A Vida em Quatro Patas
Gabrielle Karla de Oliveira Juliana Carneiro Pereira Valim
A Vida em Quatro Patas 2013
AUTORAS Gabrielle Karla de Oliveira Juliana Carneiro Pereira Valim PROFESSOR ORIENTADOR Prof. Dr. Robson Bastos da Silva
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EPIGRAFE
REVISÃO Profª. Drª. Miriam Bauab Puzzo PROJETO GRÁFICO Felipe Martins dos Santos CAPA Felipe Martins dos Santos Gabrielle Karla de Oliveira Juliana Carneiro Pereira Valim TRATAMENTO DAS FOTOS Felipe Martins dos Santos IMPRESSÃO TACHION GRÁFICA DIGITAL Ficha Catalográfica elaborada pelo SIBi ̶ Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU
Karla de Oliveira, Gabrielle Carneiro Pereira Valim, Juliana A Vida em Quatro Patas / Gabrielle Oliveira, Juliana Valim 2013 134.:,il. Livro-reportagem (Graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo) - Universidade de Taubaté, Departamento de Comunicação Social, 2013. Orientação: Prof. Dr. Robson Bastos da Silva, Departamento de Comunicação Social. 1. Cachorro. 2. Vida. 3. Patas. 4. Cão. 5. Companheiro. I. Título.
“Cães não precisam de carros luxuosos, casas grandes ou de roupas chiques. Água e alimento já são o suficiente. Um cachorro não liga se você é rico ou pobre. Esperto ou não. Inteligente ou não. Entregue o seu coração e ele dará o dele. De quantas pessoas podemos dizer o mesmo? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puro e especial? Quantas pessoas nos fazem sentir extraordinários?” (Filme: Marley e Eu)
´ Dedicatoria
Por Gabrielle
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edico este livro a todos os cães, que são a minha inspiração para escrever. Dedico em especial ao Bob, meu querido e amado cachorro, que a cada dia me surpreende mostrando a lealdade dos cães para com os humanos.
Por Juliana
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edico este livro, principalmente, a todos os cachorros que me trouxeram e trazem felicidade: Ruana, Shana, Mikie, Beejay, Kate, Bidu, Urso, Pancho, Fifinha, Amigo e Luna. Esses foram a minha maior fonte de inspiração na produção dos textos. Dedico também a todos aqueles que, de uma forma ou de outra passou em minha vida e deixou sua marca. E ainda aos demais cachorros, tanto os “filhos de dondocas” quanto os abandonados e mal cuidados. Todos eles merecem ser lembrados, sem distinção de raça!
Agradecimentos
F
ica aqui o nosso muito obrigada ao nosso tão paciente orientador, Prof. Dr. Robson Bastos da Silva. Que durante todo esse tempo nos ajudou muito e acreditou em nós. E um agradecimento em especial a todas as nossas fontes, que nos surpreenderam e nos emocionaram com suas histórias. Sem vocês não teríamos realizado esse sonho.
Por Gabrielle Agradeço a todos que me apoiaram, sempre confiando no meu potencial. Aos meus pais, que sempre serão tudo para mim. Aos meus amigos e familiares em geral. Vocês são a minha força, foi graças a vocês que cheguei até aqui. Obrigada também ao meu namorado, que sempre foi um grande companheiro, me dando forças nesse ano tão turbulento. Não poderia deixar de falar da minha grande companheira de trabalho e amiga Juliana, obrigada por tudo, você é uma grande parceira. E acima de tudo agradeço a Deus, por me dar forças para seguir em frente e realizar o meu sonho.
Por Juliana Primeiramente, agradeço a Deus por me dar sabedoria e força, por me guiar nesses quatro anos de faculdade e, principalmente, neste último ano, tão trabalhoso e intenso. Agradeço a Ele por me permitir realizar esse sonho. Agradeço a toda minha família: mãe, pai, irmã, padrasto, madrasta, avôs e avós, tios e tias, primos e primas, namorado, amigos, companheiros de faculdade, companheiros de estágio, chefes, enfim, todos aqueles que, de uma forma ou de outra me apoiaram. Não posso deixar de agradecer também a minha companheira Gabrielle, que durante esse todo esse tempo foi muito além, sendo uma super amiga!
´ Prefacio
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evo confessar que as escritoras Gabrielle e Juliana realmente me impressionaram com a leveza e realidade muito bem retratada e escrita. No livro, percebe-se que elas tiveram o cuidado de nos mostrar a realidade de muitas pessoas e cachorros. Eu tenho um legado, desde pequena: ajudar os animais, seja ele de qualquer espécie, cor ou tamanho, pois este além de ser um momento único na minha vida, é sem dúvida nenhuma, inspirador, gratificante e acima de tudo, me torna um ser ainda mais humano. Poucas vezes na vida alguém poderá experimentar algo maior do que o amor e o agradecimento de um animal para com seu dono. Olhos que olham nossa alma. Amor. Ah... Esse sim é sentimento transmitido por eles em todas as suas formas e cores. Lambidas, abraços e roncos são esses os sinais da lealdade e da verdade que existe em seus sentimentos. Espero que todos, em todos os lugares do mundo permitamse ser alimentados por este amor, que as brutalidades, abandonos e maus-tratos, sejam punidos fortemente e que todas as pessoas possam respeitar, acima de tudo, todo e qualquer ser deste mundo, por vezes, tão desumano. Sim, é um livro que nos faz refletir sobre a realidade, sobre a distorção e contrariedade da mente humana. Um livro que nos mostra a dor da realidade, mas sem deixar de lado as coisas boas, o caminho do prazer, do amor e também, infelizmente, do desespero. Sem dizer que o foco principal, os cachorros, são apaixonantes, não só devidamente às histórias contadas, mas também por conta de todo o universo novo e sincero que está ao redor deles e de seus donos.
Aos animais: os meus, os seus, aqueles que eu acolho nas ruas, os que eu cuido, dou banho, encontro um lar para que eles possam ser felizes e até mesmo os que ainda estão passando necessidade... Enfim, para todos, sem nenhuma distinção, o meu muito obrigada. Obrigada por fazerem parte da minha vida, ensinando-me o que é o verdadeiro significado do amor, a amizade e o carinho extremo. Hei de viver muito ainda para poder estar sempre ao lado deles. “O amor, com amor se paga!” Muito envolvente, impactante, apaixonante, sincero e emocionante. São esses os adjetivos dados por mim, uma querida leitora deste maravilhoso trabalho. Permitam-se ler e aprender com o delicioso livro ‘A Vida em Quatro Patas’. As autoras Gabrielle e Juliana retrataram com dignidade, excelente escrita e muita convicção, fatos e informações muito importantes e relevantes da atual realidade. É sem dúvida uma excelente leitura. Mais do que recomendo!
Com todo meu carinho,
Sandra Leandro
´ Sumario
Introdução
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Um Anjo de Pelos e Quatro Patas
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Os Melhores e Grandes Amigos
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O Amor Que Vence Barreiras
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De Mãe Para Filha
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Cão Pra Cá, Cão Pra Lá
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Uma História Boa Pra Cachorro
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Olhos Com Quatro Patas
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Cachorro Online
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Companheiros Inseparáveis
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A humanização dos Cães
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Considerações Finais
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Bibliografia
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Introducao ~
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S
ão vários os motivos que levam as pessoas a amarem os cachorros, bem como, há quem não goste e ainda é capaz de maltrata-los. Um exemplo disso é o Centro de Zoonozes de Taubaté, que recebe denúncias constantes de maus-tratos a animais e falta de profissionais para seu funcionamento. Hoje o lugar abriga pouco mais de 500 cães, sendo que a capacidade é de 300 animais, e não há espaço para receber mais. O centro recebe cerca de 100 ligações por dia, sendo pelo menos 30 de denúncias de maus-tratos e abandono ou atropelamento de animais, principalmente cães. Além da entidade municipal, grupos de proteção animal relatam que voluntários estão com as casas lotadas. Segundo São Francisco de Assis, o santo padroeiro dos animais, “Quem maltrata um animal jamais poderá ser feliz.” A partir de dados da Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal (ARCA), hoje o Brasil tem 50 milhões de cães e gatos. E esse número ainda pode aumentar, sendo que, para cada filhote de cão que nasce, outros 15 filhotes podem nascer também. Em seis anos, uma cadela e seus descendentes podem gerar mais de 60.000 filhotes. Diante desses números, foram muitos os fatos com que nos deparamos desde quando firmamos a ideia do tema, no ano passado. Histórias essas que valiam muito a pena ser contadas e registradas. Porém, as que foram escolhidas para serem relatadas nos comoveram de tal maneira, que essas sim, não poderiam ficar de fora deste livro.
apresentação, para que o leitor possa conhecer um pouco mais o motivo pelo qual optamos por escrever um livro sobre cães, e ver tamanha identificação com o tema escolhido. As outras histórias passam por diversas vertentes e abordam diferentes assuntos como a descoberta de uma doença que acabou ocasionando numa boa ação; a profissão totalmente dedicada aos animais, principalmente aos cachorros; a dedicação em além de cuidar, criar e competir com cães, por hobbie e prazer; o coração capaz de salvar e dar um destino, além de melhor, diferente do que seria, ao cachorro; a história de um deficiente visual e seu cão guia; o trabalho realizado via internet, buscando maior alcance e obtendo maior resultado e, por fim, a preocupação em não abandonar seu grande companheiro. Além do mais, o último capítulo aborda um tema muito comentado atualmente na mídia e fora dela, “A humanização dos cães”. Nele é possível encontrar dicas de como cuidar bem de seu pet, sem cometer falhas e exageros, adoção, alguns temas relacionados ao mundo canino, além de curiosidades do mercado desse universo que cresce a cada ano. São histórias comoventes, e esperamos que você, leitor, goste e se emocione assim como nós nos emocionamos na produção deste livro.
BOA LEITURA!
São sete histórias de diferentes pessoas, sendo que os dois primeiros perfis contam um pouco das próprias autoras, como uma 24
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Natalia Antunes (arquivo)
Um anjo de pelos e quatro patas Por Juliana Valim
E
ra um domingo de janeiro, no ano de 2005. Tudo para ser um dia comum na família Oliveira, mas não foi o que realmente aconteceu. Logo pela manhã, o chefe da família, Carlos, saiu para trabalhar. O que não é comum acontecer em um domingo, uma vez que era necessário que ele fizesse hora extra, devido tamanha demanda de trabalho na empresa. No mesmo horário de sempre, passou pelo caminho que já estava acostumado a fazer todos os dias, e quando estava atravessando a Avenida dos Bandeirantes, em Taubaté, onde ele morava com sua família, o fato, nem tão inusitado, aconteceu. O senhor Oliveira se deparou com um cãozinho perdido em meio àquele movimento todo. Ele andava de um lado para outro sem saber para onde ir, e os carros passavam perto de atropelá-lo, inclusive, Carlos quase o atropelou. Até que tomou a decisão de parar o carro para ver se não havia acontecido nada com o pequeno animal. Foi quando o policial que trabalhava naquela área abordou Carlos e sugeriu que ele levasse o cão, pois se permanecesse ali, mais cedo ou mais tarde aconteceria o pior. Assim ele fez. Colocou o peludinho da raça yorkshire dentro do carro e voltou para casa. Ao chegar a sua residência, todos ainda estavam dormindo. Carlos não resistiu e foi logo acordar sua filha, Gabrielle, que na época tinha apenas quinze anos, para que ela pudesse ir ver a 29
novidade. Gabi, como é chamada por familiares e amigos, ficou surpresa, e mesmo se deparando com aquele olhar desconfiado e medroso que o bichinho transmitia, ela não se intimidou e logo correu para acariciá-lo. A família deu os cuidados necessários a Bob (esse foi o nome que ele passou a atender desde então), levando no veterinário para medicá-lo, dando banho e tosando, afinal, ele estava com alguns ferimentos e muitos carrapatos, o que indicava que já estava na rua há algum tempo. Mas não demorou muito para que Bob se tornasse o xodó da casa.
