouso. Era uma pedra lisa preta. — Por que você veio aqui? — Perguntei, sentindo quase deprimida. Esse cara me odiava e nem sequer me conhecia. Paul olhou para a rua e depois para mim. — Ron disse que você estava tentando salvar alguém. Mas era o seu trabalho enviar ceifeiros para pôr fim às vidas prematuramente. Queria ver por mim mesmo. Ele não tinha acreditado em Ron. Muito curioso. As asas de Grace tornaram-se mais disponível e ela sussurrou: — Eu disse que eu não estava espionando. Os serafins sabiam que ele viria a seu encontro hoje à noite, e eu fui enviada para certificar de que ambos sobreviveriam. Oh, sério? Isso era... perturbador. Deixando isso de lado, me endireitei. — E? — Perguntei. Atrás dele, Sandy estava calmamente sentada na chuva, acenando com sua cauda, como se cumprimentasse a terra. — Bem, você é uma Timekeeper Negro, — disse ele, mal humorado. — Ser negro não significa ser ruim — eu disse com veemência. — A luz para a escolha humana é fácil de ver. A escuridão é o destino oculto, outra opção para matar. —
91 Respirei lentamente. Ele poderia sair agora se quisesse – apesar de que não ter falado muito. Ou talvez ele queria dizer que queria alguma coisa. — Meu nome é Madison — eu disse, caso Ron não tivesse dito. Ele hesitou, depois disse com cautela. — Eu sou Paul. — E eu sou Grace. Ponha um sorriso em seu rosto. Para toda a raça humana. Tenha um caso com a Madison — Grace murmurou, subindo um pouco para trás. Eu me sentia sozinha. Paul estava tolo de pé na chuva, com o cabelo colado na testa e as gotas de água em suas pontas. — Faça-me um favor, Paul, — eu disse. — Diga a Ron que eu quero que se afaste. Estou tentando salvar o cara. A intromissão de Ron é o que incentiva Nakita de... anh, fazer suas coisas, — conclui sem dizer a intenção de matar o garoto. — Quer você acredite ou não, eu acredito na escolha tanto quanto você. Paul começou a rir amargamente. — Escolha? O timekeepers negro não acredita na escolha. — Sim, eu sei, — eu gemi. — Mas aqui está, ok? Estou tentando encontrar uma maneira de fazer o meu trabalho de uma maneira que vai contra tudo o que eu acredito. Dê-me um tempo, certo? — Estava frustrada, muito mais perturbada do que queria, e mais confiante, apesar de estar molhada de chuva. Com a água rolando pelo seu pescoço, ele disse. — Porque não me diz simplesmente quem é a marca, e podemos por um anjo da guarda nele? Voltei para as palavras de Nakita, uma hora antes e me senti mal. Se havia prometido a ele que não, por que agora dizer que sim? — Será essa a sua resposta? — eu disse, desejando que Barnabas voltasse de pressa. — Colocar um anjo da guarda? Você pode pensar em um prazo mais curto? Além disso, o sujeito é escorregadio, Paul. Ele vai causar muita dor e sofrimento a menos que algo aconteça para mudar seu caminho. — Então você viu a diante — disse ele baixinho. — Não — disse, não querendo admitir que realmente não fosse capaz de fazer de cronometrista. — Os serafins me disseram.
92 — E você acredita neles. — Sua expressão era horrível, como se os serafins fossem ruins. — Eles não têm nenhum motivo para mentir. Paul, acreditava, tinha parado de ouvir. O som da porta da frente abrindo chegou a mim e joguei para Sandy o último osso para cães. — Eu estou tentando falar com ele — disse enquanto Barnabas e Nakita saíam discutindo. — Se eu puder ajudar este sujeito a mudar sua vida, então o destino não poderia emitir uma conclusão. E isso é tudo. Isso é tudo que estou fazendo. Agora, você pode dizer a Ron que se aposente e me deixe fazer uma tentativa real? Assim que um ceifeiro branco ou um Asa Negra se mostre causará problemas para manter Nakita afastada de... — Matá-lo. — Finalizou Paul para mim, olhando severamente. — Todo mundo tem o direito de tomar uma decisão, certa ou errada. — Não estou discutindo com você, — disse enquanto Barnabas e Nakita se aproximavam. — Mas, por que deixar alguém fazer uma escolha ruim quando um pouco de informação pode gerar uma melhor? É difícil acordar e ver que o sol sem as nuvens os cega. Sou uma atiradora cega, Paul. Pare de tentar me puxar para fora da janela. Pensou, vendo como se aproximaram os ceifeiros. — Diga-me quem você vai ceifar, — exigiu antes que chegassem perto o suficiente para ouvir — Talvez então eu acredite em você. — Não vou trair Nakita. — Disse baixo no assobiar da chuva. — Ela é minha amiga. — Seria mais fácil se você fizesse. O som dos passos de Barnabas eram muito próximo e me movi para dar espaço. Nakita levava sua bolsa a movendo como se quisesse usá-la como um martelo. Eu soube que eu parecia agitada, quando Barnabas viu minhas mãos vazias, e ele percebeu que Paul tinha a sua espada, suspirou. — Madison — ele reclamou. É claro que não iríamos chegar a lugar nenhum e eu só queria que Paul se fosse. Então eu disse, — Paul estava partindo, — então me virei para ele — certo?
93 Barnabas murmurou. — Seria melhor você chamar Ron, então. Eu não vou levá-lo voando pra casa. — Não necessito de voar pra casa, — disse Paul, e erguendo as sobrancelhas astutamente, deslizou para o lado e desapareceu em uma linha de preto brilhante. — Que merda! — Exclamei, caindo de novo em choque. — Eu não posso fazer isso! — Dirijo-me a Barnabas e Nakita. — Como é que eu não posso fazer isso? — Por Deus, ele poderia ter ido depois que eu devolvi a espada. Por que não tinha feito? — Você pode, — disse Nakita, recuperando-se rapidamente. — Apenas você não sabe como — adicionou Barnabas. Grace fez um som estridente de surpresa. — Eu consegui isto, eu consegui isto! — Ela gritou. — Meu nome é Grace, do espaço celeste. Eu estou vendo Paul, cujo rabo foi transportado. Eu preciso apressar-me. — E nesse mesmo tipo de deslizamento de luz, ela desapareceu. Irritada, coloquei o meu amuleto atrás da minha camisa molhada com desgosto. — Essas coisas não vêm com um manual? — eu murmurei. Uma coisa boa saiu disto: se Grace estava vigiando Paul, ela não estaria me assistindo. Barnabas se estremeceu, com as asas que brilhavam sob a luz da rua. — Nós estamos partindo? — Eu adivinhei e Barnabas assentiu arqueando as asas para me cobrir. — O que se passa com meu pai? Ninguém disse nada e eu virei para Nakita com os lábios franzidos. Meus pensamentos se voltaram para a discussão ao sair da casa. — O que aconteceu com meu pai? — Perguntei de novo, mais alto. Barnabas pegou meu braço e se aproximou mais íntimo. — Está no sofá, assistindo TV. O cheiro de penas molhadas, eu afastei a sua mão. — O que você fez com meu pai? — O acusei e ele enrijeceu. — Nada! — ele exclamou. — Vamos. Eu posso secar você a caminho. — Não me movi, e eu dei um olhar semicerrado a Nakita quando deu um suspiro.
94 — Ok, tudo bem. — Adicionou Barnabas. — Eu apenas dei uma lembrança de que você está na cama agora. Não estou deixando Nakita e você aqui, e eu não posso deixar a Shoe muito mais tempo. Seu pai vai ficar bem. Podemos passar através das nuvens e acima da chuva, por favor? Das sombras, uma Nakita com asas escuras queixou-se que ela poderia ter feito um trabalho melhor manipulando meu pai. De pé, com a chuva caindo pelo meu rosto, me perguntava se Paul estava certo. Poderia ter dado o nome de Shoe e isso teria terminado. Exceto se Shoe passasse o resto de sua encantadora vida provocando o caos. E o mais importante, teria traído a confiança de Nakita. Hesitante, eu olhei para Barnabas. A chuva gotejava das pontas de seu cabelo, enquanto esperava silenciosamente, com um ponto de interrogação na sua testa. Com um súbito lampejo de clareza, me dei conta que tinha deixado intencionalmente Nakita em casa para que eu pudesse fazer isso. Ele tinha me dado a chance de dizer a Paul o que queríamos. E quando eu sorri para ele e sacudi a cabeça, ele pareceu relaxar. Não queria, mas me foi dada a oportunidade. De alguma forma, isso me fez sentir bem. Finalmente tinha feito algo certo. Nakita olhou de cima para mim e para ele e vice-versa, sabendo que algo não dito se passou entre nós, mas sem saber o que. — Nós estamos indo? — Perguntou lentamente. — É claro — eu disse, e Nakita sorriu. Acreditava na eleição, mas colocar um anjo da guarda para o Shoe não era uma opção. Era uma maneira de ele escapar.
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SETE
Fiquei feliz por meu corpo não ser real quando me agachei em frente à janela de Shoe, porque meus joelhos doeriam nessa hora. Ajeitei-me, e fiquei ao lado da janela e dei uma olhada em sua casa arrumada. Ao meu lado, Barnabas olhava Shoe com seus olhos cor de café sem piscar. Nakita estava no quintal da frente tirando fotos de folhas e árvores, até de uma rachadura na calçada, o que me deixou nervosa apesar de ter o flash desligado. Pelo menos não estava chovendo aqui. Pequeno favor. Se bem que o vento tinha me secado, mas tinha me deixado com uma espécie de umidade pegajosa, invejei a capacidade de Barnabas de se secar completamente de alguma forma. Nakita também estava ótima em sua calça jeans e sandálias, agora com as unhas dos pés de um rosa perolado. Tinha terminado de pintar elas momentos antes. Entediante. — Não podemos ir falar com ele? — sussurrei quando Nakita mudou de novo, tirando uma foto que não se parecia com nada. Estava cansada de ficar me esgueirando por aí. Quero dizer, esse era o cara que se supunha eu devia salvar, e eu não tinha falado com ele ainda. Eu tinha dois ceifadores pra me ajudar, mas um estava distraído com seu brinquedo e o outro estava muito apegado com o protocolo antigo para experimentar o algo novo. — Só mais um minuto — disse Barnabas pela sexta vez. — Quero ver o que está fazendo. Das sombras, Nakita olhava a parte de trás de sua câmera, o brilho de iluminação em seu rosto enquanto ela resmungava. — Ele é um humano, matando tempo. Tempo de matar um humano.
96 Barnabas franziu o cenho debaixo de seus cachos e suspirou. Eu não gostava de espionagem, e eu estava nos arbustos e revestimentos pensando sobre os erros enquanto colocava o meu cabelo úmido atrás da orelha e o olhava. O bairro era um lugar bonito - mais agradável que o meu - e eu me perguntei, por que um cara que tinha tudo tinha a necessidade de tomar tudo de outra pessoa. As estrelas mostravam agudos contornos além dos telhados. Estava preocupada que Ron pudesse aparecer. Barnabas ou Nakita tinham escondido a ressonância do meu amuleto desde que saímos do meu quintal. Provavelmente deveria aprender a fazer isso sozinha. Não gostava de depender de Barnabas ou de Nakita. Um barulho sobre o teclado chamou minha atenção e eu espiei ao redor da janela para ver Shoe debruçado no computador. O quarto do cara era tedioso, com paredes brancas, e um tapete cinza que parecia pertencer a um consultório médico. Sua mesa estava assustadoramente limpa. Tudo estava em uma estante ou em uma gaveta. Não tinha roupa, ou desordem por ali. Inclusive sua cama estava feita. Além da bandeira de Harvard, a única cor era a arte do Ace. Havia vários CDs de música sobre a mesa arrumada, e um grande quadro de águias com garras gravada na porta do armário. Talvez sua mãe tinha uma coisa sobre tachinhas na parede. Sua música era chata, e eu brincava com as pontas do meu cabelo roxo como o New Age13 nada me fez dormir. Eu, com sono ... e eu não tinha uma boa soneca desde que eu tinha morrido. — Isto é o que você faz em um colhimento14? — Eu disse, olhando para Barnabas, — espionar pessoas? — Algo assim — disse Nakita, os arbustos farfalhando enquanto ela se aproximava.
Seus olhos nunca deixando Shoe. Barnabas deslizou para dar espaço a ela. — É uma atitude de um colhimento preventivo, não de ceifar — ele disse em voz baixa. — Não estou seguro do que fazer, e não tem nada de errado em olhar até que tenhamos uma ideia.
13
A música New Age, também conhecida como música da Nova Era, é um gênero musical que se caracteriza por uma melodia suave, som instrumental (harpa, teclado, flauta, violão, órgão) e vozes etéreas. 14 Reaper, ceifador em inglês, vem da palavra reap, que significa colher. Então toda vez que aparecer essa palavra ou uma variação, ela estará associada ao fato de coletar a alma de alguém.
97 Um som suave, quase um grunhido, saiu de Nakita quando ela escorou sua costa na parede da casa. — Há uma centena de possíveis acidentes naquele quarto, — disse ela. — Eu posso fazê-lo parecer como se seu cabo de alimentação desgastou e ele eletrocutou a si mesmo. — Não! — Barnabas e eu falamos em voz baixa. Shoe olhou pra cima do teclado, talvez tivesse escutado. Eu me inclinei para trás e arrastei Nakita e Barnabas para o lado. A música sonolenta ficou mais alta, mas só foi quando o barulho do teclado voltou que nós relaxamos, e olhei pela janela de novo. — Você não vai matá-lo — Barnabas disse, ela colocou a câmera na bolsa, franzindo a testa enquanto se levantava. — Você não tem ideia de quão boa eu estou sendo, — sussurrou Nakita, observando Shoe apertar o botão de impressão, então inclinar-se para pegar o papel, logo ela disse. — Chronos poderia ter nos seguido aqui. Se eu pegar um cheiro dele, eu juro, eu vou matá-lo.
Quem? Ron ou Shoe? Pensei, olhando o Shoe. O cara era um total geek15, mas isso não o fazia digno de ser ceifado. O que os serafins alegaram apenas não se encaixava com o que eu vi hoje. Eu o observei ajudar o seu irmão mais novo com um jogo de computador de mão e ele não tinha saído até ensinar o que fazer, apesar de seus dez anos de idade. — Eu gostaria de ver você tentar — Barnabas disse, sem mudar seu olhar do quarto de Shoe. Nakita bufou, e eu revirei os olhos. Não novamente… — Você não pode me deter — ela disse com altivez, um pouco alto demais para o meu gosto. — Isso é o que fazemos. Acostume-se a isto ou parta. Você é o novo anjo aqui. Não eu.
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Geek é uma expressão idiomática da língua inglesa, uma gíria que define pessoas peculiares ou excêntricas obcecadas com tecnologia, eletrônica.
98 Barnabas voltou com uma expressão irritada. — Essa é uma boa ideia — ele disse amargamente. — Matar Shoe, é transformar em poeira de estrela a oportunidade de Madison fazer as coisas da sua maneira. Seus olhos se estreitaram. — Ron pode estar nos vendo neste momento. Eu não vou deixar que ele ponha um anjo da guarda em Shoe. Oh, senhor! Eles estavam fazendo barulho o suficiente para fazer Shoe ir até janela. Não era a apresentação que eu tinha imaginado. — Na verdade — eu disse antes que Barnabas pudesse contestar — Nakita tem uma preocupação válida. As folhas se moveram e Barnabas se virou pra mim, — o quê? Sem olhar ele nos olhos, olhei Nakita. — Porque não faz algumas rondas para ter certeza se Ron ou Paul nos estão vindo. Barnabas escondeu seu sorriso um pouco tarde demais. Nakita o viu e ficou rígida. — Está querendo se livrar de mim. — Bom, sim — disse, sem querer mentir. Eu a tinha enganado o suficiente. — Mas você está certa. Alguém deveria vigiar. Eu escolho você. Franziu a testa, enquanto seus olhos ficavam prateados por um instante, então disse: — Ótimo — e se foi. Suspirei, esfregando a parte de trás do pescoço em um sinal de perigo, enquanto ela abria suas asas e com um impulso baixo tocando a grama, se lançou no ar. Barnabas levantou e se espreguiçou. — O termo 'bom' quando Nakita diz, significa a mesma coisa quando você diz? — Sim — olhando para o Shoe, senti um momento de inutilidade. — É apenas um preenchimento de solicitações para a universidade. Barnabas, Shoe é tão emocionante como mingau de aveia. Você tem certeza que estamos vigiando a pessoa certa? Mesmo sendo um gênio de computadores, não parece o tipo de pessoa que mata as pessoas anonimamente.
99 Barnabas ficou mais perto, e o aroma chegou mais perto, o aroma das nuvens chegou a mim. — Você acha? — ele disse em voz baixa. — Ele está abrindo uma pasta oculta. De repente, muito mais interessada, olhei pra ver Shoe ainda sentado na frente de seu computador. Desviando os olhos, eu li “Operação Férias", na parte superior de sua nova janela. — Parece bastante inofensivo — eu sussurrei. Barnabas se esticou inchando o peito, deslocando seu peso de um pé para o outro. — Lembra do que Grace disse? — Os computadores da escola são os primeiros infectados. — Férias? Como o fim da escola e a obtenção de um ou dois dias de folga? Ooooooh, não é bom. No entanto, eu não estava convencida, mesmo quando Shoe pegou um dos CDs decorados por Ace, e colocou no laptop. — Eu tenho que falar com ele. Agora. Barnabas se vivou para mim com os olhos arregalados. — Viu isso? — Perguntou. — O disco tinha uma asa negra nele! Ele pareceu surpreso, e acenei de forma desinteressada. — Desculpa. Eu ia lhe contar. É Ace — eu disse. Voltando a olhar de novo para o quarto cinza e branco. — Ele é um artista. Não é assustador? Ele teve a ideia para decorar com o corvo e deu a Shoe. — Assustador não é a palavra que eu usaria, — grunhiu Barnabas, ressentido. Observei Shoe encostado em sua cadeira, enquanto gravava o CD. Por que colocálo assim? Talvez vá colocá-lo no colégio disfarçado de música? Por que ainda estou sentada aqui? Perguntei-me de repente. Ele estava carregando o vírus. O que eu preciso vê-lo fazer? Seria estúpida? — Vou falar com ele — eu disse, pegando forças e fazendo meu caminho através dos arbustos para chegar até o fim do jardim da frente. Os ramos tocaram meu braço e me detive quando um par de faróis acesos apareceu na rua tranquila. Olhei... Azul. Não os faróis em si, mas a luz. — Espera — Barnabas sussurrou enquanto se levantava para ficar ao meu lado, mas me senti tonta e parei, cerrando os olhos quando os faróis mostraram o carro de Ace
100 estacionando na rua. A música alta parou segundos depois do motor e a porta fez um baque forte e seco. Caminhou suavemente, sua forma escura rodeou a frente de seu carro e se dirigiu para entrada. — Ace — eu disse, apertando o estômago. Sentia-me tonta. Não conseguia ver a porta principal de onde ele estava, mas está bastante fácil seguir seu ritmo rápido ao longo do caminho e depois ouvi o som da campainha. Do quarto de Shoe veio uma maldição entre os dentes. Barnabas me levou para trás de uma árvore e juntos observamos um Shoe inquieto, de pé diante de seu computador, quase caindo enquanto colocava o sapato. — Rápido — ele murmurou para o computador. Meus olhos ainda não estavam funcionando direito, e eu pisquei, tentando fazer que a névoa de luz azul desaparecesse. Olhando para baixo, para o meu amuleto, me perguntei se parecia azul ou se era minha imaginação. Barnabas apertou meu braço. — Nós temos que ir, — disse ele, com os olhos na janela. — Por quê? — Eu perguntei, me balançando, tentando tirar o zumbindo dos meus ouvidos. Ele se virou para mim, seus olhos castanhos impacientes e irritados. — Porque acredito que Shoe vai sair pela janela logo que o computador concluir. Efetivamente, vestindo moletom com capuz, e um tênis preto, de pé, olhando para a tela. Do lado de fora, podia escutar sua mãe na porta, convidando Ace pra entrar. Fazendo uma careta, me agachei atrás da árvore, fora de sua visão. O som do vento entre as penas atrai nossa atenção e não me surpreendi ao ver Nakita no terreno do telhado. — Fiquei aí! — Barnabas sussurrou, e a ceifadora negra me fez tremer ao ver sua expressão feroz. Meus olhos se arregalaram quando ela entendeu a mensagem, e então deu um salto para trás no ar, para poder seguir Shoe, que claramente ia sair escondido. Do lado de dentro, eu ouvi a mãe dele o chamando. Isso ia ficar feio, e rápido.
101 — Será que Nakita se quer sabe o que isso significa? — Eu pergunto, colocando a mão em meu peito. Por que meu coração esta batendo? Sempre bate quando eu fico nervosa. Barnabas me puxou para trás da árvore de novo. — Eu não acho, — ele disse e piscando olhou pra mim. Seus olhos estavam prateados. — Temos que ir. Tudo estava ficando azul, pensei. Senti-me tonta e confusa. Shoe finalmente desligou a tela, e subiu até a janela, enquanto passava pro lado de fora. Suas cortinas ondularam quando foram fechadas para esconder a janela aberta. — Nós temos que sair daqui, — Barnabas disse, e começou a correr pela grama. Respirei, e tomei coragem pra me mover. Se não fosse o vento contra o meu rosto, não teria sido capaz de dizer que estava em movimento. Era como um sonho em que eu corria e corria e nunca chegava a nenhum lugar. — Madison! — Barnabas me chamou da calçada e eu parei. Piscando olhei para baixo. Ainda estava ao lado da árvore. Espera um instante. Eu sabia que tinha corrido... em algum lugar. — Madison! Vamos! — Barnabas repetiu e eu vacilei. — Ele vai sair! — Não me sinto muito bem — eu disse, cerrando os olhos. E então de repente a luz da rua ficou completamente azul. Como se um copo de água tivesse caído no chão e batesse nas paredes branca e azul, até que ficou tudo de uma só cor. Oh, isto não pode ser bom. — Hummm — eu respirei enquanto Barnabas correu e agarrou meu braço — eu acho que estou com problemas — eu disse, então meus joelhos cederam e eu desmoronei. — Madison! Batendo a cabeça, senti Barnabas me pegar. — Pelos dedões do pé perolados do Gabriel! — Ele murmurou, e eu abri os olhos.
