GERO-HABITAÇÃO ATIVA
capítulo
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GERO-HABITAÇÃO ATIVA “A vida é um intervalo finito de duração indefinida” Eduardo Giannetti
Julia Behisnelian Orientador: Marcelo Aflalo Faculdade Fundação Armando Alvares Penteado Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho final de Graduação São Paulo, Junho de 2020
capítulo
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu orientador, Marcelo Aflalo, sempre presente, por sua paciência, atuando com dedicação ao longo do desenvolvimento da pesquisa por acreditar no meu trabalho de conclusão. Aos meu amigos e colegas que sempre estiveram comigo, ou cruzaram caminhos nessa trajetória, me fazendo desenvolver e crescer a cada passo. À minha família, sobretudo a meus pais, por sempre apoiarem e acreditarem no meu sonho, dando toda a força para que eu seguisse adiante. Às minhas melhores amigas, Gabriela, Vicky e Victoria por todo apoio que me permitiu seguir íntegra, por todo o caminho. À FAAP e ao seu corpo docente, por proporcionar todo aprendizado adquirido.
SUMÁRIO
00 INTRODUÇÃO APRESENTAÇÃO DO TEMA JUSTIFICATIVA METODOLOGIA
01 ENVELHECIMENTO CARACTERIZAÇÃO DO IDOSO MUDAR-SE A TEMPO (MOVE-IN-TIME) ENVELHECER NO LUGAR (AGING-IN-PLACE) ENVELHECER JUNTO (AGING-TOGETHER) TIPOS DE IDOSOS O IDOSO NO BRASIL O AMBIENTE PARA O IDOSO O IDOSO E A SOCIEDADE ACESSIBILIDADE E DESENHO UNIVERSAL
02 PROJETOS AOS IDOSOS LEGISLAÇÃO ESTUDOS DE CASO
03 LOCAL ESCOLHA DO BAIRRO SOBRE O BAIRRO LEVANTAMENTO MORFOLÓGICO O TERRENO E O ENTORNO LEGISLAÇÃO
04 PROPOSTA ARQUITETÔNICA CONCEITO PROGRAMA FLUXOS E ACESSOS VOLUMETRIA
05 PROJETO A MADEIRA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO ESTRUTURA EM MADEIRA PLANTA TÉRREO PLANTA 1º PAVIMENTO PLANTA 2º PAVIMENTO PLANTA 3º PAVIMENTO PLANTA APARTAMENTO TIPO PLANTA 4º PAVIMENTO PLANTA 5º PAVIMENTO PLANTA 6º PAVIMENTO PLANTA DORMITÓRIO TIPO CORTE A CORTE B CORTE CONSTRUTIVO
06 RENDERS 07 CONSIDERAÇÕES FINAIS 08 NOTAS 09 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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INTRODUÇÃO
APRESENTAÇÃO DO TEMA
O Brasil e o mundo estão envelhecendo, com o desafio de envelhecer bem, com uma vida longa, ativa e saudável. A ideia de longevidade não significa apenas viver mais, e sim melhorar a qualidade de vida em todos seus estágios. É imprescindível manterse ativo para obtenção de saúde física. Até 2025, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos. O problema é a velocidade com que o país chegou nesses números. No caso de países desenvolvidos, esses se prepararam gradualmente, adaptando serviços, políticas e estruturas para os mais velhos. No Brasil, a preocupação com a pessoa idosa ainda é muito precária, o que impacta diretamente a qualidade de vida dessa camada da população. Nesse sentido, a arquitetura possui um papel fundamental em contribuir para uma
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melhor qualidade de vida para essas pessoas. Assim, este projeto tem como premissa criar um espaço de habitação e convívio voltado para pessoas da terceira idade, com 60 anos ou mais. O foco deste projeto é contribuir para que as pessoas mais velhas possam ter uma vida mais saudável e ativa. Por essa razão, ao construir este projeto, levou-se em conta a importância do comércio e do serviço localizado no térreo do empreendimento, pelo fatao de reunir públicos diversificados, proporcionando a integração com a cidade e o convívio de todos os usuários. Projetando assim, espaços de permanência, de passagem e de contemplação. Dessa forma, o trabalho foi dividido, a fim de que haja uma clareza nas mudanças que ocorrem nessa faixa etária, bem como suas necessidades. Além de se preocupar em como a arquitetura pode ajudar o bem-estar e promover qualidade de vida.
Introdução
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JUSTIFICATIVA
Gero-habitação é um termo considerado como subgênero arquitetônico, utilizado para se referir a habitações coletivas, voltadas para um público exclusivo: os idosos. Estima-se que no Brasil, nos próximos 20 anos, a população de idosos poderá alcançar 30 milhões de pessoas, o que representará 13% da população. Quanto à inversão da pirâmide etária, esta se deve ao aumento da expectativa de vida, em decorrência aos avanços na área da saúde e à redução da taxa de natalidade. É fato que o Brasil e o mundo estão envelhecendo, transpondo novas barreiras e, com isso, assumindo o desafio de envelhecer bem, com uma vida longa, ativa e saudável. A ideia de longevidade não significa apenas viver mais, como também melhorar a qualidade de vida em todos seus estágios. É imprescindível manter-se ativo para obtenção de uma saúde física, e a arquitetura assume um papel fundamental em contribuir para a qualidade de vida das pessoas. Entende-se que a atual tendência mundial de prolongamento da média de vida está
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obrigando a repensar a forma de entender a velhice. Os idosos das gerações de hoje são mais ativos. Denominados como os “novos idosos”, mantêm uma independência por um período maior de tempo, mas são conscientes de algumas limitações - físicas e emocionais. Uma população envelhecida, mas que permanece em domicílios pensados para formas tradicionais de núcleos familiares. Assim, o projeto tem o intuito de criar uma moradia que abrigue e proporcione conforto, um ambiente adaptado às necessidades dos idosos, que garanta uma melhor qualidade de vida, promovendo independência e segurança aos seus usuários. Como meta maior, visa acolher e proporcionar integração em áreas de convívio bem iluminadas e arejadas, contribuindo para a saúde dessas pessoas, que merecem seguir vivendo com dignidade.