A estudante do quarto ano de Jornalismo sempre gostou de cães e também sempre sonhou em ser jornalista. Durante sua infância, conforme ela se lembra, a família teve por volta de três cachorros, mas sua relação começou a se estreitar quando Bob apareceu em sua vida. A jovem sempre fala de seu amorzinho canino, seja lá qual for o assunto abordado durante uma conversa, independente com quem seja. A cada dez palavras ditas, pode-se dizer que, nove diz respeito a Bob. — Ele foi um anjinho que Deus colocou em nossa casa. Natalia Antunes (arquivo)
Carlos Oliveira (arquivo)
Logo quando o “menor abandonado” chegou à casa dos Oliveira, a família começou a divulgar que o haviam encontrado. Passaram-se alguns dias e nenhum suposto dono apareceu, e enfim, eles resolveram adotá-lo, de uma vez por todas.
cidades como São Carlos, São Paulo e Rio das Ostras. Atualmente, mora com a irmã e o cunhado em Taubaté, enquanto o irmão, seus pais e Bob, moram em Rio das Ostras, região dos lagos no Rio de Janeiro.
Momento de carinho.
Bob e Gabrielle no primeiro mês de convívio.
Hoje, Gabrielle tem vinte e três anos, além de ser uma das autoras desse livro, é também a caçula da família de três irmãos, Thiago (o mais velho) e Natália, ambos já casados. Nasceu em Araraquara, mas devido à profissão do pai, Gabi já morou em diversas
Gabi não se recorda muito de seu contato com os animais quando criança, mas ela garante que o que lembra, foi que sofreu muito com a perda de seus cães. O primeiro companheiro da
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Após cerca de quatro anos, quando Brutos partiu dessa para melhor, a família precisou se mudar para Taubaté, e lá eles ganharam Dick, também vira-lata, mas esse era sapeca e fujão. Por várias vezes Gabrielle e sua irmã saíram na rua, até mesmo de pijama, em busca dele. Após um ano, o pestinha (como Gabrielle o define) acabou contraindo a doença do carrapato e não resistiu. A menina, que na época tinha por volta de treze anos, sofreu bastante e até hoje sente saudades ao lembrar-se dele. Daí em diante, a família não era capaz de ficar sem cachorros em casa. Foi então que o patriarca resolveu passear pela famosa feira da barganha de Taubaté, e lá comprou um filhote de poodle preto. O pobrezinho não sobreviveu por muito tempo. Em apenas dois meses junto com a família, Pingo não resistiu devido à falta de vacinas, que acabou gerando cinomose e resultou em seu falecimento precoce. Gabi acabou não sofrendo tanto quanto na perda de Dick, uma vez que o tempo que eles passaram juntos foi muito curto. Mas, mesmo assim, ela não se sente confortável com a situação, pois sabe que isso aconteceu devido a criadores ilegais, que não tomam os devidos cuidados, tanto com os filhotes como com os já adultos.
está sempre pensando neles, com o coração apertado, sentido a ausência e a falta que fazem em seu dia a dia. Mas sempre que possível, em férias e/ou feriados, ela dá um jeitinho para visitá-los e matar a saudade. Natalia Antunes (arquivo)
família veio quando ela tinha apenas oito anos e ainda morava em São Carlos. Ele atendia pelo nome de Brutos. Era um vira-lata bem grande, e fazia jus ao nome, afinal ele não era muito carinhoso, e com isso, Gabi não tinha muito contato com ele.
Bob em uma de suas visitas à Gabi em Taubaté.
Diante de tantos sonhos, como casar e ter filhos, ela dá ênfase ao sonho de um dia poder ter condições de ajudar os cães abandonados na rua, e assim tentar diminuir essa dor que eles sentem, passando frio, fome, sede e sem ter alguém que possa se preocupar com eles e dar o carinho que merecem.
A jovem conta que sempre comenta com o seu namorado, Tharick, com quem está há cinco anos, que quando se casarem, ela quer ter cachorros em casa. — Sinto muita falta de ter contato todos os dias com esses bichinhos que nos trazem tantas alegrias. Mesmo morando longe de seus pais e de Bob, Gabi diz que 32
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Josias Augusto (arquivo)
Os melhores e grandes amigos Por Gabrielle Oliveira
O
amor pelos cães chegou logo cedo em sua vida. Bem cedo por sinal. A jovem, de um coração cheio de amor e cuidados pelos bichinhos, é Juliana Carneiro Pereira Valim de vinte e um anos, com muitas histórias para contar sobre os seus cães, que desde sempre fizeram parte da sua vida.
Juliana Valim (arquivo)
Ao longo de seus vinte e um anos, já teve dez cachorros, e três definidos por ela como filhos adotivos, ou seja, o cachorro de sua avó, Bidu, um pinscher hiperativo que já está fazendo companhia ao Papai do Céu; Shana, uma vira-lata de sua tia; além de Fifinha, a cadela de sua outra tia, uma das filhotes de Kate, sua border collie (que Deus a tenha) e irmã do Pancho. Esses, ela sempre ajudou e ainda ajuda a cuidar, dar banho e, principalmente, carinho.
Bidu, Shana e Fifinha: cachorros que Juliana ajuda a cuidar e dar carinho.
Carinho que Ju, carinhosamente chamada pelos mais íntimos, tem com os animais, especialmente com os cães, mas não vê problemas com os outros bichinhos, tendo o mesmo respeito 37
Desde criança, ela já gostava muito de animais, principalmente, cães. Confessa que não gosta muito de gatos, mas não suporta vêlos sofrer e é incapaz de fazer mal tanto para os bichanos quanto para uma formiguinha sequer.
Juliana Valim (arquivo)
Juliana nasceu em Guaratinguetá, aos nove anos mudou-se com os pais para o Guarujá (litoral do estado), e há sete anos voltou para a cidade natal com a mãe. Hoje ela reside na área rural, ou seja, mora em uma ampla fazenda, e com um grande espaço para os seus cães. Pode-se dizer que ela voltou com o coração apertado, pois ao se mudar para sua cidade atual, ela precisou doar Mikie para um conhecido de seus pais, pois não havia meios de transportá-lo por ser um cachorro de grande porte. Ele era o grande amor de sua vida. Mesmo sendo da raça dog alemão, era doce e sereno, companheiro para todas as horas.
Atualmente, Juliana tem três cachorros em sua casa, que são seus grandes companheiros. E mesmo com todo o espaço disponível, não há mais nenhum tipo de animal no local. — Tenho três cachorros em casa: Layka (fila), Luna (rottweiler) e o Amigo (cachorro que adotei, ele simplesmente apareceu em casa e nunca mais deixei ir embora). Mas às vezes, é possível nos depararmos com um semblante triste vindo da jovem, devido a um fato que a aborreceu muito. — Tive a maior decepção da minha vida no ano de 2011, quando três cachorros meus foram roubados e nunca mais encontrei dois deles. No mesmo ano, a Kate morreu depois de uma briga por ração, uma vez que não havia ninguém em casa para separar. Total de quatro perdas em um intervalo de tempo de apenas cinco meses. Juliana Valim (arquivo)
para com eles e até sofrendo quando os vê passando por alguma necessidade ou maus tratos.
Urso, Pancho e Beejay: os três cães roubados.
Mikie, a grande paixão de Juliana.
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Em uma noite de domingo, ela estava se divertindo com os amigos em um barzinho no centro da cidade onde mora. Sem esperar, ela avistou Pancho, filhote da Kate e um dos roubados, que passeava de bicicleta na avenida com o atual dono, em frente o local em que estava. Com a ajuda de seu namorado, que se aproximou do rapaz e, com a desculpa de que estava interessado em filhotes do cão, conseguiu todas as informações necessárias que 39
Juliana Valim (arquivo)
a levou a concluir que não era este quem havia roubado o border collie marrom de olhos verdes. Mas sim, que ele havia comprado do ladrão, sem saber o que realmente havia acontecido. Por esse motivo, ela não o culpa e assim, tomou a decisão de não tirá-lo de seu novo companheiro, uma vez que estava bem cuidado, treinado e recebendo muito amor e carinho, preferiu deixá-lo.
ela não é o suficiente. Uma das grandes vontades da jovem, louca por cães, como ela própria se define, é ter mais cachorros em sua casa, mas isso geraria um grande conflito, pois a despesa deles é alta, principalmente por serem cães de grande porte, que são os de sua preferência. — Tenho muita vontade de ter mais cachorros em casa, mas infelizmente não moro sozinha, então tenho que acatar as regras. Como toda pessoa que ama incondicionalmente um animal, assim como no caso de Ju, espera-se amor recíproco. E isso é bem evidente na vida dela. Seus cachorros sentem muito ciúmes um do outro pelo fato de todos quererem a atenção exclusiva da dona, gerando um conflito canino, que já ocasionou algumas cicatrizes pelo corpo da jovem. A primeira vez que isso aconteceu, foi na época que ela tinha seis cachorros em casa. Numa tentativa de separar a briga entre o cocker spaniel (Beejay) e o blue hiller (Urso), ela acabou sendo a vítima. Mordida na mão esquerda pelo Beejay, totalmente sem querer, assim como ela prefere enfatizar. Naquela época eram quatro machos e duas fêmeas. Sendo que os dois sentiam muito ciúmes dela, um fazia de tudo para o outro não chegar perto.
Kate, a border collie que morreu após uma briga.
— No dia em que reencontrei o Pancho chorei muito quando o vi, mesmo de longe, e não tive forças para ir até ele. Mas hoje estou tranquila, pois sei que ele está bem, ao contrário do Beejay e do Urso, uma vez que não sei o paradeiro deles e nem onde estão. Sempre que ela se lembra deles, é inevitável a emoção. Com isso, ela prefere evitar ver fotos. Mas quando a saudade aperta, corre para o computador, e é assim que tenta amenizar esse sentimento.
— Acho que é por eu fazer muito carinho, quando eles querem exclusividade. Já o segundo episódio foi com a Luna. Numa terça-feira de verão, a universitária chegou da faculdade por volta da meia noite, e como de praxe, foi dar boa noite para seus adorados.
Juliana tenta constantemente superar esse difícil momento. Faz isso cuidando e se dedicando a seus atuais cachorros. Mas para
— Se tem uma coisa que eu amo fazer é apertar, abraçar e beijar meus cachorros. Só que a Luna não é muito disso, ela adora carinho, mas sem agarrar muito, mesmo eu sabendo disso, dei um abraço em torno de seu pescoço e encostei minha cabeça na dela, não tive tempo de sair e ela bateu com o dente na minha
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sobrancelha esquerda. Mas como não foi a primeira vez, eu já sabia que não havia necessidade de ir ao hospital, afinal, meus cachorros são devidamente vacinados. Mas para quem acha que isso a desanimou ou a deixou triste com os seus mascotes, está muito enganado. Juliana leva essas cicatrizes como forma de amor, guardando-as com carinho para sempre se lembrar de seus xodós. Estudante do quarto ano de Jornalismo, e também autora deste livro, mesmo um pouco tímida, Juliana sempre gostou muito de livros, adora ler e escrever. Foi exatamente isso que a guiou para a escolha da faculdade, e lá, ela aprendeu a lidar com toda essa timidez. Mas algumas pessoas que a conhecem questionam o porquê não escolheu fazer Veterinária, já que é tão apaixonada pelos animais.
Ju revela que, um dos seus maiores sonhos, juntamente com seu namorado, Juninho, que também ama cachorros e com quem está há quase sete anos, é um dia ter dinheiro para resgatar animais de rua, cuidar, tratar e dar o amor necessário. Pois a incomoda muito vê-los sofrendo, jogados na rua e sem ter o cuidado humano necessário para tornar a vida dos animais mais digna, com o respeito que todos os bichos merecem.
Luciana Carneiro (arquivo)
— Posso afirmar que sou loucamente apaixonada por cães, mas não suporto vê-los sofrendo, por isso achei melhor não arriscar meu emocional, que cá entre nós, é bem frágil, principalmente quando o assunto são eles.
Juliana já é capaz de cuidar de seus próprios animais e ainda dar algumas dicas de melhores marcas de ração e produtos para eles, afinal, é ela quem ajuda a identificar determinados sintomas em seus cães quando eles estão doentes. É muito raro levar os três ao veterinário, ou melhor, a jovem não se lembra de ter os levado, uma vez sequer, a um especialista. Mas não que não fosse necessário, é que ela, juntamente com seu padrasto, são capazes de cuidar de diversos problemas caninos. Alguns já podem ser considerados como experiência adquirida, como por exemplo, picada de cobra e aranha, intoxicação alimentar, pneumonia, infecções diversas, machucados causados por brigas, excesso de carrapatos, bernes (ela adora e faz questão de tirar um por um) e por aí vai.
Juliana em um momento descontraído com alguns filhotes.