102 Seu rosto brilhava assim como aparece nos filmes, com uma aura branca. Eu podia ver suas asas. Estendi minha mão tentando tocá-las, percebi que só estavam lá na minha visão, não eram reais. Parecia um anjo que caiu em desgraça. Ele era a única coisa real no fim das contas. Todo o resto era azul, tornando-se uma cor monótona. — Barnabas — eu disse em uma voz baixa, precisando de uma grande quantidade de ar para dizer. — Algo esta errado. — Você acha — ele disse, parecendo apavorado quando me levantou em seus braços. — O que está errado. Está machucada? Meu olho caiu sobre o seu amuleto, o olhei com admiração. Estava totalmente negro. Não, era um violeta tão profundo que parecia negro. Com uma compreensão repentina, percebi que era ultravioleta a cor caindo de espectro visível. Baixei minha cabeça sem fôlego quando vi estrelas. Era um arco-íris de nano cores. Eu podia ver o comprimento de ondas e todo o tamanho, e eu comecei a chorar. Era demais. Eu sou apenas uma humana. Não deveria ver isso, saber que existem estas cores. — Madison! Barnabas virou meu rosto do céu, soluçando, eu o agarrei, como se ele fosse à única coisa real. — Algo está... errado. — balbuciei. Queria voltar a olhar, mas não podia suportar. — Eu encontrarei Ron, — Barnabas disse. Sua voz era sombria, até mesmo quando uma onda de uma vertigem me acertou, me concentrei nele. — Não — respirei, e em seguida mais alto. — Não, simplesmente não me deixe olhar as estrelas... — eu estava chorando. Eu podia ver as ondas azuis vinda de mim, saltando nele como ondas em uma praia, — não me deixe olhar para as estrelas... — eu sussurrei, enquanto Barnabas mostrava seu pânico, senti minha mente se expandir. Como soprar uma chama, ele se dissolveu em uma nuvem de fumaça azul e desapareceu. Tão rápido, estava sozinha, e todo o que me segurou foi o brilho de sua aura ao meu lado enquanto mergulhei no tecido do tempo.
103
OITO
Onde diabos estou? Eu pensei, vendo meus dedos se movendo através de uma névoa azul enquanto agarrava a parte posterior de uma cadeira com rodas e a faço girar para colocá-la frente a um computador que havia em minha frente. Santo Deus, eu estou no quarto de Shoe! E esses não parecem na realidade com meus dedos... — Vejo como você gosta disto! — eu senti meus lábios dizendo e então ouvi um instante depois, que era masculino e acentuado. Droga! Eu estou em shoe? Eu pensei, mas eu me sentei, ou Shoe fez, mas bem e virei a cabeça sem querer, com o fim de me assegurar que a porta estava fechada. Encostado na cadeira, olhei para as cortinas fechadas. Uma ligeira intuição estava em meus pensamentos, que eu havia visto alguém lá fora, saindo correndo. Barnabás e eu, eu pensei enquanto olhava as mãos que não eram minhas, porém é evidente que Shoe não me sentia como eu sentia ele. Isso era uma loucura, e não gostava da cor azul que tinha em tudo. Podia ouvir as batidas de seu coração e sentir sua respiração em mim, sentindo ir um pouco antes de exalar. Seu pé coçava em seu sapato, e iria me levar a histeria se eu não o coçasse. Estava calor e irritante, e pela primeira vez em meses, me deparei com o que era ter fome. Eu estou relampejando16 adiante, eu pensei, recordando da adrenalina vinda de mim que se mistura com a ira de Shoe. Um momento antes de acontecer.
16
Quer dizer que ela está tendo flash do futuro.
104 — Isto vai ser bom, — eu ouvi o murmúrio de Shoe quando ele se debruçou adiante e bateu seus dedos na escrivaninha em um rápido ritmo. — Nada poderá ser capaz de provar que fui eu. Sou o mais esperto do que todos os cérebros de minhoca pensam. — Meus dedos estavam rígidos quando os gestos se converteram em um golpe na mesa. — Deus, este computador é lento, — me ouvi murmurar, sentindo que essa irritação não era minha. Shoe, não! Você vai matar pessoas! Eu pensei, tentando fazê-lo me ouvir, porém sem qualquer indicação que havia me sentido, ele se levantou e colocou sua orelha na porta, escutando Ace. Maldita seja, sabia que não seria tão fácil, mas eu podia sentir o desespero crescente de nós dois, enquanto eu assistia a tudo que acontecia, incapaz de detê-lo, incapaz de fazê-lo ouvir em sua cabeça. Agitado, Shoe roía uma unha enquanto o computador zumbia. Limpo, limpo, tudo precisa estar malditamente limpo, o ouvi pensar enquanto tirava a tinta debaixo de sua unha e depois foi para o meio do quarto. Eu tenho que sair daqui, saiu ressonando em nossa mente compartilhada. Shoe! Pare! Pensei, gritando em seu cérebro, mas ele ficou na frente do computador e empurrou a cadeira para trás bastante inquieto, esperando. “Deus! Poderia este pedaço de lixo ser mais lento?“ Finalmente, a gravação acabou e o disco se abriu. Eu agarrei isto, apesar de não poder vê-lo, sabia que ele estava sorrindo diante da imagem do pássaro negro estampado. O colocou no bolso de trás e uma corrente de emoções caiu sobre mim. Ele estava fora de si. Ele havia o conhecido durante toda sua vida e era assim que era tratado? Eles tinham que saber tudo amanhã na escola. Ele se asseguraria que todo o mundo saberia quem era o responsável por tudo. E seu suposto amigo poderia o idolatrar e morrer, que ele não se importaria.
105 Shoe! Eu exclamei, mas um banho de cor azul obscureceu minha visão. O mundo parecia de cabeça para baixo, e eu afundava. Outra vez estava perdida no tecido negro do tempo, iluminada a partir da linha brilhante de um milhão de pensamentos conscientes. Um flash de cor azul se introduziu e com um ponto de explosão, eu estava de volta. Mais ou menos. Eu não me sinto muito bem, eu pensei, e logo uma onda de safistação que eu não conhecia a fonte, engoliu todo o resto. Eu não conseguia ver nada. Um azul tão profundo que era quase negro nublou minha visão, era tudo o que eu tinha, mas eu sabia que eu estava na mente de alguém. Eles estavam confortáveis, eu podia sentir a batida de um coração... o cheiro da comida. Meus dedos estavam engordurados e senti uma pontada de fome quando percebi que me encontrava comendo algo salgado. Como se visse através de um cobertor, pude ouvir um programa de televisão, a única coisa claro era a risada ao fundo. Atrás dele estava a voz de mulher, o som das pausas e hesitação me fazia pensar que ela estava falando no telefone. — Não, — disse ela. — Eles não vão deixar ninguém entrar, especialmente os voluntários. Eles são os maiores suspeitos, mas todo hospital está sob investigação. Senti meu peito se mover, enquanto ria entre os dentes, um fluxo de satisfação me fez feliz e enjoada. Shoe estava satisfeito, mas eu estava furiosa. Não que ele pudesse notar.
Mas isso ainda não aconteceu ainda, pensei eu, pensando que eu poderia estar mais longe no futuro, porque o que estava claro era unicamente as vozes. Isso e minha fome. Cara, tinha perdido isso, estava com água na boca, enquanto Shoe se enchia de batatas fritas. — Não! — disse a mulher, soando horrorizada. — Três pessoas morreram. Levou cerca de irreais quatro horas para reconhecer inclusive que tinham um problema. Eles podiam ter perdido o dobro dessa quantidade. Eles pensam que talvez seja um empregado insatisfeito. O firewall não o detectou, então alguém o colocou ali. Não foi através da internet.
106 Shoe, é um tolo, pensei enquanto ele ria, empurrando batatas fritas em sua boca e puxando a televisão para ele poder ver melhor. Eu não podia ver o controle remoto, mas podia senti-lo. Porque estava esse som de viagem através do tempo em vez de uma visão? — Sim, um trabalho interno — a mulher estava dizendo. — E eles vão apanhar esse pequeno bastardo. Em vez do medo, eu senti prazer. Foi tudo graças a Shoe, é claro, eu tentei dar-lhe uma dor de cabeça. Pensava que era um cara bom, mas estar em sua cabeça tinha me curado disso. — Eles têm o registro, — disse. — Rastreiarão o terminal de onde veio. Tudo que necessitamos fazer agora é combiná-lo com o computador que queimou. Não é alguma coisa? — ela disse em voz alta. — Sim, eles podem fazer isso. Como combinar a balística de uma bala. Eles só vão entrevistar as pessoas agora, mas os mandados de busca virão. Você sabe que irão. O idiota o rotulá-la. Pode ser uma criança, já que o mesmo aconteceu na escola ontem. Meus lábios se moviam, e ouvi um sussurro, — Ooooh vou te pegar no flagra. Shoe! Exclamei em minha mente, mas isso era apenas um sonho, uma possibilidade - que não tinha acontecido ainda - e senti uma frustação quando cada único som foi para um ponto de cor azulado negro, até que não havia nada, nenhuma voz, nenhum sentido... nada. Por um instante eu fiquei ali, sem saber o que iria acontecer. E então ofego diante do mundo ficando vermelho. Despertei. Meu braço encostou em algo, eu ouvi Barnabás grunhir. Assustada, abri os olhos. Tinha olhos, e se abriam quando eu queria que os fizessem. Graças a Deus. Tudo tinha acabado. Barnabás estava me olhando. Ele estava perto, muito perto. Acima dele estava o liso, e inconfundivél teto de um carro. O silência abafado de estar fechada se apertou contra meus ouvidos. — Uh, — gaguejei, pensando que ele parecia aterrorizado. — Por que está me abraçando?
107 Abriu a boca, e seus olhos brilharam prateados por um segundo. — Poeira de Estrelas, o que aconteceu? — Ele disse, enquanto afrouxava seu abraço sobre mim. — Está bem? Ele me deslizou para o assento ao lado dele, me sentei, tremendo quando ele puxou as pontas do meu cabelo roxo fora dos meus olhos. Estávamos no banco traseiro de uma Van, e parecia ainda que estávamos no bairro de Shoe. Mantendo a mão em meu estômago, olhei para Barnabás e lembrei-me de suas asas. Elas não estavam ali agora, mas talvez estivessem um momento antes ou depois no tempo. Antes de agora e depois quem sabe, pensei que podia vê-las de olhos cerrados. — Correu tudo bem, — lhe disse. — Onde estamos? Barnabás exalou suamente e passou a mão pela testa. — Na van de alguém, — ele disse, sacudindo os ombros como se estivesse tentando relaxar. — Estava aberta, você estava chorando sob as estrelas. Ao não vê-las mais, você se acalmou um pouco. Madison o que houve? Acaba de voltar toda tensa. Toquei meu rosto, percebendo que estava suada. Incapaz de olhá-lo, me limpei. — Nunca viu alguém fazendo isso antes? — o perguntei, vendo o movimento da minha mão. As duas litras vermelhas nas minhas unhas pareciam engraçadas. — Ron, talvez? Do canto do meu olho, eu vi ele balançar a cabeça. — Você assustou cada pena que estava em mim... Eu nunca... nunca tinha ouvido falar... O que houve? Eu não sabia se estava com fome ou se ia vomitar. Sentia que não havia comido nas últimas semanas. E não havia feito.
108 — Acho que isso foi um flash do futuro, — disse, pensando bem, Isso é o meu trabalho? Vou fazer isso frequentemente? Tenho que encontrar meu corpo, tipo, para ontem. — Tudo era azul e pude ver tuas asas, — finalizei sentindo-me doente. Barnabás pigarreou. — Porque ver as estrelas te feriu? Virando-me para ele, dei de ombros. Eu honestamente, não conseguia lembrar. Era como se minha mente tivesse bloqueada. Talvez a mente humana não pudesse ter tanta beleza. — Eu não sei, — eu disse suavemente. — Mas, Barnabás, vi Shoe carregar o vírus em um disco de computador. Eu era ele, mas ele não podia me ouvir, mesmo quando eu lhe disse para parar. Então as coisas mudaram, e eu senti a sua satisfação quando ele ouviu sobre as pessoas morrendo no hospital. O cara é doido! Eu não entendo isso. Ele parece tão normal. — Não é de se estranhar que Ron nunca disse nada sobre os flashs do futuro — disse Barnabás, seus olhos castanhos apresentavam uma pesada preocupação. — Madison foi horrível. Era como se eles não estivessem ali, pensava que se te deixava ir, você poderia... desaparecer. Com sua morte, você tirou a âncora para retornar. Seu amuleto não a estava mantendo conectada nas linhas do tempo. Eu estava... O medo deslizou por mim — existiam asas negras? — ele negou com sua cabeça, mas seu olhar me assustou. — Não, mas pensei que se eu te deixasse, você iria, — disse ele. — Se supõe que devo ser eu quem te manterá a salvo. Nunca estive tão aterrorizado. — Seus lábios entreabertos buscaram as palavras, e eu juro que se tivesse um coração, ele teria pulado em uma batida por ver essa preocupação em seus olhos. — E você terá que fazer isso de novo. Assustada, eu engoli e olhei a um brinquedo para crianças de fast food no chão, sem saber se eu acreditava nele sobre as asas negras. E se isso acontecer enquanto eu estiver na escola? Eles me dariam remédios ou algo do tipo.
109 — Vai ficar tudo bem, — lhe disse, estremecendo. — Eu sei o que se sente com um flash do futuro agora. Antes disso acontecer, toda luz era azul. Da próxima vez vou encontrar uma sala silenciosa ou algo. — Azul. Como se estivesse se movendo mais rápido no tempo, — disse Barnabás, parecendo encontrar consolo em que isso poderia ser uma advertência. Um pensamento repentino me colocou em alerta, meu próprio medo foi desaparecendo à medida que eu tirava os cabelos dos meus olhos. “Se eu tive esse flash do futuro, então talvez Ron também”. Droga, se ele viu o que eu vi, ele saberia quem tinha a marca. Levantei e quase bati a cabeça no teto. — Nos temos que ir — lhe disse, me sentindo um pouco tonta e fraca. Não havia estado faminta e doente por meses, e estar assim era um choque. Talvez o flash do futuro tenha tomado muita força do amuleto. — Onde está Nakita? — Perguntei, quando ele não se moveu, ainda sentado no assento do banco da Van, me olhou como eu fosse quebrar. — Se eu vi o futuro, então Shoe já tomou sua decisão, e seu destinho já está estabelecido a menos que se possa mudar sua opinião. Tenho que falar com ele antes que ele faça algo estúpido ou Ron o identifique. Barnabás pegou em meu braço, e dei um passo para trás. — Madison, mais devagar. Você não está bem. — Vou ficar bem, — disse, me sentindo fraca quando puxei a porta e ela não se mexeu. — Mas Ron pode dizer quem tem a marca agora. Ele vê o que eu vejo, não? Se não encontrarmos Shoe antes que Ron envie qualquer ceifeiro, Nakita o matará. Barnabás, estou ficando sem tempo! Era irônico dizer dessa maneira, mas não houve tempo para analizar isso, necessitava sair daqui, assim forcei a porta, mas ela estava impossível de abrir. Bufando de impaciência, me encostei no assento e disse: — Um pouco de ajuda aqui, por favor? Silencioso e com o rosto sombrio, através de mim ele abriu a porta. Sabia que estava fazendo corretamente, só estava muito fraca.
110 Tropeçei quando eu saltei na calçada, e não pude deixar de olhar a poça d‘água do poste público para me tranqulizar, pois esse era um alegre amarelo, em vez de um negro azulado. — Onde está à escola a partir daqui? — perguntei. Se ela o matou, vou ficar tão chateda. Não vou passar por isso por nada. — Você não vai chegar a tempo a pé, — disse Barnabás, e me tirou o fôlego quando me pegou, me segurando em seus braços, enquanto ele empurrou suas asas para baixo e depois subiu para o ar.
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NOVE
Os braços de Barnabas estavam apertados ao meu redor, enquanto ele voava sobre o que tinha que ser a escola. Enquanto Nakita e eu havíamos estado tentando passar os espaguetes de meu pai para Josh, Barnabas tinha estado percorrendo a cidade de Fort Banks, uma previsão do que agora estávamos colhendo os benefícios. O telhado plano de cascalho com suas grandes unidades de ar condicionado estavam inexpressíveis no escuro. Cheirava a alcatrão, e o ar se tornou mais quente, quando ele flutuou suavemente sobre isso, e encontrou a parte de trás da escola e sua grande área de estacionamento. — Vê Nakita? — Eu perguntei, procurando por qualquer rastro dela, Shoe, ou até mesmo de Grace. — Não — ele disse em voz baixa, e eu esperava que não fosse tarde demais. — Você acha que deveríamos tentar chamá-la? — Perguntei, e ele mudou a inclinação de suas asas para nos fazer voar paralelamente às linhas das janelas pretas laterais. — Eu teria que parar de esconder tua ressonância e esperar que ela esteja fazendo o mesmo. Ron poderia escutar — ele disse, terminando em voz baixa. — É melhor só observar. — Eu acho — eu disse, frustrada.
112 — Não há asas negras — Barnabas disse, fazendo-me pensar que tinham estado quando eu relampejei paro o futuro, e ele só não me disse. — No entanto — eu disse acidamente. Um movimento rápido chamou minha atenção, e apontei. — Ali — eu disse, mas Barnabas o tinha visto também. Era Shoe, a meio caminho, através de uma janela baixa com o pé no interior, e um no peitoril. Nakita estava falando com ele do lado de fora, o que provavelmente o surpreendeu. O fraco brilho, do tamanho de uma bola de beisebol sobre ele, provavelmente era Grace. A ceifadora negra não tinha sua espada pra fora, mas eu podia dizer pela névoa de Grace que as coisas não estavam indo bem. Barnabas se afastou, e, surpresa, eu gritei: — Aonde você vai? — Não quero que ele me veja com minhas asas — ele disse, e Grace, que claramente tinha escutado, se lançou para cima, direto em nossa direção. — Barnabas, estou tentando convencê-lo de que precisa mudar sua vida ou corre o risco de ser morto por um anjo. Desça onde ele possa enlouquecer te vendo! Você sempre pode mudar a memória dele. Fazendo um grunhido de compreensão, mudou sua trajetória, batendo as asas três vezes para amortecer nossa descida sobre a calçada. — Ele está aqui! Precisa se apressar — Grace disse, sua névoa parecendo se atenuar contra as estrelas enquanto voava em círculos ao redor de nós. Meu cabelo voou para cima por causa do bater de asas de Barnabas. — Ela o seguiu para dentro! Tropecei para longe de Barnabas quando meus pés tocaram o chão, puxando minha saia para baixo, onde ela deveria estar. Nakita tinha pulado pra dentro, mas estava demorando na janela para ver Shoe e a gente. Sua espada estava desembainhada, e eu não precisava ver o futuro para saber que tudo estava à beira de um colapso. — Grace, diga que espere! — eu disse. — Ron não está aqui! Estamos bem!
113 — Entendi! — ela deu um grito, e num cintilar de prata se afastou velozmente. Ron não está aqui, certo? Eu me questionei. Grace estava. Ela estava vigiando Paul. Ela ainda estava, ou ela tinha ido me espiar outra vez? Os serafins estavam vendo. Não há nada como um pouco de pressão para destacar o melhor de alguém, eu pensei, fazendo uma careta. Barnabas ficou ao meu lado, e quando começamos a andar para frente, Nakita e Shoe desapareceram mais adentro do edifício. — Maldita seja. — Gritei, não me importando se mesmo Deus me escutava. Eu estava com raiva. Meu flash do futuro não tinha me feito nada bem. E agora Nakita ia ceifar Shoe e transformar todos os nossos esforços em presentinhos de cachorro no tapete. Corri até as longas fileiras de janelas, ofegando quando tropecei. Barnabas pegou meu cotovelo até que eu encontrei meu equilíbrio. A janela aberta não estava tão acima do chão, mas Barnabas inesperadamente me impulsionou para cima e, com um som de cadeiras deslizando, pousei no interior da escola, braços e pernas entrelaçados. Isso não é muito legal, pensei, tentando levantar e finalmente ter que aceitar a ajuda de Barnabas. Mas minha entrada sem graça tinha parado a todos, e tanto Nakita e Shoe olhavam para mim e não entre si. Grace ria enquanto eu ajeitava minha roupa, e dirigi a Barnabas um aceno com a cabeça para cobrir a segunda porta no corredor. De alguma forma Nakita tinha se colocado na frente de Shoe e estava bloqueando a primeira porta. Grace, sem ser vista por Shoe, pairava sobre ele. Isso era um laboratório de química, escuro, excerto pela iluminação que vinha das luzes de segurança exteriores. Tinha seis largos bancos com pias e pequenas torneiras para os bicos de Bunsen17. Um esqueleto estava sorrindo no canto, e reprimi um calafrio. — Nakita — eu disse, ainda envergonhada por minha entrada. — Me deixa falar com ele. Posso salvá-lo. 17
O bico de Busen é um dispositivo usado em química para efetuar aquecimento de soluções em laboratório. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Bico_de_Bunsen)
114 — Eu também posso — Nakita disse, enquanto ela mudava seus pés para encontrar equilíbrio. — Será muito mais rápido, também. — Eu disse a ela! — Grace interveio. — Ela me chamou de vagalume. Shoe parecia irritado e confuso, e da segunda porta, Barnabas disse em voz alta — Os serafins lhe concederam outra chance, Nakita. Deixe-a tentar. Pés afastados, Nakita ajeitou o cabelo para trás desafiadoramente, mas quando Grace pigarreou para fazer um som parecido com de mensageiros de vento18, Nakita adicionou relutantemente. — Fale com ele, mas se os asas negras aparecerem, eu estou o ceifando. — Me ceifará? — Shoe estava começando a parecer nervoso enquanto olhava a espada. — O que diabos você está fazendo? Quem são vocês? — Madison é como ela foi batizada. — Grace cantou alegremente. — Quando está irritada seus olhos tendem a brilhar. Vidas ela salva, não agradecida por desejar. Seria muito mais fácil se sua ceifadora quisesse escutar. Por Deus, ela fica sentada, acordada à noite pensando nessas coisas? — Uh — eu comecei, mas Shoe estava me olhando, o dedo apontado. — Você estava no shopping — ele acusou. — É a garota que estava falando com Ace. Você gosta dele? — Shoe relaxou em uma atitude arrogante. — Não se engane. Ele é um idiota. — Não, é com você que eu quero falar. — Eu disse, mas ele já tinha se afastado. — Isso é novo — ele disse amargamente enquanto andava para Nakita e a porta, só para parar brevemente quando ela começou a balançar sua espada.
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Mensageiro de vento são aqueles sininhos que a mãe/avó colocam na varanda. Foto: http://www.bpg.com.br/bpg/store-images/j/a/r/jarbasm/c7961e597a395ef7323884522ccac25a.jpg
115 — Fale com a Madison, ou te ceifarei agora mesmo. — Ela ameaçou. — Nakita... — Eu reclamei. Mas Shoe já estava recuando. — O que há de errado com você. — Nada — Grace disse alegremente. — Ela está aqui para ajudar. Realmente! — Um passo mais — Nakita suplicou, seu belo rosto tornando-se selvagem. — Só mais um, e esta farsa de tentar mudar o destino estará terminada. Fala com Madison. Ela está tentando salvar a tua vida sem valor. Eu simplesmente estou tentando salvar tua alma. — Ela concluiu amargamente. Claramente nervoso Shoe olhou Barnabas pela primeira vez perto da porta de trás, então para mim perto da janela aberta. — Shoe — eu disse, capturando sua atenção. — Eu sei Sobre o vírus. — Sim — disse com amargura — Ace fala demais. — Isso vai escapar e fechar o hospital — eu disse, tentando manter ele concentrado. — Pessoas vão morrer. Shoe negou com a cabeça, olhando a Nakita enquanto ela praticava alguns balanços. — É isso que Ace te disse? O vírus é uma piada. Uma forma de ganhar alguma notoriedade no meu último ano como o cara que fechou a escola por um dia. Isso é tudo. Isso não pode sair, e não se repete. É mais estúpida que teus sapatos parecem se você acredita em qualquer coisa que Ace disse. — Não há nada de errado com meus sapatos! — Eu disse com veemência, o punho na cadeira, enquanto Grace se matava de rir. — E o vírus mata as pessoas. Eu vi.
