Vazios Incompletos | Ana Sant'Anna e Julia da Mota - Catálogo de exposição

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Galeria Ruy Meira 15 SET24 OUT 2022
VAZIOS INCOMPLETOS
Ana Sant'Anna Julia da Mota

A memória é uma experiência fugaz. Se contarmos múltiplas vezes a mesma estória, a narrativa, ainda que semelhante, dificilmente permanecerá imutável. Com a memória imagética não é diferente: somos atravessados por inúmeras paisagens, cenários e planos a todo momento e, mesmo se fecharmos os olhos e tentarmos reconstruir o que há pouco nos cruzou, não será possível o fazer com total fidelidade.

Gesto primordial, a linha nasce do movimento, da ação; o horizonte, da linha. Com o olhar atento em uma sociedade de acúmulos e excessos, Ana Sant’Anna e Julia da Mota nos mostram, por meio de memórias fragmentadas, apenas o essencial. Prédios, postes e praias são representados partindo do mínimo. As artistas desconstroem o mundo ao seu redor, dando vazão ao surgimento de novos cenários e geometrias vindos do movimento de um ponto que se transformou em linha e, então, em horizonte.

Com um avô amante das artes visuais, a fotografia foi introduzida quando Ana Sant’Anna ainda era muito jovem, tornando-se um suporte de conforto e experimentação no momento em que iniciou a sua prática artística nos períodos de faculdade. Convivendo com asma desde criança, o vazio sempre esteve presente na sua vida, onde, em seu quarto, havia apenas uma cama. Hoje, Ana resgata este mesmo vazio como espaço de construção do silêncio – e como um exercício de entendimento da vida. Enquanto na fotografia a artista reduz formas, quando experimenta em pintura trabalha de forma contrária: adiciona estruturas e camadas, uma dualidade que serve como força motriz para sua produção.

Composta por grande conhecimento técnico, a obra de Julia da Mota tem na aquarela o seu ponto de partida. Por meio da transparência, Julia arquiteta paisagens a partir de formas retiradas de seu imaginário urbano, tendo em

imagens sequenciais, como polípticos, vetores por onde suas narrativas se edificam. Presente tanto em suas aquarelas, quanto em monotipias, a geometria é o veículo pelo qual entende o mundo – característica alinhada aos trabalhos de um de seus mestres: Tuneu. Imersa nos ruídos da cidade grande, a busca por espaços vazios é o que dá fôlego para a artista, onde o ato de pintar e gravar é uma forma de meditação visual. O traço é como uma prova real do seu processo, assim como testemunha da sua construção poética.

Ana Sant’Anna deriva entre o mar e as esquinas da cidade, ocasionalmente coletando objetos – sementes para a nova realidade que nascerá em seu atelier. Julia da Mota submerge em memórias e coletas fotográficas da urbanidade que a circunda, experimentando cores e formas em aquarelas e gravuras. O mínimo é um convite à imaginação, e o abstrato é o que emancipa a produção das artistas, sem amarras com a representação fiel da realidade.

Oriundas de trajetórias diferentes, suas obras encontramse em panoramas infindáveis que, na fuga do excesso, apresentam diversos significados entre pigmentos, técnicas e suportes. Mergulhar em seus trabalhos é chocar-se com o acúmulo do mundo externo e entrar em um momento de pausa, de suspensão do factual. Entre registros fotográficos e coletas, as formas criadas e recortadas pelas artistas são universos que demandam tempo do observador. Um rápido olhar não é suficiente para que as portas do imaginário, escondidas em cada traço, se abram. É necessário aproximar-se e questionar cada gesto. O traço é o fio condutor de suas poéticas, assim como o que entrelaça e dá sentido aos seus trabalhos. Toda linha presente em suas produções é um horizonte de significados.

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TODA LINHA É
HORIZONTE
UM
Felipe Barros de Brito

Fumo (políptico), 2016. Série Fumo

Monotipia sobre papel japonês Masa

54 x 40 cm (cada)

108 x 80 cm (conjunto)

Tiragem única

Sem título, 2016. Série Fumo

Monotipia sobre papel japonês Masa

54 x 40 cm

Tiragem única

4
Julia da Mota Julia da Mota
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Ana Sant’Anna Série Buracos, 2021 Pigmento mineral sobre papel 10,5 x 7,4 cm (cada) 10,5 x 80,2 cm (conjunto)

Telégrafos (políptico), 2015

Monotipia e água-forte sobre papel Hahnemühle

20 x 15 cm (cada)