Introdução 11
METODOLOGIA
Através da constatação e de pesquisas sobre os motivos do aumento do número de idosos na cidade por meio de dados e estatísticas, para que assim fosse possível obter um conhecimento melhor da problemática - resultando na escolha do bairro para implantação do projeto - os critérios levados em conta foram que o empreendimento se estabeleça em uma área central da cidade, para que não ocorra a segregação e se obtenha fácil acesso ao transporte público e à estrutura dos equipamentos do entorno. Logo após a escolha do bairro, foi determinado o terreno para o projeto proposto, a escolha do terreno, fruto do distanciamento ao Sesc Pinheiro - por conta das atividades que o centro promove diariamente - evidenciando ser um complemento ao programa do edifício oferecido. Quanto à topografia, a indicação é de que seja predominantemente plana, ou que apresente pouca diferença de nível, de forma que sejam priorizadas as normas de acessibilidade, evitando o uso de escadas e rampas e economizando custos.
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Após verificar a legislação, foi feito um estudo de volumetria e implantação, juntamente com a pesquisa de referências, conceitos e experiências anteriores. Isso posto, a próxima etapa será solucionar os problemas e dificuldades com esse tipo de moradia. A intenção é a de oferecer espaços de permanência agradáveis e abertos ao público em geral, possibilitando sua integração com a sociedade. Com isso, a importância do vínculo dos residentes com a natureza, a partir da criação de jardins internos. A partir daí, foi feito um levantamento de quais tipos de equipamentos a área necessitaria. Posteriormente, foi definido um programa para essas necessidades, partindo da lógica sobre tudo o que foi constatado, referente às necessidades de um idoso, e o que de fato o terreno suportaria.
Introdução 13
Entende-se, portanto, que o projeto proposto tem como finalidade uma resposta ao paradigma convencional das casas de repouso - exemplo ultrapassado de moradia - apresentando espaços de permanência agradáveis e abertos ao público em geral, possibilitando sua integração com a sociedade, melhor qualidade de vida, resultando em espaços acolhedores, ao mesmo tempo, resgatando sua autonomia, conforto físico e mental, confrontando com a velhice de uma outra forma. Além disso, a questão da inclusão social, onde a renda do programa do térreo ativo será revertida em subsídios para 20% das habitações voltadas aos idosos, em que a renda fixa não seja capaz de ressarcir o aluguel mensal.
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Introdução 15
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ENVELHECIMENTO
CARACTERIZAÇÃO DO IDOSO
A escala de Katz é uma ótima ferramenta, desenvolvida para avaliar o grau de dependência nas atividades básicas da vida diária, as chamadas ABVD, onde se avaliam tarefas como tomar banho, se vestir, usar o vaso sanitário, transferir-se da cama para a cadeira, a continência e o ato de se alimentar. Esse teste pode ajudar a nortear por onde de deve começar as mudanças. (SARAIVA LINO et al. Adaptação da Escala de Katz, 2019).
MUDAR-SE A TEMPO (MOVE-IN-TIME) O ponto chave desta etapa é saber o momento certo de se deixar uma casa tradicional e optar por outra com uma estrutura que ofereça certo suporte e equipamento. Por essa razão, é recomendando que seja feito um planejamento de vida, onde esses momentos estarão pré-definidos. Para que a mudança aconteça, é necessário contar 16
com uma estrutura assistencial de pronto atendimento, auxiliando e conservando a identidade do idoso.
ENVELHECER NO LUGAR (AGING-IN-PLACE) O fato de envelhecer, sugerindo que as pessoas continuem no mesmo lugar. Isso porque o corpo, quando atinge uma certa idade, desenvolve rapidamente a fragilidade; de um dia para o outro, pode-se perder a independência proporcionada pela locomoção e passar para um estágio de mobilidade reduzida.
ENVELHECER JUNTO (AGING-TOGETHER) A velhice pode ser um processo que leva à solidão, e devido a isso, o idoso deve morar num espaço que promova o intercâmbio social, com uma socialização controlada para não invadir sua privacidade. A estrutura de acolhimento deve estar preparada para receber um casal de idosos, que por exemplo, em um dado momento, um deles estará sozinho. Envelhecimento 17
TIPOS DE IDOSOS
Diferentes tipologias para diferentes perfis de idoso (go-go/slow-go/no-go)
GO-GO: O idoso Go-go é o idoso independente, autônomo, que se locomove e faz suas atividades básicas diárias sozinho.
SLOW-GO: O idoso Slow-go é o idoso semiindependente, que necessita de ajuda mínima
para
atividades diárias
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cumprir
todas
suas
NO-GO: O idoso no-go ĂŠ o idoso dependente, o idoso que necessita de ajuda para poder cumprir todas suas atividades diĂĄrias.
Envelhecimento 19
O IDOSO NO BRASIL
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA POR FAIXA ETÁRIA
A população idosa (acima de 60 anos) deve dobrar no Brasil até o ano de 2042, na comparação com os números de 2017. 20
De acordo com o levantamento, o país tinha 28 milhões de idosos no ano de 2017, ou 13,5% do total da população. Em dez anos, chegará a 38,5 milhões (17,4% do total de habitantes). Em 2042, a projeção do IBGE é de que a população brasileira atinja 232,5 milhões de habitantes, sendo 57 milhões de idosos (24,5%). Em 2031, o número de idosos (43,2 milhões) vai superar pela primeira vez o número de crianças e adolescentes, de 0 a 14 anos (42,3 milhões). Antes de 2050, os idosos já serão um grupo maior do que a parcela da população com idade entre 40 e 59 anos. O IBGE ainda calcula que a população brasileira deve continuar crescendo até 2047 (233,2 milhões). A taxa de fecundidade continuará caindo, segundo as estimativas do Instituto. Menos crianças, enquanto o número de idosos aumentará e o de crianças de 0 a 9 anos deverá cair nas próximas décadas.
Envelhecimento 21
PIRÂMIDES ETÁRIAS ABSOLUTAS
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PIRÂMIDES ETÁRIAS ABSOLUTAS
Envelhecimento 23
PIRÂMIDES ETÁRIAS ABSOLUTAS
Com
o
passar
dos
anos, de acordo com essa previsão
baseada
em
diferentes dados, colhidos ao longo do tempo, a tendência é crescer cada vez mais o número de idosos no mundo, em razão de vários fatores como melhores condições de tratamento de saúde, dentre outros e diminuir a taxa de natalidade.