116 Shoe cruzou os braços sobre o peito e colocou seu peso sobre um pé. — Você viu? Quem é você? Uma espécie de super executora de intervenção adolescente? Estou sendo filmado? Isso é uma piada de um estranho programa de reality show de televisão? Isso era insultante e eu bufei. — Ele não está escutando Madison. — A ceifadora negra disse, visivelmente ansiosa por seguir adiante com isso enquanto seu agarre mudava. — É por isso que ninguém tenta argumentar com um marcado. Eles não escutam. Não acreditam. Frustrada, me virei para ela. — Eles não acreditam porque vocês não mostram algo em que acreditar! Barnabas foi se aproximando pouco a pouco até Nakita, e percebi como as coisas estavam saindo do controle quando ele agarrou seu amuleto e fez aparecer sua foice. — Eu sinto muito Madison — ele disse, seu rosto se tornando sombrio. — Queria que isso funcionasse, mas ele não vai te escutar, e eu não vou permitir que ela mate Shoe. Shoe ficou boquiaberto, e arregalou os olhos, mas Barnabas tinha sua espada apontada para Nakita, e não para ele. — Ele não merece morrer. — Barnabas disse para ela. — Te venci antes, e eu vou fazer novamente. — Vocês, fanáticos vão tentar me matar? — Shoe, disse, sua voz cada vez mais alta. — Que diabos esta acontecendo? As asas de Grace pareciam atenuar-se. Eu não estava muito feliz também. Isso estava tão fora de controle. Os serafins nunca acreditariam que era possível se eu não pudesse fazer ao menos uma vez. — Barnabas, afaste sua foice! — eu gritei. — Nakita, afaste-se! Vocês estão me deixando louca. Nenhum dos dois está dando uma oportunidade para isso. Ambos abaixaram suas espadas, e respirei fundo. Shoe amaldiçoou em voz baixa, e eu caminhei para frente, ao marcado. Ele ia me escutar, maldito seja. Eu não tenho tempo para isso!
117 Sabendo que tudo o que acontecesse ia parar na orelha de um serafim através de Grace, tratei de me acalmar, mas não funcionou. — Olha, você. — Eu disse na cara de Shoe, para fazê-lo retroceder, assustado. — Eu não gosto de Ace. E particularmente não gosto de você. Digamos que tenho acesso aos jornais de amanhã. Tudo bem? Os extraterrestres emitiram para mim, ok? Se Barnabas fizer da sua maneira as manchetes informarão: „Três mortos no hospital por causa de um vírus de computador. Se Nakita fizer de sua maneira, vai estar teu nome no obituário para salvar sua alma, e tirar sua vida. Eu... eu estou tentando fazer o impossível para que nas manchetes apareçam: „Um dia ordinário na América. Todos estão felizes‟. Mas se você não tentar, não acredito que posso deter Nakita de colocar sua cabeça em uma lâmina! Grace pareceu escurecer um pouco mais. Barnabas fez um ruído doloroso, mas não podia olhar. Eu tive náuseas. Isto não era o que eu desejei fazer. Eu tinha pensado que seria tão mais fácil. Encontrar o marcado, falar com o marcado, todos nós voltamos para casa, para estar morta mais um dia. Seu rosto empalideceu na sombra, e Shoe olhou os ceifadores, e logo estremeceu quando olhou suas espadas. — Quem são vocês? Sua voz não era divertida como antes, e animada, eu disse: — A única pessoa além de você que pode corrigir isso. Não carregue o vírus. Por favor. Engoliu em seco, seu olhar voltando para Nakita, antes de voltar para mim. Era evidente que tinha visto algo nela que não podia explicar, um brilho em seus olhos, um gesto tão gracioso que nenhum ser humano poderia fazer. Um sentido de divino, talvez. Finalmente, ele estava escutando. — Madison. Eles te chamaram de Madison. — Ele disse, sua atenção de volta para mim. Suspirando, estendi a mão, e Grace fez um som feliz. — Sou Madison. Prazer em conhecê-lo, Shoe. — Sua mão era fria contra a minha, e ele se soltou quase imediatamente. — Me escute — eu disse, observando Nakita que olhava como se houvesse feito algo impossível por conseguir que ele prestasse atenção em mim. — De alguma forma o vírus
118 que fizeste escapa. Isso estraga o sistema hospitalar. Três pessoas morrem antes de saber o que está acontecendo. Simplesmente não faça isso. Lá fora, uma escura sombra passou pela janela. Meu estômago se apertou. Nakita a tinha visto, e sua expressão se tornou vazia enquanto deslizava para a janela para olhar o lado de fora. Asas negras? Shoe olhou para a porta aberta. — Não é esse tipo de vírus, — repetiu. — Não vai sair, e não se copia. É por isso que tive que entrar na escola para ativar. Não sou um monstro. Quero a reputação de ter conseguido a todos um dia de descanso da escola, não para matar pessoas. Que tipo de monstro você acredita que eu sou? — O tipo que Nakita tenta matar — Barnabas disse, mas algo nas palavras de Shoe tinha me acertado. — Tem quem entrar ilegalmente para ativar? — eu sussurrei, escutando o tempo passado em que ele tinha dito tudo. Meus olhos se apertaram, o olhei. — Você já carregou. — Eu disse, e Nakita saiu da janela enquanto Grace suspirava suficientemente forte para que fosse ouvida. — Você estava saindo da escola quando Nakita te encontrou, não entrando. — Bem, sim — ele disse, encolhendo os ombros. — Está feito. Já está no interior. Quando o relógio badalar as seis horas da manhã, o sistema se apagará. O incêndio, a segurança, tudo. Mas é só isso que vai acontecer. Não pode vazar! Nakita se adiantou, seu rosto desagradável. Meus olhos se abriram. Shoe se lançou para a porta, e eu agarrei o seu braço, balançando-o atrás de mim. Se corresse, isto estaria terminado. — Cuidado! — Grace gritou, e me agachei rapidamente. A espada de Nakita golpeou a de Barnabas, a polegadas a frente de mim. Maldita seja, teria que trabalhar mais em descobrir como fazer uma espada do meu amuleto. Isso me baseando que Barnabas estava ficando velho.
119 — Já chega! — Eu gritei enquanto me levantava rapidamente, agradecida de que Barnabas pudesse se mover tão rápido. — Você é louca! — Shoe gritava atrás de mim. — Loucos. Todos vocês! Do telhado, Grace falou alegremente. — Nakita, uma ceifadora negra, ao menino mau queria golpear. Mas Barnabas tinha planejado evitar, conduzindo as linhas entro o errado e o correto. O rosto de Nakita estava pálido. — Chega. Todos vocês! — Exclamei. — Isto é minha colheita, não sua. Os ceifadores olharam um para o outro, o ar cheirando a ozônio. Quase podia ver suas asas. Em câmera lenta, eles abaixaram suas espadas, e se afastaram. Trêmula, me virei para Shoe. Aquele flash adiante realmente tirou isto de mim. — Desculpe — eu disse, e me perguntei se ele ainda tinha a capacidade de escutar depois disso. — Nakita é intensa. — Ela está malditamente louca! — ele gritou, e logo estremeceu quando Grace posou em seu ombro, banhando-o com um brilho que ele não podia ver. — Ele disse que é tarde demais. — Nakita disse, tentando defender sua atitude. A escolha, nunca era tarde demais para ter uma nova. — Não é tarde demais. — Eu disse, dando a Barnabas um olhar agradecido. — Nós Podemos tirar o vírus. Shoe, tem um pacth19, não é? — Sim. — Ele admitiu, olhando obscuramente para Nakita. — Mas eu digo que o vírus não se espalhará. Não pode. — Procurando em seu bolso traseiro de sua calça, tirou o disco. — Isso não vai fazer outra coisa além de fechar a escola!
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Significa literalmente “remendo” e é um programa criado para atualizar ou corrigir um software.
120 Respirei para discordar, mas quando vi o disco decorado com as ilustrações de Ace, uma sensação de frio me percorreu. O disco na mão de Shoe não era o disco que tinha visto em meu flash para o futuro. Merda de brinde. Como posso ser tão estúpida? Alheio do por que eu estava olhando o disco, Barnabas se aproximou. — Madison, eu sinto muito. — Ele disse, mas eu não estava escutando. — Talvez se nós tivéssemos sido mais rápidos. Com o golpe, meu pulso oscilou correndo solto. Como vou resolver isso? — Esse não é o mesmo disco que eu vi no meu flash do futuro. — Eu disse, o pânico fazendo com que minha voz soasse baixa. A cabeça de Nakita se ergueu, e seu controle sobre sua espada se apertou. Grace fez um soar de sinos, e seu brilho se apagou completamente. — Ela relampejou adiante? — Nakita perguntou a Barnabas, então me olhou. — Você relampejou ao futuro? Então é o marcado! Neguei com a cabeça, me amaldiçoando por supor que tinha estado na mente de Shoe, quando eu estava em seu quarto. — Não — eu disse em voz baixa, uma mão no meu estômago. Desajeitada, peguei o disco de Shoe e o agitei debaixo do nariz de Barnabas. — Esse não é o disco que eu vi no flash. Tem ilustrações de Ace nele, mas não é o mesmo disco. Shoe não é o marcado. Nakita estava pálida. — Eu quase o ceifei. Eu... Estava prestes a fazer. — A culpa é minha. — Eu disse. Tudo era azul, quando vi o vírus sendo carregado no disco. Era Ace. Eu tinha estado na mente de Ace, enquanto ele fazia uma réplica do vírus no computador de Shoe. Talvez o futuro não estivesse aqui ainda. Por que não tinha tentado fazer com que ele se olhasse em um espelho? Como se tivesse distante, ouvi Barnabas dizer: — Estamos seguindo a pessoa errada.
121 — É Ace. — Eu disse, como se já não fosse evidente, e Shoe se puxou para trás quando agarrei sua mão, olhando as pontas de seus dedos. — Não há tinta em suas mãos. — Qual é o seu problema? — Ele perguntou, puxando a mão para trás. — Meu problema é que sou estúpida! — Exclamei, dando um passo para frente e sentindo a sensação de desmaio. — Sou uma idiota! Shoe, vi Ace em seu quarto, em seu computador. Pensei que era você. Carregou o vírus em um disco. Temos que encontrar Ace antes de Ron o achar. — Estava me espionando? — Shoe disse calorosamente, e eu fiz uma careta. Ele estava preocupado por causa de um pouco de espionagem? — Ace está tentando se vingar de você. Pensei que estava te vendo com raiva dele. Nunca considerei que poderia ser ele estando com raiva de você. — Tinha que encontrar Ace. Ele estava em algum lugar com esse vírus. — Ele tem estado louco em mim há muito tempo. — Shoe disse em voz baixa. — Ele sabia o que eu estava fazendo esta noite, e aposto que vai fazer com que pareça que coloquei o vírus no hospital também. Eu deveria matá-lo. Nakita dissolveu sua espada em um espetáculo impressionante de redemoinhos. — Não é necessário. Eu farei. A cara de Shoe empalideceu. — Eu estava brincando. — Eu não estou. — A vida acabou, uma alma para salvar. — Grace disse com tristeza. — As velhas decisões são feitas. É escola? É o destino? Perdão ou o ódio? Quando o amor é o que todos nós almejamos. Assustada, olhei para seu brilho ofuscante. Isso foi... bom.
122 Barnabas tocou meu braço, e me sacudi com força. — A mãe de Ace trabalha no hospital. — Eu lembrei e virei para as janelas negras. Nakita se inclinou para olhar o céu, seu longo pescoço se mostrando na luz. — Ele tem uma maneira de entrar. Ao meu lado, Shoe estava rangendo os dentes. — E sabe como fazer upload20. Mostrei como. Sou um idiota. Eu vou ser culpado por tudo isso, não ele. Com um nó no estomago, olhei para Barnabas. — Nós temos que chegar ao Hospital. Na janela, Nakita lançou uma maldição, então gritou. — Se abaixe! Olhei pela janela, vendo a forma negra chegar a ela. Barnabas estendeu a mão e me puxou para baixo, atrás de uma das estações de laboratório. Bati em Shoe no caminho, e ele caiu debaixo de mim. — Ei! — Gritei, então coloquei minhas mãos em meus ouvidos enquanto algo batia na janela. Vidros voaram, tilitando, e um sino leve começou a soar. Expandindo. Justo um magnífico som agudo. — É Ron! — Grace disse, lançando sua sombra sobre nós. Peguei um pedaço de vidro do meu cabelo e me sentei direito, segura atrás da mesa de laboratório. — Sem brincadeira. De dentro da sala veio o pigarrear decepcionado de Ron, e quase podia vê-lo com seus pés muito abertos e seus olhos ficando azuis como faziam quando estava com raiva. Pelo menos ele não estava tentando parar o tempo. — Madison — ele disse em voz alta, e encontrei os olhos de Shoe, informando a ele para permanecer no chão. — Acabou. Vou colocar um anjo da guarda nele.
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Carregar, preferi deixar no original.
123 Eu olhei por cima da mesa de laboratório para encontrar Ron na parte da frente da sala perante o quadro negro. Um brilho nebuloso por cima dele, tinha que ser o anjo da guarda, até agora não resignado. Ron estava vestido com sua túnica branca e calças, e parecia satisfeito. Tudo o que podia fazer era manter minha boca fechada e o deixar acreditar que Shoe era o marcado. Talvez eu possa conseguir isso depois de tudo. — Vá — Barnabas disse, inclinado ao meu lado. — Grace e eu o manteremos ocupado. Se quer colocar um anjo em Shoe, então, Ace não tem um ainda. — Madison? — Ron chamou. — Apareça. — Mas não pode enfrentar Ron! — Quase assoviei. — Ele só parará o tempo, ou algo assim! Grace flutuou suavemente e pousou no ombro de Barnabas, rindo. — Sou um anjo da guarda em primeiro lugar, querida. — Ela disse, suas palavras alegres. — Posso impedir Ron de mexer com o tempo. — Vamos ficar bem. — Barnabas disse, fazendo um gesto com os olhos para eu sair. — Vá. — Que tal o outro anjo da guarda? — Eu perguntei. — Ela não tem livre arbítrio, — Grace disse. — Nenhum nome, você vê. Umedeci os lábios, me perguntando se poderia ser capaz de salvar algo. A vida de Shoe, talvez. — Madison! Sai e admite que você perdeu! — Ron gritou. — Não há vergonha aqui. Não pode esperar ganhar quando está tentando vencer mil anos de experiência. Esse cara tem um ego maior do que meu antigo professor de química.
124 — Vá! — Barnabas disse com urgência, enquanto Shoe o olhava assustado. — Nakita, vá com eles. No caso de ter que para... Suas palavras sumiram, e eu encontrei seus olhos, surpresa. Ele estava de acordo com a posição de Nakita, para matar Ace se ele não mudasse de ideia. Nakita também se surpreendeu. — Você acha que tenho direito para acabar com a sua vida? — Perguntou, e Shoe ficou nervoso, parecendo mais preocupado em não ser preso em um laboratório demolido que com a nossa conversa sobre o assassinato de seu amigo. — Não. Eu quero dizer, eu não sei mais no que acreditar — Barnabas disse, seus olhos marrons solenes. — Apoiei Madison enquanto ela viveu nas sombras do futuro, a ouvi chorar pela dor da beleza das estrelas. Talvez seja melhor se sua vida termine antes dele se ferir muito e roubar de sua alma a oportunidade de encontrar essa beleza. Eu não... sei mais. Tenho... dúvidas. — Seus olhos pousaram nos meus. — Por favor, faça-o ver a razão. Não me faça ter que fazer essa escolha. Engoli em seco, assustada. As coisas estavam tão mal que um anjo duvidava de sua própria intenção? — Madison! — Ron gritou. Nakita tocou o braço de Barnabas. — Eu entendo. — Ela disse em voz baixa. De cima de nós, Grace disse: — Ei, rapazes? Ele está vindo aqui. Barnabas olhou a todos nós de uma vez. — Na contagem do três. — Ele disse, e tomou fôlego. — Um. Dois.
125 — Três. — Nakita gritou, saltando para cima para pousar em cima da mesa, gritando enquanto puxava sua espada. Em seu peito, seu amuleto brilhava uma ametista21 afiada, ferindo meus olhos. — Nakita — Ron disse, e Grace se iluminou, banhando Nakita em uma beleza cristalina. Meu amuleto se aqueceu, e eu sabia que o anjo da guarda estava bloqueando o que seja que Ron estava tentando fazer enquanto Nakita gritava, sua espada fazendo grandes círculos à medida que avançava. Barnabas suspirou e se curvou mais perto. — Três. — Disse. — Tira Shoe daqui. Fale com Ace. Por favor, faça-o entender. Vamos te alcançar. Foi todo o incentivo que precisava. Agarrei a mão de Shoe, corri, tentando ficar abaixo do nível dos bancos. Vidro brilhou no chão, e o ar da noite entrava pelas janelas quebradas. Carros tinham parado, e luzes piscando tinham começado a brilhar nos telhados. Carros de polícia e sons de alarme. Ohhh, eu conheço essa música. Tínhamos que sair e sair agora. A quebra da janela por Ron tinha sido mais que vista. — O que ela tem? — Shoe disse, enquanto deslizávamos para fora da sala, para o corredor. Estava mais frio aqui, e mais escuro. Lancei um olhar para trás e suspirei. — Nakita não quer te matar agora. Ela está atrás de Ace. Você vai ficar bem. Chocando-nos, nós fomos à direção do corredor a baixo. — Entendi essa parte. Ela vem?
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Ametista é essa pedra: http://4.bp.blogspot.com/_jafp2QCXMSE/RyuEGRv1BsI/AAAAAAAAAmo/yuUC5hrQY9Q/s400/Ametista11K.jpg
126 Nunca deixava de me surpreender como as pessoas podiam passar do medo para a aceitação. Encontrando ele para andar a passos largos, eu disse. — Ela vai nos alcançar. Como você chegou aqui? Tua bicicleta aguenta dois? Shoe me levou a uma sala. Era outro laboratório, e, em um movimento rápido, ele me levou a parte de trás, para uma estufa anexa. — Tenho um carro. Mas com a polícia... — Um carro? — Eu o interrompi. — Como você escapou pela janela do seu quarto sorrateiramente, e depois dirigiu um carro até a escola? — Para todas minhas queixas e gemidos por ter deixado meu carro na Flórida, tinha encontrado uma nova liberdade com minha bicicleta. Escapar era mais fácil quando não estava fazendo barulho. — Eu o estaciono na rua. — Ele disse, mostrando um sorriso. — Não é como se meus pais o quisessem na entrada de casa. Não podem tirar seus carros comigo no caminho. Assenti enquanto Shoe apontava para uma janela aberta na estufa. Outra explosão sacudiu a escola, seguida de um som de conversa de rádio frenética. O som de alarme de incêndio começou. Um momento depois, os aspersores22 dispararam. — Maldição! — Shoe disse, olhando a água cair do teto. Não tinha torneiras na estufa, e, contente pelos pequenos favores, me inclinei para deslizar pela estreita janela. Podia ouvir os policiais nos corredores, reclamando por causa da água. Eu estaria disposta a apostar que entre Ron e Barnabas, todos na escola com um pulso lembrariam esta noite como a de quando o alarme de incêndio disparou.
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Aspersores é aquele tipo de “torneirinha” que sai água quando tem incêndio, ou em jardim, como regadores automáticos. Foto: (http://www.hunterrega.com/Images/Products/Rotors/rotor_back.jpg)
127 Meus pés escorregaram sobre a grama úmida de orvalho, quando finalmente sai. A noite era fria, e esperei impaciente, analisando o estacionamento vazio, enquanto Shoe se esfregava pela janela. Houve um brilho no horizonte, onde a lua estava a ponto de subir. Os pés de Shoe bateram silenciosamente sobre a grama, e depois de um rápido olhar a distante luz da polícia, corremos através do estacionamento vazio. — Então. Onde está seu carro? — Perguntei, com a esperança de Barnabas e Nakita estivessem sendo uma distração suficiente, mas não tão grande para que fosse uma notícia internacional. — Eu não queria que fosse visto na escola, por isso o estacionei na rua. — Ele disse, sem fôlego enquanto corríamos. Mas quando demos a volta, fui eu que parei murcha. Shoe dirigia um conversível cinza. E o capô estava abaixado. — De jeito nenhum. — Eu disse, a memória de meu coração batendo em um medo do passado. Parecia com o carro em que eu tinha morrido. Diretamente para os assentos de couro e a chave na ignição. Shoe saltou sobre a porta fechada e girou a chave. — Entra! — Exclamou. Surpreso de me encontrar a dois metros de distancia. Atrás de mim, os carros de bombeiros começavam a chegar. Eu Posso fazer isso, pensei, abrindo cuidadosamente a porta, e subindo. Não é o mesmo carro. Não é o mesmo motorista. Mas a batida de meu coração parecia suficientemente real para agitar a ilusão de meu corpo. — Coloque o cinto de segurança. — Eu disse, enquanto me acomodava no rico assento de couro como se fosse de vidro e pudesse se romper. — Só vamos dois quilômetros. — Ele reclamou, olhando por cima do ombro enquanto recuava das luzes dos carros de polícia, uma ameaça distante.
128 — Coloca o cinto de segurança! — Gritei, e seus olhos se arregalaram, pretos na sombra. — Tudo bem, tudo bem! — Ele disse, e o fulminei com um olhar até que fizesse. — Garota estranha. — Eu morri em um carro igual a esse. — Eu disse tentando explicar, então, eu ri nervosamente. — É uma piada. — Ele provavelmente teria parado de acreditar em mim se ele pensasse que eu acreditava que estava morta. Ele agarrou o volante mais apertado, sem dizer nada quando ele nos conduzia na estrada e nos afastava do tumulto na escola. Não foi até que tínhamos andado um quarto de um quilômetro que acendeu as luzes, e eu respirei aliviada. — Temos que parar em sua casa e conseguir o pacth. — Eu disse empurrando o cabelo do meu rosto. — Ace ainda poderia estar ali. Não sei até que ponto eu vi o futuro, pela primeira vez. Oooooh, pensei, mordendo a língua quando me dei conta de que acabava de dizer. Isso ia ser difícil de levar como uma brincadeira. Shoe me olhou enquanto dirigia. — O futuro? — Ele disse em voz baixa, como se isto fosse apenas afundando, e eu estremeci. — Você pode, uh, ignorar essa última parte? — Eu perguntei, e ele parecia assustado. Ansiosa e nervosa, eu fechei minha boca antes que falasse algo que pudesse fazer que quisesse me expulsar do carro. Ainda tinha uma oportunidade. Não era tarde demais. Tinha que fazer este trabalho. Não era só o futuro de Ace que estava em perigo. Estava o meu próprio.
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DEZ
Shoe estacionou duas casas abaixo, do outro lado da rua. Franzindo a testa para a caminhonete de Ace ainda estacionada no meio-fio. Saindo sem abrir a porta, correu até a calçada, diminuindo ao se aproximar. Shoe não estava na melhor das formas, mesmo sendo tão magro como ele era. A lua quase cheia, iluminava, ajudando a iluminar a escuridão. Passamos pela caminhonete do Ace, o motor ainda frio. Talvez tivéssemos chegado a tempo, talvez nada do que eu vi em meu flash forward23 tivesse acontecido ainda. — Você nem sequer está tendo dificuldades para respirar — Shoe disse, arfando. — Bem, eu corro muito. — Me movendo em um ritmo mais lento, eu estremeci, estranho pensar que ainda podia sentir frio. — Quanto tempo vai levar para fazer a correção. — Eu perguntei. Shoe olhou pra mim. — Vai levar o tempo que demorar a apresentá-la a minha mãe. As pontas do meu tênis estavam molhadas do orvalho, então eu olhei para o quarto de Shoe. Pela forma como a luz se movimentava, percebi alguém andando Ace? — Sua mãe acha que você ainda está em seu quarto, — eu lembrei a ele, pensando que ele não deve fugir com frequência. 23
Uma espécie de visão do futuro.