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Fernanda Toffuli (arquivo)
O amor que vence barreiras
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aubateana de 26 anos, ateia, vegetariana e apaixonada por animais. Essa é Fernanda Toffuli. Uma moça com uma voz alta e envolvente que decidiu ser ateia, mesmo vindo de uma família católica, tem um coração enorme, capaz de fazer o bem para o próximo (se o próximo for, preferencialmente, animal) e esquecer-se de si própria. Desde criança Fernanda já gostava de animais, mas era tudo bem normal (como ela mesma prefere definir). Mas nessa fase de sua vida, o máximo que ela conseguiu ter como companhia foi uma lebre, que convenhamos, não é um bichinho de estimação que encontramos nos quintais das casas latindo e correndo atrás de bolinhas. Fernanda conta que quando saía para passear e encontrava algum cachorro de rua, sempre conversava e fazia carinho. — Sempre que eu saía com meu avô ele mexia com os cachorros, e isso foi uma herança deixada por ele. Essa atitude é muito comum dentre as pessoas que têm uma determinada afinidade com esses seres tão adoráveis. Na adolescência, mais especificamente no período em que estava cursando a faculdade, Fernanda resolveu, de uma vez por todas, virar vegetariana. Mas quando eu falo vegetariana, é vegetariana mesmo, nada de se alimentar de carne vermelha, carne branca e muito menos peixes, sua dieta passou a ser à base de frutas, verduras, legumes, vegetais e grãos. Essa paixão pelos animais foi o fator crucial pela qual a fez tornar-se adepta desta cultura. 47
Eduardo Fais (arquivo)
Ninguém poderia imaginar que ela iria tirar algum benefício disso tudo. Foi então que começou sua jornada contra a doença e sua distração, ou melhor, sua boa ação, que nada mais é se não sua prática em ajudar os animais.
— Fiz todo o meu tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde), não gastei nenhum centavo do meu bolso e ainda tive o benefício de ter minha mãe por perto, como acompanhante, me ajudando e dando força nessas idas e vindas para São Paulo. As pessoas costumam dizer que a saúde pública no Brasil não funciona. Funciona sim, basta você ir atrás, afinal, ninguém vai bater na sua porta para perguntar se você está precisando. Helena Toffuli (arquivo)
Alguns anos depois, ninguém imaginava o que o destino estava reservando para Fernanda. Tudo começou a ser intensificado em sua vida quando ela descobriu que estava com linfoma, um tipo de câncer, não muito comum, que atinge a célula do sistema linfático. Essa surpresa, que não foi nada agradável, veio como um balde de água fria. Fernanda havia acabado de se formar em Jornalismo na Universidade de Taubaté, e em meio a tantas preocupações, como pós-graduação, o futuro da sua vida profissional entre outras, veio mais essa.
Fernanda em época de tratamento com Dudu.
Fernanda alimentando os cães de rua.
Ela ia e voltava em uma van disponibilizada pela prefeitura de Taubaté, onde mora com seus pais, um cachorro, uma pata, um gato, uma calopsita, um agapornis (mais conhecido como periquito do amor) e cinco peixes. E uma coisa em comum entre eles: todos são adotados. Exatamente isso, ela se recusa a pagar por qualquer animal, seja ele qual for.
Fernanda então começou seu tratamento. Toda semana era preciso viajar para São Paulo para realizar as sessões de radioterapia, sempre acompanhada por sua mãe.
Voltando ao seu tratamento, Fernanda saía logo cedo de casa com destino à capital, lá ela fazia suas sessões e, ao terminar, esperava pelos outros pacientes por volta de doze horas para que
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Nessa fase de tratamento, através da radioterapia, Fernanda começou a se sentir um pouco inútil, afinal, ela estava afastada de suas atividades – estudo e trabalho – pelo INSS, além de não poder dirigir e, de uma hora para outra, tornar-se dependente. A jovem não se intimidou, e a partir daí, começou a pensar em algumas atividades as quais pudesse desempenhar, mas respeitando suas limitações. Ela precisava se manter em casa, preferencialmente, de repouso e, claro, fazer algo que gostasse e, consequentemente, trouxesse satisfação e prazer. Foi quando ela teve a brilhante e solidária ideia. Mesmo acreditando que é função do governo cuidar e tomar as devidas providências para com os animais de rua, Fernanda tomou a iniciativa em começar a arrecadar ração, jornais e cobertores velhos, remédios e dinheiro através de algumas redes sociais, para que pudesse ajudar cães e gatos que, muitas vezes, não têm um lar fixo. A partir daí, tudo que ela conseguia arrecadar ela separava conforme as necessidades de cada um e, próximo ao dia vinte de cada mês, ela fazia a distribuição às protetoras de animais, ou seja, pessoas ligadas ou não a ONGs, pessoas que recolhem cães das ruas, levam para suas casas e dão os devidos cuidados. Atualmente, Fernanda consegue ajudar cerca de trinta pessoas, o que significa que por volta de duzentos animais são beneficiados com seu trabalho - totalmente voluntário - nas cidades de Taubaté, Tremembé e Pindamonhangaba.
realmente não aconteça e também para que ela não leve prejuízo, conseguiu fazer parceria com uma casa de ração de sua cidade natal, uma vez que, na compra de um saco de ração ela ganha outro. Mas não pense que Fernanda opta pela ração mais barata, para que assim o dinheiro possa render mais. Muito pelo contrário. Ela tem uma marca específica e de sua preferência, que contêm todos os nutrientes que uma boa alimentação canina precisa. Gabrielle Oliveira
pudesse, enfim, retornar para casa.
Um dos cães que Fernanda ajuda em uma feira de adoção.
Apesar de todo o suporte e ajuda dos doadores, acontece que em alguns meses, como por exemplo, janeiro, mês de férias e com contas vencendo, os itens arrecadados não conseguem somar uma quantidade adequada para distribuição. Nesse caso, Fer, como é chamada pela maioria de seus amigos, precisa tirar dinheiro do próprio bolso para que sua ação não seja interrompida. Para que isso
Fernanda recebe o total apoio da família, mas sua tia merece destaque. Dona Helena Toffuli, uma senhora de cinquenta e oito anos, solteira e aposentada, é a maior incentivadora e a pessoa que mais ajuda Fernanda, abrigando o Vittório (um gatinho adotado pela jovem em uma feira de adoção) na própria casa, e auxiliando a sobrinha em qualquer momento e situação. Se disponibilizando em levá-la onde precisa, além de deixar com que Fernanda guarde as doações em sua casa, facilitando que as protetoras possam retirar lá.
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Fernanda Toffuli (arquivo)
Seu médico nem sonha – e nem pode – que durante o tratamento, ela teve contato com o Café, seu amado gato – que Deus o tenha –, bichano que foi adotado por ela e era, ou melhor, ainda é sua grande paixão e até hoje ela se emociona ao falar nele. Teve contato também com o Dudu (seu cachorro da raça poodle, também adotado) e mais todos aqueles que são beneficiados pela sua dedicação e amor.
Fernanda e Helena, a tia companheira na ajuda com os animais abandonados.
— Sempre fiz caridade e ajudei quem precisava, mas sem dúvida a Fernanda foi minha grande incentivadora, e hoje posso ajudar, não somente pessoas, mas também os animais. Hoje Fernanda é pós-graduada, trabalha como free-lancer em assessoria de imprensa, namora há dois anos e meio (uma curiosidade: os semelhantes se atraem sim. Eduardo também é ateu, vegetariano e ama animais) e continua seu trabalho voluntário de arrecadação via redes sociais, ou melhor, ela nunca parou. Desde quando deu seu primeiro passo, não abandonou mais suas atividades, pelo contrário, a cada mês ela consegue mais doações, assim como a cada dia, infelizmente, aparece um novo cãozinho precisando de sua ajuda. Quanto a sua doença, ela terminou o tratamento, mas atualmente está em fase de estadiamento, ou seja, é um período que a cada dois ou três meses é necessário refazer todos os exames, e após mais ou menos um ano ela terá a confirmação se está, de uma vez por todas, curada ou se precisará fazer mais algumas sessões de radioterapia. 52
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Juliana Valim
~ De mae para filha
O Joana Oliveira (arquivo)
amor incondicional pela profissão e por cães pode sim, ser hereditário. Visto que, cuidar do próximo, salvar vidas e sempre fazer o bem vem de família. Dona Jamara está aqui para confirmar isso. Ela é uma enfermeira de seres humanos, mas apaixonada por cães, e sua filha Joana uniu todas as características da mãe, é enfermeira de animais.
Demonstração de carinho pelo paciente canino.
Joana é chamada de branquinha, devido ao fato de sua pele ser bem clara. Menina capaz de cativar as pessoas que conhece, com o seu jeito meigo, extrovertido e educado de se relacionar. Essa 57
De família espírita kardecista, cuja religião estuda a caridade e o amor ao próximo. A jovem prova com atitudes que é capaz de fazer isso melhor do que ninguém. Sempre se preocupando em manter as unhas curtas para não machucar seus pacientes, mas nunca descuida de sua vaidade, pois ela sempre está bem arrumada e com as unhas bem feitas e pintadas.
um ano e meio ela exerce a função de enfermeira no atual pet shop onde trabalha. A jovem afirma, com orgulho, que faz o que ama, por puro prazer e satisfação, não visando o dinheiro. — Vou morrer pobre, mas feliz. Talita Dwyer (arquivo)
é Joana Angélica Oliveira, cursou técnica em veterinária no Colégio Tableau de Taubaté, tem vinte e quatro anos, sendo seis deles totalmente dedicados a esta profissão.
O seu sonho sempre foi fazer faculdade de veterinária. — Minha mãe falava que quando eu era criança, ela ia colocar a comida dos cachorros e eu ia atrás dela e ficava do lado os vendo comer. Mas ao concluir o ensino médio, Joana se deparou com uma triste realidade, que infelizmente, é a mesma que a de muitos da sua idade, sua família não tinha condições de pagar o curso. Foi aí que Dona Jamara resolveu dar um empurrãozinho e fazer aquilo que estava a seu alcance. Em um dia, que tinha tudo para ser apenas mais um na vida de Joana, sua mãe chegou em casa com um papel, que aparentava ser uma inscrição. — Minha mãe simplesmente me matriculou no curso sem que eu soubesse de nada. Dona Jamara, juntamente com a avó paterna de Joana, foram as responsáveis por pagar todo o estudo. Ela ficou extremamente feliz com a nova oportunidade, mas não esperava que viria mais por aí.
Joana recepcionando os pacientes na clínica onde trabalha.
Joana conta que já teve em casa, por volta de dez cães, mas perdeu a conta de quantos já passaram por sua vida. Todos fizeram história, mas sempre tem um que deixa saudades, e assim foi com Lili. Uma pinscher, que foi sua verdadeira amiga e grande paixão. Nesse momento, quando ela fala de Lili, é possível notar que o tom de voz diminuiu, o olhar acolhedor e alegre deu lugar a olhos tristes e inundados por lágrimas. Mantendo-se forte, a enfermeira continuou.
Logo que começou a estudar já conseguiu trabalho em uma clínica veterinária. Durante sua trajetória passou por três, e há quase
Lili não resistiu e morreu no parto, há cinco anos. Uma triste cesariana, mas que, por outro lado, trouxe a felicidade novamente para aquela casa. Foi desse lamentável episódio de sua vida
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Juliana Valim
que nasceu a Diny e a Lili. Não, não é coincidência, nem falta de criatividade. O nome da filhotinha é uma homenagem à sua mãe, classificada por Joana como guerreira.
Mas a casa não estaria completa se não morassem lá seus outros filhos, como ela mesma prefere defini-los. Um papagaio, uma tartaruga e dois saguis fazem companhia às três cadelinhas. Eles recebem todo o carinho e cuidados de Joana, que, por sua vez, é quem arca com toda a despesa deles. Com muito orgulho no semblante, Joana conta que não banca apenas as despesas de seus animais, mas também, sempre ajudou em casa. Filha de pais separados – desde quando ainda era criança –, a jovem aprendeu a ter responsabilidade logo cedo. Dona Jamara conta com a ajuda dedicada da filha e também de seu filho, Pedro Henrique. Uma vez que a caçula, Clara Maria de dezesseis anos, mora com uma tia.
Lembrança de Lili que Joana mantém na porta do guarda-roupa com uma dedicatória.