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O AMBIENTE PARA O IDOSO
Quando pensamos em alojar o público idoso, vem à mente estruturas que consigam oferecer hospitalidade a essa faixa etária. Hoje em dia, os cuidados com o idoso ultrapassam os serviços básicos de higiene e alimentação, pois foi-se percebendo, com o tempo, que esses indivíduos necessitam de locais esteticamente prazerosos. Por essa razão, esses espaços passaram a priorizar a escolha de cores para os ambientes, texturas, tudo isso em constante renovação. Em um ambiente esteticamente acolhedor, o idoso se sente mais feliz e acompanha as constantes renovações que acontecem no ambiente, ao longo do tempo em que lá permanecem. Assim, vários aspectos psicodinâmicos passam a ser explorados no ambiente, por meio de sensações fornecidas por esses espaços, de acordo com os cinco sentidos do habitante desse local. Dessa forma, para que essa população de idosos se sinta confortável em um Envelhecimento 25
determinado espaço precisa se harmonizar com o ambiente em que se encontra, de forma física e emocional. Para tanto, são levadas em conta características de clima, dos sons, das cores escolhidas, relacionados ao indivíduo e sua condição cultural. Com isso, deve-se olhar para as necessidades de cada um de forma própria, verificando sua condição de conforto, individualmente. Por esse motivo, a arquitetura aliada à psicologia tem pesquisado sobre as relações sensoriais dos indivíduos que ocupam determinados espaços, tanto públicos quanto particulares. De acordo com Young (1999), A psicologia ambiental examina a inter-relação entre ambientes e o comportamento humano. O termo ambiente é geralmente definido para incluir tudo o que é natural no planeta, tais como cenários sociais, ambientes construídos, ambientes de aprendizagem e operacionais. De acordo com vários estudos sobre o tema, entende-se que as cores, sons, texturas e cheiros diversos são capazes de provocar as mais diversas sensações, que serão 26
interpretadas de acordo com experiências passadas, de cada um, com influência de uma cultura que foi sendo adquirida no meio familiar, determinando as preferências individuais. Com isso, serão estabelecidos os aspectos necessários para o conforto do ambiente, de acordo com essas informações pessoais. Em relação aos espaços físicos e a frequência de acidentes domésticos com idosos, deve-se levar em conta a localização desses espaços, os espaços coletivos e a análise detalhada dos espaços internos. O objetivo é que esses estudos tragam informações importantes sobre quais são as condições mais favoráveis para cada atividade, levando em conta a questão de acessibilidade como garantia de segurança e conforto para os idosos. Esses requisitos devem fazer parte dos projetos de arquitetura quanto à análise espacial. No que se refere à escolha da localização de moradia do idoso, pensando na importância de realização de atividades externas para essa camada da população, deve ser escolhido um local com proximidade do comércio e dos serviços buscados por eles, Envelhecimento 27
como farmácias, livrarias, supermercados, dentre outros. Assim como facilidade para ir ao médico, dentista, igrejas, bancos, assim por diante. Nos dias de hoje, ainda existe uma certa relutância por parte da população idosa, em admitir sua resistência a mudanças. Para Simone de Beauvoir, escritora francesa, o envelhecimento, assim como a velhice são mais claros aos olhos dos outros, do que aos nossos. Com o passar dos anos, tarefas, que antes eram realizadas de forma fácil, tornam-se grandes desafios, e surgem os empecilhos físicos, como subir escadas, pisos derrapantes e outras questões. Além de empecilhos psicológicos como abandono, rejeição e tantos mais. Dessa forma, a qualidade de vida do idoso tem forte influência sobre seu equilíbrio psicológico, e o conforto na moradia é um dos fatores primordiais para seu bem-estar.
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O IDOSO E A SOCIEDADE
No ano de 2003, no Brasil foi aprovado o Estatuto do Idoso, que permitiu um novo olhar sobre o idoso, que passou a ser visto como sujeito de direitos, o que, na prática, muitas vezes não ocorre. Segundo Whitaker (2007), vários preconceitos se formaram a respeito do envelhecimento, e a sociedade necessita rever esses conceitos que estão superados, partindo para uma nova interpretação a respeito dessa etapa da vida. Em dados numéricos, nos anos 80, a expectativa de vida era em torno de 70 anos, superando a média anterior de 60 anos, no Brasil. Em relação à população acima de 65 anos, essa dobrou sua participação na população do país, na segunda metade do século XX, chegando em torno de 15%, neste ano de 2020. Hoje, a sociedade passa por mudanças, com o avanço da tecnologia, em que os meios de comunicação fornecem uma grande quantidade de informações e dados,
Envelhecimento 29
fazendo o tempo parecer menor, com condições econômicas difíceis, principalmente, em razão das pessoas viverem mais (ZIMERMAN, 2000). O envelhecimento é um processo natural que acarreta mudanças físicas, sociais e psicológicas para pessoas nessa etapa da vida. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é o indivíduo acima dos 65 anos, em países desenvolvidos e 60 anos para os de países subdesenvolvidos. Um dos pontos a serem destacados nessa fase de vida é a relação da família com o idoso, pois, muitas vezes, a própria família tem dificuldade em compreender o envelhecimento de um membro, o que torna mais difícil esse relacionamento. Com isso, as pessoas idosas vão se tornando cada vez mais dependentes, havendo uma reversão de papeis, onde os filhos passam a se responsabilizar pelos pais. Além da família, é importante o convívio do idoso em sociedade, que o fazem pensar, trocar ideias, conhecimentos, dúvidas e sentimentos. No caso, o idoso precisa se sentir útil, com ocupações que lhe proporcionem prazer. 30
ACESSIBILIDADE E DESENHO UNIVERSAL
A acessibilidade ligada a um desenho universal se faz necessária, quando a organização dos espaços deve atender a necessidades mais amplas. Assim, essa conscientização e o levantamento exato para fundamentar projetos de ambientes, deve ser muito responsável por parte dos arquitetos. Com isso, entende-se que o direito de ir e vir das pessoas, inclusive das que possuem necessidades especiais, deve ser levado em conta nesses projetos, que permitam o acesso a espaços públicos, transportes, telefones, sanitários, dentre outros (KALIL; GOSCH; GELPI, 2008). Em um estudo de caso, realizado no ano de 2008, em um edifício da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo (UPF), foram analisados todos os espaços desse local, desde o saguão e secretaria, passando pela lanchonete, salas de aula, acessos a elevadores, sanitários, vestiários, dentre outros.
Envelhecimento 31
Após a análise de todos os espaços e de sua situação de acessibilidade, foram propostas soluções diferenciadas para cada um dos locais selecionados, incluindo adaptação de pisos e outros elementos necessários. De acordo com a ABNT (2004), alcançou-se a percepção e o entendimento para que se utilizassem de forma adequada e segura, as edificações, espaços, mobiliário, equipamentos urbanos e outros. De acordo com Kalil (2004), foram analisados os ambientes e o comportamento de forma, buscando conhecimento sobre esses ambientes e sua relação com as pessoas, produzindo adequações, se necessárias, que podem ser executadas imediatamente ou servirem de diretrizes para novos projetos.