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Shoe imediatamente mudou de direção. — Pela janela, então. Eu não pude conter meu sorriso em meu rosto. Ele não era muito bom nessa coisa de bisbilhotar, mesmo ele tendo se saído bem com o carro. Mas a sua carranca se transformou em raiva, quando vimos Ace mexendo na gaveta da sua escrivaninha. — O que ele está fazendo? — Shoe murmurou com raiva, mas fiquei impressionada. Chegamos a tempo. — Eu não sei, talvez ele não tenha baixado o vírus do hospital, ainda. — Eu disse. Shoe ainda com a testa franzida, fez um movimento e entrou pela janela. — Tire suas mãos da minha escrivaninha, — ele disse enquanto puxava seu capuz negro pra trás. Ace parou, pego completamente de surpresa, seu olhar assustado se deslocou de Shoe para mim, — Olá Shoe, — ele disse enquanto fechava a gaveta. — Você me deve cinco, eu estava apenas olhando. — Claro, — Shoe zombou, empurrando-o de sua mesa com uma única mão. Ele baixou a cabeça. Shoe puxou a gaveta enquanto, Ace recuperava o equilíbrio. Shoe observou a desordem. Arregalando os olhos, Shoe me olhou como se não acreditasse, em seguida atirou um cartão plastificado em cima da escrivaninha. — Esta é a sua mãe? — ele disse meus lábios entreabertos observando a identificação do hospital. Eu não tinha visto isso no meu flash forward. — O que você está fazendo Ace? Em vez de demonstrar raiva, Ace moveu-se para trás com uma expressão satisfeita. — Sim é a minha mãe, mas agora tem as suas impressões digitais. Idiota. Shoe avançou um passo, com suas mãos em punhos, — Você quer colocar isso no hospital? Você está louco? Alguém pode se machucar. Agora me dê o disco. Sorridente, Ace sentou na cama, casual e irritante em sua camiseta preta. Que era fina demais para não esconder sua magreza. — Tarde demais. Ele já está dentro. Tarde demais? Ace já tinha ido ao hospital?
131 — Você é um idiota, maldito. — Shoe explodiu, eu queria que ele falasse mais baixo. Tudo o que queríamos era o dia de folga. — É um hospital, Ace! Você vai matar alguém! O que há de errado com você? Ace levantou-se, e eu dei um passo para trás, diante de sua expressão. — O que há de errado comigo? O que há de errado com você? Isto é culpa sua. Você está me responsabilizando, é o seu computador e eu não sei nada sobre isso. Shoe sacudiu a cabeça, horrorizado. — Isto é por que eu vou para a faculdade? O que você quer que eu faça? Case com você? As pessoas crescem, afastam-se. Eu vou para a faculdade, não para a lua. Você também pode ir, se quiser! Eu ouvi um leve som de passos do lado de fora, e me assustei. Mas a mãe de Shoe se afastou, deixando que eles lidassem com os seus problemas. Ela claramente não era ignorante sobre os problemas de sua amizade. A expressão de Ace não era nada amigável. — Você não vai a lugar nenhum, a não ser a prisão, Richie Rich. Recuei até a janela, eu nunca havia visto tanto ódio e ressentimento, na expressão de alguém, e eu não tinha como ajudar, mas comecei a pensar que a ideia de Nakita de tirar a vida desse cara antes que ele manchasse sua alma, tão fortemente que ele não teria nem chance de pedi perdão, não era assim tão ruim. Eu estava pensando como um ceifador negro, e eu não gostei. Shoe estava pálido de raiva. — Você estava comigo quando eu escrevi. E eu vou contar... — Contar o quê? — Ace interrompeu. — Você destruiu os arquivos da escola. O disco que deixei no hospital é o mesmo programa. Ele tem o seu nome nele, amigo. Em pé diante de Ace, Shoe começou a tremer. — Você é um idiota, — ele disse, e eu engasguei quando ele socou Ace, bem na cara.
132 — Shoe. — Eu gritei, mas Ace bateu na cama e foi ao chão. Erguendo-se acima dele, Shoe ficou de punhos cerrados. — Você me bateu! — Ace exclamou apoiado em um cotovelo, passando a mão na boca. — Eu estou sagrando. — Sim e eu vou bater em você de novo a menos que você venha comigo a polícia e conte a eles o que você fez. Eu queria destruir o sistema da escola, e não machucar as pessoas. Eu já sabia que uma viagem à polícia não ia acontecer, eu puxei Shoe para trás enquanto Ace ficava em pé, cuspindo sangue no tapete de Shoe. — Você vai apodrecer. Qual policial vai creditar? Está tudo no seu computador. Tremendo, eu disse frustrada. — Eu não acho que possa impedir Nakita de matar você, e sabe o que Ace? Eu não estou nem um pouco arrependida. — Eu fiquei, no entanto, torcendo para ele fazer a melhor escolha. Eu sabia que ele não faria. Talvez Nakita estivesse certa. Os serafins marcam como seus alvos apenas pessoas que se recusaram a ver a luz, mesmo quando você prende seus olhos abertos e os coloca no sol. O fraco som de vidro quebrando e caindo deslizou pela minha consciência e uma névoa do tamanho de uma softball disparou pelo quarto através da janela aberta. — Grace! — Eu exclamei, e Shoe olhou para mim como se eu estivesse louca. Ou alguma coisa muito boa estava acontecendo com Barnabas e Nakita ou muito mal. O globo circulou Ace, como se fosse obter sua essência, depois foi para o monitor de Shoe. — Grace? — Eu questionei, de repente não tendo certeza. — Anjo da guarda 2-T-4-5 assumindo uma nova carga, sua tola, ceifadora negra. — A luz, disse disfarçadamente. — Você perde. Minha boca abriu. E eu virei para a janela quando percebi o que tinha acontecido. — Não! — Eu chorei, e minha raiva aumentou quando eu vi Paul, presunçoso e satisfeito, de pé no mato, sua cabeça no nível da janela.
133 — Seu idiota! — Eu exclamei, e ambos Shoe e Ace viraram para a janela para vê-lo. Droga, este foi meu erro, ele deve ter nos seguido desde a escola, esperando até que eu revelasse quem era a marca antes que designasse um anjo para Ace. — Feito e feito — Paul disse sorrindo. — Você perdeu, Madison. Eu salvei este aqui. — Salvou ele para quê? — Eu perguntei. Ainda mais irritada do que eu já estava, corri para a janela, agarrando sua túnica e arrastando-o para dentro. — Ow, ei! — Paul falou, caindo no chão em uma pilha sem graça. Do teto o anjo da guarda começou a gritar, mas ninguém além de mim provavelmente poderia ouvi-lo. Shoe e Ace tinham recuado, eu fiquei perto de Paul, querendo dar-lhe um bom pontapé. — Seu estúpido, idiota! — Eu disse, irritada. — Eu disse que estava cuidando disto! E você chega e estraga tudo! Por que você não procurou saber toda a história antes de começar a fazer a escolha para as pessoas. Obrigada por nada, Paul! Fora do quarto na sala eu ouvi a mãe de Shoe chamando. — Docinho? Está tudo bem? Oh, Droga! Nós congelamos. Paul levantou-se do chão com olhos arregalados. Ace com a cabeça esticada para trás, seu nariz sangrando. — Nós estamos bem, mãe. — Ele respondeu, com o tom certo de irritação na voz, flexionando a mão, que agora estava inchada por ter socado Ace. — Bem, bem, estamos todos bem aqui! — O anjo concordou. — Vocês garotos, querem um lanche ou alguma outra coisa? — Sua mãe perguntou, claramente preocupada. Meu respeito pela mãe do Shoe aumentou. Ela não estourou mesmo quando claramente as coisas não iam bem. Ela estava sendo gentil em nos deixar resolver isto.
134 — Não mãe! Estamos bem! — Bem, bem. Estamos todos extremamente bem. Ninguém falou, enquanto ouvíamos os passos se afastando. Finalmente o anjo da guarda suspirou e Shoe se colocou de costas para a porta, claramente frustrado. — Ok — ele disse olhando para Paul. — Este é o meu quarto e eu quero saber quem é você e o que está acontecendo. Eu não podia lhe dizer tudo, mas eu fiquei próxima à janela e cruzei meus braços em meu peito. — Esta idiota deu a Ace um anjo da guarda! — Eu disse furiosa. — Salvando sua bunda magricela. — O anjo da guarda disse, e eu lhe dei um olhar sombrio. Isto soou diferente de Grace, mas eu duvidava que pudesse nomeá-la e quebrar o poder que Ron tinha posto sobre ele, não uma segunda vez pelo menos. Ace baixou a sua cabeça, ainda com o nariz sangrando. — Eu tenho um anjo da guarda? — Ele? — Shoe gritou. — Ele só me ferrou por travar os computadores do hospital amanhã. — Eu sei. Irônico, não? — Eu disse descruzando meus braços e me virando para Ace. — Você não pode vê-lo, mas ganhou uma benção dos céus, idiota. Nada vai tocar em você agora, até a sua morte programada. — Virando-me para Paul eu não pude me conter e soltei. — Muito obrigada! Este apenas não era o meu dia. Aqui eu devia impressionar os serafins e mostrar que os ceifadores brancos e negros podem trabalhar em conjunto e falhei espetacularmente. Ao menos Barnabas podia fazer todo mundo esquecer as últimas vinte e quatro horas. Se ele estiver de acordo com isso. O anjo da guarda se aproximou de mim, e eu não fiquei surpresa que suas asas chegaram com o som suave de vidro deslizante. — Você não é um Ceifador Negro. — Ele disse. — Você é um Timekeeper Negro? Você é Madison? Eu ouvi sobre você. Você deu um nome a Grace!
135 Eu balancei a cabeça, não querendo dizer nada em voz alta, não querendo que Shoe e Ace ficassem ainda mais conscientes do que estava acontecendo. Barnabas era um ceifador, não um milagreiro. — Bem — A brilhante bola de luz disse. — Ela não era muito boa, nisso. Um suave som de afronta saiu de mim e eu a encarei. Paul estava em pé, parado próximo a Ace, sem saber exatamente o que fazer. — Você o queria morto, — ele disse, mas soou inseguro. — Ron estava certo. Eu comecei a caminhar entre a escrivaninha e a janela aberta. — Ron, é um míope idiota. — Eu murmurei enquanto girava na direção de Ace, que agora estava sorrindo enquanto limpava o nariz na bainha da camisa. — Você sabe muito bem que esse pequeno pedaço do trabalho deu a ele um cartão de passe para se livrar da morte? Ele vai continuar e fazer isso de novo. Ele pensa que é o único jeito de deixar sua marca no mundo. Ele está morto, Paul — Eu disse. — Você pode ter salvado a vida dele, mas ela não vale nada. Eu dei a chance para ele mudar, mas isso não vai acontecer. Rondando na frente de Ace, Paul disse. — Você não sabe disso. Eu arqueei minhas sobrancelhas para ele. — Eu sei, eu vi isso. Parabéns, você fez muito bem em sua prevenção de colhimento, salvando ele e tudo mais. — Qual a diferença entre esta prevenção e a última, onde eu salvei Susan no barco, na vez que eu conheci Nakita? Eu mudei seu futuro sem nada mais do que mostrar a ela uma quase morte, que não tinha sequer sido dela. Ela havia sido marcada e estava indo viver sua vida, distorcendo a verdade e arruinando a vida das pessoas apenas pelo sensacionalismo. Através da tragédia ela viu a realidade de como a vida é realmente preciosa, lhe mostrando assim o que realmente importa, ela mudou. Mas Ace... Ele sabia que suas ações iam matar pessoas e ele não se importou. Só interessava o que ele iria ganhar. Ace estava rindo, puxando um lençol de uma caixa embaixo da cama, soltando um suspiro feliz ele se jogou nos travesseiros. — Eu tenho um anjo da guarda? Joia! — Ele disse para o teto.
136 Seu anjo da guarda não parecia muito feliz, se a marca cinza no espelho era uma indicação. Eu estava dando voltas novamente, eu não poderia evitar. Eu não deixaria que as coisas acabassem assim. Paul estava próximo à janela e Shoe estava tentando limpar suas digitais do crachá do hospital. — Você vai por um fim na vida dele. — Paul disse lentamente, e eu olhei para Ace. — Eu estava tentando salvá-lo, mas por que eu não tenho a menor ideia. Shoe estava de costas para nós, seus dedos no teclado, procurando por um disco em branco e em seguida colocando-o no leitor e clicou em um botão. — Eu não vou levar a culpa pelo hospital. — Ele disse enfaticamente. Ace levantou-se da cama. — Você não pode me parar, eu tenho um anjo da guarda. Do espelho a bola de luz suspirou. Meu temperamento estava esfriando. Shoe estava provavelmente achando uma saída. Claramente nós estávamos em sintonia, desde que o crachá do hospital estava em seu bolso, nós poderíamos fazer a correção. Havia apenas o persistente problema chamado Ace. No momento em que estivesse sozinho ele chamaria alguém. Virei em direção a Paul, com um início de um plano. — Vocês nunca ficam ao redor das pessoas para descobrir o que elas vão fazer após abençoá-las, não é? — Eu disse acidentalmente. O que foi feito, foi feito. Destino eu pensei, me perguntado se eu estava errada sobre a escolha ser mais forte do que a visão do serafim. Paul ainda estava olhando para mim, então eu disse. — Apenas saia, ok. Você fez o seu trabalho, agora é a minha vez. Paul olhou para Ace, com uma expressão preocupada. — O que você vai fazer? Ele perguntou. — Ele tem um anjo da guarda. — As pessoas do hospital, não. — Eu disse. — E você me chamou de assassina? Abra seus olhos! — Eu me virei para o Shoe feliz em ver sua expressão determinada,
137 quando ele pegou o disco do computador e olhou para Ace. — Essa é a solução? — Eu perguntei e ele assentiu. Ace sentou-se na cama. — O que você está fazendo? Shoe me entregou o disco e disse: — Ela vai salvar o hospital para mim, enquanto eu e você vamos ficar aqui e jogar um pouco de WOW24. Se você quiser chamar a polícia vá em frente, mas eu irei quebrar os seus dedos se fizer isso antes que ela possa colocar o disco no lugar. Eu não vou destruir minha vida e nem ignorar a minha consciência. — Você não poderia. — Ace disse enxugando o nariz. O sangue espalhando em seu rosto através de seus dedos. Sorrindo tristemente, eu empurrei Paul e saí pela janela. — Você é uma boa pessoa Shoe. Vou fazer o máximo que eu puder. — Como eu ia fazer isso, era outra história. Eu não entendia nada de computadores. Ace jogou o lençol de lado. — Você acha que Shoe pode me segurar aqui! — Ele disse indo se sentar na cadeira onde Shoe esteve como se fosse um trono. — Eu tenho um anjo da guarda e uma vez que você e sua aberração de garota sair eu terei a mãe de Shoe aqui. Então eu irei chamar a minha mãe e direi a ela que você me bateu e roubou seu crachá. Minha mandíbula se contraiu. Shoe que estava esperando na porta franziu o cenho. Olhei para o anjo da guarda parada próxima ao espelho, que havia soltado um suspiro. — Porra — eu soltei, se ao menos eu soubesse como funciona o meu amuleto. Eu ficaria e Shoe poderia ir. Mexendo-se nervosamente Shoe disse. — Eu não sabia que anjos podiam praguejar. Paul fez uma careta, como se tivesse comido algo azedo. — Ela não é um anjo.
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138 — Eu só estou morta. — Eu disse frustrada, olhando para Paul. Ele encontrou meu olhar sua expressão demonstrando culpa. Barnabas e Nakita estavam longe. Eu precisava de ajuda, precisava descobrir como usar o meu amuleto. Usar meu amuleto... — Bem, você me faz um favor? — Perguntei a Paul repentinamente, e não sei quem ficou mais surpreso o anjo da guarda, agora de uma prata brilhante, ou Paul, ambos me encarando. — Desculpe-me. Olhei para Ace, depois voltei a olhar para ele. — Você só vigia ele por um tempinho? — eu perguntei. — Assim eu e Shoe poderemos consertar as coisas. Paul me olhava com curiosidade. — Eu não entendo você, Madison. Esperança cruzou o meu peito. Isso não tinha sido um não. O anjo da guarda claramente achou uma ótima ideia, lançando-se para o teto. — Meu pai também não me entende. — Eu disse sorrindo. — Você vai fazer isso? Fazer a coisa certa e não destruir tudo? — Eu não estraguei tudo. Eu salvei a vida dele. — Depois olhou para Ace, voltando para nós com um olhar assassino. — Sim, eu vou fazer isso, — acrescentando — você vai ficar me devendo. — Você acha que é mais durão do que eu hein? — Ace disse enquanto se levantava, me deixando tensa. Paul estendeu a mão para o seu amuleto, e eu estremeci quando senti algo passar por mim, quando ele o tocou. O anjo da guarda soltou um grito quando Ace caiu. Droga tinha sido rápido. — Uau — eu sussurrei totalmente impressionada. Shoe cutucou Ace com o pé. — Estou feliz de estar do seu lado. — Disse ele, tirando do cinto do seu ex-amigo as chaves da caminhonete. — Eles têm câmeras na porta do
139 hospital — ele explicou enquanto passava por Paul indo em direção a janela. — Eu não quero que vejam meu carro por lá. Ele escapuliu pela janela dizendo. — Cubra-me se minha mãe chamar, ok. Paul balançou a cabeça com um olhar tanto de medo e animado. — Você ainda pode alterar as memórias? — Perguntei-lhe, consciente do olhar de Shoe pela janela, mas eu realmente queria saber. — Não — Paul admitiu, com olhar quase envergonhado, como se ele tivesse tentado e falhado. — Nem eu. — Disse sentindo uma onda de entendimento. Sorrindo eu me sentei no peitoril e me virei para o lado de fora. Estava frio e eu tremi. Talvez eu tenha falhado em salvar a alma de Ace, mas ao menos eu poderia salvar a vida de alguns inocentes. — Obrigada Paul, você não é tão mal. Joguei-me pela janela e comecei a atravessar o jardim escuro junto com Shoe com as chaves do carro de Ace — Madison! Era Paul e eu me virei, ele estava na janela, o anjo da guarda junto ao seu ombro. — Seu flash do futuro? — Ele perguntou inseguro. — Você viu o que virá disso? Eu balancei a cabeça, encolhendo-me quando a música de Ace começou a tocar quando Shoe deu partida em sua caminhonete. — Eu vi o que poderia acontecer, — eu admiti tremendo com a lembrança. — Ele não lamentou nada disso. Embora eu acredite que o que estamos fazendo mude as coisas. — Paul não disse nada e sacudindo meus pés eu disse: — Tenho que ir. — Boa Sorte! — Ele sussurrou em voz alta.
140 Sorrindo eu me virei e corri em direção a caminhonete de Ace. — Não deixe que Ron escute você dizer isso. — Eu murmurei. Foi com o coração bem mais leve que eu deslizei para o lado do passageiro na caminhonete de Ace. Havia ainda mil coisas que poderiam dar errado, e assim alguém se machucar, mesmo com tudo correndo bem, mas Paul acreditou em mim. E eu fiquei surpresa em como isso significou muito para mim.
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ONZE
Shoe estacionou o caminhão de Ace no parque, mas não fez nenhum movimento para sair dele. Juntos, olhamos através dos pára-brisas sujos para entrada de emergência iluminada. Parecia calmo, mas as pessoas estavam entrando. — Assustado? — Perguntei, sentindo a memória do meu coração batendo nos meus pensamentos. Odiava quando isso acontecia, e o forcei a parar. Sua mão caiu do volante, e ele olhou através de mim. — Nunca invadi nada, exceto a escola, e você viu quão bom foi isso. Céus, Madison, nunca roubei sequer uma loja. — Mas você sentou em seu quarto e criou um vírus que pode matar as pessoas ao apagar o sistema dos computadores do Hospital. — Eu disse suspirando. — Não quis criar um programa para matar as pessoas. — Ele disse calorosamente. — Eu fiz um vírus para fechar a escola por um dia. Isso é tudo. Ace é uma dor no traseiro. Não era como se eu pudesse discutir com ele. Balançando a cabeça, me concentrei nas portas duplas de vidro, que lançavam luz no estacionamento pouco iluminado. De repente percebi que estava correndo de um lado para o outro e o meu amuleto ressonando desde que tinha deixado à proteção de Nakita e Barnabas. Eu era inexperiente, e isso poderia não ter um final feliz. Assim que Ron se desocupar, ele poderá ficar curioso sobre o meu paradeiro.
142 Shoe esfregou o queixo, claramente nervoso. Eu conhecia o sentimento. Estava realmente preocupada com Barnabas, Nakita e Grace. E se eles se machucaram? Eram mais poderosos que eu, mas eu era responsável por eles. Como isso aconteceu? — Eles não vão apenas nos deixar entrar e sentar em um terminal. — Shoe disse com um suspiro. Se Barnabas ou Nakita estiverem feridos. Ron poderá me rastrear? Tinha pouco tempo, e aqui estava eu, sentada em um caminhão que não era nosso. — Como nós vamos entrar lá? — Shoe perguntou mais alto dessa vez, porque eu não tinha respondido. Nervosa, puxei um dos joelhos até meu peito para colocar meu tênis. — É muito tarde para acreditarem que estamos fazendo uma visita a alguém. — Eu disse. — Quão bom ator você é? Os olhos de Shoe se arregalaram na fraca luz de segurança. — Você quer entrar esgueirando-se como um doente? — Não, mas se você entrar rápido no estacionamento de emergência comigo inconsciente... As sobrancelhas subiram, ele estremeceu. — Você acha que isso vai funcionar? Lembrando como tínhamos entrado correndo na sala de emergência com Josh, frio e morrendo depois de ser ceifado por Nakita, assenti com a cabeça. — Eu sei que vai. Com toda a distração, você pode facilmente entrar pela parte de trás, sem ninguém olhando. — Enquanto eu puder manter os falsos batimentos. — Eventualmente me estabilizarão e vão embora. Poderia levar horas. A menos que... Shoe me olhou, esperando, — A menos que? — Uh, a menos que me faça de morta. Colocarão-me no necrotério bastante rápido. — Sim, como se isso fosse funcionar. — Ele disse bufando.