Hoje, ambas moram com Joana e contam com a companhia, nem sempre harmoniosa da Bionda. Uma viralata encontrada na rua, quando ainda filhote, que foi adotada por Joana e sua fiel escudeira, sua mãe. Bionda está com elas há pouco mais de dez anos. Tem um olhar carente, mas não que seja, pois carinho e atenção é o que não faltam. É doce, educada, alegre e feliz com nós, humanos. Mas deve sentir uma pontinha de ciúmes de suas irmãzinhas de quatro patas. Em um dia de mau humor, ou simplesmente em um ataque de ciúmes, Bionda se desentendeu com a pequena Diny, e o resultado foi que a pobrezinha perdeu o olho esquerdo e por pouco não ficou sem o outro também, salva por sua dona, Joana. Atualmente as irmãs pinscher ficam no quintal da casa, longe da Bionda, que fica na varanda. Evitando confusões e estresses entre elas. 60
O trabalho de Joana não acaba por aqui. Uma vez ou outra, a profissional é chamada para fazer plantões em clínicas veterinárias, essas que ficam abertas vinte e quatro horas. Joana não é capaz de recusar um chamado sequer, e já chegou a trabalhar vinte horas seguidas. Saiu de seu serviço fixo e foi direto para um desses plantões. O melhor é que ela está sempre feliz e satisfeita, não reclama de uma coisinha sequer, e nem mesmo de às vezes não ter um tempinho para dormir e descansar. Isso ainda não é o bastante para Joana. Além de tudo, ela faz o programa de hotel para cães em sua própria casa, sugerido pelo seu atual chefe. Funciona da seguinte maneira: ela fez alguns cartõezinhos que distribui para os clientes da clínica onde trabalha. Quando o proprietário do cachorro vai viajar e não pode levá-lo, basta acionar seu serviço. Quando o cão é de porte pequeno, ela leva para sua casa e coloca para dormir em seu próprio quarto, junto com ela. Ela consegue acolher, em média, três cachorros, sendo um em seu quarto, outro com sua mãe e, o último, na sala. Já quando o cachorro é de porte grande, é necessário que o dono deixe a chave da residência e ela vai até lá alimentá-lo e levá-lo para passear. Isso 61
Juliana Valim
requer confiança, e confiança é algo que Joana consegue transmitir sem dificuldade alguma.
Joana no segundo turno, cuidando de seu hóspede.
Esse é mais um de seus trabalhos realizados com amor, uma vez que a diária que ela cobra é um valor quase que simbólico, sendo bem inferior aos demais hotéis que oferecem esse serviço. O sonho ainda não acabou, e Joana não esconde seu desejo de fazer faculdade de veterinária. Mas sabe também que ainda não tem condições financeiras e já é capaz de se sentir feliz em fazer o que faz. Uma vez que experiência e dedicação não faltam em seu currículo. — Dizem que a única coisa que me falta é o CRMV (registro do Conselho Regional de Medicina Veterinária).
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Johny (arquivo)
~ ~ ´ ´ Cao pra la, cao pra ca
A
Juliana Valim
lém de esposa e mãe, Monique dividia seu tempo exercendo sua profissão de veterinária, empresária, criadora de cães e competidora com cães. Foi durante muito tempo, totalizando cerca de vinte anos, que Monique Rodrigues Cesário Silva conciliou todas essas funções muito bem. Mas hoje, a carioca que mora há vinte anos em Guaratinguetá, com o marido e a filha, deixou de lado algumas paixões por falta de tempo.
Monique, a renomada profissional.
Monique é formada em Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), é mestre pela Universidade de São Paulo (USP), tem especialização e MBA pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ainda administra e exerce sua formação em sua própria clínica veterinária. 65
Tudo foi acontecendo naturalmente em sua vida. Desde a infância ela já dizia que queria fazer faculdade de Veterinária e nunca pensou em seguir outra profissão. E foi exatamente assim que tudo aconteceu. Após algum tempo de casada, ainda vivendo no Rio de Janeiro, ela e o marido (também veterinário) se mudaram para Guaratinguetá e abriram a própria clínica. Hoje Monique vê que aquele medo de não dar certo que sentiu ao fazer a mudança repentina, não fazia sentido, uma vez que tudo deu tão certo que, atualmente, sua clínica é uma das mais conhecidas e respeitadas clínicas veterinárias da cidade.
— Não sei por que eu escolhi o boxer. Foi algo que simplesmente aconteceu. Acredito que tenha sido identificação. Talvez essa identificação possa ter vindo por meio das características da raça, ou melhor dizendo, o boxer é uma raça oriunda da Alemanha. São considerados eternas crianças, embora desconfiados e cautelosos com estranhos. Segundo estudos, o boxer é, em pensamento e atitudes, uma criança de três anos, sendo considerado então a companhia perfeita para famílias ativas, apesar da aparência de cão de guarda. Até mesmo por conta de sua profissão e amor pelos animais, a então criadora levava muito a sério essa atividade e sempre se preocupou em proporcionar os devidos cuidados tanto para os pais quanto para os filhotes. O sucesso de seus cães era tanto, que a Belle foi a estrela da capa no livro “Boxer”, de Márcio Infante Vieira, enquanto o Seth, Malu e África tiveram algumas fotos estampadas no miolo do livro. Juliana Valim
Monique Silva (arquivo)
Depois de algum tempo, mais precisamente em 1991, já com a vida estabilizada, a renomada e reconhecida veterinária decidiu criar cães, mais por hobbie do que pela questão financeira. Na época, o envolvimento com esse tipo de distração era tão grande que ela, até mesmo, importava e exportava seus cães para Argentina, Uruguai e Chile para reprodução e exposição. Afinal, quanto mais títulos um cão ganha, mais reconhecido e caro são os seus filhotes.
Monique criava apenas a raça boxer, e quando foi questionada o porquê de ter escolhido essa raça, ela não soube explicar e até gaguejou buscando uma resposta.
Uma das cadelas de Monique junto com a ninhada. Livro de Marcio Infante Vieira com Isabelle Decesario na capa.
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— Acredito que hoje é uma minoria que pratica essas criações ilegais. Se não for assim, prefiro acreditar que seja.
Monique Silva (arquivo)
Algum tempo depois em que Monique começou a criar cães, ela resolveu competir com seus boxers em concursos promovidos pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), no ano de 1997. Nome bem sugestivo, uma vez que segundo o dicionário, cinofilia significa forte interesse ou entusiasmo por cães. Já competiu no exterior e também já teve a chance de ver seus cães subindo no degrau mais alto do pódio e ser os primeiros no ranking.
agilidade do cão) entre outros. No final de cada concurso é definido o melhor cão de cada raça e em cada categoria. Ela participava das competições de beleza com seu boxer Blade, que hoje é um senhor já grisalho, mas com muita disposição. Monique Silva (arquivo)
Quando perguntada sobre criações ilegais, Monique mudou visivelmente o semblante e o humor, parecendo não gostar muito de falar nesse grupo de pessoas que não sabem lidar com essas ações.
Um boxer após uma cirurgia e Letícia, filha de Monique, dentro do canil.
A especialista conta que a preparação dos cães é bem rigorosa, uma vez que há profissionais especializados que cuidam dos competidores caninos, ensinando-os a sentar devidamente, andar, ter postura, além de proporcionar uma alimentação balanceada, dentre outros requisitos que são rigorosamente avaliados. Cães participando de competições e Mila Decesario sendo premiada.
A competidora nunca parou para pensar e já perdeu a conta de quantas vezes ganhou em competições.
Em 2010, a renomada mestre em reprodução animal optou por parar de participar de competições e logo no ano seguinte deixou de criar cães, tudo por conta da falta de tempo.
Nessas competições, são diversas as categorias divididas por raças, como por exemplo, utilidade, beleza, agility (avalia a
Atualmente, Monique tem seis cães, dois gatos e duas tartarugas. Isso sem contar alguns animais que ela adotou e que ficam abrigados em sua clínica, e outros que moram na chácara da família. São poucos animais quando comparado ao que já teve, tendo em vista que ela já contou com a companhia de vinte e cinco cães em sua casa, sendo que um deles tem o título de campeão
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— Eu tinha muitos troféus. Em um dia de limpeza total na minha casa, vi que eles estavam juntando muita poeira e ocupando muito espaço, então resolvi deixar apenas os mais bonitos.
Monique Silva (arquivo)
mundial.
Atual casal da raça boxer de Monique.
Todos profissionais de sua clínica adoram animais e trabalham com grande prazer. Aqueles que ficam responsáveis pela estética, ou seja, banho e tosa, têm curso especializado em estética canina, além de também ter cães em casa, sendo a maioria deles adotados. Monique conta que sempre gostou e ainda gosta muito de praticar essas atividades com seus cães, mas no momento, ela não pode nem pensar em voltar a criar e competir. — Sinto falta da criação e da competição, mas no momento retomar essas atividades é algo impensável.
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Juliana Valim
´ Uma Historia Boa Pra Cachorro
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Alessandra Lucci (arquivo)
ra uma tarde de março, quando Sandra Leandro passava pela Rodovia Presidente Dutra, na altura de Arujá e viu um tumulto ao redor de um buraco no chão. No local ela encontrou várias pessoas cavando, e ao se aproximar, o impacto foi forte ao ver vários filhotes sendo desenterrados pelos curiosos que ali estavam. Ela ajudou a tirá-los dali e levou o único sobrevivente para sua casa. Não se sabe quantos eram os filhotes e nem por quanto tempo eles ficaram naquela condição.
Sandra, o anjo que apareceu na vida de Tobias.
Sandra é uma pessoa que ajuda a ongs e às protetoras de animais. Além de morar em apartamento, ela faria uma viagem em breve, e não teria com quem deixar o sobrevivente, afinal, após ter passado por essa situação, ele precisaria de cuidados especiais, pelo menos, nos próximos dias. Então, ainda com terra no focinho, 73
Luisa Mel é uma referência nesses casos. Foi apresentadora de um programa especializado em animais de estimação – sobretudo cães. Dentre diversas atividades, promovia o resgate de animais sob maus tratos, encaminhando-os para a adoção. Hoje ela continua realizando esse trabalho, mas agora somente através das redes sociais e não mais pela televisão. Tobias – nome dado por Sandra – foi devidamente vacinado, vermifugado e examinado pela fiel escudeira de Sandra, a veterinária Dra. Tais Toma, que sempre cuida de todos os animais que Sandra resgata e leva para casa. A relação entre Sandra e Tobias era um tanto quanto intimista. Ambos dormiram abraçados durante quatorze dias lindos, denominados por Sandra.
do grande e bondoso coração, definido por Sandra, que comportava o amor que ele merecia. Alessandra Lucci Costa Krumenauer, trinta e sete anos, casada e mãe de dois filhos. Nascida em São Paulo, mudou-se para Taubaté com a família há trinta e quatro anos, quando ainda era criança. Formada há quatorze anos em Direito pela Universidade de Taubaté, exerceu a profissão em advocacia durante apenas cinco anos e viu que não era o que realmente gostava, então, prestou concurso público, foi aprovada e hoje é bancária. Pode-se dizer que ela também entende um pouco de veterinária, a partir da experiência adquirida no decorrer dos anos. Juliana Valim
o cão foi divulgado por Sandra em diversos sites sérios de adoção e inclusive na página da Luisa Mel em uma rede social, buscando um lar temporário ou definitivo, se possível.
Foi então que a história de Tobias começou a ganhar sentido. Alessandra viu a publicação na rede social, não pensou duas vezes e logo enviou um e-mail para Sandra. Elas conversaram por alguns dias, e após mais de mil e setecentos e-mails recebidos, inclusive de fora do Brasil, de várias pessoas interessadas no pequeno Tobias, Sandra não hesitou e, a partir de uma identificação recíproca, algo sem explicação (assim como Alessandra define a relação delas), resolveu que quem ficaria com o filhote, de apenas dois meses (estima-se que era essa a idade dele), seria Alessandra. O critério seletivo de Sandra foi muito sério e rigoroso, pois Tobias, além de qualquer beleza, é um cão de porte grande, haja visto que ele é filhote de fila brasileiro, e os gastos com alimentação correta e espaço físico é alta. O fator que a levou escolher Alessandra foi, dentre tantos, o tamanho da casa que comportava o cão, além 74
Tobias de olho na movimentação de sua nova casa.