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PROJETO AOS IDOSOS
LEGISLAÇÃO
Grau de Dependência II - idosos que necessitam de ajuda em até três atividades cotidianas como: realizar refeições, tomar banho e caminhar, esses idosos não têm alterações cognitivas ou as possuem controladas; Grau de Dependência III idosos que necessitam de ajuda para realizar todas as atividades cotidianas e com comprometimento cognitivo. Para melhor acomodar e cuidar dos idosos, a ANVISA determina um número mínimo de cuidadores para cada grau de dependência:
Grau de Dependência I: um cuidador para cada 20 idosos; Grau de Dependência II: um cuidador para cada 10 idosos; Grau de Dependência III: um cuidador para cada 6 idosos.
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a) Sala para atividades coletivas para no máximo 15 residentes, com área mínima de 1,0 m² por pessoa; b) Sala de convivência com área mínima de 1,3 m² por pessoa; c) Sala para atividades de apoio individual e sócio-familiar com área mínima de 9,0 m
Projeto aos Idosos 35
ESTUDO DE CASO
LAR DE IDOSO PETER ROSEGGER Arquiteto: Dieter Wissouning Localização: Graz, Áustria. Ano: 2014
O uso da madeira, bem como as contrastantes áreas ensolaradas e o sombreado desses locais tornam o ambiente da casa aconchegante, dando uma sensação de continuidade e de bem-estar integrado à paisagem do entorno. Figura 1 - Pátio lar de idosos Peter Rosegger 36
Grandes varandas, assim como uma variedade de caminhos e vistas ao longo das outras partes da casa configuram um
ambiente
estimulante.
Cada
comunidade foi desenvolvida em torno de um conceito de cores diferentes para auxiliar os residentes a se orientarem melhor. Além do mais, há a presença dos átrios centrais privados e eixos que determinam os blocos. Projeto aos Idosos 37
Figura 2 - Corredor externo acessĂvel 38
Construído em formato quadrado, constituído por dois pavimentos, o lar dos idosos é repartido em quatro blocos, com oito habitações divididas, sendo quatro no térreo e quatro no segundo pavimento. Próximo a um pátio, se encontra um jardim de uso exclusivo dos residentes, tornando uma grande praça aconchegante, onde há uma horta comunitária, em que os mesmos têm acesso, cuidam e cultivam suas plantações e jardinagem, e esses locais também funcionam como ponto de encontro.
ACESSIBILIDADE O edifício foi construído com barras de apoio por todos os cantos, tornando-se um elemento fundamental na acessibilidade do idoso. Também foram implantados elevadores para aqueles com maior dificuldade de locomoção, juntamente às rampas de acesso.
Projeto aos Idosos 39
Figura 3 - Planta Baixa Térreo 40
Figura 4 - Planta Baixa Segundo Pavimento
Projeto aos Idosos 41
ESTUDO DE CASO
Figura 5 - Fachada Wozoco 42
WOZOCO Arquiteto: MVRDV Localização: Amsterdam, Holanda Ano: 1997
O complexo de apartamentos para idoso apresenta 100 unidades habitacionais. A função inicial desse edifício previa a habitação para idoso, mas também permitia albergar pessoas de outras idades.
Projeto aos Idosos 43
Um dos pontos mais interessantes do projeto, além de criar a volumetria em função da premissa de construir uma edificação com 100 apartamentos está no seu caráter de desmistificar a habitação voltada para a terceira idade, precisa ter aparência de hospital.
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Figura 6 - Unidades em balanรงo
Projeto aos Idosos 45
Seu programa é comum a muitas outras unidades de habitação: o corredor de circulação em um extremo e os apartamentos virados para outro extremo. Os corredores de circulação horizontal estão localizados na fachada norte do bloco.
Figura 7 - Planta Baixa
Os volumes em balanço possuem revestimento exterior em madeira de pinho que, juntamente com as paredes, cobrem toda a estrutura do edifício - uma consequência da necessidade de isolamento térmico/ acústico das habitações e da norma de proteção contra incêndio. 46
Figura 8 - Fachada com unidades em balanço
Um fato que serviu de inspiração para o projeto foi a movimentação da fachada, criando assim uma volumetria diferenciada que resulta em uma fluidez.
Projeto aos Idosos 47
ESTUDO DE CASO
VILA DOS IDOSOS Arquitetos: Vigliecca & associados Localização: São Paulo, Brasil Ano: 2003
A Vila dos idosos é um local onde seus moradores têm plena liberdade, podem entrar e sair a hora que desejarem, uma ótima alternativa para idosos que querem se sentir parte de uma comunidade e estar no meio de seus iguais sem estarem presos a uma série de regras. Figura 9 - Edificação 48
Outro fator relevante é o fato do aluguel ser subsidiado. O valor cobrado se concentra entre 10% e 15% da renda total da família, abaixo dos 20% a 30% normalmente recomendados a qualquer pessoa que alugue sua moradia. Na Vila dos Idosos, como o empreendimento é exclusivamente voltado para um público composto por pessoas acima dos 60 anos, quando o morador falece, a habitação é repassada para outra pessoa. Mesmo que existam outros moradores no apartamento, eventualmente familiares ou agregados, eles seriam, em princípio, obrigados a se mudar. Isso sempre ocorre, quando nenhum dos outros moradores remanescentes tem a idade mínima estabelecida. Projeto aos Idosos 49
Figura 10 - Planta pavimento 1 e 2 50
Figura 11 - Planta pavimento 1 e 2
Projeto aos Idosos 51
ESTUDO DE CASO
Figura 12 - Participantes do programa 52
A AVÓ VEIO TRABALHAR Localização: Lisboa, Portugal Ano: 2014
O projeto reune mulheres acima de 65 anos para produzir objetos de design. “A avó veio trabalhar” é um programa que se dispunha a reintegrar os seniores do Cais de Sodré a uma vida em comunidade, fugindo das ofertas tradicionais dos programas sociais aos idosos.
Projeto aos Idosos 53
As pessoas que participam do projeto querem se manter ativas sem passar o tempo se preocupando com a idea de estar no ďŹ nal da vida. O impacto que o projeto tem na vida dos participantes, no entanto, vai alĂŠm de ocupar o tempo dos idosos.