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Agarrei sua mão e a coloquei contra meu pulso. — Eu te disse, estou morta. Vê? Não tenho pulso. A menos que crie um, é assim. Meu coração pulou uma batida com a sensação de seus dedos ao redor de meu pulso, e logo ficou silencioso. A expressão de Shoe mudou de aborrecido para intrigado, e depois para medo. Tirando sua mão de mim, ele tinha um olhar doente em seu rosto. — É algum truque, ou algo do tipo. — Ele disse. Aqui estou outra vez, sentada em um caminhão, tentando convencer outro cara que estou morta, pensei. Soou como uma música country que deu errado. Minha morte era toda uma bagunça. Suspirando, disse: — Ótimo. Não acredite nisso. Basta seguir com isso por algumas horas. Você tem o pacth? Ele tocou seu bolso e assentiu. — Vão querer saber quem eu sou. — Eu disse, puxando minha carteira do meu bolso e colocando-a no porta-luvas, tendo que empurrá-la para o lado de um monte de CDs de música. Meu telefone também estava ali, e eu hesitei. Era minha única ligação com meu pai. Deixando-o de lado me senti mal. — Não quero que meu pai receba uma ligação de que estou em um necrotério a meio estado de distância. — Eu disse. — Pode dizer-lhes que meu nome é Wendy? Wendy não se importaria. Ela ia achar hilário. — Diga que você me encontrou no shopping e íamos assistir a um filme ou algo assim, e eu apenas caí? Shoe não parecia bem. Na verdade, ele estava quase verde de baixo das fracas luzes de segurança. — Eu não sei... — ele começou. — Oh pelo amor de Deus! — Eu exclamei, sentindo o tempo passar. — Você vai ser responsabilizado por três mortes, e está preocupado por mentir a uma recepcionista de onde nos encontramos? Leva-me, e quando te disserem que eu estou morta, fique chocado e diga que tem que ir ao banheiro vomitar. Encontre-me no elevador no piso inferior. Você tem uma chave de acesso.
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Ele tocou seu bolso onde a identificação da mãe de Ace estava, e, olhando aflito, ele assentiu com a cabeça. — Por que não pega o patch e o envia? — Ele perguntou enquanto saía do carro. A visão de uma asa negra me fez tremer. — Eu? — Perguntei. — Não sei nada a respeito de computadores. Você que tem que fazer. Relutantemente, ele deslizou pra fora. — O que vai acontecer depois? — Ele perguntou. — Sua morte? Eu te trazendo de volta? Os policiais? — Então ele fez uma pausa, — Você disse que Barnabas pode mudar memórias. Assenti com a cabeça, e, olhando ainda mais desconfortável, Shoe lambeu os lábios. — Não mude a minha, ok? — Ele pediu. — Quero lembrar isso. — Certo. — Disse rapidamente, apenas para seguirmos com isso. Não sabia quanto tempo me deixariam aqui encostada antes de me levar escada abaixo. — Quando isso acabar, eu simplesmente voltarei do necrotério e sairei da mesa. É um maldito milagre. — Estou falando sério. — Shoe disse, sua voz aguda, e eu o olhei. — Não me faça esquecer. Se você levar isso de mim... qual é o ponto? Meu coração deu um pulo e se aquietou. — Certo. — Eu disse, querendo dizer esta vez. Ele me olhou por um longo momento, então colocou o caminhão de volta na marcha. — É melhor que isso funcione. — Ele murmurou. — Funcionará. — Eu disse, mas era algo assustador. Teria que ter certeza que meu coração não batesse, e sempre fazia isso quando fico estressada. E eu tinha que ter certeza de não sorrir e arruinar tudo. Se me colocarem em uma gaveta eu ia ficar presa até Shoe me encontrar. Mas não tinha muitas opções aqui. Se o patch não estiver no sistema por volta das seis horas, pessoas iam morrer. Seria minha culpa.
145 Nervosa, caí no banco contra a porta e me concentrei em escutar as batidas do meu coração. Lentamente ele foi parando. Identidade desconhecida: feito. Pulso parado: feito. Meu amuleto, pensei preocupada que alguém o tirasse de mim. — Espera! — Eu disse, e o caminhão se sacudiu com força, parando. — Eu tenho que esconder meu amuleto. — Disse timidamente. As sobrancelhas de Shoe subiram em dúvida, e me acomodei para me concentrar, contente de ter aprendido isso. Pegando meu amuleto com minha mão, pensei nele, em como parecia ao tocá-lo, suave, quente, e em como era, um roxo tão profundo que na realidade era negro. O visualizei mentalmente, vendo como o divino o rodeava, filtrando-o para que não me destruísse quando o tempo tocasse meus pensamentos. Ressoava como o som de minha alma, do universo. Sentia-se vivo. E o peso era simplesmente tão... leve. Uma sensação de calor me encheu. Sabendo que tinha funcionado, abri meus olhos e soltei meu amuleto. Olhei para meu peito, mas já não estava. Diabos, amava quando podia fazer algo assim. — Oh meu Deus, ele se tornou invisível — Shoe disse, parecendo assustado. — Merda. Você realmente está morta. — Ele disse, com o rosto branco. Sorri, tentando confortá-lo. — Agora parece que tem uma menina morta em teu carro. Vamos. Respirando profundamente, ele virou para a entrada do hospital. — Vou me meter em tantos problemas por causa disso. — Ele sussurrou, suas mãos tremiam enquanto colocava o caminhão em marcha e acelerava o motor ao máximo. Fechei os olhos novamente, obrigando-me a relaxar. Tinha feito meu amuleto invisível antes, mas nunca em um momento tão importante como agora. Teria três coisas para sustentar e não sabia se podia fazê-lo. Eu tinha que manter as memórias de batimentos do meu coração tranquilas, me impedir de contrair quando eles tentassem me trazer de volta a vida, e teria que manter meu amuleto escondido. Eu não sabia se conseguiria fazer isso. Mas eu tinha que fazer
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DOZE
As portas duplas se fecharam em silêncio quando o enfermeiro que me trouxe na maca para o necrotério foi buscar um refrigerante. Em uma explosão de movimento, me sentei, empurrando o manto como se fosse uma serpente. Irritada, olhei minha camisa favorita, a que tinha comprado pra meu primeiro dia de escola, e eles a arrancaram como se fosse de uma liquidação especial. Minhas meias também tinham sofrido, mas minha camiseta estava pior onde eles tinham empurrado, rasgado e aplicado eletro choque em mim. — Filhotes de cachorro. — Murmurei enquanto balançava meus pés sobre a borda e os deixava pendurados. Tinha novos furos em meus braços, também, e tirei as agulhas que eles tinham deixado e as atirei sobre a maca. Pelo menos quatro técnicos de laboratório tentaram tirar sangue de mim, falharam, pois não tinha nada pra tirar. Nunca mais vou brincar de morta de novo. Nunca! Mantendo fechada minha camisa rasgada, deslizei da mesa. Meus pés nus golpearam o azulejo frio, e, olhando para baixo, eu novamente jurei. Pelo amor de Deus, tinha uma etiqueta no meu dedo. Quando tinham colocado? — Onde estão meus sapatos? — Murmurei, olhando debaixo da maca onde não encontrei nada. Felizmente, meu amuleto ainda estava ao redor de meu pescoço. Se eles tivessem tentado levá-lo, eu teria perdido. Estava visível agora. Eu tinha deixado de ocultálo no momento em que colocaram o manto sobre mim. Quando eles tinham se dado por vencidos... Não foi um sentimento agradável, depois de tudo. Com um humor ácido, atravessei a sala com pouca luz, pegando um jaleco de laboratório atrás do balcão.
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Coloquei meus braços e abotoei até cobrir minha camisa rasgada. Meu coração tinha dado uma batida enquanto estava na mesa, e eles haviam feito o possível para estabilizá-lo. Nunca tinha me sentido tão violada, mas pelo menos não tinham cortado meu sutiã. — Ei, isso são meus! — Eu disse quando encontrei meus brincos em cima da mesa do enfermeiro. Furiosa, coloquei um, depois o outro. Ainda descalça, andei até as portas duplas. Tinha que encontrar Shoe. Irritada com o mundo, empurrei as portas abertas e olhei. O corredor estava vazio. Uma das lâmpadas fluorescentes estava apagada, e mais distante no corredor de teto baixo, outras lâmpadas piscavam. Cheirava a cloro. A outra direção parecia ser a mesma, mas no final tinha um conjunto de portas pratas de elevador. Eu estava fora de lá. A etiqueta do dedo provocou um som sobre o azulejo, e, sem parar, me curvei para baixo, arrancado-a, então a deixei cair no chão. Tinha estado “morta” por muito tempo, e apostava que Shoe ainda estava lá em cima. Atrás de mim, uma voz masculina chamou. — Senhorita? Você deixou cair alguma coisa? Cerrei os dentes, e virei estreitando os olhos, quando percebi que era o enfermeiro que tinha me trazido aqui com as melodias mutiladas de “Satisfação”. O mesmo que tinha ficado com meus brincos, eu apostava. — O quê?! — eu perguntei, muito consciente dos meus pés nus e meu cabelo roxo. Sem mencionar minha camisa rasgada e minhas meias esfarrapadas, querendo posar como uma médica que tinha saído, mas talvez eu podia estar parecendo um técnico de laboratório tendo um dia ruim. O rosto rechonchudo do sujeito pareceu surpreso. — Uh, desculpa. — Ele disse enquanto se aproximava, lentamente agora. — Eu pensei que você fosse um médico. — Detendo-se, olhou a etiqueta do necrotério, depois para mim, então para as portas à sua direita. A garrafa de refrigerante em suas mãos começou a escorregar. — Ah... Bravo, eu caminhei a passos largos para trás com meus pés descalços. — Obrigada. — Eu disse, pegando a etiqueta, colocando no bolso do jaleco. Dando uma última olhada, me virei e comecei a caminhar para o final do corredor. Atrás de mim, houve uma mudança nervosa de sapatos.
148 — Ei, uh, não era você... — O rapaz disse, então hesitou, pensando. Dei três passos para frente do corredor, e ele gritou: — Eiii... Não me virei, mas cada músculo do meu corpo ficou tenso enquanto eu golpeava o botão que para cima. Quase instantaneamente as portas se deslizaram se separando, mas parei bruscamente quando Shoe me olhou chocado. Seus olhos foram para trás de mim, e eu não estava surpresa quando ouvi o grito do enfermeiro. — Ei, você! Espera! Os olhos de Shoe estavam enormes e tinha uma expressão de raiva quando pegou meu jaleco e balançou para trás dizendo: — Uh, você está bem? — Encontramo-nos no armário de vassouras, você vai? — Murmurei, e ele saiu como uma flecha para fora do elevador. Fiquei rígida quando o enfermeiro veio atrás de mim ofegante. Já tinha tido o suficiente. As coisas que eles faziam as pessoas mortas cheiravam mal. A última coisa que queria fazer era responder as perguntas de porque eu estava de pé e caminhando para esse cara. — Tem algum problema? — Exclamei enquanto me virava para ele. Teve o efeito desejado, e ele parou. Atrás dele, Shoe tinha encontrado uma pequena sala com um balde de rodas e um esfregão. Com um gesto de mão, obriguei o rapaz dar um passo para trás. — Você está viva... — O enfermeiro gaguejando, seus olhos foram para meus brincos, de volta para onde eles pertenciam - em minhas orelhas. — Na realidade não, mas você é um ladrão. — Eu disse com firmeza. — Leve seu tempo de espera. — Acrescentei, empurrando ele de volta para o armário. Seus braços giraram, o cara foi para trás. Tropeçando no balde, ele caiu, olhando para mim quando mergulhei minha mão para pegar a chave de seu cinto. Mexi para fora do caminho, e Shoe fechou a porta, quase capturando o tênis branco do rapaz. — Eu acho que é isso. — Shoe disse, enquanto balançava uma chave com “MANUNTENÇÃO” etiquetada nela, coloquei na fechadura, e girei.
149 — Ei! — Veio fraco do armário, e expirei, me sentindo muito melhor. Shoe olhou o armário, rindo. — Você fez um novo amigo? — Ele perguntou, e eu pulei quando o enfermeiro sacudiu a maçaneta e bateu na porta. Embaraçada, senti minha raiva me consumir. — Ele roubou meus brincos. — Eu disse, feliz de não ter os encontrado em sua orelha. As caveiras eram mais difíceis de encontrar do que se podia imaginar. — Me deixe sair! — Vinha do armário. — Obrigada. — Eu disse a Shoe, enquanto virávamos para o elevador e apertávamos o botão de subir. — Pelo que? — De repente tímida, olhei Shoe, suas mãos em seus bolsos, e sua camisa casualmente para fora da calça. — Por vim me buscar. — Eu disse. O elevador não tinha voltado ainda, e ele me olhou de soslaio. — Eu queria ter certeza que você estava bem. Quero dizer, você estava morta. — Eu ainda estou. — Ele ficou ainda mais nervoso, passando de um pé para o outro, enquanto olhava para a luz de subir brilhando. — Certo. — Ele admitiu. — Mas... você está bem, também. Eu sorri, zombando golpeei o seu ombro. — Só é o meu corpo que está morto. — Shoe respirou fundo, suspirando com força. — Ah, precisamos de um computador silencioso. Do armário veio um suave: — Maldição, não há barras. — Tem um computador no necrotério. — Sugeri, e Shoe olhou o corredor vazio, suas sobrancelhas altas em especulação. Sabia exatamente o que ele estava pensando: Por que ir para outro lugar quando a única outra pessoa aqui estava trancada no armário?
150 — Parece bom pra mim. — Shoe disse, entrando pelas portas duplas, seus sapatos rangeram sobre o azulejo, e meus pés descalços faziam silêncio. — Se o vírus está no computador, então posso conectá-lo com o servidor aqui, e carregar os patches aqui. — Meu sorriso se ampliou. Isso ia funcionar. Finalmente, algo estava acontecendo do meu modo. — Pessoal? — O enfermeiro chamou, começando a soar frenético. — Alguém? Olá? Shoe me olhou quando entramos no necrotério. — Por que eles pegaram seu tênis? — Ele perguntou, e eu repentinamente tomei consciência da minha blusa rasgada, escondida, debaixo do jaleco. — Eles tinham que por a etiqueta em algum dedo do pé. — Eu disse, desacelerando até parar, perguntando se meus sapatos poderiam estar em um desses armários na parede. Eu não conhecia necrotérios, mas este era melhor do que o primeiro que eu havia acordado morta pela primeira vez. Só estava a maca em que eu tinha chegado, e supus que era apenas uma área de espera onde eles deixavam os corpos antes de deixá-los... Permanentemente nas estantes. Essa era provavelmente a sala atrás das portas com ―RISCO BIOLÓGICO” estampado sobre elas. Eu não ia buscar. Estava feliz que eles me deixaram e se foram antes de me colocarem em uma gaveta fria. Eu não estava ansiosa em bater para ser solta. — Esse sujeito é um vagabundo. — Shoe disse, enquanto se dirigia para a mesa arranhada. Com um dedo, colocou os restos do jantar, do outro lado da mesa da falsa madeira desbotada e se sentou em uma cadeira giratória. — Olha, ele conseguiu engordurar todo o teclado. — Shoe disse enojado. Peguei meu arquivo. JANE DOE. Sim, essa era eu. CAUSA DA MORTE, INDETERMINADA. Eca, eu estava aqui para uma autópsia. Comecei a alimentar o triturador de papel com o conteúdo, folha por folha, me sentindo melhor enquanto meu arquivo desaparecia. — Você consegue se imaginar comendo aqui. — Eu disse entre as folhas. — Isso é nojento. — É como acordar descalço no necrotério. Com um gesto, Shoe pegou o mouse, puxando a cadeira para mais perto e digitando um endereço na janela para aparecer uma tela preta de aparência séria. Observando suas habilidades, mentalmente
151 retrocedi por não saber que não tinha sido ele no meu primeiro flash do futuro. Shoe era realmente bom nisso. Excepcionalmente bom, tinha a esperança de que terminado de destruir meu arquivo e fui para trás dele para poder vê-lo trabalhar. — Deixe-me ver o que temos... — Ele disse em voz baixa, ignorando o lugar onde estava quando encontrou uma nova configuração. Ele tocou em algumas teclas e começou a busca. — Sim. — Disse imediatamente quando algo apareceu: Um pequeno ícone de um pássaro negro ao lado de uma de uma sequência de letras e números que não significavam nada para mim. Asa negra. Como uma obra de arte que goteja, Ace tinha deixado sua marca. Eu não tinha visto um asa negra real em dois dias, mas elas pareciam estar em todas as partes. — Ai está. — Ele disse, olhando para mim com vitória em seus olhos. — Podemos fazer isto daqui. Eu só preciso fazer algum backtracking25 para ter certeza de que se trata de uma comunicação de duas vias, e então baixar o patch. Ele estava excitado. Meu coração deu uma batida, e eu sorri. — Quando tempo isso vai demorar? — eu perguntei enquanto empurrei o frango gorduroso no lixo, e sentei na mesa. O enfermeiro estava realmente perto do elevador. Se ele não parar de gritar, alguém finalmente o escutaria. Shoe encolheu os ombros, totalmente imperturbável e frio. — Poucos minutos. O alívio correu dentro de mim e soltei um suspiro que provavelmente estava prendendo há cincos minutos. — Isso é ótimo. — Eu disse radiante. — Shoe, você é fantástico. Eu não saberia o que fazer primeiro. — Sim, bem, é o que eu faço. — Ele disse sem jeito, mas logo me olhou piscando. — O que aconteceu com sua camisa? — Minhas mãos voaram para o jaleco assegurando-me que estava coberta. Estava, mas deslizei da mesa segurando o jaleco no meio. — Uh, eu estava morta. — eu disse, nervosa. — Eles a rasgaram enquanto tentavam obter uma batida do meu coração. 25
Backtracking: É uma técnica de programação para fazer busca sistemática através de todas as configurações possíveis dentro de um espaço de busca.
152 — Sinto muito. — Ele disse, parecia sério. Voltando ao teclado começou a digitar. — Era a minha camisa favorita também. — Eu disse, me perguntando como ia esconder isto e minhas meias de meu pai. Oh, ótimo, meu pai. Merda, eu prometi ligar para minha mãe também. O som do elevador a distancia fez Shoe e eu levantar a cabeça. Isso não era bom. Talvez eles tivessem encontrado alguém para tentar tirar meu sangue. — Apenas termine isso. — Eu disse, enquanto me dirigia para a porta. — Não importa o que aconteça, não pare. Eu deterei qualquer que esteja lá fora. — Mas à medida que minha mão estava chegando para empurrar o lado esquerdo da porta aberta, Nakita entrava pela direita. Surpreendia, cambaleie para trás. Ela estava de branco outra vez, a calça jeans e um top vermelho que tinha dado a ela foi substituído por uma calça branca e uma camisa branca apertada que fez dela uma linha suave. Seu amuleto resplandecia em um violeta profundo contra sua pele, e sua espada estava em sua mão. Botas muito pequenas, brancas com bordas de ouro estavam amplamente difusas sobre o ladrilho desbotado. Era o que tinha vestido na tarde em que tinha tentado me matar. Obviamente algo estava errado. — Nakita! — Exclamei, então algo deslizou sobre minha aura para esconder. Do computador, Shoe suspirou e começou a digitar de novo. — Confiei em você! — Nakita exclamou, os olhos escuros enquanto estava de pé na minha frente, tremendo. Confusa, eu olhei fixamente até que lembrei. Ace. Tinha conseguido um anjo da guarda. Merda. — Paul nos seguiu desde a escola. — Eu revelei, retrocendo enquanto ela vinha, passo a passo. — Eu não sabia que ele estava lá! No momento em que soube o que ele estava fazendo, era muito tarde. Nakita, eu não lhe disse que era Ace. Ele me seguiu! — Eu quase gritei, grunhindo quando meu traseiro bateu na maca atrás de mim. Lembrando de como ela matou meu antecessor diante dos meus próprios olhos, deixei que meu olhar caísse para seu amuleto. Era como se tentasse lançar fragmentos negros de luz para a sala. Nakita tinha parado, escutando, mas ainda apertava com desconfiança o punho de sua espada.
153 Acho que ela queria acreditar, mas estava com medo. — Os serafins estavam certos. — Falei. — Conversar com Ace não teria feito nenhuma diferença. Mas Shoe ainda podia salvar as pessoas que Ace ia matar. — Nakita baixou a espada uma polegada. Suas bochechas estavam vermelhas, e agarrei a maca atrás de mim com ambas as mãos. — Eu não me importo com as pessoas que vão morrer. — Ela disse, parando Shoe em sua digitação. — Salvá-los não é o meu trabalho! Suas almas são bonitas e os serafins se alegram. São almas feridas que me diz respeito. Suas almas não me preocupam, Madison, o que me importa são os feridos, não os que estão bem. Minha boca se abriu em um silencioso “Oh” de entendimento. Ela era uma ceifadora negra. Ela matava as pessoas para salvar suas almas. Ela pensava que o que eu tentava fazer era imprudente. E ainda estava ali, protegendo minha alma do rastro de Ron, enquanto ela tentava entender. — Ceifar a alma de Ace antes que ele a corrompesse mais além da redenção é a minha tarefa. — Ela disse, e não podia dizer o que ela estava sentindo. — Sua alma dependia de mim, e falhei completamente porque confiei em você. Você fez um trato com o Timekeeper Branco. Você permitiu que ele desse
a Ace um
anjo da guarda, e então eu não seria capaz de matar o seu corpo. Admita! Shoe estava olhando. Seus dedos estavam parados, e o silêncio me impregnava. — Continua trabalhando, Shoe. — Eu disse, sem afastar os olhos Nakita. — Eu não lhe dei Ace. — Eu disse, e ela ficou mais agitada, um anjo confuso com uma espada. — Paul deu um anjo da guarda a Ace, inclusive antes que eu soubesse que ele estava ali. Você não falhou com ele. Eu sim. Desculpe, mas eu não te traí você! Não de propósito. Nakita tocou seu amuleto, a confusão tomava seus olhos. Por minha culpa, as asas negras tinham consumido as suas memórias. Não todas elas, mas o suficiente para ela sentir o toque da morte. O som de seus gritos ao perceber que havia uma coisa como isso tinha sido horrível. Ela era a única entre os anjos que sabia o que era o medo da morte. Só ela conhecia a amargura da perda. E eu ainda não podia fazê-la entender o porquê queria por fim na ceifação prematura. — Eu fui ao quarto de Shoe. Conversei com Ace. — Ela disse. — Ele me disse que você fez um trato com o timekeeper branco. Ele riu de mim. Você mentiu. Igual ao Kairos!