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O nome Tobias tem origem bíblica cujo personagem tem muita compaixão e amor para dar, é capaz de passar a vida fazendo o bem para o próximo, chega até a se esquecer de si. Essas características descrevem bem como é o cachorro Tobias. Atualmente, ele recepciona todos que chegam à casa de Alessandra com muitos pulos e mordidas. Hoje é um cachorro saudável, alegre e não demonstra nenhuma sequela, ou problema de saúde e nem estético devido ter sido enterrado vivo, exceto no dia em que ele chegou, uma vez que era possível avistar algumas falhas em seu pelo devido o contato com a terra, mas já está recuperado disso. Alessandra define Tobias em apenas uma palavra: figura. Tendo em vista que ele remete a lembrança do famoso Marley, aquele labrador que fez sucesso nas telas dos cinemas em 2008, estrelando o filme americano “Marley e Eu”. Uma vez que ambos são bem arteiros e agitados, porém, cheios de amor para dar e muito dispostos a receber. Alessandra conta que nem sempre foi assim. Quem vê o Tobias hoje não acredita como ele era quando chegou a Taubaté.
tendo ficado cego dos dois olhos em consequência de uma catarata, Tobias não se intimida com essa limitação do colega e sempre brinca daquele seu jeito único: pulando e mordendo muito. Alessandra tem uma rotina para com Tobias. Às sete e meia da manhã ela acorda com os latidos dele, levanta, brinca, limpa o quintal, arruma a bagunça que ele fez, recolhe os brinquedos que ele espalha durante a madrugada, coloca comida e troca a água dele. Alessandra Lucci (arquivo)
Assim como combinado, no dia primeiro de abril aconteceu o esperado encontro. Sandra saiu bem cedo de São Paulo, e ainda no período da manhã já estava em Taubaté para entregar o novo integrante da família Krumenauer. Junto com o pequeno Tobias, ela deixou com Alessandra todos os pertences do cachorro: casinha, brinquedos e ração. Além do mais, se comprometeu a arcar com todos os gastos futuros com vacinas.
Tobias, mais que um cachorro, um membro da família.
Apesar de gostar muito de animais, Alessandra conta que tem trauma da raça cocker. Mesmo sendo uma raça de pequeno porte, com características doces e tendo simpatia por crianças, ela passou por uma situação que acabou ocasionando essa repulsa. Foi mordida por um cão dessa raça, quando adolescente, enquanto cuidava dele. Dali pra frente, nunca mais quis ter cocker spaniel.
E quem sofre com toda essa balbúrdia é o Lucky, o poodle de onze anos que é a diversão de Tobias. Mesmo o companheiro peludo
Desde criança, Alessandra sofre com asma e bronquite, ambas são doenças respiratórias. Após realizar diversos exames médicos, foi comprovado que ela não tem alergia a animais, mas de qualquer forma, sempre preferiu raças e animais com pelagem curta. Seus filhos também passam por isso, mas esse não é motivo o suficiente
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— Quando o Tobias chegou em casa ele era um anjinho, só dormia e não fazia bagunça nenhuma. Hoje ele é uma peste.
cumplicidade e companheirismo.
Juliana Valim
para fazer com que eles fiquem longe de Tobias.
Alessandra e Lucky, o poodle companheiro de Tobias.
Em sua casa há três gatos e dois cães, todos adotados. Isso sem contar os outros que ficam na chácara da família de seu marido. É impossível contar nos dedos quantos cachorros já passaram pela vida de Alessandra. Mas ela estima que já teve por volta de treze gatos e dez cachorros, deixando de fora dessa contagem os que viviam na casa de sua mãe e era ela mesma quem cuidava. Vale lembrar que todos os animais que ela teve foram pegos na rua, adotados e alguns até mesmo ganhos, afinal, todos já sabiam a pessoa certa para doar, uma vez que ela é incapaz de recusar um cãozinho sequer. — Desde criança, minha mãe me chama de “cachorreira”, por eu demonstrar essa forte ligação com os cães. Alê, como é chamada pelos familiares e mais íntimos, diz que o motivo que a faz gostar muito dos cães, especificamente, é por parecer que eles são sempre gratos e nunca nos viram as costas, mesmo depois de uma bronca. — Se fosse possível eles nos agradeceriam. Mas pensando por outro lado, eles agradecem sim, mas em forma de carinho, 78
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Thays Martinez (arquivo)
Olhos com Quatro Patas
J
á na recepção do edifício onde trabalha, todos o conhecem como “Marcelo do cachorro”. Marcelo Panico, quarenta e cinco anos, casado, uma filha, um enteado e dois cães. É um dos advogados da equipe de uma multinacional em São Paulo, onde nasceu e mora com a família. É formado em Administração, Advocacia e pós-graduado em Direito Tributário. Embora não pareça, Marcelo perdeu parte da visão quando tinha trinta e três anos. O fato aconteceu, literalmente, da noite para o dia. Foi quando ele acordou e percebeu que sua visão estava trêmula e muito embaçada. Procurou logo um oftalmologista para saber o que estava acontecendo, já não havia mais o que ser feito. Hoje Marcelo enxerga apenas vultos, assim como a maioria dos deficientes visuais. Nesse período de sua vida parou de trabalhar e deixou de lado sua vida social. Tudo isso por conta de uma doença genética que o deixará nessas condições. A causadora disso se chama degeneração macular, e é uma condição médica geral dos adultos mais velhos, que resulta em uma perda de visão no centro do campo visual (a mácula), devido a danos na retina, por isso sua deficiência não é perceptível. No caso dele, o problema foi antecipado, tendo em vista que normalmente, isso só acontece na fase idosa, foi aí que ele e toda a família tomaram conhecimento do diagnóstico, uma vez que ninguém sabia que ele tinha a doença. — Foi um luto de se fechar em casa no meu quarto. Eu pensei 83
Talita Camargo (arquivo)
que a vida tinha realmente acabado, afinal, nunca tinha convivido com algum portador de deficiência.
Passado esse trauma, Marcelo começou a usar livros e revistas digitais e acessíveis, além de outros produtos oferecidos pela instituição. Também usou a bengala para auxiliá-lo a desviar de obstáculos. Ficou com ela por cerca de três anos e, mesmo essa ferramenta dando certa liberdade, não era algo de que gostou e à qual se adaptou, além de defini-la como traumática, pois acaba afastando as pessoas, tendo em vista que elas se aproximam somente para ajudar a atravessar a rua e nada mais. — Não é nada agradável você sair na rua e bater nos pés das pessoas, pedir desculpas para sacos de lixo. Além do mais, a bengala marca muito a pessoa cega.
Marcelo utilizando um dos recursos ópticos.
Nesse período, ele sofreu muito, ficou durante três anos em luto (atitude normal entre as pessoas que passam por essa situação), não saía de casa e ficava pensando sempre no pior. Foi difícil lidar com isso tudo, tendo em vista que nunca, nem se quer, precisou usar óculos. Mas com a ajuda e o apoio de sua esposa, Maria, conheceu o Instituto Dorina Nowill, que está presente no Brasil há mais de setenta e cinco anos. Lá, é realizado um intenso trabalho para com os deficientes visuais. E foi assim que ele superou o ocorrido. Fez treinamento com recursos óticos, aulas de informática, reaprendeu atividades do dia a dia, como trocar de roupas, escovar os dentes e se alimentar, além de receber instruções sobre orientação e mobilidade. Teve que reaprender a fazer o que já sabia, mas de outra forma, além de se acostumar com sua nova condição e continuar fazendo suas atividades, sem que a ausência de visão o atrapalhasse. 84
Mesmo com duas graduações, teve dificuldade em conseguir ingressar novamente no mercado de trabalho, por isso teve que correr atrás de um novo emprego. O advogado afirma que não foi uma tarefa fácil. Após dois anos e meio, ele teve a oportunidade de começar tudo de novo, mas começar de baixo – assim como ele mesmo define –, como assistente administrativo e, aos poucos foi ganhando confiança e promoções, conseguindo seu espaço e provando que é um profissional competente, até chegar onde está hoje: há cinco anos é advogado de uma grande e reconhecida multinacional.
Harley Foi então, que em 2006, após convites feitos para participar de cursos e palestras sobre cães-guia, que ele decidiu entrar na fila para tentar ter um. Normalmente não é um processo simples e rápido, mas no caso de Marcelo foi diferente. Não se sabe se foi por sorte ou por acaso, mas ele ficou na fila de espera durante oito 85
Em 2007, ao saber que foi aprovado para ter um cão-guia, Marcelo precisou viajar para os Estados Unidos, com todas as despesas pagas pelo Instituto IRIS. Lá ele passou três meses de treinamento, para que pudesse aprender e compreender melhor a função de seu novo companheiro. Já o cachorro, passa por dois anos de treinamento para, enfim, estar apto a guiar um deficiente visual. No Brasil, há cerca de um milhão de deficientes visuais, e apenas oitenta cães-guia, para uma fila de espera de quatro mil pessoas. O custo para fazer de um cachorro um cão-guia é de R$25 a R$30 mil e, cabe ao usuário arcar com as despesas mensais com o cão, sendo elas, banho, ração e vacinas. Isso gera um custo de cerca de R$300 mensais. Harley é um labrador preto, norte-americano, tem oito anos e é de porte médio (tendo em vista que o tamanho e a agilidade dos cães devem ser compatíveis ao usuário). Os comandos são curtos e objetivos: “let’s go boy”, além de ser em inglês. Marcelo conta que no começo era um pouco complicado, por que ele não sentia a confiança necessária no cão. Mas após seis anos de convivência, ele afirma que não poderia existir companheiro melhor e mais leal, tendo em vista que Harley nunca o colocou em perigo.
limpa as orelhas e, também, escova os dentes. — O Harley me acompanha em qualquer lugar, então, é necessário higiene. Ele precisa estar sempre bem limpo e cheiroso. De segunda a sexta-feira eles repetem o mesmo percurso para ir trabalhar. É preciso tomar dois metrôs e um trem lotados, na hora do rush, para chegar ao trabalho. Mas Harley desempenha sua função com muita calma e equilíbrio, passando o máximo de segurança e confiança possível para Marcelo. Ao chegar ao escritório, Harley fica solto, sem seu equipamento de trabalho, passa pelas mesas de todos os companheiros de trabalho, cheira e brinca com todos, mas nunca fica muito tempo longe de Marcelo, e logo retoma sua posição e, mesmo não estando a trabalho, se deita em baixo da mesa de seu guiado. — O cão dá liberdade, independência e, principalmente, ajuda na inclusão social. Muitas pessoas me param na rua para conversar sobre ele. Priscila Silva (arquivo)
meses, o que é considerado um tempo curto quando comparado à média de espera.
— Quando eu comecei a entender sua importância em tudo, percebi o grande poder social dele. Mesmo com as leis existentes, Marcelo já passou por diversas situações constrangedoras por ser barrado em determinados estabelecimentos. Ele classifica essas pessoas como desinformadas. Todas as manhãs, antes mesmo de tomar banho e se trocar, ele repete um processo de higienização em seu cão. Escova o pelo, 86
Carinho e cumplicidade entre cão e dono.
Hoje, Harley é o seu maior e mais leal companheiro. Levando-o 87
— Nunca me senti ameaçado ou em perigo na companhia dele. Ele me ajuda barbaridade, é algo sensacional. Com certeza o Harley mudou a minha vida! Mas a vida desse e de qualquer outro cão que guia não é só trabalho, muito pelo contrário, Harley conta com a companhia diária e harmoniosa de Snow, o maltês que também vive na casa da família Panico, há dez anos. Ambos precisaram passar por um treinamento para que convivessem bem e sem brigas. Atualmente, quando Marcelo tira o equipamento de trabalho de Harley, ele volta a se comportar como um legítimo labrador, muito brincalhão, o que é característica marcante da raça. Toda a família adora o cão. Marcelo conta que aonde eles vão sempre se lembram de comprar um presentinho para Harley, e afirma: — Ele é o xodó da casa.
continua apto a guiar o deficiente. Normalmente, o tempo de trabalho de um cão-guia é de oito a dez anos, mas cabe um acordo entre usuário e entidade para definir qual será o destino do cão. Marcelo não concorda em descartálo como se ele fosse um objeto e afirma que, quando Harley se aposentar, a cerca de três anos, quer ficar com ele até o final de sua vida, pois visa uma velhice calma para o cão e com tudo o que ele merece, em forma de retribuir toda a dedicação para com ele, isso sem contar o afeto que existe entre ambos. Além do mais, assim que o cão se aposentar, Marcelo pensa em adquirir outro companheiro, e nem cogita a hipótese de voltar a usar uma bengala. — Quando um deficiente deixa um cão-guia para voltar a usar bengala, ele está dando vários passos para trás. Fernanda Ferreira (arquivo)
a qualquer lugar, tirando-o dos perigos e fazendo companhia no trabalho, na rua e em qualquer que seja o local que Marcelo precise ir ou estar.