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Figura 13 - Participantes trabalhando
Projeto aos Idosos 55
03
LOCAL
ESCOLHA DO BAIRRO
BAIRRO DE PINHEIROS O projeto será implantado no bairro de Pinheiros, um dos mais antigos e bem estruturados de São Paulo. Situa-se na Zona Oeste de São Paulo, e a região está instalada próxima a importantes vias de acesso como as Avenidas Brigadeiro Faria Lima, Rebouças, Eusébio Matoso e Nações Unidas, assim como a Marginal Pinheiros. Além da característica de rua que o bairro oferece, juntam-se as distâncias curtas para se atingir equipamentos culturais, de saúde e lazer. Ademais, disponibiliza fácil acesso ao transporte público para quem o frequenta.
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Local 57
SOBRE O BAIRRO SINOPSE DO CENSO 2010 - PESSOAS RESIDENTES - 60 ANOS OU MAIS Mapa: Autoria prรณpria Fonte: GeoSampa
O bairro de pinheiros contempla aproximadamente um total de 15.500 idosos 58
ZONEAMENTO Mapa: Autoria prรณpria Fonte: GeoSampa
Local 59
LEVANTAMENTO MORFOLร GICO USO DO SOLO
Mapa: Autoria prรณpria Fonte: GeoSampa 60
Local 61
O TERRENO E O ENTORNO LOCALIZAÇÃO TERRENO Dentre as alternativas avaliadas, o local deve possibilitar autonomia nos deslocamentos dos moradores e seus visitantes, portanto estar próximo a pontos de embarque e desembarque de transporte público. Além disso, possibilitar o acesso ao comércio de bairro. Também deverá estar em área servida por luz, telefone e abastecimento de água, garantindo o acesso a recursos como Internet, iluminação pública e limpeza urbana. Dessa forma, o terreno escolhido está localizado na rua Pais Leme, no mesmo quarteirão do Sesc (Serviço Social do Comércio) Pinheiros, que serve como um complemento ao projeto proposto. A escolha do terreno baseou-se ainda na sua dimensão e na topografia, predominantemente plana, de forma que as normas de acessibilidade sejam priorizadas.
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RA
IO
E TH
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SESC PINHEIROS
RUA AMARO CAVALHEIRO
E
LEO MADEIRAS
RUA PAIS LEME
LOCALIZAÇÃO TERRENO RUA PAIS LEME PINHEIROS,SP.
Local 63
LOCAL DE IMPLANTAÇÃO DO PROJETO
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
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FONTE: AUTORIA PRÓPRIA FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
capítulo Local 65
SESC PINHEIROS
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
Academia, aula de dança nos ginásios e piscinas cobertas para aulas de natação. 66
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
Local 67
SESC PINHEIROS
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
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FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
SESC PINHEIROS PROGRAMA
Local 69
PRAÇA NOVA E PAROQUIA NOSSA SENHORA DO MONTE SERRATE
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
Calçadas mal resolvidas, vegetação descuidada, porém espécies bem escolhidas, por serem nativas. 70
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
FONTE: AUTORIA PRÓPRIA
Local 71
LEGISLAÇÃO OPERAÇÃO URBANA FARIA LIMA
Figura 14 - Mapa setores 72
A primeira Operação Urbana Faria Lima foi aprovada pela Lei 11.732, em 14 de Março de 1995, estabelecendo programa de melhoramentos públicos para a área de influência definida em função da interligação da Avenida Brigadeiro Faria Lima com a Avenida Pedroso de Moraes e com as avenidas Presidente Juscelino Kubitschek, Hélio Pellegrino, dos Bandeirantes, Engº. Luís Carlos Berrini e Cidade Jardim. O principal intuito foi adequar a Operação Urbana existente ao Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257 de 2001), que definiu as Operações Urbanas Consorciadas como um instrumento de política urbana gerido de forma consorciada entre o Poder Público e a Sociedade Civil, por meio de um Grupo de Gestão. A Operação Urbana Consorciada Faria Lima está contida na Macroárea de Estruturação Metropolitana (MEM), definida pelo novo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PDE). A OUCFL tem como objetivo a melhoria da acessibilidade viária e de pedestres, a reorganização dos fluxos de tráfego, priorizando o transporte coletivo, bem como a criação e qualificação ambiental de espaços públicos e o atendimento habitacional às Local 73
comunidades que vivem em ocupações irregulares localizadas em seu perímetro ou no entorno imediato.
BENEFÍCIOS E DIZERES URBANÍSTICOS
Figura 15 - Especificações de recuos
I1 - Remembramento de lotes com menos de 2.000m² que originarem lotes com mais de 2.500m² - Será concedido de forma gratuita, área de construção computável 74
igual a 20% da área do lote resultante do remembramento, respeitado o CA máx igual a 4. (Art. 13, Inciso I); I2 - Para lotes com área ≥ 2.000m² + área do pavimento térreo destinada à circulação e atividades de uso aberto ao público - Será concedido, de forma gratuita, área de construção computável igual a 20% da área do lote. (Art. 13, Inciso II).
Os CEPAC (Certificados de Potencial Adicional de Construção) são valores mobiliários emitidos pela Prefeitura do Município de São Paulo, através da SP URBANISMO, utilizados como meio de pagamento de Contrapartida para a outorga de Direito Urbanístico Adicional dentro do perímetro de uma Operação Urbana Consorciada. Atualmente a operação urbana Faria Lima utiliza o CEPAC. Cada CEPAC equivale a determinado valor de m ² para utilização em área adicional de construção ou em modificação de usos e parâmetros de um terreno ou projeto. Os CEPAC podem ser negociados livremente no mercado secundário, até que sejam vinculados a um lote dentro do perímetro da Operação Urbana Consorciada. Os Local 75
CEPAC também podem ser utilizados como meio de pagamento das intervenções por meio de colocações privadas. Nesse caso, o valor do CEPAC é atualizado pelo Índice Edificações em Geral, publicado mensalmente pela Secretaria Municipal de Finanças no Diário Oficial da Cidade de São Paulo, tendo como base o preço realizado no último leilão. A Prefeitura do Município de São Paulo, por meio da SP URBANISMO, Coordenadora das Operações Urbanas Consorciadas, realiza as emissões de CEPAC para o financiamento de intervenções dentro dos perímetros das Operações Urbanas Consorciadas.