20 x 60 cm (conjunto)

Tiragem única

6
Julia da Mota

Ana Sant’Anna Deriva (políptico), 2020

Pigmento mineral sobre papel

14 x 21 cm (cada)

71 x 73 cm (conjunto)

7

Sobre a luz (políptico), 2015

Monotipia e água-forte sobre papel Hahnemühle

31 x 24 cm (cada)

31 x 96 cm (conjunto)

Tiragem única

8
Julia da Mota
9
Julia da Mota Distância, 2017 Óleo sobre tela 70 x 80 cm Julia da Mota Signo, 2018 Monotipia sobre papel Hahnemühle 21 x 17,4 cm Tiragem única

Série Amorfos, 2020

Pigmento mineral sobre papel

10,5 x 14,8 cm / 10,5 x 7,4 cm (cada)

10,5 x 109,8 cm (conjunto)

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Ana Sant’Anna

Ana Sant’Anna Série Maré, 2021

Pigmento mineral sobre papel

42 x 29 cm (cada)

42 x 348 cm (conjunto)

11

Julia da Mota

Portal (políptico), 2017

Monotipia sobre papel Hahnemühle

25 x 20 cm (cada)

50 x 80 cm (conjunto)

Tiragem única

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Julia da Mota Esquinas (políptico), 2015 Monotipia e água-forte sobre papel Hahnemühle 20 x 15 cm (cada) 20 x 60 cm (conjunto) Tiragem única Julia da Mota Noturna, 2015 Monotipia e água-forte sobre papel Hahnemühle 20 x 15 cm Tiragem única

Ana Sant’Anna

Série Reminiscências, 2021

Pigmento mineral sobre papel vegetal

21 x 14 cm (cada)

21 x 167 cm (conjunto)

14
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Ana Sant’Anna

Desanuviar (políptico), 2022

Pastel oleoso e bastão de tinta óleo

8 x 11 cm (cada)

48 x 66 cm (conjunto)

Julia da Mota Série Quando Estamos Imóveis, Estamos Algures, 2020-21 Aquarela sobre papel dimensões variáveis (aprox. 15 x 25 cm cada)

Ana Sant’Anna é artista visual, nascida e residente em Salvador, Bahia. Trabalhando com as linguagens da pintura e da fotografia, a produção da artista parte de um incômodo perante aos excessos, onde há uma fuga ao se deparar com questões referentes ao acúmulo. Essa fuga acaba por nortear sua obra à uma busca e construção de um pensamento que preza pela ideia do vazio, pela exploração do mínimo, pela tentativa de capturar a simplicidade das formas e por um desejo de extrair a essência das coisas contidas no ambiente que está ao seu redor.

Ana Sant’Anna

Julia da Mota

Julia da Mota nasceu e cresceu em São Paulo (SP), uma cidade quase totalmente desprovida de horizontes. Para criar seus trabalhos em pintura e gravura, a artista parte da vontade de encontrar um respiro na paisagem urbana paulistana. Como consequência da falta de contato com a natureza, da Mota busca construir paisagens que têm origem tanto em sua memória do mundo exterior, quanto em seu imaginário.

A procura pelo vazio na cidade excessivamente construída é o centro das questões levantadas pela pesquisa da artista. Suas composições evidenciam os limites rígidos e a paisagem fragmentada que a cidade impõe, levantando questões sobre o modo como ela vem sendo moldada e transformada.

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Prêmio Branco de Melo –Apoio à Produção Artística

Vazios Incompletos

Ana Sant’Anna

Julia da Mota

Galeria Ruy Meira, Casa das Artes

Belém, PA

De 15 de setembro a 24 de outubro de 2022

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

GOVERNADOR

Helder Barbalho

FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DO PARÁ PRESIDENTE

Guilherme Relvas

DIRETORA DE INTERAÇÃO

CULTURAL

Cláudia Pinheiro

DIRETORIA DE ARTES

Alfredo Garcia

GALERIA RUY MEIRA

EQUIPE

Deuzarina Vasconcelos

Márcio Lins

Pablo Mufarrej

TEXTO CURATORIAL

Felipe Barros de Brito EXPOGRAFIA

Ana Sant’Anna e Julia da Mota

DESIGN GRÁFICO

Thaís Franco

MONTAGEM E ILUMINAÇÃO

Arcos Serviços

REVISÃO DO PROJETO GRÁFICO

Eliane Moura

Laís Cabral

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