Harley é capaz de diferenciar os momentos que está a trabalho das horas vagas. Quando está com seu equipamento de guia ele fica focado e atento a obstáculos no chão e no espaço em torno, mas, ao tirar este equipamento, ele não nega um carinho e uma brincadeira, principalmente quando está na companhia de toda a família. Em 2011, Marcelo se tornou membro voluntário do Instituto IRIS (Responsabilidade e Inclusão Social), pois queria retribuir, de alguma forma, sua gratidão por conseguir ter um cão-guia. Uma vez por ano, um treinador e um veterinário da entidade faz uma visita a todos os deficientes que possuem um cão-guia, verifica as condições físicas dos cães (se estão bem cuidados), a saúde, além de dar uma volta na rua para ter a certeza de que ele 88
Marcelo acompanhado por Harley em uma de suas palestras.
É fácil encontrar Marcelo com um sorriso no rosto e esbanjando simpatia. Por onde passa as pessoas o cumprimentam, conversam, nem que seja rápido, até por conta da vida corrida da capital. Por diversas vezes ele foi e ainda é convidado para dar 89
algumas palestras, além do mais, já concedeu diversas entrevistas para jornais, revistas e grandes emissoras de televisão, sendo assim, conhecido e reconhecido nesse meio. E para quem duvida que os deficientes visuais podem levar uma vida independente e feliz, ele deixa seu recado e experiência. — Não duvide da capacidade do ser humano em se superar. Eu achei que minha vida tinha acabado. Mas estou aqui para provar que muita coisa há para ser feita, mesmo sem enxergar.
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Bianca Brasil (arquivo)
Cachorros Online “
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udo sobre cachorros” ficou em segundo lugar da categoria Bichos e Animais, escolhido pelo júri acadêmico do Prêmio TopBlog 2012, uma premiação que já acontece no Brasil há quatro anos.
tudosobrecachorros.com.br
Foi após Halina realizar a inscrição, despretensiosa, nesse concurso, que o site passou pela primeira etapa, ficando entre os duzentos melhores, o que, posteriormente, resultou em ser um dos finalistas.
Site Tudo Para Cachorros.
Essa notícia a pegou de surpresa. Uma carioca que teve a iniciativa de, no primeiro momento, fazer um site que explicasse tudo sobre a raça pug – que até então era a sua preferida. A ideia foi colocada em prática em 2010, mais especificamente no dia primeiro de outubro. Mas com o passar do tempo, a jovem se deu conta da necessidade em abordar temas de todo o universo canino. E assim ela fez. Vendo que as pessoas tinham pouca informação sobre cães e querendo ajudá-las, para que possam ser melhores donos 93
Bianca Brasil (arquivo)
A fundadora do site dedica este prêmio a todas as pessoas apaixonadas por cães e que frequentam suas páginas. E ainda classifica esse prêmio como um reconhecimento de muito trabalho e dedicação. Garante ainda que, neste ano de 2013, irá concorrer novamente, mas dessa vez para ganhar.
Bianca Brasil (arquivo)
e, consequentemente, fazerem seus cães mais felizes, ela resolveu criar o “Tudo Sobre Cachorros”.
Amor para dar e receber.
Aos quatro anos de idade, a atual publicitária já dava indícios de seu amor pelos cães. Foi então que seu pai resolveu presenteá-la com uma enciclopédia. Foi sua primeira, mas antes mesmo desse presente, a garota de forte personalidade já se interessava por livros, álbuns de figurinha, gibis e tudo mais que falasse desse tão adorado universo canino. Halina passeando com Pandora.
Halina Medina é uma jovem de vinte e nove anos, formada há quatro anos em Publicidade e Propaganda pela Universidade Estácio de Sá. Nasceu no Rio de Janeiro e hoje mora em São Paulo com sua paixão: uma cadelinha da raça buldogue francês, a Pandora. Sua fiel escudeira está sempre ansiosa à sua espera quando ela chega do trabalho. Pronta para dar e receber muito carinho.
— Eu era capaz de nomear todas as raças de cães antes mesmo de aprender a somar.
Halina é a fundadora/CEO do site “Tudo para cachorros” e é também o orgulho da família.
Na infância não teve cachorros em casa, uma vez que sua mãe permitia ter, no máximo, peixes e tartarugas. Então, foi só no início da adolescência, aos treze anos, que a garota teve a chance de ter seu primeiro cão. Ao se mudar para uma casa mais ampla, Halina logo providenciou uma labradora, que atendia pelo nome de Preta, e foi quem passou a fazer companhia a ela pelos próximos onze anos. Daí em diante a carioca não ficou mais longe dos cachorros. No decorrer de seus vinte e nove anos já passaram por sua vida
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trabalha. Desde os quatorze anos a jovem já criava sites.
Sagitariana e questionadora, ela não consegue acreditar no que a maioria das pessoas acredita, quando se trata de religião. Mesmo vinda de família católica (não praticante), já faz algum tempo que ela optou em seguir o caminho do ateísmo. No site “Tudo sobre cachorros” é possível perceber sua preocupação em proporcionar uma vida de qualidade para os cães, além de ter como maior objetivo ensinar os donos, para que assim os cães possam ter uma vida mais saudável e feliz.
O seu atual e principal site atualmente não conta com patrocinadores fixos. Halina vende alguns artigos patrocinados e banners isoladamente. Ela não vê seu site como uma fonte de renda, mas sim como um exercício do que gosta, unindo duas paixões: cachorros e marketing digital.
Bianca Brasil (arquivo)
cerca de quatro amigos e grandes companheiros de quatro patas.
Halina tem outras páginas disponíveis na internet. Além do site “Tudo sobre cachorros”, há ainda duas fanpage no facebook, uma é do próprio site e a outra, que leva o nome “Meu namorado” é uma de suas criações mais voltadas para o público feminino teen. Ela conta que foi uma forma divertida que encontrou para ajudar as garotas a se declararem para seus namorados. Com isso, Halina sente que está fazendo sua parte, ajudando no que pode e exercendo o que gosta. — O site “Tudo sobre cachorros” não tem notícias. Ele foi feito para ser uma enciclopédia digital. Alguns artigos publicados no site são frutos da colaboração de especialistas como veterinários e adestradores. Mas a maioria das informações lá disponibilizadas é de autoria da própria fundadora, que faz grandes pesquisas em diversos sites renomados, americanos e europeus.
Pose para uma foto durante um passeio de domingo.
— Meu objetivo é transformar as pessoas em donos melhores, e assim os cães serão mais felizes. É para isso que o site existe. Qualquer outra coisa é consequência.
Muito além de todo esse trabalho, Halina ainda se preocupa em divulgar em seu site alguns cachorros que estão disponíveis para adoção. Ampliando ainda mais sua função e alcançando seu objetivo.
Além de cães, a publicitária ainda tem outra paixão que é o marketing digital. Categoria na qual ela sempre trabalhou e ainda 96
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Revista Ponte AĂŠrea, Lalo de Almeida
´ Companheiros Inseparaveis
B
acharel em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), foi professor de História e Legislação dos Meios de Comunicação da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e da Escola de Comunicação e Artes da USP. Lecionou também na Universidade de Taubaté (Unitau), na Universidade Católica de Santos, Faculdade de Artes Santa Cecília em Pindamonhangaba e na Escola Superior de Jornalismo do Porto, em Portugal. Esse é Antonio Fernando Costella, nascido em São Paulo, mais especificamente no dia vinte e nove de março de 1943. Desde a adolescência já se encantava por Campos do Jordão, quando visitava a cidade com seus pais. Mas foi só em 1977 que, enfim, comprou uma casa na Serra da Mantiqueira. Costella exerceu várias funções públicas. Dentre tantas atividades, foi também um dos fundadores da Academia de Letras de Campos do Jordão e é o fundador do museu Casa da Xilogravura e Editora Mantiqueira, também localizados em Campos do Jordão. Durante o tempo que trabalhou em sua área de formação, Costella atuou como procurador da prefeitura de sua cidade natal, São Paulo, e também advogou, porém, como não gostava de exercer essa função, optou por abandonar a profissão, mesmo sabendo que sua renda diminuiria para menos da metade. — Ninguém vai atrás de um advogado quando está tudo bem e feliz. As pessoas só procuram um quando está com algum problema. Tinha cansado disso. Foi ai que o professor Antonio Costella passou a intensificar o 101
Muitos ficam na dúvida quanto a sua formação, mas mesmo escrevendo livros ligados ao Jornalismo e em alguns casos dando aulas de História do Jornalismo e em Universidades de Comunicação Social, ele não é formado em Comunicação, mas sim, somente em Direito, como já dito anteriormente. O renomado professor tem em média vinte e seis livros publicados, tendo uma ampla diversidade quando se trata de temas de abordagem. Comunicação, arte, viagens, animais, ficção, poesia, entre outros são os assuntos que ele escolheu para registrar em suas publicações. Ele conta que a editora Mantiqueira nunca deu lucro, mas a exceção ocorreu após o lançamento do livro “Patas na Europa”, inspirado no cachorro Chiquinho.
Chiquinho Aparentemente, era um cachorro simples, mas não para Costella. Como característica da raça vira-lata, ele era de porte grande e sua cor era mais para o marrom. Mas não era exatamente assim que o escritor e advogado via seu cão. Muito além de um relacionamento entre cão e dono, tratava-se de um sentimento que envolvia um imenso carinho e companheirismo. Quando ele começa a falar sobre seu cão, é notória a mudança no tom da conversa, ele fica mais leve, entusiasmado e deixa escapar aquele ar de saudade. 102
A história do Chiquinho começou quando uma cadela de rua que o professor ajudava a cuidar ficou prenha e resolveu dar cria em sua própria casa, onde hoje é o Museu de Xilogravura. Ao perceber que dentre os filhotes havia um mais esperto que os demais, Costella decidiu que ficaria com ele, e os demais distribuiria a interessados. Chiquinho nasceu dia quatro de outubro de 1980 e faleceu dia treze de abril de 1995. Ele recebeu o nome de Chiquinho, em homenagem a São Francisco de Assis, protetor dos animais. Tudo isso minuciosamente pensado pelo seu dono. Chiquinho, por sua vez, tem sua foto estampada como logotipo da editora, além de ter sido sepultado no jardim da editora, com túmulo construído pelo próprio dono. A relação entre eles era normal, sem que houvesse exageros entre dono e cão. Isso com exceção de quando Costella precisava realizar algumas viagens. Nesses períodos de ausência, Chiquinho não comia a ração que o caseiro colocava para ele, ficava triste, saía de casa e só voltava quando seu dono também retornava. Foi quando o professor recebeu o convite para dar aula na Escola Superior do Porto, em Portugal, que a história de viagens entre os dois começou. Suzi Costella (arquivo)
exercício de professor e a se dedicar mais naquilo que ele realmente gostava: artes plásticas e escrever livros.
Companheiros de viagem.
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Quando retornaram ao Brasil, esse fato acabou gerando uma série de livros escritos por Costella, recordando o comportamento do Chiquinho na viagem. As coisas foram se aglutinando e misturando. Foram quatro edições: “Patas na Europa”, “Patas 2 – A Viagem Continua”, “Patas 3 – Ossos de Pizza” e “Patas 4 – Odisseia final”. Hoje há uma edição mais atual, publicada pela Editora Ediouro, que uniu os quatro livros em apenas um. Mas ainda é possível encontrar alguns livros da primeira edição no museu. Juliana Valim
Gabrielle Oliveira
— Escrevi os livros em que o cão Chiquinho foi o narrador levado pelas circunstâncias: a viagem, a observação das reações dele, a paixão pela História que me impulsionava a descrever os lugares históricos da viagem, etc. Já os demais livros que falam de cachorros resultaram de pesquisas específicas, mas o Chiquinho representou sempre um estímulo para o autor pesquisar a respeito de animais. Esse, sim, alavancou e foi o grande estopim da Editora Mantiqueira. A partir daí ela passou a dar lucros. Tudo graças ao cão. Logotipo desenho Leornado Baptistão
Antes de viajar, Antonio Costella foi até o veterinário de costume, a fim de pedir um auxílio. O mesmo orientou que, se Chiquinho ficasse no Brasil certamente morreria. Foi aí que tiveram início as viagens e aventuras de Chiquinho pela Europa. Então foi dada a largada. Começou a correria atrás dos papéis e autorizações para que o cão pudesse acompanhar seu dono durante a viagem. Foram bastante burocráticas as etapas até chegar a um aval que autorizava a ida de Chiquinho com seu dono.