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LEGISLAÇÃO ZONA MISTA
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PROPOSTA ARQUITETÔNICA
CONCEITO Para manter o equilíbrio físico e emocional do idoso, deve-se considerar um projeto com acesso à paisagem, com cores, brilhos e áreas verdes, o que será uma grande premissa do projeto. Diferentes tipologias para diferentes perfis de idoso (go-go/slow-go/no-go). O projeto é voltado para o Idoso independente e semi-independente. O grau de autonomia dos idosos vai aumentando, conforme o andar do pavimento. Quanto maior o andar, maior a autonomia do idoso. Do 1 º ao 3º pavimento, os dormitórios e todos os seus equipamentos são compartilhados. O 4º pavimento é um respiro e uma área comum para todos os que habitam no edifício. Do 5º pavimento ao 10º, considera-se que seja uma lâmina habitacional, composta por apartamentos.
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O pavimento térreo é de acesso público, e seus serviços e comércios são abertos para os usuários do edifício e para todos do bairro e entorno. Por sua vez, o edifício é composto por 78 habitações, sendo 42, apenas dormitórios, e 36 apartamentos, totalizando um total de no máximo,168 moradores.
PROGRAMA O programa foi definido, considerando-se o usuário idoso regular, com total ou relativa mobilidade, e atendendo a uma demanda que almeja conforto e segurança, a menor custo possível, mas com atendimento à expectativa de prazer estético, que acompanha o modo de morar do homem desde os seus primórdios até o habitar contemporâneo. Segundo Carli (2004): “Um dos grandes desafios que se apresentam na tomada de decisões de projeto ocorre quando surgem os conflitos
Proposta Arquitetônica 79
relacionados
aos
usuários,
seu
comportamento
e
suas
necessidades, e de que forma eles se relacionam ao ambiente construído. A resolução bem-sucedida desses conflitos se baseia no claro entendimento das necessidades. Métodos para estabelecimento de prioridades nas decisões, com o reconhecimento e entendimento do comportamento do usuário, são pré-requisitos para a formulação dos objetivos do programa de projeto (...). O projeto deve contemplar os valores contemporâneos
da
arquitetura
e
vários
programadores
desenvolveram listas de valores que incluem os aspectos culturais, tecnológicos, temporais, econômicos, estéticos e de segurança.”
PROGRAMA A partir do contexto urbano em que o terreno está inserido, o partido arquitetônico foi conduzido pela prioridade em estabelecer a integração entre a comunidade e a 80
sociedade, além de evitar a segregação do convívio social. O programa contempla a área urbana, destinado ao térreo ativo, aberta ao público; a residencial, que tem como propósito promover espaços de convívio para os moradores, uma expansão da própria habitação; a da saúde, com nutricionista e clínicas médicas; a do bem-estar físico, com serviços que promovem a atividade física, contemplando o programa do Sesc Pinheiros, academia, salas de dança e piscina; e o bem-estar social, com os ateliês, estimulando a convivência e aprendizado e outras áreas de lazer.
Proposta Arquitetônica 81
APARTAMENTOS
APARTAMENTOS
PÁTIO / HORTA / SOLÁRIO
DORMITÓRIOS
/
HOSPEDAGEM
ENFERMEIRAS
/ LAVANDERIA / ATELIER / SALA DE TV / SALA DE JOGOS / SALA DE LEITURA / COMPUTAÇÃO / REFEITÓRIO
DORMITÓRIOS
/
HOSPEDAGEM
ENFERMEIRAS
/ LAVANDERIA / ATELIER / SALA DE TV / SALA DE JOGOS / SALA DE LEITURA / COMPUTAÇÃO / REFEITÓRIO
DORMITÓRIOS
/
HOSPEDAGEM
ENFERMEIRAS
/ LAVANDERIA / ATELIER / SALA DE TV / SALA DE JOGOS / SALA DE LEITURA / COMPUTAÇÃO / FISIOTERAPIA / REFEITÓRIO
CAFÉ / SALÃO DE BELEZA / HORTIFRUTTI / LOJAS / ASSISTÊNCIA MÉDICA: PSIQUIATRA, NUTRICIONISTA, PS / SALA DE LEITURA / GERÊNCIA / FARMÁCIA
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Proposta ArquitetĂ´nica 83
PROGRAMA O
grau
de
autonomia
dos idosos vai aumentando, conforme se sobe o andar do Pavimento. Quanto maior o andar, maior a autonomia do idoso. Do 1 º ao 3º pavimento, encontram-se os dormitórios, e todos os seus equipamentos são
compartilhados.
O
4º
pavimento é um respiro e uma área comum para todos que habitam o edifício. Do 5º pavimento ao 10º, uma lâmina habitacional, composta por apartamentos.
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Proposta ArquitetĂ´nica 85
FLUXOS E ACESSOS
O fluxo da rua Pais Leme é maior que o fluxo da rua Amaro Cavalheiro, por isso a escolha da entrada da habitação pela rua lateral, e as entradas para as áreas públicas pela rua com maior fluxo.
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O edifício conta com 3 acessos principais pela Pais Leme, sendo um deles, uma esquina; além de um acesso pela Amaro Cavalheiro, onde se localiza a entrada dos apartamentos e dormitórios.
Proposta Arquitetônica 87
VOLUMETRIA
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A volumetria foi definida a partir da legislação e da operação consorciada Faria Lima, que tornou possível o maior coeficiente de aproveitamento. Partindo desse principio, o desígnio de criar um volume leve, que se encaixasse no terreno de forma sutil. Quando se trabalha com o mesmo elemento repetidas vezes, a volumetria pode ficar muito monótona. Por essa razão, o edifício conta com um respiro, pátio, entre os pavimentos inferiores e a lâmina de habitação. Na lâmina de habitação, o avanço dos apartamentos de traz o movimento, onde se originam áreas de passagem e áreas de permanência na varanda.
Proposta Arquitetônica 89
05
PROJETO
A MADEIRA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
Em projetos arquitetônicos para idosos, em especial aqueles mais humanizados, a escolha dos materiais a serem selecionados é de suma importância, na medida em que se deve levar em conta as necessidades específicas de pessoas nessa faixa etária, além do conforto a ser proporcionado. Em razão do crescente aumento do número de idosos no mundo todo, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que, no caso do Brasil, neste ano de 2020, o país será o sexto no ranking mundial, referente ao número de idosos. Porém, a importância na qualidade e na escolha dos materiais utilizados em construções para idosos deve ser focada na qualidade de vida dessa camada da população. Sabe-se, que há muito tempo, se utiliza madeira nas construções, tanto de forma
90
funcional quanto na estrutura das casas e proteção contra os fenômenos da natureza, e na decoração de ambientes. Com a Revolução Industrial, houve uma queda no uso da madeira nas construções, sendo substituída por materiais como metal, cimento e concreto, principalmente no Brasil. Trata-se de uma resistência cultural por parte da população, que considera a madeira um tanto frágil para ser utilizada. Atualmente, diversos estudos têm demonstrado que a madeira traz resultados excelentes nos quesitos de durabilidade, resistência, além de proporcionar conforto acústico e térmico. Mais um ponto positivo para a utilização deste material em construções voltadas para idosos. Além de todas essas vantagens, a madeira possui propriedades que a deixam atraente, se comparadas a outros materiais, dando a sensação de acolhimento a quem compartilha desse acabamento. Assim como seu processamento se dá com baixo
Projeto 91
consumo de energia, é um isolante térmico natural, capaz de absorver frio ou calor mais devagar que outros materiais. Uma construção de madeira oferece uma redução de gastos com energia, da ordem de 30%.