154 — Eu não menti. — Disse rapidamente, chegando a tocá-la, para logo deixar cair minha mão. — Esqueci de Paul, e por isso, Ace conseguiu um anjo. Eu sinto muito, Nakita. Fiz um trato com Paul, mas era para impedir que Ace interferisse enquanto Shoe destruía o vírus. Estava tão irritada com Paul, que poderia matar ele eu mesma. Mas minha meta nunca foi impedir que Ace tivesse um anjo. Eu estava tentando mostrar a ele as consequências que as suas decisões iam provocar, esperando ter uma mudança de sua parte, assim sua vida teria sentido. — Ainda posso fazê-lo. Eu sei que isso vai contra sua natureza, mas pensei que você entendia. Ou pelo menos estava tentando entender. Pensei que estava me ajudando. Sua raiva vacilou, e, observando confusa, baixou o olhar. — Ace não vai mudar. — Ela disse. — Você disse. E agora sua alma está verdadeiramente perdida. Dando um passo para frente, toquei seu ombro, jogando a cabeça para trás quando se aproximou. Tinha lágrimas em seus olhos, e ela as secou, surpresa por estar chorando. — Isso ainda não terminou. — Como vou mudar um milênio de crenças se eu nem sequer posso convencer uma ceifadora que quer entender, mas não pode? — Posso consertar isso. — Eu disse, e ela me olhou como se perguntasse por que eu estava me incomodando. — Se nós não fizermos algo, Shoe levará a culpa das escolhas de Ace. Mas se Ace tem que enfrentar as consequências, poderia mudar seu próprio destino. — O destino, eu pensei, saboreando em minha mente, enquanto se dissolvia sobre minha língua. Odiava essa palavra, mas tinha despertado o interesse de Nakita. Ela conhecia o destino. — Você acredita? — Ela perguntou, seus ombros relaxaram enquanto as linhas de raiva em seu rosto suavizavam. — Eu espero. — Disse, querendo ser perfeitamente clara. Nakita franziu o cenho para Shoe, como se o visse pela primeira vez, sua digitação começava e parava enquanto ele murmurava para o computador. A mudança foi difícil
155 para ela, mas ela tentaria por mim, sua timekeeper, que tinha arruinado suas perfeitas crenças. Sua espada tinha ido. — Então provavelmente não devia ter batido em Paul. — Ela disse, mordendo seu lábio inferior de forma inocente. Seus olhos pararam sobre meus pés descalços, e ela piscou. — Onde estão seus tênis? — O pior parecia ter acabado, e relaxei fora da maca. — Não sei. Barnabas e Grace estão bem? — Perguntei. Nakita estava explorando o necrotério, claramente indiferente. — Eles estão vindo. — Ela disse, enquanto se dirigia para os armários, passando os dedos como se buscasse algo. — Depois que você se foi, Ron falou com Paul através de seu amuleto. Logo ele descobriu que Ace conseguiu um anjo da guarda, Ron riu, disse coisas desagradáveis e se foi. Grace e Barnabas o seguiram para assegurarem que ele não foi te encontrar, vendo como sua aura estava tinindo por todo céu e a terra. Fui à casa de Shoe para ver por mim mesmo. Então vim aqui. Nakita virou e tirou um puxador do armário, e abriu, as dobradiças se quebraram. — Me desculpe. — Ela disse enquanto colocou sua mão e tirou meus sapatos e meias. — Eu devia ter confiado em você. Eu não entendo o que está tentando fazer. Talvez se eu entender o porquê. — Com passos silenciosos, cruzou a sala para me entregar meu tênis amarelo. — Está bem. — Disse enquanto o pegava. — Eu não sei o que estou fazendo a metade do tempo, também. Só sigo o que acho correto. Nakita sorriu fracamente. — Provavelmente não deveria ter nocauteado Paul, inclusive se me senti bem também. Seu amuleto é poderoso, mas não é um timekeeper. Ela não só bateu nele, também fez com que ele desmaiasse? Apoiada na maca, afastei o olhar de meu pé em que estava calçando a meia, saltando em um pé quando a maca começou a rodar. — Nakita... por favor, me diz que está brincando. Ele estava ali para impedir Ace de sair.
156 Fazendo uma careta, Nakita tomou fôlego para responder, mas parou, girando para o corredor quando as portas duplas quando elas se abriram. Era Ace, e ele não estava feliz. Jesus, isso pode ficar pior? — Ace! — Gritei, quase em pânico, com uma meia no pé, e a outra pendurada nos meus dedos. — Fique longe do computador, Shoe. — Ele exigiu, a camisa preta ocultava o sangue que escorria do seu nariz, mas eu podia sentir o cheiro como um aviso, quase vendo um brilho vermelho queimando nele. Isso é a sua aura?Finalmente estou começando a ver auras? — Como eu disse, provavelmente não deveria ter batido em Paul. — Nakita admitiu. Shoe não levantou seu olhar, seus dedos digitavam furiosamente. — Vai para o inferno. — Shoe murmurou, confiando em nós para manter Ace afastado dele. — Eu não vou ser culpado por isso. — Ace previsivelmente foi para Shoe, e Nakita pulou para frente. — Volta... — Ela ameaçou, mas seu movimento para puxar a espada vacilou quando uma bola incandescente de luz cantarolava atrás dele. Era um anjo da guarda, e eu sabia por experiência que eles trabalhavam para fazer as coisas piores. Por mais que Nakita estivesse tentando machucá-lo o pior estava por vim. O anjo não poderia entender porque devia proteger Ace, mas o faria. — Continua trabalhando, Shoe. — Eu gritei, manobrando para me colocar entre eles, e levantando minhas mãos em apaziguamento quando seu anjo da guarda fez um barulho de aviso. Todos eles viraram para Ace, me olhando como se estivesse pedindo a ele que fosse um bom menino. Se eu pudesse argumentar com este anjo como fiz com Grace. Irritada, olhei para Nakita enquanto me colocava em uma posição de artes marciais, com uma meia no pé e uma fora.
157 — Você não foi apenas embora, você deixou ele te seguir? — eu perguntei a Nakita. — Não exatamente. — Ela disse, em seguida, pisou no pé de Ace para fazê-lo dar um passo para trás. — Bem, talvez. — Ela adicionou. — Ace acordou quando bati em Paul. Eu sabia que ele estava me seguindo, mas não pensei que isso importava. Madison, eu sinto muito. Eu pensei que nos tínhamos falhado! Ace começou a se mover, e nós três nos deslocamos ficando com ele: Nakita, o anjo da guarda e eu. — Shoe, você é patético. — Ace disse, e eu me perguntava por que ele estava mancando. — Garotas te protegendo? Saia desse computador ou vou te bater. Sim, é isso o que vai acontecer. Sim, assim iria acontecer. — Não pára, Shoe! — Eu o incentivei. Ace deu mais um passo para frente com suas mãos em punhos, e Nakita puxou sua espada. Sentia-me tonta. Tudo estava fora do controle. — Sua louca! — Ace gritou, sabendo que tinha um anjo da guarda, mas não estava disposto a confiar. — Eu não tenho medo de você! — Chegue mais perto. — Ela encorajou, seu cabelo caía sobre seu rosto fazendo-a parecer perigosa. Shoe foi clicando e batendo. Então parou, e enquanto sussurrava um silencioso “Sim!” escutei o chiado da bandeja do CD deslizando aberta. Vamos fazer isso! Realmente vamos fazê-lo! Pensei, cheia de euforia. Mas Ace escutou Shoe também, e cerrou seus dentes, tinha um olhar selvagem em seu rosto. E de repente, enquanto estava entre Ace e Shoe, senti a força drenando em mim. Ela virou uma fina linha azul de luzes do teto para uma piscina no chão do necrotério. Agora não! Assustada, eu caí para trás, segurando meu estômago como se eu pudesse ficar. Nakita virou para mim, e entrei em pânico quando as luzes encheram a sala inteira com
158 uma neblina azul, derramando para fora das luminárias em um dilúvio. Ia ter uma premonição. Ace tinha tomado sua decisão, e seu futuro estava mudando. Isso não é o que eu preciso agora! — Madison? — Nakita chamou, mas sua voz soou metálica, como se estivesse muito longe. Tonta, a olhei. Pude ver suas asas em sua costa, existindo um instante no futuro e, por isso, invisível para todos, exceto, talvez o anjo da guarda que pairava sobre nós. Seus olhos era prata. Nakita era quase muito bonita para olhar, e custaram várias tentativas para eu poder sussurrar. — Eu vou ter uma premonição, Nakita. Não me deixe ir! Sua espada se inclinou em uma confusão, e vendo uma abertura. Ace se moveu. — Não! — eu gritei, mas desmoronei enquanto o mundo virava do avesso. Nakita pulou para mim, suas mãos me pegaram pouco antes de cair no chão. Shoe estava gritando, mas minha cabeça estava virada para o teto. E enquanto a mudança de diferentes linhas se intensificou, o teto, as paredes, tudo se desvaneceu... e a beleza das estrelas me golpeou. Engoli em seco, a dor de tanta beleza passando através de mim era como fogo. O timbre do som nunca antes ouvido explodiu em minha alma. Lágrimas encheram meus olhos, e eu tremia nos braços de Nakita. — Dói... — Gemi. E ela girou meu rosto para ela. A terrível beleza do céu foi substituída pela trágica beleza de um anjo que tinha sido danificado - Nakita, a quem eu tinha ensinado o significado do medo. Tinha feito isso a ela. Mas os serafins tinham razão: o medo era um presente, e fez mais do que era antes, mesmo que isso a machuque. — Feche seus olhos. — Nakita sussurrou em um silêncio aterrorizado, e enterrei meu tosto contra ela, soluçando. Isso foi demais. Eu era uma mortal, e ver o divino estava me matando. Como Ron podia fazer isso? O som da briga chegou em mim, e senti minha consciência à deriva na sala enquanto a ilusão de um corpo começou a se embaraçar. E então... eu era Ace, sentindo sua raiva, seu medo. Seu tudo. Eu odeio você, eu pensei com ele, incapaz de me separar dele, e com um grito alto, levantou seu punho sobre Shoe, que estava se levantando da cadeira. Eu grunhia enquanto seu punho acertava e a dor se espalhou sobre seu braço. Sacudindo a pulsação de nossas
159 mãos, olhei com a satisfação de Ace quando Shoe balançou para trás da cadeira e caiu, suas mãos estavam em sua mandíbula. Não! Eu gritei dentro da mente de Ace, enquanto ele pressionava o botão da tecla “delete” e tirou a conexão da parede. Não tinha ideia se houve tempo suficiente para carregar completamente, e enquanto tentava tomar controle de um futuro que ainda não havia ocorrido, Ace pegou o teclado e bateu contra a cabeça de Shoe quando ele tentou levantar. — Madison? — Nakita chamou, mas sua voz soava estranha, já distante. — Levanta! — Escutei Ace dizer, tanto em nossos ouvidos como em nossas mentes compartilhadas, furioso. — Vou te matar! — Queria fazer algo, mas estava presa, tentando mudar as coisas, mas incapaz até mesmo de me fazer ouvir. Isso era um pesadelo maldito. E acima pairava o anjo da guarda de Ace, chorando por ele, por mim - uma brilhante nuvem prateada caía dela para tocar a aura de Ace e foi rejeitada. Shoe olhou o chão. — Se controle, Ace. — Ele suspirou, cambaleando, enquanto se levantava na frente dele. — Estamos falando de pessoas reais. Que diabos há de errado com você? — O que há de errado? — Ace gritou. — Ace pare! — Gritei, não fui ouvida, mas como em resposta, uma trilha pesada azul encheu minha consciência. O vestígio me fez agarrar a qualquer coisa ao redor, as lembranças e visões passavam por mim como um redemoinho. Eu estava indo mais à frente do futuro, e minha mente foi revelada. Com uma sensação de náusea, e soando como uma moeda girando até parar, o azul ao meu redor de moveu, e girou até que se chegou a um azul firme e sólido. Ainda estava no necrotério, ainda em Ace. A polícia estava aqui, e o cara que eu tinha trancado no armário estava perto do guarda parecendo confuso. Shoe estava sentado no chão com sua cabeça baixa, e algemas em seus pulsos. E eu estava me sentindo muito bem, inclusive quando estava dolorida em desespero. Tinha que sair. Estava presa na cabeça de Ace. Sentir sua satisfação misturada com a minha dor estava me deixando maluca.
160 — Assim que eu descobri o que ele estava fazendo. — Eu me ouvi dizer, pensando que era tão inteligente por elaborar esse plano. — Eu o segui da escola até o hospital. Ele entrou, trancou o cara no armário, e pôs o vírus no computador do necrotério. Não é doente? Tentando matar as pessoas através do computador de um necrotério? Os policias estavam assentindo, e o que segurava os ombros de Shoe lhe deu um olhar enojado. Isso é uma mentira! Pensei, sem sentir uma pontada na consciência de Ace. — Eu disse que não. — Ace mentiu, e Shoe apertava a mandíbula, enquanto se recusava a dizer alguma coisa. — Foi apenas sorte ter um patch, coloquei em seu lugar, e então ele me bateu! Quebrou o teclado na minha cabeça. Louco! Ele fez o mesmo na escola. Ele poderia ter matado alguém! Os policias se voltaram para o enfermeiro. — Foi isso que aconteceu? — Perguntaram, e o homem tremeu e olhou sem entender. — Não lembro. — Ele disse, e reconheci sua expressão confusa como a que tinha visto no rosto de meu pai com frequência. Ele me lembrou algo, mas a lógica me dizia que era impossível. Meus ceifadores tinham chegado e tinham ido, deixado vidas destroçadas em seus rastros. Ele está mentindo! Gritei na mente de Ace, e o anjo da guarda no canto levantou a vista de seu pranto. Então sussurrei algo nos pensamentos de Ace “Você é um mentiroso. Um mentiroso nojento. Deveria ter deixado Nakita te ceifar”. Isso é muito injusto. Parecia que o patch tinha funcionado, mas de alguma maneira, tentando fazer as coisas direito, tinha colocado Ace em um lugar perfeito para fazer mais dano a credibilidade de Shoe. Especialmente quando ninguém se lembrava de ter me visto aqui. Excerto, talvez, o anjo da guarda. Concentrei-me, tentando mudar o futuro que não tinha acontecido ainda, mas o tom azul cobrindo tudo pareceu hesitar. Por um instante, tudo estava normal, as cores, sonos, tudo. Nesse segundo de clareza, Shoe olhou para Ace, mas acho que ele me olhava, sua expressão era de espanto e traição. E então... o mundo brilhava em vermelho. Com
161 uma chave de força o suficiente para me fazer gemer, senti-me rasgar do tecido do tempo. Ofegante, eu respirei, o que era totalmente uma ação minha. Não tinha um batimento em meu peito. Sangue em minhas veias - e Nakita me apertava tão forte que doía. — Estou de volta. — Sussurrei, e suas mãos se sacudiram sobre mim. — Madison! — Ela exclamou. Olhei para ela, vendo meu medo refletido em seus olhos prateados. Mas era a lembrança do olhar assombrado de Shoe que não saía da minha mente. Um choque tirou minha atenção dela, e percebi que tudo tinha levado um instante. Shoe estava levantando do chão, atordoado, mas decidido, segurando seu queixo. Eu já tinha visto isso antes. Tinha vivido isso. — Levanta! — Ace estava gritando. — Vou te matar! — Madison? — Nakita disse, me ajudando a sentar. — Você está bem? Nunca tinha visto alguém tendo uma premonição. — Eu vou ficar bem. — Tremendo sobre meus pés, me agarrei a qualquer coisa para me estabilizar, segurando na maca. Má escolha, e tropecei até que Nakita me pegou. — Isso realmente exigiu muito de mim. — Merda, eu mal conseguia ficar de pé. — Estamos falando sobre pessoas reais. Que diabos há de errado com você? — O que há de errado? — Ace gritou, e meus olhos seguiram para o anjo sobre nós, bem onde eu recordava tê-la visto. Ela estava chorando enquanto tudo acontecia outra vez. Eu sabia que ela tinha visto e ouvido tudo o que vi durante a premonição. Ela era banhada no divino e podia viver o passado e o futuro, tudo de uma vez. Ela estava acorrentada, não por sua vontade, mas pela de Ron. Engolindo em seco, me apoiei em Nakita. — Você sabe o que aconteceu. — Eu disse ao anjo, e ele se voltou para mim, surpreso. — Eu nunca quis acabar com sua vida, e não vou fazer isso agora. Destino e escolha. Pode ser o mesmo. Como o timekeeper negro, eu estou pedindo que faça o que puder, sem quebrar as limitações de seu cargo anterior.
162 Ace tinha puxado o cabo da parede, e enquanto Shoe tentava impedi-lo de quebrar o CD no meio, Ace o empurrou contra a parede atrás da mesa, juntamente com um soco no estômago de Shoe. Exalando com um sopro de dor, Shoe deslizou para fora de vista atrás da mesa. E embora eu não pudesse ver além da luz brilhante que rodeava o anjo da guarda, eu sabia que ele estava sorrindo para mim, me lavando com a primeira sensação de paz desde que eu tinha estado em uma ilha grega do outro lado do mundo, e tinha concordado em tentar mudar as coisas. — É esse o presente? — Ela perguntou, acrescentando perplexo. — Algumas vezes não posso dizer. Eu assenti, e ela começou a voar mais perto. O brilho do seu exterior aquecia meu rosto. — Eu gosto de você. — Ele disse, as palavras formigando em ondas em mim. — Você usa seu amor para ver o mundo. Isso faz tudo mais difícil pra você, mas se fosse fácil, todos fariam isso. Eu não tinha ideia do que ele estava falando, mas o vi voar para a briga, movendo o cabo do telefone uma polegada. Como a coreografia de uma música, Ace deu um passo para trás, tropeçando nele. Gritando de surpresa, ele caiu no chão. Era o descanso que Shoe precisava. Aparecendo de trás da mesa, tirou o cabelo de seus olhos, o sangue de sua bochecha, manchando suas mãos e rosto. Com um grito furioso, se lançou para Ace, ambos escorregaram pelo piso, a cabeça de Ace bateu contra ele. Senti o mundo reclamar enquanto o destino mudava, e respirei profundamente, sentindo que precisava. — Isso não é um jogo, Ace! — Shoe gritou, alheio a Nakita e eu. — Essas são pessoas reais, com famílias e crianças! — Por que eu deveria me importar? — Ace grunhiu, e Shoe se preparou e o bateu duas vezes, primeiro no estômago para fazer Ace perder a respiração de uma só vez, então do lado esquerdo do queixo. Ace fez um pequeno som de dor, então ficou imóvel. — Porque você está machucando pessoas para se sentir bem. — Shoe disse, cambaleando e caminhando para o
163 computador. Atrás dele, o anjo comemorou, suas lágrimas banharam Ace e a Shoe. Algo tinha mudado. Eu só esperava que fosse pra melhor. Apoiado fortemente sobre a mesa, Shoe conectou o teclado de novo, pressionou algumas teclas antes de se virar pra mim com um sorriso cansado. — Está aí. — Ele disse cansado, então mais forte, para Ace. — É aí, teu preço, seu merda de sapo. Eu não estou levando a culpa por isso. Não por um tiro no escuro! Atordoada, olhei para Shoe, me perguntando se era verdadeiramente um futuro diferente que estávamos vivendo, ou se Ace ia torcer isso de alguma forma outra vez. Deus me ajude. Assim que será a minha vida? Os braços de Ace se moveram, apoiando como se ele fosse se levantar. Nakita caminhou até ele, e pisou em sua costa para fazê-lo voltar com um gemido. Eu olhei seu anjo da guarda, agora incandescente com um brilho difuso. — Ninguém está tentando matá-lo. — Ela falou alegremente, em seguida, disparou para o teto quando as portas do necrotério foram empurradas abertas e Barnabas entrou. Grace estava com ele, e eu vi com a boca aberta de assombro quando os dois anjos da guarda se cruzavam e balançavam com uma estranha saudação. — É isso um patch? O que aconteceu?! — Barnabas perguntou, olhando Nakita, que estava agora sentada sobre Ace, checando o esmalte de suas unhas. Shoe estava respirando forte, sentado em cima da maca, e secando as bochechas com um lenço. Nakita encolheu os ombros, olhando quase decepcionada porque não tínhamos simplesmente o matado. — Madison tem que fazer as coisas da maneira mais difícil. — Minha meia estava do outro lado da sala, e suspirando, fui buscá-la, apenas sentando ali, no chão de azulejo frio para colocá-la. Nem um sussurro do batimento do meu coração fez eco nos meus pensamentos, e depois de sentir Ace, eu perdi. O que é pior, eu estava cansada. Sentia-me irreal e fina, como se parte de mim ainda estivesse perdida em algum lugar entre o agora e o depois.
164 — Você teve uma premonição de novo. — Barnabas disse, se aproximando, só para provocar uma parada confusa em meus pés. Tinha chegado a minha meia, e fiz um gesto para pegar meu tênis, ainda na maca. — Foi horrível. — Nakita admitiu enquanto Barnabas buscava meu tênis. — Foi como se ela não estivesse aqui. — Não me sinto bem. — Disse, minhas mãos tremiam quando eu coloquei o primeiro, então o outro par. Olhando as caveiras e ossos cruzados sobre as rendas, eu me perguntei se eu poderia fazer isso. Mil anos ficando entre as pessoas, vê-las arruinar suas vidas. Não era de admirar que Kairos tivesse simplesmente enviado seus ceifadores para matar os acusados. Uma lágrima se formou e caiu, e triste, eu amarrei meu cadarço de caveira e ossos cruzados com cuidado, num laço perfeito. Eu pensei que tinha mudado o destino, mas era difícil. Realmente difícil. — Você falhou? — Barnabas sussurrou, quando eu limpei meu olho, e eu balancei minha cabeça. — Acho que conseguimos. — Disse o confundindo ainda mais. — Você está bem, Madison? — Nakita perguntou. Barnabas chegou a me puxar para cima, e eu não podia fazer outra coisa, tentando não chorar. Não estava fazendo isso muito bem. — Estou bem. — Finalmente consegui, cambaleando sobre meus pés, e tentando imaginar uma vida de merda como essa. — Eu só vou ficar louca. Isso é tudo o que há para fazer. Em um movimento elegante, Nakita levantou de Ace. O idiota se concentrava em levantar, mas uma caixa de ferramentas do necrotério de alguma forma escorregou das proximidades do armário, batendo na cabeça dele. Gemendo, ele caiu novamente, enquanto Grace e o anjo da guarda deram o equivalente ao bater de mãos. — Ainda está vivo.
165 O anjo da guarda de Ace soltou uma risadinha, e eu me perguntei se eu tinha que fazer algo sobre isso, antes que Ace morresse acidentalmente, mas ao lembrar que seu ódio ecoou por mim, decidi não me preocupar com isso. — É assim que se supõe ser uma premonição? — Nakita perguntou, enquanto pegava meu outro cotovelo. No meu outro lado, senti mais do que vi, Barnabas encolheu os ombros. — Não sei. Ron nunca me disse. E Kairos? Alguma vez pareceu cansado pra você? Nakita negou com a cabeça, sua expressão preocupada. Suspirando me apoiei neles. Tinha terminado, mas ali ainda tinha muito que fazer, tinha me livrado do meu arquivo, mas provavelmente lá em cima tinha algo. O cara no armário. E Shoe... — Eu realmente estou com fome. — Disse, a memória de estar dentro de Ace me fez sentir doente. — Podemos ir comprar um hambúrguer? — Nakita virou para mim. A surpresa refletia em Barnabas. Suspirando, enviei um olhar a Shoe e Ace. — Todos nós? — Adicionei. — Estou com fome. — Disse, surpresa de me dar conta que era verdade. — Além disso. — Eu disse em voz baixa porque Shoe poderia escutar. — Nós temos que cuidar de suas memórias e deixá-los como amigos, algo assim. Em vez de me contestar, Barnabas olhou ao redor do necrotério. — O patch está no lugar? — Ele perguntou a Shoe. Ele rodou em sua cadeira em direção ao computador. Sua expressão era aliviada, e guardou o cd. — Sim. Barnabas se endireitou, fazendo um gesto para Nakita ir a Ace. — Hambúrguer soa bem pra mim. — Ele disse, com uma quantidade surpreendente de entusiasmo. Provavelmente não teríamos nenhum problema para sair do hospital, inclusive o cara do armário. Não com ceifadores e dois anjos da guarda. Pensamentos de batatas fritas salgadas e refrigerante, deu água na minha boca, enquanto seguia Barnabas. Ace e Shoe saíram do chão vazio. Eu estava cansada, deprimida... e com fome. Este não era o final que eu esperava. Tinha ganhado? Realmente não sabia. O tempo dirá, eu acho.