O logotipo da editora leva a foto de Chiquinho.
Quando Costella lançou o livro, foi publicada uma matéria sobre seu lançamento no Jornal Folha de S. Paulo, e também recebeu o convite para participar do Programa do Jô, juntamente com o Chiquinho, a fim de contar sobre essa viagem, que acabou se tornando uma aventura única na vida dos dois.
Primeira e Segunda edição do livro de Costella.
O professor uniu nessa obra, uma necessidade pessoal de viajar, devido a seus compromissos acadêmicos e por turismo, com a prestação de serviço à sociedade. Com certeza quem leu, além de gostar muito, tem afinidade com o tema abordado. 104
Costella conta que quando era criança sempre gostou muito da natureza e de cachorros. Mas nunca teve um cão por muito tempo e acabava dando para alguém cuidar. Pode-se dizer que o Chiquinho foi realmente um marco. — O Chiquinho mudou muito a minha vida. O professor afirma que Chiquinho sempre foi independente e 105
nunca gostou muito de carinho, exceto nos momentos em que ele pedia, mas nem eram tão frequentes e duradouros, porém, depois da viagem ele acabou ficando muito dependente do dono além de manhoso.
Talvez Costella não saiba, tão precisamente, o número de artigos escritos, ou entrevistas dadas, mas quando perguntado sobre a idade de Chiquinho, o professor não precisou pensar muito e logo respondeu com precisão.
Francisco C. Inácio (arquivo)
— Chiquinho viveu durante quatorze anos, seis meses e nove dias. Mesmo passando por um problema grave no estômago, foi devidamente tratado e curado, sendo a idade avançada, o motivo pelo seu falecimento. Pudera, Chiquinho foi forte e viveu durante bastante tempo, pode-se dizer que foram anos bem vividos, com muitas histórias e passeios.
Quando questionado se errou em algo na educação de Chiquinho, com firmeza ele respondeu que sim. Errou em fazê-lo ter uma vida que não era de cachorro, ou seja, sujeitando-o a longas viagens. Mas acredita que foi tudo por um motivo maior: o apego que ambos tinham um com o outro, e acabou sendo inevitável ter tomado essa decisão. Na visão do professor, ele pensa ter tido atitudes normais e não ter cometido nenhuma loucura com seu amigo de estimação. 106
Leda Campestrin Costella (arquivo)
Quando ia dar aula na Unitau, Chiquinho ficava esperando dentro do carro, no estacionamento da faculdade. Os alunos e professores que por ali passavam sempre acariciavam e brincavam com o cão através da fresta de vidro que era deixada aberta propositalmente. Perante outros profissionais da Universidade, Costella era mais conhecido como “o professor do cachorro” do que, até mesmo, por seu vasto currículo.
Juliana Valim
Costella e Chiquinho em entrevista com Jô Soares.
Costella construindo o túmulo de Chiquinho.
Atualmente o professor se dedica a escrever livros e, principalmente, cuidar do museu, além de cuidar de seus novos amigos e companheiros. — Hoje eu tenho quatro cachorros e meio. Dentre seus atuais companheiros apenas um é de raça, porém, todos foram adotados da rua e devidamente castrados, tanto a dálmata Giuli quanto o Marvrus, Bia (deriva de Biafra) e o Piêr. Ele explica que o ‘meio’ a que ele se refere, diz respeito ao Negão, um 107
e proprietário do único museu de Xilogravura do Vale do Paraíba, além de destinar um tempo para seus compromissos com aqueles que dependem dele: os cães. Juliana Valim
Juliana Valim
cachorro de rua cuidado por toda a vizinhança, mas principalmente, por Costella, uma vez que ele sempre fica na porta do museu, onde se encontra na porta de entrada uma vasilha de água e de ração para ele. Além do mais, ele tem um lugarzinho todo aconchegante na casa do professor para passar as noites frias na serra.
Antonio Costella rodeado por seus atuais companheiros.
Costella com o cachorro de rua adotado por ele.
Costella não mudou muito seus hábitos, e por duas vezes interrompeu a entrevista por conta de latidos incansáveis que vinham de sua casa, localizada em frente à Casa da Xilogravura. Quando retomou a conversa, explicou que era uma de suas cadelas, e despreocupadamente afirmou:
Costella acredita que a convivência com cachorros melhora o ser humano. — No mínimo ele descobre que somos todos, os seres vivos, resultado de um mesmo projeto criativo. Não há porque nos julgarmos diferentes e superiores aos demais. Os animas além de fazer companhia, oferecem amizade sincera e são fonte de contínuo aprendizado.
— Caso Bia tenha se metido em alguma confusão, já deve ter se safado, porque parou de latir. O costume de cuidar bem de seus cachorros não mudou muito. Todos os dias, durante o café da manhã, Costella dá pão com manteiga para todos, além de brincar com eles. Isso sem contar que ele sempre separa uma determinada quantia do almoço para incrementar a ração deles e tornar ainda mais prazeroso o momento da refeição. Ele é proprietário de uma editora, um artista plástico, curador 108
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A Humanizacao dos Caes ~
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epois de várias histórias comoventes, tristes e felizes, envolvendo os adoráveis cães, agora a abordagem será um tanto quanto diferente. São tantos os assuntos que envolvem esse universo e muitas pessoas ainda desconhecem. Com base em diversas pesquisas e matérias publicadas pela mídia, elaboramos um capítulo que, além de tirar algumas dúvidas e expor curiosidades, mostra dados surpreendentes. Não pense que seu cão é um ser humano... Ao passar dos anos, os cães vêm conquistando mais e mais os nossos corações, e esse fato está nítido, tanto no comportamento das pessoas como expostos nos jornais, revistas, sites e blogs. Mas o surpreendente é o fato de algumas pessoas ainda os abandonar, maltratar, ou simplesmente, não cuidar devidamente deles. Algumas vezes, isso pode até passar despercebido, mas há leis que punem esses atos de extrema covardia. Ao contrário disso, há quem queira expor tanto seu afeto, que acaba atrapalhando o desenvolvimento de seus cães, além de humanizar sua criação e rotina. Com isso, o mercado aproveita a oportunidade e não deixa os pets de fora das novidades, estão sempre inovando. Um exemplo disso são as certidões para animais de estimação. Esses registros variam desde o nascimento a batismo, casamento e óbito e, se necessário, ainda há um auxílio para o dono nomear um tutor para o animal em seu testamento. Desde o início desse trabalho, em 2010, já foram produzidas mais de três mil certidões, cujo custo é cerca de R$ 150 cada, chegam via correio e no nome do próprio animal de estimação. Enfim, o universo canino é muito amplo, por isso neste 113
capítulo, serão abordados alguns dos principais assuntos que dizem respeito a cães, além de algumas dicas e curiosidade.
Posse responsável
Os cachorros também são seres vivos, e assim como nós, sentem fome, frio, sede, medo, tristeza, alegria, saudade, dor, fazem suas necessidades, latem, ficam doente, pulam nos móveis, fazem buracos no jardim e, quando filhote, vão arranhar, morder e comer seus sapatos, sofás, tapetes, entre outras coisas. Às vezes, as pessoas, impulsionadas pelas circunstâncias, acabam comprando cachorros em feiras e pet shop, e isso faz com que muitos animais sejam abandonados nas ruas, aumentando ainda mais o problema do abandono. A posse responsável começa na adoção, não na compra de animais. Eles não são descartáveis, têm algumas necessidades, assim como nós. Normalmente, aos sábados, a maioria das cidades brasileiras promovem feiras de adoção, disponibilizando animais saudáveis, devidamente vacinados e vermifugados, castrados e carentes. Quando você decide ter um cão, está assumindo uma responsabilidade pela vida dele pelos próximos dez ou quinze anos, dependendo do porte e/ou da raça. Por isso, antes de qualquer decisão, analise as circunstâncias: se você trabalha fora o dia todo, para que possa providenciar que ele tenha companhia de uma pessoa ou de outro cão. O ideal é ter sempre mais de um cachorro, pois um faz companhia para o outro. Já nos períodos de férias ou feriados, caso não possa levá-lo, não o abandone na rua. Procure deixá-lo sob a guarda de uma pessoa de sua confiança e que ele tenha intimidade, para conforto de todos. 114
Cuidado com as leis
A cidade de São Paulo recebe cerca de duas denúncias por dia relacionadas a cães que sofrem maus-tratos. Esse número é considerado alto. Abandonar animal é um ato cruel e covarde, além de ser crime previsto no artigo 32, capítulo V da Lei Federal 9.605/98, com pena de detenção de três a doze meses (aumentada de um sexto a um terço se ocorrer morte do animal) e multa a todos aqueles que: “Praticar ato de abuso e maus-tratos a animais domésticos, silvestres, nativos ou exóticos.” No ano passado, em fevereiro de 2012, teve início o trabalho do Grupo Especial de Combate aos crimes Ambientais e de Parcelamento Irregular do Solo (Gecap). Esse órgão do Ministério Público busca padronizar a atuação na área ambiental e delega a investigação dos casos a promotores de Justiça especializados. Até julho deste ano, o grupo já recebeu mais de mil denúncias de maus-tratos, sendo que cerca de seiscentas delas viraram inquéritos policiais e aproximadamente duzentas resultaram em condenações. O órgão conseguiu ainda, que o pagamento das penas dos réus condenados fosse direcionado a instituições da área animal. Em sua maioria, são pagos pacotes de ração equivalentes a um salário mínimo. Atualmente, algumas autoridades estaduais, ou até mesmo das cidades, já começaram a tomar algumas providências (como a criação de Projetos de Leis e Requerimentos) para ajudar a combater alguns problemas. Um exemplo disso é a criação de hospital veterinário público e a castração de fêmeas abandonas nas ruas. 115
Bem-estar animal
Ter um cão em casa não é uma tarefa fácil, mas com amor e dedicação as dificuldades acabam sendo reduzidas. É necessário que se tenha responsabilidade e bom senso, para que todos sejam felizes e saudáveis. Normalmente, as cláusulas na convenção de condomínio dizem que animais só são permitidos após votação dos moradores em uma assembléia. Porém, atualmente, isso funciona apenas na teoria, pois se o cão é de pequeno porte e não atrapalha o sossego dos vizinhos e a segurança de ninguém, não há porque barrar a presença deles. Por isso, pesquise as características da raça antes de optar em tem um cão. Um dos métodos que pode ajudar a evitar o abandono, o sofrimento, além de diversas doenças é a castração. Ela pode ser feita já a partir do segundo mês de idade, ou com peso acima de 400gr. É indicada também para animais já adultos, garantindo uma vida bastante saudável para os animais e mais tranquila para os donos. Essa é a única medida definitiva no controle da procriação e não tem contraindicações. São várias as vantagens quando se realiza a castração, dentre elas a diminuição do risco de doenças, evita ainda a gravidez psicológica, a perpetuação de doenças geneticamente transmissíveis e hábitos inconvenientes como demarcação de território. Muitos ainda acreditam que a castração deixa o animal gordo. Isso é mito. O cão pode engordar sim, mas em consequência da diminuição de suas atividades físicas. A castração pode causar aumento de apetite, mas, se a ingestão de alimentos for controlada e o dono não ceder às vontades do animal, o peso será mantido. O macho castrado ainda mantém interesse pela fêmea e pode 116
até cruzar, mas não haverá fecundação. Ele não perde o instinto de proteger seu território, e acaba ficando ainda mais caseiro. Ao contrário do que alguns dizem, ter uma cria não acrescenta nada à saúde do animal. Alguns profissionais indicam que, quanto mais cedo realizar a castração, tornam-se menores as chances de a fêmea desenvolve câncer.
Adotar! Pense nisso
Já ouviu dizer que adotar é tudo de bom? Sim, mas de qualquer forma há que se analisar alguns critérios antes mesmo de tomar qualquer decisão. Embora os filhotes sejam muito divertidos e fofinhos, por que não adotar um cão já adulto? Caso você não tenha tempo ou paciência para criar um filhote, procure adotar um animal já adulto. Estes trazem diversos benefícios como o fato de aprenderem mais rápido, terem gratidão eterna, não crescem mais, são mais calmos, além do mais, você já conhece o seu temperamento. Apenas pelo fato de um cachorro não ser mais jovem não significa que ele não tenha um mundo de coisas para oferecer a você. Um animal de rua adulto pode ser adestrado e adaptado a ser uma admirável e fiel companhia. Sim, você pode ensinar novos truques a um animal de idade. Você tem raça? A maioria dos cães para adoção também não. Mesmo que seja raivoso, já foi descoberta a vacina. Mas para a raiva humana, ainda não existe nenhuma medicação.