92
Projeto 93
A MADEIRA CLT (MADEIRA LAMINADA CRUZADA)
Bastante popular na Europa, a CLT (Madeira Laminada Cruzada) vem ganhando espaço nas outras partes do mundo. Conhecida como Cross-laminated timber, tem como principais características a resistência, aparência, versatilidade e sustentabilidade. Esse material é composto por tábuas ou lamelas de madeira serradas e depois coladas e prensadas em camadas, sendo que cada nova camada de lamela se orienta, perpendicularmente, à camada anterior. Pelo fato de se unir camadas de madeira em ângulos perpendiculares, consegue-se uma maior rigidez estrutural para o painel, nas duas direções, com funcionamento semelhante às chapas de compensado, porém, composta de componentes mais espessos. Com isso, constitui maior resistência para tração e compressão.
94
Além disso, é um material sustentável, composto de material renovável, geralmente a madeira de reflorestamento, não havendo necessidade de queima de combustível fóssil durante sua produção. Foi utilizada, primeiramente, para peças de infraestruturas, como apoio de grandes canteiros de obras, em concretagem de pontes ou como base de tratores em terrenos que fossem instáveis, além de bastante utilizada em construção de barragens, dentre outras utilidades. Com o tempo, foi se verificando o potencial desse tipo de madeira para construções de pequeno porte, em razão de sua aparência e de sua resistência estrutural. Atualmente, esse material é também utilizado em construções de grande porte, como prédios bem altos. Assim como os painéis de CLT podem servir de paredes, mobílias, pisos, telhados e forros, e o comprimento e espessura das peças podem ser adaptados de acordo com a necessidade de cada projeto. Esses painéis costumam ser cortados no fornecedor, que também tem a missão de montá-los, prevendo as junções e furações necessárias para cada caso.
Projeto 95
Depois disso, as peças são transportadas e a montagem se faz no canteiro de obras da construção. Assim como em projetos que utilizam CLT, a obra é mais rápida e causa muito pouco resíduo. Embora seu custo seja considerado um pouco alto, esse tipo de material facilita a limpeza, reduz o tempo de obra e seu uso deve ser considerado como uma excelente opção de material de construção, embora muitas construtoras ainda utilizem materiais não renováveis em suas obras.
A MADEIRA MLC (MADEIRA LAMINADA COLADA)
A madeira laminada colada (MLC), Glue Laminated Timber, que é um material estrutural, constituído pela junção de segmentos individuais de madeira, que são colados com adesivos industriais, como resina de melamina ou poliuretano. São peças com durabilidade alta, que resistem à umidade, vencendo vãos e construindo formas únicas. 96
A madeira é indicada para ser utilizada em vigas, pilares, pergolados, passarelas, coberturas, além de escadas, painéis e outros revestimentos, pois facilmente reproduz formatos curvos, nos pilares e nas vigas. Possui diferentes tonalidades, sendo o mais comum, o eucalipto e o pinus. Para unir as peças, utilizam-se parafusos, buchas e chapas de aço. Dentre as vantagens de seu uso, destacam-se: sua utilização em grandes envergaduras, com baixo peso e alta capacidade de carga; o fato de ser bastante resistente à umidade; é bastante flexível; resistente ao fogo, pois se forma uma camada carbonizada ao redor do núcleo; estabilidade dimensional, com uma umidade de equilíbrio de 20ºC e 65% de umidade relativa; menor necessidade de conexões; madeira leve, o que facilita todas as etapas de construção; madeira sustentável. Quanto à sua fabricação é composta pela técnica de colagem e a da laminação, em que as lâminas são coladas com fibras paralelas. Sua fabricação se dá com um grau de umidade ideal para reduzir o inchamento e a contração, com maior estabilidade dimensional.
Projeto 97
IMPLANTAÇÃO
98
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 99
PLANTA TÉRREO
1. Assistência médica
7. Acesso Público
2. Área de estar
8. Salão de beleza
3. Acesso habitação
9. Café
4. Gerência
10. Jardim central
5. Farmácia
11. Hortifruti
6. Lojas
12. Acesso moradores
100
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 101
PLANTA 1º PAVIMENTO
13. Sala leitura /
18. Lavanderia
Sala de computação
19. Sala TV
14. Atelier pintura
20. Sala multifuncional
15. Sala de jogos
21. Fisioterapia
16. Dormitórios
22. Refeitório
17. Hospedagem
23. Terraço
enfermeiras
102
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 103
PLANTA 2ยบ PAVIMENTO
24. Atelier costura 25. Terraรงo coberto
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RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 105
PLANTA 3º PAVIMENTO
26. Atelier cerâmica
106
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 107
PLANTA DORMITÓRIO TIPO DORMITÓRIO TIPO CASAL 30 M² - 21 UNIDADES LOCALIZAÇÃO 1º PAVIMENTO
LOCALIZAÇÃO 2º PAVIMENTO
LOCALIZAÇÃO 3º PAVIMENTO
108
DORMITÓRIO TIPO DUPLO 30 M² - 21 UNIDADES LOCALIZAÇÃO 1º PAVIMENTO
LOCALIZAÇÃO 2º PAVIMENTO
LOCALIZAÇÃO 3º PAVIMENTO
Projeto 109
MODELO DORMITÓRIO
110
Painel Sip elĂŠtrica
Projeto 111
PLANTA 4ยบ PAVIMENTO
27. Solรกrio 28. Horta
112
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 113
PLANTA 5ยบ PAVIMENTO
29. Apartamentos
114
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 115
PLANTA 6ยบ PAVIMENTO
116
RUA AMARO CAVALHEIRO RUA PAIS LEME
Projeto 117
PLANTA APARTAMENTO TIPO APARTAMENTO TIPO INDIVIDUAL 30 M² / 40 M² - 12 UNIDADES
TIPO 1 INDIVIDUAL
TIPO 2 INDIVIDUAL
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APARTAMENTO TIPO DOIS QUARTOS 65 M² / 85 M² - 24 UNIDADES
TIPO 1 DOIS QUARTOS
TIPO 2 DOIS QUARTOS
Projeto 119
CORTE CONSTRUTIVO
1. LAJE CLT
14. PISO ACABADO
2. ISOLAMENTO ACÚSTICO
15. CONTRAPISO
3. PAINEL SIP
16. BARROTE
4. PISO ACABADO
17. TYVEK
5. CONTRAPISO
18. ARGAMASSA DE IMPERMEABILIZAÇÃO
6. TYVEK
19. TERRA COMPACTADA
7. ISOLAMENTO ACÚSTICO
20. FUNDAÇÃO
8. MANTA ALWITRA
21. SAPATA
9. TUBO PVC 2% 10. BARROTE 11. FORRO 12. RIPADO DE MADEIRA 13. PILAR MLC
120
Projeto 121
ELEVAÇÃO 1
122
Projeto 123
ELEVAÇÃO 2
124
Projeto 125
ELEVAÇÃO 3
126
Projeto 127
ELEVAÇÃO 4
128
Projeto 129
CORTE A
130
Projeto 131
CORTE B
132
Projeto 133
06
RENDERS
Figura 16 – Imagem vista pedestre do edifício pela Rua Pais Leme. 134
Renders 135
Figura 17 – Imagem vista aérea do edifício pela Rua Pais Leme. 136
Renders 137
Figura 18 – Imagem vista aérea do edifício pela Rua Pais Leme e Rua Amaro Cav 138
valheiro.