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TREZE
Doce e picante, o ketchup escorria da minha batata frita até que eu a coloquei na minha boca, e lambi o sal dos meus dedos. — Oh, por filhotes de Hades! Isso é bom. — Falei entre os dentes, enquanto provava mais um pouco, tentando alcançar o refrigerante e depois pegando um grande gole pelo canudinho. As bolhas estouraram em toda a minha garganta, e fiz um Mmmm de felicidade, enquanto tentava alcançar outra batata frita. Tinham sido cortadas compridas e fritadas com perfeição. Coloquei outra em minha boca. Não tinha comido por muito tempo, e era como se estivesse morrendo de fome. De repente percebi que ninguém falava nada, e olhei pra cima. Shoe estava sentado de frente pra mim na cabine. Nakita estava a sua direita, ao seu lado, segurava cuidadosamente sua bolsa vermelha. Barnabas estava à minha esquerda, e ao lado dele, Ace estava em um silêncio sombrio contra a parede, pressionando gelo com um pedaço de guardanapo em sua cabeça. — O quê? — Perguntei, já que todo mundo estava me olhando. Nakita dirigiu seu olhar para Barnabas, e então disse suavemente. — Nunca tinha te visto comer coisas dessa forma. Meu alcance em busca de outra batata parou, e comi em duas mordidas em vez de uma. Já era tarde e o restaurante estava vazio, exceto por nós, a garçonete contava o dinheiro do caixa, e o cozinheiro olhava furiosamente através do furo na parede, claramente querendo ir para casa. — Eu estou morrendo de fome. — Eu disse, tomando um
167 pequeno gole de refrigerante quando o que queria mesmo fazer era tomar grandes goles. — E cansada. — Sem nenhuma pulsação. Absolutamente nenhuma. Ao meu lado, Barnabas se inclinou para trás, tão casual enquanto mexia no gelo de sua bebida intocada. — Você está sendo um pouco bruta, Madison. Eu olhei para ele, notando uma ligeira inveja em sua atitude cuidadosamente relaxada. — Ciúmes? — Perguntei sarcasticamente. — Mais ou menos. — Ele murmurou, olhando para cima, onde Grace e seu novo amigo estavam conversando em cima da lâmpada, suas asas ardendo como duas bolas de softball, ou pelo menos era isso o que eu e os meus ceifadores podíamos ver. Comendo outra batata frita, fiz uma careta quando o ketchup manchou o meu jaleco. — Eu acho que é por causa da minha visão do futuro. — Eu disse, enquanto me limpava com um guardanapo. — Eu voltei à vida ou pelo menos tive impressão de ter voltado quando estava em Ace. — Olhei para ele, sentindo como meu rosto se retorcia em desgosto. — Você é alguém que me deu muito trabalho, sabia? O garoto sorriu com sarcasmo, e, me escondendo atrás do meu guardanapo, reprimi um bocejo. — Minha mente deve ter lembrado o que era estar com fome. E cansada. Que horas são? Sem olhar Barnabas disse. — Meia-noite. — Mmmm. — Apertei o guardanapo, e deixei cair sobre as batatas fritas. Ainda tinha fome, mas não queria parecer uma porca. — Temos que ir para casa. — Não era muito tarde, para ligar para minha mãe como eu tinha prometido, ela estava na escola noturna ou talvez não. Ela tinha um horário noturno como um vampiro. Meu olhar voltou para Ace, que estava encolhido e silencioso em um canto da cabine. Ele não tinha dito nada desde que tinha acordado em seu caminhão. Agora que tínhamos ajeitado às coisas, sabíamos que não teria problemas no hospital na manhã seguinte. Ninguém nunca saberia. O que ia acontecer com Ace? Era uma incógnita.
168 Shoe, por outro lado, eu sorri para ele enquanto tocava sua mandíbula, que agora mostrava um roxo feio. — Você vai ficar bem? — Eu perguntei, e ele estremeceu. — Eu serei repreendido por estragar os computadores da escola. — Ele disse, olhando para Ace. — Mas eu sabia que isso ia acontecer. Estar fora de casa, quando é meia noite, foi algo não planejado. Mas nesse momento, já não me importo. Todos nós olhamos para Ace, que nos ignorou completamente. A garçonete olhou para cima e nos examinou, limpando a voz quando ela entrou na cozinha para conversar com o cozinheiro. Olhei o prato de batatas, e depois comi uma, sentindo culpa sem razão alguma. — Barnabas, talvez possamos parar na casa de Shoe e poderíamos fazer sua mãe e seu pai pensar que ele tem estado dormindo em sua cama. — Eu sugeri. Barnabas assentiu, parecendo um pouco casual demais para meu conforto. Sorrateiro, quase. — Isso seria ótimo. — Shoe disse nervosamente, afastando-se pouco a pouco de Nakita, enquanto ela começava a murmurar sobre matá-los. Mas o desconforto de Shoe parecia ser gerado pelo comportamento astucioso de Barnabas, e não o de Nakita, e me perguntei se ele estava preocupado se eu não iria cumprir minha palavra, apagando sua memória, também. Lançando um maço de guardanapos úmidos para baixo, Ace se sentou mais ereto. — Todos vocês não prestam. — Ele disse bruscamente. — Consertaram tudo, inclusive o fato de que ele esteve fora até a meia noite? — Silêncio! — Nakita sussurrou, se apoiando na mesa. — Você deveria estar morto. — Cala a boca! — Ele exclamou, sua testa franzida. — Menina maluca26! 26
No original: crazy chick!- chick pode ser pintinho, passarinho novo. Mas também é uma gíria para referente a meninas.
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— Não me chame assim! — Ela disse, começando a se levantar, mas quando o anjo da guarda fez zunido com as asas, Nakita se sentou com um suspiro. — Você tem sorte, humano. — Ela murmurou. — Sorte. Sorte não era a palavra que eu gostaria de aplicar em Ace, mas ele tinha. Ele havia tentado fazer um nome à custa de matar pessoas e culpar a Shoe por isso, e a única maneira dele se dar mal faria com que Shoe entrasse em grandes problemas. Eu era totalmente a favor de ser honesta e assumir os nossos erros, mas às vezes, na maior parte do tempo não era assim. Suspirando, deslizei para a borda da cadeira e me levantei. Era a hora de ir para casa, e abaixei minha cabeça enquanto olhava o jaleco. Eu meio que gostei, mesmo com o ketchup. Talvez eu pudesse dar início a uma nova tendência escolar. Ainda não tinha feito nada realmente chamativo que me ajudasse a me sobressair. Além de estar morta, e devo dizer, ninguém mais que Josh sabia disso. Teria sido bom se ele houvesse me ajudado essa noite, e eu sentia falta dele. — Temos que ir. — Disse suavemente, dando a minhas batatas fritas um último olhar com saudades. Barnabas recuperou a postura, e ficou de pé quando Nakita levantou. Ambos trocaram olhares de cumplicidade, enquanto saíamos da cabine. A cor prateada em seus olhos, e fiquei na frente de Shoe. — Não ao Shoe. — Eu disse, estendendo a mão para impedi-los de apagar sua memória. Barnabas revirou os olhos em branco. — Madison... — Ele começou, mas um sutil formigamento passou por mim. Barnabas sentiu também, assim como Nakita. — Era uma vez um timekeeper chamado Ron. — Grace disse em cima da lâmpada. — Cujo karma era muito chato. Ele chegou tarde demais, alguns dizem que foi destino. Mas eu acho que ele é estúpido, por si só.
170 Era verdade que não rimava, mas ainda assim eu gostei. — Ron está vindo? — Perguntei irritada. O que ele quer? Isso já acabou! — Mas nós estamos protegidos. — Nakita disse, claramente confusa. — Aparentemente não estamos o suficiente. — Barnabas disse sarcasticamente, e eu me senti ainda mais cansada. Muito. Eles começaram a discutir novamente. — Não o deixarei se intrometer com você. — disse Grace, e sorri para ela, uma bola de luz veio e ficou ao meu lado. Eu sabia que meu rosto ainda mantinha uma expressão de agradecimento quando Shoe assoviou e segui seu olhar fixo para a porta principal, onde Ron estava de pé como se estivesse estado ali o tempo todo. Paul estava de pé junto a ele, e o sino não tinha tocado quando eles entraram. Ron parecia furioso, com uma mão entre as dobras de sua túnica, enquanto a colocava em sua cadeira e fazia um gesto para mim como se eu fosse uma criança levada. Afastei meu olhar dele, olhando para Shoe, que ainda estava sentado. Barnabas se moveu para minha direita, Nakita para minha esquerda. O olhar fixo de Ron permaneceu por muito tempo sobre suas roupas tradicionais de um ceifador negro, e Nakita ergueu o queixo. — Não teria acreditado se não tivesse visto. — Ron disse, seus olhos no meu jaleco e meu tênis amarelo com caveiras. — A ceifada terminou. O marcado está seguro. Bem, ele foi espancado, mas está vivo. — Ele acrescentou, olhando para cima, para os dois anjos da guarda. — Eu ganhei. Tudo já acabou. Você perdeu. Vá para casa, Madison. Tomei uma lenta respiração para encontrar minhas palavras. Marcado, pensei, decidindo que aquele rótulo que se dava as pessoas era degradante. — Ace tem um nome. — Eu disse suavemente, me perguntando quão ruim eu parecia quando notei que Paul estava olhando para mim. — Oi, Ron. — Finalmente disse em voz alta. — Chegue mais perto, e eu vou chutar seu traseiro. O que você quer? Como já disse, você ganhou. O homem pequeno bufou, olhando com cautela pela primeira vez, para os dois anjos da guarda, depois para os ceifadores que me acompanhavam, e finalmente para Ace que estava atrás de nós. — Os serafins me enviaram para ajustar seu amuleto. — Ele disse,
171 me surpreendendo. — Eu... já! Vai entender. Aparentemente você está quase tocando o divino. Eu estava quase tocando o divino? Isso foi exatamente o que eu tinha sentido. Talvez o inferno pelo qual eu passava para poder ver o futuro, era normal. Ao ver que eu parecia com alguém que tinha tomado várias pílulas estúpidas durante a semana, Ron caminhou a grandes passou entre as mesas vazias com sua habitual velocidade, parando com uma brusquidão cômica quando Barnabas levantou a mão em alerta, e Nakita sacou sua espada de repente. A garçonete soltou um grito abafado, caindo de costa e balbuciando no telefone. Isso estava cada vez melhor. Ron parou, sua expressão parecia frustrada, enquanto avaliava a situação. Barnabas cruzou os tornozelos lentamente e se apoiou na mesa, parecendo muito bonito com sua camisa casual e jeans preto. — Você não vai tocá-la, Chronos. — O ceifador disse de forma serena e baixa, sua voz carregada de ameaça. As rugas de Ron ficaram mais profundas. — Desista. Seu antecessor está morto. Quem mais vai ajustar seu amuleto? Você? Estou aqui como o Timekeeper superior, sob as ordens dos Serafins. Acha que violaria as regras? Como acha que pude encontrá-los? Vocês estão protegidos. Ao meu lado, Nakita escutando bufava de raiva, seu aperto no punho de sua espada aumentou. — Você poderia fazê-lo, e depois fugir de toda a responsabilidade. — Ela disse, e Paul quase esquecido, andou para frente um pouco mais. — Você não é superior, Ron. Só é mais velho. — Eu disse, para depois olhar para Paul, hesitando. Ele tinha me ajudado até que Nakita tinha batido nele. Meu palpite era que ele ia ter um olho roxo pela manhã. E nunca acreditaria em mim outra vez. Pensei nas possibilidades de que Ron só havia encontrado a chance de fazer algo contra mim, assim como a possibilidade de que meu amuleto não estava ajustado corretamente.
172 Não queria passar por esse inferno outra vez, e não queria que um serafim viesse corrigi-lo. Ron não parecia cansado ou angustiado, e ele também tinha tido uma premonição. Claramente algo estava errado comigo - de novo. — Ele tem razão, é mais... — Eu disse, pegando o meu amuleto, e jogando para Ron. A pedra bateu forte contra a mão dele. Barnabas ficou rígido, e Nakita quase teve um ataque, caindo ao meu lado e ficando em uma posição agressiva. Foi uma jogada atrevida da minha parte, mas estava tentando provar a Ron que não estava com medo dele. Ainda que eu estivesse. Nunca teria feito isso se não estivesse com dois ceifadores e dois anjos da guarda. Sabia que não podia suportar outra visão das estrelas, bruta e sem filtração, vendo o divino diretamente. — Apenas ajuste. — Eu disse suspirando, me sentindo nua sem meu amuleto. — Não posso mais suportar mais duas visões do futuro como aquela. — Duas? — Ron perguntou, o amuleto esquecido em suas mãos. — Houve mais de uma? — Eu sorri, com lábios fechados. Do lado de trás, eu podia ouvir uma conversa frenética, mas pelo menos o cozinheiro não havia saído com uma espingarda carregada. No entanto. Barnabas e Nakita trocaram um olhar, e, suspirando dramaticamente, a ceifadora negra escorregou até a porta da cozinha. Ela hesitou, depois dissolveu sua espada. Jogou o cabelo para trás, empurrou a porta e entrou. Os gritos de repente começaram, e todos nós esperamos até que o choque chegou antes de olharmos um para o outro. Olhando Barnabas, Ron avançou pouco a pouco, entregando meu amuleto. — Você tem que usá-lo para que possa ajustá-lo. — Ele disse. Esperei Nakita voltar para o lado de Barnabas. Olhei para trás rápido na direção de Shoe e franzi o cenho. Ele parecia assustado. Segurando minha respiração, enrolei o cordão ao redor do meu pescoço, depois fiquei rígida, quando Ron colocou a pedra entre seus dedos. Tinha confiado nele uma vez. Não mais. Minha mandíbula se manteve relaxada enquanto uma luz vermelha saía do meu amuleto. Uma leve dor de cabeça que eu não tinha dado conta, sumiu, e suspirei, tendo a impressão de que já não precisava mais de algo para me completar. A mão de Ron se afastou do meu amuleto. Barnabas pigarreou, claramente querendo me afastar dele, mas não fez, e foi Ron que se moveu primeiro, com uma nova cautela em sua postura. — Obrigada. — Eu disse secamente. — Eu apreciei isso.
173 Parecendo desconfortável, Ron olhou a Paul, e depois para Shoe. — Ajustei o seu „encontro com o divino‟. — Ele disse bruscamente. — O antecessor dele está vivo. O seu não. Terá alguns problemas. — Limpando as mãos ele recuou. — Não sei o que você procurava fazendo isso. Causou uma desordem sangrenta. Quantas pessoas precisam que suas memórias sejam ajustadas? Shoe arrastou seus pés, e eu mudei de posição para escondê-lo. — Alguns. — Eu disse. — E um pouco mais, agora que você se intrometeu de novo. Podemos cuidar deles. E, o que é isso de desordem sangrenta? Parece que eu consertei a situação. Ninguém morreu. Paul caminhou lentamente para parar ao lado de Ron, enquanto o homem maior apontava para mim de forma grosseira. — Seu trabalho faz de você uma assassina, Madison. — Ele disse, e Barnabas ficou rígido. — Talvez não com suas próprias mãos, mas por suas ações. Apenas consegue acalmar sua consciência, tentando salvar as pessoas cujas almas ainda não estão em perigo, por isso estragar as coisas é um exercício de futilidade. Um exercício de futilidade? Pensei, levantando meu queixo enquanto dava um passo para frente. — Eu morri uma vez, e acredite, as pessoas que acabamos de salvar não iriam querer morrer. — Eu estava muito perto de seu rosto, e saltei quando Barnabas me puxou para trás. — Salvamos a vida de três pessoas. — Eu disse, da segurança de seu aperto. — Quatro, se você contar Shoe, devido às escolhas de Ace. Todos eles vão sentir o sol em seus rostos, amanhã. Merda, estava prestes a chorar de novo. — Isso é bom para mim! — Terminei calorosamente, enxugando as lágrimas e não me importava se Ron visse. E eu me sentia bem. Claro, havia o problema de premonição, mas não parecia que viveria um pesadelo insuportável como nesta noite, outra vez. Meu amuleto só precisava de ajuste. Obrigada, meu Deus, por enviar Ron. — Talvez fosse sua hora e você estragou tudo. — Ron disse, enquanto olhava para as janelas escurecidas pela noite escura, claramente pesando em sair.
174 Eu sorri, pensando em todos seus anos, que pareciam não ter servido para nada. Talvez por isso, eu estava predestinada a me converter em uma Timekeeper Negra. — Isso é „destino‟, Ron, e você não acredita no destino. Ou você acredita? — Sua atenção voltou do estacionamento ao se dar conta de que eu tinha dito o que um Serafim tinha dito a ele, não menos que dois meses atrás. — Ótimo, você ganhou. — Eu disse. — Parabéns. Tenho certeza que tudo isso é algo inútil para você, que se acumula em algum canto. Você tem um anjo e tudo. Nada pode impedir que você vá. Temos muita limpeza para fazer. — Meus pensamentos foram para as pessoas na cozinha. — Apagar memórias de algumas pessoas. — Acrescentei, e Shoe pigarreou atrás de mim. — O destino é uma desculpa. — Ron desabafou. — Você sabe que pessoas serão marcadas. Ace poderia ter mudado algum dia, sem tudo isso. — Errado! — Eu gritei, e a expressão de Paul ficou pensativa. — Mas não vou discutir contigo. Aceitando ou não, eu acredito em escolha tanto quanto você. Mas esse montão de merda. — Eu disse apontando na direção de Ace, que ouvia tudo, mas nos ignorava, porque estava cuidando de seus ferimentos. — Não ia mudar sem uma forte intervenção. Agora, poderá, mas não da forma que você o deixou, com um anjo da guarda e com um passe livre para matar. Os ouvidos de Paul ficaram vermelhos. Ron virou para ele com um som baixo de deslizamento de tecido. — Você vai embora? — Eu perguntei, voltando para o lado de Barnabas. — Leve contigo seu aprendiz de espião. — Acrescentei. A boca de Paul se abriu involuntariamente diante de minhas palavras, mas eu pisquei para ele quando Ron desviou o olhar, e Grace riu. — Você deveria demonstrar mais respeito. Ele sabe mais que você. — Ron disse, enquanto se aproximava de Paul, e Barnabas bufou.
175 — Eu acho que ele sabe mais que você, Ron. — Eu disse. — Vá embora. E não deixe que a foice te pegue no caminho. Nakita se remexeu nervosa ao meu lado, mas não me preocupou muito, enquanto Ron se virava. — Vamos Paul. — Ele disse em uma voz baixa, perigosa. De repente, Nakita balbuciou. — Eu sinto muito por ter batido no aprendiz de Timekeeper. — E ambos Barnabas e eu sacudimos. Ela estava vermelha, e percebendo nossos olhares em branco, acrescentou. — O quê? Eu sinto. Não posso me desculpar? Ron impassível e silencioso, simplesmente desapareceu. Paul, no entanto, estava ali ainda. Sua sandália arrastando no azulejo, ele olhou para o espaço vazio ao seu lado, onde Ron havia estado. — Humm. — Falou entre os dentes, enquanto sua atenção voltava para nós. — Obrigado, Nakita. Está tudo bem. — Você sabe que eu só disse isso para livrar você de levar uma bronca, certo? — Eu perguntei, e Paul tocou seu nariz, em seguida, sorriu e desapareceu em uma linha brilhante de luz. Com um suspiro de alívio, Shoe sentou pesadamente, murmurando. Barnabas pegou seu lugar também, pensativo. — Você notou que o amuleto do Timepeeker novato é da mesma cor que o meu? — Ele perguntou. — Sério? — Eu disse, mas então a estranheza da pergunta de Barnabas bateu em mim, e virei para ele. — É tão importante? Alarmado por seus pensamentos, Barnabas me olhou de volta. — Não deveria ter esse espectro vermelho, como o meu. — Os olhos do ceifador pousaram nos meus. — Aposto que Ron não está muito contente com isso. Meus lábios permaneceram entreabertos enquanto me perguntava o que isso podia significar, mas Barnabas pigarreou e olhou para a cozinha. — Precisamos ir. Nakita, você já terminou com o cozinheiro e a garçonete?
176 Nakita tirou uma foto da luz empoeirada da lâmpada, segurando a câmera em um ângulo muito estranho. — Eles estão bem. — Ela disse, enquanto olhava para o visor. — Onde está sua câmera, Madison? — Ela perguntou. — Ainda no caminhão? — Ah, sim. — Eu disse, voltando minha atenção ao meu prato de comida. — Meu telefone está lá, também. — Mas quando olhei as batatas douradas, crocantes, meu alcance vacilou. Lentamente meu sorriso sumiu, e foi substituído por um sentimento de desespero. — Eu não tenho mais fome. — Eu gemi, e Nakita piscou para mim. — Você não entendeu? — Eu chorei, olhando para o meu amuleto. — Eu comi porque meu amuleto não estava bem. Ron o ajustou, e agora não tenho mais fome! — Graças a Deus por pequenos favores. — Barnabas murmurou, enquanto se levantava. — Você realmente se comportou como uma bruta, Madison. Deprimida, afundei em minha cadeira. — Mas eu gosto de comer. — Eu disse com tristeza. Merda, não era justo! Infeliz, segurei a batata. Grace veio para baixo, aquecendo minhas mãos enquanto me oferecia suas condolências da única maneira que podia, até que pensou em um poema. — Havia uma vez, uma menina que gostava de batatas fritas. — Grace começou e Barnabas fez um som de exasperação. — Sua carteira, Madison? — Nakita ofereceu. — Sim, certo. — Eu murmurei, e levantei. — Eu sinto muito, Madison. — Shoe disse, claramente sem entender porque as batatas eram tão importantes para mim, mas ele compreendia que eu estava chateada. — Está tudo bem. — Andei cabisbaixa em direção à porta, parando quando meu amuleto pareceu ficar pesado, quase quente, uma ideia repentina, eu parei. Como Nakita sabia que minha carteira estava no caminhão? Suspeitando, voltei para a mesa, minha suspeita foi confirmada quando vi os olhos prateados de Barnabas.