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Relação dono x cão
O filósofo americano Henry David Thoreau, morreu em 1862, mas deixou seu pensamento “Com frequência, um homem é mais próximo de um gato ou de um cachorro do que de qualquer outro ser humano.” E, atualmente, isso faz todo o sentido. Os animais tornam-se parte da família, essa promoção social aconteceu há poucas décadas. Goste-se ou não, a elevação do status dos animais a integrantes da família está aí. Se hoje existem empresas que vendem comida congelada para cães, na década de 1970, quando a primeira marca de ração chegou ao Brasil, a novidade não foi bem recebida. As donas de casa estavam acostumadas a alimentar os bichos de estimação com restos de almoço e/ou janta, o que saía bem mais em conta que a opção industrializada. Naquela época, lugar de bicho era no quintal. No final dos anos 1990, dentre tantos fatores, incluindo o aumento da renda da família brasileira e a mudança cultural, que trouxe os pets para a sala dos apartamentos e para a cama de seus donos, essa proximidade física acabou gerando também proximidade emocional. Os animais não podem nos contrariar, não dizem que estamos errados e nem nos dão as costas e reviram os olhos em sinal de irritação. Talvez, esse seja um dos motivos de muitos gostarem deles. Geralmente, os donos de animais domésticos estão em boa forma, têm mais autoestima, são mais extrovertidos e menos estressados. Para que haja uma boa relação entre o dono e o cão não é necessário dinheiro, mas sim, amor, dedicação e carinho, afinal, 118
grande parte dos moradores de rua têm cães, porém não têm condições de dar uma vida confortável a seus companheiros, mas ninguém pode duvidar que eles vivem felizes juntos. Além do mais, a relação entre ambos deve ser saudável e harmoniosa, uma vez que não existem cães e/ou raças ferozes e violentas, tudo depende de como o cachorro é criado.
Como dizer adeus
A eutanásia em animais domésticos tem se tornado necessária e frequente porque a expectativa de vida deles hoje é maior que no passado. Antigamente, era raro um cãozinho viver tempo o suficiente para sua velhice se tornar um problema. Hoje isso é muito comum. Os avanços na medicina veterinária verificados na última década, permitem que os animais domésticos tenham uma longevidade inédita na história. Alguns cães podem chegar até aos dezoito anos. Isso é o dobro da média dos anos 80. O lado negativo é o surgimento de doenças próprias da idade avançada, como insuficiência renal, problemas cardíacos e câncer. A aplicação frequente da eutanásia a cães fez com que, no ano passado, o Conselho Federal de Medicina Veterinária emitisse uma resolução complementar ao seu código de ética tratando do assunto. Foram classificados como inaceitáveis os métodos de eutanásia tradicionais, como submeter o animal a horas de aspiração de vapores de éter, o que lhe causa dores nos pulmões. A resolução recomendada é com os métodos indolores, hoje o procedimento mais realizado pelos veterinários. Os anestésicos são os mesmos usados em cirurgias, mas injetados em doses maiores. Quando o animal apaga, injeta-se cloreto de potássio para estimular 119
o coração a parar de funcionar. O animal não sente nada e morre de parada cardiorrespiratória entre 15 e 30 minutos após a aplicação do anestésico. O custo deste procedimento depende do porte do animal, variando de R$ 300 a R$ 600 reais. Quem, mesmo aconselhado pelos veterinários a realizar a eutanásia, preferir não sacrificar o amiguinho, deve se preparar para manter em casa um animal que requer tratamentos semelhantes aos utilizados em humanos, inclusive no preço cobrado por eles. A evolução na equivalência da idade de um cão ao de um humano é: a expectativa de vida nos anos 80 era de nove anos, o equivalente a setenta anos humano; nos anos 90, passou para doze anos, referente a oitenta anos humano e hoje, a expectativa é de dezoito anos canino para noventa e cinco anos humano.
Economia canina
A oferta de produtos e serviços para os bichos de estimação é mais um indício de amor desmedido: há de padaria a manicure especializada, num mercado que movimenta cerca de R$ 12,5 bilhões por ano no país. Estima-se que os brasileiros, donos de 101 milhões de animais domésticos, gastem R$ 400 mensais em cuidados com eles. Para a medicina, já podemos contar com a opção de UTI humanizada, cuja diária custa a partir de R$ 900. Lá os donos podem se internar com seus bichos. Com isso, o hospital tenta diminuir o estresse pela separação. O objetivo não é dar conforto físico aos humanos, mas sim, garantir o conforto psicológico dos bichos. No Vale do Paraíba, R$ 100 é o preço médio de uma consulta em um especialista, isso sem contar os exames clínicos. Mas ainda é novo o costume de levar os animais aos médicos especializados. 120
Há quem diga que a afeição pelos animais é proporcional ao dinheiro que se tem para gastar no cuidado com eles, mas essa afirmação é desmentida pelas filas na porta do primeiro hospital veterinário público do país, localizado no bairro do Tatuapé em São Paulo. O tratamento humanizado que tem sido dado aos animais de estimação, principalmente aos cães, tem sido alvo de críticas por parte da sociedade que vê, no comportamento dos proprietários dos animais, algo estranho. Em grandes cidades há creches para cães, banho de ofurô, passeio em shopping center além de salões de beleza, roupas de grife e transporte em perua escolar. Enquanto os cuidados com os animais para algumas pessoas se limita ao resto de comida em vez de ração, à vacina anual e ao banho eventual, a lista de pessoas que se preocupam com a saúde por completo aumenta a cada dia. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2012, os brasileiros gastaram R$ 5,92 bilhões com bichos de estimação. As mudanças nos cuidados têm refletido na expectativa de vida do animal, que hoje vive três anos a mais do que há quinze anos. Muitas doenças, principalmente as cardíacas, passaram a ser vistas com maior frequência justamente por causa do aumento da expectativa de vida. O recomendado é realizar, pelo menos, um check up anual. No animal, muitas patologias começam de maneira silenciosa, e o hábito de levar os animais em especialista ainda é recente.
Cão trabalhador
Hoje em dia o mercado de trabalho está tão abrangente, que até mesmo os cães têm chances de conseguir um bom emprego. São diversas áreas disponíveis para os colaboradores caninos, 121
desde atuação em novelas, filmes e seriados, ajudantes da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, até pet terapia em hospitais conceituados.
O hospital Albert Einstein é o 35° hospital do mundo e o primeiro da América Latina a conseguir o selo concedido pela Organização Americana Planetree, que permite essa visita.
Se um animal de estimação faz parte da família, por que ele não pode visitar um ente internado no hospital? Desde 2009, o projeto de humanização no atendimento do hospital Albert Einstein, em São Paulo, permite que pets visitem os donos.
Aos poucos, a ciência tem dado provas do que qualquer dono de cachorro nunca teve dúvida: eles combatem nosso estresse, reduzem nossa hipertensão, driblam nossa ansiedade, amenizam nossas dores e controlam nosso colesterol. Alguma dúvida de que melhoram nossa saúde?
Até abril deste ano, cinquenta e um bichinhos estiveram na unidade. Mas não é tudo tão simples, há um rígido controle para a entrada deles no hospital. O acesso só é permitido a pets saudáveis (mediante atestado veterinário) e devidamente higienizados. E, geralmente, a visita ocorre em áreas externas. Presente no Brasil desde a década de 1990, a pet terapia é um processo terapêutico que prevê benefícios na saúde do paciente a partir da internação com animais. Ajuda na imunidade do paciente, tira-o da depressão além de melhorar os batimentos cardíacos. O cão-doutor passa por uma severa seleção, como a entrevista com seu dono. Eles visitam orfanatos e asilos, mas nunca UTI, maternidade e recintos pós-cirúrgicos. Primeiro, consulta-se o paciente se ele aceita ou não a visita do animal. Após aprovação, é necessário tomar certas providências com o cachorro, ele precisa ter tomado banho, estar com a tosa perfeita, ter as patas higienizadas e estar devidamente vacinado. E as orientações principais é não subir no leito e ser extremamente dócil. No caso de crianças, após as visitas, elas ficam mais tranquilas, comem melhor e aceitam mais os procedimentos médicos. As que têm dificuldade motora querem se movimentar mais para tocar o cãozinho. Já os adultos tornam-se mais comunicativos, aceitam conversar com o médico e com os outros pacientes. 122
Mudando da área da saúde para a segurança, a Polícia Rodoviária Federal desenvolve um projeto para a implantação de um canil no Vale do Paraíba, com o objetivo de auxiliar o trabalho de identificação de drogas transportadas em veículos que cortam as principais rodovias da região. Com o objetivo de agilizar nos trabalhos de vistoria das malas dos passageiros, cachorros do canil da Polícia Militar colaboram em algumas das ocorrências. No ano passado, uma vistoria que levava o tempo mínimo de quarenta minutos, hoje com os cães não chega a trinta minutos. A primeira participação do canil da PM de Taubaté aconteceu em 27 de setembro de 2012. O pastor alemão é uma das raças utilizadas no trabalho em parceria com a Polícia Rodoviária Federal para identificar o transporte de drogas na principal rodovia do país, a via Dutra. Quem se lembra do Lobo, o Vigilante Rodoviário? Sim, desde muitos anos atrás, mais especificamente da década de 1960, eles vêm estrelando nas telinhas e telonas do Brasil e do mundo, e essa participação está tomando proporções ainda maiores com o passar dos anos. Com os cães artistas, a preparação não é muito diferente dos cães-guias, é necessário muito adestramente e disciplina, tanto do lado dos artistas caninos quanto do elenco humano. 123
São mais de vinte filmes que contam com os cães como protagonistas, e perdemos a conta de quantos têm a simples participação deles em seu elenco. Nas novelas e seriados, nacionais e internacionais, os cachorros viraram peça fundamental. Eles fazem o papel desde o animal de estimação da madame, até o pobrezinho adotado por um personagem mais humilde. Além disso, há também alguns livros voltados para o tema e que contam histórias, verídicas ou não, da relação entre o cão e seu dono. Mais do que podemos imaginar, a cada dia, não só os cães, mas todos os animais de estimação vêm conquistando o seu espaço em nossas vidas, e ainda, cada vez sendo mais presentes no nosso dia a dia. “A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados.” (Mahatma Gandhi)
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Consideracoes ~
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finais
C
om o desenvolver deste projeto, aprendemos e vivenciamos na prática a vida de jornalista, além de amadurecer ideias e comportamentos da profissão. O trabalho também nos deu a oportunidade de ter uma visão mais ampla do que é ser jornalista, de como é reportar a vida das pessoas de uma forma que faça com que os leitores se interessem pelo assunto. Além do mais, o trabalho foi mais que fundamental para o nosso crescimento pessoal e profissional, uma vez que, a cada perfil concluído, era possível notar a evolução na escrita, além da experiência de vida e amadurecimento devido às histórias contadas pelos personagens, uma vez que, em alguns casos, descobrimos novos personagens através dos próprios perfis. No decorrer da elaboração do trabalho, nos deparamos com uma diversidade infinita de informações sobre o assunto, por isso, para compor o livro, selecionamos aquelas que julgamos mais importantes e viáveis à realidade atual dos brasileiros. Assim, colocamos algumas dicas e curiosidades simples, mas, se tiverem a devida atenção e se forem colocadas em prática, certamente a vida dos cães será mais feliz, saudável e tranquila. Consideramos que a leitura deste livro tenha importância para qualquer pessoa, independente do gosto ou classe social, tendo em vista que se trata de um assunto atual e frequente no cotidiano das pessoas. Por isso, percebemos no decorrer do livro, que o papel do jornalista é, realmente, falar de temas contemporâneos e relevantes para a sociedade. Esperamos que o livro em um todo, ajude no relacionamento dos donos e seus cães, além de despertar a vontade de quem ainda não tem um amigo de quatro patas, ou até mesmo qualquer outro 127
animal, possa adotar um. Embora o livro retrate apenas a vida dos donos interligada com o cão, temos o mesmo respeito para com todos os animais, afinal, todos são dignos desse sentimento. Esperamos também, atingir algumas pessoas e autoridades, para que o número de cães abandonados diminua, e as pessoas realmente se conscientizem da tamanha responsabilidade que é ter um animal de estimação. Saber que ele é um ser vivo que precisa de cuidados especiais e tem suas necessidades, mas acima de tudo, merece respeito e carinho.
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