Renders 139
Figura 19 – Imagem vista pedestre do edifĂcio pela Rua Pais Leme e Rua Amaro 140
o Cavalheiro.
Renders 141
Figura 20 – Imagem vista aérea do edifício. 142
Renders 143
Figura 21 – Imagem vista aérea do edifício. 144
Renders 145
Figura 22 – Imagem vista aérea do pátio central. 146
Renders 147
Figura 23 – Imagem vista pedestre do påtio central. 148
Renders 149
Figura 24 – Imagem vista pedestre da horta. 150
Renders 151
Figura 25 – Imagem vista pedestre da varanda da lâmina habitacional. 152
Renders 153
Figura 26 – Imagem vista pedestre da varanda da lâmina habitacional. 154
Renders 155
07
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No desenvolvimento da proposta, com as considerações de referência e pesquisas para a execução deste projeto, juntamente ao partido arquitetônico e a proposta final deste TFG. Foi elaborado um lar exclusivo a idosos, com o máximo de conforto e segurança, que promova qualidade de vida para que eles sintam o prazer de estarem ali todos os dias, explorando sua independência e com auxilio, caso necessário. Também um lugar convidativo, onde seu ambiente térreo é ativo, para que haja inteiração com o público, com grande parte em contato com a natureza. Isso tudo, a fim de quebrar barreiras de visões negativas de pessoas que ainda não conhecem o quão importante é viver em um lar de idosos planejado para eles mesmos. Além da intenção de projetar um local que evite a exclusão e a depressão, para que os idosos se sintam integrados à sociedade, com uma moradia digna e aconchegante, fazendo com que sejam alcançados todos os resultados, conforme o esperado.
156
Dessa forma, este projeto visou atender às necessidades desse público, propondo diversas atividades que estimulem a produtividade e promovam um envelhecimento ativo. Além disso, o cruzamento dos modelos de habitação para idosos estudados e as possibilidades oferecidas pelo terreno escolhido resultaram na definição de um programa focado na aplicação de dois edifícios habitacionais diferentes:
Os dormitórios nos primeiros pavimentos, onde todos seus equipamentos são compartilhados e os apartamentos, onde os equipamentos são inseridos dentro da própria habitação.
Considerações Finais 157
08
NOTAS
Figura 1 - Pátio lar de idosos Peter Rosegger: https://www.archdaily.com.br/br/760936/lar-de-idosos-peter-rosegger-dietger-wissounig-archite kten/545c20f9e58ece1aae00004e?next_project=no acesso em 05.09.19 Figura 2 - Corredor externo acessível: https://www.archdaily.com.br/br/760936/lar-de-idosos-peter-rosegger-dietger-wissounig-archite kten/545c20f9e58ece1aae00004e?next_project=no acesso em 05.09.19 Figura 3 - Planta Baixa_Térreo: https://www.archdaily.com.br/br/760936/lar-de-idosos-peter-rosegger-dietger-wissounig-archite kten/545c20f9e58ece1aae00004e?next_project=no acesso em 05.09.19 Figura 4 - Planta Baixa_Segundo Pavimento: https://www.archdaily.com.br/br/760936/lar-de-idosos-peter-rosegger-dietger-wissounig-archite kten/55c20f9e58ece1aae00004e?next_project=no acesso em 05.09.19 Figura 5 - Fachada Wozoco: https://archello.com/pt/story/4137/attachments/photos-videos/5 acesso em 10.10.19 Figura 6 - Unidades em balanço: https://archello.com/pt/story/4137/attachments/photos-videos/5 acesso em 10.10.19 Figura 7 - Planta Baixa: https://archello.com/pt/story/4137/attachments/photos-videos/5 acesso em 10.10.19
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Figura 8 - Fachada com unidades em balanço: https://archello.com/pt/story/4137/attachments/photos-videos/5 acesso em 10.10.19 Figura 9 – Edificação: http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing acesso em 12.10.19 Figura 10 - Planta pavimento 1 e 2: http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing acesso em 12.10.19 Figura 11 - Planta pavimento 1 e 2: http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/projects/elderly-housing acesso em 12.10.19 Figura 12 - Participantes do programa: https://www.4senior.pt/index.php?pg=partilha-details&id=43 acesso em 17.10.19 Figura 13 - Participantes trabalhando: https://labmemo.wordpress.com/2014/04/22/a-avo-veio-trabalhar/ acesso em 21.10.19 Figura 14 - Mapa setores: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/urbanismo/sp_urbanismo/ operacoes_urbanas/faria_lima/index.php?p=19591 acesso em 17.08.19 Figura 15 - Especificações de recuos: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/urbanismo/sp_urbanismo/ operacoes_urbanas/faria_lima/index.php?p=19591 acesso em 17.08.19 Notas 159
09
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Referências Bibliográficas 161
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