177 — O quê? Espera! — Exclamei, batendo na mesa. — Shoe, não olhe! A cabeça de Barnabas virou para mim. Uma gota de medo deslizou através de mim enquanto olhava para ele, prata resplandecia como uma luz sagrada. Através da mesa Shoe ficou de boca aberta, quebrando o aperto que Barnabas tinha nele e abaixando sua cabeça. Ace estava com o olhar perdido e seus lábios se abriram claramente ainda sob a influência de Barnabas. — Madison! — Barnabas gritou, seus olhos ainda brilhavam, enquanto Shoe esfregava o rosto e piscava. Eu puxei Shoe para cima e para fora da cabine. — Não a Shoe. — Eu disse. — Eu prometi que ele poderia se lembrar. Barnabas pressionou a mandíbula e franziu o cenho. — Madison. — murmurou, seus olhos voltando a sua cor marrom. — Sim, esse é o meu nome. — Eu disse calorosamente. — Madison. E digo que Shoe pode lembrar, sou sua chefe. Grace fez um grande oooooh, enquanto o segundo anjo da guarda em cima da lâmpada se manteve quieto e silencioso, suas asas aquietando-se até fazê-la desaparecerem. Os olhos de Barnabas se estreitaram enquanto se sentava, e me olhou de cima a baixo. — Não, não é. — Ele disse, e Nakita arrastou os pés atrás de mim. — Sou neutro. Dou o fora daqui a qualquer momento que eu quiser. Ele não faria, pensei, entrando em pânico. — Oh, sim? — Disse, quase o desafiando. — Sim. — Barnabas disse, claramente infeliz. Ao meu lado, Shoe parecia assustado. Respirei lentamente, tentando encontrar alguma forma de manejar Barnabas. Ele tinha estado ali quando eu havia morrido, tinha
178 tentado me salvar, acreditava em mim. Eu confiava nele, e era provavelmente a única pessoa que podia me entender. — Sim. — Eu disse suavemente. — Ok. Desculpe. Você tem razão. Não sou sua chefe. — Olhei a Nakita, vendo seus olhos amplos e assustados. — Nakita, tampouco o sou sua chefe, mas está é minha ceifação, e quero que Shoe se lembre. — Sim, você é. — Nakita disse imediatamente, a confiança em sua voz fez com que Shoe franzisse o cenho. — Estou sob o juramento diante sua vontade e licitação. Eu estava tããããão contente que Ace estava fora de si. Era bastante embaraçoso que Shoe estivesse escutando isso. — Eu sendo sua chefe, não é um mundo em que eu quero viver. — Eu disse, tentando fazê-la entender. Implorando, voltei a olhar para a mesa. — Barnabas, eu lhe pedi para deixar Shoe se recordar desta noite. Por favor. — Não te prometi isso. — Ele disse apressadamente, mas a raiva dirigida para mim, tinha ido. — Por favor. — Fiz outra tentativa. Barnabas pareceu ficar mais novo enquanto respirava, suas mãos gesticulando vagamente. — Não posso deixá-lo ir sabendo do que aconteceu. Isso não se faz! — Por que não? — Perguntei secamente. — Como acha que as pessoas podem fazer uma mudança em suas vidas se não lembrarem? Sonhos? Isso é idiotice. — Idiotice? — Nakita repetiu, claramente confusa. — Quero que Ace e Shoe, que ambos se lembrem. — Eu decidi de repente. — Não quero lembranças falsas para nenhum deles. Barnabas olhou para Ace, que ainda piscava estupidamente. — Não! — Ele exclamou, apontando com o dedo, que fez com que os anjos da guarda sussurrassem entre eles, apostando como isso ia terminar. — Não vai acontecer. — Ele acrescentou em voz alta, olhando com raiva para os anjos da guarda, quando eles soltaram umas risadinhas. — É a regra, Madison.
179 Cravei meus olhos nele, os dedos de uma mão fazendo um lento som contra a mesa. — Me olhe como quiser. — Barnabas disse, sem me olhar. — Apagarei suas lembranças. Pegando o cotovelo de Shoe, o movi para minhas costas. — Uh, Barnabas? — Nakita finalmente disse. — Não acho que dizer ‗não‘ a um Timekeeper Negro seja uma boa ideia, mesmo que ela esteja errada. Ela eventualmente poderá parar o tempo. Atrás de mim, Shoe disse suavemente. — Quero lembrar. — A memória é tudo o que temos. — Eu disse, tentando fazer Barnabas compreender. — Por isso fazemos as escolhas que fazemos. Como espera que alguém mude se sufoca o passado com uma mentira? Lentamente a mandíbula de Barnabas se afrouxou, e senti uma agitação de vitória. — Isso vai causar problemas. — Ele advertiu, e me endireitei, sorrindo. — Então... O quê? — Disse de repente. — Shoe não dirá nada. — Virei na direção dele. — Você vai? Shoe sacudiu a cabeça, ainda preocupado. — Ninguém acreditaria. Morte? Os anjos da guarda? Timekeepers? Prenderiam-me. Do meu outro lado, Nakita o persuadia com suplícas. — Os Timekeepers mudam por uma razão Barnabas. Isso é tudo o que Madison parece fazer. Mudança, mudança, mudança. Barnabas franziu o cenho outra vez. — Tire-o daqui. — Ele resmungou, e, eufórica, agarrei o braço de Shoe, me perguntando se Barnabas só estava tranquilizando-me, e planejava voltar mais tarde, quando eu não suspeitasse. — O que acontecerá com Ace? — Perguntei, me sentindo mais alta.
180 — Fora! — Barnabas disse apressado. — Tem Shoe. Ace não é uma opção. Peguei ar para discutir, então hesitei quando o anjo da guarda de Ace rodeou Grace duas vezes e voou até mim, sussurrando. — Grace disse que uma vez havia um menino em um restaurante que pensou que ninguém mais poderia ser bom. Ele não era bom, tampouco, quase perdeu sua mente, até que um anjo se meteu em suas lembranças. Oh, sério? Barnabas levantou as sobrancelhas em suspeita, e, recusando-me a responder sua pergunta não dita, comecei a ir para trás, tropeçando quando nossos olhares foram quebrados. — Vamos. — Eu sussurrei para Shoe. — Tenho que ir pegar minha bolsa. Agarrando sua mão, o arrastei para a porta. — O que acontecerá com Ace? — Ele perguntou, olhando para trás até que girou sua cabeça. — Não olhe. Acho que Ace está bem. — Disse enquanto a porta tilintava e Nakita suspirou forte. — Seu anjo da guarda vai bloquear Barnabas. Shoe virou para olhar através das janelas de vidro. — Você tem certeza? Estava mais frio do lado de fora, e me alegrei por ter o jaleco e esperei. Não sentia frio, mas se eu estivesse viva, tenho certeza que estaria com frio. — Me disseram que os querubins sentam-se perto de Deus. — Eu disse, contemplando as estrelas e sorrindo. — Acho que um anjo da guarda por vencer as habilidades de Barnabas com uma vara. A tosse de Shoe chamou minha atenção, e no zumbido da luz de segurança, surpresa, olhei em seus olhos. — Sério? — Ele gaguejou, olhando em direção a lanchonete e então me olhou de novo. — Querubins, hein? Dei de ombros. — Grace é. Simplesmente me promete que não dirá nada sobre essa noite.
181
Cabisbaixo, ele sorriu, arrastando seu pé sobre o chão quebrado. — Você quer que eu minta? — Não pude evitar sorrir. — Bom, sou a Timekeeper Negra. Uma pontada de dor disparou através de minha mente e meu amuleto ficou quente, para depois ficar frio. Era Barnabas usando seu amuleto, e olhei para dentro enquanto ele se inclinava sobre Ace. Não me surpreendi quando Ace despertou, e seu olhar vazio se transformou em ódio, e disse. — Pode ir para o inferno, ceifador! Barnabas olhou pela janela, para mim, irritado. — Madison! — Reclamou. Nakita riu, o som ultrapassou o vidro. — Eu disse! Não se meta com ela. Sorrindo, eu dei as costas. Shoe estava em minha frente, sua mão em seus bolsos. — Não quero esquecer isso. — Shoe disse triste. — Não quero esquecer nada disso. — Não esquecerá. — Eu disse com segurança, e com uma ideia repentina, me apoiei contra a parede de ladrilhos do restaurante para desamarrar os cadarços do meu tênis amarelo. Shoe me observou confuso até que arranquei um cadarço de meu tênis com um som áspero. — Aqui. — Eu disse, dando a ele. — Para que se lembre de tudo. — Eu estava arquejando, e eu nem precisava respirar. E se ele pensasse que eu era estranha? Mas Shoe sorriu, e suspirei de alívio. — Obrigado. — Ele disse, pegando. — Eu, hum, não tenho - um momento. — Ele disse, procurando em seu bolso. — Aqui. — Disse, me dando um cupom do Chicken Coop. — Não espero que use. — Ele disse, com seu rosto vermelho. — Mas a única coisa que tenho agora, é minha licença para dirigir. Sorri, olhando para ele sob a luz fraca. — Adeus, Shoe. — Eu disse, enquanto voltava. — Tenha uma ótima vida. Seja bom. Faça boas escolhas. — Peguei o cupom. — Obrigada. Ele fechou a boca, parecendo envergonhado e agradecido ao mesmo tempo. — Eu vou tentar. — Disse finalmente, então franziu o cenho enquanto olhava Ace através das janelas. — Não vai ser fácil.
182 Sorri enquanto começava a caminhar para o caminhão de Ace, com cada passo me sentia maior do que realmente era. — Se ser bom fosse fácil, todo mundo seria. Shoe assentiu. Gesticulando com a mão meio sem jeito, ele virou e começou a andar pela calçada escura, em um ritmo lento, mas ganhando confiança a cada passo que dava até levantar sua cabeça. Lentamente a escuridão o tomou, até que o som de seus sapatos fazia eco, desvanecendo até que não tinha mais nada. Eu o vi novamente, sob o farol, e depois sumiu outra vez. Estava muito satisfeita, enquanto puxava bruscamente a porta do caminhão de Ace, e pegava meu celular e minha carteira. O suave couro ainda estava quente devido à viagem até aqui, e fez um barulho incômodo quando o empurrei no bolso de trás. A porta rangeu quando a fechei de um golpe. Longe, ouvi um fraco. — Adeus, Madison! Feliz, me apoiei contra o caminhão e fiquei olhando as estrelas normais e brancas, enquanto esperava Nakita e Barnabas, que terminavam de ameaçar Ace. Sim, Barnabas poderia estar chateado comigo, mas ele me levaria para casa, resmungando totalmente. E se ele não fizesse, Nakita faria. Melhor ainda, ele estaria em meu teto de manhã para me dizer que eu poderia ter feito melhor. Ninguém havia morrido essa noite. Ninguém morreria amanhã, pelo menos, não antes de seu tempo acabar. Shoe ia receber uma boa bronca em sua escola, mas ele já sabia disso, inclusive antes de destruir os computadores da escola. Nakita estava começando a entender, eu acho, mesmo quando havia fracassado em sua tentativa de salvar a alma de Ace, ceifando-o antes do tempo. Ace ainda era uma dor na bunda, mas talvez tenha aprendido algo. Paul pensava. E eu, estava agradavelmente cansada. Talvez essa fosse uma boa noite depois de tudo.
183
EPÍLOGO
—
Madison!
Foi um grito de pânico, e meus olhos se abriram de repente com a sacudida forte em meu ombro. — O quê? — Gritei de volta, vendo meu pai de pé sobre mim, o medo em seu rosto. Estava em minha cama, o sol estava brilhando do lado de dentro. Eu estava dormindo? Não tinha dormido em quase três meses. O alívio caiu em cascata sobre o rosto do meu pai até fazer suas poucas rugas parecerem mais intensas. — Eu pensei que estava... — Ele começou, então visivelmente mudou de ideia enquanto soltava meu ombro e se endireitava. — É tarde. — Disse ao invés, soava envergonhado. — Para a escola. — Acrescentou, e eu sorri. Não tinha pensado que ele queria dizer que é tarde demais para a morte, mas mesmo assim, provavelmente parecia morta, deitada ali. Não respirando. Não é de se admirar que ele tivesse me sacudido. — Quão tarde é? — Eu perguntei enquanto sentava na cama, piscando. Não podia acreditar que realmente tinha dormido. Talvez o vislumbre do futuro tivesse provocado isso. Tinha exigido muito de mim. Exalando, meu pai inspecionou meu quarto. — O café da manhã está pronto. — Ele disse em vez de responder.
184
Muito mal eu não tinha fome. Comecei a levantar, então congelei quando ele pegou o jaleco que tinha em volta da minha cadeira. A etiqueta do dedo do pé de Jane Doe, saía do bolso, e entrei em pânico. Como ia explicar que um jaleco claramente profissional com o nome de Marty nele estava bem perto de mim? — Diz que isso é Ketchup? — Ele disse suavemente, tocando o tecido manchado, e eu sorri. — É ketchup. Eu comi algumas batatas fritas depois da escola. — Expliquei, e ele suspirou. — Desculpe! Eu estava com fome! Ele estremeceu, colocando na minha cadeira, justo ao lado de minhas meias rasgadas. — Madison? — Ele disse, agarrando-a rapidamente. — O que você fez com as suas meias? — As cortei! Todo mundo está usando assim! — Oh, cara. Não estava me livrando disso. — Essas estavam completamente novas! — Meu pai reclamou em voz alta, sacudindo-as. — Jesus27, pai. — Eu reclamei, orgulhosa de mim mesma por não estar apavorada. Muito. — Nunca vestiu um jeans cortado? Os ombros dele caíram, ele olhou para as unhas de meus dedos, vendo-as pintadas de preto, que eu havia pintado para ajudar Nakita se misturar, seu olhar se prolongou nas unhas que tinham sido meio pintadas de cor de rosa. — Calças rasgadas e um jaleco? Usando tênis sem cadarços? Eu nunca vou entender o seu sentido de moda. 27
No original ela diz Jeez, que como alguns sabem, é uma expressão que é a mesma coisa que “Jesus Cristo”.
185
Inclinei para olhar meu tênis amarelo. Não é sentido de moda, é a chuva, pensei secamente. — Mas pelo menos sei que você está comendo. — Ele acrescentou, sua atenção voltou ao jaleco manchado de ketchup. — Como pode saltar sobre uns lanches depois da escola e ainda comer em casa? — Okay. — Me estiquei, esperando que ele não examinasse meu banheiro, onde minha camisa rasgada estava jogada sobre o chão. Isso seria muito difícil de explicar. Eu me senti muito bem, mas a comida era a última coisa em minha mente. Especialmente quando meu pai se sentou na ponta da cama perto de mim e intencionalmente pegou meu telefone no criado mudo. Merda. Eu me esqueci de ligar para minha mãe. — Há algo que você quer me dizer? — Ele perguntou, me olhando. — Desculpe. Esqueci de ligar para a mamãe. — Eu disse imediatamente, mas sua testa franziu mais, me dizendo que não era isso. Perdida, brinquei com a minha colcha, contente de que havia mudado para uma camisola depois que Barnabas tinha me deixado descer, mesmo eu tendo deixado minha camisa rasgada e o jaleco no rastro de meu pai. — Tem algo errado? — Perguntei hesitante. Tem algo errado? Realmente perguntei: Tem algo errado? Posso soar mais culpada? Meu pai esperou até que eu olhasse para ele. — Recebi uma ligação estranha hoje. Algum garoto chamado Sneaker. — Shoe! — Soltei antes de lembrar sobre manter minha boca fechada. Por Deus. E eu havia dito a Shoe sobre ser bom quando eu não podia passar cinco minutos sem mentir para o meu pai? — Shoe? — Meu pai repetiu, tocando o telefone para fazê-lo coincidir exatamente com o canto da cabeceira. — Você o conhece?
186 — Uh, sim. — Encolhi os ombros, tentando parecer indiferente. — Mas nunca lhe dei o número de casa? — Barnabas? Pensei. Ele havia ido visitar Shoe à noite e tentou mudar suas lembranças? Filho de um cachorro morto. — Amigo por correspondência28? — Tentei, trabalhando para preservar a pergunta em minha voz, mas isso escapou ali de alguma forma. Meu pai fez um som pouco convincente. — Ele queria lhe dizer que está suspenso e, abre aspas ‗sendo bom‘. — Suas sobrancelhas estavam levantadas, esperava uma explicação. — Sério? — O que mais eu poderia dizer? Não podia olhar para ele, e me movi nervosa em silêncio. — Madison... — Ele começou, e eu puxei os cobertores para trás, para sair do outro lado da cama. — Pai, eu tenho que ir. — Falei, alcançando meu casaco dentro do banheiro, a visão de minha camisa rasgada me encontrou, e fechei a porta. — Estou atrasada para escola e tenho que tomar um banho. Não sei por que Shoe disse essas coisas estranhas. Ele simplesmente é um cara que conheci faz pouco tempo. Como ontem à noite, há um tempo, mas era um tempo atrás. Suspirando lentamente e bastante, meu pai se levantou. — Vejo você lá em baixo. — Ele disse, soando decepcionado. — O que quer para o jantar esta noite? Hesitei, pensando o que seria mais fácil esconder em meus bolsos. — Sopa e batatas fritas. — Eu disse, imaginando que eu poderia engolir a sopa com bastante facilidade. E eu realmente tinha apreciado as batatas ontem à noite. Se eu podia salvar a vida de Ace, então poderia comer duas. A expressão do meu pai se enrugou. — Sopa e batatas fritas? — Repetiu, então suspirou. — Se isso é o que você quer. O café da manhã está pronto. Não demore muito. 28
No original Pen Pal que é literalmente: amigo de caneta.
187 — Não vou. — Eu disse, pensando se eu esperasse até o último momento para descer, poderia sair pela porta com um brinde para dar a Sandy. Sorrindo, agitei minhas mãos quando ele ficou no corredor, e fechou a porta. Reprovei-me mentalmente enquanto escutava seus passos descendo as escadas. Havia agitado as mãos para ele? Eu era tão estúpida! Eu não estava mentindo sobre querer tomar uma ducha, e, ainda preocupada, entrei em meu banheiro para fazer com que a água começasse a cair, enquanto tirava meu pijama. Um suave golpe contra a porta do meu banheiro me fez pegar a toalha, e falei através da porta. — Estou descendo daqui a pouco. Pai! Mas não foi meu pai que disse. — Uh, Madison? Eu congelei. Preocupada, entreabri a porta. — Você! — Eu gritei, puxando a porta quando vi Paul de pé no meio do meu quarto, minha janela estava aberta e a tela estava apoiada contra a parede. — O que você está fazendo aqui? — Quase assoviei enquanto saía violentamente, parando quando lembrei que estava de toalha. — Não pode aparecer simplesmente aqui dentro dessa forma. Meu pai está lá embaixo. Se ele te visse aqui em cima, teria um ataque! Paul ficou vermelho, e brincou com sua camisa abotoada que estava para dentro de uma calça preta. Suas roupas ainda eram de um cara santinho, mas pelo menos não estava vestido como um ator de ópera espacial. — Desculpe. — Ele disse, não olhando para mim, aparentemente fascinado com o meu tapete. — Queria lhe perguntar algo, e Ron não me deixa ficar fora por muito tempo. — O quê? — Perguntei, me sentindo muito nua debaixo da minha grande toalha esponjosa. Paul olhou na minha direção, então para o teto. — Você acredita em escolha? Incerta, minha raiva se dissolveu. — Sim. — Eu disse suavemente. Ele havia me ajudado. Eu lhe devia algumas respostas.
188 — Mas você é uma Timekeeper Negra. — Paul declarou, soando confuso. — Aparentemente. — Disse secamente, então adicionei. — Não tem sentido, mas é assim que é. Assim que encontrar meu corpo, vou largar isso. Ao menos que... Eu possa mudar as coisas. Os sapatos brilhantes de Paul mudaram de posição em meu tapete. — Você não quer ser um Timekeeper?
Meus pensamentos voltaram para o horrível sentimento de impotência quando havia tido uma visão do futuro, e então minha alegria quando Shoe estava fora, sua vida completa diante dele. — Eu não sei. — Talvez você apenas consiga o meu trabalho. — Paul disse, me surpreendendo. Assustada, me apoiei contra a moldura da porta, então fiquei ereta. Por mais que eu tentasse, nunca olharia confiante em uma toalha. — Você acredita em destino? Paul fez uma careta, voltando, para se sentar sobre a bancada da janela aberta. — Não sei em que acredito. Mas Ron desapareceu quando Ace conseguiu seu anjo da guarda, e você ficou para tentar salvar as vidas das pessoas. Apertei a tolha com mais força, não sabendo o que dizer. — Eu tenho que ir. — Paul disse, enquanto levantava. — Ele supõe que estou praticando meus saltos, mas se eu não estiver de volta quando ele pensar que eu deveria estar, seguirá minhas pistas. — Deve ser bom ter um mestre. — Eu disse, um pouco ciumenta e não querendo deixá-lo ir ainda. — Não veio todo o caminho até aqui só para perguntar se eu acredito em escolha. Paul levantou um ombro, e o abaixou em um meio encolhimento de ombro. — Não. Achei que você poderia gostar de saber que Ron fez uma busca cuidadosa, nos dois, e
189 descobriu que nem Ace e nem Shoe estão predestinados para criar mais vírus. De fato, Shoe eventualmente vai trabalhar para a CIA e seguir o rastro de outros hackers. Ele deve ser o que impede ataque cyber terroristas no começo da década. Agora mesmo Ace está em um quarto acolchoado porque fala sobre ceifadores e Timekeepers, mas com o tempo aprende a manter a sua boca fechada, sai da reabilitação, inicia uma banda chamada Melting Crows29 e morre de uma overdose de drogas com trinta anos. — Oh, cara. Isso é horrível. — Sussurrei, me perguntando se valeu à pena. Paul estava imperturbável. — Todo mundo morre uma hora. Sua música tocará as pessoas. — Ele disse. — Os fazem refletir. Se me perguntar, seu anjo da guarda está gritando em sua orelha agora, tentando conseguir que o escute. Ace nunca se transformará em um santo, mas sua vida terá significado. Pelo menos, eu acho. — Suponho. — Disse, ainda não satisfeita com isso. Talvez eu devesse ter deixado que Nakita o matasse. Acabando de forma limpa. Receberia as almas incompletas uma segunda oportunidade? Outra vinda? Era esse o motivo que os ceifadores brancos os ceifavam com antecipação? — Foi você que disse ao Shoe o número da minha casa? — Perguntei repentinamente. Paul colocou a mão debaixo da minha janela, como se fosse sair. — Ele queria lhe dizer que estava bem. Não pensei que se importaria, e já que não tenho o número do seu celular, procurei o número da sua casa. Eu não mexi com ele, se é isso que te preocupa. Ron está irritado. — Paul sorriu, seu olhar deixando o meu enquanto ele lembrava. — O anjo da guarda que dei a Ace não deixará que ninguém manipule suas lembranças ou as de Shoe. É por isso que ele deixou a investigação. Outra preocupação estava resolvida, e quando Paul ia dar um passo para fora, balbuciei. — Obrigada por parar Ace. Sua cabeça levantou, sorriu mostrando os dentes. — De nada.
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Corvos Emotivos.
190 Lá de baixo, meu pai gritou, e eu mudei de um pé para o outro. — Eu tenho que ir. — Disse, movendo a cabeça em direção ao chuveiro ligado atrás de mim. — Eu também. — Ele disse, dando um passo sob o batente e o telhado. — Você gosta de Ron? — Perguntei de repente, e ele hesitou, registrando os cantos do meu quarto com seu olhar. — Não sei. — Disse suavemente. — Ele me ensina as coisas, mas é como se estivesse fanático sobre você. Seus olhos encontraram os meus, e assenti. — Ele mentiu para mim. Bastante. O fiz ficar mal perante um Serafim. Vai continuar acreditando em tudo o que ele diz? Paul não respondeu, abaixando sua cabeça e sorrindo. — Até logo. — Disse, e então as sombras dos ramos da árvore mudaram sob ele, parecendo apagá-lo pouco a pouco, até que ele se foi. Fiquei de pé por um momento para garantir que ele tinha ido. — Tenho que aprender a fazer isso. — Sussurrei, então fui tomar banho. Ace se transformará em músico, é? Pensei, sorrindo enquanto imaginava como deve irritar a Ron que eu - uma Timekeeper Negra - havia mostrado ao perdido uma nova escolha, e que essa escolha havia sido feita por nossos esforços, salvando não só sua alma, mas sua vida. Havia sido todo o destino? Ou a doce justiça do Ceifador?
FIM Continua em: Something Deadly This Way Comes
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